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Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 21, n. 3, p. 240-246, set./dez. 2010.

Escalas de avaliação para Terapia


Ocupacional no Brasil

Evaluation scales for Occupational


Therapy in Brazil

Giseli de Fátima dos Santos Chaves1, Alexandra Martini de


Oliveira2, Orestes Vicente Forlenza3, Paula Villela Nunes4

CHAVES, G. F. S.; OLIVEIRA, A. M.; FORLENZA, O. V.; NUNES, P. V. Escalas de avaliação


para Terapia Ocupacional no Brasil. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 21, n. 3, p. 240-246,
set./dez. 2010.

RESUMO: A produção científica relativa às intervenções e avaliações em Terapia Ocupacional


têm avançado. Instrumentos de avaliação são cada vez mais utilizados para avaliar resultados de
intervenções nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e em países da Europa. No Brasil, entretanto,
instrumentos traduzidos e validados ainda são pouco utilizados e difundidos entre terapeutas ocupa-
cionais. Diante disso, o objetivo desta revisão de literatura é conhecer os instrumentos e escalas de
avaliação em Terapia Ocupacional que estão validados para língua portuguesa e disponíveis para o
uso no Brasil. Para a pesquisa foi utilizada a base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) a
partir de 1969 e trabalhos disponíveis na biblioteca do Serviço de Terapia Ocupacional do Instituto
de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Apenas sete instrumentos de
avaliação foram encontrados, um indicativo de que no Brasil há poucos instrumentos validados para
o uso em Terapia Ocupacional. O uso de instrumentos de avaliação possibilita o estabelecimento de
objetivos terapêuticos e a mensuração dos resultados obtidos em terapia, sendo muito importantes
para o reconhecimento clínico e científico da Terapia Ocupacional, além de possibilitar a produção
de conhecimento específico na área. Desta forma, se faz necessário o aumento e ampliação da
discussão das formas de sistematização das avaliações em Terapia Ocupacional no Brasil.

DESCRITORES: Avaliação; Estudos de validação; Literatura de revisão como assunto; Terapia


ocupacional.

1.
Terapeuta ocupacional, colaboradora do Ambulatório de Psicogeriatria do LIM-27 e do Hospital-Dia de Idosos do Instituto de Psiquiatria
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HCFMUSP).
2.
Terapeuta ocupacional, Mestre em Psiquiatria pelo IPq-HCFMUSP, colaboradora do Ambulatório de Psicogeriatria do LIM 27, do
Hospital-Dia de Idosos do IPq-HCFMUSP e Diretora do Serviço de Terapia Ocupacional do IPq-HCFMUSP.
3.
Médico psiquiatra, Professor Associado, Livre-Docente, pelo Departamento de Psiquiatria da FMUSP, Vice-diretor do Laboratório de
Neurociências LIM-27, IPq-HCFMUSP .
4.
Médica psiquiatra, Doutora em Psiquiatria pelo IPq-HC-FMUSP. Médica Pesquisadora do LIM-27 e coordenadora do Hospital-Dia de
Idosos - IPq-HCFMUSP.
Endereço para correspondência: Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da FMUSP. Rua Cipotânea, 51,
Cidade Universitária, São Paulo, SP. CEP 05360-160.

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INTRODUÇÃO sendo possível avaliar esse aspecto com métodos estatísticos

D
(ALMEIDA FILHO, 1989). Já a validade operacional
esde o surgimento da Terapia Ocupacional, envolve uma avaliação sistemática do instrumento. Para a
no início do século XX, muitos métodos comparação geralmente são utilizadas análises estatísticas
de avaliação sistemática vêm sendo (MENEZES, 1998; TEDESCO, 2002).
desenvolvidos por terapeutas ocupacionais da Europa, Três aspectos de validade operacional podem
Estados Unidos, Canadá e Austrália. Estes métodos ser avaliados: 1. Validade de conteúdo: é o estudo da
precisam ser padronizados, confiáveis, válidos e sensíveis abrangência do instrumento nos diferentes aspectos do seu
a mudanças clínicas para que se possam avaliar resultados objeto; 2. Validade de critério: avalia-se o grau com que
(na prática clínica e em pesquisas científicas) e comprovar o instrumento discrimina entre pessoas que diferem em
o custo-benefício das intervenções (MAGALHÃES, 1997; determinadas características de acordo com um critério
TEDESCO, 2002). padrão. Quando o instrumento e o critério são aplicados
Para a elaboração dos testes, o processo de construção simultaneamente, fala-se de validade concorrente;
é longo e dispendioso e engloba: 1. Planejamento: onde é quando o critério é avaliado no futuro, fala-se de validade
definido o objetivo e tipo de população alvo do teste; 2. preditiva. 3. Validade de construto: demonstra que o
Construção: os itens são desenvolvidos, delineando a instrumento realmente mede aquilo a que ele se propõe
versão piloto; 3. Avaliação quantitativa: a versão piloto medir (OLIVEIRA, 1995; MENEZES, 1998; TEDESCO,
passa por uma revisão geral, tem sua confiabilidade testada 2002). A validade divergente ou discriminante é usada
até alcançar o formato final; 4. Validação: o instrumento para substanciar a identidade dos constructos que elas
é aplicado em um número significativo da população. Os exploram. Ela ocorre quando os escores que devem diferir
dados resultantes são coletados para derivação de normas se correlacionam de maneira baixa. A validade convergente
e para o exame das validades concorrente, de critério e de ocorre quando diferentes escores definidos para avaliar o
construto (MAGALHÃES et al., 2004). mesmo constructo possuem correlações altas, demonstrando
O estudo da confiabilidade é feito através da a semelhança dos constructos avaliados (URBINA,
comparação de diversas aplicações do instrumento ao 2007).
mesmo indivíduo. Comumente, a avaliação é feita em Para a utilização de instrumentos desenvolvidos
duas etapas: confiabilidade teste/re-teste e entre dois em outros países, além de ser necessária a realização da
entrevistadores. A avaliação da confiabilidade teste/re-teste tradução transcultural, o estudo da confiabilidade e de
é realizada através da aplicação do instrumento, por um validade precisa ser refeito nesta nova versão devidamente
mesmo entrevistador, em dois momentos distintos (t0 e t1), traduzida.
dentro de um período pré-estabelecido. Os resultados da A tradução transcultural procura tornar o instrumento
primeira etapa (t0) são comparados com os resultados da traduzido o mais próximo possível da sua versão original.
segunda etapa (t1) (MENEZES, 1998; TEDESCO, 2000). Para isso, diversos aspectos são estudados: Equivalência
A avaliação da confiabilidade entre dois conceitual: refere-se à equivalência do conceito da cultura
entrevistadores é testada através da aplicação do instrumento, original em comparação à cultura-alvo; Equivalência
por dois entrevistadores diferentes (E1 e E2), em um mesmo de itens: indica se os itens que compõem o instrumento
indivíduo. É importante que estas duas aplicações sejam estimam os mesmos domínios e se são relevantes nas duas
realizadas separadamente, para eliminar um possível grau culturas; Equivalência semântica: consiste na tradução
de concordância causado pela observação conjunta dos do instrumento original, buscando conservar o significado
resultados (Menezes, 1998). O grau de concordância das palavras e para atingir o mesmo efeito nas duas culturas
entre ambas as avaliações é medido por um coeficiente de distintas; Equivalência operacional: preservação das
confiabilidade, e existem várias formas de calculá-lo. A medidas operacionais empregadas antes e durante da
escolha entre as diversas formas dependerá da natureza do aplicação da escala original, e Equivalência e mensuração:
instrumento que se deseja avaliar (BARTKO, 1991). refere-se às propriedades psicométricas utilizadas para
A validade de um instrumento pode ser definida como testar a equivalência de um instrumento em duas línguas
sua capacidade em realmente medir aquilo que ele se propõe diferentes, avaliada por meio de medidas de confiabilidade
a medir (OLIVEIRA, 1995). Ela envolve um componente e validade (PESCE, 2005).
conceitual e um componente operacional. O primeiro diz De acordo com Magalhães (1997), no Brasil, ainda
respeito ao julgamento do investigador de se o instrumento é pequeno o número de instrumentos padronizados, válidos
mede o que deveria medir. Esse julgamento é subjetivo, não e fidedignos específicos para Terapia Ocupacional. Tal

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carência de instrumentos de avaliação dificulta a prática de organização das rotinas da vida diária; papéis de vida;
coleta de dados para demonstração de resultados obtidos interesses, valores e metas; percepção das habilidades e
em terapia. responsabilidades e influências ambientais. A segunda
Atualmente, a importância de embasamento parte consiste em um formulário padrão para reportar os
científico nas intervenções e avaliações e a necessidade de resultados da entrevista (pontuação) e a narrativa de história
ampliação da ciência da Terapia Ocupacional vêm sendo de vida, feita a partir de questões abertas relacionadas aos
amplamente discutidas (TICKLE-DEGNEN, 2000; TSE; cinco itens já citados. A versão original em inglês feita em
PENMAN, 2000). 1989 foi revisada em 1998, por falha na demonstração de
Desta forma, esta revisão da literatura busca mapear suas qualidades psicométricas e pela entrevista não ser
e conhecer os instrumentos e escalas de avaliação validados compatível para a utilização de terapeutas ocupacionais com
para a língua portuguesa, preferencialmente no Brasil, a outro referencial teórico que não o Modelo de Ocupação
fim de ampliar seus usos na prática clínica e em pesquisas Humana idealizado por Kielhofner em 1985. Portanto, a
científicas. versão validada em português foi feita a partir da versão
em inglês não revisada.
- Escala de Observação Interativa de Terapia
MÉTODOS Ocupacional – EOITO (OLIVEIRA, 1995), mede
mudanças em pacientes durante o período de sessões de
Instrumentos de avaliação específicos de Terapia Terapia Ocupacional. É uma escala composta por 16 itens
Ocupacional foram pesquisados na biblioteca do Serviço (cuidado pessoal, execução de atividades, demonstração de
de Terapia Ocupacional do Instituto de Psiquiatria da interesse, comunicação verbal, interação social, referência
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a fatos irreais, alucinações, orientação, psicomotricidade
na base de dados indexada da Biblioteca Virtual em Saúde aumentada, linguagem acelerada, irritabilidade, aceitação
(BVS) (a qual inclui Pubmed, Lilacs e Scielo) de 1969 a de limites, expressão de auto-estima e comportamento
2010. Na pesquisa na BVS foram utilizadas as palavras inabitual). Apresenta três graduações, indicando uma ordem
“terapia ocupacional” e “validação”, cujo resultado foi de crescente da gravidade nas manifestações psicopatológicas.
12 trabalhos, refinados em 7, de acordo com o assunto. A A avaliação consiste não apenas na observação, mas na
pesquisa com as palavras “terapia ocupacional” e “validade”, interação entre avaliador e paciente. Pode ser usada em
encontrou 237 trabalhos, cuja refinação decorreu nos mesmos enfermarias, hospitais-dia e ambulatórios de Saúde Mental.
7 artigos da pesquisa anterior. Os instrumentos poderiam Porém, seu uso é limitado por avaliar apenas sintomas
ser procedentes das diversas abordagens teóricas de Terapia psiquiátricos.
Ocupacional utilizadas mundialmente, porém, deveriam ter - Auto-Avaliação do Funcionamento Ocupacional
seu processo de validação e/ou elaboração estabelecidos – SAOF (TEDESCO, 2000; 2010) baseada no Modelo
em paises de língua portuguesa, preferencialmente no de Ocupação Humana (KIELHOFNER, 1985), se trata
Brasil. Foram considerados os artigos escritos em inglês e de um instrumento estruturado que originalmente possui
português, além de livros, dissertações de mestrado e teses uma versão longa, uma simplificada e outra para crianças
de doutorado realizadas no Brasil. de 10 a 13 anos. A versão longa e a simplificada podem
ser utilizadas em todos os tipos de acometimentos e em
RESULTADOS clientes com idade entre 14 e 85 anos. É formada por 23
questões que cobrem 7 áreas de conteúdo: a causalidade
Foram encontradas poucas escalas de avaliação, pessoal se refere a imagem e as expectativas que o sujeito
específicas da Terapia Ocupacional, que tenham sido faz de si próprio; valores que organizam o comportamento
elaboradas ou devidamente adaptadas e validadas para o do sujeito através de suas prioridades; interesses são
uso no Brasil. Os instrumentos encontrados na literatura atividades que o individuo gosta e tem prazer em realizar;
até o momento são: papéis são o conjunto de características no comportamento
- Entrevista da História do Desempenho que são esperadas para a idade e posição social específica;
Ocupacional (EHDO) (BENETTON; LANCMAN, hábitos estruturam as ações diárias para conseguir maior
1998) é uma entrevista semi-estruturada formada por duas eficiência no desempenho de tarefas exigidas pelo seu papel
partes. A primeira parte consiste na própria entrevista, em ocupacional; habilidades (físicas ou mentais) auxiliam na
que é avaliado o desempenho ocupacional do individuo expressão, no contato social e na ação; meio-ambiente diz
no passado e presente de acordo com os seguintes itens: respeito à variedade de locais onde a pessoa passa o seu

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tempo e inclui as pessoas com que se relaciona, objetos e confiabilidade foi estudado em 2009 (CARDOSO;
e recursos sociais. Para avaliar a percepção individual MAGALHÃES, 2009).
do paciente sobre estes itens é utilizada uma escala de 3 - Lista de Identificação de Papéis Ocupacionais
pontos de classificação (ponto forte, adequada e necessidade (CORDEIRO, 2005) baseado em conceitos descritos no
de melhora). Desta forma, a SAOF prioriza o estímulo Modelo de Ocupação Humana (KIELHOFNER, 1985). É
ao engajamento do paciente no tratamento. No entanto, auto-aplicável e sua realização constitui-se de duas etapas.
em um estudo (BEZERRA, 2006) sobre a percepção do Na primeira etapa, o cliente define sua participação ou não
funcionamento ocupacional e da qualidade de vida de em papéis ocupacionais no passado, presente e futuro. Esses
pacientes que faziam hemodiálise em que a SAOF foi papéis são pré-estabelecidos pela avaliação (estudante,
utilizada como instrumento de avaliação, parte considerável trabalhador, voluntário, cuidador, serviço doméstico,
dos pacientes teve dificuldade em entender alguns de seus amigo, membro de família, religioso, passatempo/amador,
tópicos. Apesar disto, a SAOF foi bastante útil na coleta participantes em organizações e outros para identificar
de informações. Desta forma, mais estudos são necessários papéis não listados). Na segunda etapa, o cliente atribui a
para avaliar sua utilidade na mensuração dos resultados de cada papel descrito (desempenhado e não-desempenhado)
intervenções em Terapia Ocupacional. seu grau de importância, podendo variar de nenhuma
- Classificação de idosos quanto à capacidade para importância, alguma importância a muita importância.
o autocuidado - (CICAC) (ALMEIDA, 2003) possui Pode ser utilizado em adolescentes, adultos e idosos, com
duas versões: simplificada e grupal. A grupal é mais qualquer tipo de disfunção e exige tempo curto para sua
longa e o nome foi dado por ter sido ajustada através da administração. Mais estudos são necessários para avaliar
contribuição de 15 terapeutas ocupacionais. A versão sua sensibilidade a mudanças, no caso de reavaliação, e
simplificada constitui-se de 20 questões e a versão grupal, verificação de resultados de intervenção.
22 questões. Estas se referem aos seguintes itens: Arranjo - Loewenstein Occupational Therapy Cognitive
Doméstico e Familiar e sua Potencial Rede de Suporte; Assessment (LOTCA) (GAMEIRO; FERREIRA, 2006) é
Perfil Social; Universo Ocupacional e Capacidade uma bateria de testes elaborada para avaliar as capacidades
Funcional. No item Capacidade Funcional, são avaliadas as cognitivas básicas de pacientes jovens e adultos com alguma
Atividades de Vida Diária (básicas e instrumentais), Lazer lesão cerebral (traumatismos, tumores, acidentes vasculares
e Trabalho (remunerado e não-remunerado). Sua validade encefálicos). É baseada em teorias neuropsicológicas e
e confiabilidade foram estabelecidas nas duas versões. O cognitivas de processamento de informação. As funções
instrumento é bem abrangente e admite a complexidade do cognitivas avaliadas pelos testes incluem a orientação,
sujeito a ser avaliado, porém, mesmo a versão simplificada, percepção visual e espacial, práxis motora, organização
exige um tempo longo para sua aplicação. Além disso, visuomotora e operações de pensamento. O LOTCA
ainda não existem estudos avaliando a sua sensibilidade às objetiva fornecer um perfil cognitivo, por isso, não há
mudanças ao longo do tempo, como, por exemplo, no caso cálculo das pontuações totais. As pontuações referem-
de uma reavaliação. se às funções separadas (orientação, percepção visual
- Avaliação da Coordenação e Destreza Motora e espacial, práxis motora, organização visuomotora e
(ACCORDEM) (MAGALHÃES et al., 2004) teste para operações de pensamento) e são usadas para avaliar em
detecção de transtorno da coordenação motora em crianças qual destas funções há um déficit que precisa de intervenção
de 4 a 8 anos de idade. Os itens de observação direta (áreas terapêutica. Por exemplo, um paciente pode ter um prejuízo
de Coordenação e Destreza Manual e de Coordenação na organização motora e estar bem orientado. Vale notar
Corporal e Planejamento Motor) têm escore numérico, que o LOTCA foi validado apenas em Portugal, no entanto,
baseado no tempo e acuidade da resposta. Os questionários vêm sendo usado no Brasil.
de pais e professores (Desempenho Funcional em casa
e na escola) são pontuados em escala de quatro pontos, DISCUSSÃO
indicando a freqüência dos comportamentos observados
(nunca/raramente, ocasionalmente, freqüentemente e Na literatura internacional, especialmente em países
sempre). A avaliação ocorre num contexto de brincadeira, como Estados Unidos, Austrália e Canadá, a produção
visando facilitar a aceitação pelas crianças. A ACOORDEM científica para a elaboração e utilização de instrumentos
versão 1.0 é uma escala bastante extensa, que foi formatada de avaliação em Terapia Ocupacional tem sido grande
no Brasil, levando em consideração muitas outras escalas (MAGALHÃES, 1997). Há uma grande diversidade
de desenvolvimento infantil.. Seu processo de validação de referenciais teóricos e de usos para determinadas

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populações, entre outros aspectos. Na revisão da literatura apenas determinados estágios de desenvolvimento
internacional realizada por Tedesco, 2000, que procurou (crianças e idosos, respectivamente). A ACCORDEM,
apenas por instrumentos padronizados de avaliação de EOITO; LOTCA são escalas desenvolvidas para avaliar
Terapia Ocupacional em Saúde Mental, foram encontrados determinadas condições clínicas (atraso no desenvolvimento
16 instrumentos, incluindo o instrumento que foi validado neuropsicomotor, sintomas psicopatológicos e déficits
em seu trabalho, a SAOF. Na pesquisa realizada para esta cognitivos, respectivamente). Por causa desta especificidade,
revisão na base de dados BVS - Biblioteca Virtual em Saúde, há uma limitação do uso destas escalas na prática.
utilizando os termos “validade” e “terapia ocupacional”, Já a EHDO, a SAOF e a Lista de Identificação de
foram encontrados 237 artigos, sendo 95 relacionados com Papéis Ocupacionais avaliam o comportamento ocupacional
a validação, confiabilidade, utilidade clínica e/ou elaboração e os papéis ocupacionais desempenhados pelo individuo,
de instrumentos de avaliação de Terapia Ocupacional o que compreende todas as atividades realizadas ou que
internacionais. precisam ser realizadas pelo individuo em seu cotidiano.
Um fator que contribui para esta produção é a Entretanto, o terapeuta ocupacional, que as utilize em sua
crescente preocupação em estruturar intervenções e prática, necessita conhecer a abordagem teórica do Modelo
avaliações em bases científicas e ampliar a ciência da Terapia de Ocupação Humana – MOH (KIELHOFNER, 1985), que
Ocupacional. Além disso, o uso destes instrumentos se faz fundamenta estas avaliações. Pode-se observar isso em
mais freqüente pela necessidade econômica dos serviços um estudo em que foi utilizada a SAOF como medida de
de saúde em justificar o custo-benefício de intervenções avaliação (BEZERRA, 2006). Os pacientes participantes
e avaliar resultados obtidos, pressionados em parte pelo desta pesquisa relataram dificuldades em entender conceitos
sistema econômico e de assistência de saúde existente presentes no instrumento, os quais eram próprios deste
(MAGALHÃES, 1997). modelo teórico. A ACCORDEM, EOITO, CICAc e LOTCA
Por outro lado, como pode-se constatar, existem não possuem fundamentação em uma abordagem teórica
poucas escalas de avaliação em Terapia Ocupacional que específica de Terapia Ocupacional.
podem ser utilizadas no Brasil. Apenas sete instrumentos A EHDO, composta por questões abertas e fechadas,
traduzidos para a língua portuguesa e validados foram também possibilita ao individuo detalhar seu desempenho e
encontrados nesta revisão da literatura. Dentre os relatar queixas individuais. Já a SAOF, Lista de Identificação
instrumentos validados para o português, alguns são de Papéis Ocupacionais, ACCORDEM, EOITO, CICAc e
específicos para algumas faixas etárias (crianças ou idosos) LOTCA são instrumentos que diminuem esta possibilidade,
ou doenças (psiquiátricas ou neurológicas), outros são pois se tratam de questionários estruturados com respostas
mais abrangentes e avaliam diversas áreas do desempenho pré-estabelecidas a serem assinaladas pelo individuo.
ocupacional. Deve-se, além de observar todos estes aspectos
As escalas já validadas e/ou elaboradas em português discutidos, considerar o tempo de administração para a escolha
encontradas avaliam o desempenho ocupacional sob de um instrumento. A EHDO, CICAc e ACCORDEM são
diferentes aspectos. Na CICAc, o desempenho ocupacional avaliações que demandam muito tempo para suas aplicações.
é investigado nas atividades de vida diária, trabalho e A SAOF demanda pouco tempo, porém, algumas questões são
lazer. Na ACCORDEM ele é investigado na produtividade complexas e podem necessitar de esclarecimento, acarretando
(no papel de estudante e no brincar) e no auto-cuidado. A em um aumento do tempo de administração. A Lista de
EOITO avalia principalmente componentes cognitivos, Identificação de Papéis Ocupacionais, EOITO e LOTCA,
psicológicos, afetivos e sociais durante a realização de uma são de rápida aplicação. A EOITO e LOTCA podem até ser
atividade, mas avalia também o auto-cuidado (higiene) aplicadas durante a intervenção.
e o lazer (sociabilidade). Já a LOTCA avalia apenas Diante desta lista de instrumentos de avaliação e suas
os componentes cognitivos por meio de desempenho principais características, é possível refletir e determinar qual
ocupacional e ainda não foi traduzida e validada para o destes instrumentos será mais adequado ao uso no exercício
português do Brasil. A investigação dos componentes de cada terapeuta ocupacional, seja na prática clínica ou em
(cognitivos, psicológicos, físicos, etc.) do desempenho pesquisas cientificas. Com a sistematização das avaliações,
ocupacional é muito importante, no entanto, é necessária se pode obter dados clínicos, delinear objetivos, direcionar
a correlação destes componentes com as atividades que intervenções e evidenciar mudanças clínicas na população
o sujeito precisa realizar em seu cotidiano e nas quais atendida. Desta forma, a comprovação de resultados
apresenta dificuldades. obtidos durante as intervenções de Terapia Ocupacional
A ACCORDEM, assim como a CICAc, abrangem com estes instrumentos justificam a atuação do profissional

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terapeuta ocupacional e aumentam a produção científica da desempenho ocupacional. Há instrumentos em que são
profissão. baseados em teorias específicas de Terapia Ocupacional.
Algumas são mais rápidas em sua aplicação e outras
CONCLUSÃO incorporam elementos qualitativos, além dos quantitativos
em suas estruturas. Porém, a utilização e conhecimento
Esta revisão demonstra a necessidade do destes instrumentos ainda são limitados.
aprofundamento da discussão da sistematização dos Este quadro dificulta a comprovação da eficácia
métodos de avaliação específicos de Terapia Ocupacional. de muitas das intervenções em Terapia Ocupacional, por
No Brasil, ao contrário de outros países, existem poucas meio destes instrumentos. A necessidade de sistematizar
avaliações válidas e fidedignas específicas de Terapia avaliações, abrangendo a coleta de dados, o estabelecimento
Ocupacional. de objetivos terapêuticos e a mensuração dos resultados
Algumas delas são adequadas apenas para alguns obtidos em terapia, precisa ser considerada e estimulada.
tipos de população, condições clínicas ou faixas etárias. Já que favorece o reconhecimento clínico e científico da
Algumas avaliam apenas os componentes do desempenho profissão, além de possibilitar a produção de conhecimento
ocupacional, enquanto outras avaliam as áreas do específico da área e a confiabilidade das intervenções.

CHAVES, G. F. S.; OLIVEIRA, A. M.; FORLENZA, O. V.; NUNES, P. V. Evaluation scales for
Occupational Therapy in Brazil. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 21, n. 3, p. 240-246, set./
dez. 2010.

ABSTRACTS: The scientific literature of interventions and evaluations in Occupational Therapy


has advanced. Assessment instruments are increasingly used to evaluate outcomes of interventions
in the U.S.A., Canada, Australia and European countries. However, in Brazil, instruments translated
and validated are not much used and known among occupational therapists. Therefore, the objective
of this review of the literature is to know which instruments and rating scales in Occupational
Therapy are validated for portuguese language and available for use in Brazil. The database of
the Virtual Health Library (BVS) from 1969 was used as well as studies available in the library
of the Occupational Therapy Service of the Psychiatry Institute, University of Sao Paulo. Only
seven assessments instruments were found what denotes there are few validated instruments for
use in Occupational Therapy in Brazil. The use of assessment tools allows the establishment of
therapeutic goals and measurement of results in therapy which are very important for the clinical
and scientific recognition of the Occupational Therapy and through this is possible the production
of specific knowledge in the area. Thus, it is necessary to increase and expand of the discussion of
the systematic ways to evaluate in Occupational Therapy in Brazil.

KEY WORDS: Evaluation; Validation studies; Review literature as topic; Occupational therapy.

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