112-Texto Do Artigo-202-1-10-20150917 PDF
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Desenvolvimento sustentável:
paradigmas, conceitos,
dimensões e estratégias
retranca imagem
por parte de empresas e governos. No âmbito mento sustentável. Na prática essa tarefa as-
do setor público, as empresas públicas e so- sume duas dimensões: (i) o setor público deve
ciedades de economia mista (principalmente) estabelecer políticas de longo alcance que cata-
começam a aderir a uma gestão que incorpora lisem o desenvolvimento sustentável (ou seja,
princípios da responsabilidade social, inclusive atuar como agente vetor do DS); (ii) ao mesmo
com publicação de balanços sociais. Há, então, tempo, ele deve prestar contas do desempenho
uma tentativa de incorporar objetivos sociais e das próprias operações em termos de susten-
ambientais às metas de eficiência econômica, tabilidade, incluindo desde a administração de
mediante ações próprias ou apoio a programas recursos humanos e das instalações, até aqui-
públicos do governo voltados para inclusão so- sição/fornecimento de bens e serviços (ou seja,
cial, erradicação da pobreza e da fome, comba- atuar como agente promotor do DS).
te à corrupção e proteção ambiental. Um dos reflexos deste novo paradigma é
O desafio atual é internalizar os con- a proposta de uma Lei de Responsabilidade So-
ceitos e práticas deste processo e verificar se cial que já começa a ser discutida no Congres-
ele efetivamente contribui para uma agenda so Nacional. Sendo um compromisso do qual
social, alicerçada nos pilares do desenvolvi- a sociedade passa a exigir de um orçamento a
mento sustentável. fim de promover um desenvolvimento efetiva-
O paradigma do desenvolvimento susten- mente sustentável e não apenas voltado para o
tável (DS) coloca órgãos e entidades governa- equilíbrio econômico-financeiro das contas pú-
mentais frente ao desafio de prestar contas à blicas. Ao mesmo tempo, busca-se uma forma
sociedade das ações com foco neste novo mo- de prestação de contas pautada por resultados
delo. A tarefa de tais entes é de liderar pelo sociais das políticas, dos programas, projetos
exemplo, à medida que demonstram progresso e atividades do setor público (eficácia e efe-
em seus objetivos em termos de desenvolvi- tividade), para que não se tenha apenas uma
análise dos tradicionais balanços patrimonial, • 1920 – Criação da Liga das Nações
econômico e financeiro (eficiência). para promover a paz e a segurança no
Todas estas questões devem começar pós-guerra.
a fazer parte da agenda desenvolvida no pro- • 1934 – No Brasil é realizada a 1ª Conferência
cesso de elaboração, tramitação, aprovação Brasileira de Proteção à Natureza.
e fiscalização do orçamento público federal. • 1937 – Criado o 1º Parque Nacional
Tais tarefas envolvem profissionais de diver- Brasileiro, o Parque Nacional de Itatiaia.
sas áreas de conhecimento, os quais necessi- • 1945 – Criação da ONU
tam, portanto, especializar-se na temática do • 1948 – A ONU publica a Declaração dos
desenvolvimento sustentável para poderem Direitos Humanos. Criação da União
melhor atuar na prática. Internacional para a Conservação da
Natureza (UICN), por um grupo de cien-
2. Meio Ambiente e Desenvolvimento tistas vinculados à ONU.
Sustentável - Linha Do Tempo • 1949 – Realizada a Conferência Científica
da ONU sobre a Conservação e a Utilização
Ao longo do Século XX houve uma gran- de Recursos.
de transformação da relação homem com a • 1958 – Criada no Brasil a Fundação
natureza. Abaixo listamos, em ordem crono- Brasileira para a Conservação da Natureza.
lógica, os fatos mais importantes relacionados • 1960 – Formação do Clube de Roma,
com tal mudança, os quais podem ser causa e/ associação de cientistas políticos e em-
ou consequência. presários preocupados com questões
globais.
• 1962 – Publicação do livro Silent Spring
de Rachel Carlon, que contribuiu para a
criação da Agência de Proteção Ambiental
dos EUA - EPA.
• 1968 – Conferência Intergovernamental
para o Uso Racional e a Conservação da
Biosfera, organizada pela Unesco.
• 1971 – Nasce o Greenpeace.
• 1972 – Divulgação do primeiro relatório
do Clube de Roma, The Limits of Growth,
evidenciando a insustentabilidade do mo-
delo de produção e consumo vigentes.
• 1972 – Conferência de Estocolmo –
Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente Humano, que como resulta-
do dá origem ao PNUMA (Unep) e ao Dia
Mundial do Meio Ambiente (5 de junho).
• 1973 – Surge o termo ecodesenvolvi-
mento, colocado como alternativa à
concepção clássica de desenvolvimen-
to, com alguns aspectos articulados por
Ignacy Sachs, os quais abordavam prio- • 1991 – A UICN o PNUMA e o WWW lan-
ritariamente a questão da educação, da çam o documento Caring for the Earth,
participação, da preservação dos recur- ampliando o conteúdo do documento an-
sos naturais juntamente com a satisfação terior World Conservation Strategy.
das necessidades básicas. • 1992 – Conferência da ONU sobre o
• 1974 – Reunião da Conferência das ONU Meio Ambiente e Desenvolvimento
sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUMAD), a Rio-92 ou Eco-92 ou
(UNCTD) e do PNUMA, resultou na Cúpula da Terra, saudada como o mais
Declaração de Cocoyok, afirmando que importante e promissor encontro plane-
a causa da explosão demográfica era a po- tário do século XX, com representantes
breza, que também gerava a destruição de 179 países e 100 chefes de Estado, na
desenfreada dos recursos naturais. qual foram aprovados os seguintes docu-
• 1975 - O PNUMA e 13 organizações da mentos oficiais: Declaração do Rio sobre
ONU contribuem para o aprofundamento Meio Ambiente e o Desenvolvimento;
da Declaração de Cocoyok, que gerou o de- Convenção sobre Mudanças Climáticas;
nominado Relatório Dag-Hammarskjold, Declaração de Princípios sobre Florestas;
o qual aponta a relação entre o abuso do Agenda 21 Global da ONU, na qual os
poder e os problemas de degradação am- signatários comprometeram-se a definir
biental e críticas à sociedade industrial e sua própria Agenda, fixando prioridades,
aos países industrializados. envolvendo a sociedade e o governo, pro-
• 1977 – A França cria a lei do balanço so- movendo parcerias e introduzindo meios
cial, contemplando os direitos humanos de implementação de políticas e progra-
no ambiente de trabalho. mas capazes de reverter os processos de
• 1980 – A UICN juntamente com o PNUMA insustentabilidade do modelo de desen-
e o WWF lançam o documento World volvimento em vigor no mundo.
Conservation Strategy, o qual afirma que • 1992 - O Clube de Roma publica o rela-
a conservação da natureza não poderia ser tório Além dos Limites, que apresenta
alcançada sem o desenvolvimento neces- de modo contundente os prejuízos pro-
sário para aliviar a pobreza e a miséria. vocados pelo homem no meio ambiente e
• 1983 – Criada, pelo PNUMA, a Comissão a incapacidade da natureza de se regene-
Mundial sobre Meio Ambiente e rar na mesma velocidade de degradação.
Desenvolvimento (CMMAD), por inter- • 1993 – Lançamento da certificação am-
médio da ONU, também conhecida como biental ISO 14000. É fundado o Forest
Comissão Brundtland, com o objetivo Stewardship Council (FSC) para dispor
de reexaminar os problemas críticos do sobre uso sustentável das florestas.
meio ambiente e desenvolvimento do pla- • 1996 – Criação da British Standards BS
neta e formular propostas realistas para 8800, para certificar a gestão da seguran-
solucioná-las. ça e da saúde no trabalho.
• 1986 – O desastre de Chenorbyl (na • 1997 – Surge o Global Reporting
URSS) ascende as discussões sobre os Initiative (GRI),para relatar as ativida-
perigos da energia nuclear. des sustentáveis das companhias.
• 1987 – Relatório Final da Comissão • 1999 – O Secretário-Geral da ONU,
Brundtland, Nosso Futuro Comum. Kofi Annan, lança as bases para o Pacto
FIGURA 1 Regional
Dimensões Espaciais
do Desenvolvimento Os blocos
Sustentável regionais
Global Nacional
A Terra As nações
Organizacional Local
Organizações As cidades e
públicas e privadas as comunidades
de qualquer
natureza
Ambiental
FIGURA 2
Dimensões Conceituais Preservação
da Sustentabilidade e uso equilibrado
dos recursos
ambientais.
Social
Econômica Bem-estar social,
Eficiência, qualidade de vida, inclusão
eficácia e economia social, relação responsiva
dos processos. mútua nas relações de
trabalho.
Local
Governança,
Organizacional democracia, capacidade
Respeito às institucional, fortalecimento
diversidades culturais, da sociedade civil, garantia
raciais e de gênero. e ampliação de direitos
humanos.
(Figura 1), que não se confundem com as di- dimensões que o cidadão tem oportunidade
mensões (pilares) conceituais (Figura 2, in- efetiva de participação.
fra) precisam ser bem delimitadas para que
se tenha uma noção clara de onde ocorre o 9. CONCLUSÃO: A ESTRATÉGIA
impacto principal da ação executada/planeja- DE DESENVOLVIMENTO
da. Uma ação que intenta promover o desen- SUSTENTÁVEL (EDS)
volvimento sustentável pode ter um impacto
num locus diferente do planejado, o que pode Uma EDS, a exemplo da Agenda 21 Bra-
levar o agente à errônea percepção de que sileira, é uma plataforma de ação definida
não houve sucesso, quando na verdade a con- consensualmente com setores importantes
tribuição da ação está sendo efetiva para o do Estado (lideranças do Poder Executivo,
DS, porém numa perspectiva diferente. Por Legislativo e Judiciário), do mercado (or-
exemplo, uma organização com atividades que ganizações produtivas) e da sociedade civil
contribuem basicamente para o DS organiza- (comunidade científica, ONGs) para que a
cional pode achar que não necessita de uma estratégia nacional para o desenvolvimento
estratégia de desenvolvimento sustentável passe a ser orientada pelos princípios do DS.
porque entende, erroneamente, que não está Ela pode ser considerada única opção capaz
ao seu alcance tal empreitada. A concepção de compatibilizar os interesses das gerações
holística do DS implica que as dimensões es- presentes e futuras, pois tem como objetivo:
paciais estão interligadas e desmitifica a idéia internalizar, nas políticas públicas do país e
de que o DS está a cargo apenas das nações ou em suas prioridades regionais e locais, os va-
de organismos supranacionais. Na verdade, o lores e princípios do DS.
locus mais importante da sua ocorrência está Em um nível organizacional uma EDS
nas instituições públicas e privadas de qual- pode ser tida como um mapa de valores e prin-
quer natureza (organizacional), seguido das cípios que direcionam as atividades de uma
cidades e comunidades (local), pois são nestas organização de forma a que o progresso não
ocorra com desrespeito ao direito de gerações A conferência do Rio em 1992 foi uma
futuras e de terceiros nos aspectos ambientais, grande conquista da legislação ambien-
sociais, políticos, culturais e econômicos. É tal internacional. Três grandes tratados
um programa participativo (o que pressupõe ambientais saíram de lá: a Convenção do
voluntariedade e consenso) que, inicialmente, Clima, a da Biodiversidade e a do Comba-
analisa a situação da instituição, com base em te à Desertificação. Quando olhamos para
parâmetros de sustentabilidade, e estabelece tudo isso 20 anos depois, temos três fun-
mecanismos e condições para que as ações damentos da lei internacional, mas sem
presentes e futuras sejam executadas de forma muito resultado. A mudança climática
sustentável, ou seja, conciliando proteção am- piorou dramaticamente e não temos um
biental, justiça social, respeito às diversidades arcabouço no qual trabalhar. Registramos
culturais, estabilidade política e eficiência, perdas gigantes em biodiversidade e en-
eficácia e economia dos processos, sempre de frentamos secas cada vez mais fortes nas
uma forma integrada. regiões áridas. Acho que é justo dizer que
A EDS, todavia, precisa ser um docu- nos últimos 20 anos houve muito debate
mento vivo que deve ser incorporado ao co- sobre legislação e acordos, mas não muito
tidiano das organizações. Caso contrário, ele progresso em ações concretas. Penso que
será mais uma das inúmeras cartas de “boas” teríamos de sair da Rio+20 com caminhos
intenções que, ao final, não levam a nada, nem práticos. Em outras palavras: esses proble-
sequer se transformam numa boa estratégia mas não devem ser deixados mais ao crivo
de marketing organizacional. “É disso que se de advogados. É preciso encontrar aborda-
trata”, como bem nos lembra do outra Sachs gens de desenvolvimento sustentável que
(o Jeffrey) neste trecho da entrevista ao Jornal façam sentido, que sejam mensuráveis e
Valor Econômico: possíveis de replicar. É disso que se trata.
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