Escritacriativa
Escritacriativa
Escritacriativa
Vamos para mais uma etapa do módulo de Escrita Criativa. Estamos todos muito
animados. Foram altas doses de atenção, dedicação e carinho para proporcionar a
vocês a melhor experiência com a primeira transmissão online ao vivo do Sistema
Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo (SisEB).
Chegamos à 10ª edição, propondo a participação de voluntários locais para, junto com
a equipe das bibliotecas, criar oficinas de Escrita Criativa que poderão ser integradas
de forma permanente à programação cultural de cada unidade.
Nosso entusiasmo tem aumentado ainda mais pelo interesse demonstrado por vocês,
nossos parceiros, que abraçaram a proposta desde o início.
No dia anterior à atividade, será enviado o link que dará acesso à transmissão
exclusiva.
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MÓDULO DE ESCRITA CRIATIVA
A edição deste ano tem um módulo especial para incentivar a realização de oficinas de
Escrita Criativa nas bibliotecas públicas municipais, uma inovação no formato do Viagem
Literária.
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PROPOSTA DE TRABALHO
Reiteramos que as orientações aqui expostas não são "mandamentos", nem devem ser
entendidas como regras. São apenas alguns princípios que norteiam o ensino e a
prática da escrita consciente e da leitura atenta e devem ser seguidos de acordo com
as necessidades, conveniências e circunstâncias de cada facilitador e cidade.
Os exercícios são apenas sugeridos e é muito importante que cada facilitador voluntário
faça adaptações, combinações e recriações, dando também liberdade aos alunos para
que criem suas próprias atividades.
Agradecemos a valiosa adesão dos voluntários e das equipes das bibliotecas, sua
equipe, desejando a todos um bom trabalho!
Noemi Jaffe1
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Doutora em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo, atua como crítica de literatura do jornal Folha de
S. Paulo e de várias outras publicações. É autora de A verdadeira história do alfabeto (2012), vencedor do Prêmio
Brasília de Literatura 2013, O que os cegos estão sonhando? (2012), recentemente publicado nos Estados Unidos, e
Livro dos começos (2015). Em 2016 foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura com Írisz: as orquídeas.
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ESTRUTURA IDEAL DE UM CURSO DE ESCRITA CRIATIVA
Aqui você vai ler apenas cinco princípios que norteiam a Escrita Criativa em prosa,
desenvolvidos brevemente. Em cada um deles há sugestões de exercícios. Vai ler
também algumas sugestões para formar um grupo ideal de participantes e algumas
sugestões para a dinâmica de cada encontro.
FORMAÇÃO DO GRUPO
METODOLOGIA
Para a prática de uma oficina mais extensa, sugerimos que o facilitador escolha trechos
de romances, contos, crônicas e textos teóricos, para serem trabalhados e discutidos a
cada aula, de acordo com o assunto a ser discutido naquela semana ou série de
semanas.
Sugestões de temas
• Diálogos;
• Tempo;
• Espaço;
• Construção de personagem;
• Conflito;
• Clímax e epifania;
• Linguagem;
• Tom;
• Outros temas.
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Em seguida, o facilitador poderá sugerir que um aluno, por aula, que tenha escrito uma
lição de casa abordando o tema em estudo e/ou reproduzindo algum recurso utilizado
pelo autor, apresente o texto para discussão em sala de aula.
Este texto será lido e analisado pelo grupo, considerando as partes falhas e as bem-
sucedidas.
Por último, o facilitador deverá sugerir um exercício, relacionado ou não aos recursos
analisados no texto lido inicialmente.
SELEÇÃO DE TEXTOS
Sugerimos trabalhar com contos, crônicas e trechos de romances, mas não com textos
não-ficcionais ou com poesia.
LIÇÕES DE CASA
1. Discussão de recursos literários de alguns textos que tenham sido lidos como
lição de casa.
2. Leitura e análise de algum texto produzido por um ou dois alunos, como lição de
casa.
3. Exercício prático de aplicação de algum recurso literário ou gramatical.
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OS PRINCÍPIOS GERAIS DA ESCRITA CRIATIVA
"Se a inspiração quiser vir, ela que venha, mas vai me encontrar trabalhando" – Pablo
Picasso.
Para encontrar ideias de trabalho – não é preciso buscá-las dentro de si, mas,
principalmente, fora. Em dicionários, gramáticas, fontes de pesquisa de todas as áreas
(quanto mais distantes de sua área de conhecimento, melhor).
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trigésima linha etc.) e completá-lo com uma história; encontrar palavras que tenham
muitos significados diferentes e tentar criar um nexo entre eles; a partir de palavras de
significados desconhecidos, imaginar uma história; recolher termos técnicos de alguma
área desconhecida e, com eles, elaborar uma história e muitas outras possibilidades
semelhantes, individuais ou coletivas.
Uma expressão como "eu te amo", por exemplo, está extremamente banalizada e já
perdeu toda a "resistência" Como fazemos para que ela recupere esta "resistência"?
Dizendo, por exemplo, "Eu. Te. Amo"; "euteamoeuteamoeuteamo"; "Rede se torce ao
vento, sem você dentro" e muitas outras maneiras que buscam recuperar um sentido
mais criativo para esta expressão tão esvaziada. O mesmo se dá com inúmeras outras
palavras, expressões, construções e estruturas, todas excessivamente utilizadas e sem
"resistência" alguma. É preciso sempre estar atento a isso e buscar, continuamente,
resgatar a força desses recursos, para que o texto literário não soe como algo já
conhecido pelo leitor e para que ele tenha uma potência única e transformadora.
Sugestão de exercício
Cada aluno escreve dois substantivos e dois adjetivos em duas folhas de papel.
Recolhem-se os papéis, que são distribuídos aleatoriamente. Todos devem escrever
um breve texto (10 linhas) sobre o amor, usando as duas combinações recebidas, de
substantivos e adjetivos, sem usar nenhuma palavra relacionada a amor (amor,
coração, paixão, saudade etc.)
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PRINCÍPIO DOIS – SIMPLICIDADE E CONCISÃO
Sempre (sempre, sempre) que se terminar um texto, rever e cortar. Cortar muito, até
que ele fique com o mínimo de palavras, expressões, recursos, construções
indispensáveis. Escrever é, principalmente, cortar.
Sugestão de exercício
Pedir aos alunos que escrevam, com o máximo de detalhamento possível, alguma
pequena atividade que eles tenham feito naquela manhã. O leite derramou, perdeu o
elevador, perdeu a chave, a mãe telefonou, etc. Este exercício deve ser feito antes do
ensino do princípio da simplicidade. Ao final da explanação, pedir para os alunos
contarem o número palavras que utilizaram. Depois, cortar 30%.
Em seguida, ler para a turma a primeira e a segunda versão e avaliar qual está melhor.
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Se usamos gírias, língua oral, língua erudita, prolixidade, se cometemos erros
gramaticais, se a personagem é plana ou esférica, se o foco narrativo é em primeira ou
terceira pessoa, se o tempo verbal é no presente ou no passado, tudo deve ser
cuidadosamente pensado e elaborado. Nada, na literatura, é gratuito e banal.
Palavras – sempre pensar sobre os termos que se quer usar, para ganhar exatidão e
propriedade. Sempre pensar sobre o tipo de registro: formal, informal, científico, misto,
com variantes linguísticas, sotaques, regionalismos, gírias, palavrões, erros, etc.
Sugestão de exercício
Pensar em algum erro gramatical. Por exemplo, "o menina", e criar um texto em que
este erro seja praticado intencionalmente, sem que ele seja dito por alguém que não
tem escolaridade ou é estrangeiro. Assim, por exemplo, pode-se usar todos os
substantivos femininos com artigos masculinos para se defender a abolição dos
gêneros e assim por diante. Lembre-se, para exemplificar, de "a gente somos inútil",
"aonde está você? me telefona", "beija eu" etc.
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PRINCÍPIO QUATRO – ORIGINALIDADE
Quando uma pessoa se apropria desse seu passado temporal e espacial, coletivo e
individual, ela passa a combinar, por exemplo, um sotaque italianado com a revista
Capricho e Dostoievsky. É isso que constitui a originalidade. Originalidade é
simplesmente a combinação única dos mesmos ingredientes. Escrever é combinar
aquilo que já existe. Para a originalidade do presente, portanto, é preciso conhecer a
origem que vem do passado.
Manuel Bandeira já dizia que "a poesia está no amor como nos chinelos". Portanto, não
é tão importante o assunto de que tratamos, mas, na realidade, a forma como o
tratamos. Pode-se escrever textos excelentes sobre temas aparentemente banais e
irrelevantes, como um chinelo ou um livro péssimo sobre um assunto muito
interessante, como uma grande aventura ou desastre ecológico, por exemplo. O que
muda é, justamente, a perspectiva. Não o "quê", mas o "como" e, com isso, voltamos ao
nosso primeiro princípio (aliás, todos os princípios, como o leitor atento vai perceber,
estão interrelacionados).
Assim sendo, é muito importante que o escritor, ao dar início a uma narrativa – e
também enquanto a escreve – atente para sua escolha de perspectivas. Abordar, por
exemplo, a queda das torres gêmeas do ponto de vista da imagem dos aviões
chocando-se contra os edifícios – algo visto e revisto milhares de vezes – não é uma
ideia muito boa. Mas pensar sobre o desastre a partir de uma mala perdida num dos
degraus do prédio e seu conteúdo, ou, como fez Don Delillo, a partir de um único
sobrevivente e sua história, pode permitir que se vislumbre aquilo que já é conhecido de
formas totalmente impensadas. É isso o que o leitor está buscando: formas inovadoras
de se pensar o já conhecido.
Sugestão de exercícios
1) Cada aluno faz uma lista de seu repertório bibliográfico específico, incluindo desde a
cultura mais elevada até a mais baixa e banal. Em seguida, deve escrever um texto
sobre algum tema escolhido, usando referências de vários tópicos desta lista. Por
exemplo, algo que inclua Shakespeare e Cebolinha.
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PRINCÍPIO CINCO – ESTRANHAMENTO
Um escritor atento nunca se conforma com o estabelecido, nunca aceita de forma inerte
aquilo que está dado, as coisas como elas são. Ele sempre quer transformá-las,
pensando em como elas poderiam ser ou ter sido, ou em como elas poderiam não ser
ou não ter sido. Ele vive, portanto, em estado de estranhamento, espantando-se com as
pessoas, os lugares, as coisas e, principalmente, com as palavras e com a linguagem,
que, para ele, nunca são automáticas nem banais. Sua atitude diante do mundo é a de
dúvida e investigação: como é, como seria, como poderia ser, por que é assim? O
escritor não se conforma, é um rebelde, um inadaptado, sempre se deslocando mais
para cá ou mais para lá, querendo ver as coisas a partir de perspectivas diferenciadas,
como falamos no item anterior.
Da mesma forma, e por causa disso, seus textos refletem e revelam essa atitude,
sempre contendo novas possibilidades linguísticas e narrativas, novas combinações
lexicais e textuais e gerando, com isso, também um estranhamento no leitor que, após
a leitura de um bom livro, nunca sai da mesma forma como começou. Ele passa a estar
no mundo e na linguagem de uma forma mais exigente e cheia de estranhamento.
Assim, várias palavras que começam com o prefixo -des são a matéria prima do
escritor: desequilíbrio, deslocamento, desconforto, desvendamento, descontentamento
e muitas outras dessa natureza.
Além disso, mas também dentro dessa ideia, os personagens pelos quais os escritores
costumam se interessar são, muitas vezes, também estrangeiros, estranhos, não
pertencentes. São os excluídos, os marginais, os inadaptados: loucos, doentes,
criminosos, doentes, crianças, velhos, mulheres, negros e tantos outros que,
geralmente, passam ao largo das instituições. E quando esse personagem é alguém
mais adequado às convenções, na maioria das vezes, ele é um angustiado, alguém que
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se encontra em conflito justamente com esta adequação. É claro, como sempre, que
esta não é uma regra (nem faria sentido que fosse) e nem uma obrigação; mas é muito
importante que se reflita sobre isso, além de serem muito comuns os grandes livros que
correspondem a esta descrição, como, por exemplo, "A legião estrangeira", de Clarice
Lispector e as "Primeiras Estórias", de Guimarães Rosa, em que todos os personagens
estão em situação excluída ou marginal em relação aos poderes estabelecidos.
Sugestão de exercício
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BIBLIOGRAFIA BÁSICA
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. Companhia das Letras
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FALE CONOSCO!
Para assuntos referentes a esta oficina virtual de Escrita Criativa, envie sua mensagem
para [email protected]
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