Resumo de Eletromagnetismo

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Eletromagnetismo

Eletromagnetismo

Rafael Schincariol da Silva


© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo
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Editorial
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Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silva, Rafael Schincariol da


S586e Eletromagnetismo / Rafael Schincariol da Silva. –
Londrina : Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2018.
216 p

ISBN 978-85-522-0672-9

1. Engenharia. 2. Elétrica. I. Silva, Rafael Schincariol da.


II. Título.

CDD 620
Thamiris Mantovani CRB-8/9491

2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 1 | Eletrostática de meios contínuos 7

Seção 1.1 - Campo elétrico em distribuições contínuas de carga 9


Seção 1.2 - Lei de Gauss 25
Seção 1.3 - Energia e potencial eletrostático 41

Unidade 2 | Correntes elétricas no meio contínuo 59

Seção 2.1 - Densidade de corrente elétrica 61


Seção 2.2 - Campos magnéticos estacionários 76
Seção 2.3 - Lei de Ampère 92

Unidade 3 | Indutância e as equações de Maxwell 111

Seção 3.1 - Lei de Faraday e lei de Lenz 113


Seção 3.2 - Indutância 129
Seção 3.3 - Equações de Maxwell 144

Unidade 4 | Ondas eletromagnéticas 161

Seção 4.1 - Equações de Maxwell e as ondas eletromagnéticas 163


Seção 4.2 - Propagação de ondas eletromagnéticas 179
Seção 4.3 - Reflexão e dispersão de ondas eletromagnéticas 197
Palavras do autor
O eletromagnetismo é uma área da física que estuda as interações
entre os fenômenos elétricos e magnéticos. O estudo de cada fenômeno
caminhou separadamente por muito tempo, até que no começo do
século 19 um pesquisador chamado Hans Oersted descobriu algo
interessante: ao submeter um condutor a um fluxo ordenado de
cargas elétricas e colocar uma bússola em suas proximidades, ele
verificou que este fluxo de cargas elétricas influenciava na direção
do ponteiro da bússola. Dessa forma, o pesquisador concluiu que os
dois fenômenos descritos estavam, na verdade, relacionados, e então
surgiu o eletromagnetismo propriamente dito.
De lá para cá, o eletromagnetismo se fez presente na maioria das
invenções e dos equipamentos utilizados no dia a dia. Você pode
encontrar os fenômenos eletromagnéticos nas instalações elétricas
da sua casa, nos aparelhos eletrônicos, nos eletrodomésticos, nas
instalações industriais, nas ondas de TV e rádio, ou seja, é impossível
se isolar dos seus efeitos. Ao ler este material, fazendo uso de um
computador, tablet ou celular, você também está em contato com os
efeitos do eletromagnetismo. Portanto, compreender seus fundamentos
é essencial para qualquer engenheiro, independentemente da
especialidade, pois o desempenho das atividades dentro do mercado
de trabalho requer um amplo conhecimento de várias áreas da Ciência.
Ao decorrer deste curso, você irá compreender a eletrostática
em meios contínuos, conhecendo mais sobre forças e campos
elétricos e aplicando a Lei de Gauss. Além disso, irá aprender sobre
as leis do eletromagnetismo que relacionam correntes elétricas
a campos magnéticos e suas aplicações no contexto dos meios
contínuos. Também irá analisar distribuições de cargas e correntes
por meio das equações de Maxwell e aplicar os conhecimentos
no contexto dos motores, geradores e transformadores elétricos.
Por fim, serão apresentadas as ondas eletromagnéticas e sua
importância nas telecomunicações, em especial com relação a
sua energia e sua propagação.
A primeira unidade desta disciplina tratará a eletrostática em meios
contínuos, permitindo que você saiba como calcular campos elétricos
e potenciais elétricos em distribuições contínuas de carga. Na segunda
unidade serão estudadas as correntes elétricas e os campos magnéticos
estacionários. A partir da Unidade 3, você irá estudar os fenômenos de
indução e as equações de Maxwell aplicadas ao eletromagnetismo.
Por fim, na Unidade 4, você descobrirá como deduzir as equações de
ondas eletromagnéticas a partir das equações de Maxwell e, também,
entenderá a propagação das ondas eletromagnéticas.
Com os conhecimentos adquiridos nesta disciplina, você
certamente terá mais facilidade para lidar com tópicos mais avançados
na sua formação. Entretanto, o sucesso na disciplina irá depender do
seu esforço e da sua curiosidade. Por isso, realize o seu estudo com
dedicação, passando não somente pelos tópicos apresentados aqui,
mas também pelos materiais propostos no decorrer das unidades.
Bons estudos!
Unidade 1

Eletrostática de
meios contínuos
Convite ao estudo
Caro aluno!
Nesta unidade, você conhecerá os conceitos de eletroestática
nos meios de distribuição contínuos de carga. Você deve estar
ansioso para entender os fenômenos que explicam o que se
passa nos motores e geradores elétricos e nas comunicações de
TV, rádios, celulares e satélites. No entanto, é muito importante
iniciar o estudo do eletromagnetismo pelas iterações das cargas
elétricas, examinando os campos eletrostáticos.
Você verificará que os fenômenos eletrostáticos têm diversas
aplicações práticas, tais como equipamentos e dispositivos
eletrônicos (fotocopiadoras, impressores, capacitores,
dispositivos de efeito de campo, etc.), além de serem importantes
para compreender fenômenos atmosféricos.
Ao final desta unidade, você será capaz de realizar a análise
de distribuições de cargas elétricas em diversas geometrias, de
forma a obter os valores de campo elétrico e potencial elétrico,
além das análises das linhas de campo elétrico.
Para contextualizar seu estudo, imagine uma multinacional
que fabrica capacitores eletrolíticos. O capacitor eletrolítico
internamente é composto por duas folhas de alumínio, entre
as quais existe um material dielétrico. Suas dimensões variam
de acordo com a capacitância e limite de tensão que suporta. É
um tipo de capacitor que tem polaridade, ou seja, não funciona
corretamente se for invertido (LIMA, 2011, [s.p.]).
Você está trabalhando na multinacional em um projeto
de capacitores, no departamento de análise e mapeamento
de materiais. Este mapeamento tem o objetivo de fornecer
informações de entrada para a equipe de projetos. Dentre as
características analisadas, incluem-se os campos elétricos e os
potenciais elétricos nas placas com cargas distribuídas. Você terá
algumas responsabilidades no projeto, sendo seus conhecimentos
de eletromagnetismo fundamentais, principalmente os conceitos
de eletrostática de meios contínuos.
Com o objetivo de ampliar seus conhecimentos, na Seção
1.1 você aprenderá os conceitos para realizar o cálculo do
campo elétrico em placas com distribuições uniformes de
carga. Na Seção 1.2, após compreender a Lei de Gauss, você
será desafiado a especificar um material dielétrico para utilização
nos capacitores. Finalmente, na Seção 1.3, você deverá realizar
o cálculo do potencial elétrico nas placas com distribuição
uniforme de carga. Estes cálculos serão reportados em forma de
relatório para a equipe de fabricação.
Mas de que forma a análise das partículas de cargas se
relacionam com os capacitores? Qual a relação do dielétrico do
capacitor na análise do campo elétrico?
Além de estudar o conteúdo apresentado, não se esqueça
de resolver os exercícios propostos e consultar os materiais
elencados nos itens Pesquise Mais de cada seção. Certamente
esses recursos serão um diferencial na sua formação.
Seção 1.1
Campo elétrico em distribuições
contínuas de carga

Diálogo aberto
Nesta seção, você estudará os campos elétricos em distribuições
contínuas de carga, e, assim, poderá compreender como calcular
o campo elétrico em diversas distribuições de carga, tais como as
distribuições linear e superficial. Após ter contato com esse conteúdo,
você estará apto a calcular o campo elétrico de placas que são utilizadas
na fabricação dos capacitores.
Vamos, então, recordar a situação em que você é o engenheiro da
multinacional fabricante de capacitores eletrolíticos. Você recebeu
a primeira de três tarefas para o projeto do capacitor, e sua função
é fazer a correta análise de materiais. A primeira tarefa consiste
em mapear o campo elétrico produzido por placas circulares que
serão utilizados na fabricação de capacitores. Os campos elétricos
precisam ser mapeados na proximidade das placas, ou seja, em
uma distância muito inferior ao raio das mesmas, a partir do centro
destas chapas. Existem chapas com raios de 1 cm, 2 cm e 5 cm, cuja
densidade de carga considerada é de 4, 3 × 10−8 C/m 2 , 8, 7 × 10−8 C/m 2 e
6,1× 10−8 C/m 2, respectivamente. É necessário que o campo elétrico
seja o maior possível nessas condições. Como você escolheria a
chapa mais adequada?

Não pode faltar

Lembre-se um pouco dos conceitos sobre interação entre cargas


elétricas para que você possa entender o que é uma distribuição
contínua de cargas. Primeiramente, considere duas cargas em uma
localização do espaço, denominadas por q1 e q2 , separadas a uma
distância r . Agirá sobre elas uma força que será determinada pela Lei
de Coulomb, que pode ser de atração ou repulsão, dependendo do
sinal das cargas, considerando que o sentido da força está indicado

U1 - Eletrostática de meios contínuos 9


pelo versor , conforme:
.

Imagine agora que existem várias cargas em uma certa região do


espaço e nas proximidades delas é colocada uma carga q1 , assim como
mostra a Figura 1.1. Você consegue predizer como será a resultante das
forças que agem nesta carga q1 ?

Figura 1.1 | Carga próxima a um conjunto de cargas

.
.
.

Fonte: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-216-2668-8/cfi/6/20!/4/102/24@0:100>. Acesso


em: 25 set. 2017.

Você pode verificar na figura que existe uma interação entre as



cargas q1 e q2 , produzindo uma força de atração F2(1) . Da mesma forma,
existe uma interação entre as cargas q1 e q3 , também produzindo uma
força entre elas. Isso ocorre para todas as cargas com a qual a carga
q1 interage, até a carga qN . Logo, pode-se verificar que a força total
resultante na carga q1 é dada pela soma vetorial das forças agindo
    N 
sobre ela: FT (1) = F2(1) + F3(1) +  + FN (1) = ∑ Fi (1) .
i =2
De fato, a força resultante em uma carga posicionada nas
proximidades de um conjunto de cargas seguirá o princípio da
superposição, ou seja, será a soma das interações de todas as cargas
deste conjunto agindo sobre a carga.
Agora, considere uma distribuição contínua de cargas, ou seja,
um corpo composto de um amontoado de partículas ou elementos
infinitesimais de cargas que são tratadas como cargas individuais
interligadas entre si. Dessa forma, em vez de ser tratada a carga

10 U1 - Eletrostática de meios contínuos


q de cada um dos elementos infinitesimais de carga, será usado
um elemento dq, definido pela densidade de carga das distribuições
contínuas. As distribuições contínuas de carga podem ser
categorizadas como linear, superficial ou volumétrica, dependendo
de como os elementos infinitesimais de carga se apresentam. A
diferença entre esses tipos de distribuição está nas distribuições de
carga apresentadas no plano de coordenadas.
Na Figura 1.2 é apresentado um plano de coordenadas x, y, z. Em
uma distribuição linear de cargas, os elementos infinitesimais de carga
estão distribuídos em apenas um dos eixos. Na figura, encontra-se uma
distribuição linear e uniforme de cargas em um infinito que pode ser
posicionado ao longo do eixo x.

Figura 1.2 | Distribuição linear de cargas

+ + +
+ + +
+ + +
+ + +
+

Fonte: elaborada pelo autor.

A densidade linear de cargas é definida pela quantidade de cargas


que existe em um certo comprimento linear. Neste caso, para cada
elemento infinitesimal de carga dq, pode-se associar um elemento
infinitesimal de comprimento d . Logo, a densidade linear de cargas é
dq
dada por: λ = .
d
Supondo uma distribuição uniforme de cargas linear em um fio
de comprimento L, de um amontoado de cargas Q, pode-se definir a
Q
densidade de cargas como λ = .
L
Em uma distribuição superficial de cargas, a distribuição de cargas se
encontra em um plano. Então, considera-se dois dos eixos do sistema
de coordenadas. Por exemplo, imagine que uma distribuição uniforme
de cargas é encontrada sobre um plano infinito, definido pelos eixos

U1 - Eletrostática de meios contínuos 11


x e y. Como seria a densidade de cargas neste caso? Essa distribuição
pode ser visualizada na Figura 1.3.

Figura 1.3 | Distribuição superficial de cargas

+ +
+ + +
+ +
+ +
+ + +
+
Fonte: elaborada pelo autor.

A densidade superficial de cargas é definida pela quantidade de


cargas que existem em uma certa região de área. Neste caso, para cada
elemento infinitesimal de carga dq , pode-se associar um elemento
infinitesimal de área dA. Logo, a densidade superficial de cargas é dada
dq
por: σ = .
dA
Em uma distribuição volumétrica de cargas, os elementos
infinitesimais de carga estão distribuídos em três eixos, formando
um corpo que tem um certo volume. Na Figura 1.4 encontra-se uma
distribuição volumétrica e uniforme de cargas em determinado corpo.

Figura 1.4 | Distribuição volumétrica de cargas

Fonte: elaborada pelo autor.

12 U1 - Eletrostática de meios contínuos


A densidade volumétrica de cargas é definida pela quantidade
de cargas que existem em uma certa região de volume. Neste caso,
para cada elemento infinitesimal de carga dq, pode-se associar um
elemento infinitesimal de volume dV . Logo, a densidade volumétrica
dq
de cargas é dada por: ρ = .
dV

Assimile
As distribuições contínuas de carga consistem em um amontoado de
cargas que estão distribuídas de forma linear, superficial ou volumétrica.
Para cada tipo de distribuição está associada uma densidade de carga.

Exemplificando
Imagine um aglomerado de cargas que forma uma esfera de raio R. Como
é possível calcular a carga total, sabendo que a densidade de carga é dada
por ρ ?
Resolução: Basta rearranjar a equação da densidade volumétrica de carga,
tal que: dq = ρ dV .
Para obter a carga total, deve-se integrar os dois lados da igualdade
anterior. Logo:
R π 2π
Q= ∫∫∫ dq = ∫∫∫ ρ dV = ρ ∫∫∫ dV = ρ ∫
V V V
0
r 2dr ∫
0
sen(θ )dθ ∫0

.
1 4π 3
Q = ρ ⋅ (R 3 − 0)(cos(0) − cos(π ))(2π − 0) = R ρ
3 3

Muito bem! Agora que você entendeu o que é uma distribuição


contínua de cargas e o conceito de densidade de cargas, veja como é
possível estudar o campo elétrico nessas distribuições. Recorde como
calcular o campo elétrico de uma carga pontual: existe uma carga q em
uma região do espaço distante r ' da origem do plano de coordenadas
x, y, z. O campo elétrico em um ponto P localizado a uma distância r ''
da origem, conforme Figura 1.5, será dado por: .

U1 - Eletrostática de meios contínuos 13


Figura 1.5 | Partícula de carga q no plano cartesiano

Fonte: elaborada pelo autor.

Reflita
Você notou que a equação do campo elétrico no ponto P independe da
existência de uma carga? Como você explica isso?

Pode-se concluir que o campo elétrico de cargas distribuídas será


uma superposição do campo gerado por cada um dos elementos
infinitesimais de carga (o princípio da superposição também vale aqui!).
Dessa forma, analise a Figura 1.6 que mostra um ponto P localizado
a uma certa distância r de um elemento
 infinitesimal de carga dq.
Neste caso, um campo elétrico dE existirá no ponto P, que pode ser

calculado como segue: .

Figura 1.6 | Cálculo do campo elétrico em uma distribuição volumétrica de cargas

Fonte: elaborada pelo autor.

14 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Seguindo o
 princípio da superposição, o campo total será dado pela
integral de dE :

Como cargas uniformemente distribuídas correspondem a um


grande número de cargas puntiformes distribuídas linearmente,
superficialmente ou em um volume, é possível expandir a equação
do campo elétrico para esses três tipos de distribuição, pois cada uma
deles tem um tipo de densidade de cargas distribuídas.
Para a distribuição linear de cargas: dq = λ d  . Logo, é possível
desenvolver a equação do campo elétrico, sendo que  ' corresponde
à região carregada do fio:

Para a distribuição superficial de cargas: dq = σ dA. Logo, é possível


desenvolver a equação do campo elétrico, sendo que A ' corresponde
à região carregada de área:

Para a distribuição volumétrica de cargas: dq = ρ dV . Logo, é


possível desenvolver a equação do campo elétrico, sendo que V '
corresponde à região carregada de volume:

Exemplificando
Para ilustrar melhor, e para que você entenda como calcular a integral,
considere que você deseja obter o campo elétrico em um ponto P a
uma distância r de um condutor infinito carregado, conforme mostra
a Figura 1.7.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 15


Figura 1.7 | Fio infinito com cargas distribuídas

Fonte: elaborada pelo autor.

Resolução: Nesse caso, você pode perceber que existe uma distribuição
linear de cargas, sendo que as cargas estão distribuídas ao longo do
condutor infinito. O fio tem uma densidade linear de carga constante dada
por λ. Você pode verificar que é possível traçar um eixo vertical y ao longo
deste fio e, também, um eixo horizontal x perpendicular ao eixo y na linha
da distância d entre o fio e o ponto P.
Para uma parcela infinitesimal de comprimento dy, localizada em uma
distância y da origem do plano determinado pelos eixos x e y, tem-se

o campo dEy1 , enquanto que para uma parcela infinitesimal de mesmo
comprimento dy, 
localizada a uma distância -y da origem do plano, tem-
se o campo dEy 2 . Considerando que a mesma quantidade infinitesimal
de carga está localizada em dy nos dois extremos, pode-se afirmar que
 
| dEy1 |=| dEy 2 | . A partir disso, é possível verificar que a projeção vertical

de dEy1 tem mesmo módulo e sentido oposto à projeção vertical de

dEy 2 . Então, a resultante dos campos dessas duas parcelas infinitesimais
somente será diferente de zero no eixo horizontal x. Assim, é possível
escrever para a distribuição linear de cargas:

Perceba que tanto y quanto α são variáveis e, por isso, pode-se escrever

16 U1 - Eletrostática de meios contínuos


y em termos de α , conforme segue:
d
y = tan(α )d → dy = dα
cos(α )
d
cos(α ) = .
R
Substitua esses valores na equação, assim como o limite de integração, e
veja como fica:

Resolvendo a integral, obtêm-se:


.

Pesquise mais
Os vídeos a seguir mostram uma aula do Prof. Luiz Marco Brescansin,
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abordando as
distribuições contínuas de carga. No primeiro link, os principais conceitos
são explicados. Já no segundo, o professor resolve alguns exemplos
interessantes, com detalhes muito ricos.
1. Assistir a partir de 33:10.
UNIVESP. Física Geral III – Aula 2 – Campo Elétrico – Parte 1. 2013.
Disponível em: <https://youtu.be/njsGDadL09g>. Acesso em: 4 out. 2017.
2. Assistir aos 12 primeiros minutos.
UNIVESP. Física Geral III – Aula 2 – Campo Elétrico – Parte 2. 2013.
Disponível em: <https://youtu.be/A01u84pUGVI>. Acesso em: 4 out. 2017.

Sem medo de errar

Nesta unidade você está no lugar de um engenheiro que trabalha


em uma multinacional fabricante de capacitores. Em sua primeira tarefa
você deve mapear o campo elétrico produzido por placas circulares
que serão utilizadas na fabricação de capacitores. Os campos elétricos
precisam ser mapeados na proximidade das placas, ou seja, em

U1 - Eletrostática de meios contínuos 17


uma distância muito inferior ao raio das mesmas, a partir do centro
destas chapas. Existem chapas com raios de 1 cm, 2 cm e 5 cm, cuja
densidade de carga considerada é de 4, 3 × 10−8 C/m 2 , 8, 7 × 10−8 C/m 2
e 6,1× 10−8 C/m 2, respectivamente. É necessário que o campo elétrico
seja o maior possível dessas condições. Assim, para que você avance
no projeto, é necessário compreender a situação, incluindo a placa nas
coordenadas x, y e z, assim como mostra a Figura 1.8. A partir disso,
você pode identificar um ponto P no eixo z, a uma distância do centro
do anel de carga.

Figura 1.8 | Anel carregado

r’

r’’

Anel carregado
Fonte: elaborada pelo autor.

Tomando uma quantidade infinitesimal


  em dois lados opostos
deste anel, tem-se dois campos dE1 e dE2 , que têm módulos iguais.
Você consegue observar que, para qualquer quantidade infinitesimal
de carga no anel, existe uma quantidade do lado oposto que gera
dois vetores de campo elétrico simétricos, e isso ocorre por todo o
perímetro do anel. Cada um destes vetores tem uma componente
paralela ao anel (ou paralela ao plano xy) e uma componente no
eixo z, com sentido para cima. Logo, pode-se concluir que as
componentes de campo resultantes no plano xy serão iguais a zero.
A resultante do campo será apenas no eixo z, e com sentido para
cima, como mostrado na Figura 1.9.

18 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.9 | Componentes do campo elétrico

Fonte: elaborada pelo autor.:

Pode-se escrever a componente infinitesimal de campo no eixo z


da seguinte forma:
 
dEz =| dE | cos(α ).
Entendido isso, é possível voltar às placas circulares. Na Figura 1.10
é mostrado um disco carregado com densidade de carga superficial
σ , e o objetivo é calcular o campo elétrico em um ponto P acima do
centro deste disco.

Figura 1.10 | Disco carregado

r’

r’’

Disco carregado
Fonte: elaborada pelo autor.:

Verifica-se que um disco carregado é a superposição de


vários anéis carregados. Dessa forma, para o disco, apenas
haverá a resultante no eixo z, também. Então é possível escrever:

.
b = (r ')2 + (r '')2

U1 - Eletrostática de meios contínuos 19


Fazendo r ' = z, r '' = r , dA = 2π r ⋅ dr , e cos(α ) = z / b , substitui-
se esses valores e integra-se a equação anterior. Supondo que o disco
tenha raio R, ocorrerá:

Assim, para pontos muito próximos da placa: R>>z. Logo:


.

Note que o campo elétrico, nesse caso, independe do raio e da


distância da placa.
−12
Sendo ε 0 = 8, 85 × 10 a constante de permissividade do
vácuo, é possível calcular o campo elétrico para cada distribuição
de carga dada:
σ 1 = 4, 3 × 10−8 C/m 2 → E1 = 2, 43 × 103 N/C
σ 2 = 8, 7 × 10−8 C/m 2 → E2 = 4, 97 × 103 N//C
σ 3 = 6,1× 10−8 C/m 2 → E3 = 3, 45 × 103 N/C
Logo, você escolheu a placa de raio 2 cm, com densidade de carga
igual a 8, 7 × 10−8 C/m 2 .

Avançando na prática

Cálculo do campo elétrico gerado por um plano carregado

Descrição da situação-problema
Imagine que você está trabalhando em um projeto nas instalações
de um grande parque industrial. No momento, a instalação do parque
conta com um assentamento e um dispositivo para-raios. Devido
a uma tempestade e uma falha do dispositivo, um raio causou uma
acumulação de cargas elétricas do plano do assentamento. Um
estudo demonstrou que, devido ao raio, uma densidade de cargas de

20 U1 - Eletrostática de meios contínuos


9 × 10−9 C/m 2 ficou acumulada uniformemente no plano. Seu gestor
solicitou que, com base nessa informação de densidade de cargas,
você calcule o campo elétrico nas proximidades do piso, de forma que
seja verificado se essa energização acidental poderia afetar de forma
considerável os equipamentos que devem ser instalados no chão de
fábrica. Se o campo elétrico for superior a 600 N/C, os equipamentos
poderão ter o funcionamento comprometido.

Resolução da situação-problema
Modele essa situação como o cenário de um plano infinito de
cargas, pois você deseja obter o campo nas proximidades do piso, e
como se trata de um parque industrial, significa que as dimensões do
terreno são muito maiores que a distância do piso em que o campo
elétrico será calculado. Considere um plano infinito como uma
superposição de fios infinitos no plano definido por dois eixos, como
mostra a Figura 1.11.

Figura 1.11 | Plano infinito carregado

z
dr
Plano Infinito

Fio Infinito
Fonte: elaborada pelo autor.

Voltando ao resultado do campo elétrico calculado a uma distância


de um fio infinito, é possível escrever a equação de dE devido a um
fio infinito de espessura dy, considerando que a densidade linear neste
fio pode ser dada a partir da densidade superficial, conforme segue:
 σ dy
dE = .
2πε 0 r

U1 - Eletrostática de meios contínuos 21


2 2
Sabe-se que r =  y + z , e que devido à simetria, apenas a
componente de dE > no eixo z produzirá uma resultante não nula.
Logo, a expressão anterior pode ser integrada apenas para o eixo z, de
forma a obter o campo total:

Para uma densidade de carga de 9 × 10−9 C/m 2 :


9 × 10−9
E= = 508, 5 N/C .
2 × 8, 85 × 10−12
Uma vez que o campo calculado é menor que 600 N/C, a
densidade de carga não provocará prejuízos ao funcionamento dos
equipamentos.

Faça valer a pena

1. Quando um corpo se encontra em equilíbrio eletrostático, é possível


definir uma densidade superficial de cargas, que é dada pela razão entre a
carga total distribuída na superfície e a área desta superfície.

Considere uma placa uniforme quadrada de lado igual a 2 cm. Se sobre esta
placa encontra-se um volume de cargas uniforme, cuja carga total é igual a
3 × 10−3 C, a densidade de carga da placa será:

a) 1, 5 × 10 −6 C / m 2 .
b) 7, 5 × 10 −6 C / m 2 .
c) 1, 2 × 10 −6 C / m 2 .
d) 7, 5C / m 2 .
e) 1, 3 × 10 −1C / m 2.

2. Considere uma barra de comprimento L carregada com cargas


uniformemente distribuídas, conforme mostrado na Figura 1.12. No eixo
desta barra está localizado um ponto P distante de uma distância d da
extremidade esquerda da barra.

22 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.12 | Barra com cargas uniformemente distribuídas

Fonte: elaborada pelo autor.

1
Se a barra tem um total de cargas igual à Q, considerando que k = ,
qual será o campo no ponto P? 4πε 0

Q 1 1 
a) − .
kL  d d + L 
Q 1 1 
b) k − .
L  d d + L 

Q 1 1 
c) k + .
L  d d − L 
Q  1 
d)  d− .
kL  d + L 
Q L 1 
e) k + .
L  d d + L 

3. Um acelerador de partículas instalado em um laboratório de análise de


fenômenos eletromagnéticos tem um tubo de comprimento L pelo qual
passará a partícula. No ponto médio deste tubo existe um anel carregado
com densidade de cargas igual à lambda, conforme mostra a Figura 1.13:

Figura 1.13 | Estrutura do acelerador de partículas com anel de densidade de carga λ

Fonte: elaborada pelo autor.

Das formas de onda mostradas na Figura 1.14, qual é a que melhor representa
a magnitude do campo elétrico pelo qual a partícula atravessa ao ir da
extremidade esquerda até a extremidade direita do tubo?

U1 - Eletrostática de meios contínuos 23


Figura 1.14 | Alternativas de gráfico da magnitude do campo elétrico da partícula ao
passar pelo acelerador

E E E

x x x

(a) (b) (c)


E E

x x

(d) (e)

Fonte: elaborada pelo autor.

a) Figura a.
b) Figura b.
c) Figura c.
d) Figura d.
e) Figura e.

24 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Seção 1.2
Lei de Gauss

Diálogo aberto
Na seção anterior, foi analisado o cálculo do campo elétrico em
distribuições contínuas de carga. Em algumas aplicações, os cálculos
podem envolver esforços matemáticos significativos. Agora, nesta
seção, você irá estudar uma alternativa que ajudará a minimizar os
esforços de cálculos em algumas situações mais complexas: a Lei de
Gauss. Para isso, será necessário compreender a definição de fluxo de
campo elétrico e, a partir dela, chegar nesta lei.
O problema que você deverá resolver agora envolve uma tomada
de decisões. Na sua segunda tarefa, você foi designado a participar
de um estudo para o emprego de diferentes materiais dielétricos na
fabricação de capacitores eletrolíticos. Sua função é calcular o campo
elétrico dentro do dielétrico destes capacitores, de forma que o campo
elétrico mínimo seja de 1000 N/C para uma densidade de carga de
6,1× 10−8 C /m 2. No entanto, os capacitores serão fabricados com três
materiais dielétricos diferentes. A seguir é apresentada a Tabela 1.1 que
mostra a constante dielétrica e o custo de cada um dos materiais que
podem ser empregados.

Tabela 1.1 | Constante dielétrica e custo para diversos materiais

Material dielétrico Constante dielétrica ( k ) Custo (R$)

Porcelana 5 100,00
Mica 7 300,00
Polietileno 2,5 500,00

Fonte: elaborada pelo autor.

Com base nessas informações, qual tipo de material você escolheria?

U1 - Eletrostática de meios contínuos 25


Não pode faltar
Para calcular o campo elétrico em distribuições contínuas de carga,
você viu na Seção 1.1 que é possível considerar o caso de uma partícula
puntiforme e extrapolar para uma determinada distribuição de carga,
integrando os efeitos de cada um dos elementos infinitesimais de carga
presentes nesta distribuição. Entretanto, apenas com os conceitos de
campo elétrico vistos na última seção, será muito complicado realizar
essa tarefa. Por isso, agora, você será desafiado a aplicar a Lei de Gauss
com a finalidade de simplificar os problemas de cálculo de campo e
fluxo elétrico.
Primeiramente, entenda o conceito de fluxo de campo elétrico,
fazendo uma analogia com o fluxo de água por um cano. A vazão
(ou fluxo) de água pode ser definida pelo produto da velocidade da
água pela área do cano em que ela atravessa. Quando se fala de fluxo
de campo elétrico, automaticamente faz-se referência à passagem de
outra grandeza vetorial – o campo elétrico – por determinada região
de área. Apesar de neste caso não haver um movimento, a analogia do
cálculo permite chamar o resultado do produto escalar entre o campo
elétrico e a área vetorial da superfície de fluxo de campo elétrico.
Para entender melhor, considere a Figura 1.15a, que demonstra as
linhas de um campo elétrico uniforme passando por um plano que
possui certa angulação. O versor determina um vetor perpendicular
ao plano e é chamado de normal.  Este vetor converte a área do
plano em uma grandeza vetorial (A = A ). O fluxo elétrico pode ser
determinado pelo produto escalar:

Assim, a direção do campo elétrico com relação à superfície


considerada irá influenciar no ângulo θ e, portanto, no valor do fluxo.
Quando o vetor de fluxo está no mesmo sentido da normal, assim
como mostra a Figura 1.15b, o fluxo será máximo, pois cos(0°) = 1 . Por
outro lado, se o vetor de campo está perpendicular à normal como
mostra a Figura 1.15c, o fluxo será nulo, pois cos(90°) = 0 .

26 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.15 | Fluxo de campo elétrico em uma superfície plana

(a) (b) (c)

Fonte: elaborada pelo autor.

Assimile
Fluxo de campo elétrico é determinado pelo produto escalar entre o vetor
de campo elétrico e o vetor área que este fluxo percorre. Por definição,
o fluxo elétrico parte da carga positiva e termina na carga negativa. Na
ausência de carga negativa, o fluxo segue infinitamente. O cálculo do
fluxo de campo elétrico é dado por .

Veja agora uma ideia generalizada de vazão para o fluxo de campo


elétrico, conforme mostra a Figura 1.16. As diversas linhas de campo
elétrico não estão necessariamente no mesmo sentido e cada uma
passa por pequenas partes da superfície ( dAi ). Para cada uma dessas
áreas existe uma quantidade infinitesimal de fluxo de campo elétrico (
dΦ ), definido por:

Figura 1.16 | Fluxo elétrico em uma superfície fechada

Fonte: elaborada pelo autor

Aplicando o princípio da superposição, é possível escrever o fluxo


total somando os fluxos infinitesimais, ou seja, calculando a integral:
n → →
Φ = ∫ i=1 Ei . dAi
Em uma superfície fechada, é possível fazer uma integração e
escrever:
→ → → →
Φ = ∫ E . dA = ∫ E . ndA
S S

U1 - Eletrostática de meios contínuos 27


Exemplificando
Considere a área S fechada, delimitada por um cilindro, conforme a figura
a seguir, com um campo elétrico uniforme e perpendicular atravessando
tangencialmente ao eixo deste cilindro. Qual o fluxo de campo total que
passa através de S?

Figura 1.17 | Campo elétrico percorrendo um cilindro

Fonte: elaborada pelo autor.

Resolução: Inicialmente, determine três áreas que compõem a superfície


S: a área A, B e C. As áreas A e C são definidas pelas tampas do cilindro,
enquanto que a área B determina a superfície lateral. Dessa forma, o fluxo
que passa pela área S é igual à soma do fluxo por cada uma das áreas.
Φ S = Φ A + Φ B + ΦC
Por convenção, em uma superfície fechada, o vetor normal deve estar
localizado externamente à superfície, por isso, para cada uma das áreas
será feito o cálculo conforme a figura:

Figura 1.18 | Superfícies A, B e C do cilindro

𝑛�𝐴 A B 𝑛�𝑐
𝐸 𝐸
𝑛�𝐵 C 𝐸

Fonte: elaborada pelo autor.

Logo, percebe-se que:


ΦS = Eπ R 2 cos(180°) + Eπ R 2  cos(90°) + Eπ R 2 cos(0°) ,

ΦS = −Eπ R 2 + 0 + Eπ R 2 = 0

A Figura 1.19 a seguir mostra uma carga pontual no interior de uma


superfície e o campo elétrico em determinado ponto da superfície a
uma distância r da carga.

28 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.19 | Carga pontual no interior de uma superfície fechada

Fonte: elaborada pelo autor.

No ponto de uma área infinitesimal dA, a normal não está


necessariamente na mesma direção de r. Logo, é possível projetar uma
área dA cos(θ ) perpendicular a r. Defina dΩ, tal que:
dA cos(θ )
dΩ =
r2
Dessa forma, o fluxo de campo elétrico pode ser reescrito assim:

Entretanto, você deve se lembrar de que o campo de uma carga


puntiforme a uma distância r é dado por:
q
E (r ) =
4πε 0 r 2
Com base nisso, e sabendo que  em uma esfera varia de 0 à 4π,
integrando do lado direito e do lado esquerdo, ocorrerá:
q q 4π q q

Φ = E (r )r 2d Ω =
S
∫ 4πε r
S 0
2
r 2d Ω =
4πε 0 ∫
0
dΩ =
4πε 0
4π =
ε0
Logo, a Lei de Gauss pode ser definida como a relação entre o
campo elétrico em uma superfície que envolve uma quantidade de
carga a partir da equação a seguir:

A equação considera a quantidade de carga total ( qint ) no interior da


superfície fechada. Mas o que ela significa?
A equação para Lei de Gauss relaciona uma quantidade de carga
com o campo elétrico de forma generalizada e pode ser aplicada
em diversas situações. Para isso, é necessário considerar a região

U1 - Eletrostática de meios contínuos 29


na qual a equação será aplicada, traçando sobre ela uma superfície
fechada, tridimensional e imaginária, que é denominada superfície
gaussiana. O fluxo através de uma superfície fechada produzido por
cargas interiores é igual à soma algébrica das cargas interiores dividida
pela permissividade do meio. Por outro lado, o fluxo através de uma
superfície fechada produzido por cargas exteriores é nulo.
Para entender melhor o conceito, considere a Figura 1.20, que
mostra as linhas de fluxo entre duas partículas de cargas +q e –q e
quatro superfícies gaussianas desenhadas. Você consegue visualizar
o valor do fluxo em cada uma delas? Basta aplicar o lado direito da
equação da Lei de Gauss. Veja que, na superfície S1 , há uma carga +q
+q
e, por isso, o fluxo será . Já na superfície S2 não existe carga, logo,
ε0
o fluxo é zero. No interior da superfície S3 existe uma carga –q, logo,
−q
o fluxo será .
ε0
Figura 1.20 | Linhas de fluxo elétrico e superfícies gaussianas entre duas cargas

S
S2

S1
S3
+ +q - -q

Fonte: elaborada pelo autor.

Reflita
Com base no que você aprendeu até agora sobre fluxo elétrico e Lei de
Gauss, qual será o fluxo na superfície S da Figura 1.20?

Assimile
A Lei de Gauss relaciona o campo elétrico em uma superfície fechada,
imaginária e tridimensional, denominada superfície gaussiana, com a

30 U1 - Eletrostática de meios contínuos


soma total de cargas no interior desta superfície ( qint ) sendo dada por:

Dessa forma, se uma carga no exterior de uma superfície gaussiana gera


um campo cujas linhas a atravessam, o fluxo total por essa superfície será
igual a zero.

A Lei de Gauss é uma lei geral que pode ser utilizada


amplamente para o cálculo do campo elétrico, contudo, deve-se
atentar para a utilização da simetria adequada quando a superfície
gaussiana for determinada.
A Lei de Gauss pode ser uma grande aliada para minimizar cálculos.
Por exemplo, para determinar o campo elétrico a uma certa distância
de um fio infinito, na seção anterior foram utilizadas diversas relações
trigonométricas. No entanto, a obtenção de uma expressão para esse
campo elétrico utilizando a Lei de Gauss é muito mais simples: basta
considerar uma simetria cilíndrica, adotando como superfície gaussiana
um cilindro de raio qualquer, envolvendo este fio infinito, conforme
mostra a Figura 1.21.

Figura 1.21 | Exemplo de simetria cilíndrica com fio infinito carregado

Fonte: elaborada pelo autor.

Se existe uma certa distribuição linear uniforme de cargas neste fio,


pode-se visualizar que na região do cilindro tem-se uma carga total
dada por: Q = λ h .
Para calcular o fluxo elétrico por meio de um ponto da superfície
lateral do cilindro, é necessário resolver a integral do lado esquerdo
da Lei de Gauss. Porém é importante visualizar que, em todos os
elementos de área da superfície lateral, o vetor área dA tem uma

U1 - Eletrostática de meios contínuos 31


direção radial para fora da superfície gaussiana, assim como o campo
elétrico uniforme. Portanto, o produto escalar que aparece na Lei de
Gauss será:

Completando a equação com o lado direito, é possível encontrar o


campo elétrico:
Q λh λ
E (2π rh ) = = → E= .
ε0 ε0 2π r ε 0
Outra situação em que pode-se simplificar significativamente os
cálculos é o problema de uma placa infinita com uma densidade
superficial de carga positiva σ . O campo elétrico em uma distância r
da placa pode ser calculado utilizando a Lei de Gauss e uma superfície
gaussiana simétrica ao plano, como mostra a Figura 1.22.
Para esse tipo de problema, podemos utilizar como superfície
gaussiana um cilindro com o eixo perpendicular à placa e fechado
em suas extremidades. Nesse caso, resulta um campo perpendicular à
placa e às bases do cilindro. A figura ainda mostra uma placa com cargas
positivas, logo, a direção do campo é saindo da mesma, atravessando
as duas bases do cilindro no sentido de dentro para fora. Na superfície
lateral do cilindro, o produto escalar do fluxo será igual a zero. Logo,
basta calcular os fluxos nas bases do cilindro utilizando a Lei de Gauss:

Figura 1.22 | Exemplo de simetria plana com placa infinita carregada

Fonte: elaborada pelo autor.

32 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Exemplificando
Duas placas carregadas, uma positivamente e outra negativamente,
possuem densidades de carga de 6 × 10−6 C/m 2 e 3 × 10−6 C/m 2 ,
respectivamente. Qual será o campo elétrico entre as placas?
Resolução: O sentido dos campos elétricos devido às placas com
cargas positivas e negativas são dados na figura a seguir por E+ e

E− , respectivamente.

Figura 1.23 | Campos elétricos entre duas placas carregadas

+++++++++++++++++

----------------
Fonte: elaborada pelo autor.

Considere que o comprimento das placas é suficientemente extenso.


Logo, no interior das placas, o valor do campo será dado por:
σ+ σ σ + σ − (6 + 3) × 10−6
Ein = + − = + = = 1, 02 × 106 N/C
2ε 0 2ε 0 2ε 0 8, 85 × 10−12

Faça você mesmo


No problema anterior, qual será o valor do campo elétrico nos dois lados
externos das placas?

Finalmente, um dos casos que ajudam muito na simplificação de


cálculos é o uso da simetria esférica. Inicialmente, considere o cálculo
do campo de uma carga puntiforme a uma distância r qualquer. É
possível pensar em uma simetria esférica, como mostra a Figura 1.24.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 33


Figura 1.24 | Exemplo de simetria esférica com carga puntiforme

Fonte: elaborada pelo autor.

Logo, ao calcular o campo a uma distância r da carga, pode-se


pensar em uma superfície esférica de raio r e aplicar a Lei de Gauss da
forma como mostrada a seguir:

Veja que o resultado é exatamente o campo derivado da Lei de


Coulomb. Entretanto, esse caso é trivial. Nos casos mais complexos
de distribuições contínuas de carga, é indicado a utilização da Lei de
Gauss para simplificar os cálculos.
Pense em outras situações que permitem utilizar a Lei de Gauss
traçando uma superfície gaussiana de simetria esférica. Considere
exista um amontoado uniformemente distribuído em uma superfície
no formato de casca, não necessariamente esférica. No entanto,
é possível traçar duas gaussianas de formato esférico, conforme
mostrado na Figura 1.25, nomeadas de S1 , de raio R, e S2 , de raio r.

Figura 1.25 | Exemplo de simetria esférica com casca carregada

𝑄
𝑆1

𝑆2
R
r

Fonte: elaborada pelo autor.

34 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Aplique a Lei de Gauss para calcular o campo elétrico no interior e
exterior da casca com distribuição uniforme de cargas. Para calcular o
campo no exterior, utilize a superfície esférica S1 :

Em qualquer ponto distante de um raio R do centro da casca, cuja


superfície esférica cubra toda a distribuição, o campo se comporta
como o de uma partícula de mesma carga a uma distância r.
No interior da casca esférica, é possível utilizar novamente a Lei de
Gauss na superfície S2 :

Uma vez que a carga interna a esta superfície é igual a zero, o


campo também será. Os dois resultados compõem a lei das cascas,
que determina que o campo no interior de uma casca carregada
eletricamente e uniformemente é igual a zero, enquanto que a carga
no exterior da casca é igual à carga de uma carga puntiforme, de
mesmo valor de carga total, localizada a uma distância do ponto em
que se deseja obter o campo elétrico até o centro.

Pesquise mais
A Lei de Gauss relaciona o campo elétrico em uma superfície fechada, ou
seja, o fluxo do campo elétrico pode ser determinado por uma integral
de volume envolvendo a divergência do campo elétrico. Assim, é possível
determinar uma forma da Lei de Gauss que envolve o divergente do
campo e a distribuição volumétrica de carga:
  ρ
∇⋅E =
ε0
Para mais informações sobre essa relação, consulte em sua biblioteca
virtual a Seção 1.7 do livro a seguir:
REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 35


Sem medo de errar

Relembre agora a tarefa que você precisa realizar no projeto


dos capacitores. Com os conceitos aprendidos nesta seção, você
será capaz de utilizar a Lei de Gauss, indicando ao seu gestor qual
material deve ser adquirido, com base nas informações da Tabela 1.1.
Entretanto, algumas considerações importantes devem ser feitas. Por
exemplo, onde você traçaria a superfície gaussiana neste caso? Como
se trata de um capacitor sem dielétrico, é possível considerar uma das
placas carregadas e traçar uma gaussiana para obter o campo elétrico
internamente, conforme a Figura 1.26.

Figura 1.26 | Placas do capacitor sem dielétrico

+++++++++++++++++

Gaussiana

----------------

Fonte: elaborada pelo autor.

Aplicando a Lei de Gauss, obtém-se o campo no interior das placas:

Com dielétrico, haverá uma concentração de cargas negativas –q’


no dielétrico muito próximo da placa carregada, conforme mostra a
Figura 1.27. Neste caso, a carga interna dentro da superfície gaussiana
não será mais somente q, mas, sim, a diferença das cargas.

Figura 1.27 | Placas do capacitor com dielétrico

+++++++++++++++++
----------------
Gaussiana
Dielétrico
+++++++++++++++++
----------------

Fonte: elaborada pelo autor.

36 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Aplicando a Lei de Gauss, obtém-se o campo no interior das placas:

Percebe-se que o valor da magnitude de campo E é menor que


E0 . Essa redução é proporcional à constante dielétrica. Assim:
q
q −q' =
k
E também:
E q
E= 0 =
k kε 0 A
Considere, inclusive, que a densidade superficial de carga é dada
q
por , logo:
A
σ
E=
kε 0
Para os materiais descritos, ocorrerá:
6,1× 10−8
E porcelana = = 1, 3785 × 103 N/C
5 × 8, 85 × 10−12
6,1× 10−8
Emica = = 985 N/C
7 × 8, 85 × 10−12
6,1× 10−8
E polietileno = −12
= 2, 7571× 103 N/C
2, 5 × 8, 85 × 10

Ao analisar os requisitos (considerando que o campo deve ser maior


que 1000 N/C), você pode perceber que a porcelana e o polietileno
são os materiais mais adequados. A partir da tabela de custo fornecida,
você verificará que o custo da porcelana é menor que o do polietileno.
Logo, é preferível escolher a porcelana pelo menor custo (R$100,00).

Avançando na prática

Condutor carregado – exemplo de um container de aço

Descrição da situação-problema

Em uma obra de construção civil, existem containers de aço maciço


que são utilizados para estocagem de material. Percebeu-se que

U1 - Eletrostática de meios contínuos 37


um container acumula cargas nas superfícies de sua parede externa.
Considerando que a distribuição de carga possui uma densidade
superficial de 7 × 10−6 C/m 2 , foi solicitado que você, como responsável
pela obra, apresente os cálculos de campo elétrico nas proximidades
da parede desse container.

Resolução da situação-problema
Uma forma de resolver o problema é aplicar a Lei de Gauss para o
condutor carregado traçando uma superfície gaussiana (um cilindro,
por exemplo), como mostrado na Figura 1.28:

Figura 1.28 | Parede do container carregada eletricamente


++++ +++++++++++++

Fonte: elaborada pelo autor.t

Você pode perceber que o campo elétrico a uma distância da


superfície do condutor carregado também será perpendicular a esta
superfície. Na superfície gaussiana não há fluxo através da base que
se encontra dentro do condutor, pois o campo elétrico é nulo. Na
superfície lateral do cilindro o campo é nulo no lado de dentro do
condutor e perpendicular à normal da superfície do lado de fora. O
único fluxo que atravessa a superfície gaussiana é o da base que se
encontra fora do condutor. Suponha que a área da base seja A. Então,
o fluxo através da base do cilindro será dado pela Lei de Gauss, que
permite descrever o campo:

38 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Entretanto, carga envolvida pela superfície gaussiana está na
superfície do condutor e ocupa uma área A. A partir disso, é possível
obter uma relação entre a carga e a densidade de carga superficial:
q
σ = int → qint = σ A
A
Substituindo o valor de qint e os valores dados, ocorrerá:
σ 7 × 10−6
E= = = 7, 909 × 105 N/C
ε 0 8, 85 × 10−12
Assim, você pode reportar o valor obtido e partir para um
novo desafio.

Faça valer a pena

1. Considere que a figura a seguir apresenta quatro cargas puntiformes.


A região tracejada define uma superfície gaussiana esférica que
envolve as cargas q1 , q3 e q4 . Para que o fluxo de campo elétrico seja
_________ na região da gaussiana, é necessário que a soma de q1 , q3
e q4 seja __________, e que a carga q2 ___________ para o fluxo na
superfície gaussiana.

Figura 1.29 | Cargas puntiformes e superfície gaussiana

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa com as palavras que completam corretamente


as lacunas:

a) Positivo - negativa - colabore.


b) Negativo - positiva - colabore.
c) Nulo - zero - colabore.
d) Nulo - zero - não colabore.
e) Positivo - zero - não colabore.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 39


2. Em um equipamento são colocados dois cilindros de raios iguais a 3 cm
e 6 cm. Estes cilindros estão eletricamente carregados com uma densidade
linear de carga de 5, 0 × 10−6 C/m para o primeiro e −7, 0 × 10−6 C/m para
o segundo. Os cilindros são concêntricos, ou seja, o cilindro menor está
posicionado no interior do maior e ambos compartilham o mesmo eixo.

Com base nos dados, os campos elétricos situados a um raio de 4 cm e 8


cm do centro dos cilindros são, em N/C, respectivamente.

a) −4, 5 × 105 e 2, 25 × 106.


b) 4, 5 × 105 e −2, 25 × 106.
6
c) 2, 25 × 105 e −4, 5 × 10 .
6
d) 2, 25 × 10 e −4, 5 × 105.
e) 2, 5 × 106 e −2, 5 × 106.

3. Considere uma esfera oca de raio igual a 10 cm e carregada eletricamente


com uma carga igual a -q. Dentro da esfera existe outra esfera maciça de
raio igual a 5 cm e que está carregada eletricamente com carga igual a +q.
Ambas as esferas são concêntricas, ou seja, possuem o centro de raio na
mesma localização.

Determine o campo elétrico na região de raio igual a 7 cm que está no


interior da esfera oca e exterior da esfera menor:

a) 0, 54q × 1012 N/C .


b) 1, 84q × 1012 N/C .
c) 0, 54q × 10−12 N/C .
d) 1, 84q × 10−12 N/C .
e) 2q × 10−12 N/C .

40 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Seção 1.3
Energia e potencial eletrostático

Diálogo aberto
Nas seções anteriores você estudou o cálculo do campo elétrico em
distribuições contínuas de carga, assimilando conceitos importantes,
como a Lei de Gauss. Nesta seção serão definidos os conceitos de
potencial elétrico (ou eletrostático) e energia de potencial elétrico para
distribuições contínuas de carga.
O estudo da energia e do potencial elétrico quantifica a quantidade
de energia necessária para uma partícula se mover em um campo
elétrico. Dessa forma, uma grande diferença de potencial em dois
pontos de um campo elétrico significa que, quando uma partícula
carregada é colocada em um destes pontos, será utilizada uma grande
quantidade de energia (ou trabalho) para movê-la. Assim, o estudo do
potencial é muito importante em situações da eletroestática.
Dando continuidade ao seu trabalho em uma multinacional que
produz capacitores eletrolíticos, você foi chamado novamente pelo
grupo de projetos em que executou a sua primeira tarefa. Dessa
vez, é necessário que seja calculado o potencial elétrico nas chapas
circulares a uma distância igual ao raio das mesmas. O critério de
projeto é que sejam utilizadas as placas com o maior potencial elétrico
nestas condições. Existem chapas com raios de 1 cm, 2 cm e 5 cm,
cuja densidade de carga considerada é de 4,3 x 10-8 C/m2, 8,7 x 10-8
C/m2 e 6,1 x 10-8 C/m2, respectivamente. Com esse novo critério,
seriam utilizadas as mesmas placas? Essa decisão dependerá dos
conhecimentos sobre potencial elétrico e energia potencial elétrica,
que você aprenderá nesta seção. Assim, será possível sintetizar as
informações referentes ao projeto e finalizar o relatório para a equipe
de fabricação.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 41


Não pode faltar

Nas ultimas seções, você aprendeu sobre força elétrica e campo


elétrico em distribuições contínuas de carga. Estas são grandezas
vetoriais, ou seja, são representadas por meio de vetores. Já a energia
e o potencial elétrico são grandezas escalares. Isso significa que a
representação destas grandezas é definida apenas pela magnitude, não
havendo direção e sentido, como no caso de força e campo elétrico.

Assimile
Força e campo elétrico são grandezas vetoriais, enquanto energia e
potencial elétrico são grandezas escalares.

Para falar de potencial elétrico, é interessante compreender


inicialmente o conceito de energia potencial eletrostática. Para isso,
será feita uma analogia com a energia potencial gravitacional. Imagine
que uma partícula de massa m está em um campo gravitacional e

sobre ela age uma força dada por mg , com sentido indicado na Figura
1.30a. No caso análogo, quando uma partícula de carga q0  está em
um campo elétrico, age sobre ela uma força dada por q0 E , como
mostra a Figura 1.30b.

Figura 1.30 | Analogia da ação de forças em uma partícula de massa m (a) em um campo
gravitacional em uma partícula de carga q0 no campo elétrico (b)

(a) (b)

Fonte: elaborada pelo autor.

42 U1 - Eletrostática de meios contínuos


De acordo com os conceitos de Mecânica, para saber a diferença
de energia potencial, no caso gravitacional, quando o corpo se desloca
de uma altura h1 até uma altura h2 , deve-se calcular:
∆U = −mg (h2 − h1 ) = −mgh

No caso de uma partícula em um campo elétrico, é possível calcular


essa energia de forma análoga, substituindo

a força gravitacional, dada
  
por mg , pela força elétrica, dada por q0 E . Note que a quantidade E × d 
é um produto escalar, ou seja, existe um ângulo entre esses vetores.
Dessa forma, ao calcular uma diferença de energia potencial ou de
potencial elétrico, pode-se escolher o caminho mais conveniente para
fazê-lo, como dado na equação a seguir:
r
  2

∆U = − ∫ q0 E ⋅ d  = −q0 E ∫ d  = −q E(r
0 2 − r1 ) = −q0 Er
r1

Assim, uma partícula que se movimenta em um campo elétrico terá


uma energia potencial associada a ela. Resta entender como obter a
energia de uma partícula em um determinado ponto do campo elétrico
e, para isso, é necessário considerar o movimento desta partícula no
campo elétrico.
Generalize o campo elétrico (que não será uniforme
necessariamente) que mostra um corpo finito, carregado eletricamente,
e, portanto, produzindo um determinado campo elétrico, cujas linhas
estão representadas Figura 1.31. Imagine que uma partícula de carga q0
se desloca de um ponto A para um ponto B neste campo. No decorrer

da trajetória, pode-se obter o vetor de campo elétrico E , que pode

variar em direção e sentido em cada valor infinitesimal de trajetória d  .
Assim, conforme visto, pode-se obter a diferença de energia potencial
da seguinte forma:
B
 
∆U = UB − U A = − ∫ q E ⋅d 
0
A

U1 - Eletrostática de meios contínuos 43


Figura 1.31 | Movimento de uma partícula em um campo elétrico gerado por um corpo
finito carregado

finito

Fonte: elaborada pelo autor.

Uma vez que o corpo carregado é a origem do campo elétrico,


sabe-se que a intensidade do campo elétrico é maior nas proximidades
deste corpo e reduz à medida que se afasta dele. Portanto, em uma
distância infinita deste corpo, a energia potencial é zero, conforme
mostra a Figura 1.31. Neste caso, se o ponto A for levado ao infinito, é
possível escrever para o ponto B:
B B
   
UB − 0 = − ∫ ∫
q0 E ⋅ d  → UB = − q0 E ⋅ d 
∞ ∞

Para um ponto qualquer do campo elétrico, sendo que R é a


distância deste ponto até a origem do campo, é possível escrever a
função energia potencial para uma carga q0 neste ponto:
R
 
U (R ) = − ∫ q E ⋅d 
0

A função potencial também pode ser definida a partir da diferença de


energia potencial (DDP). Por definição, ao dividir a diferença de energia
potencial de uma partícula pela sua carga, obtém-se a diferença de
potencial elétrico, conforme segue:
∆U
∆V =
q0
Inicialmente, a diferença de potencial elétrico do ponto A ao ponto
B na Figura 1.31 pode ser representada da seguinte forma:

44 U1 - Eletrostática de meios contínuos


B
 
∆V = VB − VA = − ∫ E ⋅d 
A

Analogamente, levando o ponto A para o infinito, sendo que o


potencial é zero, haverá a função potencial elétrico para qualquer
ponto no campo elétrico distante de R da origem, dado por:
R
 
V (R ) = − ∫ E ⋅d 

Reflita

Na Figura 1.30b o maior potencial elétrico seria encontrado no ponto r1


ou no ponto r2 ?

Exemplificando

Considere uma partícula de carga q0 em um campo elétrico uniforme


e vertical que se desloca do ponto A ao ponto B. Calcule a diferença de
energia potencial e a diferença de potencial elétrico utilizando o caminho
dado pela reta AB, como mostra a Figura 1.32a, e pelos segmentos AC e
CB, como mostra a Figura 1.32b.

Figura 1.32 | Partícula de carga se deslocando em um campo uniforme: (a)


caminho AB; (b) caminho ACB

A A C

d d
x

B B

(a) (b)

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 45


Resolução: Para a Figura 1.32a, aplicando diretamente a equação para
calcular a diferença de potencial elétrico, considerando que o ângulo

entre E e d  é igual a zero (deslocamento e campo no mesmo sentido),
tem-se:
b
  b b

Va − Vb = − ∫ E ⋅d  = − ∫ E ⋅ d  cos(0°) = −E ∫ d  − E(b − a) = −Ed


a a a

Para a Figura 1.32b, analogamente, considere que o ângulo entre o campo


elétrico e a trajetória no segmento AC é igual a 90° , enquanto que na
trajetória CA o ângulo é igual a q , logo:
B
C
  B   C

Va − Vb = ∫
− E ⋅d − E ⋅d =
A

C

− E ⋅ d  cos(90°) − E ⋅ d  cos(θ )
A

C
B

= ∫
0 − E cos(θ )d  =
C
−Ex cos(θ ).

Mas note que, das relações trigonométricas, x cos(q ) = d , logo:


∆U = q0 ∆V = q0 (VA − VB ) = −q0 Ed
O resultado mostra que o resultado do cálculo independe do caminho.

O potencial elétrico a uma distância R de certa carga puntiforme


pode ser calculado considerando a função potencial, conforme segue:
R ∞ ∞ ∞ ∞ ∞
     q q 1 q  1 q
V (R ) = − ∫ E ⋅ d  = ∫ E ⋅ dr = ∫ E(r ) ⋅ dr =∫ 4πε r 0
2
⋅ dr =
4πε0 ∫r 2
⋅ dr = −  =
4πε0  r  R 4πε0 r
∞ R R R R

Um ponto importante a se destacar é que a existência de um campo


elétrico gera regiões equipotenciais, ou seja, regiões em que o potencial
elétrico é o mesmo. Elas são determinadas por linhas equipotenciais
que são perpendiculares à direção do vetor de campo elétrico e, para
alguns casos, são bem definidas. Por exemplo, a Figura 1.33 mostra dois
casos de linhas equipotenciais bem definidas: no caso de um campo
elétrico uniforme vertical (Figura 1.33a), as linhas equipotenciais são
horizontais (de forma semelhante, para um campo elétrico horizontal,
as linhas serão verticais). Para o caso de uma carga puntiforme, as
linhas equipotenciais são definidas por cascas de esferas concêntricas
à carga, conforme mostra a Figura 1.33b. O trabalho para mover uma
carga de um ponto a outro de uma superfície equipotencial é nulo, ou
seja, não haverá diferença de potencial ou de energia potencial.

46 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.33 | Superfícies equipotenciais: (a) campo elétrico uniforme vertical; (b) campo
gerado por uma partícula puntiforme

(a) (b)
Fonte: elaborada pelo autor.

Assimile
Para uma carga qualquer que se desloca saindo de um ponto de
uma superfície equipotencial e chega a outro ponto desta mesma
superfície, a diferença de energia potencial é zero, independentemente
do caminho percorrido.

Reflita
Considerando que as superfícies equipotenciais são perpendiculares às
linhas do campo elétrico, como serão as linhas equipotenciais de um
dipolo elétrico?

Os conceitos vistos até aqui são importantes, mas ainda é


necessário saber calcular a energia potencial e o potencial elétrico,
devido às distribuições contínuas de carga. Nesse caso, utilize o
princípio da superposição. Compreenda, primeiramente, a densidade
de energia potencial em um sistema de cargas puntiformes, para
que, posteriormente, possa expandir o conceito para as distribuições
uniformes de carga. Considere a Figura 1.34 a seguir, que mostra um
sistema de partículas formados por cargas puntiformes. O potencial
no ponto P é definido pela soma do potencial de cada uma das cargas
indicadas, seguindo o princípio da superposição:
qi qi
VN i =   → VN =
4πε0 | rN − ri | ∑ 4πε
i 0
 
| rN − ri |

U1 - Eletrostática de meios contínuos 47


Figura 1.34 | Sistema de cargas puntiformes

Fonte: elaborada pelo autor.

Da mesma forma, a densidade de energia potencial do sistema de


carga, para uma carga no ponto N, será dada por:
1 qi q j
U i = qNV i → U =
2 ∑ 4πε
i, j
 
0 | r j − ri |

Os índices i e j se referem aos pares de cargas no sistema. Deve-se


somar a energia dos pares de carga na equação apenas uma vez, por
isso, divide-se o somatório por 2 na equação apresentada.
Imagine agora uma distribuição uniforme de carga, da qual deseja-
se obter o potencial elétrico no ponto P a uma certa distância de
um elemento infinitesimal de carga, conforme mostra a Figura 1.35.
Lembre-se de que esta distribuição contínua de cargas pode ser linear,
superficial ou volumétrica.

Figura 1.35 | Ponto P próximo a uma distribuição contínua de cargas


z

y
Fonte: elaborada pelo autor.

48 U1 - Eletrostática de meios contínuos


O elemento diferencial de carga pode ser considerado como uma
carga puntiforme, de valor dq. Logo, existe um elemento diferencial do
potencial elétrico no ponto P devido a esta carga, que está escrito da
seguinte forma:
dq
dVP =  
4πε0 | ri − rP |

Pelo princípio da superposição, pode-se integrar dVP em toda


distribuição de carga para obter o potencial no ponto P. Essa integral
deve ser feita sobre uma linha (  ' ), uma área (A’) ou um volume (V’)
dependendo do tipo de distribuição de carga considerada:
dq 1 dq
VP = ∫   =
4πε0 | ri − rP | 4πε0 ∫  
| ri − rP |
 ', A ',V '  ', A ',V '

Uma vez reconhecido o potencial no ponto P, pode-se calcular a


energia potencial de uma carga qualquer q0 , multiplicando o potencial
pela carga, como na equação a seguir:
UP = q0Vp

Exemplificando
Para ilustrar o cálculo do potencial elétrico em uma distribuição contínua
de carga, considere o exemplo de um anel carregado com densidade
linear de carga igual a l = 3 ×10−2 C/m . O anel tem raio r = 2 cm, como
mostra a Figura 1.36. Como é possível obter o potencial elétrico no ponto
P a uma distância z = 3 cm do centro deste anel?

Figura 1.36 | Ponto P próximo a um anel com distribuição contínua de cargas

a
z

Fonte: elaborada pelo autor.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 49


Resolução: A Figura 1.36 mostra que a distância a entre o ponto P e a
quantidade infinitesimal de carga dq é dada pela hipotenusa do triângulo
retângulo de catetos iguais a r e z. O anel tem uma distribuição linear de
cargas. Logo, o potencial determinado pela quantidade infinitesimal de
carga dq pode ser escrito, em qualquer ponto distante de z, por:
1 dq
dV ( z ) =
4πε0 r 2 + z2
Note que este potencial é também uma quantidade infinitesimal, logo,
para determinar o potencial total no ponto P é necessário integrar dVp em
todo o anel, conforme segue:
1 dq
V (z) =
4πε0 ∫ r 2 + z2
Anel

Entretanto, integrando dq em todo o anel, tem-se a carga do mesmo. No


entanto, a carga do anel pode ser escrita como: qanel = λ ⋅ 2πr
1 qanel 1 λ ⋅ 2πr λ r
V (z) = = =
4πε0 r 2 + z2 4πε0 r 2 + z2 2ε0 r 2 + z2

Agora, para obter o potencial do ponto P, basta substituir os valores dados:


λ r 3 ×10−2 0, 02
V (0, 03) = = 7 ×108V
= 9,4337
2ε0 2
r +z 2 2 × 8, 82 ×10−12 0, 022 + 0, 032

Pesquise mais
Quando se sabe o campo elétrico em uma determinada região do espaço,
é possível determinar o potencial em qualquer ponto deste campo elétrico.
De forma análoga, é possível determinar o campo elétrico sabendo como
se comporta V em todo o espaço. Essa relação entre campo e potencial
se dá através de derivadas V.
De forma geral, pode-se escrever que:

E = −∇V
Para mais informações sobre como obter esta relação, consulte a Seção
1.8.4 do livro a seguir, que está disponível gratuitamente na biblioteca
virtual:
REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

50 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Sem medo de errar

Retome suas tarefas na empresa fabricante de capacitores. Lembre-


se de que você está atuando como membro da equipe de projeto e,
nesta etapa, será necessário revisar a escolha das chapas circulares
com base no potencial elétrico. Para realizar a tarefa, você deve utilizar
os conceitos apresentados nesta seção.
Calcule o potencial elétrico nas chapas circulares a uma distância
igual ao raio das mesmas, sendo que é recomendado que seja escolhida
a chapa que apresenta o maior potencial elétrico. As chapas têm raios
de 1 cm, 2 cm e 5 cm, cuja densidade de carga considerada é de 4,3 x
10-8 C/m2, 8,7 x 10-8 C/m2 e 6,1 x 10-8 C/m2, respectivamente.
A Figura 1.37 mostra um disco de raio r eletricamente carregado e
um ponto P distante de uma certa distância z.

Figura 1.37 | Ponto P próximo a um disco com distribuição contínua de cargas

a
z

Fonte: elaborada pelo autor.

Conforme já visto na Seção 1.1, um disco com uma distribuição


superficial de cargas pode ser entendido como uma superposição
de vários anéis com uma distribuição uniforme de cargas. No último
exemplo apresentado em Não pode faltar foi calculado o potencial
elétrico de um anel com uma distribuição linear de cargas. É
interessante que você retorne a este exemplo e o entenda bem, pois o
resultado obtido é similar ao cálculo do potencial elétrico de um disco
com distribuição uniforme de cargas. Se você não tem dúvidas quanto
ao exemplo do anel, prossiga os estudos.
É possível selecionar uma parte infinitesimal de área do disco
dado por um anel qualquer situado no mesmo e associar a ela uma

U1 - Eletrostática de meios contínuos 51


quantidade infinitesimal de carga dq, que pode ser calculada por meio
da densidade superficial de carga e da parcela infinitesimal da área,
como segue:
dq = σdA = σ 2πr dr

A partir disso, utiliza-se a equação do potencial elétrico para um


ponto P situado a uma distância z do centro do anel de carga. Logo, o
potencial devido no ponto P pode ser escrito da seguinte forma:
1 dq 1 σ 2πr dr σ r dr
dVP = = =
4πε0 2
r +z 2 4πε0 r 2 + z 2 2ε0 r + z2
2

Note que tal equação é similar à obtida para um anel com distribuição
de cargas e, de fato, dVP é o potencial gerado por um dos infinitos
anéis que compõem o disco. Entretanto, no caso do anel, é necessário
integrar todo o seu perímetro e utiliza-se a densidade linear de carga.
Para o caso do disco, utiliza-se a densidade superficial de carga.
O potencial elétrico no ponto P pode ser obtido calculando a
integral de dVP com o raio variando de zero até R, sendo que R é o
raio do disco. O valor de R deverá ser substituído posteriormente pelo
raio das placas:
R

( )
R
σ rdr σ σ
Vp =
2ε0 ∫ 2
r +z 2
=
2ε0
r 2 + z2
0
=
2ε0
R 2 + z2 − z
0

A expressão obtida é geral para qualquer distância z do centro das


placas. Entretanto, a análise deve ser feita considerando uma distância
igual ao raio das placas, portanto, a expressão ficará expressa assim:

Vp =
σ
2ε0
( R2 + R2 − R = ) σR
2ε0
( 2 −1 )
Com a equação obtida, basta fazer a substituição adequada dos
valores das placas.
Para a placa de 1 cm, tem-se:
4, 3 ×10−8 × 0, 01
s1 = 4, 3 ×10−8 C/m 2 → VP =
2 × 8, 82 ×10−12
( )
2 − 1 = 10,1V

Para a placa de 2 cm, calcula-se o potencial elétrico no ponto P,


conforme segue:
8, 7 ×10−8 × 0, 02
s2 = 8, 7 ×10−8 C/m 2 → VP =
2 × 8, 82 ×10−12
( )
2 − 1 = 40, 7 V

52 U1 - Eletrostática de meios contínuos


E, finalmente, o potencial para a placa de 5 cm é dado conforme a
equação seguir:

6,1×10−8 × 0, 05
s3 = 6,1×10−8 C/m 2 → VP =
2 × 8, 82 ×10−12
( )
2 − 1 = 71, 4 V

Com base nos resultados obtidos, e considerando o critério de


projeto (escolher a placa que produz o maior potencial elétrico no
ponto P), você poderia então escolher a placa de 5 cm.
Pronto! As tarefas que lhe foram delegadas foram cumpridas
com sucesso. Primeiramente, você calculou o campo elétrico
acima das placas e escolheu a placa mais adequada de acordo com
o critério de maior campo elétrico. Posteriormente, você analisou
os materiais dielétricos na dentro da melhor relação custo-benefício
e recomendou o melhor material. Finalmente, com base em um
novo critério para escolha das placas (maior potencial no ponto P),
tomou sua decisão. Agora, você precisa compilar todas essas etapas
e apresentar o relatório ao seu gestor. As informações ajudarão a
equipe na fabricação dos capacitores.

Avançando na prática

Análise do potencial elétrico gerado por um fio carregado

Descrição da situação-problema
Suponha que você está trabalhando no projeto de uma instalação
elétrica e uma de suas responsabilidades é analisar as condições das
instalações devido à carga presente nos condutores. Nesta análise, um
condutor de comprimento L igual a 2 m está fixado a uma parede,
conforme mostra a Figura 1.38. A análise do campo elétrico deve ser
realizada em um ponto de uma parede localizada a uma distância de
30 cm acima do condutor. Para que as instalações continuem em boas
condições, o máximo valor do potencial elétrico não pode exceder 10
V. Nessas condições, você deve obter o valor da máxima distribuição
linear de cargas, de forma que as condições da instalação sejam
monitoradas pelo valor da distribuição de cargas.

U1 - Eletrostática de meios contínuos 53


Figura 1.38 | Estrutura da instalação elétrica para análise

++++++++++++++++++++++++++
L

Fonte: elaborada pelo autor.

Resolução da situação-problema
Inicialmente, você deve obter a expressão de forma a calcular o
potencial elétrico na distribuição de cargas. Na Figura 1.39, é mostrada
uma quantidade infinitesimal do comprimento do condutor, dada por
dx. Este ponto tem a ele uma quantidade infinitesimal de carga dada
por dq e está distante do ponto P de uma distância r. O valor de dq
pode ser calculado por:
dq = ldx

Figura 1.39 | Estrutura da instalação elétrica para análise

r
h

++++++++++++++++++++++++++
L

Fonte: elaborada pelo autor.

O potencial elétrico no ponto P pode ser escrito em função da


quantidade infinitesimal de carga, conforme segue:
1 dq 1 λdx
dVP = =
4πε0 r 4πε0 x 2 + h2
Para obter o potencial total no ponto P, basta integrar o valor de
dVP com o comprimento do condutor, variando de zero até L, e, dessa

54 U1 - Eletrostática de meios contínuos


forma, a expressão do potencial ficará assim:
L L L  2 2 
VP =
1
4πε0 ∫
λdx
x 2 + h2
=
λ
4πε0 ∫
dx
x 2 + h2
=
λ
4πε0
(
ln x + x 2 + h 2 ) 0
=
λ
4πε0 
L + L + h
ln 
h



0 0  

Para obter a distribuição de cargas para os valores dados, basta


substituir as informações na equação:
 2 2   2 2 
λ L + L + h  λ  2 + 2 + 0, 3 
VP = ln   → 10 = ln  
4πε0  h  4π × 8, 82 ×10−12  0, 3 
   

10 × 4π × 8, 82 ×10−12
λ= = 4.2629 ×10−10 C/m
2, 6
Dessa forma, é necessário que a densidade de carga não exceda
4.2629 x 10-10 C/m. Com esse resultado, a tarefa foi concluída com
êxito!

Faça valer a pena

1. Na eletroestática de meios contínuos estudam-se as forças e


campos elétricos, os potenciais elétricos e a energia potencial elétrica.
Resumidamente, uma partícula de carga em um campo elétrico sofre ação
de forças elétricas e, dessa forma, executa um trabalho ao se mover de um
ponto a outro no campo elétrico. Considere as afirmações a seguir:
I. Energia e campo elétrico são grandezas escalares.
II. Força e potencial elétrico são grandezas vetoriais.
III. Energia potencial é uma grandeza escalar enquanto campo elétrico é
uma grandeza vetorial.

Das afirmativas anteriores, quais são as corretas?

a) Apenas a afirmativa I é correta.


b) Apenas a afirmativa II é correta.
c) Apenas a afirmativa III é correta.
d) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
e) As afirmativas I, II e III são corretas.

2. Um sistema de partículas carregadas dispostas a uma certa distância


umas das outras tem tendência a se movimentar, atraindo ou afastando
as partículas de acordo com a carga de cada uma. Se estas partículas são

U1 - Eletrostática de meios contínuos 55


fixadas, o sistema possuirá uma energia potencial. O sistema de cargas a
seguir está disposto no espaço na forma de um triângulo equilátero de lado
d. As cargas elétricas têm valores q1 = q , q2 = 2q e q3 = 3q .

Figura 1.40 | Sistema de cargas puntiformes

d d

d
Fonte: elaborada pelo autor.

Se a distância entre as partículas dobrar, a energia potencial total do sistema


de partículas ficará:

6q 2
a) .
8πd ε0

11q 2
b) .
8πd ε0
2
c) 11q .
4πd ε0

6q 2
d) .
4πd ε0

4q 2
e) .
6πd ε0

3. Um disco está eletricamente carregado e possui uma distribuição


uniforme de cargas com densidade superficial dada por s . Este disco está
em um plano sobre o qual é abandonada uma partícula puntiforme de
carga q0 , que se desloca de uma altura h1 até uma altura h2 , como mostra
a figura:

56 U1 - Eletrostática de meios contínuos


Figura 1.41 | Movimento de uma partícula sobre um disco carregado

Fonte: elaborada pelo autor.

Uma equipe de pesquisa constatou que a diferença de energia potencial


entre os pontos de altura h1 e h2 é dada por:
∆U = K ⋅ q0 s
Para que isso seja verdade, a constante K deve ser igual a:
1  2 2 2 
a)  a + h1 + h2 + h1 − h2  .
2e0  

 
b) 2e0  a2 + h12 − a2 + h22 + h2 − h1  .
 

 2 2 
1  a + h2 − h2 
c)  .
2e0  a 2 + h 2 − h 
 1 1 

1  2 2 2 2 
d)  a + h1 − a + h2 + h2 − h1  .
2e0  

 2 2 
1  a + h1 − h1 
e)  .
2e0  a 2 + h 2 − h 
 2 2 

U1 - Eletrostática de meios contínuos 57


Referências
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da Física. 10. ed. v. 3. Rio de Janeiro:
LTC, 2016.

HAYT, JR.; WILLIAM, H. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

LIMA, R. Capacitor eletrolítico. 2011. Disponível em: <http://www.pontociencia.org.br/


experimentos/visualizar/capacitor-eletrolitico/711>. Acesso em: 4 out. 2017.

REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

UNIVESP. Disponível em: <https://univesp.br/>. Acesso em: 4 out. 2017.

WENTWORTH, S. M. Fundamentos do eletromagnetismo com aplicações na engenharia.


Rio de Janeiro: LTC, 2006.
Unidade 2

Correntes elétricas no
meio contínuo

Convite ao estudo
Caro aluno!
Seja bem-vindo à Unidade 2 da disciplina Eletromagnetismo.
Na unidade anterior, foram abordados conceitos de eletrostática
que tratam de cargas estacionárias. Nesta unidade, você estudará
as correntes elétricas, portanto as cargas em movimento.
Os exemplos de situações em que as correntes elétricas estão
presentes são incontáveis, afinal, ao acender uma luz ou ao ligar
um eletrodoméstico, as cargas se movimentam nos condutores
da instalação elétrica. No trabalho de um engenheiro, correntes
elétricas estão presentes na análise de circuitos elétricos ou em
projetos de instalações elétricas. Profissionais que trabalham
com sistemas elétricos, como redes de energia elétrica e
equipamentos de proteção, responsáveis por instalação ou
manutenção, certamente terão um contato mais próximo e
diário com a corrente elétrica. Por isso, o estudo e o domínio dos
conceitos que serão vistos nesta unidade serão muito importantes
e contribuirão para o seu desenvolvimento profissional.
Imagine agora uma empresa fabricante de transformadores
com um departamento que estuda os condutores e bobinas
que serão aplicados para a fabricação dos equipamentos.
Neste departamento, suas atividades de rotina irão demandar
conhecimentos de eletromagnetismo.
Em uma primeira tarefa, você será desafiado a calcular
a intensidade de corrente elétrica dos condutores, dada a
característica de densidade de corrente elétrica no condutor. Em
seguida, você utilizará os valores de corrente para determinar o
campo magnético produzido por bobinas. Essa atividade exigirá,
inicialmente, que você utilize a Lei de Biot-Savart e, depois, o
cálculo do campo magnético utilizando a Lei de Ampère.
Para completar sua tarefa, na Seção 2.1, você aprenderá os
conceitos de corrente elétrica e densidade de corrente elétrica
em meios contínuos, aplicados, por exemplo, na caracterização
de parâmetros dos condutores. Na Seção 2.2, serão estudados os
conceitos por trás dos campos magnéticos estacionários, e você
será desafiado a analisar os campos magnéticos, utilizando a Lei
de Biot-Savart. Finalmente, na Seção 2.3, você deverá usar a Lei
de Ampère para o cálculo das correntes elétricas.
Mas de que forma a análise das correntes elétricas está
relacionada com os campos magnéticos?
Resolva os exercícios propostos e consulte os materiais
elencados nos itens Pesquise Mais de cada seção. Certamente,
esses recursos serão um diferencial na sua formação e ampliarão
o conhecimento transmitido neste material.
Seção 2.1
Densidade de corrente elétrica

Diálogo aberto

Você iniciará os estudos sobre a densidade de corrente elétrica, e


isso significa conhecer os conceitos de eletrostática e eletrodinâmica,
ou seja, o estudo das cargas em movimento. Esse tema é de grande
importância na indústria e na engenharia, e você irá vê-lo de forma
prática nas situações e tarefas que são propostas nesta seção.
Além dos conceitos elencados, você estudará os campos
magnéticos gerados por corrente elétrica, que por sua vez são
a base de funcionamento de vários equipamentos elétricos e,
principalmente, das máquinas rotativas que encontram ampla
aplicação na indústria atual.
Nesta primeira seção, imagine que você trabalha no departamento
de caracterização de materiais de uma empresa fabricante de
transformadores. Esse departamento é responsável por descrever
as características físicas e elétricas dos condutores e bobinas dos
transformadores comercializados, de forma que a informação possa
ser catalogada e que o departamento de vendas possa desenvolver
os potenciais clientes, indicando os melhores materiais e soluções
para as aplicações específicas de cada consumidor. Os clientes dessa
empresa são compostos, principalmente, por empresas do segmento
de sistemas de energia elétrica, que aplicam os transformadores nos
sistemas de transmissão e distribuição.
Sua responsabilidade é analisar os materiais e fazer os cálculos
das características elétricas, com a finalidade de catalogar essas
características de acordo com os produtos que são comercializados
pela empresa. Dessa forma, nas suas atividades de rotina nesse
departamento, os conhecimentos adquiridos nesta unidade serão de
grande importância.
Seu gestor o incumbiu da caracterização da corrente elétrica
nos condutores que serão utilizados na fabricação das bobinas, a

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 61


partir da densidade de corrente. Você recebe três condutores de
cobre, de seção circular de 4 mm, 6 mm e 10 mm de diâmetro,
que são submetidos a uma densidade de corrente dada por
J = 30(5 − 4e−400r ), sendo que r corresponde ao raio da seção
transversal do condutor.
Em cada caso, indique a intensidade de corrente elétrica que deve
passar pelo condutor, anotando em seu relatório qual é o valor da
resistência por cada condutor de 1 m de comprimento, considerando
cada um dos tipos de condutores em cada caso.
Para realizar essa tarefa, prossiga com seus estudos nesta seção,
obtendo os conhecimentos necessários para realizar as tarefas que lhe
foram delegadas.
Bons estudos!

Não pode faltar

Na unidade anterior, você estudou os problemas de eletrostática,


caracterizados pela condição estática das cargas elétricas, ou seja,
cargas paradas. Imagine, entretanto, que as cargas em um condutor
são temporariamente perturbadas, de modo que algumas delas se
espalham no interior desse condutor. Os campos elétricos gerados
pelas cargas negativas não são contrabalanceados por nenhuma carga
positiva e, assim, os elétrons sofrem forças de repulsão e se movem
no condutor até atingirem a superfície. Nesse ponto, os elétrons
permanecem acumulados na superfície. A menos que o condutor
esteja em contato com outro condutor, os elétrons não conseguirão se
mover em um meio não condutor e, então, as cargas estarão dispostas
em uma fronteira entre material condutor e isolante, conforme mostra
a Figura 2.1.
Em condições estáticas, as condições de fronteira utilizando a Lei de
Gauss e o divergente do rotacional do campo são definidos. Aplicando
a Lei de Gauss, é possível considerar uma superfície gaussiana cilíndrica,
conforme mostrado na Figura 2.1a. O campo elétrico no interior do
condutor será igual a zero, no entanto o campo no exterior é dado

pelo vetor E , mas com intensidade de campo constante igual a E. Esse
vetor forma um ângulo com a normal da superfície determinada pela

62 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


tampa superior, de forma que todas as componentes perpendiculares
do campo elétrico a d A se somam. Na superfície determinada pelas
laterais do cilindro, as componentes do campo elétrico formam uma
soma vetorial cuja resultante é nula. Portanto, a Lei de Gauss pode ser
representada simplesmente por:
  qin Aσ S σ
∫ E ⋅ d A = ε 0
→ EA cos(θ ) =
ε0
→ E cos(θ ) = S
ε0

Na equação anterior, ss corresponde à densidade superficial


de cargas.

Figura 2.1 | Condições de contorno em problemas de eletrostática

a b
Meio isolante h Meio isolante

Meio condutor d c Meio condutor

(a) (b)

Fonte: elaborada pelo autor.

De forma análoga, na mesma superfície, é possível utilizar a equação


do divergente do campo elétrico, que define tanto da forma diferencial
como integral:
 
∇ ⋅ E = 0 → ∫ E ⋅ d  = 0
Considerando o caminho fechado mostrado na Figura 2.1b,
verifica-se que a componente do campo tangente aos caminhos ad
e bc, com h tendendo a zero produzem um produto escalar nulo
que não contribui para o produto escalar resultante. Dessa forma, o
produto escalar resultante utilizando a integral anterior será dado por:

∫ E ⋅ d  = E cos(α )L = 0 ⇒E cos(α ) = 0
É possível definir as seguintes condições de contorno nos problemas
de eletrostática:
σs
E cos(θ ) = , na Figura 2.1 (a)
ε0

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 63


E cos(a ) = 0 , na Figura 2.1 (b)

Entretanto, conforme foi visto na Seção 1.3, uma carga puntiforme


abandonada em um campo elétrico qualquer apresentará uma
tendência de entrar em movimento, pois estará submetida a uma
energia potencial eletroestática. Assim, ao aplicar uma diferença
de potencial em um corpo que apresenta cargas livres, existirá uma
tendência de movimento das cargas. Para ilustrar melhor, considere
um condutor qualquer, conforme representado na Figura 2.2a. Nesse
condutor, existe uma quantidade de elétrons livres, que podem ou
não estar em movimento. Considerando que o campo elétrico no
interior de um condutor é igual a zero, mesmo que exista algum tipo
de movimento de cargas elétricas, esse movimento será desordenado.
Se aplicamos uma diferença de potencial nas extremidades desse
condutor, definindo um caminho fechado, surgirá um campo elétrico
no interior do condutor, fazendo com que esse movimento se ordene.
O movimento de elétrons se dará do polo negativo para o polo
positivo da bateria, no entanto, por convenção, o sentido da corrente
elétrica é dado pelo caminho que as cargas positivas percorrem, ou
seja, ocupando pontos de menor potencial. Assim, um campo elétrico
estabelece um movimento ordenado de cargas em um condutor.

Figura 2.2 | Material condutor: (a) Caminho fechado com cargas estáticas; (b) Caminho
sendo percorrido por uma corrente elétrica

(a)
l

l
l

l + _ l

(b)
Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, [s/p]).

64 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


A corrente elétrica pode ser definida como a variação de cargas no
tempo, tal como escrito a seguir:
dq
I=
dt
A unidade de corrente é dada em Coulombs por segundo ( C/s ),
ou em Ampères (A), sendo que 1 C/s = 1 A . Esse movimento de cargas
ocorre não só em condutores, mas também em meios líquidos e
gasosos. A medição da intensidade de corrente pode ser feita por um
aparelho denominado amperímetro. Dessa forma, se uma quantidade
de carga Dq se move em um condutor, ordenadamente, durante um
período de tempo Dt , sabendo qual o comportamento da corrente
elétrica no tempo, é possível calcular essa quantidade de carga por
meio da integral a seguir:
t +∆t

∆q = ∫ I ⋅ dt
t

Existe um conceito importante que deve ser entendido, que é


o conceito de conservação de cargas no caso de uma corrente
contínua atravessando um corpo condutor. Isso significa que, apesar
do movimento, o valor das cargas não se perde, independentemente
do caminho percorrido por elas. Como exemplo, observe a Figura 2.3.
A corrente elétrica percorre um condutor que tem uma área de seção
transversal determinada pelo corte aa’, que é menor que no corte
bb’. A corrente percorre o condutor e, tanto na secção aa’ como na
secção bb’, possui o mesmo valor i. Ainda, quando a corrente percorre
a secção cc’, nesse ponto também terá o mesmo valor I. Isso significa
que, independentemente do plano percorrido, haverá sempre o
mesmo número de elétrons atravessando este plano.

Figura 2.3 | Seções transversais em um condutor com a passagem de corrente

a b
c

l l

ct
at bt
Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, [s/p]).

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 65


Embora a representação da corrente no desenho da Figura 2.3 seja
feita por meio de uma seta, é importante ressaltar que corrente elétrica
é uma grandeza escalar. Conforme foi visto, a corrente elétrica em um
condutor em meio contínuo é a mesma independentemente da área
que ela percorre.
Observe o que acontece com as cargas internamente no condutor,
para entender o conceito de densidade de corrente elétrica. Essa é uma
grandeza vetorial que possui a mesma direção e sentido do campo
elétrico gerado pela diferença de potencial aplicada ao condutor, de
acordo com a Figura 2.4. O vetor define uma relação entre a corrente
elétrica e a área que ela atravessa, e, no desenho, ela está representada
pelo vetor J. Se a densidade de corrente é uniforme, pode-se definir:
I
J=
A

Figura 2.4 | Cargas em um condutor percorrido por corrente elétrica

Fonte: elaborada pelo autor.

Entretanto, suponha que o condutor apresente uma área de seção


transversal da qual é considerada uma quantidade infinitesimal de
área dA, e que o vetor de densidade de corrente está em uma direção
diferente do vetor normal à área, formando um ângulo q com a normal,
conforme mostra a Figura 2.5. Pode-se definir a corrente elétrica em
função da densidade de corrente da seguinte forma:


I  J  nˆ dA

66 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Figura 2.5 | Seção transversal do condutor representando a densidade de corrente
elétrica

Fonte: elaborada pelo autor.

O princípio de conservação de cargas determina que as cargas


não podem ser criadas ou destruídas e a equação da continuidade da
corrente pode ser derivada desse princípio. Para isso, considere uma
região que é delimitada por uma superfície fechada, cuja corrente
flui para fora dessa superfície. O número de cargas que flui para fora
dessa superfície deve ser contrabalanceado pelo número de cargas
que decresce no interior da superfície ( dQin ). Logo, a corrente nessa
superfície será dada por:
  dQ
I = ∫ J ⋅ ndA = − in
S
dt

Aplicando o teorema da divergência no lado esquerdo da equação


anterior, e substituindo no lado direito pela integral que define a carga
em determinado volume, por meio da densidade volumétrica de
cargas, tem-se:
 d d
∫ (∇ ⋅ J )dυ = − dt ∫ ρ
υ υ
V dυ = − ∫
υ
dt
ρV dυ

Logo, é possível obter a equação pontual da continuidade dada


pela equação a seguir:
 d
(∇ ⋅ J ) = − rv
dt
No caso de um movimento desordenado de elétrons, a velocidade
média na qual as cargas se movem é da ordem de 106. Já no movimento
ordenado de cargas elétricas, a velocidade em que as cargas se movem
é chamada de velocidade de deriva. Essa velocidade é supostamente
constante. Considerando que o condutor da Figura 2.4 tenha uma
largura L, e que as cargas demorem um período de tempo Dt para
irem de um extremo ao outro desse condutor, a velocidade de deriva
é dada por:
L
vd =
∆t

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 67


Exemplificando
Um condutor de cobre, cujo raio da área de seção transversal é igual a R =
3 mm, percorre uma corrente constante de I = 9A. Qual será a velocidade
de deriva dos portadores deslocados nesse condutor?
Resolução: Inicialmente, calcule a densidade de corrente elétrica
constante nesse condutor.
I 9
J= = = 106 p−1 A/m 2
A 9p ×10−6
Considere o número de portadores por unidade de volume dado por n. O
número de portadores total no condutor, considerando um comprimento
L, será dado por N = n AL .
Logo, o número total de cargas nesse condutor, considerando a carga de
um elétron e, é: ∆q = Ne = neAL .
A corrente elétrica é dada por:
∆q
I=
∆t
Substituindo na equação anterior, tem-se:
neAL
I= = neAv d
L
vd

Como I = J A , então:
J = nev d

Sendo no cobre aproximadamente n = 1029 elétrons/m3 :


J 106 p−1 1
vd = = 29 = = 2 ×10−6 m/s
ne 10 ×1, 6 ×10−19 1, 6p ×104

A corrente elétrica não é uma variável que depende apenas da


diferença de potencial. As propriedades dos materiais influenciam de
forma direta tanto na intensidade de corrente como na densidade de
corrente elétrica. Existe uma propriedade dos materiais que é chamada
de condutividade. Como o próprio nome diz, a condutividade indica
o quanto um tipo de material pode conduzir corrente elétrica, ou seja,
quanto maior a condutividade do material, mais fácil será para ele
conduzir corrente elétrica. Em um meio contínuo, a condutividade de
um material se relaciona com a do campo elétrico e com a densidade
de corrente elétrica da seguinte forma:
 
J = sE

68 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Tal forma é denominada de Lei de Ohm na forma pontual.
Além disso, existe uma outra propriedade dos materiais que é
denominada de resistividade. A resistividade é a propriedade dos
materiais que indica o quanto esse material pode se opor à passagem
de um fluxo de elétrons, de forma que a intensidade de corrente seja
baixa. Quanto menor for a resistividade do material, mais fácil será o
movimento das cargas elétricas no material. Logo, é possível concluir
que a condutividade se relaciona de forma inversa com relação à
resistividade, conforme indicado a seguir:
1
σ=
ρ

Reflita
Como a condutividade de um material se relaciona com o campo elétrico
e com a densidade de corrente elétrica?

A resistividade e a condutividade são propriedades que independem


das dimensões do material, no entanto são muito importantes para
analisar materiais com dimensões definidas. Imagine que um condutor
de comprimento L e área de seção igual a A é submetido a uma
diferença de potencial V, e como consequência surge uma corrente
elétrica I. Pode-se definir a resistência elétrica (R) como sendo a razão
entre a diferença de potencial e a corrente elétrica que surge nesse
condutor, como a seguir:
V
R=
I
Analisando a relação anterior, você perceberá que, se for aplicada
uma diferença de potencial constante em materiais diferentes, e
se a resistência elétrica for muito alta, significa que a intensidade de
corrente elétrica que surge no condutor é muito baixa. Do contrário,
se uma corrente elétrica muito alta surge no condutor, então tem-se
um condutor com alta resistência elétrica. Rearranjando a equação,
obtém-se uma relação do potencial elétrico com a corrente elétrica
através da resistência elétrica:

V = RI
Tal relação é a forma mais comum da Lei de Ohm.

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 69


Assimile
A Lei de Ohm, na forma pontual, relaciona a condutividade com o campo
elétrico e a densidade de corrente elétrica da seguinte forma:
 
J = sE
A forma mais comum da Lei de Ohm relaciona a diferença de potencial
elétrico com a intensidade de corrente elétrica através da resistência
elétrica:
V = RI

Considerando ainda o condutor cilíndrico mostrado, é possível


calcular a corrente que flui nesse condutor, como visto anteriormente.
Se a densidade de corrente e o campo elétrico são uniformes no
condutor, têm-se as seguintes equações:
 
I= ∫ J ⋅ dA = JA
 
V= ∫ E ⋅ dL = EL
Dividindo V por i, utilizando o resultado das equações
anteriores, teremos:
V EL
R= =
I JA
Mas como foi visto anteriormente, a relação de E com J é a
condutividade (ou a resistividade) do materia; logo, define-se como
calcular a resistência elétrica através da resistividade e das dimensões
do condutor, conforme segue:
L
R=r >
A

Pesquise mais
Os conceitos de resistência elétrica, corrente elétrica e potencial elétrico
são largamente utilizados na análise de circuitos elétricos. Circuitos
elétricos estão presentes em diversas aplicações do dia a dia, como
nos circuitos de instalação elétrica e nos circuitos internos de aparelhos
eletrônicos e eletrodomésticos.

70 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Na análise de circuitos elétricos, é importante saber as correntes e tensões
que estão sobre os resistores ou conjunto de resistores associados. Por
isso, procure conhecer e aprofundar algumas técnicas de análise de
circuitos, tais como as Leis de Kirchhoff, dos nós e das malhas.
Para mais informações sobre como obter essa relação, consulte o capítulo
27 do livro a seguir:
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da Física. 10. ed.
Rio de Janeiro: LTC, 2016. v. 3.

Sem medo de errar

Após este estudo inicial sobre a densidade de corrente elétrica em


meios contínuos de carga, fica mais fácil entender a tarefa que você
precisa realizar na empresa de transformadores. Utilize os conceitos
desta seção para calcular a corrente elétrica dos condutores e lembre-
se de que seu gestor o incumbiu da caracterização da corrente elétrica
nos condutores que serão utilizados na fabricação das bobinas, a partir
da densidade de corrente. Dessa forma, existem três condutores de
cobre, de seção circular de 4 mm, 6 mm e 10 mm de diâmetro, que são
submetidos a uma densidade de corrente dada por J = 30(5 − 4e−400r ) ,
sendo que r corresponde ao raio da seção transversal do condutor.
Para visualizar melhor esse cenário, considere a figura a seguir,
que mostra um condutor de comprimento genérico L. Nesse
condutor, percorre uma corrente elétrica I, que é a que se deseja
obter. A densidade de corrente elétrica está na direção do eixo x;
logo, é possível escrever o vetor de densidade de corrente elétrica
da seguinte forma:

Figura 2.6 | Condutor percorrido por corrente

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 71


É possível considerar uma quantidade infinitesimal de corrente em
função de uma quantidade infinitesimal de área, tal como a seguir:

Entretanto, dA está na seção do condutor que tem formato circular.


Assim, pode-se escrever essa quantidade de infinitesimal de área em
função do raio da seção transversal como sendo:
dA = r ⋅ dr ⋅ d f

Reescrevendo a equação, obtém-se:

Para obter a corrente i em função do raio da seção, deve-se


integrar dI:
2π R

∫ ∫ 30(5 − 4e
−400 r
I= )r ⋅ dr ⋅ d φ
0 0

Substituindo os valores:
R R
 ( 400r + 1)e−400r 5r 2   ( 400R + 1)e−400R 5R 2 1 
∫ 30(5 − 4e−400r )r ⋅ dr = 30 
 40000
+
2  0

 = 30 
 40000
+
2

40000 =K

0


 ( 400R + 1)e−400R 5R 2 1 
I= ∫ Kdφ = 2πK =2π ⋅ 30  40000
+
2

40000 
0

 ( 400R + 1)e−400R − 1 5R 2 
I (R ) = 60p  + 
 40000 2 

Finalmente, é possível substituir os valores e obter as correntes


elétricas para cada condutor, considerando os diferentes raios de seção
transversal. Além disso, calcula-se a resistência do condutor por metro,
considerando L = 1 m e a condutividade do cobre igual a 6,17 ´107 S/m.
Para R = 2 mm, tem-se:

I (0, 002) = 60π [ ( 400 x 0, 002 + 1)e -400 x 0,002 − 1 5 x 0, 0022


40000
+
2
≈] 9,8 x 10-4A

L 1
R= = = 0,0013Ω
σ × πR 2 6,17 ×107 × π × 0, 0022

72 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Para R = 3 mm, tem-se:

I (0, 003) = 60π


[ ( 400 x 0, 003 + 1) e -400x 0,003 − 1 5 x 0, 0032
40000
+
2 ] ≈ 2,7 x 10-3A

L 1
R= = = 0, 0006Ω
σ × πR 2 6,17 ×107 × π × 0, 0032

Para R = 5 mm, tem-se:

I (0, 005) = 60π


[ ( 400 x 0, 005 + 1)e -400 x 0,005 − 1 5 x 0, 0052
40000
+
2 ]
≈ 9 ,0 x 10-3 A

L 1
R= = = 0, 0002 Ω
σ × πR 2 6,17 ×107 × π × 0, 0052

Note que as correntes são demasiadamente altas, dadas as


resistências dos condutores. Dessa forma, os condutores submetidos
a essa densidade de corrente poderiam ser danificados. Entretanto, ao
calcular esses valores e reportar em seu relatório, a tarefa foi cumprida
com êxito.

Avançando na prática
Condutor composto
Descrição da situação-problema
Em uma instalação elétrica, estão sendo utilizados condutores
compostos formados por dois materiais diferentes e unidos por uma
emenda, conforme mostra a figura. Um condutor de alumínio tem raio
igual a 5 cm, enquanto que o condutor de cobre tem um diâmetro de
2 cm. Esse condutor será utilizado para alimentar uma carga resistiva
que, funcionando corretamente, consome 400 A, quando ligada em
uma fonte de tensão contínua de 100 V. Ambos os condutores têm
um comprimento de 3 m cada um, totalizando 6 m de cabo, que é a
distância entre a fonte e a localização da carga.
Figura 2.7 | Condutor composto de alumínio e cobre

Fonte: elaborada pelo autor.

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 73


Seu gestor solicitou que você analisasse se esse cabo pode ser
utilizado sem perdas significativas na potência elétrica. Como você faria
a análise?
Resolução da situação-problema
Inicialmente, é necessário calcular qual a resistência elétrica da
carga utilizada. Uma vez que a carga consome 400 W, quando ligada a
uma fonte de tensão contínua de 100 V, temos que a corrente elétrica
consumida por essa carga será:
P 400
I= = = 4 A.
V 100
Com essa corrente, é possível calcular a resistência elétrica da carga:
V 100
R= = = 25 Ω
I 4

Agora, calcule a resistência elétrica de cada um dos condutores


que estão conectados em série. Para isso, é necessário considerar a
resistividade de cada material:
L 3
RAl = = , ×10−5 Ω
= 112
σ Al πR12 3, 42 ×107 π0, 052

L 3
RCu = = = 1, 71×10−5 Ω
σCu πR22 6,17 ×107 π0, 032

Verifica-se que ambas as resistências são muito baixas com relação


à resistência da carga. A resistência total será dada por:

, ×10−5 + 1, 71×10−5 = 2, 83 ×10−5 Ω


RAl + RCu = 112
A resistência do cabo será muito pequena, de forma que a tensão
aplicada na carga será praticamente igual a 100 V. A corrente total na
carga será:
100
I= = 4, 0 A.
2, 83 ×10−5 + 25

Assim, verifica-se que a corrente na carga não será afetada. Logo,


pode-se reportar ao seu gestor que, utilizando esses condutores, é
possível alimentar a carga com o condutor indicado, sem perder parte
significativa da potência elétrica.

74 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Faça valer a pena

1. No estudo da eletrodinâmica, é possível definir as grandezas de


intensidade de corrente elétrica e densidade de corrente. Apesar de estarem
relacionadas, a densidade de corrente é uma grandeza ___________,
podendo ser dada em _________, enquanto que a intensidade de corrente
é uma grandeza ____________, dada em ______________.

Escolha a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior:

a) Vetorial, A/m 2 , escalar, A.


b) Escalar, A/m 2 , vetorial, A.
c) Vetorial, A, escalar, A/m 2 .
d) Escalar, A, vetorial, A/m 2.
e) Vetorial, A/m 4 , escalar, A/m 2 .

2. Um fusível é um dispositivo de proteção de circuitos elétricos. Sua


principal função é limitar a passagem de corrente, de forma que essa não se
torne excessiva a ponto de danificar os equipamentos do circuito elétrico.
Caso a corrente exceda um determinado valor para o qual o fusível é
projetado, esse se funde, abrindo o circuito elétrico.

Se um fusível é projetado para que sua corrente elétrica não exceda


220 A/m 2, qual deve ser o diâmetro do fio para que a corrente não exceda
1 A?

a) 0,2 mm d) 0,8 mm
b) 0,4 mm e) 1,0 mm
c) 0,6 mm

3. Um tubo de descarga cilíndrico a gás de raio igual a 30 cm é submetido


a uma diferença de potencial muito alta entre os dois eletrodos no tubo.
Quando isso é feito, o gás é ionizado e os elétrons se deslocam em direção
ao terminal positivo, formando uma corrente elétrica.

Considerando a densidade de corrente elétrica no tubo dada por


100
J= r , quando a diferença de potencial aplicada é de 1000 V e r é o
3
raio do tubo, determine a potência elétrica dissipada:

a) 0, 3p kW c) 0, 9p kW e) 1, 5p kW
b) 0, 6p kW d) 1, 2p kW

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 75


Seção 2.2
Campos magnéticos estacionários

Diálogo aberto

Na seção anterior, você iniciou os estudos das cargas em


movimento e o conceito de corrente elétrica e densidade de
corrente elétrica. Nesta seção, serão estudados os campos
magnéticos gerados pelas correntes elétricas em meios contínuos.
Tal assunto é muito importante, e os conceitos que serão vistos
aqui serão fundamentais para o entendimento do funcionamento
de equipamentos, como os transformadores, motores e geradores
elétricos. Esses equipamentos estão intimamente relacionados
aos campos magnéticos gerados pelas correntes que percorrem
seus enrolamentos.
Ademais, serão explorados os efeitos da corrente, ou seja, a
geração do campo magnético pela corrente elétrica que percorre
um condutor. Dessa forma, os conhecimentos adquiridos nesta
seção serão de extrema importância para cumprimento da segunda
etapa do seu trabalho.
Lembre-se de que você está trabalhando como engenheiro
no departamento de caracterização de materiais de uma empresa
fabricante de transformadores. Esse departamento é responsável
por descrever as características físicas e elétricas dos condutores
e bobinas dos transformadores comercializados, de forma que
a informação possa ser catalogada e que o departamento de
vendas possa desenvolver os potenciais clientes, indicando os
melhores materiais e soluções para as aplicações específicas de
cada consumidor. Os clientes dessa empresa são compostos,
principalmente, por empresas do segmento de sistemas de
energia elétrica, que aplicam os transformadores nos sistemas de
transmissão e distribuição.
Na segunda etapa do seu trabalho, foi designado que você
determinasse as características magnéticas das bobinas de cobre.
Existe um lote de bobinas de cobre, com 1500 espiras, cujo raio

76 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


das espiras é de 30 cm e o comprimento é de 70 cm. Sua tarefa
é determinar o campo magnético no interior das bobinas para
diferentes valores de corrente, sendo que a corrente máxima que o
condutor suporta é de 20 A. Então, faça os cálculos para as correntes
nos valores de 5 A, 10 A, 15 A e 20 A. Utilizando a Lei de Biot-Savart,
como você realizaria a tarefa?
Para passar por esse desafio, você precisará, inicialmente,
entender os conceitos e como chegar à Lei de Biot-Savart e, a partir
disso, calcular os campos magnéticos das bobinas. A seguir, você irá
se familiarizar com esses conceitos.

Não pode faltar

Você estudará agora os campos magnéticos. Este é o momento


em que o estudo da eletricidade se encontra com o estudo do
magnetismo propriamente dito. Assim sendo, antes de falar dos
campos magnéticos produzidos por correntes, é necessário lembrar
que o campo magnético é uma propriedade intrínseca de qualquer
partícula elementar, assim como é o elétron. Em alguns tipos de
materiais, os elétrons possuem campos magnéticos que se somam,
produzindo um campo magnético resultante que cerca o material.
Esses são os chamados imãs permanentes. Entretanto, em outros tipos
de materiais, os campos magnéticos gerados pelos elétrons formam
uma resultante nula.
Vale ressaltar que os campos magnéticos apresentam muitas
similaridades com o campo elétrico. Por exemplo, tanto os campos
elétricos quanto os campos magnéticos são grandezas vetoriais,
representadas por linhas de campo, não reais, que indicam que o
sentido do campo é tangente a essas linhas. Portanto, um campo de
grande intensidade pode ser representado por uma maior densidade
de linhas e, ainda, essas linhas não se cruzam.
Diferentemente dos campos elétricos, cujas linhas de campo
partem de uma carga positiva em direção a uma carga negativa, os
campos magnéticos formam os polos norte e sul, e as linhas de campo
partem do polo norte em direção ao polo sul, conforme mostra a
Figura 2.8. Esse efeito pode ser visualizado quando, por exemplo, são

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 77


espalhadas limalhas de ferro sobre uma folha de papel e, embaixo dela,
coloca-se um imã permanente.

Figura 2.8 | Linhas de campo magnético em um imã permanente

Fonte: elaborada pelo autor.

Os campos magnéticos têm a unidade de medida Tesla (T) no


sistema internacional de medidas (SI). Para medir o campo magnético
gerado por uma partícula em movimento, pode-se considerar uma

partícula solta em um espaço, com velocidade v , e determinada
direção, conforme mostra

a Figura 2.9. Supostamente, haverá um
campo magnético B em uma certa posição P, com distância r da

carga, sendo que r = r . Forma-se, então, um ângulo q com a direção
do movimento da carga. Alguns experimentos mostraram que, nessas
condições, a força atuando na partícula será perpendicular ao plano
 
formado por v e r .

Figura 2.9 | Campo magnético gerado por uma partícula em movimento

Fonte: elaborada pelo autor.

78 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Foi observado que a magnitude do campo magnético era
proporcional também à carga, e inversamente proporcional à distância
r. Também percebeu-se que o campo magnético na direção da
velocidade era nulo e, quando o ângulo q aumenta, a magnitude do
campo aumenta. Todas essas informações sugerem que o campo
magnético pode ser escrito por meio de um produto vetorial. De fato,
ao longo dos anos, formalizou-se a seguinte expressão para o campo
magnético no ponto P:

Na equação anterior, 0 é a permeabilidade magnética do vácuo


e tem valor igual a 4p×10−7 T ⋅ m /A ; corresponde ao versor (vetor
 
unitário) que indica a direção e o sentido de r ; e B é o campo gerado
por uma carga em movimento. Mas como é possível definir o campo
magnético gerado por uma corrente elétrica?
Isso é muito simples, e parte de uma extensão do caso da partícula.
Ao considerar uma corrente elétrica, consideram-se as cargas elétricas
em movimento e, consequentemente, é possível falar de campos
magnéticos gerados por correntes elétricas.
Imagine um fio percorrido por corrente elétrica, conforme mostra
a Figura 2.10. Nesta figura, tem-se um elemento infinitesimal

de carga
em movimento contínuo que produz um campo dB a uma certa
distância do fio, no ponto P.

Figura 2.10 | Campo magnético gerado por um elemento de carga em um fio percorrido
por corrente

fio ??

Fonte: elaborada pelo autor.

O sentido do campo elétrico, nesse caso, pode ser dado pela regra
da mão direita. Primeiramente, posicione o dedo polegar no sentido
da corrente do fio, utilizando a mão direita, conforme a Figura 2.11. O

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 79


sentido do campo magnético será dado pelos demais dedos da mão,
abraçando o condutor.

Figura 2.11 | Sentido do campo magnético em um fio percorrido por corrente

Fonte: adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2016, [s/p]).

Partindo da equação anterior para um campo gerado por uma


carga q, pode-se escrever uma equação similar para dq. Assim, tem-se:
x

Contudo, a corrente elétrica em um fio é dada por:


dq
I= → dq = Idt
dt

Se a carga

tem uma velocidade n , significa que ela percorrerá uma
distância d  , que é representada por um vetor, pois a direção dessa
distância infinitesimal
 acompanhará a tangencial do comprimento do

fio. Sabendo que d  tem a mesma direção e sentido de n , em um
certo tempo dt , é possível escrever que a velocidade é dada por:

 d
n=
dt
Assim, a equação do campo magnético é reescrita como:
r
dl
r 0 dqr  rˆ 0 Idtr  rˆ 0 Idt dt  rˆ 0 Id l  rˆ
r
dB    
4 r 2 4 r2 4 r2 4 r 2

A equação anterior é denominada Lei de Biot-Savart, na forma


diferencial. Assim, o campo magnético total gerado pelo fio percorrido
por corrente pode ser obtido a partir da seguinte integral:

80 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo



Na equação anterior, q é o ângulo formado por d  e

Assimile
A Lei de Biot-Savart permite calcular o campo magnético gerado pela
corrente elétrica em um meio contínuo, sendo essa dada pelo produto
vetorial conforme as equações dadas na forma diferencial e na forma
integral, conforme a seguir:

(Forma diferencial)

(Forma integral)

A Lei de Biot-Savart pode ser usada para calcular o campo magnético


devido a algumas configurações de corrente elétrica. Por exemplo,
considere um fio infinito percorrido por corrente e determine o campo
magnético a uma distância R desse fio. Tal situação está ilustrada na
Figura 2.12 a seguir:

Figura 2.12 | Fio longo percorrido por corrente

Fonte: adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2016, [s/p]).

Aqui, o tipo de dificuldade é muito semelhante com a dificuldade


encontrada ao estudar o campo elétrico em um fio com cargas
distribuídas. Supondo que esse fio seja infinito, considere um elemento

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 81



do fio d e trace o vetor r até o ponto P. Novamente, pela regra da
mão direita, é possível concluir que o campo magnético entra na figura
e, por isso, é apresentado como um “x”.

Reflita
Qual seria a direção e o sentido do campo elétrico em um ponto P '
simétrico ao ponto P na Figura 2.12?

O elemento infinitesimal d está representado no fio ao longo



de um eixo vertical z. O vetor r forma com o fio dois ângulos
para os quais pode-se escrever as seguintes relações geométricas,
utilizando radianos:
β = 180° − θ ⇒ sen(θ ) = sen(β )

r = r = R cosec (b )

R
sen(b ) =
r
z = R cotg (b ) ⇒ dz = −R cosec 2 (b )d b

Com base nessas relações, pode-se escrever dB (apenas o módulo)


como sendo:
µ0I dzsen(θ ) µ0I dzsen(β ) µ0I −R cosec 2 (β )d β sen(β ) µ I sen(β )
dB = = = =− 0 dβ
4π r2 4π r2 4π R 2 cosec 2 (β ) 4π R

Para calcular o campo total, é necessário integrar dB com dz,


variando de −∞ até +∞, que equivale a fazer duas vezes a integral de
p
dB com db , variando de até zero, conforme mostrado a seguir:
2
0
2µ0I µ0I 0 µ0I
B =−
4 πR ∫ sen(β )d β = − 2πR (−cos(β )) π/2
=
2πR
π/2

Exemplificando
Um fio longo é percorrido por uma corrente de 5 A. Qual será o campo
magnético gerado por essa corrente a uma distância R=0,025 m desse
fio? Como serão as linhas do campo magnético B nesse fio longo?

82 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Resolução:
Para calcular o campo, basta aplicar diretamente a equação obtida para o
cálculo da magnitude do campo magnético no ponto P apresentado para
a Figura 2.12. Fazendo isso, tem-se:
µ0I 4π ×10−7 × 5 4 ×10−7
B= = = = 4 ×10−7 ×102 = 4 ×10−5 T
2πR 2π × 0, 025 0, 01

Reflita
O que ocorre com o campo magnético gerado por um fio infinito à
medida que se afasta radialmente desse fio? A intensidade do campo
aumenta ou diminui?

Uma segunda aplicação simples da Lei de Biot-Savart é a


determinação do campo magnético em um arco circular. Considere
a figura que mostra um arco circular percorrido por uma corrente
elétrica i. Essa corrente entra no ponto A e sai no ponto B do arco, mas
deseja-se calcular o campo magnético gerado no ponto O.

Figura 2.13 | Arco percorrido por corrente

A’

C’
Fonte: elaborada pelo autor.

Note que, devido ao sentido da corrente, o campo magnético


deve ter o sentido entrando na figura. Então, é necessário calcular esse
campo utilizando a Lei de Biot-Savart:
r
r 0I d l  rˆ
B
4 fio r 2

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 83


Se você prestar atenção ao desenho, verificará duas coisas muito
importantes. A primeira é que a distância r do arco ao ponto O
corresponde ao raio de uma circunferência determinada pelo arco
AC. Dessa forma, o versor rˆ na equação terá a direção indicada pelo
raio da circunferência. A segunda é que existem dois segmentos, AA’ e
CC’, nos quais o elemento infinitesimal do fio estará sempre paralelo ao
versor rˆ , indicando que o produto vetorial para esses segmentos será
nulo (pois o ângulo é igual a zero). Logo, o cálculo do campo gerado
no ponto O pelo fio percorrido por corrente é dado unicamente pelo
cálculo da forma integral da Lei de Biot-Savart, no arco AC.
Entretanto, é necessário descobrir qual o ângulo formado pela
distância dos elementos d  nesse arco até o ponto O. Para isso,
observe a Figura 2.14 a seguir. Nela, é possível observar que, para
qualquer ponto do arco, além da distância entre o ponto O e o arco
ser constante e igual ao raio da
 circunferência, considera-se que essa é
perpendicular ao elemento d  .

Figura 2.14 | Ângulo formado por d  e o raio

Fonte: elaborada pelo autor.

Logo, o produto vetorial na integral pode ser calculado da


seguinte forma:
µ0I d sen(90°) µ0I d
B=
4π ∫ r2
=
4π ∫r 2
fio fio

Também é possível escrever d em função do ângulo do arco:


d  = Rd q

Substituindo e supondo que o ângulo do arco seja igual a j , tem-se


o campo magnético no ponto O dado por:
µ0I µ0Iϕ
B=
4 πR 2 ∫ Rd θ = 4πR
arco

84 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Exemplificando
Um arco de raio R = 0,025 m é percorrido por uma corrente de 5 A. Qual
será o campo magnético gerado por essa corrente no ponto O localizado
no centro da circunferência desse arco, considerando que o ângulo
formado por esse arco é de 45° ?
Resolução:
Para calcular esse campo, basta aplicar diretamente a equação obtida para
o cálculo da magnitude do campo magnético no ponto O de um arco.
p
É necessário lembrar que 45° corresponde a radianos. Substituindo os
4
valores na equação, tem-se:
π
µ0 i ϕ 4π ×10−7 × 5 × −7
B= = 4 = 4 ×10 × π = π ×10−7 ×102 = π ×10−5 T
4 πR 2π × 0, 025 0, 01× 4

Ainda, considere que, quando uma corrente elétrica percorre um


fio ou condutor, e esse está imerso em um campo magnético, uma
força magnética deve atuar nesse fio. Por exemplo, em um fio de
comprimento L, área transversal A e por onde passam N cargas, atuará
uma força total, dada pela soma das forças que atuam em cada uma
das cargas, ou seja:
   
FB = NFq = Nqn × B

Levando em conta que N = nAL, em que n é a densidade


volumétrica de cargas do material do fio, tem-se que:
r r r r r v
FB  nALq  B  ALJ  B  LI eˆ  B

O versor ê aponta na direção e sentido da corrente I. Num


comprimento de fio infinitesimal, tem-se:
r v r v
dFB  Id leˆ  B  Id l  B

Normalmente, a corrente elétrica num circuito se localiza num


caminho fechado (C). Assim, pode-se fazer a integral nesse caminho
fechado, obtendo a força total no condutor:
  
FB = I ∫ d  × B
C

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 85


Pesquise mais
As forças geradas em um condutor quando esse é percorrido por uma
corrente elétrica, e é imerso em um campo magnético, é o princípio de
funcionamento de um motor elementar. O vídeo a seguir mostra como
essas forças atuam em uma espira e como um motor deve ser construído
de forma a girar continuamente:
SILVA, R. S. da. Como funcionam os motores CC. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=mNUjzOnbaNM>. Acesso em: 22 nov. 2017.

Sem medo de errar

Com os conhecimentos adquiridos, você pode dar sequência


na segunda etapa do seu trabalho, que consiste em determinar as
características magnéticas das bobinas de cobre. O lote de bobinas
é composto por bobinas de 1500 espiras cada, com raio de 30 cm
e o comprimento é de 70 cm. Você deve fazer os cálculos para as
correntes nos valores de 5 A, 10 A, 15 A e 20 A, utilizando a Lei de
Biot-Savart.
O primeiro passo nessa tarefa é entender como calcular o campo
magnético em um ponto do eixo de uma única espira. Para isso,
considere um elemento de corrente, conforme mostra a Figura 2.15a.
O triângulo formado pela distância do eixo, o raio da espira e a distância
entre um elemento da espira e o ponto P formam  um plano, conforme
mostra a Figura 2.15b. O campo magnético B deve ser perpendicular

tanto a d  quanto a r ; logo, a direção e o sentido de um elemento de
campo dB serão dados conforme Figura 2.15b.

Figura 2.15 | Campo magnético de uma única espira

(a) (b)
Fonte: elaborada pelo autor.

86 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


O elemento de

campo

magnético pode ser decomposto em duas
componentes, dBx e dBy , dados pela relação trigonométrica com o
ângulo que dB forma com o eixo x. Por meio das relações na figura,
tem-se:
µ0I d  ⋅ sen(90°) µ0I d
B=
4π ∫ r 2
=
4π ∫r 2

Entretanto, é possível ver pela figura que as componentes de dB no
eixo y se cancelam, restando apenas as componentes no eixo x. Como
dBx = dB cos(a ), a integral anterior deve ficar como:
µ0I d  cos(α )
B=
4π ∫ y 2 + x2
y
Mas cos(a ) = , logo:
y + x2
2

µ0Iy µ0Iy µ0Iy 2


B=
4π ( y 2 + x 2 )
3
2
∫ d =
4π ( y 2 + x 2 )
3
2
2π y =
2( y 2 + x 2 )
3
2

Na bobina, existem N espiras justapostas, conforme mostra a


figura a seguir. Nesse caso, há uma corrente NI distribuída ao longo
do comprimento L. Então, é possível reescrever a equação anterior na
forma diferencial para a bobina de N espiras.

Figura 2.16 | Bobina de N espiras

R
N O
espiras
x

Fonte: elaborada pelo autor.

A fórmula será:
0 y 2
dB == 3
dI
2( y 2 + x 2 ) 2

NI
Considere o fato que: dI = dx. Portanto:
L

0 y2 NI
dB = 3
dx
2 L
(x 2 + y 2 ) 2
U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 87
Integrando por todo o comprimento da espira, haverá o campo
magnético no interior da bobina:

Basta que agora sejam substituídos os valores dados para cada caso:
4p ×10−7 ×1500 × 5
I = 5A → B = 1
= 0,0102 T
(0,72 + 4 × 0, 32 ) 2
4p ×10−7 ×1500 ×10
I = 10 A → B = 1
= 0,0204 T
(
0, 72 + 4 × 0, 32 ) 2

4p ×10−7 ×1500 ×15


I = 15 A → B = 1
= 0,0306 T
(0,7 2
+ 4 × 0, 3 2
) 2

4p ×10−7 ×1500 × 20
I = 20 A → B = 1
= 0,0408 T
(0,7 2
+ 4 × 0, 3 2
) 2

Logo, você pode perceber que o campo magnético no interior da


bobina é diretamente proporcional à intensidade da corrente elétrica
que percorre a bobina. Dessa forma, você concluiu a tarefa com êxito
e deve apresentar esses dados obtidos no seu relatório.

Avançando na prática

Campo magnético de uma linha de transmissão HVDC


Descrição da situação-problema
Em sistemas de transmissão de energia elétrica, a maioria das
linhas transporta corrente alternada. Entretanto, é possível encontrar
links de linhas de alta tensão cuja transmissão ocorre utilizando-se
corrente contínua. São chamadas as linhas HVDC (High Voltage Direct
Current). Esse tipo de transmissão é utilizado como uma alternativa
para transportar grandes blocos de energia, ou para fazer a conexão
entre sistemas de diferentes frequências, como entre Brasil e Paraguai.

88 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Sendo assim, esse tipo de linha não tem derivações. Ainda, as linhas
HDVC apresentam menor custo, uma vez que, enquanto em linhas CA
são necessárias três linhas (referentes às fases), para as linhas HVDC são
necessárias apenas uma ou duas linhas.
Suponha que você está trabalhando em um empreendimento que
será instalado próximo de uma linha HVDC. Entretanto, a empresa está
procurando um local para suas instalações, de modo que o campo
magnético gerado pela linha HVDC não tenha interferência nos
equipamentos da empresa. É necessário que a magnitude do campo
magnético não ultrapasse 1, 0 ×10−7 T T. Seu gestor requisitou que você
utilize seus conhecimentos de eletromagnetismo para determinar essa
distância, sabendo que a máxima corrente que passa por essa linha é
de 200 A. Como você realizaria essa tarefa?
Resolução da situação-problema
De fato, para resolver esse problema, você deverá utilizar os
conceitos de eletromagnetismo que foram estudados aqui. Recorde
como é calculado o campo magnético gerado por uma linha percorrida
por corrente, em um ponto a uma distância D dessa linha:
µ0I
B=
2πD
A equação anterior pode ser alterada para obter a distância,
conforme segue:
µ0I
D=
2πB
Substituindo os valores, obtém-se:
4p ×10−7 × 200
D= = 400m
2p ×1×10−7
Os cálculos mostram que a menor distância na qual a empresa
poderia ser instalada é de 400 m longe da instalação das linhas HVDC.
De fato, se a distância aumenta, o campo magnético diminui. Assim,
é interessante acrescentar uma margem de erro, de forma que um
aumento na corrente das linhas não cause um campo magnético que
possa prejudicar os equipamentos. Assim sendo, você pode escolher
indicar uma distância de duas vezes o valor calculado, por exemplo,
800 m. Apresentando esses cálculos e as justificativas ao seu gestor, o
seu trabalho foi realizado com êxito!

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 89


Faça valer a pena

1. Os campos magnéticos criados por corretes elétricas têm sua base


nos experimentos realizados por Oersted. Em um dos experimentos, |
montou-se um aparato conforme mostrado na Figura 2.17. Esse aparato
consiste em um fio condutor ligado em série com uma bateria e uma
chave inicialmente aberta. O fio é suspenso sobre duas hastes e, abaixo e
paralelamente a esse fio, é posicionada uma bússola. Ao fechar a chave,
percebe-se que a bússola se movimenta. Ao realizar esse experimento,
Oersted concluiu que a corrente elétrica no fio gera ______________ que
é em uma direção _____________ ao sentido da corrente.

Figura 2.17 | Aparato da experiência de Oersted


+
-

Fonte: elaborada pelo autor.

Escolha a alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior:

a) campo elétrico, perpendicular.


b) campo magnético, igual.
c) campo elétrico, igual.
d) campo magnético, perpendicular.
e) campo magnético, oposta.

2. Na fabricação de geradores hidrelétricos de grande porte, é comum


que as bobinas que compõem os polos do gerador sejam construídas da
seguinte forma:
Inicialmente, cada uma das espiras é forjada e, na sequência, são empilhadas
sobre um núcleo de material ferromagnético. Considere uma das espiras do
gerador representada na figura, com raio igual a 50 cm. Se uma corrente de
10 A percorre essa espira, o vetor de indução magnética no centro dessa
espira tem _________T de magnitude.

90 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Figura 2.18 | Espira circular de raio R

I
Fonte: elaborada pelo autor.

Marque a alternativa que completa corretamente a lacuna do texto anterior:

a) 4p×10−5.
b) 4p×10−6.
c) 4p×10−7.
d) 4p×10−8.
e) 4p×10−9.

3. Em um projeto de uma bobina, é necessário que essa apresente uma


relação de intensidade de campo magnético por corrente de 3, 5 ×10 −3. A
bobina deve ser construída com um comprimento de 0,5 m e um raio de
0,2 m, para que ela seja corretamente alocada em um núcleo de material
ferromagnético.

Nas condições de projeto indicadas, assinale a alternativa que apresenta o


número de espiras da bobina:

a) 1000
b) 1400
c) 1800
d) 2200
e) 2600

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 91


Seção 2.3
Lei de Ampère

Diálogo aberto

Caro aluno, você está chegando ao final do estudo das


correntes elétricas em meios contínuos. Nas últimas duas seções,
foram abordadas as densidades de corrente elétrica e os campos
magnéticos gerados por correntes elétricas. Nesta seção, será
aprofundado o cálculo do campo magnético gerado por correntes
elétricas utilizando a Lei de Ampère.
Esse conhecimento é a base para a compreensão do
funcionamento de equipamentos que utilizam os princípios de
conversão de energia como transformadores, motores e geradores.
Pelo amplo emprego desses equipamentos na indústria, é essencial
que esses conhecimentos sejam bem consolidados, de forma a
ampliar as oportunidades no mercado de trabalho.
Lembre-se de que você se colocou no lugar de engenheiro
no departamento de caracterização de materiais de uma empresa
fabricante de transformadores. Sua atividade neste momento
consiste em caracterizar o campo magnético das bobinas utilizadas
em transformadores. Antes da apresentação do relatório contendo
as informações de campo magnético das bobinas, você percebeu
que pode calcular o campo magnético no interior de uma bobina
utilizando a Lei de Ampère ao invés da Lei de Biot-Savart para os
cálculos realizados anteriormente. Utilizando a Lei de Ampère, os
cálculos não somente podem ser simplificados, como também
oferecem um melhor entendimento do seu gestor. Entretanto, não
são em todas as situações que a Lei de Ampère pode ser aplicada
para o cálculo do campo magnético, somente naquelas que
apresentem uma simetria adequada.
Você possui bobinas de 1500 espiras, com raio de 30 cm e
comprimento de 70 cm. Para determinar o campo magnético no
interior das bobinas, você deve considerar diferentes valores de
corrente, sendo que a corrente máxima que o condutor suporta

92 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


é de 20 A. Então, faça os cálculos para as correntes nos valores
de 5 A, 10 A, 15 A e 20 A. Como você aplicaria a Lei de Ampère
para determinar o campo magnético no interior das bobinas? Existe
alguma diferença nos valores encontrados? Como você explica essa
diferença? Quais valores de campo magnético você deve mostrar
ao seu gestor como o mais adequado: os cálculos utilizando a Lei
Biot-Savart ou a Lei de Ampère?
Para resolver a tarefa, a fim de analisar os resultados e tomar
a melhor decisão sobre os cálculos que serão apresentados no
relatório, inicialmente, você conhecerá a Lei de Ampère e suas
formas de aplicação. Em seguida, serão abordados os conceitos de
rotacional e o Teorema de Stokes aplicado ao eletromagnetismo,
para observar a Lei de Ampère em sua forma pontual.
Bons estudos e sucesso na realização da sua tarefa!

Não pode faltar

No estudo da eletrostática, existem duas leis importantes para o


cálculo de campos elétricos: a Lei de Coulomb e a Lei de Gauss. A Lei
de Coulomb é a precursora da Lei de Gauss, sendo que a aplicação
dessa última para cálculo do campo elétrico minimiza os esforços de
cálculos. Analogamente, no estudo do magnetismo, existem duas leis
que são utilizadas para o cálculo do campo magnético. A primeira delas
foi vista anteriormente: a Lei de Biot-Savart. Entretanto, dependendo da
situação em que se deseja obter o campo magnético, pode ser que a
aplicação dessa lei resulte em cálculos demasiadamente complexos.
Por isso, a Lei de Biot-Savart tornou-se precursora de uma segunda lei
que auxilia muito no cálculo dos campos magnéticos, reduzindo os
esforços de cálculo: a Lei de Ampère.
A Lei de Ampère permite que os cálculos de campo magnético
sejam feitos mais rapidamente e de forma mais simples e direta. No
entanto, para que essa simplificação de cálculo seja possível, o problema
examinado deve ter uma distribuição de corrente que apresente uma
determinada simetria, favorecendo, assim, a aplicação da lei.
Para entender a Lei de Ampère, é necessário saber o que é a
circuitação de um campo vetorial (que no caso aqui é o vetor densidade

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 93



de campo magnético B ). Considere o caso de uma corrente I em um
condutor, conforme a Figura 2.19. É necessário fazer a integral de linha
deste campo em um caminho fechado C, como mostra a mesma
figura. Percebe-se

que em qualquer ponto desse caminho existe
um elemento d  que é tangente a C e o campo magnético que 
é
produzido pela corrente forma um determinado ângulo q com d . O
 
campo B é perpendicular

ao vetor da distância r entre a origem de I
e a posição do vetor B . Assumindo que esse campo magnético tenha
intensidade B constante, ao longo do caminho C haverá uma variação

de r e q . Logo, deve-se calcular a integral do produto B × d  .

Figura 2.19 | Circuitação do campo B de uma corrente em um condutor

Fonte: elaborada pelo autor.

Pode-se descrever a integral do campo magnético no caminho


fechado C como sendo:
 
∫ B ⋅ d  = ∫ Bd  cos(θ )
C C

A expressão anterior determina que cada linha de campo é uma


curva fechada, e a determinação de B pode ser feita em termos de
sua circuitação.
A quantidade d cos(q ) pode ser também escrita como a projeção
 
do vetor d  sobre o vetor B . Essa projeção determina uma abertura

infinitesimal de um ângulo df com relação ao vetor r , conforme
mostra a Figura 2.20, e determinada por:

d  cos(θ ) = rd φ

94 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


 
Figura 2.20 | Projeção de d  sobre o vetor B

Fonte: elaborada pelo autor.

Ao continuar desenvolvendo a equação da circuitação do campo


µ I
magnético, considerando que B = 0 , obtém-se:
2πr
µ 0I µ I µ 0I
∫ Bd  cos(θ ) = ∫ Brdφ =∫ 2πr
rd φ = 0
2π ∫ dφ = 2π
2π = µ 0 I
C C C C

E então pode-se escrever para esse caso específico que:


 
∫ B ⋅ d  = u0I
C

Você pode perceber que essa última equação apresenta uma certa
semelhança com a Lei de Gauss, mas, ao invés do campo elétrico
integrado em uma superfície gaussiana, integra-se o campo magnético
em uma circuitação, ou seja, em um caminho fechado, utilizando uma
integral de linha. Analise a situação da Figura 2.21, que mostra as seções
transversais de três fios percorridos por corrente e um circuito fechado
em torno de apenas dois deles.

Figura 2.21 | Circuitação aplicada a duas correntes I1 e I2

Fonte: elaborada pelo autor.

Pode-se verificar que o sentido adotado para o caminho C é o


sentido anti-horário, e que as correntes I1 e I2 estão envolvidas por
este caminho. Logo, conclui-se, ao aplicar a regra da mão direita para
I1 e I2 , que o campo magnético gerado por I1 está no mesmo sentido

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 95


do caminho, enquanto que o campo magnético gerado por I2 está
na direção oposta. Portanto, a circuitação é positiva para I1 e negativa
para I2 , resultando na seguinte equação:
 
α ∫ B ⋅ d  = µ 0
(I1 − I2 ) = µ 0 IT
C

Note que há uma corrente total ( IT ) circuitada dada pela diferença


das correntes I1 e I2 . Já a corrente I3 não contribui para a circuitação,
portanto não deve ser incluída no equacionamento.

Reflita
Se as correntes I1 e I2 tivessem o mesmo sentido, como seria dada a
corrente total obtida dentro da circuitação?

A última equação obtida pode ser generalizada para qualquer


distribuição de corrente elétrica em um meio condutor. Contudo, será
aproveitada a definição da Lei de Ampère para falar um pouco sobre
as fontes de campo magnético. Conforme visto anteriormente, um
campo magnético pode ser produzido por uma corrente elétrica, mas
como se explica o campo magnético gerado por um imã permanente?
Num imã permanente, a organização da estrutura eletrônica interna
faz com que surjam, internamente, correntes de magnetização. Assim,
é possível separar a situação de um campo produzido por uma corrente
elétrica de um campo produzido por um material magnetizado.
Num condutor percorrido por corrente, o campo magnético

BC escrito como

em função de um vetor de intensidade de campo
magnético ( H ):
 
α BC = µ0 H

Já em um material magnetizado, como no caso de um imã



permanente, tem-se o vetor magnetização ( M ) responsável por gerar

um campo magnético BM :
 
α BM = µ0 M

Quando um condutor percorrido por corrente magnetiza um


determinado material (como no caso de um eletroímã), o campo total

96 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


será dado pela soma do campo gerado pela corrente elétrica e do
material magnetizado, que, na verdade,
 é mais comumente chamado
de densidade de campo magnético ( B ):
      
α B = BC + BM = µ0 H + µ0 M = µ0 (H + M )

 
Assim, a Lei de Ampère pode ser reescrita considerando os vetores
H e M , tal como:
     
α ∫ µ (H + M ) ⋅ d  = µ
0 0 IT → ∫ (H + M ) ⋅ d  = I T
C C

Note que, se M = 0 (ou seja, se não existe magnetização de um
meio material), então:
 
∫ H ⋅ d  = I T
C

Assimile
A Lei de Ampère, na forma integral, permite calcular o campo magnético
a partir de uma corrente elétrica total estacionária, podendo ser dada pelas
seguintes equações:
   
α ∫ B ⋅ d  = µ I0T , ou ainda ∫ H ⋅ d  = I T
C C

Assim como a Lei de Gauss, a Lei de Ampère pode ser aplicada


em situações que apresentam uma simetria favorável para definir um
circuito fechado que englobe as correntes elétricas das distribuições
contínuas de carga.

Exemplificando
Um fio infinito é percorrido por uma corrente elétrica de 20 A. Utilizando a
Lei de Ampère, calcule o campo magnético a um raio de 40 cm desse fio.
Resolução:
Analise o caso de um fio retilíneo e infinito, tal como mostra a Figura 2.22.

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 97


Figura 2.22 | Corrente em um fio retilíneo infinito

Fonte: elaborada pelo autor.

As linhas de campo desse fio são circunferências de raio R, e os vetores de


campo magnético estão perpendiculares ao raio dessas circunferências.
Pode-se, então, definir uma das circunferências

como o caminho C, e
logo será possível constatar que d  estará na mesma direção e sentido

de B . Nos pontos de C, acontecem duas situações que contribuem para

a aplicação

da Lei de Ampère: uma é que, em C, o vetor B é paralelo ao
vetor d  . O outro fator é que, em todos os pontos de C, o módulo do
campo B é uniforme e pode sair da integral. Assim, têm-se os seguintes
cálculos para o campo B em um fio retilíneo infinito:
  µ 0I
∫ B ⋅ d  = µ 0I →B ∫ d  = µ 0I → B 2πR = µ 0 I → B =
2πR
C C

Note que a equação é a mesma que a obtida utilizando a Lei de


Biot-Savart, entretanto foram aplicados apenas dois procedimentos de
cálculo. Utilizando os valores dados, tem-se:
4p ×10−7 × 20
B= = 10−5 T
2p × 0, 4

Na teoria de campos magnéticos, é interessante que as relações


envolvam as grandezas em pontos infinitesimais do espaço. Dessa
forma, pode-se utilizar o conceito de rotacional para determinar
uma relação pontual a ser utilizada para aplicar a Lei de Ampère em
uma região de dimensões infinitesimais de espaço. Para ilustrar esse
conceito, observe a Figura 2.23, que mostra uma região de um meio
condutor, de superfície S e delimitada por um contorno L, na qual é
selecionada uma área incremental DS, que, por sua vez, é atravessada
perpendicularmente por uma corrente DI. O objetivo é tornar o
caminho C o mais pequeno possível, de forma que DS se torne como
um ponto infinitesimal no meio condutor.

98 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Figura 2.23 | Meio condutor delimitado por um caminho L

Fonte: elaborada pelo autor.

Para atingir esse objetivo, é possível aplicar a Lei de Ampére no


caminho C e dividir por ambos os lados da equação por DS , conforme
mostrado na equação:

∫ H ⋅ d  ∆I
C
=
∆S ∆S

Com o intuito de tornar DS o menor possível, pode-se aplicar o


limite com DS tendendo a zero, para os dois lados da equação, da
seguinte forma:

∫ H ⋅ d  ∆I
C
lim∆S →0 = lim∆S →0
∆S ∆S

Do lado direito da equação,



o que se obtém é nada menos que a
densidade de corrente J . Já do lado esquerdo, define-se uma operação
vetorial sobre um campo vetorial, que é denominada de rotacional.
Assim, depois de aplicar os limites, é possível escrever:
  
∇× H = J

A formulação anterior é denominada


de forma pontual da Lei de
Ampère. Considerando um campo H = H x xˆ + H y yˆ + H z zˆ , a operação
do rotacional pode ser dada pelo determinante:

xˆ yˆ zˆ
  ¶ ¶ ¶
Ñ´ H =
¶x ¶y ¶z
Hx Hy Hz

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 99


Assimile
A Lei de Ampère, na forma pontual, permite calcular o campo
magnético a partir de uma densidade corrente elétrica, escrita pelas
seguintes equações:
     
∇× H = J , ou ainda: Ñ´ B = m0 J

Exemplificando

Seja um campo magnético definido por H = 5 xˆ + 2 xyˆ + 6 yzˆ , determine o
vetor densidade de corrente elétrica.
Resolução:

xˆ yˆ zˆ
  ¶ ¶ ¶ æ ¶H ¶H y ÷ö æ ¶H x ¶H z ÷ö æ ¶H y ¶H ÷ö
Ñ´ H = = ççç z - ÷÷÷ xˆ + ççç - ÷÷ yˆ + ççç - x÷ˆ
÷z
¶x ¶y ¶z è ¶yç ¶z ø è ¶z ¶x ø ÷ çè ¶x ¶y ÷ø
Hx Hy Hz

 
Ñ´ H = (6 - 0) xˆ + (0) yˆ + (2 - 0) zˆ = 6 xˆ + 2zˆ

Logo:
  
Ñ´ H = J = 6 xˆ + 2zˆ

Considerando ainda a superfície incremental da Figura 2.23, a partir


das deduções anteriores, é possível escrever a seguinte relação:

∫ H ⋅ d      
C
∆S
= ∇× H → ∫ H ⋅ d  = (∇× H )∆S
C
Considerando que um meio condutor seja formado por várias áreas
incrementais DS , e que essas áreas sejam reduzidas em elementos
infinitesimais de superfície dS , pode-se realizar o circuitamento para
todos esses elementos no meio condutor e somar os resultados. A
maioria dos termos se cancela, com exceção dos que estão no
contorno da superfície S dada por L. Chega-se, então, ao chamado de
Teorema de Stokes, válido para qualquer campo vetorial:
  
∫ H ⋅ d  = ∫ (∇× H )dS
L S

100 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Incluindo a Lei de Ampère na formulação, tem-se:
   
∫ H ⋅ d  = ∫ J ⋅ dS = ∫ (∇× H )dS
L S S

Olhando as duas equações, nota-se que é possível facilmente partir


da Lei de Ampére na forma integral e chegar à sua forma pontual, e
vice-versa, utilizando o Teorema de Stokes.
Na eletrostática, foi visto o conceito de potencial escalar
eletrostático (ou potencial elétrico), que permite simplificar os
problemas de cálculo de campo elétrico, pois, se há uma configuração
de carga, é possível obter inicialmente o potencial elétrico para,
em seguida, obter a intensidade de campo elétrico. No estudo do
magnetismo, também é possível traçar um paralelo e definir uma
função potencial que é obtida a partir de uma distribuição de corrente
elétrica. Esse potencial será denominado de potencial escalar
magnético, e, a partir dele, pode-se obter os campos magnéticos
de forma mais simplificada. Entretanto, a aplicação desse potencial
escalar magnético é limitada às situações em que a densidade de
corrente elétrica é igual a zero, conforme você verá adiante.
Considerando a existência de um potencial escalar magnético,
designado por Vm , tem-se que o negativo do gradiente é igual à
intensidade de campo magnético. O negativo foi escolhido para ter
uma maior analogia com o caso do potencial elétrico.
 
H = −∇Vm

Essa definição deve satisfazer às leis do magnetismo, tal como a Lei


de Ampère na forma pontual. Dessa forma, tem-se:
    
∇× H = J = ∇× (−∇Vm )

Existe uma propriedade da álgebra que determina que o rotacional


do gradiente de qualquer escalar é igual a zero. Assim, ao definir a
existência de um potencial escalar magnético diferente de zero, a
densidade de corrente deverá ser zero em toda a região em que o
potencial escalar magnético for definido, sendo possível escrever:
  
H = −∇Vm (J = 0)

Além da definição do potencial escalar magnético, pode-se definir


um potencial vetor magnético, que consiste em um campo vetorial

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 101


muito importante para o estudo de radiação de antenas e perdas
por radiação de linhas de transmissão, guias de onda e fornos de
micro-ondas. Diferente do potencial escalar magnético, o potencial
vetor magnético pode ser utilizado em meios nos quais existe ou não
uma densidade de corrente elétrica.
Para definir esse potencial vetor magnético, utiliza-se das equações
básicas do magnetismo,

que definem que a divergência

do campo
magnético B é nula e que
o rotacional do campo B é proporcional à
densidade de corrente J :
 
∇⋅B = 0
  
Ñ´ B = m0 J

As equações anteriores compõem algumas das equações de


Maxwell em termos de carga e corrente totais no vácuo. Dado que a
divergência de B é nula, pode-se dizer que existe um vetor potencial
definido por A, de forma que:
  
B = ∇× A

Substituindo na equação do rotacional de B , tem-se que:
   
Ñ´ B = m0 J ® Ñ´ (Ñ´ A) = m0 J

Logo, desenvolvendo a equação anterior, obtém-se:


     
Ñ(Ñ × A) + Ñ2 A) = m0 J

Pesquise mais
O potencial vetor magnético pode ser calculado de acordo com uma
densidade de corrente elétrica. Para o cálculo do potencial vetor, é
necessário estabelecer uma liberdade de calibre, que consiste em
fazer uma substituição vetorial na expressão de forma que o campo
magnético B não se altere. Mais informações podem ser encontradas
no vídeo a seguir:
ELETROMAGNETISMOUFF. Aula 1.26 – Liberdade de calibre, calibre de
Coulomb, solução geral para o potencial vetor. 2015. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Om4IM-TtmE0>. Acesso em: 5
dez. 2017.

102 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Sem medo de errar

Muito bem, com os conceitos apresentados nesta seção, agora


você está apto a realizar a tarefa que lhe foi proposta.
Você já calculou o campo magnético das bobinas utilizando a Lei
de Biot-Savart, mas decide verificar os cálculos que fez anteriormente
utilizando a Lei de Ampère. Como você aplicaria a Lei de Ampère para
determinar o campo magnético no interior das bobinas? Existe alguma
diferença nos valores encontrados?
As bobinas que lhe foram entregues têm 1500 espiras, com raio de
30 cm e comprimento de 70 cm. Para determinar o campo magnético
no interior das bobinas, considere diferentes valores de corrente, sendo
que a corrente máxima que o condutor suporta é de 20 A. Então, faça
os cálculos para as correntes nos valores de 5 A, 10 A, 15 A e 20 A.
Inicialmente, pense na simetria adequada para esse cálculo. Na
figura a seguir, é apresentado um exemplo de solenoide com três
espiras, a fim de visualizar o campo magnético em cada uma delas,
que internamente se somam. Na Figura 2.24b, é apresentado um
solenoide de 5 espiras, que permite observar também esse efeito. Além
disso, nota-se que, para as três espiras mais ao meio do solenoide, as
linhas de campo são quase paralelas. Ainda, o campo total será dado
pela soma vetorial de todos os campos produzidos por cada uma das
voltas do fio que compõem essa bobina, ou seja, é igual à soma dos
campos de todas as espiras existentes.

Figura 2.24 | Campo magnético em um solenoide: (a) com 3 espiras; (b) com 5 espiras

(a) (b)
Fonte: Rego (2010, [s/p]).

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 103


Considere um solenoide com um número maior de espiras
e determine uma região composta por N espiras para fazer uma
circuitação e aplicar a Lei de Ampère. Isso é mostrado na Figura 2.25:

Figura 2.25 | Campo magnético em uma bobina

Fonte: Rego (2010, [s/p]).

Suponha o campo paralelo e uniforme internamente e nulo na


região fora da bobina. Defina, então, um caminho fechado por 1-2-
3-4. Considerando IT como sendo toda a corrente envolvida nesse
caminho, escreva a Lei de Ampère:

ò B × d  = m0IT
1-2-3-4

N ⋅I ⋅h
A corrente total envolvida no caminho é dada por IT = ; logo:
L
N ×I ×h
ò B × d  = m0IT = m0
L
1-2-3-4

Basta então solucionar a integral de linha no caminho especificado.


A integral pode ser quebrada em quatro subintegrais, conforme segue:
         
∫ B⋅d  = ∫ B ⋅ d  + ∫ B ⋅ d  + ∫ B ⋅ d  + ∫ B ⋅ d 
1−2−3−4 1−2 2−3 3−4 4−1

Entretanto, como é considerado o campo igual a zero na parte


exterior do solenoide, tem-se que a integral no caminho 3-4 é igual
a zero. Já nos caminhos 4-1 e 2-3, por terem sentidos de integração
opostos, as integrais se anulam, restando apenas a integral no caminho
1-2. Assim:
N ×I ×h N ×I ×h N ×I
ò B × d  = m 0
L
® B × h = m0
L
® B = m0
L
1-2

104 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Aplicando os valores dados, tem-se:
1500 ⋅ 5
B(5 A) = 4p ×10−7 = 0, 0135 T
0, 7

1500 ⋅ 10
B(10 A) = 4p ×10−7 = 0, 0269 T
0, 7

1500 ⋅ 15
B(15 A) = 4p ×10−7 = 0, 0404 T
0, 7

1500 ⋅ 20
B(20 A) = 4p ×10−7 = 0, 0539 T
0, 7

Percebe-se que os valores são diferentes de quando se aplica a


Lei de Biot-Savart, e essa diferença aumenta à medida que aumenta
a intensidade da corrente elétrica. Isso ocorre porque no cálculo
utilizando a Lei de Ampère foram feitas algumas simplificações (campo
no exterior nulo, o que não é verdade). Logo, a Lei de Ampère considera
para fins de cálculo uma bobina ideal. Entretanto, para bobinas reais,
como o número de espiras é muito grande e o comprimento é maior
que o raio das espiras, a Lei de Ampère é uma boa aproximação.
Como nesse caso o comprimento não é muito maior que o raio (L
= 70 cm e R = 30 cm), você poderá concluir que a Lei de Biot-Savart
expressa mais fielmente os valores de campo e, dessa forma, poderá
escolher os resultados obtidos na seção anterior. Depois de realizar
os cálculos dos campos magnéticos em todas as bobinas, é possível
concluir que a tarefa foi realizada com êxito. Portanto, agora, você
possui todas as informações para escrever o seu relatório.

Avançando na prática

Campo magnético de um toroide


Descrição da situação-problema
Suponha que você trabalha em uma empresa que realiza
manutenção de equipamentos de radiodifusão. Esses equipamentos
geralmente apresentam indutores no formato toroidal, pois apresentam
vantagens com relação a outros tipos construtivos. Por exemplo, uma

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 105


bobina toroidal representa um indutor quase ideal. Dentro do seu
enrolamento, o campo se encontra quase que totalmente confinado
no interior e, consequentemente, a maior parte de suas linhas de
campo é mantida no interior do enrolamento, com densidade de fluxo
essencialmente uniforme ao longo de todo o circuito magnético.
Assim, quando se precisa de um indutor de valor preciso, opta-se pelo
indutor toroidal.
Em um determinado circuito elétrico, o espaço para encaixe de um
indutor permite um indutor toroidal de raio de 2 cm. A especificação
nesse ponto do circuito é que existe um campo magnético de
1, 5 ×10−4 T para uma corrente de 30 mA. Nessas condições, qual deve
ser o número de espiras desse indutor toroidal? Apresente ao seu gestor
o seu projeto, de forma a especificar a construção do equipamento nas
condições descritas.
Resolução da situação-problema
A figura a seguir mostra um indutor toroidal indicando o caminho
de circuitação. Partindo da premissa que o campo esteja confinado no
interior desse indutor, pode-se traçar um caminho de forma a englobar
sua corrente total, que será dada por:
IT = NI

Figura 2.26 | Solenoide toroidal

Fonte: elaborada pelo autor.

 
Nesse caminho, percebe-se que B e d  têm a mesma direção e
sentido. O campo magnético não será constante, mas dependerá do

valor do raio r . Aplicando a Lei de Ampère, tem-se:

106 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


 B 2πr
∫ B ⋅ d  = µ I
0T → B 2πr = µ0 NI → N =
µ0I
C

Com os valores, obtém-se o número de espiras necessárias para


o projeto:
1, 5 ×10−4 × 2p × 0, 02 103
N= −7 −3
= = 500
4p ×10 × 30 ×10 2

Logo, no projeto desse indutor serão necessárias 500 espiras.


Ao apresentar esses cálculos e suas conclusões ao seu gestor, você
concluirá a tarefa da forma adequada.

Faça valer a pena

1. O estudo da eletroestática e do magnetismo apresenta um paralelo


interessante das equações para determinar o campo elétrico e o campo
magnético. Em cada uma das áreas de estudo, uma dessas equações requer
um esforço maior de cálculo, enquanto que a segunda permite um cálculo
simplificado se houver uma simetria adequada. Considere a Quadro 2.1, que
apresenta um paralelo das equações:

Quadro 2.1 | Paralelo entre as leis da eletroestática e do eletromagnetismo

Eletroestática Magnetismo Característica


A B Cálculos mais elaborados e complexos
C D Cálculos simplificados em determinadas simetrias

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale a alternativa que completa corretamente a tabela nas posições A, B,


C e D, respectivamente:

a) Lei de Coulomb, Lei de Gauss, Lei de Ampère e Lei de Biot-Savart.


b) Lei de Gauss, Lei de Coulomb, Lei de Biot-Savart e Lei de Ampère.
c) Lei de Biot-Savart, Lei de Gauss, Lei de Ampère e Lei de Coulomb.
d) Lei de Coulomb, Lei de Biot-Savart, Lei de Gauss e Lei de Ampère.
e) Lei de Gauss, Lei de Ampère, Lei de Coulomb e Lei de Biot-Savart.

2. Um aparelho de rádio que possui um solenoide toroidal de diâmetro


igual a 5 cm em seu circuito foi aberto para manutenção, e o técnico
decidiu calcular o campo magnético concatenado no interior desse

U2 - Correntes elétricas no meio contínuo 107


solenoide. Para isso, o técnico conectou um amperímetro que marcou
uma corrente de 10 mA.

Sabendo que o solenoide é de 300 espiras, o valor de densidade de campo


magnético obtido é de:

a) 1, 4 ×10−6 T
b) 2, 4 ×10−6 T
c) 2, 7 ´106 T
d) 1, 8 ×10−5 T
e) 2, 4 ×10−5 T

3. Um condutor cilíndrico é utilizado em uma instalação elétrica e tem


seção transversal de raio igual a R. Numa situação de demanda alta de
energia elétrica, uma determinada corrente I percorre o condutor. Alguns
estudantes esboçaram o campo magnético produzido pela distribuição de
corrente elétrica nesse condutor, representados na Figura 2.27.

Figura 2.27 | Esboços de um campo magnético num condutor cilíndrico de raio R


Esboço 1 Esboço 2 Esboço 3
B B B

R R R

Esboço 4 Esboço 5
B B

R R
Fonte: elaborada pelo autor.

Nessas condições, pode-se afirmar que o esboço correto do campo


magnético em função da distância do centro do eixo do condutor é o:

a) Esboço 1
b) Esboço 2
c) Esboço 3
d) Esboço 4
e) Esboço 5

108 U2 - Correntes elétricas no meio contínuo


Referências
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da Física. 10. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2016. v. 3.

HAYT JR., W. H.; BUCK, J. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.


Unidade 3

Indutância e as equações
de Maxwell

Convite ao estudo
Olá, caro aluno, seja bem-vindo à terceira unidade do curso
de Eletromagnetismo. Nas unidades anteriores estudamos
os fundamentos da eletrostática e do magnetismo, e nesta
unidade continuaremos a aprofundar os conhecimentos
estudando as indutâncias e as equações de Maxwell.

Este tema está muito presente nas nossas atividades


cotidianas, uma vez que muitos dos equipamentos que
utilizamos são compostos por indutores magnéticos ou têm
o princípio de funcionamento baseado nas leis de indução. Ao
final desta unidade você será capaz de realizar a análise de
distribuições de correntes elétricas e dos campos magnéticos
envolvidos, em contextos gerais e em aplicações específicas
tais como motores, geradores e transformadores elétricos.
Além disso, será capaz de aplicar as equações de Maxwell
na engenharia.

Para motivar os estudos desta unidade, iremos imaginar que


você foi contratado por um laboratório de testes para trabalhar
em um ensaio contratado por uma empresa fabricante de
materiais eletromagnéticos. Nas atividades do laboratório,
é comum realizar atividades, tais como: o planejamento de
experimentos, descrição teórica dos resultados experimentais
esperados, análise e cálculos de parâmetros relacionados aos
materiais magnéticos, entre outros ensaios. Nestas atividades
será necessário ser persistente e colaborar com a equipe para
o sucesso nos trabalhos que precisam ser desenvolvidos. Os
resultados devem ser reportados em relatórios e descritivos
dos ensaios realizados.
Você participará da analise teórica e do planejamento dos
experimentos. Na primeira etapa você irá colaborar propondo
uma solução para que os testes possam ser realizados,
na segunda etapa irá analisar teoricamente os ensaios
realizados em um toroide para determinar a indutância deste,
e finalmente em uma terceira etapa irá analisar o campo
magnético produzido em um capacitor de placas circulares.
Ao final dos testes, você será responsável por elaborar um
relatório para o cliente, contendo a descrição dos ensaios
realizados juntamente com as comprovações teóricas destes
testes. Desta forma, você deverá utilizar os conhecimentos
adquiridos nesta unidade, tais como: lei de Faraday e lei de
Lenz, indutâncias magnéticas e as equações de Maxwell.
Você está preparado para este desafio? Sabe onde buscar o
conhecimento necessário?

Nesta unidade, apresentaremos o conhecimento que é


necessário para realizar as tarefas que lhe forem delegadas.
Na Seção 3.1 você será apresentado às leis de Faraday da
indução magnética e à lei de Lenz, que são fundamentais
para compreensão do princípio de funcionamento de
equipamentos como motores, geradores e transformadores.

Na Seção 3.2 estudaremos o conceito de indutância


magnética a partir do aprofundamento do estudo da natureza
dos materiais magnéticos e dos conceitos de magnetização
e permeabilidade.

Na Seção 3.3 serão introduzidas e contextualizadas


as equações de Maxwell a partir das leis fundamentais da
eletroestática e do eletromagnetismo.

Estes conhecimentos serão um diferencial na sua formação.


Seção 3.1
Lei de Faraday e lei de Lenz
Diálogo aberto
Olá, aluno, nesta seção iniciaremos o estudo do fenômeno da
indução magnética, isso quer dizer que trataremos de um assunto
extremamente importante e relevante em nossa vida cotidiana. O
fenômeno da indução eletromagnética foi descoberto inicialmente
por Michael Faraday (1791-1867), mas também recebeu uma
contribuição importante de um físico chamado Heinrich Friedrich
Lenz (1804-1865).
Este tema é de grande importância na indústria e na engenharia,
assim como você verá nas situações e tarefas que são propostas
nesta seção. Motores elétricos que são empregados nas indústrias
têm a lei de indução magnética como princípio fundamental para
o seu funcionamento.
Para motivar os seus estudos, você foi convidado a imaginar
que foi contratado por um laboratório para trabalhar em um ensaio
contratado por um cliente que fabrica materiais eletromagnéticos.
Sua empresa recebeu um lote de espiras e solenoides, toroides e
capacitores para análise, e neste ensaio você participará da análise
teórica e do planejamento dos experimentos. Ao final dos testes,
você será responsável por elaborar um relatório para o cliente,
contendo a descrição dos ensaios realizados juntamente com as
comprovações teóricas destes testes.
Contudo, para realizar estes ensaios é necessário realizar uma
etapa de planejamento, de forma que você se certifique que não
faltará nenhum material para o sucesso dos testes. Nessa etapa, a
equipe do laboratório identifica um problema: um dos instrumentos
utilizados deve ser alimentado com 440V em CA, contudo, os
pontos de alimentação do laboratório fornecem apenas 220V.
Vocês não possuem transformador para que a tensão possa ser
aumentada, mas existem bobinas de 1500 espiras e núcleos de
material ferromagnético. Como você criaria uma solução para que
o instrumento possa ser utilizado?

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 113


Para realizar a sua tarefa com sucesso, você deverá utilizar os
conhecimentos adquiridos nesta seção: lei de Faraday e lei de Lenz.
Apesar de estar na etapa de planejamento, se você for capaz de
resolver esta situação de forma a permitir que os ensaios sejam
realizados, você estará exercitando a sua capacidade de raciocínio
crítico e tomando uma iniciativa para solução de problemas, e dessa
forma irá colaborar com a sua equipe. Assim, convido você a estudar
com muita atenção o conteúdo desta seção, onde você obterá os
conhecimentos necessários para realizar as tarefas que lhe foram
delegadas. Bons estudos.

Não pode faltar


Na unidade anterior nós aprendemos que quando um condutor
percorrido por corrente elétrica é colocado em meio a um
campo magnético, surge nele uma força e, consequentemente,
um torque eletromagnético. Você já se perguntou se o contrário
também ocorre?

Reflita
Se um condutor for colocado em meio a um campo magnético sob
ação de um torque que provoque um movimento, surgirá nele uma
corrente elétrica?

Para poder entender o que ocorre ao movimentar um condutor


em um campo magnético, como uma espira, vamos inicialmente
conceituar o fluxo de um campo magnético. Você deve se
lembrar que, quando abordamos a Lei de Gauss, definimos o
fluxo de campo elétrico, sendo este a integral do produto escalar
de um campo elétrico por uma determinada área. Podemos
definir analogamente o fluxo de campo magnético como a
integral do produto escalar entre o campo magnético e uma
determinada área pela qual as linhas deste campo magnético
passam, como mostra a Figura 3.1. Podemos escrever o fluxo de
campo magnético ( FB ) como:


ΦB = ∫ B ⋅ ^ndA
S

114 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Figura 3.1 | Demonstração do fluxo de campo magnético em uma determinada área

Fonte: elaborada pelo autor.

Considerando um campo magnético constante e que o vetor de


campo magnético faça um determinado ângulo q com o versor n̂ ,
podemos escrever:
ΦB = ∫ B cos(q )dA
S

A expressão acima nos mostra que o fluxo FB pode ser


positivo, negativo ou zero, dependendo do ângulo q . A unidade
de fluxo de campo elétrico é Tesla metro quadrado [ T × m 2 ] que
é igual a 1 Weber [Wb].
Podemos visualizar mentalmente o fluxo de um campo
magnético, por exemplo, ao aproximar um ímã permanente de
uma espira circular, conforme mostra a Figura 3.2. Ao aproximar
o polo norte deste ímã em direção ao centro da espira, como as
linhas saem do polo norte em direção ao polo sul, poderemos
observar as linhas de campo magnético passando pelo centro
da espira. Quanto mais linhas de campo estiverem passando por
dentro da espira, maior será o fluxo magnético.
Figura 3.2 | Fluxo de campo magnético de um ímã permanente no interior de
uma espira

Fonte: elaborada pelo autor.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 115


Então, é possível visualizar que ao aproximar o ímã do
interior da espira, o fluxo aumenta, e ao afastar o ímã da espira
o fluxo diminui. Além disso, Michael Faraday percebeu em seu
experimento uma outra característica: ao conectar um multímetro
nos terminais de uma espira (fechando um circuito) ele notou que
ao aproximar o polo norte do ímã do interior da espira surge uma
corrente positiva, mas com um detalhe: esta corrente somente
surge quando o ímã é aproximado com uma alta velocidade. Se
o ímã for movido muito vagarosamente, a corrente não aparece.
Da mesma forma, ao afastar o ímã do centro da espira, surge
uma corrente negativa, mas somente se o movimento do ímã for
muito rápido. Desta forma, Michael Faraday constatou que uma
tensão (força eletromotriz) era induzida nos terminais da espira
quando ocorria uma variação temporal do fluxo, ou seja:

eind = − B .
dt

Assimile
A Lei de Faraday da indução magnética relaciona a força eletromotriz
induzida ( eind ) em um condutor com a taxa de variação do fluxo
magnético através deste condutor.
d ΦB
eind = − .
dt

O sinal negativo se deve ao que foi identificado pouco depois


pelo físico Friedrich Lenz. Ele percebeu que o sentido da corrente
induzida era tal que o seu campo magnético se opunha à variação
do fluxo magnético que produziu esta corrente, ou em uma outra
interpretação, em oposição ao movimento do ímã permanente.
Se consideramos que a corrente se opõe à aproximação,
então o campo magnético gerado pela corrente na espira deve
produzir um polo igual ao polo que se aproxima, gerando assim
uma força de repulsão. Isso está ilustrado na Figura 3.3 (a). Por
outro lado, se observarmos a variação do fluxo magnético do ímã
permanente, perceberemos que ao aumentar o fluxo, o campo
gerado irá se opor a este aumento, como mostra na Figura 3.3 (b),
estando em uma mesma direção e sentido contrário ao campo
que o gerou. De outra forma, ao diminuir o fluxo, o campo gerado
irá agir de forma a aumentar o campo total assim como na Figura

116 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


3.3 (c), estando o campo gerado na mesma direção e sentido que
o campo que o gerou.

Reflita
Na Figura 3.2, qual o sentido da corrente elétrica ao aproximar o ímã
do centro da espira? E ao afastar?

Figura 3.3 | Interpretação da Lei de Lenz (a) oposição ao movimento, (b) oposição
à variação negativa do fluxo e (c) oposição à variação positiva do fluxo.

Fonte: elaborada pelo autor.

Assimile
De acordo com a Lei de Lenz a corrente induzida terá o sentido oposto
à variação de fluxo de campo magnético.

Exemplificando
Seja uma espira de raio R em um campo magnético que varia no tempo
conforme B = -Kt. Neste caso, qual será o valor da força eletromotriz
induzida nesta espira?

Resolução:

Neste caso, podemos calcular inicialmente o fluxo de campo magnético


de acordo com a integral dada a seguir. Como a espira é circular de raio
R, a área total pela qual o fluxo passa é igual à pR 2 , logo:

ΦB = ∫ B cos(θ )dA = B cos(θ )πR 2 .


S

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 117


Em seguida, aplica-se a equação da Lei de Faraday para determinar a
força eletromotriz induzida:
d ΦB dB d (−Kt )
εind = − =− cos(θ )πR 2 = − cos(θ )πR 2 = K cos(θ )πR 2
dt dt dt

Assim, percebemos que a força eletromotriz induzida pode


surgir em situações nas quais o campo magnético é variante no
tempo em uma área fixa pela qual o campo magnético passa.
Vamos agora analisar uma situação em que o campo magnético
é fixo, confinado em um determinado espaço, no qual existe uma
espira retangular que se movimenta, conforme mostrado na Figura
3.4. Nesta situação entenderemos melhor a indução magnética
segundo a Lei de Faraday, além de assimilar um conceito importante
que é a transferência de energia no processo de indução.
Figura 3.4 | Espira retangular movimentando-se em um campo magnético constante

Fonte: Halliday, Resnick e Walker (2016, [s.p.]).

Quando o ímã é aproximado ou afastado da espira, uma força


magnética se opõe ao movimento e, portanto, é preciso realizar
um trabalho positivo. Como existe uma resistência característica
da espira, uma energia térmica é produzida devido à corrente
induzida na espira pelo movimento. Assim, existe uma transferência
de energia mecânica no sistema ímã-espira para energia térmica.
Na situação da espira que se movimenta linearmente em um
campo magnético constante da Figura 3.4, quanto mais a espira é
puxada para fora da região de confinamento do campo magnético,

118 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


menor será o fluxo de campo magnético pela espira, pois a área
diminui. Ou seja, existe uma variação negativa de área, e o fluxo
será dado conforme o cálculo da integral a seguir, onde o ângulo
q é igual a zero, pois tanto o campo quanto a normal à superfície
estão no mesmo sentido. Como x diminui, e sendo B a magnitude
do campo magnético constante, o fluxo diminui.
ΦB = ∫ B cos(q )dA = B x .
S

Ao calcular a força eletromotriz induzida neste caso, teremos que:


d ΦB dx
εind = = B = B ν .
dt dt
Como a espira tem uma resistência elétrica surgirá uma corrente
induzida que se opõe à variação do campo magnético. Como uma
variação negativa de fluxo magnético é a que induz a corrente,
um campo na mesma direção e sentido do campo indutor irá
surgir. Logo, a corrente deve percorrer a espira no sentido horário.
Supondo uma resistência elétrica R na espira, pode-se calcular a
corrente por:
εind B ν .
I= =
R R
Sobre
 cada parte
 da espira aparecerá forças induzidas dadas
por: dF = Id  × B . Integrando esta equação em cada  um dos
 lados
da espira retangular, serão obtidas as resultantes F1 , F2 e F3 . Ainda,
existe
 uma força que é aplicada por quem puxa a espira, dada por
Fx . Como a espira se movimenta em uma velocidade v constante,
então podemos concluir que a resultantes das forças é nula, ou seja:
 
F2 = −F3 .
  
  B2 2u .
F1 = −Fx = ∫ (Id  × B ) = I B =
0
R
Podemos calcular a potência aplicada na movimentação à espira
que é igual ao produto escalar da força aplicada pela velocidade,
que por sua vez possuem mesma direção e sentido, logo:
  B2 2u2
Pap = Fx ⋅ u = Fx u = .
R
Entretanto, a potência dissipada é dada por:
B2 2u2 B2 2u2 .
Pdiss = RI 2 = R =
R2 R
Ou seja, em velocidade constante, toda a energia injetada na
espira é consumida na forma de dissipação térmica.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 119


Pesquise mais
Correntes de Foucault: na situação que vimos tratamos de uma espira
que está se movimentando em um campo magnético, entretanto,
você consegue imaginar a situação em que uma chapa metálica se
movimenta em meio a um determinado campo magnético? Como
seriam as correntes? O que ocorre é que surgem correntes induzidas
em várias partes do material, causando assim uma dissipação térmica,
o que são denominadas correntes de Foucault. Para saber mais acesse
a Seção 3.10.5 do livro:

REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

Lembrando que você possui acesso gratuito ao livro na biblioteca


virtual. Acesse diretamente a seção através do link:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978-85-216-2668-8/
cfi/6/24!/4/1068@0:0>. Acesso em: 28 nov. 2017.

Com o que foi visto até aqui, podemos analisar o funcionamento


de um gerador elementar, que se trata de uma espira girando em
meio a um campo magnético. Vamos considerar então um campo
uniforme e uma espira retangular conforme mostra a Figura 3.5 (a).
Esta espira gira em torno de um eixo com determinada velocidade
angular w . Neste caso, é possível verificar que a orientação do
campo magnético varia com relação ao versor normal à superfície
por onde o fluxo magnético passa. Isso pode ser melhor visualizado
na Figura 3.5 (b) ao lado.
Figura 3.5 | Espira girando em um campo uniforme (a) fluxo no centro da espira (b)
direção do campo em relação à seção da espira

Fonte: elaborada pelo autor.

120 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Quando a espira gira, o ângulo entre a normal e B varia, e por
isso podemos calcular o fluxo magnético da seguinte forma:
ΦB = ∫ B cos(θ )dA = B cos(ωt )ab .
S
Na equação acima definimos que θ = ωt . Dessa forma, podemos
definir a força eletromotriz induzida tal que:
d ΦB d d cos( ωt )
εind = − = − B cos( ωt )ab = − Bab = ωsen(ωt )Bab
dt dt dt
Ou seja, percebe-se que a uma tensão induzida é gerada e se
comporta como uma tensão senoidal. Desta forma, se os terminais
da bobina forem ligados a uma carga, surgirá uma corrente elétrica.
Este é o princípio de funcionamento dos geradores elétricos.
Vamos agora estudar os efeitos de um campo magnético
variável sobre um condutor. A situação que podemos analisar é de
um anel na presença de um campo magnético variável. Neste caso
surgirá um campo elétrico induzido. Seja um anel em um cilindro
em que existe um campo magnético que cresce com o tempo,
conforme mostra a Figura 3.6.
Figura 3.6 | Anel na presença de um campo magnético variável

Fonte: adaptada de Halliday, Resnick e Walker (2016, [s.p.]).

Como na região cilíndrica o campo magnético cresce com


o tempo, então podemos escrever que o fluxo magnético é
crescente. Esse anel tem raio R e delimita a área pela qual o fluxo
está crescendo. Então irá aparecer em seu contorno uma corrente
induzida, cujo sentido é dado pela Lei de Lenz. Se o fluxo está
aumentando, a corrente induzida irá gerar um campo que se
oporá ao aumento do fluxo do campo aplicado, ou seja, haverá
uma corrente circulando no sentido anti-horário. Irá aparecer no

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 121


condutor um campo elétrico que é tangente em cada ponto do
anel. Este campo elétrico é chamado de campo elétrico induzido.

Reflita
Como serão as linhas de campo elétrico no caso de um anel em um
campo magnético variável (conforme mostra a Figura 3.6)?

A Lei de Faraday permite então afirmar que um campo


magnético variante no tempo irá produzir um campo elétrico. Se
considerarmos as cargas no interior do anel, sobre elas agirá uma
 
força dada por F = qE .
Conforme visto em outras seções, o trabalho realizado por esta
força pode ser calculado pela integral do produto escalar entre a
força e o deslocamento, conforme mostrado a seguir:
   
W = ∫ F ⋅ d  =∫ qE ⋅ d  .
Por outro lado, se existe uma força eletromotriz induzida,
podemos escrevê-la como:
W  
eind = = ∫ E ⋅d  .
q
No entanto, a força eletromotriz também foi definida como a
variação do fluxo magnético no tempo, portanto, pode-se escrever
a seguinte igualdade:
  dΦ
∫ E ⋅ d  = − dtB .
A igualdade acima trata de uma reformulação da Lei de Faraday
para um campo variante no tempo. É importante você atentar,
entretanto, que não se pode associar um potencial elétrico a um
campo elétrico induzido.

Exemplificando
Seja uma espira quadrada de lado igual a 3 cm colocada em meio a
um campo, de forma que o fluxo seja perpendicular à área da espira.
Determine o campo elétrico se o campo magnético é igual a:

B = 9t .

122 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Resolução:

Neste caso, podemos calcular inicialmente o fluxo de campo


magnético uma vez que a área da espira é A=0,0032=9x10-4m2, e
como o campo magnético e a área da espira estão na mesma direção:
ΦB = ∫ B cos(q )dA = B cos(q )A = 9t cos(0°)9 ×10−4 = 81t ×10−4 .
S
Em seguida, aplica-se a equação da Lei de Faraday reformulada para
determinar o campo elétrico. Sendo L o perímetro da espira, temos:
  dΦ
∫ E ⋅ d  = − dt → EL = 81×10−4 ,
81×10−4
E × 4 × 3 ×10−2 = 81×10−4 → E = = 6, 75 ×10−2 V /m .
12 ×10−2

Sem medo de errar


Vamos inicialmente lembrar da tarefa que você precisa
desempenhar. Existe um problema para realização de um
experimento que demanda o uso de um instrumento alimentado
em 440V em corrente alternada. No entanto, os pontos de
alimentação do laboratório fornecem apenas 220V. Vocês não
possuem transformador para que a tensão possa ser aumentada,
mas existem bobinas de 1500 espiras e núcleos de material
ferromagnético. Será que você conseguiria com os materiais
disponíveis elaborar um transformador de forma que seja possível
ligar o equipamento que deve ser utilizado?
Vamos inicialmente entender como é a estrutura de um
transformador de corrente alternada. Na Figura 3.7 é apresentada
a estrutura de um transformador monofásico, constituído por uma
bobina de primário com N1 espiras, e uma bobina de secundário,
com N2 espiras. A bobina de primário é alimentada com uma tensão
V1, alternada, que faz com que uma corrente elétrica alternada
I1percorra o enrolamento, enquanto a bobina do secundário é ligada
a uma resistência elétrica. O núcleo de material ferromagnético tem
a função de concatenar o fluxo de campo magnético gerado pela
bobina de primário, de forma que este fluxo passe pela bobina do
secundário. Desta forma, como o campo magnético gerado pela
bobina do primário é um campo variante no tempo, uma força
eletromotriz também é gerada na bobina do secundário.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 123


Figura 3.7 | Estrutura de um transformador monofásico

Fonte: Wentworth (2008, p. 310).

Conforme vimos, a força eletromotriz gerada por uma espira


do enrolamento do primário pode ser dada pela variação do fluxo
magnético, de forma que a força eletromotriz resultante é dada
pela soma das forças eletromotriz gerada em cada espira, de forma
que, desprezando as perdas nas resistências dos enrolamentos,
podemos escrever:

e1 = −N1 = V1 .
dt
Da mesma forma, a força eletromotriz resultante na bobina de
secundário é dada pela superposição das forças eletromotrizes
induzidas em cada uma das espiras do secundário. Novamente,
desprezando-se as resistências do enrolamento do secundário, e
considerando que todo o fluxo magnético está concatenado no
núcleo de material ferromagnético, podemos escrever:

e2 = −N2 = V2 .
dt
Uma vez que não há dispersão de fluxo, a variação temporal
do fluxo magnético é a mesma. Assim, dividindo e1 por e2 temos:
N1 V1 .
=
N2 V2
A equação obtida nos mostra uma relação de transformação, ou
seja, dependendo do número de espiras nas bobinas de primário
e secundário, pode-se obter uma transformação da tensão. Ao
substituir os valores de tensão, podemos então obter a relação
de transformação desejada para um transformador que aumente
a tensão:
N1 220 1
= = → N2 = 2N1 .
N2 440 2
Ou seja, para obter a tensão desejada, é necessário que exista
um número de espiras no secundário do transformador que

124 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


corresponde ao dobro do número de espiras encontrado no
primário. Como o laboratório dispõe de bobinas de 1500, e materiais
ferromagnéticos para compor o núcleo do transformador, pode-se
então ligar uma das bobinas no primário e duas bobinas conectadas
em série no secundário, sendo estas bobinas colocadas no núcleo
de material ferromagnético para concatenar o fluxo.
Contudo, pode-se utilizar mais bobinas, sempre respeitando
a relação de transformação, dependendo de como você deseja
construir o seu transformador. Uma informação importante
é atentar para a tensão permitida em cada uma das bobinas,
de forma que a tensão da rede não danifique a bobina e o seu
transformador. Uma vez que você construa este transformador,
o equipamento do laboratório pode ser ligado, e a sua tarefa será
concluída com êxito.

Avançando na prática
Ventilador alimentado à bateria
Descrição da situação-problema
Imagine que você trabalha em uma empresa de equipamentos
elétricos que podem ser conectados à porta USB de computadores
pessoais. Seu colega é um projetista que está trabalhando no projeto
de um ventilador que pode ser conectado a uma bateria ou à porta
USB do computador. Um aparato foi montado com uma espira em
meio a um campo magnético de um ímã permanente como mostra
a Figura 3.8. Os terminais da espira se ligam a anéis de forma que a
espira possa girar e movimentar as hélices do ventilador.
Figura 3.8 | Projeto inicial do ventilador

Fonte: elaborada pelo autor.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 125


O projetista deste ventilador imaginou que, ao ligar a bateria nos
terminais da espira, a corrente que percorre o condutor em meio a
um campo magnético produz uma força com sentido para cima no
condutor do lado direito, e para baixo no condutor do lado esquerdo,
fazendo assim a espira girar. No entanto, a espira apenas deu uma
meia volta e parou na vertical. Utilizando os seus conhecimentos de
eletromagnetismo, você conseguiria melhorar o projeto?
Resolução da situação-problema
No projeto deste ventilador existe basicamente dois problemas:
o primeiro se refere à conexão da bateria nos terminais da espira
utilizando os anéis. Inicialmente, a ação de forças nos condutores
contribui para o início do movimento, mas quando a espira estiver na
posição vertical. A ação de forças na espira torna a resultante nula.
Figura 3.9 | Ação das forças na espira (a) posição horizontal, (b) posição vertical

Fonte: elaborada pelo autor.

Para corrigir este problema, é necessário colocar nas espiras um


elemento chamado comutador conectado à bateria por meio de
escovas, conforme mostra a Figura 3.10. Este elemento inverte o
sentido da corrente que passa pela espira, viabilizando a rotação da
espira. Na Figura 3.11 é mostrado o funcionamento do comutador, na
posição inicial, a correntes entrando e saindo da espira favorecendo
a ação de forças nos condutores e causando um torque de rotação.
Ao chegar na posição vertical ocorre a comutação, com a inversão
do sentido das forças nos condutores, de forma que o movimento
continue. Ainda, uma medida adicional é acrescentar mais espiras
no projeto, dispostas perpendicularmente, de forma a aumentar o
conjugado e permitir um movimento mais suave. Com estas medidas
implementadas, o projeto do ventilador é viabilizado e a tarefa é
finalizada com êxito.

126 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Figura 3.10 | Projeto do ventilador com comutador

Fonte: elaborada pelo autor.

Figura 3.11 | Funcionamento do comutador (a) posição inicial (b) instante da comutação

Fonte: elaborada pelo autor.

Faça valer a pena


1. De acordo com a Lei de Faraday-Lenz, se um ímã permanente for
aproximado de um condutor tal como mostra a figura, se os pontos das
seções transversais A e B deste condutor forem curto-circuitados, então
surgirá uma corrente induzida neste condutor.
I. A corrente elétrica terá a direção de B para A.
II. Surgirá um campo magnético com o polo norte no lado direito do
condutor, se opondo ao polo do ímã.
III. Ao afastar o ímã, o polo norte no condutor irá gerar uma força de
atração, dificultando o movimento.
Figura 3.12 | Ímã se aproximando do condutor

Fonte: elaborada pelo autor.

Assinale alternativa que indica quais as afirmativas verdadeiras:


a) I apenas.
b) II apenas.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 127


c) III apenas.
d) I e II apenas.
e) II e III apenas.

2. Na figura apresentada a seguir, tem-se uma espira no formato


quadricular com lado medindo 0,2 m que está disposta em um campo
magnético constante de intensidade igual à B = 10, 0 Wb/m 2 , sendo que
a área quadricular está perpendicular às linhas do campo. Em determinado
momento, a espira sofre uma leve rotação de forma que ela fique na posição
vertical, paralela às linhas de campo.
Figura 3.13 | Espira quadricular em meio a um campo magnético constante (a) na
posição horizontal e (b) na posição vertical

Fonte: elaborada pelo autor.

O tempo gasto para a espira ir da posição inicial até a final é 0,4 segundos.
Logo, o módulo da força eletromotriz induzida na espira, em volts, é:
a) 1 V.
b) 2 V.
c) 3 V.
d) 4 V.
e) 5 V.

3. Um campo magnético variante no tempo está disposto na direção vertical,


em algum ponto do espaço, e apresenta a variação de acordo com a equação
a seguir, onde t representa o tempo em segundos, e a magnitude do campo
magnético é dada em Tesla (T). Neste campo, é colocada uma espira de raio
igual a 3 cm de forma que o fluxo seja perpendicular à área circular da espira.

B = 16 cos(103 t )
No tempo igual a 10 segundos, qual será a intensidade do vetor de campo
elétrico, em V/m?
a) 55,66.
b) 73,34.
c) 82,43.
d) 100,23.
e) 124,22.

128 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Seção 3.2
Indutância
Diálogo aberto
Caro aluno, na última seção nós estudamos as leis de Faraday e
Lenz para a indução magnética. Nesta seção daremos continuidade
a este estudo, e entraremos na definição de um conceito muito
importante: a indutância.
Quando lidamos com materiais e equipamentos
eletromagnéticos, como por exemplo os motores elétricos que são
empregados em fábricas, ou geradores e transformadores que são
empregados em sistemas de energia elétrica, utilizamos indutâncias
nos modelos. Entretanto, para entender melhor o conceito, será
necessário aprofundar alguns conhecimentos sobre os materiais
magnéticos. Ainda, analisaremos as indutâncias próprias e também
aquelas indutâncias que são produzidas devido às interações de
fluxos magnéticos, as chamadas indutâncias mútuas.
Para que você se motive ainda mais no estudo desta seção,
vamos lembrar que você foi contratado como engenheiro de testes
de um laboratório para trabalhar em um ensaio contratado por uma
empresa fabricante de materiais eletromagnéticos. Neste ensaio
o laboratório deverá caracterizar um lote de espiras e solenoides,
toroides e capacitores. Você está participando da analise teórica e
do planejamento dos experimentos. Ao final dos testes, você deverá
escrever um relatório para o cliente, contendo a descrição dos ensaios
realizados juntamente com as comprovações teóricas destes testes.
Para o ensaio contratado pela empresa fabricante de materiais
eletromagnéticos, existe um lote de toroides, com 500 espiras cada,
que devem ser testados. Estes toroides foram submetidos a ensaios
que demonstraram que a indutância é de 2,8 mH com uma margem
de erro de ±0,2 mH. Os toroides têm 10 cm de raio interno e uma
seção quadricular de lado igual a 5 cm. A sua tarefa é verificar se
o valor experimental está coerente com o valor teórico, de forma
que este parecer possa constar no relatório de ensaios. Como você
acha que pode realizar esta tarefa?

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 129


Para realizar a sua tarefa com sucesso, você deverá utilizar os
conhecimentos adquiridos nesta seção para fazer o cálculo da
indutância em um solenoide em formato toroidal.
A comprovação dos resultados experimentais através de cálculos
teóricos, apresentando as devidas justificativas para eventuais
desvios encontrados, é de extrema importância em um ensaio
experimental, e assim o seu papel neste procedimento é primordial.
Por isso, convido você a estudar com muita atenção o conteúdo
desta seção, assim como resolver as atividades de consolidação
que forem propostas e buscar por mais conhecimentos no Pesquise
mais. Com isso, você obterá os conhecimentos necessários para
realizar as tarefas que lhe foram delegadas. Bons estudos!

Não pode faltar


Quando estudamos eletroestática, você estudou capacitores,
que são dispositivos capazes de armazenar campo elétrico. Os
capacitores possuem uma propriedade que define esta capacidade
de armazenamento: a carga elétrica acumulada entre as duas placas
de um capacitor é proporcional à diferença de potencial entre estas
placas, e a este coeficiente de proporcionalidade dá-se o nome de
capacitância (C), cuja unidade é o Faraday (F):
q = CV.
Analogamente, quando estudamos os campos magnéticos,
poderemos falar dos indutores, que são dispositivos que têm a
capacidade de armazenar campos magnéticos. O fluxo magnético
total em um indutor é proporcional ao campo magnético, que por
sua vez é proporcional à corrente elétrica, e dessa forma podemos
escrever a seguinte relação, onde L é a letra designada para a
indutância, dada em Henry (H):
 B  LI .
Para entender melhor, considere a Figura 3.14 que mostra um
solenoide composto por N espiras e percorrido por uma determinada
corrente I. Esta corrente produz um campo magnético que percorre
o solenoide internamente. Este fluxo atravessa a região definida pela
área do solenoide.

130 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Figura 3.14 | Bobina de N espiras

Fonte: Rego (2010, [s.p.]).

Também vimos na Seção 3.1 que um fluxo magnético variante


no tempo induzirá em um condutor uma força eletromotriz. Assim,
é intuitivo que o campo magnético gerado por um solenoide
percorrido por uma corrente I (variante no tempo) é capaz de
atuar no próprio solenoide. Este fenômeno é conhecido como
autoindução. Então, se um campo qualquer Φ ' atravessa a área A
do solenoide, podemos escrever:

Φ=' ˆ .
B ⋅ ndA ∫
No entanto, o fluxo no interior de um solenoide longo, de
comprimento  e contendo N espiras pode ser escrito por
 NI
B  0 . Como estamos considerando uma área circular do

solenoide podemos escrever a equação do fluxo que passa por
ele mesmo conforme segue:
 µ NIA
Φ=' ∫
ˆ = 0
B ⋅ ndA

.
O fluxo concatenado será dado pela somatória de Φ ' em cada
uma das N espiras, logo:
 N 2 AI
  N '  0 .

Assim, a autoindutância de um solenoide será:
  N2A .
L  0
I 
A autoindutância corresponde à capacidade que certo condutor
ou solenoide possui de induzir nele mesmo uma força eletromotriz a
partir de um campo magnético variante no tempo que foi produzida
por uma corrente magnética que também é variante no tempo.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 131


Exemplificando
Seja um solenoide de 1500 espiras com seção circular de 5 cm de raio,
calcule a autoindutância deste solenoide para cada unidade de metro.

Resolução:

Neste caso temos um indutor de área de seção circular, dada por:

A   R 2    0, 052  2, 5  103 m 2
Utilizando a área calculada, podemos calcular a autoindutância
considerando para o cálculo o comprimento de um metro:
0N 2 A 4  107  1500 2 2, 5  103
L   7, 0  103 H
 1

Assim, uma bobina de N espiras pode ser definida como um


indutor. Se este indutor é percorrido por uma corrente I variante
no tempo (I = I(t)) podemos definir a força eletromotriz (fem)
autoinduzida como:
d (N  )
L  
dt

Assimile
A autoindutância de um solenoide corresponde à capacidade que
este solenoide possui de produzir uma força eletromotriz quando
percorrido por uma corrente variante no tempo.

Na ausência de materiais magnéticos, o fluxo concatenado é


proporcional à corrente que passa no indutor, sendo a autoindutância
o coeficiente de proporcionalidade. Logo, N   LI , e a equação da
fem autoinduzida será:
d (LI ) dI
L    L .
dt dt
Vamos imaginar que o indutor seja conectado a uma fonte de
tensão V por meio de uma chave S como mostra a Figura 3.15.

132 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Figura 3.15 | Circuito RL

Fonte: elaborada pelo autor.

Apesar da fonte de tensão ser constante, no momento de


fechamento da chave S para a posição a, a corrente que surge
irá variar no tempo. Assim, a fem autoinduzida ε L que surge no
indutor é devido à Lei de Faraday da indução, enquanto a tensão V é
proveniente da conversão da energia interna da fonte. Se a resistência
elétrica R for nula, no momento do fechamento da chave estas
tensões serão iguais em magnitude, mas são provenientes de fontes
diferentes! Além disso, é importante entender que o valor num dado
instante do tempo da corrente não afeta a fem autoinduzida. O que
afeta é a variação da corrente no tempo.
O sentido da força eletromotriz é dado pela lei de Lenz, ou seja,
ela deve ser oposta à variação da corrente que a originou. Na Figura
3.16, é mostrada a representação de uma indutância, assim como o
sentido da força eletromotriz nela induzida, dependendo de como
varia a corrente que passa por este indutor.
Figura 3.16 | Sentido da força eletromotriz induzida (a) corrente crescendo (b)
corrente diminuindo

Fonte: elaborada pelo autor.

A propriedade da indutância é, de certa forma, suavizar as


variações de corrente, ou impedir que as variações de corrente

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 133


ocorram bruscamente. Em outras palavras, a indutância promove
uma inércia de corrente elétrica.
Na Figura 3.15, a conexão entre os elementos representados
como resistor (elemento que possui uma resistência elétrica) e
indutor é chamado de circuito RL. No modelo de equipamentos
como transformadores, geradores e motores elétricos, este tipo de
circuito é muito utilizado. Desta forma, convém que nós façamos
uma análise das características deste circuito.
Ao fechar a chave S em a, surgirá uma corrente no circuito RL,
e dessa forma a lei de Kirchhoff para as tensões em um circuito
fechado se aplica. Esta lei diz que a soma das tensões existentes em
um circuito fechado deve ser igual a zero. De outra forma, a soma
da tensão da fonte com as tensões na resistência R e na indutância
L (a fem autoinduzida) deve ser nula. Então podemos escrever a
seguinte equação:
dI
0     L  RI  V  L  RI .
dt
Rearranjando a equação, tem-se a equação diferencial de primeira
ordem que representa o comportamento dinâmico do circuito.
dI R V
 I .
dt L L
A equação diferencial acima tem uma solução na forma:
V  t 
R
I (t )   1  e L  .
R  
Na equação da solução, tem-se uma que a corrente máxima
é dada por IM = V R . É fácil verificar que corresponde à tensão da
fonte (V) exclusivamente sobre o resistor (R). Assim, esta corrente
é estabelecida somente após o período transitório da corrente que
é determinada pela constante de tempo expressa na exponencial
( − R L ). Quando a exponencial se aproxima de um valor muito
próximo de zero, o indutor se comporta como um curto-circuito, e
toda a tensão da fonte estará sobre o resistor. Para indutores com L
pequenos com relação à R, a corrente máxima é atingida em tempos
menores. Ao contrário, para L relativamente grande a corrente
máxima demora para ser estabelecida. A partir do estabelecimento
desta corrente máxima, não existirá mais variação de corrente até
que uma nova perturbação ocorra no circuito.
Vamos supor agora que, após o indutor ser carregado, a chave
é aberta sendo posicionada em b, o que faz com que o indutor seja

134 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


descarregado. Neste caso, a corrente irá circular variando com o
tempo, e da mesma forma que quando o indutor foi carregado, a
lei das tensões de Kirchhoff em uma malha se aplicam, então temos
que escrever:
dI
0   L  RI  L  RI .
dt
Rearranjando os termos da equação diferencial, tem-se:
dI R
 I 0.
dt L
E neste caso, a solução da equação será simplesmente dada por:
R
V Lt .
I (t )  e
R

Pesquise mais
Para mais esclarecimentos sobre a solução de equações diferenciais
de primeira ordem, é sugerido assistir ao vídeo do canal Toda a
Matemática, disponível no link a seguir:

<https://www.youtube.com/watch?v=YSsoA-zR-EQ>. Acesso em: 13


dez. 2017.

Exemplificando

Seja o circuito da Figura 3.15 com V = 10 V, R  1 e L = 2 H.


Determine a equação da corrente e a forma de onda desta corrente
quando a chave é fechada no ponto a.

Resolução:

Substituindo diretamente os valores na equação da corrente elétrica


variante no tempo, teremos:
V  t    t 
R 1 1
 t
I (t )   1  e L   10  1  e 2   10  10e 2
R   
Para t = 0 s, o valor da corrente será: I (0)  10  10e0  10  10  0 A .

Para t = ∞ s, o valor da corrente será: I ( )  10  10e   10  0  10 A .

A forma de onda da corrente elétrica será conforme mostra a


Figura 3.16.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 135


Figura 3.16 | Forma de onda da corrente no carregamento do indutor

Fonte: elaborada pelo autor.

No início desta seção, foi falado que o indutor é um dispositivo


capaz de armazenar campo magnético. Assim, pressupõe-se que
ele armazena algum tipo de energia. Por isso, apresentamos o
comportamento dinâmico do indutor, e este comportamento
será importante agora para entender como o indutor armazena
energia do campo magnético. A existência de uma corrente elétrica
circulando no circuito quando o indutor é descarregado, sem fonte
de tensão externa, já evidencia que no carregamento do indutor
alguma energia foi armazenada. Para verificar esta energia, vamos
manipular a equação diferencial de primeira ordem que expressa
o comportamento do carregamento do indutor e multiplicar pela
corrente I. Assim, obtemos a seguinte expressão:
dI
VI  LI  RI 2 .
dt
Sabemos que VI representa a potência da fonte externa, e RI 2 é
dI
a potência dissipada no resistor. Logo, a quantidade LI dt representa
uma variação de energia magnética no tempo, conforme segue:
dI dU .
LI =
dt dt
Integrando a equação acima, podemos obter a energia magnética
armazenada em um indutor:
t U I
dU 1 .
U 
0
dt 0 0
 
dt  dU  LIdI  LI 2
2

Exemplificando
Seja um solenoide de 500 espiras e área circular de seção com raio
igual a 1 cm, se esse solenoide tem 5 cm de comprimento, determine
a energia armazenada para uma corrente de 2 A.

136 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Resolução:

A indutância do solenoide pode ser calculado conforme a expressão:


0N 2 R 2 4  107  5002   0, 012
L   2  104 H .
 5  102
A energia armazenada então, será:
1
U 2  104  4  4  104 J .
2

Reflita
Considere que duas bobinas sejam colocadas próximas uma da outra,
sendo uma percorrida por corrente elétrica. Qual seria o alinhamento
mais eficiente entre as duas bobinas de forma a permitir uma maior
eficiência na indução magnética na segunda bobina?

Ao refletir sobre a pergunta acima, podemos concluir


adicionalmente que é possível transferir energia entre duas bobinas.
Isso ocorre porque existirá entre os indutores uma indutância mútua.
Para entender isso, considere o circuito da Figura 3.17.
Figura 3.17 | Transferência de energia de um solenoide em um circuito 1 para o
solenoide do circuito 2

Fonte: Rego (2010, [s.p.]).

Pela lei de Faraday uma fem é induzida num indutor do circuito


2 quando se varia no tempo seu fluxo magnético. No entanto, a
variação de B1(t ) se deve à corrente I1 no circuito 1, o que nos permite
escrever, onde Φ12 corresponde ao fluxo mútuo dos circuitos 1 e 2:
d 12 dI
2    M12 1 .
dt dt
E neste caso o coeficiente M12 é conhecido como indutância
mútua. Esta indutância acopla os circuitos 1 e 2 induzindo fem

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 137


no circuito 2 a partir da corrente variável no tempo do circuito
2. Quando os indutores estão em meios materiais lineares ou no
vácuo, pode-se então escrever:
12  M12I1 .
É importante ressaltar que nas relações descritas de
autoindutância, indutância mútua e energia armazenada no indutor,
estamos considerando que os indutores estão em meios materiais
lineares ou no vácuo. Entretanto, em outros meios materiais deve-
se levar em consideração a natureza dos materiais magnéticos.
Para classificar os materiais em termos de suas propriedades
magnéticas, pode-se considerar Suscetibilidade Magnética ( χ m ) ou
a Permeabilidade Magnética ( µ ) de cada material.
A suscetibilidade magnética mede a capacidade do material de
se magnetizar quando estimulado magneticamente (por meio de
um campo magnetizante). Esta é uma grandeza adimensional, dada
pela razão entre a magnetização
 ( M ) e o vetor de intensidade de
campo magnético ( H ):
 
M  mH .
A magnetização ocorre quando materiais com propriedades
ferromagnéticas são utilizados de forma a exibirem propriedades
magnéticas. Isso ocorre, por exemplo, quando um solenoide é
construído ao redor de um núcleo ferromagnético, intensificando
o fluxo no interior deste.
Já a permeabilidade magnética mede o campo magnético no
interior
 de um material devido a um campo magnetizante existente
( H ). Assim, quando o material estiver em meio magnetizante,
no interior deste material surgirá um campo magnético devido
ao campo magnetizante e à magnetização induzida no material.
Nestas condições permeabilidade absoluta é definida pela relação:
 
B   H . Além disso, a permeabilidade absoluta se relaciona com ,
conforme segue:
 M
=µ µ0  1 + 
 H
Da relação acima, verifica-se que na ausência de magnetização
  0 .

138 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Pesquise mais
Propriedades magnéticas da matéria: em termos genéricos, os
materiais magnéticos podem ser agrupados em três categorias
principais: diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos. Para
aprofundar mais neste tema, sugere-se a seção 3.16 (Propriedades
magnéticas da matéria) do livro que está disponível na biblioteca virtual:

REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010,


[s.p.]. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/978-85-216-2668-8/cfi/6/24!/4/1720@0:0>. Acesso em: 6
dez. 2017.

Sem medo de errar


Vamos lembrar a tarefa que você precisa realizar: seu laboratório
testa materiais magnéticos e existe um lote de toroides, com 500
espiras cada, que devem ser avaliados. Estes toroides foram submetidos
a ensaios que demonstraram que a indutância é de 2,8 mH com uma
margem de erro de ±0,2 mH. Os toroides têm 10 cm de raio interno
e uma seção quadricular de lado igual 5 cm. A sua tarefa é verificar se
o valor experimental está coerente com o valor teórico, de forma que
este parecer possa constar no relatório de ensaios.
Inicialmente, você já deve ter percebido que alguns
conhecimentos adquiridos na Unidade 2 devem ser utilizados. Isso
por que é necessário que, primeiramente, seja identificado qual o
campo magnético produzido no interior de um solenoide em formato
toroidal. Assim, podemos calcular este campo magnético utilizando
a Lei de Ampère. Ao olhar um toroide por cima, observaremos algo
como mostrado na Figura 3.18, que nos mostra a seção transversal
das espiras dentro e fora da região circular.
Figura 3.18 | Vista superior de um toroide

Fonte: Rego (2010, [s.p.]).

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 139


Assim, percebe-se que o toroide apresenta campo magnético com
simetria ao longo da circunferência de raio r da figura, de forma que
podemos escrever: r r
B  d l  B 2 r .
C

Veja que, se 0 ≤ r ≤ a , nenhuma corrente atravessa a área da
circunferência, de forma que o campo magnético será nulo. Assim,
o campo magnético no interior de um toroide é dado quando
r ≥ a , ou seja, quando a corrente total for –NI entrando na página,
e então teremos:
 NI
B 2 r   0 NI  B  0 .
2 r
Vamos analisar mais a fundo a seção transversal do toroide cuja
indutância deve ser calculada: trata-se de uma seção transversal
quadricular de 5 cm de lado, e o raio do toroide é igual a 10 cm. Assim,
ao fazer um corte neste toroide, teremos a seção como dada na
Figura 3.19. Nesta figura, o centro do toroide está na origem do eixo
horizontal, e a seção transversal forma um quadrado de altura h e a
base dada pela distância entre os pontos a e b. Desta forma, pode-se
escrever que o raio do solenoide é igual a b, e a altura corresponde à
diferença entre b e a, ou seja: r = b e h  b  a .
Figura 3.19 | Seção transversal do toroide

Fonte: elaborada pelo autor.

Logo, pode-se calcular o fluxo magnético no interior do


solenoide resolvendo a integral, onde dA corresponde a um
elemento infinitesimal de área da seção transversal:

  
  N B  dA  N B(r )cos(0)dA  N B(r )dA .
No entanto, o elemento infinitesimal de área dA pode ser
reescrito como hdr, e desta forma pode-se reescrever a integral
incluindo a equação do campo magnético para o toroide conforme
anteriormente obtida:

140 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


b
 NI  NIh 1  N 2Ih b
N  20 r  hdr  N 02 a r dr  02 ln( a ) .
A indutância do toroide, por sua vez, é dada pela derivada do
fluxo com relação à corrente. Logo podemos escrever:
d  0 N 2 h b .
L  ln( )
dI 2 a
Finalmente, basta substituir os valores de h, a, e b conforme
foram definidos, ou seja, h = 5 cm, a = 5 cm e b = 10 cm. Assim,
obtém-se a indutância do toroide em valores numéricos:
4  107  5002  0, 05 0,1 .
L ln( )  0, 0017  1, 7 mH
2 0, 05
Assim, pelos cálculos efetuados, pode-se perceber que os
resultados experimentais não estão de acordo com o esperado.
Desta forma, você pode alertar a equipe do laboratório para que
ela repita o experimento se certificando de que as medições estão
corretas. O erro entre o resultado teórico e o experimental pode ter
sido devido a um erro na medição das dimensões do toroide ou até
mesmo um erro de paralaxe na medição da indutância. Uma vez
que você reportar estes cálculos no seu relatório, a segunda tarefa
nos ensaios contratados estará cumprida.

Avançando na prática
Indutância mútua de um transformador de núcleo de vácuo
Descrição da situação-problema
Em uma indústria será necessário construir um transformador
com uma relação de transformação de 1:2. O gestor da sua área lhe
incumbiu de realizar esta tarefa, mas será preciso que você utilize
duas bobinas presentes no almoxarifado, sendo uma bobina de raio
igual a 2 cm e 500 espiras e uma de 1000 espiras e raio igual a 15
cm. Com ajuda a de uma câmera de vácuo, você deverá montar um
transformador como mostra a Figura 3.20, em um meio de vácuo:

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 141


Figura 3.20 | Vista superior do transformador improvisado

Fonte: elaborada pelo autor.

Como parte da especificação do transformador, você precisa


determinar a indutância mútua deste conjunto. Como você faria
este cálculo?
Resolução da situação-problema
Considerando a estrutura na qual o transformador é montado,
ilustrado na figura, e considerando que todo o fluxo da bobina se
concentra no interior dela, é possível perceber que os fluxos das
bobinas 1 e 2 encontram uma região de intersecção, dada pela
região circular da bobina de raio menor. Supondo que uma corrente
percorra a bobina 1, o fluxo que passa pela área da bobina 2 será de:
0I1
B1  N1 .
2R1
Temos também que a área da espira menor será igual à
A2   R22 . Assim, o fluxo mútuo da bobina 1 em relação à bobina 2 será
dado por:
0I1
12  B1A2  N1  R22 .
2R1
Note que estamos considerando que o fluxo que passa na
área da bobina de raio menor será uniforme. Esta consideração é
razoável, uma vez que o raio da bobina 2 é muito menor que o da
bobina 1. Assim, podemos escrever a equação da força eletromotriz
induzida na bobina 2:
d 12   R 2 dI dI
 2  N2  N2N1 0 2 1  M12 1 .
dt 2R1 dt dt
0 R22
Logo, concluímos que a indutância mútua será: M12  N2N1
2R1
.
Substituindo os valores:
0 R22 4  107    0, 022
M12  N2N1  500  1000  83, 73  H
2R1 2  0,15
Você conseguiu especificar corretamente as indutâncias mútuas,
tendo cumprido sua tarefa com êxito.

142 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Faça valer a pena
1. Uma bobina será utilizada na confecção de um transformador
monofásico. Esta bobina é formada por fios enrolados de forma muito
compacta, formando assim um número de 200 espiras. A indutância desta
bobina é igual a 20 mH em condições normais de operação.
Calcule o fluxo magnético através de cada espira da bobina quando a
corrente é de 5 mA.
a) 2,5 x 10-7 Wb.
b) 5,0 x 10-7 Wb.
c) 7,5 x 10-7 Wb.
d) 1,0 x 10-6 Wb.
e) 5,0 x 10-6 Wb.

2. Considere uma bobina com enrolamento compacto, perfazendo um


indutor que apresenta uma força eletromotriz induzida de 15 mV para uma
variação de corrente de 3 A/s. Se uma corrente constante de 4 A percorrer
esta bobina, será produzido um fluxo magnético por espira de 20 µWb.
Nestas condições, a indutância e o número de espiras desta bobina serão,
respectivamente.
a) 1 mH, 5000.
b) 2 mH, 4000.
c) 3 mH, 3000.
d) 4 mH, 2000.
e) 5 mH, 1000.

3. Tem-se uma bobina que apresenta uma indutância igual a 4 H e uma


resistência dos enrolamentos que corresponde à 20 Ohms. Esta bobina é
ligada em uma fonte de tensão de 200 Volts. Nestas condições considere as
seguintes afirmativas:
I. Se antes de atingir a corrente de equilíbrio, a taxa de variação da
corrente é de 50 A/s.
II. A corrente que passa pela bobina é igual a 10 A.
III. A quantidade de energia armazenada é de 200 J.
Estão corretas as alternativas.
a) I somente.
b) II somente.
c) III somente.
d) I e III somente.
e) I, II e III.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 143


Seção 3.3
Equações de Maxwell
Diálogo aberto
Caro aluno, você já estudou os princípios da indução magnética,
passando pelo estudo das indutâncias. Além disso, nesta unidade e
nas unidades anteriores, você estudou os princípios fundamentais da
eletroestática e do eletromagnetismo. Esta seção é uma espécie de
fechamento dos conhecimentos fundamentais adquiridos até aqui,
em que sintetizaremos as leis do eletromagnetismo e descreveremos
as equações de Maxwell. Estas equações serão fundamentais para
entendimento de como as ondas eletromagnéticas se propagam,
princípio que é utilizado nos principais equipamentos de comunicação
hoje existentes. Por isso, este conhecimento é muito importante para
o mercado de trabalho.
Para motivar os estudos desta seção, vamos retomar a situação
em que você foi contratado por um laboratório de testes de
materiais eletromagnéticos. Em um novo pedido de ensaios, o
laboratório recebeu um capacitor de placas planas e paralelas que
estão separadas por uma distância d muito menor que o tamanho
das placas, cuja área é 1,0 x 10-2 m2. As placas do capacitor estão
ligadas a uma fonte de corrente alternada de tal modo a produzirem
uma carga Q alternada no tempo, tal que se comporta de acordo
com a equação Q = 6sen(377t ) ´10-5 . Nestas condições, você deve
realizar a análise teórica de forma a determinar qual será o campo
B que surge entre as placas, devido à variação temporal do campo
elétrico. Mas é possível determinar o campo magnético no interior
de um capacitor, uma vez que a corrente elétrica de condução é
nula nesta região? Como você realizaria esta tarefa? Lembre-se de
que esta é a última tarefa a ser realizada, de modo que todos os
resultados devem ser reportados em relatórios e descritivos dos três
ensaios realizados.
Convidamos você para estudar com muita dedicação o conteúdo
desta seção, e resolver as atividades propostas. Bons estudos!

144 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Não pode faltar
Desde o início deste curso viemos estudando os princípios da
eletroestática e da eletrodinâmica, e neste processo, pudemos
chegar em equações e leis muito importantes para entendimento dos
fenômenos eletromagnéticos. Estamos falando das principais leis do
eletromagnetismo que já nos foram apresentadas anteriormente no
decorrer do nosso estudo. Neste momento, é importante recordar
estas leis, pois elas se tratam de um conjunto de equações que irão
compor as famosas equações de Maxwell.
Para chegarmos nas equações do eletromagnetismo na forma
diferencial, deveremos utilizar não somente os conceitos de
rotacional e o teorema de Stokes, que foram vistos na Seção 2.3,
mas também as definições matemáticas de gradiente e divergente,
e o teorema de Gauss. Vamos então brevemente lembrar destes
conceitos antes de seguir adiante:

Lembre-se
O operador diferencial Nabla é definido no plano cartesiano, sendo útil
na definição dos conceitos de rotacional (visto na Seção 2.3), gradiente
e divergente:
∂() ∂() ∂()
()
∇= xˆ + yˆ + zˆ
∂x ∂y ∂z
3
O gradiente de uma função escalar f(x,y,z) no espaço � é definido
pela expressão de ∇(f ) , sendo este um campo vetorial em função das
mesmas variáveis da função f e com as mesmas propriedades.
∂f ∂f ∂f
xˆ +
∇(f )= yˆ + zˆ
∂x ∂y ∂z 
O divergente de uma função vetorial contínua v ( x, y , z ) , suave e
bijetora com derivada contínua, suave e bijetora no espaço � 3 , é
definido por:
 ∂() ∂() ∂() ∂v x ∂v y v z
⋅ v ( xˆ +
∇= yˆ + zˆ ) ⋅ (v x xˆ + v y yˆ + v z=
zˆ ) + +
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z

onde
   v é um campo escalar, função das mesmas variáveis da função
v ( x, y , z ) . Para esse mesmo vetor, o Teorema de Gauss define que:
  
   v  dV   v  dA
V S

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 145


De acordo com James Clerk Maxwell (1831-1879), a aplicabilidade
das leis do eletromagnetismo deveria ser generalizada, ou seja,
as equações poderiam ser aplicadas a quaisquer sistemas físicos
eletromagnéticos, tais como, capacitores, resistores, bobinas,
etc. Ele também achava que as equações deveriam incluir a
representação da propagação dos campos elétrico e magnético.
Neste momento, as equações de propagação de perturbações
mecânicas em meio material, tais como as equações de ondas de
som, já eram conhecidas. Para que fosse possível determinar uma
equação para as ondas eletromagnéticas, a investigação de Maxwell
sobre as leis fundamentais do eletromagnetismo, principalmente a
Lei de Faraday e a correção da equação de continuidade de cargas,
tiveram um papel muito importante.
Primeiramente, devemos lembrar da Lei de Gauss, que relaciona o
campo elétrico em uma superfície fechada, denominada gaussiana,
com o total de cargas envolvidas por esta superfície, de forma que
podemos escrever:
 qint
�S∫ E ⋅ ndA
ˆ =
ε0
.

Uma vez que a carga total distribuída em um volume V pode


ser descrita pela integral da densidade volumétrica de carga neste

volume, temos que: qint   dV , e assim a equação fica:
V
 r
ò E × ndA
ˆ =ò
e 0
dV .
S V  
Entretanto, do Teorema de Gauss, tem-se que � ∫
S

V
,
ˆ =
E ⋅ ndA (∇ ⋅ E )dV

de forma que pode-se reescrever o lado esquerdo da equação e


rearranjar os termos em uma única integral de volume, tal como
mostrado a seguir:
   

V

(  E )dV 

V 0 V
0 
dV  (  E  )dV  0 . 
A equação acima nos permite escrever 
para um determinado volume
definido, contínuo e não nulo, que (  E   0 )V  0 . Considerando que
as funções envolvidas são definidas, suaves e bijetoras com primeira
e segunda derivadas definidas também contínuas, suaves e bijetoras,
podemos escrever a Lei de Gauss na forma diferencial igualando o

termo (  E   ) a zero, e logo a equação da Lei de Gauss na forma
0
diferencial é obtida:

146 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


 
E 
0 .

Uma lei que decorre da Lei de Gauss é a chamada Lei de Gauss


para o magnetismo. Ela determina que a integral de superfície de
um campo magnético é igual a zero, o que significa que os campos
magnéticos não são gerados por cargas elétricas que formam um
monopolo, mas sim por um dipolo magnético:

ˆ
B × ndAò
=0
S

Analogamente ao que foi feito para a Lei de Gauss na eletrostática,


podemos aplicar o Teorema de Gauss, de forma a escrever que
 
�S∫ B ⋅ ndA ∫V
ˆ = (∇ ⋅ B )dV, e aplicando na equação teremos que:

 (  B )dV  0
V

Novamente, a equação acima nos permite escrever para um



determinado volume definido, contínuo e não nulo, que (  B )V  0,
e considerando que as funções envolvidas são definidas, suaves
e bijetoras com primeira e segunda derivadas definidas também
contínuas, suaves e bijetoras, podemos escrever a equação da Lei
de Gauss para o magnetismo na forma diferencial:

B  0 .
Também conhecemos a Lei de Faraday, que nos mostrou como
um campo magnético variante no tempo induz um campo elétrico,
conforme a equação:
r r d B
 E dl  
C
dt
.

Sabemos
 que o fluxo de campo magnético é dado pela integral
Φ B = ∫ B ⋅ ndA
ˆ . Sendo o campo magnético variante no tempo, podemos
S
reescrever a Lei de Faraday, tal que: 
  dB
�∫
C
E ⋅d =

S
dt
ˆ
⋅ ndA∫
Usando o teorema de Stokes conforme visto na Seção 3.2, podemos
  
∫C E ⋅ d = S∫ (∇ × E )ndA
substituir o lado esquerdo da equação, tal que � ˆ ~, e
desta forma escrevemos: 
 dB

S
ˆ
(∇ × E )ndA =−
S
dt
ˆ
⋅ ndA ∫
Da última equação obtemos a Lei de Faraday na forma diferencial:

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 147



 dB
E   .
dt
e finalmente, a Lei de Ampère que relaciona a corrente elétrica
envolvida em um circuito fechado com o campo magnético gerado
por ela: r r
 B dl   I
C
0 int .

Usando novamente o teorema de Stokes, conforme foi visto na


Seção 2.3, e analogamente ao desenvolvimento para obter a Lei
de Faraday na forma diferencial, utilizamos a equação da corrente
elétrica em termos da integral da densidade de corrente elétrica,
sendo I= J ⋅ ndA
ˆ , para obter a Lei de Ampère na forma diferencial:
int ∫  
S
  B  0 J .
Note que, enquanto as equações da Lei de Gauss para a
eletroestática e para o magnetismo se tratam de integrais de
superfície, as equações da Lei de Faraday e da Lei de Ampère são
integrais de linha em circuitos fechados. Na forma diferencial, as leis
de Lei de Gauss se tratam da operação com divergente dos campos
elétrico e magnético, enquanto as Leis de Faraday e de Ampère se
referem à operação com o rotacional destes campos.
As equações que estudamos até aqui compõem as leis do
eletromagnetismo na forma diferencial, as quais podem ser
resumidas nas seguintes equações, utilizando a operação de
divergente e rotacional dos campos elétrico e magnético:
 
E  (Lei de Gauss da eletrostática)
0

  B  0 (Lei de Gauss do magnetismo)

 dB
E   (Lei de Faraday)
dt
 
  B  0 J (Lei de Ampère)
Apesar de a Lei de Ampère na forma diferencial ter sido escrita
com bases matemáticas bem consistentes, é possível verificar que
se ela for escrita desta forma, o princípio da conservação de cargas é
violado. O princípio de conservação de cargas diz que uma corrente
elétrica somente existirá quando houver o deslocamento de cargas
de uma região para outra, ou, na forma de equação:
dq
I =− .
dt

148 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Note que a equação acima não consiste na definição de corrente
elétrica, mas representa a conservação de cargas, pois indica que a
corrente elétrica em uma determinada região depende da variação
de cargas naquela região, de forma que as cargas são perdidas de
uma região para outra, e por isso a variação é negativa. Contudo,
podemos escrever: 
ˆ
I = ò J × ndA
S
e também:
dq ∂r
=∫ dV .
dt V
∂t
Assim, a equação da conservação de cargas fica:
 ¶r
ˆ = -ò
ò J × ndA dV .
S V
¶t
Neste momento, podemos aplicar o teorema de Gauss do lado
esquerdo da equação. Como pelo teorema de Gauss teremos que:
  
ˆ = ò (Ñ× J )dV , podemos então concluir que:
ò J × ndA
S V   ∂r   ∂r
∫ (∇⋅ J )dV = −∫ ∂t dV → ∇⋅ J = − ∂t .
V V
Esta última é a equação de continuidade de corrente. Essa
equação é a representação diferencial da lei de conservação de
cargas. Contudo, existe uma propriedade matemática que indica
que, seja um vetor qualquer arbitrário v, o divergente do rotacional
deste vetor será igual a zero, ou seja:

∇(∇×v ) = 0 .
Então, se extrairmos o divergente do rotacional presente na Lei
de Ampère, encontraremos a seguinte relação:
   ∂ρ
∇(∇× B ) = 0 = ∇(µ0 J ) = µ0∇J = −µ0 .
∂t

Da relação obtida, teríamos que t é igual a zero sempre, o
que não se sustenta, pois isso significaria dizer que as correntes
elétricas não existem em nenhuma situação possível.

Reflita
Com base no que foi visto até aqui, o problema encontrado por
Maxwell que indicaria uma descontinuidade na corrente elétrica está
na equação da Lei de Ampère, ou no teorema matemático?

Para ilustrar melhor o que está acontecendo e entender a


solução dada por Maxwell a este problema, vamos considerar o

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 149


caso de um capacitor de placas planas paralelas conforme mostra
a Figura 3.21. Nos condutores conectados a cada uma das placas,
existe uma corrente de condução I, e estas correntes geram um
campo magnético ao seu redor. Entretanto, no interior das placas
não existe movimento de cargas, o que nos levaria a afirmar que a
corrente elétrica é igual a zero no interior do capacitor. No entanto,
existe comprovação experimental da existência de um campo
magnético no interior das placas.
Figura 3.21 | Capacitor de placas planas paralelas – circuitação das regiões

Fonte: Rego (2010, [s.p.]).

Se considerarmos em um dado instante a quantidade de cargas


que passa pelo condutor em direção às placas do capacitor,
podemos escrever com o auxílio da Lei de Gauss, sendo FE o fluxo
de campo elétrico pela área A
q = e0ΦE .
Logo, a corrente elétrica de condução será dada por:
dq d ΦE .
I= = e0
dt dt
Como no interior das placas não há movimento de cargas,
não há uma corrente de condução. No entanto, Maxwell viu a
necessidade de propor um modelo que garantisse a continuidade
da corrente elétrica, então propôs a existência entre estas placas de
uma corrente de deslocamento, que deveria ser igual à corrente de
condução, conforme:
d ΦE
ID = e0 .
dt

150 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Exemplificando
Considere um capacitor de placas paralelas preenchido pelo vácuo,
cuja área de cada uma das placas é A e a distância entre elas é dada
por d. Determine a corrente de deslocamento em termos do potencial
elétrico entre as placas.

Resolução:

A corrente de deslocamento é igual a corrente de condução, ou seja:


d ΦE
ID = e0 .
dt
Sendo o fluxo de campo elétrico na área da placa do capacitor em
um determinado instante dado por: ΦE = AE , onde E é a magnitude
do campo elétrico que é perpendicular à área das placas, então
podemos escrever:
dE
ID = e0 A .
dt
Contudo, a magnitude do campo elétrico tem relação direta com
o potencial elétrico entre as placas do capacitor e a distância entre
elas, sendo:
V
E= .
d
Logo pode-se escrever a corrente de deslocamento como:
e0 A dV dV
ID = =C .
d dt dt
eA
Na equação acima tem-se que C = 0 é a capacitância do capacitor
d
de placas paralelas com área A e distância d, preenchido por vácuo.

Pudemos perceber que a equação de Faraday nos diz que uma


variação de campo magnético no tempo irá produzir um campo
elétrico. No entanto, na equação de Ampère falta um termo que
indique que, mesmo na ausência de corrente elétrica, existe uma
fonte de campo magnético de forma a viabilizar a propagação de
B e E no espaço. Isso será importante para obter uma equação de
propagação de ondas. Dessa forma, Maxwell propôs acrescentar a
corrente de deslocamento no equacionamento da lei de Ampère,
de forma que:   dΦ
∫ B ⋅ d  = µ0 (I + ID ) = µ0I + µ0ε0 dtE .
C

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 151


Ou na forma diferencial: 
    dE .
∇× B = µ0 (J + JD ) = µ0 J + µ0 ε0
dt
Essas novas equações são conhecidas como Lei de
Ampère-Maxwell.

Assimile
As Equações de Maxwell podem ser resumidas nas seguintes equações:

Na forma diferencial temos:


 ρ
(1) ∇ ⋅ E = (Lei de Gauss da eletrostática)
ε0

(2)   B  0 (Lei de Gauss do magnetismo)

dB 
(3)   E   (Lei de Faraday)
dt
 
(4)   B  0 J  0 0 dE (Lei de Ampère-Maxwell)
dt
Na forma integral, temos:
 qint
(1) E ⋅ ndA
S
ˆ
�∫
=
ε0
(Lei de Gauss da eletrostática)

(2) B ⋅ ndAˆ
�∫
= 0 (Lei de Gauss do magnetismo)
S   dΦ
(3) ∫
E ⋅ d  = − B (Lei de Faraday)
dt
C
  d ΦE
(4) ∫ B ⋅ d  = µ0I + µ0 ε0
dt
(Lei de Ampère-Maxwell)
C

Note que se o meio é o vácuo, a corrente elétrica de condução


é igual a zero, e dessa forma a Lei de Ampère-Maxwell terá apenas
um termo do lado direito da equação, correspondente à corrente
de deslocamento conforme foi visto.

Exemplificando
Seja um campo elétrico no vácuo que tem os seguintes valores em
coordenadas retangulares.
E x = 0 E y = 10−5 sen(p ×107 t ) Ez = 0
Se o campo magnético somente possui valor diferente de zero ao
longo do eixo z, qual o valor do campo magnético?

152 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Resolução:

Podemos aplicar diretamente a lei de Ampère-Maxwell na forma


diferencial. Uma vez que o campo
 elétrico está no vácuo, não existe
corrente de condução, logo J = 0 . 
 dE
  B  0  0
dt
Desenvolvendo em coordenadas retangulares teremos:
Bx Bz dE y
  0  0
z x dt
Como Bx = 0 então Bx  0 , e assim:
z
Bz dE y
  0  0  0 0 105  cos(t )
x dt
Integrando dois lados é possível obter o campo magnético:
Bz
 x 
x   0 0 105  cos(t )x  Bz  0 0 105  x cos(t )

Substituindo os valores temos:


Bz  4  107  8, 85  1012  0 105   107 x cos(  107 t )
Bz  3, 54 2  1016 x cos(  107 t ) [T ]

Pesquise mais
A discussão que tivemos aqui sobre as equações de Maxwell foi breve,
no entanto, você pode expandir os seus conhecimentos fazendo uma
leitura do capitulo 9 do livro:

HAYT, JR.; WILLIAM, H. Eletromagnetismo. ed. 8. Porto Alegre:


AMGH, 2014.

Este livro está disponível gratuitamente na biblioteca virtual, e você


pode acessá-lo diretamente através do link a seguir:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788580551549/
cfi/291!/4/[email protected]:7.11>. Acesso em: 28 fev. 2018.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 153


Sem medo de errar
Com os conhecimentos adquiridos nesta seção, agora você
poderá realizar a tarefa que lhe foi atribuída. Vamos então lembrar
qual a sua responsabilidade nesta etapa dos ensaios dos materiais
eletromagnéticos: o laboratório recebeu um capacitor de placas
planas e paralelas que estão separadas por uma distância d muito
menor que o tamanho das placas, cuja área é 1, 0  102 m 2 . As placas
do capacitor estão ligadas a uma fonte de corrente alternada de
tal modo a produzirem uma carga Q alternada no tempo, tal que
se comporta de acordo com a equação Q(t )  6sen(377t )  105 .
Nestas condições, você deve realizar a análise teórica de forma a
determinar qual será o campo B que surge entre as placas, devido
à variação temporal do campo elétrico. A situação descrita está
ilustrada na Figura 3.22.
Figura 3.22 | Capacitor de placas planas circulares usado no ensaio

Fonte: elaborada pelo autor.

O campo elétrico pode ser obtido pela expressão obtida para


determinar o campo elétrico do capacitor, que foi vista ainda na
primeira unidade. No entanto, deve-se considerar um campo
elétrico variante no tempo, utilizando uma densidade de carga que
também é variante no tempo σ (t ) , conforme a seguir:
 (t ) .
E (t ) 
2 0
Como:  (t )  Q(t ) A , então podemos reescrever a equação do
campo elétrico:
Q(t ) Qsen(t )
E (t )   .
2 A 0 2 A 0

154 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Neste caso estamos considerando as variáveis literais, mas é
fácil perceber que Q  6  105 C , v = 377 rad /s e A  1, 0  102 m 2 .
No interior do capacitor não há corrente de condução, logo a
equação da Lei de Ampère-Maxwell pode ser escrita como:
  dΦ 2 dE µ ε dE
∫ ⋅ d  = µ0ε0 dtE → B2πr = µ0ε0πr dt → B = 02 0 r dt
B
C
Contudo, tem-se que o campo elétrico é variante no tempo,
portanto é necessário derivar a equação do campo elétrico, de
onde obteremos que:
dE (t ) Q cos(t )
 .
dt 2 A 0
Substituindo esta derivada na equação anterior, obteremos a
expressão para o cálculo do campo magnético no interior das
placas em função da distância entre o eixo do capacitor até o
ponto onde se deseja obter o campo magnético:
µ0 ε0 dE µ0 ε0 Qω cos( ωt ) Qω cos(ωt ) .
B= r = r = µ0 r
2 dt 2 2 Aε0 4A
Basta agora substituir os valores dados:
6 ×10−5 × 377 cos(377t )
B = 4p ×10−7 r ≈ 7,1r cos(377t )×10−7 [T ] .
4 ×10−2
Como pode-se notar, o campo magnético entre as placas do
capacitor é em função da distância radial do eixo do capacitor até
o ponto onde se deseja obter o campo elétrico
Você deve incluir em seu relatório esta equação obtida, com os
cálculos utilizados para justificar a aplicação desta equação com
fundamento nas Equações de Maxwell. Assim, a tarefa foi cumprida
utilizando os conhecimentos adquiridos nesta seção. O relatório
contendo os resultados dos três ensaios pode agora ser finalizado.

Avançando na prática
Testes em um laboratório de alta tensão

Descrição da situação-problema
Vamos imaginar o caso em que você trabalhe em um laboratório
de testes de alta tensão. Você está estudando o comportamento
de um condutor cilíndrico de raio de seção transversal igual a
3 cm, que será utilizado em linhas de alta tensão. No teste que

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 155


você está trabalhando, o condutor é cortado e posicionado com
as faces de da seção transversal do corte separando as partes
do condutor de uma distância de 50 cm. Nos terminais deste
condutor é conectada uma fonte de corrente elétrica que varia a
sua corrente a uma taxa de 10 A/s. No início do teste o condutor
é colocado em uma câmara de vácuo. A corrente se inicia em
zero e aumenta com o tempo até que sejam visualizados arcos
de corrente na região com a fissura. Foi verificado que os arcos
de corrente aparecem em 2,3 minutos depois do início dos testes.
Nestas condições você deve determinar o campo magnético na
região entre as faces do condutor. No momento em que os arcos
começam a aparecer como você realizaria esta tarefa?
Resolução da situação-problema
Inicialmente precisamos definir uma equação que descreva
o comportamento do campo magnético no espaço entre os
condutores. Neste sentido, considerando que a corrente aumenta
a uma taxa de 10 A/s, podemos descrever a seguinte equação
temporal que define a corrente elétrica aplicada:
I (t ) = 10t .
A quantidade de carga acumulada nas faces do condutor no
ponto da separação, à medida que o tempo passa, é dada por:
10 2 .
q = ∫ I (t )dt =∫ kt ⋅ dt = t = 5t 2
2
Assim, podemos inicialmente utilizar a lei de Gauss para
determinar a expressão do campo elétrico:
  q 5 2 5 2
∫ E ⋅ dA = ε0 → E πr = ε0 t → E (t ) = ε0πr 2 t .
2

Aplicando a Lei de Ampère-Maxwell na forma integral, obtemos


a expressão do campo magnético entre as faces. Devemos ter
atenção que este campo magnético é variável com o tempo e
com a distância radial do centro do condutor ®:
  πR 2dE 5 d 2 5
∫ B ⋅ d  = µ ε 0 0
dt
→ B × 2πR = µ0 ε0 πR 2
ε0 πr 2 dt
t → B = µ0R 2 t .
πr
Sendo o campo magnético no momento do arco, teremos o
tempo de t  2, 3  60 s  138 s , logo:
5 5 .
B = 4 ×10−7 R 2
138 = 4 ×10−3 R 138 = 9, 76R ×10−2 [T ]
p0, 03 p9

156 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Ou seja, o campo magnético irá variar conforme o raio da seção
circular do condutor, de acordo com a equação acima. Aplicando
estes cálculos você cumpriu a sua tarefa com êxito.

Faça valer a pena


1. Entre os anos de 1861 e 1862, o matemático escocês James Clerk
Maxwell publicou um artigo com o título On the Physical lines of Force
(Acerca das linhas de força físicas), no qual as equações fundamentais do
eletromagnetismo estão presentes em outras representações matemáticas,
assim como também a forma matemática da força de Lorentz.
Considere as afirmativas a seguir sobre as equações de Maxwell:
I. A Lei de Ampère-Maxwell difere da lei original de Ampère pela inclusão
de um termo referente à corrente de deslocamento, que não havia sido
considerado na equação original.
PORQUE
II. Se for calculado o divergente do rotacional presente na Lei de
Ampère original, será encontrada uma relação que viola o princípio de
conservação de cargas.
a) I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa da I.
b) I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I.
c) I é uma proposição verdadeira, mas a II é uma proposição falsa.
d) II é uma proposição falsa, mas a I é uma proposição verdadeira.
e) I e II são falsas.

2. Seja um capacitor de placas planas paralelas, cuja capacitância é igual a


1 micro-Farad. Deseja-se obter uma corrente de deslocamento de 1 A no
espaço entre as placas. Para isso se faz necessário variar a tensão aplicada
nos terminais do capacitor.
A taxa de variação de tensão requerida neste caso será:
a) 105 V/s.
b) 106 V/s.
c) 107 V/s.
d) 108 V/s.
e) 109 V/s.

3. Seja um capacitor de placas circulares na qual o dielétrico considerado


é o espaço livre. A área das placas do capacitor é de 0,4 m2. O capacitor foi
conectado a uma fonte de corrente alternada senoidal e foi verificado que a
máxima corrente de deslocamento é de 8,85 x 10-5 A.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 157


Nestas condições o campo magnético máximo no interior do capacitor,
entre as placas, a uma distância de 0,2 m do centro da placa será de:
a) 8,85π × 10 −4 .
b) 8,85π × 10 −6 .
c) 8,85π × 10 −8 .
d) 8, 85π × 10 −10 .
e) 8, 85π × 10 −12 .

158 U3 - Indutância e as equações de Maxwell


Referências
REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da Física. ed. 10. Rio de
Janeiro: LTC, 2016, v. 3.
HAYT, JR.; WILLIAM, H. Eletromagnetismo. ed. 8. Porto Alegre: AMGH, 2014.
WENTWORTH, S. M. Eletromagnetismo aplicado: abordagem antecipada das linhas
de transmissão, Porto Alegre: Bookman, 2008.

U3 - Indutância e as equações de Maxwell 159


Unidade 4

Ondas eletromagnéticas

Convite ao estudo
Nas unidades anteriores, aprofundamos nossos
conhecimentos de eletrostática, eletrodinâmica e das relações
entre eletricidade e magnetismo, o que resultou nas equações
de Maxwell. Na presente unidade, aplicaremos nossos
conhecimentos estudando ondas eletromagnéticas.

Você sabia que no nosso dia a dia estamos imersos em


ondas eletromagnéticas? O exemplo mais evidente é o Sol,
pois o calor e a luz que são importantes para os seres vivos
da Terra chegam na forma de ondas eletromagnéticas. Além
disso, recebemos também do espaço a radiação de ondas
eletromagnéticas provenientes de outros objetos e estrelas
que se encontram a grandes distâncias de nós. Aqui na Terra,
alguns exemplos mais evidentes de radiação eletromagnética
são as provenientes das estações de rádio e de TV e os
sinais de telecomunicações (micro-ondas), mas também
encontramos essas ondas na luminosidade de lâmpadas, nos
corpos aquecidos, etc.

O conhecimento dos fundamentos das ondas


eletromagnéticas é essencial para o seu desenvolvimento
profissional, e muito importante para o mercado de trabalho
na área de tecnologia. Dessa forma, ao final desta unidade
você estará apto a fazer a análise das ondas eletromagnéticas,
da energia transportada e de sua propagação em meios livres
e dispersivos bem como da sua reflexão, difração, transmissão
e refração.

Para motivar o estudo desta unidade, vamos imaginar uma


agencia espacial que possui um departamento de engenharia
de comunicações que está envolvida em um grande projeto.
Esse projeto consiste em enviar a Marte uma sonda para
comunicação e processamento de dados, de forma que auxilie
na pesquisa a respeito do planeta. Além desse equipamento, será
colocado em orbita um satélite geossíncrono, que possibilitará
uma interface da agência espacial na terra com o equipamento
de comunicação localizado em Marte. Um projeto como
esse exige a colaboração entre diversos departamentos da
agência, assim como entre todos os membros da equipe de
projeto. Imagine que você passou por um processo seletivo
para trabalhar como integrante desse projeto. Com base nisso,
você irá conduzir uma série de tarefas para o sucesso desse
projeto, tais como: realizar a escolha do material para uma
antena do satélite, depois, realizar alguns estudos referentes
à transmissão de potência em uma onda plana uniforme e
finalmente irá projetar um filtro para a recepção do sinal na
sonda que será enviada ao planeta Marte.

Como seria possível obter uma equação de onda


eletromagnética a partir dos conhecimentos que foram
adquiridos até aqui? E como extrair informações importantes
referentes às ondas eletromagnéticas para compreender a
propagação destas?

Para responder à essas e à muitas outras questões, na Seção


4.1 iremos compreender como partir das equações de Maxwell
para determinar uma equação de onda e, a partir dela e das
características do meio no qual a onda se propaga, determinar
a velocidade da luz no vácuo e compreender como as ondas
planas uniformes se propagam. Na Seção 4.2, estudaremos
mais a fundo a propagação das ondas eletromagnéticas e
também aspectos como a transferência de potência da onda
e a polarização. Na Seção 4.3, estudaremos os aspectos
relativos à propagação e reflexão de ondas em meios, tais
como o espaço livre, meios condutores e dielétricos com e
sem perdas.

Dedique-se! Bons estudos.


Seção 4.1
Equações de Maxwell e as ondas eletromagnéticas
Diálogo aberto
Caro aluno, estamos chegando na última unidade do curso
de Eletromagnetismo, e na primeira seção, iremos estudar as
ondas eletromagnéticas a partir das equações de Maxwell. Ondas
eletromagnéticas estão presentes a todo momento no seu dia a dia.
A luz elétrica é um exemplo mais recorrente da existência de ondas
eletromagnéticas em nosso meio, mas elas também estão presentes
quando pensamos no funcionamento das telecomunicações. Seja
em aparelhos celulares, TVs, rádios ou comunicações por satélite, o
funcionamento das tecnologias modernas não seria possível sem a
existência das ondas eletromagnéticas. Por isso, o entendimento do
conteúdo desta seção é essencial para o domínio das tecnologias atuais.
Para motivar os estudos desta seção, vamos imaginar que
você está trabalhando no projeto da agência espacial, a qual
está se preparando para o envio de satélite geoestacionário.
Na primeira etapa desse projeto, será realizado o estudo de um
material que será utilizado na fabricação da antena desse satélite.
Como esse projeto exige um grande grau de colaboração entre
seus participantes, foi necessário conseguir uma lista de materiais
possíveis para a construção dessa antena, e isso pode ser obtido
com o departamento de materiais da agência. Existem dois materiais
que deverão ser testados, conforme a Quadro 4.1:

Quadro 4.1 – Dados dos materiais para a construção da antena

Condutividade Permeabilidade Permissividade


( σ ) [S/m] relativa ( µr ) relativa ( ε r )

Material 1 0,100 1,00 9,00


Material 2 0,050 5,00 7,00

Fonte: elaborado pelo autor.

U4 - Ondas eletromagnéticas 163


Para fazer isso, você pode calcular as constantes de propagação, de
atenuação, de fase e a impedância intrínseca dos materiais para uma
onda de 10GHz. Deve-se escolher o material com menor constante
de atenuação para a fabricação da antena. Nesse caso, qual dos dois
materiais seria o apropriado?
No decorrer desta seção encontraremos os conceitos teóricos
necessários para o cumprimento dessa tarefa. Sendo assim, eu convido
você para uma leitura atenta e realização das atividades propostas de
forma a assimilar o conhecimento apropriadamente.

Não pode faltar


Na última unidade, estudamos as indutâncias e as equações de
Maxwell, que serão importantes para o que estudaremos nesta unidade.
Isso por que a correção da equação de continuidade feita por Maxwell
teve um papel muito relevante por demonstrar que os campos elétrico
e magnético podem se propagar em meios como o vácuo, em que
 existe uma corrente elétrica de condução e, consequentemente,
não
J = 0 . Essa propagação se dá na forma das ondas eletromagnéticas,
objeto de estudo desta unidade.
Para iniciar, vamos fazer uma analogia com o caso de uma onda
mecânica se propagando na água, como quando jogamos uma pedra
em um rio. Quando a pedra atinge a superfície da água, será possível
notar que as ondas se deslocam concentricamente ao ponto onde a
pedra atingiu o rio, sendo esse ponto a fonte da onda mecânica. Da
mesma forma, se em algum ponto do espaço existe uma fonte de
campo elétrico variante no tempo, um campo magnético é induzido
ao redor desse ponto.
Uma vez que o campo magnético induzido também será variante no
tempo, conforme vimos pela Lei de Faraday,  ocorrerá
 a indução de um
campo elétrico. A troca de energia entre E e B ocorre enquanto a onda
se afasta da fonte com a velocidade da luz. Nas proximidades da fonte,
essas ondas irradiam em formato esférico (todas as direções), mas em
uma região distante da fonte, a irradiação será observada em um formato
plano, conforme mostra a Figura 4.1. Assim, nós visualizaremos uma
onda praticamente
  plana e uniforme, na qual os planos referentes aos
campos E e B são ortogonais com relação à direção da propagação.
Assim, podemos tratar as ondas eletromagnéticas nessas regiões em
um eixo de coordenadas cartesianas, o que será mais simples do que
em coordenadas esféricas.

164 U4 - Ondas eletromagnéticas


Figura 4.1 | Propagação da onda desde a fonte até um certo ponto do espaço

Fonte: Wentworth (2006).

Nesta seção, iniciaremos por definir uma equação de onda a partir


das equações de Maxwell. Conforme já falamos, as equações de Maxwell
são muito importantes na correção da equação de conservação das
cargas, mas, além disso, existe uma outra consequência importante que
resulta da formulação das equações de Maxwell na forma diferencial.
Essa formulação, através da utilização das propriedades do operador 
∇ , nos permite escrever equações que desacoplam os campos E
e B . Você se lembra que nas equações de Maxwell na forma diferencial
as componentes dos campos sempre aparecem juntas em uma
mesma equação? Isso quer dizer que uma componente de um campo
relaciona uma componente de outro campo e vice-versa, ou seja, estão
acoplados. Vamos relembrar as equações de Maxwell na forma pontual.

Lembre-se
As Equações de Maxwell na forma diferencial podem ser resumidas
nas seguintes equações:
 
(1)   E  (Lei de Gauss da eletrostática)
0

(2)   B  0 (Lei de Gauss do magnetismo)


(3)   E   dB (Lei de Faraday)
dt 
 
(4)   B  0 J  0 0 dE (Lei de Ampère-Maxwell)
dt

U4 - Ondas eletromagnéticas 165


Embora as equações de Maxwell estejam escritas para o espaço
livre, podemos considerar um meio simples (lineares, isotrópicos,
homogêneos e invariantes no tempo) livre de cargas, ou seja, no qual
a densidade de carga seja igual à zero. Isso permite que as equações
de Maxwell sejam reescritas considerando-se a permeabilidade
e permissividade do meio e substituindo-se o vetor densidade  de
corrente elétrica pela sua relação da Lei de Ohm pontual ( J   E ).
Assim, teremos as seguintes equações:

(1)   E  0 (Lei de Gauss da eletrostática)

(2)   B  0 (Lei
 de Gauss do magnetismo)
 dB
(3) E   (Lei de Faraday)
dt 
  dE
(4)   B   E   (Lei de Ampère-Maxwell)
dt
Vamos utilizar essas equações de forma a obter uma equação
geral de onda. Iremos iniciar por calcular o rotacional em ambos os
lados da equação da Lei de Faraday, ou seja, faremos:

  dB 
 
    E      
 dt 

Como do lado direito temos uma derivada espacial, agindo


sobre uma derivada temporal em um material homogêneo,
iremos reescrever:

 d 

 E  
dt
B   
.
Substituindo o rotacional do campo magnético pelo indicado na
Lei de Ampère-Maxwell, teremos:

  
 d   dE  dE d 2E
 dt 

    E     E      
dt  dt
  2
dt

Para chegar na equação de onda que queremos, precisaremos


manipular o lado esquerdo da equação. Isso será possível aplicando
a identidade
 vetorial do rotacional do rotacional de qualquer campo
vetorial A .

166 U4 - Ondas eletromagnéticas


Lembre-se
O rotacional do rotacional de qualquer campo vetorial
A será dado pelo divergente do campo vetorial menos
o seu Laplaciano:
  
 
    A    A  2 A
no qual o operador
 Laplaciano
 será iguala o divergente do gradiente,
 
ou seja:  2 A    A .

Aplicando a propriedade, teremos a equação como segue:


 
 2
 dE d 2E
  E   E      2
dt dt
E como o meio que estamos considerando é livre de cargas,
então o divergente do campo elétrico é igual a zero, obteremos a
equação geral da onda chamada também de equação de onda de
Helmholtz. De forma análoga, pode-se obter uma equação de onda
do campo magnético.

Faça você mesmo


Encontre uma equação de onda para o campo magnético a partir das
equações de Maxwell.

Assimile
A equação de Helmholtz é utilizada no estudo de fenômenos físicos
que envolvem equações diferenciais parciais. Essa equação é utilizada
para descrever os fenômenos físicos que são dependentes do tempo.
A equação geral da onda é dada por essa equação para o campo
elétrico e o campo magnético, conforme a seguir:
 
 2 dE d 2E
 E     2
dt dt ,
 
2
 dB d 2B
 B     2
dt dt .

U4 - Ondas eletromagnéticas 167


Ao solucionar essas equações diferenciais, obtém-se a equação
temporal dos campos que se propagam em uma onda plana uniforme.

Vamos agora aprofundar a análise das equações de Helmholtz


para campos harmônicos no tempo.
 Neste sentido, podemos utilizar

a derivada temporal do campo E como o número complexo j ω E ,
assim teremos:
   
 2E  j  E   ( j  )2 E  j  (  j  )E
O termo que multiplica o campo elétrico do lado direito da
equação é a constante de propagação da onda ( γ ). Entretanto, a
raiz quadrada de um número complexo é complexa de forma que
a constante de propagação γ pode ser escrita como um número
complexo onde a parte real corresponde à constante de atenuação
( α ), dada em Neper por metro, e a parte imaginária corresponde à
constante de fase ( β ), dada em radianos por metro. Então, temos

  j  (  j  )    j 

Reflita
Como seria a relação entre as constantes de propagação, atenuação
e fase para um meio de propagação correspondente ao vácuo, onde
 0?

Utilizando o operador nabla a equação da onda obtida


corresponde à equação de Helmholtz para campos elétricos
harmônicos no tempo, conforme segue:
 
 2E   2E .
Analogamente, pode-se escrever uma equação para campos
magnéticos harmônicos no tempo, conforme segue:
 
 2B   2B .
Seria interessante obter uma solução geral para uma onda plana
uniforme, digamos, que o campo elétrico esteja polarizado em um
eixo x e variando em um eixo z de um plano cartesiano. Assim,
podemos escrever o campo elétrico dessa onda como sendo:
^
E(z) = Ex(z)x.

168 U4 - Ondas eletromagnéticas


Considerando que para uma onda uniforme plana o campo não
varia na direção transversa, então o campo elétrico sendo somente
função de z permite escrever o laplaciano do vetor campo elétrico
como uma derivada segunda direta, logo:
d 2E x ( z )
  2E x ( z )  0
dz
o que corresponde a uma equação diferencial linear homogênea
de segunda ordem, cuja solução possível é dada na forma:
E x ( z )  Ae  z

Na equação da solução K e λ são constantes arbitrárias. A


equação característica da equação diferencial nos mostrará que:
(   )(   )  0
Isso significa que temos uma solução para    e uma solução
para    . Considerando a para    , teremos a solução
na forma:
E x ( z )  Ae  z  Ae (  j  )z  Ae  z cos(t   z )
Nesse caso, A corresponde à amplitude máxima do campo
elétrico para quando z está no sentido positivo, para z = 0, o que
+
substituímos por E0 , então escrevemos:

E x ( z )  E0 e  z cos(t   z )
De forma análoga, escolhendo    , obteríamos a equação
onde E0− é a amplitude em z=0 para propagação no sentido
negativo de z.

E x ( z )  E0 e z cos(t   z )

A solução geral instantânea será dada então por:

E x ( z, t )  E0 e  z cos(t   z )  E0 e z cos(t   z )

Usando a Lei
 de Faraday, podemos obter o campo magnético,
sabendo que B   H :

 dB 
E     j  H
dt

U4 - Ondas eletromagnéticas 169


Faça você mesmo
Utilizando a Lei de Faraday, obtenha a equação para o campo
magnético H(z,t).

Comparando as equações dos campos elétrico e magnético,


poderíamos encontrar uma relação entre eles. A essa relação daremos
o nome de impedância intrínseca ( ) do meio, cuja unidade de medida é
a mesma da resistência elétrica, ou seja, Ohms.

E 0- = ___
E +0 = - ___
√______
η = ___ jωµ = jωµ
H0 +
H0- γ σ + jωµ

Faça você mesmo


Qual seria a impedância intrínseca para o vácuo?

Exemplificando
Seja um material com condutividade igual a 0,100 S/m, permeabilidade
relativa igual a 1,00, e permissividade relativa igual a 9,00. Se uma onda
se propaga nesse meio com f = 1,00 GHz, queremos encontrar as
constantes de propagação, atenuação, fase, e impedância intrínseca.

Resolução:

Inicialmente devemos saber calcular a velocidade angular da onda


9
que será dada por   2 f  2  10 rad /s .Com base nesse valor
encontrado, pode-se determinar as quantidades j  e j  .

   
j   j 2  109 (1) 4  107  j 7896

j   j  2  10  (9)  8, 85  10   j 0, 5
9 12

Com esses valores fica mais facil o cálculo da constante de propagação


da onda, que é dada pela seguinte fórmula:

  j  (  j  )    j 
Observamos que calculando a constante de propagação obteremos
também a constante de atenuação e constante de fase da onda.

170 U4 - Ondas eletromagnéticas


Logo, fazemos:

  , m 1
j 7896(0,1  j 0, 5)  6, 25  j 631
De onde obtem-se as constantes de atenuação e de fase:

  6, 25 Np/m

  631
, rad /m
Agora, para encontrar a impedância intrínseca utilizamos a equação:

j  j 7896
   124e j 12,3 
  j  0,1  j 0, 5

Vamos considerar um caso específico das ondas eletromagnéticas


no vácuo, em que σ = 0. Nesse caso, a equação de Helmholtz para
o campo elétrico ficaria simplesmente conforme mostrado na
equação a seguir:


2 d 2E
 E  0  0 2
dt
Analogamente ao que foi visto anteriormente, quando
consideramos uma onda uniforme plana em que o campo não
varia na direção transversa, então o campo elétrico sendo somente
função de z permite escrever o laplaciano do vetor campo elétrico
como uma derivada de segunda ordem:
 
d 2E x d 2E x
 0  0
dz 2 dt 2
A equação obtida caracteriza uma onda no vácuo que tem a
equação característica:
E x ( z, t )  E0sen(kz  t )
Nessa equação, o coeficiente k corresponde ao número de
onda, que se relaciona com o comprimento de onda na forma:
k
2 e ω é a frequência angular da onda. Entretanto, note que:


2 
  2 f   k
 T

U4 - Ondas eletromagnéticas 171


onde ν é a velocidade de propagação da onda.
Derivando a função correspondente ao campo elétrico dessa
onda com relação às variáveis z e t, poderemos obter as derivadas
parciais de segunda ordem presentes na equação diferencial que
descreve a onda no vácuo. Assim temos:

d 2E x
2
 E0 k 2sen(kz  t )
dz
e ainda:

d 2E x
  2E0 sen(kz  t )  k 2 2E0 sen(kz  t )
dt 2
Comparando essas equações, obtermos a velocidade de
propagação das ondas magnéticas no vácuo, também denominada
de velocidade da luz no vácuo:

1 1
 0  0    c
2 0  0

Exemplificando

7 12
Sendo que 0  4  10 H /m e  0  8, 85  10 F /m ,
determine a velocidade de propagação da luz no vácuo.

Resolução:

A solução é uma aplicação direta da equação apresentada:

1 1
c  7 12
 3, 0  108 m/s
0  0 4  10  8, 85  10
Curiosidade: a velocidade de propagação do campo elétrico no vácuo
é representada pela letra c devido à inicial da palavra latina celer, que
significa “rápido”.

172 U4 - Ondas eletromagnéticas


Pesquise mais
Conforme vimos, as ondas eletromagnéticas são ondas transversais,
onde os campos elétrico e magnético se propagam com oscilação
perpendicular ao sentido de propagação. Assim, existe uma relação
entre os campos que estão em fase. A principal diferença entre as
ondas eletromagnéticas se refere ao comprimento de onda. Se a onda
tem apenas um comprimento de onda, esta é um feixe, mas se ela
apresenta diferentes comprimentos de onda, são pulsos. As diferentes
ondas, por exemplo as ondas de rádio, TV, etc., ocupam certo espaço
no espectro de frequências de ondas eletromagnéticas. Mais sobre
esse assunto pode ser pesquisado na seção 30-4 Radiação magnética,
do livro a seguir:

TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros: Eletricidade


e Magnetismo, Ótica, 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. V. 2.

Também é possível acessar diretamente no link a seguir, na sua


biblioteca virtual: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/978-85-216-2622-0/cfi/364!/4/[email protected]:31.7>. Acesso em: 9
dez. 2017.

Sem medo de errar


Com os conhecimentos que você adquiriu até agora, já será
possível cumprir uma das tarefas que foi delegada a você pelo seu
gestor. Nesta etapa, você deverá realizar um estudo minucioso dos
materiais que poderão ser utilizados na fabricação da antena do
satélite que permitirá a comunicação da sonda espacial em Marte
com a agência espacial na Terra. Dessa forma, existem dois materiais
que deverão ser testados, conforme indicado a seguir:
• Material 1: possui uma condutividade de 0,100 S/m, uma
permeabilidade relativa igual a 1 e uma permissividade relativa
igual a 9,0.
• Material 2: possui uma condutividade de 0,050 S/m, uma
permeabilidade relativa igual a 5,0 e uma permissividade
relativa igual a 7,0.
Você deve escolher o material utilizado para construção da antena
com base nos parâmetros da constante de propagação das ondas
para uma onda de 10GHz. Nesse caso, é possível que você utilize os

U4 - Ondas eletromagnéticas 173


conhecimentos obtidos quando obtemos a equação de Helmholtz
de uma onda eletromagnética. Com base nessa equação, foi possível
determinar fórmulas para o cálculo da constante de propagação da
onda, que nos dará também as constantes de atenuação e de fase.
Ainda, foi possível obter uma formula para calcular a impedância
intrínseca do meio de propagação.
Vamos iniciar por utilizar a frequência da onda para calcular a
velocidade angular de propagação, como a seguir:
  2 f  2  1010 rad /s
Com base neste valor encontrado, determina-se j  e j 
para o material 1:
   
j   j 2  1010 (1) 4  107  j 78960

j   j  2  10  (9)  8, 85  10   j 5
10 12

A constante de propagação da onda que é dada pela


seguinte fórmula:

  j  (  j  )    j 
  j 78960(0,1  j 5)  j 7896  394800  6, 28  j 628, 36 m 1
De onde obtem-se as constantes de atenuação e de fase:
  6, 28 Np/m
  628, 36 rad /m
Agora, para encontrar a impedância intrínseca, utilizamos
a equação:

j  j 78960
   125, 66e j 0,05 
  j  0, 01  j 5
Para o Material 2, fazemos:

  
j   j 2  1010 (5) 4  107  j 394784, 2 
  
j   j 2  1010 (7) 8, 85  1012  j 3, 89 
A constante de propagação da onda que é dada pela
seguinte fórmula:

174 U4 - Ondas eletromagnéticas


  j  (  j  )    j 
,

  j 394784, 2(0, 05  j 3, 39)  7, 96  j 1239, 26 m 1


De onde obtem-se as constantes de atenuação e de fase:
  7, 96 Np/m

  1239, 26 rad /m
Novamente encontraremos a impedância intrínseca, utilizamos a
equação com os valores obtidos para o material 2:

j  j 394784, 2
   318,56e j 0,36  .
  j  0, 05  j 3, 89

Assim, conforme os dados obtidos, o material 1 é o que apresenta


menor constante de atenuação, sendo esse o melhor candidato
para a escolha segundo os critérios determinados. Uma vez que
esses cálculos forem apresentados em seu relatório, sua tarefa
estará concluída com êxito.

Avançando na prática

Obtenção das equações de campo para


uma onda eletromagnética

Descrição da situação-problema
Imagine que você foi contratado por uma empresa de
telecomunicações que está estudando o comportamento de uma
onda eletromagnética. Nesse estudo, é definido um eixo cartesiano
e a onda se propaga no vácuo na direção negativa do eixo y. O
campo magnético H tem uma constante de fase 30 rad/s e apresenta
1
uma intensidade máxima de A/m. O sentido no eixo y negativo

do campo é observado para o tempo inicial do experimento e para
a origem do plano cartesiano. Imagine que você faz parte da equipe
que está realizando esse estudo. Sua tarefa será utilizar os dados do
experimento que foi conduzido para obter uma equação para ambos

U4 - Ondas eletromagnéticas 175


os campos elétrico e magnético e, além disso, obter a frequência e
o comprimento de onda do sinal. Como você procederia para obter
essas informações da onda eletromagnética em estudo?

Resolução da situação-problema
Se o meio tivesse alguma condutividade, a impedância intrínseca,
que relaciona os campos elétrico e magnético, seria um número
complexo. No entanto, estamos lidando com o vácuo onde a
condutividade é nula e, dessa forma, a impedância intrínseca será
um número real puro, pois:

j  j  
   
  j  0  j  
Utilizando a função cosseno, podemos escrever a equação do
campo magnético H na direção negativa do eixo y, como indicado
a seguir:
1
H ( z, t ) =
− cos(ωt − β z )yˆ

No vácuo, a impedância intrínseca será:

0
  120 
0
.
Então podemos obter a equação do campo magnético
sabendo que:

E0 1
0   
 E0  0 H0  120   40
H0 3

Logo teremos:

E ( z, t ) 40 cos(ωt − β z )xˆ
=
Para obter os parâmetros ω e β , basta aplicar diretamente
as relações. Já se sabe que   30 rad /s e que esta é também o
número de onda da equação, então:

176 U4 - Ondas eletromagnéticas


2 2 
   m
 30 30
Podemos então obter a frequência:
c 3  108 45
f     108 Hz    2 f  90  108 rad /s
  / 30 
E as equações de H e B serão:

, t ) 40 cos(90 × 108 t − 30z )xˆ


E ( z=
1
H ( z, t ) =
− cos(90 × 108 t − 30z )yˆ

Assim, você pôde obter uma equação para os campos elétrico
e magnético, e também foi possível obter a frequência e o
comprimento de onda do sinal, finalizando sua tarefa com êxito.

Faça valer a pena


1. Considere as seguintes assertivas acerca da obtenção da equação de
onda por meio das equações de Maxwell:
I – A correção na equação da Lei de Ampère por meio da continuidade da
corrente feita por Maxwell permite comprovar que existe propagação de
campo elétrico e magnético no espaço livre.
PORQUE
II – Os campos elétricos e magnéticos se propagam em mesma direção e
sentido em uma onda plana uniforme.

Considerando as assertivas I e II, pode-se afirmar que:


a) as assertivas I e II estão corretas e a II é uma justificativa da I.
b) as assertivas I e II estão corretas e a I é uma justificativa da II.
c) apenas a assertiva I está correta.
d) apenas a assertiva II está correta.
e) nenhuma das assertivas está correta.

2. Em geral, uma onda eletromagnética plana e uniforme possui um


número de onda que é uma grandeza física inversamente proporcional ao
comprimento de onda. Considere uma emissora de rádio que transmite
com uma frequência de 100MHz.

U4 - Ondas eletromagnéticas 177


O valor aproximado do comprimento de onda será de:
a) 1 m.
b) 2 m.
c) 3 m.
d) 4 m.
e) 5 m.

3. No espaço livre se propaga um vetor de intensidade de campo elétrico


que é polarizado na direção do eixo y positivo, conforme mostra a função
vetor de campo elétrico a seguir:

( z, t ) 102 sen(2π × 107 t − 4z )yˆ


E=
Com base nessa equação, é possível utilizar as equações de Maxwell
para determinar o vetor H(z,t). Esse vetor terá uma magnitude máxima de
______ e será na direção do eixo ____.

Assinale a alternativa que completa corretamente a última frase do texto.


a) 6, 37  10 5 , x .
4
b) 6, 37  10 , y .
6
c) 6, 37  10 , z .
d) 6, 37  10 6 , x .
e) 6, 37  10 7 , y .

178 U4 - Ondas eletromagnéticas


Seção 4.2
Propagação de ondas eletromagnéticas
Diálogo aberto
Caro aluno, na última seção iniciamos o estudo das ondas
eletromagnéticas. Esse assunto é de extrema importância para
a área de tecnologia, principalmente nas aplicações da área de
Telecomunicações, como em sistemas de rádio e televisão, redes
de celulares, comunicações de satélite, internet. Já aprendemos
como obter uma equação de onda eletromagnética a partir das
equações de Maxwell e já analisamos a solução da equação de
onda em meios com perda e no espaço livre, que corresponde
a um meio sem perdas. Nessa ocasião, determinamos o valor da
velocidade da luz, que corresponde à velocidade de propagação
das ondas magnéticas.
Nesta seção, continuaremos a estudar a propagação das ondas
eletromagnéticas, tanto no espaço livre como em outros tipos de
meios. Dessa forma, para motivar os estudos desta seção, vamos
continuar imaginando a situação em que você faz parte de uma
equipe de projetos em uma agência espacial. Na sua última tarefa
você contribuiu para uma tomada de decisão a respeito do material
utilizado na fabricação de uma antena. Imagine que essa antena foi
projetada e agora será necessário que ela passe por alguns testes.
Assim, foram realizados alguns testes com a antena escolhida com
aparelhos de medição localizados na saída dela. Nesse teste, o
campo elétrico emitido tem a seguinte forma senoidal:

E(t) = 10cos(2p ×107 t) V/m


Quando esse sinal for recebido pela sonda espacial ao redor de
Marte, deve-se verificar o que ocorre com ele ao incidir sobre uma
placa de cobre que está montada sobre a sonda espacial. Dessa
forma, para a correta caracterização desse comportamento, sua
tarefa agora será obter a equação do campo elétrico incidente
na placa, a equação do campo magnético incidente e a potência
média da onda incidente. Ainda, você deve verificar o que ocorre
com essa onda quando ela atinge a superfície da placa de forma a

U4 - Ondas eletromagnéticas 179


apresentar um relatório detalhado com os resultados do seu estudo.
Como você realizaria essa tarefa?
Para que você consiga completar essa etapa do seu trabalho,
analisaremos, além da propagação da onda no espaço livre
e em outros meios, a transferência de potência de uma onda
eletromagnética a partir da aplicação do Teorema de Poynting.
Também estudaremos a polarização das ondas eletromagnéticas.
Você deve passar com muita atenção pelo estudo desses tópicos,
realizando as atividades propostas e elencando os conhecimentos
necessários para o desempenho da sua tarefa através das leituras
complementares recomendadas. Bons estudos!

Não pode faltar


Vamos continuar analisando a propagação das ondas
eletromagnéticas no espaço livre, de forma a obter os coeficientes
de propagação, atenuação e fase de um campo harmônico. Vamos
lembrar que o espaço livre é um meio sem perdas, livre de cargas, o
que significa dizer que a condutividade é nula ( s = 0 ). Sendo assim,
podemos calcular o coeficiente de propagação da forma:

γ= j ωµ(0 + j ωε ) = j 2 ω 2 µε = j ω µε = α + j β
Da equação apresentada, podemos obter informações
importantes a respeito das constantes de atenuação e fase. A
primeira delas é que a constante de atenuação é igual a zero
( a = 0 ). De fato, se estamos falando de um meio livre de perdas,
então em nenhum ponto desse meio irá ocorrer a atenuação da
onda, e era esperado então que a constante de atenuação refletisse
esse comportamento. A segunda informação é relacionada à
constante de fase que corresponde a β = ω µε . Lembrando ainda
que no espaço livre µ = µ 0 , e = e0 e c = ωk = 1
, onde k corresponde
µ0 ε0
ao número de onda, podemos concluir que o número de onda e a
constante de fase de uma onda são equivalentes.
Na seção anterior, concluímos que a velocidade da onda no
vácuo é a velocidade da luz c. Entretanto, se considerarmos um meio
dielétrico sem perdas, podemos também escrever a velocidade de
propagação da onda no meio dielétrico sem perdas, considerando

180 U4 - Ondas eletromagnéticas


a permissividade relativa desse meio ( er ), conforme segue:
c
ν=
εr
E da mesma forma que foi visto na seção anterior para o espaço
livre, a impedância intrínseca para o meio sem perdas será dada por:

j ωµ µ µr
η= = = η0
0 + j ωε ε εr

onde mr é a permeabilidade relativa do meio dielétrico sem perdas


h
e 0 é a impedância intrínseca do espaço livre, que calculamos na
seção anterior ( η0 = 120π Ω ).
Esses parâmetros são importantes para se determinar as equações
dos campos elétrico e magnético que se propagam ortogonalmente.
Além disso, é importante compreender que a ortogonalidade
significa que, se a direção de uma onda eletromagnética for definida
por um versor p̂ , então a relação entre os campos propagantes
será dada pelo produto vetorial com esse versor.

Assimile
 
A relação entre os campos E e H de uma onda eletromagnética
que se propaga na direção dada por um versor p̂ , é dada pelas
seguintes relações:
 
E = -h pˆ ´ H
 1 
H = pˆ ´ E
h

Dessa forma, se considerarmos, por exemplo, uma onda


eletromagnética polarizada no eixo x e se propagando na direção
do eixo z, no caso de um meio dielétrico sem perdas teremos as
seguintes equações para o campo elétrico e o campo magnético:

E ( z, t ) = (E0+ cos(wt - b z ) + E0- (wt + b z )) xˆ

æE+ E- ö
H ( z, t ) = ççç 0 cos(wt - b z ) + 0 (wt + b z )÷÷÷ yˆ
èç h h ø÷

U4 - Ondas eletromagnéticas 181


Reflita
Qual é a direção do campo elétrico de uma onda propagante na
direção do eixo x, em que o campo magnético está polarizado no
eixo z?

Exemplificando
Seja um campo elétrico de uma onda definido pela equação
E ( z, t ) = 5e-7 z cos(2p ´109 - 50z )xˆ . Sabendo que a onda se
j 8°
propaga em um material de impedância intrínseca igual à 125e Ω ,
determine a equação do campo magnético.

Resolução:

Para calcular a equação da onda do campo magnético, devemos aplicar:


 1 
H = zˆ ´ E
h
Assim, teremos que:
æ1 ö æ 1 ö
H ( z, t ) = çç zˆ ´ 5e-7 z e-50 z xˆ ÷÷÷ = çç zˆ ´ 5e-7 z e-50 z xˆ ÷÷÷
èç h ø÷ èç125e j 8 °
ø

æ 5 - j 8° -7 z -50 z ÷ö
H ( z, t ) = çç e e e ÷÷ yˆ = 0,04e e e
- j 8° -7 z -50 z
yˆ A/m
çè125 ø

Apesar de até aqui termos considerado um meio dielétrico


sem perdas, devido à condutividade finita ocorrerão perdas joule.
Isso por que o campo elétrico irá gerar corrente de condução no
material dielétrico ( J = sE ), de forma que as perdas joule causam
atenuação da onda. Além disso, podem também existir perdas de
polarização devido à energia que é precisa para que o campo gire
os dipolos relutantes, sendo essa perda proporcional à frequência.
A representação dessas perdas por polarização pode ser feita por
meio da adição de uma componente complexa à permissividade do
meio dielétrico, conforme segue:
e = e '+ j e ''
As componentes de e são a parte real da permissividade definida
por e ' = e0 er , a parte imaginária que corresponde às perdas de

182 U4 - Ondas eletromagnéticas


polarização ( je '' ). Assim, reescrevendo a Lei de Ampère na forma
pontual considerando essa permissividade, teremos:
  
∇× H = σE + j ω(ε '− j ε '')E
Rearranjando os termos
 da equação, teremos:
∇× H = [(σ + ωε '') + j ωε ']E
Podemos concluir que é possível definir uma condutividade
efetiva que pode ser dada por σef = σ + ωε '' . Substituindo essa
condutividade nas equações para determinação da constante de
propagação e da impedância intrínseca, teremos valores complexos,
resultando em uma constante de atenuação diferente de zero e
uma diferença de fase entre os campos E e H, sendo o contrário do
obtido para o meio dielétrico sem perdas.
Então, se o meio for considerado com perdas, a constante de
atenuação e a constante de fase podem ser bem definidas pelos
parâmetros de condutividade, permissividade e permeabilidade do
material, conforme as equações a seguir:
 
µε   σ 2 
α=ω  1 +   − 1
2   ωε  

 
µε   σ 2 
β=ω  1 + 
  + 1 
2   ωε  
Os materiais com perdas que possuem permissividade complexa
podem utilizar dessas mesmas equações, substituindo s por sef .

Pesquise mais
Em meios dielétricos com pequenas perdas, as equações da constante
de atenuação ( a ) e constante de fase ( b ) podem ser aproximadas por:

σ µ
α»
2 ε
β » ω µε

Nesses casos, resulta em uma baixa tangente de perdas (dada pela


relação σ ωε ). Os conceitos por trás dessa aproximação e a definição

U4 - Ondas eletromagnéticas 183


da tangente de perdas pode ser estudada na Seção 5.3 do livro:

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de


Janeiro: LTC, 2006.

Você pode encontrar esse livro na biblioteca virtual, podendo


ser acessada diretamente pelo link a seguir: <https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/books/978-85-216-2670-1/epubcfi/6/34[;vnd.
vst.idref=chapter5]!/4/266/4/2/2@0:0>. Acesso em: 17 dez. 2017.

Os meios condutores são meios materiais que possuem uma


tangente de perda muito maior do que um ( σ ωε >> 1 ) para uma
determinada frequência. Assumindo isso para o cálculo das
constantes de atenuação e constante de fase, podemos fazer a
seguinte aproximação:
 
  σ 2  ≈ σ
 1 + 
  ± 1 
  ωε   ωε

Com essa aproximação é possível obter uma expressão


aproximada para o cálculo das constantes a e b em meios
condutores, conforme segue:

µε σ ωµσ
α=β=ω = = πf µσ
2 ωε 2

Também a equação para a impedância intrínseca pode ser


aproximada, conforme segue:

j ωµ jµ
j ωµ ωε ε = j ωµ
η= = ≈
σ + j ωε σ σ σ
+ j1 .
ωε ωε

Como assumir uma tangente de perdas muito maior do que 1


significa que σ >> ωε , então pode-se escrever, considerando
1+ j :
j=
2

184 U4 - Ondas eletromagnéticas


ωµ ωµ j 45°
η= (1 + j ) = e
2σ 2σ

Faça você mesmo


Com algumas manipulações da equação obtida para cálculo da
impedância intrínseca em meios condutores, mostre que ela pode ser
escrita como:
α j 45°
η= 2 e
σ

As equações da impedância intrínseca para meios condutores


nos mostra que, para um bom condutor, o campo magnético
estará atrasado de 45° do campo elétrico. Ocorrerá ainda um
decrescimento da velocidade de propagação que pode ser
verificado utilizando-se constante de fase com alta tangente de
perdas no cálculo desta, conforme mostrado a seguir:

ω ω 2ω 2 2ω
ν= = = =
β ωµσ ωµσ µσ
2
Uma breve análise da grandeza dos parâmetros envolvidos na
σ
equação anterior para bons condutores, nos mostra que >ε.

O alto valor da condutividade resulta em uma atenuação
significante (alto a ) e redução da velocidade de propagação da
onda, conforme vimos. Além disso, o valor do comprimento de
onda também será menor quando comparado a um meio sem
perdas pois, partindo da equação do comprimento de onda, temos:

2π 2π 2π 2 π
λ= = = =2
β ωµσ 1 2πf µσ f µσ
2
Na Figura 4.2, uma onda que se propaga no espaço livre atinge a
superfície de um bom condutor. Nessa figura podemos perceber a
atenuação do sinal, além da diminuição do comprimento de onda.

U4 - Ondas eletromagnéticas 185


Figura 4.2 | Efeito da propagação de uma onda eletromagnética em um bom condutor

Fonte: Wentworth (2006).

Pesquise mais
É possível encontrar uma equação para a resistência elétrica em
condutores em altas frequências, quando a corrente é confinada na
superfície externa desse. Os conceitos por trás dessa dedução podem
ser estudados na Seção 5.4 do livro:

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de


Janeiro: LTC, 2006.

Você pode encontrar esse livro na biblioteca virtual, podendo


ser acessada diretamente pelo link a seguir: <https://integrada.
minhabiblioteca.com.br/books/978-85-216-2670-1/epubcfi/6/34[;vnd.
vst.idref=chapter5]!/4/372/4/2/2@0:0>. Acesso em: 17 dez. 2017.

Em 1884, um físico inglês chamado John H. Poynting estudou


as equações de Maxwell e obteve um teorema importante para
se encontrar uma equação para o fluxo de potência associado a
uma onda eletromagnética. Esse teorema ganhou o nome de seu
inventor, ou seja, é o Teorema de Poynting.
O desenvolvimento desse teorema parte da equação da Lei
Ampere-Maxwell que já nos foi apresentada, aplicando as identidades
vetoriais e matemáticas de forma a obter a seguinte expressão,
denominada Teorema de Poynting:

186 U4 - Ondas eletromagnéticas


     d ε 2 d µ 2
− ∫ (E × H ) ⋅ dS = ∫ J ⋅ EdV + dt ∫ 2E dV + dt ∫ 2
H dV
A V V V

À direita, tem-se, na ordem das integrais apresentadas, uma potência


ôhmica total instantânea dissipada no volume, a energia total
armazenada no campo elétrico e a energia total armazenada no
campo magnético. Pode-se observar que os resultados expressam
as taxas temporais, dado que temos derivadas em função do
tempo. Essas taxas temporais expressam um aumento da energia
armazenada. Conclui-se que, ao lado direito da equação, a soma
das componentes das integrais é a potência total fluindo no volume
considerado. Como consequência, a potência que flui para fora
desse volume, seguindo o princípio da conservação de energia, será
dada pela integral do lado esquerdo da equação, ou seja:
  
∫ (E × H ) ⋅ dS
A

Nessa integral, o produto vetorial apresentado é conhecido


como vetor de Poynting, que é definido como uma densidade de
potência medida em Watts por metro quadrado. Nota-se que a
direção do vetor de Poynting, dado pelo produto vetorial, indica a
direção do fluxo de potência instantâneo em determinado ponto, e
é perpendicular à direção de ambos os vetores de campo elétrico e
magnético, ou seja, aponta para a direção de propagação da onda
plana uniforme.
Com algumas deduções de cálculos, pode-se verificar que a potência
média temporal da onda plana uniforme é definida pela equação a
seguir, em que  significa a parte real do produto vetorial.
1   
Pmed = ℜ E × H *
2  
Perceba que, até aqui, estamos tratando as ondas que são linearmente
polarizadas em algum dos eixos do plano cartesiano. Como exemplo, a
Figura 4.3 (a) apresenta um gráfico de uma onda polarizada no eixo x, e,
conforme pode ser verificado, a intensidade do campo elétrico no eixo
x varia conforme o tempo. A Figura 4.3 (b) mostra o vetor do campo em
cada um dos instantes marcados na Figura 4.3 (a), em que se verifica
que a direção do vetor é fixa no eixo x.

U4 - Ondas eletromagnéticas 187


Figura 4.3 | Onda polarizada linearmente no eixo x: (a) comportamento da intensidade
do vetor campo elétrico no tempo; (b) direção do vetor campo elétrico nos instantes a,
b, c e d

Fonte: Wentworth (2006).

Se considerarmos duas ondas polarizadas, cada uma em um


eixo diferente, por exemplo nos eixos x e y, podemos escrever a
superposição dos campos como indicado a seguir:
E ( z, t ) = E x 0 cos(wt - b z + fx )xˆ + E y 0 cos(wt - b z + fy )yˆ

Com base nessa equação, pode-se verificar que, para z = 0 e


considerando as ondas em fase ( fx − fy = 0 ) ou fora de fase de 180
graus( fx − fy = ±180° ), então a intensidade de E irá variar sobre a
reta mostrada na Figura 4.4 (a), sendo esta também uma polarização
linear, onde o ângulo de inclinação t é definido pelas intensidades
máximas dos campos E x0 e E y 0. Contudo, para uma diferença de
fase, quando fixamos fx = 0 e atribuímos outros valores para fy , a
polarização será de outra forma. Como exemplo, temos uma onda
elipticamente polarizada quando fy = 45° , assim como mostrado
na Figura 4.4 (b).

188 U4 - Ondas eletromagnéticas


Figura 4.4 | Duas ondas polarizadas linearmente (a) e elipticamente (b)

Fonte: Wentworth (2006).

Exemplificando

Qual a polarização de duas ondas quando Ex 0 = Ey 0


e f − f = ±90° ?
x y

Resolução:

Nesse caso, teremos uma polarização circular, e essa polarização será


caracterizada pelo gráfico a seguir:
Figura 4.5 | Polarização circular

Fonte: WENTWORTH (2006).

Pesquise mais
O sentido de rotação da polarização de uma onda é descrito como
sendo no sentido da mão direita (RHCP) ou no sentido da mão
esquerda (LHCP). Como determinar esse sentido está detalhado na
Seção 5.6 do livro:

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de


Janeiro: LTC, 2006.

U4 - Ondas eletromagnéticas 189


Sem medo de errar

Vamos continuar imaginando a situação em que você faz


parte de uma equipe de projetos em uma agência espacial. Com
os conhecimentos adquiridos nesta seção, você está apto a
desempenhar as tarefas que lhe foram delegadas nessa agência.
Você precisa realizar alguns testes com a antena que foi projetada,
sendo que com aparelhos de medição localizados na saída da
antena foi identificado que o campo elétrico emitido tem a seguinte
forma senoidal:

E (t ) = 10 cos( 2p ×107 t )V /m

Quando esse sinal for recebido pela sonda espacial na órbita de


Marte, deve-se verificar o que ocorre com o sinal ao incidir sobre
uma placa de cobre que está montada sobre a sonda espacial.
Dessa forma, para a correta caracterização desse comportamento,
sua tarefa agora será obter a equação do campo elétrico incidente
na placa, a equação do campo magnético incidente e a potência
média da onda incidente.
Primeiramente, devemos perceber que a equação temporal do
campo elétrico apresentado corresponde à onda medida na antena.
Essa onda é a onda que irá se propagar no espaço livre até chegar
na sonda espacial localizada em Marte. Podemos considerar então
que, ao incidir sobre a superfície da placa de cobre, a onda sofrerá
uma atenuação. A equação temporal para um campo elétrico que
atinge um meio condutor pode ser escrita da seguinte forma:

E ( z, t ) = E0e-at cos(wt - b z + f )xˆ

Se considerarmos t = 0 como o momento que a onda incide


na placa e z = 0 como o plano da placa (considerando incidência
normal à placa), então a equação apresentada se reduz a:

E (0,0) = E0 cos(wt + f )xˆ

Essa equação corresponde à equação apresentada, com


E0 = 10 , ω = 2π ×107 , e f = 0 . A equação temporal da onda

190 U4 - Ondas eletromagnéticas


incidente na placa será:

E (0, t ) = 10e-at cos(2p ´107 t )xˆ

Consequentemente, a onda propagada no cobre será:

E ( z, t ) = 10e-at cos(2p ´107 t - b z )xˆ

Como o cobre é um bom condutor, podemos obter a constante


de atenuação e a constante de fase para definir completamente
7
a expressão do campo elétrico, uma vez que de ω = 2π ×10
7
sabemos que a frequência da onda é 10 Hz e, assim, para o cobre
teremos os coeficientes:

α = β = πf µσ = π ×107 × 4π ×10−7 × 5, 8 ×107 = 47, 8 ×103

E então podemos escrever:

3 3 3
E ( z, t ) = 10e-47,8´10 t cos(2p ´107 t - 47,8 ´103 z )xˆ = 10e-47,8´10 t e-47,8´10 z xˆ
Para o campo magnético, basta aplicar a equação dos
campos propagantes:
 1  10 -47,8´103 t
H = zˆ ´ E ® H ( z, t ) = e cos(2p ´107 t - 47,8 ´103 z )yˆ
h h
A impedância intrínseca do cobre pode ser calculada como:
ωµ j 45°
η= e , ×10−3 e j 45°Ω
= 117
σ
E assim temos definida a equação do campo magnético:
3
H ( z, t ) = 8,54 ´10-3 e-47,8´10 t e- j 45° cos(2p ´107 t - 47,8 ´103 z )yˆ [ A / m ]
3 3
H ( z, t ) = 8,54 ´10-3 e-47,8´10 z e-47,8´10 t e- j 45° yˆ [ A / m]
Para o campo incidente teremos:
3
H (0, t ) = 8,54 ´10-3 e-47,8´10 t e- j 45° yˆ [ A / m]
A potência média pode ser calculada conforme a equação a seguir:
1   
Pmed = ℜ E × H *
2  

U4 - Ondas eletromagnéticas 191


Utilizando os valores literais para as equações, podemos deduzir
a expressão para a potência média da onda plana:

1 é E jq ù E2
Pmed = Â êE0e-at e-b z e- j f xˆ ´ 0 e-at e b z e- j f e h yˆ ú = 0 e-2az cos(qh )zˆ
2 êë |h| ú 2|h |
û

Substituindo os valores, a potência média da onda será

102
Pmed -3
e-2´47,8 z cos(45°)zˆ = 30218e-96 z zˆ W / m 2
2 | 1,17 ´10 |

Ainda, você deve verificar o que ocorre com essa onda quando
ela atinge a superfície da placa de forma a apresentar um relatório
detalhado com os resultados do seu estudo. Na superfície da placa
de cobre, quando z = 0, a densidade de potência é 30218 W /m 2
. Mas, após uma certa profundidade de penetração da ordem de
micrometros, a densidade de potência da onda cai para abaixo
de 15% do seu valor na superfície. Sendo assim, o cobre atenua
significativamente essa onda.
Esses resultados devem ser detalhados no seu relatório, inclusive
mostrando os cálculos e as conclusões a que você chegou, de
forma a concluir o seu trabalho com êxito.

Avançando na prática
Propagação de ondas nas águas do mar

Descrição da situação-problema
A marinha brasileira está trabalhando em um projeto de
transmissão de informações para submarinos que estarão em missão
submersos. Essa transmissão de informação deve ser feita por meio
de ondas eletromagnéticas de frequências mais altas do que as
ELF (da ordem de 10Hz, utilizada na comunicação de submarinos).
Idealmente, na água, uma onda magnética se propagando sofre
poucas perdas. Na água do mar, entretanto, a presença de cloreto
de sódio estabelece uma característica condutiva à água, ou seja,
esta possui alguma condutividade. Como consequência, existirá
uma constante de atenuação diferente de zero.

192 U4 - Ondas eletromagnéticas


Você foi chamado pelo departamento da marinha para auxiliar
nesse projeto. Sua função será realizar alguns cálculos para
determinar a profundidade de penetração da onda, sendo essa
a profundidade na qual a onda sofre uma atenuação para 13,5%
do seu valor. Com base nesse valor, será recomendado que os
submarinos não posicionem suas antenas para recepção a uma
profundidade 50% maior do que a profundidade de penetração.
Considere que uma onda de 1kHz deverá ser propagada entre a
torre de comando e o submarino submerso. Como você faria para
determinar essa profundidade? Que conceitos aprendidos nesta
seção serão necessários?

Resolução da situação-problema
A profundidade de penetração para um meio condutor será
determinada pelo inverso da constante de atenuação, ou seja:

1 1 1
δ= = =
α β πf µε

Entretanto, primeiramente é necessário saber se é possível


considerar a água do mar como um bom condutor. Para isso,
devemos calcular a tangente de perdas para essa onda a ser
propagada. Como na água do mar a condutividade é igual a 4 S/m,
e permissividade relativa é igual a 81, calculamos:

σ σ 4
= = 3 −12
= 8, 9 ×105 >> 1
ωε ωεr ε0 2π ×10 × 81× 8, 85 ×10

Como a tangente de perdas é muito maior do que um, podemos


considerar um bom condutor. Logo, podemos calcular a
profundidade de penetração utilizando a equação apresentada,
substituindo os valores que estão considerados para a água do mar:

1
δ == = 7, 95m
π ×103 × 4π ×10−7 × 4

Assim, as antenas deverão ser posicionadas a uma profundidade


máxima de aproximadamente 4 metros para recepção do sinal.

U4 - Ondas eletromagnéticas 193


Entretanto, como você realizou esses estudos e já sabe como
obter a profundidade de penetração, é possível também que
você sugira em seu relatório diferentes profundidades para
diferentes frequências.

Faça valer a pena


1.
Considere um meio no qual uma onda eletromagnética de 1 MHz se
6
propaga e que apresenta os seguintes parâmetros: s = 10 S/m e
 r  1 . Sobre esse meio, são feitas as seguintes afirmativas:
I. A magnitude da impedância intrínseca pode ser calculada
pela expressão
ωµ

PORQUE
II. A tangente de perdas do material é um valor muito maior do que um.

Assinale a alternativa que relaciona corretamente as afirmativas.


a) A afirmativa I está errada e a II está correta.
b) A afirmativa I está correta e a II está errada.
c) Ambas as afirmativas estão corretas, sendo que a I justifica a II.
d) Ambas as afirmativas estão corretas, sendo que a II justifica a I.
e) As duas afirmativas estão erradas.

2. Considere uma onda eletromagnética, cujo campo elétrico se propaga


polarizado no eixo z, na direção do eixo y, de acordo com a seguinte expressão:

E (t ) = 5 cos(p ´108 t + 40000 y )zˆ


A onda se propaga em um meio dielétrico sem perdas, com permissividade
relativa igual a 5.

A direção de propagação e o valor máximo do campo magnético H, será:


−3
a) eixo x, 1, 73 ×10 A/m
−3
b) eixo y, 1, 73 ×10 A/m
−3
c) eixo z, 1, 73 ×10 A/m
d) eixo x, 1, 73 A/m
e) eixo y, 1, 73 A/m

194 U4 - Ondas eletromagnéticas


3. As ondas planas normalmente se propagam com uma polarização linear,
em que os campos elétricos e magnéticos se propagam na direção de um
eixo, sendo os campos perpendiculares entre si. Considere duas ondas
polarizadas linearmente nos eixos x e y, conforme mostrado a seguir:

E ( z, t ) = 4 cos(2p ´106 t )xˆ + 3 cos(2p ´106 t )yˆ

Com base na polarização das ondas, assinale a alternativa correta.


a) As ondas têm polarização linear, com ângulo de inclinação igual a 45
graus.
b) As ondas têm polarização elíptica e a frequência da onda é igual a 1 GHz.
c) As ondas têm polarização circular, com raio igual a 5.
d) As ondas têm polarização linear, com ângulo de inclinação igual
a 36,86 graus.
e) As ondas têm polarização elíptica e o sentido de rotação é RHCP.

U4 - Ondas eletromagnéticas 195


196 U4 - Ondas eletromagnéticas
Seção 4.3
Reflexão e dispersão de ondas eletromagnéticas
Diálogo aberto
Caro aluno, esta é a última seção desta última unidade sobre as
ondas eletromagnéticas. Já estamos cientes de que nas aplicações
da área de comunicações esse assunto é de extrema importância.
Já aprendemos como obter uma equação de onda eletromagnética
a partir das equações de Maxwell, analisamos a solução da equação
de onda em meios com perda e no espaço livre, determinamos
a velocidade da luz e estudamos a propagação das ondas
eletromagnéticas no espaço livre e em outros meios.
Agora, iremos estudar os fenômenos de reflexão e dispersão
das ondas eletromagnéticas. Esses fenômenos ocorrem por que
as ondas eletromagnéticas não se propagam indefinidamente nos
meios, mas podem ser atenuadas e além disso terem parte de sua
onda refletida, e as características dessa reflexão dependerão de
como a onda incide na fronteira de separação dos meios, assim
como da quantidade de meios.
Vamos dar continuidade à situação em que você faz parte de
uma equipe de projetos em uma agência espacial. Você já tomou
uma decisão para escolher o material de fabricação de uma antena
e além disso auxiliou nos testes necessários para essa antena. Nesta,
que será a última etapa do projeto antes do envio dos equipamentos,
será necessário projetar um filtro que será responsável por
filtrar um espectro ótico de largura total medida no espaço livre
correspondente à 40 nm. Nesse espectro, o comprimento de onda
central estará em 1000 nm. Para esse projeto você possui placas
de vidro sem perdas no ar com índice de refração n = 1,45. Qual
tipo de filtro você utilizaria nesse projeto? Ainda, será importante
para esse projeto que você determine como ajustar as espessuras
do vidro para que ordens múltiplas do comprimento de onda não
sejam transmitidas. Você imagina como poderia fazer isso?
Para que você complete seu trabalho com excelência, nesta
seção iniciaremos por analisar a reflexão de ondas quando a

U4 - Ondas eletromagnéticas 197


incidência é normal e, em seguida, analisaremos a incidência
oblíqua. Além disso, estudaremos a reflexão das ondas em múltiplos
meios, situação na qual será viabilizada a aplicação de um material
para construção de um filtro.
Sugerimos muita atenção e dedicação aos tópicos de estudo
nesta seção, que você realize as atividades propostas e elenque
os conhecimentos necessários para o desempenho da sua tarefa.

Bons estudos!

Não pode faltar


As ondas eletromagnéticas não se propagam indefinidamente
devido aos muitos obstáculos pelo caminho que percorrem e
esses obstáculos interferem na propagação, podendo não só
atenuar como também refletir essas ondas. Os parâmetros dos
meios definem se ocorrerá uma propagação sem perdas ou se
a propagação ocorrerá com perdas devido à atenuação até uma
pequena profundidade, definida como profundidade pelicular.

Reflita
Como base no que estudamos na seção anterior, como a constante de
atenuação interfere na profundidade pelicular?

Além da atenuação, a incidência de ondas planas em diferentes


meios irá causar o efeito da reflexão. Isso é o que ocorre quando
observamos a nossa imagem em um espelho, por exemplo. A onda
de luz incide no espelho e quase que sua totalidade é refletida para
nossos olhos. Uma pequena parte da luz apenas passa pelo espelho
e é rapidamente atenuada.
A forma como as ondas incidem em um tipo diferente de meio
define como será a reflexão. Nós iniciaremos com o estudo da
incidência normal, ou seja, quando a direção de propagação da onda
incide perpendicularmente na superfície do meio. Estudaremos a
reflexão de ondas em interfaces múltiplas e também estudaremos
a situação quando a incidência ocorre obliquamente na superfície
de separação entre os meios. Vamos tomar como exemplo um

198 U4 - Ondas eletromagnéticas


caso geral de uma onda plana uniforme com o campo elétrico
harmônico se propagando de acordo com a equação:

E i ( z, t ) = E0i e-az cos(wt - b1z )xˆ


Conforme pode ser observado, esse campo elétrico se
propaga na direção do eixo z polarizado no eixo x. Com base nas
informações que tivemos na última seção, podemos observar que
o meio indicado por 1, no qual essa onda se propaga, é um meio
com constante de atenuação igual a a1 e constante de fase igual a
b1 , conforme mostra a Figura 4.6. A intensidade do campo elétrico,
quando este incide sobre a superfície de separação com um meio
2 (z=0) é igual a E0i . Considerando essa situação, tem-se uma
incidência normal. Em notação de fasor, podemos representar os
campos incidentes, conforme segue:

Esi = E0i e-a1z e- j b1z xˆ


E0i -a1z - j b1z
Hsi = e e xˆ
h1

Figura 4.6 | Incidência normal de onda plana uniforme

Fonte: Wentworth (2006).

Ainda, teremos os campos transmitidos, correspondendo


àqueles que passam a se propagar no segundo meio, em z>0:

Est = E0t e-a2 z e- j b2 z xˆ


E0t -a2 z - j b2 z
Hst = e e xˆ
h1

U4 - Ondas eletromagnéticas 199


No caso dos campos transmitidos, considera-se um meio com
constante de atenuação igual a a2 e a constante de fase igual a
b2 . Ainda, E0t é o valor máximo do campo elétrico transmitido para
o meio 2, correspondente ao valor quando z = 0.
Supondo que toda a onda incidente se propaga do meio 1 para
o meio 2, significa que algumas condições de fronteira em z = 0
precisam ser satisfeitas. Essas condições partem do princípio de que
tanto o campo elétrico como o campo magnético devem ser iguais
dos dois lados da superfície de separação dos meios. Se isso for
verdade, teremos para o campo elétrico que:
Esi = Est ⇒ E0i = E0t
A princípio, essa condição nos parece razoável. Entretanto,
o mesmo deve valer para o campo magnético, ou seja:

E0i Et
Hsi = Hst ⇒ = 0
h1 h2 .
Da relação anterior, só teremos as condições de fronteira
satisfeitas se a impedância intrínseca dos meios 1 e 2 forem iguais, o
que não é verdade para todos os casos em geral. Dessa forma, para
que as condições de fronteira sejam satisfeitas, se faz necessário
que exista uma onda refletida. Essa onda pode ser representada
r
por meio dos campos refletidos ( Esr e Hs ). Na notação de fasor,
r
considerando que E0 é o valor máximo do campo elétrico, esses
campos podem ser representados conforme segue:

Esr = E0r e-a1z e- j b1z xˆ


E0r -a1z - j b1z
Hsr = - e e xˆ
h1
Note que o sinal negativo do campo magnético indica a
propagação na direção oposta ao campo magnético incidente.
Agora, considerando a existência desses campos, podemos
reescrever as condições de fronteira conforme segue:

Esi + Esr = Est ⇒ E0i + E0r = E0t

E0i E0r Et
Hsi + Hsr = Hst ⇒ − = 0
h1 h1 h2

200 U4 - Ondas eletromagnéticas


Combinando as equações podemos fazer:
h2 i h2 r
E0 − E0 = E0t = E0i + E0r
h1 h1
Manipulando de forma a obter uma relação entre o campo
refletido e incidente, temos o coeficiente de reflexão dado por G
E0r η − η1
Γ= i
= 2 = Γ e jφ
E0 η2 + η1
O coeficiente de reflexão pode ser um número complexo, uma vez
que as impedâncias intrínsecas dos meios podem ser complexas. Além
do coeficiente de reflexão, podemos obter uma relação entre as ondas
incidentes e transmitidas, chamada de coeficiente de transmissão.

E0t 2η2
τ= i
= = 1 + Γ = τ e j φi
E0 η2 + η1

Assimile
Em uma incidência normal, a relação das amplitudes das ondas
incidente, refletida e transmitida determinam os coeficientes de
reflexão e de transmissão, conforme indicado a seguir:
Er η − η1 Et 2η2
Γ = 0i = 2 = Γ e jφ e τ = 0 = = 1 + Γ = τ e j φi
E0 η2 + η1 i
E0 η 2 + η1

Exemplificando
Obtenha os coeficientes de reflexão e de transmissão para uma onda
incidente de um meio com impedância intrínseca de 120 Ω para um
meio de impedância intrínseca igual a 360 Ω . Ainda, considerando
um campo elétrico incidente com amplitude igual a 30 V/m, calcule as
amplitudes dos campos elétricos refletidos e transmitidos.

Resolução:

Aplicando diretamente as equações para o cálculo dos


coeficientes, teremos:

h2 − h1 280 − 120 160


Γ= = = = 0, 4
h2 + h1 280 + 120 400

U4 - Ondas eletromagnéticas 201


2η2 2 × 280
τ= = = 1, 4
η2 + η1 400

As amplitudes dos campos refletidos e transmitidos podem ser


calculadas utilizando-se estes coeficientes:

E0r E0r
= 0, 4 → = 0, 4 → E0r = 12 V /m
E0i
30

E0t E0t
= 1, 4 → = 1, 4 → E0t = 42 V /m
E0i
30

Vamos considerar o caso em que o meio 1 é um dielétrico


perfeito enquanto o meio 2 é um condutor perfeito. Nesse caso, a
condutividade do meio 2 é infinita e a impedância intrínseca é nula
( h2 = 0 ). Logo, os coeficientes de reflexão e transmissão serão:

h2 − h1 −h1 2η2
Γ= = = −1 τ = =0
h2 + h1 h1 e
η 2 + η1

Com base nisso, podemos concluir que as magnitudes das ondas


refletidas e transmitidas são:

E0r
= −1 → E0r = −E0i
E0i
Isso significa que todo o campo incidente é refletido pelo
condutor perfeito. Se calcularmos a profundidade de penetração,
veremos que ela é zero.
E0t
= 0 → E0t = 0
E0i

Pesquise mais
Note que, devido à reflexão da onda, no mesmo meio teremos uma
onda incidente e uma onda refletida. A superposição dessas duas
ondas forma uma onda estacionária. Essa onda possui um padrão de

202 U4 - Ondas eletromagnéticas


vibração estacionário devido a essa superposição, sendo caracterizada
por mínimos e máximos fixos. A razão desses mínimos e máximos é
chamada de razão de onda estacionária e pode ser determinada por
meio do coeficiente de reflexão, conforme segue:

Emáx 1+ | Γ |
SWR = =
Emin 1− | Γ |

Mais sobre esse assunto pode ser estudado nos livros a seguir, que
estão disponíveis na sua biblioteca virtual nos links relacionados:

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de


Janeiro: LTC, 2006.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/


books/978-85-216-2670-1/cfi/6/34!/4/860/2/18@0:83.6>. Acesso
em: 25 jan. 2018.

HAYT JUNIOR, W. H. et al. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre:


AMGH, 2014.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/


books/9788580551549/cfi/427!/4/[email protected]:56.7>. Acesso em: 25 jan. 2018.

Mas, e se a incidência da onda na superfície não for a normal,


ou seja, não for perpendicular ao plano do meio incidente? Nesse
caso, iremos falar da incidência obliqua, onde teremos que
as direções de incidência dos campos formam um ângulo no
plano incidente, conforme mostrado na Figura 4.7. Os ângulos
de incidência, reflexão e transmissão são denominados por qi ,
qr e qt . Nessa figura, vemos que existe um plano de incidência
determinado pelos eixos x e z, e a direção de propagação das ondas
incidente, refletida e transmitida são determinadas nas direções
ai , ar e at , respectivamente. A superfície de incidência da onda
é representada pelo plano x-y. Quando uma incidência é oblíqua,
pode-se decompor em um par de polarização: uma é a polarização
TE (transversal elétrica) (a), em que a direção de propagação do
campo elétrico é perpendicular ao plano de incidência, e outra
a polarização TM (transversal magnética) (b), em que o campo
magnético é perpendicular ao plano de incidência.

U4 - Ondas eletromagnéticas 203


Figura 4.7 | Onda com incidência oblíqua. (a) Polarização transversal elétrica – TE, (b)
polarização transversal magnética - TM

Fonte: Wentworth (2006).

Assim como a reflexão em incidência normal, estaremos


interessados em determinar a relação entre as amplitudes
dos campos incidente, refletido e transmitido, mas também
estamos interessados em determinar a relação entre os ângulos
qi , qr e qt . Após uma análise da geometria das polarizações,
i
podemos chegar nas equações para os campos incidente ( ES e
i r r t t
Hs ), refletido ( ES e Hs ) e transmitido ( ES e Hs ). Primeiramente,
para a polarização TE teremos:

Esi = E0i e- j b1( xsenqi +z cos qi ) yˆ


E0i - j b1( xsenqi +z cos qi )
Hsi = e (- cos qi xˆ + senqi zˆ )
h1

Esr = E0r e- j b1( xsenqr -z cos qr ) yˆ


E0r - j b1( xsenqr -z cos qr )
Hsr = e (cos qr xˆ + senqr zˆ )
h1

Esi = E0i e- j b2 ( xsenqt +z cos qt ) yˆ


E0i - j b2 ( xsenqt +z cos qt )
Hsi = e (- cos qt xˆ + senqt zˆ )
h2
E, assim, a relação entre as amplitudes dos campos é dada
conforme indicado a seguir:

204 U4 - Ondas eletromagnéticas


η2 cos θi − η1 cos θt i
E0r = E0 = ΓTE E0i
η2 cos θi + η1 cos θt

2η2 cos θi
E0t = E0i = τTE E0i
η2 cos θi + η1 cos θt
Já para a polarização TM, teremos os seguintes campos:

Esi = E0i e- j b1( xsenqi +z cos qi ) (cos qi xˆ - senqi zˆ )


E0i - j b1( xsenqi +z cos qi )
Hsi = e yˆ
h1

Esr = E0r e- j b1( xsenqr -z cos qr ) (cos qr xˆ + senqr zˆ )


E0r - j b1( xsenqr -z cos qr )
Hsr = e yˆ
h1

Esi = E0i e- j b2 ( xsenqt +z cos qt ) (cos qt xˆ - senqt zˆ )


E0i - j b2 ( xsenqt +z cos qt )
Hsi = e yˆ
h2
E as relações entre as amplitudes serão dadas por:

η2 cos θt − η1 cos θi i
E0r = E0 = ΓTM E0i
η2 cos θt + η1 cos θi

2η2 cos θi
E0t = E0i = τTM E0i
η2 cos θt + η1 cos θi
Além disso, a Lei de Snell para reflexão e refração determina as
relações entre os ângulos conforme segue:
β1 senθt
qi = qr e β = senθ
2 i

A partir dessas relações, pode-se achar na polarização TM o


ângulo na qual toda onda incidente é transmitida, denominado
ângulo de Brewster, conforme segue:

U4 - Ondas eletromagnéticas 205


β22 (η22 − η12 )
senθBA =
β12 η22 − β22 η12

Assimile
Em uma incidência oblíqua, a relação das amplitudes das ondas incidente,
refletida e transmitida determinam os coeficientes de reflexão e de
transmissão, para as polarizações TE e TM, conforme segue.

η2 cos θi − η1 cos θt i
E0r = E0 = ΓTE E0i
η2 cos θi + η1 cos θt

2η2 cos θi
E0t = E0i = τTE E0i
η2 cos θi + η1 cos θt

η2 cos θt − η1 cos θi i
E0r = E0 = ΓTM E0i
η2 cos θt + η1 cos θi

2η2 cos θi
E0t = E0i = τTM E0i
η2 cos θt + η1 cos θi

O ângulo na qual toda onda incidente é transmitida na polarização TM


é denominado de ângulo Brewster:

β22 (η22 − η12 )


senθBA =
β12 η22 − β22 η12

Pesquise mais
É interessante que você aprofunde seus estudos com explicação mais
detalhada sobre como as equações das ondas incidente, refletida e
transmitida podem ser obtidas, assim como os coeficientes de reflexão
e transmissão nas polarizações TE e TM. Isso pode ser feito por meio
de uma leitura atenta da Seção 5.8 – Reflexão e transmissão em ondas
obliquas, do livro a seguir:

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de


Janeiro: LTC, 2006.

206 U4 - Ondas eletromagnéticas


Você também pode encontrar esse livro acessando a biblioteca virtual,
através do link a seguir:

<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/
books/978-85-216-2670-1/cfi/6/34!/4/886/2@0:100>. Acesso em: 24
jan. 2018.

Por fim, precisamos compreender como ocorre o fenômeno


da reflexão em meios múltiplos. Isso ocorre, por exemplo, quando
uma onda intercepta do ar para a superfície de um vidro de
espessura grossa, sendo transmitida por ele e novamente intercepta
a superfície do ar, sendo refletida no vidro. A Figura 4.8 mostra a
interface entre três meios, cujo meio incidente é o meio 1, com
impedância intrínseca η1 .

Figura 4.8 | Incidência em múltiplos meios

Fonte: adaptado de Hayt Junior et al. (2014).

Estamos considerando z = 0 para a localização da interface


entre os meios 2 e 3, sendo que a fronteira entre os meios 1 e 2
está localizada em z = − . Nesse caso, supondo que os meios
sejam sem perdas, temos uma onda incidente (consideraremos a
incidência normal) e refletida no meio 1, uma onda transmitida no
meio 3 e no meio 3 a onda transmitida do meio 1 para o meio 2, que
incide na superfície de separação dos meios 2 e 3 e também reflete,
sendo um total de cinco ondas quando em regime permanente.
Podemos então concluir que no meio 2 existe uma superposição
dos campos em sentidos opostos, conforme as equações a seguir,

U4 - Ondas eletromagnéticas 207


em que o sinal superscrito positivo indica a onda se propagando no
sentido positivo do eixo, e o sinal negativo superscrito o oposto:

+ − j b2 z − − j b2 z
Es 2 = E20 e + E20 e

+
E20 E−
Hs 2 = e− j β2 z + 20 e− j β2 z
η2 η2
Podemos definir uma impedância de onda, como a razão entre
os campos Es2 e Hs2 :

Es 2 η cos β2 z − j η2senβ2 z
ηw = = η2 3
Hs 2 η2 cos β2 z − j η3senβ2 z
Na fronteira do meio 1 com o meio 2, os campos H e E são
tangenciais e contínuos, de forma que estabelecendo as condições
de fronteira podemos calcular uma impedância de entrada quando
z = − , conforme abaixo:
η3 cos β2  + j η2senβ2 
ηent = ηw ( z = − ) = η2
η2 cos β2  + j η3 senβ2 
E o coeficiente de reflexão no meio incidente considera as
amplitudes do campo incidente e refletido no meio 1, logo:
r
E10 h − h1
i
= Γ = ent
E10 hent + h1
Um outro conceito importante quando trabalhamos com ondas
de frequência ótica é o índice de refração. Esse índice expressa a
constante dielétrica do meio na forma:

n = er

Em meios sem perdas, pode-se expressar a constante de fase e a


impedância intrínseca através do índice de refração, tal como mostrado
a seguir, em que η0 é a impedância intrínseca do espaço livre:

ωn η = 1 µ0 η
= 0
β = ω µ0 ε0 εr = εr ε0 n
c e

208 U4 - Ondas eletromagnéticas


Finalmente, podemos obter a velocidade de fase e a largura de
comprimento de onda:
c ν p λ0
np = λ= =
n e f n

Sem medo de errar


Apenas para relembrar, nessa última etapa do projeto da agência
espacial, será necessário projetar um filtro para um espectro ótico
de largura total medida no espaço livre correspondente a 40 nm,
com o comprimento de onda central em 1000 nm. Para esse
projeto, você possui placas de vidro sem perdas no ar com índice
de refração n = 1,45.
Tomando como exemplo a Figura 4.8 que foi apresentada,
poderíamos considerar o meio 2 como uma placa de vidro de espessura
 , enquanto os meios 1 e 3 se referem ao espaço livre, ou seja, h1 = h3
. Nesse caso, existe a possibilidade de se atingir uma transmissão total, o
que ocorre quando o coeficiente de reflexão for nulo, ou que hent = h1
. Assim, a espessura da região 2 será tal que β2  = mπ , com m sendo

um número inteiro, e β2 = , de forma que:
λ2

mπ 2π mλ2
= →=
 λ2 2
A relação nos diz que a espessura será igual a um múltiplo de
meio comprimento de onda na região do vidro. O efeito de uma
espessura igual a um múltiplo de meio comprimento de onda é que
essa região não tenha influência na reflexão e transmissão. Esse é o
princípio de funcionamento de um interferômetro de Fabry-Perot.
Assim, uma sugestão é o projeto de um interferômetro de
Fabry-Perot, que consiste em um bloco de material transparente,
por exemplo o vidro. A espessura é projetada de forma que os
comprimentos de onda transmitidos satisfaçam a relação a seguir,
onde  corresponde à espessura do material e m é o número de
meio comprimento de onda no material utilizado para construir
o interferômetro:
l0 2
l2 = =
n m

U4 - Ondas eletromagnéticas 209


O objetivo do filtro é separar os comprimentos de onda
adjacentes que passassem pelo dispositivo, restando apenas o
espectro de frequência de entrada. A largura de comprimento de
onda para esse filtro então pode ser descrita por:
2 2 2 2
lm−1 − lm = ∆l = − =  2
m − 1 m m(m − 1) m

2
Como m = , então:
l2
l22
Dlf 
2
Pode-se considerar o comprimento de onda no espaço livre,
2n
sabendo que m = l . Obtém-se então a faixa espectral livre para o
0
interferômetro de Fabry-Perot, dada por Dlf 0 .
l02
∆lf 0 = n∆lf 
2n
Dessa forma, pode-se projetar o interferômetro para atuar como
um filtro passa-faixa, de forma a transmitir um espectro estreito em
torno de um comprimento de onda específico. Para isso, o espectro
a ser filtrado deve ser mais estreito do que a faixa espectral livre.
Para determinar a faixa necessária de espessuras do vidro para que
ordens múltiplas do comprimento de onda não sejam transmitidas,
necessitamos que ∆lf 0 > ∆ls , onde Dls corresponde à largura
espectral ótica, logo:
l02
<
∆ls 2n
Substituindo os valores, teremos que:

λ02 10002
< = = 8, 62 µm
∆λs 2n 40 × 2 ×1, 45

Logo, a espessura do vidro deveria ser menor do que 8, 62 µ m


. No entanto, uma placa de vidro dessa espessura é infactível. Para
contornar essa situação, deve-se utilizar duas placas grossas com
um espaçamento de ar entre elas, da ordem da espessura calculada.
As superfícies nos lados opostos ao espaçamento de ar devem

210 U4 - Ondas eletromagnéticas


ser revestidas de um material antirrefletivo, conferindo assim uma
versatilidade para o ajuste do comprimento de onda a ser transmitido
e da faixa espectral livre pelo ajuste do espaçamento entre as placas.
Dessa forma, você pode propor a solução mais indicada
para a construção do filtro. Agora, basta reportar todo o seu
desenvolvimento ao longo do projeto em seu relatório e a tarefa
terá sido concluída com sucesso.

Avançando na prática
Cálculo dos campos em uma incidência oblíqua

Descrição da situação-problema
Uma estação de TV localizada na região sul de um certo território
pretende expandir a abrangência de seu sinal para a região norte.
Para isso, montou um esquema para reflexão do sinal, redirecionado
por um refletor que está localizado em uma torre, conforme mostra
o esquema da Figura 4.9. O esquema permite que, a partir da região
sul, a estação transmita o seu sinal para a região norte pelo ar.
Figura 4.9 | Esquema para transmissão do sinal

Fonte: elaborada pelo autor.

Sabe-se que o sinal transmitido é uma onda plana que possui


frequência de 100 MHz com amplitude de 5 V/m e polarização
TE. O material do refletor é não magnético sem perdas e possui
 r  4 . Nessas condições, você foi chamado para realizar os

U4 - Ondas eletromagnéticas 211


cálculos e determinar os campos incidentes, refletidos e transmitidos,
sabendo que o ângulo de incidência é de 60° . Como você realizaria
essa tarefa?

Resolução da situação-problema
Para que você desempenhe essa tarefa, será necessário conhecer
os coeficientes de reflexão e transmissão. Sabemos que no ar a
impedância intrínseca é de 120  . Como a onda é de 100 MHz
e se propaga no espaço livre, podemos obter o comprimento de
onda e em seguida o coeficiente de fase dado por:
c 2π 2π
λ= = 3m → β = = rad /m
f λ 3
Logo, os campos incidentes são (considerando a polarização TE):
2p
-j ( xsen 60°+ z cos 60° )
Esi = 5e 3 yˆ
2p
5 -j ( xsen 60°+ z cos 60° )
Hsi = e 3 (- cos 60° xˆ + sen 60°zˆ )
120p
Para o meio do refletor, teremos o coeficiente de fase dado por:

ω εr 2π ×100 ×106 4 4π
β2 = = = rad /m
c 3 ×108 3

µr 120π
η2 = η0 = = 60π Ω
εr 2

O ângulo de transmissão será obtido da Lei de Snell:

β1 senθt β 
= ↔ θt = sen−1  1 senθi  = 25, 65°
β2 senθi  β2 

Assim, é possível calcular os coeficientes de reflexão e transmissão:

η2 cos θi − η0 cos θt 60 × 0, 5 − 120 × 0, 9


ΓTE = = = −0, 565
η2 cos θi + η0 cos θt 60 × 0, 5 + 120 × 0, 9

212 U4 - Ondas eletromagnéticas


2η2 cos θi 2 × 60 × 0, 5
τTE = = = 0, 435
η2 cos θi + η1 cos θt 60 × 0, 5 + 120 × 0, 9

Então, as amplitudes podem ser obtidas:

E0r −2, 825


E0r = ΓTE E0i = −0, 565 × 5 = −2, 825 V /m → H0r = = = −7, 5 mA/m
η0 120π
E0t 2,175
E0t = τTE E0i = 0, 435 × 5 = 2,175 V /m → H0t = = = 11, 53 mA/m
η2 60π

E, escrevendo as equações para os campos refletidos e


transmitidos, teremos:
2p
-j ( xsen 60°-z cos 60° )
Esr = -2,825e 3 yˆ
2p
-j ( xsen 60°-z cos 60° )
Hsr = -7,5e 3 (cos 60° xˆ + sen 60°r zˆ )

4p
-j ( xsen 25,65°+ z cos 25,65° )
Esi = 2,175e 3 yˆ
4p
-j ( xsen 25,65°+ z cos 25,65° )
Hsi = 11,53e 3 (- cos 25,65° xˆ + sen 25,65°zˆ )
Dessa forma, ao apresentar esses cálculos, sua tarefa estará
cumprida com êxito.

Faça valer a pena

1. As ondas eletromagnéticas não se propagam indefinidamente,


mas dependem das características do meio de propagação, além das
características dos diversos meios que fazem fronteira no qual pode
ocorrer a incidência das ondas e, consequentemente, a reflexão. Com
base nisso, considere as assertivas a seguir:
I. No estabelecimento das condições de fronteira para a incidência
de ondas planas em meios múltiplos, não é possível considerar na
fronteira que o campo incidente é igual ao campo transmitido.
PORQUE
II. A incidência de uma onda plana em uma fronteira entre dois

U4 - Ondas eletromagnéticas 213


meios fará com que a onda seja transmitida do primeiro para um
segundo meio, a menos que a incidência seja oblíqua, situação em
que ocorre a reflexão da onda.

Com base nas assertivas, pode-se afirmar que:


a) A assertiva I está correta e a II está errada.
b) A assertiva I está errada e a II está correta.
c) Ambas estão corretas e a II justifica a I.
d) Ambas estão corretas e a II não justifica a I.
e) Nenhuma das assertivas está correta.

2. Uma onda plana se propaga de um meio 1 e incide em um meio 2,


sendo que parte da onda é transmitida e outra parte é refletida. Sabe-se
que o meio 1 possui uma impedância intrínseca de 100 Ohms e que o
coeficiente de transmissão é igual a 1,5.

Nessas condições, o coeficiente de reflexão e a impedância intrínseca do


meio 2 em Ohms serão respectivamente:
a) 0,22 e 150.
b) 0,22 e 300.
c) 0,33 e 150.
d) 0,33 e 300.
e) 0,33 e 450.

3. Uma onda plana uniforme se propaga no ar incidindo em um meio não


magnético sem perdas com  r  9, 00 . Essa onda tem frequência de 50
MHz e o campo elétrico incidente tem amplitude de 10 V/m. O ângulo de
incidência é de 60° e a onda possui uma polarização TE.

Nessas condições, as amplitudes dos campos magnéticos incidente,


refletido e transmitido são, em mA/m, respectivamente:
a) 5; 20; 30.
b) 24,5; 19; 30.
c) 26,5; 20; 27.
d) 26,5; 17,5; 27.
e) 30; 40; 50.

214 U4 - Ondas eletromagnéticas


Referências
HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da Física. 10. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2016. V. 3.
HAYT JUNIOR, W. H. et al. Eletromagnetismo. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
REGO, R. A. Eletromagnetismo básico. Rio de Janeiro: LTC, 2010.

TIPLER, P. A.; MOSCA, G. Física para cientistas e engenheiros: Eletricidade e


Magnetismo, Ótica, 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2009. V. 2.

WENTWORTH, S. M. Fundamentos de eletromagnetismo Rio de Janeiro: LTC, 2006.


Referências

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