Ansiedade Método Friends
Ansiedade Método Friends
Ansiedade Método Friends
São Paulo
2018
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento
São Paulo
2018
G633e Gomes, Thaylla Carvalho Cavalcante.
Efeito de um programa voltado para o desenvolvimento de
habilidades socioemocionais em crianças pré-escolares : intervenção na
comunidade / Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes.
62 f. : il. ; 30 cm
CDD 155.423
Agradecimentos
Durante todo o percurso fui gratificada por inúmeras conquistas e vitórias, já que ser
curiosa e ter prazer em descobrir coisas diferentes me motivam a cada dia. Ser psicóloga
e atuar intensamente com o ser humano me trouxe ao Mestrado e aqui estou, por isso
quero agradecer....
À minha querida orientadora Prof.ª. Drª. Marina Monzani da Rocha, pela confiança,
paciência, oportunidade de aprendizado e por me incentivar na superação dos meus
limites.
Aos meus pais, João e Raquel que puderam me auxiliar em todos os momentos de minha
vida.
Aos meus queridos irmãos Hygor e Hector que me ensinaram muito em ser irmã mais
velha.
Aos amigos que fiz durante o processo de aprendizado do Mestrado, mas em especial a
minha doce Ana Rita, que esteve comigo em todos os momentos, que com as palavras
mais certeiras pôde me confortar em todos os instantes que precisei.
Mental health prevention focus on the healthy development in various stages of life, and
seek anticipated actions to reduce the risks and problems that hinder healthy development.
Mental health prevention programs seek to strengthen socio-emotional skills and
minimize the effects of risk factors (environmental and individual). The Friends Program-
Fun Friends – is a preventive intervention aimed at children aged 4 to 7 years with
evidence of effectiveness in the development of social-emotional abilities and in the
reduction of anxiety. It is the only intervention program with this objective developed for
this age group. However, there is only one studies in Latin America with this program.
Thus, the objective of the present study is to verify the effect of the Friends Program -
Fun Friends – in reducing the emotional/behavioral problems of children living in a
community with an high index of social vulnerability. The study included 40 participants:
17 children aged 4 to 5 years attending a single municipal school for children in a city in
the São Paulo area, 17 parents/guardians of children, and 6 teachers. The children were
assigned to participate in the project by the faculty of the institution that identified those
who were at risk for the development of behavioral problems. There were 10 consecutive
group meetings with children's activities and 2 meetings of reinforcement of the
developed abilities, having interval of one month between meetings. The intervention was
carried out in the school premises. Parents and teachers evaluated children's behaviors
before and after the intervention. The results show that, in the parents perspective, there
was no statistical difference regarding the anxiety symptoms evaluated using the PAS
scale (p=0.139) and in the emotional/behavioral problem scales of CBCL/1.5-5
(p=0.508). In the teachers' perspective, there was a reduction of the anxiety symptoms on
the PAS-TR scale (p=0.004) and the emotional/behavioral problems scales on the C-TRF
(p=0.008). Several children no longer had problems in the clinical range at various C-
TRF scales, indicating a significant decrease in emotional/behavioral problems. Thus, the
present study evidenced that the use of the Friends - Fun Friends - program with preschool
children showed a positive effect in the perspective of the teachers, even when partially
applied (with low parental participation) in a Brazilian community with high index of
social vulnerability. It discusses the importance of each environment in the development
and maintenance of children's behavioral repertoire, as well as variables that may be
associated with differences in the results found considering the informants. It is hoped
that the study may foster new selective prevention work, collaborating to establish public
policies aimed at children's mental health.
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
1.1. Habilidades Socioemocionais ............................................................................ 9
1.2. Problemas de Comportamento............................................................................. 11
1.3. Prevenção na Saúde Mental ................................................................................. 14
1.4. Programas de Prevenção ...................................................................................... 15
1.5. Método Friends .................................................................................................... 17
2. OBJETIVO ............................................................................................................. 20
3. MÉTODO ............................................................................................................... 21
3.1. Aspectos Éticos ................................................................................................... 21
3.2. Participantes ..................................................................................................... 21
3.3. Instrumentos..................................................................................................... 22
3.4. Procedimento para coleta de dados .................................................................. 25
3.5. Procedimento para Análise dos Dados ............................................................ 28
4. RESULTADOS ...................................................................................................... 29
4.1. Avaliação na Perspectiva dos Pais....................................................................... 29
4.1.1. Caracterização Sociodemográfica da Amostra ............................................. 29
4.1.2. Avaliação dos problemas emocionais/comportamentais .......................... 30
4.2. Avaliação na perspectiva das professoras ........................................................ 33
4.2.1. Caracterização Sociodemográfica da Amostra ............................................. 33
4.2.2. Avaliação dos Problemas Emocionais/Comportamentais ............................ 34
5. DISCUSSÃO .......................................................................................................... 39
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 44
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 45
8. ANEXOS ................................................................................................................ 52
Anexo 1. Parecer consubstanciado do CEP ................................................................ 53
Anexo 2. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Responsáveis ................... 57
Anexo 3. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Professoras ...................... 59
Anexo 4. Termo de Assentimento - Participante de Pesquisa .................................... 61
Anexo 5. Questionário Pais ........................................................................................ 62
9
INTRODUÇÃO
Trajetória Antissocial, no qual emerge a consequência dos outros três estágios em longo
prazo. Nesse momento, a criança com problemas de comportamento externalizantes se
tornaria um adulto com dificuldades de habilidades sociais, dificuldades em manter um
emprego e/ou um relacionamento, e inclusive, com risco a ter problemas com a justiça e
com drogas.
Os problemas internalizantes, como a ansiedade, geralmente se iniciam na
infância e, muitas vezes, persistem na adolescência e na vida adulta, caso não haja
tratamento. Estudos mostram que os problemas de ansiedade infantil são fatores de risco
para outras psicopatologias, como transtornos de conduta, depressão, transtorno de
humor, tentativa e efetivação de suicídio (SILVA; FIGUEIREDO, 2005). Na gênese do
desenvolvimento da ansiedade, também encontramos a falta de um repertório de
habilidades sociais. Sentimentos e pensamentos difusos de preocupação ou medo diante
de situações com as quais não sabemos lidar desencadeiam reações fisiológicas no
indivíduo (FARIAS, 2013). Essas respostas fisiológicas incluem: taquicardia, aumento
da frequência respiratória, aumento da pressão arterial, inquietação, tremores, sudorese,
náuseas, dores abdominais, vômitos, entre outras (GONÇALVES; HELDT, 2009). Além
dos comportamentos respondentes, a ansiedade se expressa em operantes motores, como
por exemplo: correr, roer as unhas, esfregar as mãos, por as mãos na cabeça e também
operantes verbais, como por exemplo, pensar no pior, rezar e até xingar (HESSEL;
BOLOTI; HAYDU, 2012).
Segundo Skinner (2000), a ansiedade pode ser considerada como um conjunto de
estados corporais eliciados por estímulos aversivos que compromete negativamente o
desempenho operante, no sentido de modificar a probabilidade do operante frente à
situação aversiva. A ansiedade é ‘‘um estado particular de alta ou baixa frequência de
uma ou mais respostas indesejadas por qualquer uma dentre uma classe de operações
[motivacionais, envolvendo controle aversivo]’’ (SKINNER, 2000 p. 182). Portanto, os
problemas de comportamento que são reunidos no rótulo “Ansiedade” podem ser
instalados por meio de vivências de experiências estressantes e/ou traumáticas, pela
aprendizagem de regras disfuncionais, ou até pela imitação de comportamentos que
transmitem uma percepção negativa referente ao mundo e/ou ao outro (ANTHONY,
2009).
Nota-se, dessa forma, que quando há déficit no repertório de habilidades
socioemocionais, o indivíduo não atinge as normas sociais do grupo no qual está inserido,
o que acarreta prejuízos em sua saúde psicológica (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005).
14
Prevenir é trabalhar com causas reais e/ou hipotéticas que, se deixadas para trás,
trariam prejuízo tanto de custos, como de sofrimento, e até de expectativa de vida (TOPF,
2009). O conceito de prevenção vem sofrendo revisões a todo o momento. A conceituação
de grande peso foi dada por Caplan em 1964, que subdividiu a prevenção em três partes:
prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária (DALTON et al., 2007).
Dentro deste modelo, a prevenção primária é uma intervenção oferecida a toda população
com o objetivo de diminuir a incidência de transtornos. A prevenção secundária é uma
intervenção voltada à população que apresenta sinais iniciais de transtornos, podendo ser
denominada também como prevenção precoce. E, por último, a prevenção terciária é a
intervenção oferecida à população que apresenta um diagnóstico de transtorno mental
com objetivo de prevenir recorrências futuras e até complicações adicionais.
Este modelo de Caplan foi criticado e revisado pelo Institute of Medicine – IOM
(MUÑOZ et al., 1996) nos Estados Unidos, que propôs a renomeação da prevenção
secundária como tratamento e a prevenção terciária como reabilitação ou manutenção.
Deste modo a prevenção primária foi subdividida em prevenção universal (intervenção
oferecida a toda população) e prevenção seletiva (intervenção direcionada a sujeitos
expostos a um risco acima da média para desenvolveram transtornos mentais) e prevenção
indicada (aplicada aos sujeitos que apresentam sintomas precoces de transtornos ou não
tenham todos os critérios para um diagnóstico).
Mesmo com todas as suas contribuições, o modelo do IOM foi revisado e o modelo
atual é caracterizado por incluir a promoção de saúde como parte também da prevenção
(WEIS et al., 2005). Esse modelo também apresenta uma conexão entre prevenção,
promoção e tratamento, consideradas estratégias complementares. Sendo assim, a
15
2. OBJETIVO
O objetivo geral do presente estudo foi verificar o efeito do Método Friends – Fun
Friends nos problemas emocionais/comportamentais de crianças pré-escolares de uma
comunidade com alto índice de vulnerabilidade social. Para cumprir esse objetivo, foi
realizada avaliação a partir do ponto de vista dos pais e das professoras.
21
3. MÉTODO
3.2. Participantes
Recrutamento (N=51)
Professoras = 7
Crianças = 22
Pais = 22
Critério de exclusão (N = 4)
Crianças = 2
Pais = 2
(Suspeita TEA)
Desistência criança/pais:
N=1 - Mudança de cidade Desistência professora
N=2 - Excluídos por faltas N=1 - Transferência
Avaliação Pós –
Avaliação Pós - Professoras Pais/Responsáveis
Professoras = 6 Crianças = 10
Crianças = 14 Pais = 10
3.3. Instrumentos
Quadro 2. Estrutura das sessões do Método Friends – adaptação de Izuka e Barrett, 2011.
Sessão Objetivos
1ª – Introdução Apresentar as crianças participantes do programa entre si; explicar os objetivos e fundamentos
do Método FRIENDS; expor as habilidades que serão trabalhadas para que as participantes
possam lidar com desafios encontrados em seu dia a dia.
2ª – Feelings (Sentimentos) Foco nas emoções: identificação, compreensão e expressão das suas próprias emoções, assim
F como dos outros; atenção os sinais fisiológicos em seu corpo como resposta as emoções.
3ª – Remember to relax (Lembre-se de relaxar) Importância do relaxamento para lidarmos com situações desafiadoras; técnicas de relaxamento;
R reflexão sobre atividades que relaxam.
4ª – Inner helpful thoughts (Pensamentos positivos) Compreensão do diálogo interno positivo: como transformar pensamentos negativos em
I pensamentos positivos.
5ª – Inner helpful thoughts (Pensamentos positivos) Reforçar os conceitos da sessão anterior; encorajamento para os participantes refletirem e
I tentarem modificar os pensamentos negativos em positivos; apresentar a relação entre
pensamento, sentimento e emoção.
6ª – Explore solutions and coping plan (Explorar soluções e planos de Encorajamento das crianças frente a resolução de problemas; dividir a situação problema em
enfrentamento). passos menores para gradualmente alcançar o resultado (Planejamento Passo a Passo para
E Enfrentamento).
7ª – Explore solutions and coping plan (Explorar soluções e planos de Reforçar os conceitos da sessão anterior; pensar quem poderia ser e desenvolver um papel de
enfrentamento) suporte social (mentor) para elas nas situações problemas.
E
8ª – Explore solutions and coping plan (Explorar soluções e planos de Continuar encorajamento; imaginar situações problemas e planejar o passo a passo para
enfrentamento) solucionar a questão; abordar o benefício de se ter alguém como mentor para auxiliá-las.
E
9ª – Now reeard yourself (Recompensar-se) Autorrecompensa: aprende a se recompensar quando atingiu sua meta/objetivo ou deu o seu
N melhor; apreciar situações do dia a dia (ex.: ouvir música, compartilhar suas conquistas com os
amigos, tomar sol com sua família).
10ª – Dont forget to practice and Smile and stay calm (Não se esqueça Importância de treinar as habilidades desenvolvidas em seu dia a dia; técnicas de relaxamento
de praticar, sorria e mantenha-se calmo). que auxiliam positivamente nas situações desafiadoras no futuro.
DS
Primeira sessão de reforço Ajudar os participantes a notarem os benefícios de enfrentar situações desafiadoras com
otimismo; relembrar as habilidades trabalhadas nas sessões; encorajar o uso das habilidades no
dia a dia.
Segunda sessão de reforço Fechamento do ciclo; celebração e confraternização previamente organizada com a ajuda dos
pais e crianças; entrega dos certificados; revisão dos componentes de todo o programa com
atividades lúdicas.
28
4. RESULTADOS
parte dos participantes estava nas classes sociais C1 e C2 e nenhum deles foi encaminhado
ou teve acesso a serviços de saúde mental nos seis meses que antecederam o início da
intervenção.
A Figura 2, abaixo, indica a média obtida pelas crianças na escala PAS, que avalia
sintomas de ansiedade, antes e depois da intervenção.
Como pode ser observado na Figura 2, a média antes da intervenção foi maior do
que a média pós-intervenção, indicando redução nos sintomas de ansiedade. Essa
diferença, entretanto, não foi estatisticamente significativa (p = 0,139).
Na Tabela 2, são apresentados os resultados (em escores brutos) obtidos a partir
das respostas dos pais ao CBCL/1½-5 antes e depois da intervenção. O teste dos postos
sinalizados de Wilcoxon de Amostras Relacionadas não indicou diferenças
estatisticamente significativas para as pontuações nas escalas nos dois momentos de
avaliação.
31
90
80
70
60
Escore T
50
40
30
20
10
0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C10 C12 C13 C14
Participantes
Pré Pós
A análise da Figura 3 indica que houve variação na pontuação das crianças, ainda
que não possa ser identificado um padrão. É importante notar que casos como C1, C4 e
C10 tiveram a pontuação reduzida para valores abaixo da faixa clínica do CBCL (Escores
T < 60) no pós-intervenção. Por outro lado, houve um aumento nos problemas indicados
pelos pais/responsáveis do C14 na avaliação pós-intervenção. Para a maior parte dos
casos, não houve diferença significativa na pontuação total do CBCL nos dois momentos
(pré x pós intervenção), confirmando os resultados obtidos na comparação das médias
(Tabela 2).
Por fim, verificou-se a porcentagem de crianças com pontuação na faixa clínica
do CBCL para cada uma das escalas do instrumento. Os resultados são apresentados na
Figura 4.
33
Pré Pós
Figura 4. Distribuição das crianças com escores na faixa clínica para as escalas do CBCL
pré e pós-intervenção.
Nota-se que houve uma redução na porcentagem de crianças com escores na faixa
clínica para as escalas Reatividade Emocional, Ansiedade/Depressão, Problemas
Internalizantes, Total de Problemas, Problemas Afetivos e Problemas do Espectro do
Autismo. Não houve alteração na porcentagem de casos na faixa clínica para as escalas
Problemas de Atenção, Comportamento Agressivo, Problemas Externalizantes,
Problemas de Ansiedade e Problemas de Oposição e Desafio. Na avaliação, pós-
intervenção, para as escalas Queixas Somáticas, Retraimento, Problemas com o Sono e
Problemas de Déficit de Atenção e Hiperatividade, houve um aumento na porcentagem
de crianças com escores na faixa clínica. No geral, o Teste de McNemar de Amostras
relacionadas não indicou diferença estatisticamente na comparação das proporções de
casos com escores na faixa clínica pré e pós-intervenção.
14
12
10
Pré
8
15,14 Pós
6
2
3,36
0
Observa-se que a média dos escores pré-intervenção foi superior à média pós-
intervenção, indicando redução nos sintomas ansiogênicos identificado pelas professoras
depois da intervenção. Essa diferença foi estatisticamente significativa (p = 0,004).
Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos por meio das respostas das
professoras ao C-TRF antes e depois da intervenção (escores brutos). O teste dos pontos
sinalizados de Wilcoxon de Amostras Relacionadas indicou redução significativa para as
pontuações nas escalas Ansiedade/Depressão, Queixas Somáticas, Retraimento,
Problemas de Atenção, Comportamento Agressivo, Problemas Internalizantes,
Problemas Externalizantes, Total de Problemas, Problemas Afetivos, Problemas de
Ansiedade, Problemas do Espectro do Autismo, Problemas de Déficit de Atenção e
Hiperatividade após a intervenção. Na perspectiva das professoras, não houve diferença
nos comportamentos das crianças em comparação pré e pós-intervenção apenas para as
escalas Reatividade Emocional e Problemas de Oposição e Desafio.
36
90
80
70
60
Escore T
50
40
30
20
10
0
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C11 C12 C13 C14 C15
Participantes
Pré Pós
Pré Pós
Figura 7. Distribuição das crianças com escores na faixa clínica para as escalas do C-
TRF pré e pós-intervenção.
5. DISCUSSÃO
desenvolvimento para a criança, a escola por sua vez exerce o segundo papel, podendo
muitas vezes proteger os estudantes que encontram-se em condições de vulnerabilidade
social, promovendo desenvolvimento social e emocional para a criança. Dessa forma,
entende-se que o trabalho realizado no contexto escolar pode ter contribuído para o
desenvolvimento das crianças participantes, ainda que tais resultados não tenham sido
generalizados para o contexto familiar. Nos estudos anteriores de Barrett et al. (1996) de
aplicação do Métod Friends, quando a família participa das intervenções, mudanças
significativas no padrão comportamental das crianças são observados do ponto de vista
dos pais.
Considerando o nível de vulnerabilidade social da amostra estudada, confirmada
pelo nível sociodemográfico dos participantes, esperava-se encontrar altos índices de
problemas comportamentais infantis (BANDEIRA et al., 2011). Borsa e Nunes (2011),
afirmam que devemos dar atenção as variáveis sociodemográficas sobre os
relacionamentos intrafamiliares e sobre o desenvolvimento humano, já que as questões
sociodemográficas como baixa renda, baixo nível escolar dos pais e dificuldades
intrafamiliares podem favorecer os problemas comportamentais infantis. Estudos da área
afirmam que crianças que se desenvolvem em ambientes familiares com total respaldo
socioemocional se adaptam mais facilmente a mudanças, demonstram baixos níveis de
comportamento problema e possuem alto nível de competências sociais (WHITTAKER
et al., 2011). Por outro lado, crianças que se desenvolvem em ambientes hostis e
conflituosos, tendo recursos materiais e sociais escassos apresentam maior dificuldade de
adaptação às exigências dos novos ambientes (HOPSON; LEE, 2011). Nesse contexto, a
escola pode favorecer o desenvolvimento infantil saudável ao oferecer um clima escolar
positivo e uma relação positiva entre aluno-professor, fatores que contribuem para a
diminuição de riscos para os alunos que se encontram em relacionamentos familiares
negativos, afiliação de pares desviantes e dificuldades socioeconômicas (PETRUCCI et
al., 2016).
De fato, segundo O`Connor e McCartney (2006), após a entrada da criança no
ambiente escolar, os professores podem representar papéis de forte referência para os
alunos, tornando-se figuras de segurança e apoio social. Os professores atuam, muitas
vezes, como preditores no desenvolvimento de competências sociais e emocionais
infantis (PETRUCCI et al., 2016). Durante a realização do presente estudo, as professoras
participantes se mostraram engajadas em oferecer um ambiente favorável para as
crianças, estimulando a participação nas atividades do Método FRIENDS. Essa postura
41
pode ter facilitado a observação dos avanços obtidos pelas crianças que estavam
envolvidas no projeto, refletidas nas respostas dadas aos questionários utilizados para
avaliar o comportamento das crianças antes e depois da intervenção preventiva.
Considerando os dados analisados e suas diferenças, temos que considerar que a
participação dos pais e responsáveis nas sessões de intervenção, como proposto no
Método Friends, seria fundamental para que os ganhos fossem extrapolados para os novos
ambientes e para que os pais pudessem identificar e reforçar as habilidades aprendidas
durante a intervenção. Segundo Ingberman (2001), o trabalho entrelaçado entre crianças,
pais e escola permite maior sucesso no alcance social das habilidades desenvolvidas em
intervenções. Dessa forma, entende-se que os pais que promovem comportamentos
adaptativos aos filhos estão promovendo qualidade em saúde mental, consequentemente
proporcionando qualidade de vida aos mesmos (O`CONNEL et al., 2009), e que a
participação deles nos trabalhos de intervenção preventiva na infância é fundamental para
que os resultados extrapolem o contexto escolar.
Além disso, o repertório de habilidades sociais educativas dos pais é um fator
importante para a promoção do desenvolvimento adequado do repertório comportamental
dos filhos (BOLSONI-SILVA et al., 2003). Quando os pais possuem um repertório
favorável dessas habilidades os filhos têm mais chances de apresentarem comportamentos
adequados. Se esses pais apresentam um repertório empobrecido dessas habilidades,
consequentemente é bem provável que os filhos apresentam comportamentos
desadaptativos e déficits interpessoais (PINHEIRO et al., 2006), como os identificados
na amostra do presente estudo. Dessa maneira, sugere-se que trabalhos futuros incluam
os pais na intervenção para que resultados mais abrangentes possam ser obtidos.
Fernandes et al. (2014) afirma que os programas interventivos preventivos estão
destinados a populações em situação de vulnerabilidade social que estão pré-dispostas a
desenvolver problemas comportamentais ou sinais de dificuldades. Sendo assim, o
presente estudo trabalhou na perspectiva da prevenção seletiva, já que as crianças
selecionadas para participar estavam, na visão de seus professores, em risco para
apresentar algum tipo de problema comportamental. Esse é um dos diferenciais do
presente estudo, visto que poucos autores utilizaram o Método Friends – Fun Friends –
em uma perspectiva de prevenção seletiva, enquanto que outros trabalhos aplicaram o
método para prevenção universal ou para tratamento de crianças pré-escolares (SHORTT;
BARRETT; FOX, 2001; FARRELL; BARRETT; CLAASSENS, 2005; PAHL;
BARRETT, 2010; ZERTUCHE, 2012; DOHL, 2013; ANTICICH et al., 2013;
42
com o Método Friends – Fun Friends – contem com uma amostra mais ampla, que permita
a adoção de testes estatísticos mais robustos, bem como a participação de crianças em
grupo controle, o que permitiria atribuir os efeitos com a intervenção aos procedimentos
realizados. Sugere-se, ainda, que sejam adotadas medidas para avaliação das habilidades
socioemocionais, foco de desenvolvimento do Método Friends, para que se tenham
medidas mais diretas dos resultados desse programa. A avaliação, tanto das habilidades
socioemocionais, quanto dos problemas emocionais, deve ser realizada a partir de
múltiplos informantes, de maneira a compreender os efeitos do programa a partir de
diferentes perspectivas. Com o controle dessas diferentes variáveis será possível
colaborar para o desenvolvimento de futuras intervenções em saúde mental a crianças na
faixa pré-escolar e estratégias de prevenção e promoção de saúde, a fim de contribuir para
o desenvolvimento de políticas públicas.
44
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo evidenciou que a aplicação do Método Friends – Fun Friends
com crianças pré-escolares inseridas em contexto de alta vulnerabilidade social levou a
redução significativa dos problemas de comportamento das crianças na perspectiva das
professoras. Na perspectiva dos pais, não houve mudança significativa nas suas
avaliações acerca dos comportamentos de seus filhos após a intervenção.
45
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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cognitiva e analítico-comportamental. X Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas,
Porto de Galinhas, abril 2015b.
8. ANEXOS
53
Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa,
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa:
End: Av. Raimundo Pereira de Magalhães, 3305 Pirituba, São Paulo - SP CEP 05145-200
e-mail: [email protected]
telefone: (11) 3512-8412
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas
pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a qualquer
momento tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-me da
mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
______________________________ ________________________________
Pesquisador Responsável Orientadora: Profa. Dra. Marina Rocha
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nome: Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes Rua da Consolação, 930 – Prédio 28
Telefone: (11) 2114-7510
E-mail: [email protected]
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Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa,
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa:
End: Av. Raimundo Pereira de Magalhães, 3305 Pirituba, São Paulo - SP CEP 05145-200
e-mail: [email protected]
telefone: (11) 3512-8412
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas
pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a qualquer
momento tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-me da
mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
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Pesquisador Responsável Orientadora: Profa. Dra. Marina Rocha
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nome: Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes Rua da Consolação, 930 – Prédio 28
Telefone: (11) 2114-7510
E-mail: [email protected]
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Pesquisador Responsável Orientadora: Profa. Dra. Marina Rocha
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nome: Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes Rua da Consolação, 930 – Prédio 28
Telefone: (11) 2114-7510
E-mail: [email protected]
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