O Fenomeno Espirita PDF
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O Fenômeno Espírita
Traduzido do Francês
Gabriel Delanne - Le phénomène spirite, témoignage des savants
Paris, Leymarie éditeur, 1896
Conteúdo resumido
Esta é mais uma das obras da série científica, escritas por Ga-
briel Delanne, no seu trabalho de divulgação do Espiritismo,
apresentando o relato das experiências sobre os fenômenos
espíritas, rigorosamente controlados.
Nesta obra o autor relata os fenômenos incomus verificados,
tais como: os fenômenos físicos ocorridos com a família Fox,
fotografia espírita, Espiritismo na antigüidade, fenômeno de
transporte e outros.
O autor contradiz argumentos de negativistas da época e
mesmo os da atualidade, e proclama a grande realidade do
espírito imortal, baseados nos fatos constatados.
–––
–––
Dedicatória
À
alma imortal
de meu venerado mestre
Allan Kardec
eu dedico este livro
obra de um de seus mais obscuros
mas de seus mais sinceros admiradores
Gabriel Delanne
Sumário
Prefácio......................................................................................... 7
Parte Primeira – Histórico ....................................................... 11
Capítulo I – A Antigüidade
O Espiritismo é tão velho quanto o mundo – Provas tiradas dos
Vedas – A iniciação antiga – Fenômenos de evocação entre os
egípcios e entre os hebreus – Na Grécia: as pitonisas – As mesas
giratórias entre os romanos – As feiticeiras da Idade Média –
Perpetuidade da tradição através dos séculos. .............................. 11
Capítulo II – Os tempos modernos
Na América: A família Fox; o primeiro Espírito batedor – As
perseguições em Rochester – Desenvolvimento considerável do
fenômeno; seus múltiplos aspectos – Os sábios – O professor
Mapes – O juiz Edmonds – Robert Hare; suas experiências –
Robert Dale Owen – O Espiritismo atualmente – Na Inglaterra:
As investigações de Crookes – A Sociedade Dialética de Londres
– Os testemunhos de Alfred Wallace, Varley, Morgan, Oxon, Dr.
Sexton, Dr. Chambers, Dr. Gully – Na França: Trabalhos do
Barão de Guldenstubbé – A obra de Allan Kardec – Os
adversários do Espiritismo – Agénor de Gasparin, Thury, Des
Mousseaux, Chevillard, etc – Adesões de homens célebres –
Estado atual – Na Alemanha: As pesquisas do Dr. Kerner – os
fatos de Mottlingen; as experiências de Zöllner, Fechner e Ulrici
– Enumeração dos espíritas ilustres no resto da Europa – Os
principais jornais que tratam da Doutrina – Importância do
movimento – Resumo. ............................................................. 17
Capítulo I
A Antigüidade
O Espiritismo é tão velho quanto o mundo – Provas tiradas dos Vedas – A
iniciação antiga – Fenômenos de evocação entre os egípcios e entre os
hebreus – Na Grécia: as pitonisas – As mesas giratórias entre os romanos –
As feiticeiras da Idade Média – Perpetuidade da tradição através dos
séculos.
Na América
Em 1847, a casa de um certo John Fox, residente em Hydesvil-
le, pequena cidade do Estado de New York, foi perturbada por
estranhas manifestações; ruídos inexplicáveis faziam-se ouvir
com tal intensidade que essa família não pôde mais repousar.
Apesar das mais numerosas pesquisas, não se pôde encontrar o
autor dessa bulha insólita; logo, porém, se notou que a causa
produtora parecia ser inteligente. A mais jovem das filhas do Sr.
Fox, chamada Kate, familiarizada com o invisível batedor, disse:
“Faça como eu”, e bateu com as suas mãozinhas um certo número
de pancadas, as quais o agente misterioso repetiu. A Sra. Fox
disse-lhe: “Conte dez.” O agente bateu dez vezes. “Que idade tem
a nossa filha?” A resposta foi correta.
A esta pergunta: “Sois um homem, vós que bateis?”, nenhuma
resposta se obteve; mas, a esta outra: “Sois um Espírito?”, houve
resposta com pancadas rápidas e nítidas.
Chamados os vizinhos, estes foram testemunhas dos mesmos
fenômenos. Todos os meios de vigilância foram postos em ação
para a descoberta do invisível batedor, mas o inquérito da família
e o de toda a vizinhança foi inútil. Não se pôde descobrir a causa
real daquelas singulares manifestações.
As experiências seguiram-se, numerosas e precisas. Os curio-
sos, atraídos por esses fenômenos novos, não se contentaram mais
com perguntas e respostas. Um deles, chamado Isaac Post, teve a
idéia de nomear em voz alta as letras do alfabeto, pedindo ao
Espírito para bater uma pancada quando a letra entrasse na com-
posição das palavras que quisesse fazer compreender. Desde esse
dia ficou descoberta a telegrafia espiritual; este processo é o que
vemos aplicado nas mesas girantes.
Eis aí, em toda a sua simplicidade, os preliminares do fenôme-
no que devia revolucionar o mundo inteiro. Negado pelos sábios
oficiais, escarnecido pela imprensa dos dois mundos, posto no
Índex pelas religiões medrosas e ciumentas, suspeito à justiça,
explorado por charlatães, o Espiritismo devia continuar seu
caminho e conquistar adeptos, pois que o número destes se eleva,
hoje, a muitos milhões, em virtude de o Espiritismo possuir a
mais poderosa força: a verdade.
Os investigadores notaram que o fenômeno só se produzia em
presença da jovem Fox; atribuía-se-lhe um certo poder chamado
mediunidade.
O Espírito que se manifestava às jovens Fox declarou chamar-
se Joseph Ryan e ter sido mascate durante a sua vida terrestre.
Convidou as jovens para dar sessões públicas, nas quais ele
convenceria os incrédulos de sua existência. A família Fox foi
fixar-se em Rochester e, conforme os conselhos de seu amigo do
Espaço, as jovens missionárias não hesitaram em afrontar o
fanatismo protestante, propondo submeterem-se ao mais rigoroso
exame.5
Acusadas de impostura e intimadas pelos ministros de sua con-
fissão a renunciarem a essas práticas, o senhor e a senhora Fox,
compenetrados do dever supremo de propagar o conhecimento
dos fenômenos, que consideravam como grande e consoladora
verdade, útil a todos, recusaram submeter-se, e foram expulsos de
sua igreja. Os adeptos que se reuniam ao seu redor foram vítimas
da mesma reprovação.
Sabe-se que o espírito clerical é o mesmo, seja qual for a lati-
tude em que reine. Intolerância e fanatismo, eis a sua divisa, e, se
o braço secular não está mais em seu poder, restam-lhe ainda mil
meios para perseguir aqueles que não querem inclinar-se ao seu
jugo.
Os conservadores fanáticos da fé dos avós sublevaram a mul-
tidão contra a família Fox. Os apóstolos da nova fé ofereceram-se,
então, para fazer a prova pública da realidade das manifestações,
diante da população reunida no Corynthian-Hall, o maior salão da
cidade. Começou-se por uma conferência, onde foram expostos os
progressos do fenômeno desde os primeiros dias.
Esta comunicação foi acolhida por uma vaia, mas, não obstan-
te isso, terminou pela nomeação de uma Comissão encarregada de
examinar os fatos. Contra a expectativa geral e contra a sua
própria convicção, a Comissão viu-se forçada a declarar que,
depois de minucioso exame, não tinha podido descobrir vestígio
de fraude.
Nomeou-se uma segunda Comissão, que recorreu a processos
de investigação mais rigorosos; fez esquadrinhar e mesmo despir
as médiuns, por senhoras, bem entendido; ouviram-se sempre os
estalidos ou pancadas na mesa, viram-se móveis em movimento;
respostas foram obtidas sobre todas as questões, mesmo mentais;
nada havia nisso de ventriloquia, de subterfúgios; nenhuma fraude
foi possível encontrar. Essa Comissão apresentou um laudo mais
favorável ainda que a primeira sobre a perfeita boa-fé dos espíri-
tas e sobre a realidade do incrível fenômeno. É impossível, diz a
Sra. Hardinge,6 descrever-se a indignação que se manifestou ante
esta segunda decepção.
Uma terceira Comissão foi escolhida entre os mais incrédulos
e mais motejadores. O resultado desta investigação, ainda mais
vexatória para as duas pobres jovens que as anteriores, confundiu
mais do que nunca os seus detratores.
O ruído do insucesso deste exame supremo espalhou-se pela
cidade.
A população, exasperada, julgando ter havido traição dos co-
missários e conivência destes com os impostores, declarou que, se
o laudo lhes fosse favorável, lincharia as médiuns e seus advoga-
dos. As jovens, apesar do terror, escoltadas por sua família e por
alguns amigos, não deixaram de apresentar-se na reunião, e
pediram lugar no estrado da grande sala, decididos todos a pere-
cer, se isso fosse necessário, mártires de uma impopular, mas
incontestável verdade.
A leitura do relatório foi feita, por um membro da Comissão
que havia jurado descobrir a tramóia; ele, porém, viu-se obrigado
a confessar que a causa das pancadas, apesar das mais minuciosas
pesquisas, era-lhe desconhecida.
Imediatamente, produziu-se um tumulto medonho; a populaça
quis linchar as jovens, e o teria feito, se não fosse a intervenção de
um americano chamado Georges Villets, que fez do seu corpo um
escudo e induziu a multidão a sentimentos mais humanos.
Vê-se, por esta narração, que o Espiritismo, desde o seu início,
foi severamente estudado. Não foram somente os vizinhos, mais
ou menos ignorantes, que certificaram o fato, então inexplicável;
foram Comissões regularmente nomeadas que, após minuciosos
inquéritos, viram-se obrigadas a reconhecer a autenticidade
absoluta do fenômeno.
A perseguição faz, como conseqüência, angariar adeptos para
as idéias que combate. Eis por que, poucos anos depois, em 1850,
contavam-se já alguns milhares de espíritas nos Estados Unidos.
A imprensa, como sempre, não encontrou número suficiente
de sarcasmos para vomitar contra a nova doutrina. Ridicularizava
as mesas girantes e os Espíritos batedores, e não havia nenhum
escrevinhador de jornais e nenhum sorumbático amanuense que
não se desse por autorizado a criticar esses alucinados que acredi-
tavam sinceramente que a alma do seu próximo pudesse erguer o
pé de um móvel.
É necessário dizer-se que o fenômeno tomou, em seguida, ou-
tro aspecto. As pancadas, em vez de se produzirem sobre as
paredes e sobre o soalho, faziam-se ouvir na mesa, em torno da
qual estavam reunidos os experimentadores. Esse modo de proce-
der fora indicado pelos próprios Espíritos.
Observou-se também que, pondo-se as mãos sobre a mesa, es-
ta última era animada por certos movimentos de balanço, e desco-
briu-se neste fato um novo meio de comunicação. Bastava nomear
as letras do alfabeto, para que o móvel indicasse, por uma panca-
da, aquelas que entravam na composição da palavra que o Espírito
queria ditar.
A mania de fazer girar as mesas propagou-se rapidamente. Di-
ficilmente se pode, hoje, figurar a predileção de que essas experi-
ências foram objeto durante os anos de 1850 e 1851. Todas essas
investigações conduziram à nova crença homens de reconhecida
autoridade moral e intelectual.
Escritores, oradores, magistrados, prelados ilustres aceitaram o
fato e a causa da doutrina escarnecida; missionários eloqüentes
puseram-se em viagem; escritores fundaram jornais, editaram
brochuras que, espalhadas em profusão, impressionaram a opinião
pública e abalaram as prevenções.
O movimento acelerou-se tanto que, em 1854, uma petição,
apoiada por quinze mil assinaturas, foi dirigida ao congresso
legislativo de Washington; seu escopo era fazer que esse congres-
so nomeasse uma Comissão encarregada de estudar os novos
fenômenos e descobrir-lhes as leis.
Essa petição foi posta de lado, mas o impulso não foi obstado,
porque os fatos tornavam-se mais numerosos e variados à medida
que o estudo prosseguia com perseverança.
O fenômeno das mesas girantes foi logo conhecido em todas
as suas particularidades. O modo de conversação, por meio de
pancadas e movimentos da mesa, era longo e incômodo. Apesar
da habilidade dos assistentes, era necessário muito tempo, muita
paciência para obter-se uma comunicação de importância.
A própria mesa ensinou um processo mais rápido. Conforme
suas indicações, adaptou-se a uma prancheta triangular três pernas
munidas de rodinhas, e a uma delas prendeu-se um lápis; em
seguida, colocou-se o aparelho sobre uma folha de papel; o mé-
dium colocou as mãos sobre o centro dessa pequena mesa. Viu-se,
então, o lápis traçar letras, depois frases, e, daí a pouco, essa
prancheta escrevia com rapidez e dava mensagens.
Mais tarde, percebeu-se que a prancheta era completamente
inútil, e que bastava o médium colocar a mão, munida de um
lápis, sobre uma folha de papel, para o Espírito movê-la automati-
camente. Essa espécie de comunicação foi chamada escrita mecâ-
nica ou automática, porque o indivíduo, neste estado, não tinha
consciência daquilo que a mão traçava no papel.
Outros médiuns obtiveram por esse meio desenhos curiosos,
música, ditados acima do alcance da sua inteligência e, às vezes
mesmo, comunicações em línguas estrangeiras que lhes eram
absolutamente desconhecidas.
O estudo cada vez mais aprofundado dessas manifestações no-
vas conduziu os investigadores a exames ainda mais rigorosos e a
resultados mais inesperados para os cépticos.
O raciocínio levara os primeiros investigadores a dizer de si
para si que, desde que os Espíritos podiam atuar sobre as mesas,
sobre os médiuns, não lhes devia ser impossível fazerem mover
diretamente um lápis e escreverem sem o auxílio de aparelhos.
Foi o que se realizou. Folhas de papel em branco, encerradas em
caixas hermeticamente seladas, foram encontradas, em seguida,
cobertas de caracteres. Ardósias, entre as quais se achava um
pequeno pedaço de lápis, continham, após a aposição das mãos,
comunicações inteligentes, desenhos, etc.
O fenômeno reservava ainda outras surpresas: luzes de formas
e cores variadas e em diversos graus de intensidade, apareciam
em aposentos sombrios, onde não existia nenhuma substância
capaz de desenvolver ação fosforescente, e isso na ausência de
todos os instrumentos por intermédio dos quais a eletricidade e a
combustão podem ser produzidas.
Esses clarões tomavam, às vezes, a aparência de mãos huma-
nas, de figuras envolvidas por uma névoa luminosa. Paulatina-
mente, as aparições adquiriam maior consistência, tornando-se
possível não somente ver, mas também tocar fantasmas que
apareciam em tão singulares circunstâncias.
Fez-se melhor: pôde-se fotografá-los, como veremos mais adi-
ante.
As narrações dessas experiências eram acolhidas com grande
incredulidade; porém, como os fatos se produzissem em avultado
número e os espíritas não recuassem diante de nenhum meio de
propagar a sua fé, a atenção do público sábio e letrado era atraída
para esse estudo e, em pouco tempo, conduzia a uma adesão
pública homens altamente colocados e muito competentes.
Negligenciamos, voluntariamente, mencionar as inumeráveis
declarações feitas por publicistas, médicos, advogados, a fim de
reservarmos todo o apelo à atenção do leitor para os testemunhos
autênticos dos homens notáveis de ciência que se têm ocupado
com esta questão.
Os sábios
Em primeiro lugar, podemos citar uma das personagens mais
célebres da magistratura, o juiz Edmonds, primeiro magistrado do
Supremo Tribunal do Distrito de New York, onde foi eleito
membro do corpo legislativo e nomeado presidente do Senado.
Sua conversão ao novo espiritualismo fez grande rumor na União
e atraiu contra si uma multidão de invectivas das folhas evangéli-
cas e dos jornais profanos. O juiz Edmonds respondeu-lhes com
um livro intitulado: Spirit Manifestation, que produziu nos Esta-
dos Unidos profunda sensação e, graças ao auxílio de alguns
homens de ciência, cujas experiências vieram confirmar suas
asserções, os quinze mil signatários da petição dirigida ao Con-
gresso viram o seu número elevar-se a alguns milhões.
Eis como a convicção nasceu na alma do grande jurista ameri-
cano:
“Em 23 de abril de 1851 – diz ele – eu era uma das nove pes-
soas que se assentavam em torno de uma mesa colocada no meio
de um aposento, e sobre a qual estava uma lâmpada acesa.
“Uma outra lâmpada tinha sido colocada na chaminé. Em pou-
co tempo, à vista de todos, a mesa foi elevada cerca de um pé
acima do soalho e sacudida para diante ou para trás, tão facilmen-
te como eu poderia agitar uma laranja em minhas mãos. Alguns
de nós tentaram fazê-la parar, empregando todas as nossas forças,
mas isso foi inútil. Então, retiramo-nos todos para longe da mesa
e, à luz das duas lâmpadas, vimos esse pesado móvel de mogno
suspenso no ar.
“Resolvi prosseguir essas experiências, julgando tratar-se de
uma fraude e decidido a esclarecer o público; porém, minhas
pesquisas conduziram-me a conclusão oposta.”
O que cumpre observar nos testemunhos concedidos pelos sá-
bios é que todos os que empreenderam investigações sobre o
Modern Spiritualism (nome norte-americano do Espiritismo)
fizeram-no com a firme convicção de que se tratava de uma
fraude e com o desejo de salvarem os seus contemporâneos dessa
loucura contagiosa.
“Eu havia, a princípio, repelido desdenhosamente essas coisas
– diz o professor Mapes (que ensinava Química na Academia
Nacional dos Estados Unidos) –, mas, quando vi que alguns de
meus amigos estavam empolgadissimos pela magia moderna,
resolvi aplicar minha atenção a essa matéria, para salvar homens
que, respeitáveis e esclarecidos sob tantos outros pontos, neste,
corriam vertiginosamente para um abismo.”
O resultado das investigações do professor Mapes foi, como
para o juiz Edmonds, uma imersão completa nas águas do Espiri-
tismo.
Aconteceu exatamente o mesmo com um dos sábios mais emi-
nentes da América, o célebre Robert Hare, professor na Universi-
dade da Pensilvânia. Ele começou suas pesquisas em 1853, época
em que, como por um dever para com seus semelhantes, resolveu
empregar o que possuía de sua influência para embargar a carreira
da onda crescente de demência popular, que, a despeito da ciência
e da razão, se pronunciava tão obstinadamente a favor daquela
grosseira ilusão chamada Espiritismo.
Robert Hare teve conhecimento dos trabalhos de Faraday so-
bre as mesas girantes (pesquisas que assinalaremos mais adiante)
e acreditou que o sábio químico localizara a verdadeira explica-
ção; mas, repetindo suas experiências, reconheceu que elas eram
insuficientes e mandou fabricar, para completá-las, aparelhos
novos.
Tomou esferas de cobre, colocou-as sobre uma chapa de zinco
e fez o médium pôr as mãos sobre as esferas; com grande espanto,
observou que a mesa moveu-se. Em seguida, mergulhou as mãos
do médium em água, de modo que ele não tivesse comunicação
alguma com a prancha sobre a qual estava colocado o vaso que
continha o líquido; com grande surpresa sua, uma pressão de
dezoito libras foi exercida sobre a prancha. Não convencido
ainda, ensaiou um outro processo: a extremidade de uma grande
alavanca foi colocada numa balança de espiral, com um indicador
móvel e o peso marcado. A mão do médium era colocada na outra
extremidade da alavanca, de modo que não lhe fosse possível
fazer pressão para baixo e que, muito ao contrário, sua pressão, se
fosse exercida, produzisse efeito oposto, isto é, a suspensão da
outra extremidade. Qual não foi o espanto do célebre professor
quando verificou, pela balança, que o peso havia aumentado de
algumas libras!
Veremos, mais adiante, como em semelhante conjetura Willi-
am Crookes, para se pôr ao abrigo de uma ilusão dos sentidos,
construiu um aparelho que registrava automaticamente todas as
variações do peso na balança.
Robert Hare, convencido da existência de uma nova força físi-
ca exercendo-se em condições ainda pouco conhecidas, quis
certificar-se da hipótese de que uma inteligência dirigia a mani-
festação.
Adaptou à mesa um disco em que se viam as letras do alfabeto
e o dispôs de forma que o médium não pudesse ver as letras; o
quadrante em que elas estavam gravadas mostrava a face aos
espectadores instalados a alguma distância da mesa; na outra
extremidade desta, mantinha-se o médium, que só podia ver o
disco por detrás.
Uma agulha móvel, fixada no centro do quadrante, devia, su-
cessivamente, indicar as letras das palavras ditadas, completamen-
te ignoradas do médium.
Todos esses pormenores encontram-se no livro publicado, em
1856, pelo Dr. Hare, sob o título Experimental Investigation of the
Spirit Manifestation, o qual obteve ruidoso êxito e cujo efeito foi
mais considerável ainda que o do juiz Edmonds. Não mais se
tratava aí de algumas jovens obscuras ou de charlatães tentando
explorar a boa-fé pública; era a ciência oficial que se pronunciava
pela boca de um dos seus mais autorizados membros. Desde esse
momento, a polêmica empenhou-se furiosa. Houve lutas apaixo-
nadas.
Sábios movimentaram-se contra a feitiçaria moderna, mas ne-
nhuma prova apresentavam de que as experiências tivessem sido
malfeitas; a vitória coube, portanto, aos espíritas.
Em suma, vê-se que os mais importantes recrutas do Espiri-
tismo foram forjados entre os homens que tencionavam combatê-
lo. Não temos necessidade de insistir neste ponto, porque o mes-
mo sucedeu na Inglaterra. Os homens de ciência desses países,
ciosos de sua dignidade, não quiseram recusar sua cooperação
diante daquilo que consideravam superstição popular. Puseram-se
corajosamente a estudar e, quando, contra a sua expectativa,
foram forçados a reconhecer a realidade dos fenômenos, procla-
maram lealmente a verdade, sem temor do ridículo ou do sarcas-
mo, arma habitual da ignorância e da prevenção.
Um dos últimos convertidos, entre os grandes nomes america-
nos, foi Robert Dale Owen, que goza simultaneamente da reputa-
ção de sábio e da celebridade especial de escritor na língua ingle-
sa. Seu livro, impresso na Filadélfia, no ano de 1877, sob o título:
Footfalls on the Boundary of Another World (Região em Litígio
entre este Mundo e o Outro), está pleno de elevadas idéias, de
lógicas apreciações e de instrutivas particularidades históricas.
O movimento espírita está, neste momento, mais vivaz do que
nunca nos Estados Unidos. Em quase todas as suas grandes
cidades existem Sociedades que têm por objeto o estudo e a
demonstração do Espiritismo.
Vinte e dois jornais e revistas expõem ao público os trabalhos
empreendidos.
O Banner of Light, que se publica em Boston, há mais de vinte
anos, é, de alguma sorte, o líder do Modern Spiritualism.
O que demonstra o vigor e a intensidade do movimento espíri-
ta são os meetings, isto é, as reuniões que se realizam todos os
anos nas margens do lago de Cassadaga.
Os espíritas construíram, nessa região, habitações que podem
abrigar mais de dez mil pessoas, mas a afluência é tal que cente-
nas de famílias são obrigadas a acampar nas imediações da cida-
de.
Esses fatos provam a importância do moderno Espiritualismo,
pois que acampamentos semelhantes existem no litoral do oceano
Atlântico, do oceano Pacífico e em todas as praias dos grandes e
soberbos lagos americanos.
Acrescentamos, terminando, que todas as grandes cidades da
União têm Sociedades espíritas regularmente organizadas. Em
1870, já se contavam vinte Centros e cento e cinco Sociedades
espíritas, duzentas e sete casas para conferências e pouco mais ou
menos de vinte e dois médiuns públicos. O número total dos
espíritas é, segundo Russell Wallace, calculado em onze milhões,
só nos Estados Unidos.
Na Inglaterra
É, sobretudo, na Inglaterra que encontramos uma plêiade de
grandes homens entregues a esses estudos. Queremos citar, em
primeiro lugar, um testemunho eminente, o de William Crookes.
Acreditamos ser inútil recordar ao leitor os títulos pelos quais esse
sábio tornou-se merecedor da gratidão pública. É-nos suficiente
dizer que a ele se deve a descoberta do tálio e a demonstração
experimental da existência da matéria radiante entrevista por
Faraday. Esta nova estrada, aberta às investigações científicas,
rasgou imenso e grandioso horizonte à Ciência contemporânea, e
pode-se dizer que é uma das maiores descobertas do século.
Um espírito tão eminente não se aventura em terreno desco-
nhecido sem tomar todas as precauções imagináveis contra o erro
ou contra a fraude.
Escutemos o que ele diz sobre o Espiritismo, em um artigo
publicado em julho de 1870, no Quaterly Review, órgão da Aca-
demia de Ciências da Inglaterra:
“O espiritualista fala de corpos pesando 50 ou 100 libras que
são elevados no ar, sem intervenção de forças conhecidas; mas o
químico está acostumado a fazer uso de uma balança sensível a
um peso tão diminuto que seriam necessários dez mil deles para
pesar um grão.7 É, por conseguinte, bem fundado pedir-se que
esse poder, que se diz guiado por uma Inteligência e eleva até ao
teto um corpo pesado, faça mover, em condições determinadas,
sua balança tão delicadamente equilibrada.
“O espiritualista fala de pancadas em diferentes partes de um
aposento, enquanto duas ou mais pessoas estão tranqüilamente
sentadas em volta de uma mesa. O experimentador científico tem
o direito de pedir que essas pancadas sejam produzidas no tubo do
seu fonógrafo.
“O espiritualista fala de aposentos e casas atormentados e,
mesmo, danificados por um poder sobre-humano. O homem de
ciência pede, simplesmente, que um pêndulo, colocado sob uma
campânula de vidro e repousando em sólida alvenaria, seja posto
em oscilação.
“O espiritualista fala de objetos de mobília a se moverem de
um aposento para outro, sem a ação do homem; mas o sábio
constrói instrumentos que dividem uma polegada em um milhão
de partes, e lhe é lícito duvidar da exatidão das observações
efetuadas, se a mesma força for impotente para fazer mover de
um simples grau o indicador do instrumento.
“O espiritualista fala de flores salpicadas com um fresco rocio,
de frutos e, mesmo, de seres viventes transportados através de
sólidas muralhas de tijolo. O investigador científico pede, natu-
ralmente, que um peso adicional (que fosse a milésima parte de
um grão) seja depositado em uma das conchas de sua balança,
quando ela está no mostrador fechado a chave; e o químico pede
que se introduza a milésima parte de um grão de arsênico através
das paredes de um tubo de vidro no qual se encontra água pura,
hermeticamente encerrada.
“O espiritualista fala de manifestações de um poder equivalen-
te a milhares de libras, que se produz sem causa conhecida. O
homem de ciência, que crê firmemente na conservação da força e
que pensa que ela jamais se produz sem o esgotamento de alguma
coisa para substituí-la, pede que as ditas manifestações sejam
produzidas em seu laboratório, onde ele poderá pesá-las, medi-ias,
submetê-las às suas próprias experiências.” 8
Vê-se com que desconfiança, com que precaução o sábio quí-
mico começa as suas experiências. Ele não quer conceder a sua
confiança senão com a condição expressa de que o fenômeno se
produza em seu laboratório, de alguma sorte sob seu controle, a
fim de estar bem certo de que nenhuma fraude, nenhuma ilusão
influiria nos resultados que pudessem produzir-se: eis a verdadei-
ra sabedoria. Quantos de nossos sábios, que negam a priori, estão
longe de seguir-lhe o exemplo! As linhas que acima citamos
foram escritas em 1870, mas, em 1876, após quatro anos de
perseverantes investigações, o grande físico escreveu: “Não digo
que isso seja possível, mas sim que isso é real.”
Veremos adiante as experiências que serviram para fortalecer
a opinião do sábio inglês.
A Sociedade Dialética de Londres, fundada em 1867 sob a
presidência de Sir John Lubbock, e contando entre os seus vice-
presidentes Thomas-Henry Huxley, um dos professores mais
sábios da Inglaterra, o Sr. Georges-Henry Lewes, fisiologista
eminente, decidiu, em sua sessão de 6 de janeiro de 1869, que
uma Comissão seria nomeada para estudar os pretendidos fenô-
menos espíritas, dando conta deles à Sociedade.
O debate suscitado por essa decisão mostrou que a maior parte
dos seus membros não acreditava no Espiritismo, e os jornais
ingleses acolheram, com júbilo, a nomeação dessa Comissão que,
pensava-se, cortaria pela raiz o Modern Spiritualism.
Com profunda surpresa do público inglês, a Comissão, depois
de dezoito meses de estudo, concluiu a favor da realidade das
manifestações. Daremos o texto do seu relatório no momento em
que expusermos as experiências espíritas.
Entre os membros que tomaram parte nesse inquérito, estava o
grande naturalista inglês Alfred Russell Wallace, êmulo e colabo-
rador de Darwin, já convencido da realidade dos fenômenos.
Como Mapes, como Hare e tantos outros, o Sr. Wallace, ven-
cido pela evidência, fez corajosamente a sua profissão de fé, em
um livro: Miracles and Modern Spiritualism, que apaixona ainda
os espíritos na Inglaterra.
No número das testemunhas ouvidas pela Comissão da Socie-
dade Dialética de Londres figuravam o professor Auguste de
Morgan, presidente da Sociedade Matemática de Londres, secre-
tário da Sociedade Real Astronômica, e o Sr. Varley, engenheiro-
chefe das companhias de telegrafia internacional e transatlântica,
inventor do condensador elétrico, que resolveu definitivamente o
problema da telegrafia submarina.
O Sr. de Morgan afirmou alto e bom som a realidade dos fe-
nômenos, pelo seu livro: From Matter to Spirit; e, mais adiante,
veremos uma carta onde o Sr. Varley rende, publicamente, home-
nagem aos Espíritos.
Semelhante concurso de nomes eminentes poderia parecer su-
ficiente para estabelecer solidamente a teoria espírita, mas, em
assuntos tão debatidos, convém não deixar de apresentar as
afirmações autorizadas. Eis ainda outros testemunhos:
O Sr. Oxon, professor da Universidade de Oxford, estudou du-
rante cinco anos o fenômeno da escrita direta, isto é, da escrita
produzida sem a intervenção de pessoa vivente. Publicou um livro
intitulado Spirit Teachings, que terá a sua utilidade na discussão
que adiante vamos apresentar.
Somos assaz escrupulosos para não deixar passar em silêncio o
testemunho de outro homem eminente, Sergent Cox, jurisconsulto
filósofo, escritor que também se convenceu pelo exame.
Igualmente, lembramos que o Sr. Barkas, membro da Socieda-
de de Geologia de Newcastle, narrou suas experiências em um
livro muito interessante, intitulado Outlines of Investigation into
Modern Spiritualism. Convidamos as pessoas que se queiram
convencer a lerem esta obra.
A luta na Inglaterra não foi menos vivaz que nos Estados Uni-
dos: os adversários do Espiritismo deviam, aí também, fazer todos
os esforços para destruir a verdade nascente; mas, nesses países
de livre discussão, onde o receio do ridículo é menos vivo que
entre nós, os convertidos não recearam dar afirmação nítida e
franca de sua mudança de idéias.
Entre os cépticos mais tenazes, achava-se o Dr. George Sex-
ton, célebre conferencista que fizera grande campanha contra a
nova doutrina. O estudo dos fatos conduziu-o, depois de quinze
anos de investigações, à convicção.
“Obtive – diz ele –, em minha própria casa, na ausência de to-
dos os médiuns públicos, mas no seio dos membros de minha
família e dos meus amigos particulares e íntimos, nos quais o
poder mediúnico tinha sido desenvolvido, a prova irrefutável, de
natureza a impressionar a fria razão, de que as comunicações
recebidas vinham de parentes e amigos falecidos.” 9
Um outro sábio, o Dr. Chambers, durante muito tempo adver-
sário declarado do Espiritismo, foi obrigado a render-se à evidên-
cia e, lealmente, confessou o seu passado erro, no Spiritual Maga-
zine.
Citamos também, terminando, entre os espíritas ilustres, o Dr.
James Gully, autor da Névropathie et Névrose e da Hygiène dans
les maladies chroniques, acatada autoridade na Inglaterra.
Como se observa, o Espiritismo tem recrutado seus adeptos
entre os homens de ciência. O lado fenomenal foi estudado com
todo o rigor de que são capazes os sábios, e ele saiu triunfante das
provas múltiplas a que foi submetido.
Há dez anos, uma agremiação intitulada Society for Psychical
Research, abriu um grande inquérito sobre as aparições. Publicou
regularmente o relatório de seus trabalhos, nos Proceedings, e fez
editar um livro: Phantasms of the Living (Fantasmas dos Vivos)
que relata mais de duzentos casos de aparições bem averiguadas.
Os Srs. Myers, Gurney e Podmore, os autores, atribuem esses
fenômenos ao que eles chamam Telepatia, isto é, ação a distância
de um espírito humano sobre outro; a aparição chama-se, então,
alucinação verídica. Eis aí uma tentativa científica para fazer o
fenômeno entrar no quadro das leis conhecidas. Essa investigação
teve como conseqüência dar ao Espiritismo uma feição de atuali-
dade, e vemos sábios como Lodge, cognominado o Darwin da
Física, conjurar, na Academia Britânica para o adiantamento das
ciências, seus colegas a caminhar para diante e a verificar resolu-
tamente esses estudos tão cativantes e ainda tão novos. Menciona-
remos, entre os numerosos jornais ingleses, o Light, fundado pelo
Sr. Oxon, e The Medium and Daybreak. Vejamos agora o que se
passa na França.
Na França
A notícia dos fenômenos misteriosos que se produziam na
América suscitou na França viva curiosidade e, em pouco tempo,
a experiência das mesas girantes atingiu grau extraordinário.
Nos salões, a moda era interrogá-las sobre as mais fúteis ques-
tões. Era um passatempo de nova espécie e que fez furor. Durante
os anos de 1851 e 1852, ninguém viu nessas práticas senão um
agradável divertimento; não se tomava o fenômeno a sério e,
como fossem ignorados os notáveis trabalhos dos quais esse
estudo era objeto do outro lado do oceano, não se tardou a aban-
donar as mesas girantes, que só tinham tido para as massas o
atrativo da novidade e a singularidade dos processos.
Todavia, literatos como Eugène Nus, homens do mundo di-
plomático, como o Conde d'Ourches e o Barão de Guldenstubbé,
tinham sido impressionados pelo caráter inteligente que revestia o
movimento da mesa, e este último publicou, em 1857, um livro
intitulado La Réalité des Esprits. Encontram-se neste livro relata-
das as primeiras experiências da escrita direta que foram obtidas
na França.
Essa publicação não fez rumor de importância. A imprensa,
segundo o seu antigo costume, ridicularizou livremente alguns
fiéis que tinham perseverado nesses interessantes estudos, e tudo
parecia ter sido esquecido, quando surgiu, em 1857, O Livro dos
Espíritos, por Allan Kardec. Essa publicação atiçou a guerra. O
público soube, com espanto, que aquilo que tinha sido considera-
do até então como distração encerrava as mais profundas dedu-
ções filosóficas; admirou-se de que, do movimento das mesas
girantes, se deduzisse a prova da imortalidade do ser pensante, e
achava-se em face de uma nova teoria sobre o futuro da alma
depois da morte.
Semelhantes afirmações não podiam ser aceitas sem contesta-
ções. De todas as partes elevou-se uma gritaria contra o desventu-
rado autor. Os jornais, as revistas, as academias protestaram, mas,
honra seja feita à França, não se viram aí reproduzidas as cenas de
violência que tinham acolhido o Espiritismo na América.
Retomou-se o estudo sobre o fenômeno das mesas girantes e
duas correntes de opiniões desenharam-se nitidamente. Para uns,
o fenômeno não tinha nenhuma realidade; as pancadas, os movi-
mentos das mesas, eram produzidos pela fraude ou, antes, por
movimentos inconscientes da parte dos operadores.
Tal foi a opinião da Academia e a dos Srs. Babinet e Chevreul.
Veremos mais adiante o que induziu esses cientistas a essa forma
de ver.
Para outros, os deslocamentos da mesa e suas respostas eram
devidas a uma ação magnética, exercendo-se de um modo ainda
indeterminado. Pode-se contar entre os partidários desta doutrina
o Conde Agénor de Gasparin, que fez numerosas pesquisas sobre
o assunto e publicou um volume sob o título Des tables tournan-
tes, du Surnaturel en général et des Esprits.
Tal interpretação foi adotada por um certo número de escrito-
res, como o Sr. Chevillard. O professor Thury, de Genebra, deu
como causa do fenômeno um agente especial, que ele chama
psicode, fluido que atravessa os nervos e todas as substancias
orgânicas e inorgânicas, como o éter luminoso dos sábios.
Um escritor americano, o Sr. Roggers,10 admitira, desde a ori-
gem, as manifestações, mas explicava-as pela ação automática
dos centros nervosos: o cérebro, a matéria ativa da medula alon-
gada, o cordão espinhal e as inúmeras glândulas dos nervos
espalhados no abdômen; esses centros diversos agiriam por meio
do fluido universal e imponderável, descoberto por Reichenbach,
que o denominou od ou odilo.
Todas essas pesquisas, todas essas controvérsias conduziram
grande número daqueles que se ocupavam do assunto a concluir
que nos movimentos das mesas girantes havia alguma coisa mais
que pura ação física.
Admitiu-se a existência de forças psíquicas que poderiam agir
sobre a matéria, em certas condições; mas, ainda dois horizontes
se descortinaram. Os filósofos espiritualistas concluíram a favor
das comunicações das almas de pessoas falecidas, enquanto os
escritores religiosos se esforçavam por demonstrar que esses fatos
eram produzidos pelo espírito do mal, denominado Satanás. Pode-
se classificar nesta última classe o Marquês de Mirville, que, em
seu livro Des Esprits et de leurs manifestations fluidiques, cita
grande número de observações, atribuindo-as ao demônio. Na
mesma ordem de idéias acha-se o Sr. Gougenot des Mousseaux,
que intitula o Espiritismo de magia moderna e, como o padre
Ventura, arrisca-se, com os textos na mão, a demonstrar que as
manifestações dos anjos maus estão assinaladas nos Evangelhos e
pelos padres da Igreja.
Enfim, citaremos também os livros do Sr. Abade Poussin, de
Nice, e do Abade Marousseau, que concluem no mesmo sentido.
A diversidade das opiniões que acabamos de assinalar nada
tem de singular.
Em face de um fenômeno ainda mal conhecido, é natural a di-
vergência em sua explicação conforme a escola à qual se perten-
ce, mas estamos bem certos de que ninguém jamais se lembrará,
como a Academia de Medicina de Paris, em 1859, de atribuir o
fenômeno a um certo músculo rangedor da perna.
Essa Academia “descobriu” que as pancadas produzidas na
mesa eram devidas a um músculo rangedor da perna, que, de
tempos a tempos, se entregava a facécias, sendo que as pessoas
ingênuas tomavam isso por manifestações de Espíritos.
Certo dia, um Sr. Jobert de Lamballe foi “iluminado” por essa
descoberta genial, e a Academia apressou-se em louvar o perspi-
caz sábio que tinha encontrado nos músculos humanos proprieda-
des tão inesperadas.
O público não adotou, tão facilmente como essas sumidades
médicas, a explicação dos músculos sonoros, e podemos citar
bom número de homens ilustres que aderiram inteiramente ao
Espiritismo.
Com o seu estilo nervoso e poético, Auguste Vacquerie conta,
nas Miettes de l'Histoire, as experiências que fez em companhia
da Sra. de Girardin, em casa de Victor Hugo, em Jersey; leremos
mais adiante essa instrutiva narração. O célebre literato escreveu
esta frase original: “Creio nos Espíritos batedores da América,
atestados por quinze mil assinaturas.”
O maior dos nossos poetas modernos, Victor Hugo, diz:
“A mesa girante e falante foi muito ridicularizada. Essa zom-
baria é sem alcance. Estimaríamos que fosse um dever estrito da
ciência sondar todos os fenômenos. Negar a atenção a que tem
direito o Espiritismo é desviar a atenção da verdade.”
O Sr. Victorien Sardou converteu-se ao Espiritismo e tornou-
se excelente médium desenhista.
A Revue Spirite, de Paris, publicou desenhos mediúnicos obti-
dos por ele, que são obras-primas, de execução delicada e de uma
fantasia verdadeiramente espiritual.
O historiador Eugène Bonnemère escreveu:
“Como todo o mundo, eu também me ri do Espiritismo, mas, o
que pensava ser o riso de Voltaire não era mais que o riso do
idiota, muito mais comum que o primeiro.”
O ilustre astrônomo Camille Flammarion, também, por muito
tempo estudou esses fenômenos e popularizou, em seu estilo
maravilhoso, as doutrinas filosóficas do Espiritismo.
Théophile Gautier, o mavioso poeta, intitula Espírita uma de
suas novelas mais cativantes, e em suas obras encontram-se, a
cada passo, traços de suas crenças na nova doutrina.
Maurice Lachâtre, o autor do grande dicionário, é também par-
tidário convicto dessas idéias. O Dr. Paul Gibier, laureado pela
Academia de Medicina, encarregado de diversas missões científi-
cas, reuniu suas experiências sobre o Espiritismo em dois volu-
mes: Le Spiritisme ou Fakirisme occidental e Analyse des Choses.
Encontram-se, nesses livros, fatos bem observados e confir-
mações de trabalhos anteriores sobre o mesmo assunto.
Não podemos dar aqui uma bibliografia completa das obras
espíritas; falta-nos espaço para tal e, além disso, preferimos citar
sábios notoriamente conhecidos, a fim de dar aos documentos que
apresentamos toda a sua autoridade. Ser-nos-ia muito fácil citar
bastantes nomes de médicos, advogados, engenheiros, homens de
letras, como prova incontestável de que o Espiritismo penetrou
principalmente nas classes instruídas da sociedade.
O movimento atual está mais florescente do que nunca. Por
instâncias da Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres,
formou-se em Paris uma Sociedade de Psicologia Fisiológica,
cujo fim é estudar os fenômenos telepáticos, isto é, de aparições.
Essa Sociedade nomeou uma Comissão cujo papel é analisar
os fatos apresentados. Eis os nomes dos comissionados: Srs. Sully
Prudhomme (da Academia Francesa), presidente; G. Ballet,
professor adido à Academia de Medicina; Beaunis, professor na
Faculdade de Medicina de Nancy; Charles Richet, professor na
Faculdade de Medicina de Paris; Coronel de Rochas, diretor da
Escola Politécnica; Marillier, diretor de conferências na Escola de
Altos Estudos, este último como secretário.
Um jornal mensal, Les Annales Psychiques, sob a direção do
Sr. Dariex, relata os trabalhos da Sociedade.
De alguma sorte, tal Sociedade é um princípio de consagração
oficial desses estudos, porém os espíritas não têm esperado por
esses estímulos e, há muito tempo, formaram grupos de estudos
em número considerável, em todas as partes da França.
Em Paris, existe regular quantidade de pequenos Centros onde
se realizam evocações. Duas Sociedades abrem suas portas ao
público: a Fédération Spirite, 55 rue du Château-d'Eau, e a
Société du Spiritisme Scientifique, Boulevard Enselman, 40. Entre
as associações mais importantes da província, mencionaremos: La
Fédération Spirite Lyonnaise, em Lyon, da qual é órgão La Paix
Universelle; em seguida, a Union Spirite de Reims e a Union
Spiritualiste de Rouen, cujos trabalhos aparecem mensalmente em
um jornal intitulado La Pensée des Morts.
As cidades de Marseille, Avignon, Toulouse, Bordaux, Nan-
tes, Tours, Le Mans, Orléans, Lille, Bar-le-Duc, Nancy e Besan-
çon têm uma organização de propaganda bem estabelecida, assim
como o número de adeptos vai sempre aumentando. Os principais
jornais espíritas são: Revue Spirite, Revue Scientifique et Morale
du Spiritisme, Le Progrès Spirite, La Lumière, La Relígion
Laïque, Revue des Étudiants Swedenborgiens e Le Phare de
Normandie.
A recrudescência do movimento espiritualista é devida ao
Congresso Espírita que se reuniu em Paris, no ano de 1889.
O relatório dos trabalhos 11 mostra que esse Congresso contava
40.000 aderentes. Os grupos espíritas do mundo inteiro nele se
fizeram representar.
Vamos ver como o movimento espírita, começado nos Estados
Unidos, espalhou-se não somente na Europa, mas também por
todas as partes do mundo.
Na Alemanha
O Dr. Kerner, uma das celebridades da Alemanha contempo-
rânea, foi levado a constatar fenômenos espíritas em 1840, ao
ministrar seus cuidados à Sra. Hauffe, mais conhecida sob o nome
de Vidente de Prévorst, denominação de uma aldeia de Wurtem-
berg, onde ela nasceu, no princípio do século XIX.
O doutor conta que ela era, muitas vezes, atormentada por apa-
rições de fantasmas, as quais ele não podia considerar como
alucinações, porque pessoas que estavam presentes ouviam, tanto
quanto ela, as pancadas produzidas pelos Espíritos ou viam certos
objetos, existentes no aposento, mudarem de lugar.
Seu nome de vidente vem do fato de ela pressentir os perigos
que ameaçavam os seus; ela prevenia-os, então, e os acontecimen-
tos justificavam sempre suas previsões.
Em 1840 produziram-se manifestações em Mottlingen (Wur-
temberg) e, desde essa época, verificaram-se fenômenos de visão,
de audição e de comunicação provindos, incontestavelmente, da
ação dos Espíritos. Esses fatos, posto que significativos, nenhum
alcance tiveram, quando a notícia dos acontecimentos na América
produziu, na Alemanha, o mesmo ruído que na França e determi-
nou um grande movimento de opinião. Não podemos estudar
minuciosamente os fatos; bastar-nos-á assinalar os homens de
ciência que foram convencidos e que publicaram suas pesquisas.
Em primeiro lugar citaremos o célebre astrônomo Zöllner, pro-
fessor na Universidade de Leipzig. Este sábio narra, em suas
notas científicas (Wissenschaftliche Abhandlungen), as experiên-
cias que fez em companhia do médium Slade. Ele declara que,
muito desconfiado diante dessas novidades, não emprestava
grande crédito à sua possibilidade, mas que o inquérito ao qual se
entregou convenceu-o perfeitamente. Veremos, mais adiante,
como ele foi testemunha de fenômenos novos, tais como a pene-
tração de uma matéria por outra matéria, sem que fosse possível
distinguir a solução de continuidade entre um e outro corpo: por
exemplo, um anel inteiriço cingindo a perna de uma mesa, sem
que se possa notar alguma fratura.
Ele admite a ação de inteligências desencarnadas na produção
desses fatos e, para explicar-lhe a ação, imagina uma quarta
dimensão da matéria. Seu testemunho é confirmado pelos de
Weber, o eminente fisiologista, de Fechner, cujas investigações
sobre as leis da sensibilidade são clássicas, e pelo professor
Ulrici.
Eis, por conseguinte, uma plêiade de sábios célebres que afir-
mam, mais uma vez, a veracidade dos fatos.
Uma observação bem digna de atenção é que os fenômenos
espíritas foram, desde a origem, submetidos as análises mais
severas, mais variadas, e por pesquisadores tão esclarecidos quão
perspicazes; entretanto, esses investigadores, cépticos a princípio,
convenceram-se e tornaram-se defensores dessas doutrinas. Não é
essa, porventura, a melhor prova que se pode fornecer para de-
monstrar que o Espiritismo é bem uma verdade, e que os fatos
sobre os quais repousa são inatacáveis?
A imprensa alemã é representada pelas revistas Psychische-
Studien, Die Uebersinnliche Welt e Neu Spiritualistische Blätter,
a primeira em Leipzig, as outras em Berlim.
No resto da Europa
Na Rússia, devemos citar, entre as sumidades espíritas, o pro-
fessor Butlerof, que, em companhia de Home, reproduziu a maior
parte das experiências de Crookes. O Conselheiro Alexander
Aksakof é um sábio cujas investigações foram até às aparições
materializadas. Teremos ocasião de citar seus trabalhos que
confirmam absolutamente os do ilustre físico inglês, quanto à
objetividade das aparições.
A imprensa espírita é aí representada por Le Rebus, editado em
Petersburgo.
A Itália foi teatro de uma demonstração brilhante sobre a vera-
cidade das experiências espíritas. O professor Ercole Chiaia, de
Nápoles, obteve, com a médium de nome Eusápia Paladino, a
repetição de todos os fenômenos importantes do Espiritismo:
transportes, materializações, levitações, etc.
Publicou suas investigações e estas foram objeto de crítica por
parte do professor Lombroso, o grande criminalista.
O Sr. Chiaia fez reproduzir essas experiências diante do seu
ilustre contraditor, nos fins do ano 1891. O resultado, na Itália, foi
o mesmo que na América, que na Inglaterra e que na França.
Assistido pelos professores Tamburini, Virgílio, Bianchi e Vizio-
li, Lombroso pôde verificar, por diversas vezes, que as afirmações
espíritas eram absolutamente exatas. Quanto à sua explicação,
deve-se dizer, ele não admitiu a presença dos Espíritos, e veremos
adiante como a teoria que ele imagina, para demonstrar o que viu,
é notavelmente insuficiente.
Quando Lombroso tiver estudado tanto tempo quanto Wallace,
Crookes ou Oxon, mudará certamente de opinião, porque seus
predecessores, nessas pesquisas, tinham começado, como ele, por
crer em uma ação inconsciente do médium; porém, um exame
mais atento dos fatos convenceu-os da existência dos Espíritos.12
A imprensa que menciona os trabalhos espíritas, na Itália, é
representada pela revista mensal Lux, pela Revista di Studi Psi-
chici, em Milão, sob a direção do Dr. Giorgio Finzi, pela revista
La Sfinge, sob a direção do Sr. Ungher, e pelo Vessilo Spiritista,
de Vercelli, cujo diretor é o Cavº Ernesto Volpi. Na Holanda, os
jornais que defendem essas idéias intitulam-se Op. de Gresen e
Het Foekomstig Leven, aquele de Haia, e este de Utrecht.
Na Bélgica, o movimento é tão ardente e tão bem organizado,
como em França.
Liège e Bruxelas são centros de ativa propaganda; federações
regionais centralizam os trabalhos dos grupos, e os órgãos – Le
Messager e Le Moniteur Spirite – registram os resultados obtidos.
Conferências realizam-se freqüentemente, e brochuras, distri-
buídas gratuitamente, têm vulgarizado aí o conhecimento do
Espiritismo.
A Suécia e a Noruega têm por órgão o jornal Morgendœmrin-
gen, cuja redação tem sua sede em Christiania.
A Espanha é, incontestavelmente, o país onde o número dos
espíritas é proporcionalmente maior que em qualquer outra parte.
Todas as suas cidades importantes têm jornais, órgãos de Socie-
dades bem organizadas.
Citemos, entre as publicações mais notáveis: La Union Espiri-
tista e a Revista de Estudios Psicológicos, em Barcelona; Lumen,
em Tarrasa; e La Revelación, em Alicante.
Na Áustria, há poucos anos, o Espiritismo era desconhecido;
mas as experiências feitas pelo falecido arquiduque Rodolfo, em
companhia de Bastian, médium de materializações, experiências
nas quais uma fraude teria sido desmascarada, chamaram a aten-
ção do público para esses fenômenos e, hoje, o número de partidá-
rios da nova doutrina cresceu consideravelmente. Citemos, entre
os seus jornais, o Reformidende Blaetter, que se publica em
Budapeste.
Portugal é representado pelo jornal O Psiquismo, que se edita
em Lisboa.
No mundo inteiro
Pode-se dizer, sem temor de desmentido, que o Espiritismo
tem partidários convictos em todo o mundo.
A fim de não alongar desmedidamente este histórico, conten-
tar-nos-emos em citar simplesmente os países nos quais se editam
jornais ou revistas espíritas.
É claro que essa publicidade vai especialmente endereçada aos
adeptos da doutrina dos Espíritos.
Poder-se-á julgar, pelo número de órgãos, a importância desse
movimento iniciado há cinqüenta anos.13
A República Argentina conta dois órgãos, em Buenos Aires:
Constancia e La Fraternidad. Em Mendoza, um jornal: La Perse-
verancia; em Rosário, La Verdad.
No Brasil edita-se no Rio de Janeiro: Reformador, três órgãos
no Estado do Paraná: A Luz, O Regenerador, Revista Espírita.
Finalmente, Verdade e Luz, em São Paulo.
O Chile é representado por El Pan dei Espiritu, em Santiago.
O Peru, por El Sol, em Lima.
A República de S. Salvador, por El Espiritismo, em Chalchua-
pa.
A Venezuela, pela Revista Espiritista.
No México, citamos: La Ilustración Espirita, na cidade do
México, e El Precursor, de Cisiola, Estado de Mazatlan.
As Antilhas possuem quatro órgãos: La Alborada, de Santia-
go; La Buena Nueva, em Porto Rico; La Revista Espiritista, em
Havana; La Nueva Alianza, em Cienfuegos.
Nas Ilhas Canárias, em Santa Cruz de Tenerife, publica-se La
Caridad.
Na Austrália, edita-se, em Melbourne, The Harbinger of Light.
Acrescentamos, para terminar, que o periódico La Revue Sci-
entifique et Morale du Spiritisme, do qual somos diretores, tem
por correspondentes chefes de grupos espíritas, no Canadá, Suez,
Cairo, Ilha Maurícia e em Bornéu.
Resumo
Ficou estabelecido, pela breve enumeração que precede, que
milhões de pessoas adotam, hoje, as crenças espíritas. O movi-
mento, nascido na América, propagou-se com inaudita rapidez.
Cento e cinqüenta jornais ou revistas instruem o público sobre as
teorias novas. Os trabalhos dos sábios que temos citado foram
traduzidos em quase todas as línguas do globo e semearam aos
quatro ventos a boa-nova da imortalidade do ser pensante.
Debalde, a ciência oficial e as academias têm cercado esses
fenômenos com a conspiração do silêncio: a verdade é mais
potente que todas elas reunidas.
Esses fatos têm invadido o mundo inteiro, têm recrutado e re-
crutam, continuamente, adeptos. Nem o ridículo da imprensa nem
os clamores dos padres nem as objurgatórias dos materialistas terá
o poder de obstar esse impulso que atrai o homem para as desco-
bertas de noções exatas sobre a vida futura.
Apesar da má-vontade de alguns sábios que passam como
príncipes da ciência, aos quais o Espiritismo destrói as teorias
niilistas, ao pensamento do homem realmente douto por certo não
virá a idéia de que essas manifestações sejam indignas de atenção;
a questão que elas elucidam é grave, pois inquieta os grandes
pensadores.
Muitas teorias têm sido formuladas, muitos sistemas têm sido
arquitetados, sem trazerem maior certeza quanto à imortalidade da
alma, e eis que, hoje, temos os meios de cientificamente estudar o
estado da alma depois da morte.
Este fato é devido à intervenção dos Espíritos no mundo, e
vamos agora observar como os fatos sobre que repousa a teoria
espírita são a mais evidente e melhor prova estabelecida da sobre-
vivência do eu consciente.
Ao terminar, diremos que é impossível que esses fatos sejam
resultado de fraude ou de grosseira ilusão:
1º- Porque eles têm sido estudados por sábios eminentes, e es-
ses químicos, físicos e naturalistas são os mais aptos, com conhe-
cimento de causa, para se pronunciarem sobre a validade das
experiências;
2º- Porque as experiências têm sido analisadas, grande número
de vezes, por observadores independentes, cépticos a princípio, e
o resultado desses inquéritos tem sido idêntico em todos os paí-
ses;
3º- Porque esses fenômenos oferecem, em todas as latitudes,
os mesmos caracteres fundamentais, donde resulta que são devi-
dos à mesma causa;
4º- Enfim, pensamos que esses testemunhos e a sua autentici-
dade são tais que é impossível negá-los sem um exame aprofun-
dado.
Eis o que vamos fazer: Passaremos, meticulosamente, em re-
vista os fenômenos; perscrutá-los-emos sob todas as faces; anali-
saremos fielmente todas as hipóteses formuladas para explicá-los,
e desejamos que o leitor fique convencido de que só a Doutrina
Espírita lança luz sobre todos esses fatos aparentemente estranhos
e sobrenaturais.
Parte Segunda
Os Fatos
Capítulo I
A Força Psíquica
O Espiritismo em casa de Victor Hugo – Primeiras objeções – Erguimento
da mesa sem contacto – Sociedade Dialética de Londres – Medição da
força psíquica – A mediunidade – A levitação humana.
Primeiras objeções
Os movimentos das mesas foram acolhidos com universais
suspeitas; a explicação mais geral era que as pessoas reputadas
médiuns apoiavam-se simplesmente sobre a mesa, e que as res-
postas eram devidas ao acaso; quanto às pancadas, atribuíam-nas
a um jogo dos pés.
Porém, quando foi verificado que pessoas de uma honorabili-
dade acima de toda suspeita obtinham movimentos da mesa,
tornou-se indispensável achar alguma coisa que explicasse os
fatos, banindo a hipótese de fraude voluntária.
Foi então que apareceram as teorias, segundo as quais os mo-
vimentos produzidos eram o resultado de uma ação muscular
inconsciente. Faraday pretendeu que, uma vez estabelecida a
aderência dos dedos na mesa, a trepidação muscular era assaz
forte para imprimir num móvel certa rotação. Chevreul, impressi-
onado por essa idéia, publicou, no seu livro intitulado La Baguette
Divinatoire et les Tables Tournantes, a sua experiência com o
pêndulo, donde resultava que as impulsões múltiplas e repetidas,
em um sentido, podem abalar um corpo cuja massa está em
desproporção com a causa motriz: é o que o Sr. Babinet chama
movimentos nascentes e inconscientes.
Parecia, pois, que a Ciência tinha descoberto a verdadeira cau-
sa desses fatos que maravilhavam os imbecis; mas o fenômeno
revestiu-se de um caráter novo: a mesa elevava-se agora e movia-
se sem qualquer contacto da parte dos operadores!
Por esse modo, a pretensa explicação científica caiu por terra.
Nova força parecia divertir-se com as mais engenhosas teorias.
A mediunidade
Em nosso exame, chegamos a uma constatação absolutamente
contrária às teorias do Sr. Faraday e seus companheiros. A força
que move as mesas não é devida a movimentos musculares in-
conscientes: é produzida por certos seres cujo organismo nervoso
esteja apto para emitir essa força. Essa faculdade foi qualificada,
pelos espíritas, com o nome de mediunidade, e os que a possuíam
são médiuns.
Citemos ainda o testemunho de Crookes, o ilustre inventor do
radiômetro.
“Essas experiências põem fora de dúvida 20 as conclusões a
que cheguei em minha precedente memória, a saber: a existência
de uma força associada, de um modo ainda inexplicado, no orga-
nismo humano, força essa pela qual a adição de peso pode ser
feita em corpos sólidos, sem contacto efetivo. No caso do Senhor
Home, o desenvolvimento dessa força varia enormemente não só
de semana em semana, mas de uma hora para outra; em algumas
ocasiões, essa força não pôde ser acusada por meio dos meus
aparelhos durante uma hora ou mesmo mais e, em seguida, reapa-
receu, subitamente, com uma grande energia. Ela é capaz de agir
a uma certa distância do Senhor Home (e não é raro que essa
distância seja de 2 ou 3 pés); todavia, é sempre mais poderosa
junto dele.
“Na firme convicção em que estou de que nenhuma força pode
manifestar-se sem o esgotamento correspondente de alguma outra
força, debalde tenho procurado, durante muito tempo, a natureza
da força ou do poder empregado para produzir esses resultados.
“Mas, atualmente, tenho podido observar melhor o Sr. Home,
e acredito ter descoberto o tempo que essa força física emprega
para desenvolver-se.
“Servindo-me das palavras força vital, energia nervosa, sei
que emprego termos aos quais muitos investigadores dão signifi-
cações diferentes; mas, depois de ter sido testemunha do estado
penoso de prostração nervosa e corporal em que algumas dessas
experiências deixaram o Senhor Home, depois de tê-lo visto em
estado de desfalecimento quase completo, estendido no soalho,
pálido e sem voz, não posso duvidar de que a emissão da força
física seja acompanhada de um esgotamento correspondente da
força vital.
“Essa força é, provavelmente, possuída por todos os seres hu-
manos, embora os indivíduos dotados de uma energia extraordiná-
ria sejam, sem dúvida, raros. No ano que acaba de findar, encon-
trei, na intimidade de algumas famílias, cinco ou seis pessoas que
possuíam essa força de um modo assaz poderoso para inspirar-me
plena confiança de que, por seu intermédio, se poderiam obter
resultados semelhantes aos que acabam de ser descritos, caso os
experimentadores operassem com instrumentos mais delicados e
suscetíveis de marcar uma pequena fração, em vez de indicar
somente libras e onças.”
O Senhor de Rochas acaba de publicar (janeiro de 1897) uma
obra intitulada Les Effluves Odiques, que contém notável série de
conferências, feitas em 1866, pelo Barão de Reichenbach, diante
da Academia de Ciências de Viena. As investigações do sábio
alemão estabelecem a existência dessa força psíquica. Na notícia
histórica que precede o texto dessas conferências, o Sr. de Ro-
chas relata grande número de experiências, feitas com um pêndu-
lo especial, pelo Sr. Dr. Léger e verificadas pelo Sr. Ch. Bué.
Resulta desses trabalhos: 1º- que o organismo humano pode
exteriorizar a força psíquica; 2º- que a vontade humana pode
enviar essa força numa determinada direção.
A mediunidade não é um dom providencial, uma propriedade
anormal, mas, simplesmente, um estado fisiológico que se apre-
senta em todos os seres, porém, somente em alguns é que ele está
muito desenvolvido. Eis o que os Espíritos têm ensinado sem-
pre.21
Algumas experiências
Para confirmar as asserções do sábio inglês, eis o testemunho
do juiz Edmonds:
“Preparando-me para assistir a uma reunião, fechava-me só em
meu quarto e escrevia cuidadosamente a série das questões que
devia propor. Por isso, eu ficava admirado de receber respostas a
essas minhas questões, exatamente na ordem em que as havia
escrito, sem que eu retirasse o meu memorando do bolso.
“Nenhuma das pessoas presentes sabia que eu tinha formulado
um questionário e, por conseqüência, ignoravam o assunto. Os
meus pensamentos mais íntimos, aqueles que nunca segredei ao
ouvido de quem quer que fosse, foram livremente discutidos,
como se eu os tivesse expressado; reconheci, mais tarde, que os
meus menores pensamentos eram assim conhecidos e que podiam
ser descobertos pela inteligência que se manifestava.”
Para abreviar o sistema de comunicação por meio de pancadas,
que é assaz longo, emprega-se, às vezes, um alfabeto impresso,
sobre o qual se vai passando lentamente um lápis, a fim de que a
mesa dê uma pancada no momento em que o lápis esteja em
frente da letra que se quer fazer conhecer. Os incrédulos não
deixam de afirmar que esses fenômenos dependem simplesmente
da finura e da habilidade do médium em adivinhar as letras que
combinam o nome, e conforme o modo pelo qual os consultantes
apóiam ou passam o lápis sobre esses caracteres.
Eis algumas experiências de Wallace, que demonstram quanto
este modo de ver carece de fundamento:
“Quando recebi pela primeira vez uma comunicação, tive par-
ticular cuidado em evitar fornecer qualquer indício ao médium:
percorri as letras com regularidade constante.
“Não obstante, foram corretamente ditados: primeiramente, o
lugar em que meu irmão morreu – Pará, depois o seu nome de
batismo – Herbert, e, enfim, o nome de um amigo que foi o
último a vê-lo – Henry Walter Bates. As seis pessoas presentes
visitavam a Senhora Marshall (a médium) pela primeira vez, e o
meu nome, tanto como os dos assistentes, eram desconhecidos a
essa senhora, salvo o de minha irmã casada, cujo nome não podia
servir de guia para chegar-se ao conhecimento do meu.
“Na mesma ocasião, uma jovem presente foi avisada de que
uma comunicação ia ser-lhe feita. Ela tomou o alfabeto e, em vez
de apontar as letras uma a uma, moveu o lápis docemente ao
longo das linhas, com a mais perfeita continuidade.
“Eu a seguia, e escrevia à medida que as letras eram indicadas
pelas pancadas. O nome obtido era extraordinário; as letras dizi-
am: Thomas Doe Tacker, o nome do pai da jovem, tudo era
completamente exato.
“Alguns outros nomes, lugares e datas foram ditados nessa
ocasião com uma justeza igual. Dou somente esses dois casos,
porque estou absolutamente certo de que nenhum indício havia
sido dado pelo qual se pudesse adivinhar os nomes, ainda mesmo
que o fosse pela inteligência mais arguta.
“Em outra ocasião, eu acompanhava à casa da Sra. Marshall
minha irmã e uma senhora que nunca tinha ido ali, e foi-nos dada
curiosíssima demonstração do absurdo que existe em imputar a
decifração dos nomes à hesitação do consultante e à finura do
médium.
“Essa senhora desejou que lhe fosse dado o nome de um ami-
go particular falecido, e apontou as letras do alfabeto, segundo o
processo usual, enquanto eu as escrevia à proporção que eram
indicadas. Os três primeiros caracteres foram YRN.
“– Oh – disse a senhora –, isto não tem sentido; temos obtido
coisas melhores até hoje.
“Justamente nessa ocasião veio um E, e, refletindo comigo
mesmo, percebi o que isso era.
“– Se vos apraz – disse eu –, continuai; eu compreendo isso.
“A comunicação inteira foi, em seguida, dada por este modo:
YRNEHKCOEFFEJ. A senhora não compreendera essas letras
tanto como a princípio, até que separei dessa forma o ditado:
YRNEH KCOEFFEJ, ou Henry Jeffeock, o nome do amigo que
ela desejava, ditado às avessas.”
As comunicações pela mesa são muito comuns, e acreditamos
ser pelo estudo desses fenômenos que a maior parte dos incrédu-
los se tornou espírita. Existe grande número de testemunhos
relativos à obtenção de nomes de parentes, de amigos falecidos
que vêm instruir os que ficaram na Terra, dizendo que nem tudo
morre com o corpo e que eles estão no mundo espiritual tão vivos
como estavam aqui na Terra.
As revistas e os jornais espíritas abundam em exemplos de
manifestações semelhantes; não julgamos, portanto, útil nos
estendermos mais amplamente sobre esse assunto.
Terminaremos essas citações reproduzindo as declarações fei-
tas por Cromwell Varley, então engenheiro-chefe das linhas
telegráficas da Inglaterra, perante a Comissão da Sociedade
Dialética.24
“Empreguei o termo Espíritos, embora não ignore que a possi-
bilidade da comunicação com os nossos amigos que deixaram seu
corpo material não esteja geralmente admitida. Os motivos que
me induzem a afirmar que os Espíritos de nossos semelhantes
vêm realmente visitar são os seguintes:
1º – Eu os tenho visto distintamente em diversas ocasiões;25
2º – Coisas que não eram conhecidas senão de mim mesmo e
da pessoa falecida a quem era dado comunicar-se, e cuja exati-
dão reconheci, foram-me divulgadas mais de uma vez, posto que
a médium não tivesse disso o menor conhecimento;
3º – Por vezes repetidas, coisas que eram conhecidas somente
por mim e das quais eu me tinha esquecido completamente
foram-me lembradas pelo Espírito que se comunicava; não podia
existir aí transmissão de pensamento;
4º – Quando me aconteceu obter comunicações desse gênero,
propus, em ocasiões diversas, questões mentais, às quais só a
médium, senhora de posição muito independente, respondia por
escrito, ficando completamente inconsciente do sentido das
comunicações;
5º – A época e o gênero de certos acontecimentos imprevis-
tos, desconhecidos, quer de mim próprio quer da médium, fo-
ram-me anunciados mais de uma vez alguns dias antes e realiza-
ram-se perfeitamente. Como aqueles que me forneciam essas
instruções, dizendo-se Espíritos, expunham a verdade quanto aos
acontecimentos futuros, e como nenhum mortal presente podia
ter conhecimento do que eles comunicavam, não sei que razão
possa haver para não se crer neles.”
Eis o que é raciocinar, e estamos plenamente de acordo com o
Sr. Varley, pois iremos relatar as teorias apresentadas pelos
adversários do Espiritismo, a fim de demonstrarmos que, para
esses fenômenos, eles são impossíveis ou não elucidam senão um
número muito restrito de fatos, ou se apóiam sobre hipóteses mais
difíceis de admitir-se que a da intervenção dos Espíritos.
As objeções
Em primeiro lugar, temos a do clero, que nos diz:
“Credes conversar com as almas de vossos parentes ou amigos
falecidos: que erro! É Satanás que se reveste de múltiplas formas,
para enganar-vos e desviar-vos da Igreja, fora da qual não existe a
verdade.”
A isso responderemos simplesmente que a existência de um
Espírito do mal é puramente hipotética e que, se devemos esco-
lher entre duas crenças, é mais racional admitir-se, após uma
verificação, que são os Espíritos humanos sobreviventes que se
manifestam, pois que eles nos dão provas da sua existência.
Além disso, se se acredita na existência do diabo, faremos no-
tar que ele age de um modo ilógico, conduzindo materialistas à
crença em uma vida futura. Enfim, como as comunicações espíri-
tas ensinam o amor ao próximo, o desprendimento das coisas
deste mundo, a repressão dos vícios e a prática das virtudes, o
anjo do mal se combate a si mesmo, donde resulta, em boa lógica,
que também não se pode atribuir a ele essas manifestações.
A transmissão do pensamento
O Espiritismo, assim como o magnetismo, é uma ciência nova
que teve o grande desazo de nascer fora do santuário dos sábios,
de sorte que o seu acesso é disputado com um encarniçamento
sem igual.
Constatamos como o fenômeno físico, abstraindo-se qualquer
consideração, era atribuído pelos cépticos a movimentos incons-
cientes dos operadores; foi necessária uma soma considerável de
experiências, realizadas diante de testemunhas dignas de conceito,
para se estabelecer a ação à distância dos médiuns sobre os obje-
tos inanimados.
Quando não era mais possível negar esses fatos sem pôr em
evidência uma prevenção sem quilate, foi-se obrigado a admitir
que uma inteligência estava associada ao fenômeno e que o
dirigia; porém, que inteligência era essa?
A primeira idéia que veio foi, incontestavelmente, a de que es-
sa inteligência era a de um ou mais dos assistentes, operava de um
modo ainda desconhecido e produzia os resultados referidos mais
atrás.
É também possível, acrescentam os incrédulos, que o pensa-
mento do operador se transmita ao médium e que este, desde
então, agindo sobre a mesa, possa fazê-la ditar nomes próprios,
indicar datas, etc.; na opinião deles, não se deve atribuir ao Espíri-
to de um morto as respostas, pois que elas são simplesmente o
reflexo do pensamento das pessoas presentes. Para reforçarem o
seu argumento, dizem que experiências muito exatas têm sido
feitas sobre o assunto, e que hoje está quase universalmente
reconhecido que a transmissão do pensamento é verdadeiramente
um fenômeno incontestável. Eis, portanto, segundo eles, a origem
dessas manifestações, que, no seu entender, não devem ser atribu-
ídas aos Espíritos, mas que convêm consideradas como de uma
faculdade nova, que se revela em certos indivíduos e que nada
têm de sobrenatural.
Vejamos, pois, os trabalhos empreendidos sobre a questão da
transmissão do pensamento, e procuremos saber como eles podem
explicar os fenômenos espíritas.
Há dez anos existe na Inglaterra uma agremiação conhecida
sob o título: Society for Psychical Research, cuja fim é compilar e
examinar minuciosamente os fatos que são designados com o
nome de telepáticos. Compreendem-se sob esta denominação as
ações psíquicas à distância, isto é, certas ações ou impressões que
podem ser transmitidas de uma pessoa a outra, sem o auxílio dos
sentidos.
Nos relatórios dessa Sociedade, que se publicam todos os se-
mestres, sob o título Proceedings, pode-se contar 1.653 experiên-
cias de transmissão de pensamentos.
Eis como se procede: O agente fica separado do percipiente
por uma determinada distância; este deve voltar-lhe as costas e ser
colocado de maneira a que nenhum movimento, nenhum ruído
possa perturbá-lo ou informá-lo.
Nessas condições, o agente concentra seu pensamento nos
nomes ou algarismos e o percipiente deve repetir os nomes ou
algarismos em que aquele pensa. Em todas as experiências citadas
nos Proceedings, o número de respostas exatas foi sempre muito
superior ao que indica o cálculo das probabilidades. Existe,
portanto, a transmissão do pensamento.
Procurou-se variar o fenômeno: em vez de nomes, algarismos
ou números, imaginou-se fazer produzir, pelo percipiente, dese-
nhos vistos ou feitos pelo agente: ainda assim os resultados foram
satisfatórios.26 No Congresso de Psicologia, em 1889, esses
fenômenos deram motivo a discussão entre os Srs. Marillier,
Charles Richet, Ochorowicz e Janet, representando a França; os
Srs. Sidgwick e Myers, pela Inglaterra; Riley, pela América; e
Delboeuf, pela Bélgica.
Resulta, das provas fornecidas, que a transmissão do pensa-
mento é um fato incontestável. Hipnotizadores célebres, como os
Srs. Beaunis e Liébaut, de Nancy, haviam já constatado isso em
percipientes adormecidos, confirmando, assim, as experiências do
Barão du Potet.
Lombroso repetiu com Pickmann as experiências dos sábios
ingleses. Com os olhos vendados, com os ouvidos tapados, sem
contacto algum, Pickmann adivinhou com exatidão, nove vezes
sobre dez, as cartas tocadas por Lombroso.27
Na América do Norte, uma Sociedade de investigações psíqui-
cas foi igualmente fundada em 1885, e o resultado de seus traba-
lhos confirma o fato da transmissão do pensamento. Relembre-
mos, entretanto, esta sua conclusão importante:
“Resulta das experiências feitas pela Comissão que o estado
céptico do agente (o operador) é desfavorável à transmissão,
porque esse estado de espírito impede a participação intensiva na
atividade da concepção.”
Discussão
Examinemos agora uma experiência espírita e vejamos se a
transmissão do pensamento pode explicar os fatos que têm sido
verificados.
Analisemos as três sessões referidas por Russell Wallace, pág.
75, a fim de raciocinarmos sobre fatos positivos.
Na primeira experiência, ele obteve o nome de seu irmão fale-
cido, o lugar em que esse acontecimento se passou e, enfim, um
outro nome próprio, o de um amigo seu.
Para que a transmissão do pensamento se admitisse como cau-
sa efetiva desses resultados seria necessário:
1º- Que a médium, a Sra. Marshall, fosse uma percipiente
sensível a esse gênero de manifestações, o que não está absolu-
tamente estabelecido;
2º- Seria indispensável ver no Sr. Wallace um experimenta-
dor procurando, pela concentração do pensamento, impor um
nome à médium.
Foi precisamente o contrário que sucedeu, pois o ilustre na-
turalista aplicou simplesmente sua atenção em percorrer o alfa-
beto com uma constante regularidade, e, por conseguinte, não se
pode atribuir-lhe o papel de um operador querendo impor um
pensamento qualquer, visto que ele mesmo ignorava o que ia
acontecer.
3º- Suponhamos, entretanto, apesar de toda a evidência, que o
nome Herbert Wallace fosse transmitido mentalmente à sra
Marshall, e vejamos se é possível explicar esse fato sem o co-
nhecimento antecipado da médium, pois que ela ignorava com-
pletamente, assim como as demais pessoas, o nome que ia ser
ditado.
Vejamos também se é possível explicar-se como se produzem
pancadas na mesa correspondentes a cada uma das letras que
compõem a palavra.
Notemos que as pancadas são inteiramente independentes da
vontade dos operadores, pois que isto está averiguado por todos
aqueles que estudaram o fenômeno. Não sendo possíveis seme-
lhantes explicações, é licito, sem receio de sermos desmentidos,
afirmar que, neste caso, a transmissão do pensamento não toma
parte na experiência.
Mas, onde essa demonstração adquire um valor absoluto é na
terceira experiência em que o nome de Henry Jeffeock foi ditado
às avessas.
A senhora que evocava, bem longe de impor seus pensamen-
tos, depois das três primeiras letras y, r, n, declara que isso não
tem significação! Vê-se que, neste caso, a transmissão do pensa-
mento em nada absolutamente influi para essa mensagem.
Poderíamos submeter ao mesmo raciocínio todas as experiên-
cias por nós mencionadas, e dessa análise resultaria a convicção
de que é indispensável procurar outra causa para explicar o fenô-
meno, pois que a inteligência que se manifesta não emana dos
operadores, visto declarar ser aquela cujo nome apresenta.
Não há, portanto, motivo para que se negue a existência dos
seres ultraterrenos.
Além disso, ainda não apresentamos todos os fatos; apenas
mencionamos alguns pelos quais se pode reconhecer a sua reali-
dade.
De agora em diante, o grande número de provas da existência
dos Espíritos vai-se revestindo de um caráter cada vez mais
evidente, e nenhuma negação será capaz de combater a evidência
da sua intervenção nesses fenômenos.
Prova absoluta da existência dos Espíritos
A fim de não restar dúvida alguma de que os Espíritos são os
autores das manifestações espíritas, vamos apresentar outras
provas nas quais se reconhecerá ser impossível que a inteligência
que se manifesta seja a dos assistentes.
Se as mensagens recebidas pela mesa não são reflexos do pen-
samento dos assistentes, se essas comunicações relatam aconte-
cimentos reais, absolutamente desconhecidos dos operadores, será
indispensável admitir que esses ditados provêm das inteligências
desencarnadas que, voluntariamente, se manifestam, pois que é
possível verificar as suas afirmações e analisar a sua identidade.
Poderíamos, ainda, fornecer um número considerável de
exemplos, mas a nossa tarefa não permite que nos estendamos
longamente sobre esses fatos, porque temos outros a estudar.
Limitar-nos-emos a escolher experiências feitas por observa-
dores competentes, que tomaram todas as precauções necessárias
para produzir um testemunho ao abrigo de qualquer crítica.
Passamos a transcrever os seguintes trechos do Spirit Identity,
livro do Sr. Oxon, eminente professor de Oxford.
Um telegrafista de além-túmulo
“Durante uma sessão com o médium Home, a minha pequena
régua atravessou a mesa para vir a mim, em plena luz, e deu-me
uma comunicação, batendo em minha mão. Eu ditava e a régua
batia no momento preciso.
“A outra extremidade da régua repousava na mesa, a certa dis-
tância das mãos do Sr. Home.
“As pancadas eram tão nítidas, tão exatas e a régua estava tão
evidentemente sob a influência de uma potência invisível que
perguntei: – A inteligência desta régua poderá, porventura, mudar
o caráter de seus movimentos e dar-me, por meio de pancadas em
minha mão, uma mensagem telegráfica com o alfabeto de Morse?
“Tenho todas as razões para crer que o alfabeto de Morse era
completamente desconhecido às pessoas presentes, pois que
mesmo eu somente o conhecia imperfeitamente. Tinha apenas
pronunciado essas palavras, quando o caráter das pancadas mu-
dou, e a mensagem foi continuada pela maneira que eu tinha
pedido. As letras foram indicadas com muita rapidez, de modo
que só se pôde apanhar palavras destacadas; por conseqüência,
essa mensagem perdeu-se; porém, vi o suficiente para convencer-
me de que, na outra extremidade da régua, havia um bom opera-
dor de Morse, quem quer que ele fosse.”
A prancheta clarividente
Ainda um outro exemplo, do mesmo autor:
“Uma senhora escrevia automaticamente, por meio da pran-
cheta. Tentei descobrir o meio de provar que o que ela escrevia
era devido à ação inconsciente do cérebro. A prancheta, pelo
mesmo processo, afirmou que, embora fosse posta em movimento
pela mão e pelo braço dessa senhora, a inteligência que a dirigia
era a de um ser invisível que tocava no cérebro da senhora como
num instrumento de música, fazendo, assim, mover seus múscu-
los.
“Eu disse, então, a essa inteligência: – Vedes o que existe nes-
te aposento? – Sim, escreveu a prancheta. – Vedes este jornal e
podeis lê-lo? – acrescentei eu, pondo o meu dedo no número do
Times, que estava numa mesa por trás de mim, mas sem olhá-lo. –
Sim! respondeu a prancheta. – Bom, disse eu, se podeis vê-lo,
escrevei a palavra que está neste momento coberta pelo meu dedo,
e eu crerei em vós. A prancheta começou a mover-se lentamente,
e com muita dificuldade escreveu a palavra honour. Voltei-me e
vi que a palavra honour estava coberta pela extremidade de meu
dedo.
“Quando fiz essa experiência, evitei olhar o jornal, e era im-
possível à senhora, embora o tentasse, ver uma única das palavras
impressas, porque ela estava sentada em uma mesa, o jornal
estava em outra mesa por trás de mim e o meu corpo ocultava-lhe
a vista.”
Esse fato demonstra ainda que, quando se analisarem um pou-
co mais as objeções feitas pelos incrédulos aos fenômenos espíri-
tas, ficar-se-á surpreso da pouca consistência que elas apresentam.
A transmissão do pensamento, que é o cavalo de batalha dos
contraditores, é invocada muitas vezes para explicar a resposta
que o médium dá a uma questão mental. Um pouco de reflexão
basta para fazer compreender quanto essa hipótese é pouco fun-
dada.
É bem evidente que ela não explica todos os fenômenos, por-
que, quando a comunicação revela acontecimentos completamen-
te desconhecidos dos assistentes, não se pode atribuir isso a uma
transmissão qualquer do pensamento. Já vimos o caso das crian-
ças mortas na Índia, referido pelo Sr. Oxon, fato esse completa-
mente original. Eis um segundo, igualmente verificado pelo
mesmo autor.
O alfaiate esmagado
Devemos ao Sr. Conselheiro S..., de quem recebemos recen-
temente a visita, a interessante narrativa que ele teve a gentileza
de fazer-nos, e consideramo-nos felizes em pô-la sob os olhos de
nossos leitores; eles encontrarão aí uma prova de identidade que,
em razão da sua simplicidade, da sua clareza e dos testemunhos
nos quais se apóia, pode ser considerada como uma das melhores
demonstrações que se têm obtido na Alemanha, a respeito da
possibilidade das comunicações diretas com os Espíritos.
Circunstâncias que, infelizmente, ainda tantas vezes se apre-
sentam, nos impedem de dar publicidade aos nomes; mas, para
obviar esse inconveniente, submetemos à apreciação de quatro
pessoas a ata da sessão, as informações das autoridades e alguns
outros documentos, e essas pessoas dignaram-se atestar, com suas
assinaturas, a autenticidade da revelação seguinte:
“Na pequena cidade de G..., três senhores sentaram-se, na noi-
te de 3 de agosto de 1882, em volta de uma mesa, para verem se
obtinham os fenômenos de deslocamento ou de pancadas.
“Estiveram à espera muito tempo; de repente, a mesa pôs-se
em movimento, e compreendeu-se, depois de perguntas, que
Espíritos desejavam manifestar-se; entabulou-se, então, a seguinte
conversação, por meio do alfabeto:
“– Quem está aí? – Um alfaiate esmagado. – Como, esmaga-
do? – Um trem passou-me por cima. – Quando? – Há três anos. –
Onde? – Unterbarmen. – Em que dia? – 29 de agosto de 1879. –
Teu nome? – Siegwart Lekebusch. – Teu domicílio? – Barmen. –
Teus pais vivem ainda? – Sim. – Eras patrão ou operário? –
Aprendiz. – Com que idade morreste? – Dezessete anos. – És
feliz? – Oh! Sim. – Devemos fazer esta comunicação aos teus
pais? – Não. – Por quê? – Não acreditam na sobrevivência depois
da morte. – Talvez isso os convencesse. – Só conseguireis que
eles zombem de vós. – Como se deu o acidente? – Eu queria fazer
uma visita a uns parentes na Rua Auer, em Unterbarmen; seguia
pela via férrea e, tendo a vista curta, não vi chegar o trem; era
noite, e fui esmagado. – Em que te ocupas atualmente? – Não
posso descrever-vos o meu trabalho...
“Essa conversação prolongou-se por muito tempo, porém ne-
nhum interesse positivo oferecia, e a ata não mencionava a sua
continuação.
“Esses senhores, muito surpresos com tal comunicação, resol-
veram tomar informações a fim de esclarecerem o mistério. Com
esse intuito, um membro da maçonaria, o Sr. K..., escreveu, no dia
seguinte, (prefeitura de Polícia) de Barmen, e, em data de 17 de
agosto de 1882, o Inspetor de Polícia enviou-lhe esta resposta:
“Atendendo ao pedido que me fizestes em vossa carta de 8 do
corrente, tenho a honra de informar-vos que, em conformidade
com os registros aqui depositados, o aprendiz de alfaiate Siegwart
Lekebusch, de 17 anos de idade, foi apanhado, em 26 de agosto
de 1879, às 11 horas e 14 minutos da noite, por um trem da linha
de Marche, e esmagado nas proximidades da estação Unterbar-
men. A causa do acidente foi atribuída a ter o falecido transitado
indevidamente pela linha.
“As informações oficiais coincidiam, portanto, perfeitamente
com a comunicação que nos tinha sido feita; restava ainda um
ponto a verificar, isto é: a existência da Rua Auer.
“O Sr. E... dirigiu-se com esse fim, no dia 18 de agosto, ao es-
critório do Reinisch Westhal Post, em Barmen, pedindo que se
dignassem fornecer-lhe todos os detalhes possíveis a esse respei-
to. A resposta foi:
“Nada mais podemos acrescentar ao que declaramos em 28 de
agosto de 1879, a não ser que existe em Unterbarmen a Rua
Auer.”
Este fato, como os precedentes, reúne todas as circunstâncias
necessárias para demonstrar a existência dos Espíritos, porque
nenhum desses senhores conhecia Unterbarmen; eles ignoravam,
por conseguinte, e com mais forte razão, que houvesse uma rua
chamada Auer e, sobretudo, que tinha sido, três anos antes, esma-
gado um aprendiz de alfaiate. A diminuta diferença de dias que
existe entre a data indicada pelo Espírito, como época da morte, e
a que lhe é atribuída pelo documento da meria, em nada destrói o
valor desse fato como prova da sobrevivência da alma.
O mesmo jornal contínua:
“Desejando o Sr. S... que os fatos fossem aqui insertos e que
não se publicassem os nomes das pessoas que tomaram parte
nessa sessão, nós, abaixo assinados, sob garantia da redação do
Neu Spirítualistische Blätter, depois de termos examinado, quer a
ata que designa o nome das testemunhas e das localidades, quer
os documentos oficiais, atestamos com as nossas assinaturas a
exatidão da narrativa supra.
A. W. Sellin; Ludw, Tischer;
Carl Baumann; C.-E. Nassler.”
Essa narrativa mostra que não é preciso ser-se um sábio para
fazer constatações científicas. Esse documento tem um grande
valor, não só porque a ata da sessão foi imediatamente lavrada,
mas também porque as afirmações do Espírito foram reconheci-
das verdadeiras por um documento oficial, e porque investigado-
res verificaram a existência de uma cidade e, nessa cidade, uma
rua com o nome indicado pelo Espírito.
Convidamos os investigadores a procederem sempre assim,
porque dessa forma amontoam-se documentos para o futuro, e
cada um concorre com a sua pedra para o edifício da ciência do
porvir.
Terminaremos estas citações pelo fato seguinte, referido pelo
Sr. Robert Dale Owen, em seu livro intitulado: Footfalls on the
Boundary of Another World.
O Capitão Wheatcroft
Na noite de 14 para 15 de novembro de 1857, a esposa do Ca-
pitão G. Wheatcroft, residente em Cambridge, sonhou que via seu
marido, então na Índia. Acordou imediatamente e, levantando os
olhos, avistou a mesma figura de pé junto ao seu leito. O Capitão
aparecia com o seu uniforme, com as mãos cruzadas no peito,
cabelos em desordem e a face muito pálida. Seus grandes olhos
negros estavam fixos nela; sua expressão era a de grande emoção,
e havia uma contração especial da boca, habitual nesse oficial
quando estava perturbado. Ela o viu, mesmo em cada detalhe
particular do seu trajo, tão distintamente como jamais o vira
durante a sua vida. A figura parecia estar inclinada para frente,
como se sofresse, e parecia fazer um esforço para falar; mas
nenhum som se ouviu. Esteve visível por algum tempo e, em
seguida, desapareceu. A Sra. Wheatcroft não pôde mais adorme-
cer nessa noite.
No dia seguinte, contou tudo à sua mãe, externando a sua
crença de que o Capitão tinha sido morto ou ferido.
Após o tempo necessário, recebeu-se um telegrama anuncian-
do que esse oficial tinha sido morto em frente a Lucknow, no dia
15 de novembro. A viúva informou ao Sr. Wilkinson, advogado
de seu marido, que estava inteiramente preparada para a fatal
notícia, mas que tinha certeza de que havia erro de um dia na
data da morte. O Sr. Wilkinson obteve, então, do Ministério da
Guerra um certificado assim concebido:
“MINISTÉRIO DA GUERRA
“N° 9.579
“30 de janeiro de 1858.
“Segundo os arquivos do Ministério, parece que o Capitão G.
Wheatcroft, do 6º regimento de dragões, foi morto na ação de 15
de novembro de 1857.
B. Hawes.”
Ora, um notável incidente apresentou-se: O Sr. Wilkinson es-
tava de passeio em Londres e morava na casa de um amigo que
era médium e cuja esposa tinha tido, durante toda a sua vida, a
percepção de aparições. Contava-lhe a visão da viúva do Capitão
e descrevia como a figura tinha aparecido, quando a Sra. V...,
esposa do seu amigo, disse subitamente: “Deve ser a mesma
pessoa que eu vi quando falávamos da Índia, hoje à tarde.” Em
resposta às questões do Sr. Wilkinson, ela disse que tinha obtido,
por intermédio de seu marido, uma comunicação dessa pessoa,
anunciando-lhe que acabava de ser morto na Índia, de tarde,
devido a um ferimento no peito. Eram cerca de nove horas da
noite; ela não tinha tomado nota da data, mas, pensando bem,
lembrou-se de ter sido interrompida por um fornecedor e de ter,
então, saldado uma conta.
Submetendo o recibo ao exame do Sr. Wilkinson, constatou-se
que ele trazia a data de 14 de novembro.
Em março de 1858, a família do Capitão Wheatcroft recebeu
do Capitão G. C. uma carta procedente de Lucknow com data de
29 de dezembro de 1857, na qual esse oficial dizia que se achava
ao lado do Capitão Wheatcroft quando este caiu, e que isso suce-
dera no dia 14 de novembro à tarde e não em quinze como dizia o
despacho do Ministério. O finado tinha sido ferido no peito por
um estilhaço de bomba.
Havia sido enterrado em Dilkaosha e, numa cruz de madeira
fincada no túmulo, tinham sido gravadas as iniciais C. W. e a data
da morte, 14 de novembro.
O Ministério da Guerra corrigiu o seu erro. O Sr. Wilkinson
obteve, em abril de 1859, uma outra cópia do certificado e achou-
o concebido nos mesmos termos que o precedente, salvo o dia 15
de novembro, que tinha sido substituído por 14.
O Sr. Owen tem em seu poder as provas do fato, completadas
diretamente pelas próprias partes. A viúva do Capitão Whe-
atcroft examinou, corrigiu o manuscrito e mostrou-lhe a carta do
Capitão C...; o Sr. Wilkinson fez o mesmo, e a Sra. V... contou-
lhe pessoalmente os fatos que tinha presenciado. O Sr. V... referiu
também essas circunstâncias, antes das informações que o Sr.
Owen dirigiu ao Sr. Howit, como é testemunhado por este em sua
Histoire du Surnaturel, pág. 225, volume 2º. O Sr. Owen declara,
além disso, que tem em seu poder os dois certificados do Ministé-
rio da Guerra; o primeiro com a data errada, o segundo com a data
corrigida.
Nesse caso, temos a mesma aparição apresentando-se na mes-
ma noite a duas senhoras desconhecidas entre si e distantes uma
da outra, bem como a comunicação obtida por uma terceira
pessoa, designando o momento e o gênero da morte, coincidindo
tudo exatamente com o que se sucedia a milhares de léguas de
distância. Pensamos, como o Sr. Wallace, que fatos como estes,
tão bem certificados, não podem ser discutidos, e que, para atri-
buí-los a uma coincidência, seria preciso grande esforço de incre-
dulidade.
Resulta, pois, das experiências precedentes, a prova rigorosa
da comunicação dos Espíritos. Averiguamos também que a
transmissão do pensamento não pode ser invocada nessas experi-
ências e que somente a Doutrina Espírita oferece uma solução
simples e racional, atribuindo essas comunicações às almas
desencarnadas.
Vamos ver como se pode chegar aos mesmos resultados, se-
guindo outros caminhos.
Capítulo III
Mediunidades diversas
Os médiuns escreventes – Algumas comunicações notáveis – Fábulas,
versos e música – Incorporação ou encarnação – Um caixeiro – A filha do
juiz Edmonds – Anestesia durante o transe – As objeções – O Sr. Binet –
As experiências do Sr. Janet – Mediunidade vidente – Mediunidade
auditiva – Escrita direta e psicografia – Experiências de Wallace – Oxon –
Zöllner – O Dr. Gibier – Na América do Norte – Observações.
Os médiuns escreventes
Já vimos, no histórico, como os próprios Espíritos indicaram
um meio de comunicação mais rápido que pela mesa. Esse meio é
o de tomar um lápis e deixar a mão completamente passiva; se o
experimentador é médium, no fim de algum tempo sua mão
traçará automaticamente sinais, linhas e, finalmente, caracteres
que podem ser lidos e que constituem a mensagem espiritual.
Eis como a mediunidade escrevente se desenvolveu no Dr. B.
Cyriax, diretor do Neu Spiritualistische Blätter, de Berlim. Essa
narrativa foi extraída de sua obra Wie ich ein Spiritualist gewor-
den bin.
O autor conta que, resolvido a estudar o fenômeno, desejava
fazer pesquisas em sua própria casa, no seio de sua família, a fim
de estar plenamente convencido de que nenhuma fraude produzir-
se-ia.
Durante dezenove sessões, nenhum resultado obteve; foi so-
mente na vigésima que movimentos da mesa vieram animá-lo a
prosseguir esse inquérito, que ele estava a ponto de abandonar.
Cedamos-lhe a palavra:
“Nessa vigésima sessão, senti, de repente, uma sensação muito
particular: ora de calor, ora de frio; percebi, em seguida, uma
espécie de corrente de ar frio que passava pelo meu rosto e pelas
minhas mãos; depois, pareceu-me que meu braço esquerdo estava,
como se costuma dizer, dormente; mas a impressão era comple-
tamente diferente da de fadiga, que eu sentia nas outras sessões e
que podia fazer cessar, quer mudando de posição, quer mexendo
os braços, as mãos ou os dedos. Nessa ocasião, meu braço estava,
por assim dizer, paralisado e minha vontade era impotente para
fazê-lo mover, e muito menos aos meus dedos; tive, em seguida, o
sentimento de que alguém punha meu braço em movimento, e tal
foi à rapidez com que ele se agitou que não consegui retê-lo.
“Como esses movimentos eram análogos aos que fazemos pa-
ra escrever, minha esposa foi buscar papel e um lápis e colocou-
os na mesa; de um salto, minha mão esquerda apodera-se do lápis
e, durante alguns minutos, traça sinais no ar com incrível rapidez,
de sorte que meus dois vizinhos eram forçados a inclinar-se para
trás a fim de não serem atingidos; após isso, minha mão abaixa-se
bruscamente para o papel, fere-o violentamente, e quebra a ponta
do lápis. Nesse momento, com a mão repousada docemente na
mesa, compreendi perfeitamente que a minha vontade tinha sido
inteiramente neutra nos movimentos executados; compreendi
também que eu não a dominava na fase atual de repouso. O fato é
que não pude reter meus gestos e que, no momento do repouso,
não me foi possível mover o braço, que estava insensível e como
se não me pertencesse.
“Logo que o lápis, aparado de novo, foi posto outra vez ao
meu alcance, minha mão tomou-o e começou a estragar algumas
folhas de papel, cobrindo-as de traços grossos e de rasgões;
depois acalmou-se e, com profundo espanto nosso, pôs-se a fazer
exercícios de escrita, tais como costumam fazer as crianças:
primeiro traços, pauzinhos; depois N, M, A, C, etc.; e finalmente o
O, sobre o qual fiquei muito tempo, até que a força que animava o
meu braço conseguiu fazê-lo mover em círculo, sempre o mesmo,
com grande rapidez. Depois disso, a força, como que exausta,
deixou de agitar-me o braço; senti uma nova corrente de ar frio
passar através e sobre minha mão e, em pouco tempo, toda a
fadiga e toda a dor havia desaparecido.
“A calma restabeleceu-se e levantamos a sessão, felizes por
havermos verificado a manifestação de uma força independente
da nossa própria vontade, e à qual nos era impossível resistir.
Que essa força fosse magnética ou espírita, ou tivesse origem na
atividade inconsciente do cérebro, eis uma questão reservada para
outra ocasião.
“Embora fosse medíocre o resultado obtido, não ficamos tran-
qüilos enquanto não tentamos outras experiências. No dia seguin-
te, à noite, empenhamo-nos outra vez na questão; desta vez, a
espera não foi longa.
“Apenas tinham decorrido cinco minutos, já eu sentia ar frio, e
a mesma sensação era experimentada pelos meus companheiros;
em seguida, sobrevieram os movimentos bruscos e, muitas vezes,
dolorosos da mão esquerda, que batia, sem interrupção, durante
alguns minutos, na superfície da mesa, com pancadas precipitadas
e com tal violência que acreditei dever estar escoriado; surpreso,
não descobri ferimento algum, e todo o vestígio de dor desapare-
cera como por encanto.
“Desse dia em diante, minha mediunidade desenvolveu-se
mais rapidamente e, seguindo os conselhos de meus amigos da
América do Norte, a reunião era composta de duas damas e um
cavalheiro. Comecei a escrever com a mão esquerda, primeiro
como exercício; depois, vieram comunicações de diferentes
Espíritos e, certa noite, desenhei uma cesta de flores.
“Devo dizer que sou muito desajeitado da mão esquerda no
estado normal, não sabendo sequer servir-me dela para comer,
quanto mais para escrever; no que diz respeito ao desenho, enten-
do muito pouco dessa arte, mesmo com a mão direita.
“Adquiri a mais absoluta convicção de que a força que escre-
via e desenhava por meu intermédio era independente de mim, e
que devia residir em outra inteligência que não a minha, porque,
durante essas manifestações, eu conservava toda a minha lucidez;
não sentia nenhum inconveniente, salvo no que era concernente
ao meu braço esquerdo, pois, durante toda a sessão, parecia não
me pertencer e dava-me a impressão de que era usado por alguma
outra pessoa, sem minha participação e contra a minha vontade.
“Meu espírito era tão alheio a isso que, enquanto minha mão
escrevia, eu podia perfeitamente conversar com as outras pessoas
presentes. Um colega, que, em certa ocasião, assistia à sessão,
querendo reter o movimento de minha mão, e tendo para isso
colocado suas mãos de modo que a minha suportasse todo o peso
de seu corpo, nenhum resultado tirou; minha mão prosseguiu seu
trabalho com força e regularidade, enquanto eu apenas sentia o
peso das mãos colocadas sobre a minha.”
Reproduzimos inteiramente as declarações do Dr. Cyriax, por
serem originais; elas mostram bem as fases diversas pelas quais
passam o maior número de experimentadores e, além de tudo,
apresenta a vantagem de ser relatada por um homem competente,
que só pôde ser levado a acreditar nos Espíritos pelos fenômenos
produzidos em si próprio.
Eis ainda uma outra experiência de William Crookes, sobre a
escrita automática:30
“Em minha presença, diversos fenômenos produziram-se ao
mesmo tempo, e o médium não os conhecia a todos. Aconteceu
que a jovem Fox escrevia automaticamente uma comunicação
para um dos assistentes, enquanto outra comunicação, sobre outro
assunto, lhe era dada para uma pessoa diferente, por meio do
alfabeto e por pancadas. Durante todo esse tempo, o médium
conversava com uma terceira pessoa, sem o menor embaraço,
sobre assunto completamente diferente dos outros.”
Algumas comunicações
O caráter automático da escrita, obtida nas condições acima
indicadas, é, sem dúvida, muito importante para julgar-se da boa-
fé do médium; mas convém não esquecer que, neste caso, como
em todos os outros, o verdadeiro característico da mediunidade
está nas provas de identidade fornecidas pelo Espírito que se
manifesta. Quando esse invisível fala de acontecimentos dos quais
só ele e vós tendes sido testemunhas, tereis já uma probabilidade
de ser ele perfeitamente a personalidade que conhecestes na
Terra. Neste caso, convém não recear fazer-lhe perguntas múlti-
plas e reiteradas, até que vossa convicção seja plena e completa.
Pode acontecer que, sem se obterem nomes conhecidos do
evocador, tenha a comunicação um caráter comprobativo; isto
sucede quando ela revela ser de uma inteligência notoriamente
superior à do médium ou quando é escrita com uma espontanei-
dade ou presteza tais que não se pode atribuí-la ao médium.
Mas essas comunicações são, às vezes, verdadeiras farsas lite-
rárias. Vamos ver diferentes exemplos desses casos:
Eis primeiramente uma fábula que o Sr. Timoléon Jaubert, an-
tigo vice-presidente do Tribunal Civil de Carcassonne, obteve por
intermédio da mesa; ela foi extraída de sua obra Les Deux Com-
mandements du Christ, e obteve o prêmio nos Jogos florais de
Toulouse:
La Chenille et le Papillon
D'un bosquet de jasmin, labourant les contours,
Tremblante, une chenille, au déclin de ses jours,
Se disait: “Je suis bien malade;
”Je ne digère plus les feuilles de salade;
”A peine si le chou tente mon appétit,
Je me meurs petit à petit.”
C'est triste de mourir... Mieux vaudrait ne pas naltre
“Sans murmure, il faut se soumettre.
”A d'autres, après moí, de tracer leur sillon.”
“Mais tu ne mourras pas, lui dit un papillon;
”Naguère, il m'en souvient, sur la même charmille,
”Avec toi, j'ai rampé; je suis de ta famille.
”Si tu traines ce corps lourd, débile et poudreux,
”L'avenir te réserve un destin plus heureux.
”Espère!... Du sommeil le passage est rapide;
”Tout comme je le fus, tu seras chrysalide;
”Comme moi tu pourras, brillante de couleurs,
“Respirer le parfum des fleurs.”
La vieille répondit: “Imposture! imposture!
”Rien ne saurait changer les lois de la nature;
”L'aubépine jamais ne deviendra jasmin.
”A mes anneaux brisés, à des ressorts si frêles,
”Quel habile ouvrier viendrait fixer des ai1es?
Jeune fou, passe ton chemin.”
“– Chenílle, bien touché! le possible a ses bornes,”
Reprit un escargot triomphant sous ses cornes.
– Un crapaud applaudit. – De son dard un frelon
Insulta le beau papillon.
----------
Non, ce n'est pas toujours la vérité qui brille.
Niez l’âme des morts, aveugles obstinés.
Prenez garde!... Vous raisonnez
A peu près comme la chenille.
Eis uma outra poesia obtida por uma senhora, com o auxílio
da escrita automática; foi ditada no momento em que apareceu a
novela intitulada Spirite, de Théophile Gautier:
Me volei revenu. Pourtant, j'avais, Madame,
Juré sur mes grands Dieux de ne jamais rimer.
C'est un triste métier que de faire imprimer
Les ceuvres d'un auteur réduit à l’état d'âme.
J'avais fui loin de vous, mais un esprit charmant
Risque en parlant de nous d'exciter le sourire!
Je pense qu'il en sait bien plus qu'il n'en veut dire,
Et qu'il a, quelque part, trouvé son revenant.
Un revenant! vraiment cela parait étrange,
Moi-même j'en ai ri quand j'étais ici-bas,
Mais, lorsque j'affirmais que je n'y croyais pas,
J'aurais, comme un sauveur, accueilli mon bon ange.
Que je l’aurais aimé, lorsque, le front jauni,
Appuyé sur ma main, la nuit, dans la fenétre,
Mon esprit, en pleurant, sondait le grand peut-être,
En parcourant au loin les champs de l’Infini!
Amis, qu'espérez-vous d'un siècle sans croyance?
Quand vous aurez pressé votre fruit le plus beau,
L'homme trébuchera toujours sur un tombeau,
Si, pour le soutenir, il n'a plus l’espérance.
Mais ces vers, dira-t-on, ils ne sont pas de lui.
Que m'importe, après tout, le blàme du vulgaire:
Lorsque j'étais vivant, il ne m'occupait guère,
A plus forte raison, en rirais-je aujourd'hul.
A. de Musset.
Esses versos, publicados pela Revue Spirite, produziram sen-
sação, mormente no mundo das letras, porque era difícil, fosse
qual fosse o médium, não reconhecer a verve do poeta.
Albéric Second, a quem eles foram enviados, escreveu, em 7
de junho de 1866, no Grand Journal, que então dirigia, o seguin-
te:
“Era difícil deixar de interrogar Théophile Gautier sobre os
versos em questão e, justamente, tendo tido o prazer de encontrá-
lo em casa da Sra. Binskz-Korsakoff, cedi à minha bem natural
tentação.
“Eis sua resposta: Uma senhora que jamais fizera uma simples
composição em sua vida enviou-me esses versos, que o Espírito
Alfred de Musset ditou por seu intermédio.
“Tenho lido páginas atribuídas a Balzac e à Sra. de Girardin,
canções atribuídas a Béranger, máximas atribuídas a Rochefou-
cauld que são verdadeiras aberrações.
“Antes de ler os versos de Alfred de Musset, cuja remessa me
tinha sido anunciada, supus que seriam do mesmo jaez, mas, feita
a leitura, tive de modificar a minha opinião.
“Posto de parte o autor do Spectacle dans un fauteuil, não co-
nheço ninguém, absolutamente ninguém que seja capaz de escre-
ver esses versos.
Confesso que a origem dessa poesia é um mistério que não
posso decifrar.”
A crítica de Théophile Gautier, quando se refere aos mortos
ilustres, aos quais se atribui às vezes uma linguagem ridícula nas
comunicações, é perfeitamente justificável.
Sucede encontrarem-se, em certos grupos de investigadores
pouco esclarecidos, médiuns que, com ufania, produzem elucu-
brações em versos de dezessete pés atribuídas a Victor Hugo, sem
dúvida para agradar aos decadentes, obras literárias onde Bossuet
estropia a língua francesa com um impudor notável, onde Lamen-
nais, Chateaubriand, de Maistre falam como teria podido fazer um
seu porteiro de outrora; comunicações de santos, e mesmo de
Jesus e da Virgem Maria, que, com uma ênfase grotesca, prodiga-
lizam conselhos morais de uma banalidade incoerente.
É preciso não se ficar admirado com essas anomalias, mas
concluir que houve uma grosseira mistificação; ela, evidentemen-
te, existe, mas não do lado dos médiuns, porque os Espíritos que
ditam essas comunicações sabem a que pessoas se dirigem; são,
portanto, estes os verdadeiros culpados. Mas o investigador
imparcial não se deterá ante esses resultados, senão para constatar
que os Espíritos são, com exceção do corpo, entes humanos, isto
é, a sua esfera intelectual é tão elevada como a que tinham na
Terra, pois o número dos mistificadores e dos imbecis não dimi-
nui na erraticidade.
Tornaremos a este assunto na parte terceira desta obra. Em seu
livro Choses de l'Autre Monde, Eugène Nus fornece uma prova
evidente da inteligência do fenômeno, porque ele e seus amigos
pediram à mesa para formular suas definições em frases de doze
palavras.
“Nossa tripeça não se embaraçava com tão pouca coisa, diz
ele. Desafio todas as academias literárias a formularem rapida-
mente, instantaneamente, sem preparativo e sem reflexão alguma,
definições circunscritas em doze palavras, tão completas e, muitas
vezes, tão elegantes como as improvisadas pela nossa mesa, à
qual, no máximo, concedíamos, e a muito custo, a faculdade de
formar uma palavra composta por meio de um traço de união.”
Eis algumas dessas definições:
• Infinito – Abstração puramente ideal, acima e abaixo do
que é concebido pelos sentidos.
• Física – Conhecimento das forças materiais que produzem
a vida e o organismo dos mundos.
• Química – Estudo das diversas propriedades da matéria no
estado simples e composto.
• Matemática – Propriedade das forças e dos números ima-
nentes das leis da ordem universal.
• Harmonia – Equilíbrio perfeito do todo com as partes e das
partes entre si.
• Teologia – Dissertação dos dogmas fundamentais nos quais
repousa a concepção duma religião humana.
• Força divina – Força universal que liga os mundos e abra-
ça todas as outras forças.
• Coração – Espontaneidade do sentimento nos nossos atos,
nas idéias e em sua expressão
• Espírito – Suntuosidade do pensamento. Galanteria harmo-
niosa das relações, das comparações e das analogias.
• Imaginação – Fonte dos desejos, idealização do real por
um justo sentimento do belo.
Limitamos aí, com bastante pesar nosso, essas citações, porque
queremos falar de uma produção nova e curiosa da mesa; ela
ditou música. Eis como foi conseguida:
“Uma pancada significava dó, duas ré, três mi, quatro fá, e as-
sim por diante.
“Ordinariamente, a tripeça começava por dizer-nos de quantas
notas se compunha a melodia, quase sempre trinta e duas – seu
número favorito para a frase musical –, assim como de doze para
a frase falada.
“Preenchida essa formalidade, ela ditava consecutivamente as
notas, que escrevíamos em cifras; depois, dividia os compassos,
designando, uma após outra, a quantidade de notas que cada
compasso devia conter; feito isto, dava-nos o valor da semibreve,
da colcheia e, sucessivamente, o valor de cada nota que indicava,
marcando o compasso com o pé da tripeça sobre o soalho.
“Vinha, em seguida, a indicação dos acidentes, dos sustenidos,
dos bemóis, em tal ou tal nota do compasso; depois, o tom; e,
enfim, o título do trecho; porém, quanto a este, o Espírito tinha o
cuidado de não o revelar senão depois de tudo completo.
“Findo o ditado, Bureau executava a melodia em um órgão
que tínhamos alugado para esse fim.
“A tripeça, sobre a qual as nossas mãos se mantinham coloca-
das, indicava o movimento, batendo o compasso e retificando os
erros, quando eles existiam; em seguida, o nosso amigo metia o
trecho em um bolso e compunha o acompanhamento, que subme-
tia, em seguida, à aprovação da tripeça, sempre animada, bem
entendido, pelo fluido das nossas mãos.
“Terminada a audição, se a inteligência estava satisfeita com o
trabalho do seu cooperador, manifestava sua aprovação dando
várias pancadas no soalho; se não estava, erguia a tripeça e a
deixava imóvel: sinal habitual para indicar um erro; então, Bureau
recomeçava e a tripeça assinalava, levantando-se, os acordes que
lhe desagradavam. Quando era o acompanhamento inteiro que a
inteligência rejeitava, ela deixava executá-lo ainda uma vez até ao
fim, sem dar nenhum sinal, e levantava-se em seguida. Compre-
endia-se, então, que tal trecho devia ser recomeçado, e obtinha-se
a música.”
Os leitores encontrarão as melodias, assim obtidas, no livro já
citado.
Às vezes, os Espíritos escrevem eles mesmos a música, em lu-
gar de ditá-la.
Eis o que conta Crookes de suas experiências a esse respeito,
em companhia do célebre médium Home:31
“Entre os notáveis fenômenos que se produzem sob a influên-
cia de Home, os mais frisantes e os que melhor se prestam ao
exame científico são: 1º- a alteração do peso dos corpos; 2º- a
execução de árias por instrumentos de música (geralmente pelo
acordeom, devido à sua facilidade de transporte), sem intervenção
direta do homem e em condições que tornam impossível todo
contacto ou manejo das chaves.
“Somente depois de eu ter sido freqüentes vezes testemunha
desses fatos e de tê-los investigado com toda a profundeza e rigor
foi que me convenci da sua realidade.”
O Sr. Crookes construiu uma gaiola, cuja altura foi calculada
de forma a poder ser introduzida debaixo da mesa do refeitório.
O acordeom foi comprado pelo sábio químico e Home não o
viu nem o tocou antes da experiência. Continuemos a nossa
citação:
“Os investigadores presentes, na ocasião dessa experiência,
eram: um eminente físico, altamente colocado na Sociedade Real
de Londres, a quem eu chamarei Dr. A. B., um doutor em direito,
meu conhecido, a quem chamarei C. D.,32 meu irmão e o meu
ajudante.
“O Sr. Home sentou-se ao lado da mesa, numa cadeira; de-
fronte dele, por baixo da mesa, estava a gaiola acima mencionada;
suas pernas achavam-se uma de cada lado da mesma gaiola.
Sentei-me perto dele, à sua esquerda; um observador foi também
colocado à sua direita; o resto dos assistentes sentou-se distante
da mesa, como lhes convinha...
“Com a minha mão, tirei a gaiola de sob a mesa, justamente o
bastante para permitir que aí se introduzisse o acordeom com suas
teclas viradas para baixo. Em seguida, empurrou-se a gaiola para
baixo da mesa, tanto quanto permitiu o braço do Sr. Home, mas
sem ocultar sua mão àqueles que estavam perto de si.
“Dentro em pouco, quem estava de seu lado viu o acordeom
balançar-se de um modo curioso; em seguida, sons foram emiti-
dos e, enfim, produziram-se, sucessivamente, diversas notas.
“Enquanto isso se passava, meu ajudante introduziu-se debai-
xo da mesa e disse-nos que o acordeom abria-se e fechava; verifi-
cou-se, ao mesmo tempo, que a mão do Sr. Home, que sustinha o
acordeom, estava completamente invisível, e que a outra repousa-
va sobre a mesa.
“O Sr. Home tinha ainda o instrumento na gaiola acima descri-
ta. Seus pés estavam seguros pelos que se assentavam perto dele;
sua outra mão repousava na mesa e ouvimos notas distintas e
separadas soar sucessivamente, sendo, em seguida, executada
uma simples ária. Como tal resultado não poderia ser produzido
senão pelas diferentes teclas do instrumento, postas em ação de
um modo harmonioso, todos os que estavam presentes considera-
ram a experiência como decisiva.”
Vamos expor agora uma fase ainda desconhecida do fenôme-
no.
Incorporação ou encarnação
A mediunidade, pela pena, abrevia e simplifica as comunica-
ções com os Espíritos; porém, há outro modo ainda mais expedi-
to, por meio do qual o Espírito se apodera dos órgãos do médium
e conversa por sua boca, como o poderia fazer se ele próprio
estivesse encarnado. Os ingleses e norte-americanos dizem que,
nesse caso, o médium está em transe.
Essas manifestações são as mais fáceis de dissimular; mas,
nesse caso ainda, só convém admitir o fenômeno como real
quando o médium dá provas certas de que um ser desencarnado se
manifesta por seu intermédio. Essas provas podem ser de diferen-
tes naturezas; vamos referir três exemplos dessa mediunidade e
ver-se-á, por essas narrações, como elas trazem um irresistível
cunho de evidência.
Eis o que conta o Sr. Sergent Cox, jurisconsulto eminente, es-
critor distintíssimo, bom juiz, diz Wallace, em matéria de estilo:
Um caixeiro
“Vi um caixeiro, sem educação, sustentar, quando estava em
transe, conversação com uma plêiade de filósofos sobre a razão e
a presciência, a vontade e a fatalidade, e fazer-lhes frente com
vantagem.
“Propus-lhe as mais difíceis questões de psicologia e recebi
respostas sempre sensatas, sempre cheias de energia e, invaria-
velmente, em linguagem escolhida e elegante. Entretanto, um
quarto de hora depois, quando ele ficou em seu estado normal, era
incapaz de responder às mais simples questões sobre assunto
filosófico, e sempre costumava procurar muito para encontrar
uma linguagem suficiente a fim de explicar as idéias mais vulga-
res.”
Nessa experiência, a desproporção entre o estado normal e o
transe é tão manifesta que, incontestavelmente, há uma ação
estranha agindo sobre o sensitivo. Eis um segundo exemplo em
que a ação dos Espíritos é ainda mais bem apreciada e absoluta-
mente inegável.
Wallace, referindo-se aos trabalhos do juiz Edmonds sobre o
Espiritismo, escreveu:
A mediunidade vidente
Em todas as manifestações até aqui registradas por nós, os Es-
píritos merecem sempre o qualificativo de invisíveis. Sua ação foi
indiretamente constatada, mas não se pôde ainda vê-los. Eis agora
fatos provando que, em certos casos, pode-se diretamente verifi-
car a sua existência pelo testemunho dos sentidos.
A Society for Psychical Research reuniu considerável número
de documentos a respeito das aparições. Os espíritas possuem
também grande porção desses testemunhos, mas, para dar maior
valor à nossa demonstração, citaremos alguns fatos colhidos,
tanto nos Proceedings da Sociedade acima mencionada, como no
livro Phantasms of the Living, nos quais a ação dos Espíritos é
manifesta.
Os Srs. Myers, Gurney e Podmore, que publicaram essa obra,
abrangendo a narração de 700 casos, dão a essas visões o nome de
Alucinações Telepáticas ou verídicas. Sem quererem saber se
essas aparições são reais, objetivas ou internas, subjetivas e
produzidas por uma ação espiritual ainda desconhecida, operada
sem a intervenção dos sentidos, eles estabelecem a realidade dos
fatos com um rigor verdadeiramente científico. Pela leitura dessas
narrativas, fica-se convencido de que esses sábios verificaram
tudo quanto era possível para estabelecer a autenticidade desses
fenômenos.
Citemos um exemplo dessas curiosas manifestações.37
O Sr. M. F. G. D. Boston, residente, neste momento, em São
Luís, achava-se em seu gabinete de trabalho, quando viu o fan-
tasma de sua única irmã, falecida nove anos antes. Era meio-dia e,
enquanto ele escrevia, ela conservou-se junto de si, com tal
aparência de vida que ele acreditou ser realmente sua irmã e
chamou-a por seu nome.
M. F. G. D. Boston pôde examinar-lhe todos os detalhes do
vestuário e do porte e notar, particularmente, um traço ou arra-
nhadura, de um vermelho vivo, no lado direito do rosto.
Essa visão impressionou-o tanto que ele tomou o primeiro
trem para ir ver seus pais e contar-lhes o que havia visto. Seu pai
buscou ridicularizar essa crença no sobrenatural; mas, ao ouvir
falar na arranhadura, sua mãe ia quase desmaiando, e disse-lhe,
vertendo lágrimas: “Fui eu quem, depois da sua morte, por um
descuido, fiz essa arranhadura no rosto da minha querida filha,
arranhadura essa que eu cuidadosamente ocultei com pó, não
comunicando tal fato a pessoa alguma, de modo que ninguém
podia sabê-lo.”
Pedimos aos contraditores das manifestações dos Espíritos que
nos expliquem essa aparição. Temos curiosidade de saber que
papel desempenhou o hemisfério direito na formação da segunda
personalidade.
Poderíamos ainda citar vários casos; mas os leitores poderão
recorrer à tradução francesa dos Phantasms of the Living, publi-
cada sob o título: Les Hallucinations Télépathiques.
A mediunidade auditiva
Vamos agora observar que os Espíritos não se limitam às apa-
rições e a escrever por intermédio dos médiuns; muitas vezes
conversam e fazem-se ouvir distintamente. Eis um caso, tirado
também dos Phantasms of the Living, onde todos os atestados que
o certificam estão expostos profusamente:
Um jovem Vigário de Yorkshire, de dezenove anos de idade,
achava-se em Invercaxde, na Nova Zelândia. No navio que para aí
o levou, ele encontrara um rapaz, a quem conhecia como mari-
nheiro, e então ajustou para ir com este e alguns outros fazer uma
excursão à ilha de Ruapuke, demorando-se nela um ou dois dias a
fim de pescar e caçar. Todos deviam seguir às quatro horas da
manhã seguinte, de modo a poderem transpor os recifes com o
auxílio da maré; e os marinheiros prometeram vir a tempo chamar
o Vigário, que se recolheu cedo ao leito, com a firme intenção de
fazer a viagem.
Ao subir a escada, o Vigário acreditou ouvir uma voz que lhe
dizia: “Não partais com esses homens.” Ninguém ali se achava;
contudo, ele perguntou: “Por quê?” A voz, que parecia vir do
interior do quarto, respondeu-lhe com firmeza: “Não deveis ir”,
palavras que ainda lhe foram repetidas depois de uma segunda
pergunta: “Então – perguntou –, como poderei esquivar-me,
quando me vierem buscar?” Distintamente, e ainda com mais
força, a voz respondeu: “Fecha a porta a chave.” Chegando ao seu
quarto, descobriu que a porta tinha uma forte fechadura, que não
se recordava de haver visto anteriormente; ainda que resolvido a
fazer a sua excursão (era seu hábito entregar-se ao acaso), sentiu-
se abalado com o pressentimento de um perigo misterioso, e,
depois de muitas hesitações, fechou a porta com a chave e foi
deitar-se.
No dia seguinte, às três horas, a porta foi violentamente abala-
da a pontapés; apesar de estar acordado, ele não disse palavra e,
afinal, sentiu que os marinheiros retiraram-se enraivecidos e
praguejando. Às nove horas da manhã, levantando-se para almo-
çar, o hoteleiro perguntou ao Vigário se sabia o que acabava de
suceder; contou-lhe que o barco que partira para Ruapuke tinha
soçobrado de encontro aos recifes, afogando-se todos os passagei-
ros; alguns dos cadáveres foram lançados à praia no mesmo dia e
os outros nos dois dias seguintes. O narrador termina assim: “Se
eu tivesse ido com eles, desprezando o aviso que recebera, sem
dúvida alguma teria perecido com os meus companheiros de caça
e pesca.”
Não se acredite que isso seja um exemplo isolado: poderíamos
citar muitos outros igualmente notáveis, mas os estreitos limites
desta obra forçam-nos a dizer aos leitores que recorram ao Phan-
tasms of the Living, ao Proceedings da Society for Psychical
Research e às obras espíritas, que os apresentam em grande
número.38
Wallace
Na Inglaterra, Wallace constatou a escrita direta, em casa da
Sra. Marshall, médium.41
“Tendo sido a mesa previamente examinada, uma folha de pa-
pel de carta foi, em segredo, marcada por mim e colocada com
um lápis de chumbo sob o pé central do móvel, conservando
todos os assistentes as suas mãos sobre a mesa. Passados alguns
minutos, ouviram-se alguns ruídos e, retirado o papel, achei nele
traçada, com leves caracteres, a palavra William. Em outra ocasi-
ão, um amigo provinciano, totalmente estranho ao médium e cujo
nome não tinha sido mencionado, acompanhava-me; quando se
recebeu o que foi dado como uma comunicação de seu filho, um
papel foi colocado embaixo da mesa e, depois de poucos minutos,
nele achamos escrito Charley T. Dood, exatamente o seu nome.
Em tal caso, é certo que não havia maquinismo algum sob o
móvel e só nos resta perguntar se era possível que a Sra. Marshall
tirasse as suas botinas, segurasse o papel e o lápis com os dedos
do pé, escrevesse um nome que lhe era preciso adivinhar e recal-
çasse as botinas, sem afastar as mãos de cima da mesa e sem dar
indício do trabalho que executava, operando desse modo.”
Oxon
O Sr. Oxon estudou por muito tempo essas manifestações.
Leiamos o seu testemunho:
“Há cinco anos que estou familiarizado com o fenômeno da
psicografia. Observei-o em grande número de casos, seja com
psiquistas conhecidos do público, seja com senhoras ou cavalhei-
ros que possuíam o dom de produzi-lo.
“No curso das minhas observações, vi psicografias obtidas
dentro de caixas fechadas – escrita direta –, num papel escrupulo-
samente marcado e colocado embaixo da mesa, na sombra, num
papel seguro debaixo do meu cotovelo ou coberto pela minha
mão, num papel encerrado em um invólucro lacrado e sobre
lousas presas umas às outras.”
O eminente professor da Faculdade de Oxford confirma a ob-
servação do Barão de Guldenstubbé, no que se refere ao emprego
do lápis, que não é sempre utilizado pelos Espíritos.
“Achava-me na casa de um amigo íntimo, com mais três pes-
soas. O papel, cuidadosamente marcado com as minhas iniciais,
foi posto no chão com um lápis preto comum. Um de nós, sentin-
do o lápis junto de seus sapatos, assentou o pé sobre ele e assim o
conservou preso até ao fim da sessão Entretanto, a escrita apare-
ceu no papel e procuramos saber como isso se fizera, certos de
que o lápis não fora utilizado. O papel continha os sinais e não
havia sido afastado do lugar. Repetimos a experiência na mesma
semana, e secretamente concebi um meio de esclarecer a coisa.
Levei um lápis verde brilhante e, sem que os outros o vissem,
coloquei-o em substituição ao lápis preto, conservando meu pé
sobre ele durante todo o tempo. Quando examinamos o papel,
vimos que a escrita, composta de ligeiras garatujas, era de uma
cor verde. O lápis tinha, pois, sido utilizado de um modo para
mim desconhecido. Creio que esse caso é freqüente e que as
escritas são produzidas por alguma outra substância que não seja
a do lápis.”
Zöllner
Eis duas observações de Zöllner sobre o mesmo assunto:
“Na tarde seguinte (sexta-feira, 16 de novembro de 1877), co-
loquei uma mesa de jogo e quatro cadeiras em uma sala onde
Slade ainda não havia entrado. Depois que Fechner, o professor
Braune, Slade (o médium) e eu colocamos nossas mãos entrelaça-
das sobre a mesa, ouviram-se pancadas no móvel. Eu tinha com-
prado uma lousa, que marcamos: um fragmento de lápis foi sobre
ela colocado, e Slade pôs a lousa parcialmente sob a beira da
mesa; minha faca foi subitamente projetada à altura de um pé e
depois caiu sobre a mesa... Repetindo-se a experiência, verifica-
mos que o fragmento de lápis, cuja posição havia sido assinalada,
estava no mesmo lugar. A lousa dupla, depois de bem limpa e
munida internamente de um pedaço de lápis, foi, então, por Slade
sustentada sobre a cabeça do professor Braune. Ouviu-se o ruído
do lápis e, quando se abriu a lousa, nela foram encontradas diver-
sas linhas de escrita.”
Vimos que, em casa de Zöllner, um forte biombo de madeira
foi despedaçado pelos Espíritos. O ilustre astrônomo perguntou a
Slade o que isso significava: “Slade respondeu que esse fenômeno
às vezes se dava em sua presença. Enquanto este falava, conser-
vando-se de pé, colocou um pedaço de lápis na superfície polida
da mesa; cobriu-o com uma lousa e, quando Slade a virou, aí se
puderam ler as seguintes palavras em inglês: “Não era nossa
intenção causar-vos prejuízo; perdoai-nos o que sucedeu.” A
produção da escrita, nessas condições, fez-se enquanto as duas
mãos de Slade estavam imóveis.”
O Dr. Gibier
O estudo da escrita direta foi recomeçado na França por um
sábio, o Dr. Gibier,42 e aí encontramos o mesmo médium Slade
servindo de intermediário dos Espíritos. Eis o testemunho do Dr.
Gibier:
“Vimos, por mais de cem vezes, caracteres, desenhos, linhas e
mesmo frases inteiras produzirem-se, por meio de leve contacto
de mãos, em lousas que Slade segurava, e mesmo entre duas
lousas com as quais ele não tinha contacto algum, e que tínhamos
comprado em uma papelaria de Paris e marcado com a nossa
assinatura.
“Em todas as nossas experiências de escrita, examinamos aten-
tamente as lousas antes da operação e, na maioria dos casos, estas
eram de nossa propriedade. Quando a escrita se produzia numa
única lousa, era, geralmente, sob a superfície da mesa, junto à
qual nos achávamos; não perdíamos de vista nem a lousa nem os
dedos de Slade, e nós mesmos éramos, muitas vezes, que sobre
ela colocávamos o lápis; nunca, porém, conseguimos ver este
mover-se. Víamos a lousa ondular ligeiramente, como que sob a
pressão do escrevente invisível, mas, desde que olhávamos para o
espaço que a separava da parte inferior da mesa, o lápis caía sobre
a lousa e o ruído da escrita cessava; logo, porém, que a lousa era
aplicada contra a mesa, ouvíamos de novo o ranger do lápis
traçando a escrita.”
Citemos um dos fatos observados por esse doutor:
“Esta experiência efetuou-se em minha casa, na sala de jantar,
onde Slade entrava pela primeira vez, a 27 de maio de 1886, às
vinte e uma horas. Achavam-se ao todo presentes cinco pessoas,
sendo duas da minha família, um amigo, Slade e eu.
“Tomando uma das minhas lousas, bem limpa de um e outro
lado, perguntei a Slade se ele poderia obter uma palavra que eu
escrevesse sem conhecimento seu. À vista de sua resposta afirma-
tiva, escrevi na minha lousa, evitando completamente a vista de
Slade, e este, sem olhar para ela, colocou-a sob o beiral da mesa,
de modo a deixar que, em parte, ela fosse visível, vendo nós,
portanto, toda a mão direita de Slade, enquanto a esquerda estava
juntamente com as nossas sobre a mesa. Dez segundos não se
tinham ainda passado, e a lousa me foi restituída com estas pala-
vras: Louis is not here (Luís não está aqui). No lado oposto eu
tinha escrito a palavra Luís.”
Na América
O que o Dr. Gibier não viu, isto é, o lápis escrever por si só, o
professor Elliott Coues verificou com grande admiração:43
“Há pouco tempo ainda, disse ele, ser-me-ia difícil acreditar
que eu pudesse ser o autor de tal história. Entretanto, eu não
poderia ser infiel às minhas convicções sem destruir a minha
integridade intelectual, e não posso calar-me diante de tais fatos,
sem dar motivo a que me acusem de covardia moral.”
Esse professor conta que, achando-se na cidade de São Fran-
cisco, em outubro de 1891, foi, em companhia de sua mulher, na
sexta-feira, 6 de outubro, à casa de um médium, a Sra. Mena
Francis.
“Logo que ela despachou um visitante que nos tinha precedi-
do, fez-nos entrar em um quarto dos fundos, exposto à claridade,
onde o sol entrava abundantemente por uma única janela, junto à
qual nos assentamos. A Sra. Francis tomou uma cadeira baixa e
confortável; minha mulher assentou-se em frente dela, e eu perto,
entre as duas damas, à direita da médium; diante de nós achava-se
uma pequena mesa de jogo com uma coberta ordinária, de pano.
Sobre essa mesa, estavam duas lousas delgadas, sem moldura,
com 4 polegadas de comprimento e 6 de largura, um copo com
água e uma esponja para limpar a lousa. A Sra. Francis convidou-
nos a examinar à vontade a mesa e seus acessórios. Nós o fize-
mos, e vimos que as coisas achavam-se como acabo de dizer.
Tomou uma das lousas, pôs sobre ela um pedaço de lápis, de
cerca de um terço de polegada de comprimento, e fê-la docemente
passar para baixo da mesa, fora da nossa vista, agarrando-a por
um canto com a mão, como o faria qualquer pessoa que segurasse
uma lousa ou outro objeto semelhante. A outra mão da médium
achava-se sobre a mesa. Balançou-se um pouco na sua cadeira,
enquanto os nossos olhos nela se fixavam, e perguntou com voz
calma: – “Os queridos Espíritos quererão escrever?”
“Estas palavras impressionaram desagradavelmente a minha
consciência científica, porque, se havia coisa em que eu não
acreditasse era realmente nos Espíritos. Entretanto, não dei isso a
perceber, e bem depressa ouvimos um ruído debaixo da mesa,
semelhante ao de um lápis que escrevia.
“Era, com efeito, o que se estava passando; e podem julgar do
meu assombro, quando a Sra. Francis, como o ruído continuasse,
retirou lentamente a lousa de debaixo da mesa e, então, ali, a
descoberto, em plena vista, pude ver distintamente o lápis escre-
ver por si só e acabar a última ou as duas últimas palavras de uma
comunicação em muitas linhas, cobrindo quase toda a lousa.
Minha mulher não viu isso, exatamente porque a mesa lhe inter-
ceptava a vista. É porém verdadeira a descrição que faço. Para
abreviar a minha narrativa, direi que o mesmo fato repetiu-se,
pelo menos durante uma hora. Muitas vezes, as frases foram
escritas por esse meio, e tanto eu quanto minha mulher observa-
mos que algumas eram produzidas sem ninguém tocar no lápis.
Muitas vezes a Sra. Francis fez variar a experiência, conservando
a lousa erguida no ar, acima da mesa, coberta por um lenço ou por
um livro aberto, a fim de abrigá-la dos raios do sol, porém a
escrita e o ruído produziam-se do mesmo modo.
“Posso garantir que as palavras não eram escritas ao acaso,
pois formavam respostas claras e inteligentes às diversas pergun-
tas que se formularam, constituindo, de certo modo, uma conver-
sação ininterrupta e racional. Essas respostas referiam-se também,
em parte, a pessoas, lugares e coisas acerca das quais, francamen-
te falando, a Sra. Francis achava-se numa ignorância completa.
Além disso, essas respostas eram dadas como séries de comunica-
ções vindas de Espíritos de pessoas vivas ou mortas; elas vinham,
realmente, e a Sra. Francis assim o acreditava. Entre essas perso-
nagens, a Sr. Coues e eu verificamos que algumas eram nossas
conhecidas, quando vivas, etc.”
Como se vê, os fatos verificam-se uns pelos outros; sucedem-
se por toda parte e, apesar das observações mais minuciosas, não
podem ser explorados nem pelo embuste nem pela trapaça.
Observações
Até hoje, e veremos que sempre assim foi, as inteligências que
se manifestam dizem ser as almas daqueles que viveram na Terra.
Seja por meio da mesa, seja pela escrita, pela incorporação ou
pela psicografia, a inteligência que se manifesta diz, invariavel-
mente, que foi um habitante do nosso mundo. Por que, pois,
certos homens se obstinam em contestar essa afirmação?
Supondo-se que os espíritas estejam em erro atribuindo essas
manifestações aos Espíritos, não será digno de nota que esse
fenômeno se realize na América, na Inglaterra, na Alemanha, na
França ou na Itália, que se apresente por toda parte como tendo a
mesma causa, quaisquer que sejam os médiuns e os evocadores?
Donde procederá essa unanimidade, se os Espíritos não exis-
tem? Geralmente, admite-se que efeitos semelhantes tenham
causas semelhantes; por conseqüência, julgamos estar com a
verdade atribuindo os fenômenos àqueles que se dizem seus
autores, e isso é melhor que formularmos hipóteses, apoiando-nos
sobre fatos não demonstrados e que nem mesmo têm o mérito de
explicar todos os casos.
Vimos o Conde d'Ourches obter, pela escrita direta, uma co-
municação de sua mãe; o talhe era semelhante aos autógrafos
deixados pela Condessa. Que objeção apresentarão a esse fato?
Que dirão, para darem uma explicação plausível, quando virem a
escrita produzir-se sem o concurso do lápis? Sempre, e por toda
parte, a inteligência manifesta-se com caracteres que não podem
ser postos em dúvida! Quantos investigadores cuja consciência
científica, de início desagradavelmente impressionada por um
apelo feito aos Espíritos, são depois abalados e transformados
quando esses Espíritos lhes dão testemunhos da sua presença!
Prossigamos, pois, na nossa exposição, tratando de fenômenos
ainda mais ostensivos, mais evidentes e tão afirmados e verifica-
dos como os precedentes, pois estamos certos de que, se a crença
nos Espíritos não se produzir com esses fatos, nunca será possível
estabelecer-se a convicção com o testemunho de outrem.
Capítulo IV
O Espiritismo transcendental
O Espiritismo transcendental – Ação dos Espíritos – Desagregação da
matéria – Experiências de Crookes e de Zöllner – O fenômeno de
transportes – Aparições luminosas na obscuridade – Aparições de mãos
luminosas por si mesmas, ou visíveis à luz ordinária – Formas e figuras de
fantasmas – As materializações – Experiências de Crookes com Katie King
– Formação lenta de uma materialização – A fotografia espírita –
Fotografias de Espíritos reconhecidos por parentes – Mediunidade vidente
e fotografias de Espíritos – As experiências de Aksakof – Fotografias
transcendentais em pleno dia – Fotografia do médium e de uma forma
materializada à luz do magnésio – Observações do Sr. Aksakof –
Impressões e moldagens de formas materializadas – Experiências em
Nápoles, na América e na Inglaterra – O Espiritismo e a Psiquiatria –
Experiências de Lombroso em Nápoles – A explicação do célebre professor
– Refutação – Resumo.
Desagregação da matéria
Apresentemos os fatos. Eles são mais eloqüentes e persuasivos
que a nossa humilde demonstração. Eis a narrativa de uma sessão
em casa do Sr. Crookes:
“A Srta. Fox havia prometido dar uma sessão em minha casa.
Enquanto eu a esperava, uma das minhas parentas e meus dois
filhos mais velhos, um de catorze, e outro de onze anos de idade,
achavam-se na sala de jantar, onde se efetuaram sempre as ses-
sões, ao passo que eu escrevia na minha biblioteca. Ouvindo soar
a campainha, abri a porta à Srta. Fox e conduzi-a logo à sala de
jantar, porque ela me disse que, não podendo demorar-se muito,
não subiria. Depôs sobre uma cadeira seu chapéu e seu xale.
Dirigi-me, então, a meus filhos e disse-lhes que fossem para a
biblioteca estudar as suas lições; fechei sobre eles a porta a chave
e, segundo o meu costume durante as sessões, pus a chave em
meu bolso.
“Assentamo-nos, ficando a Srta. Fox à minha direita e a minha
parenta à esquerda. Bem depressa, recebemos uma mensagem
alfabética pedindo-nos que apagássemos o gás; isso feito, ficamos
em completa obscuridade, durante a qual segurei com a minha
mão as da Srta. Fox. Logo após, uma comunicação foi-nos dada,
nos seguintes termos: “Vamos produzir uma manifestação que
vos provará o nosso poder.” Imediatamente depois, ouvimos o
tinir de uma campainha, não estacionária, porém que ia e vinha
por todos os pontos da sala, ora junto à parede, ou num canto
afastado, ora me tocando na cabeça e, depois, batendo no chão.
Depois de assim se fazer ouvir, pelo menos durante cinco minu-
tos, a campainha caiu sobre a mesa, perto das minhas mãos.
“Durante todo esse tempo nenhum de nós se moveu e as mãos
da Srta. Fox conservaram-se perfeitamente tranqüilas. Eu julgava
que a campainha, que então tocara, não podia ser a minha, visto
eu tê-la deixado na biblioteca.
“Pouco tempo antes da chegada da Srta. Fox, eu tinha precisa-
do de um livro que se achava colocado num aparador, na bibliote-
ca, e, encontrando a campainha sobre o livro, pu-la de lado; esse
incidente assegurou-me que ela estava na biblioteca.
“O gás iluminava bastante o corredor para o qual dava a porta
da sala de jantar, de modo que não se podia abrir essa porta sem
que a luz penetrasse na sala em que nos achávamos.
“Ademais, para abri-la, só existia uma chave, e essa, eu a con-
servara em meu bolso.
“Acendi uma vela. Não podia haver dúvida de que diante de
mim, na mesa, estava uma campainha. Fui logo à biblioteca, e vi
que a minha campainha não estava onde eu a deixara. Perguntei a
meu filho mais velho: – Sabes onde está a minha campainha? –
Sim, papai, ei-la; e apontou para o lugar onde eu a pusera. Pro-
nunciando essas palavras, ergueu os olhos e continuou: – Não;
não está mais ai, porem ainda há pouco estava. – Como é isso?
Alguém veio buscá-la? – Não, disse ele, ninguém entrou aqui; e
sei que ela aí se achava, porque, quando nos fizeste vir para cá, J.
(o menor dos meus dois filhos) começou a tocá-la com tanta força
que não pude estudar as minhas lições, e por isso lhe disse que
parasse. J. confirmou o fato, e acrescentou que havia posto a
campainha no lugar onde a achara.”
Vemos, pois, que os Espíritos precisaram fazer passar essa
campainha através da parede, a fim de levá-la da biblioteca para a
sala de jantar. O fenômeno não pode ser compreendido senão pela
suposição de poder a matéria passar através da matéria, o que não
é impossível, quando vemos a água, sob uma pressão, violenta,
filtrar-se pelos poros de uma esfera de ouro, ou o hidrogênio
passar pelas paredes de um tubo de ferro sujeito a temperatura
elevadíssima, e, mais usualmente, o petróleo atravessar a porcela-
na. O que é estranho, no nosso caso, é a desagregação e a recons-
tituição da campainha, sem que esta se avariasse. Eis uma outra
narrativa do mesmo ilustre químico, que, de alguma sorte, põe em
evidência o fato da desagregação.
“O segundo caso que vou narrar realizou-se em plena luz, num
domingo à tarde, em presença do Sr. Home e de alguns membros
da minha família. Minha mulher e eu tínhamos passado o dia no
campo e daí trazido algumas flores. Chegados à casa, entregamo-
las a uma criada para que as pusesse dentro d'água. O Sr. Home
chegou pouco depois e todos reunimo-nos na sala de jantar.
Quando estávamos assentados, a criada trouxe as flores que havia
acomodado num vaso, coloquei-o no centro da mesa, cuja coberta
havia sido retirada. Era a primeira vez que o Sr. Home via essas
flores.
“Depois de termos obtido muitas manifestações, a conversação
veio a cair sobre certos fatos que só podiam ser explicados admi-
tindo-se a passagem real da matéria através de uma substância
sólida. A este respeito, veio alfabeticamente a seguinte comunica-
ção: “É impossível a matéria passar através da matéria, mas
vamos mostrar-vos o que podemos fazer.”
“Esperamos em silêncio. Bem depressa descobrimos uma apa-
rição luminosa pairando sobre o ramalhete de flores; depois, à
vista de todos, uma haste de erva da China, de 15 polegadas de
comprimento, que adornava o centro do ramalhete, elevou-se
lentamente do meio das outras flores e, depois, desceu até à mesa,
pela frente do vaso, entre este e o Sr. Home. Chegando à mesa, a
haste não se deteve aí, passando-lhe através, como foi observado
por todos.
“Depois da desaparição da erva, minha mulher, que estava as-
sentada ao lado do Sr. Home, viu, entre ela e o médium, uma mão
vindo debaixo da mesa e empunhando a planta, com a qual lhe
bateu no ombro, por duas ou três vezes, fazendo um ruído que
todos ouviram, e, em seguida, depois de largá-la no chão, desapa-
receu. Só duas pessoas viram essa mão, mas todos os assistentes
observaram o movimento da planta. Enquanto isso sucedia, todos
puderam ver as mãos do Sr. Home tranqüilamente pousadas na
mesa. O lugar onde a planta desapareceu estava a dezoito polega-
das de suas mãos. A mesa era de dobradiça, deixando entre as
duas partes uma estreita fenda. Foi através dessa fenda que a
planta passou. Tirei a medida, e vi que ela tinha apenas a largura
de um oitavo de polegada. A planta possuía um diâmetro muito
maior e não podia passar através dessa fenda sem se quebrar, e,
no entanto, todos a viram por aí se introduzir sem dificuldade e
docemente. Examinando-a, depois, não encontramos nela o menor
sinal de compressão.”
A afirmativa desse Espírito, sobre a desagregação da matéria,
não nos parece absolutamente exata, pois as experiências de
Zöllner provam que, em realidade, opera-se a desagregação.
As experiências de Zöllner 44
Uma experiência verdadeiramente concludente foi a deste no-
tável homem de ciência. Em uma corda lisa, cujas extremidades
estavam fixas, lacradas e marcadas sobre a mesa, com o sinete do
Sr. Zöllner, formaram-se alguns nós, minutos depois da imposi-
ção das mãos de Slade, conservando-se intactos os selos.
Em seguida, duas tiras de couro, juntas somente pelas extre-
midades e, igualmente, lacradas, também se achavam ligadas uma
à outra quando o Sr. Zöllner daí retirou as mãos.
“Eu tinha as mãos pousadas nas tiras de couro – diz o Sr. Zöll-
ner –; Slade, que se achava à minha esquerda, colocou sua mão
direita sobre as minhas. Findos alguns minutos, senti um movi-
mento das tiras sob as minhas mãos. Três pancadas fizeram-se
ouvir na mesa e, quando retirei as minhas mãos, as duas tiras de
couro estavam amarradas uma à outra.”
O sábio alemão fez variar a experiência: tomou dois anéis de
madeira, torneados, feitos cada um de uma só peça, com um
diâmetro de 74 milímetros, prendeu-os nas extremidades de uma
corda de violão, fixou o centro desta na mesa, com lacre marcado
com o seu sinete, e deixou-as pender aos lados da mesa. Seu
desejo era ver se os anéis se entrelaçavam. Em seguida, assentou-
se com Slade, colocando suas duas mãos sobre a corda selada.
Perto deles estava uma mesa pequena, de uma só perna, terminada
por três pés.
“Depois de alguns minutos de espera – escreve ele –, ouvimos,
na pequena mesa redonda colocada diante de nós, um ruído
semelhante ao que produziriam duas peças de madeira batendo
uma contra a outra. Levantamo-nos para nos certificarmos do que
era e, com grande assombro, achamos os dois anéis de madeira,
que cerca de seis minutos antes estavam presos à corda de violão,
enfiados na perna da mesa e em perfeito estado. Assim – acres-
centa o Sr. Zöllner –, a experiência que eu projetava não deu o
resultado previsto; os anéis não se entrelaçaram, mas, em vez
disso, foram transportados da corda de violão para a perna da
mesa.”
Experiências de Wallace – Os transportes
Vimos a campainha do Sr. Crookes ser transportada de uma
sala para a outra. Se essa campainha não lhe pertencesse, se ela
tivesse vindo de uma casa vizinha, teríamos aí o que chamamos
um fenômeno de transporte. Eis um fato garantido pelo Sr. Wal-
lace:45
“O que há de mais notável na mediunidade da Srta. Nicholl
(hoje Sra. Guppy) é o transporte de flores e frutos para um quarto
fechado. A primeira vez que esse fato se deu foi em minha casa,
na época em que suas faculdades estavam ainda pouco desenvol-
vidas. Todos os assistentes eram meus amigos íntimos. A médium
tinha vindo para a ceia; estávamos em pleno inverno e, antes que
as flores aparecessem, ela tinha ficado conosco durante quatro
horas em um quarto muito quente e iluminado a gás. O certo é
que, sobre uma mesa nua, em pequeno compartimento, fechado e
escuro (a sala vizinha e o corredor estavam bem iluminados),
apareceu uma quantidade de flores que não se achavam aí quando
apagamos o gás, alguns minutos antes. Eram anêmonas, tulipas,
crisântemos, primaveras da China e muitas espécies de fetos.
Todas pareciam ter sido colhidas de fresco e estavam cobertas de
fino orvalho. Nenhuma pétala estava quebrada ou machucada,
nenhuma das mais delicadas pontas dos fetos se achava afetada.
“Sequei e conservei tudo, juntamente com o atestado que obti-
ve dos assistentes, garantindo não haverem eles, de modo algum,
contribuído, tanto quanto podiam sabê-lo, para o aparecimento
das flores. Acreditei, então, e ainda acredito, que era absoluta-
mente impossível à Srta. Nicholl conservá-las ocultas por tanto
tempo, tão perfeitas e, mais que tudo, tê-las coberto inteiramente
de tão bela camada de orvalho, igual à que se produz no exterior
de um copo, quando, em um dia quente, ele está cheio de água
gelada.”
A competência particular de Alfred Wallace torna essa obser-
vação uma das mais preciosas, porque é difícil que uma jovem
senhora, nas condições indicadas, tenha podido iludir o sagaz e
ilustre naturalista. Prossigamos: Fenômenos semelhantes opera-
ram-se centenas de vezes, em muitas casas e em condições varia-
das. Quase sempre as flores amontoavam-se em quantidade sobre
as mesas; em outras ocasiões, foram trazidos os frutos e as flores
especiais que haviam sido pedidos. Um amigo meu solicitou uma
vez um girassol, e uma dessas flores, alta, de 6 pés, caiu sobre a
mesa, com as raízes envoltas em sólida massa de terra. Uma das
provas mais importantes realizou-se em Florença, na presença do
Sr. F. Adolphus Trollope, da Srta. Blagden e do Coronel Harvey.
“A sala foi examinada pelos cavalheiros, a Sra. Guppy foi
despida e de novo vestida pela Sra. Trollope, que examinou cada
uma das peças do seu vestuário, e, em seguida, o Sr. e a Sra.
Guppy foram solidamente amarrados em torno da mesa.
“Depois de dez minutos, todos declararam que sentiam o aro-
ma de flores e, quando se acendeu uma vela, viu-se que os braços
da Sra. Guppy e do Sr. Trollope estavam cobertos dos junquilhos
que inundavam a sala com o seu perfume. Os Srs. Guppy e Trol-
lope narram esse fato em termos substancialmente idênticos.”
Relatório da Sociedade Dialética de Londres, sobre o Espiritua-
lismo.
Aparições luminosas
Estando confirmado o princípio de poderem os Espíritos ma-
nipular a matéria viva sem destruí-la, mostremos o que eles
podem fazer sobre si mesmos.
Voltemos ao Sr. Crookes, que assim resume as suas observa-
ções:
“Essas manifestações, por serem algo fracas, exigem, geral-
mente, que a sala não esteja iluminada. Pouca necessidade tenho
de lembrar aos meus leitores que, em tais condições, adotei todas
as precauções convenientes para evitar que me iludissem, pois
empreguei o óleo fosforado e outros meios. Ainda mais, muitas
dessas aparições luminosas eram de tal natureza que não consegui
imitá-las por meios artificiais.”
Ainda temos um testemunho importante vindo desse notável
físico, a quem devemos a descoberta da matéria radiante, pois que
ele se entregou a longas e rigorosas experiências sobre todos os
gêneros de luzes devidas aos eflúvios elétricos e à fosforescência:
“Nas condições próprias para o mais rigoroso exame, vi um
corpo sólido, luminoso por si mesmo, e mais ou menos da gran-
deza e da forma de um ovo de perua, flutuar silenciosamente pela
sala, elevar-se mais alto do que teria podido fazê-lo qualquer dos
assistentes colocando-se nas pontas dos pés, e, depois, descer
lentamente até o chão. Esse objeto conservou-se visível por mais
de dez minutos e, antes de desaparecer, deu três pancadas na
mesa, com um ruído semelhante ao que produziria um corpo
sólido e duro.
“Durante esse tempo, o médium esteve assentado em uma es-
preguiçadeira e parecia totalmente insensível.
“Vi pontos luminosos saírem de lugares diferentes e pousarem
sobre a cabeça de diversas pessoas; obtive, a pedido meu, relâm-
pagos de luz brilhante, produzidos diante do meu rosto e no
número de vezes por mim fixado. Vi faíscas saltarem da mesa até
ao teto, e depois caírem na mesa com um ruído muito distinto.
Mantive uma conversação alfabética por meio de relâmpagos
luminosos, produzidos no ar diante de mim, e por entre os quais
eu passava a minha mão. Vi uma nuvem luminosa flutuar sobre
um quadro. Sempre nas condições apropriadas ao mais rigoroso
exame, aconteceu, por mais de uma vez, que um corpo sólido,
fosforescente e cristalino, fosse colocado em minha mão por outra
mão que não pertencia a nenhum dos assistentes. Em plena luz, vi
uma nuvem luminosa pairar sobre uma heliotrópia colocada em
uma mesa ao nosso lado, quebrar-lhe um raminho e oferecê-lo a
uma dama; e, em outras ocasiões, vi uma nuvem semelhante
condensar-se sob as nossas vistas, tomando a forma de mão, e
transportar pequenos objetos. Isso, porém, pertence à classe dos
fenômenos seguintes:
As materializações
Chamamos materialização ao fenômeno pelo qual um Espírito
se mostra com um corpo físico, tendo todas as aparências da vida
normal. A seguinte narrativa foi publicada pelo Sr. Crookes em
diferentes jornais espiritualistas, em 1874.
Se transcrevemos constantemente os escritos do grande quími-
co, não é por falta de documentos, pois as revistas espíritas con-
têm grande número de bons testemunhos, mas, sim, para que o
leitor fique bem convencido de que os fatos citados foram obser-
vados com todo o método e rigor que os sábios empregam em
suas investigações.
Em resposta às acusações de fraude feitas contra a médium,
uma jovem de quinze anos, chamada Florence Cook, o Sr. Croo-
kes deu publicidade às suas experiências, e por estas se vê que a
tal respeito não pode haver a menor suspeita. Damos, antes de
tudo, uma idéia geral dessas sessões: Os assistentes, assentados
em círculo, formam uma cadeia, isto é, dão-se mutuamente as
mãos. A luz, muito fraca, não permite ler, mas é suficiente para
que os experimentadores se vejam uns aos outros. A médium, as
mais das vezes, acha-se separada da sala da reunião por um
biombo ou por cortinas. Em outras ocasiões, a médium fica em
um canto da sala, separado apenas por uma cortina. Se o biombo é
empregado, fica entendido que não dispõe de outra saída senão
pela sala, onde se acham os assistentes. Quando a médium está
em êxtase, no fim de um tempo mais ou menos longo vê-se a
cortina agitar-se e dar passagem a uma forma de homem ou de
mulher, que vem passear pela frente de todos, conversar com os
assistentes, fazer-se, muitas vezes, reconhecer por um deles,
voltar, depois, para junto da médium e, finalmente, desaparecer. É
bem certo que esse compartimento especial para a médium, essa
semi-obscuridade são condições que se prestam perfeitamente a
uma legítima suspeita, visto a estranheza dos fatos produzidos,
mas vamos ver que um homem frio, metódico, como o Sr. Croo-
kes, sabe, por experiência, abrigar-se de toda fraude. Escutemos o
que ele diz:
“O local – As experiências realizaram-se em minha casa. A
minha biblioteca, que serviu de gabinete escuro, tinha duas meias
portas dando para o laboratório; uma dessas portas foi retirada dos
gonzos e, em seu lugar, suspendeu-se uma cortina, para permitir
que Katie (o Espírito materializado) entrasse e saísse facilmente...
Preparei e dispus a minha biblioteca, assim como esse gabinete
escuro, e, segundo o costume, a Srta. Cook, depois de jantar e
conversar conosco por algum tempo, dirigia-se para o gabinete e,
a seu pedido, eu fechava a segunda porta a chave, guardando esta
comigo durante a sessão; então, abaixava-se o gás e deixava-se a
Srta. Cook na obscuridade.
“Entrando no gabinete, ela estendia-se no chão, com a cabeça
num travesseiro, e caía bem depressa em letargia.
“A médium – Durante estes seis últimos meses, a Srta. Cook
fez-me numerosas visitas, permanecendo, muitas vezes, uma
semana inteira em minha casa. Não trazia consigo senão um
pequeno saco de viagem, sem chave; durante o dia, estava cons-
tantemente em minha companhia, na de minha mulher ou na de
algum outro membro da minha família e, como não dormisse em
quarto separado do de minha mulher, faltava-lhe absolutamente a
ocasião de preparar alguma coisa, mesmo de caráter menos
perfeito, que a habilitasse a desempenhar o papel de Katie King.”
A convicção do Sr. Crookes sobre a sinceridade da médium e
sobre a impossibilidade de a Srta. Cook simular alguma coisa do
que foi por si verificado mostra-se nas linhas seguintes:
“A médium aceitou e submeteu-se com a melhor boa-vontade
a todas as provas que propus; sua palavra é franca e vai direto ao
fim a que se propõe; nunca lhe notei coisa alguma que manifes-
tasse a mais ligeira aparência do desejo de enganar. Realmente,
não creio que ela pudesse planejar uma fraude e levá-la ao fim
desejado, caso a tentasse; seria prontamente descoberta, porque
tal modo de proceder é inteiramente contrário à sua natureza.
Quanto a imaginar-se que uma inocente colegial de quinze anos
fosse capaz de conceber e pôr em prática, durante três anos, tão
gigantesca impostura, sujeitando-se, durante todo esse tempo, às
condições que se exigiu, consentindo nas mais minuciosas inspe-
ções, em ser examinada a todo momento, antes e depois das
sessões, e que obtivesse ainda maior êxito na minha casa que na
de seus pais, sabendo que aqui vinha expressamente para sujeitar-
se a rigorosos exames científicos; quanto a imaginar-se, digo, que
a Katie King aparecida nos três últimos anos foi obra de uma
impostura é violentar mais a razão e o bom senso do que acreditar
que ela seja, realmente, o que afirma ser.”
Como era esse Espírito que, durante três anos, se mostrou em
inumeráveis circunstâncias?
“Katie – A fotografia é tão impotente para pintar a beleza per-
feita do rosto de Katie como as palavras o são para descrever o
encanto das suas maneiras. A fotografia pode, é certo, dar um
desenho dos seus traços; mas, como poderia reproduzir a pureza
admirável de sua tez ou a expressão variada de suas feições, ora
veladas pela tristeza, quando contava algum acontecimento
desagradável da sua vida passada, ora sorrindo com toda a ino-
cência de uma jovem, quando reunia em torno de si meus filhos e
divertia-os, contando-lhes episódios de suas aventuras na Índia.”
Mas, essa Katie era uma aparência, uma sombra animada, um
reflexo vivo e pensante? Eis o que escreveu o Sr. Crookes no dia
imediato ao de uma sessão efetuada em Hackney:
“Jamais Katie se mostrou com tanta perfeição; durante cerca
de duas horas, ela passeou na sala, conversando familiarmente
com as pessoas presentes. Muitas vezes, tomou-me o braço,
caminhando, e a impressão produzida em mim era a de achar-se
ao meu lado uma mulher viva, não um visitante do outro mundo.
Essa impressão foi tão forte, que a tentação de repetir uma recente
e curiosa experiência tornou-se para mim quase irresistível.
Pensando, portanto, que, se na minha presença não se achava um
Espírito, pelo menos estava uma dama, pedi-lhe a permissão de
tomá-la em meus braços, a fim de fazer o exame que um audaz
experimentador tinha recentemente insinuado. Sendo essa permis-
são graciosamente concedida, procedi convenientemente, como
em tais circunstâncias o faria qualquer homem de boa educação.
O Sr. Volckman (esse experimentador) folgará em saber que
posso corroborar a sua asserção de que o fantasma (que, aliás, não
fez resistência alguma) era um ente tão material quanto a Srta.
Cook. Essa Katie não podia ser a Srta. Cook disfarçada, pelo
seguinte motivo:
“Como Katie dissesse que era capaz de mostrar-se ao mesmo
tempo que a Srta. Cook, abaixei o gás e, depois, com a minha
lâmpada de óleo fosforado, penetrei no gabinete onde estava a
médium. Previamente, porém, eu havia convidado um dos meus
amigos, taquígrafo hábil, para tomar nota de toda a observação
que eu fizesse enquanto me achasse no gabinete, pois, conhecen-
do eu o valor das primeiras impressões, não queria confiá-las
somente à minha memória. Suas notas estão, neste momento,
diante de mim.
“Entrei no gabinete com precaução; estava escuro, e foi tate-
ando que encontrei a Srta. Cook. Ela estava encolhida no chão.
“Ajoelhando-me, deixei penetrar ar na minha lâmpada e, à sua
claridade, vi essa jovem, vestida de veludo negro, como se achava
no começo da sessão, e com toda a aparência de completa insen-
sibilidade. Não se moveu quando lhe tomei a mão, aproximando a
lâmpada do seu rosto, e continuou a respirar calmamente.
“Erguendo eu a lâmpada, olhei em torno de mim, e vi Katie de
pé, perto e por trás da Srta. Cook. Suas roupas eram brancas e
flutuantes, como tínhamos visto durante a sessão. Segurando na
minha uma das mãos da Srta. Cook, e ajoelhando-me ainda, fiz
subir e descer a lâmpada, tanto para clarear a figura inteira de
Katie como para convencer-me plenamente de que eu via real-
mente a verdadeira Katie, que alguns minutos antes apertara-a em
meus braços, e não a criação fantástica de um cérebro enfermo.
Ela não falou, mas moveu a cabeça para se fazer reconhecer. Por
três vezes, examinei cuidadosamente a Srta. Cook ali deitada,
para certificar-me de que a mão que eu segurava era a de uma
mulher viva, e, por outras tantas vezes, voltei a lâmpada para
Katie a fim de examiná-la com firme atenção, até perder qualquer
dúvida a seu respeito. Afinal, a Srta. Cook fez um ligeiro movi-
mento, e logo Katie, por um sinal, deu-me a entender que me
afastasse. Retirei-me para outra parte do gabinete e cessei, então,
de ver Katie, porém só fui embora quando a Srta. Cook despertou
e depois que dois dos assistentes aí penetraram com luzes.”
Dirão ainda os obstinados incrédulos, eis uma alucinação de
todos os sentidos, experimentada pelo Sr. Crookes. Para destruir
este último argumento, é necessário falarmos da fotografia dessa
aparição, pois ninguém suporá, como cremos, que uma placa
sensível possa ficar alucinada. É isso um testemunho ininteligen-
te, mas irrecusável. Essa prova absoluta foi obtida grande número
de vezes.
“Tendo eu tomado parte muito ativa nas últimas sessões da
Srta. Cook e obtido numerosas fotografias de Katie King, à luz
elétrica, julguei que a publicação de alguns pormenores seria
interessante para os espiritualistas.
“Durante a semana que precedeu a partida de Katie (o Espírito
havia anunciado que a sua missão estava terminada), ela deu
sessões em minha casa quase todas as noites, a fim de me permitir
fotografá-la à luz artificial. Cinco aparelhos completos de fotogra-
fia foram, portanto, preparados. Compunham-se de cinco máqui-
nas, sendo uma do tamanho de chapa inteira, uma de meia chapa,
uma de um quarto de chapa, e as outras duas eram estereoscópicas
binoculares, devendo todas ser dirigidas ao mesmo tempo para
Katie, cada vez que ela tomasse posição para ser fotografada.
Cinco banhos sensibilizadores e fixadores foram empregados, e
muitas placas limpas e dispostas para servir, a fim de não haver
hesitação nem demora durante as operações fotográficas, que eu
mesmo executei com um ajudante.
“Estando os meus amigos assentados no laboratório, diante da
cortina, as objetivas foram colocadas um pouco atrás deles,
prestes a fotografar Katie quando ela saísse, e mesmo no interior
do gabinete, cada vez que se levantasse a cortina. Em cada noite,
houve quatro ou cinco exposições de chapas nas cinco câmaras,
pelo que nos dava o máximo de quinze provas por sessão. Algu-
mas se inutilizaram na revelação, outras na regulagem da luz.
Apesar de tudo, tenho quarenta e quatro negativos: uns medío-
cres, alguns nem bons nem maus, outros, porém, excelentes.
Freqüentemente, levantei um pedaço da cortina, quando Katie se
achava perto dela; as sete ou oito pessoas que estavam no labora-
tório podiam ver, ao mesmo tempo, a Srta. Cook e Katie,47 ao
pleno brilho da luz elétrica. Não podíamos, então, ver o rosto da
médium, por causa do xale com que Katie cobria-o a fim de
impedir que a luz a incomodasse, mas, descobrindo suas mãos e
seus pés, vimos que a médium estorcia-se penosamente sob os
raios dessa luz intensa e, de quando em vez, ouvíamos suas
queixas. Obtive uma prova de Katie e de sua médium fotografa-
das juntamente, mas Katie está colocada diante da cabeça da Srta.
Cook.”
Acreditamos não mais ser possível a dúvida: Katie e Cook são,
positivamente, duas personalidades distintas, e a objeção de
embuste ou de alucinação coletiva, atingindo o Sr. Crookes e os
demais assistentes, deve ser reprimida. Existe realmente um
Espírito que aparece e desaparece, mas nada prova ainda, dizem
os cépticos, que ele seja um habitante do outro mundo. Com
efeito, sabemos, agora, de um modo quase certo, que o indivíduo
humano pode desdobrar-se, e que, enquanto seu corpo está em
determinado lugar, pode-se constatar a presença do seu duplo em
outro lugar, às vezes muito distante do primeiro. As atas da
Society for Psychical Research mencionam grande número de
casos pelos quais se vê que esses duplos de pessoas vivas falam,
deslocam objetos materiais, podendo-se mesmo admitir que eles
têm uma existência objetiva. Apliquemos essas observações à
Srta. Cook; quem nos diz que Katie King não seja simples desdo-
bramento da Srta. Cook? Deixemos ainda a palavra aos fatos; eles
vão destruir esta última objeção, supremo recurso dos negadores:
“Uma das fotografias mais interessantes é aquela em que me
acho de pé, ao lado de Katie; ela tem seu pé descalço pousado
num ponto do soalho. Fiz depois a Srta. Cook vestir-se como
Katie; ela e eu nos colocamos exatamente na mesma posição e
fomos fotografados pelas mesmas objetivas, colocados como na
anterior experiência e iluminados pela mesma luz. Quando os dois
retratos foram comparados, as duas fotografias coincidiram
exatamente quanto às dimensões, etc., mas a de Katie excedia à
da Srta. Cook, na altura da cabeça; junto desta, Katie parece uma
mulher gorda. Em muitas provas, o tamanho do seu rosto e a
grossura do seu corpo diferenciam-na da médium, fazendo tam-
bém notar muitas outras dessemelhanças...
“Vi Katie recentemente, de um modo tão nítido, quando era
iluminada pela luz elétrica, que se me torna possível acrescentar
mais algumas notas quanto às diferenças que, num precedente
artigo, estabeleci como existentes entre ela e sua médium. Tenho
a mais absoluta certeza de que a Srta. Cook e Katie são duas
individualidades distintas, ao menos no que se refere aos seus
corpos. Pequenos sinais que existem no rosto da Srta. Cook não
aparecem no de Katie. Os cabelos da primeira são de um casta-
nho-escuro, aproximando-se ao negro; uma mecha dos cabelos de
Katie, que eu tenho à vista, e que, com a sua permissão, cortei de
suas bastas tranças, depois de acompanhá-las com meus dedos até
o alto de sua cabeça, a fim de certificar-me de que aí tinham
nascido, é de um belo castanho-dourado. Certa noite, contei as
pulsações de Katie: Seu pulso batia regularmente 75 pulsações, ao
passo que o da Srta. Cook, poucos instantes depois, atingia 90,
seu número habitual. Apoiando o meu ouvido no peito de Katie,
pude perceber-lhe as pancadas do coração, mais regulares que as
do da Srta. Cook, como esta me permitiu observar depois da
sessão. Experimentados do mesmo modo, os pulmões de Katie
mostraram-se mais sãos que os da sua médium, que então se
estava tratando de forte defluxo.”
Verificou-se, em todos os casos de telepatia, que a aparição
reproduz absolutamente a forma do corpo e as feições daquele
que produz esse fenômeno; é esse um característico nunca des-
mentido de tais fatos. Entretanto, vemos que Katie difere nota-
velmente da Srta. Cook, tanto no talhe, quanto no rosto e nos
caracteres fisiológicos; logo, Katie e a Srta. Cook são duas perso-
nalidades diferentes, tanto física como psiquicamente. Uma
última citação vai estabelecer sobre esse ponto uma convicção
absoluta:
“Tendo terminado suas instruções, Katie convidou-me a entrar
com ela no gabinete e permitiu que aí me conservasse até ao fim.
“Em seguida, tendo levantado a cortina, conversou comigo du-
rante algum tempo e, depois, atravessou a sala para ir ter com a
Srta. Cook, que jazia inanimada no chão. Inclinando-se sobre ela,
tocou-a e disse-lhe: – Desperta, Florence; desperta! É preciso que
eu te deixe.
“A Srta. Cook acordou, banhada em lágrimas, e suplicou a Ka-
tie que se demorasse ainda algum tempo: “Minha cara, não posso
fazê-lo; minha missão está cumprida; que Deus te abençoe!”,
respondeu Katie, e continuou a falar com a Srta. Cook. Durante
alguns minutos, elas conversaram, até que as lágrimas da Srta.
Cook impediram-na de falar. Segundo as instruções de Katie,
avancei para amparar a Srta. Cook, que ia caindo no chão, solu-
çando convulsamente. Olhei, então, ao redor de mim; mas Katie e
o seu vestido branco haviam desaparecido. Logo que a Srta. Cook
se acalmou, trouxeram uma luz e eu a conduzi para fora do gabi-
nete.”
Não mais pode haver dúvida de que a Srta. Cook conversou,
acordada, com Katie e o Sr. Crookes. São três personalidades bem
distintas, em três corpos diferentes. A existência dos Espíritos está
irrefutavelmente estabelecida. É tão real esse fato que os sábios
que empreenderam explicar o fenômeno espírita, sem recurso à
intervenção dos desencarnados, nunca ousaram tocar nesses
notáveis trabalhos. Neles, é impossível negar-se a incomparável
competência do observador, sua lógica rigorosa, seu espírito frio e
imparcial. Nessas experiências tão pormenorizadas, tão bem
dirigidas, sente-se a mão de um homem que vai em busca do
desconhecido, sem hesitação, mas rodeando-se de todas as pre-
cauções possíveis. É o mesmo investigador do começo ao fim,
não entusiasta do fenômeno maravilhoso, mas resolvido a fazer
conhecer todas as suas fases, por mais inverossímeis que pareçam
aos seus doutos colegas. Seus trabalhos são para nós, espíritas,
um apoio inabalável, um refúgio seguro contra todos os sofismas
dos que, não tendo experimentado por si mesmos e não conhe-
cendo senão pequeno número de fatos, pronunciam, ex cathedra,
que o Espiritismo não é mais que um disparate.
Deixemos esses retardatários e continuemos a nossa exposi-
ção.
Um outro caso
Já dissemos que existem muitas outras experiências assaz rigo-
rosas e que as deixávamos em silêncio para ceder a palavra ao
mestre em tal assunto. Vamos, entretanto, abrir uma exceção em
favor de uma narrativa aparecida no Light, e que também se
encontra na obra Cherchons, do Sr. Gardy. Veremos, nessa expe-
riência, pormenores curiosos sobre o modo pelo qual se forma a
aparição. Esta narrativa está confirmada pelo Sr. Oxon, que viu
sessões absolutamente semelhantes; temos, pois, uma boa garantia
científica a respeito da sua exatidão.
O Sr. J.-H. Mitchiner descreve, de um modo muito circunstan-
ciado, uma materialização operada em sua presença. Eis como ele
se exprime:
“Revendo os meus velhos documentos, encontrei o seguinte
fato, ocorrido em 11 de fevereiro de 1885, e que pode interessar
aos nossos leitores. Sei que esse fenômeno, ao qual dei o nome de
parto astral, foi observado em mais de uma ocasião com o mesmo
sensitivo. O círculo compunha-se de quatro damas e quatro
cavalheiros, além do médium.
“A sala estava iluminada durante toda a sessão por um bico de
gás, dando luz suficiente para permitir que cada um dos assisten-
tes visse os móveis que ali se achavam. Entretanto, não seria
possível ler um livro ou o mostrador de um relógio.
“Depois da aparição e da desaparição de quatro formas dife-
rentes, dos dois sexos, vindas da antecâmara para o círculo, o Sr.
Eglinton, o sensitivo, caiu em estado de êxtase e começou a
passear de um para outro lado, mas pela nossa frente. Notei,
então, um objeto semelhante a um lenço branco de algibeira,
pendente do seu quadril direito. Esse objeto, da extensão de cerca
de um pé, foi, durante alguns segundos, agitado pelos movimen-
tos do médium, que passeava vacilante.
“Como eu estava colocado em uma das extremidades da ca-
deia, minha mão esquerda ficava livre. Parando diante de mim, o
Sr. Eglinton segurou-me, de repente, na mão, de um modo con-
vulso e tão violento que me magoou. A substância suspensa no
seu quadril começou então a descer para o chão e a acumular-se a
seus pés, envolvendo suas pernas em espesso vapor branco, que
comparei a algodão cardado.
“Durante esse tempo, o médium fazia ouvir gemidos lamento-
sos, e suas contorções podiam fazer crer que ele se achava em
verdadeiro estado de agonia. Quando o vapor cessou, se tal nome
se lhe pode dar, congregou-se em coluna e tomou o aspecto de um
corpo humano. Viu-se, então, a condensação dessa coluna e, antes
que os assistentes tivessem tempo de compreender o que se
passava, uma forma completa de carne e osso, um grande e belo
homem, vestido de branco, achava-se diante de todos.
“A personagem trazia barba cerrada, de cor escura, e tinha de
altura algumas polegadas mais que o médium, o que era fácil de
se verificar, visto que se achavam ao lado um do outro. O Espírito
e o médium ficaram assim diante de nós por um momento, pare-
cendo que o último estava sustentado pelo braço do primeiro, que
o segurava pela cintura. O Sr. Eglinton, então, soltou-me a mão,
afastando-se um pouco de mim com um passo mal seguro, e
pôde-se, assim, distinguir uma espécie de fita branca, de cerca de
4 polegadas de largura, prendendo o quadril do médium ao do
Espírito. Vi essa fita de geração astral destacar-se subitamente e,
logo que se recolheu ao corpo do Sr. Eglinton, este deixou-se cair
numa cadeira, enquanto o Espírito permanecia sozinho no meio
do círculo, passeando e apertando a minha mão e as de duas
outras pessoas. Depois da sua partida, encontramos o sensitivo em
tal estado de exaustão, que a sessão teve logo de ser suspensa.”
A fotografia espírita
A fotografia de uma forma espiritual é, indubitavelmente, uma
das melhores provas da existência dos Espíritos; nenhuma teoria
pode dar explicação desse fenômeno sem o recurso da ciência
espírita. Acabamos de ver um sábio eminente constatar, por esse
meio, a realidade objetiva da aparição de Katie; citaremos um
certo número de outros testemunhos emanados também de obser-
vadores instruídos, experimentados e sinceros, porque nunca será
demais o que se possa fazer para libertar esse fenômeno do des-
crédito em que caiu depois do processo movido contra o fotógrafo
Buguet, em 1875.
Esse industrial, que não era espírita, depois de haver obtido,
acidentalmente, fotografias de Espíritos rigorosamente autênti-
cas,48 como qualquer pessoa poderá convencer-se pelos testemu-
nhos de muitos homens bem qualificados, buscou lançar mão da
fraude para aumentar os seus lucros. Foi condenado e imenso
descrédito estendeu-se sobre os espíritas, sendo eles, assim,
injustamente envolvidos nessa reprovação.
A fim de indicar como devem proceder os espíritas sérios não
só para não serem enganados, mas também para adquirirem a
certeza da realidade do fenômeno, eis o que diz o Sr. Alfred
Wallace:
“1º – Se uma pessoa conhecedora da fotografia tomar suas
próprias chapas de vidro, examinar a câmara empregada e todos
os seus acessórios, vigiar todo o processo para obter a prova e
encontrar na prova negativa uma forma bem definida junto da
figura da pessoa que tomou posição: há aí uma prova da existên-
cia de um objeto, suscetível de refletir-se ou de emitir raios
actínicos, apesar de invisível às pessoas presentes;
“2º – Se evidenciar semelhança incontestável com uma pessoa
falecida, totalmente desconhecida do fotógrafo;
“3º – Se aparecerem, na prova negativa, imagens em relações
definidas com a figura daquele que vem retratar-se e escolhe a sua
própria posição, sua atitude, seus acessórios; tem-se aí uma prova
de que formas invisíveis se achavam realmente no campo da
objetiva;
“4º – Se aparecer uma forma vestida de branco atrás do corpo
opaco de quem se retrata, sem se estender sobre ele: há uma prova
de que a figura de branco aí se achava ao mesmo tempo, porque
as partes sombrias da prova negativa são transparentes, e toda a
imagem branca, de qualquer modo que seja, devia aparecer atra-
vés;
“5º – Quando não se possa recorrer a alguma dessas demons-
trações, se um médium, inteiramente distinto e independente do
fotógrafo, vir e descrever uma forma durante a operação, e, na
placa, aparecer uma imagem semelhante à descrita: há uma prova
de que essa forma aí se achava e no campo da objetiva.”
Cada uma dessas indicações tem sido sucessivamente empre-
gada por aqueles que fazem essas experiências; citemos alguns
casos:
Em Nápoles
Eis, agora, impressões deixadas em farinha e em argila.56
O professor Chiaia, de Nápoles, também obteve materializa-
ções de Espíritos por meio da médium Eusápia Paladino. Não
satisfeito de fotografar Espíritos, quis conservar uma lembrança
ainda mais comprobativa: a própria forma da aparição. Para isso,
imaginou a disposição seguinte: Tomando um prato cheio de
farinha, pediu que o Espírito aí imprimisse o seu rosto, a sua mão:
o resultado foi conseguido, mas um tanto confuso por causa da
friabilidade da substância empregada. Então, teve ele a idéia de
utilizar-se da argila dos escultores, e perguntou se o Espírito
poderia ali moldar uma cabeça. A vista da resposta afirmativa, a
argila foi posta numa mesa coberta com um véu. A sala achava-se
em obscuridade quase completa; mas, as cinco pessoas que assis-
tiam à experiência seguraram as mãos uma às outras e, por acrés-
cimo de prudência, tocaram também mutuamente os pés. Assina-
lando o Espírito a sua presença, pediu-se-lhe que produzisse o
efeito desejado, no que ele consentiu, e, depois de três minutos,
declarou que estava terminado.
Abriram-se as janelas e viu-se, então, a massa de argila cavada
ou, melhor, comprimida e prestes a receber o gesso. A moldagem
apresentou uma bela cabeça de homem sem barba, com expressão
de grande melancolia. Um escultor, a quem a mostraram, declarou
que lhe seria preciso um dia de trabalho para reproduzir em relevo
tal obra. A figura estava coberta por um véu, cujas malhas se
viam distintamente no gesso e que tinham grande analogia com
um tecido de fio. Não correspondia a nenhuma das fazendas que
se achavam, então, na sala ou que algumas das pessoas presentes
trouxessem em seu vestuário.
Essas experiências reproduziram-se muitas vezes e a molda-
gem deu sempre resultado análogo ao pedido feito, com maior ou
menor grau de exatidão e nitidez. Pedia-se ora a frente ou o perfil
de um rosto, ora a mão de um homem ou de uma criança, e, em
quase todas as vezes, isso foi satisfeito.57
Na América
Vamos fornecer provas de que o perispírito é bem o molde flu-
ídico do corpo e verificaremos que, no espaço, ele não perdeu
nenhuma das suas propriedades plásticas; basta fornecer-lhe a
força vital e a matéria para que o corpo material se reproduza total
ou parcialmente.58
Recorremos ainda ao Sr. Aksakof, que garante a autenticidade
dos fenômenos seguintes, assim como a perfeita honorabilidade e
a capacidade científica dos observadores. Veremos ainda uma vez
que, como todos os outros fatos espíritas, estes também se produ-
ziram em todos os países.
Eis o modo de operar, vulgarmente utilizado nessas circuns-
tâncias:
Duas vasilhas, uma com água fria e outra com água quente,
são colocadas na sala onde se faz a experiência; na superfície da
água quente flutua uma camada de parafina fundida. Se se quiser
obter, por exemplo, um molde de mão materializada, pede-se ao
Espírito que mergulhe a sua mão na parafina fluida e, imediata-
mente após, na água fria, e que repita por muitas vezes essa
operação. Desse modo se forma na superfície da mão uma luva de
parafina, de uma certa espessura. Quando a mão do Espírito se
desmaterializa, deixa um molde perfeito que se enche de gesso.
Basta, depois, mergulhar tudo em água fervendo para que, fun-
dindo-se a parafina, reste uma impressão exata e fiel do membro
materializado. Tal experiência, desenvolvida com as precauções
necessárias, dar-nos-á, de um modo absolutamente demonstrativo,
a cópia durável e minuciosa do fenômeno temporário de uma
aparição tangível.
A idéia da obtenção desses moldes é devida ao Sr. Denton,
professor de geologia assaz conhecido na América. Foi em 1875
que esse experimentador obteve, pela primeira vez, o molde de
um dedo. Eis como ele descreveu o fenômeno em carta dirigida
ao Banner of Light, e reproduzida pelo periódico The Medium, em
1875, pág. 17:
“Eu soube, há algum tempo, que, quando o dedo é mergulhado
na parafina derretida, sendo esta em seguida resfriada, pode-se
destacá-la e, no molde assim formado, deitar gesso, obtendo-se,
dessa maneira, uma perfeita reprodução do dedo. Dirigi ao Sr. J.
Hardy uma carta, informando-o de que eu conhecia um bom
processo de obter moldes e pedindo-lhe autorização para assistir
às sessões da Sra. Hardy, a fim de tentar obter o molde das mãos
do Espírito que ali, com tanta freqüência, se manifestava. Convi-
dado, compareci em sua residência, munido de parafina e gesso,
e, tomadas as convenientes disposições, começamos as experiên-
cias.”
“Não sabendo o gênero de experiência que o professor Denton
queria tentar, não se pode acusar o médium de haver, com antece-
dência, preparado as coisas.
“Colocou-se no centro da sala uma grande mesa, que foi co-
berta com um pano acolchoado e com a capa do piano, de modo a
evitar-lhe a luz tanto quanto possível. Debaixo da mesa colocou-
se um balde de água quente, em cuja superfície flutuava a parafi-
na derretida. O Sr. e a Sra. Hardy e eu assentamo-nos ao redor da
mesa e, em plena luz, pousamos as mãos sobre ela; ninguém mais
se achava presente.
“No fim de pouco tempo, percebemos um movimento na água
e, de conformidade com uma comunicação recebida por pancadas,
a Sra. Hardy pôs suas mãos a algumas polegadas da mesa, entre o
pano acolchoado e a capa do piano; assim se recebeu, com inter-
valos variados, moldes de quinze ou vinte dedos, cujas dimensões
variavam, desde as de uma criança até as de um gigante; mais da
metade desses dedos eram de dimensões maiores que os da
médium.
“Foram reproduzidos todos os traços da pele, os sulcos das fa-
langes, de um modo muito distinto. Disseram-nos que o maior era
o polegar de Big Dick; este apresentava justamente a dupla gros-
sura do meu no começo da unha, ao passo que o menor, com a
unha perfeitamente definida, era um dedinho gordo que, aparen-
temente, só podia pertencer a uma criança de um ano de idade.
“Estou perfeitamente certo de que, enquanto esses moldes
eram obtidos, a mão da médium achava-se distante cerca de 2 pés
da parafina. Muitos moldes estavam ainda quentes no momento
em que a Sr. Hardy retirava-os das mãos que se apresentavam;
muitas vezes, a parafina tinha tão pouca consistência que o molde
ficava inutilizado.
“Desejo chamar a atenção dos Eddys, dos Allan Boy e de ou-
tros médiuns de efeitos físicos para este processo pelo qual os
cépticos quanto à realidade das formas apresentadas podem
convencer-se, visto ficar demonstrado que elas são distintas das
do médium. Se moldagens de mãos maiores que as de qualquer
homem podem ser assim obtidas, como acredito, podem também
ser produzidas a distância, fornecendo, desse modo, uma evidên-
cia irresistível.
“Wellesley, Mass. William Denton.”
Operando do modo acima descrito, obtiveram-se moldes de
mãos inteiras e de pés, com a maior variedade de conformações,
em grande número de sessões.
As condições observadas nas experiências e os resultados ob-
tidos foram integralmente satisfatórios; a crítica, todavia, esfor-
çou-se em descobrir aí a fraude, porque acreditava por força haver
fraude.
Em primeiro lugar, sugeriu-se que a médium podia ter anteri-
ormente preparado os moldes, trazendo-os às sessões e fazendo
com que eles passassem por ser ali obtidos.
Para afastar essa suposição, o professor Denton recorreu à
prova seguinte: pesou a massa de parafina antes e depois da
sessão, achando o mesmo peso nos dois casos. Esta experiência
foi repetida por três vezes publicamente, diante de grande número
de pessoas, em Boston, em Charlestown, Portland, Baltimore,
Washington, etc.; sempre com êxito completo.
Então, surgiu uma outra objeção: a médium podia ter subtraído
a quantidade de parafina necessária, com os pés ou as mãos, e
escondê-la em algum lugar; exigiram que ela fosse encerrada num
saco; assim se fez. Nas vinte sessões públicas seguintes, a mé-
dium foi encerrada num saco, fortemente amarrado ao seu pesco-
ço, e sempre sob as vistas da Comissão escolhida. Bem depressa,
essa medida foi julgada insuficiente; insinuaram que a médium
podia ter desfeito uma parte na costura do saco e tornado a fazê-
la, depois de se haver utilizado de suas mãos, apesar de a Comis-
são nada de semelhante ter observado. Para afastar essa objeção,
inventou-se uma nova condição que devia fornecer a mais absolu-
ta prova da realidade do fenômeno: o molde devia ser produzido
dentro de uma caixa fechada. Efetivamente, como essa prova deve
ser considerada a mais correta e concludente, daremos a descrição
da caixa que foi preparada para as experiências, segundo as
indicações do Dr. Gardner. Eis o testemunho do professor Den-
ton:
Essa caixa, de forma retangular, mede 30 polegadas de com-
primento e 24 de largura. Os quatro montantes da estrutura são de
madeira, do mesmo modo que o fundo e a tampa; a parte compre-
endida entre a tampa e o gradeamento metálico é de madeira, e
mede 8,5 polegadas de altura.
Essa parte apresenta orifícios afastados cerca de uma polegada
um do outro, e a cada um deles se deu, no começo, um diâmetro
de 3/4 de polegada, sendo, depois, esse diâmetro reduzido de 1/4
por meio de um forro interior. O fio metálico, que cerca a caixa, é
inteiriço, tendo as suas extremidades presas no mesmo canto,
coberto por forte peça de madeira solidamente pregada. A tampa
tem duas portas: uma fixada por dois parafusos; a outra por uma
corrediça.
O gradeamento é de malha forte, medindo 3/8 de polegada.
Depois de muitas experiências coroadas de êxito, a atenção foi
atraída para certos defeitos da caixa, que foram reparados de
modo a evitar-se objeções. As tampas foram munidas de duas
fechaduras, garantindo um fechamento perfeito e seguro. Os
orifícios da madeira foram reduzidos, como dissemos acima, e
nenhum defeito ficou sem correção. Fomos minuciosos na descri-
ção da caixa, porque a consideramos como instrumento de uma
prova inteiramente inatacável quanto à boa-fé do médium. Se-
guem os detalhes da experiência.
Na segunda-feira, 1º de maio de 1876, reuniram-se na residên-
cia do Sr. Hardy, Concord Square n.° 4, o Coronel Frederick A.
Pope, Boston, John Wetherbee, J. S. Drapper, Epes Sargent, as
Sras. Dora Brigham e Hardy. A caixa foi cuidadosamente exami-
nada. O Coronel Pope, experiente em marcenaria, voltou-a e
examinou-a por todos os lados, interior e exteriormente, os outros
observadores fazendo a mesma coisa. Teve-se o especial cuidado
de verificar até que ponto, empregando-se um instrumento de
ferro, era possível alargar a malha do gradeamento metálico e
aproximá-lo de novo, de modo a permitir a introdução de um
objeto, cujo diâmetro era maior meia polegada que o da malha.
Isso foi julgado impossível. O alargamento da malha, para a
introdução de uma mão, não podia ser feito sem se desviar e
separar-se, de modo reconhecível, os fios da malha.
Satisfazendo a todos a construção da caixa, o Sr. Wetherbee
encheu um balde de água fria e clara, o qual foi posto dentro da
caixa, depois de ter sido examinado. O Coronel Pope levantou o
balde que continha água quente, sobre a qual flutuava uma cama-
da de parafina, e colocou-o, depois do exame, na caixa; tínhamos,
igualmente, examinado a parafina pelo tato: agitamo-la e achamo-
la em fusão e bem quente. As duas portas da tampa foram, então,
abaixadas, parafusadas e fechadas; para maior segurança, ainda
que a precaução fosse inútil, pois a médium estaria sempre diante
de nós, lacramos os orifícios das fechaduras e as junturas da
tampa. Estando clara a sala, podíamos ver, e vimos realmente,
através do gradeamento metálico, que, com exceção dos baldes e
do seu conteúdo, nada mais havia na caixa. Com o fim de produ-
zir-se a obscuridade necessária para a operação, lançou-se um véu
sobre a caixa, ao passo que a luz que iluminava a câmara foi
moderada, mas somente até ser possível distinguir a hora nos
nossos relógios, as nossas fisionomias e os nossos movimentos,
bem como os da médium. A Sra. Hardy tomou uma cadeira e
colocou-se em frente do círculo, justamente por detrás da caixa.
O Sr. Hardy conservou-se afastado de todos, e sua liberdade
de ação não foi sujeita a restrições. Não houve cântico nem
ruídos, mas, durante todo o tempo, se conversou em voz baixa. A
Sra. Hardy estava em seu estado normal, alegre e sem preocupa-
ções; a harmonia do círculo era perfeita e todos os olhos observa-
vam a médium. Na ocasião, se fizéssemos uma pergunta à força
operante, a resposta teria vindo por pancadas.
Afinal, depois de quarenta minutos de espera, uma série rápida
de alegres pancadinhas anunciou-nos a obtenção de alguma coisa.
Levantamo-nos todos, erguemos o véu e, através do gradeamento
metálico, descobrimos, flutuando no balde d’água, o molde
perfeito de uma grande mão. Examinamos, então, os baldes e
achamo-los intactos. A caixa foi ainda sujeita a rigorosa observa-
ção, mas tudo se achava em perfeito estado. Tiramos o lacre das
fechaduras, abrimos a tampa, retiramos os baldes e, de um deles,
o molde. Era exatamente um molde, e cremos que não há meio de
fugir-se à convicção de que ele foi formado ali mesmo por uma
força capaz de materializar os membros de um organismo intei-
ramente distinto do corpo físico da médium.59
Na Inglaterra
O Dr. Nichols, servindo Eglinton de médium, fez uma experi-
ência em condições idênticas. Nesta experiência não só as mãos e
os pés do médium estiveram visíveis, mas também se obteve um
resultado cuja importância está no fato de as moldagens obtidas
na sessão representarem mãos que foram reconhecidas.
Eis o artigo do Dr. Nichols, no Spiritual Record, de dezembro
de 1883:
“Durante a estada do Sr. Eglinton em minha casa, em South
Kensington, tentamos a experiência para obter moldes de mãos
dos Espíritos. Minha filha Willie, cujos desenhos e escrita já
apresentei, prometeu tentar a experiência e apresentar-nos um
molde da sua mão. Fizemos, para isso, os preparativos necessá-
rios. Compramos 2 quilos da melhor parafina, como a empregam
na iluminação, substância branca, cerosa, porém um pouco mais
quebradiça que a cera; fundi-a e derramei-a em um balde meio
cheio de água quente para conservá-la no estado fluido. Enchi,
depois, um outro balde de água fria.
“Tínhamos reunido um círculo escolhido de cerca de doze pes-
soas; o único estrangeiro era um médico alemão, o Dr. Friese, que
se interessava pelas investigações espíritas. Uma cortina isolava
um canto da nossa sala de sessões. O Sr. Eglinton assentou-se
atrás dela, no meio, no ponto de junção das cortinas, colocando-se
à sua frente o Dr. Friese, que lhe segurava as mãos. A luz do gás
era brilhante a ponto de nos vermos perfeitamente. Quando tudo
ficou pronto, eu trouxe do meu gabinete os dois baldes e colo-
quei-os no canto da sala, por trás da cortina, distante 6 pés de
Eglinton, cujas mãos, como acima dissemos, foram seguras pelo
Dr. Friese. As pessoas e os objetos estavam colocados na ordem
seguinte:
Os dois baldes O Sr. Eglinton A cortina
O Dr. Friese
“Os assistentes ficaram sentados o mais longe possível desta
última. Todos estavam distintamente visíveis; ninguém se apro-
ximava nem podia aproximar-se dos baldes. Ao fim de alguns
segundos, ouvimos vozes no canto da sala, junto dos baldes, e
barulho na água. Depois, feitos os sinais por meio de golpes, corri
e retirei os baldes que estavam atrás da cortina. Na água fria
boiavam duas mãos de parafina solidificada. Uma delas asseme-
lhava-se a uma espessa luva branca de alabastro; a outra era
semelhante, porém menor. Quando levantei a maior, verifiquei
que ela estava oca e que apresentava uma forma de mão humana;
a menor era um molde de mão de criança. Uma dama presente
reconheceu nesta uma particularidade de formação que assinalava
a mão de sua filha, afogada na África austral com a idade de cinco
anos. Conduzi os dois baldes para o meu gabinete, repondo os
moldes na água; fechei a porta e pus a chave no meu bolso.
“No dia seguinte pela manhã, o gesso fino que mandamos vir
de Paris foi diluído e introduzido no molde grande. Para obter a
moldagem, o molde tinha de ser sacrificado. Um molde de mão
humana com todos os seus dedos separados exigiria muitos
predicados, a fim de serem visíveis na moldagem obtida. O que eu
fiz consistiu apenas em introduzir o gesso liquefeito no molde,
deixá-lo endurecer e sacrificar o molde, fazendo-o derreter na
água quente. Esse belo molde da mão de minha falecida filha
Willie, com seus dedos delicados e artísticos e seu ar gracioso,
justamente como os tinha ela em vida, acha-se hoje dentro de uma
redoma, sobre a minha mesa. Quando coloco a minha mão na
mesma posição, a semelhança da moldada, ainda que menor um
terço, torna-se logo evidente; não se assemelha às mãos de con-
venção feitas pelos escultores: é mão verdadeira, natural, anatô-
mica, com cada um dos seus ossos e tendões, apresentando clara-
mente marcados os mais finos traços da pele. Era a mesma mão
que eu conhecera durante a sua vida mortal e que tantas vezes eu
tinha visto e sentido quando se materializava.”
Cumpre lembrar que o Espiritismo não inventou nenhuma teo-
ria para explicar os fatos: foram os próprios Espíritos que descre-
veram o seu estado no espaço e que, pelas experiências a que
prestavam seu concurso, estabeleceram as condições em que
vivem, depois de terem abandonado a Terra.
Verificamos como Katie King, o Espírito materializado, era
verdadeiramente uma mulher: soubemos que ela respirava, que
seu coração batia, em uma palavra: que tinha todos os caracteres
fisiológicos de um ser vivo. Agora, vemos os moldes de parafina
reproduzirem membros do corpo, com seus ossos, tendões e
mesmo os menores traços da pele; igual observação é aplicável às
impressões deixadas pelo pé descalço, na experiência de Zöllner
com Slade.
Que se conclui desses fatos, a não ser que o perispírito, isto é,
o invólucro fluídico da alma, é o molde em que se incorpora a
matéria terrena durante a encarnação? Na morte, os elementos que
formavam o corpo humano voltam à natureza, mas o invólucro
indefectível do Espírito subsiste e conserva todas as aptidões e
propriedades que tinha na Terra. Forneça-se-lhe matéria e força
vital, e logo esse organismo entra em função e reproduz o indiví-
duo; essa vida, porém, é momentânea, temporária, porque é
anormal; sua duração é também muito reduzida, e raramente o
fenômeno atinge a intensidade que vimos em casa de William
Crookes.
Em outra obra, intitulada A Evolução Anímica, estudamos mi-
nudentemente todos esses fenômenos, mostrando a ação do
perispírito durante a vida. Indicamos ali como esse perispírito
pôde adquirir suas propriedades funcionais e, ao mesmo tempo,
estabelecemos suas relações com o Espírito, do qual ele constitui
o que chamamos o inconsciente.
Em relação à explicação espírita, não é inútil mostrar como os
sábios incrédulos, obrigados a se dobrarem à evidência dos fatos,
tentam forjar teorias para explicar esses fenômenos, tão estranhos
às suas idéias sobre a força e a matéria. Eis a narrativa das experi-
ências do professor Lombroso, feita por ele mesmo.
O Espiritismo e a Psiquiatria
Explicação psiquiátrica de certos fatos espíritas,
pelo professor C. Lombroso
“Poucos homens de ciência foram, mais do que eu, incrédulos
acerca do Espiritismo. Para se convencerem disso, basta que
consultem a minha obra Pazzi ed Anomali (Loucos e Anormais), e
bem assim os meus Studi sul Ipnotismo (Estudos sobre o Hipno-
tismo), nos quais me deixei empolgar até insultar os espíritas.
Achava e ainda acho completamente inadmissíveis muitas asser-
ções dos espíritas, tais como a possibilidade de se fazer conversar
e agir os mortos. Nada mais sendo os mortos que um acúmulo de
substâncias inorgânicas, dizer-se isso equivale a pretender que as
pedras pensem ou possam falar.
“Uma outra razão da minha incredulidade era a obscuridade
em que se efetuam, quase sempre, tais experiências, pois um
fisiologista não admite senão os fatos que pode observar em plena
luz.
“Mas, depois de ter ouvido alguns sábios negarem os fatos do
hipnotismo, como a transmissão do pensamento ou a transposição
dos sentidos, que, pelo fato da sua raridade, não deixam, por isso,
de ser positivos, e que por mim foram constatados de visu, fui
levado a perguntar a mim mesmo se o meu cepticismo em relação
aos fenômenos espíritas não era da mesma espécie que o dos
outros sábios relativamente aos fenômenos hipnóticos.
“Tendo eu sido convidado para examinar os fatos produzidos
em presença de uma médium realmente extraordinária, a Sra.
Eusápia, aquiesci com todo o empenho, pois que assim podia
estudá-los com o concurso de alienistas distintos (Tamburini,
Virgilio, Bianchi, Vizioli), que eram quase tão cépticos quanto eu
nessa matéria e que poderiam auxiliar-me na verificação dos
fenômenos.
“Tomamos as maiores precauções. Tendo nós examinado a
médium segundo o processo da psiquiatria moderna, constatamos
nela uma notável obtusidade do tato (3, 6), perturbações histéri-
cas, talvez mesmo epilépticas, e traços de uma lesão profunda no
parietal esquerdo.
“Os pés e as mãos da Sra. Eusápia foram imobilizados pelo
Dr. Tamburini e eu, por meio dos nossos pés e das nossas mãos.
“Começamos e terminamos as nossas experiências com a lâm-
pada acesa e, de tempos a tempos, um de nós riscava, de improvi-
so, um fósforo, para evitar qualquer embuste.
“Os fatos observados foram assaz singulares; pudemos verifi-
car, em plena luz, o levantamento de uma mesa e das nossas
cadeiras, e achamos que o esforço necessário para fazer isso
equivalia a um peso de 5 a 6 quilos. A pedido de um dos assisten-
tes, o Sr. Ciolfi, que já conhecia a médium de longa data, fizeram-
se ouvir pancadas no interior da mesa. As pancadas (na linguagem
convencional entre os espíritas) respondiam perfeitamente às
perguntas que se faziam a respeito da idade das pessoas presentes
e dos fatos que deviam acontecer, e que aconteceram efetivamen-
te, dizendo que eles eram produzidos por um Espírito.
“Feita a obscuridade, começamos a ouvir pancadas mais fortes
no meio da mesa e, pouco depois, uma campainha, colocada num
aparador distante a mais de um metro de Eusápia, começou a
tocar no ar e por cima das cabeças dos assistentes, descendo,
depois, sobre a mesa. Passados alguns momentos, ela foi colocar-
se num leito situado a 2 metros da médium. Nesse tempo, a
pedido dos assistentes, enquanto soava a campainha, o Dr. Ascen-
ti foi colocar-se por trás da Sra. Eusápia e riscou um fósforo, de
modo que pôde ver a campainha suspensa no ar e indo cair atrás
da médium.
“Depois, ainda na obscuridade, vimos uma mesa mover-se e,
enquanto as mãos da médium estavam sempre bem seguras pelo
Dr. Tamburini e por mim, o professor Vizioli sentia que lhe
puxavam o bigode, que lhe batiam nos joelhos, contactos estes
que lhe pareciam provir de uma mão pequena e fria.
“Ao mesmo tempo, senti puxarem a cadeira em que eu estava
sentado e, em seguida, deixarem-na.
“Uma pesada colcha, saindo da alcova, distante a mais de um
metro da médium, veio a mim, de súbito, como que impelida pelo
vento, e envolveu-me completamente. Busquei desembaraçar-me
dela, mas só com dificuldade consegui isso.
“Os outros assistentes observaram, na altura de 10 centíme-
tros, acima da minha cabeça e da do professor Tamburini, peque-
nas chamas amareladas. O que mais me admirou foi o transporte
de um prato cheio de farinha, efetuado de modo que esta ficou
coagulada como gelatina. Esse prato tinha sido posto na alcova,
afastado mais de um metro e meio de nós; a médium tinha pensa-
do no deslocamento do prato, mas para lançar-nos ao rosto a
farinha.
“No meio de suas convulsões, a Sra. Eusápia tinha dito: “Cui-
dado, vou lançar aos vossos rostos a farinha que aqui se acha.”
“Reacendendo a lâmpada, rompemos a cadeia que formáva-
mos ao redor da mesa e verificamos o transporte do prato e da
farinha.
“Pouco depois, vimos um grande móvel, que se achava a 2
metros de nós, aproximar-se, lentamente, como se alguém o
conduzisse. Parecia um gigantesco paquiderme que avançava para
nós.
“Ultimamente, repetindo eu essas experiências com os profes-
sores de Amicis, Chiaia, Verdinois, vi uma cadeira saltar do solo
para cima da mesa e, depois, voltar ao seu lugar. Eu tinha feito a
Sra. Eusápia segurar dois dinamômetros: eles marcaram 37 e 36
quilos.
“Durante a sessão e enquanto segurávamos as mãos da mé-
dium, esta nos disse: “Agora estão forçando os aparelhos.” Acen-
demos a luz, e os dois dinamômetros, que estavam a meio metro
distantes dela, marcavam 42 quilos.
“Experiências análogas foram executadas pelos Drs. Barth e
Defiosa, que me escreveram terem visto e ouvido, por muitas
vezes, uma campainha soar no ar, sem ser agitada por pessoa
alguma. O banqueiro Hirsch, que se achava com eles, tendo
pedido para conversar com uma pessoa amiga já falecida, viu sua
imagem e ouviu-a falar em francês (essa pessoa era francesa e
tinha falecido vinte anos antes).
“Do mesmo modo, o Dr. Barth viu seu pai também falecido, e
sentiu-se por duas vezes abraçado por ele. Todos viram pequenas
chamas na cabeça da Sra. Eusápia.”
A explicação
“Nenhum desses fatos (que convém, entretanto, admitir, por-
que ninguém pode negar fatos verificados) são de natureza a fazer
supor, para explicá-los, um mundo diferente do admitido pelos
neuropatologistas.
“Antes de tudo, não se deve perder de vista que a Sra. Eusápia
é neuropata; que ela, em sua infância, recebeu um golpe no parie-
tal esquerdo, produzindo uma cavidade assaz profunda para se
poder aí introduzir um dedo; que, depois, ficou sujeita a acessos
de epilepsia, de catalepsia e de histeria, que se produzem sobretu-
do durante os fenômenos mediúnicos; que, enfim, apresenta,
notável obtusidade do tato.
“Também eram neuropatas os médiuns admiráveis, tais como
Home, Slade, etc.
“Pois bem! Nada vejo de inadmissível em que, nos histéricos e
hipnóticos, a excitação de certos centros, que se torna poderosa
em conseqüência da paralisia de todos os outros e provoca, então,
uma transposição e uma transmissão das forças físicas, possa
também produzir uma transformação em força luminosa ou em
força motriz. Compreende-se que a força, a que eu chamarei
cortical ou cerebral, de um médium, pode, por exemplo, levantar
uma mesa, puxar a barba de alguém, bater-lhe, acariciá-lo, fenô-
menos assaz freqüentes nesses casos.
“Durante a transposição dos sentidos devido ao histerismo,
quando, por exemplo, o nariz e o queixo vêem (é o fato que eu
próprio observei), no momento em que todos os outros sentidos
estão paralisados, o centro cortical da visão, que tem sua sede no
cérebro, adquire tal energia que se substitui ao olho. Foi o que
verificamos, eu e Ottolenghi, em três hipnotizados, servindo-nos
de lentes e de um prisma.
“Quando o indivíduo hipnotizado vê um objeto sugerido, prin-
cipalmente quando se lhe sugere que não veja uma coisa existente
(sugestão negativa), apesar de estar ela sob seus olhos, o centro
visual cortical substitui então os olhos: ele vê quando os olhos
não vêem o que deviam ver.
“As imagens provenientes de excitações interiores, tais as alu-
cinações sugeridas (como, por exemplo, quando se faz ver ao
indivíduo uma mosca imaginária sobre um papel branco), apre-
sentam-se a alguns hipnotizados como se fossem reais. Deve-se,
pois, admitir que elas vão do cérebro à periferia, isto é, em sentido
contrário das imagens verdadeiras, que vão da periferia ao centro.
Com efeito, elas sofrem as modificações que podem provir dos
meios interpostos.
“Assim, tentamos fazer ver uma mosca imaginária a um indi-
víduo hipnotizado. Fizemos avançar e retrogradar essa imagem no
espaço, e a pupila variava como se a imagem fosse real; ainda
mais, por meio da lente, a mosca imaginária crescia ou decrescia
conforme os movimentos daquela. Conseguimos mesmo obter do
sugestionado o emprego de um prisma imaginário, como se
existisse realmente. Para que, porém, isso aconteça, é necessário
que o centro cerebral da visão seja substituído ao órgão natural da
visão, isto é, que o cérebro veja como os olhos.
“Examinemos agora o que se dá quando há transmissão do
pensamento. Em certas condições, muito raras, o movimento
cerebral a que chamamos pensamento transmite-se a uma distân-
cia pequena ou considerável. Ora, do mesmo modo que essa força
se transmite, ela pode também transformar-se, e a força psíquica
torna-se força motriz; há no cérebro aglomerações de substância
nervosa (centros motores) que presidem precisamente aos movi-
mentos e que, sendo irritadas, como nos epilépticos, provocam
movimentos muito violentos nos órgãos motores.
“Objetar-me-ão que esses movimentos não têm como interme-
diário o músculo, que é o meio mais comum de transmissão dos
movimentos; mas, tampouco o pensamento, nos casos de trans-
missão, se serve de seus meios ordinários de comunicação, que
são a mão e o laringe. Nesses casos, portanto, o meio de comuni-
cação é o que serve a todas as energias, e a que podemos chamar,
servindo-nos de uma hipótese constantemente admitida, o éter,
pelo qual se transmitem a luz, a eletricidade.
“Não vemos o ímã fazer mover o ferro, sem intermediário vi-
sível?
“Nos fatos espíritas, o movimento toma uma forma, aproxi-
mando-se mais da volitiva, porque parte de um motor que é, ao
mesmo tempo, um centro psíquico: o córtex cerebral.
“A grande dificuldade consiste em admitir o cérebro como ór-
gão do pensamento e o pensamento como um movimento; porque,
em física, não há dificuldade em se admitir que as energias trans-
formam-se e que uma energia motriz pode tornar-se luminosa ou
calorífica.
“Depois da obra do Sr. Janet sobre o automatismo inconscien-
te, não se tem mais que buscar explicar o caso dos médiuns
escreventes.
“Esse médium, que acredita escrever sob o ditado de Tasso ou
de Ariosto e que compõe versos indignos de um colegial, age em
estado de semi-sonambulismo, no qual, graças à ação preponde-
rante do hemisfério direito durante a inatividade do esquerdo, ele
não tem consciência do que faz e acredita escrever sob o ditado de
um outro.
“Esse estado de atividade inconsciente explica os movimentos
e os gestos que a mão pode fazer, sem que participem disso o
resto do corpo e o indivíduo, e que parecem ser o efeito de uma
intervenção estranha.
“Muitos fatos espíritas são apenas o efeito da transmissão do
pensamento dos assistentes, colocados junto ao médium, ao redor
da mesa, que, até certo ponto, favorece essa transmissão, pois,
como observei outrora, as transmissões chegam mais facilmente
quando se está a pequena distância do hipnotizado e melhor para
as pessoas que estão em maior contacto com ele. A mesa ao redor
da qual se forma a cadeia é uma causa de fácil contacto e uma
causa certa de aproximação.
“Sempre vi os fatos espíritas (puxamento de barba, contacto de
mãos) darem-se mais freqüentemente com as pessoas que estão
mais perto do médium.
“Quando a mesa dá uma resposta exata (por exemplo, quando
ela diz a idade de uma pessoa só por esta conhecida), quando cita
um verso em língua que o médium não conhece, o que assombra
os profanos, isso sucede porque um dos assistentes conhece essa
idade, esse nome, esse verso, e neles fixa o seu pensamento
vivamente concentrado na ocasião da sessão e transmite, depois, o
seu pensamento ao médium, que o exprime por seus atos ou o
reflete, algumas vezes, sobre um dos assistentes.
“Justamente por ser o pensamento um movimento, não só ele
se transmite, como também se reflete. Observei casos de hipno-
tismo em que o pensamento não só se transmitia, mas também se
refletia sobre uma terceira pessoa, que não era o agente nem o
percipiente, e que não tinha sido hipnotizada. É o que acontece
com a luz e a onda sonora.
“Se, no círculo formado ao redor da mesa misteriosa, não hou-
ver pessoa que saiba o latim, a mesa não fala latim. O grande
público, porém, que não raciocina assim, logo acredita que o
médium fala o latim por inspiração dos Espíritos e crê também
que pode conversar com os mortos.
“Assim se explicam os casos dos Srs. Hirsch e Barth, que vi-
ram seus parentes mortos e ouviram suas vozes: o pensamento da
mulher, transmitido ao médium, irradiou sobre eles e, como o
pensamento toma em todos os homens a forma de imagem fugiti-
va, por causa da rapidez com que se associam as idéias, eles
viram a imagem de seus parentes, cuja lembrança conservavam
inteiramente viva.
“Quanto às fotografias espíritas, tenho visto muitas, mas em
nenhuma tenho confiança. Enquanto eu mesmo não tiver obtido
uma, não poderei emitir juízo sobre o assunto.
“A objeção, pela maioria apresentada, é a seguinte: Por que a
médium, a Sra. Eusápia, por exemplo, tem um poder que falta aos
outros?
“Dessa diferença surge a suspeita de uma fraude, suspeita na-
tural, sobretudo nas pessoas vulgares, e que é a explicação mais
simples e mais do gosto da multidão que evita refletir e estudar.
“Essa suspeita, porém, desaparece do espírito do psicologista
prático no exame dos histéricos e dos simuladores.
“Aqui, trata-se de fatos muito simples e assaz vulgares (puxar
a barba, suspender a mesa), sempre mais ou menos os mesmos e
repetidos com invariável monotonia, ao passo que um simulador
os variaria, inventaria outros mais divertidos e maravilhosos.
“Além disso, os charlatães são numerosos e os médiuns, bas-
tante raros. Na Itália somente conheci dois, ao passo que tenho
encontrado e tratado de uma centena de histéricos simuladores.
“Se os fatos espíritas fossem sempre simulados, deveriam ser
numerosos, não excepcionais.
“Repito, devemos buscar a causa dos fenômenos nas condi-
ções patológicas do médium, precisamente como o demonstrei
para os fenômenos hipnóticos.
“O grande erro da maioria dos observadores consiste em estu-
darem o fenômeno hipnótico e não a pessoa em que ele se produz;
ora, a médium, a Sra. Eusápia, apresenta anomalias cerebrais
bastante graves, das quais procede, sem dúvida, a interrupção das
funções de alguns centros cerebrais, ao mesmo tempo que o
crescimento da atividade de outros centros, especialmente os dos
centros motores. Eis a causa dos singulares fenômenos mediúni-
cos. Algumas vezes, os fenômenos, especiais aos hipnotizados e
aos médiuns, operam-se, é certo, em indivíduos no estado normal;
mas, isso sucede no momento de profunda emoção, nos moribun-
dos, por exemplo, que pensam na pessoa querida com toda a
energia do período pré-agônico.
“O pensamento transmite-se, pois, sob a forma de imagem, e
aí temos o fantasma a que chamam, hoje, alucinação verídica ou
telepática.
“Justamente por ser um fenômeno patológico e extraordinário,
só se encontra em circunstâncias graves e em indivíduos que não
dispõem de grande inteligência, ao menos no instante do acesso
mediúnico.
“É provável que, em tempos já muito remotos, quando a lin-
guagem se achava no estado embrionário, a transmissão do pen-
samento fosse muito mais freqüente, como os fenômenos mediú-
nicos então chamados magia, profecia, etc. Porém, com o pro-
gresso, com o aperfeiçoamento da escrita e da linguagem, o modo
da transmissão direta do pensamento foi desaparecendo pouco a
pouco, tornando-se ele inútil, nocivo e mesmo pouco cômodo,
porque traía os segredos e comunicava as idéias com uma exati-
dão insuficiente.
“Quando, enfim, se compreendeu que essas formas neuropáti-
cas não tinham a importância que lhes queriam atribuir e que
eram patológicas, não divinas, viu-se diminuírem e desaparece-
rem as magias, os fantasmas, os intitulados milagres, que eram,
quase todos, fenômenos reais, mas mediúnicos.
“Nos povos civilizados não se mostraram essas manifestações
senão em casos raros, ao passo que continuam em vasta escala
entre os povos selvagens e nos indivíduos neuropatas.
“Estudemos, observemos, pois, como na neurose, as convul-
sões, o hipnotismo, o indivíduo mais que o fenômeno, e achare-
mos uma explicação mais completa e menos maravilhosa do que
parecia a princípio. Por ora, desconfiemos dessa pretendida finura
de espírito que consiste em ver por toda parte simuladores e em
crer que só nós somos os sábios, quando precisamente essa pre-
tensão pode mergulhar-nos no erro.
“Turim, 12 de março de 1892.
Lombroso.”
Resumo
Acabamos de ver, rapidamente, desenrolar-se diante de nós o
encadeamento dos fatos, desde as mesas giratórias até as apari-
ções materializadas. Verificamos que cada uma das fases do
fenômeno foi estudada no mundo inteiro pelos sábios de maior
competência. Vimos em ação os incrédulos negando obstinada-
mente os fatos, até que estes fossem mais bem demonstrados, e
que alguns, sendo forçados a admitir-lhes veracidade, encastela-
ram-se em teorias que julgaram inatacáveis. Bem depressa, po-
rém, essas teorias tornaram-se insuficientes, à vista do desenvol-
vimento cada vez mais característico das experiências. À mesa
girante, à escrita automática seguiram-se os altos fenômenos do
Espiritismo transcendental, e vemos o cepticismo tentar seus
esforços com as hipóteses do Dr. Von Hartmann e do professor
Lombroso, tão extemporâneas e lastimáveis. A última palavra
ficou para o Espiritismo, que, mais forte, mais vivaz, mais con-
vincente que nunca, dirige-se para a conquista do mundo.
Poderia ser de outro modo?
Sem idéia preconcebida, sem espírito de sistema, essas mara-
vilhosas manifestações não trazem em si próprias a sua certeza?
Que se poderia objetar contra a sua autenticidade ou contra o seu
valor?
No mundo inteiro, fenômenos, desde os mais simples até os
mais complexos, são reproduzidos em abundância diante de
observadores, incrédulos, a princípio, e que os estudaram com
uma desconfiança quase injuriosa, até o momento em que foram
convencidos da sua realidade.
Entre essa inumerável quantidade de testemunhos, escolhe-
mos, propositalmente, aqueles cuja autoridade era maior, tanto
pelo valor científico dos observadores quanto pela honorabilidade
de seus autores. Discutimos imparcialmente as teorias opostas
pelos negadores; vimos que os fatos desmentem por si mesmos
essas hipóteses e que não foi com argumentos lógicos, com
artifícios de raciocínio que a sua falsidade se demonstrou, mas,
simplesmente, com outros fatos que destruíram essas pretendidas
explicações.
Todos aqueles que têm um nome no domínio das ciências fo-
ram chamados a se pronunciarem; os mestres mais competentes,
quando aplicaram tempo suficiente a essas investigações, procla-
maram a incontestável realidade das manifestações espíritas. Os
Espíritos, não se contentando em falar pela mesa e pela escrita,
não satisfeitos em se fazerem ver ou ouvir pelos médiuns, escre-
vem diretamente, aparecem aos olhos de toda uma assembléia,
deixam-se fotografar e, como lembrança da sua passagem, lega-
ram-nos reproduções de seus membros materializados. São as
mais cabais e as menos contestáveis provas da existência da alma
depois da morte do corpo; nenhuma negação, nenhum anátema
será capaz de desenraizar de nossos corações a sublime e inabalá-
vel certeza da imortalidade do ser pensante.
As teorias materialistas não são mais que orgulhosas declama-
ções, sem apoio real. As religiões sentem desabar a sua andaima-
ria de dogmas e de mistérios, e, sobre essas ruínas amontoadas,
paira a alta e serena doutrina da imortalidade, perpetuando a vida
inesgotável através do infinito dos tempos e das extensões.
É pelo estudo do mundo de além-túmulo, como veremos adi-
ante, que se explicam as dificuldades da vida terrena. É na errati-
cidade que se verifica a execução dessa justiça, tantas vezes
desfalecente no nosso mundo; é aí que se encontra, enfim, essa
felicidade, em cuja procura aqui se gasta a vida; é aí que o Espíri-
to, desembaraçado dos cuidados materiais, pode entrever, de outro
modo que não seja através de uma vã fraseologia, a verdadeira
fraternidade: o amor sem limites de cada um por todos e de todos
por cada um.
Espalhemos profusamente essas idéias, elevemos o coração até
essas alturas serenas donde o egoísmo é banido, e teremos feito
uma obra de bons cidadãos, e teremos preparado o advento do
reinado da verdade, que é concórdia e fraternidade.
Parte Terceira
Conselhos aos Médiuns
e aos Experimentadores
Capítulo único
Recolhimento – Homogeneidade de pensamentos – Regularidade –
Paciência – Circunspeção em relação aos Espíritos que se manifestam –
Identidade dos Espíritos – Desconfiar dos grandes nomes – Razão pela qual
os Espíritos chamados não se manifestam.
Capítulo único
Materialismo e Espiritismo – O Espírito no Espaço – As vidas sucessivas –
Provas da reencarnação – Conclusão.
O Espírito no Espaço
O Espírito está revestido de um invólucro a que chamamos pe-
rispírito. Esse corpo é formado pelo fluido universal terrestre, isto
é, pela matéria sob a sua forma primordial. A união entre o corpo
e a alma pode ser comparada a uma combinação. Quando essa
combinação se desfaz, o que sucede na ocasião da morte, a alma
desprende-se com o seu invólucro espiritual, que é indecomponí-
vel, pois que é composto pela matéria em sua forma inicial, e
conserva as suas propriedades, como o oxigênio que, saindo de
uma combinação, nada perdeu de suas afinidades. Nesse estado, o
corpo espiritual, segundo a expressão de São Paulo, tem sensa-
ções que nos são desconhecidas na Terra e que lhe devem propi-
ciar gozos muito superiores aos que experimentamos aqui.
A Ciência ensina-nos que os nossos sentidos apenas nos fazem
conhecer ínfima parte da natureza, porém que, além e aquém dos
limites impostos às nossas sensações, existem vibrações sutis, em
número infinito, que constituem modos de existência de que não
podemos formar idéia, por falta de palavras para exprimi-la.
A alma assiste, pois, a espetáculos que não temos meios de
descrever: ouve harmonias que nenhum ouvido humano tem
apreciado, move-se em completa oposição às condições de viabi-
lidade terrestre. O Espírito libertado das cadeias do corpo não tem
mais necessidade de alimentar-se, não se arrasta mais pelo solo: a
matéria imponderável de que é formado permite-lhe transportar-se
para os mais longínquos lugares com a rapidez do relâmpago, e,
segundo o grau do seu adiantamento moral, suas ocupações
espirituais afastam-se mais ou menos das preocupações que nutria
na Terra. Não se pode mais negar a existência do corpo espiritual,
porque experiências diretas permitiram-nos estudar a sua natureza
e o seu modo de condensação.
Vimos, nas experiências de Crookes e de Aksakof, esse corpo
espiritual ir revestindo aos poucos os caracteres da matéria, e as
moldagens mostram-nos que ele é rigorosamente idêntico ao que
o Espírito tinha na Terra.
Uma simples analogia pode, senão explicar, ao menos ajudar a
compreender o que se dá em tal caso:
O perispírito pode ser comparado a um eletroímã; o corpo, ao
espectro magnético; a vida, à eletricidade.
Enquanto o fluido elétrico não circula, não há espectro, o ele-
troímã fica indiferente: eis um estado análogo ao do perispírito no
espaço; ele contém, virtualmente, em si, todas as linhas que
formam o organismo, mas não as dispõe. Logo que a corrente
circula no eletroímã, a limalha acomoda-se, seguindo uma certa
ordem, e forma esse desenho a que chamamos espectro magnéti-
co; do mesmo modo sucede com o perispírito: sob a influência do
fluido vital subtraído ao médium, ele acomoda a matéria, confor-
me o desenho do organismo, e reproduz o corpo humano, como
este era na vida terrena.
O perispírito, se bem que formado de matéria primitiva, é mais
ou menos livre de misturas, conforme o mundo habitado pelo
Espírito. Essa observação nos conduz ao assinalamento do verda-
deiro lugar que ocupamos no Universo.
Uma verdade que a Astronomia hoje tornou vulgar é a de não
ser o nosso mundo o centro do Universo; segundo ela, a nossa
pequena Terra é um dos planetas mais pobremente dotados do
sistema solar. Nada, em seu volume ou na posição da sua eclípti-
ca, da qual resultam as estações, lhe dá o direito de orgulhar-se do
lugar que ocupa, e, não muito longe de nós, o planeta Júpiter
oferece-nos o exemplo de condições de habitabilidade preferíveis
às nossas.
Com esses conhecimentos que fazem das estrelas sóis como o
nosso, em cujo redor circulam planetas, caíram os erros seculares
dos nossos avós, segundo os quais o inferno achava-se colocado
no centro da Terra, e o terceiro céu, aquele aonde foi elevado São
Paulo, distava nos confins da criação. Esses dados cosmológicos
baseavam-se na ignorância dos teólogos a respeito das verdadei-
ras proporções do Universo.
Quando a Ciência, com a inexorável lógica dos fatos, abriu aos
nossos olhos atônitos e deslumbrados as perspectivas ilimitadas
do Infinito, quando a Astronomia projetou o seu telescópio para
os espaços siderais, as velhas lendas evaporaram-se ao sopro da
realidade. Os mundos que povoam o Universo são terras como a
nossa, sobre as quais palpita a vida universal, e o homem moder-
no ri das pretensões infantis dos nossos antepassados, que quise-
ram limitar a este imperceptível grão de areia, chamado Terra, as
manifestações da força infinita, incriada e eterna, a que se dá o
nome de Deus.
Se, porém, o céu não existe no lugar em que o indicavam, para
onde foi ele transportado? Em que região do imenso Universo
devemos colocar o éden de delícias prometido às almas que
cumpriram aqui dignamente a sua missão? Eis o que nenhuma
religião indica, e somente o Espiritismo, demonstrando o verda-
deiro destino do homem, põe-nos no estado de compreender o
progresso infinito do Espírito, por transmigrações sucessivas.
Tomando por ponto de partida os atributos de Deus e a natureza
do homem, Allan Kardec mostrou qual devia ser o nosso futuro
espiritual. Vamos, resumindo, expor-lhe a teoria.
O homem é composto de corpo e Espírito; o Espírito é o ser
principal, o ser racional e inteligente; o corpo é o invólucro
material que o Espírito reveste temporariamente para o cumpri-
mento da sua missão na Terra e para a execução do trabalho
necessário ao seu adiantamento. O corpo, quando gasto, é destruí-
do, mas a alma sobrevive a essa destruição. Em suma, o Espírito é
tudo, e a matéria não é mais que um acessório, de modo que a
alma, libertada dos laços corporais, entra no espaço, que é a sua
verdadeira pátria.
Há, pois, o mundo corporal, composto de Espíritos encarna-
dos, e o mundo espiritual, formado pelos Espíritos desencarnados.
Os seres do mundo corporal, em virtude do seu invólucro materi-
al, estão presos à Terra ou a outro globo qualquer; o mundo
espiritual está por toda parte, ao redor de nós e no espaço; ele é
ilimitado. Como o dissemos, em razão da sua natureza fluídica, os
seres que o compõem têm um modo de vida particular, dependen-
te do seu organismo imponderável.
Os Espíritos são criados simples e ignorantes, mas com apti-
dão para adquirirem tudo e progredirem em virtude do seu livre-
arbítrio. Pelo progresso, adquirem novos conhecimentos, novas
faculdades e, por conseqüência, novos gozos desconhecidos aos
Espíritos inferiores; vêem, ouvem, sentem e compreendem o que
os Espíritos atrasados não podem ver, ouvir, sentir e compreen-
der. A felicidade está na razão direta do progresso feito; de modo
que, de dois Espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro,
unicamente por não ser tão adiantado intelectual e moralmente,
sem que tenham necessidade de achar-se cada um em lugar
diferente.
Achando-se mesmo ao lado um do outro, pode um estar em
trevas, quando tudo é resplandecente ao redor do outro, exatamen-
te como se dá com um cego caminhando ao lado de uma pessoa
que vê perfeitamente; um percebe a luz, ao passo que o outro
nenhuma impressão tem a esse respeito. Sendo a felicidade dos
Espíritos inerente às qualidades que possuem, eles a gozam onde
quer que estejam: na superfície da Terra, no meio dos encarnados
ou no Espaço.
E fácil compreender que o organismo fluídico seja mais ou
menos apto para perceber as sensações, conforme o Espírito for
mais ou menos grosseiro. Sabemos que as paixões más viciam o
invólucro perispiritual, do mesmo modo que as enfermidades
corrompem a carne terrena; visto isso, existe para os seres desen-
carnados uma recompensa proporcional à soma de virtude que
eles adquiriram. Na Terra, acontece, muitas vezes, ficarmos
cheios de admiração à vista das maravilhosas perspectivas de um
radiante ocaso do Sol ou de uma aurora esplêndida; mas, que são
esses matizes de luz ao lado das inumeráveis vibrações fluídicas
que, sem cessar, se cruzam no espaço e que dão àqueles que as
testemunham os mais inefáveis gozos! Uma comparação vulgar
fará melhor compreender essa situação:
Se num concerto se acharem dois homens, um deles bom mú-
sico, de ouvido educado, o outro sem conhecimentos musicais e
de ouvido pouco delicado: o primeiro experimenta uma sensação
de agrado, ao passo que o outro fica insensível; porque um com-
preende e percebe o que nenhuma impressão causa ao outro. O
mesmo se dá em relação a todos os gozos dos Espíritos; eles são
proporcionais à aptidão que estes têm para senti-los.
O mundo da erraticidade tem por toda parte esplendores e
harmonias que os Espíritos inferiores, ainda dominados pela
matéria, nem mesmo entrevêem, e que somente são acessíveis aos
Espíritos purificados.
O Espiritismo ensina que a nossa situação, na vida de além-
túmulo, é a resultante do nosso estado moral e dos esforços que
fizermos para nos elevarmos no caminho do bem. Podemos
trabalhar em nosso adiantamento espiritual, com atividade ou
negligência, segundo o nosso desejo, mas também os nossos
progressos são apressados ou retardados, e, por conseqüência, a
nossa felicidade aproxima-se ou afasta-se segundo a nossa vonta-
de.
Os Espíritos são os próprios construtores do seu futuro con-
forme o ensino do Cristo: “A cada um segundo as suas obras.”
Todo Espírito que tornar demorado o seu progresso somente de si
próprio deverá queixar-se, do mesmo modo que aquele que se
adiantar tem todo o mérito do seu procedimento: a felicidade que
ele conquistou tem por esse fato mais valor aos seus olhos.
A vida normal do Espírito efetua-se no espaço, mas a encarna-
ção opera-se numa das terras que povoam o Infinito; esta é neces-
sária ao seu duplo progresso, moral e intelectual: ao progresso
intelectual, pela atividade que ele é obrigado a desenvolver no
trabalho; ao progresso moral, pela necessidade que os homens
têm uns dos outros. A vida social é a pedra de toque das boas e
das más qualidades. A bondade, a malvadeza, a doçura, a violên-
cia, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a
humildade, a sinceridade, a fraqueza, a lealdade, a má-fé, a hipo-
crisia, em uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou
o homem perverso tem por móvel ou por incentivo as relações do
homem com os seus semelhantes; aquele que vivesse só não teria
vícios nem virtudes, porque, se, pelo isolamento, ele se preserva
do mal, anula, com isso, o bem. Uma só existência corporal é
manifestamente insuficiente para que o Espírito possa adquirir
tudo o que lhe falta de bem e despojar-se de todo o mal que em si
exista. O selvagem, por exemplo, não poderá numa só encarnação
atingir o nível moral do europeu mais adiantado. Isso lhe é mate-
rialmente impossível. Deverá ele, portanto, ficar eternamente na
ignorância e na barbárie, privado dos gozos que só lhe podem vir
com o desenvolvimento de suas faculdades? O simples bom senso
repele tal suposição, que seria, ao mesmo tempo, a negação da
justiça, da bondade de Deus e da lei progressiva da Natureza.
As vidas sucessivas
A lei das existências sucessivas é-nos ensinada pelos Espíritos
instruídos. O testemunho de milhares de almas que se comunicam
vem trazer a esta crença a autoridade da experiência diária, por-
que todos dizem-nos que vêem os erros de suas vidas passadas,
que sofrem por isso e que procuram voltar à Terra para reparar as
faltas anteriormente cometidas.
Eis o que a respeito diz Allan Kardec:
“O dogma da reencarnação, afirmam certas pessoas, não é no-
vo: ressuscitou de Pitágoras. Nunca dissemos que a doutrina
espírita fosse invenção moderna; o Espiritismo, sendo uma lei da
Natureza, existe desde a origem dos tempos, e sempre nos esfor-
çamos em provar que seus indícios aparecem desde a mais remota
antigüidade. Pitágoras, como se sabe, não é o autor do sistema da
metempsicose: colheu-o entre os filósofos da Índia e do Egito,
onde ele existia desde tempos imemoriais. A idéia da transmigra-
ção das almas era, pois, uma crença vulgar, admitida pelos ho-
mens mais eminentes. Como lhes veio essa idéia? Pela revelação
ou por intuição? Não o sabemos; mas, como quer que tenha sido,
uma idéia não transpõe as idades e não é aceita por inteligências
escolhidas, se não tiver um lado sério.”
A antigüidade desta doutrina, em vez de constituir-lhe motivo
de repulsa, deve ser considerada uma prova a seu favor. Contudo,
vê-se que há, na metempsicose dos antigos, um ponto que a
diferencia muito da doutrina moderna da reencarnação, e que os
Espíritos rejeitam do modo mais absoluto: a transmigração do
homem para os animais.
“Os Espíritos, ensinando o princípio da pluralidade das exis-
tências corporais, fazem reviver uma doutrina que nasceu nas
primeiras épocas do mundo e que se conservou até os nossos dias
no pensamento íntimo de muitas pessoas; eles, porém, apresen-
tam-na sob um ponto de vista mais racional, mais conforme com
as leis progressivas da Natureza e mais em harmonia com a
sabedoria do Criador, despojando-a de todos os acessórios da
superstição. Uma circunstância digna de nota é que não é somente
em nossos livros que eles a ensinaram nestes últimos tempos:
antes de nossa literatura, numerosas comunicações da mesma
natureza foram obtidas em diversos países e se multiplicaram
consideravelmente depois.61
“Examinemos a coisa sob outro ponto de vista e, abstração fei-
ta de toda intervenção dos Espíritos, que ficam de parte por um
instante, supondo-se mesmo que nunca se tivesse tratado dos
Espíritos, coloquemo-nos momentaneamente num terreno neutro
e admitamos no mesmo grau a probabilidade das duas hipóteses, a
saber: a pluralidade e a unidade das existências corporais, e
vejamos para que lado penderão a nossa razão e o nosso próprio
interesse.
“Certas pessoas repelem a idéia da reencarnação pelo único
motivo de não lhes convir isso, dizendo que lhes basta uma
existência e que não desejam ter outra igual; conhecemos alguns
que se enfurecem só com o pensamento de reaparecerem na Terra.
“Ouvimos fazer este raciocínio: Deus, que é soberanamente
bom, não pode impor ao homem o recomeço de uma série de
misérias e tribulações. Acharão, porventura, que haja mais bonda-
de em condenar-se o homem a um sofrimento perpétuo por alguns
momentos de erro, do que em fornecer-lhe os meios de reparar
suas faltas? O pensamento de ser para sempre fixada a nossa sorte
por alguns anos de provas, quando nem sempre depende de nós
atingir a perfeição na Terra, tem alguma coisa de aflitivo, ao
passo que a idéia contrária é eminentemente consoladora: ela
deixa-nos a esperança. Por isso, sem nos pronunciarmos pró ou
contra a pluralidade das existências, sem admitirmos uma hipóte-
se de preferência à outra, dizemos que, se fosse concedida a
escolha, ninguém preferiria um julgamento sem apelo.
“Se não há reencarnação, não haverá senão uma existência
corporal: isto é evidente; se a nossa existência corporal é a única,
a alma de cada homem é criada na ocasião do seu nascimento.
Admitindo-se, segundo a crença vulgar, que a alma nasce com o
corpo ou, o que significa o mesmo, que anteriormente à sua
encarnação, ela só possui faculdades negativas, apresentamos as
questões seguintes:
“1º- Por que motivo a alma apresenta aptidões tão diversas e
independentes das idéias adquiridas pela educação?
“2º- Donde procede a aptidão extranormal de certas crianças
para tal arte ou tal ciência, ao passo que muitos adultos ficam
inferiores ou medíocres durante toda a sua vida?
“3º- Donde vêm, para uns, as idéias intuitivas ou inatas que
não existem em outros?
“4º- Donde se originam, para certas crianças, esses instintos
precoces de vícios ou de virtudes, esses sentimentos inatos de
dignidade ou de baixeza que contrastam com o meio em que elas
nasceram?
“5º- Por que certos homens, abstração feita da educação, são
mais adiantados que os outros?
“6º- Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes
uma criancinha hotentote e a educardes nos nossos liceus de mais
nomeada, conseguireis fazer dela um Laplace ou um Newton?
“Perguntamos: qual é a filosofia ou a teosofia que pode resol-
ver esses problemas? As almas ao nascer ou são iguais ou são
desiguais: das duas uma. Se são iguais, por que são tão diversas as
suas aptidões? Dirão que isso depende do organismo? Porém,
então nos encontramos com a doutrina mais monstruosa e mais
imoral. O homem fica sendo apenas uma máquina, o joguete da
matéria, sem a responsabilidade de seus atos e podendo lançar a
culpa de tudo sobre as suas imperfeições físicas. Se são desiguais,
é porque Deus o criou assim; mas então, por quê? Essa parciali-
dade se conformará com a justiça e com o amor igual que ele
dedica a todas as suas criaturas?
“Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteri-
ores progressivas, e tudo se explica. Os homens trazem, ao nascer,
a intuição do que adquiriram; são mais ou menos adiantados,
segundo o número de existências que têm percorrido. Deus, em
sua justiça, não podia criar almas mais perfeitas nem menos
perfeitas; com a pluralidade das existências, a desigualdade que
observamos nada tem de contrária à mais rigorosa eqüidade; esta
parece não existir, porque só vemos o presente e não o passado.
Este raciocínio repousará numa hipótese, numa simples suposi-
ção? Certamente que não; partimos de um fato patente, incontes-
tável: da desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelec-
tual e moral, que é inexplicável por todas as teorias em voga e que
tem na nossa teoria uma explicação simples, natural e lógica. Será
racional preferir-se aquelas que nada explicam?
“A respeito da sexta questão, dirão, naturalmente, que o hoten-
tote é de uma raça inferior. Mas, perguntamos, o selvagem é ou
não um homem? Se é, por que Deus negou a ele e à sua raça os
privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, por
que procuram fazê-lo cristão? A Doutrina Espírita é mais lógica:
para ela, não há muitas espécies de homens, e, sim, homens que
são Espíritos mais ou menos atrasados e suscetíveis de progredi-
rem; não será isto mais conforme à justiça de Deus?”
A crença nas vidas sucessivas era o fundamento do ensino dos
mistérios; os filósofos antigos, tendo à sua frente Platão, acredita-
vam nas vidas anteriores; ele dizia: “Aprender é recordar.”
Portanto, a pluralidade das existências da alma tem a seu favor
a autoridade da tradição, da razão e da experiência, e é lógico que
ela seja aceita com entusiasmo por todos aqueles que já sentiram
o vácuo das outras teorias. Com as vidas sucessivas, o Universo
nos aparece povoado de seres que percorrem em todos os sentidos
o infinito da imensidade. Quão pequena e mesquinha é a teoria
que circunscreve a Humanidade a um imperceptível ponto do
espaço, que no-la mostra começando num instante dado para
acabar igualmente com o mundo que a sustenta, não abraçando
assim senão um minuto na eternidade! Quão triste, fria e glacial é
ela, quando nos mostra o resto do Universo antes, durante e
depois da existência da Humanidade terrena, sem vida, sem
movimento, qual imenso deserto imerso no silêncio! Como é
desesperadora a pintura que nos faz do pequeno número de eleitos
votados à contemplação perpétua, ao passo que a maioria das
criaturas é condenada a sofrimentos infindáveis! Quão aflitiva é,
para os corações amorosos, a barreira que ela levanta entre os
mortos e os vivos!
Ao contrário, quão sublime é a teoria espírita! Como a sua
doutrina engrandece as idéias e dilata o entendimento! A Terra
nos oferece o espetáculo de um mundo essencialmente progressi-
vo. Saído do estado caótico, ele se transforma e se modifica à
medida que avança em seu curso secular. Os seres aparecidos
então em sua superfície seguiram a mesma lei de progressão, e a
sua estrutura aperfeiçoou-se harmonicamente à medida que as
condições exteriores se tornaram melhores. O homem, enfim,
saindo dos baixios da bestialidade, elevou-se até o conhecimento
do mundo exterior.
Será possível supor-se que não haja laço algum entre as almas
que viveram nas épocas passadas e as que vivem atualmente?
Sabendo-se que a natureza do homem é ainda tão imperfeita,
poder-se-á crer que, depois da morte, ele vá ficar parado e gozar
de repouso eterno? E essa parada, esse termo de progresso estará
em concordância com as noções que Deus nos permite conceber
sobre Ele e sobre suas obras? A Natureza caminha sempre; ela
trabalha sempre, porque Deus é a vida e é eterno, e a vida é o
movimento progressivo para o supremo bem, isto é, para o pró-
prio Deus.
Seria possível que somente o homem, ele que foi criado livre,
pudesse ser bruscamente detido em sua marcha, com o grau de
progresso que houvesse adquirido, sem participar do movimento
da Natureza? Tal coisa seria incompreensível.
Entre duas doutrinas, das quais uma amesquinha e a outra am-
plia os atributos de Deus, das quais uma está em desacordo e a
outra em harmonia com a lei do progresso, das quais uma estacio-
na e a outra avança, o bom senso indica de que lado se acha a
verdade. Que cada um interrogue a sua razão; ela responderá, e a
sua resposta será confirmada por um guia certo que jamais se
engana: a consciência.
Se o nosso modo de ver é exato, alguns entretanto perguntarão
por que o Poder Criador não revelou desde o princípio qual a
verdadeira natureza do homem e seus destinos. A resposta é a
seguinte: Deus não revelou isso desde logo, pela mesma razão que
não se ensina à infância o que se ensina à idade madura. A revela-
ção limitada foi suficiente durante certo período da Humanidade;
Deus concede-a proporcionalmente às forças do Espírito. Aqueles
que recebem hoje uma revelação mais completa, são os mesmos
Espíritos que já receberam revelação parcial em outros tempos,
porém que, desde então, aumentaram sua inteligência. Antes que
a Ciência lhes tivesse feito conhecer as forças vivas da Natureza,
a constituição dos astros, o verdadeiro lugar e a conformação da
Terra, poderiam eles compreender a imensidade do espaço, a
pluralidade dos mundos? Antes que a Geologia tivesse feito
conhecer a estrutura deste globo, poderiam eles lançar o inferno
para fora de seu seio? Antes que a Astronomia tivesse descoberto
as leis que regem o Universo, poderiam eles compreender que não
há baixo nem alto no espaço, que o céu não está colocado acima
das nuvens nem é limitado pelas estrelas? Antes dos progressos
da ciência psicológica, poderiam eles identificar-se com a vida
espiritual? Poderiam conceber, depois da morte, uma vida feliz ou
infeliz, que não fosse em lugar circunscrito e sob uma forma
material? Certamente que, não compreendendo mais pelos senti-
dos que pelo pensamento, o Universo era muito vasto para o seu
cérebro; fora preciso reduzi-lo a proporções menos amplas, que
seriam alargadas mais tarde. É o que fazemos hoje, demonstran-
do, não a inanidade, mas a insuficiência dos primeiros ensinos.
Portanto, os espíritas não admitem o paraíso, segundo o significa-
do que ordinariamente se dá a esta palavra. Eles não podem
compreender que exista lugar especial de delícias onde os eleitos
estejam enfadados por uma eterna ociosidade, nem penitenciária
onde as almas estejam eternamente torturadas.
Segundo os Espíritos, não há raça amaldiçoada nem existem
demônios; segundo eles, há Espíritos maus em grande número,
porém estes não são eternamente votados ao mal, pois têm cons-
tantemente a faculdade de se melhorarem nas reencarnações
sucessivas. Neste caso, ainda o testemunho dos fatos é formal.
Cada dia temos ocasião de verificar que Espíritos endurecidos
voltam ao caminho do bem, devido às preces que fazemos por
eles e às exortações que lhes dirigimos. Para muitos desses infeli-
zes, a situação intolerável em que se acham parece-lhes eterna.
Mergulhados em espessas trevas, desde o momento em que
deixaram a Terra, e sofrendo horrivelmente, acreditam que esse
estado não terá fim, e desesperam-se; mas, se um sincero arrepen-
dimento irromper do seu coração, seus olhos desvendar-se-ão:
vêem, então, sua verdadeira situação e pedem, como uma graça,
para voltar à Terra, a fim de resgatarem, por uma vida de expia-
ção e de sofrimento, os seus crimes anteriores. Verifica-se que, no
mundo dos Espíritos, há alguns que se conservam por muito
tempo refratários a toda idéia de submissão; mas, esses também
têm o livre-arbítrio: sabemos que a sua hora há de chegar e que
ninguém é castigado eternamente.
Conclusão
FIM
Notas:
1
Manu - Slocas, 187, 188 e 189.
2
Texto do antigo Bagavatta, citado no prêmio do Agrouchada
Farickhai.
3
Deuteronômio.
4
Tertuliano - Apologética, 23.
5
Ver Eugène Nus: Choses de l’Autre Monde. Citaremos este
autor, pois resumiu muito bem os trabalhos espíritas, e convi-
damos os leitores a consultarem esse seu livro, tão espiritual
quanto bem escrito.
6
Emma Hardinge - History of American Spiritualism.
7
Um grão corresponde, mais ou menos, a cinco centigramas.
8
“Para ser justo a este respeito, devo dizer que, expondo estes
intuitos a vários espiritualistas eminentes e aos médicos mais
dignos de confiança na Inglaterra, eles exprimiram a sua per-
feita confiança no êxito do inquérito, se ele fosse lealmente
prosseguido segundo acima indiquei.
“Ofereceu-se para assistir-me, com todos os seus poderes,
pondo à minha disposição as suas faculdades particulares. E,
até o ponto que atingi, posso acrescentar que as experiências
preliminares têm sido satisfatórias.” (Nota de William
Crookes.)
9
Wallace - Les Miracles et le Moderne Spiritualisme, pág. 240.
10
O Sr. Roggers é, atualmente, adepto da teoria espírita, e é o
redator-chefe do Light, jornal espírita de Londres.
11
Congrès Spirite et Spiritualiste. Librairie Spirite, 42 rue Saint-
Jacques, Paris.
12
Lombroso mudou, efetivamente, de opinião. Aceitou por
completo a teoria espírita. Ver o seu livro Hipnotismo e Me-
diunidade, editado pela FEB. (N.E.)
13
Damos somente os principais jornais de cada país, por não
podermos publicar por inteiro a lista completa, pois se tornaria
fastidiosa.
14
Footfalls on the Boundary of Another World.
15
De la Question de l'Esprit, 1863.
16
Zöllner - Scientific Papers.
17
A Sociedade Dialética de Londres pode ser comparada à
Academia de Ciências de Paris; ela conta, entre os seus mem-
bros, com os homens mais eminentes da Inglaterra; o leitor
compreenderá, por conseqüência, a importância considerável
do documento que publicamos.
18
Robert Hare - Experimental Investigation of the Spirit Mani-
festation.
19
Crookes - Recherches Expérimentales sur le Spiritualisme, pp.
55-67.
20
Essas palavras foram grifadas pelo próprio Crookes no origi-
nal.
21
Veja O Livro dos Médiuns, por Allan Kardec.
22
Veja A. de Rochas: A Levitação.
23
Wallace - Les Miracles et le Moderne Spiritualisme, págs. 224
e 225.
24
Gardy - Cherchons, pág. 231.
25
Teremos, mais adiante, o estudo minucioso desses fenômenos.
26
Ver Les Annales Psychiques, 1891, págs. 65 a 97.
27
Lombroso - La transmission de la pensée; Gazette Littéraire,
vol. XIV, pág. 12, Turim, 1890.
28
Oxon é o pseudônimo do reverendo Stainton Moses, professor
da Universidade de Oxford.
29
Gardy - Cherchons, págs. 88 e seguintes.
30
Crookes - Recherches Expérimentales sur le Spiritualisme.
31
Crookes - Recherches Expérimentales sur le Spiritualisme,
págs. 16-21.
32
Os Drs. A. B. e C. D. são os Srs. William Huggins e Sergent
Cox, cujas cartas confirmam a narração de Crookes.
33
Dr. Gibier - O Espiritismo, Terceira parte, capitulo I, § II.
34
Espírito que, às vezes, se apossa dos órgãos do médium.
35
Janet - L'Automatisme Psychologique, págs. 397 e seguintes.
36
Richet - L'Homme et l’intelligence.
37
Proceedings, parte XV, págs. 17 e 18.
38
Vede também Dassier - L'Humanité Posthume.
39
Barão de Guldenstubbé - La Réalité des Esprits, págs. 66.
40
No fim da obra do Barão de Guldenstubbé encontram-se fac-
símiles dessas escritas.
41
Wallace - Les Miracles et le Moderne Spiritualisme, págs. 182,
183.
42
Gibier - O Espiritismo, Terceira parte, capitulo I, § V.
43
Annales Psychiques, maio e junho de 1892, págs. 152 e
seguintes.
44
Eugène Nus - Choses de l’Autre Monde, págs. 362 a 393.
45
Wallace - Les Miracles et le Moderne Spiritualisme, pág. 226.
46
Para a análise desses fatos, ver meu livro: O Espiritismo
perante a Ciência.
47
O Sr. Benjamin Coleman estava presente em uma sessão, a
respeito da qual escreveu: “O Senhor Crookes ergueu a corti-
na, e ele, eu e quatro assistentes que estavam perto de mim
vimos todos, ao mesmo tempo, a forma de Katie, vestida de
branco e, ao lado, a forma da médium, deitada, cujo vestido
era azul, tendo na cabeça um xale encarnado.” A Srs Florence
Marryat, que esteve presente nas três primeiras sessões, em 9,
14 e 21 de maio de 1874, atesta que viu Katie e a médium ao
mesmo tempo; que sentiu o corpo daquela, vestido, assim co-
mo a rápida pulsação do seu coração, e que ela pôde certificar
que, se isso é uma força psíquica, a força psíquica é uma mu-
lher. Há ainda outros atestados que citamos na nossa obra: O
Espiritismo perante a Ciência.
48
Marina Leymarie - Procès des Spirites, nova edição, em 1976,
da FEB (Introdução, em português, de 123 páginas).
49
Wallace - Les Miracles et le Moderne Spiritualisme, págs. 225
e seguintes.
50
Depois da publicação destas linhas (janeiro, 1893) apareceu o
trabalho do Senhor Aksakof; Animismo e Espiritismo, edição
da FEB.
51
Light, de Londres, número de 23 de abril de 1887.
52
Fotografia do médium e de um Espírito invisível, em pleno
dia.
53
Ver o meu livro - O Espiritismo perante a Ciência.
54
Aksakof - Um Caso de Desmaterialização.
55
Eugène Nus - Choses de l’Autre Monde, págs. 340, 341 e 342.
56
Ver Revue Spirite, ano de 1887.
57
Depois dessa época, fizeram-se novas experiências com a
mesma médium, as quais estão consignadas no livro do Sr. de
Rochas, intitulado: L'Extériorisation de la Motricité.
58
Ver a minha obra - O Espiritismo perante a Ciência, na qual o
perispírito é longamente estudado. As provas da sua existência
durante a vida e depois da morte aí são minuciosamente expos-
tas.
59
A fabricação de tal molde é inteiramente impossível, porque a
mão enluvada com a parafina não podia sair do molde sem
quebrá-lo, visto o punho ser mais estreito que a mão.
60
Em 1909, Lombroso reformulou as suas teorias. Ver o livro -
Hipnotismo e Mediunidade, editado pela FEB. (N.E.)
61
A pluralidade das existências foi ensinada na antigüidade por
Platão, Plotino, Porfirio, Jâmblico, Origenes, Timeu de Locres.
Os druidas faziam disso um ensino público. Nos tempos mo-
dernos, Delormel, Charles Bonnet, Dupont de Nemours, Cons-
tant Savy, Ballanche, Jean Reynaud, Henri Martin, Esquiros,
Flammarion são partidários da doutrina das vidas sucessivas
sobre a Terra ou sobre outros planetas.