Outro Sábado em Antioquia (Atos 13.44-52)
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Outro Sábado em Antioquia (Atos 13.44-52)
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anterior compartilharam durante a semana com seus amigos, familiares e vizinhos
sobre a mensagem a respeito de Jesus, o descendente do rei Davi, que foi
crucificado de acordo com a vontade de Deus e em cumprimento das profecias (At
13.27). O povo deve ter conversado sobre o perdão dos pecados que Jesus concede
através de Sua morte e ressurreição a todo o que nele crê. Como resultado, muitas
pessoas se reuniram para ouvi-lo pregar novamente a palavra de Deus.
“No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de
Deus” (At 13.44). O povo se reuniu para ouvir o que esses homens haviam pregado
anteriormente. Foi a Palavra do Senhor, que estimulou o interesse dessas pessoas.
715Boice, J. M. (1997). Acts: an expositional commentary (p. 244–246). Grand Rapids, MI: Baker
Books.
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II. A Palavra revela os rebeldes
“Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e,
blasfemando, contradiziam o que Paulo falava” (At 13.45).
Embora houvesse muito interesse neste evangelho e no Deus que se revela
através dele, houve também oposição imediata e feroz! A oposição surgiu entre os
líderes da comunidade judaica. Quando eles observavam os milhares de gentios
que se aglomeravam em torno da sinagoga para ouvir Paulo pregar, somos
informados de que eles ficaram cheios de inveja. A palavra “inveja” (zelos, em
grego) significa “rivalidade invejosa e contenciosa, ciúme”.716
Mas, do que eles estavam com ciúmes? Creio que o nosso texto revela, pelo
menos, duas razões:
716 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and
New Testament Words (Vol. 2, p. 234). Nashville, TN: T. Nelson.
717 Boice, J. M. (1997). Acts: an expositional commentary (p. 246). Grand Rapids, MI: Baker Books.
718 Barry, J. D., Heiser, M. S., Custis, M., Mangum, D., & Whitehead, M. M. (2012). Faithlife Study Bible
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“... Tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo
falava” (At 13.45).
A resposta dos judeus foi um ataque verbal sobre a mensagem de Paulo.
Nada poderia enfurecê-los mais do que os privilégios de Deus estendidos aos
gentios não circuncidados. Eles não apenas se encheram de inveja, mas também,
começaram a blasfemar contra a mensagem de Paulo. A palavra “blasfemar”
(antilego, em grego) significa “falar contra, opor-se”.719 Eles estavam fazendo
exatamente o que Paulo os advertiu na semana anterior para que não fizessem:
eles estavam zombando de Deus, se opondo a Paulo e blasfemando contra o Senhor
Jesus. A palavra usada aqui para descrever a sua oposição é usada na Tradução
grega do Antigo Testamento em Isaías 65: “Estendi as mãos todo dia a um povo
rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios
pensamentos” (Is 65.2). Paulo cita esta passagem no final de Romanos 10 para
mostrar como Deus declarou no Antigo Testamento a situação que Paulo descobriu
enquanto pregava o evangelho. Enquanto muitos gentios abraçavam o evangelho, o
povo judeu, a maior parte, desobedecia, resistia e falava contra esse mesmo
evangelho.
O evangelho sempre revela o verdadeiro estado do coração humano. Não
importa o que as pessoas religiosas dizem, se elas não confiam em Jesus, elas
realmente não querem viver para sempre com Deus.
Para combater esta oposição judaica, Paulo e Barnabé lhes responderam
corajosamente.
719 Swanson, J. (1997). Dictionary of Biblical Languages with Semantic Domains: Greek (New
Testament) (electronic ed.). Oak Harbor: Logos Research Systems, Inc.
720 Kittel, G., Friedrich, G., & Bromiley, G. W. (1985). Theological Dictionary of the New Testament (p.
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“Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que
a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto
que a rejeitais...” (At 13.46).
Levar o evangelho aos gentios era um cumprimento do propósito de Deus.
Paulo foi chamado por Deus para pregar o evangelho, não somente aos judeus, mas
também, e, sobretudo aos gentios. Era o plano de Deus para abençoar todas as
famílias da terra.
Este era o padrão de pregação missionária da igreja primitiva. Os judeus
tinham prioridade (cf. Rm 9-11), mas Deus havia incluído os gentios. Aqueles na
sinagoga de Antioquía conheciam o Antigo Testamento e poderiam verificar as
profecias. Atos tem uma série de textos sobre esse conceito e padrão (cf. 3.26; 9.20;
13.5, 14; 16.13; 17.2, 10, 17).721 A Bíblia nos diz que a salvação veio aos judeus, e
em Romanos 1, lemos que o evangelho é o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego (Rm 1.16). O plano de Deus
era salvar o povo judeu primeiro, para que eles, por sua vez, proclamassem o
evangelho as nações. Em Atos 3, Pedro disse o mesmo ao povo judeu: “Tendo Deus
ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vós outros para vos abençoar, no
sentido de que cada um se aparte das suas perversidades” (At 3.26).
Além disso, em cada viagem missionária Paulo sempre ía à sinagoga local
primeiro e declarava o evangelho aos judeus, porque era a ordem de Deus que eles
fossem apresentados com a mensagem da salvação em primeiro lugar, antes das
outras pessoas. Encontramos essa idéia também nas palavras de Jesus quando
disse aos seus apóstolos: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo,
e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e
até aos confins da terra” (At 1.8). Ou seja, o evangelho seria pregado primeiramente
aos que estavam mais próximos dos apóstolos, neste caso, os judeus.
721 Utley, R. J. (2003). Luke the Historian: The Book of Acts (Vol. Volume 3B, p. 170). Marshall, TX:
Bible Lessons International.
722 I. Howard Marshall. Atos, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1982, p. 219.
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Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”. É por isso que Jesus primeiro disse:
“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8.12). Todo cristão tem a responsabilidade de
testemunhar, não apenas aos judeus, mas também aos gentios. Nós somos a luz do
mundo (Mt 5.16).
“... E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At
13.48).
Embora a vontade do homem não seja livre, ele tem uma vontade, que a
Escritura reconhece claramente. Longe de Deus, a vontade do homem está cativa
ao pecado. Mas ele é, no entanto, capaz de escolher Deus, porque Deus tornou essa
escolha possível. John Stott responde as possíveis perguntas que as pessoas
723 Trites, A. A., William J. Larkin. (2006). Cornerstone biblical commentary, Vol 12: The Gospel of
Luke and Acts (p. 507). Carol Stream, IL: Tyndale House Publishers.
724 Vine, W. E., Unger, M. F., & White, W., Jr. (1996). Vine’s Complete Expository Dictionary of Old and
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geralmente fazem acerca da doutrina da eleição: “Não fui eu quem escolheu a
Deus?” Alguém pergunta, de forma indignada; e a isso devemos responder: “Sim,
realmente escolheu, e livremente, mas somente porque na eternidade Deus
escolheu você primeiramente”. “Não fui eu que me decidi por Cristo?” pergunta
outra pessoa; e a isto devemos responder: “Sim, realmente o fez, e livremente, mas
somente porque Deus primeiramente tinha decidido em seu favor.”725 Nenhuma
pessoa recebe Jesus Cristo como Salvador que não tenha sido escolhida por Deus
(Rm 8.29, 9.11; 1Ts 1.3-4; 1Pe 1.2). Esse ensino também é encontrado no
evangelho de João: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a
mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6.37).
725STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: Editora ABU, 2007, p. 17.
726 Stott, J. R. W. (1994). The message of Acts: the Spirit, the church & the world (p. 228). Leicester,
England; Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
727 Toussaint, S. D. (1985). Acts. In J. F. Walvoord & R. B. Zuck (Orgs.), The Bible Knowledge
Commentary: An Exposition of the Scriptures (Vol. 2, p. 390–391). Wheaton, IL: Victor Books.
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Frigia).728 Paulo continuou entrando nas sinagogas durante as suas campanhas
missionárias (At 14.1; 16.13; 17:1, 10, 17; 18.4, 19; 28.17). Paulo tinha
conhecimento da ordem dada por Deus “primeiro o judeu” (Rm 1.16-17; 2.9-10).
Conclusão:
Quando os judeus rejeitaram o evangelho, Paulo e Barnabé não voltaram
para casa. Em vez disso, eles pregaram aos gentios, em obediência a Deus (At
13.47). Assim, mesmo ameaçados, eles foram para outra cidade e continuaram
pregando corajosamente o evangelho (At 13.52).
Esta não é apenas uma tarefa dos apóstolos ou dos pastores e
evangeslistasem nossos dias. Lucas nos diz que a palavra do Senhor se espalhou
por toda a região (At 13.49). Isto é, aqueles que haviam recebido a graça de Deus
em Cristo estavam acopartilhando com outros. Evangelismo é uma
responsabilidade de todos aqueles que provaram da graça de Deus.
728I. Howard Marshall. Atos, introdução e comentário. São Paulo: Editora Vida Nova, 1982, p. 220.
729 Utley, R. J. (2003). Luke the Historian: The Book of Acts (Vol. Volume 3B, p. 171). Marshall, TX:
Bible Lessons International.
730 Robertson, A. T. (1933). Word Pictures in the New Testament (At 13.52). Nashville, TN:
Broadman Press.
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