Hisitoria Do Barroco PDF
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ANTIGUIDADE AO BARROCO
Meu nome é João Paulo Costa do Nascimento. Sou compositor, pesquisador e educador musical. Sou graduado
em Música com habilitação em Composição e Regência pelo Instituto de Artes da Unesp (2004) e doutorando em
Música pelo Instituto de Artes/Unesp. Sou autor de “Abordagens do pós-Moderno em Música” (Ed. Unesp/ Selo
Cultura Acadêmica) e professor da escola de música Espaço Musical. Atuo, especialmente, nas áreas de música
contemporânea, filosofia da música e pós-modernismo.
E-mail: [email protected]
Meu nome é Mariana Galon. Sou mestre em educação pela UFSCar (2015), licenciada em Educação Artística
com habilitação em Música pela USP (2006) e especialista em Arte e Educação e Tecnologias Contemporâneas
pela UNB (2012). Tenho experiência com ensino de música na Educação Básica, na qual atuei como regente
de um coro infantil e coordenadora da área de música. Atualmente, sou docente de um curso de Artes
Visuais, educadora musical (violoncelo) do Projeto Guri, docente do curso de Licenciatura em Música do
Claretiano – Centro Universitário e tutora de um curso de Educação Musical. Além disso, desenvolvo
pesquisas na área de Criação Musical Coletiva, Práticas Sociais e Processos Educativos e em Educação
Musical Humanizadora.
E-mail: [email protected]
João Paulo Costa do Nascimento
Batatais
Claretiano
2016
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de
banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.
780.9 N195h
Nascimento, João Paulo Costa do
História e crítica musical: da Antiguidade ao Barroco / João Paulo Costa do
Nascimento, Mariana Galon da Silva – Batatais, SP : Claretiano, 2016.
215 p.
ISBN: 978‐85‐8377‐501‐0
1. História da música. 2. Antiguidade. 3. Idade‐Média. 4. Renascimento.
5. Barroco. I. História e crítica musical: da Antiguidade ao Barroco.
CDD 780.9
INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: História e Crítica Musical: Da Antiguidade ao Barroco
Versão: ago./2016
Formato: 20x28 cm
Páginas: 215 páginas
SUMÁRIO
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................................9
1.1. QUAL HISTÓRIA VOCÊ ESTUDARÁ?........................................................................................................................9
1.2. E QUAL O PERCURSO NECESSÁRIO PARA SE CONTAR ESSA HISTÓRIA?.............................................................10
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................................................................................13
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE...............................................................................................................................16
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................................................................16
5. E-REFERÊNCIAS................................................................................................................................................................16
Conteúdo
Introdução aos aspectos históricos da música ocidental, compreendendo características
estilísticas e estruturais, desde a sua origem até o período barroco. A música na tradição gre-
ga; música na Idade Média, canto litúrgico e canto secular; primórdios da polifonia no século
13, organum, modos rítmicos, conductus e motete; a música francesa e italiana do século 14,
ars nova, trecento italiano, música ficta; a era renascentista; correntes musicais do século 16;
música sacra no Renascimento tardio; música do primeiro Barroco; ópera e música vocal na
segunda metade do século 16; música instrumental no Barroco tardio; a primeira metade do
século 18. Música no Brasil colonial.
Bibliografia Básica
BENNETT, R. Uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. Historia de la música occidental. Tradução de Ana Luisa Faria. Lisboa: Gradiva, 1997.
STOLBA, K. M. The Development Of Western Music: a history. Nova Iorque: MacCgraw-Hill Companies, 1998.
Bibliografia Complementar
BROWN, H. M. Music In The Renaissance. New Jersey: Prentice-Hall, Inc. 1976.
BUKOFZER, M. La música en la época barroca. Madrid: Alianza, 1986.
FUBINI, E. Estética da música. Lisboa: Edições 70, 2008.
LANG, P. H. Music in Western Civilization. New York: W.M. Norton & Company, 1997.
PALISCA, C. Baroque Music. 3. ed. New Jersey: Prentice-Hall, 1991.
TARUSKIN, R.; WEISS, P. Music In The World: a Historical in Documents. Boston: Thomson Learning, 1984.
TOMAS, L. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.
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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das
competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais
conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etioló-
gico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Univer-
sitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. É chamado "Conteúdo Digital Integrador" porque é
imprescindível para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência
de mídias (vídeos complementares) e a leitura de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a den-
sidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação.
1. INTRODUÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Você iniciará o estudo de História e Crítica Musical: da Antiguidade ao Barroco, por meio
do qual obterá importantes informações a respeito do desenvolvimento histórico da música
ocidental.
Será abordado neste estudo um período de mais de dois mil anos, que abrange da An-
tiguidade Grega ao Período Barroco. Por esse motivo, o conteúdo foi elaborado de modo a
contribuir para uma visão panorâmica da história da música no ocidente, tendo como foco os
principais acontecimentos e conceitos construídos durante a história. Esta visão é de extrema
importância para diversas reflexões a respeito dos destinos da música, quer seja na produção
artística ou na educação musical.
Desse modo, você terá a oportunidade de, por meio dessa visão panorâmica dos pe-
ríodos aqui apresentados, localizar no tempo fatos importantes que compõem a história da
música. Esse conhecimento contribuirá para a construção de uma visão crítica da música do
nosso passado e, consequentemente, da música do presente.
Esta obra destina-se à formação de futuros educadores. É preciso salientar que a visão
crítica sobre a música que o estudo da história proporciona irá colaborar nas tomadas de deci-
sões sobre o que fazer com nossas obras, as obras dos alunos, como contextualizar as aprecia-
ções e criações produzidas no ambiente escolar e também refletir sobre as possibilidades de
músicas que poderão ser apresentadas aos seus educandos em sala de aula.
Apesar desses registros e descobertas arqueológicas, faltam meios para avaliar com pre-
cisão como tais músicas eram construídas, organizadas e realizadas, justamente porque faltam
indícios e registros de seu resultado sonoro concreto, por meio de grafia musical ou gravação.
Portanto, sempre que a história é recontada, aqui a história da música, há um recorte, ou seja,
uma escolha de quais dados, informações e fatos devem ser elencados.
No caso deste estudo, a escolha dos conteúdos foi feita para proporcionar uma visão pa-
norâmica da história da música relacionada à sua documentação por meio da escrita. Esse pro-
cesso se dá, especialmente, na história da música ocidental. Isso não significa que não tenha
ocorrido escrita musical em outras civilizações, mas em nenhuma outra situação globalmente
conhecida até o presente a escrita musical adquire a importância, a dimensão e o alto grau de
detalhe que atinge no decorrer da música europeia. E essa mesma escrita contribuiu muito
para o surgimento de inúmeras das formas atuais de realização e interação musical.
Como você pôde perceber, será um longo percurso histórico para percorrer. Este estudo
utilizará a divisão de períodos históricos e conceituações do estudo tradicional da história.
Esses períodos são:
• Pré-história: abrange desde o surgimento do homem na terra até, aproximadamente,
4000 a.C..
• Idade Antiga: cerca de 4000 a.C. até 476 d.C. (fato de referência: queda do Império
Romano do Ocidente).
• Idade Média: entre 476 d.C. até 1453, (fato de referência: tomada de Constantinopla
pelo Império Turco Otomano).
• Idade Moderna: entre 1453 até 1789 (fato de referência: Revolução Francesa).
• Idade Contemporânea: a partir de 1789 até os dias atuais.
Você percorrerá um caminho que começa na antiguidade: na Grécia Antiga. Então, deve
estar se questionando: se estudarei a história da música ocidental, por que iniciarei este estu-
do na Grécia Antiga?
O motivo disso vem do fato de a civilização grega ser considerada o berço do pensa-
mento ocidental, especialmente, no que diz respeito ao legado filosófico que ela deixou para
o mundo; por meio deste legado, noções ocidentais modernas que fazem parte do nosso coti-
diano como a ideia de democracia, ciência e beleza chegaram até nós.
O pensamento grego moldou as bases da civilização ocidental e a música grega também
influenciou em grande grau o pensamento musical ocidental.
Após conhecer a história da música da Grécia antiga, você seguirá em direção à Idade
Média e à Idade Moderna.
Paralelamente a esta divisão por períodos da história geral, lembre-se de que a história
da música também desenvolve sua própria divisão, que auxilia na compreensão do desenvol-
vimento de diferentes tipos de organizações musicais; a essa divisão, damos o nome de estilos
de época.
Nesta definição, Bennett prioriza a observação dos estilos a partir das composições mu-
sicais. Você verá, no decorrer do estudo, que a ideia de composição – uma música de autoria
de uma pessoa – não é uma ideia que sempre existiu. Mesmo assim, você poderá compreen-
der tais estilos, também a partir de suas diferentes práticas musicais, de seus diferentes hábi-
tos e de seus diferentes modos de relacionar músicas e músicos a outras esferas da vida, como
a religião, o entretenimento, a filosofia, a ciência e a moral.
Dessa forma, um estilo de época compreende certa homogeneidade e tem característi-
cas comuns no modo de se fazer música dentro de um determinado período de tempo.
Veja um gráfico de tais estilos:
O estudo dos estilos de época deve ser combinado com os períodos da história geral,
de modo que, em alguns momentos, um único período da história geral compreenderá um ou
mais estilos de época. Este é o caso, por exemplo, da Idade Moderna, que compreende, em
termos musicais, os estilos Renascentista e Barroco.
Neste momento, o nosso estudo de história e crítica musical se concentrará nos perío-
dos da Antiguidade (4000 a.C.- 476 d.C.), da Idade Média (476 - 1450), do Renascimento (1450
– 1600) e do Barroco (1600 – 1750).
Atenção!–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Fique atento ao seguinte fato: um intérprete de músicas escritas anteriormente a 1750 pode designar seu reper-
tório, simplesmente, por música antiga, e isso não significa, necessariamente, música do período da história geral
denominado de Antiguidade.
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Ainda na Unidade 4, você conhecerá a música colonial brasileira, na qual poderá obser-
var as práticas musicais oriundas da Idade Média, do Renascimento e, até mesmo, do próprio
Barroco europeu.
É importante ter em mente que, para compreender o conteúdo aqui apresentado,
você deve escutar todas as obras sugeridas no decorrer deste estudo e analisar as partituras
indicadas.
O entendimento das particularidades de cada estilo, de cada compositor só é possível
por meio do processo de escuta consciente e analítica das obras apresentadas.
Você percorrerá os corredores deste museu no qual encontrará músicas monumentais
de parte da história da humanidade.
Seja bem-vindo ao “Museu Imaginário das Obras Musicais” (GOEHR, 1994)!
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições con-
ceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados.
1) Antiguidade: período da história geral que se inicia com a invenção da escrita, por
volta de 4000 a.C., e estende-se até 476 d.C. com a queda do Império Romano. Na
História da música, será destacada a produção musical da Antiguidade Grega.
2) Ars Nova: movimento musical ocorrido na França do século 14, entusiasta da siste-
matização do uso da polifonia escrita na música sacra e na música secular.
3) Alta Idade Média: período histórico compreendido entre os séculos 5 e 10. Em mú-
sica, é marcado pela sedimentação da música cristã e do cantochão.
4) Baixa Idade Média: período histórico compreendido entre os séculos 10 e 15. Em
música, é marcado pelo surgimento da polifonia escrita e pelo início da utilização da
escrita para música secular.
5) Barroco: estilo de época compreendido, aproximadamente, entre 1600 e 1750, e
marcado pela sedimentação do tonalismo, pela utilização da melodia acompanhada,
pela invenção da ópera e pelo desenvolvimento da música instrumental.
6) Cantochão: tipo de canto monofônico no qual a melodia privilegia o andar por
graus conjuntos e a existência de saltos de pequena extensão. Seu ritmo é medido
pela rítmica do texto que utiliza. Foi o principal tipo de música das igrejas cristãs
na Idade Média. Em geral, era cantado em uníssono e sem acompanhamento de
instrumentos.
7) Contraponto: é uma técnica de composição (escrita) e combinação de duas ou mais
melodias simultâneas. Desenvolveu-se nos finais da Idade Média, mas é utilizada
até hoje. Seus critérios e características variam de acordo com a época e a estilística
de um determinado compositor.
8) Contraponto imitativo: é um tipo de contraponto que enfatiza a imitação de mo-
tivos melódicos entre as vozes. Um motivo melódico é executado por uma voz do
conjunto coral ou instrumental e copiado, em seguida, de forma literal ou variada
por outra voz. Exemplo de utilização de contraponto imitativo é o cânone, da fuga e
das invenções, bem como sua vasta utilização pelos compositores da música sacra
renascentista e dos primeiros madrigais renascentistas.
9) Estilos de época: são características musicais de composição, interpretação, impro-
visação que possuem certa homogeneidade dentro de um determinado período his-
tórico. Na história da música, os estilos de época (Renascimento, Barroco, Classicis-
mo etc.) ajudam a pensar grupos de obras e músicos que possuem certa afinidade
entre si, organizando-se, assim, uma narrativa de evolução de tais estilos.
10) Homofonia: textura polifônica marcada pela homogeneidade rítmica entre as vozes.
Em geral, a homofonia possui diferentes melodias cantadas com o mesmo ritmo
(homorrítmico), possibilitando pequenas variações rítmicas entre as vozes. Na Re-
nascença, a homofonia favoreceu o aparecimento de uma harmonia com acordes.
11) Heterofonia: textura musical na qual uma melodia é executada por várias vozes ou
instrumentos simultâneos, mas que cada voz ou instrumento realiza os ritmos com
pequenas diferenças entre si. Possui um aspecto perceptivo de que uma mesma
melodia está sendo executada de forma “desencontrada”.
12) Modalismo: sistema de organização das alturas musicais (notas) que predominou,
hegemonicamente, desde a antiguidade até o Renascimento. Ele está baseado em
uma ampla variedade de escalas que podem ser identificadas por diferentes modos
de distribuição de tons e semitons a partir de uma tônica. O modalismo também se
caracteriza por uma prática musical baseada na melodia, sem o acompanhamento
de acordes. Isso se diferencia da sistema tonal, ou tonalismo, no qual o acompa-
nhamento das melodias com acordes cria um discurso harmônico. Além do mais, o
campo de acordes utilizados está baseado em apenas duas escalas principais, uma
chamada de maior e outra de menor.
13) Monodia Acompanhada: textura musical baseada em uma melodia principal e acom-
panhamento com acordes ou com melodias de caráter subordinado e secundário.
14) Monofonia: textura musical baseada em uma única melodia, executada em unísso-
no ou em dobras de oitavas. A monofonia permite a utilização de acompanhamen-
tos, desde que ele não atrapalhe a percepção de uma única melodia sendo cantada
ou tocada.
15) Movimento de vozes: são os movimentos realizados por duas ou mais melodias
dentro de uma textura polifônica. Podem ser classificados em paralelo, contrário e
oblíquo.
16) Movimento oblíquo: movimento entre duas melodias de uma polifonia na qual uma
das melodias se movimenta ascendente ou descendentemente, enquanto a outra se
mantém na mesma nota.
17) Movimento paralelo: movimento entre duas melodias de uma polifonia no
qual as duas melodias se movimentam na mesma direção, seja ascendente ou
descendentemente.
18) Movimento contrário: movimento entre duas melodias de uma polifonia no qual
uma melodia se movimenta descendentemente enquanto a outra se movimenta
ascendentemente.
19) Renascimento: movimento cultural de retomada dos referências culturais da Grécia
e Roma antiga, durante os séculos 14, 15 e 16. Em música, significa um estilo de
época delimitado entre, aproximadamente, 1450 e 1600.
20) Textura: é um conceito musical aberto que tende a designar o tipo de organiza-
ção do material musical de acordo com seu comportamento harmônico, rítmico,
melódico e timbrístico. Como exemplo de texturas, há a polifonia, a heterofonia, a
homofonia ou a massa sonora, dentre outras. Pode-se também dizer que uma de-
terminada música tem uma textura contrapontística, ou uma textura imitativa, bem
como podemos dizer que ela tem uma textura tonal ou modal.
21) Tonalismo: é um sistema de organização das alturas musicais que predominou hege-
monicamente na música ocidental entre o século 17 e fins do século 19. O tonalismo
está baseado nos acordes resultantes da escala maior ou menor (privilegiando-se
suas variantes harmônica e melódica), ao qual chamamos de campo harmônico.
Seu princípio fundamental é a organização destes acordes em funções, com alguns
acordes assumindo funções de tensão (ou suspensão) e outros assumindo função
de repouso. Com isso, tal sistema propiciou recursos para se construir um discurso
musical mais narrativo e direcional, evidenciando uma percepção de percurso do
material musical dentro de uma determinada obra.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENNETT, R. Uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
GOEHR, L. The imaginary museum of musical works: an essay in the Philosophy of Music. Oxford: Oxford University Press,
1992.
5. E-REFERÊNCIAS
BINDER, F. Histórias da música – estudo dirigido. Disponível em: <http://fernandobinder.wordpress.com>. Acesso em: 16 abr.
2015.
Lista de Figuras
Figura 1 Pintura rupestre que sugere um ritual com música e dança. Disponível em: <https://meninasemarte.files.wordpress.
com/2012/02/danccca7a-na-precc81-histocc81ria.jpg>. Acesso em: 16 abril. 2015.
Figura 2 Flauta pré-histórica feita de osso de abutre. Disponível em: <http://inconscientecoletivo.net/ouca-a-musica-da-
flauta-mais-antiga-do-mundo/#>. Acesso em: 16 abril. 2015.
Objetivos
• Formular uma visão panorâmica sobre a música na Grécia Antiga e na Alta Idade Média com consciência das
datas aproximadas de início e encerramento dos períodos.
• Identificar os principais conceitos sobre o pensamento e prática musical na Grécia Antiga e na Idade Média.
• Reconhecer algumas estruturas musicais históricas.
• Reconhecer a variedade de tipos de cantochão e de canto gregoriano
Conteúdos
• A tradição musical grega: filosofia-teoria e prática musical.
• A música da Alta Idade Média: Agostinho e Boécio.
• Cantochão litúrgico.
• Canto gregoriano: evolução histórica; estrutura dos ritos católicos; sistema de modos eclesiásticos; notação
neumática; Guido D’Arezzo; categorias de canto gregoriano.
1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites confiáveis e/ou nas referências bibliográ-
ficas, apresentadas ao final de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento pessoal
é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.
2) Busque identificar os principais conceitos apresentados; siga a linha gradativa dos assuntos, observando a
evolução deste estudo.
3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo Digital Integrador, no qual esta-
rão tanto os exemplos musicais quantos os vídeos, textos e sites que ajudarão na compreensão de detalhes
do conteúdo.
4) Ouça, com a maior frequência possível, os exemplos musicais sugeridos buscando saboreá-los, inicialmente,
de forma prazerosa; posteriormente, busque perceber os aspectos comentados sobre os conteúdos aos quais
eles estão ligados.
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UNIDADE 1 – MÚSICA NA GRÉCIA ANTIGA E NA ALTA IDADE MÉDIA
1. INTRODUÇÃO
Você iniciará a primeira unidade de estudo. Está preparado?
Esta unidade abordará a música na tradição grega antiga e as dificuldades trazidas pela
escassez de documentação de sua prática musical, além dos benefícios trazidos por uma refle-
xão filosófica da música já desenvolvida.
A seguir, entrará no domínio da música da Alta Idade Média (século cinco ao 10). Você
poderá observar o surgimento e a evolução de uma escrita musical ligada às práticas religiosas
medievais, bem como o desenvolvimento das bases da prática musical no ocidente.
Caro aluno, o estudo da história antiga apresenta vários obstáculos, especialmente, pela
falta de registros diretos sobre o fazer musical.
Ao tratar sobre os estudos da música da Grécia antiga, o esteta Enrico Fubini aponta as
dificuldades encontradas.
Reconstruir um esboço que seja do pensamento musical na Antiguidade Grega apresenta várias
dificuldades, sobretudo nos séculos mais antigos: os testemunhos são imensos, mas geralmente in-
diretos e fragmentados. Apesar de revelarem, sem dúvida, uma cultura musical bastante extensa e
deixarem entrever uma sociedade em que a música tinha um lugar de não secundária importância,
não são suficientes para nos fornecerem uma imagem fiel do pensamento musical na Antiguidade
grega, na medida em que praticamente não há fontes diretas, isto é, músicas concretas (FUBINI,
2008, p. 69).
É uma época em que não havia recursos tecnológicos como a gravação do áudio das
músicas, por exemplo. Por esse motivo, as fontes diretas de registro musical às quais Fubini se
refere seriam as partituras; no entanto, muito pouco delas sobreviveu ao tempo.
Mesmo assim, faça um exercício de imaginação: o que vem à sua mente quando pensa
sobre a cultura da Grécia Antiga, da qual a música fez parte?
Um dos itens que devem vir à sua mente, certamente, é a mitologia grega, que era uma
forma de os gregos apresentarem sua visão de mundo. Segundo Lia Tomas:
Notícias sobre as variadas funções e significados da música na sociedade grega já são encontradas
em diversas narrativas mitológicas e estão associadas aos personagens Orfeu, Marsias, Dioniso e
Apolo. Na literatura, encontram-se relatos em Homero (século IX a.c., Iliada e Odisséia); em Hesí-
odo (século VIII a.c., Teogonia e Os trabalhos e os dias); e em praticamente todos os escritores das
tragédias, como Eurípedes, Sófocles e Aristófanes (TOMAS, 2005, p. 14).
Nos mitos de Orfeu e Apolo, a música é representada com poderes curativos. Orfeu mo-
vimentava a natureza por meio de sua música, demonstrando que a função da música na so-
ciedade grega ultrapassava o entretenimento e as questões estéticas. Os gregos acreditavam
que a música era elemento fundamental na educação do cidadão, pois ela era capaz de in-
fluenciar diretamente a alma humana.
Pelas narrativas de Homero em Ilíada, sabe-se que os poemas eram cantados. Já o mito
de Midas aponta para a valorização da música acompanhada pela poesia e uma certa rejeição
da música instrumental virtuosística dentro da sociedade grega, pois, em um duelo musical
entre Apolo e Pã, Midas foi o único jurado que votou na música virtuosística entoada pela
flauta de Pã, enquanto os demais votaram na música cantada com acompanhamento da lira
de Apolo. Por causa de seu voto em Pã, Apolo castigou Midas com grandes orelhas de burro.
Pode-se, então, dizer que uma das principais características da música grega é ser vocal
e ligada à poesia e ao teatro.
Outro ponto que provavelmente você se lembrará é da filosofia grega, pois a Grécia An-
tiga foi o berço da filosofia ocidental e criadora de grande parte de nossa estrutura de conhe-
cimento, a partir da valorização da matemática, da lógica, da retórica, da criação do conceito
de política e das bases para nossa noção moderna de ciência.
Há, também, diversos escritores como Heródoto, conhecido como o pai da disciplina
História, ou como Homero, escritor da famosa Odisseia. Outro elemento, ainda, que certa-
mente povoa o imaginário de todos a respeito da Grécia Antiga é o teatro, realizado sob a
forma da tragédia.
A música de um período reflete o espírito de seu tempo. A cultura e os valores morais e éticos de uma época são
expressados direta ou indiretamente pela arte.
Para compreender a música na Antiguidade Grega, você precisa conhecer um pouco mais sobre esse período
histórico. Para isso, acesse o link indicado a seguir:
• IESDE. Vídeo aula completa: Grécia – História. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=3KYGz0Dpw9U>. Acesso em: 28 abril. 2015.
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Você pôde notar que poucas fontes diretas (partituras) sobreviveram, e as que resistiram
ao desgaste do tempo, atualmente, são alvo de intensas pesquisas de decifração. Isso ocor-
re porque a prática de utilização dessas partituras não sobreviveu ao início da Idade Média
(GROUT; PALISCA, 2007, p. 16-17). Elas pouco, ou talvez nada, tem a ver com o nosso modo
atual de produção de partituras. E mesmo os escritos sobre teoria musical da antiguidade
pouco tratam deste assunto.
No entanto, sabe-se que o que se entendia por música na Grécia Antiga era um fenôme-
no misturado a outros elementos culturais, conforme afirma Lia Tomás:
O que se pode dizer em linhas gerais é que a música era compreendida de um modo complexo,
pois ela possuía vínculos diretos com a medicina, a psicologia, a ética, a religião, a filosofia e a vida
social. O termo grego para música, mousiké (pronuncia-se mussikê), compreendia um conjunto de
atividades bastante diferentes, as quais se integravam em uma única manifestação: estudar música
na Grécia consistia também em estudar a poesia, a dança e a ginástica. Esses campos, entretanto,
não eram entendidos como áreas específicas, com saberes e atuações próprios como se os conce-
bem hoje, mas sim como áreas que poderiam ser pensadas simultaneamente e que seriam, assim,
equivalentes. Todos esses aspectos, quando relacionados com a música, tinham uma igual impor-
tância e, portanto, não existia uma hierarquia entre eles (TOMÁS, 2005, p. 13).
Desse modo, pode-se concluir que, na Grécia antiga, o termo mousiké se relacionava à
arte em geral e não somente ao fazer musical.
Três frentes principais para abordar a música grega serão privilegiadas:
• Na sua relação com o teatro: a tragédia grega era um drama teatral. A música era
parte integrante desse teatro. Sabe-se que boa parte da música grega foi produzida
como trechos das tragédias, o que reforça sua ligação com a ginástica, com a poesia
Neste momento, é importante você ouvir a música que faz parte da tragédia Orestes disponível nos links a seguir:
• HALARIS, C. Music of Ancient Greece – Orestes Tragedy. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=eim-n4n0tX0>. Acesso em: 28 abr. 2015.
• HALARIS, C. Music of Ancient Greece – Orestes Tragedy 2. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=eim-n4n0tX0&list=RDeim-n4n0tX0&index=1> Acesso em: 28 abril. 2015.
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• Na sua relação com os cultos religiosos: neste caso também se sabe que boa parte
das partituras gregas remanescentes eram hinos dedicados a alguma divindade.
Hino Grego–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Antes de prosseguir com a sua leitura, ouça a reconstrução de uma música grega:
• PANIAGUA, G. Eurípedes, Stasimon Chorus For Oretes. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=Gn7jvHI2kU4&list=PLGq2imTdyEnnYNm4BK8yUWKZ5KFc9Onxt>. Acesso em: 28 abril. 2015.
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Assim como o cosmos a música também era regida pelas relações numéricas das vibra-
ções do som. Pitágoras comprovou seu pensamento utilizando um monocórdio. Ele dividiu as
suas cordas em várias partes iguais, definindo, assim, as relações intervalares entre uma nota
e outra. Desse modo compreendia que “música e aritmética não eram disciplinas separadas”
(GROUT; PALISCA, 2007, p. 19). Desde então, é atribuída a ele uma primeira tentativa de se
calcular a razão entre as vibrações dos intervalos a partir da divisão em partes iguais de uma
corda, utilizando o instrumento monocórdio.
Pitágoras e o monocórdio––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para compreender o experimento de Pitágoras com o monocórdio, acesse o link indicado a seguir:
• ARTE E MATEMÁTICA. Programa 8: Matemática e Música. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=V0qBNpJGueM>. Acesso em: 30 abril. 2015.
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Doutrina do Ethos
Baseava-se na ideia de que a música afeta o caráter e os diferentes tipos de música o
afetam de diversas formas (GROUT; PALISCA, 2007). A doutrina do ethos era a crença de que a
música teria o poder de induzir disposições éticas, afetivas e morais.
Essa associação, que já se encontrava nas narrativas mitológicas e que também fora desenvolvida
e firmada por Pitágoras, se justifica com base na convicção de que a música exerce uma influência
profunda e direta sobre os espíritos, e consequentemente, na sociedade em seu conjunto. Esse
poder da música se fundamenta na crença de que cada harmonia provoca no espírito um determi-
nado movimento, pois cada modo musical grego era associado a um éthos específico, ou seja, a um
caráter particular de ser (TOMÁS, 2005, p. 17).
contrário: imagine um culto religioso. Qual tipo de música seria mais propícia ao estado de
introspecção de um determinado culto?
Ao pensarem em questões parecidas, os teóricos gregos acreditavam que era possível
respondê-las por meio das relações numéricas.
Atualmente, pensa-se de forma semelhante na escolha de determinados tipos de músi-
ca para algumas cerimônias sociais. Isso também ocorre, quando uma trilha de cinema utiliza
uma determinada música com o intuito de estimular certa interpretação afetiva do enredo de
um filme. Até mesmo a visão de que tipos específicos de música são capazes de curar alguns
sofrimentos ainda existe em certas culturas contemporâneas.
Por isso diz-se que doutrina do ethos foi dominante no pensamento musical grego, em-
bora ela fosse mais comum na corrente derivada de Pitágoras, que incluía Platão e Aristóteles
como você verá adiante.
Outro filósofo de grande importância que tratou das questões musicais foi Platão (428-
427 a.C. – 348-347 a.C.).
Platão é um dos filósofos fundadores da filosofia do ocidente, tendo sido muito influen-
ciado pelo pitagorismo e por Sócrates.
Segundo Tomás:
A música em Platão ocupa um lugar importante no conjunto de sua filosofia. Mesmo sem ter escri-
to uma obra específica sobre o tema, é comum se encontrar nos mais diversos diálogos, tais como
República, Fédon, Górgias, I’odro, Leis e Timeu, alusões e comentários sobre ela (TOMÁS, 2005, p.
19).
Segundo Fubini, Platão “parece oscilar”, em seus escritos, entre uma “condenação ra-
dical da música e uma exaltação desta como forma de beleza e verdade” (2008, p. 74). Isso
se deve, em parte, ao fato de que a visão platônica de música incluía dois entendimentos
diferentes:
• o primeiro entendimento é o da música sonora, aquela realizada pelos músicos práti-
cos, mas que possui menos interesse no desenvolvimento espiritual.
Embora ainda considerasse que a música influenciava a alma humana, Aristóteles acre-
ditava que um certo modo grego poderia ter diferentes reações em diferentes pessoas. Para
ele, a alma de cada homem era distinta e, por isso, as relações numéricas de uma mesma mú-
sica poderiam influenciar de maneira diferente os diferentes indivíduos.
Considerava que todas as harmonias (modos) poderiam ser usadas, desde que isso ocor-
resse de forma adequada. Com essa visão mais flexível das reações musicais define seu con-
ceito de catarse.
Catarse, para ele, é a purificação da alma por meio da música e da tragédia. A música,
por suscitar piedade, temor, entre outros sentimentos, liga-se à alma humana promovendo
uma catarse (purificação) dessas paixões. Assim, um ouvinte poderia utilizar a música como
purificadora – como um “remédio” – na medida em que ouve uma música que imita um deter-
minado sentimento do qual ele queira se libertar ou se purificar (FUBINI, 2008, p. 81).
Em seus escritos aborda as notas, intervalos, gêneros, sistemas de escalas, tons, modu-
lação e composição melódica da música grega.
Os intervalos que faziam parte da música grega eram os tons e os meios-tons e os dito-
nos. Eles se combinavam em sistemas escalares sobre sua base que era os tetracordes forma-
do por quatro notas.
Os tetracordes poderiam ser diatônicos, cromáticos ou enarmônicos.
Figura 5 Tetracorde.
Teleion Meson––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Aristoxeno ampliou o seu sistema escalar combinando 4 tetracordes, ao invés de dois, e chamou-o de Grande
Sistema Perfeito ou Teleion Meson.
O grande sistema perfeito era formado por dois tetracordes conjuntos, uma disjunção chamada de Mese e mais
dois tetracordes conjuntos. Observe na imagem a seguir.
O local da Mese (disjunção) poderia mudar alterando, assim, os intervalos da escala, ou seja, mudando de modo.
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Após conhecer os sistemas gregos, agora você conhecerá exemplos de músicas compos-
tas na Grécia Antiga com o intuito de que conheça um mínimo possível de sua prática. Grout e
Palisca elencam dois exemplos desta produção:
• Orestes: trata-se de um fragmento escrito em papiro, cujo conteúdo é um trecho do
coro da tragédia Orestes, do autor Eurípides. Tal obra é datada, aproximadamente,
de 408 a.C. e “é possível que a música tenha sido composta pelo próprio Eurípides,
que ficou famoso pelos seus acompanhamentos musicais” (GROUT; PALISCA, 2007, p.
31). Este trecho seria “uma ode cantada”, o que se denomina por stasimon (GROUT;
PALISCA, 2007, p. 31).
interesse pela clareza de seus sinais rítmicos. Foi composto dentro da antiga escala
frígia, o que era equivalente a uma escala de ”Ré a Ré” (nos modos modernos seria
dórica) nas notas brancas do piano (GROUT; PALISCA, 2007).
A seguir, você pode ver uma réplica da inscrição original deste epitáfio.
É possível ver, também, a sua transcrição para a notação musical moderna, realizada
pelo musicólogo e intérprete Christodoulos Halaris:
Agora, escute a gravação do Epitáfio de Seikilos, interpretado a partir de pesquisas musicológicas de restauração
da partitura grega, disponível no link a seguir:
• HALARIS, C. Music of Ancient Grecce – Epitaph of Sikelos. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=WIBF-2k9wfw>. Acesso em: 05 maio 2015.
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Antes de iniciar os estudos sobre a música da Idade Média, é importante você se contex-
tualizar nos principais acontecimentos históricos do início deste período.
O início da Idade Média é marcado pela deposição de Rómulo Augusto, o último im-
perador do Império Romano do Ocidente, em 476 (LOYN, 1997, p. 512). A parcela oriental
do Império Romano deu origem ao que se conheceu por Império Bizantino, com capital em
Constantinopla.
Sabe-se que, desde o primeiro século da era cristã, as regiões dominadas pelo Império
Romano receberam populações de cristãos. Após a conversão ao cristianismo do Imperador
Constantino, em 312, essa passa a ser a religião oficial do Império. E este foi um fato decisivo
para se definir a cultura, incluindo a música, da Idade Média.
Para compreender o contexto histórico da Alta Idade Média, assista ao vídeo disponibilizado no link a seguir:
• AULALIVRE.NET. História – Aula 08: Alta Idade Média. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wTQQu5XTV0w>. Acesso em: 05 maio 2015.
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A Igreja Cristã Romana manteve certa coesão com a Igreja de Constantinopla até 1054,
quando ocorreu o Grande Cisma do Oriente, que ocasionou a separação entre a Igreja Católica
Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa (LOYN, 1997, p. 138). Tal coesão possibilitou a existên-
cia de um canto religioso romano e bizantino que se influenciaram mutuamente durante certo
tempo, com o predomínio do canto romano no ocidente e, posteriormente, sua transforma-
ção no que reconhecemos hoje como canto gregoriano.
O percurso da música na igreja cristã medieval é de suma importância para a história da
música até os dias de hoje. Destaca-se seu papel na construção das bases da escrita musical,
na transmissão de parte do pensamento musical antigo (assuntos desta Unidade 1) e na cons-
trução da noção de autoria composicional (assunto da Unidade 2).
• Missa: é o serviço mais comum e difundido da Igreja Católica. É dividida em três gran-
des partes: o Intróito (introdução), a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia. A
missa está baseada em um calendário litúrgico anual que seleciona, para diferentes
épocas do ano, temáticas textuais diferentes.
Os cantos que compunham a missa se dividiam em:
• Ordinário: cantos que não podiam ser alterados, e que estavam presentes durante
todos os dias do ano.
• Próprio de Tempo: cantos que variavam de acordo com a data e o tema do calendário
litúrgico.
A seguir, você notará como estão distribuídos os tipos de canto de acordo com as partes
da missa:
Esses cantos estão disponíveis em três livros de acordo com sua utilidade em missas e
ofícios:
1) Antifonário ou Antiphonale: no qual estão copilados os cantos a serem usados nas
horas canônicas.
2) Graduale: no qual estão copilados os cânticos destinados à missa, tanto o ordinário
quanto o próprio de tempo.
3) Liber Usualis: que consiste em uma seleção de cânticos do Antifonário e do Graduale.
Os cânticos utilizados na missa eram o cantochão e o canto gregoriano, que tinham um
caráter sagrado. Cada um apresentava características diferentes de acordo com o momento
em que seria utilizado. Na liturgia da palavra, por exemplo, na qual a bíblia era estudada, os
cantos eram recitados para que os fiéis pudessem compreender com clareza o que estava
sendo entoado.
A partir de agora, você estudará mais a fundo o cantochão e o canto gregoriano.
Cantochão
O cantochão era um canto monofônico que utilizava textos bíblicos ou somente sacros e
que fluiam livremente, quase sempre, mantendo-se dentro de uma oitava e se desenvolvendo,
de preferência, por meio de intervalos de graus conjuntos. Era modal e apresentava a melodia
em forma de arco. Em seu estado mais rudimentar, apresentava um movimento ascendente
no início e, depois, mantinha-se em uma mesma nota chamada tenor, finalizando-se com o
caminho em graus conjuntos de modo descendente (BENNETT, 1986).
Observe, na partitura a seguir, a forma de arco da melodia e a repetição da nota tenor.
Figura 13 Cantochão.
Repare que a palavra tenor, durante a história da música, obteve diversos significados.
Neste momento da música medieval, ela se refere à nota que se repete, servindo de base para
a recitação dos salmos no cantochão, e que é a nota fundamental do modo em que o canto-
chão está.
O cantochão foi um dos primeiros tipos de canto utilizados dentro da igreja cristã.
Diversos estilos e tipos de cantochão eram praticados no período inicial da Idade Média.
Inicialmente, o cantochão ocidental herda práticas como o canto de salmos e de hinos, bem
como algumas práticas de composição e nomenclaturas do canto sinagogal judaico.
O canto realizado nas igrejas cristãs bizantinas foram os primeiros tipos de cantochão da
igreja cristã. O cantochão originou-se nas regiões cristãs do Império Bizantino e teria influen-
ciado a “classificação do repertório em oitos modos [escalas musicais] e num certo número
de cânticos importados pelo ocidente (...) entre os séculos VI e o século IX” (GROUT; PALISCA,
2007, p. 36).
De modo geral, o canto bizantino reunia heranças das práticas judaicas, do mundo helê-
nico e das tradições musicais árabes pré-islâmicas. Acredita-se que, junto aos escritos de Boé-
cio, o canto de Bizâncio foi a prática responsável por trazer as teorizações dos modos gregos
para o ocidente.
Exemplos de cantochão––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Nos links indicados a seguir, você encontrará alguns exemplos de tipos de cantochão de tradições não gregoria-
nas. Escute com atenção as gravações para reconhecer sonoramente esses cantos:
Canto Visigótico (ou Moçárabe)
• EMSEMBLE ORGANUM. Mozarabic Chant. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=aYhriBNcIz8>. Acesso em: 06 maio 2015.
Canto Byzantino
• THE GREEK BYZANTINE CHOIR. Byzantine chant – Ευλογήσατε τον Κυρίον. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=nWsUbdsXLYY&index=17&list=RDDCxhHTAZArI>. Acesso em: 06 maio 2015.
Canto Romano Antigo
• EMSEMBLE ORGANUM. Old Roman chant – Qui habitat in adiutorio altissimi (Part I). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=2JOShBSsql0&list=RDWmsnFkywQQo&index=9>. Acesso em: 06
maio 2015.
Canto Benaventino
• EMSEMBLE ORGANUM. Chant of Benevento – Crucem Tuam. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=f9zlop4e6tA&list=RDWmsnFkywQQo&index=14>. Acesso em: 06 maio 2015.
Canto Ambrosiano
• EMSEMBLE ORGANUM. Ambrosian chant – Ecce apertum est Templum tabernaculi. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=RrUxaISuk50>. Acesso em: 06 maio 2015.
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No século 8, Carlos Magno (742-814) foi coroado rei da Francônia (território que cor-
responde, atualmente, à França, à Suíça e à parte da Alemanha) e este foi um momento de
fortalecimento da liturgia religiosa realizada entre os francos que, por sua vez, assumem para
si a missão de expansão dos domínios cristãos.
A maioria das melodias de cantochão utilizadas por eles era oriunda do canto romano.
Mas é certo que elas sofreram adaptações na maneira como eram entoadas. Neste momento,
o cantochão realizado na Francônia passa a ser difundido para grande parte da Europa sob a
designação de canto gregoriano (GROUT; PALISCA, 2007, p. 39).
Conclui-se, portanto, que o canto gregoriano é um tipo específico de cantochão católico,
marcado pela concentração, sistematização e difusão a partir do reino franco no século 8. Era
constituído, em sua maioria, de textos bíblicos e utilizava o latim como língua oficial. Além do
seu caráter monofônico, suas melodias eram modais e executadas a capella, utilizando a divi-
são rítmica ternária. Na maioria dos casos era, e ainda é, cantado por vozes masculinas, devido
às divisões dos monastérios.
Alguns historiadores afirmam que o termo “gregoriano” refere-se ao Papa Gregório I
(590-604).
Durante toda a idade média os cantos gregorianos não eram atribuídos a um composi-
tor, e sim ao próprio espírito santo. Havia uma mística de que uma pomba, representando o
espírito santo, cantava as melodias do canto gregoriano para o Papa Gregório Magno, que as
escrevia.
Figura 14 S. Gregório Magno Scrive ispirato dallo Spirito, de Carlo Saraceni (1579-1620).
Independente da real origem desse nome, é com essa designação que o canto gregoria-
no passa a predominar, do século 8 em diante, como padrão da liturgia cantada católica.
Observe uma cronologia das fases do canto gregoriano (MARIE-ROSE, 1951):
• 1ª fase: período de formação, vai do início do cristianismo até o século 8, com junção
de diversas tradições de cantos e começo da seleção católica romana do repertório.
• 2ª fase: período de consolidação e apogeu, marcado pela padronização francófo-
na do século 8 e pela difusão deste padrão reconhecido, a partir daí, como canto
gregoriano.
• 3ª fase: período de decadência, iniciado no século 13, com o advento da polifonia, até
meados de século 19.
• 4ª fase: período de recuperação, iniciado em meados do século 19, a partir da redes-
coberta de alguns manuscritos e intensificada na abadia de São Pedro de Solesmes
(França) com a fundação do Centro de Paleografia Musical, sob a direção de D. André
Mocquereau (GROUT; PALISCA, 2007).
Nesta última fase, o canto gregoriano, cantado com o objetivo de acompanhar um ri-
tual católico, manteve sua prática mais restrita aos monastérios, especialmente à Ordem de
São Bento. Fora dos monastérios, sua importância histórica e musicológica nunca deixou de
ser reconhecida. Mas a substituição do latim pelas línguas vernáculas na celebração católica
fora dos mosteiros, após a decisão do Concílio Vaticano II, entre 1962-1965, contribuiu para o
abandono da utilização do canto gregoriano nos rituais populares da Igreja.
Hoje, a conservação do canto gregoriano deve-se ao trabalho de recuperação feito pelos
monges da Abadia de São Pedro de Solesmes.
No Brasil, em diversos mosteiros beneditinos, é possível assistir às cerimônias acompa-
nhadas do canto gregoriano.
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Victimae Paschali, um exemplo de canto gregoriano silábico:
• GLORIA DEI CANTORES SCHOLA. Victimae Paschali. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=sAo30la5fUE>. Acesso em: 07 maio 2015.
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A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Domine, Exaudi, um exemplo de canto gregoriano contendo longos
trechos melismáticos:
• CANTORES DA BASÍLICA VATICANA. Tractus - Domine, Exaudi. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=tnCTHtfdjwE>. Acesso em: 07 maio 2015.
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A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Ecce Advvenit, um exemplo de canto gregoriano neumático. Repare
que ele pode conter alguns pequenos trechos silábicos ou, até mesmo, alguns pequenos melismas. Mas predomi-
na o tratamento neumático:
• EDMUNDITE NOVICES. Tractus – Domine, Exaudi. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=DeOOaOvwEMc>. Acesso em: 07 maio 2015.
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Quanto ao texto
• Textos bíblicos e não bíblicos.
• Em prosa ou em verso.
Análise de cantos
Agora você analisará cantos importantes que são utilizados na missa e no ofício, tendo
como referência a relação das sílabas com o número de notas.
Cantos silábicos
As recitações e os tons de salmodia eram cantos silábicos que ficavam na fronteira entre
a fala e o canto e eram utilizados, especialmente, na liturgia da palavra.
Possuíam uma nota predominante (nota tenor do modo) sobre a qual era cantada toda
uma oração.
A melodia também poderia começar por uma fórmula introdutória de duas ou três notas
chamada initium e possuía uma pequena cadência final. Ainda são utilizados para orações e
leituras da bíblia.
Leitura cantada: recitação––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Lectio I. Isaiae prophetae, uma leitura cantada em forma de recitação.
Este tipo de recitação poderá ser ouvido até a marca de um minuto (1min) do vídeo, quando será seguido de um
Responsorium chamado In Principio:
• SCHOLA HUNGARICA. Lectio I. Isaiae prophetae. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wVrKnhtbNzM>. Acesso em: 07 maio 2015.
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Os tons de salmodia eram utilizados para cantar os salmos nos ofícios ou para as leituras
da Epístola e do Evangelho na missa e também eram utilizados na liturgia da palavra. Partem
dos mesmos princípios que as recitações, no entanto, possuem uma fórmula um pouco mais
complexa que os recitativos, pois são constituídos das partes a seguir elencadas:
1) initium: início melódico constituído, geralmente, de duas ou três notas;
2) tenor: trecho com a repetição de uma única nota para várias sílabas;
3) mediatio: terminação melódica do meio do versículo, com uma pequena ornamen-
tação melódica em torno da nota tenor;
4) tenor: reaparecimento da nota tenor para algumas sílabas;
5) terminatio: uma terminação melódica para encerrar o versículo.
Os versículos posteriores do salmo são cantados segundo o mesmo modelo do primeiro
versículo. No entanto, o Initium é cantado apenas no primeiro versículo e, do segundo versícu-
lo em diante, a melodia começa diretamente na nota tenor.
Na figura a seguir, você verificará um exemplo dessa estrutura no Salmo número 109:
Dixit Dominus.
Tom de salmodia––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação do Salmo 10: Dixit Dominus cantado em forma de tom de salmodia. Es-
pecialmente nesta gravação, algumas incongruências entre a partitura e o canto são notadas, como, por exemplo,
a presença de Initium para todos os versículos presentes na partitura. Contudo, a voz gravada está respeitando a
regra de não se cantar o Initium para todos os versos.
O Salmo será precedido por uma antífona, a Dum Complerentur, e seguido por outra peça de canto gregoriano que
pode ser ouvida até a marca de dois minutos e quinze segundos (2min15) do vídeo:
• SCHOLA CANTORUM OF AMSTERDAM STUDENTS. Dum Complerentur – Dixit Dominus, 3.a 2 –
Pentecost, 2nd Vespers. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FcuiJtmjfEs>. Acesso em: 07
maio 2015.
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Salmodia antifonal
Este estilo é semelhante aos tons de salmodia; no entanto, na sua execução havia a al-
ternância de partes que eram cantadas por todo coro e partes cantadas por metade do coro.
Eram comuns no introito e na comunhão da missa.
A seguir, ouça uma gravação com partitura do Introito Dominus Dixit ad me. Observe o trecho neumático e a entra-
da do salmo marcada pela abreviação “Ps.” seguida da doxologia:
• BENEDICTINE MONKS OF SANTO DOMINGO DE SILOS. Puer Natus Est Nobis (Christmas Day, Introit).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sp-fWQxbtq0>. Acesso em: 13 maio 2015.
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Antífonas
Antífonas são o tipo mais numeroso de canto. Possuem, em geral, um tipo melódico
muito parecido e são, na maioria, “silábicas ou apenas ligeiramente ornamentadas, com um
movimento melódico por grau conjunto, um âmbito limitado e um ritmo relativamente sim-
ples” (GROUT; PALISCA, 2007, p. 63). Na execução da antífona, após ser entoado o canto de um
salmo sempre a frase “Porque o Seu amor é para sempre” era repetida.
No link a seguir, você poderá ouvir uma gravação da Antífona Ubi Caritas, acompanhada de sua partitura. Observe
as características de uma antífona descritas anteriormente:
• CHOEUR GREGORIEN DE PARIS. Ubi Caritas (Holy Thursday, Antiphon). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=b_QEP-RHYLY>. Acesso em: 13 maio 2015.
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Responsório ou Responso
Parecido com a antífona, trata-se de um versículo curto que é cantado pelo solista e, em
seguida, repetido pelo coro, formando uma espécie de jogo de pergunta (solista) e resposta
(coro).
Ouça, no link a seguir, uma gravação do Responsório Liberta me, Domine, e observe as características estudadas
até o momento.
• SCHOLA OF THE HOLFBURGKAPELLE DE VIENNA. Libera me, Domine (Mass for the Dead, Responsory).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e28H76aT0DY>. Acesso em: 13 maio 2015.
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O Glória e o Credo
Fazem parte do ordinário da missa. Possuem, em geral, melodias silábicas, o que nos
remete ao fato de que o ordinário da missa era, provavelmente, cantando pela congregação
em tempos arcaicos.
A partir de agora, você conhecerá alguns tipos de cantos melismáticos.
Cantos Melismáticos
Tractos
Tractos são os cantos mais longos da missa, tanto pelo tamanho dos textos quanto pelo
uso de figuras melismáticas. Utilizam sempre o segundo ou o oitavo modo. Veja um resumo
da forma do Tractos:
• começa com um versículo com uma entoação melismática;
Tractos De profundis––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Graduais
Graduais são mais ornamentados que os tractos. Nos modernos livros de cantochão, um
gradual é um responsório abreviado, no qual:
• “um refrão é iniciado pelo solista e continuado pelo coro” (GROUT; PALISCA, 2007, p.
66);
• seguido de “um versículo cantado pelo solista [e] acompanhado pelo coro na última
frase” (idem, p. 66).
Existem graduais em sete dos oito modos.
Ouça, a seguir, uma gravação do gradual Ecce Sacerdos Magnum e observe as características estudadas:
• COLLANA DIRETTA DA BONAFACIO DI BAROFFIA. Ecce Sacerdos Magnus (Confessor Bishop, Gradual).
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=HA0hA-07UyM>. Acesso em: 14 maio 2015.
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Aleluias
Aleluias são cantos de júbilo em caráter melismático. Formalmente, são constituídos de:
• refrão com a palavra Aleluia, cantado, inicialmente, pelo solista (ou solistas), e repe-
tido pelo coro com a adição de um jubilus – um melisma de longa duração sobre a
sílaba final ia.
• Em seguida, o solista canta o versículo de um salmo, acompanhado pelo coro na úl-
tima frase.
• Por fim, o refrão é cantando pelo coro incluindo seu jubilus.
Ouça, a seguir, uma gravação de Alleluia: Tota Pulchra Es, Maria e observe as características estudadas:
• BENEDICTINE MONKS OF THE SANTO DOMINGO DE SILOS. Alleluia: Tota Pulchra Es, Maria (Immaculate
Conception). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AckG5Q2R5nw>. Acesso em: 14 maio
2015.
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Ofertórios
Ofertórios são cantos associados ao momento de apresentação do pão e vinho na Litur-
gia da Eucaristia. Eles abarcam uma gama ampla de formas e estados de espírito e possuem
técnicas de repetição de motivos e de rimas musicais semelhantes aos das aleluias.
Ofertório Jubilate Deo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ouça, a seguir, uma gravação do ofertório Jubilate Deo e observe as características estudadas:
• SCHOLA OF THE HOLFBURGKAPELLE VIENNA. Jubilate Deo (Epiphany Ofertory). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=BdCLmAKjjYE>. Acesso em: 14 maio 2015.
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• termina com uma terceira parte com repetição do A – com a letra Kyrie Eleison.
Em cada uma das partes, a frase característica pode ser repetida três vezes, subdividindo
cada parte grande em três frases menores. No exemplo a seguir, você poderá observar:
• O primeiro Kyrie cantado com uma frase melódica a, outra b, e novamente, a (a-b-a).
• Essa estrutura se mantém para o Christe, cantado com uma frase c, posteriormente
com uma frase d e, novamente, com uma frase c (c-d-c).
• A retomada do Kyrie apresenta uma nova frase e, seguido de uma frase f e retomando
a frase e (efe).
O esquema resultante será:
A seguir, você ouvirá gravações com partituras de duas partes do ordinário da missa, um Kyrie e um Gloria. Ob-
serve as características estudadas:
• WESTMINSTER CATHEDRAL CHOIR. Kyrie XI: Orbis Factor. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=SHx8PIjP34U>. Acesso em: 14 maio 2015.
• BENEDICTINE MONKS THE ABBEY AT GANAGOBIE. Gloria VIII: De Angelis. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=Ny5s89sqf5A>. Acesso em: 14 maio 2015.
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Tropos
Tropo é um acrescento, ou seja, uma parte adicionada na introdução aos cânticos, em
estilo neumático. Muitas vezes, consiste de uma letra adicionada aos melismas de um cântico.
É possível que tenham tido uma função didática: ajudar a decorar os grandes melismas. Os tro-
pos começaram a ser compostos nas igrejas monásticas dos séculos 10 e 11, e desapareceram,
gradualmente, a partir do século 12. Destacam-se os tropos compostos no mosteiro de Saint
Gall, em especial, pelo monge Tuotilo (915) (GROUT; PALISCA, 2007).
A seguir, você verá um exemplo de tropos realizados a partir de um Kyrie. No vídeo você pode observar uma pri-
meira versão do Kyrie e, também, os melismas sem o acréscimo de um texto novo. Em um segundo momento, veja
como um novo texto será cantado para os meslismas do Kyrie, iniciando-se com o texto “Fons Bonitatis...”. Assim,
esse Kyrie passou a ser conhecido como “tropado”, chamado, também, de Kyrie Fons Bonitatis.
• VANINNI, G. Kyrie Fons Bonitatis. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=iojFIUa14qU>. Aces-
so em: 14 maio 2015.
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Sequências
A sequência originou-se, provavelmente, de acrescentos longos e marcantes feitos nos
cantos litúrgicos, em especial, os aleluias. Eram, inicialmente, melismas, mas que passaram a
receber texto específico em prosa, prosa ad sequentia (diminutivo, prosula), ganhando, assim,
um tratamento silábico (GROUT; PALISCA, 2007).
Rapidamente esses melismas ganharam independência em relação aos cantos litúrgicos
de origem, pois possuem uma forma baseada na repetição, na qual uma melodia é cantada,
inicialmente, com uma estrofe, e repetida com outra estrofe de igual tamanho e acentuação.
Posteriormente, uma segunda melodia é cantada e repetida, portando uma terceira e uma
quarta estrofes. Cada par de estrofes possui, internamente, a mesma melodia. Mas a melodia
pode variar entre os pares, o que resulta em um esquema formal representado da seguinte
forma: aa bb cc dd...
O surgimento das sequências remonta ao século 10, com aparições efervescentes até o
século 13. Elas influenciaram a música profana e semi-sacra de fins de Idade Média.
A seguir, você ouvirá uma gravação da sequência Victmae Paschali. Escute-a e observe as características
estudadas.
• GLORIAE DEI CANTORES SCHOLA. Victmae Paschali (Easter Sunday, Sequence). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=sAo30la5fUE>. Acesso em: 14 maio 2015.
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Drama Litúrgico
Dramas litúrgicos são diálogos inicialmente compostos em forma de tropos, e que se
destacaram posteriormente. Podiam ser ouvidos antes do introito, na collecta, ou em cerimô-
nias prévias às missas. Caracterizavam-se pela forma dialógica cantada em estilo responsorial,
mas, segundo alguns relatos de época, o canto era acompanhado de movimentação cênica
(GROUT; PALISCA, 2007).
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No link a seguir, você encontrará um vídeo ilustrativo exibindo gravações e a partitura de Quem Quaeritis, um dra-
ma litúrgico. O enredo trata de um diálogo entre parteiras e pastores sobre o menino Jesus na manjedoura. Assista
ao vídeo e observe as características comentadas anteriormente.
• VANINI, GIOVANNI. Tropo di Pasqua: quem quaeritis. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=O7DAInchwlM>. Acesso em: 14 maio 2015.
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Nesta tabela, pode-se ver os nomes dos modos que poderiam ser designados pelo nome
da nota final (Ré, Mi etc.), pelo seu número na ordem (1º, 2º etc.) ou pelo seu nome latino
(Protus, Deuterus etc.). Os nomes de origem grega foram aplicados, apenas, em torno do sé-
culo 10. Mas em nada correspondem ao sistema de escalas da Grécia Antiga (GROUT; PALISCA,
2007). Veja os conceitos a seguir:
• Final: todo modo tem uma nota finalis ou, simplesmente, final. Ela é a “nota de
aterrissagem da melodia” (MARIE-ROSE, 1951, p. 145). Ela “dá a sensação de repouso”
e é utilizada nos encerramentos das melodias.
• Tenor: no latim, a palavra tenere pode significar “sustentar”. Daí se deriva a palavra
tenor. Aqui, ela se refere à nota característica do modo. Esta nota seria privilegiada
nas melodias e também utilizada para os trechos do canto gregoriano em que o
canto se aproxima da fala, cantando trechos do texto com apenas uma nota (como,
por exemplo, nos tons de salmodia, nas recitações e orações). No exemplo a seguir,
observe as notas circuladas do tenor.
Gravação de Magnificat––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ouça a gravação de Magnificat e observe os momentos em que a melodia se mantém em apenas uma nota. Na
maior parte desses momentos, a nota sustentada é a do tenor:
• MONK’S CHOIR OF THE LIGUGE ABBEY. Magnificat. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=EXub6v3e8-Y&list=RDf06qdhO_sEY&index=15>. Acesso em: 15 maio 2015.
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5º - autêntico fá a fá Fá Dó
Tritus
6º - plagal do a do Fá Lá
7º - autêntico sol a sol Sol Ré
Tetrardus
8º - plagal ré a ré Sol Dó
Neste momento da história da música, a utilização de alterações nas escalas só era possí-
vel na nota Si, que poderia se tornar Sib. A alteração era usada, provavelmente, para se anular
alguns intervalos considerados dissonantes, como é o caso do intervalo de trítono, que deveria
ser evitado na construção das melodias. Ele poderia ser utilizado com mais frequência nos 1º
e 2º modos e, raramente, nos 5º e 6º modos.
Um 1º modo com o Si convertido para Sib se assemelha, nos seus intervalos, à escala
menor natural moderna. Já um 5º modo com a nota Sib resulta em uma escala semelhante à
moderna escala maior.
Como se sabe, a notação do canto gregoriano privilegia o domínio das alturas, não regis-
trando de forma precisa as durações dos sons. Seu ritmo, em geral, segue a prosódia do texto.
No entanto, várias dificuldades foram registradas sobre sua interpretação rítmica devido à
variedade de pronúncias e aos diferentes estilos interpretativos. Isso foi alvo de diversos tra-
balhos teóricos, mas não impactou na escrita utilizada até então.
No início da Idade Média, havia a presença de uma escrita alfabética dos sons, herda-
da da Grécia Antiga. Essa notação substituía cada som por uma letra do alfabeto, de forma
parecida com o sistema contemporâneo de cifras. Mas o cantochão desenvolveu um sistema
diferente de notação. Sua notação é chamada de neumática. Esta palavra, usada no latim,
tem origem grega e seu significado está associado a “sopro”. Mas, desde o latim medieval, é
associada aos sinais que descrevem as alturas da música.
Notação neumática é uma notação que assinala, acima das linhas do texto a ser can-
tado, outras linhas compostas por sinais (neumas) que acompanham a curvatura do perfil da
melodia. Há, basicamente, dois tipos de notação neumática:
• Diastemática: notação já encontrada em manuscritos datados do século 9, na qual os
neumas se assemelham a linhas curvadas. Posteriormente ao seu desenvolvimento,
uma linha horizontal passou a ser desenhada para dar referência às alturas das notas.
Ocorreu um processo de acumulação de tais linhas de modo que algumas linhas para-
lelas desempenhavam a mesma função que o nosso pentagrama moderno. É o início
da utilização da pauta musical.
• Quadrada: notação desenvolvida entre os séculos 9 e 13, na qual o neuma é formado
por um conjunto de pontos quadrados, e não apenas uma linha. Esta notação se con-
solidou como a notação oficial do canto gregoriano, sendo utilizada até os dias atuais.
Apoia-se sobre um conjunto de quatro linhas como pauta musical (tetragrama).
A seguir, você poderá ver um mesmo trecho musical grafado com as notações (neumas)
diastemática e quadrada (utilizada atualmente):
A Grécia Antiga é tida como o berço da civilização ocidental. Possui uma mitologia forte,
conhecida até os dias atuais, além de seus primeiros literatos e historiadores dos quais se tem
notícia.
A produção musical de um período sempre reflete o espírito do seu tempo. Portanto, é
importante que você compreenda as questões histórias e filosóficas da Grécia Antiga.
No início desta unidade, você pôde observar que os relatos sobre a música grega estavam,
de maneira geral, presentes dentro dos textos filosóficos, advertindo aos ouvintes sobre a
importância da música como um conhecimento teórico para a filosofia grega e, também, sobre
a desvalorização da prática musical pelos mesmos teóricos.
Para conhecer mais a fundo a ligação da filosofia grega com as questões musicais, acesse
os links a seguir:
Aristoxeno foi um dos principais teóricos que abordou os sistemas gregos. Esses sistemas
influenciaram a teoria musical da música na igreja cristã. Com os artigos sugeridos, você poderá
compreender mais a fundo as questões referentes à teoria musical grega.
• BORGES, M.; PEDROSA J. M. O sistema musical grego. Disponível em: <http://
musicantiga.com.sapo.pt/notogrecia.htm>. Acesso em: 18 maio 2015.
• GROUT, D.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007, p.
15-20. Disponível em: <http://xa.yimg.com/kq/groups/24960419/863648029/name/
O+Sistema+Musical+Grego.pdf>. Acesso em: 18 maio 2015.
• ROCHA, R. Uma introdução à teoria musical na antiguidade clássica. Via Litterae,
Anápolis, v. 1, n. 1, p. 138-164, jul./dez. 2009. Disponível em: < <http://www2.unucseh.
ueg.br/vialitterae/assets/files/volume_revista/vl_v1_n1/8-ROCHA_Roosevelt_
Introd_a_teoria_musical_antiguid_classica.pdf>. Acesso em: 18 maio 2015.
A Alta Idade Média foi marcada pela oficialização do cristianismo como religião romana
e por sua expansão por toda a Europa.
O pensamento musical da Alta Idade Média é marcado por sua influência grega na
manutenção da crença no ethos musical. Uma vez adaptada para o cristianismo, tal doutrina
permeou a seleção do repertório musical e das práticas nos rituais católicos. Mesmo assim, a
maior parte dos escritos medievais privilegiavam a discussão filosófica e teórica da música até
o aparecimento da obra de Guido D’Arezzo no século 10.
• AMATO, R. C. F. A música em Santo Agostinho. Em Pauta. v.16, nº 26, janeiro a
junho de 2005. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/EmPauta/article/
view/7483/4668>. Acesso em: 18 maio 2015.
• BERGONSO, M. C. C. Número, som e beleza: a estética musical em Boécio. Universidade
Federal do Paraná Curitiba, 2013 (Dissertação de Mestrado). Disponível em: <http://
www.humanas.ufpr.br/portal/artes/files/2013/04/Disserta%C3%A7%C3%A3o-
Melissa-Carla-Chornobay-Bergonso-2013-Arquivo-Corrigido1.pdf>. Acesso em: 18
maio 2015.
• CASTANHEIRA, C. P. De Institutione Musica, de Boécio, Livro 1. Tradução e Comentários.
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2009 (Dissertação de Mestrado).
Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/ECAP-
7QRGC9>. Acesso em: 18 maio 2015.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desem-
penho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os
conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Quanto aos escritos sobre música na Grécia Antiga, assinale a alternativa incorreta:
a) Não conhecemos nenhum escrito de Pitágoras, apenas o que foi herdado por meio de outros autores de
influência da escola pitagórica.
b) Platão e Aristóteles preocuparam-se com a música em seus escritos filosóficos tendo como foco o papel
desempenhado por ela na formação do homem do estado grego.
c) Aristoxeno foi um importante filósofo e músico, embora seus escritos tratem apenas da questão do com-
portamento moral diante da música.
d) Pouco se sabe, por meio escritos gregos, como eram executadas as músicas, visto que herdamos poucas
partituras e informações sobre a prática musical.
3) Sobre as características do pensamento sobre a música de Boécio e Agostinho, assinale a alternativa incorreta:
a) Boécio afirmava existir três divisões da música: a música mundana, a música humana e a música
instrumentalis.
b) Agostinho escreveu em seu livro Confissões que o cantochão cristão desempenhou um importante papel
em sua conversão, aprovando tal uso pela igreja.
c) Boécio e Agostinho são representantes do que podemos chamar de corrente pitagórico-platônica medie-
val, absorvendo e reinterpretando muitas ideias dessa corrente também no que diz respeito à música.
d) Boécio e Agostinho em nada se comprometeram com o ethos musical, uma vez que não acreditavam que
a música pudesse exercer algum tipo de influência moral nos ouvintes.
4) Qual das alternativas relata a importância de Guido D’Arezzo para a história da música?
a) Formulou a doutrina da música e do logus com a intenção de reforçar a abstração musical contrária à sua
prática artesanal.
b) Inventou a notação neumática, tanto em sua forma diastemática quanto quadrada.
c) Escreveu importantes obras sobre a formação musical do cantor da igreja, bem como se preocupou em
relatar detalhes e técnicas da prática musical cristã.
d) Elaborou os modos rítmicos e teorizou sobre sua utilização na mensuração da música gregoriana.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) c.
2) b.
3) d.
4) d.
5. CONSIDERAÇÕES
Você chegou ao final da primeira unidade, na qual teve a oportunidade de conhecer o
percurso da música da Grécia Antiga até o canto gregoriano da Idade Média. Este percurso
inclui manifestações que surgiram até a o fim da chamada Alta Idade Média.
De modo geral, você pôde acompanhar o percurso do surgimento de uma escrita musi-
cal precisa para as alturas (notas). Na próxima unidade, acompanhará o desenvolvimento de
uma escrita rítmica precisa, além da presença da música secular e do surgimento da ideia de
autoria (composição) musical na Baixa Idade Média.
6. E-REFERÊNCIAS
IESDE. Vídeo aula completa: Grécia – História. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3KYGz0Dpw9U>. Acesso
em: 18 maio 2015.
Site pesquisado
QUIROZ, L. H. C. Canto gregoriano. Disponível em: <http://www.christusrex.org/www2/cantgreg/index_por.html>. Acesso
em: 18 maio 2015.
Lista de figuras
Figura 1 Estátua de Apolo na Academia de Atenas, Grécia. Disponível em: <http://www.infoescola.com/wp-content/
uploads/2010/02/apolo.jpg>. Acesso em: 28 abril. 2015.
Figura 2 Busto em mármore de Pitágoras. Disponível em: <http://www.humaniversidade.com.br/boletins/pitagoras.htm>.
Acesso em: 30 abril. 2015.
Figura 3 Busto em mármore de Platão. Disponível em: <http://www.nova-acropole.pt/a_ideal_platao.html>. Acesso em: 04
maio 2015.
Figura 4 Busto em mármore de Aristóteles. Disponível em: <http://nova-acropole.org.br/info/aristoteles>. Acesso em: 05
maio 2015
Figura 9 Papiros com a tragédia Orestes. Disponível em: <http://parlatoriomusical.blogspot.com.br/2014/04/resumo-n1.
html>. Acesso em: 05 maio 2015.
Figura 10 Epitáfio de Seikilos. Disponível em: <http://andreegg.org/sobre-notacao-da-musica-grega-antiga/>. Acesso em: 05
maio 2015.
Figura 11 Réplica da inscrição original do epitáfio de Seikilos. Disponível em: <http://parlatoriomusical.blogspot.com.
br/2014/04/resumo-n1.html>. Acesso em: 05 maio 2015.
Figura 12 Transcrição para a notação musical moderna do epitáfio. Disponível em: <http://parlatoriomusical.blogspot.com.
br/2014/04/resumo-n1.html>. Acesso em: 05 maio 2015.
Figura 14 S. Gregório Magno Scrive ispirato dallo Spirito, de Carlo Saraceni (1579-1620). Disponível em: <http://
heresiascatolicas.blogspot.com.br/2012/09/o-papa-gregorio-magno-rejeitou-o-titulo.html>. Acesso em: 07 maio 2015.
Figura 27 Guido D’Arezzo. Disponível em: <http://www.music-tutors-uk.com/Theory/guidodarezzo.html>. Acesso em: 18
maio 2015.
Figura 28 Mão guidoniana. Disponível em: <http://www.longwood.edu/staff/swansoncl/Sightsinging/GUIDO%20AREZZO.
htm>. Acesso em: 18 maio 2015.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1997.
BAKER, A. Greek Musical Writings. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
BENNETT, R. Uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
BORCHET, D. (Ed.). Enciclopedia Of Philosophy. 2. ed. Thompsom Gale, 2006.
FUBINI, E. Estética da música. Lisboa: Edições 70, 2008.
GROUT, D.; PALISCA, C.V. História da música ocidental. Tradução de Ana Luísa Faria. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007.
LANG, P. H. Music In Western Civilization. New York: W.M. Norton & Company, 1997.
LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da idade média. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
MARIE-ROSE. Canto gregoriano: método de solesmes. Rio de Janeiro: s.n., 1951.
STOLBA, K. M. The Development Of Western Music: a history. Nova Iorque: MacCgraw-Hill Companies, 1998.
______. (Ed.). The Development Of Western Music: An anthology v. 1. s.l.: Wm. C. Brown Publishers, 1991.
TARUSKIN, R.; WEISS, P. Music In The World: A Historical in Documents. s.l.: Thompson Learning, 1984.
TOMAS, L. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.
______. Ouvir o logos: música e filosofia. São Paulo: Editora da Unesp, 2002.
Objetivos
• Formular uma visão panorâmica sobre a música da Baixa Idade Média com uma consciência das datas aproxi-
madas de sua cronologia.
• Identificar nomes, fatos e acontecimentos marcantes na história do pensamento e da prática musical na Baixa
Idade Média.
• Reconhecer algumas estruturas musicais do início da música polifônica.
Conteúdos
• Monofonia sacra não litúrgica e monofonia secular.
• Início da polifonia: o Organum, o Conductus e o Motete.
• Técnicas de escrita do início da polifonia: Cláusula e Discante, Motete Isorritmo (Color e Talea).
• Música na Catedral de Notre Dame, Paris.
• Música na Ars Nova.
• Primeiros compositores: Hildegard Von Binge, Allan de la Halle, Leonin, Perotin, Petrus de Cruce, Phillipe de
Vitry, Guillaume de Machaut e Francesco Landini.
2) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo Digital Integrador. Lá estarão
tanto os exemplos musicais quantos os vídeos, textos e sites que ajudarão na compreensão de detalhes do
conteúdo.
3) Ouça com a maior frequência possível os exemplos musicais sugeridos buscando saboreá-los de forma praze-
rosa; busque perceber os aspectos comentados sobre os conteúdos aos quais eles estão ligados. Se possível,
acompanhe com os trechos de partituras fornecidos ou indicados. Lembre-se, a partir de agora, de que as
partituras aparecerão transcritas em notação moderna.
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UNIDADE 2 – MÚSICA NA BAIXA IDADE MÉDIA
1. INTRODUÇÃO
Caro aluno, nesta unidade você estudará a Baixa Idade Média.
Conforme já dito, é importante que você compreenda o contexto histórico deste período.
Pode-se localizar o início da Baixa Idade Média a partir de dois fatos marcantes na Europa:
• a separação entre a Igreja Católica do Oriente (Constantinopla) e do Ocidente (Roma)
– Grande Cisma do Oriente em 1054;
• o início das Cruzadas (1097).
Esses dois eventos trouxeram modificações importantes para o fluxo de pessoas, de co-
nhecimentos e de mercadorias entre oriente e ocidente, resultando em um novo florescimen-
to e enriquecimento das cidades europeias (LOYN, 1997).
Pode-se destacar a preponderância da cidade de Paris como centro cultural e intelectual
da Europa, já neste período, o que será de grande importância para os acontecimentos musi-
cais. Assim, é possível identificar a Baixa Idade Média como o período da história situado entre
os séculos 11 e 15 e que se dividiu em dois momentos que foram chamados de Ars Antiqua e
Ars Nova.
Nesta segunda unidade, será abordada, inicialmente, a música monofônica sacra, mas
não litúrgica e a música secular dos trovadores. Posteriormente, você verá o surgimento da
polifonia por meio da prática do Organum. Verá, também, como, a partir do desenvolvimento
da polifonia, surgiram a forma do Conductus polifônico e as técnicas de escrita como o Discan-
te. Será abordado, ainda, o surgimento do Motete, uma forma polifônica baseada na mensu-
ração altamente controlada do ritmo. Terão destaque os compositores da Catedral de Notre
Dame, em Paris. Todo esse primeiro momento se situa na Ars Antiqua.
Será destacado, também, o movimento chamado de Ars Nova, marcado pela polifonia
altamente estruturada, pela mensuração rítmica e pela grande quantidade de música secular
produzida e documentada.
Você finalizará o estudo desta unidade com a música do trecento Italiano (século 14 –
1301 a 1400) com sua música secular altamente influente no fim da Idade Média.
2.1. A BAIXA IDADE MÉDIA: A MONOFONIA SACRA NÃO LITÚRGICA E A MONOFONIA SE-
CULAR
A Baixa Idade Média foi um período de importantes mudanças musicais. Foi marca-
do pelos avanços da documentação escrita da música secular monofônica, pelo aparecimen-
to de uma polifonia escrita no âmbito religioso e, posteriormente, de uma polifonia secular
documentada.
Se na Alta Idade Média houve o desenvolvimento da escrita das alturas das notas, com
a polifonia da Baixa Idade Média, você verá o surgimento de uma escrita mensural rítmica. E
com a secularização da escrita, registros sobre o uso dos instrumentos começam a aparecer.
Monodias em latim
Desde o início da Idade Média, escritores produziram poemas não litúrgicos, em latim,
com temáticas sacras e seculares. No entanto, no decorrer dos séculos, muitos desses poemas
passaram a ser utilizados em serviços religiosos medievais, como nos ritos católicos da semana
santa, em momentos iniciais das cerimônias principais ou nas festas religiosas. Pode-se citar o
caso do poeta Venantius Fortunatus (530-609), cujas letras foram utilizadas ao longo da Idade
Média para composição de novas peças do cantochão (STOLBA, 1998).
Esses fatos provam que, já durante a Alta Idade Média, ocorreu a incorporação da escrita
musical, desenvolvida dentro das igrejas, na música secular ainda com características mono-
fônicas e modais. Ocorreu, também, a utilização dessa mesma escrita na documentação de
novas composições, ainda não assinadas por seus respectivos compositores.
Nos séculos 11 e 12, houve o aparecimento autoral de novos cantos monofônicos para
os rituais cristãos. Pode-se citar como principal exemplo as composições de Hildegard Von
Bigen (1098-1179). Bigen foi abadessa em Rupsterberg, onde desenvolveu atividades diplomá-
ticas, literárias e musicais. Em sua obra musical, há antífonas, responsos, sequências, Kyries,
Alleluias, dentre outras formas específicas de cantos sacros (STOLBA, 1998, p. 92).
Note que este é um fato novo. Anteriormente, os cantos utilizados na igreja não tinham
um compositor específico. No início da igreja cristã, não havia uma consciência autoral das
obras utilizadas, já que eram para louvor e acreditava-se que eram inspiradas pelo Espírito
Santo, seu verdadeiro compositor.
Gravação de O Ecclesia––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você ouvirá uma gravação de O Ecclesia, de Hildegard Von Bingen. Procure identificar os conceitos
estudados.
• ESEMBLE MICROLOGUS. Hildegard von Bingen: O Ecclesia. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=umdR9v6GApo>. Acesso em: 19 maio 2015.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Canvei La Lauzeta–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça a gravação de Canvei La Lauzeta, de Bernart de Ventadorn, como uma ilustração de canção trova-
doresca, para aprofundar seus conhecimentos.
• ESEMBLE ALLA FRANCESCA. Bernart de Ventadorn – Can vei la lauzeta. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=Lbj51yQV9Ug>. Acesso em: 20 maio 2015.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De modo geral, a Península Ibérica possui um rico cancioneiro. A difusão da cultura dos
trovadores pela Europa se deve ao fato de que eles eram grandes viajantes e, por isso, a cul-
tura trovadoresca esteve presente, também, na Itália e na Alemanha, proporcionando alguma
mistura entre estilos de localidades diferentes.
Le Jeu de Robin et Marion––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Adam de la Halle foi o mais famoso de todos os trovadores. Nasceu em Arras, na região da Picardia, e viveu por
algum tempo em Paris. Adam também serviu a Roberto II, no condado de Artois, na atual Itália.
Ele compôs tanto música monofônica quanto polifônica e suas composições sobrevivem em abundância. Sua
obra mais conhecida é Le Jeu de Robin et Marion (O jogo de Robin e Marion), uma pastourelle entremeada com
canções, na qual existem especificações sobre acompanhamento das melodias monofônicas com instrumento.
Ouça Le Jeu de Robin e Marion de Adam de la Halle para conhecer mais sobre o tema estudado.
• ESEMBLE MICROLOGUS. Adam de la Halle – Le Jeu de Robin et Marion. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=zNNm-wnfZ-U>. Acesso em: 20 maio 2015.
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Formas fixas
Para entender o que são as formas fixas, é necessário, primeiro, esclarecer o que é forma.
Na música, quando se fala de forma, trata-se da estrutura de uma música que segue pa-
drões de combinação de um número de melodias ou seções musicais. Normalmente, analisa-
-se esses padrões musicais utilizando letras.
A seguir, observe um exemplo com uma canção simples e conhecida por todos: Brilha,
brilha estrelinha.
Prendes i garde������������������������������������������������������������
A seguir, ouça uma gravação de Prendes i garde, um rondeau do compositor Guillaume D’Amiens. Aproveite para
identificar os conceitos estudados:
• ANNA AZEMA & ESEMBLE AZZIMAN. Guillaume d’Amiens/Anon. 13th c.: Prendes i garde - prennès i
garde. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6PpAlk0HoXg&list=PLhGeiHP7GaV2dguY-
CJK0zMb_SlH1-syj>. Acesso em: 20 maio 2015.
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• Virelai: seu esquema formal é AbbaA, mas pode aparecer repetidas vezes, tendo
sempre o refrão entre suas repetições:
Não há, em recursos digitais de acesso livre, uma gravação de Or La Truix para ilustrar a partitura anterior. Para
que a audição de um virelai não fique prejudicada, a seguir, você poderá verificar um virelai de Guillaume de Ma-
chaut (compositor que será comentado adiante). As características formais deste virelai são mantidas. Confira o
link e a descrição:
• MACHAUT, G. Ay mi! Dame de Valour. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=H3sT8Tla02o>.
Acesso em: 20 maio 2015.
A seguir, ouça uma gravação de A L’entrada del temps clar, uma ballade de compositor desconhecido. Atente-se
para identificar os conceitos estudados:
• CLEMENIC CONSORT. A L’entrada del temps clar (anonymous occitain, XII century). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=2P1yiOEHPG0>. Acesso em: 20 maio 2015.
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Você já sabe que a música instrumental não era permitida dentro da igreja cristã, pois os
primeiros pensadores da igreja acreditavam que a música instrumental suscitava no homem
desejos ligados às paixões do mundo e o remetia ao antigo paganismo.
No entanto, fora das igrejas medievais, na música secular o uso de instrumentos era
comum. Os instrumentos, além de sua função de acompanhamento das canções, poderiam
executar peças instrumentais para dança.
Estampida–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O gênero instrumental mais antigo do qual se tem notícia é a estampida (francês estampie; italiano stanpite).
Para conhecer mais sobre a estampida, acesse o link indicado a seguir:
• YOUTUBE. Danse instrumentale (Anonyme) – Estampie. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=EexRzcpRRuk>. Acesso em: 20 maio 2015.
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A maioria dos exemplares de música instrumental remonta aos séculos 13 e 14, quando
poderiam ser monofônicas ou polifônicas, mas há razões para achar que surgiram muito antes
disso.
Os instrumentos mais conhecidos do período medieval são (GROUT; PALISCA, 2007):
• Lira medieval: instrumento de origem romana. A lira era bastante comum na Alta
Idade Média.
Figura 7 Lira.
Figura 8 Harpa.
Figura 9 Vielle.
• Organistrum: uma espécie de vielle na qual o arco era substituído por uma grande
roda (vielle de roda) que friccionava as cordas.
Figura 10 Organistrum.
Figura 11 Saltério.
Figura 12 Alaúde.
• Órgãos: poderiam ser os grandes órgãos de tubo das igrejas, mas havia dois tipos de
órgãos menores chamados de portativos (portáteis) e positivos (portáteis que preci-
savam ser postos em uma mesa).
Figura 14 Charamela.
Instrumentos medievais––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá assistir a um vídeo com imagens e sons de importantes instrumentos medievais. O vídeo
elenca alguns instrumentos não citados neste estudo e, até mesmo, instrumentos que serão usados em momento
posterior à Idade Média.
Atente-se para o fato de que o instrumento nomeado neste estudo como Organistrum aparece no vídeo como
sanfona. Mas, lembre-se de que o nome correto é organistrum.
• GUERREIRO, I. Instrumentos Medievais. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=GzkqG8gKJos>. Acesso em: 21 maio 2015.
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Você já se perguntou qual a diferença entre uma música coral moderna (como um negro
spiritual ou uma missa Réquiem de Brahms, por exemplo) e as obras chamadas polifônicas?
Os corais modernos não seriam polifônicos na medida em que também possuem várias li-
nhas melódicas? E seria essa tal polifonia uma exclusividade da música ocidental de herança
europeia?
Pois bem, como polifonia entende-se a textura musical que não somente possui várias
vozes, mas que também conserva certa independência de cada voz em relação às outras, não
havendo predomínio de nenhuma principal.
Isso é diferente do que ocorre em muitas músicas corais modernas nas quais a primeira
voz, soprano (ou a voz mais aguda), é reconhecida como a voz principal, restando às outras um
papel de acompanhamento.
A polifonia também se difere, em muitos casos, pelo fato de que o conjunto de vozes
não resulta em uma trama de acordes, como o que acontece na concepção também moderna
de melodia com acompanhamento (acompanhamento com acordes de um determinado tom).
Ela se diferencia, também, da heterofonia, que é a execução simultânea de duas ou mais
diferentes versões da mesma melodia em duas ou mais vozes (STOLBA, 1998). A heterofonia
era um recurso já conhecido em músicas anteriores ao surgimento da polifonia medieval.
Algumas sedes da Igreja Católica Romana tiveram um papel especial no nascimento
da polifonia da Baixa Idade Média. Pode-se citar a Catedral de Winchester, no Condado de
Hampshire (atual Inglaterra); a Catedral de Santiago de Compostela, na região da Galícia (atu-
almente na Espanha) e a Abadia de Saint Martial de Limoges, na região de Aquitaine (territó-
rio Francês atual). A esses centros soma-se a Catedral de Notre Dame, em Paris. Esta última se
tornou o grande centro de desenvolvimento da polifonia medieval.
A música polifônica praticada na Baixa Idade Média, entre o final do século 12 e o surgi-
mento do tratado de Philippe de Vitry (que será estudado adiante nesta unidade), foi chama-
da de Ars Antiqua. Este nome foi adotado pelo fato de Philippe de Vitry chamar seu tratado
musical de Ars Nova. Assim, à música realizada anteriormente deu-se o nome de Ars Antiqua.
No estudo da história da música deste período, os musicólogos dividem-se quanto à
delimitação do período da Ars Antiqua. Será adotado nesta obra a tese mais vigente, que con-
sidera que a Ars Antiqua abrange o período que vai desde o nascimento da polifonia ocidental
até a prática musical da Escola de Notre Dame, resultantes nas obras de Leonin e Perotin
A seguir, você compreenderá o desenvolvimento histórico da polifonia da Ars Antiqua por
meio de suas principais formas: o Organum, o Conductus Polifônico e o Motete (ou Moteto).
Acredita-se que as primeiras divisões em mais de uma voz do cantochão ocorreram nos
ofícios, quando homens e crianças cantavam juntos, gerando, naturalmente, uma divisão vo-
cal em oitavas.
A primeira teorização do organum acontece nos tratados Musica enchiriadis e Scolica
enchiriadis, de autor anônimo e que foram escritos entre os séculos 9 e 10. Neste momento, a
voz organalis já era construída acima da voz principalis (cantochão).
O organum paralelo é o mais primitivo dos organa, consiste na duplicação paralela da
voz principal (cantochão) em intervalos de 4ªs, 5ªs ou 8ªs justas. O organum paralelo simples
possui somente uma voz principal duplicada a uma 4ª justa ou a uma 5ª justa abaixo da voz
principal.
Observe a relação intervalar de 4ª entre a voz principal (cantochão) e a voz organalis, e
como ela se mantém paralelamente durante todo o organum.
O organum paralelo complexo possui duas ou três vozes organais realizadas a partir da
duplicação em oitava de um organum paralelo simples (STOLBA, 1998).
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de um responsório, Dum Esset Salvator in Monte, cantado em forma de
organum. No intervalo temporal de 0:47s e 3min10s, ocorre um organum paralelo:
• ESEMBLE ORGANUM. Dum Esset Salvatore In Monte. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=2wOrr9NvlTk>. Acesso em: 21 maio 2015.
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A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Rex Caeli Domine, uma sequência cantada em forma de organum
modificado, cujo primeiro trecho está transcrito na Figura 18:
• CAPELLA DURIENSIS IN THE MOSTEIRO SÃO PEDRO DA FERREIRA. Rex Caeli Domine. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=HtbO4ub-G3Y>. Acesso em: 21 maio 2015.
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Curiosidade:
Guido D’Arezzo menciona em um de seus escritos sua preferência pelo organum modificado com
regras específicas para se evitar o trítono que era considerado o diabolus in música (diabo em mú-
sica).
Por volta do ano 1100, foi escrito o tratado Ad organum faciendum, de autor anônimo. A
partir deste momento, os organa passam a ser predominantemente compostos e escritos em
duas ou mais pautas na partitura.
Esse arranjo de pautas forma, já nesse período, o que é chamado de “grade” em por-
tuguês. Os exemplares de cantochão a serem utilizados como base da prática do organum
passam a se chamar cantus firmus (canto de base). Assim, neste período, há os tipos mais
desenvolvidos de organum que predominaram durante o século 13 e o início do 14.
O organum livre é baseado no movimento oblíquio, paralelo e contrário entre as vozes,
misturando, livremente, intervalos de 4ªs, 5ªs e 8ªs justas. Em certos momentos, intervalos de
3ªs e 6ªs são admitidos em relação a uma voz e o cantus firmus (cantochão).
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Alleluia Justus ut Palma, cantada em forma de organum livre. Ouça a
gravação, acompanhando a partitura no vídeo, e observe as características dos movimentos das vozes, bem como
outras características comentadas anteriormente:
• CAPELLA DURIENSIS IN THE MOSTEIRO SÃO PEDRO DA FERREIRA. Allleluia Justus ut Palma. Dispo-
nível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YjCN9lhCQWo>. Acesso em: 21 maio 2015.
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O organum melismático é composto por mais de uma nota na voz organalis para cada
nota do cantus firmus (voz principal). Assim, sobre as notas longas formam-se longos melis-
mas, o que justifica o nome de tal tipo de composição. O tenor deveria ser cantado por um
grupo de homens, que se alternavam nessa tarefa, uma vez que as notas longas eram impossí-
veis de se cantar a um só fôlego. O duplum melismático era cantado por um solista.
Benedicamus Domino––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de um organum melismático chamado Benedicamus Domino.
• ESEMBLE GILLES BINCHOIS. Benedicamus Domino. Disponível em: <https://youtu.be/ayFq9xOCBos>.
Acesso em: 21 maio 2015.
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Modos Rítmicos
Muitas vezes, surge a pergunta sobre qual a base da escrita rítmica musical. Você viu
que, durante muito tempo, o ritmo era livre, seguindo apenas a métrica das palavras. Houve a
aplicação da notação quadrada, que determinava a altura do som, mas não indicava os ritmos
dessas notas.
A partir dos séculos 11 e 12, desenvolveu-se um esquema rítmico baseado nos modelos
da métrica da poesia latina, para substituir a prática do ritmo livre do cantochão. Neste perío-
do, a escrita baseou-se em modos rítmicos.
Assim como existiam os modos de alturas (escalas: protus, deuterus, tritus, tetrardus ou
dórico, frígio, lídio e mixolídio), sobre os quais poderia se basear a composição das notas da
música, foram elaborados os modos rítmicos.
Quadro 2 Modos Rítmicos.
MODOS RÍTMICOS
NÚMERO NOTAÇÃO MODERNA 1 NOTAÇÃO MODERNA 2 NOME POÉTICO
EQUIVALENTE
I
Troqueu
II
Iambo
III
Dáctilo
IV
Anapesto
V
Espondeo
VI
Tribaquio
Os modos possuíam os nomes dos pés métricos da poesia, originários da Grécia Antiga:
troqueu, iambo, dáctilo, anapesto, espondeo e tribaquio; e foram baseados em dois valores:
brevis e longa, sendo a longa duas vezes o valor da brevis.
Quando transcritos em notação moderna, resultam em compassos compostos de subdi-
visão ternária do pulso básico.
A primeira aparição teórica dos modos rítmicos data de cerca de 1240, em um tratado
denominado De musica mensurabili, de autoria de Johannes de Garlandia (GROUT; PALISCA,
2007).
O sistema dos modos rítmicos foi se desenvolvendo a partir da necessidade de se grafar
a música, que já vinha sendo posta em prática. Essa notação desenvolvia-se no decorrer dos
séculos 12 e 13 para satisfazer as necessidades de uma escola de compositores polifônicos que
desenvolviam suas atividades em Paris, França.
A clausula designava uma sessão para um trecho final ou para uma finalização interme-
diária do canto. No caso do organum de Leonin, a clausula era composta em modo discante,
ou seja, com a metrificação do tenor.
Até aqui a voz organalis vinha sempre acompanhada pelo tenor litúrgico, que era o alon-
gamento das notas do cantochão, assim uma música nunca era totalmente composta, pois
utilizava um tenor já existente. Leonin viu na clausula de discante a oportunidade de compor
com maior liberdade a sua música, uma vez que no momento da clausula de discante o tenor
litúrgico era metrificado.
Essa prática possui grande importância, pois possibilitou uma maior autonomia das
composições polifônicas e o surgimento das obras autorais em relação ao canto gregoriano
(considerado de autoria divina ou sem autor reconhecido).
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de Alleluia Pascha Nostrum, de Leonin. Nesta peça, é possível notar
trechos do canto gregoriano monofônico, trechos em organum melismático (duplum) e trechos em discante a duas
vozes.
A Figura 24 demarca um dos trechos da gravação em discante desta peça, que acontece entre a marca temporal
de 3min04s e 3min31s. Ouça e observe a mudança da textura organal para o discante:
• THE EARLY MUSIC CONSORT. Alleluya Pascha Nostrum. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=PLyuWGI1sYM>. Acesso em: 22 maio 2015.
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Uma das características de Leonin era utilizar elementos antigos e novos em suas com-
posições. Assim, em uma mesma peça, contrastava o organum e as cláusulas de discante.
Os compositores de Notre Dame utilizavam diferentes modos rítmicos para cada uma
das vozes. Cada voz deveria, no momento de ataque da nota do cantus firmus, soar em con-
sonância com o tenor. Às vezes, nas vozes superiores, Perotin utilizava a técnica do rondellus,
que é a permutação de motivos melódicos entre as vozes, de modo que um motivo executado
pelo duplum poderia ser ouvido, em seguida, no triplum ou no quadruplum.
Viderunt Omnes–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir o organum quadruplum Viderunt Omnes, composto por Perotin.
O vídeo possui uma partitura que lhe possibilitará observar a textura escritural das vozes superiores em relação ao
tenor. Ouça a gravação e identifique as características estudadas, também, na partitura indicada:
• HILLIARD ESEMBLE. Perotin – Viderunt Omnes (partitura). Disponível em: <http://www3.cpdl.org/wiki/
images/0/04/Perotin_Viderunt_Omnes.pdf>. Acesso em: 22 maio 2015.
• PEROTIN. Viderunt Omnes. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=aySwfcRaOZM >. Acesso
em: 22 maio 2015.
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Em 1198, o então bispo de Notre Dame, Eude Sully, permitiu que Perotin executasse or-
gana triplos e quádruplos nas celebrações de 1 de janeiro. Em 1199, o mesmo aconteceu com
a celebração de 26 de dezembro. Nessas comemorações foram utilizados o Sederunt Omnes
e o Viderunt Omnes (STOLBA, 1998, p. 81). Em Paris, o organum foi regularmente cantado até
por volta de 1250, quando o motete passou a predominar.
Conductus polifônico
Foi utilizado em Notre Dame, inicialmente, por Leonin, e logo se tornou um dos princi-
pais gêneros praticados nesta escola.
O conductus não utilizava o tenor litúrgico, como o organum. O cantochão representava
o sagrado na música e, por esse motivo, a utilização de uma forma de compor sem a presença
do cantochão, mesmo nas notas longas do tenor, não poderia fazer parte da liturgia da igreja.
Desse modo, o conductus desenvolveu-se nas fontes não litúrgicas, como as sequências e os
hinos, mantendo seu caráter sacro, mas não participando da liturgia.
Importante lembrar:
A maior inovação do conductus é ser um dos primeiros tipos de composições escritas sem a utiliza-
ção de um cantus firmus no tenor.
• utilização de 3ªs como consonância (neste período eram considerados intervalos con-
sonantes somente as 4ª, 5ª e 8ª);
• estilo silábico;
• caudae (nome que originou o italiano coda): trecho melismático para início ou final
de um conductus no qual a junção das vozes resulta em um efeito de textura cordal
(soam como acordes).
Observe essas características neste conductus:
Motete
Como você viu, Leonin utilizava em seus organa as cláusulas de discante. A utilização
das cláusulas no organum fascinou a geração seguinte, sendo que Perotin passou a utilizar as
cláusulas de substituição e compôs centenas de cláusulas isoladas que poderiam ser agrega-
das nos diferentes organuns.
Normalmente, essas cláusulas eram instrumentais, mas com o passar do tempo foram
agregadas a elas letras, e a esse fato foi dado nome de tropo.
Com o tempo as cláusulas foram se destacando do organum, ou seja, passaram a ser
tomadas como uma composição separada, “provavelmente por causa da letra, as recém-au-
tônomas cláusulas de substituição receberam o nome de motete” (GROUT; PALISCA, p. 116).
É possível dizer que o motete, basicamente, tem sua origem na colocação de texto na
cláusula de discante, por volta de 1200 (sem designação de autoria).
Quando um tropo literário (texto adicional, como nos tropos gregorianos) era introduzi-
do no duplum (voz organal) de uma clausula passava a ser chamado de motetus.
Inicialmente, o motete foi cantado no ofício das horas, mas, rapidamente, passou a ser
utilizado, também, na missa. Por volta do ano de 1250, o organum e o conductus começam a
ser lentamente substituídos pelo motete.
Franconiano
É o moteto padrão do século 13, com diferentes modos e valores rítmicos e a utilização
de três vozes politextuais.
A seguir, está disponível o link de uma gravação do motete franconiano Pucelete – Je Languis – Domino, exempli-
ficado na Figura 30. Ouça a gravação e observe as características estudadas:
• ARS RÉGIA. Pucelete – Je Languis – Domino. (Anonymus, 13. s.). Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=qqPs8_Svg80>. Acesso em: 25 maio 2015.
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Petroniano
Recebe este nome por ter sido criado por Petrus de Cruce. Possui características rít-
micas especiais: a voz tenor (a mais grave) tem uma mensuração lenta; a voz duplum (voz in-
termediária) tem valores rítmicos intermediários e, por fim, a voz triplum (a mais aguda) tem
valores rítmicos mais rápidos.
No link indicado a seguir, está disponível uma gravação do motete petroniano Aucun vont – Amor qui cor – Kyrie,
exemplificado na Figura 31.
Repare que, na gravação, uma amostra de cada voz é executada separadamente, antes do início da peça integral.
Inicialmente, executa-se a voz mais grave, derivada do cantochão. Em segundo lugar, a voz interna com o texto
“Amor qui cor...”. E, por último, a voz mais ligeira e aguda, com a letra “Aucun vont...”.
Ouça a gravação e observe as características estudadas:
• VOX IN RAMA. Aucun vont – Amor qui cor – Kyrie. Motet bilíngue. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=8P1bPRsTm30>. Acesso em: 25 maio 2015.
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O motete será um gênero importante, também, na Ars Nova, quando ganhará o trata-
mento isorrítmico, como você estudará adiante.
Longa
Breve
Semibreve
LISCA, 2007, p. 124-125; STOLBA,1998, p. 87). Outra novidade deste sistema é a aceitação da
subdivisão binária e não somente da ternária, como acontecia nos modos rítmicos anteriores.
O século 14 foi marcado por mudanças sociais que influenciaram diretamente o cenário
artístico deste período.
Enquanto, no século 13, havia uma estabilidade e unidade representada pelo papado
romano (que era amplamente respeitado nas esferas da fé e da moral e também nas questões
políticas e intelectuais), no século 14, o poder papal passa a ser questionado. Escândalos liga-
dos ao alto clero enfraqueceram a imagem da igreja cristã nesse período.
O enfraquecimento da igreja levou a uma mudança de paradigma filosófico no século
14, que tendia a conceber a razão humana separadamente. Desse modo, compreendia-se que
era responsabilidade da igreja cuidar da alma humana; ao Estado cabia a função de cuidar das
questões terrenas. Iniciavam-se, assim, as primícias da separação entre igreja e estado.
Essas mudanças, em comparação com o século 13, também foram impulsionadas por
um período de grandes crises marcadas pela recessão econômica, pelas revoltas urbanas,
pela Guerra dos Cem Anos e pela peste negra (de 1347 até 1351, período em que morreram
20.000.000 de pessoas). Em meio a esse cenário, a burguesia se fortalece e a aristocracia feu-
dal perde a sua força.
Iniciam-se, também, as primeiras ideias humanísticas baseadas nos estudos da literatura
clássica grega e latina. Nas artes, é possível ver um grande florescimento da música e da lite-
ratura secular (GROUT; PALISCA, 2007).
A Ars Nova
A Ars Nova (arte nova) foi um movimento musical, iniciado em Notre Dame, que criou
uma cisão em relação à Ars Antiqua (arte antiga).
Conforme você estudou, a Ars Antiqua foi o momento da música baseada no cantochão
e nos gêneros polifônicos dos organa, dos conductus e dos motetes mais antigos. Já a Ars Nova
diz respeito à música polifônica realizada a partir das novas técnicas de mensuração rítmica
no século 14.
Esse movimento tem como principais tratados o Ars nova musice (1321), escrito por
Johannes Muris (1300-1350) e o mais famoso Ars Nova (1322), escrito por Phillipe de Vitry
(1291-1361). Esse período se caracteriza pela expansão da utilização da notação mensural rít-
mica, pelo um uso mais extensivo das técnicas de composição polifônica para a música secular
e por um aumento da produção de música secular, superando a produção de música sacra.
Segundo Grout e Palisca (2007, p. 132-133), os “compositores da ars nova produziram
muito mais música profana do que música sacra”, o que evidencia um afastamento da igreja,
que propiciou, por sua vez, uma maior liberdade de experimentação.
O principal compositor da Ars Nova, além de Vitry, é Guillaume de Machaut (1300-1377).
Em um tratado de autor anônimo, datado de 1350, o termo contrapunctus (contraponto) apa-
rece pela primeira vez para designar a técnica de combinação de duas melodias independen-
tes (STOLBA, 1998).
Phillipe de Vitry fez uma revisão da teoria rítmica fraconiana. Propôs em seu tratado
um novo sistema de figuras rítmicas, no qual inclui uma nova figura, a mínima, conforme é
demonstrado no quadro a seguir:
Longa
Breve
Semibreve
Mínima
A seguir, está disponível o link de uma gravação do motete isorrítmico Garrit Gallus, exemplificado na Figura 33.
Ouça a gravação e observe as características estudadas:
• LUMINAVOCALESEMBLE. Garrit Gallus. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3g6AfdF9etc>.
Acesso em: 25 maio 2015.
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A seguir, você poderá ver apenas o tenor do motete Garrit Gallus, no qual a talea (pa-
drão rítmico) está assinalada:
Você acaba de estudar mais um tipo de construção do tenor. No decorrer de seus estu-
dos, pôde ver que a palavra tenor designou diferentes partes da música medieval.
Neste momento, é importante recapitular sua evolução e suas principais mudanças. O
quadro a seguir analisa, de maneira sintética, as principais mudanças no tenor:
A nota que se repetia, servindo de base para a recitação dos salmos no canto-
CANTOCHÃO chão, e que era a nota fundamental do modo em que o cantochão estava.
ORGANUM
O tenor não era mais retirado do cantochão. Ele era, originalmente, composto
para o conductus. Todas as vozes, inclusive o tenor, tinham o mesmo ritmo.
CONDUCTUS
(SÉCULO 13)
MOTETE
(SÉCULO 13)
Música Ficta
Conforme você já sabe, desde que a música passou a ter duas vozes, no organum parale-
lo, já existia a consciência de que a quinta Si/Fá era mais próxima do que os demais intervalos
de quinta. Já havia a necessidade de fugir do trítono e tornar as quartas e quintas justas por
meio da intervenção dos acidentes.
Durante o século 14, desenvolveu-se na música polifônica francesa e na italiana um há-
bito de interpretação chamado de música ficta, que se tratava de alterações cromáticas de
algumas notas nos finais de trechos musicais (nos repousos intermediários e finais da música,
ao qual se dá o nome de cadências). Por exemplo, em uma passagem contendo as notas La, Si,
La, o intérprete poderia cantar o Si como Sib; ou uma passagem, na qual a música terminaria
na nota Sol, o Fá anterior a ela deveria ser cantado como Fá#. Essas alterações eram realizadas
por dois motivos básicos:
• para algum embelezamento da linha melódica;
• com o intuito de se evitar o trítono, tanto melódica quanto harmonicamente.
Tal prática ganhou o nome de ficta (falsa), em oposição à ideia de música recta (verda-
deira). Como tais alterações ocorriam em uma passagem ou outra da música, elas eram consi-
deradas pequenas deformações no sistema de escrita das alturas. Por isso, eram consideradas
exceções ao sistema verdadeiro pré-definido das escalas.
Esse hábito se estendeu a períodos posteriores. Durante boa parte da Baixa Idade Média
e do Renascimento, os copistas das partituras assinalavam as passagens da música nas quais
a música ficta poderia ser aplicada. No entanto, um intérprete saberia reconhecer tais passa-
gens, mesmo que um editor não o tivesse avisado. Isso provocou a diminuição dos sinais de
alteração com o passar dos séculos 14 e 15. Mas a prática não deixou de ocorrer; apenas ficou
legado ao domínio da interpretação como um hábito de execução.
No exemplo da Figura 35, é possível ver um sustenido e um bequadro que indicam cro-
matizações não escritas nos pentagramas, mas indicadas pelo costume de época.
Neste momento, é importante que você assista novamente ao vídeo Puis Qu’en Oubli, um rondeu de Guillau-
me de Machaut, pois poderá reparar na partitura a presença dos bemóis e sustenidos, posicionados acima dos
pentagramas.
Eles são um modo de as edições modernas designarem os locais, na música, nos quais as alterações próprias da
prática de música ficta eram realizadas:
• MACHAUT, G. Puis Qu’en Oubli. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FHjWbgRZSrQ>.
Acesso em: 25 maio 2015.
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Composições de Machaut––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você encontrará exemplos de chansons, rondeux, ballades e motetes de Guillaume de Machaut. Muitos
dos vídeos contêm partitura.
Observe a complexidade e a variedade da escrita desse compositor em relação aos seus antecessores:
• MACHAUT, G. Rose, liz, printemps, verdure. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y_
vEuRykohM&list=PL312A0292B2B7861C&index=4>. Acesso em: 26 maio 2015.
• ORGANUM ESEMBLE. Guillaume de Machaut: De Toutes Flours. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=ePyhwhrWkog>. Acesso em: 26 maio 2015.
• MACHAUT, G. Puis Qu’en Oubli (rondeau). Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=FHjWbgRZSrQ>. Acesso em: 26 maio 2015.
• OXFORD CAMERATA. Guillaume de Machaut: Puis Qu’en Oubli (polyphonic chanson). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=0yi2MMtIimY>. Acesso em: 26 maio 2015.
• MACHAUT, G. Virelai: Ay, Mi! Dame de Valour. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=H3sT8Tla02o>. Acesso em: 26 maio 2015.
• MACHAUT, G. Motete Isorrítmico: Quant en Moy. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=bZxAqWV7a0A>. Acesso em: 26 maio 2015.
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Música Sacra de Machaut
Embora possua uma maior abundância de música secular, Machaut criou uma das obras
mais importantes da história da composição musical no domínio da música sacra: a Missa de
Notre Dame.
Esta obra é o primeiro exemplar de um ordinário de missa completo, composto em estilo
polifônico. Ela possui grande importância, pois, pela primeira vez na história, um compositor
compôs uma missa pensando em uma unidade musical, utilizando a sua estrutura como uma
forma de composição. Após Machaut, muitos outros compositores (Dufay, Josquin, Bach e
Mozart, para citar alguns exemplos, apenas) compuseram missas nesse sentido. Sua missa
possui uma estrutura em quatro vozes:
1) Triplum: voz mais aguda.
2) Duplum: logo acima do tenor e abaixo do triplum. Poderia, também, ser chamada
de motetus.
3) Tenor: voz de base com cantus firmus.
4) Contratenor Bassus: uma quarta voz posicionada em registro mais grave que o tenor.
A seguir, você terá dois vídeos contendo o kyrie da Messe de Notre Dame. No primeiro, você assistirá a uma apre-
sentação do Kyrie completo. No segundo, você poderá acompanhar apenas um fragmento do Kyrie, enquanto vi-
sualiza a partitura no vídeo. Você também terá a partitura para auxiliá-lo a identificar as características estudadas:
• ESEMBLE GILLES BINCHOIS Messe de Notre Dame – Kyrie. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=5GgkAM8crbU>. Acesso em: 26 maio 2015.
• OXFORD CAMERATA. Machaut Kyrie 1. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=imuz75-3-
uo>. Acesso em: 26 maio 2015.
• MACHAUT, G. Messe de Notre Dame: Kyrie. Disponível em: <http://www.uma.es/victoria/varios/pdf/
Machaut-Missa_Notre_Dame-1-Kyrie.pdf>. Acesso em: 26 maio. 2015.
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A seguir, você ouvirá uma gravação do madrigal Non al suo piu amante, de Jacopo de Bologna. Repare na entrada
do ritornello em 2min29s:
• BOLOGNA, J. Non al suo piu amante più Dïana piacque. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=jZGX4AWmRy8>. Acesso em: 26 maio 2015.
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A caccia, nome derivado da palavra cacce (caça), era uma peça a três vozes, na qual
as vozes mais agudas realizavam um cânone, acompanhadas por uma voz grave executada
instrumentalmente (sem texto). Sua temática poética se baseava em atividades de caça ou
atividades ao ar livre.
A seguir, você ouvirá uma gravação da caccia Tosto Che L’Alba, de Ghirardello de Firenze. Esta música tem um
caráter bem vivaz, que pode ser bem percebido pelo fato de ser um vídeo de um concerto ao vivo.
Repare na entrada da segunda voz em cânone com a primeira, na marca de 0:30s do vídeo. A voz grave está
sendo executada por um instrumento de sopro:
• MODO ANTIQUO. Ghirardello da Firenze: Tosto che l’alba del bel giorn’ appare. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=0dfP42sGIAQ>. Acesso em: 26 maio 2015.
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A ballata era uma variante italiana do virelai francês, com forma fixa AbbaA. Ela flores-
ceu mais tardiamente que o madrigal e a caccia. A maioria de seus manuscritos é posterior a
1365 e inclui, em geral, peças para duas ou três vozes.
A seguir, você ouvirá uma gravação da ballata Non Avrà Ma’ Pietá, de Francesco Landini:
• ESEMBLE UNICORN. Francesco Landini: Non avra ma’ pieta questa mia Donna. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=vzloIi9UtVU>. Acesso em: 26 maio 2015.
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Cadência de Landini–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você assistirá a um vídeo explicativo sobre cadências medievais com pequenas partituras e intervalos
analisados e uma demonstração sonora de tais cadências. Repare na última, a cadência de Landini:
• TELLEZ, A. B. Cadências Edad Média Ars Nova. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=zo1BUmAtMb4>. Acesso em: 26 maio 2015.
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Trata-se de uma passagem melódica pelos graus sete e seis, finalizando-se na tônica (8).
Supondo-se que você estivesse em Sol, passaria por Fá e por Mi, e saltaria do Mi para a nota
de finalização, Sol. Veja como isso acontece na em Non Avrà Ma’ Pietá (compassos finais):
A seguir, você poderá ouvir novamente o exemplo musical de ballata Non Avrà Ma’ Pietá e reparar na cadência no
final da peça. Depois, escute novamente o exemplo, tentando encontrar outros momentos, no decorrer da grava-
ção, com a cadência de Landini.
• ESEMBLE UNICORN. Francesco Landini: Non avra ma’ pieta questa mia Donna. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=vzloIi9UtVU>. Acesso em: 26 maio 2015.
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A música monofônica da Baixa Idade Média, além do cantochão sacro abordado na Uni-
dade 1, inclui peças de caráter sacro, mas não litúrgico e, também, uma enorme variedade de
música secular. Na música praticada fora da Igreja, a utilização dos instrumentos era frequente.
A seguir, estão alguns sites que disponibilizam vídeos, áudios e textos especificamente
sobre este assunto.
3.2. ORGANUM
O organum é, ao lado do motete, uma das formas mais importantes do início da polifo-
nia. As mais importantes igrejas, nas quais o organum apareceu, são Abadia de São Marcial de
Limonges, Catedral de Winchester, Catedral de Santhiago de Compostela e Catedral de Notre
Dame.
Os tipos de organum dividem-se na sua forma primitiva em paralelos e modificados. Na
sua fase mais desenvolvida, poderiam ser livres ou melismáticos (estilo São Marcial, devido à
Catedral de Limoges). Em Notre Dame, atingiram seu ápice de desenvolvimento com Pérotin e
Léonin, sendo compostos em até quatro vozes.
• HISTÓRIA DA MÚSICA (BLOG). Escola de Notre-Dame. Disponível em: <http://
historiadamusicaantiga.blogspot.com.br/p/escola-de-notredame.html>. Acesso em:
27 maio 2015.
• HISTÓRIA DA MÚSICA (BLOG). Escola de Notre Dame nos séculos XII e XIII. Disponível
em: <http://historiadamusica2011.blogspot.com.br/2011/08/escola-de-notre-
dame-nos-seculos-xii-e.html>. Acesso em: 27 maio 2015.
• VILLEGAS, L. P. Del Canto gregoriano A La Polifonia Medieval In: VII JORNADAS DE
CANTO GREGORIANO SOBRE CANTO GREGORIANO Y OTRAS MONODIAS MEDIEVALES.
5-11 de nov. de 2001, p. 67-80, Zaragoza, Espanha, 2003. Disponível em: <http://ifc.
dpz.es/recursos/publicaciones/24/43/10prensa.pdf>. Acesso em: 1 jun. 2015.
Partituras em Facsímile
• IMLSP – Petrucci Music Library. Magnus, Liber Organi (Various). Disponível em:
<http://imslp.org/wiki/Magnus_Liber_Organi_(Various)>. Acesso em: 27 maio
2015.
Ars Nova foi o nome dado ao movimento musical que surgiu em Notre Dame, no século
14, que se caracterizava pelas novas técnicas de escrita e de composição musical polifônica.
Marcou, também, um crescimento da produção de música secular ao utilizar as mesmas
técnicas de escrita para músicas não religiosas realizadas fora da igreja. Embora os composito-
res da Ars Nova não tenham sido os criadores da notação mensural, destacaram-se pelo alto
desenvolvimento de sua utilização e pela sua renovação. Isso permitiu um desenvolvimento
acentuado da música polifônica.
• HISTÓRIA DA MÚSICA (BLOG). Ars Nova (Phillipe de Vitry e Guillaume de Machaut).
Disponível em: <http://historiadamusica2011.blogspot.com.br/2011/07/ars-nova-
philippe-de-vitry-guillaume-de.html>. Acesso em: 27 maio 2015.
• HISTÓRIA DA MÚSICA (BLOG). Guillaume de Machaut e John Dunstable. Disponível em:
<http://historiadamusica2011.blogspot.com.br/2011/07/guillaume-de-machaut-e-
john-dunstable.html>. Acesso em: 27 maio 2015.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desem-
penho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os
conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.
a) Organum Paralelo.
b) Organum Modificado.
c) Organum Livre.
d) Organum Melismático.
a) Gênero do canto gregoriano no qual o tenor sustenta a mesma nota para a declamação de salmos.
b) Voz superior que carrega o cantus firmus da polifonia dos tempos iniciais.
c) Estilo de escrita polifônica silábica baseada na escrita de uma nota-contra-nota, ou seja, uma nota da nova
melodia para cada nota do cantus firmus.
d) Estilo de escrita polifônica baseada na realização de melismas vocais para cada nota do cantus firmus.
e) Forma musical polifônica baseada em uma sequência fixa de partes.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) 1-c; 2-a; 3-b.
3) c.
5. CONSIDERAÇÕES
Você chegou ao final da segunda unidade. Por meio dela, teve a oportunidade de co-
nhecer o desenvolvimento gradual da música polifônica da Baixa Idade Média, bem como
a música monofônica dos trovadores medievais; você pôde ver que a polifonia medieval se
desenvolveu por meio do organum, do conductus e do motete, desenvolvendo técnicas de
composição e notação rítmica (modos rítmicos e notação mensural).
Você viu, também, que esse período se dividiu em Ars Antiqua e Ars Nova, a partir da
obra de Phillipe de Vitry e Guillaume de Machaut. Nesse tempo, a Catedral de Notre Dame foi
o principal centro de produção musical.
Na Unidade 3, você estudará o período renascentista e verá como os compositores da
Renascença levaram adiante o processo de enriquecimento e desenvolvimento da música po-
lifônica, adicionando a ele novas características estilísticas.
6. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
BINDER, F. Histórias da Música. Disponível em: <http://fernandobinder.wordpress.com>. Acesso em: 27 maio 2015.
CASTAGNA, P. A. Homepage. Disponível em: <http://paulocastagna.com>. Acesso em: 27 maio 2015.
CHORAL PUBLIC DOMAIN LIBRARY. Homepage. Disponível em: <http://www1.cpdl.org/wiki/index.php/Main_Page>. Acesso
em: 27 maio 2015.
BIBLIOTHÈQUE NATIONALE DE FRANCE. Gallica – Bibliothèque Numérique. Disponível em:<http://gallica.bnf.fr>. Acesso em:
27 maio 2015.
IMLSP PETRUCCI MUSIC LIBRARY. Homepage. Disponível em: <http://imslp.org>. Acesso em: 27 maio 2015.
Lista de figuras
Figura 1 Hildegar Von Bingen: O Ecclesia. Disponível em: <http://www3.cpdl.org/wiki/images/e/ec/Hildegard-O_ecclesia.
pdf>. Acesso em: 19 maio 2015.
Figura 2 Bernart de Ventadorn: Canvei La Lauzeta. Disponível em: <http://toddtarantino.com/hum/canveiscore.jpg>. Acesso
em: 20 maio 2015.
Figura 7 Lira. Disponível em: <http://www.thehazz.net/2014/05/yerushalayim-shel-zahav.html>. Acesso em: 20 maio 2015.
Figura 8 Harpa. Disponível em: <http://cmapspublic.ihmc.us/rid=1N1PS2XB2-BLS6P6-2CPJ/Os%20instrumentos%20na%20
Idade%20Media>. Acesso em: 20 maio 2015.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORCHET, D. Encyclopedia of philosophy. 2. ed. Famington Hills: Thomsom Gale, 2006.
GROUT, D.; PALISCA, C. V. História da música ocidental. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007.
LANG, P. H. Music in western civilization. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1997.
LOYN, H.R. Dicionário da idade média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
PALISCA, C. V. Norton anthology of western music. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1980.
STOLBA, K. M. The development of western music: a history. Nova Iorque: MacCgraw-Hill Companies, 1998.
______. The development of western music: an anthology. Nova Iorque: Wm C. Brown Publishers, 1991. v. 1.
TARUSKIN, R.; WEISS, P. Music in the world: A Historical in Documents. Boston: Thomson Learning, 1984.
TOMAS, L. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.
______. Ouvir o Logos: música e filosofia. São Paulo: Editora Unesp, 2002.
Objetivos
• Formular uma visão panorâmica sobre a música na Renascença com uma consciência da cronologia aproxima-
da de seus principais fatos e subdivisões periódicas.
• Identificar fatos e acontecimentos marcantes na história do pensamento e da prática musical na Renascença.
• Reconhecer algumas estruturas musicais históricas da renascença e as respectivas personagens históricas a
ela identificadas.
• Reconhecer a variedade de tipos formais musicais de acordo com a época e o local no qual eram praticados.
Conteúdos
• A Renascença: aspectos culturais.
• A música renascentista.
• Transição entre Idade Média e Renascença musical.
• Polifonia franco-flamenga.
• Polifonia imitativa.
• Polifonia homofônica-homorrítmica.
• Estilos nacionais na Renascença: frotolla, madrigal, chanson, lied, madrigal inglês e canções para voz e alaúde.
• Instrumentos musicais renascentistas.
• Música instrumental renascentista.
• Música na Reforma Protestante: o choral.
• Música na Contrarreforma: Polifonia após Concílio de Trento.
3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo Digital Integrador.
4) Ouça, com a maior frequência possível, os exemplos musicais sugeridos, buscando saboreá-los, inicialmente,
de forma prazerosa; posteriormente, busque perceber os aspectos comentados sobre os conteúdos aos quais
eles estão ligados.
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UNIDADE 3 – MÚSICA NA RENASCENÇA
1. INTRODUÇÃO
Caro aluno, nesta unidade será abordado o período conhecido como Renascença ou
Renascimento, um momento histórico de grande efervescência artística e intelectual. Inicial-
mente, você verá um período de transição entre os estilos medieval de escrita musical e o
renascentista, ocorrido no início do século 15.
Você terá a oportunidade de conhecer como o estilo renascentista se firmou a partir da
segunda metade do século 15, por meio da linhagem de compositores franco-flamengos, de-
tentores de um estilo de escrita internacional (junção de estilos de vários locais).
Após a influência dos franco-flamengos, houve o surgimento dos estilos nacionais e da
produção musical em língua vernácula no século 16. Este será o começo, também, do prestí-
gio dos compositores italianos, especialmente, os que compunham madrigais. É também no
século 16 que haverá o crescimento da documentação da música instrumental e a produção
de música sacra no embate entre cristãos protestantes e cristãos católicos contrarreformistas.
Houve, também no final da Baixa Idade Média, uma grande migração de estudiosos bi-
zantinos devido ao processo de conquista de Bizâncio realizado pelos turcos otomanos. Tal
processo culminou, em 1453, com a tomada de Constantinopla e extinção definitiva do Im-
pério Bizantino. Com esses estudiosos, chegaram à Europa textos até então desconhecidos da
antiguidade clássica.
A maior parte dessa migração aconteceu em direção à península itálica e muitas dessas
famílias passaram a ser incentivadoras da produção cultural, prática que ficou conhecida como
mecenato.
Nesse contexto das práticas comerciais surge a burguesia, uma classe social não neces-
sariamente oriunda da nobreza das famílias reais, mas que consegue certos poderes por meio
do comércio. Esse é, também, um período de aumento da concentração populacional nas
cidades, o que acentuou uma tendência contraria ao feudalismo medieval.
O já referido fluxo de obras da antiguidade clássica influenciou o surgimento, na penín-
sula itálica, do movimento conhecido como humanismo. Este termo, assim como o termo Re-
nascimento, só passou a ser utilizado no século 16 (SILVA, 2009), mas designou uma crescente
valorização do homem como o centro dos valores da vida, em detrimento do teocentrismo
medieval.
O humanismo, apesar de surgir na Itália, expandiu-se para outras regiões da Europa.
Petrarca, poeta e pensador, é tido como o grande pioneiro do humanismo.
A partir desses propulsores, é possível entender a definição de Renascimento dada por
Silva:
O Renascimento, assim, foi a expressão das novas concepções de mundo que começavam a apare-
cer entre os ascendentes burgueses urbanos, razão pela qual a Itália, rica, comercial e urbanizada,
foi o ponto de partida e o ápice desse movimento. Para a mudança mental e artística era necessário
dinheiro, pois os grandes artistas da Renascença trabalhavam principalmente sob encomenda. Na
Itália, o secularismo da classe média começava a contestar as extravagâncias de um clero muito
mundano, e influenciou as transformações mentais, aliada à capitalização de banqueiros, comer-
ciantes, burgueses e da própria Igreja, enriquecidos com o próspero comércio com o Oriente (SIL-
VA, 2009, p. 360).
Pode-se observar três fases distintas de evolução do Renascimento no que diz respeito
à cultura geral: o Trecento (século 14), o Quatrocento (século 15) e o Cinquecento (século 16).
Mas você verá que, no que diz respeito à música, as mudanças estilísticas acontecem, de fato,
a partir do século 15.
Como artistas e literatos precursores do Renascimento, no Trecento, pode-se destacar
Giotto, Dante, Petrarca e Bocaccio. Do Quatrocento, Botticelli, Da Vinci e Brunelleschi. E, fi-
nalmente, do Cinquecento, Ariosto, Torquato Tasso, Maquiavel, Rafael e Michelângelo.
Os principais mecenas foram a família Medici (de Florença, século 15) e os papas (século
16).
Por fim, deve-se destacar que, em meados do Renascimento, a expansão marítima eu-
ropeia, capitaneada por Portugal e Espanha, traz uma nova onda de modificações no contexto
sócio-cultural-econômico. Por um lado, tal expansão intensificou o crescimento comercial eu-
ropeu e, consequentemente, a expansão da cultura renascentista. Por outro lado, essa inten-
sificação se deu para além do mediterrâneo, deslocando, mais ao fim do século 16, o poderio
comercial da península itálica.
Durante os anos de 1337 e 1453, ocorreu uma série de conflitos entre França e Ingla-
terra denominados de “Guerra dos Cem Anos”. As consequências políticas de tal conflito são
profundamente influentes no trânsito entre músicos ocorrido a partir do século 14 na Europa.
A música produzida na primeira metade do século 15 é o que se pode chamar, de fato, de tran-
sição entre Idade Média e Renascimento, pois possui ora características estilísticas medievais,
ora renascentistas.
Na França, um dos principais centros culturais da Europa, o ducado da Borgonha, que
era um feudo, tornou-se uma importante força.
É importante observar que os compositores desse período, embora se vinculem com
frequência à produção sacra, eram empregados dos reis e nobres em suas capelas reais (pe-
quenas igrejas ligadas aos nobres e aos seus palácios e que dispunham do serviço religioso
particular aos membros da nobreza) e não das catedrais mais diretamente ligadas ao papado.
O ducado de Borgonha tinha um grande aparato artístico, o que influenciou a arte deste
período. Os músicos das capelas circulavam pelos demais ducados e cortes por causa das fes-
tividades, o que possibilitou grande troca de estilos musicais. Essa troca de estilos aconteceu,
principalmente, entre Inglaterra, França e Itália.
peça polifônica composta para texto latino, desde que não fosse parte do ordinário da missa
(GROUT; PALISCA, 2009, p. 169).
Pode-se destacar como características de sua música:
• textura homorrítimica (mesmo ritmo) entre as vozes;
• utilização de paralelismo de terceiras e sextas;
• uso de isorritmia.
No link a seguir, você poderá ouvir o motete Quam Pulchra Es, de John Dunstable. No vídeo, há uma partitura
que acompanha a gravação. Repare na sonoridade suave de sua composição, o que reflete o estilo de escrita já
mencionado:
• JOHN DUNSTABLE. Quam Pulchra Es. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qQjdEbZH2wI>.
Acesso em: 29 maio 2015.
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Dunstable também utilizava os modos maior e menor em suas composições, estilo que
irá influenciar os músicos da Borgonha, como Dufay e Binchois.
Música Francesa
A música francesa desse momento sofreu influências italianas e inglesas. Como você viu,
a ars nova chega à Itália no final do século, e os compositores italianos passam a utilizar as
formas fixas francesas em suas composições. O contrário também ocorre. Compositores fran-
ceses como Dufay, influenciados pela caccia italiana, utilizam pequenos pontos de imitação
em seus motetes. Outra característica italiana absorvida na música francesa é a utilização de
partes instrumentais. Nesse momento, os tenores passam a ser compostos.
Como exemplo do estilo francês desenvolvido nesse período, destaca-se a música reali-
zada no ducado de Borgonha (França).
Guillaume Dufay
Nasceu na França, mas trabalhou em diversos locais da Europa, inclusive na Itália. Com-
pôs, em abundância, tanto música sacra (incluindo missas, motetes, e músicas para o próprio
tempo da missa) quanto profana (incluindo ballades, virelais, rondeaux e alguns exemplares
das canções em italiano). A maioria de seu repertório secular foi escrito enquanto trabalhava
em uma corte na Itália.
Dufay utilizou a técnica do fauxbourdon em suas composições. Veja o exemplo de um
trecho de Ave Maris Stella, peça na qual a técnica é empregada com algumas variações que
evitam monotonia:
A seguir, você poderá ouvir o motete Ave Maris Stella, de Guillaume Dufay. Inicialmente, a gravação apresenta um
cantochão que é seguido da composição de Dufay. O momento da entrada do coro, após o cantochão, correspon-
de ao trecho apresentado na Figura 3. Observe a sonoridade da textura do fauxbourdon:
• DUFAY, G. Ave Maris Stella. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=O-25R_SaDao>. Acesso
em: 29 maio 2015.
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A seguir, você poderá ouvir o motete Nuper Rosarum Flores, de Guillaume Dufay. Repare como ainda aparecem,
neste motete, algumas cadências de Landini. No entanto, a cadência final já possui características renascentistas.
Isso reflete o modo como este compositor está situado na transição entre Baixa Idade Media e Renascimento:
• DUFAY, G. Nuper Rosarum Flores. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=hGW2HL35kqY>.
Acesso em: 29 maio 2015.
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Para suas peças sacras, são notáveis os usos de imitação entre as vozes, chegando, em
certos casos, a formar cânones estritos.
Obras de Dufay–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Gilles Binchois
Gilles Binchois serviu na corte borgonhesa por trinta anos, a partir de 1430. Este é um
dos mais significativos compositores da Borgonha, tendo se destacado por suas chansons.
Compôs também música sacra, mas, nesta esfera, destaca-se pelo uso de um procedimento
chamado de contrafacta, que consistia na utilização de “peças vocais nas quais o texto secular
era trocado por um texto sagrado”, convertendo-as em obra sacra (STOLBA, 1998, p. 143). Foi
responsável por introduzir a chanson dentro da igreja.
A seguir, você poderá ouvir uma gravação da chanson Adieu, adieu, mon joileux souvenir, de Gilles Binchois:
• BINCHOIS, G. Adieu, adieu, mon joileux souvenir. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=qv83yN8wQwY>. Acesso em: 1 jun. 2015.
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Antoine de Busnois
Nas cronologias de estilo de época mais comuns nos livros de história da música, a Re-
nascença musical começa, de fato, ao redor de 1450. Apesar do período anterior apresentar
importantes modificações estilístico-musicais e culturais, muitas das características marcantes
do estilo renascentista só se afirmaram a partir da segunda metade do século 15.
No renascimento, é possível ver a predominância da música coral polifônica, muitas ve-
zes, com utilização de instrumento dobrando ou substituindo uma ou algumas vozes da parti-
tura. Há, também, o aumento significativo da quantidade de vozes das composições.
A abundância da música secular é mantida, mas as formas fixas medievais caem em de-
suso. Os compositores continuam a produzir música sacra, embora ao fazê-la buscassem um
estilo mais conservador, com menos vozes e menos inovações harmônicas.
No renascimento, há dois estilos vigentes, o que chamamos de estilo internacional e os
estilos nacionais.
Os estilos nacionais são os gêneros musicais seculares baseados nas línguas nacionais
(francês, italiano, espanhol, alemão, holandês, inglês etc.).
O estilo internacional, desenvolvido pelos franco-flamengos, tinha como base a polifonia
desenvolvida pelos franceses, mas agregava a imitação do cânon italiano (caccia) e a sonori-
dade do discante inglês (uso de intervalos de 6ª e 3ª como consonância e do fauxbourdon,
também inglês). O desenvolvimento desse estilo formado pela mistura de vários outros estilos
só foi possível pelo trânsito de compositores pelas cortes europeias em grande fluxo interna-
cional. Essas viagens e também a produção musical foram feitas com o financiamento cortesão
(mecenas), burguês ou papal.
Uma das características mais marcantes do renascimento é a utilização do contraponto
imitativo sistemático, como você notará, especialmente, nos compositores franco-flamengos.
Os franco-flamengos foram compositores de Borgonha. Eles eram contratados para o
trabalho musical de diversas cortes em outros estados europeus, e difundiram o já citado esti-
lo internacional e o contraponto imitativo.
Esse contraponto apresenta como caraterísticas os intervalos de terças e sextas como
consonâncias, reservando as quintas e oitavas para as cadencias finais. Neste período há uma
grande variedade cadencial e o desaparecimento de cadências medievais com a de Landini. As
escalas modais ainda são utilizadas, mas a sistematização da música ficta leva à definição das
escalas maior e menor, mais ao fim da Renascença.
Além do contraponto imitativo, uma das maiores conquistas deste período é o abando-
no do cantus firmus (cantochão) como base da composição.
No que diz respeito aos hábitos musicais, um dos fatores mais importantes ocorridos
no campo musical foi o desenvolvimento da impressão musical e da publicação de partituras
após a invenção da imprensa (1455) por Gutemberg e após o desenvolvimento das técnicas
de impressão musical (1498) por Ottaviano dei Petrucci. Esse fato possibilitou que a música
passasse a fazer parte do cotidiano das pessoas em uma prática musical doméstica de leitura
e interpretação de pequenas obras corais.
Neste período, há também a proliferação de escritos científicos musicais ligados à acústi-
ca, à filosofia, à prática musical e à construção de instrumentos. É importante destacar o papel
especial desempenhado pelos tratadistas musicais (tratados entre ciência, filosofia, teoria e
prática) desse período:
• Complexus effectuum musices (1472-1475), de Johannes Tinctoris.
• Le Instituitioni harmoniche (1558), de Gioseffo Zarlino.
• Dialogo della musica antica e della musica moderna (1581), de Vicenzo Galilei (Pai de
Galileu Galilei).
No renascimento, você também verá a revalorização do ethos musical grego sob nova
perspectiva, mais independente da vida religiosa e mais próxima dos afetos e das disposições
morais individualistas.
Os compositores Franco-Flamengos
Como resultado do processo de expansão da influência do ducado da Borgonha, sur-
giu uma linhagem de compositores chamados de franco-flamengos. Tais compositores eram
oriundos de regiões que atualmente se encontram nos territórios do norte e nordeste da Fran-
ça, da Bélgica e da Holanda, e, por isso, são designados por franco-flamengos.
Informação:
“Flamengo” é uma designação para os povos originários de Flandres, um território integrante da
atual Holanda.
Esses compositores tiveram grande prestígio por toda a Europa. Foram cultivadores e
divulgadores de um estilo internacional ligado à música sacra e, também, divulgadores dos
estilos particulares de cada língua e nação, uma vez que atendiam às demandas de diferentes
cortes e carregavam as particularidades de uma corte para outra.
Este estilo internacional, chamado de franco-flamengo, era mais utilizado em obras sa-
cras, tais como motetes e missas. Ele era caracterizado por:
1) predomínio de música coral a capella, mas podendo-se usar instrumentos, em cer-
tos casos, para dobras ou linhas graves;
2) escrita polifônica a quatro, cinco ou mais vozes (era o auge da polifonia em número
de vozes independentes);
3) linhas melódicas mais similares entre as vozes, diferente do grande contraste entre
as características de cada voz na Idade Média: preocupação com a homogeneidade
da textura coral;
4) uso recorrente de contraponto imitativo;
5) privilégio de terças nos contrapontos, o que resultava em uma sonoridade tríadica
no interior das frases, guardando-se as quintas e oitavas para os finais das peças (era
comum o uso do fauxbourdon);
6) sonoridade modal;
7) influência gradativa e crescente da música dos estilos nacionais;
8) elaboração de regras e técnicas de contraponto para evitar elementos medievais,
tais como movimentos paralelos de quintas e oitavas entre as vozes;
9) menor uso de cantus firmus derivado do gregoriano. Mas quando usado, era tratado
de forma mais livre.
Os compositores franco-flamengos são também os grandes responsáveis pela divulgação
das músicas específicas de cada região, uma vez que transitavam entre cortes de toda Europa
para prestarem seus serviços; assim, eles carregavam obras musicais e influências estilísticas
de um lugar para outro.
Compositores como Tinctoris e Agricola faziam parte desta linhagem já no momento de
transição do estilo medieval para o renascentista. Uma vez firmado o estilo renascentista, os
compositores franco-flamengos dividem-se, grosso modo, em duas gerações:
• primeira geração (mais produtiva na segunda metade do século 15 e início do século
16): Johannes Ockeghem (1410-1497), Jacob Obrecht (1450-1505), Josquin des Prez
(1440-1521), Heinrich Isaac (1450-1517), Jean Mouton (1459-1522) e Pierre de la
Rue (1460-1518).
• segunda geração (mais produtiva na segunda metade do século 16): Adrian Willaert
(1490-1562), Nicolas Gombert (1495-1560) e Jacob Clement (1515-1556).
Todos os compositores franco-flamengos compuseram missas completas, movimentos
de missas, motetes e chansos. Com o adentrar do século 16, muitos deles trabalharam em
cortes italianas e, por isso, contam com gêneros italianos em seu catálogo de obras.
De todas as migrações possíveis desses compositores pela Europa, suas estadas em cida-
des e cortes italianas merecem destaque, pois a centralidade da produção musical desloca-se
da região franco-flamenga em direção à Itália, na medida em que o século 15 avança. Isso se
deve ao fato de que as cortes italianas possuíam um grande acúmulo de riqueza, decorrente
do comércio mediterrâneo, e gozavam de status ao contratar serviços desses tão prestigiados
compositores franco-flamengos.
Em meados de século 16, a passagem dos compositores franco-flamengos havia sido
suficiente para que compositores italianos herdassem sua maestria e desenvolvessem uma
escola de compositores nascidos nas regiões da península itálica.
Johannes Ockheghem
Em suas composições amplia a textura utilizada por Dufay e passa a utilizar cinco vozes.
Essas vozes passam a ter o mesmo grau de importância, assim, há o afastamento da prepon-
derância do superius na condução melódica, como era na música francesa. Ockeghem cria
melodias de grande fôlego, evitando as cadências; também utiliza a imitação entre as vozes,
mas esta não é feita de modo sistemático, ou seja, aparece em suas obras ocasionalmente.
Ma Bouche Rit––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação da chanson Ma Bouche Rit, de Ockenghem, demonstrada na Figura 7:
• CLEMENT CONSORT. Ockeghem – Virelai ‘Ma bouche rit’ . Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=JXW2qbCmnm0>. Acesso em: 2 jun. 2015.
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A seguir, você poderá ouvir uma gravação da Missa Prolationum de Ockenghem. Ouça os pontos de imitação
realizados pela prolação.
• JOHANNES OCKEGHEM. Missa Prolationum – Kyrie. Disponível em: <https://youtu.be/ZWLsLAujZzI>.
Acesso em: 2 jun. 2015.
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Jacob Obrecht
Jacob Obrecht trabalhou em cortes na França, Bélgica, Holanda e, em especial, em Fer-
rara (Itália).
Em suas missas ainda utiliza o cantus firmus. Suas chansons são escritas, na grande
maioria, para quatro vozes.
A principal característica de suas composições sacras é o uso da imitação sistemática
entre as vozes.
No exemplo a seguir, o primeiro trecho da missa Pange Lingua, observe o jogo de imi-
tação entre as vozes. O superius (soprano) é uma imitação literal do tenor, enquanto o altus
(contralto) é uma imitação literal do bassus (baixo). Mas repare que as quatro primeiras notas
de cada uma das vozes constituem o mesmo motivo melódico executado, inicialmente, em Mi
e, posteriormente, em Lá. Este é um exemplo eficaz da característica maior do contraponto
franco-flamengo:
A seguir, ouça uma gravação da missa Pange Lingua, de Josquin de Prez, acompanhada de partitura. Repare tanto
nas texturas harmônicas quanto nas imitações:
• DESPREZ, J. Missa Pange Lingua. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3SH3drDXE8M>.
Acesso em: 2 jun. 2015.
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Josquin acrescentou uma voz mais grave do que era comumente utilizado, o bassus, e
buscou estabelecer uma relação entre música e texto. Ele se preocupou em adequar a sua
música aos sentidos das palavras. A esse tipo de música foi dado o nome de música reservata
(GROUT; PALISCA, 2007).
Para salientar as palavras mais importantes do texto musical, eram utilizados cromatis-
mos, ornamentos e contrastes rítmicos e, desse modo, a música servia ao texto.
Em Josquin há um exemplo claro de música reservata no motete Absalon fili mi. No final
da peça, quando o texto diz “mas desça ao inferno chorando”, as vozes fazem um movimento
descendente na melodia e também na harmonia. Josquin desce abaixo de um Mib, movimen-
to incomum neste período (GROUT; PALISCA, 2007).
A seguir, ouça uma gravação do motete Absalon fili mi, de Josquin des Prez.
• DESPREZ, J. Absalon Fili Mi. Disponível em: <https://youtu.be/r8fXhTN-Zpw>. Acesso em: 2 jun. 2015.
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Segunda geração: Adrian Willaert e Jacob Clement
Da segunda geração de franco-flamengos serão destacadas as obras de Clement e Willa-
ert. O que diferencia esta geração da primeira são as características a seguir (GROUT; PALISCA,
2007):
Jacob Clement
Jacob Clement nasceu e trabalhou em territórios da atual Holanda. Sua produção segue,
em linhas gerais, as características estilísticas dos franco-flamengos anteriores. No entanto, foi
sob sua caneta que ficaram conhecidos os primeiros gêneros de música polifônica em língua
holandesa: o souterliedekens e o lofazgen (STOLBA, 1998, p. 166). Foram baseados em textos
preparados e publicados por Willem van Zuylen na Niejvelt (1540) contendo trechos de sal-
mos em holandês. Tais textos, após serem adaptados para melodias de canções populares,
receberam um tratamento polifônico a três vozes, dado por Clement, utilizando um superius
(soprano), tenor e bassus.
Gravação de Egos Flos Campi–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação da chanson Egos Flos Campi, de Jacob Clement. Observe, na partitura,
os comentários a respeito da segunda geração de franco-flamengos.
• CLEMENT, J. Egos Flos Campi. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ev9owpVMPVA>.
Acesso em: 2 jun. 2015.
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Adrian Willaert
Adrian Willaert, também de origem holandesa, trabalhou em Veneza e é considerado o
grande formador da escola veneziana, continuada por alguns de seus discípulos como Cipria-
no de Rore, Nicolas Vicentino, Andrea Gabrieli e Giosefo Zarlino (estes são todos de origem
italiana).
sua música é a relação entre música e texto, utilizando cromatismos para salientar as palavras
importantes.
Dentre os gêneros nacionais italianos, compôs madrigais e villanesches. Algumas de suas
obras seculares em estilo italiano foram publicadas na coletânea Musica Nova (1559), a qual
contém 25 obras em estilo italiano baseadas em sonetos de Petrarca (GROUT; PALISCA, 2007).
Com Willaert, a influência recíproca entre italianos e franco-flamengos chega a seu auge
e marca a passagem para o próximo momento da Renascença, no qual os estilos nacionais
populares preponderarão.
Vídeo complementar –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
França
Chanson
Apesar das origens da chanson remontarem à Idade Média e terem perpassado a gera-
ção dos franco-flamengos, é possível dizer que, no início do século 16, os compositores fran-
ceses passaram a escrever um tipo de chanson mais marcadamente nacional, que possuía
características semelhantes à frótola italiana, pois eram canções ligeiras, bem ritmadas, de
textura predominantemente homofônica com a melodia principal na voz superior (GROUT;
PALISCA, 2007).
Os textos abrangiam uma gama bem ampla de temáticas, desde questões amorosas ou
jocosas, até comentários sérios de caráter moral.
Os principais compositores da chanson foram Claudin de Sermisy (1490-1562) e Clé-
ment Janequin (1485-1560).
Claudin de Sermisy
Claudin de Sermisy evitava os efeitos contrapontísticos e rítmicos complexos em suas
No link a seguir, ouça uma gravação com partitura da chanson Tant Que Vivrai, de Claudin de Sermisy.
• SERMISY, C. Tant Que Vivrai. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CW31yXZIrbM>. Acesso
em: 2 jun. 2015.
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Clément Janequin
Clément Janequin foi compositor de câmara do rei e ordenou-se clérigo. Em sua época
alcançou uma grande notoriedade e suas canções foram transcritas para instrumentos inú-
meras vezes. As características de suas chansons diferem das de Sermisy, especialmente, pela
textura: Janequin mantinha o uso da imitação e tinha uma predileção pela música descritiva.
Ele é um mestre das chansons descritivas, a quatro vozes, chegando, inclusive, a utilizar ono-
matopeias em busca do realismo.
La Guerre––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Uma das composições de Janequin que utiliza os recursos estudados é La Guerre. Ouça esta gravação e perceba
em 2min.40. e 3min.40. as onomatopeias.
• CLÉMENT JANEQUIN. La Guerre. Disponível em: <https://youtu.be/JY2rLfhJLmY>. Acesso em: 2 jun.
2015.
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Figura 17 La Guerre.
Já na segunda metade do século 16, a chanson sofreu forte influência do madrigal italia-
no. O compositor Orlando di Lassus foi o grande pivô desta influência. A mudança estilística
fica por conta de uma maior quantidade de imitação, de alterações de andamento e um maior
adensamento das vozes. Os compositores que seguiram tal mudança são Claude Le jeune
(1528-1600), Guillaume Costeley (1531-1606) e Jacques Mauduit (1557-1627).
A seguir, você poderá ouvir a chanson Susanne Un Jour de Orlando Di Lasso, um exemplar típico da influência do
madrigal na chanson francesa.
• ORLANDO DI LASSO. Susanne un jour. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=wf1ulwBMkAk>.
Acesso em: 3 jun. 2015.
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Itália
Na primeira metade do século 15, a Itália passa por um período de pouca inspiração mu-
sical. Você viu que, nesse período, o estilo composicional dos franco-flamengos é que ganha
maior destaque. No entanto, no fim do século 15, na Itália, florescem as músicas nacionais,
que passam a influenciar outras regiões europeias.
Entre os gêneros nacionais italianos estão a frottola, o madrigal, laudes e sacra
rappresentazione e os canti carnascialeschi. Nesta obra, você estudará a frottola e o madrigal.
Frotolla
Floresceu entre o final do século 15 e início do século 16, composta em estilo silábico e
a quatro vozes, com estrutura rítmica bem marcada, harmonia diatônica simples, estilo homo-
fônico (homorrítmico) e com a melodia na voz principal (GROUT; PALISCA, 2007). Suas letras
eram de temática amorosa ou satírica.
As frotollas eram habitualmente executadas com um cantor na voz superior e as outras
vozes podendo ser tocadas por instrumentos ou cantadas.
Em meados do século 16, já se conheciam diversos arranjos de frotollas para ser canta-
dos por uma só voz e acompanhados, apenas, por um alaúde tocando uma redução das outras
vozes. Tal forma foi muito influente para o madrigal, também italiano, e para a chanson fran-
cesa. É importante destacar as frótolas, compostas por Marco Cara (1470-1525).
A seguir, você poderá ouvir uma gravação da frotolla Io Nom Compro Piu esperanza, de Marco Cara.
• CARA, M. Io non compro più speranza. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Sf_8cEeIcIo>.
Acesso em: 3 jun. 2015.
Veja, também, uma gravação da frotolla El Grillo, de Josquin des Prez.
• DES PREZ, J. El Grillo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=OI-bQ0RkArA&list=RDMs6Hc
n9POxo&index=4>. Acesso em: 3 jun. 2015.
A primeira gravação é de uma obra de um importante compositor italiano, e a segunda, de um franco-flamengo,
demonstrando o modo como os compositores do norte absorveram os estilos nacionais:
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Madrigal
O madrigal é o gênero nacional mais influente e praticado do renascimento italiano; da
segunda metade do século 15 ao início do século 16, é possível dizer que é o gênero musical
mais representativo do renascimento. Ele transcendeu os domínios da península itálica, che-
gando até a Inglaterra e influenciando os principais compositores deste período.
O madrigal era um gênero existente desde o século 14, mas sofreu profundas mudanças
no século 15, momento em que se originou a frótola. A frótola apresentava textos de baixa
qualidade, o que levou a uma exigência de melhor qualidade dos textos no madrigal, uma vez
que ela levou a uma decadência literária. Desse modo, o madrigal está estritamente ligado aos
gêneros literários do Renascimento.
O madrigal desenvolveu-se a partir de um círculo de admiradores da poesia, em espe-
cial, a de Petrarca. Tais admiradores valorizavam a riqueza sonora dessas poesias.
As principais fontes poéticas dos madrigais eram Francesco Petrarca (1303-1374), Pie-
tro Bembo (1470-1547), Jacopo Sannazaro (1457-1530), entre outros importantes poetas do
período.
As características marcantes do madrigal são (GROUT; PALISCA, 2007):
1) Valorização da musicalidade da palavra e do texto para a composição.
2) Utilização de textos de qualidade.
3) Música reservata: uso de cromatismos ou motivos melódicos que destacavam a
ideia poética musicalmente, como se a música representasse o texto.
4) Liberdade formal: não possuía repetição de partes, uma vez que cada trecho do tex-
to exigia uma música específica que o representasse. Desse modo, a forma depende
mais do significado do poema do que de uma estrutura musical fixa.
5) Independência das vozes: não há voz preponderante.
6) Escrita polifônica imitativa sem a utilização de cantus firmus.
7) Alternava texturas contrapontísticas (às vezes, até mesmo, imitativas) e texturas ho-
morrítimicas, com imbricamento entre as partes e, correspondentemente, entre os
versos da letra.
8) Até 1550, era composto predominantemente a quatro vozes; a partir de 1550, a nor-
ma passou a ser cinco vozes, com a existência de peças a dez vozes.
O madrigal passou por fases evolutivas. Inicialmente, era semelhante à chanson, mas,
com o tempo, deixou de ser uma forma estrófica e tornou-se uma forma livre.
Outra mudança que ocorreu com o tempo foi a utilização da imitação, que ocorre graças
à influência dos compositores franco-flamengos. No entanto, uma característica muito mar-
cante e que se mantém no decorrer do madrigal renascentista é a relação entre música e
texto, ou seja, a música deveria representar o texto. Desse modo, sempre que havia um novo
texto, havia, também, uma nova música, pois ela deveria servir à representação desse texto.
É possível medir e diferenciar a evolução da escrita dos madrigais pelo modo com que
os compositores utilizaram efeitos do cromatismo. Sua história é dividida em três momentos:
madrigal da fase inicial (early madrigal), madrigal clássico (classical madrigal) e madrigal tar-
dio (late madrigal), segundo Stolba (1998, p. 176-179).
A seguir, você poderá ouvir uma gravação do madrigal O Dolce Nocte, de Philippe Verdelot. Observe as caracte-
rísticas deste madrigal para comprará-lo aos que serão estudados posteriormente:
• VERDELOT, P, J. O Dolce Nocte. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WZrmbRmRPSI>.
Acesso em: 08 jun. 2015.
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Rore foi aluno de Willaert e em seus madrigais é possível observar maior dramaticidade
causada pelas mudanças de atmosferas durante as músicas e mudanças de texto. Pode-se
notar, também, um uso revolucionário de melodias cromáticas, o que ficou conhecido como
madrigal cromático.
A seguir, você poderá ouvir uma gravação com partitura do madrigal Calami Sonum Ferentes, de Cipriano de Rore.
Observe as imitações existentes neste madrigal, bem como as melodias cromáticas. De Rore foi aluno de Willaert
e herdou os procedimentos de imitação franco-flamengos.
• RORE, C. Calami sonum ferentes. Disponível em: <https://youtu.be/5qHYw1qd6r8>. Acesso em: 08 jun.
2015.
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Ouça Lagrime di San Pietro, uma obra a sete vozes de Orlando di Lasso.
• ORLANDO DI LASSO. Lagrime di San Pietro: I. Il magnanimo Pietro. Disponível em: <https://youtu.
be/8URQ0ZElT0Q>. Acesso em: 08 jun. 2015.
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A seguir, veja o exemplo do madrigal Solo e pensoso, cuja letra é um poema de Petrarca.
O primeiro verso diz:
“Só e pensativo, os mais desertos campos
Vou a passo tardo e lento.”
Para representar o texto, o soprano faz uma lenta subida cromática sem interrupção.
Observe o soprano na partitura:
Neste madrigal, é possível ver claramente a busca da representação do texto pela música.
Destaca-se como a principal característica dos seus madrigais o seu estilo altamente
cromático que, nesse período, era conhecido pelo nome de “colorismo”. Outras características
do seu madrigal é o uso de frases melódicas curtas, textura homofônica com seções imitativas
curtas, modulações súbitas e mudanças abruptas de tempo e modo.
Gravação de Moro, Lasso, al mio duolo–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação com partitura do madrigal Moro, Lasso, Al Mio Duo, de Carlo Gesualdo.
Observe o cromatismo e a textura harmônica peculiar deste madrigal, bem como a utilização dos recursos de imi-
tação ou de homorritmia como expressão do texto. Observe, especialmente, o uso de dissonâncias para a palavra
e cromatismos para o verso “Ahi, mi dà morte”, ao final da obra:
• GESUALDO, Carlo. Sesto Libro di Madrigali: XVII. Moro, Lasso, Al Mio Duolontes. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=6dVPu71D8VI>. Acesso em: 10 jun. 2015.
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Entre 1587 e 1638, publicou oito coleções de madrigais. As características de seus ma-
drigais é a utilização de cinco ou mais vozes, uso do cromatismo e representação da palavra,
assim como os madrigais dos seus contemporâneos. Seus livros de madrigais são um marco
do madrigal polifônico, pois demostram um perfeito domínio da técnica nesse estilo no final
do século 16.
Gravação de Lagrime d’Amante al Sepolcro dell’Amatta–––––––––––––––––––––––––––
Ao observar o vasto acervo histórico, é possível ter a impressão de que a prática instru-
mental cresceu a partir de, aproximadamente, 1450. No entanto, Grout e Palisca (2007) suge-
rem que esse é um grande engano. Na verdade, a prática instrumental sempre existiu durante
a Idade Média, mas, no Renascimento, com a mudança de ênfase da cultura musical sacra para
a secular, houve uma maior documentação da música instrumental. Deve-se destacar que,
embora comecem a surgir alguns gêneros instrumentais, neste período ainda era frequente
o fato de uma composição ser executada por um grupo vocal ou por um grupo instrumental.
No Renascimento, surgiram os tratados sobre construção de instrumentos, suas varieda-
des de famílias e suas maneiras de serem tocados, e estes eram, de forma inovadora, escritos
nas línguas regionais.
O tratadista e compositor de Michael Praetorius (1571-1621) publicou, em 1618, o tra-
tado Syntagma Musicum (tratado de música), no qual veiculava gravuras de instrumentos mu-
sicais usados no século 16. Os tratados de Virdung e de Praetorius são duas das principais
fontes que permitem, atualmente, saber sobre a disponibilidade e uso dos instrumentos na
Renascença.
É importante destacar o uso de instrumentos por famílias, de modo a se conferir grande
homogeneidade timbrística às formações instrumentais, à semelhança do modelo vocal. Por
exemplo, uma flauta corresponde à voz tenor, que seria a flauta tenor, outra corresponde ao
baixo, que seria a flauta baixo, e assim por diante.
Alguns instrumentos estudados no período da Idade Média, como as flautas doces, as
charamelas e os alaúdes, ainda eram utilizados no Renascimento. E ganham destaque, tam-
bém, os cromornes (sopro), sacabuxas ou sackbuts (sopro), violas (cordas) da gamba (de per-
na) e da braccio (de braço), clavicórdio (teclas) e cravo (teclas).
Conheça os instrumentos renascentistas–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Neste momento, é importante que você assista ao vídeo, disponível no link a seguir, para conhecer as imagens e
os sons dos instrumentos renascentistas.
• KLARNET, I. Como soam os instrumentos renascentistas. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=k56fziINlE8>. Acesso em: 10 jun. 2015.
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A seguir, você poderá ouvir uma gravação do Ricercar del duodecimo tuono de Andrea Gabrielli. Repare nas imi-
tações presentes nesta música:
• GABRIELLI, A. Ricercar del duodecimo tuono. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Cihvujvb_
pQ>. Acesso em: 10 jun. 2015.
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A seguir, você poderá ouvir um conjunto de fantasias, escritas para o instrumento vihuela por Luís Milan:
• MILAN, L. Fantasia I a La VI. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bN_WYs-85KQ>. Acesso
em: 10 jun. 2015.
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Suas teses não foram aceitas pelo papado, o que culminou na separação entre os re-
formistas e a Igreja Católica. A reforma irradiou-se a partir de Wittenberg (atual Alemanha)
e afetou territórios germânicos, franceses, ingleses, escandinavos e algumas regiões do leste
europeu.
Reforma Protestante–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para compreender melhor sobre a Reforma Protestante, assista ao vídeo indicado a seguir:
• FILME LUTERO. Disponível em: <https://youtu.be/xbPF-y4_I5M>. Acesso em: 10 jun. 2015.
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A reforma protestante teve início no decorrer do século 16. Como contrapartida, o cato-
licismo lançou o movimento de Contrarreforma, no qual rebateu as teses luteranas e lançou
medidas de controle dos fiéis em seus domínios.
Na França, a tradução dos salmos católicos ficou por conta do reformador João Calvino,
criador da linhagem conhecida como calvinista. Em 1542, ele publicou uma antologia de sal-
mos, em francês, que se tornou o núcleo da música calvinista. Assim como os corais luteranos,
os salmos calvinistas eram, inicialmente, cantados em uníssono.
O primeiro livro de salmos calvinistas com composições polifônicas foi publicado por
Pierre Certon em 1546. Os mesmos salmos, uma vez traduzidos para o holandês, foram base
para composições polifônicas de Clement e de Jean Swelinck (1562-1621).
Na Inglaterra, a reforma assumiu o formato que ficou conhecido como Igreja Anglicana.
O anglicanismo surgiu, oficialmente, com a separação da Igreja Católica posta em marcha pelo
Rei Henrique VIII, em 1534. Também realizou a tradução dos textos bíblicos para o Inglês, além
de abolir os monastérios e de subordinar o poder religioso ao estado.
Os compositores ingleses da geração de John Taverner (1490-1545) e Tomas Tallis (1505-
1585) posicionam-se na passagem da liturgia católica para a anglicana. Por motivos políticos,
tal passagem não se deu de forma direta e objetiva, havendo certa alternância entre angli-
Contrarreforma
A contrarreforma católica teve início a partir do Concílio de Trento (entre 1542 e 1565),
conclamado pelo Papa Paulo III, após tentativas mal-sucedidas de reconciliação com os protes-
tantes. No que diz respeito à música sacra deste período, Grout e Palisca afirmam que:
As principais queixas que se fizeram ouvir no Concílio de Trento diziam respeito a seu espírito fre-
quentemente profano, evidenciado nas missas baseadas em cantus firmus profanos ou na imitação
de chansons, e à complexa polifonia que impossibilitava a compreensão das palavras da liturgia.
Além disso, houve quem criticasse o uso excessivo de instrumentos ruidosos na igreja e a pronún-
cia incorreta dos cantores (GROUT; PALISCA, 2007, p. 284).
Diante de tais argumentos, ficava claro que a reforma protestante só coroava um proces-
so de declínio da igreja medieval que viu seu rito se permear de práticas polifônicas das mais
diferentes variedades, fazendo com que suas escrituras sagradas fossem menos perceptíveis
aos ouvintes, distanciando-se dos objetivos iniciais da música sacra católica.
Apesar das reclamações expostas, o Concílio de Trento não aboliu a polifonia da Igreja
Católica. Pelo contrário, suas recomendações quanto à música não foram, ao final, muito ob-
jetivas. Elas pregavam o bom senso e comedimento na realização musical católica. No entanto,
a liturgia católica sofreu importantes modificações, formando-se o que ficou conhecido como
rito tridentino (nome derivado da palavra trento). Este rito tornou-se a base de toda a música
sacra católica após a contrarreforma.
A igreja católica valeu-se da música e da arquitetura de suas igrejas na tentativa de recu-
perar seus fiéis. Música e arquitetura deveriam remeter ao celestial. Na música, Palestrina foi
um importante compositor que teve o papel de reformular alguns cantos católicos.
Giovanni Perluigi da Palestrina (1525-1594) foi o compositor mais significativo do con-
texto. Nasceu na Palestrina, uma pequena cidade perto de Roma e trabalhou em algumas
capelas entre Roma e Palestrina. Em 1955, tornou-se o mestre da Capela Sistina, sede do Pa-
pado. Embora tivesse um grande envolvimento religioso com a igreja católica, Palestrina teve
vida secular, foi casado e teve filhos.
Figura 29 Palestrina.
Palestrina não teve, de fato, uma participação ativa no Concílio (STOLBA, 1998; GROUT,
PALISCA, 2007), mas seu estilo composicional foi, posteriormente, tomado como um modelo
para a continuidade da polifonia católica. Isso se deve ao fato de que a escrita de Palestri-
na conserva o requinte e o detalhe da polifonia franco-flamenga, a consciência das sonori-
dades harmônicas provenientes dos madrigais venezianos, sem usos de cromatismo, e uma
maior clareza de compreensão dos textos em relação aos seus antecessores (STOLBA, 1998,
p. 203-204).
Nos séculos posteriores, foi tomado como modelo, também, para o ensino do contra-
ponto. Diversos mestres do contraponto analisaram sua obra e deduziram regras de escrita e
combinação de melodias a fim de melhor instruir seus alunos. Desses, é possível citar o Gradus
Ad Parnassum (1725) de Johann J. Fux. Tal fenômeno é repetido até a atualidade no ensino
universitário e conservatorial dessa técnica.
Mais ao final de sua vida, Palestrina foi o responsável pela revisão dos livros do graduale
romano, a fim de fazer as adaptações necessárias no rito tridentino.
Além de sua obra sacra, sem dúvida, de maior importância, ele também compôs música
secular, especialmente, madrigais. Suas peças sacras possuem um grande número de missas
e motetes. Muitas vezes utilizava cantus firmus, mas noutras compunha livremente. Compôs
também peças sacras menores, como hinos, ofertórios, magnificats e litanias.
A seguir, veja a Missa Papae Marcelli, de Palestrina. Nos primeiro link, você poderá ouvir o Kyrie e, no segundo, o
Gloria. Ambos contêm a partitura no vídeo. Ouça as gravações e observe os conteúdos estudados:
• PALESTRINA, G. P. Kyrie Missa Palestrina. Disponível em: <https://youtu.be/NS44tTf3BSQ>. Acesso em:
10 jun. 2015.
• PALESTRINA, G. P. Missa Papae Marcelli - Palestrina. Disponível em: <https://youtu.be/5k3bfqQ1SpU>.
Acesso em: 10 jun. 2015.
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Outros importantes compositores de música sacra do final do século 16 são Tomás Luís
de Vitoria (1548 – 1611) e Orlando di Lasso (1532-1594). Victoria foi contemporâneo de Pa-
lestrina em Roma e compôs apenas música sacra.
Já Lasso possui um vasto leque de gêneros e estilos que vão da música secular à música
sacra com igualdade de importância. Trabalhou em diversas cortes por toda a Europa e pode
ser considerado o compositor mais versátil do século 16.
3.1. RENASCENÇA
Cromornes
• CRUMHORN TRIO. Susato: Die Ver Branlen. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=6Pthv29TgRE>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Flautas Doces
• AS FLAUTAS RENASCENTISTAS DE SÃO PAULO. Apresentação no IA UNESP. Disponí-
vel em: <https://www.youtube.com/watch?v=K_tWTRdAMO0>. Acesso em: 11 jun.
2015.
• ZABU TRIFÁSICO. Bergerette “Don Vient”. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=RILbXgFPkxY>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Alaúde
• BURMESTER, R. Instrumento com estilo: alaúde renascentista. Disponível em: <ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=kCbHDT0qGTA>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Sacabuchas
• LES SACABOUTIERS DE TOULOUSE. Falconiero: Passacaglia. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=PxOEvNHkyqM>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Charamela (Shawm)
• LODICO, J. Shawm. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=egifq8lEEu0>. Acesso em: 11 jun. 2015.
• SHAWM CONSORT. 04 Shawm. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=PMJ_jt209jg>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Você viu, ao final desta unidade, o impacto que os movimentos da Reforma Protestante
e da Contrarreforma Católica exerceram na produção musical sacra do período. No caso da
reforma luterana e calvinista, a passagem se deu de forma tensa, mas em uma direção única.
A seguir, você tem referências de textos, vídeos e documentários a respeito da música e dos
compositores deste período.
• BBC. Sacred Music with Simon Russel, 2: Palestrina and the Popes. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=IFbb-1hHkmI&list=PLtnzwFUT1dF09uI5dFsKN
moIMxzT0bAdP&index=2>. Acesso em: 11 jun. 2015.
• BBC. Sacred Music with Simon Russel, 3: Tallis, Byrd and
the Tudors. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=hBPk38sSUUI&list=PLtnzwFUT1dF09uI5dFsKNmoIMxzT0bAdP&index=3>.
Acesso em: 11 jun. 2015.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desem-
penho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os
conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Como se pode definir um fauxbourdon?
a) Composição realizada a partir de um cantus firmus, sempre com uma nota na voz superior para cada nota
da voz inferior (cantus firmus), privilegiando-se sonoridades de quintas e quartas entre as vozes.
b) Uma composição escrita a duas vozes que evoluía, predominantemente, em sextas paralelas com uma
terceira voz acrescentada na execução, movendo-se, invariavelmente, uma quarta abaixo do soprano.
c) Era uma forma de canção, inicialmente, composta para dança, com uma frase de refrão e outra frase (ou
conjuntos de frase) como estrofe para as quais a letra se modificava.
d) Composição em estilo silábico e a quatro vozes, com estrutura rítmica bem marcada, harmonias diatônicas
simples, estilo homofônico (homorrítmico) e com a melodia na voz principal.
2) Quais os nomes dos registros vocais apresentados por Antoine Busnois, no século 15, que deram origem ao
atual nome das vozes:
a) Tenor, duplum, quadruplum, triplum.
b) Tenor, baixo, contralto, soprano.
c) Contratenor bassus, tenor, contratenor altus, superius.
d) Bassus, tenere, vox principais, vox organalis.
e) Contrabaixo, contratenor, contralto, contrasoprano.
3) Quais das afirmações, a seguir, não correspondem com as características do estilo musical renascentista?
a) Predominância da música coral polifônica, mas com utilização de instrumento dobrando ou substituindo
uma ou algumas vozes da partitura.
b) Limite rígido da quantidade de vozes de uma partitura (no máximo quatro vozes).
c) Coexistência de repertório sacro e secular, mas com aumento significativo da quantidade e da variedade
de repertório secular.
d) Utilização sistemática das formas fixas medievais da música secular.
e) Uso comum de contraponto imitativo, melismas para repertório sacro ou secular, de caráter sério e predo-
mínio de contraponto homorrítmico e melodias silábicas para o repertório secular popular.
f) Proliferação de gêneros musicais seculares baseados nas línguas nacionais (francês, italiano, espanhol,
alemão, holandês, inglês etc.), paralela a um estilo internacional para o repertório sacro desenvolvido
pelos franco-flamengos.
g) Contraponto baseado nos intervalos de terças e sextas como consonâncias, reservando as quintas e oita-
vas para finais cadencias; uso restrito de dissonâncias entre as vozes respeitando um tratamento fino de
preparação e resolução.
h) Uso sistemático e obrigatório da cadência de Landini.
i) Uso tardio das escalas modais, no entanto, com as estruturas dos acordes de tríades (maiores e menores)
subjazendo sem uma teorização harmônica.
j) Utilização sistemática da musica ficta que colaborou, mais ao fim da Renascença, para a tendência em
utilizar apenas duas das escalas modais que viriam a se configurar como escala maior e escala menor.
4) Qual das alternativas, a seguir, lista apenas nomes de danças que eram praticadas como música instrumental
no Renascimento?
a) Caccia, allemanda, gaillard, pavane.
b) Minueto, carol, passamezzo, ballet.
c) Ballade, caccia, carol, Reel.
d) Ballet, pavane, gaillarde, allemande.
e) Ballade, tocata, fantasia, courante.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) b.
2) c.
3) b, d e h.
4) d.
5. CONSIDERAÇÕES
Então, o que achou da música renascentista? Você pôde, certamente, perceber os efei-
tos da secularização, da cultura escrita musical e os efeitos das mudanças de poderio político
e econômico dos estados na sonoridade que há na música renascentista, não?
A eclosão de uma música instrumental e de uma textura harmônica, que vão, gradativa-
mente, se tornando melodias com acompanhamento, trouxe importantes avanços da música
renascentista em direção à prática musical moderna cotidiana. Esses assuntos foram trabalha-
dos nesta unidade.
Na Unidade 4, atente-se para o modo como as mudanças do final da Renascença influen-
ciaram na caracterização da música barroca e ajudaram a concretizar uma das mudanças mais
significativas da música ocidental: o advento da noção de tonalidade em harmonia.
6. E-REFERÊNCIAS
FERNANDES, A. J.; KAYAMA, A. G. A sonoridade vocal e a prática coral na Renascença: subsídios para a performance da música
renascentista. Revista Claves, João Pessoa, 2008 nº 5, maio de 2008. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.
php/claves/article/view/2874>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Sites pesquisados
BINDER, F. Histórias da Música – Estudo Dirigido. Disponível em: <http://fernandobinder.wordpress.com>. Acesso em: 11 jun.
2015.
CASTAGNA, P. A. Homepage. Disponível em:<http://paulocastagna.com>. Acesso em: 11 jun. 2015.
CHORAL PUBLIC DOMAIN LIBRARY. Homepage. Disponível em: <http://www1.cpdl.org/wiki/index.php/Main_Page>. Acesso
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IMLSP PETRUCCI MUSIC LIBRARY. Homepage. Disponível em: <http://imslp.org>. Acesso em: 11 jun. 2015.
Lista de figuras
Figura 2 Motete: Quam Pulchra Es de John Dunstable. Disponível em: <http://www.uma.es/victoria/varios.html#dieciseis>.
Acesso em: 29 maio. 2015.
Figura 3 Fauxbourdon em Ave Maris Stella de Dufay. Disponível em: <http://www3.cpdl.org/wiki/images/4/43/Dufay-AveM.
pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 4 Fragmento do motete Nuper Rosarum Flores. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/images/7/72/Dufay_
Nuper_rosarum_flores_PML.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 5 Imitações literais em Ave Regina Coelorum de Dufay. Disponível em: <http://www3.cpdl.org/wiki/index.php/Ave_
Regina_coelorum_a_4_(Guillaume_Dufay)>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 6 Johannes Ockheghem. Disponível em: <http://www.musicaantigua.com/johannes-ockeghem-uno-de-los-mas-
influyentes-y-respetados-musicos-de-su-epoca/>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 7 Chanson “Ma Bouche Rit de Ockeghem”. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/images/6/6a/Ma_bouche_rit.
pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 8 Missa Prolationum. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a1/Ockeghem_
Prolationum_Kyrie_full.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 9 Jacob Obrecht. Disponível em: <http://www.biografiasyvidas.com/biografia/o/obrecht.htm>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 10 Imitação em Jacob Obrecht. Disponível em: <http://s.ytimg.com/vi/vGIA8TVz-9w/0.jpg>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 11 Josquin des Prez. Disponível em: <http://www.nndb.com/people/611/000093332/>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 12 Kyrie da Missa Pange Lingua, de Josquin des Prez. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/images/d/d2/
Josquin_Des_Prez_Missa_Pange_lingua.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 14 Adrian Willaert. Disponível em: <http://www.classical.net/music/comp.lst/acc/willaert.php>. Acesso em: 2 jun.
2015.
Figura 15 Motete O Salutaris Hostia a seis vozes, de Willaert. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/images/0/09/
Willaert-O_Salutaris_Hostia.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 16 Tant Que Vivrai. Disponível em: <http://www1.cpdl.org/wiki/images/8/89/042.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Figura 17 La Guerre. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=JY2rLfhJLmY>. Acesso em: 3 jun. 2015.
Figura 18 Chanson: Margot Labourez Les Vignes, de Roland d’Lassus. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/
images/9/94/487.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2015.
Figura 19 Frotolla Signora, Un Che V’Adora, de Marco (ou Marchetto) Cara. Disponível <http://www2.cpdl.org/wiki/
images/9/90/169.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2015.
Figura 20 O Dolce Nocte. Disponível em: <http://www3.cpdl.org/wiki/images/8/81/O_dolce_nocte.pdf>. Acesso em: 08 jun.
2015.
Figura 22 Madrigal da fase clássica: Calami Sonum Ferentes, de Cipriano de Rore. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/
wiki/images/8/8b/Rore_Calami.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2015.
Figura 23 Luca Marenzio. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fb/Luca_conte_Marenzio,_
Komponist_des_16._Jahrhunderts.jpg>. Acesso em: 08 jun. 2015.
Figura 24 Solo e pensoso. Disponível em: <http://www2.cpdl.org/wiki/images/e/e8/Marenzio%2C_Solo_e_pensoso.pdf>.
Acesso em: 08 jun. 2015.
Figura 25 Carlo Gesualdo. Disponível em: <http://www.cinquerighe.it/2013/09/07/ist_gesualdo_8_sett_400_anni_dalla_
morte_del_principe_genio_della_musica/Ist_Gesualdo_Gesualdo_copia.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2015.
Figura 26 Claudio Monteverdi. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/02/Bernardo_Strozzi_-_
Claudio_Monteverdi_(c.1630).jpg>. Acesso em: 10 jun. 2015.
Figura 27 Lutero. Disponível em: <http://drw6y4cub0f0o.cloudfront.net/sites/4/2014/10/lutero.jpg>. Acesso em: 10 jun.
2015.
Figura 28 Choral polifônico protestante Vom Himmel Hoch Da Komm Ich her, de Hans Leo hassler. Disponível em: <http://
www2.cpdl.org/wiki/images/sheet/hassler/hass-vom.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
Figura 29 Palestrina. Disponível em: <http://www.8notes.com/images/artists/palestrina.jpg>. Acesso em: 10 jun. 2015.
Figura 30 Missa Papae Marcelli, de Palestrina, em edição com claves antigas utilizadas para cada voz. Disponível em: <http://
www2.cpdl.org/wiki/images/2/27/Pal-papdwn5.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
BENNETT, R. uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende Costa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
BROWN, H. M. Music in the Renaissance. Nova Jersey: Prentice-Hall, 1976.
FUBINI, E. Estética da música. Lisboa: Edições 70, 2008.
GROUT, D. ; PALISCA, C. V. História da música ocidental. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007.
LANG, P. H. Music in western civilization. Nova Iorque: W. W. Norton & Company, 1997.
LOYN, H.R. Dicionário da idade média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
SEVCENKO, N. O Renascimento: os humanistas, uma nova visão de mundo: a criação das línguas nacionais: a cultura
renascentista na Itália. São Paulo: Atual, 1985.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contextos, 2009.
STOLBA, K. M. The Development Of Western Music: a history. Nova Iorque: MacCgraw-Hill Companies, 1998.
______. The development of western music: an anthology. Nova Iorque: Wm C. Brown Publishers, 1991. vol.1
TARUSKIN, R.; WEISS, P. Music in the world: a historical in documents. Boston: Thomson Learning, 1984.
TOMAS, L. Música e filosofia: estética musical. São Paulo: Irmãos Vitale, 2005.
Objetivos
• Formular uma visão panorâmica sobre a música no período Barroco e Colonial brasi-
leiro com uma consciência da cronologia desse período.
• Identificar fatos e acontecimentos marcantes na história do pensamento e da prática
musical do Barroco.
• Reconhecer algumas estruturas musicais históricas e as respectivas personagens his-
tóricas a ela identificadas.
• Reconhecer a variedade de tipos formais musicais de acordo com a época e o local no
qual eram praticados.
Conteúdos
• O Barroco: aspectos culturais e musicais.
• O início do Barroco na Itália: monodia com acompanhamento.
• Prima prattica e seconda prattica.
• Tonalismo.
• A Ópera Barroca.
• Música sacra: cantata, oratório e paixão.
• Doutrina dos afetos e retórica musical.
• Música instrumental barroca: suíte, concerto e sonata.
• Música colonial brasileira.
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UNIDADE 4 – O PERÍODO BARROCO EUROPEU E A MÚSICA COLONIAL BRASILEIRA
1. INTRODUÇÃO
Caro aluno, você iniciará a quarta e última unidade de estudo. Neste momento, serão
abordados o período conhecido como Barroco, bem como a música colonial brasileira.
No Barroco europeu, ocorrerá a separação entre um estilo antigo polifônico desenvol-
vido no Renascimento e o novo estilo, a melodia com acompanhamento que será a primeira
forma musical barroca. Este período terá, em seu início, duas práticas musicais distintas.
Você sabia que a ópera nasceu neste período? A ópera foi um dos gêneros mais signi-
ficativos do Barroco. Você estudará como a prática da monodia acompanhada levou ao nas-
cimento da ópera, que influenciou a música sacra do período, representada pelas cantatas e
oratórios sacros.
Outro importante ganho do Barroco foi o estabelecimento do sistema tonal, sobre o qual
toda a música ocidental se alicerçou durante séculos.
É também no período barroco que há o desenvolvimento da música instrumental por
meio de uma escrita específica para instrumentos e do desenvolvimento de diversos gêneros
de música exclusiva para instrumentos.
Por fim, você conhecerá um pouco da música desenvolvida na colônia portuguesa, no
Brasil, no período colonial, averiguando a existência de estilos anacrônicos medievais, renas-
centistas e da presença de uma parcela de produção barroca e clássica.
Não deixe de escutar cuidadosamente todos os exemplos musicais sugeridos. Por meio
dessa escuta, a teoria e a descrição estilística aqui estudada ganharão vida e sentido.
Bom estudo!
sul, especialmente, em Portugal e Espanha. Apesar de a igreja ganhar novo vigor, o desenvolvi-
mento dos potenciais científicos e racionalistas conquistados no Renascimento ganhou força.
A música sofreu influência do racionalismo e isso refletiu na utilização de simbolismos
numéricos, no estabelecimento de relação hierárquica entre os acordes (sistema tonal), siste-
matização de novas formas musicais e na formação de uma nova concepção do contraponto
que geraria a afinação temperada.
A estrutura social também permanece dividida, uma vez que o comércio se expande por
meio das navegações. Isso impulsiona o crescimento da burguesia, mas uma nobreza absolu-
tista, ligada à religião (poder divino dos reis), ainda detém o controle político. Como resultado
das navegações, a cultura europeia se expande para as Colônias americanas, por meio das
heranças reformistas ou contrarreformistas. Nas grandes navegações, destaca-se a Inglaterra,
que se firmou como uma força marítima expansiva, constituindo-se como referência para o
desenvolvimento dos estados nacionais modernos.
Em relação à arte, embora a Itália não gozasse mais do mesmo poderio econômico
dos séculos 15 e 16, suas manifestações culturais continuavam a pautar o que se produzia
de arte em todo o continente. Isso era resultado de um acúmulo de produção herdado do
Renascimento.
Todas essas características, sem dúvida, influenciaram a cultura musical do período.
O Barroco foi um período extenso que presenciou vários pensamentos e fazeres musi-
cais. É possível citar como pontos mais relevantes da música barroca e que percorreram todo
o período, a utilização do baixo contínuo, a representação de afetos, o uso de recitativo, do
estilo concertato e o estabelecimento da tonalidade.
1) Baixo contínuo: era voz mais grave da composição que era executada durante toda a
música. A voz principal e o baixo eram integralmente escritos, mas as vozes interme-
diárias eram complementares pelo executante, formando, assim, os acordes. No pe-
ríodo barroco, muitas dessas linhas de baixo contínuo eram escritas com algarismos
arábicos abaixo das notas, indicando, de forma resumida, a montagem dos acordes
que deveriam ser usados na improvisação dos acompanhamentos harmônicos. Essa
prática foi chamada de baixo cifrado.
2) Afeto: acreditava-se que a música poderia suscitar paixões no homem por meio dos
afetos. Desse modo, relacionavam um determinado gesto musical com um senti-
mento. A teoria dos afetos relaciona-se com a teoria do ethos grega.
3) Recitativo: estilo de canto declamatório que respeitava a métrica da palavra, porém
com as alturas definidas das notas musicais de uma determinada tonalidade. Era
acompanhado pelo baixo contínuo. O recitativo permitia a escrita de acompanha-
mento musical para trechos vocais que não seguiam um compasso definido.
4) Estilo concertato: esta expressão designava a prática de se escrever partes distintas
para vozes e para instrumentos, diferente da prática renascentista tradicional de se
usar os instrumentos dobrando as vozes. A palavra vem do italiano concertare, “que
significa ‘chegar a um acordo’” (GROUT; PALISCA, 2007, p. 331).
5) Tonalidade: no Barroco, a variedade das escalas modais vai gradativamente desa-
parecendo, até o momento no qual se utiliza apenas a escala maior (antigo modo
É chamado primeiro barroco o período em que ainda havia resquícios das práticas musi-
cais renascentistas, mas que iniciou novas maneiras de pensar e fazer música. Com isso, surgi-
ram as diferenciações de um estilo chamado antigo (polifônico) e outro moderno (anticontra-
pontístico). No estilo moderno, a monodia acompanhada levou ao nascimento do melodrama
que deu origem à ópera. A polaridade entre o soprano e o baixo contínuo, na monodia acom-
panhada, também possibilitou uma prática pré-tonal. A monodia acompanhada desenvolveu-
-se nas reuniões de intelectuais que discutiam e refletiam sobre arte. Esse centro de estudos
sobre arte foi chamado de Camerata Bardi.
É importante lembrar que o mais importante filósofo do início do século 16, René Des-
cartes, escreveu suas obras Compendium Musicae (1618) e As Paixões da Alma (1649), influen-
ciando e fortalecendo a ideia de que a música era capaz de mover as paixões dos ouvintes,
através de seus mecanismos acústicos interferindo no nosso sistema corporal orgânico fisioló-
gico (TOMÁS, 2005, p. 67-68).
De modo geral, a teoria dos afetos é uma continuação do que ocorreu na Antiguidade,
na Idade Média e no Renascimento. Durante seus estudos, ela representa a evolução da dou-
trina grega do ethos. No Renascimento, está expressa na música reservata, e agora, na teoria
dos afetos. É possível dizer que a busca pela representação das palavras do texto pela música,
que ocorreu no Renascimento, foi um estágio primário da teoria dos afetos. No Barroco, ela
apresenta-se como representação de ideias e sentimentos com a máxima veemência pela mú-
sica. No entanto, buscava-se a representação genérica do texto. Também se buscava expressar
um afeto em cada música.
Galilei foi um dos estudiosos que justificava que a polifonia, por utilizar várias linhas
melódicas, mesclava os ethos de tal forma que um acabava anulando o outro; coisa que seria
facilmente controlada pela monodia acompanhada. A partir desse pensamento, quanto mais
simples e racional era a música, maior era a possibilidade de o compositor conseguir exprimir
um afeto por meio dela.
Pode-se salientar como característica da monodia acompanhada a polaridade entre so-
prano (voz principal e baixo); as cadências marcadas, baseadas em tensão e relaxamento (do-
minante e tônica); a representatividade por meio do afeto e a dramaticidade.
A seguir, ouça Diteli voi de Giulio Caccini. Ele era um integrante da camerata Bardi.
• CACCINI, G. Diteli voi. Disponível em: <https://youtu.be/n-qJx1fnycU>. Acesso em: 16 jun. 2015.
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O acompanhamento da monodia era feito pelo baixo contínuo, como é possível observar
na partitura da Figura 1. Mas como é possível definir “baixo contínuo”?
Já em fins de Renascença, era reconhecida, na Itália, a prática de se cantar madrigais
com um canto, na voz baixo, na soprano, na aguda, e um tecladista executando as vozes in-
ternas da partitura polifônica. No Barroco, passaram a existir partituras nas quais havia uma
linha melódica aguda principal e uma linha melódica de baixo anotada, para órgão, sobre a
qual o organista improvisava outras vozes como acompanhamento, formando uma textura
de acordes. Tal tipo de composição ficou conhecido pelo nome de baixo contínuo (ou apenas
contínuo), pelo fato de que o baixo era tocado continuamente durante toda a música. Em ge-
ral, esse baixo era tocado pelo tecladista ou alaudista harmonizador e por outro instrumento
de registro grave (violoncelo, viola da gamba ou fagote).
Muitas dessas linhas de baixo contínuo eram escritas com algarismos arábicos abaixo
das notas, indicando, de forma resumida, a montagem dos acordes que deveriam ser usados
na improvisação dos acompanhamentos harmônicos. Uma partitura de baixo contínuo passou
a conter, portanto, uma cifra, passando a ser chamada de baixo cifrado.
Diferente do estilo antigo (prima prattica), em que havia várias vozes para uma única
letra, no estilo moderno, a música estava a serviço do texto que deveria conduzir a atenção, de
modo que uma única melodia seria cantada cristalinamente, enquanto instrumentos tocariam
acordes ou, até mesmo, outras melodias completamente subordinadas à principal.
Embora tal estilo tenha surgido já no fim do Renascimento, foi apenas em 1603 que
Monteverdi o descreveu no prefácio de seu Il libro quinto de madrigal (O quinto livro de ma-
drigais). Esse compositor ainda se dividiu, durante sua vida, nas duas práticas. Mas seus su-
cessores tornaram-se defensores claros do novo estilo, ocasionando o declínio definitivo da
polifonia franco-flamenga e renascentista como um todo.
Princípio da ópera
O desenvolvimento da Ópera foi, sem dúvida, um dos maiores e mais marcantes acon-
tecimentos do Barroco. Trata-se de um drama cantado e encenado que ganhou importância,
certamente, pelos desejos de reproduzir um teatro musical, assim como acreditavam ser o
teatro grego.
No século 16, existiam dois gêneros musicais e um poético, que podem ser considerados
os antecessores da ópera:
• Os intermedi, que eram interlúdios musicais, com representação dramática, execu-
tados nos intervalos entre os atos das peças teatrais renascentistas. Poderiam ser de
temática mitológica e eram também executados em festas da corte, nas quais faziam
produções espetaculares com coros, solistas e grandes conjuntos instrumentais. Os
principais compositores de madrigais escreviam músicas para intermedi.
• A pastorella, que era um gênero literário poético italiano com temas bucólicos e
amorosos e cenários idílicos campestres.
• O ciclo de madrigais, também chamado de comédia de madrigais, era o encadea-
mento de mais de um madrigal, podendo haver introdução, interlúdio ou finalização
instrumental, amarrados por uma temática ou enredo narrativo homogêneo. Não se
destinava à representação em cena. Ao contrário, era representado em concertos
privados, mas com grande ênfase na relação entre narrativa e música.
A seguir, você poderá ouvir o madrigal Lamento della ninfa, de Claudio Monteverdi, no qual o compositor encadeia
um primeiro trecho com texto de um narrador, um segundo trecho com texto do lamento da ninfa, propriamente
dito, e um terceiro trecho com texto de um narrador. Este pode ser considerado um bom exemplo de como o enca-
deamento de madrigais influenciou o surgimento da ópera:
• MONTEVERDI, C. Lamento della ninfa. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z3ZX5hFN-
is>. Acesso em: 16 jun. 2015.
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Apesar da Camerata Bardi nunca ter mencionado nada sobre um gênero dramático-mu-
sical, a associação da música com o teatro iniciou-se pelos estudos de um membro da camera-
ta, Gerolamo Mei. Por meio de seus estudos e pesquisas sobre a música grega, apontava que
o texto de tragédia grega era cantado. Desse modo, passou-se a compor muitas monodias cujo
texto era retirado da tragédia grega, como Orfeu e Eurídice.
No entanto, foi nos saraus lítero-musicais financiados pelo mecenas Jacopo Corsi, que foi
proposto ao compositor Jacopo Peri (1561-1633) musicar Dafne de Rinuccini para desenvolver
um novo estilo teatral, no qual eram combinados a declamação e o canto.
Era uma tentativa de levar ao teatro um novo estilo, baseado na declamação e no canto.
Pouco tempo mais tarde, esse estilo passou a ser chamado de estilo recitativo. Este novo gê-
nero foi um sucesso, levando outros compositores a mesclarem teatro e música, um exemplo
é Eurídice do compositor Caccini.
Gravação de L’Euridice–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça a obra L’Eurídice de Caccini, para aprofundar seus conhecimentos sobre estilo recitativo.
• CACCINI, G. L’Euridice (1600). Disponível em <https://youtu.be/2Iq6bB4kE8s> Acesso em: 16 jun. 2015.
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Os compositores mais importantes deste período foram Peri, Caccini, Cavallieri e Monte-
verdi. Cada um colaborou com importantes inovações musicais que conduziram ao nascimen-
to da ópera.
O compositor Emilio Cavalieri inovou ao pedir que os cantores fizessem gestos corporais
e que ficassem atentos à expressão enquanto cantavam. Ele também pedia que a orquestra
não aparecesse para a plateia, o que é feito até hoje nas óperas em que a orquestra se posi-
ciona no fosso do teatro. Outra inovação do compositor foi alternar passagens recitadas pelo
solista e cantadas pelo coro. Em sua obra La rappresentatione di anima et di corpo, todo o
texto recebe música.
Peri, Caccini e Cavallieri, em seus dramas musicados, buscam um estilo de canto próximo
à recitação.
Jacopo Peri (1561-1633) desenvolveu um modo de se cantar diálogos ou solos vocais
dos personagens, conhecido como estilo recitativo, canção mais próxima da fala e apoiada por
acordes do baixo contínuo.
Figura 4 Jacopo Peri encarnando a personagem do cantor lendário Arion no quinto intermédio de 1589.
Recitativo trata-se de uma linha melódica escrita sem compasso regular, na qual a curva-
tura melódica procura imitar a fala declamatória do texto, porém com as alturas definidas das
notas musicais de uma determinada tonalidade. Enquanto é cantado, um recitativo é acompa-
nhado por um contínuo que sincroniza seus eventos de acordo com as palavras do canto, mas
sem regularidade métrica. Na figura a seguir, observe que existem barras de compasso, mas a
quantidade de durações dentro das barras não é regular.
De Peri, é importante destacar a ópera L’Eurídice, que trata do mito grego envolvendo
seu marido Orfeu. Tal ópera foi estreada em 1600 e faz jus à data distintiva entre o Barroco e
o Renascimento.
Trecho de Jacopo Peri–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma gravação de um trecho em recitativo de Jacopo Peri:
• PERI, J. L’Euridice, Prologo “La Tragedia” e Coro “Se de’ boschi”. Disponível em: <https://youtu.be/
WHMJgGE5Doc>. Acesso em: 16 jun. 2015.
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cantando da camerata fiorentina torna-se mais flexível, ou seja, ele busca uma linguagem mu-
sical que não reproduza a complexidade sonora polifônica, mas que não seja tão vinculada à
palavra como o estilo recitato de Peri.
O compositor também percebe que o estilo recitativo é funcional para os momentos
de diálogo entre os personagens, mas que um estilo mais melódico como a ária e até mesmo
o uso de madrigais por coros em outros momentos, davam um grau de dramaticidade muito
maior às suas óperas. Com isso, Monteverdi mistura o estilo antigo do madrigal ao estilo mo-
derno da monodia acompanhada. Esse avanço acontece já em 1607 com La Fabula de Orfeo,
de Monteverdi.
Essa mistura de estilos de Montiverdi apresentada em La Fabula de Orfeo – na qual há a
utilização de árias solo, duetos, danças, corais em estilo madrigal, ritornellos orquestrais acom-
panhando os cantos ou, às vezes, tocando sozinho pequenas peças individuais – caracterizará
a ópera do século 17.
La Fabula de Orfeo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Faça uma escuta guiada de La Fabula de Orfeo, de Monteverdi no link indicado a seguir:
• MONTEVERDI. L’Orfeo – Savall. Disponível em: <https://youtu.be/I5ApwAKw5fc>. Acesso em: 16 jun. 2015.
a) inicialmente, você ouvirá um prelúdio instrumental;
b) em 2min20, você ouvirá um recitativo;
c) aos 9min59, você ouvirá um coral em estilo madrigalesco;
d) em 12min, há um coro em estilo madrigalesco e uma cena de dança;
e) aos 21min.07, ouça um dueto;
f) finalmente, em 1h01min30, ouça a ária Possente spirto e formidabil nume.
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L’Orfeo, de Montiverdi, é considerada a primeira ópera que foi além da poesia musicada,
por combinar o estilo renascentista da primeira prática com a música moderna da segunda
prática barroca.
Cr uda Amar illi
É possível concluir que, a partir de Montiverdi, as óperas passaram a ser compostas
Quint o libr o de madr igali
partindo-se de um libreto,
st a Guar ini (1538 – 1612), I l past or fi do
ou seja, um texto narrativo, preparado por um literato, para a com-
Cl audio M ont ever di (1567 – 1643)
posição musical e dividido em atos (grandes partes), sendo que cada um deles poderia contar
com uma introdução instrumental (como uma tocata, por exemplo). Continham trechos can-
tados por um solista, por um duo ou trio ou por um coro, sendo que as partes de solistas, duos
CRu- ou trios poderiam
Cr u virdano
‿Aformato
ma r ilde ária.
li, cr u da‿A ma r il li,
Quanto ao acorde de sétima menor (tétrade maior com sétima menor), no século 19, te-
óricos como François-Joseph Fétis apontavam a obra de Monteverdi como a primeira aparição
CRu- desse tipo
Crde
u acorde, conforme or ilexemplo
da‿A ma li, a seguir
cr u (CARTER;
da‿ACHEW,
ma 2014):
r il li,
O acorde de sétima menor, posicionado como acorde de tensão no jogo de acordes re-
sultantes de uma determinada escala (campo harmônico), mudou o modo de se perceber uma
progressão discursiva musical. Ele passou a ocupar a função de tensão harmônica, tal qual é
conhecida hoje, tanto para uma tonalidade maior quanto para menor. E esse pode ser consi-
derado um ponto marcante inaugural da música tonal.
Por esses avanços apresentados, Monteverdi, sem dúvida, é o compositor mais impor-
tante do início do Barroco, tanto pela virada estilística de suas obras quanto pela quantidade
de obras que compôs. Entre suas óperas, contam-se L’Orfeo, L’Arianna, Il Combattimento di
Tancredi e Clorinda, Il ritorno d’Ulisse in patria e L’incoronazione di Poppea. Escreveu oito li-
vros de madrigais e diversas obras sacras e morreu em 1643, na cidade de Veneza.
Como você viu, os traços de tonalismo e o nascimento da ópera foram importantes con-
quistas do chamado primeiro barroco.
Rapidamente, a ópera espalhou-se pela Itália. Veneza recebeu a ópera após Florença
e Roma, mas se tornou o principal centro de desenvolvimento e produção do gênero. Outro
marco importante foi a fundação, na mesma Veneza, do teatro São Cassiano em 1637. Ele foi a
primeira casa pública de ópera. Mediante o pagamento de ingressos, cidadãos que não apenas
os nobres poderiam assistir a espetáculos de ópera. Essa condição cultural revela o germe do
acesso que a burguesia terá, crescentemente, aos meios de produção da alta cultura até sua
consolidação no século 19.
No barroco médio, na segunda metade do século 17, a ópera espalha-se pela Itália e
também para outros países. O principal centro operístico é Veneza com seus teatros de ópera.
Neste momento, é possível ver o nascimento do público que, pela primeira vez, determina em
parte a produção musical. A ópera torna-se tão popular como as novelas são na atualidade.
As pessoas lotavam os teatros para assistir às óperas; os cantores e cantoras passaram
a ser idolatrados. Isso levou a uma grande produção de ópera no período e a diminuição de
qualidade dos libretos. Se antes o modelo eram as tragédias gregas, agora, as histórias base-
avam-se em romances, amontoados de personagens, enredos sem lógica, mas escritos para
proporcionar a composição de melodias agradáveis e de fácil entendimento do público. Pode-
-se dizer que foi neste momento que nasceu a chamada música de entretenimento.
Outra característica da ópera deste período é o canto virtuosístico, e é importante sa-
lientar que há também produção de música sacra e instrumental. Na música instrumental,
houve o nascimento da sonata e do concerto, os quais você estudará com mais profundidade
no barroco tardio.
Agora, você conhecerá as escolas de ópera de Veneza e Nápoles e a ópera na França e
na Inglaterra.
Ópera Veneziana
O principal centro de produção de ópera durante o Barroco foi Veneza. Grout e Palisca
(2007) afirmam que a ópera deste período era “cênica e musicalmente esplêndida”, mas os en-
A seguir, você poderá ouvir a Aria di Artemia, integrante da ópera Artemisia, de Cavalli:
• CAVALLI, F. Aria di Artemia. Disponível em: <https://youtu.be/S2CrgHpFADM>. Acesso em: 16 jun. 2015.
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Figura 8 Cenário concebido por Ludovico Burnacini para a sumptuosa estreia de Il pomo d’oro, de Antonio Cesti, na corte de
Habsburgos, em Viena.
Os compositores mais expressivos deste período são: Pietro Francesco Cavalli (1602-
1676) e Antonio Cesti (1623-1669), Pietro Agostini (1635-1680), Antonio Sartorio (1630-
Anacreonte Tiranno––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ópera Napolitana
Um estilo diferenciado de se fazer ópera começa a surgir em Nápoles, no final do século
17. Este estilo acentuava a beleza das melodias e certa agradabilidade harmônica em detri-
mento da dramaticidade. Neste período, o canto solo torna-se cada vez mais complexo e nasce
o bel canto, técnica de canto que dá suporte ao cantor para que ele seja capaz de reproduzir as
frases de grande fôlego, mantendo uma potência vocal, para fazer com que suas vozes sejam
ouvidas com clareza por todo o espaço, mesmo sendo acompanhados por orquestras, mas
sem perder a beleza da voz.
O Bel Canto, como o próprio nome diz, tem como princípio básico a beleza da voz, sua plasticidade
e perfeição encarnadas numa elegante distribuição de harmônicos que resultam em um timbre
aveludado e redondo, além de uniformidade e leveza. A precisão do timbre deve ser o objetivo
primeiro do cantor, que deverá demonstrar emoções com a ajuda da escrita vocal do compositor
e de sua flexibilidade e técnica vocal, amadurecida durante anos e muitas vezes décadas de estu-
do diário que proporcionarão um controle absoluto do ‘appoggio’, ou controle da respiração, e,
portanto, uma capacidade invejável de cantar notas sustentadas ou em agilidade, utilizando-se de
embelezamentos de todo tipo e forma, característicos da música barroca (SILVA; SCANDAROLLI,
2010, p. 255).
Ouça a ária “Mi rivedi, o selva ombrosa,” da ópera La Griselda de Alessandro Scarlatti e aprofunde os seus
conhecimentos.
• Scarlatti,A. La Griselda Atto Secondo Mi rivedi, o selva ombrosa. Disponível em: <https://youtu.be/j6oU-
PL8FZE>. Acesso em: 16 jun. 2015.
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Neste período, a ópera italiana passa por uma padronização em relação ao número de
cantores e de árias. Determina-se, também, que todas as cenas deveriam terminar em árias.
Ópera Francesa
Na França floresceu uma ópera com características nacionais apenas a partir de 1670.
A ópera francesa era mais séria e racional que a italiana, abordando temas mitológicos.
Ela também tinha um apelo popular menor que a ópera italiana, era destinada à aristocracia.
Tem como característica os temas ligados ao regime absolutista de Luiz XIV, uma divisão
entre recitativo e ária menos rígida, utilização de cenas de danças (ballet) e maior importância
à orquestra. Diferente da ópera italiana a ênfase está no recitativo e no coro, e não na ária. Os
efeitos cênicos e as cenas de ballet eram grandiosos.
O maior compositor de ópera francesa foi Jean-Baptiste Lully (1632-1687), nascido em
Florença, mas habitante de Paris desde sua infância.
Lully trabalhou para o Rei Luís XIV da França no final de 1652 e início de 1653 como dan-
çarino. Luis XIV era um aficionado pelo ballet e fundou a primeira escola de dança da Europa.
A seguir, você poderá ouvir duas óperas de Jean Baptiste Lully para aprofundar seus conhecimentos.
• LULLY, J. B. Cadmus Et Hermione (Ouverture). Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=ytJHCagq33I>. Acesso em: 16 jun. 2015.
• LULLY, J. B. Le Triomphe de l’Amour (ouverture). Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=Hij88RQ4PJg >. Acesso em: 16 jun. 2015.
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Em suas óperas Lully não utiliza as tendências da ópera italiana vigente, e sim elementos
presentes em Orfeo de Monteverdi. O libreto é bem construído e o recitativo é o centro de
suas óperas, nas quais utiliza poucas árias.
As principais óperas de Lully são: Teseu (1675), Atys (1676), Isis (1677), Facton (1683) e
a mais importante, Armid et Renaud (1686).
Ópera Atys–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Jean-Philippe Rameau foi um importante compositor francês. No início de sua vida mu-
sical, Rameau compôs peças para teclado e obras sacras, mas a publicação de seu tratado
sobre harmonia marcou o começo de um período muito produtivo. Ele publicou mais livros
sobre teoria, obras para teclado e cantatas, em 1729.
Somente aos cinquenta anos de idade compôs sua primeira ópera, Hippolyte et Aricie.
Na produção operística francesa, Rameau é considerado o sucessor de Lully.
Rameau não modifica o plano da ópera de Lully, sua técnica de compor recitativo é se-
melhante ao de Lully, mas seu rítmico é mais flexível. Assim como Lully, utiliza coros, interlúdio
instrumental e cenas de ballet.
Rameau utiliza pequenas árias em estilo italiano, e essa é a principal diferença do seu
antecessor. Também modifica a abertura da ópera de Lully, tornando-a menos formal. Au-
menta a malha orquestral introduzindo o clarinete, e aplicando a técnica de cordas duplas nos
instrumentos de arco.
Ópera Hippolyte et Aricie–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Assista à ópera Hippolyte et Aricie de Jean Philippe Rameau, para aprofundar seus conhecimentos.
• RAMEAU, J. P. Hippolyte et Aricie (1733). Disponível em: <https://youtu.be/I7WGkZcxDLc>. Acesso em: 16
jun. 2015.
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Ópera Inglesa
A ópera inglesa sofre influência da ópera italiana e francesa. Da França, absorve a aber-
tura e a utilização de corais homofônicos escritos com ritmos de danças. Da Itália, a diferen-
ciação entre recitativo e ária, sendo que o estilo de seu recitativo é um intermediário entre o
estilo seco italiano e o declamatório francês.
Inova na criação dos libretos, que se tornam estritamente organizados e formalmente
previsíveis e, também, na montagem das cenas. O recitativo ficou atrelado, unicamente, à
ação, à ária e à emoção lírica da cena.
Na Inglaterra, a ópera não teve a mesma popularidade que na França, mas desenvolveu
uma escola marcada pelos compositores John Blow (1649-1708) e, o mais importante deles,
Henri Purcell (1659-1695). Purcell é, talvez, o nome mais importante do barroco inglês, uma
vez que, no posterior século 18, os compositores mais populares na Inglaterra eram, em geral,
estrangeiros.
As óperas de Purcell refletem bem o estilo inglês. Ele utiliza os coros e o recitativo
da ópera francesa, mas também utiliza a ária italiana. Suas principais óperas são Dido and
Aeneas e A tempestade. Purcell também compôs música sacra e instrumental.
A seguir, você poderá ouvir um trecho da ópera Dido And Aeneas, de Henry Purcell, para aprofundar seus
conhecimentos.
• PURCELL, H. Dido And Aeneas: Dido’s Lament. Disponível em: <https://youtu.be/5jv-wscIZo4>. Acesso
em: 17 jun. 2015.
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Quando se fala de barroco tardio refere-se à fase final do período barroco, que vai apro-
ximadamente de 1700 a 1750, ano da morte do compositor J. S. Bach. Nesta fase, a produção
operística continua e a forma da ópera é consolidada. É possível ver, também, um grande
florescimento da música instrumental e da música sacra. Este período também presenciou o
apogeu de compositores germânicos e de mudança do eixo de influência musical da Itália para
Áustria e Alemanha.
A harmonia funcional da tonalidade estava plenamente consolidada, o que levou às
grandes formas musicais como o concerto, a sonata e o oratório. Houve o retorno da textura
contrapontística, mas com uma condução harmônica tonal. Na música desse período, ainda
se faz presente o baixo contínuo, a representação de afetos, o uso de recitativo, do estilo
concertato e o pleno estabelecimento da tonalidade.
O foco de estudo, neste momento, será a música instrumental e sacra deste período,
bem como o estudo da música de J. S. Bach, que apresenta algumas características atípicas em
relação à música do momento.
No link a seguir, você poderá ouvir uma gravação acompanhada das partituras de algumas peças de François
Couperin para aprofundar seus conhecimentos.
• COUPERIN, F. Pièces de Clavecin - Le Rossignol-en-amour. Disponível em: <https://youtu.be/
BmyeTbCWI28>. Acesso em: 17 jun. 2015.
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Sonata
O termo sonata, até o meio do século 16, era utilizado para designar uma música com
fins instrumentais (sem referência a textos, narrativas ou programas). Poderia ser dividida em
sessões designadas por seu movimento. Por exemplo, uma sonata poderia ter um primeiro
movimento rápido, um segundo lento, um terceiro rápido e um quarto lento.
Após 1660, as sonatas destinadas a ser ouvidas na corte passaram a se chamar sonatas
da câmara e poderiam ser compostas por uma sequência de danças estilizadas (allemandes,
courantes, sarabandes etc.), mas poderia começar com um movimento de introdução não
oriundo das danças como, por exemplo, um prelúdio.
As sonatas poderiam ser escritas para instrumento solista. Mas em muitos casos, o solis-
ta era acompanhado de um contínuo. Como o contínuo era, em geral, executado por um ins-
trumento grave mais um instrumento harmônico (cravo, alaúde etc.), formavam-se conjuntos
de três instrumentos incluindo o solista. A este tipo de sonata deu-se o nome de trio sonata.
Nestas composições destacam-se as obras de Corelli e Haendel.
Arcangelo Corelli (1653 – 1713) nasceu em Fusignaro (Itália), em 1653. Era descendente
de uma família nobre. Estudou violino em Bologna, mas trabalhou em Roma na condução de
diversas orquestras e grupos instrumentais. Sua história de trabalho revela as inserções possí-
veis para a música instrumental no médio-barroco, menos ligado à música sacra e mais voltado
para música de salões. Faleceu em 1713.
Suas composições, em sua maioria, são destinadas para música instrumental com ênfase
ao violino. Em suas sonatas estabelece esquemas formais de divisão dos movimentos, dividin-
do os movimentos em lento-rápido-lento-rápido. Todos os movimentos mantinham a mesma
tonalidade.
A música de Corelli era essencialmente contrapontística e estruturada harmonicamente.
Essas características de sua música contribuíram para o desenvolvimento da tonalidade na
obra de Vivaldi e J. S. Bach. Ele compôs doze sonatas para violino e contínuo, quarenta e oito
trios sonatas e doze concerti grossi.
A seguir, você poderá ouvir a gravação da trio-sonata Op. 3 nº 10, de Corelli. Observe a alternância de seus movi-
mentos (lento-rápido-lento-rápido), para aprofundar seus conhecimentos.
• CORELLI, A., Trio sonata Opus 3, nº 2 Disponível em: <https://youtu.be/ZoXJM3eHLOM>. Acesso em: 17
jun. 2015.
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A sonata no barroco tardio sofre uma transição da sonata em trio (executada por três
instrumentos) para a sonata para solista.
Suítes
O termo suíte surgiu em meados do século 16 para designar uma junção de duas dan-
ças. No século 17, a justaposição poderia incluir um número maior de danças, variando-se as
características e as danças escolhidas para tal junção em diferentes localidades da Europa. No
entanto, as suítes praticadas na corte francesa construíram uma espécie de padrão que passou
a ser praticado em outras cortes europeias.
Conheça as características e a origem das principais danças da suíte:
• Allemande: surgiu de uma dança circular alemã e possuía compasso quaternário e
andamento moderado.
• Courante: na tradição italiana era uma dança rápida de textura homofônica e a cou-
rante francesa, que era uma dança com andamento regular com uma textura mais
contrapontística. Era composta em compasso ternário.
• Bourrée: dança francesa rápida, popular entre os séculos 17 e 18. Sua execução era
considerada opcional, após uma sarabanda por compositores da época (SADIE, 1994).
• Minueto: foi a principal dança de corte francesa, sendo muito dançado na corte de
Luis XIV. Inicialmente, era uma dança rápida e com caráter alegre que, com o tempo,
se tornou mais moderada. Era composta em compasso ternário.
• Sarabanda: foi uma dança rápida que com o passar do tempo se tornou lenta. É a
dança mais lenta de todas, em 3/4, homofônica, com melodia ornamentada, quase
uma “improvisação” sobre acordes.
• Giga: era uma dança popular inglesa, inicialmente, chamada jig, que logo foi trans-
formada em peça instrumental. É a dança mais rápida de todas, em 12/8, 9/8 ou 6/8.
O formato reconhecido como padrão da suíte era o seguinte: allemande, courante,
sarabande e gigue, com possíveis inclusões de minueto, gavotte, passepied, bourrée, musette
ou rigaudon. Além do mais, as suítes poderiam ser precedidas por uma abertura em forma de
prelúdio.
Todas essas danças encadeadas em uma suíte deveriam ser compostas na mesma to-
nalidade, dotando o conjunto de certa homogeneidade harmônica (KENNEDY, 2014; NAGLEY,
2014; GROUT; PALISCA, 2007). Dessa sorte de composição, destaca-se a variedade de suí-
tes compostas por Bach, incluindo estilos franceses, ingleses e italianos. Foram compostas
para instrumentos solo como cravo, alaúde, violoncelo e violino e, também, para formações
orquestrais.
Suítes de Bach––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir as suítes para violoncelo de J.S. Bach para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH, J. S. Cello Suites. Disponível em: <https://youtu.be/MUAOWI-tkGg>. Acesso em: 17 jun. 2015.
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Concerto
É uma forma que surge no Barroco e se estende pelos períodos seguintes da história da
música.
O nome concerto vem de uma expressão italiana, originária da virada da Renascença
para o Barroco: estilo concertato. Esta expressão designava a prática de se escrever partes
distintas para vozes e para instrumentos, diferente da prática renascentista tradicional de se
usar os instrumentos dobrando as vozes. A palavra vem do italiano concertare “que significa
‘chegar a um acordo’” (GROUT; PALISCA, 2007, p. 331). O objetivo é fazer com que partes mu-
sicais diferentes se conjuguem em um todo harmonioso, seja este concerto sacro (vocal), seja
instrumental.
No período barroco, a seriedade com que as partes instrumentais da ópera francesa e,
especialmente, as suas aberturas eram construídas colaboraram para o surgimento da forma
concerto. Nesse período, há três tipos de concerto: o orquestral, o grosso e o solista.
Concerto orquestral
Era também chamado concerto-sinfonia e tinha como característica a ênfase na me-
lodia executada pelos primeiros violinos e no baixo contínuo. Não há contrastes de grupos
instrumentais.
Concertos de Bach––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Concerto Grosso
Forma em que havia contrastes de sonoridade entre orquestra inteira (“tutti” ou “seções
de ripieno”) e grupo solista – concertinho – (frequentemente só dois violinos, normalmente,
com seu próprio contínuo). Uma das características do concerto barroco é o contraste entre
seções fortes e seções pianos que, muitas vezes, eram conseguidas alternando grupos de ins-
trumentos maiores com grupos de solistas menores. A expressão “concerto grosso” passou
a denominar, ao redor de 1700, peças orquestrais escritas para uma orquestra e grupo de
solistas, podendo ser esse grupo uma formação de trio sonata (instrumento harmônico, ins-
trumento grave e solistas).
Concerto Grosso de Vivaldi–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Concerto solista
Contraste entre orquestra e um solista. O contraste entre tutti e solo definia-se musical-
mente, de maneira especial, pela construção virtuosística para o solo. Destacam-se os concer-
tos solos para os concertos para orquestra e solista de Giuseppe Torelli (1658-1709), Tomaso
Albinoni (1671-1751) e Giuseppe Maria Jacchini (1667-1727).
Concerto solo de Vivaldi––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça o concerto solo para violino de in A menor, de Vivaldi, para aprofundar seus conhecimentos.
• Vivaldi. Violin Concerto in A minor, RV 356, Op 3, Nº 6. Disponível em: <https://youtu.be/eTPiZup0QmM>.
Acesso em: 17 jun. 2015.
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Possui obras sacras e seculares, vocais e instrumentais, dentre as quais: mais de quatro
centenas de concertos – sendo os mais famosos Le quattro stagioni (As quatro estações) e
L’estro armonico; quarenta e seis óperas; quarenta e quatro motetes; cerca de setenta sonatas,
cem árias e trinta cantatas.
Um pouco mais de Vivaldi––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vivaldi morreu em Viena, em 1741. Seu local de morte revela a pouca importância dada
à música instrumental, em Veneza, e a absorção desta tradição realizada pelos povos de ori-
gem germânica, que passaram a ditar os rumos da música de concerto na segunda metade do
século 18.
Conclui-se que as obras-primas da música de concerto barroca ficam por conta da vasta
produção de concertos de Antônio Vivaldi e de J. S. Bach.
Em nossos dias, a palavra concerto acabou assumindo como significado a prática de
execução musical em teatros ou salas de audiência musical. Pode-se dizer que as casas públi-
cas de ópera e o crescimento da música instrumental em estilo concertato são as bases desta
concepção.
A seguir, você poderá ouvir o coral Jesu, meine Freude, BWV 227, de Bach, um exemplar típico de coral luterano
do fim do período barroco, para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH, J. S. Jesu, meine Freude, BWV 227. Disponível em: <https://youtu.be/XVa3nR-2bVc>. Acesso em:
17 jun. 2015.
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Foi mestre de capela em Dresden e na Dinamarca. Este compositor possui grande impor-
tância pela grandiosidade de sua obra sacra protestante, adequando o virtuosismo do estilo
italiano às necessidades de sua liturgia local.
Foi, também, o primeiro compositor alemão a utilizar o estilo recitativo e dar nova di-
mensão ao estilo concertato em suas obras. Além disso, ele manteve a utilização do estilo
madrigalesco veneziano.
Uma das características das suas composições era a preocupação com a representação
musical das palavras e a utilização de policoralidade veneziana.
Morreu em Dresden em 1662. Dentre suas obras estão: Il primo libro de madrigal,
Psalmen Davids (Livros 1 e 2), Historia der fröhlichen und siegreichen Auferstehung, Cantiones
sacrae, Symphoniae sacrae (Livros 1, 2 e 3), Musikalische Exequien, Kleine geistliche Konzerte,
Geistliche Chor Musik e Zwölf geistliche Gesänge.
A seguir, ouça e acompanhe a partitura de Selig sind die toten, de Heinrich Schütz, para aprofundar seus
conhecimentos.
• SCHUTZ, H. Selig sind die Toten – The Crambridge Singers. Disponível em: <https://youtu.be/rov7WQB4jms>
Acesso em: 17 jun. 2015.
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Atraído pelo estilo italiano das óperas e do concerto, saiu da Alemanha e foi para a Itália
entre 1706 e 1710. Lá teve oportunidade de trabalhar e desenvolver o estilo italiano em suas
composições. Neste período, compôs muitas obras vocais como óperas.
Em 1711, viajou para a Inglaterra e lá se manteve até o final de sua vida. Haendel, embo-
ra alemão, chegou à Inglaterra como um representante da música italiana. Nos primeiros anos
na Inglaterra, produziu várias óperas italianas, mas, com o passar do tempo, começou a se
interessar pelas formas preferidas da música inglesa, como o oratório (em inglês, com grandes
corais) e a ode coral.
A absorção do oratório inglês em suas obras também se tratou de uma estratégia co-
mercial, uma vez que a nobreza inglesa não aceitava bem as óperas italianas. O seu oratório
de maior notoriedade foi O Messias (1742, Dublin). Esta obra é considerada um dos oratórios
mais famosos de toda história da música. Seu famoso coro, Hallelujah, é uma obra conhecida
popularmente.
Hallelujah––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir uma interpretação de Hallelujah, de O Messias, de Haendel, para aprofundar seus
conhecimentos.
• HAENDEL, G. F. Messiah: Hallelujah. Disponível em: <https://youtu.be/IUZEtVbJT5c>. Acesso em: 22 jun.
2015.
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Em seus oratórios, os corais assumem uma grande importância, de modo que o compo-
sitor destinava a eles bastantes variedades de texturas como corais compostos com ritmos de
dança, coral no antigo estilo policoral e corais contrapontísticos.
Haendel também compôs música instrumental para teclado e concertos, entre outros.
Alla Hornpipe–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Entre 1719 e 1728, Haendel foi empregado pela Royal Academy of Music, de Londres.
Trabalhou para cortes britânicas e chegou a ser mestre de capela na Capela Real de Londres.
Ele foi naturalizado cidadão britânico em 1727. Morreu em 1759 em Londres e está enterrado
na Abadia de Westminster. Haendel gozou de grande prestígio durante sua vida.
Suas viagens e a quantidade de encomendas de obras que atendeu dão a dimensão de
sua popularidade e de sua capacidade de adaptação a diferentes gêneros e estilos. Compôs
óperas, oratórios, cantatas, música instrumental orquestral e de câmara. Em números, Haen-
del compôs: cerca de quarenta óperas e vinte e cinco oratórios; mais de noventa cantatas; oito
suítes para cravo, doze concertos para órgão, sete concerti grossi, dentre outros, incluindo
diversas trio sonatas.
Outros dois tipos de composição sacra barroca que se desenvolveram, especialmente,
no cenário protestante foram a cantata e a paixão.
A cantata, no início do século 17, era um madrigal dramático cantado por uma voz com
acompanhamento de alaúde. Justapunha, em geral, duas ou três árias. Em fins do século 17,
poderia ser cantada por várias vozes, sendo compostas por recitativos ou árias.
No século 18, a cantata tornou-se uma peça mais dramática, contendo elementos ope-
rísticos. Possuía o encadeamento de um maior número de árias ou recitativos, bem como
trechos corais.
Nos países protestantes, a cantata ocupou um lugar de destaque na religião, sendo a
principal música no serviço musical luterano, com a participação de solistas, coros, utilização
de instrumentos, dentre eles o órgão, e de textos bíblicos (KENNEDY, 2014; TIMMS, 2014).
Cantata Herr gehe nicht ins Gericht mit deinem Knecht––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça a cantata 105: Herr, gehe nicht ins Gericht mit deinem Knecht, de Bach, que pertence ao período
das cantatas luteranas, para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH, J. S. Cantata 105: Herr, gehe nicht ins Gericht mit deinem Knecht, BWV 105 (1723). Disponível em:
<https://youtu.be/-8g-9zXv1O8>. Acesso em: 22 jun. 2015.
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Barroco. Mas a mais vultosa obra do gênero foi composta por Johann Sebastian Bach (1685-
1750), suas Paixão Segundo São João BWV 245 (1724) e Paixão Segundo São Mateus BWV 224
(1727).
Paixão segundo São Mateus––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, você poderá ouvir dois trechos da Paixão segundo São Mateus, de J. S. Bach. No primeiro, a ária
Erbarme Dich e, no segundo, o trecho inicial:
• BACH, J. S. Paixão segundo São Mateus: Ária Erbarme Dich (1728). Disponível em: <https://youtu.be/
D7iTe9CZLAY>. Acesso em: 22 jun. 2015.
• BACH, J. S. Paixão Segundo São Mateus (BWV 244). Disponível em: <https://youtu.be/nuBeByQQUo8>.
Acesso em: 22 jun. 2015.
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Pode-se dizer que a obra de J. S. Bach sempre esteve ligada à sua religiosidade e fé, e esse
é um dos motivos que a faz tão peculiar perante as composições de seus contemporâneos.
Para finalizar o estudo do período barroco, não se pode deixar de dedicar uma parte
desta obra para você conhecer as características da obra magnífica de J. S. Bach.
A música de J. S. Bach
Hoje se reconhece como o maior compositor do período barroco Johann Sebastian Bach.
No entanto, sua vida e sua obra são atípicas, se comparadas às tendências e composições do
período. Como você estudou, o grande centro musical do período barroco foi a Itália. Por isso,
a maioria dos compositores que estavam fora desse eixo buscava se mudar para aquele país,
especialmente, para adquirir as técnicas de composição italiana. Esse foi o caso de Haendel,
conforme já visto anteriormente.
Bach nunca saiu da Alemanha, que tinha grandes compositores, mas não era um cen-
tro musical que se comparasse à Itália. Enquanto a ópera era o grande gênero barroco, Bach
nunca compôs nenhuma ópera. Isso ocorreu por causa não só de sua fé protestante, mas,
também, por residir em um país protestante em que a ópera não tinha destaque.
Sem dúvida ele foi o principal compositor ligado à Igreja protestante. Na Alemanha, Bach
era sobrenome de uma família de músicos, tanto dos antecessores quanto dos descendentes
de Johann Sebastian. Este nasceu em Eisenach (Alemanha), em 1685, e recebeu a primeira
instrução musical no próprio ambiente familiar. Estudou em Lünenberg e tornou-se violinista
na corte de Weimar em 1703. Trabalhou como organista nas cortes de Weimar, na cidade de
Mühlhausen e em Cöthen, na corte do príncipe Leopoldo. Mas foi em Leipizig, em 123, que
se estabeleceu definitivamente como diretor musical de diversas igrejas e como professor da
Thomasschule, uma escola para garotos.
Sabe-se que Bach era um aficionado pelo estudo das formas composicionais dos com-
positores da época. Desse modo, para compreender e absorver o estilo de composição desses
compositores, realizava cópias das obras e, muitas vezes, rearranjava as obras já existentes. Ele
copiou obras completas de Johann Christoph Pachelbel, Vivaldi, Frescobaldi, Corelli, Coperin
entre outros. Assim, mesmo sem sair da Alemanha para estudar ou trabalhar, pôde absorver o
melhor dos estilos de cada país e transformá-lo em uma música própria.
Pode-se dizer que as características do período barroco presentes em sua música estão,
especialmente, no uso do baixo contínuo, na representação dos afetos e na tonalidade. Ele
desenvolveu um contraponto único e explorou a tonalidade como nenhum compositor do seu
tempo havia ousado fazer.
Conforme você já viu, durante sua vida, Bach trabalhou em várias partes da Alemanha
a serviço da igreja protestante, e sua música é marcada pelas características de cada lugar em
que passou.
A cantata estava presente em todo o serviço litúrgico protestante, e Bach, durante toda
a sua vida, trabalhou como compositor da Igreja protestante: sua função era compor uma
cantata por semana para ser executada no domingo, durante o culto, e, também, ensaiar os
músicos para executarem as cantatas.
Buscava, ao escrever sua música sacra, a adoração a Deus e, também, o primor artístico.
Em cartas ele dizia que buscava produzir uma música “regulada”, que louvasse a Deus, mas
sem perder a qualidade artística. A sua música “regulada”, que ele descreve como de extrema
qualidade musical, mantinha essa característica, fosse feita para a igreja ou não, ou seja, o
modo de compor era o mesmo (BUKOFZER, 1991).
Conheça, brevemente, as obras dos principais locais de trabalho de Bach.
A seguir, ouça a cantata No. 4: Christ Lag in Todesbanden, de Bach, para aprofundar seus conhecimentos sobre
este período.
• BACH. J. S. Christ lag in Todesbanden, BWV 4. Disponível em: <https://youtu.be/zjptJeN7EzM>. Acesso
em: 22 jun. 2015.
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A seguir, ouça o Prelúdio e Fuga em A menor, composto neste período por Bach, para aprofundar seus
conhecimentos.
• BACH, J. S. Prelude and Fugue in A minor BWV 543. Disponível em: <https://youtu.be/iyf0_dwM_44>.
Acesso em: 22 jun. 2015.
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Neste período, Bach sofreu influência do estilo italiano de concerto, pois passou a estu-
dar, copiar e fazer arranjos para as obras de Vivaldi, Corelli, Albinoni e Marcello. Percebe-se a
influência do estilo italiano, especialmente, nas suas melodias que se tornaram mais simples,
concisas e com forte noção de centro tonal.
Nas cantatas, passou a utilizar seções com árias, duetos e coros, influenciado pela mú-
sica italiana.
Jesu, der du meine Seele–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça a cantata deste período No. 78, Jesu, Der Du Meine Seele, de Bach, para aprofundar seus
conhecimentos.
• BACH. J. S. Cantata Jesu, der du meine Seele, BWV 78. Disponível em: <https://youtu.be/b9wg7TxUjcA>.
Acesso em: 22 jun. 2015.
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Pode-se dizer que no período que Bach passou em Weimar, embora tenha buscado re-
ferência na música italiana, também buscou desenvolver um estilo pessoal, o que levou à
subjetividade e ao virtuosismo, especialmente, em sua música para órgão.
A seguir, ouça O livro 1, de O cravo bem temperado, de Bach, para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH, J. S. Das Wohltemperierte Klavier Teil I. Disponível em: <https://youtu.be/k1zlHdjfzmQ>. Acesso em:
22 jun. 2015.
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É na música de câmara deste período que sua grande maestria se mostra. Há uma gran-
de maturidade de Bach ao compor para os grupos instrumentais.
Escreveu sonata para solo e com acompanhamento de cravo, as seis suítes para violon-
celo, três sonatas e três partitas violino solo com alto grau de dificuldade técnica, vários con-
certos, entre eles, os brandenburgueses (para Margrave de Brandenburg) e suítes orquestrais.
Especialmente para teclado, escreveu seis suítes francesas e seis inglesas, em que é pos-
sível observar a fusão de estilos nacionais. Pode-se apontar como características da sua música
instrumental uma habilidade técnica quase sobre-humana, equilíbrio entre polifonia e harmo-
nia e a fusão dos estilos nacionais.
cada domingo e dia festivo do ano litúrgico. Assim retornou a um objetivo antigo, o de realizar
música sacra regularmente. Nos cinco anos iniciais em Leipzig, completou o ciclo de cantatas
para todos os domingos e dias festivos, resultando em mais de duzentas cantatas.
Naquele momento, Bach estava em seu auge de maturidade como compositor, e isso
pode ser observado nas suas cantatas, que são ampliadas e aprofundadas.
Neste mesmo período, ele compôs suas maiores obras corais: Paixão Segundo São João,
Paixão Segundo São Mateus, Magnificat em D; Missa em Si menor. Essas obras têm como ca-
racterística a dramaticidade; elas utilizam árias da capo, ariosos, recitativos e estilo concertato.
No final de sua vida, sua música foi marcada pela forte abstração. Compôs as variações
canônicas para órgão sobre “Von Himmel Hoch”, Oferenda musical (baseada em um tema do
rei Frederick II, 1747) e uma das suas principais obras, A Arte da Fuga (1749-50).
A seguir, assista à análise dos contrapontos da Arte da fuga, para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH. J. S. BWV 1080 – Art of the Fugue. Disponível em: <https://youtu.be/XXQY2dS1Srk>. Acesso em:
22 jun. 2015.
Ouça, também, uma execução instrumental do Contraponto 1 da Arte da fuga, para aprofundar seus conhecimentos.
• BACH. J. S. Die Kunst der Fuge - Contrapunctus I. Disponível em: <https://youtu.be/IdFseJ3R3Ig>. Acesso
em: 22 jun. 2015.
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Em a Arte da Fuga, ele revela as infinitas possibilidades do contraponto. Em uma das fu-
gas utiliza um motivo baseado nas cifras representadas pelas letras do seu sobrenome “BACH”
(Bb-A-C-B natural), que representou um cromatismo avançado para a época.
Em resumo, sua grandiosa obra é caracterizada pela fusão de estilos nacionais (Alema-
nha, Itália e França), escrita contrapontística e complexidade de texturas, extraordinária técni-
ca de elaboração do material musical e foco tonal.
Bach compôs até o final de sua vida. Faleceu em 1750, data simbólica, considerada como
final do barroco. Sua produção inclui cerca de duzentas cantatas religiosas; dez missas; quatro
paixões; um oratório, mais de cento e oitenta corais; obras solo para cravo, órgão, alaúde violi-
no, violoncelo, incluindo suítes – em estilo francês, inglês e italiano – e sonatas; cerca de trinta
concertos; suítes orquestrais; obras de contraponto de designação de instrumentação. Todas
elas totalizam mais de mil obras.
Após sua morte, Bach caiu no esquecimento do grande público de concerto até a redes-
coberta de sua música em fins de século 19. De lá para cá, é apontado, em certas ocasiões,
como o mais importante compositor da história da música, fazendo frente a nomes como
Beethoven e Mozart.
O período da música brasileira chamado colonial diz respeito à música feita em solo
brasileiro quando o país ainda era colônia de Portugal. Portanto, trata-se da música produzida
de 1500 a 1822. No entanto, esse termo não define um único estilo, mas sim a totalidade da
música que se praticou no território brasileiro dentro de um período cronológico (CASTANHA,
2010).
Sabe-se que o Brasil foi um país colonizado pelos portugueses, e neste período recebeu
também povos holandeses e espanhóis. Pode-se dizer que a história da música no Brasil passa
por dificuldades metodológicas e conceituais oriundas, obviamente, da condição histórica de
um país que sofreu com a colonização europeia.
A divisão de períodos, conforme ela é observada para a música na Europa, nem sempre
coincide com a prática musical em uso no Brasil. Nos séculos 16, 17 e 18, podem-se ver, em
solo brasileiro, práticas musicais oriundas da Idade Média, do Renascimento ou até do próprio
Barroco.
Pode-se definir que a música deste período é predominantemente sacra, pela própria
natureza da colonização brasileira.
Em carta a Tomé de Souza (o primeiro governador geral do Brasil), o rei D. João III diz: “A
principal causa que me levou a povoar o Brasil foi que a gente do Brasil se convertesse à nossa
Santa Fé Católica” (HOORNAERT, 1992, p. 23). A carta do padre jesuíta Manuel da Nóbrega ao
rei demonstra que, além do interesse religioso, havia um forte interesse mercantil, que foi o
que predominou: “Nosso Senhor ganhará muitas almas e Vossa Alteza muita renda nesta ter-
ra” (HOORNAERT, 1992, p. 27).
As raízes conservadoras da música realizada nas práticas religiosas no Brasil, às vezes, as
mantinham em tradições mais arcaicas do que as praticadas na Europa. Em outros momentos,
como em meados do século 18, a música brasileira rapidamente flertou com novas matrizes
da música europeia, posteriores ao período barroco, integrantes do estilo de época clássico.
Isso não significou a extinção das práticas antigas. Além do mais, embora não haja partituras
musicais, alguns documentos tratam da música de matriz africana e indígena praticada na co-
lônia portuguesa da América.
No entanto, a música brasileira, em geral, assumiu a periodização proposta pela história
geral, tratando a música praticada desde 1500 até 1822 como música colonial (CASTAGNA,
2010).
Você conhecerá as categorias de música realizadas no período colonial brasileiro até
meados do século 18, restringindo-se ao período anterior da apropriação do estilo clássico
pelos compositores brasileiros. Fará, também, a ressalva de que, neste momento, tratará da
música documentada pela prática da escrita, uma vez que, antes da chegada dos portugueses,
obviamente, havia uma prática musical realizada pelos indígenas.
A Igreja, via jesuítas, era o centro das ações no Brasil colônia e tornou-se responsável
pela catequização e também pela educação no país.
A música tornou-se um importante veículo de catequização e foi amplamente utilizada
pelos jesuítas. Em 1552, instauraram a prática do Canto Gregoriano em solo Brasileiro, mais
precisamente, na Bahia. Nas missões jesuíticas, a prática do cantochão ligava-se à prática me-
dieval, inclusive, na utilização de recursos da polifonia primitiva.
Em cartas a Portugal, solicitaram instrumentos musicais e também pessoas que conhe-
cessem música, uma vez que, além da evangelização, pretendiam ensinar a arte da música aos
novos cristãos. A catequização dos jesuítas englobava o ensino de orações cantadas, assim, os
índios cantavam e até tocavam instrumentos musicais. Conclui-se, então, que os primeiros a
executarem músicas nos moldes europeus, no Brasil, foram os jesuítas, sendo que os religiosos
que tinham conhecimentos, mesmo que rudimentares, sobre música eram muito valorizados.
Destacam-se os nomes de Antônio Rodrigues e Leonardo Nunes.
Os jesuítas também assumiram os primeiros colégios e seminários brasileiros, que se
tornaram as primeiras escolas de belas artes do país. Francisco De Vacas foi trazido para o Bra-
sil em 1552, pelo Bispo Dom Pedro Sardinha, com o propósito de ser parte da primeira Escola
da Companhia de Jesus, fundada em São Paulo, na qual também havia o ensino de belas artes
(LEITE, 1949). Ele também foi o primeiro mestre de capela a vir para o Brasil.
Em 1555, Anchieta fundou o primeiro teatro brasileiro no Rio de Janeiro; neste mesmo
ano foi executado o “Auto da Pregação Universal”, considerada a primeira peça musical brasi-
leira (ALVARES, 2000).
Em 1575, foi criado o bispado da Bahia e da prelazia do Rio de Janeiro. Esse fato foi re-
presentativo para a história da música, pois nesses centros religiosos foram mantidos os cha-
mados coros de cantochão (executavam as músicas do ofício em cantochão) e as capelas de
música polifônica (grupo dedicado à execução da música polifônica), constituídas por mestre
de capela, organista e moços-do-coro (LANGE, 1966).
O mestre de capela é uma figura importante na atividade musical colonial. Ele recebia o
pagamento pelos seus serviços e era responsável pela música nas cerimônias fúnebres, festas
religiosas, batizados etc. Também tinha a função de organizar grupos musicais por meio da
contratação de músicos, cantores que trabalhavam sob sua orientação. Os mestres de capela
também compunham suas próprias músicas para as diversas ocasiões, bem como ensinavam
a música e as primeiras letras para a irmandade.
Em síntese, a música deste primeiro momento da colonização era predominantemente
sacra, reproduzia modelos europeus e era realizada pelos jesuítas, como o propósito de educar
o novo cristão (índio convertido). Em um segundo momento, vê-se a figura do mestre de ca-
pela assumindo a direção musical dos bispados e também da música realizada nos engenhos.
A música colonial em São Paulo era, em sua maioria, organizada pelos mestres de cape-
las. Muitos deles trabalhavam sem provisão e escritos apontam para o exercício amador da
música.
O primeiro mestre de capela da igreja Matriz de São Paulo foi Manuel Pais Linhares, que
já atuava em 1649. Porém, documentos da época indicam que ele foi considerado como inca-
pacitado para o cargo pelo vigário e Manuel Vieira de Barros assumiu o cargo em 1657.
Há indícios do interesse pela música religiosa polifônica crescente a partir de 1650, es-
pecialmente, em Santana de Parnaíba.
Em 1680, Manuel Lopes de Siqueira assumiu o cargo de mestre de capela com provisão.
Como você viu anteriormente, a formação de novos músicos era uma das funções do mestre
de capela, e Manuel Lopes de Siqueira tornou-se o fundador da primeira escola de música de
São Paulo. Ele era considerado um grande professor e tornou-se mestre de muitos músicos
deste período como: Francisco da Cunha, José Ribeiro de Siqueira, Ângelo de Siqueira, Antônio
Nunes de Siqueira, João de Moura, Antônio Álvares da Rocha, Pascual Mendes, Estanislau de
Moraes e Luiz Domingues.
Os filhos de Manuel Lopes Siqueira exerceram a função de mestres de capelas até 1733.
Seu filho, Padre Ângelo de Siqueira, foi uma das mais importantes personalidades religiosas do
Brasil e também mestre de capela.
A partir de 1670, esta prática musical polifônica mais consistente começou a ocorrer
com o trabalho musical dos mestres de capelas João de Lima e Agostinho de Santa Mônica
(1633-1713). Assim, as características estilísticas da produção musical, recém-saídas do canto-
chão, rapidamente incorporaram características barrocas (CASTANHA, 2010).
O padre João de Lima era pernambucano e foi responsável por iniciar os ensinamentos
da “teoria da arte dos sons” para os músicos na Bahia, com objetivo de sustentar a prática da
música polifônica. Foi um grande professor de canto e composição da catedral da Bahia e de
Olinda.
O Frei português Agostinho de Santa Mônica chegou ao Brasil na década de 1680 e ocu-
pou o mestrado na Sé de Salvador. Ele representa o auge da música polifônica nesta capela.
São atribuídas a Santa Mônica mais de quarenta missas, sendo algumas policorais.
Para conhecer melhor a música colonial do final do século 17 e início do século 18, assista ao vídeo indicado a
seguir:
• CEPEC. História da Música No Brasil. Capítulo 2: A música setecentista no Brasil. Disponível em: <https://
youtu.be/MXD_BVH0ae4?list=UUAoHqkbrCcVmXK2QhTzuiDw>. Acesso em: 22 jun. 2015.
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Figura 25 Arte barroca: Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, Rio de Janeiro.
música dos compositores desse período transitava entre o estilo do barroco tardio e os traços
do classicismo.
Destacam-se como exemplo disso as obras dos compositores José Joaquim Emerico Lobo
de Mesquita e Manuel Dias de Oliveira.
Bajulans–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A seguir, ouça Bajulans, de Manuel Dias de Oliveira, para aprofundar seus conhecimentos.
• OLIVEIRA, M. D. Bajulans. Disponível em: <https://youtu.be/crWmiHpZ6Yk>. Acesso em: 22 jun. 2015.
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José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita nasceu em Serro do Príncipe e trabalhou em
Diamantina, Ouro Preto e também no Rio de Janeiro. Foi considerado o principal composi-
tor de sua geração (MARIZ, 2012). Suas composições apresentam traços do estilo barroco,
especialmente, nas formas orquestrais, e também há um grande lirismo oriundo dos estilos
clássicos.
Compôs mais de trezentas obras, das quais se destacam Antífonas de Nossa Senhora
(1787), Te Deum, Ladainha e a Missa em si bemol (1790).
A Antífona de Nossa Senhora (Salve Regina) é considerada por muitos como a sua mais
bela criação. Foi composta no auge da música em Minas Gerais.
A seguir, ouça a obra Antífona de Nossa Senhora (1787) de José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, para
aprofundar seus conhecimentos.
• MESQUITA, E. L. M. Antiphona de Nossa Senhora (Salve Regina). Disponível em: <https://youtu.be/
PolNCZfuIjE>. Acesso em: 22 jun. 2015.
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A cobrança para que se fizesse uma música nova atingiu o auge nas três primeiras déca-
das do século 19. Neste período, os compositores passaram a incorporar em suas músicas ele-
mentos da ópera italiana, como os virtuosismos. Entre os compositores que utilizaram o estilo
operístico italiano destaca-se João de Deus de Castro Lobo (Vila Rica, 1794 – Mariana, 1832).
Dica:
Para saber mais sobre a música colonial de Minas Gerais, assista ao vídeo indicado a seguir:
CEPEC. História da Música No Brasil. Capítulo 3: A música no período áureo de Minas Gerais. Dis-
ponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=BEYAT3FGaIw&index=4&list=UUAoHqkbrCcVmXK
2QhTzuiDw>. Acesso em: 22 jun. 2015.
Entre os papeis encontrados em Moji das Cruzes havia uma parte de rabeca de uma la-
dainha de Nossa Senhora. Anos após a descoberta desses papeis, o historiador Isaac Grinberg
localizou, entre as páginas de uma antiga bíblia, partes vocais de uma peça coral. Essas partes
foram enviadas ao musicólogo Régis Duprat, que as identificou como partes da Ladainha de
Nossa Senhora, pois elas completavam a parte de rabeca existente no primeiro conjunto das
peças do Grupo de Mogi (MACHADO NETO, 2004).
A seguir, ouça um trecho da Ladainha de Nossa Senhora, de Faustino Xavier do Prado, para aprofundar seus
conhecimentos.
• PRADO, F. X. Ladainha de Nossa Senhora. Disponível em: <https://youtu.be/kMQQwNm1zKo>. Acesso
em: 22 jun. 2015.
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A música em São Paulo sofreu uma grande transformação na segunda metade do século
18, graças à criação do bispado em 1745.
A chegada do bispo Bernardo Nogueira e do músico Antônio Lopes de Figueiredo da es-
cola patriarcal de Lisboa, para trabalharem no coro, significou um grande avanço para a música
paulista. Um outro importante compositor deste período foi André da Silva Gomes.
André da Silva Gomes nasceu em Lisboa, em 1752, e faleceu em São Paulo, em 1844.
Chegou a São Paulo em 1774, para ocupar o cargo de mestre de capela da Sé.
Seu estilo de composição alternava características da música antiga (barroca) com tra-
ços estilísticos clássicos, e sua obra era, basicamente, vocal e religiosa. Utilizava polifonia, ao
contrário dos compositores mineiros, sendo que em algumas obras era possível encontrar a
utilização da polifonia imitativa.
Missa a oito vozes–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
De Gomes são conhecidas 137 composições; entre elas, dezesseis missas, duas paixões,
treze ofertórios.
A seguir, ouça a cantata Herói, egrégio, douto, peregrino, para aprofundar seus conhecimentos:
• ANÔNIMO DA BAHIA (1759). Cantata Herói, Egrégio, Douto, Peregrino. Disponível em: <https://youtu.be/
DAr9GS9V05k>. Acesso em: 22 jun. 2015.
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Alguns músicos conhecidos deste período, na Bahia, são: Mauro das Chagas, Francisco
da Gama, Joaquim de Jesus Maria, Alberto da Conceição, Manuel de Jesus Maria (1777-1798)
e José de Jesus Maria São Paio (1721-1810), dentre representantes da música sacra. Existiram,
também, Gregório de Matos (1633-1696), seu irmão e compositor religioso Eusébio de Matos
(1629-1692), o compositor português Antão de Santo Elias (1680-1748) e o organista Nicolau
de Miranda (1661-1745). Em Pernambuco, os representantes foram Manoel da Cunha (1650-
1734) e Inácio Ribeiro Noia (1688-1773).
Em 1808, o Rio de Janeiro passou a ser a capital do país para receber a família real, que
fugia de Portugal temendo o exército francês. Ao chegar ao Brasil, o Príncipe Regente D. João
criou a Capela Real, para a qual José Maurício foi transferido.
José Maurício permaneceu no cargo até a chegada do compositor português Marcos
Portugal (Lisboa, 1762 – Rio, 1830) em 1811.
No período em que a família real esteve no Brasil, houve um grande florescimento das
artes. Isso ocorreu em função do número de nobres portugueses que chegaram ao país e que
buscavam manter o mesmo nível cultural que tinham em Portugal.
A demanda musical aumentou, o que atraiu músicos de várias regiões do Brasil e tam-
bém do exterior para o Rio de Janeiro. A exigência em relação à qualidade musical também
se tornou maior. Os compositores passaram a compor, inclusive, gêneros pouco praticados no
Brasil até então, como a ópera e a música instrumental.
Neste mesmo período, viram-se crescer as casas de espetáculo. Também foi construído
o Real Teatro de São João para a execução de óperas de Antônio Salieri, Vincenzo Puccitta,
Marcos Portugal e Ferdinando Paer. A música com a função de entretenimento ganhava cada
vez mais espaço.
Já no século 19, as modinhas e lundus consagravam-se nos salões brasileiros. Essas can-
ções eram cantadas em português e acompanhadas pela viola ou violão.
A seguir, ouça a modinha Por que me dizes chorando, de Joaquim Manoel da Câmara, para aprofundar seus
conhecimentos.
• CAMARA, J. M. Por que me dizes chorando – Brazilian Modinhas from the early XIX century. Disponível em:
<https://youtu.be/WZTltGGOEK8>. Acesso em: 22 de jun. 2015.
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As cantatas e oratórios são formas de música vocal que, no Barroco, foram praticadas no
âmbito da música religiosa. Um tipo específico de oratório, chamado de paixão, também foi
muito praticado. Destacam-se, nesse período e nessas formas, as cantatas e paixões de Johann
Sebastian Bach.
• FERNANDES, J.; KAYAMA, A. A sonoridade vocal e a prática coral no Barroco: subisídios
para a performance barroca nos dias atuais. Per musi – Revista Acadêmica de Música,
Belo Horizonte, 2008, n.18, p.59-68, jul.-dez. Disponível em: <http://www.musica.
ufmg.br/permusi/port/numeros/18/num18_cap_07.pdf>. Acesso em: 23 jun. 2015.
• JANK, H. ...E Chorou Amargamente... Figuras retórico-musicais e a expressão
de extremo pesar, na “Johannes-Passion” de J. S. Bach. In: XVII CONGRESSO DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO, 2007, São Paulo. Anais
eletrônicos... São Paulo: ANPPOM, 2007, v. 1, p. 1-11. Disponível em: <http://www.
anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/musicologia/musicol_HJank.
pdf>. Acesso em: 23 jun. 2015.
• SALTARELLI, T. C. V. L. A Paixão Segundo São João: uma retórica intermidiática. Aletria:
Revista de Estudos de Literatura, online, 2006. v. 14, n. 1 , p. 334-346. Disponível
em: <http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1378/1474>.
Acesso em: 24 jun. 2015.
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desem-
penho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os
conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.
2) Qual dos elementos, a seguir, foi introduzido na ópera por Jean-Baptiste Lully:
a) Recitativo.
b) Recitativo Secco.
c) Fuga.
d) Ouverture.
e) Ária.
3) O Recitativo foi uma invenção do período Barroco introduzido pela primeira vez em uma ópera, provavelmen-
te, por Jacopo Peri. Qual das alternativas a seguir não descreve uma característica do recitativo?
a) Era acompanhado por um contínuo.
b) Possuía uma rítmica que imitava o ritmo da fala declamatória.
c) Era baseado nos ritmos de danças renascentistas.
d) Poderia ser usado em trechos de diálogos no decorrer de uma ópera.
4) Qual das alternativas, a seguir, correspondem às danças que fazem parte do padrão clássico estabelecido para
as suítes no período barroco?
a) Villanela, courante, rondeaux e sarabande.
b) Allemande, courante, sarabande e gigue.
c) Gigue, courante, chaconne e valsa.
d) Lied, sarabande, courante, allemande.
e) Toccata, sarabande, courante, allemande.
6) Sobre a produção de música profissional no Brasil colonial, até meados do século 18, assinale a alternativa
incorreta:
a) Possui uma escassez de documentação, embora se saiba das atividades musicais na Bahia, Pernambuco,
Maranhão, Minas Gerais e São Paulo.
b) Os compositores locais de origem portuguesa se preocuparam, desde o início, em criar uma identidade
nacional baseada na miscigenação das músicas indígena, africana e portuguesa.
c) Nos serviços religiosos foram usados o cantochão e a polifonia baseada no estilo antigo.
d) Desenvolveu-se, mais amplamente, de acordo com os ciclos econômicos, como as capitais do Nordeste da
cana-de-açucar e o ciclo do ouro em Minas Gerais;
e) A música foi utilizada como elemento de cristianização pelos jesuítas.
Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:
1) b, a, b, b, a, b, a.
2) d.
3) c.
4) b.
5) d.
6) b.
5. CONSIDERAÇÕES
Este foi o panorama de estudo sobre a música barroca e sobre a música colonial bra-
sileira. Nele, você viu as mudanças que o Barroco trouxe à prática musical ocidental. Neste
universo, é possível perceber a formação do imaginário a respeito dos compositores e de suas
práticas musicais formadoras da atual tradição de concerto.
Você estudou, também, um pouco sobre a música realizada no período colonial brasi-
leiro, observando os problemas existentes na definição de um estilo único e autêntico. Outro
problema importante sobre a música deste período é a escassez de fontes e documentação de
certos tipos de produção musical.
Assim, pôde perceber que a história da música europeia, brasileira ou universal, não é
uma narrativa simples e bem definida sobre os estilos de época, seus gêneros, formas, hábitos
e práticas culturais.
Esperamos que, por meio deste estudo, você tenha compreendido os principais concei-
tos referentes aos períodos abordados e que tenha criado uma familiaridade com a música
de cada época. Esse entendimento é fundamental para a continuação dos estudos futuros de
história da música e para a sua formação como educador musical.
6. E-REFERÊNCIAS
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Figura 3 La rappresentatione di anima et di corpo, de Emilio Cavalieri. Disponível em: <http://www.di-arezzo.co.uk/multimedia/
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Figura 4 Jacopo Peri encarnando a personagem do cantor lendário Arion no quinto intermédio de 1589. Disponível em:
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Figura 5 Recitativo Uccimi Dolore de Jacopo Peri. Disponível em: <http://imslp.org/wiki/File:PMLP86592-Peri_Uccidimi_
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Figura 7 Madrigal Cruda Amarilli de Claudio Monteverdi, compassos 12-14. Disponível em: <http://imslp.org/wiki/Cruda_
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Figura 8 Cenário concebido por Ludovico Burnacini para a sumptuosa estreia de Il pomo d’oro, de Antonio Cesti, na corte
de Habsburgos, em Viena. Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-CEZcaN4Audc/TuTjaSoxuKI/AAAAAAAAABU/
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Figura 25 Arte barroca: Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, Rio de Janeiro. Disponível em: <http://
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Figura 28 Manuscrito da Ladainha de Nossa Senhora. Disponível em: <http://www.academia.edu/2921520/O_estilo_
moderno_no_barroco_paulista_a_Ladainha_de_Nossa_Senhora_de_Faustino_Xavier_do_Prado>. Acesso em: 22 jun. 2015.
Figura 29 Manuscrito de Cantata Acadêmica Heroe, egregio, douto peregrino. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/
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