Dissertação Simone Schemberg PDF
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Simone Schemberg
CURITIBA
2008
EDUCAÇÃO ESCOLAR E LETRAMENTO DE SURDOS:
Curitiba
2008
Simone Schemberg
Curitiba
2008
TERMO DE APROVAÇÃO
Simone Schemberg
Minhas descobertas e
Meu crescimento.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ter colocado sempre em meu caminho pessoas que de uma
forma ou de outra me fazem acreditar que viver vale à pena e que aprender vale
mais ainda.
sabedoria.
momentos de felicidades.
A minha orientadora querida, Ana Cristina, por ter guiado minhas reflexões e
e acima de tudo por terem instigado ainda mais minhas buscas em torno da
Kyrlian, com quem desde o começo pude contar. Agradeço por acreditar em mim, no
desde sempre pude contar, direta ou indiretamente, por mais uma vez fazer parte de
mais uma etapa da minha vida. E acima de tudo, agradeço por nos presentear com
suas idéias.
OBRIGADA!
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas...
mesmos lugares...
É o tempo da travessia...
Fernando Pessoa
RESUMO
This research seeks to approach the deaf school education in this context. It’s
relevant to raise some questions about the way as this process has been discussed
and the point of view of some subjects involved in the school education of the deaf.
So, this research aims to analyze and discuss the point of view of parents and
teachers about school education and literacy of a group of deaf children, who attend
a specialized service in the contrary time of the regular school. For this, were
approached theory references about inclusion of the deaf and historic aspects. We
also seek about the literacy through emphasize the discussions in relation to reading
and writing in deaf children context. We developed interview with deaf children
parents who attend the CAES and their respective teachers of regular school. The
results show that are many factors to be considered for guarantying the concrete and
real inclusion of the deaf in the regular school. It was possible to visualize, from
parents and teachers discourses that there is a constant exclusion of the deaf in the
linguistics contexts, in a family and in school. So the deaf children are at
disadvantage, specially, in relation to their literacy. The CAES ends up being only
place where the deaf children can have access to concepts and constitute
themselves from their bilingual condition.
SURDO...............................................................................................................103
ALUNO................................................................................................................138
ALUNO................................................................................................................140
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................12
sujeito.........................................................................................................................60
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.............................................................85
4.1 A PESQUISA......................................................................................................87
SURDO(A)..................................................................................................................92
5.2 A VISÃO DOS PROFESSORES ACERCA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DOS
ALUNOS SURDOS..................................................................................................101
5.3.2 “Acho que ela sabe escrever, mas não sabe ler”: A visão dos pais e
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................143
REFERÊNCIAS........................................................................................................152
APÊNDICES.. ..........................................................................................................167
ANEXOS .................................................................................................................169
12
1 INTRODUÇÂO
sobre muitos aspectos que nos levaram a abordá-lo. Desta forma torna-se
importante um breve relato acerca dos fatores que me instigaram a discutir algumas
reabilitação auditiva e da fala dos alunos, que, em sua maioria não havia
geralmente esse trabalho é desenvolvido. No entanto, para mim, isso não era
1
Optamos por utilizar o termo em maiúscula a fim de explicitarmos a Surdez como diferença,
afastando-se de uma visão clínico-terapêutica.
13
primeiro ano de trabalho, passei então a buscar outros olhares que vinham ao
encontro das minhas dúvidas com relação ao trabalho que me era proposto, pois
relação à real função do trabalho pedagógico. Sendo assim, já no meu primeiro ano
em conta a inclusão do aluno surdo no ensino regular e suas práticas sociais. Assim,
assuntos propostos pelos próprios alunos. É fato que, inicialmente, houve certa
meio de uma língua em comum, já que até então, isso não se fazia tão necessário,
sujeito surdo e a partilhar seu modo de perceber o mundo e construir seus conceitos
nesse processo.
satisfatórios, pois, ainda que haja muito a ser repensado, hoje a função pedagógica
Por meio do meu trabalho no CAES, comecei a ter contato com os pais de
meus alunos surdos, bem como com os professores do ensino regular, de modo que
possível ouvir afirmações como: “Nossa, como é difícil trabalhar com esse aluno, ele
não entende nada...” ou “Ela não pára, não presta atenção em nada...” ou “Não sei
um mesmo sujeito pode ser visto de maneira tão diferente entre um contexto e
outro? Diante disso, o objetivo desta pesquisa é analisar e discutir a visão dos pais e
Para isso foram desenvolvidas entrevistas com os pais com os pais dessas
o ponto de vista dos pais será possível buscar compreender seu olhar acerca do
serão discutidos sob o ponto de vista dos professores, sendo possível estabelecer
inquietações. Para isso serão destacados alguns pesquisadores que têm contribuído
inclusão.
pesquisa está alicerçada. Nesse ponto, torna-se relevante refletir sobre a interação e
SILVA, 2005).
pesquisa e no capítulo 5 serão expostas algumas análises a partir das falas dos pais
fala, para que fossem reconhecidos perante a lei como herdeiros (SACKS, 1998).
Esse período que agora se afigura como uma espécie de era duradoura na
história dos surdos marcou o rápido estabelecimento de escolas para
surdos, geralmente mantidas por professores surdos, em todo o mundo
civilizado, a emergência dos surdos da obscuridade e da negligência, sua
emancipação e aquisição de cidadania e seu rápido surgimento em
posições de importância e responsabilidade – escritores surdos,
engenheiros surdos, filósofos surdos, intelectuais surdos, antes
inconcebíveis, subitamente eram possíveis. (SACKS, 1998, p.34/35).
17
Graham Bell (1847-1922). Bell considerava a surdez de sua mãe e de sua esposa
aparelho que pudesse substituir a audição, pressupondo fazer uma nova membrana
para os ouvidos de sua esposa. Esse aparelho tinha como propriedade fazer correr
2
A proposta oralista tem como ponto central a aprendizagem da fala, a partir de técnicas específicas
de reabilitação como o treinamento auditivo, o desenvolvimento da fala e a leitura labial. (DORZIAT,
1997)
18
voz, o que resultou na invenção do telefone. Além disso, Graham Bell era professor
quanto à defesa dos seus pontos de vista em relação à língua que eles, enquanto
está ligada a visão de que somente a partir da língua oral é que se pode garantir o
os interesses educacionais, Skliar (1998) refere que esse conceito é influenciado por
políticos, nos quais perdura a valorização da linguagem oral, sendo “os filosóficos - o
patológico e reabilitador, que persiste ainda hoje em alguns discursos, a idéia de que
de práticas que desconsideram a língua de sinais. A visão clínica que permeia essa
3
Segundo Skliar, o termo Ouvintismo diz respeito ao conjunto de representações dos ouvintes, a
partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como ouvinte.
20
Surdez é vista como diferença (FERNANDES, 1998, SKLIAR, 1998, GOES, 1999,
Sendo assim, a partir de estudos científicos é que surge um outro modo de concebê-
que até então era vista apenas como um código que auxiliava na comunicação dos
em que é expressa, ou seja, a língua de sinais não se opõe à língua oral, mas é
como afirma Quadros (1997): “as línguas de sinais são sistemas lingüísticos
independentes dos sistemas das línguas orais (...) são línguas que não se derivaram
das línguas orais, mas fluíram de uma necessidade natural de comunicação entre
disso, na década de 70, ganha espaço a Comunicação Total, uma filosofia que
gestos, a língua de sinais, o alfabeto digital e outros. Cabe destacar aqui a prática
praticada na educação de surdos. Tal prática diz respeito ao uso simultâneo da fala
aos surdos, como pontua Ferreira Brito (1993), um espaço real para a língua de
Diante disso, novos estudos apontam para um outro olhar sob a Surdez e o
diferença e não da deficiência, de modo que a “surdez constitui uma diferença a ser
(LOPES, 2007). Assim, partir da década de 80 e início dos anos 90 do século XX, no
4
Cabe destacar que, no âmbito de nossa discussão, “natural”, de acordo com SKLIAR (1998), “não
se refere a uma certa espontaneidade biológica. Língua natural, aqui, deve ser entendida como uma
língua que foi criada e é utilizada por uma comunidade específica de usuários, que se transmite de
geração em geração,e que muda - tanto estrutural como funcionalmente - com o passar do tempo.”
(p. 27)
23
majoritária do país onde o surdo está inserido deve ser considerada a segunda.
(PEDREIRA, 2006)
como afirma Pedreira “o/a aluno/a deixa de ser um/a paciente e passa a ser um
lingüísticas devido à falta de audição e que desse modo: “os surdos passam a ser
pessoas que, diferentemente dos ouvintes, apresentam uma forma própria e original
usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no
contexto escolar.” (p. 27). A proposta bilíngüe toma como pressuposto a aquisição
de modo que a língua portuguesa escrita (no caso do Brasil) seria considerada a
segunda língua do surdo. Além disso, a condição bicultural, como pontua Lopes
(2007), é outro eixo a ser considerado, pois os surdos “partilham de elos que os
24
surda-, ora como não ouvintes - quando estão entre ouvintes.” (p. 66).
acesso a uma educação bilíngüe no ensino regular, o que está (ou não) sendo feito
para que esta condição seja efetivada. Dessa forma, serão considerados a seguir
pessoas com deficiência, não foram estabelecidas mudanças na estrutura física, nas
prática o aluno era considerado como único responsável por suas dificuldades,
5
Níveis de integração: nível 1- classe regular sem apoio especializado, nível 2- classe regular com
apoio especializado, nível 3- classe regular com apoio especializado ao professor e aluno, nível 4-
classe regular com apoio especializado no contraturno, nível 5- classe especial com participação em
atividades gerais da escola, nível 6- escola especial, nível 7- apoio domiciliar, nível 8- ensino em
instituição ou centro hospitalar. (FERNANDES, 2007)
26
educação de qualidade para todos passou a ser atribuída à escola. Assim como
do professor são aspectos fundamentais para a inclusão. Nessa nova visão não
bagagem cultural que cada uma traz consigo, levando em conta as diferenças, o
que, segundo Schneider (2006) “se realiza pelo resgate dos valores culturais,
6
De acordo com tais Diretrizes: “Por Educação Especial, modalidade da educação escolar entende-
se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços
educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e,
em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar
e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades
educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica." (BRASIL, 2001)
27
escolar, mas sim propiciar mudanças que pudessem atender a essas diferenças e
propõe a inclusão, traz a idéia de que os sistemas de ensino devem se organizar “de
forma que haja escolas em condições de oferecer aos alunos surdos o ensino em
educação bilíngüe em uma escola que possa efetivamente dispor dessa condição.
surdo estar presente nesse documento pode-se dizer, a priori, que o mesmo traz
7
Resolução Nº. 02/2001 aprovada pelo Conselho Nacional de Educação
29
de Sinais (LIBRAS) no país, afirmando que o apoio ao uso e sua difusão sejam
havia sido reconhecida oficialmente por meio da lei 12.095 de 11 de março de 1998.
surdos o acesso precoce a esta língua. Assim como afirma Fernandes (2003):
sujeito surdo por meio desta língua, apontando assim, sobretudo, para uma
visual, o que poderia ser considerado um ponto de vista sócio antropológico, ainda
atendimentos especializados.
O decreto 5.626/2005, em seu art. 14, prevê que, seja garantido às pessoas
sujeito surdo e, sobretudo, para o contato precoce com a língua de sinais. Essa
presença seria/é um dos pontos fundamentais para que o processo de inclusão seja
efetivo, pois a partir disto o aluno teria possibilidades de ter uma língua constituída,
Infantil. No caso do Estado do Paraná, que foi precursor nessa questão, estabelece
Essa questão tem sido levada em consideração por algumas escolas, que
com o grupo de professores, percebeu que havia uma constante exclusão da aluna
presença, também, de uma professora surda em sala. Dessa forma, após o ingresso
autora concluiu que a presença da professora surda foi fundamental: “mais do que
qualquer outra experiência vivida no cotidiano da escola foi crucial para que
começasse a se perceber como surda, pois foi o encontro surdo/surdo.” (p. 24).
diz a lei e o que é estabelecido na prática. De acordo com Soares e Lacerda (2004),
a criança surda deve ter contato com outros surdos e não somente com ouvintes,
como se percebe que está ocorrendo com a proposta de inclusão, em que o surdo
está inserido num contexto onde tudo é pensado baseando-se na audição como via
autoras afirmam que a ausência da convivência com outros surdos pode dificultar a
construção de identidade, tendo em vista que esse contato é que lhe possibilitará a
diferentes contextos.
linguagem oral, a criança surda está inserida num contexto onde as interações
33
lingüísticas não são compartilhadas, considerando que 95% são filhas de pais
1997). A falta de contato com adultos que compartilhem de uma mesma língua pode
Schneider (2006): “A escola sozinha não pode dar conta da educação de todos e,
no processo escolar de seus filhos, demonstraram não fazer uso da mesma, o que
Além disso, a autora pôde perceber, na narrativa dos pais, que há uma negação
não tem sido uma proposta bem aceita, sobretudo, por representar um gasto
que haja apenas um aluno surdo em sala. Fato esse que traz à tona
e ouvintes) de uma quinta série. Os depoimentos, tanto dos professores, quanto dos
alunos ouvintes, revelaram uma visão satisfatória com relação à inclusão do surdo,
situação.
insatisfação, sobretudo com relação ao lugar que lhe é dado no espaço escolar,
ainda que, a escola, em geral, não compreende o aluno surdo, nem reconhece os
aspectos relacionados à surdez. Já no que diz respeito aos depoimentos dos surdos,
por um adulto. Segundo a autora, o aluno surdo “por não conhecer outra realidade
mostra-se adaptado a esta situação. Como não conhece algo diferente, acredita que
por parte dos professores. Além disso, outras questões são desconsideradas, como
35
avaliar, o que torna a idéia de inclusão contraditória. Acerca disso Guarinello (et al.,
professor regente em sala, a fim de assessorar o aluno sempre que necessário e lhe
8
Os projetos de inclusão referidos na pesquisa dizem respeito a um programa de apoio escolar que
tem como objetivo atender os alunos com necessidades educativas especiais.
36
língua de sinais. No entanto, como referido pela mesma, no decorrer da pesquisa, foi
possível verificar que ao se propor uma educação bilíngüe, vários entraves deixam
culturais), além disso, não há uma clareza a respeito das línguas envolvidas no
ao surdo e à língua de sinais não é visto como ponto a ser considerado, e por isso
estas questões são desconhecidas por grande parte dos profissionais envolvidos.
entendimento sobre em que implica e o que significa o surdo ser bilíngüe. Não se
programa, assim como retratado pela autora, é composta por alunos surdos, cegos,
uma mesma visão, não sendo consideradas as particularidades de cada um, como
se fossem diferentes dos demais alunos, mas iguais entre si, por terem algo em
surdos inseridos no ensino médio, que a comunicação no ensino regular, para eles,
apontado pelo fato de que, é nesta que o surdo tem acesso aos conteúdos
essa autora, Botelho (2002) e Angelides e Aravi (2006/2007) referem que no ensino
entre qual o local mais adequado para a formação acadêmica do surdo, mas alçar
do Paraná, Guarinello (et al., 2006) retratam as dificuldades do aluno surdo em sala
de aula no ensino regular, do ponto de vista dos professores. Tal pesquisa revelou
implicações pôde ser constatado. Fato esse que exerce um papel fundamental no
cultural, mas oportunizar programas de educação bilíngüe nos quais, assim como
às diferenças. Assim como afirma Quadros (2006a) “(...) a situação bilíngüe dos
é possível perceber que a proposta bilíngüe tem se mostrado como sendo a mais
somente definir leis e aceitar a inserção do aluno surdo em sala de aula, mas refletir
9
Quadros (2006a) refere-se aos espaços de negociação como sendo o reconhecimento do outro nas
discussões e nas tomadas de decisões: ”os espaços de negociação tornam-se possíveis quando o
outro passa a ser um eu no espaço compartilhado, sendo ao mesmo tempo, o outro diante do outro
eu traduzindo-se nas alteridades que convivem umas com as outras.” (p. 22)
40
acesso ao currículo, que dizem respeito aos ajustes graduais que devem ser
assim como em uma linha de montagem, como é apontado por Alves (2006) ao
inviável, já que esta prevê que as diferenças sejam levadas em consideração, o que
se perceber que, no caso dos alunos surdos, apesar das exigências legais da
Assim, cabe à escola refletir sobre novas posturas a serem adotadas com relação à
inserção do aluno surdo no ensino regular. Acerca disso, Favorito (2006) afirma que:
Strobel (2006) traz uma reflexão acerca das condições propiciadas à criança
falta de contato com adultos surdos. Dessa forma a autora destaca a escola de
que urge em ser efetivada, pois está inserida num contexto social no qual se busca a
fundamental que o educador, tanto no ensino regular, quanto nos serviços de apoio
especializado, reflita sobre sua prática em sala de aula e sua contribuição para a
discussões acerca das suas funções e alguns aspectos desde a sua implantação até
os dias de hoje, de modo a ressaltar o lugar que foi e é dado ao aluno em cada
A Lei 9394/96, em seu artigo 4º, inc. III faz menção ao “atendimento
10
Documento aprovado na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e
Qualidade, ocorrida na Espanha, em 1994, com o objetivo de propor a promoção de Educação para
todos, enfatizando o atendimento educacional a todas as crianças, sobretudo às que têm
necessidades educativas especiais.
11
As Salas de Recursos destinam-se à complementação da escolarização dos alunos com
necessidades especiais, em horário contrário ao do ensino regular, sendo as mesmas equipadas com
recursos técnicos, materiais e tecnológicos. (FERNANDES, 2007)
12
São salas de aula organizadas no mesmo espaço da escola regular, que, geralmente, atendem a
alunos com casos graves de deficiência mental ou múltipla, com defasagem considerável
(idade/série) ou limitações que dificultem o desenvolvimento do currículo em classe comum. São
organizadas em série/ciclo/etapa, utilizando recursos, métodos e técnicas especializados.
44
auditivo, já que a concepção que permeava a educação de surdos era baseada nos
eram tidos como ponto de partida para se chegar ao principal objetivo: a fala.
técnicas:
a partir da linguagem oral. Desta forma, assumia-se uma abordagem clínica frente
13
O CAEDA, hoje CAES, é um programa institucionalizado no estado do Paraná, implantado em
diversos municípios. Esta pesquisa trata especificamente da realidade de um CAES localizado na
região metropolitana de Curitiba.
14
Instrumento em forma de círculo envolvido por um tecido fino e escuro, utilizado para trabalhar o
residual auditivo do aluno (treinamento auditivo). O professor colocava o bastidor em frente a sua
boca para que o aluno pudesse identificar auditivamente o que estava sendo pronunciado (por
exemplo: sílabas: PA PA PA, palavras: PATO, etc).
45
métodos e técnicas corretivas eram tidos como base. Acerca disso Limeira de Sá
(1999) afirma que “o fato de ser considerado uma abordagem ‘clínica’ decorre de
que a oralização do surdo (...) é muitas vezes mais enfatizada do que os objetivos
isso o trabalho com a fala precedia qualquer trabalho com a escrita. De acordo com
MARCUSCHI (2005) a escrita não pode ser vista como uma representação da fala,
surdos, diante da qual os mesmos são definidos por suas características negativas e
médico cujo fim é unicamente a ortopedia da fala.” (p. 113). É importante destacar
(1997), Limeira de Sá (1999), Ferreira Brito (1993), foi esta mesma visão que se
atividades que tivessem como ponto de partida a deficiência do aluno. Lane (1992)
define o trabalho do educador, nesse aspecto, como clínico, pois destaca que sua
aprender o inglês (leia-se português). Foi identificada uma diferença, mas começa-
sujeito:
estiveram fundamentados.
questões pedagógicas eram deixadas de lado. Fator este que teve grande
o que representa uma alteração não apenas no termo, mas uma mudança na
educação de surdos.
terapêuticos, diante dos quais o aluno dispensava um tempo árduo e longo, deram
lugar privilegiado.
valorização das diferenças, nesse espaço novas propostas que estão de acordo com
até que suscitasse esse novo modo de desenvolver um atendimento voltado aos
aspectos pedagógicos dos surdos. No entanto, como defende Santana (2007) “fazer
que a surdez passe de doença à diferença não é uma simples mudança de ponto de
vista; para isto é necessário estabelecer novas normas, o que não é imediato, já que
49
15
Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela portaria nº 555/2007, prorrogada pela
portaria nº 948/2007, entregue ao ministro da educação em 07 de janeiro de 2008.
16
Fonte, disponível em: http://www.seed.pr.gov.br/portals/portal/institucional/dee/dee_surdez.
50
ensino regular da Educação Básica, com oferta de Ensino Fundamental das redes:
da família ou do aluno.
da inclusão, seja garantida ao aluno surdo uma possibilidade para que o mesmo
tenha acesso ao ensino da língua portuguesa e da língua de sinais. Neste caso, qual
seria então a função do ensino regular para o surdo? Não é este o local que, por
para que o surdo possa desenvolver suas competências no ensino regular, o que
cada aluno.
estado do Paraná. A autora concluiu que, na última década um novo discurso se faz
presente nas vozes dos professores, considerando que a maioria deles afirmou que
verificar que há uma contradição com a prática, em que a concepção de surdez sob
referindo que, dos 2076 alunos surdos inseridos no ensino regular do estado do
Paraná, 1684 são atendidos nos CAES’s, em turno contrário ao do ensino comum.
Convém ressaltar que nem todos os alunos têm domínio ou até mesmo o
impossibilita de ter acesso aos conceitos por meio desta língua. O desconhecimento
53
aluno até que esta língua se constitua. Não obstante, algumas vezes, esta
constituição torna-se difícil por motivos como: a falta de contato com outros surdos,
o que faz com que o uso da língua de sinais não seja significativo para o aluno; a
ativa e efetiva.
escola que se tem hoje, de modo que é necessário consolidar o seguinte desafio,
cada sujeito surdo. Não obstante, a maneira com que ele é narrado e percebido pelo
letramento.
linguagem, ao sujeito e ao lugar que este ocupa nos processos de interação social.
55
linguagem, já que esta é marcada por discursos sociais e conceitos que foram e são
constituídos historicamente.
desenvolvimento da linguagem do sujeito surdo, idéia esta que ainda hoje se faz
tiveram influência de grandes psicólogos que cogitavam a idéia de que o surdo teria
equívocos que relatam a concretitude do pensamento dos surdos, é que ainda hoje,
dificuldade de abstração.
constituição do sujeito surdo, considera que: “a surdez, como déficit biológico, não
56
oral; a surdez pode criar, e de fato cria, situações atípicas no processo de aquisição
sujeito surdo podem ser atribuídos ao fato de que o mesmo não se desenvolve em
desde seu nascimento geralmente estão inseridas em situações dialógicas que lhes
permitem constantemente o contato com uma língua, que será assim, adquirida
90% são filhas de pais ouvintes, que, por ser desprovida do sentido da audição não
ocorrem, a gestos naturais criados para estabelecer algum tipo de interação, já que
seu conhecimento é constituído a partir das experiências visuais. Por isso, destaca-
como o acesso precoce a esta língua, para que, assim como a criança ouvinte,
que, assim como afirma Moita Lopes (2002): “as práticas discursivas neste contexto
sobre sua identidade e a dos outros.” (p. 37). Entretanto, para que as construções de
linguagem.
desenvolver-se a partir da língua que lhe é considerada como natural. Além disso,
pois é a partir dos significados que o sujeito compreende e age sobre o mundo:
Nessa mesma linha de reflexão Bakhtin (1990) enfatiza que a palavra reflete
Cada palavra, então, traz consigo significados que são construídos histórica
forma que o sujeito, enquanto ser histórico e social, é transformado a partir destas
interações, as quais, segundo Geraldi (1997) “não se dão fora de um contexto social
discursos anteriores que tem como resultado a língua, havendo um retorno diferente
60
transmissão/recepção.
Sendo assim, a linguagem não pode ser concebida fora dos contextos
situações discursivas.
sujeito
constituição dos conceitos pelo sujeito e no modo de como este percebe o mundo e
perceber-se nele.
61
outro:
Tudo o que me diz respeito, a começar pelo meu nome, e que penetra em
minha consciência, vem-me do mundo exterior, da boca dos outros (da
mãe, etc.), e me é dado com a entonação, com o tom emotivo dos valores
deles. Tomo consciência de mim, originalmente, através dos outros: deles
recebo a palavra, a forma e o tom que servirão para a formação original da
representação que terei sobre mim mesmo. (BAKHTIN, 1992, p. 378).
a colocar-se no mundo.
62
possível refletir, discutir, opinar, colocar-se como parte de um todo e não como mero
2005). Portanto a forma com que o mesmo é percebido e narrado nestas relações e
forma que irão repercutir nas ações do próprio sujeito sobre o mundo.
ou colaboração do outro:
63
proximal, que a atuação do outro enquanto mediador assume um papel crucial para
conseguia sob orientação. Voltando o olhar à prática pedagógica, seja para o aluno
constituir-se socialmente.
tais problemas são decorrentes do modo com que estas crianças são inseridas na
processos de interação.
escolar.
privilegiado na construção dos sentidos enquanto trabalho, referindo ainda que cada
discursos significativos.
intensamente nos processos de leitura e escrita, o que pode ser percebido a partir
interação entre os sujeitos, pois, assim como afirma Morato (2000) não há
sendo um dos grandes obstáculos a serem encarados pela escola. Por muito tempo
necessidade de que, no atual contexto, não basta apenas que o sujeito saiba ler e
escrever, mas que saiba fazer uso efetivo da leitura e da escrita, respondendo às
exigências feitas pela sociedade. Sendo assim Letramento é definido pela autora
parceria com o instituto Paulo Montenegro, foram coletados dados a respeito das
que apenas 26% do total da população encontra-se num nível pleno de domínio das
enquanto fatores de uso social, de modo que a mesma exerce um papel muito
preciso que os professores tenham uma visão mais clara sobre o papel crucial da
mas como sujeito ativo, capaz de interagir com essa língua. A escrita constitui-se
então como um processo contínuo, onde as hipóteses sobre a mesma não são
consideradas erros, mas possibilidades. Dessa forma, assim como afirma Soares
(2004):
rótulos, embalagens, placas, etc., além de visualizarem as pessoas a sua volta lendo
68
jornais e revistas (PADDEN, 1990; ZIGOURIS-COE, 2001). Porém, mais do que ter
contato é importante que a criança perceba que estas palavras que ela visualiza
constantemente têm uma função e é nesse sentido que a escola deve proporcionar
meios para que o trabalho com a escrita seja uma continuidade daquilo que a
criança vivencia naturalmente, de modo que seja abordada, assim como na vida
ocupado pelo sujeito. Aliado a essas práticas há forte presença da percepção de que
a uma abordagem formal da língua, assim como afirma Kleiman (2001), ao referir-se
Tais práticas não privilegiam uma perspectiva discursiva, em que o foco não
Pan (2006):
(...) traz uma nova reflexão sobre a criança, seu desenvolvimento e sua
linguagem, anunciando uma nova imagem de sujeito difundida por meio de
práticas pedagógicas libertadoras, renovadoras e críticas, segundo a qual
ele se torna capaz de tomar consciência de suas amarras, opondo-se às
estruturas de poder que o oprimem. (p. 82).
contextos e lhe é oportunizado meios para que possa constituir-se como sujeito
práticas sociais de leitura e de escrita, que dizem respeito ao que, quando, com
quem ou por intermédio de quem, onde, quanto e por que as pessoas lêem e
SILVA, 2005; NONATO, 2006) perceber que a questão do letramento é ainda mais
de aula em geral privilegiam aspectos que partem da linguagem oral. Nesse caso o
ativa do mesmo nos contextos lingüísticos. A falta de uma língua em comum em sala
70
com relação à língua portuguesa (FERNANDES, 1990; GÓES, 1999; SILVA, 1999).
pois passa para uma discussão acerca das práticas envolvidas neste processo: do
Fernandes (2006a) traz uma reflexão acerca de que a maior parte dos
esta uma experiência auditiva. Diante disso, a autora aponta que a alfabetização não
71
deveria ser o foco na educação dos surdos, mas deveriam ser tomadas como ponto
mesma. Como afirma Padden (1990), enquanto a criança ouvinte pode usar os
aprendizado da escrita. Neste sentido, como refere Gesueli (1998), do ponto de vista
considerar o modo pelo qual esse sujeito é inserido no mundo da escrita, assim
crianças surdas, já que em sua maior parte são filhas de pais ouvintes, com os quais
cotidiano. Dessa forma, ao contrário da criança ouvinte que já chega à escola com
uma bagagem lingüística, a criança surda não chega com conhecimento suficiente
para a atribuição de sentido à escrita, o que ocasiona uma defasagem no que diz
falta de vocabulário costuma ser apontada como uma das principais dificuldades dos
2005).
com 110 surdos17 de escolas públicas a fim de investigar seu desempenho frente a
um teste de linguagem escrita18. Esse teste foi apresentado em duas partes, sendo a
Essa pesquisa revelou que, de um modo geral, apenas 17% dos alunos
17
As autoras referem surdos e alunos com dificuldades de audição, assim como em outras pesquisas
americanas (ANGELIDES, ARAVI, 2006/2007; MITCHELL, KARCHMER, 2004) , no que diz respeito a
pesquisas com surdos é utilizado também o termo hard of hearing, a fim de diferenciar o sujeito com
perda auditiva profunda (deaf) e o sujeito com perda auditiva moderada (hard of hearing).
18
O teste TOWL-3 (Hammill & Larse, 1996) é um teste de escrita americano utilizado em larga escala
nos Estados Unidos, sendo utilizado em diversas pesquisas que visam avaliar o nível de letramento
dos sujeitos.
73
sintaxe. Entretanto, no que diz respeito à produção espontânea, a maior parte dos
1990; SILVA, 1999; ANTIA, REED, KREIMEYER, 2005), há outras questões que se
de modo que o contexto em que esse vocabulário está inserido, na maioria das
em seu processo de escolarização. Diante disso, foi possível perceber, a partir das
narrativas dos surdos, que, a relação desses sujeitos com a escrita é carregada de
frustrações e dificuldades, pois é marcada por situações que não privilegiam o uso
que esta era solicitada sem nenhum propósito, sem objetivos, partindo de temas,
uma função social ao abordar o trabalho com a língua escrita. A atenção para a
fazer com que o sujeito torne-se até um bom decodificador ou copista, porém, com
aula, Silva (2005) pôde perceber que as práticas de letramento realizadas com
alunos surdos em sala de aula do ensino regular são restritas, quando existem,
sendo realizadas com maior ênfase em outros contextos, como em casa ou com
com o aluno surdo, de modo que a ele são proporcionadas atividades quase que
mesmo. Por outro lado, ainda, a questão da cópia gera certo alívio para o professor,
pois a partir desta prática tem-se a impressão de que o aluno está compreendendo.
Assim, a autora destaca a situação de uma aluna surda ao tomar a escrita a partir de
75
aluno pode entender que aprender é sinônimo de copiar e o professor tem a ilusão
um fato que ocorre somente com os surdos, mas em grande parte das práticas
escolares também com ouvintes. O uso corrente de livros didáticos que não refletem
o uso significativo da linguagem, acaba referindo a linguagem escrita como algo sem
função no ponto de vista do aluno. Sobre esse aspecto Fernandes (2003) destaca
que:
atividades de leitura e escrita com alunos surdos para além do trabalho com
Dessa forma refletem o uso vivo da linguagem que circula socialmente e por isso se
surdo é imprescindível que haja uma reflexão acerca de seu verdadeiro significado e
estejam presentes socialmente e que sejam percebidos pelo aluno como objeto
cultural. A fim de privilegiar essas questões, Fernandes (2003) sugere que alguns
lexicais, gramaticais e intertextuais): não se propõe que seja feita uma leitura
linear do texto, traduzindo palavra por palavra, mas sim possibilitar a elaboração de
lingüísticos de acordo com a função que o texto exerce, de modo que o professor
atua como mediador na percepção dos aspectos formais, como por exemplo, o uso
texto como algo mais que um amontoado de palavras é fundamental à leitura como
possa perceber uma função: “Uma lista de compras, a compreensão de uma bula ou
ainda que os aspectos acima citados tenham sido propostos diante de uma
dos mesmos como ponto de partida para o trabalho com a escrita, não trará
privilégios apenas para o aluno surdo, mas para toda uma sala de aula.
Diante das reflexões até aqui expostas é possível perceber que ao abordar a
escrita como pontos fundamentais na constituição de sujeitos que possam fazer uso
19
As propostas de práticas de Letramento organizadas pela autora foram desenvolvidas com um
grupo de surdos sob a perspectiva de uma Educação Bilíngüe, em uma Escola de Surdos. Hoje,
essas propostas são desenvolvidas em vários contextos, não é, portanto, apenas um projeto, mas um
fato.
79
efetivo destes aspectos, a escola não é a única responsável por esta questão. É no
interpretações que serão por ela usados enquanto sujeito letrado (ROJO, 1998).
argumenta Machado (2007): “Na medida em que o adulto vai atribuindo sentido às
num objeto de importância no contexto familiar, a criança, junto com o adulto, passa
contatos com a linguagem escrita, passa a interagir com o mundo letrado, o que fará
diferença futuramente no lugar que será concebido a esta modalidade pelo sujeito.
Se desde cedo uma criança convive com materiais de leitura, como livros, jornais e
lápis, borracha, papel, ao ingressar na escola achará tudo muito natural e lógico, já
que será uma continuidade daquilo que já vivenciava em casa (CAGLIARI, 1995).
Em concordância com essa ótica Galvão (2003) refere que: “quanto mais
de também usar a leitura e a escrita em seu cotidiano.” (p. 148). Entretanto, a autora
escola sendo capazes de perceber a função social da língua escrita. Por outro lado,
linguagem escrita somente a partir dos textos que lhe são apresentados na escola,
que em geral, são textos “acartilhados”, como denomina o autor. Dessa forma, o
importância.
nas práticas discursivas no meio familiar torna-se agravante devido ao fato de que a
maior parte dessas crianças são filhas de pais ouvintes, estando então,
20
A autora referencia que de acordo com Heath (1982, p. 50) eventos de letramento são “eventos em
que a linguagem escrita é essencial à natureza das interações e aos processos e estratégias
interpretativas de seus participantes”.
81
são com elas compartilhadas. Somente cerca de 5% a 10% dos surdos são filhos de
pais surdos21 (PADDEN, 1990; QUADROS, 1997; SKLIAR, 1998), o que lhes
adultos.
relação aos surdos filhos de pais ouvintes, devido ao fato da possibilidade de uma
surdos têm para aprender a ler e escrever ao fato de não ouvirem, ou de não
ANTIA, REED, KREIMEYER, 2005; DECHANDT, 2006) têm mostrado que muitos
surdos que não desenvolveram a linguagem oral ou tem pouco conhecimento sobre
21
Alguns autores relatam a ocorrência de 5% de surdos filhos de pais surdos, outros relatam esta
ocorrência como sendo de 10%. Isto pode se justificar por termos referenciado pesquisadores do
Brasil e americanos.
82
considerar que, para além dos aspectos relacionados à surdez propriamente dita, a
leitura e escrita por estes sujeitos. Contudo, essa interação, muitas vezes se torna
difícil, devido ao fato de que a maioria das crianças surdas nasce em famílias de
ouvintes, o que implica os pais procurarem um meio para que possam interagir com
de haver, por parte da família uma valorização do diploma escolar, como requisito
importante na vida futura do surdo, a escrita não ocupa lugar privilegiado no seu dia-
durante as conversas com as mães, pouca ênfase em relação ao uso da escrita fora
dos propósitos escolares, por serem essas mães, geralmente, de camadas sociais
mais pobres e elas mesmas com muito pouco contato com a escrita.” (p. 126).
não denotam, para algumas mães, situações de uso efetivo da linguagem escrita,
83
pois estas, para elas, só podem ser efetivadas em situações que estejam ligadas a
tarefas escolares.
Assim como para grande parte de professores que atuam com alunos
surdos, sobretudo no ensino regular, para grande parte dos pais, sobretudo de
compreensão, tanto para os pais, quanto para o professor, que ao deparar-se com
mesma forma que por meio da cópia o filho/aluno simula estar se apropriando do
no âmbito familiar, pois ao passo que não há uma percepção de que se o filho surdo
nas interlocuções capaz de permitir a este sujeito que demonstre isto. Acerca disso,
Silva (2005) enfatiza, ainda, que família e a escola constituem juntas o modo
pelo qual a criança irá constituir-se como leitora e autora. Em sua pesquisa, a partir
uma criança surda como leitora e autora no âmbito familiar e a valorização de suas
(...) pela forma como foi posicionada em sua casa, como leitora, como
autora e de ter sido apresentada aos livros de forma lúdica e significativa. A
participação dessa menina surda na vida familiar é também diferenciada e
as viagens de que participa, inclusive na escola, lhe deram oportunidade de
adquirir conhecimento sobre o mundo de forma mais crítica que os demais
alunos surdos, de sua idade ou até mais velhos (...).
Mas isso ocorre também em função de essa menina ter sido desde cedo
levada pela família para esse mundo da escrita e terem sido valorizados
esses momentos de escrita em família. (...) Essa mãe, ao contrário das
outras, posiciona sua filha como um ser capaz de aprender a ler, de
escrever e a conseqüência pode ser esta: a menina se sente autorizada a
seguir em frente, fazendo hipóteses, errando, acertando, se cercando do
português - mesmo sendo usuária de uma língua de sinais - e fazendo dele
também algo familiar, se não pelo ouvido, mas pelo maior uso da escrita e
pela leitura em casa e na escola. (SILVA, 2005, p. 152).
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
processo, que aqui diz respeito à maneira como a educação escolar e o letramento
experiência que não faz parte do cotidiano docente, ainda que a realização de
paradigma muito útil destaca-se o fato de que o significado humano da vida social e
pesquisa. Esse paradigma, ainda, não se restringe à qualificação, uma vez que
dados numéricos que podem ser úteis para uma melhor compreensão do contexto
que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, há um vinculo entre o
Biklen (1998 citado por TURATO, 2000), o pesquisador tem como alvo
4.1 A PESQUISA
Grupo de pais: Com o grupo de pais foram desenvolvidas entrevistas (anexo 1),
do filho surdo. Optou-se por utilizar o método da entrevista, a qual sob uma visão
(FREITAS, 2003).
22
O CAES está situado, atualmente, no espaço de uma escola regular da rede pública do município.
23
A entrevista foi proposta para os pais, não especificamente pai ou mãe. Compareceu à entrevista o
responsável que geralmente se faz presente quando solicitado.
88
Como se pode observar no quadro acima a maioria dos pais estudou até a
surdo, apenas uma mãe revela utilizar os “sinais”, além da fala, os demais referem
comunicar-se oralmente. Apenas uma mãe aponta ter feito curso de língua de sinais,
No que diz respeito às práticas de leitura a maioria referiu que tem o hábito
de ler, três mães referiram não ter o hábito de ler. Dentre os materiais de leitura
contexto social de baixa renda, em que, na maioria das vezes, o acesso a bens
têm um aluno surdo em sala de aula que freqüenta o CAES e que atuam no ensino
com questões fechadas e abertas (anexo 2), por ser este o instrumento mais
* Libras básico
** Adicional
90
aula é, em geral, acima de 25, sendo que apenas duas professoras relataram ter
superior a cinco anos, com exceção de uma professora que está na área docente há
apenas cinco meses. Dentre os professores, apenas uma professora já havia tido
aluno surdo em ano anterior em sala de aula, para os demais esta é a primeira vez.
A maioria dos professores está na área docente há mais de dez anos, porém
apenas quatro (33%) possuem curso relacionado à área da surdez (Curso Adicional
e Libras). Convém comentar que o curso Adicional24, extinto há cerca de dez anos,
Serão destacados alguns dados acerca dos alunos, caso possa auxiliar
posteriormente.
Criança 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Idade 07 13 08 09 12 07 15 11 11 11 11 09
Série 1ª 4ª 1ª 4ª 4ª 1ª 5ª 5ª 4ª 5ª 5ª 1ª
24
O curso Adicional em Deficiência Auditiva perdurou até o final dos anos 90. Segundo Strobel (2006)
até então, o modelo clínico predominou na educação de surdos em detrimento dos objetivos
educacionais, priorizaram-se os objetivos de reabilitação, assim: “(...) houve projetos de formação de
professores leigos que muitas vezes faziam papel de fonoaudiólogos, ficando assim a proposta
educacional direcionada somente para a reabilitação de fala aos sujeitos surdos.” (p. 248)
91
defasagens.
inseguranças tanto para os pais destes alunos, quanto para os professores que se
presente pesquisa busca coletar dados que possam contribuir para uma discussão e
professores.
92
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO
SURDO(A)
sujeito. A família é, assim como pontua Guarinello (2000), o primeiro local em que as
capacidades das crianças são desenvolvidas, ao mesmo tempo que, como referem
contexto familiar terá grande influência sob a imagem que terá de si mesma
(STELLING, 1999).
local privilegiado na formação dos sujeitos. No que diz respeito às crianças surdas, é
entidade, possa cumprir com sua função. Nesse aspecto, considerando o contexto
aula.
com que os pais se comunicam com seus filhos justamente para saber se a língua
surdo, 100% dos pais apontaram que se comunicam por meio da fala, dentre eles
apenas uma mãe afirmou fazer uso também, ocasionalmente, dos sinais. Em outra
apenas uma das mães apontou que sim, entretanto não foi esta mesma mãe que
Para Bakhtin (1999) a língua é produzida num contexto social e dialógico, em que a
a criança surda venha a apresentar, nem pela sua alienação nos contextos
filhos, apenas 25% dos pais referiram que sempre participam das atividades
escolares e comparecem à escola, como retratado nesta fala: “Eu sempre mando
bilhete pra professora. Cobro tanto dele quanto da professora. Acho que não me
agüentam mais na escola, eu brigo pelo meu filho.” (mãe 4). Nessa fala é importante
considerar o fato de que a educação parece ser uma luta constante para a mãe,
como se estivesse que estar, sempre, cobrando por algo que já é de direito.
quando lhes é solicitado, como retrata esta fala: “Sempre que chamam eu vou.”
(mãe 12). Uma das mães (o que corresponde a 8% dos entrevistados) apontou que
nunca comparece à escola, e que a maneira com que participa da vida escolar da
95
caderno, mas não entende nada: “(...) Ás vezes olho o caderno, mas não entendo.
Nunca conversei na escola (...) não dá tempo.” (mãe 2). É possível perceber que a
mãe não questiona a filha acerca do que ela não entende, retratando que não existe
que, ainda que isto não se restrinja às crianças surdas, aponta para a falta de
interação efetiva com o contexto escolar dos filhos. A falta de interação pais-escola é
claramente percebida, o que reflete uma noção de que escola e família são
96
acordo com as expectativas de cada ambiente.” (p. 02). Sendo assim, tanto escola,
desempenho escolar do filho, 50% dos pais apontaram que consideram que o filho
é regular e 25% ruim. Neste sentido convém refletir: de que maneira os pais
para concluir que o filho está tendo ou não um bom desempenho escolar?
Certamente o simples ato de olhar o caderno não é fator suficiente para que
nenhuma das questões levantadas que conversam com o filho sobre questões
que apesar de estar com suas atividades em dia no caderno, a criança pode não
da cópia, já que esta é uma prática comum que muitas vezes não é compreendida
97
entende o que está escrito em seu caderno, sobretudo, quando isto se refere a
Sobre esse aspecto Silva (2005) pôde perceber, em pesquisa realizada, que,
expectativas, a maioria, 67%, afirma estar insatisfeita. Cabe ressaltar que entre
estes estão justamente aqueles que sempre se fazem presentes na escola, o que
não se pode deixar de considerar, já que, ainda que seja uma minoria (25% dos
referindo que esta não está preparada para atender às especificidades do aluno:
“(...) atendem muito mal os alunos. Pior é que não tem outro jeito tem que
“Eu acho que deveriam dar mais atenção para este caso. Eles tratam com
98
preconceito.” (mãe 6)
“Eu acho que eles ainda estão meio perdidos (...) não entendem o jeito que
atenção específica que deveria ser dada ao filho, o que denota o reconhecimento
por parte deles de que há realmente uma diferença a ser levada em consideração
que não está sendo contemplada. O mau atendimento ao aluno, o fato de a escola
professores estão retratados nitidamente na voz dos pais. O que significa que estão
por exemplo, em torno da visão em torno do sujeito surdo. A mãe 10 traz uma
questão importante ao afirmar que “Uma vez um professor perguntou porque ela não
que a surdez é uma experiência visual, o “olhar” é que estabelece as condutas para
o surdo. A mãe 3 traz uma fala que chama atenção, ao dizer “pior é que eu tenho
que deixar ela lá” como se o contexto político e educacional que estabelece a escola
Quando indagados sobre o que estão fazendo para melhorar, já que estão
insatisfeitos, alguns pais referiram que manifestam sua indignação exercendo certa
cobrança na escola, como é possível perceber em uma das falas que retrata as
demais: “Tô sempre cobrando deles...” (mãe 8). No entanto, algumas afirmativas
chamam a atenção:
“Não reclamo como a maioria faz, nem vou na escola pra saber o que ta
acontecendo...” (pai 1)
escola não corresponde ao que esperam, não se vêem no direito de exigir melhoras,
A insatisfação dos pais foi retratada também quando interrogados sobre qual
seu ponto de vista a respeito da atuação dos professores com seu filho em sala de
aula: 67% dos pais afirmaram estar insatisfeitos com a atuação do professor em
uma das falas, inclusive, foi possível perceber que há um pré- conceito no que diz
respeito a esta questão: “Até agora não conversei com a professora. Mas acho que
é igual às outras, reprime ele, não dá atenção.” (mãe 3). Esse modo de perceber e
julgar a postura da professora retrata, de certa forma, a visão que a mãe tem, mas
não necessariamente possa ser a realidade, já que ela mesma afirma nunca ter
fala que, assim como dos outros pais, retrata um contexto no qual não são tomadas
deve ser dispensada unicamente ao aluno surdo, mas ponderar que há uma
particularidades entre os demais alunos, que não dizem respeito à surdez, mas a
uma outra mãe, ao manifestar seu ponto de vista em relação à atuação do professor
em sala de aula: “Acho que são como são com os outros, não tem um atendimento
que deveriam ter. Ela é só mais uma.” (mãe 2). Nessa fala pode-se supor que a mãe
se refere a uma atenção diferenciada com o filho por parte do professor, sobretudo
em consideração. Além disso, a mãe retrata que seu filho não é uma exceção, que
visões dos pais em torno da educação escolar da criança surda, e como essas
na educação escolar foi percebida, da mesma forma que a língua de sinais não foi
apontada pelos mesmos, o que denota que a surdez não constitui, para eles, uma
diferença a ser levada em consideração. Por outro lado, ao se colocar como pai de
aluno surdo, aí sim, há uma inferência de que a surdez constitui uma diferença a ser
forma, atribuem à escola uma responsabilidade que muitas vezes, eles, enquanto
professores.
ALUNOS SURDOS
aluno surdo por parte do professor, a fim de se estabelecer uma relação com o
aula;
102
língua de sinais;
com relação à atuação do professor em sala de aula. Será destacado aqui que, em
participação dos pais do aluno surdo na escola, 75% dos professores apontaram
participação dos mesmos e 8% afirmou não ter conhecimento acerca do fato. Essa
questão coincidiu, em geral, com o que foi afirmado pelos pais, já que a maioria
revelou comparecer à escola somente quando solicitado. Cabe aqui ressaltar que
constantemente há uma cobrança tanto dos pais para com o professor quanto deste
para com os pais, entretanto, não são tomadas atitudes que possam superar esse
Outro dado a ser pontuado é com relação ao modo com que é estabelecida
a comunicação com a criança surda no âmbito familiar. Ao analisar as falas dos pais,
foi possível perceber que existe uma barreira lingüística que impede a criança,
casa, considerando que a língua de sinais não foi por eles apontada. Tal barreira,
entretanto, não se faz presente somente no contexto familiar. É sob esse aspecto
que se focaliza nessa pesquisa a questão da inclusão escolar, tendo em vista que é
nesse contexto que tal barreira também se estabelece. Sendo assim, voltar o olhar
103
perceber de que maneira os mesmos interagem com seu aluno surdo e se este
aluno em sala de aula, 92% dos professores referiram que se utilizam da fala,
labial. Outras duas professoras (25%) referiram a leitura labial, sendo que uma delas
25%
8% 8%
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Fa labi to ra ro
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Série1 11 3 1 0 1
fala. Isso leva a questionar sobre a realidade da inclusão. Se não estão sendo
a língua de sinais, então a inclusão não está sendo concretizada. Conforme Bakhtin
Dessa forma, para além da comunicação, é necessário que a criança tenha acesso
que pressupõe que pode haver algum tipo de comunicação, no entanto não há
comentário: “ele (a) faz leitura labial.”, ou: “acho que ele (a) entende pela leitura
labial.” Acerca disso, Botelho (1999) refere que apenas 25% do que se diz pode ser
identificado, isto pelos melhores leitores labiais e que apesar de a leitura labial ser
compreensão:
a ser considerado.
família, quanto na escola, pois ao serem indagados sobre como consideram seu
(67%) referiu que considera seu conhecimento sobre a surdez regular, pois conhece
a maioria, 59%, referiu que considera insuficiente, pois apenas conhecem alguns
de sinais, o que se deve ao fato de ter uma filha surda, entretanto, essa mesma
que esta proposta foi estabelecida já há alguns anos e que a inclusão de surdos no
ensino regular não é uma novidade. Chama a atenção apenas uma professora
área docente há mais de dez anos, apenas uma professora (8%) teve aluno surdo
em sala de aula em anos anteriores, as demais nunca haviam tido essa experiência.
106
No que diz respeito à formação para atuar com aluno surdo, apenas 33% possui
aprofundados. Acerca disso, convém salientar que ainda que o professor deva, por
turmas, como ocorre no início de cada ano letivo, não é colocado em evidência a
determinada área pudesse atuar, sendo sua formação um ponto que viesse
acima citada.
surdo e os demais;
não percebem diferenças, enquanto 67% dos professores afirmaram perceber sim
que há diferenças. De modo geral, tais diferenças parecem consistir no fato de que o
“Ele tem medo de se expor, nega-se a fazer o que julga não ser capaz de
executar.” (prof. 3)
108
“Com o aluno surdo o trabalho é mais lento, deve ser mais detalhado, é
Torna-se necessário refletir nesse ponto acerca dos motivos que levam a
surdez, mas de situações contextuais em que está inserido, pois se para ele, como é
para o ouvinte, determinada situação não é significativa, seja por não dispor de uma
língua em comum com o professor, seja pelo fato de não se estar utilizando
estratégias que lhe despertem interesse, desviará sua atenção do que está sendo
abordado.
No que diz respeito ao surdo ‘ser lento’, parece claro que quando o meio de
conteúdos ocorre por vias diferentes dos demais alunos, pois enquanto estes
sobre o quê se fala, buscando alternativas que a levem cumprir o que se pede ou
professora, a qual está entre aquelas que afirmaram não perceber diferenças na
aprendizagem entre o aluno surdo e os demais, que diz: “(...) no caso da minha
aluna, pergunto a ela se tem alguma dificuldade, ela diz que está tudo bem.” (prof.
11). Ou seja, a professora conclui que a aluna está compreendendo porque há uma
resposta positiva. Entretanto, essa é uma estratégia comumente utilizada pelo aluno
surdo, a fim de manter-se em sala de aula, como bem pontua Fernandes (2006b): “A
ouvintistas que se fazem presentes em algumas falas, como por exemplo, dos prof.
dos ouvintes a partir do qual o surdo está obrigado a olhar-se e a narrar-se como
exemplo, prevalece a visão ouvintista, sem perceber que a desatenção, assim como
110
pelo surdo.
seja não se percebe que o aspecto visual, para o surdo, é muito importante.
escolar do aluno surdo em sala de aula, 50% afirmou que o aluno apresenta um bom
que:
(prof 1)
propostas.” (prof.4)
uma falta de compreensão por parte do aluno, o que acaba refletindo no seu
(prof. 2). Ou seja, nessa última afirmativa percebe-se que o professor não tenta
Interessante perceber que nas falas dos professores que consideram que o
os professores parecem ter dificuldades em assumir que o aluno não está tendo um
as afirmações vêm seguidas do “mas”, “embora” (prof. 8 e 9), retratando ainda que o
relação ao mesmo sujeito, apenas 33% das respostas coincide, ou seja, na maioria
das vezes a visão dos pais sobre o desempenho do filho, não foi a mesma do
desenvolvem bem em sala de aula, na visão dos pais tem um desempenho ruim.
a) reflexão que o próprio professor faz acerca do seu trabalho com o aluno e
10).
de que alguns entraves no trabalho com o aluno surdo têm a ver com a sua própria
dificuldade em lidar com a surdez, desse modo assumem que têm dificuldades.
estabelecer ações políticas que tenham a diferença como parte da educação e não
diferenças, até o próprio termo inclusão tenderia a desaparecer, já que não seria
relação ao trabalho com o aluno surdo em sala de aula, a maioria, 75%, pontuou
“(...) até hoje o estado não nos proporcionou nenhum curso que nos
(prof. 9)
formação continuada para que o professor possa ter acesso a novos caminhos e
destes professores, não é propiciado por parte do município, como eles mesmos
apontaram. Isso não se aplica ao Estado, contrariando o que foi referido pelo
vezes é que, o professor não dispõe de tempo ou ainda não se dispõe a participar
de tais cursos, ou ainda, não lhe são repassados por outros profissionais que têm a
oportunidade de participar.
mas no que diz respeito à prática pedagógica, deveria ser um exercício constante,
ainda que não seja uma tarefa fácil, para que a partir de uma análise da própria
prática possam surgir indagações que apontem para novas buscas, novas reflexões
em sala de aula.
com o aluno surdo? Apenas 50% dos professores afirmaram que utilizam algum tipo
Nas falas dos professores foi possível verificar que há, na verdade, a falta de
uma noção acerca do que são e de quais estratégias utilizar, o que pode ser
visualizado na fala de uma das professoras que afirma: “(...) procuro não trabalhar
com textos extensos e de difícil compreensão.” (prof. 7). Cabe aqui algumas
diz respeito à noção que se tem de texto. Geraldi (1997) refere que o texto não deve
ser tomado como um produto pronto e acabado, mas como um trabalho produtivo,
professor, e pelos alunos, de seu papel produtivo.” (p. 113). Sendo assim, falar-se
O segundo ponto diz respeito à idéia que se tem de que o surdo não
atribuído justamente ao fato de se ter como base uma língua que ele não domina.
Porém, esse seria justamente um motivo para não reduzir, mas ampliar as
visual (o que não contemplaria somente o surdo, mas toda a turma), entre outros.
classe, etc.
afirmaram que sim, em geral os mesmos que afirmaram fazer uso de estratégias
texto, e o que mais chamou a atenção foi o fato de entre estes, 33% afirmar fazer
uso da avaliação oral, como se pode observar nas seguintes falas ao se referirem ao
tipo de avaliação diferenciada que utilizam: “às vezes faço oralmente” (prof. 2), “A
oral para desenvolvimento de sua dicção.” (prof. 10). Ou seja, o aluno é ‘avaliado’
118
Dos 42% dos professores que afirmaram não utilizar avaliação diferenciada
apenas um (8%) justificou não o fazer por não dispor de diretrizes específicas, que
ter um amparo pedagógico que possa orientá-lo, o que de fato ocorre, pois as
inclusão, reivindicar por mudanças nas diretrizes, já que estas são construídas
avaliação e de qual é sua função? O que, quando e por que se avalia? Nas
conceber a avaliação como um processo contínuo, que por isso não deve se dar em
implicações da surdez.
119
com que o professor conduz sua prática tem a ver com seu modo de conceber o
ensino e que teorias toma como base para o seu trabalho, de modo que esta
professores, 42%, fizeram apontamentos que refletem a falta de uma base teórica
“Em diversas teorias que muitas chegam a ser contraditórias, mas ainda
no tradicionalismo.” (prof. 8)
sua prática, considerando que é a partir de uma determinada base teórica que se
do professor em sala de aula. O que parece, diante dessas falas, é que não há, por
parte dos professores, uma aproximação das concepções que deveriam nortear seu
família é possível perceber que há, em geral, falta de compreensão acerca dos
como pano de fundo para estas práticas. Na discussão e análise será enfocado
qual a visão de seus pais e professores acerca desse processo. Sendo assim,
analisar que práticas de letramento permeiam (ou não) estes dois contextos é de
121
sujeito surdo no mundo letrado. Para isso serão tomados como norte os seguintes
questionamentos:
da leitura e da escrita no seu cotidiano tem a ver, entre outros fatores, com sua
âmbito familiar das crianças surdas focos dessa pesquisa, procurou-se averiguar
bem como de que modo percebem a relação de seu filho com a leitura e a escrita.
letramento das famílias para que se possa perceber em que práticas de letramento
em casa apontados pelos pais, 100% apontaram a Bíblia, 75% relatou que possuem
livros em casa, 42% citou revistas, 33% jornais e 50% relatou possuir outros tipos de
122
considerar que apenas 50% dos pais apontaram possuir mais de dois tipos de
todos os pais entrevistados. Essa ocorrência é muito comum, assim como retratado
assim como refere Galvão (2003) o acesso a esse tipo de material é facilmente
obtido por amplas camadas da população, além disso, as práticas de leitura desses
materiais são mediadas pela oralidade, sobretudo nas igrejas, o que proporciona,
muitas vezes, o reencontro com trechos já memorizados, fazendo com que a leitura
e escrita que circulam socialmente, a Bíblia pouco contribui, já que os gêneros que
garante o hábito de leitura por parte dos pais, pois quando interrogados sobre se
possuem o hábito de ler, 33% afirmou que não, nunca lê. Dos 67% que afirmaram
ter o hábito de ler, 41% referiu somente a leitura da Bíblia, os demais referiram
enciclopédias, gibis, panfletos, entretanto estes não foram referidos como lidos, no
Percebe-se que apesar de a maioria dos pais referirem que têm o hábito de
ler, essa leitura é restrita à Bíblia e a revistas. Cabe aqui, refletir sobre uma questão:
123
por uma obrigação que trazem arraigada por fatores religiosos e históricos?
Diante disso, convém indagar sobre qual o lugar da criança surda nessas
práticas de leitura pelos pais, ainda que estas sejam restritas. Se o hábito de leitura
pelos pais é restrito, como a criança insere-se nesse contexto? Visando verificar se
familiar, os pais foram questionados se têm o hábito de ler para/com seu filho surdo.
Nessa questão 67% dos pais afirmaram que às vezes lêem para o filho, enquanto
com/para seu filho?) em geral, os pais que responderam sim, demonstraram uma
fosse refeita, outros ficaram quietos por alguns segundos, como se estivessem
não, quer dizer, às vezes”, “Ah, às vezes”. Assim, pode-se supor que na visão dos
pais, ler com/para o filho surdo seria uma tarefa impossível ou desnecessária, já que
se tem a impressão, muitas vezes, de que por não ouvir, o surdo não compreenderá.
Nesse caso a leitura não seria então vista como uma prática social necessária.
prioritariamente, que a leitura não deve ser percebida apenas como decodificação
ou meramente como um hábito, mas como prática social da linguagem, ligada aos
Foi possível perceber que justamente entre aqueles que deram uma
resposta negativa, dizendo nunca terem lido com/para o filho (33%) não houve
hesitação, ou seja, a resposta foi curta e objetiva: “Não”. Estes pais, portanto, não
124
procuraram dar uma resposta que soasse a ‘mais politicamente correta’ possível,
É fato que, no caso das crianças surdas, a inserção nas práticas cotidianas
estabelece nas relações diárias, entretanto, o convívio com a língua escrita e com
cenas de leitura lhes trará possibilidades para que possam perceber a função da
linguagem escrita e que mais tarde, ao deparar-se com o ensino formal da língua
âmbito escolar, pois além da família, a escola é um local que, por excelência, atua
como os alunos surdos estão sendo inseridos nestas práticas, buscou-se saber dos
argumentativos (67%) e discursivos (50%). Com relação aos gêneros textuais, foram
notícias (67%), receitas (58%), cartas (58%), piadas (33%). Cabe esclarecer que as
125
Entretanto uma das opções dizia respeito a outros (ou seja, outros tipos e gêneros
textuais) a ser apontado pelo professor, o que não teve nenhum apontamento.
questão: ”De que fontes você retira os textos a serem abordados em sala de aula?”,
que alguns professores tenham feito referência a revistas (83%), jornais (42%),
internet (25%), gibis (8%), o livro didático parece ser o grande aliado na seleção dos
aborde, por exemplo, uma reportagem, uma receita, uma carta, se estes são
referidos no livro didático, então o gênero é o livro didático, já que é ele o portador
em trazer para a sala de aula o jornal, a revista, a bula de remédio e outros, o que
Outra questão que chama atenção diz respeito à forma como os textos são
giz (83%), em folhas digitadas (100%) e no livro didático (67%). É possível perceber
difícil, muitas vezes, para o professor dispor de meios para tornar o acesso a
aula, vai muito além de ater-se à questão em torno de que fontes são retirados os
sentidos em que: “a leitura se incide sobre ‘o que se tem a dizer’ porque lendo a
palavra do outro, posso descobrir nela outras formas de pensar que, contrapostas às
(p. 171).
aula o professor deve ponderar o que esse material “tem a dizer” e qual a função do
que se aborda, não sendo tomado apenas como um meio de estimular operações
127
Sendo assim, o trabalho com a linguagem escrita deve ter como base a
considerando a inclusão do aluno surdo em sala de aula, já que se trata para ele, de
uma língua que ainda está se apropriando, diferentemente da criança ouvinte que já
informalmente, o que não significa que para esta não seja necessária a abordagem
de aula é preciso que o professor perceba que enquanto a criança que ouve já vem
com alguns conceitos acerca da linguagem escrita, a criança surda terá muito a
compreender:
entre esses 41% afirmou também partir de palavras, sílabas isoladas ou letras do
resquícios tradicionalistas, nos quais se partia da letra, para a palavra, para a frase e
ensino o professor toma como base em sua prática, como apontado anteriormente,
possível então, relacionar o fato de todos terem apontado o trabalho com a escrita a
partir de textos inteiros, justamente por ser esse um dos pontos abordados em tais
verdadeira noção teórica que norteia sua prática ou somente é induzido por políticas
educacionais que exigem este ou aquele tipo de abordagens para o trabalho com a
língua? Já que algumas vezes há uma recaída ou uma recorrência a práticas que,
aula. A partir dos depoimentos dos professores foi possível verificar que essas
utilizam com os alunos para o trabalho com a leitura e a escrita, ainda que todos os
“cópia” o aluno raramente sabe responder. Diante disso, cabe questionar: qual a
função desse trabalho? O que isso acrescenta para o aluno, que não seja a
exaustão e a não percepção das reais funções da escrita, levando-o, muitas vezes,
mesma.
Outro fator a ser considerado é a prática do ditado, inferida por 25% dos
dessa pesquisa têm em sala alunos surdos, o que deveria ser levado em conta ao
se propor tal “exercício”. Se para alunos que ouvem, esta proposta já se traduz
muitas vezes num ato mecânico e sem sentido, quanto mais o é para o aluno surdo,
que certamente, por não ouvir o que está sendo “ditado”, não concluirá a atividade, o
diferente que o tradicional “ditado de palavras”, como por exemplo: a professora ditar
um bilhete a ser entregue aos pais, ou o aluno ditar algo para o professor escrever,
relação aos demais, além disso, não se estaria considerando o contexto da inclusão,
aluno, pois 18% fez referência ao trabalho com resumos, comentários, debates,
dramatização, teatro, o que de certa forma leva a supor que nestes contextos o
linguagem escrita é de suma importância tanto para surdos quanto para ouvintes,
Diante das reflexões alçadas até aqui, pode-se perceber, a partir das vozes
práticas de leitura e escrita que considerem realmente o modo como a criança surda
Cabe ainda refletir sobre de que modo o surdo irá constituir-se enquanto leitor e
131
autor, se as práticas em que está inserido não privilegiam, antes de tudo sua
diferença lingüística.
uso significativo da língua certamente terá um reflexo na maneira como o surdo irá
também como sua relação com a leitura e a escrita é percebida nos contextos em
que está inserido, pois como referido anteriormente, somos constituídos, também, a
5.3.2 “Acho que ela sabe escrever, mas não sabe ler”: A visão dos pais e
processo de leitura e escrita. Para isso foi levantado o seguinte questionamento aos
Apenas 17% dos pais afirmaram que seu filho sempre compreende o que lê,
58% afirmou que acham que o filho “às vezes” compreende o que lê 17% afirmou
132
que o filho nunca compreende o que lê e 8% afirmou que não percebem se o filho
8%
17% Compreende o que lê
17%
Às vezes compreende o
que lê
Nunca compreende
Não percebo se
58% compreende ou não
pais que afirmaram que o filho sempre compreende o que lê: justificaram da
seguinte forma:
“Porque além de ler, ele interpreta. Ele tem muito interesse.” (mãe 4)
“Tem coisas que ela explica o que é e tem coisas que ela pergunta quando
destacar é que estas mães estão entre aquelas que afirmaram às vezes ler
133
com/para o filho, o que poderia justificar o fato de perceberem como está sendo a
No que diz respeito aos pais que afirmaram que o filho nunca compreende o
“Ela não conhece nem as letras. Ela sabe escrever o nome das pessoas da
“A gente às vezes pergunta e ela diz que não. Ela não entende nada.” (mãe 2)
pois, como se dá essa interação? De que maneira então, a criança demonstraria sua
não perceber se seu filho compreende ou não o que lê: “Ah, eu não sei...”.
Na primeira afirmativa o pai refere que a filha sabe escrever o nome das
pessoas da família, porém não conhece as letras. O que esse pai espera de uma
filha que cursa a primeira série? É preciso considerar que se trata de uma criança
que está na primeira série e que certamente ainda está se apropriando das primeiras
noções da escrita. Obviamente, é preciso considerar que os pais podem ter uma
que a filha não entende nada, ao afirmar “ela não entende nada”, a mãe parece
criança dar uma resposta negativa não significa que não entende ‘nada’. Pode-se
supor que essa resposta negativa, por parte da filha, seria a súplica por uma melhor
explicação acerca daquilo que ela ainda não compreendeu. No entanto, parece não
haver uma compreensão disso por parte da mãe. É importante considerar que essa
aluna está na quarta série, o que agrava ainda mais o fato de a mãe referir-se desta
forma, ou seja, se a aluna já está na quarta série como é possível não saber nada.
Duas hipóteses podem ser levantadas: ou não está havendo uma troca lingüística
efetiva entre mãe e filha, capaz de levar a mãe a perceber a compreensão da filha,
ou o ensino em que a aluna está inserida está deixando a desejar e ainda assim
porém não colocam situações que a criança faz da leitura no cotidiano. Cabe
ressaltar que esta questão, assim como outras levantadas anteriormente, geraram
inquietação por parte dos pais, sobretudo aqueles que responderam que “às vezes”
“Quando ele quer, ele entende, às vezes ele finge que não entende.” (mãe 5)
“Às vezes ele me pergunta o que não entende, ele quer saber de tudo.” (mãe 7)
observado em outros episódios de fala, esta parece ser a única que o filho procura,
pergunta, interage, ou seja, que o filho vai até a mãe possivelmente porque tem um
retorno para suas inquietações, o que demonstra haver uma boa interação da mãe
têm frente à leitura. Na primeira afirmativa (mãe 5) percebe-se que a mãe refere que
o filho entende quando quer, no entanto, o fato do filho não entender pode estar
relacionado ao significado que a leitura tem em sua vida, poderia se supor ainda
A última afirmativa (mãe 12) também chama atenção, já que a mãe refere-se
à letra do filho ter melhorado bastante, o que representa para a mãe que o filho ‘já
sabe ler’. Para essa mãe parece que ao haver uma melhora na letra do filho significa
que o mesmo já sabe ler. É importante destacar que em conversas anteriores, essa
mãe revelou não saber ler, nem escrever, fato este que talvez possa explicar a
imagem que a mesma tem acerca da relação do filho com a leitura somente a partir
de sua caligrafia.
136
No que diz respeito a seguinte fala: “Ela lê o nome dela e sabe o que é.”
(mãe 6), a mãe percebe que a filha reconhece a escrita de seu nome a partir da
questão. Ou seja, quando se tem contato com a leitura de um assunto que seja
significante e que o contexto dessa leitura seja algo familiar para o leitor, certamente
que não se deve privar o acesso à leitura de materiais que a priori possam parecer
assunto a ser lido, da mesma forma que ocorre com a escrita, pois é preciso
com a leitura, é possível verificar, a partir das justificativas por eles apontadas, que
ou não o que lê, não há, por exemplo, uma referência ao fato de o filho manusear
De que maneira então os pais são levados a concluir que o filho às vezes
(o filho) entendeu ou não, ou esperar que o filho pergunte sobre o que não entende.
Outra vez recai a questão acerca da falta de interação dos pais com os filhos.
com ajuda ou só copia, 75% dos pais afirmaram que o filho escreve sem ajuda, ou
17% afirmou que o filho escreve somente com ajuda e 8% afirmou que a criança só
0%
8%
percepção dos pais frente à escrita se relacionado com a leitura, pois parece haver
mais precisão quando referente à escrita. Entre os pais que afirmaram que o filho
escreve sem ajuda (75%), somente um afirmou também que o filho sempre
138
que lê. Neste ponto cabe destacar a visão de uma das mães acerca da sua
escreve espontaneamente, ou seja, sem ajuda, a mãe pontua que a filha nunca
compreende o que lê, afirmando: “Mesmo não entendendo o que escreve, mas
escreve. Acho que ela sabe escrever, mas não sabe ler”. (mãe 2)
Por meio das afirmações de alguns pais com relação à escrita e à leitura,
pode-se levantar a hipótese de que como a escrita é concreta, isto é, o pai/a mãe
visualiza o que o filho escreve, seu processo é percebido com mais facilidade, já no
que diz respeito a leitura, isto não é possível, pois como pais e filhos não possuem
entendem o que lêem ou não. Ao ter o registro escrito, ainda que se trate de cópias
entanto, a leitura torna-se um aspecto difícil de ser percebido por eles, justamente
por não ser ‘visível’ ou melhor, por não poder ser ‘ouvida’, ao passo que não há, por
quando interrogados se o aluno compreende o que lê, 25% afirmou que sim, 41%
afirmou que às vezes o aluno compreende o que lê, 17% referiu que o aluno nunca
17%
25% Compreende o que lê
Às vezes compreende o
que lê
17% Nunca compreende
Não percebo se
compreende ou não
41%
afirmaram não perceber se o aluno compreende ou não o que lê. Esse é um ponto
muitas vezes, por não “saber” se comunicar com esse aluno dificilmente poderá
Ao estabelecer uma relação da visão dos pais com a visão dos professores
dos pais e dos professores não se opõem significativamente, ou seja, não houve
mesma criança) afirmar que o aluno não compreende o que lê. Como pode ser
visualizado no quadro 4:
140
DA LEITURA DA CRIANÇA
Já com relação à escrita a maioria dos professores, 67%, referiu que o aluno
produções escritas, 17% referiu que o aluno escreve, porém, necessita de auxílio
constante, 8% afirmou que o aluno só copia e outros 8% afirmou que o aluno não
8%
8%
Escreve espontaneamente
17% Escreve só com ajuda
Só copia
Não escreve
67%
abordada no capítulo 3, não basta que o sujeito saiba ler e escrever, mas saiba fazer
compatibilidade de respostas dos pais com as dos professores, ou seja, com relação
à escrita pais e professores, em geral, têm uma mesma visão em torno do aluno:
DA ESCRITA DA CRIANÇA
1 Só copia Só copia
criança a maioria dos pais e dos professores tem um mesmo ponto de vista em torno
da mesma criança. Retoma-se aqui a idéia de que parece que a escrita pode ser
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
educacional, foi possível verificar que há inúmeros fatores que devem ser
repensados no que diz respeito ao sujeito surdo e a sua educação. Não somente
acerca da inclusão imposta pela lei, mas, sobretudo nas possibilidades de articular
ser considerada sua língua natural, seja por ele usufruída e reconhecida pelo
144
sistema educacional, não somente na forma de lei, mas em práticas que possibilitem
Nesse sentido a família e a escola têm um papel fundamental. A família por ser o
local primeiro em que a criança forma seus primeiros conceitos e a escola por ser
plenamente sua experiência visual, o que se torna mais agravante no que diz
letramento.
comunicação com a criança surda tanto no âmbito familiar, quanto no escolar, a fim
serem apontadas outras formas de comunicação, a língua de sinais, que para além
freqüente, por outro lado o índice de insatisfação dos mesmos em relação à escola
foi representativo, de modo que tal insatisfação diz respeito a: mau atendimento ao
145
preparo profissional. Esses dados revelam que os pais têm uma visão acerca da
desempenho escolar da criança foi possível constatar que apenas 33% das
respostas coincidiram, ou seja, na maioria das vezes, a visão dos pais sobre o
desempenho do filho, não foi a mesma do professor. Alguns alunos que na visão dos
pai em relação ao processo acadêmico do filho pode não ser a mesma do professor,
professores, a partir de suas próprias falas. Nesse aspecto procurou-se saber qual
seu conhecimento acerca da surdez e da língua de sinais. Assim, como foi possível
língua de sinais, o que revela um obstáculo, tanto para o professor, quanto para o
entre o aluno surdo e os demais, e ainda se faz uso, em suas aulas, de estratégias e
estratégias diferenciadas em sala de aula foi apontado somente por 50% dos
que há um desconhecimento por parte dos professores a respeito de que fazer uso
maioria dos professores afirmarem fazer uso, foi possível perceber incoerências ao
letramento que circulam no âmbito familiar e escolar. Nesse sentido ao retratar que
tipo de material de leitura há em casa, foi possível verificar uma restrição de gêneros
textuais, assim como em sala de aula, que apesar de ter sido apontado uma
147
é trazido para a sala de aula, ou seja, não é apresentado aos alunos, sendo que o
surdo em sala de aula, considerando que o ditado é uma atividade que tem como
com alunos surdos, Fernandes (1998) argumenta que deve ser considerada a
surda, houve algumas diferenças, porém essas diferenças não são totalmente
opostas, ou seja, não houve resposta contrária como o pai dizer que o filho
maioria das respostas dos pais e dos professores foi compatível, ou seja, pais e
professores, em geral, têm uma mesma visão em torno da escrita do aluno surdo.
já que prevalece uma língua da qual ele não tem o domínio. O mesmo ocorre na
efetivamente, por não ser privilegiada sua experiência visual com a linguagem.
oral colabora para marcar a surdez como deficiência, o que acaba por favorecer a
exclusão, ao invés de incluir. Essa exclusão acaba por gerar representações que
porque não é privilegiado o modo com que o surdo constrói seus conceitos e seu
inclusão está sendo efetivada, se não há por parte daqueles envolvidos na educação
como:
149
sala de aula;
com a escola;
150
trabalho com a leitura e a escrita, pois nesse espaço (pressupõe-se) lhe são
dispensadas oportunidades que, assim como se pôde analisar, muitas vezes não
linguagem escrita e, sobretudo, o lugar que é concebido ao surdo nas práticas com
esta modalidade. Porém, convém refletir aqui em torno da proposta de inclusão que
aluno surdo, sem ser necessário que este tivesse de ter tantos “aparatos” para suprir
língua para o surdo, como foi observado em capítulos anteriores, entretanto, como
151
analisado a partir dos dados, tal proposta não é contemplada no ensino regular. O
CAES acaba sendo o único lugar em que a criança surda pode ter acesso a
conceitos e constituir-se como sujeito a partir de uma língua estruturada, para que
autor a partir do uso significativo da linguagem. Ou seja, o CAES supre o que não se
que se mostra uma incoerência. Pode-se dizer que o aluno surdo é sujeito em um
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surdos. In: SILVA, S., VIZIM, M. (orgs). Educação Especial: múltiplas leituras e
2006.
1989.
APÊNDICE
APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA
168
169
ANEXOS
170
ANEXO I
I Dados de identificação
Idade: __________
Último grau de instrução: __________
Idade do filho surdo: __________
Numero de pessoas que moram em sua casa: __________
Grau de instrução dos membros da família: ________________________________
___________________________________________________________________
Você participa das atividades escolares do(a) seu (sua) filho(a)? De que maneira?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Justifique:___________________________________________________________
___________________________________________________________________
Com relação à escrita, seu(sua) filho(a):
( ) escreve sem ajuda
( ) escreve somente com ajuda
( ) só copia
( ) não escreve
No que diz respeito à atuação do professor com seu(sua) filho(a) em sala de aula,
qual seu ponto de vista? _______________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
ANEXO II
I Dados de identificação
Idade: __________________
Tempo de docência: ____________________
II Acerca da Surdez
Possui aluno surdo?
( ) não
( ) sim Se sim, desde quando?__________________________
( ) fala
( ) leitura labial
( ) gestos
( ) Libras
( ) Outros. Quais? ___________________________________________
No seu ponto de vista qual(is) a(s) maior(es) dificuldade(s) do(a) aluno(a) em sala?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
V Aspectos pedagógicos
___________________________________________________________________
Você utiliza algum tipo de avaliação diferenciada com o aluno surdo? Qual?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
ANEXO III
ANEXO IV
informações existentes neste documento são para que você entenda perfeitamente
leitura deste documento houver alguma dúvida você deve fazer perguntas para que
possa entender perfeitamente do que se trata. Após ser esclarecido (a) sobre as
informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final este
documento, que está em duas vias, sendo uma via sua e a outra do pesquisador
responsável.
INTRODUÇÃO:
uma constante exclusão dos contextos lingüísticos pelo mesmo em sala de aula, os
quais têm como base a língua oral. Torna-se, desta forma, imprescindível questionar
183
FINALIDADE DA PESQUISA:
PROCEDIMENTO:
campo.
RISCOS E BENEFÌCIOS:
residente à Rua Goiânia, 1597, sobrado 58, Bairro Cajuru, Curitiba, Pr.
184
DECLARAÇÃO DE CONSENTIMENTO
Eu,__________________________________________________, portador(a)
Curitiba, ___/___/_____
___________________________________
__________________________________