EstAlgebrica Livro
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AlgÉbrica
licenciatura em
matemática
Licenciatura em matemática
Estruturas Algébricas
Fortaleza, CE
2011
Créditos
Presidente Marília Maia Moreira
Dilma Vana Rousseff Maria Luiza Maia
Ministro da Educação Saskia Natália Brígido
Fernando Haddad Equipe Arte, Criação e Produção Visual
Secretário da SEED Ábner Di Cavalcanti Medeiros
Carlos Eduardo Bielschowsky Benghson da Silveira Dantas
Davi Jucimon Monteiro
Diretor de Educação a Distância
Germano José Barros Pinheiro
Celso Costa
Gilvandenys Leite Sales Júnior
Reitor do IFCE José Albério Beserra
Celso Costa José Stelio Sampaio Bastos Neto
Pró-Reitor de Ensino Marco Augusto M. Oliveira Júnior
Gilmar Lopes Ribeiro Navar de Medeiros Mendonça e Nascimento
Diretora de EAD/IFCE e Roland Gabriel Nogueira Molina
Coordenadora UAB/IFCE Samuel da Silva Bezerra
Cassandra Ribeiro Joye Equipe Web
Vice-Coordenadora UAB Benghson da Silveira Dantas
Régia Talina Silva Araújo Fabrice Marc Joye
Luiz Bezerra de Andrade FIlho
Coordenador do Curso de
Lucas do Amaral Saboya
Tecnologia em Hotelaria
Ricardo Werlang
José Solon Sales e Silva
Samantha Onofre Lóssio
Coordenador do Curso de Tibério Bezerra Soares
Licenciatura em Matemática
Revisão Textual
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Elaboração do conteúdo Nukácia Meyre Araújo de Almeida
Ângelo Papa Neto Revisão Web
Colaboradora Antônio Carlos Marques Júnior
Lívia Maria de Lima Santiago Débora Liberato Arruda Hissa
Equipe Pedagógica e Design Instrucional Saulo Garcia
Ana Claúdia Uchôa Araújo Logística
Andréa Maria Rocha Rodrigues Francisco Roberto Dias de Aguiar
Carla Anaíle Moreira de Oliveira Virgínia Ferreira Moreira
Cristiane Borges Braga Secretários
Eliana Moreira de Oliveira Breno Giovanni Silva Araújo
Gina Maria Porto de Aguiar Vieira Francisca Venâncio da Silva
Glória Monteiro Macedo
Auxiliar
Iraci Moraes Schmidlin
Ana Paula Gomes Correia
Irene Moura Silva
Bernardo Matias de Carvalho
Isabel Cristina Pereira da Costa
Isabella de Castro Britto
Jane Fontes Guedes
Maria Tatiana Gomes da Silva
Karine Nascimento Portela
Charlene Oliveira da Silveira
Lívia Maria de Lima Santiago
Wagner Souto Fernandes
Lourdes Losane Rocha de Sousa
Luciana Andrade Rodrigues
Maria Irene Silva de Moura
Maria Vanda Silvino da Silva
Catalogação na Fonte: Islânia Fernandes Araújo (CRB 3 – Nº 917)
ISBN 978-85-63953-19-3
CDD - 510
Apresentação 7
Referências 150
Currículo 151
SUMÁRIO
AULA 1 Grupos e subgrupos 8
Tópico 1 Definição de grupo e exemplos 9
Tópico 2 Subgrupos 15
AULA 6 Polinômios 88
Tópico 1 Sequências quase nulas e polinômios 89
Tópico 2 Algoritmo da divisão para polinômios 97
Tópico 3 Polinômios com coeficientes em um domínio de
fatoração única 103
6 Estruturas Algébricas
APRESENTAÇÃO
Olá aluno(a),
APRESENTAÇÃO 7
AULA 1 Grupos e
subgrupos
Nesta aula iremos estudar a nossa primeira estrutura algébrica, que é estrutura
de grupo. Por serem os objetos matemáticos adequados para se quantificar a
noção de simetria, os grupos encontram aplicações na geometria (fundamentação
da geometria via grupos de transformações, grupos de Lie, ladrilhamentos), na
química (estrutura dos obitais atômicos, ligação química, estrutura cristalográfica
das moléculas), na física (mecânica quântica) e na biologia (estrutura icosaédrica dos
vírus). Trata-se, portanto, de uma noção matemática de fundamental importância.
Objetivos
8 Estruturas Algébricas
TÓPICO 1 Definição de grupo e
exemplos
O bjetivos
• Estender a noção de grupo
• Estudar alguns exemplos importantes
AULA 1 TÓPICO 1 9
É importante observarmos que a inversão
de um produto inverte também a ordem dos
fatores. Mais precisamente, (ab)-1 = b-1a-1 .
De fato, se c = (ab)-1 , então (ab)c = e. at e n ç ão!
-1
Multiplicando por a à esquerda, obtemos
Por uma questão de simplicidade da notação,
bc = a . Multiplicando por b-1 à esquerda,
-1
costumamos escrever, sempre que não haja perigo
obtemos c = b-1a-1 . A mesma identidade vale de confusão, a operação a b simplesmente
para o produto de um número finito de elementos como ab , omitindo o símbolo que indica a
(veja o exercício 6). No caso em que G é abeliano, operação. É costume, também, chamarmos ab de
-1 -1 -1
podemos, é claro, escrever (ab) = a b , pois “produto” dos elementos a e b .
o produto é, nesse caso, comutativo.
Exemplos:
Verifique que são válidas as condições da definição de grupo nos seguintes
exemplos.
1. Se K é um corpo, então (K, +) e (K * ,×) são grupos abelianos, onde
K * = K -{ 0} .
*
2. Se Zn = { 0,1, n- 1} e Zn* = { a Î Zn | (a, n)= 1} , então (Zn , +) e (Zn ,×)
são grupos abelianos.
3. Se V é um espaço vetorial, então V com a soma de vetores é um grupo
abeliano.
4. Seja X um conjunto e S(X) = { f : X ® X| f ébijetivo} . Então S(X) , com
a operação (composição de funções) é um grupo, não necessariamente abeliano.
æ 1 2 n ö÷
f = çç ÷.
èç f (1) f (2) f (n)ø÷÷
10 Estruturas Algébricas
Por exemplo, se X = { 1,2,3,4} , então alguns elementos de S4 são
æ1 2 3 4ö÷ æ1 2 3 4ö÷
I = çç ÷÷ , s = çç ÷,
çè1 2 3 4ø÷ çè2 3 4 1ø÷÷
æ1 2 3 4ö÷ 3 æ1 2 3 4÷ö
s 2 = çç ÷ , s = çç ÷,
çè3 4 1 2÷÷ø çè4 1 2 3÷÷ø
4
(note que s = I )
æ1 2 3 4ö÷
t = çç ÷.
çè1 4 3 2ø÷÷
æ1 2 3 4÷ö æ1 2 3 4ö÷
st = çç ÷ × çç ÷=
çè2 3 4 1÷÷ø èç1 4 3 2ø÷÷
æ1 2 3 4ö÷
= çç ÷,
èç2 1 4 3ø÷÷
æ1 2 3 4ö÷
ts = çç ÷ ¹ st
èç4 3 2 1ø÷÷
AULA 1 TÓPICO 1 11
æ öæ ö
çça11 a1n ÷÷ çç x1 ÷÷
T (x1 ,, xn )= çç ÷÷÷ × çç ÷÷÷ ,
çç ÷÷ çç ÷÷
èçan1 ann ø÷ çèxn ÷ø
at e n ç ão!
onde A = (aij ) é uma matriz n´ n invertível. O
conjunto GLn (R) , com a operação de composição A notação GL significa general linear, que em
português quer dizer linear geral.
de funções, é um grupo, chamado grupo
linear geral. Como a composição de funções
corresponde ao produto de matrizes, o grupo GLn (R) “pode ser visto como” um
grupo de matrizes, isto é
GLn (R) @ { A Î M n (R)| det A ¹ 0} ,
onde a frase entre aspas acima e o símbolo @ significam isomorfismo, isto é,
embora a natureza dos elementos sejam diferentes (funções em um caso e matrizes
no outro), a estrutura de grupo é a mesma nos dois casos. A noção de isomorfismo
será definida de modo preciso no tópico 2 da próxima aula.
Dados n grupos G1 ,,Gn , com operações 1 ,, n , respectivamente, o
produto cartesiano
G1 ´´Gn = { (x1 ,, xn )| xi Î Gi }
é um grupo, com operação dada por
(x1 ,, xn ) ( y1,, yn )= (x1 1 y1 ,, xn n yn ).
12 Estruturas Algébricas
Se você respondeu “triângulo equilátero”, acertou! Não é difícil perceber
que, de fato, o triângulo equilátero é mais simétrico do que o triângulo isósceles
e que o triângulo escaleno é o menos simétrico dos três. Mas como você percebeu
isso? Que critérios você usou para decidir qual dos três é o mais simétrico ou o
menos simétrico? A questão que se põe é a seguinte: é possível captar essa impressão
intuitiva de modo matematicamente preciso? Ou seja, é possível quantificar, medir,
a noção de simetria? A resposta é sim, e os objetos adequados para se fazer essa
medição são exatamente os grupos.
Mais precisamente, vamos associar a cada um desses triângulos um grupo, de
modo que o número de elementos do grupo meça a simetria do triângulo. Para isso,
considere um subconjunto T do plano cartesiano R2 . Uma função f : R2 ® R2
é chamada simetria de T , se é uma bijeção e f (P) Î T se, e somente se, P Î T .
A restrição de f a T é uma função f : T ® T que permuta os pontos de T .
O conjunto S(T ) , formado pelas simetrias de T , é um grupo com a operação
composição de funções.
A seguir, vamos encontrar S(T ) para cada um dos três triângulos da Figura
1. Comecemos com o triângulo equilátero. Uma rotação de 120º, no sentido anti-
horário, em torno do baricentro do triângulo equilátero da figura acima, leva esse
triângulo equilátero nele mesmo, permutando seus pontos. Leva, por exemplo, o
vértice 1 no vértice 2, o vértice 2 no vértice 3 e o vértice 3 no vértice 1. Assim,
essa rotação induz uma permutação dos vértices do triângulo, que indicamos
æ1 2 3ö÷
(veja o exemplo 4, caso particular 1) por: s = çç ÷. De modo análogo, a
ç2 3 1ø÷÷
è
æ1 2 3ö÷
permutação t = ççç ÷ está associada à reflexão em torno da reta que contém
è1 3 2ø÷÷
a altura do triângulo equilátero. Afirmamos que, se TE é um triângulo eqüilátero,
então S(TE ) = {1, s , s 2 , t , st , s 2t } , onde s e
t são as permutações acima definidas e 1 é a
s aiba mais ! permutação identidade, que deixa cada vértice,
logo todo o triângulo, fixado. O grupo S(TE ) é
O Grupo Diedro Dn é o grupo de simetria de n
um caso particular de grupo diedral (para outros
lados do polígono regular de n> 1 . A ordem
exemplos de grupos diedrais, veja os exercícios
grupo Dn é de 2n. Consulte o site <http://
de aprofundamento 5 e 6).
translate.google.com.br/translate?hl=pt-
Se TI é um triângulo isósceles, uma rotação
BR&langpair=en|pt&u=http://mathworld.
wolfram.com/DihedralGroup.html>
não é uma simetria de TI . Assim, nesse caso,
S(TI ) = {1, t } , onde t é a reflexão em torno da
altura relativa à base do triângulo isósceles.
AULA 1 TÓPICO 1 13
Finalmente, se TS é um triângulo escaleno, a única simetria é a trivial, ou
seja, S(TI ) = {1} . Portanto, os triângulos equilátero, isósceles e escaleno têm,
respectivamente, grupos de simetrias com 6, 2 e 1 elementos. Dessa forma, inferimos
desse exemplo o seguinte princípio: quanto maior o número de elementos do grupo
S(T ) de uma figura T , mais simétrica ela é.
Com isso, encerramos nosso primeiro tópico, que tratou da definição e de
exemplos iniciais de grupos. No próximo tópico, veremos que certos subconjuntos
dos grupos também são grupos, chamados subgrupos.
14 Estruturas Algébricas
TÓPICO 2 Subgrupos
O bjetivos
• Definir e caracterizar a noção de subgrupo
• Definir e caracterizar subgrupo gerado por um conjunto
• Definir grupo cíclico
• Conhecer o teorema de Lagrange
s aiba mais !
Reveja o conteúdo de subespaço vetorial no
V amos, agora, estudar
subconjuntos não-vazios de
um grupo que, com a mesma
operação do grupo, também são grupos.
Chamamos tais subconjuntos de subgrupos.
os
AULA 1 TÓPICO 2 15
Demonstração:
Se S é subgrupo, então S¹ Æ e, dado b Î S , temos b-1 Î S , o que decorre
da condição 3 da definição de grupo. Logo, dados a, b Î S (não necessariamente
distintos), temos ab-1 Î S .
EXEMPLOS:
1. Com a mesma notação do exemplo 4 do tópico 1 (caso particular 1),
temos que s = { I , s , s 2 , s 3 } e t = { I , t } são subgrupos de S4 . Temos ainda
que s , t = { I , s , s 2 , s 3 , t , st , s 2t , s 3t } também é subgrupo de S4 . Exercício:
verifique todas essas afirmações.
2. Repetindo ainda as notações
estabelecidas na seção 1, temos que
SLn (R) = {A Î M n (R)| det A = 1} é
subgrupo de GLn (R) . Para verificar isso,
usamos o Lema 1 da seguinte forma: se I at e n ç ão!
é a matriz identidade n´ n , então det I = 1 , A notação SL significa “special linear”, que, em
logo SLn (R) ¹ Æ , ou seja, vale a condição inglês, quer dizer linear especial.
1 do Lema 1. Se A, B Î SLn (R) , então
det(AB-1 ) = det(A )det(B-1 ) = det(A )det(B)-1 = 1× 1 = 1
logo AB-1 Î SLn (R) e vale a condição 2 do Lema 1. Isso mostra que SLn (R) é
subgrupo de GLn (R) .
16 Estruturas Algébricas
onde a interseção é tomada sobre todos os
subgrupos de G que contêm Y . Chamamos esse
atenção! subgrupo de subgrupo gerado por Y . Estamos
particularmente interessados no caso em que Y
No caso em que o grupo G não é abeliano, temos
é finito e G é abeliano. Nesse caso é possível obter
Y = {x1 xn | n Î N exi Î Y ou xi -1 Î Y} ,
um descrição mais precisa de Y , dada pelo
ou seja, SG = GS é o conjunto dos produtos
finitos de elementos que pertencem a Y ou cujo próximo lema. Antes, é conveniente estabelecer
inverso pertence a Y . a seguinte notação: se G é um grupo, y Î G e
a Î Z , então
ìï y y se a > 0
ïï
y =í
a ï 1 se a = 0
ïï -1 -1
ïïî y y se a < 0
onde os “produtos”’ acima são a operação do grupo G repetida | a | vezes.
Demonstração:
Por definição, Y é a interseção de todos
atenção! os subgrupos de G que contêm Y . Chamemos
a a
Se Y é infinito, então Y = { , ou seja, Y de S o conjunto { y1 1 yn n | ai Î Z} . Queremos
é o conjunto dos produtos finitos de potências mostrar que S= Y . Primeiro, mostremos que
inteiras de elementos de Y . S é um subgrupo de G . Temos que S¹ Æ ,
pois yi Î S , para cada i Î { 1,, n} . Se
a1 an
a= y y1 n
b1
e b= y y
1
bn
n são elementos de
a1-b1 an -bn
S, então ab-1 = y 1 yn Î S . Pelo Lema 1, S£ G . Como Y Ì S , temos que
S G . Por outro lado, se S¢ é um subgrupo de G tal que y1 ,, yn Î S¢ , então
a a
y1 1 yn n Î S¢ , para quaisquer a1 ,, an Î Z , logo SÌ S¢ . Consequentemente, S
está contido na interseção de todos os S¢ , isto é, G¢ . Isso conclui a demonstração.
AULA 1 TÓPICO 2 17
S = y = {1, y, y2 ,, ym-1 } , onde 1Î G é o elemento neutro do grupo e mÎ N é
o menor número natural tal que ym = 1 .
Se G é um grupo com um número finito de elementos, dizemos que G é um
grupo finito. O número de elementos de G é chamado ordem de G e é denotado
por | G| ou # (G) . Caso o número de elementos de G seja infinito, dizemos que G
é um grupo infinito. As mesmas nomenclaturas valem para subgrupos. Note-se
que um grupo infinito pode ter subgrupos finitos.
EXEMPLOS:
1. O grupo (C* ,×) é infinito, mas o
2pi
subgrupo Rn = { 1, w , w 2 ,, w n-1} , onde w = e n ,
é finito e cíclico (verifique que Rn é, de fato, um sa iba m a is!
*
subgrupo de C ).
Felix Klein é mais conhecido por seu trabalho
2. (Z, +) é um grupo cíclico infinito. Como
em geometria não-euclidiana, por seu trabalho
veremos mais adiante, esse é, essencialmente,
sobre as conexões entre a geometria e teoria de
o único grupo cíclico infinito (isto é, qualquer
grupo e para os resultados em teoria de função.
grupo cíclico infinito é “isomorfo” ao grupo
Mais informações: http://www.learn-math.info/
aditivo Z ). portugal/historyDetail.htm?id=Klein
3. O grupo Z 4 = {0,1,2,3} , com a operação
soma módulo 4, é cíclico de ordem 4.
4. O grupo Z2 ´ Z2 , com operação (a, b) + (c, d)= (a + c, b + d) , tem ordem
quatro e não é cíclico. Ele é chamado Vierergruppe, ou grupo de Klein.
18 Estruturas Algébricas
a-1c = (a-1b)(b-1c) Î S
pois S£ G . Assim, a º c .
As classes de equivalência relativas a º são
-1
a = { x Î G| a º x} = { x Î G| a x Î S} .
Se aS denota o subconjunto { ay | y Î S} , então a-1x Î S é equivalente a
x Î aS . Dessa forma, temos a = aS, ou seja, as classes laterais relativas a º são
exatamente os subconjuntos do tipo aS, com a Î G . Chamamos esses subconjuntos
de classes laterais de S à esquerda em G . Sobre as classes laterais temos dois
fatos relevantes:
1. aS= bS se e somente se a º b .
2. G é a união de todas as classes laterais de S.
De fato, a º b é equivalente a a-1b Î S, isto é, b Î aS . Como a º b implica
b º a , temos também a Î bS , logo aS= bS (por quê?). Reciprocamente, aS= bS
implica que ax = by , com x, y Î S , logo a-1b = xy-1 Î S , pois S é subgrupo.
Portanto, a º b .
Para a afirmação 2, basta notar que, dado a Î G , a = a × 1Î aS .
Importante: Note que todo cuidado foi tomado ao operar com elementos
de G , considerando o fato de a operação dada não ser necessariamente comutativa.
Existe outra relação de equivalência em G dada por
a º b Û ab-1 Î S.
Para uma relação dada desse modo, as classes de equivalência que surgem
são do tipo Sa , com a Î G . São por isso chamadas de classes laterais de S à
direita em G .
Vamos denotar por SG o conjunto formado pelas classes laterais de S à
esquerda em G e GS o conjunto formado pelas classes laterais de S à direita em
G . Observemos que esses conjuntos não são necessariamente iguais. Mais adiante,
introduziremos uma restrição sobre S de modo a que esses conjuntos coincidam.
Apesar de não serem iguais, os conjuntos SG e GS têm a mesma cardinalidade,
isto é, vale o resultado abaixo:
AULA 1 TÓPICO 2 19
Lema 3 Existe uma função bijetiva entre SG e GS , dada por aS Sa-1 , para
todo a Î G .
Demonstração:
Essa função está bem definida, pois, se aS= bS, então a-1b Î S, logo
a-1 Î Sb-1 e Sa-1 = Sb-1 . A sobrejetividade dessa função é clara. Quanto à
injetividade, se aS e bS têm a mesma imagem, então Sa-1 = Sb-1 , logo a-1b Î S,
donde b Î aS e bS= aS.
EXEMPLO:
Se G = R* , com o produto de números reais e S= R2 é o subgrupo formado
*
pelos quadrados dos elementos de R , então ambos são infinitos, mas (R* : R2 )= 2 .
De fato, dado um número real não nulo x , temos x > 0 ou x < 0 . No primeiro
caso, x Î R2 e no segundo caso -x Î R2 . Logo, R2 tem apenas duas classes laterais
*
em R .
Demonstração:
Seja | G| = n e | S| = d . Podemos escrever G = a1SÈ È amS onde duas
classes laterais ai S e aj S são disjuntas, isto é, se i ¹ j , então ai SÇ aj S= Æ . Além
disso, a função S ® ai S , dada por s ai s , é bijetiva, logo | ai S| =| S| , para todo
i Î { 1,, m} .
20 Estruturas Algébricas
Assim, a união acima é uma divisão de um conjunto com n elementos em
m partes iguais de d elementos. Logo n = m × d o que implica que d divide n .
Exemplo:
Como aplicação do Teorema de Lagrange, vamos mostrar que, se um grupo
tem um número primo de elementos, então seus únicos subgrupos são os triviais.
De fato, seja G um grupo com | G| = p , onde p é um número primo. Se Sé um
subgrupo de G com | S| = d , pelo Teorema de Lagrange, d é um divisor de p .
Como p é primo, só admite como divisores 1 ou p . Assim, d = 1 ou d = p . Se
d = 1 , então S = { e} e, se d = p , então S = G , pois, nesse caso, S possui o mesmo
número de elementos de G . Portanto, G possui apenas subgrupos triviais.
Nesse segundo tópico, vimos como identificar os subconjuntos de um
grupo que também são grupos, com a mesma operação do grupo, e chamamos tais
subconjuntos de subgrupos. Vimos ainda o importante Teorema de Lagrange, que
fornece uma relação de divisibilidade entre as ordens do grupo e de seus subgrupos.
Encerramos, assim, nossa primeira aula. Na próxima aula, continuaremos o
estudo de grupos, mostrando como construir grupos a partir de um grupo e um
subgrupo dado. Veremos que essa construção só é possível quando o subgrupo é de
um tipo especial, chamado subgrupo normal.
ATIVIDADES D E A PR O FUN DA M E N T O
1. Determine quais das seguintes operações são associativas:
(a) A operação sobre Z definida por a b = a - b .
(b) A operação sobre R definida por a b = a + b + ab .
a+ b
(c) A operação sobre Q definida por a b = .
5
(d) A operação sobre Z ´ Z definida por (a, b) (c, d)= (ad + bc, bd) .
a
(e) A operação sobre Q-{ 0} definida por a b = .
b
2. Se S £ G, mostre que a classe lateral aS é um subgrupo de G se, e somente se, a = 1 , o elemento neutro
da operação de G .
AULA 1 TÓPICO 2 21
3. Dado um grupo G , mostre que, se a2 = a , para todo a Î G , então G é abeliano.
5. Seja G um grupo cuja ordem é um número primo. Mostre que esse grupo é cíclico.
7. Consideremos o conjunto A das matrizes 2´ 2 com entradas reais. Recordemos que a multiplicação
de matrizes é dada por
æa bö÷ æx y÷ö æax + bz ay + bwö÷
çç ÷× ç ÷= ç ÷.
çè c d÷÷ø ççèz w÷÷ø ççè cx + dz cy + dw ÷÷ø
æ1 1÷ö
Consideremos M = çç ÷ e seja
çè0 1÷÷ø
C = { X Î A | XM = MX} .
(a) Determine quais dos seguintes elementos de A estão em C :
æ1 1ö÷ æ1 1ö÷ æ0 0÷ö æ1 1÷ö æ1 0÷ö æ0 1÷ö
çç ÷ ,çç ÷ , çç ÷ ,çç ÷ ,çç ÷ ,çç ÷.
çè0 1ø÷÷ çè1 1ø÷÷ çè0 0÷÷ø çè1 0÷÷ø çè0 1÷÷ø çè1 0÷÷ø
(b) Prove que, se A, B Î C , então A + B Î C , onde + denota a soma usual de matrizes.
(c) Prove que, se A, B Î C , então A × B Î C , onde × denota o produto usual de matrizes.
æ p qö÷
(d) Encontre condições sobre p, q, r , s Î R que determinem precisamente quando çç ÷ Î C.
èç r sø÷÷
8. Seja G = { a + b 3| a, b Î Q} .
(a) Mostre que (G, +) é um grupo.
(b) Mostre que (G´ ,×) é um grupo.
10. Se D6 = { 1, a, a2 , b, ab, a2b} é o grupo diedral com 6 elementos (ou seja, o grupo de simetrias de
um triângulo equilátero), verifique que D6 @ S3 (são isomorfos).
11. Se D8 = { 1, a, a2 , a3 , b, ab, a2b, a3b} é o grupo diedral de ordem 8 , isto é, o grupo de simetrias de
um quadrado, mostre que D8 £ S4 , mas D8 ¹ S4 .
22 Estruturas Algébricas
12. Seja p > 2 um inteiro primo. O conjunto Z´p = {1,2,, p - 1} , munido do produto de classes, é
um grupo abeliano.
(a) Verifique que | Zp | = p - 1. Como p ¹ 2 , a ordem de
´
Zp é par.
´ ´
(b) Como Z p
é um grupo, qualquer elemento de Z
p
possui um inverso. Determine o inverso
de p- 1.
(c) Mostre que o único elemento de Z´p , diferente de 1, que é igual ao seu inverso é p- 1.
( Sugestão: supondo que ( p - i ) × ( p - i )= 1, verifique que i = 1.)
(d) Mostre que 1× 2× 3 p - 1= p - 1 .
(e) Usando os ítens anteriores, demonstre o Teorema de Wilson: se p é um número primo, então
( p - 1)! º -1(mod p) . (Note que o caso p = 2 é trivial.)
13. Mostre que as seguintes matrizes, com coeficientes em C , formam um grupo não abeliano G de
ordem 8 com o produto usual de matrizes:
b2 = a2 e b-1ab = a3 . Este grupo é conhecido como grupo dos quatérnios e denotado por Q8 . Verifique
ainda que podemos escrever
Q8 = { e,-e, a,-a, b,-b, ab,-ab} .
Conclua que a e b geram Q8 .
AULA 1 TÓPICO 2 23
AULA 2 Subgrupos normais
e homomorfismos
Olá aluno(a),
Objetivos
24 Estruturas Algébricas
TÓPICO 1 Subgrupos normais
O bjetivos
• Definir e caracterizar subgrupos normais
• Definir grupo quociente
AULA 2 TÓPICO 1 25
Demonstração:
Suponha que vale 1. Então aSa-1 Ì S ,
para todo a Î G . Substituindo a por a-1 ,
obtemos at e n ç ão!
-1 - 1 -1
a S(a ) Ì S.
Se um grupo G é abeliano, então todo subgrupo
Como (a-1 )-1 = a , temos a-1Sa Ì S .
de G é normal. Para verificarmos isso, basta
Multiplicando por a à esquerda e por a-1 à
observarmos o item 3 do Lema 1.
direita, obtemos
SÌ aSa-1 ,
Demonstração:
Primeiro, vamos mostrar que a operação dada acima está bem definida. Para
isso, suponhamos que aS= a1S e bS= b1S . Então aa1-1 Î S e bb1-1 Î S . Logo,
26 Estruturas Algébricas
Agora, como S G ,
S
Ì ÎS
-1 -1 -1
aSa = aSa (aa ) Ì S.
1 1
Portanto, ab(a1b1 )-1 Î S , ou seja, (ab)S= (a1b1 )S. Isso mostra que a operação
definida em GS não depende da escolha dos representantes de cada uma das classes.
Vamos mostrar, agora, que GS , com a operação acima definida, é um grupo.
1. A operação é associativa: de fato, se aS, bS, cSÎ GS , então
aS× (bS× cS)= aS× (bc)S= [a(bc)]S= [(ab)c]S=
= (ab)S× cS= (aS× bS) × cS.
2. A operação possui um elemento neutro: a classe S, cujo representante
é 1 (o elemento neutro de G ) ou qualquer outro elemento de S. Basta notar que
aS× S= S× aS= aS,
pela definição de produto de classes.
3. Existe um inverso de cada classe: se aSÎ GS , então (aS)-1 = a-1S , pois
aS× a-1S= aa-1S= S
e S é o elemento neutro de GS .
Finalmente, temos G abeliano se e somente se ab = ba , quaisquer que sejam
a, b Î G . Logo
aS× bS= (ab)S= (ba)S= bS× aS
e GS é abeliano. A recíproca demonstra-se de modo análogo.
Complementando o resultado acima, temos o seguinte:
Se S G , grupo GS é chamado grupo quociente de G por S e denotado
por G / S. Assim, os subgrupos normais exercem na teoria de grupos um papel
especial, pois são os subgrupos que fornecem quocientes com estrutura de grupo.
EXEMPLO:
Consideremos o grupo G = Z dos inteiros com a operação + . Como esse
grupo é abeliano,o item 3 do Lema 1 garante que todo subgrupo de Z é normal. Em
particular, se n Î Z , n > 1 , o subgrupo nZ é normal. Logo, o conjunto das classes
laterais de nZ é um grupo, com a operação (a + nZ) + (b + nZ)= (a + b) + nZ ,
a, b Î Z . Cada uma das classes laterias de nZ em Z corresponde a um dos possíveis
restos da divisão por n . De fato, se a Î Z , podemos dividir a por n e escrever
a = nq + r , onde q, r Î Z e 0 £ r < n ( r é o resto da divisão de a por n ). Assim,
a - r = nq , ou seja, a - r Î nZ . Logo, a + nZ = r + nZ e, assim, toda classe lateral
é do tipo r + nZ , com r variando entre 0 e n- 1 . Usando a notação r = r + nZ
para a classe lateral representada por r , podemos escrever Z / nZ = { 0,1,, n- 1} ,
AULA 2 TÓPICO 1 27
isto é, o grupo quociente é formado pelas classes
laterais correspondentes a nZ e cada uma dessas
classes corresponde a um dos possíveis restos da
sa iba m a is!
divisão por n .
Obtenha mais informações a respeito de
subgrupos normais acessando o link:
Dado um subgrupo qualquer Sde um
http://www.mat.unb.br/~maierr/anotas.pdf
grupo G , o conjunto de suas classes laterais
à esquerda não é, necessariamente, um grupo.
Vimos, neste tópico, que, se o subgrupo for
normal, o conjunto de suas classes laterais à esquerda (ou à direita) é um grupo,
chamado grupo quociente de G por S. Isso dá aos subgrupos normais um papel
central na teoria dos grupos, pois com eles podemos construir grupos novos a
partir de grupos dados.
28 Estruturas Algébricas
TÓPICO 2 Homomorfismos de
grupos
O bjetivos
• Definir e apresentar exemplos de homomorf-
ismo de grupos
• Definir isomorfismo e apresentar o teorema do
isomorfismo
EXEMPLOS:
1. A função p : Z ® Zn , dada por p(a)= a , onde a indica a
classe de equivalência módulo n , é um homomorfismo entre os grupos
aditivos (Z, +) e (Zn , +) . De fato, basta notar que, dados a, bÎ Z , temos
p(a + b) = a + b = a + b = p(a) + p(b) .
2. O conjunto dos números reais positivos, que indicaremos aqui
por R>0 , é um grupo multiplicativo. A função L : R>0 ® R , dada por
AULA 2 TÓPICO 2 29
L(x)= log x , é um homomorfismo do grupo multiplicativo (R>0 ,×) no grupo
aditivo (R, +) . Mais ainda, L é um isomorfismo, isto é, R>0 @ R . De fato,
L(xy)= log(xy) = log(x) + log( y) = L(x) + L( y) , o que mostra que L é um
homomorfismo. Além disso, sabemos, do curso de cálculo 1, que a função logarítmica
é uma bijeção entre R>0 e R , logo temos que L : R>0 ® R é um isomorfismo.
3. A função determinante det : GLn (R) ® R* é um homomorfismo de grupos
multiplicativos. Lembremos que A Î GLn (R) se, e somente se, A é uma matriz
quadrada de ordem n tal que det A ¹ 0 , isto é, det A Î R* . Assim, a função
det : GLn (R) ® R* está bem definida. Uma vez que det(AB) = det(A )det(B) , a
função det : GLn (R) ® R* é um homomorfismo.
A seguir, definiremos dois importantes conjuntos associados a um
homomorfismo de grupos, o seu núcleo e sua imagem, e veremos como é possível
associar a noção de homomorfismo de grupos com a de grupo quociente. Esse é o
conteúdo do Teorema 7, a seguir.
Dado um homomorfismo de grupos f : G ® H , temos f (1G )= 1H , onde 1G
e 1H são os elementos neutros de G e H , respectivamente: por abuso de notação,
denotemos ambos por 1. Então
f (1)= f (1× 1)= f (1)× f (1) Þ f (1)= 1.
-1 -1
Se a Î G , então f (a) = f (a ) . De fato,
f (aa-1 )= f (1)= 1Þ f (a) f (a-1 )= 1Þ f (a-1 )= f (a)-1.
Associados a um homomorfismo de grupos f : G ® H , temos os dois
seguintes conjuntos:
Im( f )= { f (x)| x Î G}
é a imagem de f , também denotada por f (G) .
ker( f )= { x Î G| f (x)= e} ,
onde eÎ H é o elemento neutro da operação de H , é o núcleo de f .
30 Estruturas Algébricas
Demonstração:
Primeiramente, se 1Î G é o elemento neutro, então f (1)= 1Î H , o elemento
neutro de H , logo Im( f ) ¹ Æ . Dados x, y Î Im( f ) , existem a, b Î G tais que
f (a)= x e f (b)= y . Temos:
xy-1 = f (a) f (b)-1 = f (a) f (b-1 )= f (ab-1 ) Î Im( f ),
o que mostra que Im( f ) é subgrupo de H .
Por outro lado, ker( f ) ¹ Æ , pois f (1)= 1 . Se a, b Î ker( f ) , então f (a)= f (b)= 1 ,
logo f (ab-1 )= f (a) f (b-1 )= f (a) f (b)-1 = 1 e isso implica que ab-1 Î ker( f ) . Logo
ker( f ) £ G . Para mostrar que esse subgrupo é normal, consideremos x Î G e
a Î ker( f ) . Temos:
f (xax-1 )= f (x) f (a) f (x-1 )= f (x) f (x)-1 = 1,
o que mostra que xax-1 Î ker( f ) , para todo x Î G e todo a Î ker( f ) . Pelo Lema 5,
ker( f ) G .
Por simplicidade, escrevemos
S= ker( f ) . Seja F : G / S ® Im( f ) , dada por
F(aS)= f (a) . A função F é sobrejetiva, pois
s aiba mais ! seu contradomínio é exatamente Im( f ) .
Obtenha mais informações a respeito de Para mostrarmos que F é injetiva, tomemos
Homomorfismos, acessando o link: aS, bSÎ G / S , tais que F(aS)= F(bS) .
http://www.mat.unb.br/~maierr/anotas.pdf Isso implica que f (a)= f (b) , ou seja,
-1 -1
f (ab )= 1 . Dessa forma, ab Î ker( f )= S ,
isto é, a : b . Portanto, aS= bS e F é
também injetiva, logo é bijetiva. Além disso,
F(aS× bS)= F(abS)= f (ab)= f (a) f (b)= F(aS)F(bS) , o que mostra que F é um
homomorfismo. Sendo um homomorfismo bijetor, F é um isomorfismo.
ATIVIDADES D E A PR O FUN DA M E N T O
AULA 2 TÓPICO 2 31
4. Prove que um grupo G é abeliano se, e somente se, a função f : G ® G dada por f (x)= x2 é um
homomorfismo.
5. Mostre que os grupos multiplicativos R-{ 0} e C-{ 0} não são isomorfos.
6. Sejam Zn = { 0,1,, n- 1} e Rn = { z Î C| zn = 1} . Verifique que (Zn , +) e (Rn ,×) são grupos
isomorfos. ( Sugestão: exiba um homomorfismo bijetor f : Zn ® Rn ).
7. Seja V um espaço vetorial de dimensão n sobre R e { v1 ,, vn } um conjunto de vetores linearmente
independentes em V .
(a) Verifique que o conjunto V com a adição de vetores é um grupo abeliano.
(b) Se t Î { 1,, n} e Vt = { n1v1 + nt vt | nt Î Z} , mostre que
{ 0} £ V1 £ V2 £ £ Vn-1 £ Vn = V ,
onde `` £ ’’ indica ``subgrupo de’’. Dizemos que Vt é gerado por v1 ,, vt e indicamos V = v1 ,, vt .
(c) Seja V = R2 = { (x, y)| x, y Î R} , com a soma definida por (x, y) + (x ¢, y¢)= (x + x ¢, y + y¢) .
Represente os subgrupos S1 = (1,0),(0,1) e S2 = (2,0,),(1,1) graficamente.
(d) Considere em R2 a relação º definida por
(a, b) º (c, d) Û (a, b) - (c, d) Î S1
(veja o item anterior). Verifique que º é uma relação de equivalência.
(e) Denote por T1 o conjunto das classes de equivalência de º , isto é, T1 = { (a, b)| (a, b) Î R2 } .
Verifique que a soma de classes
(a, b) + (c, d)= (a + c, b + d)
(T
está bem definida. 1 , +) é um grupo?
8. Seja G o grupo multiplicativo de todas as matrizes n´ n não singulares (isto é, matrizes com determinante
diferente de zero). Mostre que o conjunto das matrizes com determinante igual a 1 é um subgrupo normal
de G .
Seja G um grupo cíclico de ordem n , ou seja, G = a , onde an = 1 e ak ¹ 1, se 1£ k £ n - 1. Considere
a função f : Z ® G dada por f (n)= an .
(a) Mostre que f é um homomorfismo sobrejetor.
(b) Determine o núcleo de f .
(c) Use o teorema dos isomorfismos para mostrar que G; Zn (isto é, todo grupo cíclico finito é isomorfo
a Zn onde n =| G| ).
9. Refaça a questão anterior, supondo agora que G é cíclico infinito. Conclua que todo grupo cíclico infinito
é isomorfo a Z .
-1
10. Seja G um grupo e a Î G fixado. Defina f : G ® G pondo f (x)= axa . Mostre que f é um
isomorfismo (chamamos um isomorfismo deste tipo de conjugação).
11. Mostre que um subgrupo H de G é normal se e somente se f (H ) Ì H , para toda conjugação f de
G (veja o exercício anterior).
32 Estruturas Algébricas
12. Dados a, b Î G , o comutador de a e b é o elemento a-1b-1ab Î G , denotado por [a, b] . O subgrupo
dos comutadores de G é definido como o subgrupo de G gerado pelos [a, b] , ou seja,
G¢ = { [a, b]| a, b Î G} .
(a) Mostre que G¢ G (sugestão: use a questão anterior).
(b) Mostre que, se H G , então G / H é abeliano se e somente se G¢ Ì H .
(c) Mostre que, se H £ G e G¢ Ì H , então H G .
AULA 2 TÓPICO 2 33
AULA 3 Anéis, subanéis e
ideais
Olá aluno(a),
Objetivos
34 Estruturas Algébricas
TÓPICO 1 Definição e exemplos
O bjetivos
• Compreender o conceito de anéis e reconhecer seus
exemplos
• Observar alguns casos especiais de anéis, em particular,
os corpos e os domínios de integridade, identificando
exemplos
• Obter algumas propriedades básicas da estrutura de anel
AULA 3 TÓPICO 1 35
1. A soma é associativa:
(a + b) + c = a + (b + c) , quaiquer que
sejam a, b, c Î A .
2. A soma é comutativa: a + b = b + a , at e n ç ão!
para quaisquer a, b Î A .
O elemento inverso aditivo de um elemento
3. Existe elemento neutro para a soma: a Î A é único. De fato, se b, b¢ Î A são tais que
existe eÎ A tal que e+ a = a + e= a , a + b = 0= b¢ + a , então
para todo a Î A . b¢ = b¢ + 0= b¢ + (a + b)=
.
4. Existe elemento inverso para a = (b¢ + a) + b = 0 + b = b
soma: dado a Î A , existe b Î A tal que Esse único elemento inverso aditivo de a é
36 Estruturas Algébricas
10. Um anel comutativo com unidade A é chamado corpo se vale a existência
de inverso para o produto: dado a Î A , a ¹ 0 , existe b Î A tal que
a × b = b× a = 1 . Observação: é possível demonstrar que esse elemento inverso
b Î A é único. Usamos a notação a-1 .
EXEMPLOS:
ïìïçæa bö÷ üï
1. O conjunto M 2 (R)= íç ÷÷| a, b, c, d Î Rýï , com a soma e o produto
ïïîçè c d÷ø ïïþ
æ1 0÷ö
de matrizes, é um anel associativo com unidade 1= çç ÷ , mas não é
çè0 1÷÷ø
comutativo. O anel M 2 (R) também não é domínio de integridade, pois, por
æ0 1÷ö æ1 0÷ö æ0 0÷ö
exemplo, çç ÷ × çç ÷ = çç ÷= 0.
çè0 0÷÷ø èç0 0÷÷ø èç0 0÷÷ø
2. O conjunto dos inteiros pares 2Z= { 0, ±2, ±4, ±6,} é um anel comutativo
sem elemento unidade.
3. O conjunto Z dos inteiros, com a soma e o produto usuais de inteiros,
é um domínio de integridade, mas não é corpo, pois, por exemplo, 2 Î Z ,
2 ¹ 0 , mas não existe bÎ Z tal que 2b = 1 .
4. Q, R e C são corpos.
5. O conjunto Z6 = { 0,1,2,3,4,5} munido da soma e do produto módulo 6 é
um anel comutativo com unidade, mas não é um domínio. De fato, 2 ¹ 0 ,
3 ¹ 0 e 2× 3= 0 (módulo 6).
6. Se a Î Z é um inteiro livre de quadrados, ou seja, se a não é divisível pelo
quadrado de um inteiro, então Z[ a ] = { a + b a | a, b Î Z} é, com a soma e
o produto de números reais, um domínio. De fato, se a + b a e c + d a
são elementos de Z[ a ] , então (a + b a ) + (c + d a )= (a + c) + (b + d) a
e (a + b a )(c + d a )= (ac + bda ) + (ad + bc) a são elementos de Z[ a ] .
AULA 3 TÓPICO 1 37
7. Se a Î Q é livre de quadrados, isto é, se pode ser escrito como uma
fração onde numerador e denominador são inteiros livres de quadrados,
então Q[ a ] = { a + b a | a, b Î Q} é um corpo. As condições de 1 até 8 da
definição de anel podem ser verificadas de modo análogo ao do exemplo
anterior. Quanto à condição 10, basta notarmos que
a b
(a + b a )-1 = - 2 a,
a - b a a - b2a
2 2
Demonstração:
Se A é um corpo e a, b Î A são tais que a × b = 0 e a ¹ 0 , então existe
-1
a Î A tal que a-1a = 1 . Logo, multiplicando a × b = 0 por a , obtemos
-1
Demonstração:
1. a0= a(0 + 0)= a0 + a0 , logo a0 + (-a0)= a0 e, portanto, 0= a0 .
Analogamente, 0a = 0 .
38 Estruturas Algébricas
2. 0= a0= a(b + (-b))= ab + a(-b) , logo a(-b)= -ab . Analogamente,
(-a)b = -ab .
3. a(b - c)= a(b + (-c))= ab + a(-c)= ab - ac . Analogamente,
(a - b)c = ac - bc .
Seja a1 ,, an uma sequência de elementos de um anel A . Definimos o
produto desses elementos indutivamente, pondo:
1
Õa = a ,
i =1
i 1
k æ k-1 ö÷
çç a ÷ a ,
Õ
i =1
ai =
èçÕ i÷ k
i =1 ø
para todo k , 2 £ k £ n .
k
O símbolo Õ a indica o produto de a1 ak e é denominado produtório.
i =1 i
æ m ö÷ æ n ö÷ m+n
çç a ÷ × çç a ÷ = a .
çèÕ i
÷ çÕ i ÷ Õ
i =1 ø è i =1 ø i =1
i
n
an = aa.
n
De modo análogo, (-n)a = (-a) + + (-a) e, caso exista o inverso a-1 de a
n
-1 -1
em A , a = (a )(a ) . Se m e n são inteiros positivos e a e b são elementos
-n
de um anel, temos:
1. aman = am+n .
2. (am )n = amn .
3. ma + na = (m + n)a .
4. m(na)= (mn)a = n(ma) .
5. (ma)(nb)= (mn)ab = (na)(mb) .
AULA 3 TÓPICO 1 39
Encerramos aqui este primeiro tópico sobre anéis, em que estudamos a
definição de anel, vimos que domínios de integridade e corpos são tipos especiais
de anéis comutativos com unidade, e vimos também que todo corpo é domínio
de integridade. Além disso, tivemos a oportunidade de exibir alguns exemplos
importantes de anéis e verificar a validade das propriedades básicas das operações
de soma e produto em um anel, decorrentes diretamente da definição.
40 Estruturas Algébricas
TÓPICO 2 Subanéis e ideais
O bjetivos
• Definir e exibir exemplos de subanéis
• Conceituar ideais
Demonstração:
Se S é um subanel de A , então as condições 1 e 2 são consequências da
definição de anel. Reciprocamente, suponhamos que valem as condições 1 e 2. A
condição 2 nos diz que o produto de dois elementos de S pertence a S, logo
AULA 3 TÓPICO 2 41
podemos restringir o produto de A a S. A
associatividade e a comutatividade da soma e
do produto, e também a distributividade, valem
em S porque valem em A e SÌ A . Precisamos at e n ç ão!
mostrar que o elemento neutro da soma 0 Î A
A condição 1 do Lema 3 coincide com uma das
pertence, de fato, a S. Como S não é vazio, existe condições para que um subconjunto de um
a Î S . Pela condição 1, temos 0= a - a Î S , grupo seja um subgrupo. A diferença é apenas na
como queríamos demonstrar. Mais ainda, se notação: a - b é o análogo de ab-1 se a operação
a Î S , então -a = 0 - a Î S , novamente pela de produto for substituída pela de soma.
condição 1. Finalmente, dados a, b Î S , temos
a + b = a - (-b) Î S , logo podemos restringir a
soma de A ao subconjunto S.
EXEMPLOS:
1. Z é subanel unitário de Q.
2. Seja F[0,1] o anel formado por todas as funções f : [0,1] ® R , com a soma
e o produto dados, respectivamente, por
( f + g)(t )= f (t ) + g(t ),
( fg)(t )= f (t ) g(t ).
42 Estruturas Algébricas
constante 1: [0,1] ® R , dada por 1(t )= 1 , para todo t Î [0,1] , é contínua, o subanel
C[0,1] é unitário.
3. O subconjunto 2Z Ì Z , formado pelos inteiro pares, é um subanel do anel
Z que não é unitário. De fato, 1Î Z , sendo ímpar, não pertence a 2Z.
4. S= { 0,2,4} Ì Z6 é subanel de Z6 , o que pode ser verificado de modo direto
usando-se o Lema 3.
Demonstração:
Seja n = car(D) . Se n = 0 , nada há a demonstrar. Vamos mostrar que, se
n ¹ 0 , então n é um número primo. De fato, se 1Î K é a identidade, então n× 1= 0
e n é o menor inteiro positivo que satisfaz essa igualdade. Se n não fosse primo,
então poderíamos escrever n = ab , com a, bÎ Z e 1< a < n e 1< b < n . Assim
n× 1= 0 implicaria (ab) × 1= 0 , ou seja, (a × 1)(b× 1)= 0 . Como D é domínio, essa
última igualdade implicaria a× 1= 0 ou b× 1= 0 , o que iria contra a minimalidade
AULA 3 TÓPICO 2 43
de n . Assim, não é possível obter-se uma decomposição de n como produto de
fatores menores do que n , o que mostra que n é primo.
Vamos, agora, definir o importante conceito de ideal. O estudo de ideais
começou com os trabalhos de Kronecker e Dedekind em meados do século XIX,
em conexão com estudo da unicidade da fatoração de um número como produto
de primos anéis mais gerais do que o anel dos inteiros. Com o passar do tempo, a
noção de ideal mostrou-se central na teoria dos anéis e encontrou aplicações em
geometria, teoria dos números e análise.
Um subconjunto não-vazio I de um anel (comutativo com unidade) A é
chamado ideal de A se valem as seguintes condições:
1. Se a, b Î I , então a - b Î I .
2. Se a Î I e a Î A , então aa Î I .
Note que, pelo Lema 3, todo ideal é um subanel. Mas nem todo subanel é
um ideal, visto que a condição 2 exige que o produto de um elemento a Î I por
qualquer elemento a Î A esteja em I . Mais explicitamente, podemos exibir como
exemplo o subanel Z de R. É claro que, se a Î R e a Î Z , o produto aa não
pertence, necessariamente, a Z. Basta considerar, por exemplo, a = 2 .
Exemplos:
1. Todo subanel do anel Z é um ideal de Z. Para verificar isso, basta notar
que, se S é subanel de Z, a Î S e nÎ Z , então
ïìï a + + a se n > 0
ïï
na = í 0 se n = 0
ïï
ïïî(-a) + + (-a) se n < 0
Em qualquer um dos três casos, na Î S , logo S é um ideal de Z.
44 Estruturas Algébricas
Demonstração:
1. Se I Ì A é um ideal de A e 1Î I , então para cada a Î A , a = a × 1Î I ,
ou seja, A Ì I , logo I = A .
2. Seja I Ì A um ideal de um corpo A e suponha que I ¹ { 0} . Então existe
a Î I , a ¹ 0 . Como A é um corpo, a ¹ 0 implica que existe a Î A tal que aa = 1 .
Isso implica que 1= aa Î I e, pelo item 1, I = A .
Dados a1 ,, an Î A , o conjunto
(a1 ,, an )= { a1t1 + + ant n | t i Î A}
é um ideal de A , chamado ideal gerado por a1 ,, an . De fato, dados
x, y Î (a1 ,, an ) e a Î A , temos que x = a1t1 + + ant n e y = a1u1 + + anun ,
com t i , ui Î A . Logo, x - y = a1 (t1 - u1 ) + + an (t n - un ) Î (a1 ,, an ) e
ax = a1(at1 ) + + an (at n ) Î (a1,, an ) .
Um ideal gerado por um número finito de elementos é chamado ideal
finitamente gerado. Um ideal gerado por um único elemento, ou seja, um ideal
do tipo
(a)= aA = { at | t Î A}
é chamado ideal principal de A .
Encerramos, aqui, nosso segundo tópico, sobre subanéis e ideais. Vimos
sua definição, alguns exemplos e alguns resultados básicos sobre subanéis e ideais
em anéis comutativos com unidade. No próximo tópico, estudaremos dois tipos
especiais de ideais: os primos e os maximais.
AULA 3 TÓPICO 2 45
TÓPICO 3 Ideais primos e
maximais
O bjetivos
• Definir e exibir exemplos de ideais primos e maximais
• Estudar os ideais primos no anel dos números inteiros
46 Estruturas Algébricas
conjunto dos múltiplos de m ( mZ= { mk| k Î Z} ). Ideais formados pelos múltiplos
de um elemento são chamados ideais principais e serão estudados na aula 5.
Teorema6
1. Se I = mZ e J = nZ são dois ideais de Z, então I Ì J se, e somente se, n| m.
2. Um ideal P de Z é primo se, e somente se, P = pZ , com pÎ Z primo.
3. Um ideal P de Z é primo se, e somente se, é maximal.
Demonstração:
1. I Ì J é equivalente a mZ Ì nZ . Em particular, m Î mZ Ì nZ , ou seja,
m é um múltiplo de n , isto é, n| m . Reciprocamente, se n| m , então m = nk ,
com k Î Z . Assim, se a Î mZ , então a = mc , onde cÎ Z , logo a = n(kc) , ou seja,
a Î nZ , o que mostra que mZ Ì nZ .
2. Dados a, bÎ Z , tais que ab Î pZ , temos que ab é um múltiplo de p ,
ou seja, p| ab . Como p é primo, p| ab implica p| a ou p| b , logo a Î pZ
ou b Î pZ . Isso mostra que pZ é primo para p primo. Reciprocamente, se P
é um ideal primo de Z, então, pelo exemplo acima, P = nZ, com nÎ Z . Vamos
mostrar que n é primo. De fato, se n = ab , com a, bÎ Z , então ab = n Î nZ= P .
Como P é ideal primo, ab Î P implica que a Î P ou b Î P . Se a Î P = nZ , então
n| a . Porém, n = ab , implica que a| n , ou seja, n = ±a e b = ±1 . Caso b Î P , um
raciocínio análogo mostra que a = ±1 . Portanto, a única decomposição possível
n = ab , para n , é a trivial, isto é, com a = ±1 ou b = ±1 . Isso mostra que p é
primo.
3. Se M = mZ é um ideal maximal de Z, então m é primo, do contrário,
existiria n > 1 inteiro tal que n| m e, daí, M = mZ Ì nZ Ì Z (inclusões estritas), o
que não é possível, pois M é maximal. Sendo m primo, pelo item 2, M = mZ é um
ideal primo. Reciprocamente, seja P = pZ um ideal primo e suponha que P Ì I Ì A ,
onde I = aZ é um ideal de Z. Se a primeira inclusão for estrita, então pZ Ì aZ
implica que a| p, mas p| a . Como p é primo, os únicos divisores positivos de p
são 1 e p . Uma vez que p| a , temos a ¹ p . Logo a = 1 e I = aZ= Z . Isso mostra
que P = pZ é maximal.
AULA 3 TÓPICO 3 47
O Teorema 6 justifica o nome ideal primo, pois, em Z, os ideais primos são
exatamente aqueles do tipo pZ , em que p é um número primo. A situação do
Teorema 6 não se repete em geral, como vemos no exemplo a seguir.
EXEMPLO:
Seja A = Z[x ] , o anel de polinômios com coeficientes em Z, na indeterminada
x . O conjunto
I = (x)= { xf (x)| f (x) Î Z[x ]} = { g(x) Î Z[x ]| g(0)= 0} ,
formado pelos múltiplos de x , ou seja, pelos polinômios que têm coeficiente a0 = 0 ,
é um ideal primo de A que não é maximal em A . De fato, se g(x), h(x) Î Z[x ]
são tais que g(x)h(x) Î I , então g(0)h(0)= 0 . Como Z é um domínio, g(0)h(0)= 0
implica que g(0)= 0 ou h(0)= 0 , ou seja, g(x) Î I ou h(x) Î I , o que mostra que
I é primo.
Por outro lado, I está contido propriamente no ideal
J = (2, x)= { 2f (x) + xg(x)| f (x), g(x) Î Z[x ]} = { h(x) Î Z[x ]| h(0)épar } .
Isso é claro, pois 0 é par, logo p(x) Î I implica que p(0)= 0 , em particular,
p(0) é par, o que por sua vez, implica que p(x) Î J . Mais ainda, o ideal J é
próprio, ou seja, J ¹ A . Par comprovar isso, basta notar que q(x)= 1+ x Î A , mas
q(x) Î
/ J , pois q(0)= 1 é ímpar. Assim, encontramos um ideal J tal que I Ì J Ì A
(inclusões estritas) e isso mostra que I não é maximal.
Dessa forma, nem todo ideal primo em um anel qualquer A é maximal.
Porém, a recíproca dessa afirmação é válida, como veremos a seguir.
Demonstração:
Seja M um ideal maximal e sejam a, b Î A tais que ab Î M .
Supondo que a Î
/ M , vamos mostrar que b Î M . Considere, para isso, o ideal
I = { ay + m| y Î A, m Î M } . Temos que M Ì I Ì A , com a Î I . Como, por
hipótese, a Î
/ M , temos que a inclusão M Ì I é estrita. Logo, por ser M maximal,
devemos ter I = A . Em particular, 1Î I , ou seja, 1= ay + m , para algum y Î A e
algum m Î M . Multiplicando essa última igualdade por b , obtemos b = aby + bm .
Como, por hipótese, ab Î M e m Î M , temos que b = aby + bm Î M , como
queríamos demonstrar.
48 Estruturas Algébricas
Com esse resultado, encerramos nosso terceiro tópico e a aula 3. Nesta aula,
começamos a estudar a importante estrutura algébrica de anel e vimos que existem
tipos especiais de anéis: os domínios de integridade e os corpos. Vimos que todo
corpo é um domínio de integridade, que a um anel podemos associar um número
inteiro não negativo, chamado característica do anel, que é primo, ou zero, sempre
que o anel for um domínio. Vimos que existem subconjuntos de um anel que têm
ainda estrutura de anel, são chamados de subanéis. Dentre os subanéis há alguns
de especial importância, chamados ideais e, dentre os ideais, vimos dois tipos que
também são bastante importantes: os ideais primos e os ideais maximais.
Na próxima aula, estudaremos as funções naturais que podem ser definidas
entre anéis e os anéis que podem ser formados a partir de quocientes de anéis por
ideias.
atividade de a pr o fuda m e n t o
1. Dado um corpo K , seja
ïì f (x) ïü
K(x)= ïí | f (x), g(x) Î K[x ], g(x) ¹ 0ïý.
ïîï g(x) ïþï
f (x) h(x) f (x)(x) + g(x)h(x) e f (x) h(x) f (x)h(x) , K(x) é um
Com as operações + = × =
g(x) (x) g(x)(x) g(x) (x) g(x)(x)
anel. Mostre que K(x) é um corpo, chamado, corpo das funções racionais sobre K .
AULA 3 TÓPICO 3 49
4. Dado um anel A , seja A[x ] = { a0 + a1x + + anxn | n Î N, ai Î A} o anel dos polinômios
2
na indeterminada x com coeficientes em A . Dado f (x)= a0 + a1x + a2x + + anx Î A[x ] ,
n
50 Estruturas Algébricas
AULA 4 Homomorfismo
de anéis
Olá aluno(a),
Objetivos
AULA 4 51
TÓPICO 1 Definições e
exemplos
O bjetivos
• Estabelecer a noção de homomorfismo de anéis
• Citar exemplos de homomorfismos de anéis
• Definir núcleo e imagem de um homomorfismo de anéis
E
homomorfismos
stabeleceremos, neste primeiro
tópico,
os
de
a
resultados
nomenclatura
anéis.
dois conjuntos básicos, associados a um
básicos sobre
Definiremos
e
sa iba m a is!
Para mais informações sobre homomorfismo
de anéis, acesse o link http://www.mat.
homomorfismo, seu núcleo e sua imagem,
uc.pt/~picado/algebraII/0405/Apontamentos/
e veremos uma série de exemplos de
aula4.pdf
homomorfismos de anéis.
Consideremos dois anéis, não
necessariamente comutativos nem com unidade, (A, +,×) e (B, Å, Ä) . Uma função
f : A ® B é chamada homomorfismo de anéis, ou homomorfismo entre os
anéis A e B, se
f (a + b)= f (a) Å f (b),
52 Estruturas Algébricas
No caso em que A e B são anéis com
unidade, se 1A e 1B denotam os elementos
neutros do produto em A e B, respectivamente,
atenção! então dizemos que o homomorfismo f : A ® B é
A partir daqui, sempre que considerarmos um unitário se
homomorfismo f : A ® B entre dois anéis com f (1A )= 1B.
unidade, iremos supor que esse homomorfismo É claro que aqui também podemos, para
é unitário. evitar sobrecarga na notação, suprimir os índices
e escrever
f (1)= 1.
Demonstração:
Para demonstrarmos 1, precisamos verificar que, dados a, b Î A ,
( g f )(a + b)= ( g f )(a) + ( g f )(b) e ( g f )(a × b)= ( g f )(a) × ( g f )(b) . Faremos
isso apenas para a primeira igualdade, sendo a segunda inteiramente análoga.
Temos, então,
( g f )(a + b)= g( f (a + b))= g( f (a) + f (b)),
pois f é homomorfismo. Logo,
( g f )(a + b)= g( f (a) + f (b))= g( f (a))= g( f (b)),
pois g também é homomorfismo. Mas isso é exatamente o que queríamos
demonstrar. Além disso, se f e g forem unitários, então g( f (1))= g(1)= 1, o que
mostra que g f também é unitário.
Vamos demonstrar 2. Para isso, seja f -1 : B ® A a inversa da função f ,
que sabemos que existe, pois estamos supondo f bijetora. Dados x, y Î B ,
f
existem a, b Î A tais que f (a)= x e f (b)= y , pois é sobrejetora. Temos, então,
f -1 (x + y)= f -1 ( f (a) + f (b))= f -1( f (a + b))= a + b = f -1 (x) + f -1 ( y) . De modo
-1 -1 -1 -1 -1
análogo, temos: f (xy)= f ( f (a) f (b))= f ( f (ab))= a + b = f (x) f ( y) . Isso
mostra que f -1 é um homomorfismo. Como f (1)= 1 implica f -1 (1)= 1 , temos,
ainda, que f unitário implica f -1 unitário.
AULA 4 TÓPICO 1 53
No caso do item 2 do Teorema 1 acima, ou seja, quando f : A ® B é um
homomorfismo bijetor, dizemos que f é um isomorfismo de anéis, Dizemos,
ainda, que A e B são isomorfos e indicamos o isomorfismo entre eles com a
notação A @ B .
Demonstração:
(a) f (0)= f (0 + 0)= f (0) + f (0) , o que implica f (0)= 0 .
(b) Dado a Î A , f (a + (-a))= f (0)= 0 , pelo item (a). Como f é
homomorfismo, f (a) + f (-a)= f (a + (-a))= 0 , logo, f (-a)= - f (a) , como
queríamos.
(c) Dados a, b Î ker f , f (a)= 0 e f (b)= 0 . Logo,
f (a + b)= f (a) + f (b)= 0 + 0= 0 , o que implica a + b Î ker f . Se, a Î A e
a Î ker f , então f (aa)= f (a ) f (a)= f (a ) × 0= 0 , o que implica que aa Î ker f .
Portanto, pela definição de ideal, dada na aula 3, tópico 2, ker f é ideal de A .
(d) Usaremos aqui, o Lema 3 da aula 3. Dados x, y Î Im f , existem
a, b Î A tais que f (a)= x e f (b)= y . Assim, x - y = f (a) - f (b) . Pelo item (b),
- f (b)= f (-b) , logo x - y = f (a) + f (-b)= f (a + (-b)) , pois f é homomorfismo.
Portanto, x - y = f (a - b) , o que mostra que x - y Î Im f . Por outro lado,
xy = f (a) f (b)= f (ab) , pois f é homomorfismo. Logo, xy Î Im f .
EXEMPLO 1:
Dado um número inteiro n , n > 1 , seja Zn = { 0,1,, n- 1} o anel
das classes de restos módulo n . A função f : Z ® Zn , dada por f (k)= k ,
54 Estruturas Algébricas
é um homomorfismo de anéis. De fato, f (a + b)= a + b = a + b = f (a) + f (b)
e f (ab)= a × b = a × b = f (a) f (b) . Esse homomorfsmo é unitário, pois f (1)= 1 .
Dado a Î Zn , temos a = f (a) , logo Im f = Zn . O núcleo de f é dado por
ker f = { k Î Z| f (k)= 0} . Como f (k)= 0 é equivalente a k = 0 , temos que k Î Zn
se, e somente se, k = 0 , isto é, se e somente se, n| k . Dessa forma, ker f = nZ ,
conjunto dos múltiplos de n . Já vimos, na aula 3, que esse conjunto é um ideal.
Vale observar que, pelo Teorema 2, item (c), nZ = ker f implica diretamente que
nZ é um ideal de Z . Em geral, podemos usar esse argumento para mostrar que
um dado subconjunto I de um anel A é ideal desse anel: basta encontrar um
homomorfismo f : A ® B cujo núcleo seja I .
EXEMPLO 2:
Sabemos que o corpo dos números complexos pode ser representado
pelo conjunto C = { (a, b)| a, b Î R} de pares ordenados de números reais, com
as operações (a, b) + (c, d)= (a + c, b + d) e (a, b) × (c, d)= (ac - bd, ad + bc) .
A função f : R® C , dada por f (x)= (x,0) , é um homomorfismo
injetor. De fato, f (x + y)= (x + y,0)= (x,0) + ( y,0)= f (x) + f ( y) e
f (xy)= (xy,0)= (x,0) × ( y,0)= f (x) f ( y) . Para a injetividade, basta ver que
f (x)= f ( y) implica que (x,0)= ( y,0) , ou seja, x = y . Mais adiante veremos
que a injetividade decorre de um resultado mais geral. A existência desse
homomorfismo injetor f : R ® C é expressa dizendo-se que R pode ser imerso em
C. Interpretamos tal homomorfismo como uma inclusão e escrevemos R Ì C , mas,
na verdade, R não está contido em C . O que ocorre, na verdade, é que R;Im f e
Imf Ì C . Costumamos dizer, também, que R possui uma cópia contida em C (no
caso, essa cópia é Imf ).
EXEMPLO 3:
Seja Q[x ] o anel dos polinômios na indeterminada x , com coeficientes em
Q e considere a função f : Q[x ] ® R dada por f ( p(x))= p( 2) . Por exemplo,
f (1+ x2 )= 1+ ( 2)2 = 3 , f (2x + 1)= 2 2 + 1 , f (x3 + x + 1)= 8 + 2 + 1 .
A função f é um homomorfismo de anéis. Para verificarmos isso,
observemos que, se p(x) e q(x) são polinômios com coeficientes
racionais, então f ( p(x) + q(x))= p( 2) + q( 2)= f ( p(x)) + f (q(x)) e
f ( p(x)q(x))= p( 2)q( 2)= f ( p(x)) f (q(x)) . O homomorfismo f é chamado
homomorfismo de avaliação em 2 . O núcleo de f é formado pelos
polinômios de Q[x ] que se anulam em 2 , ou seja, p(x) Î ker f se, e somente
AULA 4 TÓPICO 1 55
se, p( 2)= 0 . Por exemplo, x2 - 2 Î ker f . Dado p(x) Î ker f , podemos escrever
p(x)= (x2 - 2)q(x) + r (x) , onde r (x) é um polinômio de grau 1 (faremos um estudo mais
aprofundado sobre polinômios na aula 6). Assim, podemos escrever r (x)= a + bx ,
com a, b Î Q . Como p( 2)= 0 , temos 0= p( 2)= (( 2)2 - 2)q( 2) + r ( 2) , ou
seja, r ( 2)= 0 , o que significa que a + b 2 = 0 . Se b ¹ 0 , então poderíamos
a
escrever 2 = - Î Q , o que é absurdo, pois 2 não é racional. Por essa razão,
b
b = 0 e a + 0× 2 = 0 , o que implica a = 0 . Consequentemente, r (x)= 0 (polinômio
identicamente nulo) e p(x)= (x2 - 2)q(x) . Acabamos de mostrar que todo elemento
p(x) de ker f é múltiplo de x2 - 2 . Portanto ker f Ì (x2 - 2) , o ideal gerado pelo
polinômio x2 - 2 . Como x2 - 2 Î ker f , a outra inclusão também ocorre e vale a
igualdade ker f = (x2 - 2) .
Demonstração:
Se f é injetiva e x Î ker f , então f (x)= 0= f (0) , logo x = 0 . Reciprocamente,
se ker f = { 0} e x, y Î A são tais que f (x)= f ( y) , então f (x) - f ( y)= 0 , isto é,
f (x - y)= 0 . Isso implica que x - y Î ker f = { 0} , ou seja, x = y .
A injetividade do homomorfismo, no caso do exemplo 2 acima, vale em um
contexto mais geral. De fato, temos o seguinte resultado.
56 Estruturas Algébricas
Demonstração:
Suponha que não ocorre o primeiro caso, isto é, f não é identicamente
nulo. Então ker f é um ideal próprio de K , ou seja, ker f ¹ K . Como K é um
corpo, seus únicos ideais são { 0} e K e ker f ¹ K , temos, necessariamente, que
ker f = { 0} . Pelo Teorema 3, f é injetor.
Com esse resultado, finalizamos nosso primeiro tópico. Vimos aqui a definição
de homomorfismo de anéis, suas propriedades básicas e alguns exemplos. Vimos
ainda que, associados a um homomorfismo de anéis, f : A ® B é um ideal de A ,
o núcleo de f , e um subanel de B, a imagem de f , e que podemos caracterizar a
injetividade e a sobrejetividade de f por meio desse ideal e desse subanel.
AULA 4 TÓPICO 1 57
TÓPICO 2 Anel quociente
O bjetivos
• Definir anel quociente
• Caracterizar ideais primos e maximais por meio de anéis
quocientes
58 Estruturas Algébricas
Demonstração:
Dado a Î A , temos a - a = 0 Î I , logo a º a e a relação é reflexiva.
Se a, b Î A são tais que a º b , então a - b Î I , logo b - a = (-1)(a - b) Î I ,
ou seja, b º a e a relação é simétrica. Finalmente, se a º b e b º c , então a - b Î I
e b - c Î I . Somando, obtemos a - c = (a - b) + (b - c) Î I , ou seja, a º c e a
relação é transitiva.
Dado a Î A , o conjunto dos elementos de A que são congruentes a a ,
módulo I é denotado por a . Assim,
a = { x Î A | x º a} = { x Î A | x - a Î I } .
É claro que a Î a . O conjunto a é chamado classe de equivalência módulo
I e também é denotado por a + I , sendo essa última notação bem mais sugestiva,
pois podemos ver cada classe de equivalência como uma “translação”’ do ideal I .
O elemento a é chamado representante da classe. Em geral, qualquer elemento de
a pode ser escolhido como um representante de a , pois b Î a implica que b = a .
EXEMPLO:
Se A = Z e I = 5Z , o ideal formado pelos múltiplos de 5, então a e b ,
inteiros, são equivalentes se, e somente se, a - b Î 5Z , isto é, 5| a - b . Dado a Î Z
, temos a = 5k + r , onde r Î { 0,1,2,3,4} é o resto da divisão de a por 5. Como só
há cinco possibilidades para o resto r dessa divisão e a - r = 5k Î Z , temos que
a Î r , e Z = 0 È 1È 2 È 3 È 4 .
O conjunto formado pelas classes de equivalência relativas a I é chamado
conjunto quociente e é denotado por A / I . Explicitamente, temos:
A / I = { a| a Î A} = { a + I | a Î A} .
Para que o conjunto quociente A / I
ganhe estrutura de anel, devemos definir sobre
ele duas operações:
g uarde bem i s s o ! • SOMA: a + b = a + b , e
Boa definição: Devemos notar que tanto a soma • PRODUTO: a × b = a × b .
quanto o produto de classes de equivalência são
definidos usando-se os representantes dessas É preciso mostrar que essas operações
classes. Assim, faz sentido perguntar se essas estão bem definidas, e desse modo não dependem
operações realmente independem das escolhas das escolhas dos representantes das classes, e
desses representantes. Para esclarecer esse ponto, também satisfazem as condições da definição de
exibimos um exemplo. anel.
AULA 4 TÓPICO 2 59
EXEMPLO:
Consideremos A = Z e I = 5Z , como no exemplo acima. Observemos as
seguintes igualdades entre classes: 1= 6 e 3= 8 . Se calcularmos a soma 1+ 3 ,
obteremos 1+ 3= 1+ 3= 4 . Por outro lado, 6 + 8= 14 , mas 14= 4 , pois 14 - 4= 10 ,
que é múltiplo de 5. Da mesma forma, 1× 3= 3 e 6× 8= 48= 3 , pois 48 - 3= 45 ,
que é múltiplo de 5. Logo, nesse caso particular, a soma e o produto não dependem
dos representantes escolhidos. Iremos, a seguir, mostrar que essa independência
vale sempre.
Fixado um anel A e um ideal I de A , sejam a1 , a2 , b1 , b2 Î A tais que
a1 - a2 Î I e b1 - b2 Î I , ou seja, a1 = a2 e b1 = b2 . Queremos mostrar que
a1 + b1 = a2 + b2 . Isso é equivalente a mostrar que a1 + b1 = a2 + b2 . Veja que
(a1 + b1 ) - (a2 + b2 )= (a1 - a2 ) + (b1 - b2 ) Î I , logo a1 + b1 = a2 + b2 , como
queríamos demonstrar. Para o produto, queremos mostrar que a1 × b1 = a2 × b2 . Temos
o seguinte: a1b1 - a2b2 = a1b1 - a1b2 + a1b2 - a2b2 = a1 (b1 - b2 ) + b2 (a1 - a2 ) Î I , pois
a1 - a2 Î I , b1 - b2 Î I e I é um ideal. Assim, a1b1 = a2b2 , o que é equivalente à
igualdade a1 × b1 = a2 × b2 , como queríamos demonstrar.
60 Estruturas Algébricas
No caso em que A é um anel com unidade 1Î A , o anel A / I também
possui um elemento neutro para o produto: 1. De fato, 1× a = 1× a = a = a × 1= a × 1 .
AULA 4 TÓPICO 2 61
Isso significa que a ¹ 0 e, como A / I é corpo, existe y Î A / I tal que a × y = 1 ,
ou seja, 1- ay = x Î I . Agora, x Î I Ì J e a Î J implicam que 1= x + ay Î J . Pelo
Teorema 6, item 1, da aula 3, temos J = A . Isso mostra que I é maximal.
Com esse resultado, encerramos nosso segundo tópico, que tratou da
construção de um anel quociente a partir de um anel e de um ideal desse anel.
62 Estruturas Algébricas
TÓPICO 3 O teorema fundamental dos
homorfismos de anéis
O bjetivos
• Identificar o teorema fundamental dos homomorfismos
de anéis
• Reconhecer algumas aplicações desse teorema
Demonstração:
Vamos exibir um isomorfismo entre A / ker f e Imf . Mais explicitamente,
seja F : A / ker f ® Im f dada por
F(a)= f (a).
AULA 4 TÓPICO 3 63
Vamos mostrar que F é um homomorfismo bijetor.
Em primeiro lugar, devemos verificar que F está bem definida. Isso significa
verificar que F(a) não depende do representante da classe a . Em outras palavras,
se a = b , devemos mostrar que F(a)= F(b) . Se a = b , então a - b Î ker f , logo
f (a - b)= 0 e isso implica que f (a) - f (b)= 0 , ou seja, f (a)= f (b) . Portanto,
F(a)= f (a)= f (b)= F(b) , como queríamos demonstrar.
Vamos, agora, mostrar que F é um homomorfismo.
Se a, b Î A / ker f , então F(a + b)= F(a + b)= f (a + b)= f (a) + f (b)= F(a) + F(b)
e F(a × b)= F(ab)= f (ab)= f (a) f (b)= F(a)F(b) .
Para demonstrar a injetividade de F , usaremos o Teorema 3 desta aula e
assim mostraremos que ker F = { 0} . Se a Î ker F , então F(a)= 0 , isto é, f (a)= 0 .
Isso implica que a Î ker f e, portanto, a = 0 em A / ker f , o que mostra que F
é injetiva.
Finalmente, para demonstrarmos a sobrejetividade de F , consideremos
y Î Im f . Existe, então, a Î A tal que f (a)= y e, assim, F(a)= f (a)= y . Dessa
maneira, mostramos que, dado y Î Im f , existe a Î A / ker f tal que F(a)= y ,
logo F é um homomorfismo sobrejetor.
EXEMPLO:
Como já vimos no Exemplo 3, na página 54 , f : Q[x ] ® R ,
dado por f ( p(x))= p( 2) , é um homomorfismo, com núcleo
2 2
ker f = (x - 2)= { (x - 2)q(x)| q(x) Î Q[x ]} , o ideal formado pelos múltiplos de
x2 - 2 . A imagem de f é
Im f = { p( 2)| p(x) Î Q[x ]} .
Podemos descrever essa imagem de um modo mais explícito, se
notarmos que ( 2)n Î Q se n é par, e ( 2)n = r 2 , com r Î Q , se n é
ímpar. Assim, se p(x)= a0 + a1x + + amxm , com a0 , a1 ,, am Î Q , então
p( 2)= a0 + a1 2 + + am ( 2)m . Nessa última soma há dois tipos de parcelas:
i
quando i for par ai ( 2)i será um número racional, e quando i for ímpar, ai ( 2 )
será do tipo r 2 , com r Î Q . Portanto, podemos escrever p( 2)= a + b 2 , onde
a, b Î Q . Assim,
Im f = { a + b 2| a, b Î Q} .
64 Estruturas Algébricas
Esse último conjunto é denotado por Q[ 2] . O Teorema Fundamental dos
Homomorfismos de Anéis nos diz, portanto, que
Como um isomorfismo desse tipo pode nos ser útil? A principal utilidade
de um isomorfismo é que podemos usá-lo para transferir um problema
de um contexto para outro de modo que a solução do problema possa ser
simplificada. Ilustraremos essa ideia geral, respondendo à seguinte pergunta:
1 1 a- b 2 a- b 2 a b
= × = 2 2
= 2 2
- 2 × 2.
a+ b 2 a+ b 2 b 2 a - 2b a - 2b a - 2b2
AULA 4 TÓPICO 3 65
sobrejetor. Lembremos a seguinte notação: se I é um subconjunto de A e
f : A ® B é uma função, então f (I )= { f (x)| x Î I } . Da mesma forma, se J é um
subconjunto de B , então f -1 (J)= { a Î A | f (a) Î J} .
Demonstração:
1. Dado um ideal I de A , vamos mostrar que f (I ) é um ideal de B.
Se x, y Î f (I ) , então existem a, b Î I tais que f (a)= x e f (b)= y . Assim,
x + y = f (a) + f (b)= f (a + b) Î f (I ) . Se b Î B , então b x = b f (a) . como f é
sobrejetor, existe a Î A tal que f (a )= b . Assim, b x = f (a ) f (a)= f (aa) Î f (I ) .
Dessa forma, mostramos que f (I ) é um ideal de B.
Por outro lado, seja J um ideal de B. Vamos mostrar que
f -1
(J)= { a Î A | f (a) Î J} é um ideal de A . Para isso, tomemos a, b Î f -1 (J) .
Então f (a) Î J e f (b) Î J , logo f (a + b)= f (a) + f (b) Î J , ou seja, a + b Î f -1 (J) .
Se a Î A e a Î f -1 (J) , então f (aa)= f (a ) f (a) Î J , pois f (a) Î J e J é um ideal.
Assim, alpha a Î f -1 (J) . Dessa forma, I = f -1 (J) é um ideal de A .
Observemos, agora, que, se N = ker f , então f (N )= { 0} Ì J . Isso significa que,
se a Î N , então f (a)= 0 Î J , logo a Î f -1 (J) para todo a Î N , ou seja, N Ì f -1 (J)= I .
Isso mostra que, para cada ideal J de B, o ideal I = f -1 (J) de A contém N .
Vamos, agora, mostrar que f (I )= J . Essa é uma igualdade entre conjuntos.
Logo, precisamos mostrar que cada um dos conjuntos está contido no outro. A
inclusão f (I ) Ì J segue diretamente da definição de I : dado a Î I = f -1 (J) ,
temos que f (a) Î J . Para demonstrarmos a inclusão inversa, tomemos b Î J .
-1
Como f é sobrejetiva, existe a Î A tal que f (a)= b Î J , logo a Î f (J)= I e
b = f (a) Î f (I ) .
Sejam, agora, I e I ¢ dois ideais de A , contendo N , tais que f (I )= f (I ¢) .
Vamos mostrar que I = I ¢ . Se a Î I , então f (a) Î f (I )= f (I ¢) , logo existe a¢ Î I ¢
tal que f (a)= f (a¢) . Isso implica que f (a - a¢)= 0 , ou seja, a - a¢ Î ker f = N Ì I ¢ .
66 Estruturas Algébricas
Portanto, a = a¢ + y , com a¢, y Î I ¢ e isso mostra que a Î I ¢ , logo vale a inclusão
I Ì I ¢ . Para mostrarmos a validade da outra inclusão, basta tomarmos a¢ Î I ¢ e
procedermos exatamente da mesma maneira, atentando para o fato de que N Ì I .
2. Se I 1 Ì I 2 e x Î f (I 1 ) , então x = f (a) , com a Î I 1 Ì I 2 , logo, x = f (a) Î I 2 .
Isso mostra que f (I 1 ) Ì f (I 2 ) .
Reciprocamente, se f (I 1 ) Ì f (I 2 ) e a Î I 1 , então f (a) Î f (I 1 ) Ì f (I 2 ) . Logo,
existe b Î I 2 tal que f (a)= f (b) . Daí, temos f (a - b)= 0 , ou seja, a - b = c Î N Ì I 2 .
Portanto, a = b + c Î I 2 e isso mostra que I 1 Ì I 2 .
Como aplicação do Teorema 8 acima, vamos exibir, por meio de um exemplo,
como determinar todos os ideais de um anel finito.
EXEMPLO:
Vamos, a seguir, determinar todos os
ideais de Z6 . Devemos, para isso, considerar o
s aiba mais !
homomorfismo f : Z ® Z6 , dado por f (n)= n ,
Para mais informações acesse o link http://
onde a barra indica classe de equivalência
www.mat.uc.pt/~picado/algebraII/0405/
módulo 6. Esse homomorfismo é
Apontamentos/aula4.pdf
sobrejetor e ker f = 6Z . Pelo Teorema 8,
os ideais de Z6 são exatamente aqueles
do tipo f (I ) , onde I é um ideal de Zker f = 6Z .
que contêm
Já vimos no primeiro exemplo do Tópico 3, aula 3, os ideais de Z são todos
principais, isto é, são todos do tipo mZ , com m Î Z , m³ 0 . Se 6Z Ì mZ , então
m| 6 . Os divisores positivos de 6 são 1,2,3 e 6 . Assim, os únicos ideais de Z6
são f (mZ) , como m = 1,2,3 ou 6 . Como f (mZ)= mZ6 (veja o exercício 1 de
aprofundamento), temos que os ideais de Z6 são 1Z6 = Z6 , 2Z6 , 3Z6 e 6Z6 = { 0} .
AULA 4 TÓPICO 3 67
at iv ida d e d e a p r of u da m e n t o
3. Em cada um dos itens abaixo, mostre que o homomorfismo em questão é sobrejetivo e determine seu
núcleo.
(a) f : Z ® Z8 , dado por f (n)= n .
(b) f : Q[x, y] ® Q[x ] , dada por f (P(x, y))= P(x,0) , onde x, y e t são indeterminadas.
(c) f : R[x ] ® C , dada por f (P(x))= P(i ) , onde i 2 = -1 .
-1 + i 3
4. Seja f : Q[x ] ® C , dada por f (P(x))= P(w ) , onde w = . Mostre que
2
(a) ker T = (x3 - 1) .
(b) ImT = { a + bw + cw 2 | a, b, c Î Q} .
1 1
7. Seja C[0,1] como no exercício anterior. Mostre que I = { f Î C[0,1]| f ( )= f ( )= 0} é um ideal de
3 2
C[0,1] . O ideal I é maximal?
68 Estruturas Algébricas
8. Seja V um espaço vetorial sobre um corpo K e A(T ) o conjunto de todos os operadores lineares de V ,
isto é, o conjunto de todas as tranformações lineares T : V ® V .
(a) No curso de Álgebra Linear, demonstra-se que A(V ) é um espaço vetorial sobre K , com a
soma e o produto por escalares definidos por
(T1 + T2 )(v)= T1 (v) + T2 (v) e (a × T1 )(v)= a × T1(v),
onde T1 ,T2 Î A(V ) e a Î K . Verifique se isso realmente ocorre.
(b) Considere, em A(V ) , o seguinte produto:
(T1 × T2 )(v)= T1 (T2 (v)) ,
onde T1 ,T2 Î A(V ) . Mostre que, com esse produto e a soma do item anterior, A(T ) é um anel
não comutativo.
(c) Seja f :V ® W uma transformação linear bijetiva. Mostre que
f * : A(V ) ® A(W ) ,
dada por f * (T )= f T f-1 , é um isomorfismo de anéis.
(d) Conclua que, se V e W são espaços vetoriais de mesma dimensão (finita), então A(V ) e
A(W ) são anéis isomorfos.
11. Seja K um corpo e P o corpo primo de K (veja a questão anterior). Mostre que:
(a) Se a característica de K é igual a zero, então P @ Q .
(b) Se a característica de K é igual a p ( p primo), então P @ Z p .
12. Seja f : Z ® Z um homomorfismo. Mostre que f (n)= 0 para todo n Î Z ou f (n)= n , para
todo n Î Z .
AULA 4 TÓPICO 3 69
AULA 5 Domínios
fatoriais
Olá aluno(a),
No curso de Teoria dos Números, vimos que os números inteiros têm a seguinte
propriedade notável: dado um número inteiro maior do que 1, esse número é
um primo ou pode ser escrito como produto de um número finito de primos de
modo único. Apesar de parecer, à primeira vista, uma propriedade de menor
importância, essa unicidade é, de fato, essencial para quase toda aritmética que
se desenvolve posteriormente. Isso justifica o nome “Teorema Fundamental da
Aritmética”, que se dá a essa propriedade dos inteiros. Dessa forma, vale muito a
pena isolar essa propriedade (a unicidade da decomposição em primos) e procurar
os anéis onde ela continua válida. Como em anéis que não são domínios podemos
ter comportamentos bastante anômalos (basta lembra que o produto de dois
elementos não nulos pode ser zero em um anel que não é domínio), a primeira
restrição que devemos fazer é considerar apenas domínios de integridade.
Objetivos
70 Estruturas Algébricas
TÓPICO 1 Domínos euclidianos, domínios de
ideais principais e domínios fatoriais
O bjetivos
• Identificar uma relação de divisibilidade em um
domínio arbitrário
• Estabelecer de modo preciso as noções de primo e
de irredutível em um domínio
• Definir, exibir exemplos e estabeler a relação
entre domínios euclidianos, de ideais principais e
fatoriais
AULA 5 TÓPICO 1 71
A relação de divisibilidade é reflexiva,
isto é, a| a , para todo a Î A , pois a = a ×1,
onde 1Î A é o elemento neutro do produto.
Também é transitiva, pois a| b e b| c implicam at e n ç ão!
que a| c . De fato, a| b implica que b = au , com
Se a, b Î A são associados, então os ideais
u Î A , e b| c implica que c = bv , com v Î .
(a) = { a Î A | Î A} e (b) = { mb| m Î A} ,
Logo c = bv = (au)v = a(uv) , com uv Î e,
gerados por a e b , respectivamente, são iguais.
portanto, a| c . Se a| b e b| a , dizemos que a
De fato, sendo a e b associados, temos a = bu ,
e b são associados e denotamos a : b . Neste *
com u Î A . Se x Î (a) , então x = a , com
caso, existem u, v Î A tais que b = au e a = bv . x = ell (bu) = (ellu)b Î (b) .
ÎA, logo
Logo, b = au = bvu . Se b = 0 , então a = bv = 0 . Isso mostra que (a) Ì (b) . Por outro lado, se
Se b ¹ 0 , então b = bvu implica (porque A y Î (b) , então y = mb , com m Î A , logo
*
é domínio) que 1= vu , ou seja, u, v Î A . y = m(au-1 ) = (mu-1 )a Î (a) . Isso mostra
Reciprocamente, se u é unidade de A , então que (b) Ì (a) . Portanto, (a) = (b) .
-1
b = au implica que a = bu e, assim, a| b e
b| a . Resumindo, dois elementos a, b Î A são
associados se, e somente se, existe uma unidade u tal que b = au .
EXEMPLOS:
1. No domínio dos números inteiros, temos * = { -1,1} , isto é, as únicas
unidades de são -1 e 1. Dois inteiros a e b são associados se, e somente
se | a|=| b| .
2. Em um corpo K , todo elemento não-nulo é invertível, logo K * = K -{ 0} .
Isso significa que dois elementos não-nulos quaisquer x, y Î K são
associados.
72 Estruturas Algébricas
Lema1 Em um domínio de integridade, todo elemento primo é irredutível.
Demonstração:
Seja A um domínio de integridade. Seja p Î A um primo e p = ab uma
decomposição de p . Vamos mostrar que a Î A * ou b Î A * . Primeiro, como p = ab ,
temos que p| ab . Sendo p primo, p| a ou p| b . No primeiro caso, a = pc ,
com c Î A , logo p = ab = pcb . Como p é primo, podemos garantir que p ¹ 0 .
Cancelando p (pois A é domínio) obtemos 1= cb e, consequentemente, b Î A * .
Se p| b , podemos concluir, de modo análogo, que a Î A * .
A recíproca do Lema 1 não é válida em geral. De fato, exibiremos a seguir
um contraexemplo.
EXEMPLO:
Seja [ -5] = { a + b -5| a, b Î } . A discussão em torno do primeiro
exemplo do tópico 3 da aula 4 pode ser rapetida aqui para verificarmos que
[ -5]; [x ] / (x2 + 5) . Isso mostra de imediato que [ -5] é um anel,
embora possamos verificar isso diretamente. Mais ainda, podemos afirmar
que [ -5] é um domínio. De fato, se (a + b -5)(c + d -5) = 0 , então
(ac + 5bd) + (ad + bc) -5 = 0 . Como a, b, c, d Î , essa última igualdade implica
bc
que ac + 5bd = 0 e ad + bc = 0 . Supondo a ¹ 0 , temos d = - , logo de
2
5b c a
ac + 5bd = 0 vem que ac - = 0 , ou seja, c(a2 - 5b2 ) = 0 . Como 5 não é
a
racional, temos c = 0 . Assim, ad + bc = 0 implica ad = 0 e, sendo a ¹ 0 , temos
d = 0 , portanto c + d -5 = 0 . Analogamente, se c ¹ 0 , obtemos a + b -5 = 0 .
Consideremos a função N : [ -5] ® , dada por
N (a + b 5) = a2 + 5b2.
Notemos que, se z = a + b -5 e
z = a - b -5 denota o conjugado de z ,
então N (z) = zz . Uma consequência
direta dessa representação é que
g uarde bem i s s o !
N (zw) = (zw)(zw) = zzww = N (z)N (w) .
Iremos considerar funções como esta ainda
neste tópico, quando estudarmos os domínios
Agora mostraremos que o elemento
euclidianos.
2 + -5 é irredutível mas não é primo.
Precisaremos, para isso do seguinte resultado.
AULA 5 TÓPICO 1 73
Lema2 Um elemento z Î [ -5] é unidade se, e somente se, N (z) = 1.
Demonstração:
Se N (z) = 1, então zz = 1 , logo z é o
inverso de z e z é unidade. Reciprocamente,
se existe w Î [ -5] tal que zw = 1 , então
at e n ç ão!
N (zw) = N (1) = 1. Assim, N (z)N (w) = 1 . Como
N (z) e N (w) são inteiros positivos, a única A partir do Lema2 acima também podemos
74 Estruturas Algébricas
Teorema3 Em um DIP, um elemento é irredutível se, e somente se, for primo.
Demonstração:
O Lema 1 nos diz que todo primo é irredutível em qualquer domínio.
Reciprocamente, se A é um DIP, p Î A é irredutível e a, b Î A são tais que p| ab ,
então
( p, a) = { px + ay| x, y Î A}
é um ideal de A . Como A é um DIP, existe c Î A tal que ( p, a) = (c) . Em particular
p Î (c) , ou seja, c| p. Como p é irredutível, c Î A * ou c = up , com u Î A * . Neste
último caso, (a, p) = (c) = ( p) e, em particular, a Î ( p) , o que implica p| a . Por
outro lado, se c Î A * , então (c) = A e 1Î (c) = ( p, a) . Logo, existem x, y Î A tais
que
1= px + ay.
Multiplicando essa igualdade por b , obtemos
b = pbx + aby.
Como p| ab , temos que p| pbx + aby , isto é, p| b . Isso mostra que p é
primo.
Um domínio A é dito domínio de fatoração única (DFU) se valem as
seguintes condições:
1. Todo elemento não nulo de A que não é uma unidade pode ser escrito
como produto de um número finito de irredutíveis.
2. Todo elemento irredutível é primo.
O próximo resultado justifica o nome DFU:
Teorema4 Em um DFU todo elemento não nulo que não é uma unidade pode ser escrito
como produto de irredutíveis de modo único, a menos da ordem dos fatores no produto
e de produto por unidades.
Demonstração:
Seja A um DFU. Pela definição de DFU, basta demonstrar a unicidade. Se
p1 pr e q1 qt são duas fatorações de um mesmo elemento a Î A como produto
de irredutíveis, então p1 | q1 qt . Sendo p1 irredutível no DFU A , p1 também
é primo, logo p1 divide um dos qj . Após um reordenamento dos fatores, se
necessário, podemos assumir que p1 | q1 , isto é, q1 = u1 p1 . Como q1 é irredutível,
u1 é uma unidade. Podemos escrever, então
AULA 5 TÓPICO 1 75
p2 p3 pr = u1q2q3 qt .
Procedendo da mesma maneira, podemos assumir (após um reordenamento
dos fatores, se necessário) que p2 | q2 , ou seja, que q2 = u2 p2 , com u2 Î A * . Logo,
p3 pr = u1u2q3 qt
e, repetindo esse procedimento um número finito de vezes, de modo a cancelar o
maior número possível de irredutíveis, obteríamos, se r < t ,
1= u1¼ur qt -r qt ,
-1 -1
isto é, qt -r qr = u u , o que é impossível, pois um produto de irredutíveis
1 r
não pode ser uma unidade (veja a tarefa 2 desta aula). Do mesmo modo, supor r > t
nos levaria a uma contradição. Assim r = t e cada pi é associado a um qi . Vale,
portanto, a unicidade.
Uma coleção de ideais I j , com j ³1 , de um anel A é chamada cadeia
ascendente se I 1 Ì I 2 Ì Ì I n Ì . Uma cadeia ascendente é dita estacionária
se existe n ³1 tal que
I 1 Ì I 2 Ì Ì I n-1 Ì I n = I n+1 =
ou seja, se I j +1 = I j , para todo j ³ n.
Demonstração:
Dada uma cadeia ascendente de ideais I 1 Ì I 2 Ì , seja, para cada j , aj o
gerador de I j , isto é, I j = (aj ) . Seja I = È j ³1I j a união de todos os ideais dessa
cadeia. Afirmamos que I é um ideal de A . De fato, I contém cada I j , logo não
é vazio. se x, y Î I , então x Î I j e y Î I k , com j ³1 e k ³1 . Se j £ k , então
x Î I j Ì I k , logo x + y Î I k Ì I . Se k £ j , então y Î I k Ì I j e x + y Î I j Ì I . Se
a Î A e x Î I , então x Î I j , para algum j ³1 , logo ax Î I j Ì I . Assim, I é um
ideal do DIP A . Consequentemente, existe a Î A tal que I = (a) . Como a Î I
, existe n ³1 tal que a Î I n = (an ) , ou seja, an | a . Por outro lado, an Î I = (a)
implica que a| an . Assim, a e an são associados e I = (a) = (an ) = I n . Agora, se
k ³ n, então I n Ì I k Ì I = I n , logo I k = I n e a cadeia é estacionária.
A condição toda cadeia ascendente é estacionária é chamada condição das
cadeias ascendentes (CCA). O resultado acima é caso particular de um teorema
devido à matemática alemã Emmy Noether, que afirma serem equivalentes a CCA
76 Estruturas Algébricas
e a finitude do número de geradores dos ideais de A , isto é, dado um ideal I de
A existem a1,¼, ar Î A tais que I = (a1,¼, ar ) = { a1a1 + + ar ar | ai Î A} . Anéis
satisfazendo uma dessas condições são chamados noetherianos em homenagem a
ela.
Demonstração:
Já mostramos que, em um DIP, todo irredutível é primo. Basta mostrarmos,
então, que, em um DIP, todo elemento que não é zero nem unidade, pode ser
escrito como produto de um número finito de irredutíveis. Caso isso não ocorresse,
poderíamos produzir uma cadeia ascendente não estacionária (veja a tarefa 3). Mas
isso contradiz o resultado do Lema 5.
EXEMPLO 1
O anel A = , com a função N : ® dada por N (a) =| a| , é um domínio
euclidiano. A demonstração desse fato usa o Princípio de Eudoxo, mais conhecido
AULA 5 TÓPICO 1 77
como Princípio de Arquimedes, que afirma que um número real está sempre entre
dois números inteiros consecutivos. Se a, b Î , com b ¹ 0 , então existe, pelo
Princípio de Eudoxo, q Î tal que
a
q £ < q +1.
b
Multiplicando por b , temos, se b > 0 , bq £ a < bq + br , ou seja,
r
0 £ a - bq < b . Se b < 0 , temos bq ³ a > bq + b , ou seja, 0 ³ a - bq > b . Em
qualquer um dos casos, 0 £| r |<| b| , onde r = a - bq . Isso mostra que vale a
condição 3 da definição de domínio euclidiano. Uma vez que | ab|=| a| ×| b| , vale a
condição 2. Finalmente, a condição 1 é consequência da definição de valor absoluto
de um número real.
EXEMPLO 2
Veremos, na aula 6, que A = K[ X] , o anel de polinômios na indeterminada X
com coeficientes no corpo K , é um domínio euclidiano, com norma N : K[ X] ®
dada por N ( f (X)) = grau ( f (X)) .
EXEMPLO 3
Seja [i ] = { a + bi | a, b Î } , onde i 2 = -1 . Com a soma e o produto de
números complexos, [i ] é um domínio, chamado domínio de inteiros de Gauss.
Munido com a função N : [i ] ® , dada por N (a + bi ) = a2 + b2 , [i ] é um
domínio euclidiano. De fato, N (a + bi ) = a2 + b2 ³ 0 para todo z = a + bi Î [i ] e
N (z) = 0 implica que a2 + b2 = 0 . Como a, b Î , essa última igualdade implica
que a = b = 0 , logo z = 0 . Dessa forma, vale a condição 1. Para verificarmos a
validade da condição 2, basta notarmos que N (z) = a2 + b2 = zz , onde z = a - bi
é o conjugado de z . Assim, N (zw) = zw × zw = zw × z × w = zz × ww = N (z)N (w) . A
condição 3 merece uma atenção especial e será tratada no teorema a seguir.
Demonstração:
Os elementos de [i ] formam uma rede de pontos distribuídos de modo
homogêneo ao longo do plano. Mais precisamente, esses elementos correspondem
78 Estruturas Algébricas
aos pontos que têm coordenadas inteiras, ou, de modo mais geométrico, aos pontos
que são vértices dos quadrados de lado 1 que formam um ladrilhamento do plano.
Como o plano complexo é totalmente coberto pelos quadrados desse ladrilhamento,
z
o número complexo pertence a um desses quadrados. Dentre os quatro vértices
w
z z
do quadrado que contém , seja q Î [i ] aquele cuja distância a é a menor
w w
possível, podendo ser, inclusive, igual a zero. Essa distância não pode ser maior do
z
que metade da diagonal do quadrado, que tem lado 1, ou seja, a distância entre
2 z w
e q é menor ou igual a . Isso se dá porque o ponto que corresponde a está
2 w
em um dos quatro quadrados menores exibidos na figura 1 abaixo, justamente o
quadrado pequeno que contém o vértice q .
z no interior do quadrado.
Figura 1: Ponto
w
Como a maior distância entre dois pontos sobre um quadrado é o comprimento
z 2
de sua diagonal, temos 0 £| - q|£ < 1. Temos: | z - qw |<| w | . Observando
w 2
que N (a) =| a| 2 e denotando r = z - qw , obtemos, finalmente, z = qw + r , com
0 £ N (r ) < N (w) , como queríamos.
Demonstração:
Seja A um domínio euclidiano e I um ideal de A . O conjunto
N I = { N (x)| x Î I } Ì
AULA 5 TÓPICO 1 79
é não vazio. Pelo princípio da boa ordem, existe x0 Î I tal que N (x0 ) é mínimo. Como
x0 Î I , temos a inclusão (x0 ) Ì I . Reciprocamente, se x Î I , existem q, r Î A tais
que x = qx0 + r e 0 £ N (r ) < N (x0 ) . Como x0 , x Î I , temos que r = x - qx0 Î I .
Se r ¹ 0 , então r Î I e N (r ) < N (x0 ) contrariam a minimalidade de x0 . Assim,
r = 0 e x = qx0 Î (x0 ) , demonstrando que I Ì (x0 ) . Portanto qualquer ideal I de
A é principal, sendo gerado pelo elemento x0 tal que N (x0 ) é mínimo.
Dessa forma, temos a seguinte sequência de implicações:
80 Estruturas Algébricas
TÓPICO 2 O corpo de frações de
um domínio
O bjetivos
• Assimilar a noção de corpo de frações de um
domínio
• Identificar os domínios como únicos anéis para
os quais é possível a construção de um corpo de
frações
AULA 5 TÓPICO 2 81
Quanto à transitividade, temos o seguinte: se (a, b): (c, d) e (c, d): (e, f ) ,
então ad = bc e cf = de. Multiplicando a primeira igualdade por f , obtemos
d(af ) = b(cf ) . Usando a segunda igualdade, obtemos: d(af ) = b(de) , isto é,
d(af ) = d(be) . Como d ¹ 0 e A é um domínio, podemos cancelar d e obter
af = be, o que implica (a, b): (e, f ) .
Vamos denotar por K o conjunto das classes de equivalência que a relação :
define sobre B , ou seja,
(a, b) = { (x, y) Î B| (x, y): (a, b)} e
82 Estruturas Algébricas
Portanto, o produto de classes não depende da escolha dos representantes.
Vamos, agora, mostrar que vale o mesmo para a soma. Como já vimos acima,
dadas duas classes (a, b) e (c, d) , podemos obter novos representantes de modo
que as segundas coordenadas dos pares ordenados coincidam. Mais precisamente,
podemos considerar (a, b) = (ad, bd) e (c, d) = (bc, bd) . Assim, podemos considerar,
sem perda de generalidade, duas classes representadas por pares cujas segundas
coordenadas coincidem: (x, z) e ( y, z) . Consideremos outros representantes das
mesmas classes: (x1 , z1 ) = (x, z) e ( y1 , z1 ) = ( y, z) . Pela definição da relação de
equivalência, x1z = xz1 e y1z = yz1 . Somando essas duas igualdades membro a
membro, obtemos x1z + y1z = xz1 + yz1 e assim (x1 + y1 )z = (x + y)z1 . Novamente
pela definição da relação de equivalência, temos (x1 + y1, z1 ) = (x + y, z) e, pela
definição dada para a soma de classes,
(x1 , z1 ) + ( y1 , z1 ) = (x1 + y1 , z1 ) = (x + y, z) = (x, z) + ( y, z).
Isso mostra que a soma também independe da escolha dos representantes
das classes.
a
Usamos a notação para indicar a classe (a, b) e chamamos cada uma
b
dessas classes de fração. As coordenadas a e b de um representante da classe
a
(a, b) , ou seja, da fração , são chamadas, respectivamente, de numerador e
b
a
denominador da fração . Usando a notação de fração, podemos reescrever as
b
operações entre classes, definidas acima, da seguinte maneira:
a c ad + bc
+ = ,
b d bd
a c ac
× = .
b d bd
AULA 5 TÓPICO 2 83
Demonstração:
Já mostramos que as operações são bem definidas. Verificar que valem os
axiomas de anel comutativo é uma tarefa de rotina (veja a tarefa número 6). O
1 a 1× a a
elemento neutro do produto é a fração 1 . De fato, × = = . Por outro lado,
1 1 b 1× b b
0
o elemento neutro da soma é a fração . De fato, se a Î K , então
1 b
a 0 a 0 a+ 0 a
+ = + = = .
b 1 b b b b
a
Dada uma fração Î K , a ¹ 0 , podemos garantir que a ¹ 0 , do contrário,
b b 1
a 0 0
teríamos = = , a última igualdade sendo válida porque 0× 1= 0 = b× 0 (vale
b b 1
lembrar que cada fração é uma classe de pares ordenados). Sendo a ¹ 0 , temos
b
Î K . Além disso,
a a b ab
× =
b a ba
1
e essa última fração é igual a, pois (ab) × 1= 1× (ba) . Isso mostra que todo elemento
1
diferente do elemento neutro da soma de K , possui um inverso em K . Logo, o anel
comutativo com unidade K é, na verdade, um corpo.
Para mostrar que A pode ser imerso em seu corpo de frações K ,
a
consideremos a função f : A ® K , dada por f (a) = . Primeiro, verifiquemos que
1
f é um homomorfismo:
a+ b a b
f (a + b) = = + = f (a) + f (b),
1 1 1
ab a b
f (ab) = = × = f (a) f (b).
1 1 1
0
O núcleo de f é trivial, pois a Î ker f se, e somente se, f (a) = . Logo,
a 0 1
= , o que significa a × 1= 1× 0 , ou seja, a = 0 . Assim, ker f = { 0} e f é um
1 1
homomorfismo injetor. Isso mostra que A pode ser imerso em K .
EXEMPLO 1:
Se A = , o domínio dos inteiros, então c. f .() = . De fato, o procedimento
descrito acima é uma construção formal do corpo dos números racionais.
EXEMPLO 2:
Se A é um corpo, então K = c. f . (A ) é isomorfo a A . De fato, o homomorfismo
a
injetor f : A ® K , dado por f (a) = , como na demonstração do Lema 9, é, neste
1
84 Estruturas Algébricas
caso, também sobrejetor. Para verificarmos isso, tomemos a Î K . Como b Î A ,
b
-1 a ab-1 ab-1
b ¹ 0 e K é um corpo, temos b Î A . Assim, = -1 = = f (ab-1 ) e isso
b bb 1
mostra que f é sobrejetivo.
EXEMPLO 3:
Em particular, veremos que, se k é um
corpo, então k[x ] , o conjunto dos polinômios na
atenção! indeterminada x , com coeficientes em k , com
as operações de soma e produto de polinômios,
Na próxima aula, estudaremos os anéis de
é um domínio. O corpo de frações de k[x ] é
polinômios.
denotado por k(x) . Podemos descrevê-lo do
seguinte modo:
ì
ï f (x) ü
ï
k(x) = ï
í | f (x), g(x) Î k[x ], g(x) ¹ 0ï
ý.
ï
ï g(x)
î ï
ï
þ
EXEMPLO 4:
O anel de inteiros de Gauss [i ] = { a + bi | a, b Î ,i 2 = -1} é um domínio de
integridade. Aliás, já mostramos, nesta aula, que [i ] é um domínio euclidiano.
O corpo de frações de [i ] é formado pelas frações do tipo a + bi . Podemos
c + di
simplificar essa expressão do seguinte modo:
a + bi a + bi c - di (a + bi )(c - di ) ac + bd bc - ad
= × = = 2 + × i.
c + di c + di c - di c2 + d2 c + d2 c2 + d2
Encerramos aqui nosso segundo tópico e a aula 5. Nesta aula vimos que a
importante noção de fatoração única que vale para números inteiros, pode ser
tratada abstratamente. O anel dos inteiros, sendo um domínio euclidiano, é o exemplo
padrão e clássico das estruturas que estudamos aqui. A contrapartida geométrica
AULA 5 TÓPICO 2 85
é dada pelo outro exemplo clássico: os anéis de polinômios com coeficientes em
um corpo, que serão estudados na próxima aula. Veremos que os polinômios com
coeficientes em um corpo e uma indeterminada formam um domínio euclidiano,
mas se considerarmos polinômios com mais de uma indeterminada, o domínio
resultante não será sequer um domínio de ideais principais, embora seja um
domínio de fatoração única.
at iv ida d e d e a p r of u da m e n t o
2. Esse exercício usa a fatoração única em [i ] para demonstrar que qualquer primo p Î tal que
p º 1(mod4) pode ser escrito como soma de dois quadrados.
(a) Mostre que, se p º 1(mod4) , então a congruência x2 º -1(modp) tem solução ( sugestão: Calcule
æ -1ö p-1
o símbolo de Legendre çç ÷÷÷ = (-1) 2 ).
çè p ÷ø
2
(b) De acordo com o resultado do item anterior, p| n + 1, para algum n Î . Logo p| (n + i )(n - i ) .
Mostre que p p + i e p p - i . Conclua que p não é primo em [i ] , logo p é redutível em [i ] .
(c) Pelo item anterior, p = (a + ib)(c + id) e nenhum dos fatores é uma unidade. Considere a norma em
ambos os membros dessa igualdade e conclua que p é soma de dois quadrados.
3. Observe que (2 + i )(2- i ) = 5 = (1+ 2i )(1- 2i ) . Por que isso não contradiz a fatoração única em [i ]
?
4. (Inteiros de Eisenstein) Seja w = e2pi / 3 = -1+ i 3 . Considere a função N : [w ] ® dada por
2
N (a + bw ) = a2 - ab + b2 .
86 Estruturas Algébricas
(a) Mostre que se a + bw for escrito na forma u + vi , com u, v Î , então N (a + bw ) = u2 + v2 .
(b) Mostre que, se a, b Î [w ] , então N (ab ) = N (a )N (b ) . Conclua que, se a | g em [w ] , então
N (a )| N (g ) em .
(c) Seja a Î [w ] . Mostre que a é unidade se, e somente se, N (a ) = 1. Encontre todas as unidades
de [w ] (existem seis ao todo).
(d) Mostre que 1- w é irredutível em [w ] e que 3 = u(1- w )2 para alguma unidade u Î [w ] .
(e) Mostre que [w ] é um dompinio euclidiano, logo é um DIP e também um DFU.
AULA 5 TÓPICO 2 87
AULA 6 Polinômios
Todos nós temos uma noção básica do que é um polinômio e também conhecemos
algumas de suas propriedades básicas. Nesta aula, estudaremos polinômios no
contexto da Álgebra Abstrata. A ideia principal é estudar conjuntos de polinômios
em vez de estudá-los isoladamente. Os polinômios com coeficientes em um anel
A formam um novo anel, chamado anel de polinômios sobre A . Com o auxílio do
Teorema Fundamental dos Homomorfismos de Anéis, visto na aula 4, veremos que
os anéis de polinômios são uma ferramenta fundamental na construção de novos
exemplos de anéis. A definição de polinômio que daremos nos permitirá definir
outro conceito importante: o de série formal. Também estudaremos nesta aula os
polinômios irredutíveis, aqueles que desempenham papel similar aos dos números
primos em . Vamos lá?
Objetivos
88 Estruturas Algébricas
TÓPICO 1 Sequências quase nulas
e polinômios
O bjetivos
• Compreender o que é um polinômio e o significado
formal da noção de indeterminada
• Identificar algumas propriedades dos anéis de
polinômios e dos anéis de séries formais
• Construir anéis de polinômios em mais de uma
indeterminada
AULA 6 TÓPICO 1 89
A soma de duas sequências f = ( fn ) e g = ( gn ) é uma sequência f + g
dada por
f + g = ( f0 + g0 , f1 + g1 , f2 + g2 ,¼),
ou seja, a soma de duas sequências é feita termo a termo. A sequência nula é
f = ( fn ) tal que fn = 0 , para todo n³ 0 , isto é, f é a função identicamente nula.
Vamos denotá-la por 0 . A sequência nula tem a seguinte propriedade notável:
f + 0 = f , paratodasequência f .
Dizemos que 0 é o elemento neutro da soma de sequências.
O produto de duas sequências f = ( fn ) e g = ( gn ) é feito levando-se em
consideração o grau de cada termo, de modo que o produto fi × gj tenha grau i + j .
Tal produto é chamado produto graduado de sequências. Dessa forma, temos
f × g = (h0 , h1 , h2 ,¼, hk ,¼)
onde
hk = f0 gk + f1 gk-1 + + fk-1 g1 + fk g0 .
Vamos denotar o conjunto das sequências de elementos de um anel A ,
munidos da soma e do produto definidos acima, pelo símbolo S(A ) , ou
simplesmente S, quando estiver claro em que anel estamos tomando os termos fn .
Uma sequência f ÎS é chamada quase
nula quando existir n0 ³ 0 tal que fn = 0 ,
para todo n ³ n0 . O conjunto das sequências
quase nulas é denotado por S0 (A ) ou S0 .
Dada f Î S0 , f ¹ 0 , existe algum termo at e n ç ão!
de f que é diferente de zero. Como f é quase No caso em que é a sequência nula,
nula, existe N Î tal que fn = 0 , para todo convencionamos que, embora alguns autores
n > N . Se fN ¹ 0 , então dizemos que o grau de assumam que a sequência nula não tem grau.
Lema1 Seja A um anel e S0 (A) o conjunto das sequências quase nulas de elementos de A.
1. A soma de duas sequências quase nulas f e g é uma sequência quase nula e,
se f + g ≠ 0 , então grau ( f + g ) = max{grau ( f ), grau ( g )} .
2. O produto de duas sequências quase nulas é uma sequência quase nula e, se
A é um domínio, então grau ( f ⋅ g ) = grau ( f ) + grau ( g ) .
90 Estruturas Algébricas
Demonstração:
1. Sendo f e g sequências quase nulas, podemos escrever
f = ( f0 , f1 ,¼, fn ,0,0,¼) e g = ( g0 , g1 ,¼, gm ,0,0,¼) , onde n = grau ( f ) e
m = grau ( g) . Podemos supor que n £ m (o caso m £ n é similar). Como a soma é
dada coordenada a coordenada, temos
f + g = ( f0 + g0 , f1 + g1 ,¼, fn + gn , gn+1 ,¼, gm ,0,0,¼),
ou seja, ( f + g)i = 0 , se i > m e ( f + g)m = gm ¹ 0 . Assim, f + g Î S0 (A ) e, se
f + g ¹ 0 , então grau ( f + g) = m = max{ grau ( f ),grau ( g)} .
2. Se f , g Î S0 (A ) , podemos, como antes, escrever f = ( f0 , f1,¼, fn ,0,0,¼) e
g = ( g0 , g1 ,¼, gm ,0,0,¼) . O produto f × g é dado por
f × g = ( f0 g0 , f0 g1 + f1 g0 , f0 g2 + f1 g1 + f2 g0 ,¼).
Em geral, o termo de grau de f × g é dado pela soma
f0 g + f1 g-1 + + f -1 g1 + f g0 (*).
Em particular, o termo de grau m + n é dado por fn gm . Como fn ¹ 0 ,
gm ¹ 0 e A é um domínio, temos que fn gm ¹ 0 . Se > m + n , então o
termo de grau , dado pela soma (*), é igual a zero. Logo, f × g Î S0 (A ) e
grau ( f × g) = n + m = grau ( f ) + grau ( g) .
AULA 6 TÓPICO 1 91
e assim por diante, ou seja, xn , n³ 1 , é a sequência cujo termo de grau n é igual
a 1 e todos os outros termos são iguais a zero. Isso pode ser verificado diretamente,
usando-se a definição de produto de sequências.
Usando a definição de soma, podemos escrever, para uma sequência f Î S
qualquer,
f = ( f0 , f1 , f2 ,¼) = ( f0 ,0,0,¼) + (0, f1 ,0,0,¼) + (0,0, f2 ,0,0,¼) +
Agora, notemos que, novamente pela definição de produto de sequências,
posição n
(0,0,¼,0, fn ,0,0,¼) = ( fn ,0,0,¼)× (0,0,¼,0, 1 ,0,0,¼) = fnxn
para todo n³ 1 . Assim, obtemos
f = f0 + f1x + f2x2 + f3x3 +
No caso em que f Î S0 , existe N = grau ( f ) ³ 0 tal que
f = f0 + f1x + f2x2 + + fN x N .
e chamamos f de polinômio. Se, por outro lado, f Î S \ S0 , a ``soma’’
f = f0 + f1x + f2x2 + f3x3 +
é chamada de série formal. O adjetivo formal justifica-se por não estarmos
considerando x como número real ou complexo, mas como uma sequência particular.
Assim, não faz sentido aqui falarmos em convergência, visto que f = f0 + f1x +
é uma expressão que não necessariamente é um número complexo, mas apenas
outro modo de escrever a sequência f = ( f0 , f1 ,¼) .
Os termos fi Î A passam a ser chamados coeficientes do polinômio, ou da
série formal. Se f é um polinômio, o coeficiente fn , com n = grau ( f ) , é chamado
coeficiente líder de f .
Dessa forma, uma série formal é uma sequência e um polinômio é uma
sequência quase nula, e o que os torna distinguidos dentre as sequências é o
modo que escolhemos para multiplicá-los, ou seja, uma sequência quase nula
ganha o nome especial de polinômio e se comporta como o que costumamos pensar
ser um polinômio, devido ao produto especial que definimos entre duas dessas
sequências. Esse é um exemplo claro de como a estrutura geral do conjunto de
objetos age sobre a natureza de cada objeto em particular.
Os resultados sobre sequências quase nulas podem ser reescritos como
resultados para polinômios, bastando para isso substituir as palavras sequência
quase nula por polinômio. Em particular, o Lema 1 pode ser usado para polinômios.
Usamos as notações:
A[x ] = {polinômios com coeficientes em A}
92 Estruturas Algébricas
A [[ x ]] = {séries formais com coeficientes em A}
Demonstração:
Vamos, primeiramente, mostrar que A[[x ]] é um anel. Depois mostraremos
que A[x ] é um subanel de A[[x ]] . A associatividade da soma e do produto, a
comutatividade da soma e do produto, e a distributividade seguem todas o mesmo
raciocínio: transferir o problema para A , usando-se a definição da operação. A
título de ilustração, vamos verificar uma dessas propriedades, a comutatividade da
soma: dados
f = a0 + a1x + a2x2 + e g = b0 + b1x + b2x2 + ,
AULA 6 TÓPICO 1 93
ì f (x)
ï ü
ï
A(x) = c. f . (A[x ]) = ï
í | f (x), g(x) Î A[x ], g(x) ¹ 0ï
ý,
ï
ï g(x)
î ï
ï
þ
EXEMPLOS:
1. Se A Ì B , então A[x ] Ì B[x ] . Em particular, [x ] Ì [x ] Ì [x ] .
1 1
2. Î [x ] , mas Î [[x ]] . De fato, (1- x)(1+ x + x2 + x3 + ) = 1
1- x 1- x
1
e isso implica que = 1+ x + x2 + x3 + Î [[x ]] .
1- x
3. Se A é um anel e I é um ideal de A , denotamos por I [x ] o conjunto dos
polinômios de A[x ] cujos coeficientes pertencem a I . Mais ainda, podemos afirmar
que o conjunto I [x ] é um ideal de A[x ] (veja a tarefa 1 dessa aula) e que A[x ] / I [x ]
é isomorfo ao anel (A / I )[x ] , formado pelos polinômios na indeterminada x com
coeficientes no anel quociente A / I (veja a tarefa 2 dessa aula).
4. Como caso particular do exemplo acima, podemos considerar o anel
de polinômios m [x ] , onde m é um inteiro maior do que 1, como sendo o anel
quociente [x ] / m[x ] .
Demonstração:
1. Se existe g = b0 + b1x + b2x2 + Î A[[x ]] tal que fg = 1 , então
a0b0 + (a0b1 + a1b0 )x + (a0b2 + a1b1 + a2b0 )x2 + = 1+ 0× x + 0x2 +
o que implica, em particular, que a0b0 = 1 .
Reciprocamente, se existe b0 Î A tal que a0b0 = 1 , iremos construir a seguir
94 Estruturas Algébricas
uma série formal g = b0 + b1x + b2x2 + tal que fg = 1 . A condição fg = 1 nos
diz que todos os coeficientes de fg são nulos, exceto o de grau zero, que é a0b0 = 1 .
Assim, temos:
a0b1 + a1b0 = 0.
Como a0 , a1 e b0 são conhecidos, podemos determinar b1 de modo único a
partir dessa equação.
Supondo, por indução, que já foram determinados b0 , b1 , b2 ,¼, bn , podemos
determinar bn+1 . De fato, como todos os ai , i ³ 0 , são conhecidos, a igualdade
a0bn+1 + a1bn + + anb1 + an+1b0 = 0
nos fornece o valor de bn+1 . Portanto, pelo princípio da indução, podemos
2
construir g = b0 + b1x + b2x + tal que fg = 1 , como queríamos.
2. Se f Î A e f é invertível em A , então existe b Î A Ì A[x ] tal que
ab = 1 . Reciprocamente, se existe g = b0 + b1x + + bmxm tal que fg = 1 , então
a0b0 = 1 , logo a0 é invertível em A . Sabemos que anbm = 0 , logo an = 0 ou
b = 0 , pois A é um domínio. O coeficiente do termo de grau m + n - 1 em f × g
m
an-1(anbm ) + an2bm-1 = 0.
AULA 6 TÓPICO 1 95
denotarmos a indeterminada usando outro símbolo, por exemplo, y . O anel R[ y] é
formado por polinômios na indeterminada y cujos coeficientes são polinômios na
indeterminada x . Em vez de usarmos a notação R[ y] , com R = A[x ] , escrevemos,
simplesmente, A[x, y] . A construção na ordem inversa gera o mesmo anel. Mais
precisamente, se S = A[ y] , então e S[x ] é isomorfo a A[x, y] (veja o exercício de
aprofundamento 1). Um elemento f (x, y) Î A[x, y] é chamado polinômio em duas
indeterminadas com coeficientes em A .
EXEMPLO:
Seja f (x, y) = 1+ x + 4xy + x2 y + xy4 + y5 Î [x, y] . Podemos considerar
f (x, y) como polinômio na indeterminada y com coeficientes em [x ] :
f (x, y) = (1+ x) + (4x + x2 ) y + xy4 + y5 , ou como um polinômio na indeterminada
5 4 2
x com coeficientes em [ y] : f (x, y) = (1+ y ) + (1+ 4 y + y )x + yx .
96 Estruturas Algébricas
TÓPICO 2 Algoritmo da divisão
para polinômios
O bjetivos
• Estabelecer e usar o algoritmo da divisão para
polinômios
• Compreender algumas das consequências desse
algoritmo
AULA 6 TÓPICO 2 97
Teorema4 Seja A um corpo e consideremos f (x), g(x) Î A[x ] , com grau(f)>0 e
grau(g)>0. Então existem únicos tais que únicos q(x), r (x) Î A[x ] tais que
f (x) = g(x) × q(x) + r (x) e 0 £ grau (r ) £ grau ( g) - 1.
Demonstração:
Sejam
f (x) = anxn + an-1xn-1 + + a1x + a0 e g(x) = bmxm + bm-1xm-1 + + b1x + b0 ,
onde an ¹ 0 e bm ¹ 0 . Se m > n , então podemos escrever f (x) = 0× g(x) + f (x) e,
como 0 £ grau ( f ) < grau ( g) , podemos escrever q(x) = 0 e r (x) = f (x) .
Vamos supor, agora, que m £ n seja
K0
an n-m
f1 (x) = f (x) - x g(x).
bm
Dessa forma, diminuímos o grau de f1 (x) , ou seja, n1 = grau ( f1 ) < grau ( f ) .
Se grau ( f1 ) < grau ( g) , podemos escrever q(x) = K0xn-m e r (x) = f1(x) . Se
grau ( f1 ) ³ grau ( g) , então
f2 (x) = f1(x) - K1xn1-m × g(x),
onde a constante K1 é obtida dividindo-se o coeficiente líder de f1 pelo
coeficiente líder de g . Novamente, obtemos, n2 = grau ( f2 ) < grau ( f1 ) . Mais uma
vez, se grau ( f2 ) < grau ( g) , podemos escrever
q(x )
r (x )
98 Estruturas Algébricas
Por outro lado, grau (r ) < grau ( g) e grau (r ') < grau ( g) implicam que
grau (r ' - r ) < grau ( g) . Juntando as duas desigualdades, obtemos a contradição
grau ( g) > grau (r ' - r ) ³ grau ( g) . O absurdo veio de supormos que q(x) - q'(x) ¹ 0 .
Logo q(x) = q'(x) e r '(x) = f (x) - q'(x) g(x) = f (x) - q(x) g(x) = r (x) , o que demonstra
a unicidade.
EXEMPLO 2.
Seja f (x1,¼, xn ) Î A[x1,¼, xn ] . Podemos escrever f como um polinômio na
indeterminada xn , com coeficientes no domínio R = A[x1 ,¼, xn-1 ] . Como xn - an
é um polinômio em R[xn ] cujo coeficiente líder é invertível, podemos dividir
f (x1 ,¼, xn ) por xn - an em R[xn ] , obtendo
f (x1 ,¼, xn ) = (xn - an )q(x, ¼, xn ) + r (x1 ,¼, xn-1 ).
Note que o resto da divisão r (x1 ,¼, xn-1 ) não depende de xn , pois o grau
desse polinômio em relação à indeterminada xn é menor do que grau (xn - an ) = 1 ,
isto é, o grau de r em relação à indeterminada xn é zero, o que significa que esse
polinômio não depende da indeterminada xn .
AULA 6 TÓPICO 2 99
De acordo com a definição que demos, polinômios são sequências, que por
sua vez são funções. Assim, polinômios são funções definidas em . Podemos
ver os polinômios como funções de outro modo, considerando a possibilidade de
“avaliar” um polinômio em um elemento a Î A . Isso nada mais é do que considerar
a expressão formal do polinômio p(x) Î A[x ] , com a indeterminada x substituída
pelo elemento a Î A , gerando a expressão:
p(a) = anan + + a1a + a0 .
Temos, assim, para cada a Î A , uma função fa : A[x ] ® A , dada por
fa ( p(x)) = p(a) , chamada função avaliação no ponto a Î A .
O problema central da álgebra clássica, que motivou a criação e o estudo
sistemático da álgebra abstrata, é o da resolução de equações algébricas:
anxn + an-1xn-1 + + a1x + a0 = 0.
Aqui, a indeterminada x assume seu papel usual de “quantidade a
determinar”. Se denotarmos p(x) = anxn + + a1x + a0 , poderemos reescrever a
equação acima como
p(x) = 0.
Um elemento a Î A tal que p(a) = 0 é chamado raiz do polinômo p(x) .
A existência de raízes de p(x) depende diretamente de A . Assim, por exemplo,
p(x) = x2 + 1 não tem raízes em , mas tem duas raízes em . O Corolário a
seguir relaciona a presença de raízes de um polinômio p(x) com a questão da
divisibilidade em A[x ] .
Demonstração:
De acordo com o Teorema 4, existem q(x), r (x) Î A[x ] , tais que
p(x) = q(x)(x - a) + r (x) e 0 £ grau (r ) < grau (x - a) = 1 .
Logo, grau (r ) = 0 , isto é, r (x) = r , é uma constante. Assim,
p(a) = q(a)(a - a) + r , o que implica que p(a) = r . A segunda parte do Corolário
segue diretamente da primeira.
Demonstração:
O fato de K[x ] ser um domínio é
consequência direta do Lema 7, a ser demonstrado
no próximo tópico. A função N : K[x ] ® , dada
atenção!
por N ( f (x)) = 2grau ( f (x )) é uma função norma. De
De acordo com o que estudamos na aula 5,
fato, N ( f (x)) = 2n ³ 0 , onde n = grau ( f (x)) e
podemos garantir que, se é um corpo, então é um
N ( f (x)) = 0 se, e somente se, grau ( f (x)) = -¥ ,
DIP e, consequentemente, é também um DFU.
o que é equivalente a dizer que f (x) é o
polinômio identicamente nulo. Assim, vale a
condição 1.
Como K é corpo, grau ( f (x) × g(x)) = grau ( f (x)) + grau ( g(x)) , logo
grau ( f (x )) grau ( g(x ))
N ( f (x) × g(x)) = 2 ×2 = N ( f (x)) × N ( g(x)) e vale a condição 2.
Finalmente, a condição 3 é
consequência direta do Teorema 4. O único
fato a verificar é a validade das desigualdades
0 £ N (r (x)) < N ( g(x)) . Sabemos, do
atenção !
Teorema 4, que 0 £ grau (r (x)) < grau ( g(x))
Na demonstração do Teorema 6, consideramos
ou r (x) = 0 . Se r (x) = 0 , então
a norma definida como N(f(x)) = 2grau (f(x)).
N (r (x)) = 0 < N ( g(x)) , pois g(x) ¹ 0 , por
A escolha da base 2 para essa potência não é
hipótese. Se 0 £ grau (r (x)) < grau ( g(x)) ,
essencial. Podemos substituir 2 por qualquer grau (r (x ))
então 0
2 £2 < 2grau ( g(x )) , isto é,
número inteiro maior do que 1
1£ N (r (x)) < N ( g(x)) . Em qualquer um dos
casos, 0 £ N (r (x)) < N ( g(x)) .
s aiba mais !
Dois polinômios são iguais se são iguais como
N este tópico, estaremos
interessados em critérios que
nos permitam verificar se um
dado polinômio f (x) com coeficientes inteiros
é irredutível.
funções, ou, alternativamente, se os seus Seja A um domínio de fatoração única e
coeficientes de mesmo grau são iguais. A[x ] o anel de polinômios com coeficientes em
A . Comecemos com o seguinte resultado.
Demonstração:
Dados f (x), g(x) Î A[x ] tais que f (x) g(x) = 0 , devemos mostrar
que f (x) = 0 ou g(x) = 0 , onde essas igualdades são entre polinômios. Se
f (x) = a0 + a1x + a2x2 +anxn e g(x) = b0 + b1x + b2x2 + + bmxm , então
f (x) × g(x) = a0b0 + (a0b1 + a1b0 )x + (a0b2 + a1b1 + a2b0 )x2 + + anbmxn+m .
Como esse polinômio é identicamente nulo, todos os seus coeficientes são
iguais a zero, logo
ì
ïa0b0 = 0
ï
ï
ï
ïa0b1 + a1b0 = 0
ï
ï
ía0b2 + a1b1 + a2b0 = 0
ï
ï
ï
ï
ï
ï
îanbm
ï = 0
=0
=0
a0bk+ + a1bk+-1 + + ak-1b +1 + ak b + ak+1b-1 + + ak+-1b1 + ak+ b0
EXEMPLO:
O anel é um domínio de ideais
principais, mas [x ] não é um D.I.P., pois o ideal
g u a r d e be m isso!
(2, x) = { 2× f (x) + x × g(x)| f (x), g(x) Î [x ]}
Já vimos, no Corolário 6, que, se é um corpo,
Não é principal. De fato, se (2, x) fosse gerado
então é um domínio euclidiano, logo também é
por um polinômio h(x) , teríamos 2 Î (h(x)) ,
um DIP e um DFU. O exemplo acima mostra que a
o que implicaria h(x)| 2 , isto é, 2 = h(x) × a(x) ,
hipótese dos coeficientes estarem em um corpo é
com a(x) Î [x ] . Em particular, grau (h) = 0 ,
essencial para o resultado desse corolário. De fato,
ou seja, h(x) = H Î . Como x Î (h(x)) teríamos
mesmo sendo um domínio, podemos perder a
h(x)| x , ou seja, x = h(x) × b(x) = H × b(x) , onde
propriedade dos ideais serem principais.
b(x) Î [x ] . Comparando coeficientes, teríamos
b(x) = x e H = 1 , logo (2, x) = (h(x)) = (1) = [x ] ,
o que não ocorre, pois os elementos de (2, x) têm
coeficiente de grau zero PAR, logo 1+ x Î [x ] e
1+ x Î (2, x) .
O próximo resultado, conhecido como
Lema de Gauss, é de fundamental importância no at e n ç ão!
que se segue. Precisamos de algumas definições Mostraremos, no Teorema 10, que, se é um DFU,
preliminares. Dado um polinômio f (x) Î A[x ] , então também é um DFU e isso nos dirá que é um
onde A é um DFU, o máximo divisor comum exemplo de DFU que não é DIP, como prometido
dos coeficientes de f (x) é chamado conteúdo na aula anterior.
Demonstração:
Demonstraremos o item 1 em sua forma contrapositiva, isto é,
pf (x)ü
ï
ï
ý Þ pf (x) × g(x). Para tal, escrevamos
pg(x)ïï
þ
f (x) = a0 + a1x + a2x2 + + ai xi +
g(x) = b0 + b1x + b2x2 + + bj x j +
Como pai bj e p divide todas as outras parcelas da soma acima, temos que
pci + j Logo, pf (x) × g(x) .
Para mostrarmos o item 2, suponhamos que f (x) e g(x) sejam polinômios
primitivos em A[x ] . Seja d = c( fg) Î A e suponhamos que d ¹ 1 . Então existe
p Î A primo que divide d , pois A é um DFU. Como p| d e d| f (x) g(x) , temos
que p| f (x) g(x) . Pelo item 1, demonstrado acima, p| f (x) ou p| g(x) . Mas isso não
é possível, pois f e g são primitivos.
Demonstração:
Por indução sobre o grau de um polinômio f (x) Î A[x ] , é possível mostrar
que ele é produto de um número finito de polinômios irredutíveis. Basta, então,
mostrar que todo polinômio irredutível é primo. Seja p(x) Î A[x ] um polinômio
irredutível e f (x), g(x) Î A[x ] tais que p(x)| f (x) × g(x) . Se p(x) = p Î A , ou seja,
se p(x) é constante, então, pelo item 1 do Lema 8, p(x)| f (x) ou p(x)| g(x) . Se
p(x) Î A[x ] não é constante, então p(x) é primitivo, do contrário poderíamos
escrever p(x) = c( p) × p0 (x) , o que seria uma decomposição não trivial de p(x) .
Além disso, pelo Corolário 9, p(x) irredutível em A[x ] implica que p(x) também
é irredutível em K[x ] . Como K e um corpo, o Corolário 6 nos garante que K[x ]
é um domínio euclidiano, logo também é um DFU e, portanto, p(x)| f (x) × g(x)
implica que p(x) divide um dos fatores em K[x ] , ou seja, existe H (x) Î K[x ]
tal que, f (x) = p(x) × H (x) , digamos. Podemos supor, ainda, que f (x) é primitivo,
1
substituindo H (x) por × H (x) se necessário. Assim, novamente pelo Corolário
c( f )
9, concluímos que f (x) = p(x) × h(x) , com h(x) Î A[x ] , ou seja, p(x) divide f (x) em
A[x ] Claro que o mesmo acontece se supusermos que p(x) divide g(x) em K[x ] .
EXEMPLOS:
1. Como é um DFU, [x ] também o é. Como já vimos, [x ] não é um DIP,
logo, [x ] é um exemplo de DFU que não é DIP.
2. Se A é um DFU, então A[x1 ,¼, xn ] também é um DFU.
3. Se K é um corpo, então A = K[x ] é, pelo Corolário 6, um DFU, logo,
K[x, y] = A[ y] também é um DFU, pelo Teorema 10. Repetindo esse argumento,
verificamos que K[x1 ,¼, xn ] é um DFU.
f (x) = x2 ± 1± 1.
Demonstração:
Suponha, ainda que pareça absurdo, que f (x) = g(x)h(x) , onde
g(x) = b0 + b1x + + bk x k e
p| c0 e pb0 .
Vamos supor que p| b0 e pc0 . O outro caso é similar. Uma vez que p| b0 e
pbk , existe i , 1£ i £ k tal que p| bi -1 e pbi .
Os coeficientes de f (x) podem ser escritos como
a0 = b0c0 ,
a1 = b0c1 + b1c0 ,
i 0,
ai = b0ci + b1ci -1 + + bi -1c1 + bc
an = bk cm .
Como p| a1 , p| b0 e a1 = b0c1 + b1c0 , temos p| b1c0 . Como estamos supondo
que pc0 , segue que p| b1 , pois p é primo.
A igualdade a2 = b0c2 + b1c1 + b2c0 , juntamente com com p| a2 , p| b0 e p| b1 ,
implicam que p| b2c0 . Como pc0 , temos p| b2 .
Continuando esse processo, vemos que p| bj , para cada j Î { 0,¼, i - 1} . Logo,
como p| ai , a igualdade ai = b0ci + b1ci -1 + + bi -1c1 + bc
i 0 implica que p| bc
i 0 , ou
EXEMPLO:
Seja pÎ um número primo. O polinômio Ø p (x) = x p-1 + + x + 1 é chamado
p -ésimo polinômio ciclotômico. Vamos, a seguir, mostrar que Ø p é irredutível.
Primeiramente, notemos que, se f (x) = Ø p (x + 1) então f (x) é irredutível se, e
somente se, Ø p também é. De fato, uma decomposição Ø p (x) = F(x)G(x) implicaria
uma decomposição f (x) = F(x + 1)G(x + 1) . Reciprocamente, uma decomposição
f (x) = g(x)h(x) implicaria uma decomposição Ø p (x) = g(x - 1)h(x - 1) .
x p -1 ,
Agora, como Ø p (x) = 1+ x + x2 + + x p-1 = temos
x - 1
(x + 1)p - 1 , logo Ø (x + 1) = x p-1 + p x p-2 + + p x+ p ,
Ø p (x + 1) =
x
p
1 p- 2 p -1
ou seja, Ø p (x + 1) = x p-1 + p + + p x + p . Como p| p , para todo
1 p- 2 k
2
1£ k £ p - 1 , p1 e p p , pelo critério de Einsenstein, Ø p (x + 1) é irredutível, logo
Ø p (x) também é irredutível.
Isso mostra que, em [x ] , existem polinômios irredutíveis de grau
arbitrariamente grande. É interessante observarmos que isso contrasta fortemente
com a situação em [x ] , onde os polinômios irredutíveis têm grau 1, e em [x ] ,
onde os polinômios irredutíveis têm grau 1 ou 2 .
Concluímos aqui nossa sexta aula. Estudamos os anéis de polinômios e o
problema da irredutibilidade nesses anéis. Um dos principais pontos desta aula são
o Lema de Gauss e suas consequências, principalmente o Teorema 10, que afirma
at iv ida d e d e a p r of u da m e n t o
dado por
f(a0 (x) + a1(x) y + + an (x) yn ) = b0 ( y) + b1( y)x + + bm ( y)xm .
Mostre que f é um isomorfismo.
2. Dado nÎ , n³ 1 , seja A = n [x, y] .
(a) Mostre que (x) é um ideal primo de A que não é ideal maximal.
(b) Mostre que (x, y) é ideal maximal se, e somente se, n é primo.
(c) Sabendo que (8, x) é um ideal primo de A , determine os possíveis valores de n .
3. Seja A = [x, y] o anel de polinômios com duas indeterminadas com coeficientes reais.
(a) Mostre que I = (x3 - y2 ) é um ideal de A .
(b) Mostre que, no anel quociente A / I , não vale o teorema da fatoração única.
4. Em cada um dos itens abaixo, mostre que o homomorfismo em questão é sobrejetivo e determine seu
núcleo.
(a) f : ® 8 , dado por f (n) = n .
(b) f : [x, y] ® [x ] , dada por f (P(x, y)) = P(x,0) , onde x, y e t são indeterminadas.
(c) f : [x ] ® , dada por f (P(x)) = P(i ) , onde i 2 = -1.
10. Seja o anel quociente [x ] / (x2 ) . Os elementos de são chamados números duais. Eles são
classes de equivalência de polinômios com coeficientes reais. Seja e = x . Então
= [e ] = { a + be | a, b Î } .
(a) Mostre que, se f : ® é uma função derivável, então f (x + e) = f (x) + e × f '(x) , para todo
xÎ.
13. Usando o resultado do exercício anterior, mostre que, se a Î é raiz de um polinômio mônico,
então a Î .
16. Seja cÎ fixado. Considere a função j : [x ] ® [x ] dada por j( f (x)) = f (x + c) .
(a) Demonstre que j é um isomorfismo.
(b) Demonstre: dado um polinômio g(x) Î [x ] , se g(x + c) é irredutível sobre então g(x) é
irredutível sobre .
(c)(Gauss)UsandoocritériodeEisenstein,mostrequeopolinômio Øp(x) = xp - 1+ xp - 2 + + x + 1
é irredutível (dica: escreva Øp(x) = xp - 1x - 1 é mostre, usando o critério de Eisentein, que Ø (c)
(Gauss) Usando o critério de Eisenstein, mostre que o polinômio Ø p (x) = x p-1 + x p-2 + + x + 1
p
x -1
é irredutível (dica: escreva Ø p (x) = é mostre, usando o critério de Eisentein, que Ø p (x + 1)
x -1
é irredutível).
21. Faça uma lista com todos os polinômios de grau 3 em 2[x ] . Quais desses polinômios são irredutíveis?
23. Sejam f , g Î [x ] . Suponha que f é irredutível em [x ] e que f e g possuam uma raiz comum
em . Demonstre que f | g .
26. Se n é um inteiro positivo não divisível por 2 nem por 3 , mostre que o polinômio
(x + y)n - xn - yn Î [x, y] é divisível pelo polinômio xy(x2 + xy + y2 ) .
27. Um polinômio f de grau n sobre um corpo K tem, no máximo, n raízes nesse corpo. Baseando-se
nesse fato, demonstre as seguintes afirmações:
Olá aluno(a),
Nesta aula, estudaremos de maneira breve alguns dos corpos que contêm o
corpo dos números racionais e que têm especial importãncia, os chamados
corpos de números algébricos, que são exatamente as extensões finitas de .
Veremos ainda resultados (Teoremas 4 e 5) que garantem que os corpos com um
número finito de elementos são exatamente aqueles cujo número de elementos
é a potência de um primo. Vale salientar que os resultados aqui apresentados
constituem apenas uma pequena parte da teoria dos corpos.
Objetivos
AULA 7 115
TÓPICO 1 Extensões de corpos
O bjetivos
• Identificar quando um elemento é algébrico ou
transcendente sobre um corpo K
• Determinar o grau de algumas extensões finitas de corpos
• Encontrar o corpo de decomposição de um polinômio,
para alguns casos simples
Demonstração:
Supondo que [L : F ] é finito, L pode ser visto como um espaço vetorial de
dimensão finita sobre F . Como K é um subespaço de L , [K : F ] também é finito.
Qualquer conjunto que gera L com coeficientes em F , uma base, por exemplo,
também gera L com coeficientes em K . Logo, [L : K ] também é finito.
Reciprocamente, suponhamos que [K : F ] = m e [L : K ] = n . Vamos mostrar
que [L : F ] é finito e é igual a mn . Seja { u1,¼, um } uma base de K sobre F e
{ v1,¼, vn } uma base de L sobre K . Afirmamos que B = { ui v j | 1£ i £ m,1£ j £ n}
é uma base de L sobre F . Note que, como B tem mn elementos, isso mostra que
[L : F ] = mn .
å žij ui v j = 0,
a
1£i £m
1£ j £n
Demonstração:
(1) Suponhamos que existam f (x), g(x) Î F[x ] mônicos (isto é, com
coeficientes líderes iguais a 1) e com grau n = grau ( f ) = grau ( g) mínimo, tais
EXEMPLO:
Se f (x) = x2 - 2 , então, pelo teorema fundamental dos homomorfismos de
anéis, L = [x ] / ( f (x)) é isomorfo ao anel (que é, de fato, um corpo) [ 2] e esse
isomorfismo identifica x com 2.
EXEMPLO:
O polinômiof (x) = x 4 - 2 Î [x ] é irredutível sobre . Sabemos
que 4 2 Î é raiz de f (x) . Logo, f (x) é o polinômio minimal de 4 2
sobre e [( 4 2): ] = grau ( f ) = 4 . Em ( 4 2) , podemos escrever
Demonstração:
(1) A construção que fizemos acima nos mostra que, na cadeia
K Ì L Ì L1 Ì Ì Ls ,
onde Ls é o corpo de decomposição de f (x) Î K[x ] , cada inclusão representa uma
extensão finita. Logo, o grau [Ls : K ] é finito.
(2) A demonstração dessa afirmação requer o uso do Lema de Zorn e da noção
de fecho algébrico, que não estudaremos aqui, devido ao caráter introdutório desta
aula. O leitor interessado pode consultar, por exemplo, o livro de O. Endler, Teoria
dos Corpos, citado nas referências.
Demonstração:
Consideremos o homomorfismo f:®L, dado por f(0) = 0 ,
f(n) = 1+ + 1 ( n vezes), se n> 0 , e f(n) = -1- - 1 ( -n vezes), se n< 0 .
Aqui, 1= 1L denota o elemento neutro do produto em L . Como L é finito, existe
p
p tal que 1+ + 1= 0 . De fato, se isso não acontecesse, seria possível produzir
uma sequência 1,1+ 1,1+ 1+ 1,¼ de elementos distintos, logo infinita, em L , o
que não é possível, pois L possui apenas um número finito de elementos (veja a
tarefa 3, no final desta aula). Podemos considerar p como sendo o menor inteiro
p
positivo tal que 1+ + 1= 0 (isso é possível, pelo princípio da boa ordenação).
n
Se n é um inteiro positivo tal que 1+ + 1= 0 , então p| n .
O núcleo kerf é um ideal de e, como é um domínio de ideais principais
(aula 5), ker f = n , para algum nÎ , n> 0 . Como f( p) = 0 , p Î ker f = n ,
logo n| p . Como p é o menor inteiro positivo tal que f( p) = 0 , temos p| n . Assim,
n = p , pois n e p são positivos.
O teorema fundamental dos homomorfismos de anéis nos diz que / p
é isomorfo a um subanel de L . Como L é um corpo, esse subanel é um domínio.
Assim, p = / p é um domínio e, pelo Teorema 2 da aula 3, p é primo e p é
um corpo. Dessa forma, acabamos de verificar que L é uma extensão do corpo p .
Uma vez que L é um corpo finito, a extensão L| p é, necessariamente, uma
extensão finita. Pela discussão do início do tópico, o número de elementos de L é
pn , onde n = [L : p ] .
Demonstração:
Seja q = pn e considere o polinômio f (x) = xq - x . O Teorema 3 garante que
existe uma extensão finita N de p que é corpo de decomposição de f (x) , isto
é, todas as raízes de f (x) estão em N . Seja L Ì N o conjunto das raízes de f (x) .
Vamos mostrar que L = N .
Notemos que, dados a, b Î L , temos a q = a e b q = b , pois ambos são
raízes de f (x) = xq - x . Agora (a × b )q = a q × b q = a × b , o que implica a × b Î L .
-1
Mais ainda, f (1) = 0 f (0) = 0 implicam que 1Î L e 0 Î L . Se a ¹ 0 , a Î N
é raiz de f (x) pois (a-1 )q = (a q )-1 = a-1 , logo a-1 Î L . No desenvolvimento
binomial de (a + b )q , os coeficientes binomiais q são múltiplos de q = pn ,
k
para cada k , 1£ k £ q - 1 , logo todos os coeficientes binomiais q são múltiplos
k
de p . Como o corpo N É p tem característica p , temos q = 0 , para cada k ,
k q
1£ k £ q - 1 , logo (a + b )q = a q + b q e (a - b )q = a q - b q . Como a = a e
b q = b , temos (a ± b )q = a q ± b q = a ± b , o que implica que a ± b Î L . Dessa
forma, o subconjunto não-vazio L de N é fechado para a soma, para a diferença,
para o produto e para a inversão de elementos não nulos, além de conter 0 e 1.
Portanto, L é um corpo e contém todas as raízes de f (x) , sendo, portanto, o corpo
de decomposição de f (x) , ou seja, L = N .
Mostramos, portanto, que existe um corpo com q = pn elementos, para
todo p primo e todo n³ 1 . Esse corpo é exatamente o corpo de decomposição do
polinômio f (x) = xq - x Î p [x ] . Pelo item (2) do Teorema 3, se K é outro corpo de
decomposição de f (x) existe um p -automorfismo s : L ® K .
Assim, para concluirmos a demonstração, basta verificarmos que, se K
for outro corpo finito com q = pn elementos, então K também será corpo de
decomposição de f (x) = xq - x . De fato, vamos mostrar que todo elemento de K
é raiz de f (x) Primeiramente, f (0) = 0 , logo 0 Î K é raiz de f (x) . O conjunto
K * = K -{ 0} é um grupo (o grupo multiplicativo do corpo K ) e tem q- 1 elementos.
Dado x Î K * seja S = áxñ = {1, x, x2 ,¼, xr -1} o subgrupo (finito) de K * gerado por
x ( xr = 1 ). Esse grupo tem r elementos e, pelo Teorema de Lagrange (estudado na
Aula 1), r divide a ordem do grupo K * , isto é, q - 1= r × a , para algum a inteiro.
EXEMPLO:
Seja F = 2 = { 0,1} . O polinômio
2
f (x) = x + x + 1Î F[x ] é irredutível sobre F .
at e n ç ão!
De fato, como f (x) tem grau 2 , sabemos que f
é irredutível se, e somente se, não tiver raízes em Usamos a notação q para indicar o corpo (único
a menos de isomorfismo) com q = pn elementos.
F . Como F = { 0,1} e f (0) = 1 , f (1) = 1, f não
tem raízes em F = 2 e, portanto, é irredutível
em F[x ] . O anel quociente K = 2[x ] / ( f (x)) é, logo, um corpo, cujos elementos
podem ser representados na forma a + na , com a, bÎ 2 , onde a 2 + a + 1= 0 ,
o que significa que a 2 = -a - 1= a + 1 . Essa última igualdade ocorre porque
-1= 1 em 2 . Como temos duas escolhas para a e duas escolhas para b , o corpo
K tem 4 elementos. Mais precisamente:
4 = 2[x ] / ( f (x)) = { 0,1, a,1+ a}
Podemos construir as tabelas de adição e multiplicação para os elementos
de K :
+ 0 1 a 1+ a × 0 1 a 1+ a
0 0 1 a 1+ a 0 0 0 0 0
1 1 0 1+ a a 1 0 1 a 1+ a
a a 1+ a 0 1 a 0 a 1+ a 1
1+ a 1+ a a 1 0 1+ a 0 1+ a 1 a
Com este exemplo, encerramos o tópico 2. Vimos aqui que um corpo finito
tem como número de elementos uma potência de um número primo. Vimos também
que, para cada primo p e para cada inteiro positivo n , existe um corpo de ordem
pn e, mais ainda, esse corpo é essencialmente único, no seguinte sentido: dois
corpos finitos com o mesmo número de elementos são isomorfos. Concluímos o
tópico exibindo, por meio de um exmplo, um método para construir explicitamente
um corpo finito com pn elementos.
Nessa sétima aula, procuramos exibir algumas noções básicas sobre corpos,
enfatizando sua relação estreita com o estudo da decomposição de polinômios.
Na aula seguinte, usaremos alguns resultados encontrados aqui para resolvermos
problemas clássicos de geometria.
2
2. Mostre que, se o grau de u sobre K é ímpar, então K(u) = K(u ) . Sugestão: Mostre que
2
K Ì K(u ) Ì K(u) e que, se K(u) ¹ K(u ) , a extensão K(u ) Ì K(u) é quadrática.
2 2
3. Seja f (x) Î K[x ] e seja L = K(a1 ,¼, an ) tal que f (x) = (x - a1 )(x - an ) em L[x ] .
(a) Mostre que [L : K ] £ n! ;
(b) Supondo que f (x) é irredutível em K[x ] , mostre que [L : K ] = n se, e somente se,
L = K(a j ) , para algum j Î {1,¼, n} . Neste caso, L = K(a j ) para todo j Î {1,¼, n} ;
(c) No final da Aula 6, mostramos que f (x) = x p-1 + x p-2 + + x + 1 é irredutível em
[x ] . Mostre que este polinômio satisfaz as condições do item (b).
5. Seja L| K uma extensão algébrica e considere a Î L . Seja B = { b1 ,¼, bn } uma base de L como
espaço vetorial sobre K . O operador linesr Ta : L ® L , dado por Ta (x) = a × x é representado, na
base B , pela matriz
æa11 a12 a1n ö÷
çç ÷
çça21 a22 a2n ÷÷÷
A = çç ÷
çç ÷÷÷
çç ÷
çèan1 an2 ann ÷ø÷
6. Usando a mesma notação do exercício anterior, mostre que Fa ,K (a )| K (x) é o polinômio minimal de a
sobre K .
Olá aluno(a),
Objetivos
1 3 1 3
C1 = { (0,0),(1,0),(-1,0),(2,0),( , ),( ,- )}
2 2 2 2
Demonstração:
Se a Î é construtível, então (a,0) Î Cn , para algum n³ 0 . Isso significa
que (a,0) está na interseção de duas retas ou de uma reta e um círculo, determinados
por pontos construtíveis de espécie n- 1 . Mais precisamente, existem pontos
A, B,C, D Î Cn-1 tais que { (a,0)} = r (A, B) Ç r (C, D) ou { (a,0)} = r (A, B) Ç c(C, D) .
Em qualquer um dos casos, o par ordenado (a,0) é solução de um sistema de um
dos tipos abaixo:
ì
ï
ï(b2 - a2 )X + (a1 - b1 )Y + (a2b1 - a1b2 ) = 0
í ou
î(d2 - c2 )X + (c1 - d1 )Y + (c2d1 - c1d2 ) = 0
ï
ï
ì
ï
ï(b2 - a2 )X + (a1 - b1 )Y + (a2b1 - a1b2 ) = 0
í 2 2 2 2,
î(X - c1 ) + (Y - c2 ) = (d1 - c1 ) + (d2 - c2 )
ï
ï
onde A = (a1 , a2 ), B = (b1, b2 ),C = (c1, c2 ), D = (d1, d2 ) .
Eliminando a indeterminada Y nesses sistemas, obtemos uma equação de
grau no máximo 2 . Assim, podemos afirmar que, se as coordenadas ai , bi , ci , di (
i = 1,2 ) dos pontos A, B,C, D , pertencem a um corpo F , então a Î F( D ) , com
EXEMPLO 2:
O código usado para detectar um erro na transmissão de dados entre o teclado
e a unidade central processamento (CPU) de um computador é o ASCII (American
Standard Code for Information Interchange, ou seja, Código Padrão Americano para
o Intercâmbio de Informação). O código consiste de associações entre os símbolos
do teclado e listas de 7 dígitos 0 ou 1. Cada dígito de uma dessas listas é chamado
bit. Por exemplo, podemos associar ao símbolo * à lista 1001101, formada por 7
bits. Como, para cada possível bit, temos duas possibilidades, ao todo podemos
dispor de 128 = 27 listas.
Para que possamos detectar um erro, devemos introduzir um oitavo bit,
chamado bit de checagem. Obtemos assim uma lista com 8 bits, denominada byte,
onde 7 dígitos (bits) transmitem uma informação e o oitavo bit serve para verificar
se a informação foi transmitida corretamente.
funcionamento de um código. A ideia é distante, o erro, além de detectado, tem que ser
corrigido.
selecionar um certo número de blocos de
comprimento finito, que formarão o código.
No exemplo acima, os blocos são os bytes. Uma certa informação que precisa ser
transmitida por um canal sujeito à interferência é codificada (transformada em um
EXEMPLO 1:
Seja CÌ 26 o código binário gerado pela base B = {100011,010101,001110} .
A matriz geradora de C é
æ1 0 0 0 1 1ö÷
çç ÷
G = çç0 1 0 1 0 1÷÷÷ ,
çç ÷
çè0 0 1 1 1 0÷÷ø
Demonstração:
Como C é um espaço vetorial, se X,Y Î C , então X - Y Î C . Pela definição
de distância de Hamming, d(X,Y) é igual à quantidade de coordenadas distintas
de X e Y . Esse número coincide com o número de coordenadas não nulas de
X - Y , logo d(X,Y) = d(X - Y,0) = w (X - Y) . Assim, a menor distância coincide
com o menor peso.
Seja q = pn , onde p é um número primo e n é um número inteiro positivo.
Seja C um código [n, k ] sobre q , isto é, C é um subespaço de dimensão k de qn .
Podemos escolher uma base B = { v1¼, vk } de C dada por
v1 = 1000x1 k+1 x1n
Teorema3 Dado um código C , linear [n, k ] sobre q e uma palavra x Î qn , temos
x Î Cse, esomentese, x × H t = 0,
onde H t representa a transposta da matriz de checagem.
x × H t = y × (G× H t ) = y × 0 = 0 .
EXEMPLO:
Queremos transmitir 8 símbolos, a1 ,¼, a7 , usando um código que nos
permita corrigir um erro. Podemos associar a cada símbolo um número de 0 a 7 .
Escrevendo esses números na base 2 , obtemos as seguintes palavras de três bits:
000,001,010,011,100,101,110,111.
A informação será transmitida dessa forma e, após recebida, será convertida
novamente em número decimal e, finalmente, no símbolo correspondente ao
número específico.
Para que seja possível corrigir um erro, devemos introduzir o que costumamos
denominar redundância, que nada mais é do que uma informação adicional que
torna o código mais eficiente. No nosso exemplo, adicionaremos mais três bits a
cada palavra x1x2x3 , de modo a obtermos palavras com 6 bits: x1x2x3x4x5x6 . Os
três bits adicionais devem depender dos três primeiros bits. Vamos escolher as
seguintes relações lineares: x4 = x2 + x3 , x5 = x1 + x3 e x6 = x1 + x2 . Dese modo,
obtemos o seguinte código linear:
C= { 000000,001110,010101,011011,100011,101101,110110,111000} .
ì
ïe2 + e3 + e4 = 1
ï
ï
ï
íe1 + e3 + e5 = 0
ï
ï
îe1 + e2 + e6 =
ï
ï 0
Como w (e) deve ser mínimo, escolhemos
as coordenadas de e de modo que apareça
o maior número possível de zeros. Isso
ocorre quando e1 = e2 = e3 = e5 = e6 = 0
atenção!
e e4 = 1 . Logo e= 000100 e
O código do exemplo acima é capaz de corrigir x = y - e= 110010 - 000100 = 110110 Î C .
1 erro. Caso a interferência na transmissão Concluímos, então, que a palavra y foi enviada
provoque mais de um erro, o código pode falhar,
como x = 110110 Î C e sofreu interferência,
não recuperando corretamente a palavra enviada.
que alterou um de seus bits. O código C foi,
portanto, capaz de recuperar a palavra enviada
x a partir da palavra y recebida (com 1 erro).
Concluímos aqui o nosso último tópico. Nele vimos, de modo resumido, como
é possível a construção de um código corretor de erros. Fizemos uso de técnicas
desenvolvidas em aulas anteriores para conceber um método de transmissão de
dados que minimiza a perda de informações.
Existem muitas outras aplicações da Álgebra Abstrata a outras partes da
Matemática e mesmo a outras áreas do conhecimento. Citemos, brevemente e
apenas a título de informação, algumas dessas aplicações: na Mecânica Quântica,
as partículas elementares podem ser estudadas usando-se a teoria da representação
(linear) de grupos, com a qual verificamos os homomorfismos de um grupo abstrato
em um grupo formado por matrizes.
1. Sejam m e n números inteiros maiores ou iguais a 2 , tais que mdc(m, n) = 1 . Mostre que, se um
ângulo q puder ser dividido em m partes iguais e também em n partes iguais, com régua e compasso,
então q pode ser dividido em m × n partes iguais com régua e compasso.
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2. Use o fato de que não pode ser trissectado para mostrar que 4x3 - 3x + é irredutível em [x ] .
3 2
3. Considere o código C linear [7,4] sobre 2 que tem matriz de checagem dada por
æ0 0 0 1 1 1 1ö÷
çç ÷
çç0 1 1 0 0 1 1÷÷.
çç ÷÷
çè1 0 1 0 1 0 1÷÷ø
Este código é chamado código [7,4] de Hamming.
(a) Determine o peso de C .
(b) Encontre uma matriz geradora de C .
(c) Calcule os vetores líderes das classes de equivalência de C .
(d) Escreva alguns vetores de 27 e decodifique-os.
Angelo Papa Neto nasceu em Fortaleza, onde fez seus estudos básicos e sua graduação.
É licenciado em Matemática pela Universidade Federal do Ceará (UFC), onde também fez
seu mestrado. Concluiu o doutorado em Matemática em 2007 na Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP). Sua área de pesquisa é a Álgebra Comutativa, área em que nutre
especial interesse pela Teoria de Valorizações, pela Teoria das Formas Quadráticas e pela
Álgebra Real. É professor efetivo do IFCE desde 1997. Casado desde 2000, é pai de dois
filhos. Na música, é um grande admirador de J. S. Bach, L. Beethoven e Dimitri Shostakovich;
no cinema, de F. W. Murnau, Fritz Lang e A. Hitchcock; na literatura, de F. Kafka, A. Tchekov
e Guimarães Rosa; na gastronomia, de sua esposa Sueli.
CURRÍCULO 151