O documento faz uma revisão da literatura sobre o transtorno dismórfico corporal (TDC). Discute a definição do TDC no DSM e possibilidades de categorizá-lo como uma forma de transtorno obsessivo compulsivo. Também aborda a importância de entender as variáveis ambientais relacionadas ao TDC para desenvolver tratamentos eficazes. Revisa dois estudos anteriores sobre TDC, discutindo achados sobre critérios diagnósticos, relação com psicose, cognição e diferentes formas de tratamento.
O documento faz uma revisão da literatura sobre o transtorno dismórfico corporal (TDC). Discute a definição do TDC no DSM e possibilidades de categorizá-lo como uma forma de transtorno obsessivo compulsivo. Também aborda a importância de entender as variáveis ambientais relacionadas ao TDC para desenvolver tratamentos eficazes. Revisa dois estudos anteriores sobre TDC, discutindo achados sobre critérios diagnósticos, relação com psicose, cognição e diferentes formas de tratamento.
O documento faz uma revisão da literatura sobre o transtorno dismórfico corporal (TDC). Discute a definição do TDC no DSM e possibilidades de categorizá-lo como uma forma de transtorno obsessivo compulsivo. Também aborda a importância de entender as variáveis ambientais relacionadas ao TDC para desenvolver tratamentos eficazes. Revisa dois estudos anteriores sobre TDC, discutindo achados sobre critérios diagnósticos, relação com psicose, cognição e diferentes formas de tratamento.
O documento faz uma revisão da literatura sobre o transtorno dismórfico corporal (TDC). Discute a definição do TDC no DSM e possibilidades de categorizá-lo como uma forma de transtorno obsessivo compulsivo. Também aborda a importância de entender as variáveis ambientais relacionadas ao TDC para desenvolver tratamentos eficazes. Revisa dois estudos anteriores sobre TDC, discutindo achados sobre critérios diagnósticos, relação com psicose, cognição e diferentes formas de tratamento.
Roberta Daroz ; Vanessa Fernandes ; Alessandra Turini II II
Bolsoni-SilvaII
IInstituto de Análise do Comportamento - Bauru, SP - Brasil
IIUnesp - Bauru, SP - Brasil
O transtorno dismórfico corporal (TDC) é descrito pelo DSM-IV-TR
(Manual Diagnóstico e Estatístico) como um transtorno que envolve sintomas de preocupação excessiva em relação a um defeito mínimo ou imaginário na aparência e que traz prejuízos na vida social, ocupacional ou em outras áreas importantes para o indivíduo (B. J. Sadock & V. A. Sadock, 2007).
Apesar de essa ser a definição oficial desse transtorno, vários autores
(Amâncio et al., 2002; Phillips, McElory, Hudson & Pope,1995; Rauch et al., 2003; Torres, Ferrão & Miguel, 2005) discutem a possibilidade de categorizá-lo como uma forma de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), já que ambos os transtornos compartilham algumas características, entre elas: curso crônico e flutuante, pensamentos desagradáveis e indesejados, comportamentos compulsivos e repetitivos, sentimentos de vergonha, baixa autoestima e, em casos mais graves, isolamento social e total incapacidade funcional. Segundo Torres et al. (2005), a vantagem em se agrupar o TDC como uma forma de TOC estaria na possibilidade de, a partir de uma categoria mais geral de transtorno psiquiátrico, descobrir quais são os genes envolvidos na sua etiologia e quais abordagens terapêuticas seriam mais adequadas.
Por outro lado, outros autores sinalizam que o avanço da forma de
tratamento do TDC, como de outros transtornos psiquiátricos, não estaria exclusivamente na descrição de sua topografia (aqui exemplificada pelos critérios diagnósticos do TDC), mas na identificação das variáveis ambientais que manteriam os comportamentos característicos do transtorno (Abreu & Cardoso, 2008; Cavalcante & Tourinho, 1998).
Considerando as duas tendências na literatura (topografia e
funcionalidade), acredita-se possível avaliar ambos os aspectos, pois os manuais diagnósticos trazem informações sobre características gerais do transtorno permitindo uniformizar e ter interlocução com outros profissionais, sobretudo com os da psiquiatria. Adicionalmente, entender as variáveis ambientais relacionadas ao TDC é útil para entender a sua funcionalidade, aumentando as chances de um tratamento eficaz.
A relação entre variáveis ambientais e respostas comportamentais é
descrita pela análise do comportamento como análise de contingências. Segundo Meyer (2008), analisar as contingências implica em identificar e descrever condições ambientais antecedentes e consequentes ao comportamento de interesse. A autora aponta que os principais focos para a realização de uma análise de contingências são: identificar o comportamento alvo e suas propriedades, tais como frequência e duração, e identificar as relações entre as variáveis ambientais e o comportamento, ou seja, observar a ocasião em que a resposta ocorre e quais as consequências reforçadoras que mantêm essa resposta, ainda que os padrões comportamentais também tragam punições, para em seguida propor uma intervenção.
Moriyama e Amaral (2007) realizaram uma pesquisa com sete
participantes diagnosticados com TDC e tiveram o objetivo de investigar comportamentos envolvidos nesse transtorno e suas contingências de desenvolvimento e manutenção. Nos resultados, as autoras encontraram comportamentos depressivos, obsessivos, compulsivos e delirantes; de esquiva social; checagem no espelho e rituais de camuflagem. Em relação às histórias de vida dos participantes, identificou-se: educação coercitiva, grande valorização da beleza, reduzidas interações sociais, acidentes ocorridos, comentários sobre parte do corpo e cirurgias. Segundo as autoras, os comportamentos dos sujeitos eram reforçados negativamente, porque evitavam a exposição aos outros e críticas. Alguns comportamentos foram descritos por meio da esquiva experiencial, pois tinham a função de evitar o contato com experiências privadas aversivas, trazendo grandes prejuízos nas áreas social, ocupacional e familiar. Cabe ressaltar que entre as discussões levantadas pelas autoras, encontra-se a escassez de bibliografia que procura analisar as contingências envolvidas no transtorno em questão.
Além do número reduzido de publicações sobre TDC e análise de
contingências, diversos outros aspectos desse transtorno demandam pesquisas futuras, como: critérios diagnósticos (Amâncio et al., 2002; Phillips et al., 1995; Torres et al., 2005), a dismorfia muscular como um subtipo de TDC (Sardinha, Oliveira & Araújo, 2008), procedimentos de diagnóstico (Battini, Soares & Zakir, 2008) e formas de tratamento (Neziroglu & Yaryura-Tobias, 1997).
Considerando a necessidade de pesquisas futuras sobre TDC, um
primeiro passo necessário para a ampliação dessa área de conhecimento é a realização de estudos de revisão. Um levantamento bibliográfico nas bases de dados "Ovid" e "Francis", em publicações ocorridas entre os anos de 1980 e 2006, indicaram dois artigos de revisão sobre TDC, o de Neziroglu e Yaryura-Tobias (1997) e o de Castle e Russel (2006).
Neziroglu e Yaryura-Tobias (1997) investigaram os tratamentos
empregados para casos de TDC, especificamente os farmacológicos e cognitivo-comportamentais. Os autores não especificaram as bases de dados consultadas e o período da pesquisa, no entanto, descreveram artigos entre as datas de 1945 e 1997 (data de publicação do artigo em questão). Após a realização da pesquisa, os autores encontraram sete estudos sobre terapia cognitivo- comportamental, sendo que todos demonstraram a melhora dos clientes diagnosticados com TDC. Dois desses trabalhos se referiram a pesquisas com sujeito único: em um dos artigos, utilizou-se relaxamento e dessensibilização sistemática e no outro treino em habilidades sociais. Outros três artigos relataram o uso da técnica de exposição com prevenção de respostas: um desses trabalhos não mencionou o número de sujeitos, e os outros dois descreveram o comportamento de cinco participantes. Outros dois estudos se referiram à aplicação da terapia cognitiva: o primeiro, com 17 participantes que foram expostos exclusivamente à terapia cognitiva e o segundo, no qual 13 participantes foram expostos concomitantemente à terapia psicológica e farmacológica.
Quanto aos tratamentos farmacológicos, os autores descreveram
quatro estudos com sujeitos diagnosticados com TDC: a) trabalho que avaliou a resposta de 30 sujeitos após exposição à psicoterapia e tratamento medicamentoso, em que os resultados indicaram, no geral, uma resposta pobre a neurolépticos e uma boa resposta a fluoxetina e clomipramina, porém, sendo difícil atribuir se os resultados se deviam à terapia medicamentosa, psicológica ou combinação de ambas, já que todos os sujeitos foram expostos às duas modalidades concomitantemente; b) estudo que não isolou a variável "famacoterapia", ou seja, os pesquisadores avaliaram o padrão de TDC de 13 pacientes que foram expostos à clomipramina, pimozide, fluoxetina e litium e, apesar de observarem melhora, não puderam atribuí-la exclusivamente às medicações mencionadas, pois os sujeitos também receberam terapia comportamental; c) pesquisa comparou o uso de fluoxetina e clomipramina (isoladamente e em conjunto) por cinco sujeitos e os resultados demonstraram melhora nas duas condições; d) estudo de caso no qual um cliente demonstrou melhora no quadro de TDC após uso de tranylcypromine.
Além destes resultados mencionados, os autores ressaltaram as
seguintes conclusões: 1) o TDC é uma condição mental que deve ser reconhecida e tratada por psicólogos e psiquiatras, 2) Clínicos precisam se familiarizar com os sintomas do transtorno a fim de identificarem pessoas que apresentam TDC e encaminhá-las para os especialistas, 3) Importância de se perguntar para os clientes nas consultas sobre a sua percepção a respeito do seu corpo, 4) Os efeitos das intervenções dermatológicas e cirúrgicas são incertos, mas os tratamentos psiquiátricos e cognitivo-comportamentais são promissores.
Castle e Russel (2006) fizeram um estudo referente às pesquisas
publicadas sobre TDC nos 12 meses anteriores à publicação e os autores também não especificaram as bases de dados consultadas. Segundo os autores, os artigos identificados centravam-se principalmente em quatro categorias sobre TDC: 1) Diagnóstico e classificação, 2) Transtorno Dismórfico Corporal e Psicose, 3) Transtorno Dismórfico Corporal e Cognição e 4) Tratamento.
Em relação à classificação do TDC, a pesquisa de Castle e Russel
(2006) identificou que alguns autores (Mayou, Kirmayer & Simon, 2005; Phillips & Castle, 2002) sugerem que o TDC deva ser agrupado com transtornos obsessivos compulsivos. No entanto, tais autores sugerem que poucos estudos compararam pacientes com TOC e TDC e citam um artigo (Frare, Perugi, Ruffulo & Toni, 2005) que sinaliza diferenças importantes entre pacientes dos dois grupos, por exemplo: pessoas com TOC tem menores níveis de comorbidade ao serem comparadas a pessoas com TDC.
Quanto à relação entre TDC e psicose, Castle e Russel (2006)
descreveram um estudo (Phillips, 2005) que comparou como pacientes com TDC com e sem aspectos psicóticos respondiam ao tratamento com antipsicóticos e ansiolíticos e observaram que os sujeitos demonstraram uma melhora considerável com o uso de ansiolítico, resultado que foi interpretado pelos pesquisadores como uma evidência de que o TDC não precisa ser separado entre as categorias com e sem aspectos psicóticos, mas deve ser visto dentro de um contínuo (ou seja, a distorção da imagem corporal varia de um nível mais leve e mais sensível ao teste de realidade até um nível mais grave e insensível às evidencias ambientais).
Quanto à terceira questão discutida, a relação entre TDC e aspectos
cognitivos, Castle e Russel (2006) sinalizaram que existem poucos estudos sobre essa temática. Segundo os autores, as publicações existentes indicam que os portadores de TDC apresentam vários déficits cognitivos, entre eles: funções executivas, memória e cognição social.
Quanto ao tratamento de TDC, os autores mencionaram que existe
uma escassez de ensaios clínicos sobre as diferenças entre intervenções medicamentosas e psicoterápicas, mas que parece razoável concluir que a terapia comportamental ou cognitivo- comportamental são as abordagens de preferência e que os ansiolíticos são a primeira linha na intervenção farmacológica e o uso de antipsicóticos ainda permanece incerto.
A partir das descrições das pesquisas acima, constata-se que foram
abordados temas importantes como formas de tratamento e relação entre TDC e psicose, mas não especificaram algumas informações, como: quais bases de dados foram consultadas ao realizar o estudo de revisão, os critérios de inclusão e exclusão dos artigos, se os mesmos foram usados em sua totalidade ou apenas os seus resumos, o procedimento de coleta e tratamento dos dados e no caso de um dos artigos, qual foi o período pesquisado. A ausência dessas informações coloca em questionamento a extensão dos resultados obtidos, ou seja: as conclusões dos autores se pautam em pesquisas de um grupo específico ou toda a produção sobre TDC?
A lacuna mencionada acima sinaliza a necessidade de pesquisas de
revisão sobre essa temática. Moreira (2004) define tais pesquisas como
estudos que analisam a produção bibliográfica em determinada área
temática, dentro de um recorte de tempo, fornecendo uma visão geral ou relatório do estado da arte sobre um tópico específico, evidenciando novas idéias, métodos, subtemas que têm recebido maior ou menor ênfase na literatura selecionada. (p. 191)
Moreira (2004) aponta diversas questões de importância para se
realizar um estudo de revisão, dentre elas estão as funções histórica (faz parte integral do desenvolvimento da ciência) e de atualização (fornece aos profissionais informações sobre o desenvolvimento corrente da ciência e sua literatura).
A necessidade de estudos de revisão sobre TDC também pode ser
justificada pelos argumentos de diferentes autores sobre a escassez de pesquisas sobre essa temática. Amâncio et al. (2002) e Torres et al. (2005) ressaltam que, apesar de bem descrito há mais de uma centena de anos e de causar muito sofrimento, o TDC ainda recebe pouca atenção na rede assistencial e na literatura.
Os artigos descritos até o momento sinalizaram algumas lacunas do
conhecimento em relação ao TDC, as quais podem ser sintetizadas da seguinte forma:
• Ausência de uma caracterização mais ampla da produção nacional e
estrangeira sobre o tema, ou seja, quais são as bases de dados consultadas, número de autores dos artigos, os tipos de delineamentos das pesquisas (se experimentais, quase experimentais ou não experimentais), as estratégias de coleta e análise de dados, dentre outras informações, das pesquisas sobre o tema;
• Informação insuficiente sobre a ênfase explicativa dada ao
fenômeno: o TDC é explicado apenas por meio da sua topografia e/ou também pela sua funcionalidade;
• Os artigos exploraram pouco quais são as formas de tratamento
mencionadas na literatura como mais efetivas.
Devido à ausência de algumas informações importantes nos artigos
mencionados acima, a escassez de estudos de revisão identificados na literatura e a sugestão de vários autores sobre a necessidade em se ampliar o número de estudos sobre TDC, a presente pesquisa teve o objetivo de revisar artigos publicados entre os anos de 1980 e 2008 por meio de consulta às bases de dados Lilacs, Francis, Scielo, Psychinfo e Ovid e discutir sobre as lacunas do conhecimento acima mencionadas.