Doroteheus de Sidon - Palestra de Celisa
Doroteheus de Sidon - Palestra de Celisa
Doroteheus de Sidon - Palestra de Celisa
Dorotheus foi o verdadeiro compilador dos recursos da prática disponível em sua época,
quando gregos, egípcios, judeus, persas, e babilônios conviviam em Alexandria. Uma prática
cuja interpretação da Carta Natal era muito mais voltada para o desenvolvimento do que a
vida prometia do que para a descrição da personalidade, que descrevia os períodos da vida,
apresentando o governante de cada ano, e a própria extensão da vida (extremamente
importante na época). Entretanto, já existia a progressão do ascendente e um sistema
elaborado de direções. Há no Museu Britânico o texto da interpretação de um nascimento
em 13 de abril de 95, feito pouco tempo após o nascimento, que confirma a astrologia
apresentada por Dorotheus.
Segundo as pesquisas, Dorotheus escreveu seu Pentateuco entre 25 e 75d.C. O
conhecimento da existência deste texto só ocorreu através das citações de Hephaistos de
Tebas (final do século IV, começo do V). Os fragmentos deste livro só chegaram à Europa,
mais especificamente à Alemanha, em 1972 na tradução de David Pingree, e só alcançaram
a Inglaterra em 1993. Tomamos conhecimento deles há menos de um ano quando
estudávamos a nova história da Astrologia. A compilação, denominada Carmen
Astrologicum, foi traduzida principalmente de um texto árabe do século VIII, que por sua vez
havia sido traduzido de um texto persa do século III. Além de não estar completo, há
inserções posteriores, comprovadas pela citação a Vettius Valens do século II e pela
inclusão de mapas do século III.
De qualquer forma, o texto de Dorotheus também é muito importante por sua diferença com
relação ao Tetrabiblos de Ptolomeu, que não é a Bíblia da Astrologia Grega como
supúnhamos.
Dorotheus se assemelha muito mais a Vettius Valens (contemporâneo de Ptolomeu no séc.
II), que sabemos atualmente ser também muito importante. Na realidade, é necessário juntar
Dorotheus, Vettius Valens e Ptolomeu para que possamos obter uma idéia da verdadeira
Astrologia praticada em Alexandria no início de nossa era. Hephaistos de Tebas, procurou
fazer esta junção e por este motivo é hoje um dos mais estudados.
A grande questão é que Dorotheus e Valens participaram da linha principal da Astrologia de
Alexandria enquanto Ptolomeu, sabemos agora, foi na realidade um homem culto e
inteligente que resumiu e sistematizou o conhecimento acumulado de diversas ciências da
época: astronomia, as origens da astrofísica, geografia e astrologia. Segundo o astrólogo
historiador James Hershel, Ptolomeu pode ter trabalhado sob o patrocínio de um
desconhecido de nome Syrus, a quem ele dedicou todos os seus livros. Diversos
pesquisadores afirmam que Ptolomeu não era astrólogo porque não cita nenhum outro
astrólogo, e também não é citado por seu contemporâneo Valens, atuante, que menciona
diversos astrólogos em seu Anthologie. A primeira menção ao livro de Ptolomeu só ocorreu
dois séculos mais tarde, supostamente porque os descendentes de Syrus o retiveram.
Além do mais, no Tetrabiblos não há nenhum mapa de exemplo enquanto nos livros de
Dorotheus, Valens e outros que os sucederam apresentam mapas.
Ptolomeu era então um teórico que expôs uma visão simplificada da Astrologia, sem a
preocupação em ensiná-la, e eliminou diversas regras disponíveis da prática corrente, para
as quais não encontrou lugar na reformulação da astrologia como ciência física e natural
dentro de sua visão estóica (cujo ideal do verdadeiro sábio consiste em viver de acordo com
a natureza) e aristotélica.
Inegavelmente seu Tetrabiblos é muito bem organizado. Ninguém melhor do que ele
sistematizou a astrologia, mas para promover isto ele relegou muitas dentre as práticas de
sua época, como é o caso dos diversos lotes (considerou apenas o da fortuna, que aliás
conhecemos indevidamente com o nome de parte, quando lote era usado no sentido de
sina, sorte, destino e não porção), das muitas regras para todas as questões da vida (número
de irmãos, filhos, casamentos etc..) e a total exclusão dos inícios e interrogações,
conhecidos na época pelo nome de katarchai (que segundo Marcus Reis, Doutor em
Filosofia, vem de katarcho que quer dizer iniciar alguma coisa, mais especialmente rituais
sagrados). Segundo Tester o motivo pelo qual Ptolomeu relegou estas práticas foi o fato de
terem suas raízes em mistérios e superstições e o receio da marca da família, em desacordo
com sua linha racional, os fez excluí-las.
Mas sabemos que os astrólogos de Alexandria se esforçavam para cultivar o estilo
hermético baseado nos antigos que era o melhor modo para uma apresentação de forma
incontestável. O próprio Dorotheus afirma ter viajado muito através da Mesopotâmia e do
Egito para obter o melhor do conhecimento dos antigos.
Valens e Ptolomeu consideravam a Astrologia mais natural do que mística ou conectada
com mistérios e neste sentido ambos favoreceram sua desvinculação destas raízes, mas
Valens fez isto sem cortes ou simplificações como as de Ptolomeu. Por isto aquele e não
este, representa a principal corrente da tradição grega de Alexandria no século II. Valens é
notável por sua sistemática em testar e examinar todos os métodos de seus antecessores
exercitando uma crítica inteligente à tradição e a outras escolas contemporâneas,
explicando e apresentando exemplos, entretanto seu trabalho não possui a organização
do Tetrabiblos. Muito pelo contrário, aquilo que descobria era acrescentado sem
preocupação com qualquer ordenação, mas com interesse em colocar o máximo.
Entretanto, quando ocorreu a volta do classicismo grego para a Europa, entre os séculos XII
e XV, Ptolomeu foi considerado como autoridade infalível e o Tetrabiblos tornou-se o tratado
antigo mais popular, mesmo explicando pouco e sem exemplos.
Já os textos de Dorotheus e Valens tiveram grande influência na astrologia árabe, na qual
são citados. Os lotes ficaram conhecidos como partes árabes e supúnhamos que estes os
haviam desenvolvido. As interrogações foram designadas como horária, enquanto os inícios
receberam o nome, bastante adequado de eletiva. Hoje podemos entender o porquê da
horária e da eletiva serem relacionadas pela corrente que seguiu os árabes, como os
ingleses William Ramsey (século XVII) e Vivian Robson (século XX).
Vejamos então um pouco da astrologia que Dorotheus apresentou no Pentateuco:
Antes de tudo é necessário considerar que no século I era utilizado o primeiro dos sistemas
de casas – signo/casa – e por isto há confusão quanto às indicações de signo, casa e lugar.
E para os aspectos não existia orbe, eram considerados em função das distâncias entre
signos.
São os seguintes os principais tópicos:
-DIFERENÇA ENTRE NASCIMENTOS DIURNOS E NOTURNOS.
São considerados diurnos aqueles nos quais o Sol está acima do horizonte, representado
pela linha Ascendente/Descendente, e noturnos aqueles com o Sol abaixo do horizonte.
-IMPORTÃNCIA FUNDAMENTAL DA REGÊNCIA DAS TRIPLICIDADES.
Dorotheus afirma: “Tudo o que é decidido ou indicado vem dos regentes das triplicidades”.
Uma triplicidade é constituída por 3 signos do mesmo elemento. A regência foi estabelecida
em função das dignidades do planeta naquele elemento, considerando também se o planeta
é diurno ou noturno, se masculino (para fogo e ar) ou feminino (para terra e água). O mais
importante é o regente diurno e o segundo o noturno e há ainda um
denominado participante (embora citado, não há certeza de que ele já existisse na época de
Dorotheus). Para um nascimento diurno o regente diurno será o primeiro e mais importante
e regerá especialmente a primeira metade da vida enquanto o noturno, será o segundo e
regerá a segunda metade da vida. Para um nascimento noturno a seqüência se inverte.