Revista Gregoriana 36
Revista Gregoriana 36
Revista Gregoriana 36
MAY 2 0 2004
THEOLOGICAL SEMINARY
Revista gregoriana.
Digitized by the Internet Archive
in 2016
•
t
https://archive.org/details/revistagregorian6361inst
D JOAO evangelista enolt, o. s. b.
P. L. AGUSTONI
Notação neumática e interpretação . 22
Falando de Liturgia 34
Esclarecimentos pedidos 40
índices de 1959
O RG ÃO D O
INSTITUTO PIO X DO RIO DE JANEIRO
Natal
SALVADOR,
O NOSSO
CARÍSSIMOS,
HOJE NASCEU,
ALEGREMO-NOS !
Dignamente o faremos,
se nos lembrarmos
de que CORPO somos membros,
a que CABEÇA estamos unidos.
<S Leão 8erm 23)
1959
1
“Tu és meu
Filhe, Fu lieje
ie gerei”
(Salmo 2,7)
— 5
“TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI”
DIVISÃO DO SALMO
3. “Quebremos as algemas
e atiremos longe de nós suas cadeias!”
—7—
“TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI”
II —
Enquanto se enfurecem os reis da terra, vi-se dêles e os des-
preza o que tem seu trono nos céus. Enquanto aquêles se erguem,
êste se assenta. Eis o paralelismo que exprime por imagens, por
metonímia, a atitude de Deus. O riso de Deus, como o riso do Santo, do
Mártir, e da mulher forte da Escritura é o sinal da vitória, do tran-
quilo e pacífico domínio futuro do que foi conquistado, no presente,
com a luta e com o pranto. Por isso, dizem-se bem-aventurados os
que choram, porque rirão no último dia, Deus em sua Eternidade já
ri diante dos planos dos que pretendem derrubá-lO dos céus e
que serão vencidos pela fortaleza dos que têm a vocação de conquis-
tar a alegria pelo pranto. De fato Deus despreza os conselhos vãos
dos príncipes da terra. Que dizer de um Herodes a decepar recém-
-nascidos —
os gritos dos massacrados na terra ecôam como riso
alegre de um bando de crianças que entram céu a dentro a acenar
com suas palmas de primeiros mártires — enquanto os magos voltam
para casa por outro caminho, rindo-se do príncipe que os quisera
enganar com suas falsas intenções de, também êle, ir adorar o Deus-
-Menino, para quem a angustiosa fuga que visa poupá-lo é apenas
um passeio pelo Egito? Que dizer dos que querem apanhar Jesús,
mas nada conseguem, porque, diz o Evangelho: “Ainda não era che-
gada sua hora”? Que dizer dos guardas armados que prestam cus-
tódia ao sepulcro e não vêem a ressurreição do Cristo, porque dor-
miam? Que dizer da Igreja dos Apóstolos, da Igreja dos Mártires,
dos Santos de todos os tempos, dos Papas de tôdas as idades histó-
ricas, a Igreja que vive sob as ameaças, os vãos projetos maquinados
pelos reis da terra, pelos príncipes que fazem o jôgo de um príncipe
derrotado e acorrentado? De tudo isso, se ri Deus e despreza. Mas
também responde: A palavra de Deus contra os reis da terra que
se rebelam é simples e decisiva. Os reis têm poder porque o rece-
beram do príncipe do mundo que o usurpou do homem escravisado
pela queda. Deus envia seu filho como Rei, como único legítimo Rei
e Rei a duplo título: como Deus que desce aos domínios que lhe
saíram das mãos pela criação; Rei porque verdadeiro homem, se-
gundo Adão, sem a escravidão de Adão, sem a mancha do pecado,
sem a cadeia de submissão ao príncipe usurpador. Basta pois a Deus
anunciar que constituiu seu Rei, que há um legítimo Senhor sôbre
a terra para que estremeçam os falsos reis da terra. Deus determina
os dados concretos daquele que é o “seu Rei” mas que vem reinar
como homem entre os homens. Diz qüe o constituiu em Sião, a
montanha Santa. Sião é a cidade de Davi. Com isso Deus revela que
está escolhido seu Rei. O eleito de Deus é Davi, é o “servo meu”,
é o ungido. É o eleito, na significação parcial da revelação messiâni-
ca. De fato Davi dará uma parte dAquele que é o Rei. Da descen-
dência de Davi sairá o Messias que é homem, mas que é também
— 9 —
“TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI”
III —
Nesta terceira estrofe, é o próprio Messias que fala, assu-
mindo para si o oráculo de Javê, apresentando-se como a realiza-
(7) Ez. 48, 35. Ver Yves M — J. Congar O. P. “Le Mystère du Temple”
Ed. Du Cerf., Lectio Divina, 22. Paris, 1958, p. 107s.
(8) Salmo 88, 27s. Ver o Comentário na Revista Gregoriana 30, Nov.-Dez
1958, p 25ss
D. JOÃO EVANGELISTA ENOUT O S B.
11
“TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI’’
IV —
Cabe ao Salmista tirar as conclusões práticas das estrofes
que precederam. Cumpre que os reis e os que governam a terra
tomem conhecimento dessa imensa realidade que enche todo o orbe
a presença de Deus em seu ungido, em seu Filho, feito homem,
feito pontífice entre o céu e a terra, como Rei Pacifico, como de-
tentor de todo o poder sôbre a terra, pois lhe foi dado pelo Par
Êsse mesmo Filho disse certa vez a um príncipe: nenhum poder te-
ria sôbre a terra se não lhe fôsse dado do Nêsse tempo Êle
alto.
ainda não viera para julgar, com o “cetro de ferro”, diante do qual
desmoronam os tronos como castelos de carta. Por tudo isso é bom
que os reis da terra caiam em si a tempo, servindo-o com temor.
O temor de Deus é um início de sabedoria, diz-nos tantas vêzes a
Escritura. (15) O temor entretanto tende a desaparecer substituído
pela caridade. Esta põe fora o temor inicial ao mesmo tempo que
transforma as dificuldades e durezas das boas obras em deleite das
virtudes e o que era antes feito com suma dificuldade passa a ser
feitoquase naturalmente, como que por costume e com alegria, como
diz São Bento em sua Santa Regra ao fim do Cap. 7.°: Da hu-
mildade. Há porém um temor que coexiste com a caridade, é o da-
quele que, amando a Deus e vendo a fragilidade humana, tem
medo de perder o bem-amado por própria deficiência. Êsse temor
e tremor não exclui o movimento de exultação: “Exultai diante dÊle
com tremor”. “Pois, o temor do Senhor não conduz à miséria mas
ao gáudio, forma homens felizes e faz os santos”. Diz-se: com te-
mor, para que a exultação não se tornasse negligente, mas ambos
juntos: gáudio e temor para que expressem de modo apropriado a
reverência do céu” (16).
— 13 —
"TU ÉS MEU FILHO, EU HOJE TE GEREI”
— 15 —
CU
cu cu
SÔBRE 0
de Leão”) . i
— 17 —
UM SERMÁO DE SÃO LEÃO MAGNO SÔBRE O NATAL
de S. uma interpretação falsa: “uma natu-
Leão, poderia induzir a
íeza como quemisturou à outra” (“ita ut naturae alteri altera
se
miseeretur”) Evidentemente não é no sentido monofisita que iremos
.
(5) Is 53, 8.
(6) Jo 1, 14.
— 18 —
.
só coisa” (12)
Nanatureza de servo, portanto, que Êle, na plenitude dos tem-
pos, assumiu em vista da nossa redenção, é menor do que o Pai;
mas na natureza de Deus, na qual existia desde antes dos tempos,
é igual ao Pai. Em sua humildade humana, foi feito da Mulher,
íoi feito sob a Lei (13), continuando a ser Deus, em sua majestade
divina, o Verbo de Deus, por quem foram feitas tôdas as coisas (14).
Portanto, Aquele que, em sua natureza de Deus, fez o homem, re-
vestiu uma forma de servo, fazendo-se homem; é o mesmo o que é
(10)
Deus na majestade dêsse revestir-se e homem na humildade da forma
revestida. Cada uma das naturezas conserva integralmente suas pro-
priedades: nem a de Deus modifica a de servo, nem a de servo di-
minui a de Deus. O mistério, pois, da fôrça unida à fraqueza, per-
mite que o Filho, em sua natureza humana, se diga menor do que o
(14) Jo 1, 3.
19 —
UM SERMÃO DE SÃO LEÃO MAGNO SÔBRE O NATAL
Pai, embora em sua natureza divina seja a Êle igual, porque a di-
vindade da Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é uma só.
Na Trindade o eterno nada tem de temporal, nem existe disseme-
ihança na divina natureza: lá a vontade não difere, a substância é
a mesma, a potência igual, e não são três Deuses, mas um só Deus,
pois se há unidade verdadeira e indissociável é essa, onde não pode
existir diversidade.
como numa natureza perfeita e verdadeira de homem
Eis pois
nasceu o verdadeiro Deus, todo no que é seu e todo no que é nosso.
“Nosso” aqui dizemos tudo aquilo que o Criador criou em nós, no
início, e depois assumiu para restaurar. O que, porém, o sedutor
(o demônio) introduziu e o homem, ludibriado, aceitou, isso não teve
nem vestígio no Salvador, porque apesar de ter comungado com as
nossas fraquezas humanas, não participou dos nossos delitos. Ele-
vou o humano sem diminuir o divino, dado que a exinanição em
que o Invisível se nos mostrou visível foi uma descida de compaixão,
não uma deficiência de poder.
Assim, para que fôssemos novamente chamados dos grilhões ori-
ginais e dos êrros mundanos à eterna bemaventurança, Aquele mes-
mo a quem não podíamos subir desceu até nós. Se, realmente, mui-
tos eram os que amavam a verdade, a astúcia do demônio iludia-os
na incerteza de suas opiniões e sua ignorância ornada com o falso
nome de ciência arrastava-os a sentenças as mais diversas e opostas.
A doutrina da antiga Lei não era bastante para afastar essa ilusão
que mantinha as inteligências num cativeiro do soberbo demônio.
Nem também somente as exortações dos profetas lograriam realizar
a restauração de nossa natureza. Era necessário que se acrescentasse
às instituições morais uma verdadeira redenção, era necessário que
uma natureza corrompida desde seus primórdios renascesse num
novo início. Devia ser oferecida pelos pecadores uma hóstia ao
mesmo tempo participante de nossa estirpe e isenta de nossas má-
culas, afim de que o plano divino de remir o pecado do mundo por
meio da natividade e da paixão de Jesus Cristo atingisse as gerações
de todos os tempos e, longe de nos perturbar, antes nos confortasse
a variação dos mistérios no decurso dos tempos, desde que a fé, na
qual hoje vivemos, não variou nas diversas épocas.
Cessem, por isso, as queixas dos que impiamente murmuram
contra a divina providência e censuram o retardo da natividade do
Senhor, como se não tivesse sido concedido aos tempos antigos o que
se realizou na última idade do mundo. A Encarnação do Verbo po-
dia conceder, já antes de se realizar, os mesmos benefícios que ou-
torga aos homens, depois de realizada; o mistério da salvação hu-
mana nunca deixou de se operar. O que os Apóstolos pregaram, os
Profetas prenunciaram; não foi cumprido tardiamente aquilo a que
20 —
D. CIRILO FOLCH GOMES O. S. B.
— 21 —
neumáüca
e ui xi o
SEGUNDA PARTE
CONSEQUÊNCIAS MUSICAIS
1 — CONSEQUÊNCIAS TEÓRICAS
j
— 22 —
.
P. L. AGUSTONI
nota; constitui êste modo de escrever o scandicus uma particularidade,
cujo fim é dar um sentido determinado na interpretação. O neuma
não se torna por isso um podatus Podatus exigem essencialmente
!
— 23 —
NOTAÇÃO NEUMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
neuma. Em todos os outros casos, a disposição gráfica 3 + 1, em
vez de 2 + 2. basta para assinalar aos cantores o que devem fazer.
— 24 —
P. L. AGUSTONI
E com isto mostramos a necessidade premente de
justificamos,
edições munidas de suplementares, que, não só precisem a
sinais
interpretação, mas corrijam também suas imperfeições, na medida
do possível. Por êstes sinais, nós nos ligamos sempre e cada vez
mais a esta tradição, da qual recebemos o canto litúrgico. Deixamos
aqui de lado os argumentos que relevam do ponto de vista pura-
mente musical e estético: também êles exigem de modo imperioso o
auxílio de sinais suplementares, na edição Vaticana, para que o
canto litúrgico possa ser interpretado com tôdas as riquezas da
expressão autêntica, e ser verdadeiramente uma arte musical.
— 25
NOTAÇÃO NEUMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
um que corresponde à lei da desa-
caso de interpretação rítmica,
gregação vejamos o primeiro neuma do Comunio Video (de
inicial;
Sto. Estêvão), no Gradual e o primeiro neuma da Antífona Magi
(no Magnificat das I Vésperas da Epifania), no Antifonário Monás-
tico: (1)
-
p
r
A) CONTRIBUIÇÃO DA DESAGREGAÇÃO
PARA A COMPREENSÃO ESTÉTICA.
— 26 —
P. L. AGUSTONI
em evidência: a) ou o acento da palavra; b) ou, ainda melhor, o
acento musical do inciso e da frase; c) ou, então, quando esta pri-
meira nota não tem êsse caráter de acento, sublinha uma nota modal,
isto é, mais exatamente, uma nota que pertence à arquitetura ou
esquema essencial da melodia; d) ou, enfim, dá um impulso vital a
todo um melisma, especialmente numa cadência.
Como prova, seria necessário examinar de novo os dados esta-
belecidos na primeira parte dêste trabalho. Aliás, não se faz necessá-
rio multiplicar os exemplos, pois cada caso concreto de desagre-
gação inicial mostra claramente seu valor para o estudo da melodia,
do ritmo ou da ressonância modal.
Parece que a função estética atribuída a esta nota isolada se
aclara por meio da excelente explicação dada por Adler a propó-
sito do melisma e do ornamento musical, quando fala de modo geral
sôbre as leis da estética musical ( Der Stil in áer Musik, Leipzig,
1911, I, p. 110): “Os melismas são micro-organismos, que se incor-
poram no desenvolvimento melódico. Os ornamentos são pequenas
fórmulas que se acrescentam aos sons principais da melodia, ou mes-
mo ao som secundário”.
Diríamos: os ornamentos são pequenas fórmulas que se acres-
centam aos sons arquiteturais da melodia, sabendo-se que entre os
sons arquiteturais que constituem a ossatura e o esquema da peça,
existe verdadeira hierarquia: uns são mais importantes e outros me-
nos. E Adler continua: “Os melismas têm um valor orgânico” (cons-
trutivo, “os ornamentos são adjunções exteriores” (não
essencial),
essenciais), “algumas vêzes dois fenômenos se unem”.
No caso do acento, seja da palavra, seja da melodia, a primeira
nota isolada do neuma representa o som arquitetural e tôdas as
outras notas são de caráter puramente ornamental: são secundárias,
isto é, ornam a primeira nota, sendo que esta é essencial, as notas or-
namentais adornam graciosamente o acento melódico e põem em
evidência. Mas a influência vital se encontra na primeira nota. E
esta nota possui tal poder que ela faz partir de si, como supera-
bundância de energia, as notas seguintes, para formar o grupo neu-
mático que jorra todo inteiro dêste impulso vital.
De outro lado, quando a primeira nota isolada confere o impulso
vital a todo um melisma, compreende-se talvez melhor ainda sua
função capital: o micro-organismo melódico goza então de uma par-
tida clara e bem sublinhada. Isto não quer dizer que o melisma não
comportará em seu desenvolvimento outros sons mais importantes
ainda. O melisma, de fato, constitui uma entidade melódica autôno-
ma, embora se conserve sempre como parte integrante da unidade
total da peça. Os melismas devem ser considerados sempre como
materiais importantes na construção geral, sejam êles empregados
— 27 —
NOTAÇÃO NEUMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
nas sílabas finais ou na cadência de um inciso ou de uma frase.
Em qualquer dos casos, a primeira nota isolada é uma nota essencial.
Tomemos exemplo no Gradual Gloriosus Deus (Comum de mui-
tos Mártires), as sílabas finais das palavras seguintes: sanctis, mira-
bilis, majestate, prodigia (êste último caso já foi citado nos exem-
r /rj',A/v r
in san- ctis
— 28 —
P. L. AGUSTONI
tético do trecho melódico estudado. Tal estatística completa, por
enquanto, seria um tanto imprudente, visto que não temos sempre
na Vaticana a versão melódica primitiva correspondente à notação
neumática que examinamos.
Não insistiremos, aliás, nêste assunto bastante complexo, porque
sabemos que D. Cardine vai em breve publicar um artigo sôbre o
assunto.
1 — A
nota isolada deve receber certo apôio da voz, para que
as notas que seguem saiam como que dêste único impulso gerador.
Isto pede um leve apôio intensivo. Para evitar todo equívoco, repe-
timos: que esta intensidade de que não podemos fixar a medida,
deve ser proporcionada à função que a nota desagregada ocupa na
melodia. Sublinhamos ainda mais: não se trata de intensidade pu-
ramente material, como se fôsse um atributo necessário automàti-
camente atribuído à nota desagregada; mas trata-se de um impulso
rítmico importante, contendo em si tanta energia que prolonga a
vida melódica do núcleo inicial e influi sôbre o grupo todo inteiro.
Em outros termos, o impulso rítmico é posto aqui em evidência por
certo grau de intensidade, para traduzir a vitalidade inicial que
— 29 —
NOTAÇÃO NEUMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
provoca esta eclosão melódica. Eis o que entendemos por intensi-
dade: não material mas expressiva.
— 30 —
.
P.L. AGUSTONI
4 — O emprêgo do episema horizontal foi sugerido para facili-
tar a subdivisão em T. C. Estas subdivisões são de ordem prática,
exigidas pelo método prático, mas não deixam de ser secundárias.
2) Extensão o fenômeno.
—r^V-.
j etc.
a
Por certo, a l. nota tem valor todo particular até modalmente
falando. Mas impulso gerador se prolonga e se estende por causa
êste
da importância configurativa do melisma. Os 2 primeiros neumas se-
guintes ainda lhe sofrem a influência. E quando termina êste im-
pulso vital prolongado, encontra-se um climacus com a indicação ce-
leriter. (O 4.
a
de barra depois de meia não é exato não deve exis- —
tir, porque corta a compreensão do melisma)
— 31 —
NOTAÇÃO NEUMÁTICA E INTERPRETAÇÃO
vos: as notas leves “saem” das notas longas iniciais. Os exemplos
são muito freqüentes. Eis alguns.
_V
Grad. Salvum fac.... et bénedic...
— 32 —
P . L . AGUSTONI
“O neuma não é tudo” dizem, às vêzes, falando da interpreta-
ção gregoriana. Admitimo-lo; mas o neuma bem compreendido con-
tinuará a ser sempre o instrumento necessário para descobrir-se “o
que está para além do neuma”. Eis por que tanto insistimos no estudo
da notação primitiva: descobre horizontes novos que deixam adivinhar
o campo imenso da paleografia musical, que se compõe de inumerá-
veis detalhes muito minuciosos. Aqui, apenas fragmento mínimo foi
apresentado, em relação ao todo. Faz-se mister multiplicar êstes estu-
dos particulares, para formar-se um conjunto, um feixe harmonioso
que permitirá uma interpretação sempre mais fundada e mais bela da
melodia litúrgica. Esta nos é dada por uma venerável tradição, que
se manterá sempre com uma das diretivas mais sólidas e mais se-
guras do movimento do canto litúrgico.
33 —
Falando de Liturgia
FORMAÇÃO MUSICAL E L1TÜRG1CA DO CLERO
— 34 —
FALA N D O D E L I T U R G I A
—oOo—
De teor marcadamente prático e realístico são as idéias ventila-
das pelo Abbé A. Gabet, diretor da Escola de Música Sacra de Be-
sançon em seu artigo “A formação musical do clero” publicado em
“Le Lutrin” (Genebra, 1959, n.° 2). Mostra-nos como as disposições
dos documentos romanos supõe a existência dos três seguintes fatos
inegáveis e de especial importância:
“1. A incompetência musical, atual, da maioria dos padres. As
insistências de Roma são, com efeito, correlativas às gigantescas la-
cunas a preencher.
2. Impossibilidade de uma renovação da música sacra nas paró-
quias sem o concurso de sacerdotes com sólida formação.
— 35 —
—
FALANDO DE LITURGIA
Surge assim a 2. a iniciativa: 2. Uma ação imediata utilizando
da melhor maneira as possibilidades atuais”. Dentro dessas possibili-
dades é preciso promover certos estudos como: solfejo geral e cultura
vocal; ciência e prática do gregoriano; prática instrumental (órgão-
-piano ou outros instrumentos) estética musical e história da música.
;
oOo
— 36 —
FALANDO DE LITURGIA
os congressistas pela manhã e à tarde em exposições de teses e dis-
cussões das mesmas eram os mais ricos, variados, atuais e interes-
santes. À noite nas sessões plenárias eram lidas as conclusões dos tra-
balhos do dia, executavam-se números de gregoriano ou música po-
lifônica ouvindo-se a palavra de um orador de fora.
0 Canto Gregoriano teve o lugar que lhe compete nessa magnífi-
ca reunião. Além de ser objeto de estudos teóricos, foi praticado com
especial carinho não só por ocasião de ensaios que visavam uma
maior penetração da interpretação das peças, como por ocasião das bem
cuidadas missas solenes. Uma notícia mais completa, inclusive com as
atas da Semana, deviam ser mais amplamente conhecidas para que
uma tal realização sirva de exemplo a todos que se empenham em
promover essa indispensável formação litúrgica e musical daqueles
que dentro em breve estarão à frente do pastoreio das almas, pois
como citávamos acima o P. Gabet; ”É impossível uma renovação da
música sacra nas paróquias sem o concurso de sacerdotes munidos
de sólida formação”.
A segunda realização que está em curso entre nós, conforme
nos referimos, não é algo de novo, mas vem manifestando cada vez
mais sua grande utilidade e mesmo necessidade. Trata-se das Se-
manas Gregorianas conforme vêm sendo promovidas duas vêzes por
ano, no Rio e em São Paulo, por enquanto, pelo Instituto Pio X.
Víamos acima, no estudo do P. Gabet, como êste se esforça para cer-
car pelos dois lados o problema de base que é o da formação do pro-
fessor de canto no Seminário. Êle representa os dois fatos quase contra-
ditórios:
1 Necessidade da formação sólida do professor de canto, for-
mação muito longa e dispendiosa.
2. Necessidade de uma ação imediata na formação dos Semi-
naristas.
Ora, êsses dois pontos, que quase se excluem, exigem uma dose
enorme de boa vontade para serem combinados. Suposta porém a
boa vomade, falta ainda o meio concreto de realização dos dois pontos
que são duas autênticas e prementes exigências. Pai’ece-nos que seja
o regime das Semanas de Estudos Gregorianos coadjuvados pelos
cursos teóricos por correspondência, principalmente num país enor-
me como o nosso, o meio mais apto para não retardar o início da
formação musical dos Seminaristas que já podem ser pre-destina-
dos pelos Superiores para adquirirem no futuro uma formação musi-
cal mais especializada, sem retirá-los prematuramente dos estudos
teológicos, e ainda mais facilitando desde já a utilização de seus
conhecimentos, quando mais adiantados, na formação dos mais jo-
vens. Um
seminário que conte com um número razoável de semi-
naristas que se formam paulatinamente através das Semans Grego-
rianas e Curso por Correspondência, o que em si poucos sacrifícios
37 —
.
FALANDO DE LITURGIA
exige, é um
seminário que contará, autalmente, com elementos para
uma boa de sua liturgia, como estará dando bom am-
realização
biente para a formação dos mais jovens e abrindo perspectivas
para os semanistas de obterem concomitantemente com o fim de seus
estudos teológicos um diploma de mestre de Côro Gregoriano. Só
isso já seria extremamente importante como dote para um novo
pastor, sem falar no tempo precioso que já terá ganho caso queira
completar sua formação musical no estrangeiro.
Nãoterá passado desapercebido aos Srs. Reitores de Seminá-
rios eSuperiores de Casas de Estudo esta real vantagem que as
Semanas Gregorianas vêm trazer para a formação do seminarista
musicista, como o tem demonstrado o crescente número de estudantes
eclesiásticos que estão freqüentando as Semanas do Instituto Pio
X; queríamos, entretanto, ao ventilarmos êsse assunto da formação
litúrgico-musical do Seminarista chamar-lhes expressamente a aten-
ção para tal oportunidade verdadeiramente favorável para encami-
nhar a solução de problema tão difícil quanto urgente que não lhes
há de trazer poucas angústias e preocupações.
Como está amplamente anunciado, a próxima Semana Grego-
riana se reunirá em São Paulo, Colégio das Cônegas de Santo Agosti-
nho, entre os dias 17 e 28 de janeiro de 1960
_ D J E
— 38 —
FALANDO D E LITURGIA
Paróquia de S. Francisco Xavier. —Iniciou-se nessa paróquia
um movimento de lançamento do canto gregoriano nas missas do-
minicais. O povo começa a ser introduzido em uma ou outra peça
da missa breve (XVI-XV). O Sanctus e Agnus são cantados nas
próprias missas dialogadas. Na festa de Todos os Santos a Missa das
18 hs. foi integralmente cantada, fazendo a parte da “Schola” um
grupo constituído por alunos e alunas do Instituto Pio X. A parte
do Ordinário da Missa foi cantada pelo povo. Coube a direção desta
missa de inauguração ao Revmo. Dom João Evangelista Enout,
O. S. B. A continuação semanal da execução de peças do Ordinário
fará com que se radique nos que assistem à Missa o hábito — tão
distante de nossos fiéis — de cantarem a uma só voz as belas me-
lodias gregorianas que dão ressonância mais ampla à prece litúrgica,
que brota da assembléia, corpo do Cristo, para Deus
ESCLARECIMENTOS PEDIDOS
LITURGIA vem do grego “leitourgia”, de léiton, público, do povo,
para o povo (do laós) e ‘ergon’, obra; significa, pois, obra pública,
do povo, para o povo’. Na Grécia pagã, designava um ofício imposto
pela lei aos governantes e aos súditos, para o bem público; os go-
vernantes por exemplo, deviam organizar os jogos populares, as
)
O
têrmo foi assumido pelos cristãos para designar o culto pú-
blico que prestam a Deus. Com isto queriam indicar que o culto
tributado a Deus comunitàriamente na Cidade de Deus, na Igreja,
é a obra, por excelência, de Deus, Governante Supremo, em favor
do seu povo, e é o dever, por excelência, do cidãdão da Cidade de
Deus. Êste, ou seja, o cristão deve ser ‘litúrgico’, não pode ficar
alheio ou indiferente (ao lado) à liturgia, assim como nenhum cidadão
da Antiga Grécia se podia subtrair às liturgias vãs da cidade Grega, É
isto o que quer dizer, para cada urn de nós. o termo “liturgia” apli-
cado pela Igreja para designar o seu culto oficial.
— 41
.
ESCLARECIMENTOS PEDIDOS
Hoje, ao falar-se de "Comunhão”, tem-se em vista quase ex-
clusivamente ? união do cristão indivíduo com Jesús, têrmo anelado,
não se considera tanto a necessária união dos cristãos entre si. A
Comunhão une os fiéis com o Cristo Cabeça, sim, mas também com
os demais membros de Cristo Místico; e, para recebê-la frutuosa-
mente, é não menos necessário que o comungante deseje a realize
também esta outra união; Deus nos dá as suas graças ordinaria-
mente na comunidade, na união com os irmãos.
A palavra HÓSTIA designava entre os Romanos a dádiva que
ofereciam aos deuses para se defenderem dos inimigos; a hóstia era
o sacrificio contra os “hostes” (inimigos, hostis). A VÍTIMA (‘victima’
em latim) era o sacrifício oferecido para pedir a vitória (‘victoria’)
D. E. B.
42 —
LIVROS EM REVISTA
Jean Damélou: “O Mistério do Advento”” trad. por M. de
Lourdes Noronha, AGIR, Rio de Janeiro, 1958.
— 43 —
LIVROS E M REVISTA
a salvação é possível em tòdas as religiões, mas que por outro lado,
somos obrigados a converter todos os homens ao cristianismo. Se
as religiões mais diversas podem servir à Salvação
que só vem pelo Cristo, somos nós que O temos todo em nossa Igre-
ja, por Êle fundada para expandí-lO no mundo, Igreja nascida de
seu lado na Cruz, vivificada pelo Espírito que Êle enviou em Pen-
tecostes. Há pois uma dupla afirmação não contraditória mas um
tanto paradoxal em tôda a teologia missionária, suposta a boa fé:
há salvação fora do cristianismo —
não fora do Cristo não obs- —
tante, é absolutamente necessário que todos os homens se tornem
cristãos, isto é que o mistério do Advento os atinja o mais plena-
mente possível, pois Êle veio e vem para que a vida seja dada em
abundância, e quem tem diante de si o Cristo não se poderá contentar
com os precursores e os arautos do Grande Rei.
D. J. E.
D. J, E.
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LIVROS E M REVISTA
J. M. de Buck: “Pais desajustados, filhos difíceis” —
tradução de Maria Luiza Studart de Morais, AGIR, 1959.
45 —
LIVROS E M REVISTA
e compreensão para êsse problema que, em nossos dias, senão sem-
pre, se instala ou ao menos fareja o interior de cada lar no que
êle tem de mais precioso. Eis pois um livro de grande utilidade para
pais e educadores.
D. J. E.
O seu Direito é aquêle que, sem deixar de ser a Ciência dos úl-
timos séculos de evolução jurídica, não está alheio à ordem do ser,
não é um delírio nominalístico, mas está apoiado na exigência onto-
lógica das coisas, estará pois subalterno, na ordem dos princípios
fundamentais, à Moral. É o Direito de nossos dias pensado à luz dos
princípios eternos como foram formulados por um São Tomás de
A quino.
Sua concepção de ação política do cristão considera com fina-
ra e penetração as condições peculiares à época histórica em
que vivemos, não confundindo material ou mesmo grosseiramente,
corno fazem alguns, a marca do cristianismo que é uma forma a ser
coartada por uma matéria: as diversas situações históricas, com sua
realização concreta em
épocas distantes tão diversas da nossa. Nêsse
r em cantos outros seu grande mestre é Jacques Maritain,
pontos,
amplamente citado nêstes ensáios. Por fim, a cultura cristã, que como
ioda cultura é um certo acréscimo de espiritualidade trazido pelo
contacto laborioso do homem com a criação que o cerca, a cultura
I antes de tudo o acréscimo da santidade, o acréscimo da obra
insta é
consagradora da Graça que desce sôbre a natureza como o orvalho
sôbre a relva.
— 46
LIVROS E M REVISTA
O livro de Edgard será um livro de poucos leitores, mas muito
aproveitará a êsses poucos que merecem lê-lo.
D. J. E.
— 47
:
REVISTA GREGORIANA
Sagrada Escritura — Canto Sacro — Liturgia —
Espiritualidade
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de 17 a 28 de janeiro de 1960
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DA REVISTA GREGORIANA
— 1959 —
N.° Pags
D. J. E. — PRIMEIRO ANIVERSÁRIO 35 2
— INSTRUÇÃO DA SAGRADA CON-
GREGAÇÃO DOS RITOS SÔBRE
A MUSICA SACRA E A SAGRADA
LITURGIA 35 4
ESPIRITUALIDADE E LITURGIA
ESTUDOS TÉCNICOS
P. L. Agustoni — Notação neumática e interpretação 31 33
_ >> „ 32 24
_ ” ” » ” 33 27
_ „ ..
» 38 22
Irmã M. Rose Pôrto, — 3.° Livro de Canto Gregoriano 31 6
o.p.
Henri Potiron — A Questão Modal 34 24
ÍNDICES DE 1959
VIDA DO INSTITUTO PIO X
Pe. João Corso, S.D.B. — 13. aSemana de Estudos de Canto
Gregoriano 31 39
M. Flora de A.P. As- — Experiência de uma Semanista de
sumpção Canto Gregoriano em São Paulo 32 31
Alunas do “Colégio Co- — Curso São Pio X 33 45
ração de Jesús” de
Florianópolis
Colégio “Santos Anjos” — Na Rádio Vera Cruz 33 47
— Ordenação Sacerdotal 33 47
D. João Evangelista — Palavras de abertura da 14. a Se-
Enout, O.S.B. mana de Estudos Gregorianos 34 33
Pe. Amaro Cavalcanti — Semana Gregoriana 35 49
de Albuquerque — Movimento Gregoriano nas Paró-
quias 36 38
LIVROS EM REVISTA
D. J. E. — “La vie de Liturgie” por Louis
la
Bouyer 32 33
— “Canto Gregoriano’’ pelo Pe. Dr.
A.I.M. Kat 33 49
— “O mistério do Advento” por Jean
Daniélou 36 43
— “Poesia” de José de Anchieta .... 36 44
— “Pais desajustados, filhos difíceis”
J. M. de Buck 36 45
— “O Cristão e a Cidade” por Edgard
de G. da Mata Machado 36 46
D.T.F. — “J.E.C., O Evangelho no Colégio”
por Fr. Mateus Rocha, Dominicano 33 50
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