O Segredo de Justiça No Direito Das Contra-Ordenações
O Segredo de Justiça No Direito Das Contra-Ordenações
O Segredo de Justiça No Direito Das Contra-Ordenações
DIREITO DE LISBOA
1
Agradecimentos
Bem hajam.
2
Índice
Introdução ..........................................................................................................................4
em especial. ................................................................................................................... 22
Conclusão ........................................................................................................................50
Bibliografia ......................................................................................................................52
3
Introdução
O método adoptado para proceder ao tema supra passará, num primeiro plano, pela
análise do disposto no Regime Geral das Contra-ordenações. Num segundo plano, e na
medida do possível, sobre o regime jurídico da Lei da Concorrência.
Salientamos que na análise desta matéria não nos cabe debruçar sobre a polémica entre
publicidade e segredo, no entanto, reconhecemos a sua importância.
1
Em consonância com o exposto no Preâmbulo do Decreto-lei 433/82, de 27 de Outubro.
2
Veja-se a este propósito de forma concisa: Afonso, Ana Cristina. SMMP. s.d. http://www.smmp.pt/?page_id=98
(acedido em 26 de Setembro de 2014).
4
existência de um recurso apresentado pelo arguido sobre a decisão da autoridade
administrativa. Nesta fase, o sujeito activo é o Ministério Público, o qual diligenciará a
prova e tomará o recurso presente ao Juiz, valendo este último acto, como acusação. Por
fim, o tribunal poderá condenar, absolver ou arquivar o processo.
Face ao exposto, coloca-se a questão de se impor ou não uma interpretação que permita
uniformidade de procedimentos, a par da compreensão da dimensão das consequências
que poderão decorrer, tendo especial atenção às contra-ordenações em áreas mais
sensíveis como seja a concorrência.
Sabemos que a nossa tarefa é exigente e que o nosso raciocínio deverá ser
desapaixonado dos casos concretos e mediáticos que surgiram por excelência no direito
criminal.
5
I. O Direito das Contra-ordenações: um ramo do direito
sancionatório.
Em 1979, pelo Decreto-Lei n.º 232/79, de 24 de Julho, é aprovado o Regime Geral das
Contra-ordenações. Este diploma, desprovido de qualquer norma cominada com uma
coima, estabelecia que eram “equiparáveis às Contra-ordenações as contravenções ou
transgressões previstas pela lei vigente a que sejam aplicadas sanções pecuniárias”, e
que ao mesmo tempo podiam ser submetidos os casos indicados na lei (artigo 1.º n.º 3 e
4 desse diploma legal).
3
Veja-se Machado, Miguel Pedrosa. “Elementos para o estudo da legislação portuguesa sobre contra-ordenações,.” In
Direito Penal Económico Europeu, Volume I, Problemas Gerais. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 145 e ss.
4
Cf. Correia, Eduardo. “Direito penal e direito de mera ordenação social.” In Direito Penal Económico e Europeu,
Volume I, Problemas Gerais. Coimbra: Coimbra Editora, 1998, p. 3 e ss.
6
O direito das contra-ordenações não foi imune a reacções desencadeadas fruto da
ausência de qualquer referência a este tipo de ilícito, que nem era criminal, nem
contravencional, na Constituição de 76, o que também provocou dúvidas de
inconstitucionalidade orgânica.5
5
Na medida em que o Governo invadiu a reserva da competência da Assembleia da República nos termos do texto
constitucional de 79, no artigo 167.º, al. e), hoje equivalente ao disposto no artigo 165.º, al. d). A referência ao
domínio deste regime apenas foi admitido expressamente na revisão de 1982 (Cf. Miranda, Jorge. As Constituições
Portuguesas de 1982 ao texto actual da Constituição. Lisboa: Petrony, 2004, p. 330.
6
Foi eliminado disposto no artigo 1.º, n.º 3 e 4 do Decreto-lei 232/79, de 24 de Julho, em consequência ficou
comprometido o âmbito da aplicação do direito das contra-ordenações.
7
Vide Dias, Jorge de Figueiredo.“Direito Penal, Tomo I.” pp. 155-168. Coimbra Editora, 2011, p.165.
7
dependência directa do texto conter o vocábulo “coima”, 8 segundo um critério
simplesmente nominal. 9 Na certeza, porém, de que “a qualificação das contra-
ordenações (..) não pode ser uma decisão arbitrária do legislador ordinário”.10 A coima é
uma sanção exclusivamente patrimonial, não convertível em pena de prisão.11
8
A coima é uma sanção não convertível em pena de prisão, pelo que, assume a configuração de uma pena
exclusivamente pecuniária, veja-se o disposto no artigo 89.º do Regime Geral das Contra-ordenações que dispõe
sobre a execução deste tipo de sanção.
9
Cf. Moutinho, José Lobo. Direito das contra-ordenações, Ensinar e Investigar. Lisboa: Universidade Católica,
2008, p. 29. Apud, Ferreira, Cavaleiro de. Direito Penal Português. Lisboa: Verbo, 1982, p. 17.
10
Cf. Idem, p. 32.
11
Nos termos do disposto no artigo 17.º do Regime Geral das Contra-ordenações estatui-se sobre a variação dos
limites máximos e mínimos quanto ao montante da coima. Já o artigo 89.º do mesmo diploma prevê que o não
pagamento da coima gera um processo de execução. É certo que a natureza exclusivamente patrimonial não constitui
um critério diferenciador, porquanto em processo penal as multas aplicadas às pessoas colectivas não são susceptíveis
de serem convertidas em prisão. As coimas enquanto sanção punitiva não estão associadas a um carácter admonitório,
conforme veicula Figueiredo Dias. Cf. Dias, Jorge de Figueiredo.“Direito Penal, “Direito Penal, Tomo I.”.
Coimbra Editora, 2011, p.166. Não se encontra essa correspondência na estrutura ou no regime legal da coima.
“Mesmo em caso de ínfima gravidade, a coima pode ser substituída por admoestação (…)” Cf. Moutinho, José Lobo.
(Op. cit.), p. 37.
12
À excepção dos casos em que se verifica concurso de crime e contra-ordenação nos termos do disposto do artigo
38.º, n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações, os quais caem sob o domínio das autoridades competentes para o
processo criminal, assim como, nas situações em que a contra-ordenação é conhecida no processo criminal, por
conversão do tribunal (art.º 77.º do Regime Geral das Contra-ordenações).
8
subsidiariedade, na medida em que intervêm por via do recurso de impugnação 13
quando haja divergência quanto à sanção aplicada.
Exposta esta afirmação, coloca-se a seguinte questão: não obstante a diferença entre o
ilícito criminal e contra-ordenacional, estarão os arguidos nos processos contra-
ordenacionais protegidos pelo “escudo” das garantias do processo penal previstas na
Constituição da República Portuguesa?
13
Ou, ainda, por via da necessidade de executar a sanção nos termos e para efeitos do disposto no artigo 55.º do
Regime Geral das Contra-ordenações.
14
Cf. Moutinho, José Lobo. Direito das contra-ordenações, Ensinar e Investigar. Lisboa: Universidade Católica,
2008, p. 39. Apud, Ferreira, Cavaleiro de. Curso de processo penal, II. Lisboa: Danúbio, 1986, p. 64.
15
Cf. Idem, p. 41.
9
II. As Contra-ordenações no trilho da publicidade e do segredo de
justiça, à luz das disposições da nossa Lei Fundamental e do Código de
Processo Penal
Esta disposição legal reconhece que há princípios comuns no domínio dos processos
sancionatórios e impõe de forma directa e, em especial, o direito de audição e defesa.
Estes direitos estão, nas palavras do Tribunal Constitucional, no “epicentro” das
garantias. Sem prejuízo de nos adiantarmos, esta garantia foi depois directamente
concretizada no Regime Geral das Contra-ordenações no disposto do artigo. 50.º
daquele diploma. 17
16
Com resposta positiva à aplicação das garantias constitucionais processuais à fase administrativa e judicial no
processo contra-ordenacional, Vide Palma, Maria Fernanda, e Paulo Otero. “Revisão do regime legal do ilícito de
mera ordenação social: parecer e proposta de alteração.” Revista da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,
Vol. XXXVII, 1996, p. 584.
17
“As garantias constitucionalmente impostas no âmbito do processo contra-ordenacional corresponderão, assim, a
um standard representativo e concretizador dos limites constitucionais ao exercício do poder estadual sancionatório,
às quais não é, por isso, possível opor argumentos relacionados com a projecção processual da diferente natureza dos
ilícitos em causa ou da menor ressonância ética e consequencial do ilícito de mera ordenação social. No epicentro de
tais garantias encontrar-se-ão, assim, os direitos de defesa e de audiência correlativa assegurados no artigo 32º, n.º10,
10
Por outro lado, “As garantias dos arguidos nos processos sancionatórios não se limitam
a estes direitos (de audição e defesa), mas é noutros preceitos constitucionais (..) que
eles encontram estreito, ou seja, o direito de impugnação perante os tribunais das
decisões sancionatórias, direito que se funda, em geral, no artigo 20º, n.º 1 (…), para a
fase de impugnação judicial da decisão de aplicação de coima, valem as genéricas
garantias constitucionais dos processos judiciais, quer directamente referidas naquele
artigo 20.º (…) quer dimanados do princípio do Estado de Direito Democrático (…)”18
11
Assiste-se a uma construção e a articulação entre a regulamentação substantiva e
adjectiva do direito sancionatório, em geral, mediante o “transvase” dos princípios
fundamentais do direito penal e processual penal para o Ilícito de Mera Ordenação
Social, de forma directa, por força da aplicação destes em todo o domínio do direito
público sancionatório, e não apenas em regime de subsidiariedade prevista por lei. 21
Este direito sancionatório, ainda que contemple uma fase dominada por uma entidade
administrativa, o enquadramento constitucional exposto torna evidente que não estamos
perante um direito administrativo sujeito às garantias deste ramo, mas sim de “matéria
para-penal”.22
Segundo Rui Medeiros,23 a inserção sistemática desta alínea no âmbito deste artigo
fora do âmbito sancionatório demonstra que a protecção do segredo de justiça
compreende uma amplitude que vai além do processo penal e que a sua regulamentação
faz-se por lei.24 De igual modo, também o ordenamento jurídico deve materializar de
forma directa ou indirecta o modus operandi da protecção do segredo noutros ramos do
direito, como seja o Direito das Contra-ordenações.
Assento n.º 1/2003, a propósito do artigo 50.º do Regime Geral das Contra-ordenações: "Quando (..) o órgão instrutor
optar, no termo da instrução contra-ordenacional, pela audiência escrita do arguido, mas, na correspondente
notificação, não lhe fornecer todos os elementos necessários para que este fique a conhecer a totalidade dos aspectos
relevantes para a decisão, nas matérias de facto e de direito, o processo ficará doravante afectado de nulidade (...)".
Cf. Assento n.º 1/2003, de 16 de Janeiro (Relator José António Carmona da Mota), in Diário da República, I Série -
A, n.º 49 de 27 de Fevereiro, pp. 1409 e ss.
20
Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à luz da Constituição da
República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora,
2011, em anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das Contra-Ordenações, p. 138
21
Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros. Coimbra:
Almedina, 2010, pp. 670, 748 e 749.
22
Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “As codificações sectoriais e o papel das contra-ordenações na organização
do direito penal secundários.” In Direito Penal Económico e Europeu, Volume III, Textos doutrinários. Coimbra:
Coimbra Editora, 2009, p. 37
23
Miranda, Jorge, e Rui Medeiros. “Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I.” Coimbra Editora, 2010, anotação ao
artigo 20.º da Constituição da República Portuguesa Anotada, p. 455.
24
Concordamos com esta posição, até porque o legislador, não raras vezes, vem afirmar excepções à publicidade dos
processos, a título de exemplo fora do âmbito sancionatório, no domínio do processo civil atente-se ao disposto no
artigo 163.º, n.º1 do Código de Processo Civil.
12
bens, surge o princípio da presunção de inocência plasmado no artigo 32.º, n.º 2 da
Constituição da República Portuguesa,25 o direito ao bom nome e à reputação (artigo
26.º da Constituição da República Portuguesa), uma expressão directa do postulado
básico do princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1.º da Constituição da
República Portuguesa), o princípio da audiência e defesa, na medida em que nenhuma
decisão atentatória da esfera jurídica das pessoas pode ser tomada sem que esta seja
ouvida, que também tem incidência na prova e parte da estrutura acusatória do processo,
cuja sede constitucional está presente no artigo 32.º n.ºs1 e 7 da Constituição da
República Portuguesa. Deste último não se confunde o direito ao contraditório, que é
também uma garantia constitucional e está presente no artigo 32.º, n.º 5 da Constituição
da República Portuguesa.
25
Reconhecido na comunidade internacional através da sua consagração na Declaração Universal dos Direitos do
Homem (artigo 11.º) e na Convenção Europeia (artigo 6.º).
26
Silva, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, Volume II. Lisboa: Verbo, 2011, p. 42 e 43.
13
(des)necessidade de aplicar o segredo de justiça: hipervaloriza o interesse do Estado no
que toca à transparência na administração da justiça. “A publicidade é uma garantia de
transparência da justiça e consequentemente um modo de facilitar a fiscalização da
legalidade do procedimento.”27
A prossecução penal orientada pelo vector da publicidade pode, em alguns casos, ser
inócua para a investigação, no sentido de não comprometer a sua boa realização, onde a
preservação do segredo nem por isso garante a eficácia da investigação. 28 No entanto,
não pode o direito sancionatório ficar alheio à sobreposição mediática dos processos,
esta sim, propensa a prejudicar o decurso das investigações, os direitos do arguido e das
vítimas ou testemunhas, carreando dúvidas sobre uma imparcialidade instigada, por
vezes, em informações e factos que ainda não comportaram uma decisão definitiva.
Somos conscientes de que os processos que vivem na incerteza da condenação podem
sujeitar a vidas das pessoas e empresas a importantes restrições, ainda que o resultado
não passe pela sanção.
No estudo que agora realizamos é importante termos presente o esqueleto formado pelas
disposições adjectivas penais nesta matéria para que se possa, eventualmente, caso se
figure plausível, equacionar a sua aplicação prática no direito das contra-ordenações.
27
Silva, Germano Marques da. “A publicidade do processo penal e o segredo de justiça: um novo paradigma?”
Revista Portuguesa de Ciência Criminal, (a.18) n.º 2 e 3, Abril - Setembro de 2008, p. 261.
28
Cf. Inchausti, Fernando Gascón. “ffms.” http://www.ffms.pt. Janeiro de 2013. https://www.ffms.pt/upload/docs/o-
segredo-de-justica_YzcIfM_01k-lRhY6A-I56A.pdf (acedido em 10 de Agosto de 2015), p. 15.
14
Ademais, este regime não encontra paralelo em muitos dos ordenamentos jurídicos
conhecidos.29 O inquérito é de natureza inquisitória e, como tal, deveria estar coberto
pelo segredo de justiça.30
Nos termos do artigo 86.º, n.º 2 do Código de Processo Penal, ainda que se reconheça a
regra da publicidade do inquérito, o juiz de instrução, caso entenda que esta prejudica os
direitos dos sujeitos processuais, pode declará-lo secreto, mediante requerimento do
arguido, do assistente ou do ofendido e ouvido o Ministério Público.31
29
Cf. Mendes, Paulo Sousa. Lições de Direito Processual Penal. Coimbra: Almedina, 2013, p. 67. Vide estudo sobre
o segredo de investigação do processo penal numa perspectiva comparada, Inchausti, Fernando Gascón. “ffms.”
http://www.ffms.pt. Janeiro de 2013. https://www.ffms.pt/upload/docs/o-segredo-de-justica_YzcIfM_01k-lRhY6A-
I56A.pdf (acedido em 10 de Agosto de 2015).
30
Esta alteração introduzida não foi imune a críticas. Cf. Idem, p. 67., Apud Dias, Jorge de Figueiredo. “Sobre a
revisão de 2007 do Código de Processo Penal Português.” Revista de Ciência Criminal Portuguesa (n.º 18), 2008,
p.371-375.
31
Sobre a ponderação realizada pelo juiz contestou o Juiz Conselheiro Benjamin Rodrigues no Acórdão do Tribunal
Constitucional n.º 428/2008, de 12 de Agosto, onde refere: “Não cabe ao Tribunal Constitucional dizer qual é o
melhor direito, mas apenas se o direito dito como foi dito é ou não direito válido.” Assim, considera que na
ponderação dos interesses em jogo não pode o tribunal substituir-se ao legislador. Cf. Acórdão do Tribunal
Constitucional n.º 428/2008, de 12 de Agosto, Processo n.º 520/08, 2.ª Secção, Relator Conselheiro Mário Torres, in
http://www.tribunalconstitucional.pt.
32
Estipula o artigo 89.º n.º1 Código de Processo Penal que:
Durante o inquérito, o arguido, o assistente, o ofendido, o lesado e o responsável civil podem consultar,
mediante requerimento, o processo ou elementos dele constantes, bem como obter os correspondentes
extractos, cópias ou certidões, salvo quando, tratando-se de processo que se encontre em segredo de
justiça, o Ministério Público a isso se opuser por considerar, fundamentadamente, que pode prejudicar a
investigação ou os direitos dos participantes processuais ou das vítimas.
15
segredo interno, entende ser inadmissível e incompatível com a nossa Lei Fundamental,
de seguida, defende o mesmo entendimento quanto ao regime em sede de segredo
externo.33
No decurso da análise do artigo 89.º, n.º1 Código de Processo Penal, concebido para
regular o âmbito da publicidade interna do processo, este Autor considera que o mesmo
“viola frontalmente a estrutura acusatória do processo.” O princípio da acusação obsta a
cumulação da função de acusação e investigação na pessoa do julgador. O desígnio
deste princípio procura efectivar a garantia de imparcialidade do julgador e a igualdade
de armas e tem sede constitucional no artigo 32.º, n.º 5 da Constituição da República
Portugesa. 34 O contraditório impera em dois segmentos: no julgamento e nos actos
instrutórios que a lei determinar. A plenitude do princípio do contraditório é alcançada,
mas não só, pela publicidade interna do processo, a qual irá servir o exercício do
contraditório sobre a prova nos autos. É a lei que tem de determinar quais são os actos
que na fase anterior ao julgamento estão subordinados ao contraditório e, acrescente-se,
à publicidade interna.35 A leitura que o Autor extrai da nossa Lei Fundamental é que
vigora a regra do segredo interno antes do julgamento e que cabe à lei concretizar as
excepções. O que não se verificou com a opção legislativa tomada em 2007, aquando da
elevação da publicidade interna como regra, em atropelo a uma disposição
constitucional não revista, tornando inócua a ideia de que o direito processual penal é
direito constitucional aplicado.
33
Vide Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição da República
Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011,
anotação aos artigos 86.º e 89.º, pp. 250 e 262.
34
Dispõe o artigo 32.º, n.º 5 da Constituição da Republica Portuguesa:
O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de julgamento e os actos instrutórios
que a lei determinar subordinados ao princípio do contraditório.
35
Cf. Albuquerque Paulo Pinto de. “Comentário do Código de Processo Penal…(Ob cit.), anotação ao artigo 89.º,
p.262.
36
Idem. Neste sentido, fica, então, comprometida a separação funcional e orgânica típica da estrutura acusatória e
que a Constituição da República Portuguesa desenhou, já que, é suposto que a fase da investigação seja secreta, sem
contraditório e dominada pelo Ministério Público, e que, por outro lado, a fase de julgamento seja pública, com
contraditório e dominada por um juiz. Daqui resulta que o artigo 89.º n.º1 e 2 do Código de Processo Penal é, em
16
Este Autor na análise do artigo 89.º, n.º 2 do Código de Processo Penal,37 observa um
outro contributo de inconstitucionalidade, porquanto o Ministério Público é relegado a
figura simbólica numa fase em que, supostamente, é o dominus do processo. Aqui, o
juiz de instrução criminal é o detentor da última palavra, definitiva, quanto à decisão
sobre o segredo de justiça, pronunciando-se se esta pode ou não prejudicar os interesses
de uma investigação, conferindo-lhe um poder de “arbitragem” que pode confluir com
as “tácticas de jogo” da investigação, da qual não é Senhor.38
Neste percurso, não nos cabe alongar mais sobre este posicionamento. Porém, a nossa
lei fundamental no artigo 20.º, n.º 3 não impõe o segredo de justiça no processo, admite
a sua existência por meio de uma lei apta a reger os limites e o âmbito da consagração
do segredo. Esta conformação operada por lei é concebida como um direito, cujo
garante é, em ultima instância, o juiz ou tribunal.40
conclusão, inconstitucional ao consagrar a regra da publicidade interna do processo na fase do inquérito por violação
dos artigos 2.º e 32.º, n.º 5, ambos da Constituição da República Portuguesa.
37
O artigo 89.º n.º2 do Código de Processo Penal refere que:
Se o Ministério Público se opuser à consulta ou à obtenção dos elementos previstos no número anterior,
o requerimento é presente ao juiz, que decide por despacho irrecorrível.
38
Desta forma, vem igualmente pronunciar-se pela inconstitucionalidade deste preceito por contundir
com os artigos 2.º, 20º, n.º1, 32.º n.º 5 e 219.º n.º1, todos da Constituição da República Portuguesa.
39
Vide Albuquerque Paulo Pinto de. “Comentário do Código de Processo Penal à luz da Constituição da República
Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 4ª Ed., Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011,
anotação ao artigo 86.º p. 250 e 251.
40
Neste sentido, Silva, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, Volume II. Lisboa: Verbo, 2011, pp. 49 e 50.
17
Resolvido o problema sobre saber qual o viabilidade e extensão de aplicar aqui o Direito
Processual Penal, e, caso figure plausível uma resposta positiva, importa compreender
em que termos é que o regime irá funcionar. Ou seja, será um Juiz por despacho a
decretar a sujeição dos autos de um processo de contra-ordenação ao segredo de justiça?
A requerimento de quem? Para o segredo de justiça ser decretado nos termos do
disposto no artigo 86.º, n.º 3 do Código de Processo Penal, bastará invocar a
necessidade de acautelar os interesses da investigação e/ou dos sujeitos processuais?
Quais as valências da autoridade administrativa? Poderá esta entidade decretar a
sujeição dos autos ao segredo de justiça? Deverá ter o Ministério Público alguma
intervenção ou papel na decisão de validação de decretar os autos a segredo de justiça?
É ponto assente que existem zonas de convergência entre o Direito Penal e o Direito das
Contra-ordenações e, bem assim, nas respectivas disposições referentes ao direito
adjectivo da cada um destes. Não é por acaso que o Regime Geral das Contra-
ordenações define o Direito Penal e o Direito Processual Penal como direito subsidiário
nos artigos 32.º e 41.º, do Regime Geral, respectivamente.
41
Cf. Mendes, António Jorge Fernandes de Oliveira, e José dos Santos Cabral. Notas ao regime geral das contra-
ordenações e coimas. Lisboa: Almedina, 2003, em anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
18
Porém, estes autores não logram quais os critérios que devem presidir à análise dos
requisitos da necessidade e da admissibilidade de regular a questão através do Direito
Processual Penal. Cremos, no entanto, que o primeiro se traduz na análise prévia sobre
qual a intenção do legislador em ocultar o regime da situação da vida que se quer
regular, e o segundo com o exame às disposições do Regime Geral das Contra-
ordenações, se este obsta ou não à aplicação das normas adjectivas do direito criminal.
Simas Santos e Lopes Sousa, retiram deste preceito que há uma “remissão
global” para todas as disposições processuais criminais, no entanto, advertem que “tal
aplicação não é de fazer quando deste RGCO (Sic.) [Regime Geral das Contra-
ordenações] ou de legislação especial resulte o afastamento de tais normas”,42 ou ainda
por “afastamentos directamente derivados da Constituição”. Os autores evidenciam, no
entanto, a possibilidade de aplicar directamente as normas do Código de Processo Penal
quando “se adequam à natureza das contra-ordenações e à estrutura do processo contra-
ordenacional”, ainda que adaptadas, se necessário.43- 44 Todavia, estes autores, não se
pronunciam sobre a reflexão prévia à aplicação das disposições do direito adjectivo
criminal, designadamente sobre a necessidade de tutela jurídica da questão.
42
Em sentido idêntico Sérgio Passos, “as normas do processo penal são sempre aplicáveis desde que o contrário
não resulte deste diploma (referindo-se ao Regime Geral das Contra-ordenações)”, acrescentando, “devendo também
ser aplicadas as normas para as quais remetam por sua vez as normas de processo penal”. In Passos, Sérgio. Contra-
ordenações, Anotações ao Regime Geral. Lisboa: Almedina, 2009, em anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das
Contra-ordenações.
43
Vide Santos, Manuel Simas, e Jorge Lopes de Sousa. Contra-ordenações, anotações ao regime geral. Lisboa:
Vislis, 2001, em anotação ao artigo 41º do Regime Geral das Contra-ordenações. Também neste sentido,
Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à luz da Constituição da
República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora,
2011, em anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações. Estes Autores acrescentam que as normas
processuais penais são aplicáveis ao processo contra-ordenacional em toda a sua extensão, quer na fase
administrativa, quer na fase judicial. Com igual posicionamento, Vide Pereira, António Beça. Regime Geral das
Contra-ordenações e Coimas: D.L. 433/82. 8.ª Edição. Coimbra: Almedina, 1992, anotação ao artigo 41.º daquele
diploma.
44
Também a pugnar pela necessária adaptação, Cf. Dantas, Leones. “Os direitos de audição e defesa no processo das
contra-ordenações, artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da República Portuguesa.” Revista do Centro de Estudos
Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010, p.295.
19
quando exista um “núcleo de aspectos” expressamente regulados pelo Regime Geral das
Contra-ordenações.45
Em nossa opinião, o Regime Geral das Contra-ordenações nada prevê de forma directa e
expressa sobre matéria ora em estudo. Questão que se coloca é saber se estamos perante
um caso de omissão intencional, em que o legislador faz uma opção que pretende fazer
45
Cf. Bolina, Helena Magalhães. “O direito ao silêncio e o estatuto dos supervisionados à luz da aplicação subsidiária
do processo penal aos processos de contra-ordenação no mercado de valores mobiliários.” Revista do Centro de
Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010, pp. 382-430.
46
“No processo de integração de lacunas, o texto a interpretar não é ab initio omisso. A lacuna será integrada de
acordo com as regras gerais dos artigo 10.º e 11.º do Código Civil, se não existirem regras especiais para o efeito
(como acontece, por exemplo, com o disposto no artigo 4.º do Código de Processo Penal). O processo de integração
de lacunas tem pressupostos e limites que não são os de aplicação subsidiária. A Existirem lacunas no Direito de
Mera Ordenação Social no que tange ao processo de contra-ordenação deve aplicar-se, com as necessárias adaptações
(ex vi artigo 41.º, n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações), o regime do artigo 4.º do Código de Processo Penal:
aplica-se em primeira linha e devidamente adaptado as disposições do ramo específico ou do Regime Geral,
consoante a fonte da lacuna, em segundo lugar aplicam-se as normas do Código de Processo Penal, depois as
disposições processuais civis que se harmonizem com o direito das contra-ordenações, de seguida os princípios gerais
do direito das contra-ordenações e, finalmente, os princípios gerais do processo penal. Cf. Pinto, Frederico de
Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a processos contra-ordenação arquivados. Um estudo sobre o sentido e
limites da aplicação subsidiária do Direito Processual Penal ao processo de contra-ordenação.” In Estudos em
homenagem à Professora Isabel Magalhães Collaço, Volume II. Coimbra: Almedina, 2002, pp. 616 e ss.
47
Cf. Idem.
20
valer uma solução distinta e indiferente à do processo penal, e bem assim, da alteração
operada pela Lei 48/2007, de 29.08.48
Serão os valores e interesses que o direito das contra-ordenações tutelam que vão
justificar uma solução diferente? Fará sentido haver segredo de justiça no direito das
contra-ordenações, em oposição ao estatuído para o processo penal em que se fixa uma
regra da publicidade? Será pertinente e concebível que o processo penal contenha uma
regra de publicidade, inclusive na fase de inquérito, e o processo contra-ordenacional
veja na fase administrativa uma tutela de segredo? Não nos esqueçamos, a primeira fase
do direito das contra-ordenações corre perante uma autoridade administrativa, a qual,
sem prejuízo do disposto no artigo 266.º, n.º 2 da Constituição da República, não actua
com o mesmo escopo próprio das entidades judiciárias.
Cremos que a lei, numa análise global, ao prever a aplicação subsidiária do direito
processual penal, pela proximidade estrutural deste, bem como, por estarmos na órbita
do direito sancionatório público, está a concretizar um mecanismo de importação dessas
soluções, em que procura homogeneizar ou aproximar as soluções apostas no processo
penal. Em simultâneo, de forma expressa, obsta a uma aplicação directa, sem mais, abre
uma “janela” que almeja do intérprete uma tarefa de devida adaptação e, eventualmente
de criação, sem que se perverta a essência dos valores e interesses, em ordem à
salvaguarda da identidade própria e arquitectura do Regime Geral das Contra-
ordenações.
Por outro lado, desta disposição percebemos que é afastada a aplicação subsidiária do
direito administrativo, ainda que no Direito das Contra-ordenações sejamos
confrontados com uma intervenção de uma entidade materialmente administrativa, a
qual, sublinhe-se, dotada de cariz sancionatório.49
48
Antes da nova redacção dada ao Código de Processo Penal nesta matéria, a questão da aplicação subsidiária já se
suscitava. Cf. Patto, Pedro Vaz. “O segredo de negócio e o segredo de justiça no Direito sancionatório.” In Direito
sancionatório das Autoridades Reguladoras, de Maria Fernanda Palma e outros (coord.). Coimbra: Coimbra Editora,
2009, p. 226.
49
Vide Antunes, Manuel Ferreira. Contra-ordenações e coimas, anotado e comentado. Lisboa: Dislivro, 2005, em
anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações. Para este autor a aplicação do direito administrativo
seria violadora deste artigo. “As competências contra-ordenacionais começam por ser atribuídas às autoridades
administrativas. Todavia, salvo melhor exegese, estas aplicam um direito fechado (típico) do sancionatório, que não
se confunda em qualquer vínculo do agente do facto à administração, nem na natureza do vínculo da AA (Sic.)
Autoridade Administrativa à administração, nem na noção de acto ou actividade administrativos propriamente ditos.
Funda-se, parece-nos, na diversa natureza sancionatória deste tipo de direito.”. Neste sentido, Pereira, António Beça.
Regime Geral das Contra-ordenações e Coimas: D.L. 433/82. 8.ª Edição. Coimbra: Almedina, 1992, na anotação ao
21
3. A tramitação processual do Direito das Contra-ordenações, a fase
administrativa, em especial.
A correcta análise do problema apresentado impõe uma análise e compreensão do
processo de contra-ordenação nas suas diversas fases. Os contornos do objecto do nosso
estudo é vasto porque abarca toda a extensão do processo e em todas as fases tem
interesse, ainda que, em algumas conte com uma resposta mais coerente.
A primeira grande fase, designa-se por administrativa porque é em regra conduzida por
uma autoridade administrativa (artigos 33.º, 34.º e 35.º, todos do Regime Geral das
Contra-ordenações). Porém, verificada a situação de concurso entre contra-ordenação e
crime, a competência para a promoção do processo pertence às autoridades judiciárias
em processo penal (artigos 38.º do Regime Geral das Contra-ordenações).
A sistematização do Regime Geral das Contra-ordenações não prevê uma divisão entre
impulso e decisão. Não se descortina a existência de uma regulação autónoma da fase
administrativa, porém, pelos actos e actividades processuais relevantes, esta fase
engloba três momentos: da notícia da infracção à defesa do arguido, da instrução e da
decisão final do processo. 50 Assim, a extensão do processo contra-ordenacional, no
artigo 41.º do mesmo diploma legal. Assim, não figura possível que o processo contra-ordenacional seja susceptível
de ser enquadrado como procedimento administrativo especial para efeitos do disposto no artigo 2.º n.º 5 do Código
Procedimento Administrativo, na redacção dada pelo Decreto-Lei n.º 4/2015, de 07 de Janeiro. Mais acrescente-se na
ordem de argumentos de afastamento do Direito Administrativo o facto das disposições da Constituição da República
Portuguesa confinarem-no aos valores ensaiados no Direito Processual Penal, ao inserir o direito de defesa dentro das
garantias em processo criminal (artigo 32.º, n.º 10) e não no Título IX respeitante à Administração Pública, bem
como ao abranger o regime geral no círculo das reservas relativas da Assembleia da Republica (artigo 165.º n.º1 al. d)
e, ainda, quando se refere à retroactividade da declaração de inconstitucionalidade nos termos do artigo 282.º n.º3.
Por outro lado, reforça ainda o argumento desta proximidade a elevação da protecção do segredo no direito das
contra-ordenações a um bem jurídico-penal tutelado nos termos do artigo 371º, n.º2 al. a) do Código Penal. Vide
Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a processos contra-ordenação arquivados. Um estudo
sobre o sentido e limites da aplicação subsidiária do Direito Processual Penal ao processo de contra-ordenação.” In
Estudos em homenagem à Professora Isabel Magalhães Collaço, Volume II. Coimbra: Almedina, 2002, p.609.
50
Cf. Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O direito de audição e direito de defesa em processo de contra-
ordenação: conteúdo alcance e conformidade constitucional.” Revista Portuguesa de Ciência Criminal, A.23, n.º 1 de
Jane-Março de 2013. Também com a mesma segmentação Cf. Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral
da República n.º 84/2007, de 28 de Fevereiro (Relator António Leones Dantas), in DR 2.ª Série, n.º 68 de 7 de Abril,
pp. 15223 e ss.;
22
prisma dos actos realizados compreende os seguintes momentos: 1) a abertura e a
instrução, anteriores à imputação dos factos ao arguido (por acto equivalente a uma
acusação); 2) a fase em que se garante o direito de defesa do arguido e se prepara a
decisão final; 3) a fase posterior à decisão da autoridade administrativa de condenação
ou de arquivamento; 4) a fase de impugnação judicial; 5) a fase posterior ao trânsito em
julgado do processo junto do tribunal; 6) a fase de execução judicial por incumprimento
do pagamento da coima.51
Em consonância com o disposto nos artigos 43.º do Regime Geral das Contra-
ordenações sujeita-se o processo das contra-ordenações ao princípio da legalidade.
Inferimos que, esta disposição interpretada e conjugada com o artigo 54.º do mesmo
diploma, a autoridade administrativa é obrigada a promover o processo de contra-
ordenação.
Nos termos do artigo 54.º, n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações, sob a epígrafe
“da iniciativa e da instrução”, o processo iniciar-se-á oficiosamente, mediante
participação das autoridades policiais ou fiscalizadoras ou ainda mediante denúncia
particular.
A actuação da entidade administrativa deve estrita obrigação à lei, sem margem para
discricionariedade na iniciativa da investigação e instrução da contra-ordenação. O
princípio da legalidade, a par do direito de defesa, transporta as razões de garantismo e
que se pretende salvaguardar no processamento das contra-ordenações, livra o cidadão
51
Cf. Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a processos de contra-ordenação arquivados.
Um estudo sobre o sentido e limites da aplicação subsidiária do Direito Processual Penal ao processo de contra-
ordenação.” In Estudos em homenagem à Professora Isabel Magalhães Collaço, Volume II. Coimbra: Almedina,
2002, p. 603.
23
de ser surpreendido com um processo não consignado na lei. Desta forma, o
fundamento essencial de um Estado de Direito mantém-se honrado e é afastada
suspeição de parcialidade, deixando íntegro o princípio da igualdade vertido no artigo
13.º da Constituição da República Portuguesa.
Saliente-se que este primeiro momento é interceptado ao longo da sua extensão pela
prática de actos de investigação em instrução (artigo 54.º, n.ºs 2 e 3 do Regime Geral
das Contra-ordenações). 54
Estes dois actos processuais podem ser, de forma simplificada e nas palavras de
Frederico da Costa Pinto, designados como acusação e defesa. Pela imputação
da contra-ordenação e respectivas sanções, principais e/ou acessórias, o arguido fica a
conhecer formalmente a sua situação de eventual sujeição à responsabilidade contra-
ordenacional.
52
Artigo 54.º, n.º 1 do Regime Geral das Contra-ordenações .
53
Vide a análise ao artigo 50.º do Regime Geral das Contra-ordenações em Dantas, Leones. “Os direitos de audição e
defesa no processo das contra-ordenações, artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da República Portuguesa.” Revista do
Centro de Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010, pp. 298 e ss.
54
Anote-se, a doutrina diverge quanto ao desempenho e eficácia simultânea de uma entidade receber e decidir, de
concentrar actos da notícia da infracção, instrução e de decisão, todos na mesma autoridade administrativa e no
mesmo processo. Na Lei-Quadro das Contra-ordenações Ambientais a entidade autuante ou participante não pode ter
função instrutória no mesmo processo (artigo 48.º da Lei 50/2006 de 29.08, na redacção dada pela Lei n.º 89/2009, de
31.08).
24
adequado, poderá nada dizer55/fazer. Cumpre-se, igualmente, o direito de audição, o
qual verifica-se em momento anterior à decisão final, em consonância, também, com o
disposto no artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da República Portuguesa.56
Esta disposição legal nada refere quanto à forma para o exercício destes direitos neste
âmbito, razão pela qual, figura defensável que poderão ser exercidos de forma oral ou
escrita. Aquilo que a lei exige, em suma, é que ao arguido seja dado o conhecimento da
factualidade imputada e respectivo enquadramento jurídico, 60 - 61 e acrescente-se a
faculdade de reagir em contraditório.
55
Sem que o silêncio possa valer contra este, artigo 61.º, n.º1, al. d) do Código de Processo Penal, aplicável por força
do disposto no artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
56
Vide Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O direito de audição e direito de defesa em processo de contra-
ordenação: conteúdo alcance e conformidade constitucional.” Revista Portuguesa de Ciência Criminal, A.23, n.º 1 de
Jane-Março de 2013, p. 74.
57
Há um dever de abstenção tomado por decisão da autoridade administrativa quando estas não se afigurem úteis
para a descoberta da verdade material. Cf. Santos, Manuel Simas, e Jorge Lopes de Sousa. Contra-ordenações,
anotações ao regime geral. Lisboa: Vislis, 2001, em anotação ao artigo 50.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
58
O exercício do direito de audição e defesa, manifesta a realização do princípio do contraditório, uma exigência
natural do Estado de Direito, a qual tem assento constitucional nos termos do artigo 32.º, n.º 5 da Constituição da
Republica Portuguesa. O contraditório, porém, “não é um direito absoluto e incondicionado; as provas e o juízo sobre
a pertinência das mesmas ou forma de as produzir estão cominados ao instrutor”, o qual não é obrigado a aceitar
todos os meios, sendo certo que essa decisão está submetida ao escrutínio judicial, artigo 55.º e 61.º do Regime Geral
das Contra-ordenações. Vide Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos
Financeiros. Coimbra: Almedina, 2010, p. 746-749.
59
Cf. Santos, Manuel Simas, e Jorge Lopes de Sousa. (Ob. cit.), na anotação ao artigo 50.º do Regime Geral das
Contra-ordenações.
60
Cf. Idem. Também neste sentido, Dantas, Leones. “Os direitos de audição e defesa no processo das contra-
ordenações, artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da República Portuguesa.” Revista do Centro de Estudos Judiciários,
(n.º 14), 2.º Semestre de 2010, p. 299.
61
“O núcleo duro do direito de defesa implica a notificação de uma acusação que contenha a imputação de factos,
objectivos e subjectivos, e a sanção abstracta cabível, com indicação de circunstâncias que possam influir na medida
25
Dispõe o artigo 33.º do Regime Geral das Contra-ordenações:
O processamento das contra-ordenações e a aplicação das coimas e das
sanções acessórias competem às autoridades administrativas, ressalvadas as
especialidades previstas no presente diploma. 62-63
A fase administrativa pode ser fragmentada em momentos distintos em função dos actos
praticados: investigação e instrução, comunicação dos factos e, por fim, é formulada
uma decisão. Não figura possível identificar e/ou comparar esta fase com o inquérito do
processo penal.
concreta da sanção (não basta citar artigos…)” Cf. Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados
de Instrumentos Financeiros. Coimbra: Almedina, 2010, p. 748
62
À luz desta disposição o critério que preside à eleição de uma autoridade como administrativa opera segundo um
critério funcional, ou seja, é toda a entidade pública que nos termos da lei tem competência para aplicar coimas. Cf.
Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à luz da Constituição da
República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora,
2011, em anotação ao artigo 33.º Nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 41.º do Regime Geral das Contra-
ordenações as autoridades admnistrativas no processo de aplicação da sanção gozam dos mesmos direitos e estão
submetidas aos mesmos deveres das entidades competentes para o processo criminal, sempre que o contrário não
resultar da lei. Também as autoridades policiais têm no procedimento das contra-ordenações os direitos e deveres aos
que lhes assistem no processo criminal (artigo 48.º n.º 2 do Regime Geral das Contra-ordenações).
63
Esta excepção corresponde aos casos em que há concurso entre crime e contra-ordenação ou de comparticipação
em que um dos agentes deve responder por crime e outro por contra-ordenação, em que a competência pertence ao
tribunal (artigos 38.º e 39.º, ambos do Regime Geral das Contra-ordenações).
26
suceda, só aqui é que legitimamos o uso do vocábulo “acusação”, porque o Regime
Geral das Contra-ordenações consagra no artigo 62.º, n.º 1 a seguinte equiparação:
Recebido o recurso, e no prazo de cinco dias, deve a autoridade administrativa
enviar os autos ao Ministério Público, que os tornará presentes ao juiz,
valendo este acto como acusação.
64
Refere o artigo 42.º do Regime Geral das Contra-ordenações:
1 - Não é permitida a prisão preventiva, a intromissão na correspondência ou nos meios de
telecomunicação nem a utilização de provas que impliquem a violação do segredo profissional.
2 - As provas que colidam com a reserva da vida privada, bem como os exames corporais e a prova de
sangue, só serão admissíveis mediante o consentimento de quem de direito.
Esta disposição trata da matéria probatória e das medidas de coacção, estando, por isso, inteiramente aliada ao
conteúdo dos direitos fundamentais dos cidadãos consignados na nossa Lei Fundamental tipicamente evocados no
direito sancionatório. Note-se, porém, que os regimes especiais de alguns sectores podem derrogar esta disposição e
prever medidas de coacção, como seja a suspensão preventiva da actividade, a sujeição desta a determinadas
condições, ou outras destinadas a acautelar o efeito útil da decisão final.
65
Estas decisões podem ser impugnadas por uma forma especial de recurso, artigo 55.º do Regime Geral das Contra-
ordenações. Trata-se de uma decisão que consubstancia um despacho interlocutório, porque proferido no âmbito do
processo, que pode atingir sujeitos processuais, intervenientes e até terceiros ao processo, o qual deve ser
fundamentado nos termos do disposto no artigo 97.º, n.º1, al. b) e n.º 5 do Código de Processo Penal, aplicável por
força do artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
27
presunção de inocência, com a eficácia da investigação e preservação dos meios de
prova, dada a natural exigência de funcionalidade e transparência da justiça, a par da
garantia e protecção da vida privada dos envolvidos.
Sobre o tema objecto do nosso trabalho, a doutrina portuguesa tem sido sensível às
questões colocadas e debruçou-se de forma mais ou menos intensa sobre o assunto.
Em posição maioritária, alguns Autores, ainda que de forma superficial e sem distinguir
a fase e/ou momentos presentes na fase administrativa, perfilam o entendimento de que
as autoridades administrativas e o processo contra-ordenacional estão estritamente
28
vinculados às regras impostas quanto à publicidade do processo e do segredo de justiça
regulados no art.º 86.º no Código de Processo Penal.66-67
Depois da revisão do Código Processo Penal foi elaborado um Parecer pelo Conselho
Consultivo da Procuradoria Geral da República sobre a aplicação ao processo das
Contra-ordenações do regime do segredo de justiça consagrado no Código de Processo
Penal.68 A questão foi colocada pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica,
por excelência, uma autoridade bastante mediática pela importância e reflexos que um
processo de contra-ordenação poderá suscitar nos negócios, sobretudo quando não
existam indícios suficientemente consistentes no sentido de aplicação de coima.69
66
Cf. Passos, Sérgio. Contra-ordenações, Anotações ao Regime Geral. Lisboa: Almedina, 2009, anotação ao artigo
43.º do Regime Geral das Contra-ordenações. Cf. Fernandes, António Joaquim. Regime geral das contra-ordenações,
notas práticas. 2.ª Edição. Lisboa: Ediforum, 2002, anotação ao artigo 41.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
Este autor, apesar de também não delimitar o âmbito processual, nem adiantar o modus operandi do regime, mostrou-
se particularmente sensível aos valores ínsitos nesta problemática, ao acrescentar que o segredo se justiça no processo
contra-ordenacional tem natureza penal nos termos do artigo 371.º do Código Penal. Cf. Também Mendes, António
Jorge Fernandes de Oliveira, e José dos Santos Cabral. Notas ao regime geral das contra-ordenações e coimas.
Lisboa: Almedina, 2003, em anotação ao artigo 45.º do Regime Geral das Contra-ordenações. E Cf. Antunes, Manuel
Ferreira. Contra-ordenações e coimas, anotado e comentado. Lisboa: Dislivro, 2005, em anotação ao artigo 45.º do
Regime Geral das Contra-ordenações.
67
Destaque-se que Frederico da Costa Pinto fragmentou e posicionou-se relativamente a esta matéria,
defendeu que o processo contra-ordenacional no momento anterior à acusação formal se encontrava em segredo de
justiç, para acautelar a investigação e a situação jurídica do arguido nesta fase de resultado incerto. Para o efeito,
invocou o disposto no artigo 86.º do Código de Processo Penal, aplicável por força do artigo 41.º do Regime Geral
das Contra-ordenações, donde resultava o segredo e uma limitação ao acesso ao processo e, em princípio, vedado aos
particulares. Posto isto, refere que durante toda a fase administrativa vigora o segredo de justiça, por força do artigo
371.º, n.º 2 do Código Penal. Cf. Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a processos contra-
ordenação arquivados. Um estudo sobre o sentido e limites da aplicação subsidiária do Direito Processual Penal ao
processo de contra-ordenação.” In Estudos em homenagem à Professora Isabel Magalhães Collaço, Volume II.
Coimbra: Almedina, 2002. pp.603-605.
68
Vide Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República n.º 84/2007, de 28 de Fevereiro (Relator
António Leones Dantas), in Diário da República 2.ª Série, n.º 68 de 7 de Abril, pp. 15223 e ss.
69
Como salienta Patto, Pedro Vaz. “O segredo de negócio e o segredo de justiça no Direito sancionatório.” In Direito
sancionatório das Autoridades Reguladoras, de Maria Fernanda Palma e outros (coord.). Coimbra: Coimbra Editora,
2009, p. 230.
29
interesses envolvidos, resultante da aplicação do disposto no artigo 86.º n.ºs 2 e 3 do
Código de Processo Penal, por força do artigo 41.º, n.º1 do Regime Geral das Contra-
ordenações.
Decretado o segredo pela Autoridade Administrativa nos termos do artigo 86.º n.ºs 2 e 3
do Código de Processo Penal, o acesso do arguido ao processo pode ser vedado, sempre
que se entenda que o acesso possa prejudicar a investigação, por decisão fundada, nos
termos do disposto no artigo 89.º, n.º 1 do Código de Processo Penal, aplicável por força
do o artigo 41.º n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações.
70
Também com a mesma posição Fernandes, António Joaquim. Regime geral das contra-ordenações, notas práticas.
2.ª Edição. Lisboa: Ediforum, 2002, na anotação ao artigo 50.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
30
Contra-ordenações, tal não se verifica. Na tramitação da fase administrativa do processo
consignado no Regime Geral das Contra-ordenações o Ministério Público não tem
competência para dar ordens ou directivas, tão pouco de fiscalização da autoridade
administrativa. Esta entidade apenas intervém aquando do recurso de impugnação nos
termos do artigo 62.º, n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações. Aqui, pode, porém,
segundo o Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República,
pronunciar-se sobre a actuação da autoridade administrativa nos termos do disposto no
artigo 53.º, n.º1 do Código de Processo Penal. No entanto, destaca-se que “nos casos
pontuais em que a lei preveja a possibilidade de realização no processo das contra-
ordenações de diligências que se mostram judicializadas no processo penal, o juiz, antes
de autorizar a realização das mesmas, pode ouvir o Ministério Público, mas não
ocorrem aqui as razões que impõem essa audição no processo penal”.
Teoricamente, o artigo 41.º n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações vem exigir
uma adaptação no sentido de não comprometer a estrutura deste processo.
A adaptação que aqui transposta foi colocar a autoridade administrativa sob a égide da
ponderação dos interesses relevantes (investigação e protecção da imagem social do
arguido), enquanto dominus da fase administrativa e titular da acção contra-
ordenacional, tendo por base o argumento de que não vigora o princípio do acusatório
pela ausência de divisão da tarefa de investigar e decidir. Assim, incumbe à Autoridade
Administrativa que dirige o processo proferir a decisão de sujeição do mesmo ao regime
de segredo, oficiosamente, ou a requerimento do arguido (artigo 41.º, n.º 2 do Regime
Geral das Contra-ordenações).
A decisão de decretar ou indeferir a sujeição do segredo, ou, ainda, qualquer acto que
impeça o acesso ao processo pelo arguido são susceptíveis de ser impugnadas
judicialmente (artigo 55.º do Regime Geral das Contra-ordenações). Saliente-se que o
recurso é dirigido para o Juiz competente para decidir o recurso previsto no artigo 61.º
do mesmo diploma, não o Juiz de instrução.
71
Cf. Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à luz da Constituição da
República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora,
anotaçao ao atiro 48.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
31
espírito e pela letra da lei, este autor considera que durante a investigação preliminar e
enquanto não for notificado nos termos do artigo 50.º do Regime Geral das Contra-
ordenações, a ser decretado o segredo de justiça, o arguido não pode requerer o acesso
aos autos para preparar a sua defesa com base na aplicação do artigo 89.º, n.º1 do
Código Processo Penal. Mais adianta que se o arguido requerer o acesso aos autos nesse
momento processual, a autoridade administrativa pode indeferir o requerido, sem que
este indeferimento possa ser apreciado por um tribunal, sob pena de o tribunal passar a
dominar o processo nesta fase administrativa, sindicando a tempestividade e/ou as
diligências já realizadas ou a realizar. Desta forma, o Autor defende que a fase
administrativa está submetida à regra do segredo interno, a qual cessa com a diligência
especialmente prevista no artigo 50.º do Regime Geral das Contra-ordenações.
72
O autor não indica a este propósito a disposição legal aplicável. Não nos parece existir um obstáculo de natureza
constitucional na aplicação das normas consignadas no Código de Processo Administrativo quanto a uma questão que
está inserida na organização da actividade administrativa. Assim, acrescente-se, que este recurso processar-se-á com
base nos artigos 184.º e 193.º, ambos do Código de Processo Administrativo.
73
“Quando, em cumprimento do disposto no artigo 50.º do regime geral das contra-ordenações, (…) na
correspondente notificação, não lhe fornecer todos os elementos necessários para que este fique a conhecer a
totalidade dos aspectos relevantes para a decisão, nas matérias de facto e de direito, o processo ficará doravante
32
Segundo este autor, porque o processo penal na matéria sobre o segredo interno
encontra uma partilha de atribuições entre Juiz e o Ministério Público, numa solução
atentatória do princípio do acusatório, é incoerente remeter por intermédio do artigo 41.º
n.º1 do Regime Geral das Contra-ordenações para uma solução que defende ser
inconstitucional.
Este argumento, a nosso ver e salvo o devido respeito, padece de uma pequena
fragilidade. É certo, porém, que tem razão em afirmar que não se pode, em abstracto,
invocar uma norma inconstitucional como regime subsidiário. No entanto, contender
com o acusatório não aflige particularmente no âmbito do direito das contra-ordenações
em que a fase administrativa tem uma estrutura claramente inquisitória, porquanto o
princípio da estrutura acusatória está reservado pela Constituição para o processo
criminal.74
O argumento aqui encontrado é bastante lógico, mas, salvo devido respeito, parece
encontrar mais do que sentido interpretativo pode permitir. Não nos parece que o
legislador esteja a regulamentar de forma directa a “adequada protecção do segredo de
justiça”, como impõe o comando constitucional do artigo 20.º, n.º 3 da Constituição da
República Portuguesa, assim não o é, por exemplo, em sede do Direito da Concorrência,
como adiante nos pronunciaremos. Além da norma não se dirigir de forma expressa ao
segredo, não nos parece que o legislador neste concreto artigo esteja a fixar os âmbitos e
afectado de nulidade, dependente de arguição, pelo interessado/notificado, no prazo de 10 dias após a notificação,
perante a própria administração, ou, judicialmente, no acto de impugnação da subsequente decisão/acusação
administrativa.” Vide Assento n.º 1/2003, de 16 de Janeiro (Relator José António Carmona da Mota), in Diário da
República, I Série -A, n.º 49 de 27 de Fevereiro, pp. 1409 e ss.
74
Cf. Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à luz da Constituição da
República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora,
2011, em anotaçao ao artigo 33.º. Sendo certo que, casos há em que alguns regimes especiais a autoridade
administrativa para a investigação é distinta do órgão decisor.
33
limites do segredo, tão pouco fixa os elementos de ponderação potencialmente
conflituantes.
(…)
Se a lei penal elege como bem jurídico penal a revelação do conteúdo de um processo
contra-ordenacional no qual ainda não foi proferida a decisão da autoridade
administrativa, quererá isto significar que vigora até este momento uma regra de regime
de segredo na sua dimensão externa? A resposta a esta questão é positiva segundo
Paulo Pinto de Albuquerque. 76 Cremos, no entanto, que esta visão é
excessiva.
75
José Lobo Moutinho e Henrique Salinas, perfilam o entendimento de que no Regime Geral das
Contra-ordenações não existe norma directa ou expressa sobre a natureza pública ou secreta no processo contra-
ordenacional. Porém, estes autores encontram na disposição penal uma fonte interpretativa, sem prejuízo dos casos
em que é legítimo dar conhecimento do acto processual, mediante uma prévia ponderação nos termos do artigo 86.º,
n.º 1 do Código de Processo Penal. Cf. Gorjão-Henriques, Miguel (Dir.). Lei da Concorrência, Comentário
Conimbricense. Coimbra: Almedina, 2013, em anotação ao artigo 32.º da Lei da Concorrência.
76
Também neste sentido, Vide Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos
Financeiros. Coimbra: Almedina, 2010, p. 637. E Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a
processos contra-ordenação arquivados. Um estudo sobre o sentido e limites da aplicação subsidiária do Direito
Processual Penal ao processo de contra-ordenação.” In Estudos em homenagem à Professora Isabel Magalhães
Collaço, Volume II. Coimbra: Almedina, 2002, p. 603.
34
Apesar de alguma doutrina encontrar na lei penal uma disciplina autónoma sobre o
segredo de justiça no processo de contra-ordenação, designadamente no artigo 371.º, n.º
2, al. a) do Código Penal, somos de entendimento que esse raciocínio é forçoso. Esta
norma penal prevê tão só uma previsão (quem no processo por contra-ordenação, até à
decisão da autoridade administrativa, ilegitimamente der conhecimento, do teor de acto
de processo penal que se encontre coberto por segredo de justiça, ou a cujo decurso não
for permitida a assistência do público em geral), que comina numa estatuição de
carácter penal. A tipificação da conduta de divulgação ilegítima nos termos anunciados
é sancionada, contudo não se consegue retirar a densificação e concretização do
conceito de ilegitimidade, por ausência do critério orientador, tão pouco seria coerente
com o Código Processo Penal,77 e acrescente-se, com o nosso ordenamento jurídico, que
esta regulamentação estivesse aqui presente.
77
Como veicula Germano Marques da Silva, a que acrescenta: “O art. 371.º [do Código Penal] é uma norma
de teor sancionatório pressupondo que a regulamentação dos factos do processo penal e do processo de contra-
ordenação e processo disciplinar submetidos a segredo consta de outros diplomas(…) é uma norma em branco quanto
ao elemento essencial da incriminação consistente na sujeição a segredo de justiça.” Cf., Silva, Germano Marques da.
“A publicidade do processo penal e o segredo de justiça: um novo paradigma?” Revista Portuguesa de Ciência
Criminal, (a.18) n.º 2 e 3, Abril - Setembro de 2008, p. 271.
78
Neste sentido, A. Medina Seiça na anotação ao artigo 371.º do Código Penal. Cf. Dias, Jorge de Figueiredo
(dirigido por). Comentário Conimbricense do Código penal, Tomo III. 2.ª. Coimbra: Coimbra Editora, 2001, p. 647.
79
Vide, Silva, Germano Marques da, “A publicidade do processo penal e o segredo de justiça: um novo paradigma?”
Revista Portuguesa de Ciência Criminal, (a.18) n.º 2 e 3, Abril - Setembro de 2008, pp.257-276.
35
um regime de segredo externo durante a fase administrativa em toda a sua extensão.
Limitando-se aquele Parecer a concluir pela inaplicação daquela disposição legal.
80
Cf. Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos Financeiros. Coimbra:
Almedina, p. 544
81
Conforme veicula o Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República n.º 84/2007, de 28 de
Fevereiro (Relator António Leones Dantas), in Diário da República 2.ª Série, n.º 68 de 7 de Abril, p. 15229.
36
sanção ou sanções em que incorre nos termos do artigo 50.º do Regime Geral das
Contra-ordenações. Neste momento, o sucesso da investigação pode ditar o processo ao
regime de segredo e, em consequência, vedar o acesso ao arguido. Por aplicação do
artigo 89.º, n.º 1 do Código de Processo Penal, por remissão do artigo 41.º, n.º1 do
Regime Geral das Contra-ordenações, poderá este requerer o acesso, invocando a
necessidade de preparação da sua defesa. Questão que se coloca é se no âmbito das
contra-ordenações se justifica o acesso ao processo por parte do arguido em ordem à
preparação antecipada da sua defesa, já que, atento ao disposto no artigo 42.º do Regime
Geral das Contra-ordenações que rege sobre as medidas de coacção e a matéria
probatória, não se observam os mesmos “constrangimentos” sobre o arguido como
acontece no inquérito do processo penal. 82
Denunciadas estas fragilidades pensamos que, dada a proximidade dos ilícitos contra-
ordenacionais aos criminais e a reconhecida subsidiariedade presente no Regime Geral
das Contra-ordenações, casos há em que a investigação no direito contra-ordenacional
seja admissível chamar à colação as necessidades de protecção da investigação e da
imagem social do arguido. Assim sendo, inclinamo-nos no sentido de em relação ao
tema objecto do nosso trabalho aceitar a subsidiariedade das normas dispositivas no
direito processual penal quanto ao regime da publicidade e do segredo. Sendo aplicáveis
ao processo de contra-ordenação as excepções ao princípio da publicidade, cumpre
densificar o conceito de adaptação que o artigo 41.º, n.º 1 do Regime Geral das Contra-
ordenações. Se há uma preocupação e um especial cuidado no processo penal em
colocar na esfera de uma magistratura dotada de independência e imparcialidade a
ponderação dos interesses em jogo na restrição à publicidade, não nos parece que
devemos ser menos garantísticos no direito das contra-ordenações, deixando em
primeira instância o balanceamento de valores e princípios materialmente jurisdicionais
ao cuidado de uma autoridade administrativa. A adaptação imposta traduzir-se-á na
entidade que decide submeter um processo contra-ordenacional na fase administrativa: o
Juiz competente para decidir o recurso, nos termos do artigo 55.º e 61.º do Regime
82
Este argumento pode contribuir para justificar o regime do segredo interno quanto a este momento. Contudo, não é
decisivo porque em certos regimes especiais há lugar a aplicação de medidas de coacção e diligências probatórias que
podem contender com direitos fundamentais. Cf. Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das
Contra-Ordenações à luz da Constituição da República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011, p. 155 e ss, em anotação ao artigo 42.º do Regime Geral das
Contra-ordenações.
37
Geral das Contra-ordenações. 83 Um Juiz que, naturalmente, pondera as variáveis em
jogo de acordo com o preceituado no direito processual penal, decidindo sob a forma de
despacho fundamentado. Reconhecemos a complexidade e a relevância do raciocínio
operado mas, só desta forma é que logramos respeitar o preceituado no artigo 20.º, n.º 3
da Constituição da República Portuguesa, em ordem a salvaguardar a adequada
composição dos interesses relevantes nesta sede.
83
Assim, Silva, Germano Marques da, “A publicidade do processo penal e o segredo de justiça: um novo
paradigma?” Revista Portuguesa de Ciência Criminal, (a.18) n.º 2 e 3, Abril - Setembro de 2008, p.272.
84
A criação de regras de defesa da concorrência, assenta não só sobre os fundamentos políticos (designadamente no
sentido de controlar o exercício do poder dos agentes económicos no mercado, a salvaguarda da liberdade económica,
a redistribuição da riqueza e a protecção dos consumidores) mas, sobretudo nos fundamentos económicos orientados
para a promoção da eficiência e eleição do bem estar social. Com maior desenvolvimento, Silva, Miguel Moura e.
Direito da Concorrência: Uma introdução jurisprudencial. Coimbra: Almedina, 2008, p.7 a 60.
85
Cfr. Mateus, Abel M. “Economia e direito da concorrência e regulação.” Sub Judice. Justiça e sociedade, (n.º 40),
(Jul.-Set.2007) de 2007, p. 11.
38
missão vigiar o respeito por práticas restritivas da concorrência a que correspondem aos
comportamentos inseridos no Capítulo II, no artigos 9.º, 11.º e 12.º da LdC 86 e pelos
artigos 101.º e 102.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (artigo 7.º,
n.º 2 da LdC).
86
Os quais, sucessivamente, configuram as seguintes proibições: acordos, práticas concertadas entre empresas e as
decisões de associações de empresas que atentem a concorrência; abuso de posição dominante e o abuso de posição
económica.
87
Assiste-se, assim, a uma concentração de competências. No quadro dos poderes e atribuições da Autoridade da
Concorrência importa atender ao consagrado no Estatuto da Autoridade da Concorrência, consignado no Decreto-Lei
125/2014, de 18 de Agosto, designadamente ao estatuído no artigo 5.º e 6.º.
88
Sobre o procedimento sancionatório especial por infracções às regras da concorrência, ainda que à luz da Lei
18/2003, de 11 de Junho Vide Mendes, Paulo Sousa. “O procedimento sancionatório especial por infracções às regras
de concorrência.” In Regulação em Portugal: novos tempos, novo modelo?, de Eduardo Paz Ferreira e outros
(coord.). Coimbra: Almedina, 2009,p. 209- 224.
89
Doravante, TFUE.
90
Conforme os artigos 11.º e 12.º do Regulamento da CE n.º 1/2003, do Conselho de 16 de Dezembro de 2002,
relativo à execução das regras de concorrência estabelecidas nos artigos 81.ºe 82.º do Tratado e Secção 2.2. da
Comunicação da Comissão sobre a cooperação no âmbito da rede de autoridades de concorrência, 27 de Abril de
2003.
39
da Concorrência também pode tomar conhecimento de alegadas infracções às regras da
concorrência por meio de denúncia de particulares, empresas ou de qualquer outra
entidade pública ou órgão de soberania, sendo que neste último caso, a denúncia de
práticas proibidas é obrigatória e traduz-se num dever legal para todos os serviços da
administração directa, indirecta ou autónoma do Estado, bem como para as autoridades
administrativas independentes (artigo 17.º n.º 1, 3, 4 e 5, todos da LdC).92 A denúncia
dá lugar a uma apreciação preliminar tendo em vista a determinação da existência ou
inexistência de elementos que permitam a abertura de um processo de contra-ordenação
ou de um processo de supervisão, nos termos do artigo 8.º da LdC.
91
Da mesma forma, a apresentação de um pedido de dispensa ou de redução de coima (vulgo, clemência) por parte de
uma ou mais empresas que tenham participado numa prática de cartel, punível pelo artigo 9.º da Lei n.º 19/2012
(e/ou, se aplicável, pelo artigo 101.º do TFUE), ou de um ou mais titulares de órgãos de administração daquelas, dá
origem a um processo, se contiver notícia de infracção. Neste caso, o requerimento vale como denúncia da infracção.
92
Cfr. Costa, Adalberto. O novo regime jurídico da concorrência, anotado e comentado . Porto: Vida Económica,
2014, anotação ao artigo 17.º da LdC. E, Concorrência, Autoridade da. “concorrencia.” http://www.concorrencia.pt.
26 de Março de 2013.
http://www.concorrencia.pt/vPT/Noticias_Eventos/Noticias/Documents/LO_Instrucao_Processos_2013.pdf (acedido
em 03 de Agosto de 2015), p. 2 e 3.
93
Assim, a Autoridade da Concorrência goza de poderes de inquirição dos representantes de empresas envolvidas,
solicitar documentos, realizar buscas. Vide Mendes, Paulo Sousa, e Fernando Xarepe Silveiro. “Algumas questões em
torno da nota de ilicitude no processo contra-ordenacional por práticas restritivas da concorrência.” Revista do Centro
de Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010:, p. 431.
94
Anteriormente na Lei da Concorrência era utilizada a formula “indícios suficientes”. A utilização desse conceito
para a passagem do processo da fase de inquérito para a instrução era altamente discutível. Este conceito tipicamente
inserido no processo penal tem subjacente uma dupla valoração: do material recolhido no processo e da sua
convicção probatória, bem como a sujeição dessa prova à imediação e ao contraditório na audiência de julgamento e
que se traduz num raciocínio de prognose sobre a viabilidade de submeter a julgamento. Não se tratava, pois, de um
conceito apto para marcar o início da instrução no processo contra-ordenacional, onde se pretendia justificar a
prossecução do processo como interrogatório do denunciado e, acrescente-se, por haver um hiato temporal até à
decisão final. Neste sentido, a doutrina distinguiu e considerou a existência de níveis de exigência completamente
diversos. Cfr. Dantas, A. Leones “Procedimentos de natureza sancionatória no Direito da Concorrência.” Sub Judice.
Justiça e sociedade, (n.º 40), Jul. - Set. de 2007, pp. 100 e 101.
95
Sobre a manifestação do principio da legalidade e oportunidade, ainda que à luz da antiga Lei da Concorrência (Lei
n.º 18/2003, de 11 de Junho), com algum paralelo à actual Lei da Concorrência, Vide Veiga, Raúl Soares da.
“Legalidade e Oportunidade no direito sancionatório das entidades reguladoras.” In Direito Sancionatório das
40
Terminado o inquérito e tendo a Autoridade da Concorrência concluído, com base nas
investigações, que existe uma possibilidade razoável de vir a ser proferida uma decisão
final condenatória, o processo transita para a fase de instrução (artigos 24.º, n.º3, al. a) e
25.º, n.º1, ambos da LdC).
Entidades Reguladoras, de Maria Fernanda Palma e outros (coordenação). Coimbra: Coimbra Editora, 2009, p. 159 e
ss.
96
Se o visado solicitar outros meios de prova, como por exemplo, a audição oral (nos termos do artigo 25.º, n.º2 e
26.º da LdC) ou a junção de documentos, a Autoridade da Concorrência pode recusar, fundamentando, para o efeito a
sua irrelevância ou por considerar constituir uma manobra dilatória do requerente. Adalberto Costa, critica
esta disposição pelo poder discricionário conferido à Autoridade da Concorrência e por comprometer o princípio da
justiça, do contraditório e da defesa. Até à decisão final, a Autoridade da Concorrência pode também propor-se a
realizar outras diligências destinadas à recolha de mais prova, mesmo depois da pronúncia do visado ao abrigo do
artigo 25.º da LdC. A realização de diligências complementares é dada ao conhecimento do visado para que o mesmo
possa reagir. Caso os factos imputados sejam substancialmente alterados, face ao teor na nota de ilicitude, a
Autoridade da Concorrência deve emitir uma nova nota de ilicitude e proceder à notificação do visado, nos termos do
artigo 25.º n.º1 e 2 da LdC. Cfr. Costa, Adalberto. O novo regime jurídico da concorrência, anotado e comentado.
Porto: Vida Económica, 2014, p. 73 e 74, em anotação ao artigo 25.º da LdC.
97
Dúvidas são colocadas sobre inferir se estamos perante uma acusação. A Lei da Concorrência na versão actual não
utiliza o vocábulo contaminado pelo léxico do processo penal como “acusações formuladas” “indícios suficientes”
constante na anterior LdC, designadamente no artigo 25.º e 26.º, correspondentes, parcialmente, aos artigos 24.º e 25.º
da actual LdC. No Regime Geral das Contra-ordenações, subsidiariamente aplicável, não há um despacho equivalente
a este, verifica-se tão só algumas regras sobre a notificação de decisões e despachos aos arguidos nos artigo 46.º e
47.º desse diploma legal. Por sua vez, o Regime Geral das Contra-ordenações, no artigo 41.º n.º1 consagra o Direito
Processual Penal aplicável subsidiariamente. Ora, no Código de Processo Penal o despacho de acusação é proferido
pelo Ministério Público (nos termos do artigo 283.º do CPP) quando hajam recolhidos indícios suficientes da prática
de crime, da mesma forma que a Autoridade da Concorrência decide dar início, através de uma nota de ilicitude, à
instrução quando as provas sejam suficientes sobre a prática de uma infracção. Feita esta análise parece ser
compaginável uma equiparação entre estas figuras, tanto que é dada a oportunidade do arguido se pronunciar sobre
as “acusações formuladas”. Vide Mendes, Paulo Sousa. “O procedimento sancionatório especial por infracções às
regras de concorrência.” In Regulação em Portugal: novos tempos, novo modelo?, de Eduardo Paz Ferreira e outros
(coord.). Coimbra: Almedina, 2009, p. 708. Concordamos com Paulo Sousa Mendes quando afirma que a notificação
não pode apenas concluir sobre a existência de indícios suficientes (Sic.) razoáveis da infracção. Com maior
desenvolvimento sobre a substanciação da notificação Vide Mendes, Paulo Sousa, e Fernando Xarepe Silveiro.
“Algumas questões em torno da nota de ilicitude no processo contra-ordenacional por práticas restritivas da
concorrência.” Revista do Centro de Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010, pp. 431-448.
98
Cfr. Costa, Adalberto. (Op. cit.), em anotação ao artigo 25.º da LdC, p. 73.
41
conceito técnico-jurídico utilizado, esta notificação deve integrar uma síntese descritiva
dos factos imputados, da respectiva qualificação jurídica e das sanções abstractamente
previstas para a contra-ordenação que os factos integram. 99 No Regime Geral das
Contra-ordenações, aplicável subsidiariamente, não é encontrada uma norma que
descortine de forma expressa e por completo o que deve ser notificado ao agente
infractor. A norma que aqui mais se aproxima corresponde ao artigo 50.º do Regime
Geral das Contra-ordenações, oportunamente já analisada, e que, em suma, determina
que antes da aplicação da sanção deve ser assegurado ao arguido a possibilidade de se
pronunciar. Todavia esta disposição não identifica o momento, nem o procedimento a
seguir para o efeito. Por conseguinte, atendendo ao normativo presente no artigo 25.º,
n.º1 da LdC podemos dele retirar que o mesmo comporta duas funções: transição da
fase de inquérito para a instrução e proporciona, através da nota de ilicitude, a
possibilidade de exercício do direito de audiência e defesa.100
Com a notificação da nota de ilicitude, os visados passam a ter direito de acesso pleno
ao processo, nos termos do artigo 33.º da LdC. A notificação da nota de ilicitude não
impõe a comunicação integral do conteúdo do processo, nem o envio de cópia de todos
os documentos ou elementos de prova referidos.101 Sem prejuízo de avançar, realizada a
notificação, o processo pode ser consultado pelo visado, na secretaria do Departamento
de Práticas Restritivas, por meio requerimento para o efeito, podendo ainda, obter
cópias ou certidões dos elementos constantes do processo, tendo em vista a preparação
da sua pronúncia.102
42
foi notificada, assegurando o princípio basilar da disciplina sancionatória da nossa Lei
fundamental presente no artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da Republica Portuguesa e
que se encontra no domínio no Regime Geral das Contra-ordenações no artigo 50.º.
Recorde-se, conforme o que oportunamente veiculámos, o exercício do direito de defesa
do arguido, como núcleo essencial das suas garantias de defesa, carece do
enquadramento jurídico das normas potencialmente aplicáveis, da prova produzida, a
par da possibilidade do arguido interferir nestas diligências, quer participando na prova
que foi trazida ao processo ou oferecendo outras. Estamos, assim, perante um princípio
que participa e incrementa a construção de um Estado de Direito, necessário à
realização dos interesses do arguido e das pessoas, em ordem à dignificação da Justiça.
103
Vide Mendes, Paulo Sousa, e Fernando Xarepe Silveiro. “Algumas questões em torno da nota de ilicitude no
processo contra-ordenacional por práticas restritivas da concorrência.” Revista do Centro de Estudos Judiciários, (n.º
14), 2.º Semestre de 2010, p.443 e 444.
104
No entanto, remetemos para quem de direito Vide, Lopes, Patrícia. “Segredos de negócios versus direitos de
defesa do arguido nas contra-ordenações da concorrência.” In Regulação em Portugal: novos tempos, novo modelo?,
de Eduardo Paz Ferreira e outros (coord.). Coimbra: Almedina, 2009, p.77 e ss. Vide, também Sentença do 2.º juízo
do Tribunal de Comércio de Lisboa, de 15 de Fevereiro, Processo 766/06.4TYLSB, publicado na Sub Judice, Justiça
e sociedade, A Confidencialidade nos Processos de Contra-ordenação, Jul-Set.2007, (n.º 40), p. 143 ss. E, Patto,
Pedro Vaz. “O segredo de negócio e o segredo de justiça no Direito sancionatório.” In Direito sancionatório das
Autoridades Reguladoras, de Maria Fernanda Palma e outros (coord.). Coimbra: Coimbra Editora, 2009, pp. 233-235.
43
Um dos objectivos que propusemos no nosso trabalho é analisar o regime de
publicidade versus segredo de justiça no direito da concorrência, em particular quanto
às práticas restritivas.
105
Caso estejamos perante uma decisão da Autoridade da Concorrência transitada em julgado a análise desta questão
passará pelo recurso ao regime legal de acesso à documentação administrativa, nos termos da Lei n.º 46/2007, de 24
de Agosto que regula o acesso aos documentos administrativos e a sua reutilização.
44
da Concorrência, quando entender que os direitos daquele o justificam. O requerimento
pode ser apresentado em qualquer momento do inquérito ou da instrução e deverá ser
devidamente fundamentado. A lei não adianta nem identifica quais são os direitos que
aqui justificam sujeitar este processo ao segredo de justiça. Os direitos que aqui podem
caber, nascem da imagem social das pessoas (singulares ou colectivas 106 ) e que se
projectam no direito à honra e no direito à presunção da inocência dos investigados (que
encontram sede no artigo 26.º e 32.º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa),
uma exigência natural e necessária a uma sociedade democrática inserida num Estado
de Direito.
De acordo com o número 2 e 3 do artigo 32.º, constatamos que a norma permite sujeitar
o processo a segredo de justiça no inquérito ou na instrução consoante os valores que se
querem proteger, os quais, pela sua natureza poderão sobrepor-se e verificarem-se em
simultâneo.
Uma vez decretado o segredo de justiça, o mesmo pode ser levantado, quando não mais
subsistam os interesses lhes tiveram subjacentes, por meio de requerimento do
interessado ou oficiosamente pela Autoridade da Concorrência (artigo 32.º, n.º 4 da
LdC).
106
Importa relembrar que os destinatários dos processos por infracção à Lei da Concorrência são empresas, ou seja,
pessoas colectivas. Cf. Silva, Miguel Moura e. Direito da Concorrência: Uma introdução jurisprudencial. Coimbra:
Almedina, 2008, p. 167. É verdade que alguns direitos fundamentais são incindíveis na pessoa humana, sem a
possibilidade de extensão às pessoas jurídicas. A própria Lei Fundamental afirma que as pessoas colectivas gozam
dos direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a sua natureza (artigo 12.º, n.º2). Exige-se um raciocínio de
operabilidade no sentido de aferir se são esses direitos compatíveis. Segundo a jurisprudência do Tribunal
Constitucional “a aplicação dos direitos fundamentais Às pessoas colectivas não pode deixar de levar em conta a
particular natureza destas” in Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 198/85, publicado na Colectânea Acórdãos do
Tribunal Constitucional, 6.º Volume, p. 473 e ss.;
45
2 - A Autoridade da Concorrência pode, até à notificação da nota de ilicitude,
vedar ao visado pelo processo o acesso ao processo, caso este tenha sido
sujeito a segredo de justiça nos termos do n.º 2 do artigo anterior, e quando
considerar que tal acesso pode prejudicar a investigação.
Nos termos do artigo 33.º, n.º1 da LdC, o visado no processo pode consultar o processo
e obter extratos, cópias ou certidões, sem que a lei exija quanto a este a observância do
requisito do interesse legítimo, desde logo, porque é visado e pretende tão só poder
exercer o seu direito de defesa. Esta é uma regra que vigora no processo desde o
inquérito até à decisão final e que pode conhecer uma importante excepção: sujeito o
processo ao regime de segredo nos termos do n.º 2 do artigo 32.º, a que corresponde na
sua essência à “hiperglorificação” dos interesses da investigação nos termos
anunciados, o acesso ao processo, bem como a obtenção de tais documentos, é interdito
ao visado, desde que o acesso por parte deste possa prejudicar a investigação 107. Esta
excepção vale até à notificação da nota de ilicitude, ou seja, durante a fase de inquérito
(artigo 33.º n.º2 da LdC). A fase em que o visado é susceptível de ser impedido de
consultar o processo corresponde justamente à fase em que a Autoridade da
Concorrência procede às diligências de investigação, em que esta entidade, no âmbito
dos seus poderes sancionatórios, dispõe de poderes de inquirição, buscas e apreensões
(artigos 18.º a 20.º da LdC). Estamos conscientes da importância do requerimento do
visado em termos da sua estratégia de defesa antecipada, assim como a decisão da
Autoridade da Concorrência neste âmbito, por isso impõe-se particulares exigências de
fundamentação.
107
Conforme veicula Luís Miguel Pais Antunes, deverão ter-se preenchidos três requisitos cumulativos, a
saber: ainda não ter sido notificada a nota de ilicitude, o processo esteja em segredo de justiça nos termos do artigo
32.º, n.º 2 da LdC e a Autoridade da Concorrência tenha, por decisão fundamentada, considerado que o acesso por
parte do visado nessa fase possa prejudicar a investigação. Cf. Gorjão-Henriques, Miguel (Dir.). Lei da
Concorrência, Comentário Conimbricense. Coimbra: Almedina, 2013, em anotação ao artigo 33.º da LdC., p.39.
46
simples nos termos do artigo 33.º n.º 1, ou se terá este, como qualquer pessoa requerer o
acesso, invocando para o efeito o interesse legítimo na consulta nos termos do n.º 3.
Cremos que a resposta resulta, desde logo, da intenção do legislador no artigo 25.º, n.º 1
da LdC ao conceder a este, através da nota de ilicitude a possibilidade de se pronunciar
sobre as provas produzidas ou a produzir, o que, conforme anteriormente
demonstrámos, irá implicar um conhecimento do processo em termos de direito e de
facto e, bem assim, o acesso ao processo e a possibilidade de obter, a expensas suas,
extractos, cópias ou certidões, ainda que tenha de os requerer. Consideramos existir,
assim, uma complacência no acesso livre ao processo que não pode ser negado.108 Quer
isto dizer que o segredo interno apenas poderá vigorar até à notificação da nota de
ilicitude.
108
Mais acrescente-se que nas linhas de orientação da Autoridade da Concorrência refere apenas: “As restrições de
acesso ao processo em segredo de justiça por parte do arguido cessam com a notificação da nota de ilicitude por parte
da Autoridade.” Cf. Concorrência, Autoridade da. “concorrencia.” http://www.concorrencia.pt. 26 de Março de 2013.
http://www.concorrencia.pt/vPT/Noticias_Eventos/Noticias/Documents/LO_Instrucao_Processos_2013.pdf (acedido
em 03 de Agosto de 2015).
109
É considerado um interesse legítimo o interesse atendível, que justifique, razoavelmente, conceder-se ao
requerente o acesso ao processo. Cf. Concorrência, Autoridade da. “concorrencia.” (Op. cit.).
110
Consideramos que poderá caber neste conceito a necessidade de utilização de elementos tendo em vista a
sustentação ou junção a um processo de outra natureza, por exemplo judicial, ou ainda o conhecimento de algum
contrato ou cláusula de um agente económico análogo ou que quer entrar no mercado.
47
O acesso ao processo é realizado nas instalações da Autoridade e não abrange, porém, o
conhecimento de segredos de negócio e outras informações confidenciais de entidades
terceiras, atento ao disposto no artigo 26.º n.º 5 do da LdC.111
111
Por outro lado, os titulares dos órgãos da Autoridade e o seu pessoal estão obrigados ao sigilo profissional (artigo
36.º dos Estatutos da Autoridade da Concorrência). Cf. Idem.
112
Cf. Sentença do 2.º juízo do Tribunal de Comércio de Lisboa, de 15 de Fevereiro, Processo 766/06.4TYLSB,
publicado na Sub Judice, Justiça e sociedade, A Confidencialidade nos Processos de Contra-ordenação, Jul-Set.2007,
(n.º 40), p.143 e ss.
113
Cf. Concorrência, Autoridade da. “concorrencia” http://www.concorrencia.pt. 26 de Março de 2013.
http://www.concorrencia.pt/vPT/Noticias_Eventos/Noticias/Documents/LO_Instrucao_Processos_2013.pdf (acedido
em 03 de Agosto de 2015).
48
processo (24.º, n.º1 da LdC). Este prazo como resulta do vocábulo utilizado “deve”, é
meramente indicativo, não quer dizer que o inquérito tenha tal duração, ou que esta não
possa prolongar.114 Imagine-se que os interesses da investigação determinam sujeitar o
processo ao regime de segredo de justiça nos termos do artigo 32.º n.º2 da LdC e,
entretanto, é protelada a investigação além dos 18 meses desde a abertura do inquérito e
a Autoridade da Concorrência veda o acesso ao visado, até, finalmente, ser realizada a
nota de ilicitude. Aquando da nota de ilicitude, no exercício da defesa, o visado, não
dispõe de poder idêntico, já que o seu prazo não pode ir além de 20 dias úteis.
Alertamos, por isso, que os direitos do visado poderão ser afrontados, por inobservância
do princípio do contraditório, da igualdade de armas e da legalidade. Por outro lado, o
artigo 29.º n.º1 da LdC menciona que a instrução deve ser concluída no prazo de 12
meses a contar da nota da ilicitude. Também este prazo é meramente sugestivo, pode ser
ultrapassado.115 O alargamento do prazo pode implicar, uma vez fixado o regime do
segredo em ordem à salvaguarda dos interesses da investigação e/ou direitos do visado
(artigo 32.º n.º 2 e/ou 3 da LdC), igualmente um hiato temporal demasiado penoso para
quem tem interesse em consultar o processo nos termos do artigo 33.º n.º 3 da LdC,
comprometendo, a realização da justiça, o princípio da celeridade e da publicidade do
processo.
114
Neste sentido, Costa, Adalberto. O novo regime jurídico da concorrência, anotado e comentado. Porto: Vida
Económica, 2014, p. 71, em anotação ao artigo 24.º LdC.
115
Neste caso, determina o n.º2 do mesmo preceito que o Conselho da Autoridade da Concorrência dá conhecimento
ao visado pelo processo e do período necessário para a conclusão da instrução. A este propósito Adalberto Costa, na
anotação ao artigo 29.º da LdC pensa que o alargamento do prazo para a duração da instrução viola o princípio da
legalidade. Cf. Costa, Adalberto. O novo regime jurídico da concorrência, anotado e comentado. Porto: Vida
Económica, 2014, p. 80.
49
Conclusão
O Regime Geral do Ilícito de Mera Ordenação Social foi instituído pelo Decreto-Lei n.º
433/82, de 27 de Outubro. Nasce um ramo do direito sancionatório, qualitativamente
diferente do Direito Penal, para assegurar a eficácia da ordem jurídica direccionada à
tutela de outros valores desprovidos de “ressonância moral” e que se justificam pela
intervenção estatal em detrimento da resposta penal, em honra do princípio de
intervenção de última ratio plasmado no artigo 18.º, n.º 2 da Constituição da República
Portuguesa.
50
O processo contra-ordenacional admite a regra da publicidade para garantir a
transparência da actuação das autoridades administrativas e permitir ao arguido o
exercício da sua defesa na fiscalização e controlo do procedimento da actuação da
autoridade administrativa. Também nas contra-ordenações, a eficácia da investigação e
a salvaguarda do nome do arguido compadece-se com excepções do princípio da
publicidade.
51
Bibliografia
Afonso, Ana Cristina. SMMP. s.d. http://www.smmp.pt/?page_id=98 (acedido em 26 de
Setembro de 2014).
Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Código de Processo Penal à luz da
Constituição da República Portuguesa e da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011.
Albuquerque, Paulo Pinto de. “Comentário do Regime Geral das Contra-Ordenações à
luz da Constituição da República Portuguesa e da Convenção Europeia dos
Direitos do Homem.” Lisboa: Universidade Católica Editora, 2011.
Antunes, Manuel Ferreira. Contra-ordenações e coimas, anotado e comentado. Lisboa:
Dislivro, 2005.
Bolina, Helena Magalhães. “O direito ao silêncio e o estatuto dos supervisionados à luz
da aplicação subsidiária do processo penal aos processos de contra-ordenação no
mercado de valores mobiliários.” Revista do Centro de Estudos Judiciários, (n.º
14), 2.º Semestre de 2010.
Catarino, Luís Guilherme. Regulação e Supervisão dos Mercados de Instrumentos
Financeiros. Coimbra: Almedina, 2010.
Concorrência, Autoridade da. “concorrencia.” http://www.concorrencia.pt. 26 de Março
de 2013.
http://www.concorrencia.pt/vPT/Noticias_Eventos/Noticias/Documents/LO_Inst
rucao_Processos_2013.pdf (acedido em 03 de Agosto de 2015).
Correia, Eduardo. “Direito penal e direito de mera ordenação social.” In Direito Penal
Económico e Europeu, Volume I, Problemas Gerais. Coimbra: Coimbra Editora,
1998.
Costa, Adalberto. O novo regime jurídico da concorrência, anotado e comentado .
Porto: Vida Económica, 2014.
Dantas, Leones. “Os direitos de audição e defesa no processo das contra-ordenações,
artigo 32.º, n.º 10 da Constituição da República Portuguesa.” Revista do Centro
de Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre de 2010.
—. “Procedimentos de natureza sancionatória no Direito da Concorrência.” Sub Judice.
Justiça e sociedade, (n.º 40), Jul. - Set. de 2007.
Dias, Jorge de Figueiredo (dirigido por). Comentário Conimbricense do Código penal,
Tomo III. 2.ª. Coimbra: Coimbra Editora, 2001.
52
Dias, Jorge de Figueiredo. “Direito Penal, Tomo I.” pp. 155-168. Coimbra Editora,
2011.
—. “Sobre a revisão de 2007 do Código de Processo Penal Português.” Revista de
Cirência Criminal Portuguesa (n.º 18), 2008.
Fernandes, António Joaquim. Regime geral das contra-ordenações, notas práticas. 2.ª
Edição. Lisboa: Ediforum, 2002.
Ferreira, Cavaleiro de. Curso de processo penal, II. Lisboa: Danúbio, 1986.
—. Direito Penal Português. Lisboa: Verbo, 1982.
Gorjão-Henriques, Miguel (Dir.). Lei da Concorrência, Comentário Conimbricense.
Coimbra: Almedina, 2013.
Inchausti, Fernando Gascón. “ffms.” http://www.ffms.pt. Janeiro de 2013.
https://www.ffms.pt/upload/docs/o-segredo-de-justica_YzcIfM_01k-lRhY6A-
I56A.pdf (acedido em 10 de Agosto de 2015).
Lopes, Patrícia. “Segredos de negócios versus direitos de defesa do arguido nas contra-
ordenações da concorrência.” In Regulação em Portugal: novos tempos, novo
modelo?, de Eduardo Paz Ferreira e outros (coord.). Coimbra: Almedina, 2009.
Machado, Miguel Pedrosa. “Elementos para o estudo da legislação portuguesa sobre
contra-ordenações,.” In Direito Penal Económico Europeu, Volume I,
Problemas Gerais. Coimbra: Coimbra Editora, 1998.
Mateus, Abel M. “Economia e direito da concorrência e regulação.” Sub Judice. Justiça
e sociedade, (n.º 40), (Jul.-Set.2007) de 2007.
Mendes, António Jorge Fernandes de Oliveira, e José dos Santos Cabral. Notas ao
regime geral das contra-ordenações e coimas. Lisboa: Almedina, 2003.
Mendes, Paulo Sousa. Lições de Direito Processual Penal. Coimbra: Almedina, 2013.
Mendes, Paulo Sousa. “O procedimento sancionatório especial por infracções às regras
de concorrência.” In Regulação em Portugal: novos tempos, novo modelo?, de
Eduardo Paz Ferreira e outros (coord.). Coimbra: Almedina, 2009.
Mendes, Paulo Sousa, e Fernando Xarepe Silveiro. “Algumas questões em torno da nota
de ilicitude no processo contra-ordenacional por práticas restritivas da
concorrência.” Revista do Centro de Estudos Judiciários, (n.º 14), 2.º Semestre
de 2010: 431 - 448.
Miranda, Jorge. As Constituições Portuguesas de 1982 ao texto actual da Constituição.
Lisboa: Petrony, 2004.
53
Miranda, Jorge, e Rui Medeiros. “Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I.” Coimbra
Editora, 2010.
Moutinho, José Lobo. Direito das contra-ordenações, Ensinar e Investigar. Lisboa:
Universidade Católica, 2008.
Palma, Maria Fernanda, e Paulo Otero. “Revisão do regime legal do ilícito de mera
ordenação social: parecer e proposta de alteração.” Revista da Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, Vol. XXXVII, 1996.
Passos, Sérgio. Contra-ordenações, Anotações ao Regime Geral. Lisboa: Almedina,
2009.
Patto, Pedro Vaz. “O segredo de negócio e o segredo de justiça no Direito
sancionatório.” In Direito sancionatório das Autoridades Reguladoras, de Maria
Fernanda Palma e outros (coord.). Coimbra: Coimbra Editora, 2009.
Pereira, António Beça. Regime Geral das Contra-ordenações e Coimas: D.L. 433/82.
8.ª Edição. Coimbra: Almedina, 1992.
Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “As codificações sectoriais e o papel das contra-
ordenações na organização do direito penal secundários.” In Direito Penal
Económico e Europeu, Volume III, Textos doutrinários. Coimbra: Coimbra
Editora, 2009.
Pinto, Frederico de Lacerda da Costa. “O acesso de particulares a processos contra-
ordenação arquivados. Um estudo sobre o sentido e limites da aplicação
subsidiária do Direito Processual Penal ao processo de contra-ordenação.” In
Estudos em homenagem à Professora Isabel Magalhães Collaço, Volume II.
Coimbra: Almedina, 2002.
—. “O direito de audição e direito de defesa em processo de contra-ordenação: conteúdo
alcance e conformidade constitucional.” Revista Portuguesa de Ciência
Criminal, A.23, n.º 1 de Jane-Março de 2013.
Santos, Manuel Simas, e Jorge Lopes de Sousa. Contra-ordenações, anotações ao
regime geral. Lisboa: Vislis, 2001.
Silva, Germano Marques da. Curso de Processo Penal, Volume II. Lisboa: Verbo, 2011.
—. “A publicidade do processo penal e o segredo de justiça: um novo paradigma?”
Revista Portuguesa de Ciência Criminal, (a.18) n.º 2 e 3, Abril - Setembro de
2008.
Silva, Miguel Moura e. Direito da Concorrência: Uma introdução jurisprudencial.
Coimbra: Almedina, 2008.
54
Veiga, Raúl Soares da. “Legalidade e Oportunidade no direito sancionatório das
entidades reguladoras.” In Direito Sancionatório das Entidades Reguladoras, de
Maria Fernanda Palma e outros (coordenação). Coimbra: Coimbra Editora,
2009.
Jurisprudência consultada
Assento n.º 1/2003, de 16 de Janeiro (Relator José António Carmona da Mota), in
Diário da República, I Série -A, n.º 49 de 27 de Fevereiro, pp. 1409 e ss.
Parecer consultado
Parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República n.º 84/2007, de 28
de Fevereiro (Relator António Leones Dantas), in Diário da República 2.ª Série, n.º 68
de 7 de Abril, pp. 15223 e ss.;
55