Visigodos
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Sergio Feldman
Universidade Federal do Espírito Santo
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All content following this page was uploaded by Sergio Feldman on 17 January 2017.
Abstract: The article reflects on the construction of the concept of visigoth nobility
by the Iberian clergy especially by the bishop Isidoro de Seville and the association of
the visigoth to the Christian identity, to the nobility and the monarchy. It describes the
transformation of the concepts of civilization and barbarism, the latter associated initially
with all the Germanic people, and the gradual change of the image of the Visigoths, who
become defenders of the faith, nobles and pillar of the Hispanic Christian identity.
Keywords: Visigoths; Nobility; Isidore of Seville.
*
Recebido em 13 de outubro de 2016 e aprovado para publicação em 25 de novembro de 2016.
**
Professor associado II vinculado ao Departamento de História da UFES e membro
do Programa de Pós-Graduação em História Social das Relações Políticas (PPGHIS),
orientador de mestrado e doutorado. Graduado pela Universidade de Tel Aviv (Israel),
mestre pela Universidade de São Paulo (USP), e doutor pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Estágios pós doutorais no CSIC (Madrid/Espanha), no EHESS (Paris/França) e na
Universidade Hebraica de Jerusalém (Israel).
UFES – Programa de Pós-Graduação em História 39
1
Em nossa percepção não se trata de invasões bárbaras e sim migrações de povos, na sua
maioria de origem germânica. E tampouco concordamos com a adjetivação utilizada, por
isso usamos algumas vezes aspas simples, mesmo se em termo acadêmicos isto não seja
recomendado.
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Há pesquisas refinadas sobre o tema das resistências do paganismo no seio do campesinato.
No Brasil recomendamos Ruy de Oliveira Andrade, Ronaldo Amaral, Mario Jorge Motta
Bastos e Renan Frighetto entre vários outros qualificados.
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Norma Musco Mendes em sua obra Roma Republicana. São Paulo: Ática, 1988 nos conta
da breve ocupação da Roma republicana pelos gauleses, ocorrida em c. 390 a. C. (p. 19).
Numa soma simples (390 + 410 = 800 anos) teríamos oito séculos sem que algum exército
estrangeiro adentrasse as muralhas da cidade.
UFES – Programa de Pós-Graduação em História 43
Transitam pelo sul da Itália e acabam indo para o sul da Gália (França
atual). Fazem novamente um acordo de foedus com os romanos e participam da
batalha de Chalons (451) em que um exército romano composto por diversos
povos germânicos derrota Átila o rei dos hunos. Não tarda e os mesmos
visigodos consolidam a ocupação da região sudoeste da Gália tendo a cidade
de Toulouse, como sua capital fundando após 476 um reino independente.
4
O termo é passível de crítica, mas o adotaremos para diferenciá-lo das dissidências que
não sobreviverão.
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Os ostrogodos se limitaram em confiscar um terço (1/3) das terras da nobreza senatorial/
imperial romana; os visigodos dois terços (2/3); já os vândalos confiscaram todas as terras
integralmente (3/3).
UFES – Programa de Pós-Graduação em História 45
6
Prosper focused so much on the barbarism of the Vandals that his references to the
incursions of other peoples, specifically the Goths, seem perfunctory by comparison
7
Expressão também questionável na historiografia especializada. O título de imperador
seria basileu, um termo grego.
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Os francos tinham uma concepção de estado patrimonialista e dividiam o (s) reino(s)
entre herdeiros do monarca falecido. Para melhor entendimento veja o texto de ROUCHE
na coletânea ‘História da vida privada’.
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Afirma que foi Leovigildo o primeiro que se apresentou aos seus (visigodos) coberto
pela vestimenta real, afirmando que antes dele as roupas e o assento eram comuns entre
o primus inter pares (rei) e seus nobres: “[...] primusque inter suos regali veste opertus solio
resedit, nam ante eum et habitus et consenssus communis ut genti, ita et regibus erat”.
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Diz que: “[...] Isidore ne soit pas resté insensible au sens de la majesté royale dont
Liuvigild fit preuve”.
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Diz: “Ipse novarum plebium in ecclesia catholica conquisitor”.
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Diz: “Cui a Deo aeterna corona nisi vero orthodoxo Recaredo regi?”
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Diz: “Ipse mereatur veraciter apostolicum meritum qui apostolicum implevit officium [...]”.
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14
Nicéia sob Constantino, Constantinopla sob Teodósio I, Éfeso sob Teodósio II e
Calcedônia sob Marciano.
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Caso do historiador José Orlandis e de muitos outros que escrevem uma história
ideológica que constrói e estabelece o mito fundador e as origens de uma Espanha cristã
no terceiro concílio de Toledo (589).
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obra, tais como Jerônimo e Agostinho. Cita varias dezenas de autores, nas
suas obras, mas para o nosso foco histórico podemos salientar: Orósio,
Hidácio de Chaves, Próspero de Aquitânia, e João de Biclaro ou Biclarense.
Este último que também é um clérigo foi contemporâneo do momento
da aproximação entre a Monarquia e a Igreja católica. Presenciou as
transformações ocorridas no final do séc. VI, e as descreveu ainda sob uma
forte influência imperial (HILLGARTH, 1985. p. 268),16 ainda que não
assumisse uma postura desfavorável à nova conjugação de forças, que unia
agora a monarquia visigótica e a Igreja. Trata-se da fonte principal de IS.
Uma forte influência da presença da Providência divina na história.
O que se vê como tendência da historiografia cristã no período
tardo antigo é explicar os acontecimentos históricos como parte de um
enredo global, teleológico e universal que se insere na doutrina da sexta
era. A primeira vinda de Jesus seria a abertura da sexta era e a igreja aliada
ao império, inicialmente e depois aos reinos germânicos, posteriormente,
se coloca como a executora das condições deste empreendimento. A
evangelização seria necessária e fundamental como a via de acesso ao final
dos tempos e da consecução do plano divino.
O bispo franco Gregório de Tours enxerga em Clóvis o veículo inicial
desta articulação no reino franco. Os irmãos Leandro e Isidoro de Sevilha
o fazem ao nível da Hispânia visigótica. O hispalense (IS) escreve uma série
de obras entre as quais algumas têm caráter histórico e analisam os eventos a
partir de uma ótica religiosa e funcional na direção da escatologia. Biografias
reais começam a ter uma formatação que as aproxima de hagiografias. Os
bons reis são os que se aproximam da Igreja e são católicos; entre os reis
visigodos arianos há alguns que podem ser definidos com alguns adjetivos
favoráveis, mas a maioria é perversa.
16
Hillgarth nos diz que na sua ótica havia ainda uma forte aura de Bizâncio, como a
executora da Providência Divina, já que as conquistas de Justiniano, ainda não tinham se
perdido. Diz: “In John’s Chronicle Byzantium was still capable of converting to Christianity
and assimilating barbarians [...]”. E adiante enfatiza: “[…] the young John saw it as the
Eusebian vehicle of God’s action in this world”.
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Inicia seu reinado com a data da ascensão e a afirmação: “gloriosissimus Suinthila”.
18
Aonde declara: “[…] gratia divina regni suscepit sceptra”.
19
Isidoro declara sua grandiosidade e seu feito inédito de unir sob uma só coroa a Hispania:
“Postquam vero apicem fastigii regalis conscendit, urbes resíduas, quas in Spaniis Romana
manus agebat, proelio conserto obtinuit auctamque triumphi gloriam prae ceteris regibus
felicitate mirabili reportavit, totius Spaniae intra oceani fretum monarchiam regni primus
idem potitus, quod nulli retro principium est conlatum”.
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[…] basada en métodos retóricos, adopta la forma de un panegírico en el que se funden
lo genuino y lo artificioso.
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A profecia não exalta os godos, mas Isidoro trata de fazer sua leitura e adequá-la a seus
propósitos.
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Diz assim, na tradução española: “[...] cuando atacaron la ciudad, concedieron el indulto
de la muerte y del cautiverio a todos los que se refugieron en los lugares sagrados, y también
perdonaron con igual misericordia a los que se hallaban fuera de los templos martiriales y
pronunciaron el nombre de Cristo o de los santos”.
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Considerações finais
Referências
Documentação primária
Obras de apoio