Método Das Partidas Dobradas

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MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS

Evidências das partidas dobradas através da


Matemática na Mesopotâmia
Elizabete Marinho Serra Negra *

A Contabilidade como a concebemos nos dias atuais foi fruto de uma demorada e
profícua evolução, desde os homens das cavernas, passando por todas as grandes
civilizações do passado até chegar na complexidade do mundo mercantilista e globalizado
atual. O pilar básico da Contabilidade que são os registros e controles da riqueza ou do
patrimônio encontra-se sustentado pela forma peculiar de registro, hoje universalmente
aceito e praticado, denominado Método das Partidas Dobradas.

O Método das Partidas Dobradas foi exposto, oficialmente, por Luca Pacioli em 1494,
em sua obra Suma de Aritmética, Geometria, Proporção e Proporcionalidade. Sabemos que
não foi Pacioli o inventor do método, coube ao mesmo mostrar em um livro impresso pela
imprensa de Gutemberg o método que os comerciantes italianos utilizavam naquela época
para registro e controle de suas atividades comerciais. Não queremos, de forma alguma,
tirar os méritos de Pacioli, mas questões históricas são e sempre serão alvo de pesquisas e
de discussão da comunidade científica que cada ciência se insere.

Se por um lado sabemos que Pacioli não inventou as Partidas Dobradas, por outro
permanecem as perguntas de quem, onde, quando, como e por que foram inventadas as
Partidas Dobradas. Essas respostas continuam sendo objeto de pesquisa e algumas
respostas ainda não satisfazem a todos. Alguns historiadores contábeis retomam a obra Liber
Abaci de Fibonacci de 1202 como um dos documentos mais antigos que trata das partidas
dobradas, mas não são, ainda, provas concludentes. Realmente podemos verificar que em
vários lugares do mundo, entre os anos de 1200 a 1400, produziram-se registros contábeis
por partidas dobradas, desde os Kipus do império Inca até os gravetos de bambus do
império Chinês.

Outro grupo de historiadores contábeis, por sua vez, sugere que o aparecimento das
Partidas Dobrado é mais antigo que esses esparsos registros encontrados. A determinação
das origens das Partidas Dobradas é assunto controverso e não menos interessante para as
Ciências Contábeis. A finalidade desse trabalho é mostrar, em forma de evidenciação, que a
matemática desenvolvida pelos povos da mesopotâmia entre os anos de 2800 a 1880 a.C.
dão suportes lógicos e consistentes para embasarem uma opinião de que as Partidas
Dobradas surgiram na Mesopotâmia como forma de registro contábil.

PERÍODO MODERNO

O período moderno foi a fase da pré-ciência. Devem ser citados três eventos
importantes que ocorreram neste período: em 1493, os turcos tomam Constantinopla, o que
fez com que grandes sábios bizantinos emigrassem, principalmente para Itália; em 1492, é
descoberta a América e, em 1500, o Brasil, o que representava um enorme potencial de
riquezas para alguns países europeus; em 1517, ocorreu a reforma religiosa; os
protestantes, perseguidos na Europa, emigram para as Américas, onde se radicaram e
iniciaram nova vida. A Contabilidade tornou-se uma necessidade para se estabelecer o
controle das inúmeras riquezas que o Novo Mundo representava. A introdução da técnica
contábil nos negócios privados foi uma contribuição de comerciantes italianos do séc. XIII.
Os empréstimos a empresas comerciais e os investimentos em dinheiro determinaram o
desenvolvimento de escritas especiais que refletissem os interesses dos credores e
investidores e, ao mesmo tempo, fossem úteis aos comerciantes, em suas relações com os
consumidores e os empregados. O aparecimento da obra de Frei Luca Pacioli,
contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na Toscana, no século XV, marca o início da
fase moderna da Contabilidade.
FREI LUCA PACIOLI

Escreveu Tratactus de Computis et Scripturis (Contabilidade por Partidas Dobradas),


publicado em 1494, enfatizando que à teoria contábil do débito e do crédito corresponde à
teoria dos números positivos e negativos. Pacioli foi matemático, teólogo, contabilista entre
outras profissões. Deixou muitas obras, destacando-se a Summa de Aritmética, Geometria,
Proportioni et Proporcionalitá , impressa em Veneza, na qual está inserido o seu tratado
sobre Contabilidade e Escrituração. Pacioli, apesar de ser considerado o pai da Contabilidade,
não foi o criador das Partidas Dobradas. O método já era utilizado na Itália, principalmente
na Toscana, desde o Século XIV.

O tratado destacava, inicialmente, o necessário ao bom comerciante. A seguir


conceituava inventário e como fazê-lo. Discorria sobre livros mercantis: memorial, diário e
razão, e sobre a autenticação deles; sobre registros de operações: aquisições, permutas,
sociedades, etc.; sobre contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de
armazenamento; lucros e perdas, que na época, eram "Pro" e "Dano " ; sobre correções de
erros; sobre arquivamento de contas e documentos, etc.

Sobre o Método das Partidas Dobradas, Frei Luca Pacioli expôs a terminologia
adaptada: "Per " , mediante o qual se reconhece o devedor; "A " , pelo qual se reconhece o
credor. Acrescentou que, primeiro deve vir o devedor, e depois o credor, prática que se usa
até hoje. A obra de Frei Luca Pacioli, contemporâneo de Leonardo da Vinci, que viveu na
Toscana, no século XV, marca o início da fase moderna da Contabilidade. A obra de Pacioli
não só sistematizou a Contabilidade, como também abriu precedente que para novas obras
pudessem ser escritas sobre o assunto. É compreensível que a formalização da Contabilidade
tenha ocorrido na Itália, afinal, neste período instaurou-se a mercantilização sendo as
cidades italianas os principais interpostos do comércio mundial.

Foi a Itália o primeiro país a fazer restrições à prática da Contabilidade por um


indivíduo qualquer. O governo passou a somente reconhecer como contadores pessoas
devidamente qualificadas para o exercício da profissão. A importância da matéria aumentou
com a intensificação do comércio internacional e com as guerras ocorridas nos sécs. XVIII e
XIX, que consagraram numerosas falências e a conseqüente necessidade de se proceder à
determinação das perdas e lucros entre credores e devedores.

LUCA PACCIOLI (1445-1517)

Nascido em Borgo San Sepulcro, era conhecido como Lucas de Burgo, foi frade
franciscano, famoso matemático do seu tempo. Quando menino a família queria que seguisse
carreira de negócios, mas ele preferiu seguir outros caminhos estudando arte, história,
literatura e matemática. Cedo, começou a lecionar matemática e aos 27 anos tornou-se
monge franciscano, mas continuou lecionando matemática em Roma, Nápoles, Pisa, Veneza
até se fixar em Milão em 1496.

Leonardo da Vinci (1452-1519) aprimorou suas noções de geometria tão necessárias a


sua obra, com seu grande amigo Luca Paccioli. A obra prima de Paccioli, Suma de Arithmetic
Geometria et Proportionalitá apareceu em 1494. O livro fixa os princípios básicos da álgebra
e contém tábuas de multiplicação até 60 X 60, recurso útil na época e ainda tem a
particularidade de apresentar figuras geométricas desenhadas por Leonardo da Vinci. Neste
livro se exploram ainda as propriedades da "divina proporção" e a sua importância para a
matemática, a arquitetura e a arte.

Como curiosidade, a obra La Gioconda (Mona Lisa) de Leonardo da Vinci está baseada
num número harmônico 1,414. Leonardo aplicou as teorias de Luca Paccioli conhecidas como
a já citada "divina proporção". O número 1,414 surge do coeficiente entre algumas relações
de proporção. O coeficiente da relação entre a altura da base até a cabeça é o ângulo de
1,405. O coeficiente entre a altura e a largura do rosto é de 1,428. Entre a altura da base
até o pescoço e daí até a borda superior, 1,435.

A contribuição mais notável do livro foi a apresentação da Contabilidade por partidas


dobradas. Muitos dizem que não foi invenção de Paccioli. mas neste livro recebeu o
tratamento mais extenso até então. De qualquer maneira esta inovação revolucionária nos
métodos contábeis teve importantes conseqüências e seus princípios são usados até hoje.
Entretanto alguns fatos no livro destoam da contabilidade moderna, talvez, devido às
características da época:

Ênfase no Proprietário: Um dos objetivos mais importantes da Contabilidade era fornecer


informações ao proprietário. De acordo com Paccioli: "fornecer ao empresário informações
sobre seus ativos e exigibilidades". Fornecia também subsídios para empréstimos.
Obviamente, não havia obrigatoriedade de apresentação de relatórios.

Confusão entre Ativos e Passivos: Havia uma mistura entre direitos e obrigações da
entidade, entretanto, algumas evidências de separação surgiram quando se fazia a
Contabilidade separada: uma para a empresa e outra para o proprietário.

Ausência de Continuidade: Não existia período contábil ou a idéia de Continuidade devido ao


fato de que a maior parte das empresas comerciais tinha prazo de vida limitado. O cálculo do
lucro era feito no momento em que a empresa atingia seu objetivo. Sem a idéia de exercício
social, não havia necessidade de depreciação, amortização, exaustão, provisão, diferimento
de encargos ou reconhecimento de juros, etc...

Pluralidade de Moedas: A inexistência de um padrão comum monetário tornava difícil o


método das partidas dobradas. Outra conseqüência relativa à existência de várias moedas
era a avaliação de estoques.

A importância da Contabilidade começou, realmente, a partir do século XVIII com a


revolução industrial, inicialmente, com os famosos teares ingleses. Isto atraiu investidores e
banqueiros crescendo assim a necessidade de informações contábeis para os usuários
externos. As indústrias começaram a possuir alto valor de Ativos Fixos, necessitando um
sistema de contabilização de seu desgaste, a depreciação, e estudos relativos aos métodos
de custeio foram feitos, iniciando assim, a Contabilidade de Custos.

Passaram a era agrícola e a era industrial. Hoje, a era da informação domina o cenário
mundial e a na Contabilidade começaram estudos sobre Goodwill, Capital Intelectual,
Balanço Social e Contabilidade Ambiental dentre outros, matérias que Paccioli nem
imaginava em seu tempo. Entretanto, a base formal utilizada em todos estes estudos
continua sendo o método das partidas dobradas estudada em seu livro publicado antes do
descobrimento do Brasil.

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