Aula 08

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Aula 08

Conhecimentos Específicos p/ SEDF (Professor de História)


Professor: Naiane Comar
Aula 08: História do mundo Ocidental: convívios e confrontos
entre povos e culturas na Europa medieval.

SUMÁRIO PÁGINA
1. QUEDA DO IMPERÍO ROMANO 03
2. ALTA IDADE MÉDIA 07

3. BAIXA IDADE MÉDIA 23

4. LISTA DE QUESTÕES 29

5. QUESTÕES COMENTADAS 32
6. GABARITO 37
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38

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Nossa penúltima aula! Ufa. Falta pouco.

Como disse anteriormente, o Cespe tem focado nas


questões culturais. Hoje, na aula de medieval, iremos
falar sobre os conflitos entre povos e culturas durante
este período. Não iremos nos prolongar demais em temas
que fujam do assunto.

Entenderemos cultura como tudo aquilo que o homem


encontra fora da natureza ao nascer. Tudo que foi criado,
consciente e inconscientemente, para se relacionar com
outros homens (idiomas, instituições, normas), com o
meio físico (vestes, moradias, ferramentas), com o mundo
extra-humano (orações, rituais, símbolos). Esse
relacionamento tem caráter variado, podendo ser de
expressão de sentimentos (literatura, arte), de domínio
social (ideologias), de controle sobre a natureza
(técnicas), de busca de compreensão do universo
(filosofia, teologia). Obviamente, todas essas formas se
imbricam, se explicam, se reproduzem, se alteram.
Constituem um todo, uma globalidade, cada uma delas só
ganhando sentido em função das outras, em função do
conjunto. Cultura, portanto, é exatamente esse complexo,
e não uma ou outra de suas manifestações isoladamente.

(FRANCO JUNIOR)

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1. QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO

Se se considera o povo romano como um homem e se se


percorre toda a sua existência, teremos quatro momentos: seus
inícios, sua adolescência, sua maturidade e, por fim, sua
velhice. Sua primeira idade passou-se sob os reis e compreende
cerca de duzentos e cinquenta anos, durante os quais se lutou,
ao redor da cidade, contra seus vizinhos; esta foi sua infância. O
segundo período, do consulado de Brutus e de Colatino ao
consulado de Apio Cláudio e Quinto Fúlvio, durou duzentos e
cinquenta anos, durante os quais se submeteu a Itália. Foi a
época mais fértil em heróis e combates, sua adolescência.
Depois, até César Augusto, em duzentos anos pacificou-se todo
o mundo. Foi a idade adulta, de robusta maturidade. De César
Augusto até nosso tempo, em menos de duzentos anos, a
inércia dos Césares trouxe a decadência da velhice

(Floro, História Romana, introdução).

Entre 235 e 284, as fronteiras do Império foram muito expostas


e frequentemente atacadas. O enfraquecimento da capacidade de
resposta imperial, prejudicada pelas competições políticas e
militares, dificultava profundamente a defesa e, assim, favorecia
a acumulação de perigos, atestando que a ausência de unidade
do Império não seria incompatível – embora indubitavelmente
contraditória – com as solidariedades administrativas e militares
dos diferentes setores regionais. O Império de Roma se
contentara durante muito tempo com uma visão assimétrica do

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mundo. A potência romana, desejada pelos deuses, não tinha
grande coisa a temer de adversários sem unidade e
indisciplinados, considerados, em resumo, como totalmente
negligenciáveis. As populações mais próximas pareciam
destinadas, como sugeriu Estrabão, a uma integração
progressiva, possivelmente pacífica em razão da força de atração
da civilização romana tão superior. Vozes discordantes
praticamente não eram ouvidas. Tácito fez muito bem em chamar
atenção para o fato de que eram as divisões dos povos
germânicos que geravam a verdadeira tranquilidade de Roma,
mas sua advertência não foi levada mais a sério do que as outras.
Em um plano filosófico, o espetáculo de uma sociedade imperial
corrompida e destituída de alma nutria a nostalgia pelas virtudes
simples e fortes dos antepassados, perdidas pelos
contemporâneos, mas de que davam prova os “bárbaros”.
Contudo, a decadência testemunhava também os benefícios da
vida requintada e os esforços que o Império realizava
constantemente para o bem dos cidadãos e a vitória sobre o caos.
Não obstante, a “barbárie” nunca era definitivamente enterrada.
Ela apenas esperava para renascer dentro do seio do próprio
Império. Restabelecer a autoridade de Roma por todos os meios
possíveis parecia ser a única solução aceitável. (LE ROUX)

O cenário veio a se agravar com a crise do sistema escravista,


desencadeada pela ausência de novos territórios a serem
conquistados e que, por sua vez, garantiriam o fornecimento da
enorme força de trabalho que sustentava o Império. Com o
passar do tempo, a falta de escravos determinava um natural
processo de retração econômica, já que os proprietários de terra

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não poderiam arcar com a exploração de todas as terras
disponíveis para a atividade agrícola.

Uma vez instalada tal retração da economia romana, o Estado


sofria com a diminuição significativa na arrecadação de impostos
que lhe fornecia sustento. A falta desses recursos fazia com que
os enormes gastos destinados ao exército fossem sensivelmente
diminuídos. De modo direto, a imposição desse problema
financeiro enfraquecia os contingentes militares que realizavam a
proteção das fronteiras romanas, até então, já pressionadas com
o avanço dos povos bárbaros.

Enfraquecido, em 395, o Império Romano foi dividido em dois,


Império Romano do Ocidente e Império Romano do Oriente. Em
476, a cidade de Roma, capital do Ocidente, foi tomada pelos
hérulos (tribo germânica), que depuseram o último imperador
romano. O exército romano, vencido, não podia mais garantir a
lei e a segurança das pessoas. As populações que antes se
concentravam nas cidades foram buscar proteção no interior das
propriedades rurais. A medida que se estabeleciam em diferentes
pontos da Europa, os “bárbaros” fundaram reinos. Assim, o que
era um vasto território dominado por um imperador, tornou-se
uma imensa colcha de retalhos.

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Em uma palavra, pode dizer-se que, com o cristianismo de
Estado, estamos diante de uma nova civilização, diversa da
cultura clássica. Politicamente, o Império Romano continuou a
existir até o século V (no Ocidente e até o século XV no Oriente,
com o Império Bizantino). Durante a Idade Média, houve diversos
estados que se chamaram romanos, mas o mundo já era
completamente outro. Embora o cristianismo tenha surgido no
quadro cultural do mundo clássico, sua adoção como religião pelo
Estado romano criava as bases de um modo de pensar e de viver
que diferia, era pura raiz, dos princípios da cultura greco-latina.
Deus passou a ser único e não havia mais espaço para a
diversidade de cultos, crenças e costumes, que deviam estar sob
o controle da Igreja. (FUNARI)

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“O erro, aliás, seria pesado, se tratássemos a «civilização
feudal» como se constituísse, no tempo, um bloco de uma só
peça. Encontramos uma série de transformações muito
profundas e muito gerais, pelos meados do século XI,
provocadas, sem dúvida, ou tornadas possíveis pelo cessar das
últimas invasões, mas, na própria medida em que elas eram o
resultado deste importante facto, dele atrasadas algumas
gerações. Não era um ponto de quebra, evidentemente, mas
uma alteração de orientação a qual, apesar das inevitáveis
modificações, segundo os países ou os fenómenos considerados,
atingiu sucessivamente quase todas as curvas da atividade
social. Numa palavra, houve duas idades «feudais» sucessivas,
de características muito diferentes. ” (BLOCH)

2. ALTA IDADE MÉDIA

 Os Bárbaros

A identidade romana, o populus romanus, era constitucional,


criada de forma interna, baseando-se em uma cultura e tradição
intelectual comuns, em um sistema legal e uma predisposição
para integrar a uma mesma tradição política e econômica. Assim

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sendo, não havia uma etnia romana, por mais que houvesse
características que os tornassem semelhantes. Os bárbaros, de
outra forma, eram uma categoria inventada, frutos de uma longa
tradição etnográfica e discursiva do mundo clássico, e, por mais
que os romanos dessem grande ênfase às diferenças entre estes
dois grupos, uma categoria não necessariamente excluía a outra;
um indivíduo poderia ser romano e bárbaro ao mesmo tempo
(GEARY, 2005: 81).

Em síntese, os romanos chamavam de bárbaros a todos os povos


não romanizados, tendo herdado esse olhar etnocêntrico dos
gregos, que por sua vez consideravam bárbaros todos os povos
não helenizados, inclusive os romanos, conforme nos mostra
Montaigne, ao relatar a impressão de Pirro, rei da região grega
de Épiro, ao entrar na Itália e se deparar com a formação de
combate do exército romano: “Não sei que espécie de bárbaros
são estes, mas a formação de combate, que os vejo realizar, nada
tem de bárbaro” (MONTAIGNE, 1972, p. 104).

Pode-se dividir os povos bárbaros em quatro grandes grupos: os


eslavos, russos, poloneses, croatas, bósnios, sérvios, tchecos,
entre outros; os tártaro mongóis, formados por hunos, alanos,
ávaros, turcos e, finalmente, os gauleses e os germânicos, os
mais expressivos sob o ponto de vista da formação da cultura
ocidental.

De forma geral, os bárbaros não vivenciaram a noção de Estado


e de cidade como o povo romano. Moravam em pequenas aldeias,
com casas construídas longe umas das outras, de forma a se
prevenirem contra incêndios. As construções, bastante toscas,
eram feitas com os materiais disponíveis na região em que se

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encontravam, podendo ser madeira ou pedra. Cobriam nas com
palha ou pele animal e passavam barro nas paredes como forma
de proteção contra o vento ou chuva. O primeiro núcleo social era
a família, depois vinham os clãs, formados pela união de várias
famílias ligadas pelo parentesco e, por fim as tribos, compostas
pela junção de vários clãs, uma divisão análoga às sociedades da
antiguidade clássica. As diferentes tribos gozavam de
independência administrativa, cada uma com o seu chefe, que
não estava subordinado aos chefes de outras tribos, a não ser em
tempos de guerra, quando um chefe era nomeado para comandar
todas as tribos.

O espírito comunitário e cooperativista era mais desenvolvido


entre os bárbaros do que entre os romanos. Aqueles
desconheciam a propriedade privada, com exceção dos rebanhos.
As terras eram distribuídas pelos chefes aos membros da tribo de
forma que não houvesse concentração agrária. As terras eram
utilizadas de forma coletiva, tanto para o cultivo quanto para o
pastoreio.

 O Reino dos Francos

Sob a liderança de Clóvis, os francos ocuparam a área que hoje


corresponde ao território da França. Clóvis converteu-se ao
cristianismo e para estruturar o Reino Merovíngio, o recorreu à
organização administrativa, às leis e ás instituições herdadas dos
romanos. Adicionaram a isso elementos tipicamente germânicos,
como os laços de lealdade pessoal entre soberanos e súditos.

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O reinado de Carlos Magno durou de 768 a 814 e nessa fase
conseguiu colocar sob seu domínio grande parte do território
europeu. Sua coroação como imperador deu-se no ano 800 e
quem o coroou foi o Papa. O Sacro Império de Carlos Magno
desmorona no próprio século IX e a Europa assiste a novas
incursões de húngaros, normandos e árabes. Considera-se que
esta seja uma nova fase da barbárie, fome e peste. A unidade
religiosa parece abalada. Semelhante quadro prolonga-se até
aproximadamente meados do século X. Em 962 reconstitui-se o
Sacro Império, com Oto I. A nova onda de invasões bárbaras é
detida, eliminadas as incursões dos bandos sarracenos, os
normandos se estabelecem de forma estável no Norte da França,
os húngaros, poloneses, boêmios e escandinavos aderem ao
cristianismo.

 Feudalismo

A feudalidade europeia apresenta-se, contudo, como sendo o


resultado da brutal dissolução de sociedades mais antigas. Com
efeito, ela não seria compreensível sem a grande perturbação
das invasões germânicas, a qual, obrigando a fundirem-se duas
sociedades originariamente colocadas em estádios muito
diferentes da evolução, rompeu, por exemplo, os quadros tanto
duma como doutra e fez voltar à superfície tantas maneiras de
pensar e de hábitos sociais dum carácter singularmente
primitivo. A feudalidade europeia constituiu-se definitivamente
na atmosfera das últimas investidas bárbaras. Ele supunha um
profundo abrandamento da vida de relação, uma circulação
monetária que, demasiado atrofiada, não permitia um

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funcionalismo assalariado, uma mentalidade ligada ao sensível
e ao próximo. Quando estas condições começaram a modificar-
se, começou a passar a sua hora. [BLOCH]

Os elementos que constituem e integram a sociedade feudal -


basicamente a conversão ao cristianismo dos invasores
(chamados “bárbaros”) que destruíram o Império Romano -
surgiram nos séculos iniciais da denominada Idade Média.
Contudo, o feudalismo propriamente dito – do mesmo modo que
a cultura ocidental – emerge nos meados do século X. Tenha-se
presente que o cristianismo não produziu apenas a cultura
ocidental mas igualmente a bizantina.

Podemos citar como características, a ruralização da economia


que atingiu diretamente as classes sociais instituídas no interior
de Roma. A antes abrangente classe de escravos e plebeus veio
a compor, com os povos germânicos, uma classe campesina
consolidada como a principal força de trabalho dos feudos.
Trabalhando em regime de servidão, um camponês estaria
atrelado à vida rural em virtude das ameaças dos conflitos da Alta
Idade Média e da relação pessoal instituída com a classe
proprietária, ali representada pelo senhor feudal.

O senhor feudal representava a classe nobiliárquica detentora de


terras. Divididos por diferentes títulos, os nobres poderiam ser
responsáveis desde a administração de um feudo até a cobrança
de taxas ou a proteção militar de uma determinada propriedade.
A autoridade exercida pelo senhor feudal, na prática, era superior
à dos reis, que não tinham poder de interferência direta sobre as
regras e imposições de um senhor feudal no interior de suas

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propriedades. Portanto, assinalamos o feudalismo como um
modelo de poder político descentralizado.

Além disso, é importante assinalar que a produção era de


subsistência e que as relações comerciais enfraqueceram.

É de crer que a moeda, no Ocidente feudal, nunca esteve


totalmente ausente das transações, mesmo nas classes
camponesas e acima de tudo ela nunca deixou de
desempenhar o papel de padrão das trocas. O devedor
pagava muitas vezes em mercadorias; mas em
mercadorias geralmente apreciadas uma por uma, de
maneira que o total destas avaliações coincidisse com um
preço estipulado em libras, soldos e dinheiros. Evitemos,
portanto, a expressão, demasiado sumária e demasiado
vaga, de economia natural. Vale mais falar simplesmente
de carência monetária. A penúria de espécies era ainda
agravada pela anarquia da cunhagem das moedas,
resultado, ela própria, ao mesmo tempo do retalhamento
político e da dificuldade das comunicações: pois cada
mercado importante tinha que ter a sua oficina local, sob
pena de miséria. Feita exceção à imitação das moedas
exóticas e algumas ínfimas peças pequenas, postas de
lado, apenas se fabricavam dinheiros, que eram moedas de
prata, de valor bastante fraco. O ouro circulava apenas sob
a forma de moedas árabes e bizantinas ou suas cópias.
[...]. Também o comércio, ainda que sob a forma de troca,
não era o único, nem talvez o mais importante dos canais
pelos quais se processava então a circulação dos bens,
través das camadas sociais. Um grande número de

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produtos passava de mão em mão a título de foros, pagos
a um chefe como remuneração pela sua proteção, ou como
reconhecimento do seu poder. O mesmo acontecia com
essa outra mercadoria que é o trabalho humano: o
trabalho gratuitamente fornecido ao senhor fornecia mais
mão de obra' do que o trabalho remunerado. Numa
palavra, a troca, no sentido estrito, ocupava menos lugar
na vida económica, sem dúvida, do que a prestação de
serviços; e porque a troca era, assim, rara e por isso só os
pobres deviam resignar-se a subsistir apenas à custa da
sua própria produção, a riqueza e o bem-estar pareciam
inseparáveis do comando. (BLOCH)

Havia um monopólio da cultura intelectual por parte da Igreja. A


educação era feita de clérigos para clérigos, devido às
necessidades do culto. Nas escolas catedralícias e sobretudo
monásticas, praticamente as únicas existentes, ensinavam-se as
chamadas sete artes liberais, as únicas dignas de homens livres,
por oposição às artes mecânicas, isto é, manuais, próprias de
escravos. Na primeira parte, ou trivium, estudava-se Gramática
(ou seja, latim e literatura), Retórica (estilística, textos históricos)
e Dialética (iniciação filosófica). Na segunda, ou quadrivium,
passava-se para Aritmética, Geometria (que incluía a geografia),
Astronomia (astrologia, física) e Música. Cumpridas essas duas
etapas, de duração variável conforme as condições pessoais e
locais, passava-se para o estudo da Teologia, o saber essencial
da Idade Média, ao qual os clérigos se dedicariam por toda a vida.
Em virtude desse clima cultural e da finalidade que se atribuía ao
conhecimento, as ciências viam-se limitadas no seu
desenvolvimento. Predominava a concepção de que a meta do

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homem era o Reino de Deus e de que a Revelação estava contida
nas Sagradas Escrituras. Dessa forma, não se observava a
natureza para deduzir explicações ou levantar hipóteses, mas
para ver os símbolos dos desígnios divinos. Diante disso, a
Matemática parecia abstrata, a preocupação quantitativa quase
não existia e os números valiam mais pelo seu simbolismo do que
pelo seu eventual caráter prático, utilitário. A Botânica e a
Mineralogia reduziam-se a tratados descrevendo plantas e
pedras, quase sempre vistas como dotadas de aspectos mágicos.
A Medicina estava limitada pela ideia de que o doente é um
pecador cuja cura residia na atuação da Igreja (orações,
sacramentos, exorcismos, etc.). A Literatura também foi
influenciada por aquela tendência a preservar e cristianizar obras
antigas, mais do que a criar. Não havia preocupação com
originalidade, apenas com a conservação da literatura clássica
por meio de cópias realizadas nos scriptoria monásticos.
Utilizava-se somente o latim — pois o idioma germânico não tinha
tradição literária —, porém empobrecido como toda a cultura da
época. (FRANCO JUNIOR)

Povo de crentes, diz facilmente, para caracterizar a


atitude religiosa da Europa feudal. (BLOCH)

De um lado, a língua de cultura, que era, quase uniformemente,


o latim; do outro, na sua diversidade, os falares de uso diário: é
este o singular dualismo sob o signo do qual viveu quase toda a
era feudal. Este dualismo era peculiar da civilização ocidental
propriamente dita e contribuía para a colocar fortemente em
oposição aos seus vizinhos: os mundos celta e escandinavo, que
possuíam ricas literaturas, poéticas e didáticas, em línguas

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nacionais; o Oriente grego; o Islão, pelo menos nas zonas
realmente arabizadas. [...]. Evidentemente que em quase todas
as sociedades os modos de expressão variam, por vezes muito
sensivelmente, segundo o emprego que deles se pretende fazer
ou conforme as classes. Mas o contraste limita-se geralmente a
variações na exatidão gramatical ou na qualidade do vocabulário.
Neste caso, ele era incomparavelmente mais profundo. Em
grande parte da Europa, as linguagens usuais, ligadas ao grupo
germânico, pertenciam a uma família diferente da língua de
cultura. Os próprios falares românicos haviam-se afastado a tal
ponto do seu tronco comum que para se passar deles para o latim
era precisa uma longa aprendizagem escolar. De tal modo que o
cisma linguístico se resumia, afinal, na oposição de dois grupos
humanos. Por um lado, a imensa maioria dos iletrados,
confinados, cada um no seu dialeto regional, reduzidos ao
conhecimento de alguns poemas profanos, que eram toda a sua
bagagem literária e transmitidos quase unicamente por via oral,
e às piedosas cantilenas compostas em linguagem vulgar por
clérigos cheios de boas intenções, dirigidas às pessoas simples e
que, por vezes, eram perpetuadas no pergaminho. Do outro lado,
o pequeno punhado de gente instruída, que era bilíngue e oscilava
constantemente do falar quotidiano e local para a língua erudita
e universal. Eram para estes as obras de teologia e de história,
uniformemente escritas em latim; a inteligência da liturgia e até
a dos documentos de negócios. O latim não constituía apenas a
língua veicular do ensino, era também a única língua que se
ensinava. (BLOCH)

A consequência mais imediatamente aparente desta


hierarquização das línguas é sem dúvida o ter

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lamentavelmente confundido a imagem que a primeira
idade feudal deixou de si mesma. Documentos de venda ou
de doação, de dependência ou de libertação, mandados judiciais,
privilégios reais, autos de homenagem, os documentos da prática
são a fonte mais preciosa sobre a qual pode debruçar-se o
historiador da sociedade. Se nem sempre são sinceros, pelo
menos, ao contrário dos textos narrativos destinados à
posteridade, têm o mérito de não pretenderem enganar ninguém,
na pior das hipóteses, além dos contemporâneos, cuja
credulidade tinha limites diferentes da nossa. Ora, salvo poucas
exceções, que acabam de ser justificadas, esses documentos, até
ao século XIII, foram continuamente redigidos em latim. Mas não
era desse modo que, de início, se tinham exprimido as realidades
cuja memória tentavam conservar. Todas as atas ou notícias
latinas, ou quase todas, apresentam, portanto, o resultado de um
trabalho de transposição, que o historiador de hoje, se quiser
inteirar-se da verdade subjacente, deverá seguir em ordem
inversa. Isto seria fácil se a elaboração de tais documentos
tivesse obedecido sempre às mesmas regras! O que não sucedia.
(BLOCH)

 Os Árabes e o Islamismo

Por mais de seis séculos os árabes-islâmicos consolidaram um


Império que se estendeu do continente asiático ao europeu,
passando pelo Oriente Médio e norte da África. Essa unidade
imperial foi sendo construída a partir da criação de uma nova

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identidade árabe-islâmica e da aquisição de possessões
territoriais conquistadas por meio de um expansionismo contínuo.

A presença humana na Península Arábica é muito antiga. Até o


século VII, os povos árabes viviam disperso, cada qual com seus
líderes e seu modo de viver. No deserto viviam os beduínos e em
torno dos oásis, os agricultores. Os artesãos e comerciantes
residiam nas vilas e cidades, como Meca e Yatreb.

Portugal manteve ao longo da sua história contatos muitos


estreitos com árabes e muçulmanos, quer no continente
quer na África e no Oriente. E muito da cultura árabe veio
a ficar indelevelmente ligado à nossa. Basta pensar no que
aconteceu no domínio linguístico. Muitos vocábulos árabes
entraram no idioma português. Sucede que, infielmente, o
que mais se conhece das relações entre portugueses e
árabes respeita às lutas travadas e à reconquista cristã
com todas as suas consequências. (RODRIGUES)

O islamismo (termo que na etimologia significa submissão a


Deus) surgiu nos desertos da Arábia entre os anos 610 e 632 da
nossa era. O seu berço foi Meca, cidade importante pelo comércio
das caravanas e grande centro de peregrinações. Trata-se de
uma localidade não longe do Mar Vermelho, a meio caminho entre
o Oceano Índico (Aden) e o Mediterrâneo (Gaza). Nessa altura a
população de Meca em que dominavam gentes politeístas e
negociantes ricos manifestava sinais evidentes de pretender sair
do seu isolamento religioso. Os economistas modernos
encontram sérias dificuldades em precisar com rigor as forças que
levavam os árabes a procurar ultrapassar os limites geográficos
da península. [...]. Maomé nasceu cerca do ano 570 e cerca de

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610 teve a certeza de ser escolhido por Deus para receber as suas
revelações. Esse apelo sobrenatural constitui um dado importante
para a história do Islã. A sua pregação que se seguiu logo a seguir
a esse acontecimento marcou profundamente a vida da cidade de
Meca. Depois de Maomé seguiu-se uma fase importante da
história do Islã. Os califatos de Abu Bakr (632-634), de Ornar
(634-644), de Othmân (644-656), e de Ali (656-661)
representaram uma era de notável expansionismo da nova
religião. Mas nem tudo eram sucessos. Pois dentro do islamismo
estalou um conflito de enormes proporções que viria a marcar
toda a sua história. Foi a divisão entre os partidários de Ali e os
coraixitas. A vitória de Mo'awiya sobre o primo e genro de Maomé
(pois casara com Fátima) levou à criação do grupo dos chiitas
(em oposição aos sunitas) e ao estabelecimento da dinastia dos
Omíadas em Damasco. Os chiitas eram os adeptos de Ali; os
sunitas (de sunna, «tradição») os que seguiram os califas da
capital da Síria. (RODRIGUES)

As grandes conquistas do Islã processaram-se com a ordem


cronológica que se segue:

1. Conquista da Síria-Palestina (634-640).


2. Para Oeste: conquista do Egito (a partir de 639); da
Cirenaica (643); e da Tunísia (674).
3. Para Leste: Iraque (a partir de 637), sendo de destacar as
ocupações de Bassorá, de Cufa e de Mossul. A partir de
Bassorá as expedições militares dirigiram-se para o
Nordeste e o centro da Ásia e para Sudeste para o golfo de
Oman. De salientar também a conquista da Pérsia (642).

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4. Contra Bizâncio, sendo de sublinhar a vitória de 654 ou 655
em que a frota bizantina foi completamente destruída.
5. Progresso para a Ásia: a primeira invasão da Transoxiania
teve lugar em 672-674; do Turquestão chinês em 713; da
Índia a partir de 698 e 700.
6. Para Bizâncio: a cidade é atacada em 673 até 677, mas só
passados alguns séculos ela será tomada.
7. Para Oeste e Espanha: a África do Norte é atacada a partir
de 669 e 670 novamente; em 711 a Espanha é objeto de
uma expedição importante, sendo de destacar a ajuda dos
berberes e a ação de Tarique (cujo nome ficou ligado ao de
Gibraltar, em árabe Gebel Tarique, «montanha de
Tarique»). A situação interior da Espanha em que reinava
um certo despotismo religioso que provocara grandes
descontentamentos, especialmente entre os judeus, veio a
favorecer bastante os muçulmanos. Em 714 os árabes
chegaram a Narbona. Em 732 um raide é feito a Poitiers
mas Carlos Martel opôs-se lhe vitoriosamente. Os
europeus consideram Poitiers como a vitória que salvou a
sua civilização. Por seu turno, os árabes defendem que se
perdeu então uma boa oportunidade de fazer adiantar o
processo da Renascença da Europa.
8. O séc. IX representa uma fase de estagnação nas
conquistas árabes. É então que nas diversas regiões do
império se formam estados independentes. Assiste-se a
uma série de reajustamentos políticos. Os muçulmanos
retiram-se da região da índia e sobretudo os turcos
começam a aparecer no quadro do Islão. Contudo há
mesmo assim uma progressão importante do Islão no

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Mediterrâneo embora no norte de Espanha tenha havido
uma forte oposição. São de referir neste período as
conquistas ou expedições militares contra as Baleares, a
Sicília, Nápoles, Bari, Tarento, etc.

É nesta época que se assiste ao surgimento da fisionomia


cultural do Islã enquanto no início ele era puramente militar e
religioso. A bagagem da civilização árabe dos nômadas era
elementar; compreendia a experiência e a sabedoria que dá a
vida ao meio dos homens e da natureza. O gosto da poesia e
da língua estava muito desenvolvido entre eles; daí o sucesso
do Alcorão cuja forma literária é excelente. Recorreram a
arquitetos cristãos para a construção de muitos edifícios, como
para a cúpula da rocha em Jerusalém, magnífica construção
elevada sobre o sítio do antigo templo de Salomão por fins do
séc. VII; e para a belíssima mesquita de Ibn Tolôn no Cairo de
fins do séc. IX. Mas pouco a pouco a cultura muçulmana
desenvolve-se, nomeadamente em Bagdá, na corte dos
califas, e em Córdova. São de recordar alguns aspectos desse
florescimento que imortalizou os árabes para sempre. Os
sábios muçulmanos misturam-se com os cristãos e judeus.
Fazem-se traduções de obras notáveis da ciência grega e
levam-se a cabo investigações que as discutem e as
completam, em especial no que toca a observações de índole
médica e astronômica. E se Bagdá e Córdova se podem
comparar a Bizâncio, convém, todavia, dizer que elas estão
muito acima do nível da Europa ocidental cristã. A sociedade
muçulmana atinge um apogeu impressionante. Sábios como
al-Biruni acompanham os exércitos árabes nas expedições à
Índia. Na Itália, a escola de Salerno utiliza a ciência médica

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dos gregos e dos árabes. Na península hispânica os contatos
culturais multiplicam-se e os cristãos traduzem (muitas vezes
com o auxílio dos judeus) muitas obras de filosofia e de ciência
Greco-árabe.

9. A reconquista cristã da Europa. Durou desde o ano de 800


até 1492. No séc. XI a Espanha encontra-se conquistada
na sua metade. Por fins do séc. XIII se subsiste no Sul o
reino de Granada que viria a cair em 1492.
10. Bizâncio depois de vários assaltos de diversas
proveniências apelou para o Ocidente e tiveram então
lugar as cruzadas. Em 1258 Bagdá caiu, mas pouco a
pouco, eles seriam islamizados entre fins do séc. XIII e no
séc. XIV.
11. Os turcos otomanos conquistaram Constantinopla em
1453. E a partir de então a Europa sentiu a força das suas
armas. Nos Balcãs, na Hungria, na Polónia, em Viena, etc.,
foi bem patente o poder turco que só encontraria
resistência em Malta (1565 e 1614). No séc. XVIII os
otomanos começaram a retirar e, entretanto, viria a
independência dos países anteriormente ocupados, como
a Grécia, os Balcãs, etc. (RODRIGUES)

21
 As Cruzadas

As cruzadas foram expedições militares organizadas por católicos


da Europa Ocidental contra muçulmanos, com o objetivo inicial
de reconquistar para o mundo cristão lugares sagrados, como o
Santo Sepulcro, em Jerusalém, na Palestina. Além disso, é
importante citar as motivações econômicas, como as conquistas
territoriais e o desenvolvimento econômico. Foram organizadas
doze expedições cruzadistas.

Em 1095, o papa Urbano II convocou expedições com o intuito


de retomar a Terra Sagrada. Os cruzados (como ficaram
conhecidos os expedidores) receberam esse nome por
carregarem uma grande cruz, principal símbolo do cristianismo,

22
estampada nas vestimentas. Em troca da participação,
ganhariam o perdão de seus pecados.

A Igreja não era a única interessada no êxito dessas expedições:


a nobreza feudal tinha interesse na conquista de novas terras;
cidades mercantilistas como Veneza e Gênova deslumbravam
com a possibilidade de ampliar seus negócios até o Oriente.

As Cruzadas não conseguiram seus principais objetivos, mas


tiveram outras consequências como o renascimento comercial
para a Europa Ocidental.

3. BAIXA IDADE MÉDIA

A chamada Baixa Idade Média, é marcada pela transição do


feudalismo para o capitalismo. Essa transição é resultado das
modificações sofridas na Europa após a queda do Império
Romano do Ocidente, como o feudalismo; as Cruzadas; crise do
Século XIV; renascimento urbano e comercial; formação das
monarquias nacionais; absolutismo monárquico; renascimento
cultural e a Reforma Protestante. Essa transição ocorreu de forma
gradual apresentando rupturas e continuidades, e agregando
características até chegar ao sistema econômico globalizado
atual.

 Renascimento Comercial e Urbano

23
As cruzadas foram responsáveis pela reabertura do mar
Mediterrâneo à navegação e ao comércio da Europa, permitindo
um intercâmbio entre Oriente e Ocidente. Esse comércio,
realizado principalmente pelas cidades europeias de Gênova e
Veneza, despertou nos europeus o gosto pelas especiarias, entre
outros produtos. Somando a isso o aumento da população, as
novas técnicas de cultivo, aumento da produção (excedente) e a
incorporação de novas terras, fazia-se necessária a circulação e
o escoamento desses produtos. Estabeleceram-se rotas
comerciais no continente europeu e no cruzamento das rotas,
surgiram os burgos, onde esses produtos eram vendidos.

 Renascimento Cultural

Opostas em vários aspectos, tanto a arte românica dos séculos


XI-XII quanto a gótica dos séculos XII-XV tentavam elaborar
imagens que harmonizassem as intenções dos produtores
eclesiásticos com as dos consumidores laicos. Cenas da história
bíblica ou de narrativas hagiográficas incluíam frequentemente
elementos míticos celtas, greco-romanos ou mesmo orientais.
Outras vezes apareciam lado a lado imagens de ortodoxia
rigorosa e figuras da mitologia clássica. Ou imagens da vida rural
e urbana, sem nenhuma conotação religiosa. É importante
lembrar que para os medievos não havia arte pela arte, imagens
feitas apenas pelo seu valor estético. A finalidade didática delas
era essencial. (FRANCO JUNIOR)

Um setor cultural que a Igreja monopolizava desde princípios da


Idade Média continuou nos séculos XI-XIII sob seu controle,

24
apresentando, todavia, características novas, que tendiam a
escapar de sua alçada — o ensino. De qualquer forma, mesmo
com uma certa laicização o ensino não deixava de estar na área
da cultura clerical, entendida cada vez mais, como já dissemos,
como cultura de letrados, e não apenas cultura de eclesiásticos.
Nesse processo, surgiram no século XI as escolas urbanas, que
se transformariam em universidades no século XIII. Ambas eram
produto do crescimento demográfico-econômico-urbano, que
tornava a sociedade mais complexa e mais necessitada de
atividades intelectuais. Contudo, ainda em meados do século XI
as escolas urbanas mantinham-se muito presas às influências
eclesiásticas, o que limitava seu papel.

O frágil equilíbrio entre cultura clerical e cultura vulgar


rompeu-se com a crise do século XIV. A razão disso está
ligada ao fato de que na Baixa Idade Média “existia uma
falta geral de equilíbrio no temperamento religioso, o que
tornava tanto as massas como os indivíduos suscetíveis de
violentas contradições e de mudanças súbitas”. As
manifestações culturais oscilavam então do mais estrito
racionalismo ao mais fervoroso misticismo. A cultura
clerical não tinha mais a coerência da Alta Idade Média e a
cultura vulgar não possuía o mesmo vigor que na Idade
Média Central. Buscava-se uma nova composição, da qual
sairia a cultura renascentista dos séculos XV-XVI.
(FRANCO JUNIOR)

O Renascimento foi um movimento intelectual e cultural que


iniciou na Itália, por volta do século XIV, como resultado das
relações comerciais entre italianos e bizantinos. Mas não ficando

25
restrito à Península Itália, o movimento logo se espalhou por toda
Europa. O Renascimento recebeu esse nome porque seus
integrantes buscavam no reavivamento da cultura da Antiguidade
Clássica greco-romana os ideais para sua época, pois
acreditavam que a antiguidade havia representado o auge da
história da civilização ocidental. Quando entraram em contato
com o racionalismo grego, os renascentistas romperam
com a visão de mundo religiosa e supersticiosa da Idade
Média. Assim, a principal característica do movimento
renascentista foi sua busca por compreender a humanidade como
um todo. Essa preocupação orientou o desenvolvimento das
ciências, da política, das artes e até da religião que passaram a
colocar o ser humano no centro de suas pesquisas
(antropocentrismo). Por isso, a ideologia surgida no centro do
movimento ser chamada de Humanista. Quanto à arte, o
renascimento teve por características principais: o
desenvolvimento das técnicas de perspectiva e profundidade; o
impressionante realismo das obras e; a ampliação das técnicas
de sombreamento com luz e sombra. Portanto, as representações
da figura humana adquiriram solidez, majestade e poder,
refletindo o sentimento de autoconfiança de uma sociedade que
se tornava muito rica e complexa, com vários níveis e classes
sociais. Representando, desta forma, a superação da cultura
burguesa cultura sobre a cultura medieval em decadência.

Esta tomada de consciência ultrapassava o homem


isolado, para atingir a própria sociedade.

(BLOCH)

26
Ao abrir o mundo à intervenção do homem, o Renascimento
sugeriu uma mudança da posição a ser ocupada pelo homem no
mundo. Ao longo dos séculos posteriores ao Renascimento, os
valores por ele empreendidos vigoraram ainda por diversos
campos da arte, da cultura e da ciência.

 Reforma Protestante e Contrarreforma

No século XVIII, com o surgimento da filosofia da história em


meio ao ambiente iluminista potencialmente revolucionário e ante
eclesiástico, o movimento conhecido como Reforma protestante
era inserido no processo de modernização da sociedade ocidental,
conforme as ideias de Hegel. Era a “mundanização positiva”,
diferente da conotação negativa atribuída pelo filósofo alemão ao
contexto anterior da Escolástica. Enquanto estudiosos laicos
entendiam a Reforma como fundação do caminho para a
liberdade, católicos ultramontanos, defensores da infalibilidade
papal, observavam-na como um equívoco que desestabilizou
princípios de autoridade, ordem social e disciplina, característicos
da cristandade medieval. (MONTEIRO)

As transformações que se seguiam na Idade Moderna trouxeram


à tona a criação de instituições religiosas com uma diferente base
doutrinária cristã. Entre essas novas instituições podemos
destacar o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo.

Em relação ao Luteranismo, a indignação de Lutero voltava-se


principalmente para o caráter mercantilizado das indulgências,

27
em que aqueles considerados pecadores pagavam determinadas
somas à igreja para a remissão de seus pecados. Assim, elaborou
noventa e cinco teses em que analisava as falhas doutrinárias da
igreja, assim como os abusos materiais cometidos pela instituição
religiosa. Durante esse período, Lutero se dedicou a traduzir do
latim para o alemão e publicar a chamada Confissão de
Augsburgo. Essa última publicação continha as bases da doutrina
luterana que, entre outros pontos, defendia a salvação pela fé, a
livre interpretação do texto bíblico, a negação do celibato e da
adoração às imagens.

Já no Calvinismo, segundo Calvino, o princípio da predestinação


absoluta seria o responsável por explicar o destino dos homens
na Terra. Tal princípio defendia a ideia de que, segundo a vontade
de Deus, alguns escolhidos teriam direito à salvação eterna. Os
sinais do favor de Deus estariam ligados a condução de uma vida
materialmente próspera, ocupada pelo trabalho e afastada das
ostentações materiais. De acordo com alguns estudiosos, como o
sociólogo Max Weber, o elogio feito ao trabalho e à economia
fizeram com que grande parte da burguesia europeia
simpatizasse com a doutrina calvinista.

Por fim, a Contrarreforma, de modo geral, consistiu em um


conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica com o
surgimento das religiões protestantes. Longe de promover
mudanças estruturais nas doutrinas e práticas do catolicismo, a
Contrarreforma estabeleceu um conjunto de medidas que atuou
em duas vias: atuando contra outras denominações religiosas e
promovendo meios de expansão da fé católica.

28
Acredito que conseguimos explorar vários aspectos
culturais desse período tão longo, que foi a Idade Média.

Agora vamos exercitar?

1. LISTA DE QUESTÕES

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEDUC/PA - 2006)

1. O feudalismo era, na Idade Média, um sistema não apenas


econômico, mas também social, marcado por forte ressonância
na formulação do poder político de quase toda a Europa
Ocidental. Com relação a esse sistema, assinale a opção correta.

a) O feudalismo, sustentado na escravidão, dominou a Europa


Ocidental desde a crise do Império Romano até praticamente à
Revolução Francesa.

b) Sustentada pela noção de estamento, a sociedade feudal


apresentava taxas baixíssimas, ou quase inexpressivas, de
mobilidade interna.

29
c) Na Idade Média, as mulheres detinham poderes adicionais
associados ao sistema de reprodução da cultura religiosa.

d) A força da religião, embora fundamental na construção das


instituições feudais, não influenciava o poder político.

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEE/AL - 2013)

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o


capitalismo, julgue os itens subsequentes.

2. Uma estrutura fundamental do sistema feudal era a relação


de senhorio (dominium), estabelecida entre uma classe
senhorial (a nobreza), que dominava a classe dos vassalos (os
camponeses)

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEDUC/AM - 2011)

Considerando que, na Europa Ocidental, ao longo da Idade


Média, se definiram novas estruturas políticas,
econômicas, sociais, culturais e religiosas, julgue os itens
subsecutivos.

3. Nesse longo período medieval, a mentalidade e a sensibilidade


dos homens orientavam-se ao simbólico, às metáforas, à crença
em revelações, ao repúdio aos prazeres materiais e à busca da
salvação da alma.

30
4. As mudanças que se processaram nas estruturas feudais a
partir da segunda metade do século XII permitiram a retomada
do crescimento urbano e estimularam as atividades mercantis e
manufatureiras.

5. Desde a reforma gregoriana, a igreja católica manteve-se


afastada de questões de poder e restringiu sua atuação à missão
evangélica das ordens religiosas, reconhecendo que à igreja
cabiam unicamente as lidas espirituais.

6. No século XIV, as contradições do sistema feudal resultaram


em profundas crises em todo o ocidente europeu, contribuindo
para incrementar os processos de expansão mercantil e a
centralização do poder nas mãos dos reis.

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SAEB/BA - 2011)

7. A imagem acima é um fragmento da pintura do teto da Capela


Sistina, pintada por Michelangelo, entre 1508 e 1512. Esse pintor,
juntamente com outros artistas e pensadores, faz parte de um
período a que a História chamou Humanismo. De acordo com a
imagem e as características do Humanismo, é correto concluir
que

31
a) o homem é entendido como ser especial da criação divina,
que age e reflete sobre sua existência, mas sob os desígnios da
divindade.

b) a igreja católica entrou em decadência, em razão da


dificuldade de ceder às exigências dos segmentos laicos em favor
de uma postura mais caritativa.

c) a concorrência entre a religião católica e a protestante levou


a igreja de Roma a decorar seus templos com figuras humanas
apelativas para atrair mais fiéis.

d) o homem passou a ocupar o centro das atenções, movimento


conhecido como antropocentrismo, negando-se Deus e a religião.

2. QUESTÕES COMENTADAS

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEDUC/PA - 2006)

1. O feudalismo era, na Idade Média, um sistema não apenas


econômico, mas também social, marcado por forte ressonância

32
na formulação do poder político de quase toda a Europa
Ocidental. Com relação a esse sistema, assinale a opção correta.

a) O feudalismo, sustentado na escravidão, dominou a Europa


Ocidental desde a crise do Império Romano até praticamente à
Revolução Francesa.

b) Sustentada pela noção de estamento, a sociedade feudal


apresentava taxas baixíssimas, ou quase inexpressivas, de
mobilidade interna.

c) Na Idade Média, as mulheres detinham poderes adicionais


associados ao sistema de reprodução da cultura religiosa.

d) A força da religião, embora fundamental na construção das


instituições feudais, não influenciava o poder político.

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEE/AL - 2013)

A respeito do feudalismo e de sua passagem para o


capitalismo, julgue os itens subsequentes.

2. Uma estrutura fundamental do sistema feudal era a relação


de senhorio (dominium), estabelecida entre uma classe
senhorial (a nobreza), que dominava a classe dos vassalos (os
camponeses)

ERRADO. A relação de suserania e vassalagem ocorria


entre a nobreza.

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SEDUC/AM - 2011)

33
Considerando que, na Europa Ocidental, ao longo da Idade
Média, se definiram novas estruturas políticas,
econômicas, sociais, culturais e religiosas, julgue os itens
subsecutivos.

3. Nesse longo período medieval, a mentalidade e a sensibilidade


dos homens orientavam-se ao simbólico, às metáforas, à crença
em revelações, ao repúdio aos prazeres materiais e à busca da
salvação da alma.

CERTO. A mentalidade medieval era extremamente


influenciada pelo pensamento religioso.

4. As mudanças que se processaram nas estruturas feudais a


partir da segunda metade do século XII permitiram a retomada
do crescimento urbano e estimularam as atividades mercantis e
manufatureiras.

CERTO. Exato, como vimos na introdução na parte de Baixa


Idade Média.

5. Desde a reforma gregoriana, a igreja católica manteve-se


afastada de questões de poder e restringiu sua atuação à missão
evangélica das ordens religiosas, reconhecendo que à igreja
cabiam unicamente as lidas espirituais.

ERRADO. Igreja Católica afastada das questões de poder?


E a Contrarreforma?

6. No século XIV, as contradições do sistema feudal resultaram


em profundas crises em todo o ocidente europeu, contribuindo

34
para incrementar os processos de expansão mercantil e a
centralização do poder nas mãos dos reis.

CERTO. Devido às diversas transformações como o


renascimento urbano, comercial e cultural. O sistema
feudal entra em decadência. Surgem as monarquias
centralizadas e o ideal mercantilista.

(CESPE: PROFESSOR DE HISTÓRIA – SAEB/BA - 2011)

7. A imagem acima é um fragmento da pintura do teto da Capela


Sistina, pintada por Michelangelo, entre 1508 e 1512. Esse pintor,
juntamente com outros artistas e pensadores, faz parte de um
período a que a História chamou Humanismo. De acordo com a
imagem e as características do Humanismo, é correto concluir
que

a) o homem é entendido como ser especial da criação divina,


que age e reflete sobre sua existência, mas sob os desígnios da
divindade.

Apesar de criticar a Igreja, os artistas renascentistas não


negavam a existência de Deus.

35
b) a igreja católica entrou em decadência, em razão da
dificuldade de ceder às exigências dos segmentos laicos em favor
de uma postura mais caritativa.

c) a concorrência entre a religião católica e a protestante levou


a igreja de Roma a decorar seus templos com figuras humanas
apelativas para atrair mais fiéis.

d) o homem passou a ocupar o centro das atenções, movimento


conhecido como antropocentrismo, negando-se Deus e a religião.

36
3. GABARITO

QUESTÕES GABARITO
1 Alternativa b
2 E
3 C
4 C
5 E
6 C
7 Alternativa a

37
4. REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LE ROUX, Patrick. Império Romano. tradução de William Lagos. –


Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. (Coleção L&PM POCKET; v. 763)

GEARY, Patrick J. O mito das nações. A invenção do nacionalismo.


Tradução de Fábio Pinto. São Paulo: Conrad Editora do Brasil,
2005

SILVA, Daniele Gallindo Gonçalves; ALBUQUERQUE, Mauricio da


Cunha. Bárbaros ou/vs Romanos? Sobre Identidades e Categorias
Discursivas. Disponível em:
http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/21-
19.pdf

LE GOFF, Jacques. A Civilização do Ocidente Medieval. Bauru:


EDUSC, 2005.

MONTAIGNE, Michel de. Ensaios. São Paulo: Abril, 1972

RODRIGUES, Manuel. O mundo Árabe e Islâmico. Disponível em:


https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/14438/1/O%20m
undo%20%C3%A1rabe%20e%20isl%C3%A2mico.pdf

MONTEIRO, Rodrigo Bentes. As Reformas Religiosas na Europa


Moderna. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/vh/v23n37/v23n37a08.pdf

BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. 2ªed, Lisboa. Edições 70,


1987.

38
FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. - 2 cd - São Paulo:
Contexto. 2002 - (Repensando a História).

39

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