Saga
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Grupo I
1. Explica a razão pela qual Sophia de Mello Breyner pode ser apelidada de “A
menina do Mar”.
Grupo II – Texto A
Eu lia sobre o amor nos livros que me iam dando para a mão – Dickens,
Tolstoi, Hermann Hesse, a Bíblia – e parecia-me muito difícil lidar com esse
sentimento, tão escorregadio como as algas que eu arrastava do mar e enrolava
na cinta, e me caíam aos pés.
Foi o tempo de ensaiar as primeiras cartas de amor, tão rudimentares
como as mais rudimentares experiências de Química, e tão inesquecíveis! [...]
Em setembro, partia de comboio para o Douro: as janelas abertas em
corrente de ar, as costas coladas aos estofos de veludo, as recoveiras
conhecidas dos revisores, que regressavam com as cestas vazias metidas umas
nas outras; a melancia madura, bem gelada, que a Idalina me servia na cozinha
escura, quando eu chegava.
[...] Atirava-me para o sofá de linho e lia horas e horas, escondida numa
penumbra mágica: Salgari, Blasco Ibáñez, Defoe, Rider Haggard, Eça.
A biblioteca era completamente desordenada, e dava-me enorme prazer
encontrar os livros manuseados, anotados a lápis com pensamentos, referências
pessoais, desenhos, pequenas contas de somar, uma violeta seca. Passava-lhes
a mão por cima, devagar, como se os chamasse à minha atenção.
Chegava o carteiro à hora de maior calor, e lá vinha mais uma carta que
eu ia ler para junto do tanque, onde caía de uma bica de pedra uma água fresca,
metálica.
As minhas férias eram bastante solitárias. Tão fantásticas, inesquecíveis,
porque significavam o contacto com a minha realidade que não era a da História,
da Filosofia, do Grego, do Latim.
Não eram um tempo de diversão. Por que haveria de ser?
A vida é o que é. E não devemos esperar dela que nos reserve grandes
emoções nem grandes alegrias. Temos é de saber encontrar na rotina do
quotidiano o seu significado poético, a sua harmonia.
Foram assim as minhas belas Férias Grandes. E é verdade que nunca as
troquei por nenhumas outras! Há uma fita de cor de alfazema que liga esses
tempos ao meu coração.
Jornal de Letras, 17 a 30 agosto de 2016, n.º 1197
(texto com supressões)
Conto Contigo 8
2. Atenta na frase.
“as janelas abertas em corrente de ar, as costas coladas aos estofos de
veludo, as recoveiras conhecidas dos revisores, que regressavam com as cestas
vazias metidas umas nas outras”.
2.1. Indica o antecedente do pronome “que”.
Grupo II - Texto B
Lê o excerto.
Hans ficou a viver nessa casa [de Hoyle], em parte como empregado, em
parte como filho adotivo.
Na sua adolescência cresceu entre os cais, os armazéns e os barcos, em
conversas com marinheiros embarcadiços e comerciantes. De um barco ele
sabia tudo desde o porão até ao cimo do mais alto mastro. E, ora a bordo ora em
terra, ora debruçado nos bancos da escola sobre mapas e cálculos, ora
mergulhado em narrações de viagens, estudando, sonhando e praticando, ele
preparava-se para cumprir o seu projeto: regressar a Vig como capitão de um
navio, ser perdoado pelo pai e acolhido em casa.
Dois dias depois de ter recolhido Hans, Hoyle levou-o ao centro da cidade
e comprou-lhe as roupas de que precisava e também papel e caneta.
Conto Contigo 8
Hans escreveu para casa: pediu com ardor perdão da sua fuga, dizia as
suas razões, as suas aventuras, o seu paradeiro. Prometia que um dia voltaria a
Vig e seria capitão de um grande veleiro.
A resposta só veio meses depois. Era uma carta da mãe. Leu:
“Deus te perdoe, Hans, porque nos injuriaste e abandonaste. Manda-me o
teu pai que te diga que não voltes a Vig pois não te receberá.”
Depois dessa carta, Hans sonhou com Vig muitas vezes. Era acordado de
noite pelo clamor de tempestades em que naufragava à vista da ilha sem a poder
atingir. Ou deslizava, ao lado pai, num grande lago gelado, rente à luz de cristal e
havia em seu redor um infinito silêncio, uma transparência infinita, uma leveza e
uma felicidade sem nome. Mas outras noites acordava chorando e soluçando,
pois o seu pai era o capitão do navio e o chicoteava brutalmente no convés e ele
fugia e de novo ficava sozinho e perdido numa cidade estrangeira.
Os anos passaram e Hans aprendeu a arte de navegar e a arte de
comerciar.
Hoyle nunca casara e, numa terra para ele estrangeira, não tinha família e
as suas raras amizades eram pouco íntimas. No adolescente evadido ele via
agora um reflexo da sua própria juventude aventurosa que, há muito tempo,
naquela cidade ancorara. Para ele, Hans era a sua nova possibilidade, o destino
outra vez oferecido, aquele que iria viver por ele a verdadeira vida, que nele,
Hoyle, estava já perdida como se o destino, tendo falhado seus propósitos,
fizesse, com uma nova mocidade, uma nova tentativa.
Assim, Hans era para ele não o herdeiro daquilo que possuía e fizera mas
antes o herdeiro daquilo que perdera. Por isso seguiu passo a passo os estudos
e a aprendizagem do adolescente, controlando a qualidade do ensino nas
escolas onde o inscrevera e vigiando a competência dos superiores sob cujas
ordens a bordo o colocava. Aos 21 anos, já Hans era capitão de um navio de
Hoyle e homem de confiança nos seus negócios.
Assim, desde muito cedo, Hans conhecera as ilhas do Atlântico, as costas
de África e do Brasil, os mares da China. Manobrou velas e dirigiu a manobra
das velas, descarregou fardos e dirigiu o embarque e desembarque de
mercadorias.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Saga, Porto editora
Conto Contigo 8
4. Atenta na frase, “Assim, Hans era para ele não o herdeiro daquilo que possuía
e fizera mas antes o herdeiro daquilo que perdera”.
4.1. Explica a frase, tendo em conta a atitude de Hoyle para com Hans.
Grupo III
Conto Contigo 8
Gramática
Grupo IV - Escrita
Relê o excerto do conto.