A Espiritualidade de Adolescentes e Jovens Adultos
A Espiritualidade de Adolescentes e Jovens Adultos
A Espiritualidade de Adolescentes e Jovens Adultos
Aurora Camboim*
Julio Rique **
ABSTRACT: The present study reflects on the extremely importance of the religious
dimension to human healthy development. So it intends to verify and also to compare both the
religiosity and the spirituality of adolescents and young adults. A research with 124 adolescents
and 63 young adults demanded how much they considered themselves as religious and
spiritualized. It also demanded if they followed any religion and how much were they engaged
with it. The results showed that adolescents pointed toward themselves as more religious, less
spiritualized and more engaged than the self evaluation of the young adults. These differences
indicate that experiencing religiosity and spirituality change through life following development
periods.
Keywords: Religiosity, Spirituality, Adolescents and Young Adults
Introdução
Este estudo parte do princípio de que a religiosidade e/ou espiritualidade são
fatores associados positivamente ao bem-estar psicológico, satisfação com a vida,
felicidade, melhor saúde física e mental. A religiosidade dá sentido à vida das pessoas e
ajuda-as a lidar com o sofrimento e a morte (STROPPA e MOREIRA-ALMEIDA,
2008). Sabe-se, no entanto, que existem distintas formas de ser religioso. Algumas
questões podem ser feitas considerando essa dimensão na vida dos jovens. Será que o
nível de religiosidade/espiritualidade dos adolescentes difere da dos jovens adultos?
Seria a dimensão religiosa da vida importante para o pleno desenvolvimento do
*
Doutoranda em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba, Mestre e graduada em Psicologia
pela UFPB [email protected]
**
Doutor em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela University of Wisconsin-Madison, Estados
Unidos; Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba e Psicólogo Clínico pelo
Instituto Paraibano de Educação. Professor do mestrado em Psicologia Social, Departamento de
Psicologia, da UFPB, [email protected]
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indivíduo? Os jovens adultos são menos religiosos ou apresentam uma diferente forma
de vivenciar sua espiritualidade?
Para responder essas questões é importante definir os construtos pesquisados. O
conceito de religião difere de religiosidade e de espiritualidade. São três conceitos
distintos, mas que muitas vezes são usados como sinônimos. O que difere religiosidade
e espiritualidade? Seria a prática em rituais religiosos? Alguns autores afirmam que sim,
que apesar de religiosidade referir-se a uma relação pessoal com Deus, esta relação
estaria fundamentada nos rituais de uma religião. Enquanto que espiritualidade não
estaria ligada a religião, mas a questões religiosas independentes de instituição. No
entanto, a espiritualidade não negaria a religiosidade e vice-versa.
Panzini et al. (2007) definem religião como sendo a crença na existência de um
poder sobrenatural, criador e controlador do Universo, dando ao homem uma natureza
espiritual que continua a existir depois da morte do corpo. Religiosidade é definida
como a extensão na qual um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião.
Espiritualidade é a busca pessoal por respostas compreensíveis para questões
existenciais sobre a vida, seu significado e a relação com o sagrado ou transcendente
que podem (ou não) levar ou resultar do desenvolvimento de rituais religiosos e
formação de uma comunidade. Segundo Dalgalarrondo (2008), religiosidade e
espiritualidade podem ser compreendidas como dimensões mais amplas e independentes
de denominações institucionalizadas de religião.
As pessoas religiosas, ao preocuparem-se com o sentido da vida, inquietam-se
também com o que vem além dela, com o existir além da matéria. São, portanto,
pessoas espiritualizadas, que acreditam existir uma vida depois da morte, uma vida
espiritual, mesmo que as explicações sejam distintas nas diferentes religiões. No
entender de Richards e Bergin (1997), o religioso é um subconjunto do espiritual, sendo
possível ser religioso sem ser espiritual e vice-versa. É possível ter uma religião apenas
por convenção, é também possível ser espiritualizado sem filiar-se a uma religião, ou
ainda ter religião, ser religioso e espiritualizado.
Pesquisas sobre religiosidade
Estudos mostram que a religiosidade pode ser fator positivo na saúde das
pessoas. Panzini e Bandeira (2007) verificaram que a religião, espiritualidade ou fé
beneficiam na forma como as pessoas lidam com o estresse e Paiva (2007) discutiu
como a religião pode ter a função de cura e recuperação nas doenças. Com relação ao
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Diante do que foi exposto, verifica-se que a população brasileira está longe de
apresentar um tipo especifico de religiosidade. Pelo contrário, apresenta uma
heterogeneidade religiosa apenas verificada nesse país e que ao longo dos anos torna-se
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Existem nesse grupo três participantes adolescentes (16 e 18 anos) que foram mantidos. Considerou-se
que o desenvolvimento depende não apenas da maturação, mas também das interações sociais a que esses
participantes estão expostos no ambiente universitário.
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59% deles disseram ser católicos, 16% evangélicos, 1% espíritas, 1% mórmons, 18%
disseram não ter nenhuma religião e 5% não respondeu.
Quando comparadas as religiões pela idade (Tabela 2), verificou-se que a maior
parte dos adolescentes é católica. Já entre os jovens adultos verificou-se uma divisão
entre católicos e aqueles que afirmaram não ter religião. Os evangélicos se colocaram
em terceiro lugar da distribuição das freqüências.
Foi pedido ainda aos participantes que marcaram possuir uma religião, que
respondessem numa escala de 5-pontos, o quanto freqüentavam essa religião, indo de
nada a bastante (0 = nada, 1 = pouco, 2 = alguma, 3 = muito, 4 = bastante). Para facilitar
os cálculos, combinaram-se os escores de pouco/alguma (1 e 2) e muito/bastante (3 e 4).
Verificou-se quanto à prática religiosa que os adolescentes apresentaram uma média
superior (M = 1,06) aos dos jovens adultos (M = 0,69).
Foi realizado um teste-t para amostras independentes com relação à prática
religiosa nos três níveis entre os dois grupos de idade. Embora tanto os adolescentes
como os jovens adultos tenham apresentado pouca prática religiosa, foi encontrado uma
diferença significativa entre as médias dos grupos (t = 3,715, gl = 182, p < 0,00). A
maioria dos adolescentes disse ter pouca ou alguma prática (n = 122, M = 1,06, dp =
0,565). Enquanto os jovens adultos em sua maioria afirmaram não ter nenhuma prática
religiosa (n = 62, M = 0,69, dp = 0,737).
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que os adolescentes apesar de estarem numa fase de ampliação do seu universo social,
permanecem com a religião dos pais, são mais ligados a uma instituição religiosa,
possuem um sentimento religioso mais intenso e mais dependente de uma mediação
institucional do que os jovens adultos.
Por outro lado, os jovens adultos, diferentemente dos adolescentes, dividiram-se,
em sua maioria, entre católicos e os que declararam não ter religião. Confirmando as
discussões feitas por Novaes (2004) quanto ao aumento do número de brasileiros sem
afiliação religiosa, principalmente entre os jovens dessa geração, que parecem fugir das
mediações institucionais. Os jovens adultos praticam menos sua religião, são menos
religiosos e apresentam maior espiritualidade do que os adolescentes. Esses resultados
mostram que os jovens adultos mantêm um afastamento das instituições religiosas,
porém conservando uma relação espiritual mais pessoal, mais direta com o
transcendente, desatrelada de religião.
Considerações Finais
Por fim, pode se afirmar que os resultados desse estudo apontaram para
diferentes formas de vivenciar a religiosidade e/ou espiritualidade, seja seguindo os
dogmas de uma instituição religiosa seja através de uma relação pessoal com o
transcendente. Condiz com o que afirmou Dalgalarrondo (2008) quanto à forma de
vivenciar a religião ser diferente nas diferentes fases da vida. Tais diferenças são
fortemente marcadas nas duas fases da vida aqui estudadas, o que evidencia a influência
da idade no modo de viver e pensar religiosamente das pessoas.
Fica em aberto a discussão sobre qual forma de expressar a sua religiosidade
e/ou espiritualidade contribui para uma maior saúde mental e qualidade de vida.
Inclinamos em pensar que quanto maior a maturidade religiosa de uma pessoa, no
sentido de buscar por respostas sobre o significado da vida e permitir ter experiências
religiosas autênticas, maior será a sua capacidade de refletir e viver a sua religiosidade
e/ou espiritualidade de forma saudável. Assim, a sua forma de expressar será realizada
com moderação, congruência e respeito às diferenças.
Esse é um estudo preliminar que pode subsidiar outros estudos com enfoque na
religiosidade dos jovens, podendo inclusive correlacionar outras variáveis para
enriquecer os dados aqui obtidos.
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Referências
ANTONIAZZI, Alberto. As religiões no Brasil Segundo o Censo de 2000. Revista de
Estudos da Religião. n.2, p. 75-80, 2003.
PEREZ. L. F. Breves notas sobre a religiosidade brasileira. Brasil 500 anos, Belo
Horizonte, P.40-58, 2000.
PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. São Paulo: Forense Universitária, 2004.
(Trabalho original publicado em 1964).
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