Hexacordal
Hexacordal
Hexacordal
1. INTRODUÇÃO
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A nomenclatura utilizada neste artigo baseia-se no tratado
de Thomas Morley (1597). A seguir uma breve definição dos 1. “Continente” é um
termo genérico adotado
principais termos empregados: neste artigo para se referir
- Dedução: sequência das seis Vozes musicais: ut, ré, mi, unicamente àqueles
fá, sol, lá. Geralmente conhecido como hexacorde. tratados citados por
Thomas Morley durante a
- Mutação: passar de uma Dedução para outra de acordo primeira parte do A plaine
com sua necessidade. Mutação significa abandonar uma Voz e and Easie Introduction
pegar outra do mesmo Signo, ou seja, com o mesmo som para to Practicall Musicke, a
saber: Aaron, Gaffurius,
solmizar acima do lá ou abaixo do ut. Glareanus, Listenius,
- Propriedade: ligada à característica da nota “Si”. Havia Lossius, Ornithoparcus,
duas formas da letra “b” para diferenciar as duas alturas dis- Zacconi e Zarlino.
poníveis para o “Si”: b quadratum e b rotundum.
- Signo: uma palavra que contém em si o nome da letra
e o(s) nome(s) da(s) Vozes. A combinação da letra (Γ, A, B,
C, D, F etc.) com a Voz (ut, ré, mi, fá, sol, lá) forma o nome
composto do Signo, por exemplo: D sol ré.
- Voz: ferramenta que facilita a leitura de uma linha me-
lódica à primeira vista, mas não indica a altura real daquela
nota. Também conhecida como sílabas de Solmização: ut, ré,
mi, fá, sol, lá.
A altura das notas era dada pelas letras Γ A B C D E F (Fig.
1). Em geral, as canções ultrapassavam o âmbito das seis síla-
bas e o cantor/instrumentista deveria então fazer a Mutação.
Para entender melhor este procedimento, devemos lembrar
que as notas tinham mais de uma sílaba de Solmização asso-
ciadas à elas.
Para exemplificar, vejamos na Fig. 1 que a nota Dó3, por
exemplo, era denominada c sol fá ut. Cada uma dessas sílabas
(sol fá ut) pertencia a diferentes Deduções.
Figura 1: Altura exata das notas de acordo com suas letras e Vozes.
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Figura 2: As três Propriedades (MORLEY, 1597, p. 4).
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deve operar com as Deduções em b molle e naturalis. O pro-
cedimento é idêntico: busca-se sempre a Voz ré da próxima
Dedução para subir e para descer, a Voz lá (Tab. 2).
201
Já a Propriedade naturalis origina-se no Signo C fá ut.
Pode-se cantar tanto a Voz fá quanto mi no Signo fá mi.
Morley (1597, p. 203) esclarece que as três Propriedades são
encontradas no cantochão, mas no canto figurado apenas duas
são de fato usadas: b molle e b durum. Segundo Owens
(1998, p. 202), esta passagem sugere que Morley emprega a
dicotomia durus-mollis da teoria continental fazendo com que
as Mutações operem no cantus durus entre a Propriedade de b
durum e naturalis, enquanto no cantus mollis, entre a Proprie-
dade de b molle e naturalis.
O exemplo da Fig. 4 demonstra a Voz fá no Signo fá
mi.
202
4. THOMAS CAMPION (CA. 1614)
203
MI - fá sol lá fá sol lá MI fá sol lá fá
sol lá – MI
204
6. CHRISTOPHER SIMPSON (1667)
205
Figura 16: Terceira posição do mi (SIMPSON, 1667, p. 11).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MORLEY, Thomas. A Plaine and Easie Introduction to Practi-
call Musicke. London: Peter Short, 1597. Disponível em:
<http://eebo.chadwyck.com/search/full_
rec?SOURCE=pgthumbs.cfg&ACTION=ByID&ID=99
847107&FILE=../session/1298075960_8274&SEARCH
SCREEN=CITATIONS&SEARCHCONFIG=var_spell.
cfg&DISPLAY=AUTHOR>. Acesso em: 12 dez. 2010.
OWENS, J. A. Concepts of Pitch in English Music Theory, c.
1560-1640. In: JUDD, C. C. (Ed.). Tonal Structures in Early
Music. New York and London: Garland, 1998. p. 183-246.
PLAYFORD, John. An introduction to the skill of musick. Lon-
don: John Playford, 1655. 56p.
SIMPSON, Christopher. A compendium of practical musick in
five parts. London: William Godbid, 1667. 176p.
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