Exposição Ao Frio

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A AVALIAÇÃO

OCUPACIONAL AO FRIO
 Publicado em 5 de outubro de 2015

Vendrame Antonio Carlos


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Engenheiro de Segurança do Trabalho, MSc e Diretor na Vendrame Consultoria em
Segurança, Saúde e Meio Ambiente

A EXPOSIÇÃO AO FRIO

A exposição ao frio é resultante principalmente dos processos


industriais de indústrias alimentícias, onde as baixas temperaturas
são utilizadas para conservação dos alimentos.

As respostas fisiológicas ao frio são: (1) a vasoconstrição que


reduz o fluxo de sangue para a pele e (2) o tremor ou tiritar para
criar calor a partir do movimento (Parsons, 2003). A capacidade
do corpo de resistir ao frio irá depender de fatores físicos (de
ordem pessoal), de fatores subjetivos do indivíduo, como raça,
tipo biofísico, idade etc. (Vendrame, 1997).
Em parecer técnico sobre a não-aplicabilidade do art. 253 da CLT
às condições de temperatura e conforto térmico nos ambientes de
trabalho de desossa e embalagem em frigoríficos, elaborado pelo
Prof° Dr. René Mendes para a Federação das Indústrias do Estado
do Mato Grosso do Sul, foram feitas as seguintes constatações:
(1) a percepção de frio, de conforto térmico e desconforto térmico
são variáveis altamente subjetivas tanto em nível intra-individual,
quanto em nível inter-individual; (2) o conceito de frio é
altamente dependente do contexto geográfico, social e cultural e
(3) frio não se define por uma linha de corte baseada na
temperatura ambiental, mas por um conjunto de variáveis, tais
como a temperatura do ar ambiental, temperatura da superfície de
contato, a velocidade do ar, a temperatura radiante, a umidade
relativa e a forma de exposição.

Adicionalmente, a sensação térmica de frio fica ampliada pelo


incremento da velocidade do ar ou presença de umidade (Parsons,
2003).

A INSALUBRIDADE PELO FRIO

A caracterização da insalubridade pelo frio, nos termos do anexo


n° 9 da NR-15, tem gerado enormes controvérsias, principalmente
em razão do critério qualitativo permitido naquele anexo. Diz o
citado anexo:
As atividades ou operações executadas no interior de
câmaras frigoríficas, ou em locais que apresentem condições
similares, que exponham os trabalhadores ao frio, sem a
proteção adequada, serão consideradas insalubres em
decorrência de laudo de inspeção realizada no local de
trabalho.

Se a redação se restringisse a enquadrar como insalubre como a


atividade ou operação realizada no interior de câmaras
frigoríficas, não haveria tanta analogia e caracterizações absurdas
como ocorrem. No entanto, a colocação de “ou em locais que
apresentem condições similares” abriu um leque de infinitas
possibilidades, principalmente para aqueles cujos pensamentos
divagam...

Ademais, o Anexo n° 9 não traz qualquer patamar que estabeleça


o que é frio, deixando ao livre arbítrio do profissional a
caracterização ou não em insalubridade.

Complementarmente é feito o uso do art. 253 da CLT nas perícias


que envolvam exposição ao frio. O retro citado artigo nos traz
que:

Para os empregados que trabalham no interior das câmaras


frigoríficas e para os que movimentam mercadorias do
ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois
de uma hora e quarenta minutos de trabalho contínuo, será
assegurado um período de vinte minutos de repouso,
computado esse intervalo como de trabalho efetivo.
Parágrafo Único:
Considera-se artificialmente frio, para os fins do presente
artigo, o que no inferior, nas primeira, segunda e terceira
zonas climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho,
a 15º (quinze graus), na quarta zona a 12 º (doze graus), e
nas quinta, sexta e sétima zonas a 10º (dez graus).(grifo
nosso)
Com efeito, o art. 253 da CLT prevê um intervalo de 20 minutos
destinado ao repouso do trabalhador que (1) atua no interior de
câmaras frigoríficas e (2) que movimenta mercadorias do
ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa. Logo, há duas
atividades contempladas com intervalo de 20 minutos: (1) aquela
exercida no interior de câmaras frigoríficas e (2) aquela que
movimento mercadoria do ambiente quente ou normal para o frio
e vice-versa.
A letra e que insistentemente se apresenta sublinhada e negritada,
está grifada para darmos atenção ao seu significado dentro do
texto do art. 253 da CLT, pois é ela que divide os diferentes
entendimentos sobre o assunto, conforme se discorrerá a seguir.

René Mendes, em seu parecer técnico retro citado, aduz que a


conceituação de frio, estabelecido no art. 253 da CLT, além de ser
arbitrária, não se sustenta do ponto de vista técnico-científico, eis
que trata a questão de forma reducionista, sem a hierarquização
necessária, das várias faixas de frio possíveis no mundo real.

Na mesma esteira de raciocínio é o parecer do Engº de Segurança


do Trabalho e Perito Judicial Luiz Della Rosa Rossi:
O artigo 253 da CLT, dos serviços frigoríficos, além de ser
restrito somente às atividades de serviços frigoríficos, não é
parâmetro utilizável para a caracterização do adicional de
insalubridade por exposição ao frio, o qual se encontra
pautado pelo Anexo nº 9, da NR 15 da Portaria n.º 3214/78
do MTE. Assim, o descumprimento dos ditames do artigo
253 da CLT, eventualmente, poderá acarretar multa, nos
termos do artigo 351 da CLT, mas não a imposição do
pagamento do adicional de insalubridade. Por outro lado, o
fiel cumprimento do citado artigo, com a satisfação dos
períodos de repouso, por si só, não garantem a eliminação
ou neutralização da insalubridade, que se dará por meio das
proteções coletivas ou individuais.

AS DIFERENTES POSSIBILIDADES DE
ENQUADRAMENTO DO REPOUSO TÉRMICO

O art. 253 da CLT reconhece duas possibilidades de


enquadramento: (1) quando se trabalha no interior de câmara
frigorífica, uma vez que o intervalo legalmente previsto tem o
propósito de recompor o organismo da exposição à temperatura
extrema e (2) quando se movimenta mercadorias de ambiente
quente ou normal para o frio e vice-versa, quando o choque
térmico é compensado pelo intervalo de repouso.

O parágrafo único se aplica exclusivamente à segunda hipótese


(movimentação de mercadorias de ambiente quente ou normal
para o frio e vice-versa), se definindo o que é frio para cada
região do país, com base no mapa “Brasil Climas” – da Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE da
SEPLAN, publicado no ano de 1978 e que define as zonas
climáticas brasileiras de acordo com a temperatura média anual, a
média anual de meses secos e o tipo de vegetação natural, nos
termos da Portaria nº 21 do Ministério do Trabalho, de 26 de
dezembro de 1994.

A DIFERENÇA ENTRE CÂMARA FRIGORÍFICA E


AMBIENTE CLIMATIZADO

Câmara frigorífica é um recinto onde são armazenados produtos


congelados (destinados ao mercado interno -12ºC e mercado
externo -18ºC), os quais necessitam da manutenção de baixas
temperaturas. Não se confunda câmara frigorífica com câmara de
resfriados, eis que esta se destina a armazenar produtos resfriados
(0 a 10ºC).

Também não se confunda câmara frigorífica com câmara


climatizada, a qual opera em temperaturas próximas de 15ºC e são
utilizadas para armazenar, por exemplo, verduras sensíveis à
baixa temperatura.

Finalmente, também não se confunda câmara frigorífica com


ambientes climatizados artificialmente, inclusive por imposição
dos Serviços de Inspeção Federal, os quais são encontrados em
salas de desossa, preparo de massa de produtos industrializados e
embalagens, por exemplo. Nos ambientes climatizados
artificialmente não se deseja a manutenção de temperatura de
resfriamento ou congelamento, mas tão somente condição em que
seja inibido o crescimento da maioria dos micro-organismos e,
conseqüentemente comprometimento do alimento que está sendo
processado.

A PERÍCIA PARA AVALIAÇÃO DO FRIO

Um equívoco que está se tornando modismo nas perícias é o


enquadramento em insalubridade por frio, ainda que o trabalhador
utilize jaleco, calça e blusa térmicos, bem como meias, luvas e
calçados próprios. A justificativa está no fato do trabalhador
inspirar ar frio e não utilizar máscaras para aquecimento do ar.

Qualquer leigo em fisiologia sabe que o ar atmosférico ao ser


inspirado é aquecido pelas vias superiores, para chegar aos
pulmões na mesma temperatura do organismo humano (por volta
de 37°C).

O ar ambiente inspirado, ao passar pelas vias aéreas superiores, é


aquecido até 37ºC e fica saturado de umidade (Torloni et al,
2003). O aquecimento do ar inspirado é realizado pelas fossas
nasais, que desempenham importante papel na fisiologia
respiratória (Pinheiro et al, 2006).
Assim, ao contrário da inverdadeira crença de alguns, o ar
inspirado jamais chega frio aos pulmões, eis que é aquecido nas
vias aéreas superiores à temperatura do corpo, ainda que
estivéssemos na Antártica, onde as temperaturas no inverno
alcançam -60ºC!

Ressalte-se que as baixas temperaturas dificultam a passagem do


oxigênio para o sangue. O processo de aquecimento começa no
nariz (ou na boca) e continua pelo caminho sinuoso e altamente
irrigado que o ar percorre até atingir os pulmões. Baseado nesta
falsa hipótese prevista por alguns Peritos o Judiciário tem sido
incitado a pronunciar sentenças totalmente divorciadas do critério
técnico.

OS LIMITES INTERNACIONAIS PARA FRIO

A ACGIH – American Conference of Governmental Industrial


Hygienists – estipula limites de tolerância para o frio, segundo a
tabela reproduzida abaixo, com os valores de °F convertidos para
°C.
Da leitura da tabela anterior, note-se que a ACGIH somente
considera como pequeno risco a exposição a temperaturas iguais
ou inferiores a -1°C, num ambiente calmo, sem ventos, típico do
interior de uma indústria. Temperaturas até 4°C, segundo a
ACGIH não oferecem risco.

O USO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

A neutralização do agente insalubre pelo uso dos equipamentos de


proteção individual é reconhecida técnica e legalmente através do
art. 191 da CLT combinado com o item 15.4.1. da NR-15 da
Portaria nº 3.214/78 do Ministério do Trabalho.
Equipamentos como blusões, calças térmicas, meias de lã, luvas
para o frio, botas, gorros e tantos outros são aparatos com
reconhecida atuação contra a sensação do frio.

Novamente invocando o fecundo magistério do Prof° Dr. René


Mendes, no já citado parecer técnico, o eminente Médico do
Trabalho aduz em seu artigo o entendimento de que nas faixas de
temperatura ambiental entre 8,5°C e 11,5°C, nas atividades de
desossa e embalagem de frigoríficos, a proteção individual pelo
uso de roupas e vestimentas adequadas para estas faixas de
temperatura constitui uma medida de proteção correta e de
eficiência e eficácia adequadas.

BIBLIOGRAFIA

1. Mendes R. Parecer técnico sobre a não-aplicabilidade do art.


253 da CLT às condições de temperatura e conforto térmico
nos ambientes de trabalho de desossa e embalagem em
frigoríficos. São Paulo; 2009.

2. Parsons K. Human thermal environments – The effects of hot,


moderate and cold environments on human health, comfort
and performance. 2nd ed. New York: Taylor & Francis; 2003.

3. Pinheiro AKS, França MBA. Ergonomia aplicada à anatomia


e à fisiologia do trabalhador. Goiânia: AB Editora; 2006.
4. Rossi LDR. s/d. Disponível na Internet.
http://www.avatec.com.br/v3/m_perg_resp.asp?id=74&g=1
em 11.out. 2010.

5. Torloni M, Vieira AV. Manual de proteção respiratória. São


Paulo: Maurício Torloni; 2003.

6. Vendrame ACF. Curso de introdução à perícia judicial. São


Paulo: LTr; 1997.

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