PGTA Myky PDF
PGTA Myky PDF
PGTA Myky PDF
A Petrobras investe em iniciativas que visam à ruena, em Mato Grosso, numa área de transição entre
proteção ambiental e à difusão da consciência ecológica o Cerrado e a Amazônia. Nesta região, as terras indí-
em sua política de patrocínio através do Programa Pe- genas desempenham papel fundamental não só para
trobras Ambiental. O Programa prevê um investimento proteger ativos florestais e hídricos essenciais aos dois
de R$ 500 milhões em projetos voltados para a gestão biomas mas, sobretudo, para garantir o fortalecimento
de corpos hídricos superficiais e subterrâneos, a recu- das culturas de povos originários.
peração e conservação de espécies e ambientes costei-
ros, marinhos e de água doce e a fixação de carbono e O Projeto Berço das Águas tem mostrado que
emissões evitadas no período entre 2008 e 2012. um novo modelo socioeconômico para regiões pressio-
nadas pelo desmatamento no Mato Grosso é possível a
Ao apostar em ideias com potencial transfor- partir das referências e modos de vida dos povos indí-
mador, o Programa Petrobras Ambiental contribui para genas. Seus desejos, sua história e suas propostas estão
o desenvolvimento sustentável, considerando o equilí- expressos em planos de gestão territorial.
brio entre gerações, necessidades humanas e integrida-
de da natureza. Essas relevantes iniciativas ambientais O Plano de Gestão Territorial do Povo M�ky foi
oferecem alternativas econômicas, sociais e ambientais construído no âmbito do Projeto Berço das Águas pe-
em sinergia com políticas públicas. Acreditando nisso, a los indígenas e em parceria com a Operação Amazônia
Petrobras patrocina o Projeto Berço das Águas. Nativa (OPAN), organização da sociedade civil que há
mais de 40 anos atua visando o fortalecimento do pro-
O projeto, iniciado em 2011, abrange o apoio tagonismo indígena no cenário regional, valorizando
à gestão territorial indígena através de ações como o seus modos de organização social através da qualifica-
suporte técnico ao manejo e a estruturação cadeias de ção das práticas de gestão de seus territórios e recursos
produtos florestais não madeireiros na bacia do rio Ju- naturais, com autonomia e de forma sustentável.
TERRITÓRIO TRADICIONAL DO POVO MŸKY
OS MŸKY
Muita máquina. Lavoura, muita coisa. Trator, máquina. Mas não tem nada!
Não tem árvores, só maquinário.
Opyri, mójamã.
Manãnũnamapi mapa’inpjha. Ao’tápja, awypjatápa.
Ona’a, kumãta.
Wátuho manãnũkje’y
Paihi Paihikanã
Na vida de Mÿky não pode faltar
Trabalho na comunidade
Riso Alegria
OBJETIVOS
TERRA
Ritual JETÁ
TERRA Ritual JETÁ
É preciso parar de destruir. Qual é o nosso poder para nós, para os nossos filhos ficarem nessa terra tam-
de fazer parar? Nossa população é pequena, mas está bém, porque essa terra é nossa.
crescendo. Nós não precisamos desmatar e destruir
tudo para plantar, para ter alimento. Um dia nós não vamos estar nessa terra, mas nos-
sas crianças vão continuar aí, vivendo, fazendo caçada,
Branco vê diferente. Os brancos não conhecem, aprendendo com os velhos que vão estar aí também e
pensam no passado que índio só vive no mato. Não co- ensinar como viver nessa terra, plantar roça, mandioca,
nhecem nosso costume, festa. Quem conhece sabe que milho, cará, batata, amendoim. Tudo se planta na nossa
tem que respeitar. roça.
Os homens vão caçar com Jetá, que é o espíri- Quando a gente faz oferecimento não é para a
to. Assim se faz boa caçada na aldeia para ter festa, gente, é para espírito. Esses que nasceram e viveram
neste espaço, que enterraram a placenta nesta terra,
oferecer, ter saúde. Mas nossa caça tá indo embora.
que marcaram qual é o nosso lugar. Eles morreram,
Como podemos fazer festa e respeitar os espíritos sem
mas estão aqui junto com nós, a gente não vê, mas eles
resolver nosso problema da terra? A roça da família é
estão junto, velhos, comendo carne, bebendo chicha,
diferente, não busca caminho lá fora, depende da gen-
fazendo festa. Eles estão junto, isso faz nossa saúde, a
te mesmo, aqui dentro, da nossa união e de mais nin-
gente tá se alimentando e eles também.
guém. Mas sem a caça fica difícil a roça de Jetá, o ritual.
Artesanato também é difícil o caminho: tucum, barro e Como voltar a ter o mato bonito e ter terra de
taquara - tá tudo fora da terra demarcada. volta? Com quem vamos nos unir para voltar a ter a ter-
ra nossa e bonita, para ficar mais forte o nosso ritual da
Queremos terra porque é nossa, para viver nessa Jetá? Para isso, fazer a cultura ficar forte.
terra onde nossos bisavós nasceram, cortou umbigo e
foram enterrados aí. Quando morria, era na casca de Vamos mostrar que continuamos com a nossa
piúva. Agora no caixote. Por isso, queremos essa terra língua, costume, tradição, nosso jeito de viver.
DIRETRIZ
Podemos criar associação, estudar fora na cida- Ficar unido para fazer a roça grande. Se não se
de, mas não podemos deixar de fazer nossas roças faz a roça comunitária, se perde o saber do ritual.
*Dos aproximadamente 64 cultivares agrícolas myky, apenas alguns estão aqui retratados.
Milho
Não podemos perder nossa semente de milho, semente de qualidade. Continuar com a
nossa semente para replantar na roça, para sobreviver, e para não comprar de fora.
Algodão
* Jaapátau & Jamaxi Mÿky. In: História do algodão. (Org. ) Elizabeth Amarante. Escola Estadual Indígena Xinui Mÿky/Livro didático, 2010.
Origem da roça
da unha o amendoim-vermelho,
da costela o feijão-pampa,
da ponta de esterno o feijão-de-vara,
da tripa a batata-doce,
do testículo a ararutinha-redonda,
do pênis a araruta,
da rótula a cabaça pequena.
* Trechos extraídos do mito de origem da roça, transcrito por Adalberto Holanda Pereira In: O Pensamento Mítico Irantxe, 1985.
ACAMPAMENTOS
Castanha-do-Brasil
Hoje, quase não pegamos tucum. Porque para pegar é muito difícil. Temos conflito com os fazendeiros porque
derrubam tudo. Imaginamos a perda total do tucum e, assim, não vai ter mais para fazer muita corda de tucum.
Fazemos as cordas para nossa rede, não precisamos comprar as cordas dos
brancos. Podemos vender e trocar as cordas com os parentes e brancos.
Para nós é importante mostrar a falta que o tucum tem para nós para fazer
a corda da rede (e anéis, colares, arcos...). A rede junta as pessoas, o casal
dorme junto. Tendo o tucum, não precisa comprar as redes de fora, dos
brancos, e assim podemos continuar produzindo e vendendo as redes.
Buriti
Com o desmatamento,
estão acabando as frutas na floresta.
Tem que parar de cortar as
árvores para ter frutas,
replantar as sementes na floresta.
Há também a diminuição e
extinção dos pássaros.
Caça e pesca
Os levantamentos referentes ao uso e manejo da fauna, caça, pesca, coleta, agricultura e produção da cultura material resultaram
na identificação de 437 itens utilizados da biodiversidade existente em suas terras de ocupação tradicional no Vale do Juruena.
FESTA
O ritual une o povo. É igual festa, dá força!
O ritual de Jetá une os homens do lado de fora da casa
e as mulheres dentro da casa. Todos participam.
Caçamos para comer. Nos alimentamos da carne dos animais e oferecemos tudo no nosso
ritual. Com a caça é que nós sobrevivemos. Mas para caçar os animais temos todos que
cuidar das florestas para que eles continuem vivendo e a gente também.
O ritual é saúde e é para não
acontecer coisas ruins.
Estas coisas têm dono - comida e terra têm. Se não tiver os espíritos, seca tudo, acaba tudo.
Nós desenhamos esse mapa que mostra toda estrada que leva até Brasnorte é onde estão os planos
a linha do limite do rio Papagaio, fazendo divisa com de manejo dos fazendeiros, desmatando tudo. Do ou-
Terra Indígena Enawene Nawe. Lá embaixo na linha do tro lado, tem o Castanhal e o Tucunzal: tudo terra im-
outro limite que passa pelo córrego do Águas Claras, portante para nós, para buscar frutos, castanhas. Os
na beira do rio, é tudo bonito. Mas, do lado de fora animais também dependem de água, de frutas, assim
desse limite está tudo desmatado. No limite junto à como nós, senão não sobrevivemos.
Queremos de volta nossa terra para preservar, Esses órgãos que trabalham com a gente é que
proteger e recuperar o mato, as águas, dar espaço autorizam. Só que, além de tudo, os madeireiros vão
para caçar de novo. Deixar crescer primeiro tudo, re- além do que foi acordado, eles passam, tiram muito
cuperar, crescer árvore. No início não dará para beber mais. E esses que deveriam fiscalizar deixam livres
a água suja. Primeiro é preciso recuperar, ocupar com para tirar madeira. Desmatamento é crime! Usam
a caça, proteger as cabeceiras que hoje estão de fora e a madeira para tudo e não controlam. Vai acabar. E
queremos de volta. sabemos que são os próprios órgãos ambientais que
autorizam. Temos que nos unir, vocês que estudam:
Sempre andamos por todos os lugares e tudo OPAN, FUNAI, IBAMA, temos que fazer frente a isso,
em volta é plano de manejo, onde antes era mato. se unir, lutar.
Quem tem plano de manejo derruba tudo. O que é
isso? Não sei quem autoriza isso! Lá no córrego Águas É comum também quando a gente vai buscar
Claras tem um monte agora, tá tudo desmatado. Pelo solução para os problemas de escola, saúde, terra,
jeito que vai…olha, se a gente é pra fazer plano de ma- desmatamento. Fazer muito documento. Mas parece
nejo, deve ser então para recuperar o que o plano de que empurram a responsabilidade de um para o ou-
manejo deles está fazendo. tro. Aí o jeito é fazer chegar em Brasília ou Ministério
Público quando vê que não dá mais jeito de conversar
SEMA, IBAMA, FUNAI, são eles que autorizam e resolver. Não adianta ter chefes de órgãos que não
esses planos de manejo. Cerejeira, itaúba, tudo saindo gostam de índio. Fala, fala e não faz nada. Fala que vai
de lá do Águas Claras. A gente está ligando toda vida. fazer, mas depois não faz nada mesmo! O desmata-
Eu fico muito triste com cada madeira que sai daqui, mento é exemplo muito bom disso.
madeira de muito mais de 50 anos, se extinguindo, tá
acabando. Retiraram 500 mil m³ de madeira fazendo Assim está tudo ficando devastado. A gente con-
plano de manejo aqui perto de nós. O taquaral que versa, pede, faz denúncia e não para de sair licença de
nós utilizamos já foi retirado. plano de manejo na nossa terra. Fora os casos ilegais
que ninguém toma nenhuma providência. Com quem
vamos contar, em quem podemos confiar?
CENÁRIO DE MÉDIO PRAZO
Com a nossa terra de volta, teremos acampa- cano comendo sumaneira, porco comendo. Faltou de-
mento de castanha, passaremos semanas com a famí- senhar o morcego.
lia para coletar castanha, caçar. Lá tem roça também,
capoeira boa no Castanhal para plantar milho, batata, Com nossa terra de volta, liberdade de pescar, pe-
cará, feijão. gar castanha. Temos que ter fé de conseguir essa terra.
Marcamos também as piúvas e o cambará do Quando não tiver mais fazenda, Mÿky voltará a
Cerrado. No canto esquerdo estão as áreas de caça. Lá morar lá também, não terá mais perigo. Aí não preocu-
os homens vão caçar para a gente fazer festa. pa com fazendeiro e faz festa grande.
Aqui está a aldeia atual. No Castanhal pretende- Aqui tá tudo de pé (canto esquerdo superior),
mos ter uma casa para as festas, para acampar. O Ta- tem remédio do mato. Onde foi desmatado vamos re-
quaral tem que crescer de novo, a gente tem que fazer plantar cambará, cerejeira, mato de novo.
casa e futuramente vir até a ter aldeia aqui (canto direi-
to inferior). Lá já teve muita aldeia, tem capoeira boa Assusta primeiro ver pasto e depois tudo lavoura.
para fazer roça. Hoje só pescamos na divisa. Com a ter- Tó vendo papagaio passando, arara, anta, caititu, porco,
ra toda de volta, vamos pescar, regular e manejar o pei- tudo vindo prá cá porque tá tudo desmatado. Cerejeira,
xe em toda essa extensão (nos limites ao norte e ao sul casa de japuíra... não vemos mais a japuíra.
do mapa). Áreas de caça (no canto esquerdo superior),
fazer festa lá, caçada aqui na grande casa tradicional. Trabalhar junto para fazer esse mapa, os novos
vão levar para frente, preparar tudo para os filhos. Essa
Aqui na área homologada, tudo tá preservado, terra não é de uma pessoa, é de todo mundo, para co-
cheio de biodiversidade. O sol tá alegre, tem a chuva lher. O sonho é que ela venha logo para a gente recupe-
que a semente precisa, tem arara comendo bacaba, tu- rar o que não tá bom.
Foi muito bom todas as etapas, as oficinas.
Muito trabalho, muita conversa, pensar junto.
Temos que voltar a ter o nosso tempo.
Isso sim é o nosso trabalho.
Os jovens têm que trabalhar
mais na nossa cultura, não só na escola,
e levar os velhos para a sala de aula também.
E PARA TERMINAR, A GENTE VAI FALAR DE NOVO...
Precisamos reflorestar a beiras do rios e produzir piúva, taquara, roça. Dinheiro é passageiro, como pode
mudas para plantar ou reflorestar. Manter a floresta alimentar nossas crianças? Dinheiro acaba e criança vai
em volta da terra e reflorestar as áreas desmatadas. chorar de fome. Antes não faltava nada – cará, amen-
doim, mandioca, araruta, pequi, água, peixe... terra
Hoje as águas de muitos rios e cabeceiras estão grande que ia até Juína. Agora a terra é pequena, mes-
poluídas. Temos que diminuir a poluição dos rios. Não mo com o dinheiro, terra é que não pode faltar.
podemos deixar acabar os rios. Nosso trabalho é man-
ter a água limpa e a natureza preservada. Temos que Claro que quando olho um machucado vejo que
cuidar da natureza para o futuro, respeitar as leis. Os precisamos de atendimento, de uma pomada. Isso é
brancos não deveriam desmatar, nem destruir as árvo- uma coisa. Mas, remédio vai ficar precisando mesmo
res grandes como a peroba. Há os espíritos que moram se não tiver alimento, se não tiver terra, água, árvore,
dentro das árvores, tem que respeitar. Nas nascentes animais. Se não tiver roça, aí sim precisa do branco, pre-
tem a mãe da água e nas cachoeiras também. Com as cisa de remédio do branco.
PCH os espíritos vão embora. Temos que preservar as
águas para o futuro. Temos tudo. Caminhão, carro, micro-ônibus...
não para! Apesar da pressão e agenda externa deve-
Primeiro não existia doenças como hoje. Vivía- mos manter nossa união, nossa luta nos une, somos
mos felizes. Roça, caçar, não tinha doenças como atu- unidos. Não adianta só os brancos respeitarem, tam-
almente. Tinha muito jogo de bola de cabeça, que é da bém nós temos que respeitar primeiro nossa própria
nossa tradição. Nunca deixava faltar mel. Tinha muita cultura. Não deixar acontecer a desunião
Nahi, nosso povo lá de cima, cuida terra, mata, caça, rio, alimento, cará, criança, planeta, sol.
Nahi, jãi Mjamũ , mjehy wapaky pa’i, jawa, manã ma’i, ãkakje’y, ona’a, wapasi, ápjamã ikanamapi, irehy.
Realização: Parceiros:
Patrocínio: