ABC Da Política Portuguesa - João Pombeiro PDF
ABC Da Política Portuguesa - João Pombeiro PDF
ABC Da Política Portuguesa - João Pombeiro PDF
OFICINA DO LIVRO
uma empresa do grupo LeYa
Rua Cidade de Córdova, n.º 2
2610-038 Alfragide – Portugal
Tel. (+351) 21 427 22 00
Fax. (+351) 21 427 22 01
No fundo, no fundo, talvez seja por isso: sempre gostei de marcos geodésicos – podia
dar-me para pior, bem sei. Não tanto da sua forma (a modos que cilíndrica ou piramidal),
menos ainda do betão com que geralmente são armados em Portugal, sobretudo pela sua
função: hirtos pontos de referência territoriais a quem interessa saber mais do assunto.
E a mim, perdoem-me a confidência, interessava-me saber mais sobre léxico político, léxico
político a bem dizer na sua variante original portuguesa, ou seja, palavras e expressões que,
à custa dos contributos linguísticos de dezenas de democratas nacionais, adquiriram (para não
dizer ganharam) outras subtilezas e novos significados no pós-25 de Abril de 1974.
Para tamanho território a perder de vista – com os seus planaltos, planícies, depressões
(absolutas e relativas) e montanhas russas – revelou-se conveniente fixar uma rede de marcos
geodésicos (para cima de quinhentos) a delimitar um ABC que se quer de referência, e por
isso começa em «abdominais», acaba em «zigue» e, pelo meio, mima os leitores com niquices
semânticas (avento eu) de alto teor político. Um, dois, três, diga lá outra vez: animal feroz,
artigo 69, Bokassa, bolo-rei, Campo Pequeno, cherne, coiso, Coreia do Norte, Cristo, D.
Constança, eixo sulista, elitista e liberal, estilo Rambo, Fidel Castro da Europa, fuças, fumaça,
gang do Multibanco, gato por lebre, golpe da caneta, grupo da sueca, Guerreiro Menino,
homem do leme, incubadora, lelé da cuca, loira do regime, má moeda, maminha esquerda,
ministro-bebé, negócio da roupa suja, Nossa Senhora de Fátima, novo homem português, oásis,
onda laranja, orçamento limiano, Paulinho das Feiras, Rato Mickey, razão do impoder,
rodagem, sargento da cagalhota, tabu, tanga, táxi, técnica da jibóia e truca-truca.
Truca-truca, sim senhor, tudo bem, mas se é para brincar, brincamos todos. Nas próximas
páginas há entradas de ocasião com citações garantidas de fonte primária ou secundária
(sobretudo de jornais e revistas), erros ortográficos obrigatórios (quem falou em «crela»?) e
figuras de estilo irregular.
Resumindo e conjugando: a escolha é minha, a autoria é deles, o gozo (a existir) é nosso.
Abrir a torneira (soar.) Promessa de melhores dias feita por um Bloco Central (v.
Bloco Central) – coligação inédita e irrepetível entre PS (Mário Soares) e PSD
(Carlos Mota Pinto) de curto prazo de validade (1983-1985) – apertado pelo cinto (v.
Apertar o cinto) de Teresa Ter-Minassian, chefe da equipa de intervenção do Fundo
Monetário Internacional em Portugal. [Expresso, 3 de Dezembro de 1983].
Abstenção construtiva (port.) Terceira via eufemística proposta por Paulo Portas,
deputado e presidente do CDS-PP, para viabilizar, na oposição, o Orçamento do
Estado de 2010, apresentado pelo governo de José Sócrates: «O que vou propor ao
grupo parlamentar é uma abstenção construtiva.» [Diário de Notícias, 24 de Janeiro
de 2010].
Africanista de Massamá (alc.) Duas palavras que Luís Pita Ameixa, deputado
socialista, se lembrou de «colar» a Pedro Passos Coelho, recorrendo à biografia
(infância em Angola) e ao local de residência (Massamá) do presidente do PSD, que
se proclamava «o mais africano de todos os candidatos» nas eleições legislativas de
2011: «Esse africanista de Massamá tem de demonstrar se tem unhas para tocar a
guitarra do país ou se não as tem.» [Luís Pita Ameixa, Expresso, 21 de Maio de
2011]; gesto de solidariedade de Fernando Nobre, cabeça de lista do PSD no círculo
de Lisboa, traduzido num pastiche do discurso de John F. Kennedy em Berlim (1963):
«Faço questão de dizer aqui em Massamá que eu, como todos os portugueses, somos
africanistas de Massamá.» [Público, 22 de Maio de 2011].
Aguadeiro (menez.) Político a meter água por todo o lado tentando apagar os
incêndios que ameaçam o interior da laranja (v. Onda laranja); Miguel Relvas,
«aguadeiro que vai a todas» como secretário-geral do PSD, na opinião do colega de
partido Luís Filipe Menezes. [Diário de Notícias, 9 de Novembro de 2004].
Aguentar (aust.) Resposta pavloviana a tempos de crise; equilibrismo sem rede que
deve seguir, no limite, o exemplo dos sem-abrigo; remake de Fernando Ulrich,
presidente do Banco Português de Investimento (BPI): «Se Portugal aguenta mais
austeridade? Ai aguenta, aguenta!» [Público, 30 de Outubro de 2012]; «Se os sem-
abrigo aguentam, porque é que nós não aguentamos?» [Jornal de Notícias, 31 de
Janeiro de 2013].
Ajustamento bonito (gasp.) Visão que o ministro das Finanças Vítor Gaspar tem a
partir de Bruxelas: «Fazendo representações similares para outros países sob
programas, vemos padrões similares, mas como podem imaginar é muito mais bonito
quando se olha para o ajustamento de Portugal.» [Dinheiro Vivo, 7 de Maio de 2013];
eufemismo de «muito para lá da troika» (v. Programa de ajustamento).
Sou xerófita, isto é, suporto bem as secas, o que me torna uma árvore preciosa nos tempos de penúria
agrícola e pastoril. Como me apresento? A minha copa é frondosa, tendencialmente esférica, compacta,
de ramagens fartas e algo pendentes, com folhas persistentes e glabras e suportada por um tronco
irregular, cinzento e espesso.
Excerto do texto sobre a alfarrobeira em Trinta
Árvores em Discurso Directo (Sextante, 2013).
Alguidar de lacraus (zool.) Espaço delimitado por José Luís Nogueira de Brito,
«histórico» centrista, onde conviviam Manuel Monteiro, presidente do CDS-PP, e
Paulo Portas, recém-eleito deputado, num ano (1996) dividido por dois congressos (o
XIV e o XV) e com direito a pausa para café (v. Café).
Alheira (alegr.) Vértice de uma trilogia gastronómica utilizada por Manuel Alegre para
encher os eleitores de orgulho patriótico; porta-bandeira eleitoral do candidato
apoiado por PS e Bloco de Esquerda no segundo round presidencial com Aníbal
Cavaco Silva (2011); fumeiro contra a adaptação «acrítica de tudo aquilo que vem de
Bruxelas»; «Acho que devemos saber defender o nosso queijo da serra, o nosso
chouriço, a nossa alheira.» [TVI, 11 de Janeiro de 2011].
Alqueva (geog.) Aldeia do concelho de Portel, com pouco mais de trezentos habitantes,
conhecida por ter a maior criação de avestruzes em Portugal; barragem que durante
décadas (desde a aprovação do projecto, em 1975, até aos primeiros anos do século
XXI) foi expoente da política-avestruz (meter a cabeça na areia e esperar que passe);
água por todos os lados no Alentejo.
Álvaro (alvar.) Nome pelo qual o ministro da Economia e do Coiso (v. Coiso),
escolhido em 2011 por Pedro Passos Coelho, preferia ser tratado pelos jornalistas.
Prefiro que me chamem sempre Álvaro, porque há uma coisa lá de fora que eu gosto. Quando cheguei a
Inglaterra pela primeira vez, em vez de chamarem senhor professor a um professor catedrático que era
meu orientador, chamavam-lhe Mark, e eu, a partir daí, achei que era muito bom e gosto bastante. Prefiro
que me chamem Álvaro do que me chamem ministro.
Álvaro Santos Pereira, Expresso, 25 de Junho de 2011
Ambulância (socrat.) Governo de Pedro Santana Lopes, demitido em Belém por Jorge
Sampaio, a «caminho do hospital para ser reparado», segundo José Sócrates,
secretário-geral do PS [Público, 20 de Dezembro de 2004]; rodagem final de má
moeda (v. Má moeda); episódio prioritário num longo duelo de Marretas (v.
Marretas).
Anarquia mansa (corr.) Sistema político em «português suave», definido por Vasco
Pulido Valente (v. Picareta falante), dias antes do pântano guterrista (v. Pântano).
[Diário de Notícias, 30 de Novembro de 2001].
Andar por aí (sant.) Passos vigilantes de Pedro Santana Lopes, o «gato de sete
fôlegos» (imagem felina da responsabilidade do deputado social-democrata José Raul
dos Santos) derrotado nas eleições legislativas de Fevereiro de 2005: «Não vou estar
por aqui, mas vou andar por aí.» [Diário de Notícias, 9 de Abril de 2005].
Anéis (aust.) Argolada em tempos de tanga (v. Tanga) denunciada por António de
Sousa Franco, antigo ministro das Finanças (em 1979 e 1995-1999) e cabeça de lista
do PS ao Parlamento Europeu: «Vendemos os anéis, já estamos a cortar os dedos, e
qualquer dia nem tanga temos.» [Grande Reportagem, cit. Antena 1, 1 de Maio de
2004].
Animal feroz (socrat.) Classificação de um ser político dotado de «feitio pouco dado
ao compromisso»; tendência que sucede a anos de «diálogo» (v. Diálogo); José
Sócrates, secretário-geral do PS, enfrentando-se ao espelho por entre citações de
Miguel Torga, Jean-Paul Sartre, Erich Maria Remarque, Fernando Pessoa, Eduard
Bernstein, Federico Fellini, Voltaire, Karl Popper e Vinicius de Moraes. [Única, 24
de Julho de 2004].
Apertar o cinto (aust.) Dieta política SOS com prescrição financeira entregue em
mão pelo Fundo Monetário Internacional (v. Troika) nos anos de 1977, 1983 e 2011.
Apito Laranja (doc.) Título com reflexos dourados de uma lista candidata ao
Conselho Nacional do PSD (XXV Congresso, Oliveira de Azeméis, Maio de 2004),
promovida por José Alberto Pereira Coelho (conhecido no meandro laranja por Zé
Beto). [Sábado, 28 de Maio de 2004].
Aprendiz de feiticeiro (lob.) Político que acaba com a peça de teatro (v. Peça de
teatro) encenada por um «animal feroz», depois de duas voltas de tango (v. Tango);
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, na definição de António Lobo Xavier,
«histórico» do CDS-PP: «Aprendiz de feiticeiro, isto é, alguém que desejou tanto o
memorando que agora não consegue controlar os seus efeitos, sobretudo na economia
portuguesa.» [Visão, 6 de Junho de 2013].
Eu não posso afirmar que tive conhecimento de que estava um microfone em qualquer ar condicionado.
[No entanto],
era muito frequente brincar-se dizendo: em que gabinete está aquele ar condicionado?
Zita Seabra
Arco de governação (geom.) Segmento da curva parlamentar com perfume de poder.
Arca de Noé (pir.) Embarcação conduzida para o dilúvio por Mário Soares e Carlos
Mota Pinto (v. Bloco Central); «A coligação PS/PSD pode ser vista como um produto
da crise e como uma coligação defensiva. Como uma espécie de arca de Noé
socialista/social-democrata», palavras de Francisco Lucas Pires, presidente do CDS.
[O Jornal, 22 de Julho de 1983].
Armas em boas mãos (otel.) Arsenal de fogo ideológico composto por dez mil
espingardas automáticas G3, desviadas do depósito de material de guerra de Beirolas
e entregues a «trabalhadores revolucionários […], operários e camponeses
indubitavelmente interessados no processo revolucionário» (cit. capitão Álvaro
Fernandes); satisfação à prova de bala de Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do
Comando Operacional do Continente (Copcon): «Sei pelo menos que as armas se
encontram à esquerda e isso é uma satisfação muito grande. Se elas se encontrassem à
direita, é que era perigoso. Como se encontram à esquerda, para mim estão em boas
mãos.» [Diário Popular, 26 de Setembro de 1975].
Árvores que abanarão sem vento (poes.) Milagre da natureza apenas possível
quando dois Antónios (Costa/Seguro) se defrontarem, à séria, pela liderança do PS;
duelo previsto pelo socialista Ricardo Gonçalves numa madrugada passada no Largo
do Rato: «O momento em que as árvores abanarão sem vento e as pedras da calçada
saltarão.» [Expresso, 2 de Fevereiro de 2013].
Astrólogo (marc.) Profissão alternativa para um ministro das Finanças que tarda em
acertar; fato desenhado à medida por Marcelo Rebelo de Sousa no seu habitual
comentário dominical. [TVI, 17 de Março de 2013]; (v. Candidato astrológico).
Na noite do próximo dia 1 de Outubro, espero poder pendurar no meu cinto de caça política as tais duas
aves de arribação – espécies exóticas lisboetas pouco apreciadas na região cinegética de Aveiro: um
garnisé-cantante e um pavão-de-monco-caído. Esses troféus servirão de espantalho a futuras
transmigrações para esta «zona demarcada entre o Douro e o Buçaco»!
Último ponto (25.º) do Breve Manifesto Anti-Portas em Português Suave, assinado por Carlos Candal.
Tá na hora de gritar d’alt’à riba, ó engenheiro Guterres, que já tem àvondo d’arraboiça com o Algarve.
De encambulhar o Algarve. De nos tentar barimbar, meter cuspinho da orelha e fazer coceguitas para
entreter. Faça o que tem a fazer, talvez a gente lhe dê uma manzaca, uma tanganhada, a modes quem nã
esgravulha, nã escramalha nem espicoiça, com promessas de pespeneta ou moquenca de ralheta. […] O
engenheiro Guterres é, sem dúvidas, um político balhão, mas nã tem artes de mandador cá p’ò nosso
balho de roda, ò p’ò balho mandado, ò p’ò balho do teso e do estravanca. Nã seja fónica pró Algarve!
Que tamos fartos de ser sarrapilhados, retraçados e atentados, por gente que só quer vir ao Algarve para
andar na pitifanga, na rabaceira, ò rabisco, à mainante, na maltesaria, ò gavelo e a apanhar cada
champorrão, que até anda de lado.
Excerto do discurso de José Mendes Bota na tradicional rentrée do PSD no Pontal (Algarve).
Azeite veio ao de cima (sant.) Versão de Pedro Santana Lopes sobre a candidatura
de Luís Marques Mendes à presidência do PSD (Congresso de Viseu, Fevereiro de
2000): «Finalmente, o azeite veio ao de cima.» [Público, 22 de Janeiro de 2000].
B
de bad English e de bagunça fiscal; de balneário e de baratas tontas; de
barba rija, barões e baronesa; de Barrancos e bastardos; de baterias
intelectuais e de bebé; de beija-mão e beijo da morte; de berço, de betão e
de bi-bitola; de «bicho, bicho» e de Big Show Lello; de biquíni e Bloco
Central; de bloqueio da ponte e de bluff; de boa moeda e de bochecha
mimosa; de bodyboard e de Bokassa; de bolo laranja e de bolo-rei; de
«Balada do Bom Cavaquista» e de bomba atómica; de bombeiro e de bons
lençóis; de Borda d’Água e de «botão rosado da tetina»; de bronzeado e de
brutalmente; de bulldozer e buraco; de burocrata do sonho e de buzinão,
entrada a merecer conjugação.
>
Bad English (socrat.) Idioma singular, e singular a bem dizer internacional («not in
English but in international language») escolhido por José Sócrates, primeiro-
ministro, com cadeira feita de Inglês Técnico (v. Inglês técnico), para se expressar
(«express myself») na Columbia University, em Nova Iorque, seguindo o conselho do
seu «bom amigo» («good friend») Manuel Pinho, ministro da Economia, presente no
auditório. [Sábado, 9 de Outubro de 2010].
He advise me to express myself not in English but in international language we use to communicate: bad
English.
Bagunça fiscal (cont.) Desordem imposta em dias de Bloco Central (v. Bloco
Central) segundo os cálculos («bagunça fiscal») de Henrique Medina Carreira
[Expresso, 28 de Julho de 1984], antigo ministro das Finanças (1976-1978), contas
feitas a partir de «sistema fiscal» que considerava «selvagem, terrorista, incoerente,
antiquado, desequilibrado, injusto e complexo». [Diário de Notícias, 27 de Julho de
1984].
Barba rija (gén.) Condição epidérmica indispensável a político que queira mandar,
consoante experiência de Nuno Krus Abecasis, presidente da Câmara Municipal de
Lisboa entre 1979 e 1989.
Só pode mandar quem sabe. E eu sabia mais de tudo na Câmara do que qualquer outro. […] A política ou
é séria e feita por homens de barba rija ou é uma grande mariquice.
[A Capital, 5 de Abril de 1991].
Não me importo nada de ser apelidada de baronesa ou de Lady Boop. (…) Tenho muito orgulho de ter
nascido onde nasci.
Maria José Nogueira Pinto, deputada do CDS-PP.
[DNA, 15 de Março de 1997].
Qualquer outro horizonte, neste momento, é prematuro. É como perguntar a um bebé o que quer ser
quando for grande.
Idem, ibidem, sobre a hipótese de suceder a Aníbal Cavaco Silva na presidência do PSD e em São Bento.
[Expresso, 7 de Março de 1992].
Quando era ministro há apenas quatro meses… chamei-me bebé… enfim, foi talvez um pouco «gráfico» de
mais. Eu acho que estou mais crescido.
Idem, ibidem. [Diário de Notícias, 28 de Setembro de 1992].
Beijo da morte (marc.) Apoio de Miguel Relvas, ministro adjunto e dos Assuntos
Parlamentares (v. Licenciatura), a uma eventual candidatura de Fernando Seara,
presidente da Câmara Municipal de Sintra (v. Equívoco eleitoral), à autarquia de
Lisboa nas eleições de 2013 (v. De/da).
Posso ser de quebrar, não sou de torcer (…) e a independência de critérios e a honestidade de actuações
vêm-me do berço – e, para mim, o que o berço dá a tumba o leva.
Miguel Cadilhe, ministro das Finanças.
[Expresso, 30 de Janeiro de 1988].
Sei que alguns de vós estão tristes por ver-me partir! Sei que muitos outros alimentam ainda a esperança
de que eu não parta! Eu sei que a minha vontade é manter-me junto de vós, ainda que o meu coração, nos
meus quase 60 anos, me apele ao sentimento do berço que me viu nascer, empurrando-me sem sossego
para uma luta que conto vencer em Amarante, dando assim a esta terra a última e apaixonada gota do
meu sangue…
Excerto de uma carta de Avelino Ferreira Torres, autarca de Marco de Canaveses em trânsito eleitoral
para Amarante.
[24 Horas, 19 de Novembro de 2004].
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Lello, é um homem muito atento ao que se
passa nas nossas Comunidades. Antes que a SIC Internacional conquiste os emigrantes com o seu
programa Big Show SIC, José Lello antecipou-se e resolveu fazer o seu Big Show Lello. Aquela mensagem
que o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas protagoniza na RTPi, diversas vezes ao dia,
com uma voz mole tipo pastel de Belém derretido, parece estar a conquistar os corações mais fracos. O
sucesso é tanto que Lello terá já pensado concorrer à Câmara de Paris.
Biquíni (mend.) Peça de roupa invocada uns bons anos antes da moda tanga /fio dental
(v. Tanga, Fio dental).
As intervenções dos jovens foram boas como os biquínis. Tocam só nas partes essenciais.
Luís Marques Mendes, ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, classificando as actuações dos
jotas (v. Jotas) na Convenção Autárquica da Juventude Social-Democrata
de 1993. [O Independente, 26 de Novembro de 1993].
Bloco Central (táct.) Nome por que ficou conhecido o governo de iniciativa PS
(Mário Soares) PSD (Carlos Mota Pinto), entre 9 de Junho de 1983 e 5 de Novembro
de 1985; dupla partidária nunca mais repetida; antecâmara de uma década de
cavaquismo (1985-1995).
Seria o mesmo que encontrar [ou entrar] numa biblioteca e pedir dois livros já lidos, talvez já sabidos de
cor, ainda por cima em edições revistas, sim, mas diminuídas em vez de aumentadas; dois livros inspirados
pela ideia de distribuir o que estava produzido nos tempos de fartura fácil.
Francisco Lucas Pires, presidente do CDS, e a analogia bibliófila de um «Bloco Central», a menos de um
mês das eleições legislativas de 25 de Abril de 1983. [Diário de Notícias, 28 de Março de 1983].
Boa moeda (cavaq.) Cara ou coroa de Aníbal Cavaco Silva em forma de artigo de
opinião – «Os políticos e a lei de Gresham» – publicado no semanário Expresso a 27
de Novembro de 2004, entendido como recado directo ao presidente da República
Jorge Sampaio sobre os «perigos» do governo de Pedro Santana Lopes (PSD) em
coligação com o CDS-PP de Paulo Portas (v. Má moeda).
A ser assim, a lei da economia, conhecida pela lei de Gresham, poderia ser transposta para a vida
partidária portuguesa com o seguinte enunciado: os agentes políticos incompetentes afastam os
competentes. Segundo a lei de Gresham, a má moeda expulsa a boa moeda.
O PS não pode nem vai tolerar que se instaure na Região da Madeira o poder de um novo Bokassa.
Repito: o poder de um novo Bokassa.
Jaime Gama, presidente do grupo parlamentar do PS.
[Expresso, 29 de Fevereiro de 1992].
Bolo laranja (nog.) Doce principal nos aniversários do PSD que, em jeito de 18.ª
comemoração, acabou por ser alvo de uma avaliação táctica de Fernando Nogueira,
ministro da Defesa: o bolo era grande («como nós»), saboroso («como nós») e doce
(«como as nossas militantes também o são»). [Público, 11 de Maio de 1992].
[…]
vi engrossar de boys a lista,
vi saltitar mais do que esquilo,
de galho em galho ser artista,
e armar o estado em crocodilo.
voracidade? era do estilo.
economia? ai que arrefece!
vi portugal vendido ao quilo
e o povo tem o que merece.
Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se
põem finos ou nós não pagamos a dívida. As pernas dos banqueiros alemães até tremem.
Pedro Nuno Santos, vice-presidente da bancada parlamentar do PS, num jantar com militantes socialistas
em Castelo de Paiva. [Jornal de Notícias, 15 de Dezembro de 2011].
Bombeiro (alc.) 1. Alcunha de Jorge Coelho, político conhecido por apagar «fogos
socialistas» nos anos de António Guterres em São Bento (1995-2001); 2. Tribunal
Constitucional, «uma espécie de bombeiro voluntário da classe política portuguesa»,
Marcelo Rebelo de Sousa, comentador. [Público, 18 de Fevereiro de 2013]; 3.
Autarca, «bombeiro da aflição alheia» (v. Burocrata do sonho).
Borda d’Água (doc.) Almanaque histórico, fundado em 1929, com «todos os dados
astronómicos e religiosos e muitas indicações úteis de interesse geral», essencial para
leitura política após sentença climatérica do ministro das Finanças Vítor Gaspar (v.
Condições meteorológicas); a 12 de Junho de 2013, Bruno Dias, deputado comunista,
dizia-se preparado para debater com o ministro da Economia Álvaro Santos Pereira a
realidade portuguesa a partir das previsões do almanaque: «As notícias não são boas:
água de Julho, no rio faz barulho; chuva de Agosto, apressa o mosto; em Setembro,
pelo São Mateus, não peça chuva a Deus.» [Expresso, 15 de Junho de 2013].
Brutalmente (psic.) Advérbio de modo escolhido ainda que o assunto seja coiso (v.
Coiso): em visita oficial à ilha da Madeira, Rui Amaral, secretário de Estado do
Emprego no governo de Bloco Central (v. Bloco Central), defende que Portugal tem
«taxas de desemprego mais baixas do que a maioria dos países europeus», e tal
ousadia laboral deve ser corrigida «o mais rápida e abruptamente possível, diria
mesmo brutalmente, com todas as consequências sociais e políticas que isto terá sob o
ponto de vista negativo». [Expresso, 15 de Outubro de 1983].
Bulldozer (alc.) 1. Segunda alcunha de Jorge Coelho (v. Bombeiro) atribuída neste
caso por António Almeida Santos, camarada socialista, que um dia se lembrou de
carimbar tamanha capacidade de trabalho; 2. Auto-retrato de Miguel Relvas,
secretário-geral do PSD, a caminho de ser ministro: «Eu sou tipo bulldozer.»
[Expresso, 22 de Abril de 2011].
Se não fosse primeiro-ministro também era capaz de buzinar contra o aumento da ponte.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro.
[SIC, 22 de Junho de 1994].
Eu buzino
Tu bloqueias
Ele recua
Nós não pagamos
Vós não votais
Eles perdem a maioria absoluta
Conjugação popular a partir do buzinão.
[Expresso, 30 de Julho de 1994].
C
de cabelo levantado, diz Cunhal; de cacharolete de grupinhos e de
cadilhar; de café e de calos na mão; de campeonato nacional de autarcas
(com major lá no alto) e de Campo Pequeno; de cândido Voltaire, de carne
assada, de caroço e de cartão laranja; de casamento, de cassete e de Cassius
Clay; de catedrático em prudência e de causas fracturantes; de CD e de
cenoura; de champanhe e de Chão da Lagoa; de chave do carro, de cherne
e de chip; de cinco minutos, de clubes de futebol e de coisas giras; de
coisíssima nenhuma e de coiso; de cooperação estratégica e de coordenadas
celestes; de Coreia do Norte e de Cuba; de cornos e de cristal; de Cristo
(que afinal desce à Terra) e de cultura do cocktail, para políticos com
rodagem.
Cabelo levantado (cunh.) Estratégia capilar de afirmação vertical defendida por
Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, no final das eleições legislativas de Julho de
1987 – apesar da maioria absoluta conquistada pela «direita» (cit.) (PSD, 50,2%), os
comunistas (12,1%) prometiam não baixar o cabelo: «Nós estamos de cabelo
levantado (que não será à punk) e de pés assentes na terra.» [Expresso, 25 de Julho de
1987].
Cadilhar (cad.) Verbo político inédito, fixado em 1989, do qual ainda se desconhece
entrada em dicionário.
O que seria, senhora deputada, se o ministro das Finanças andasse a cigarrar em vez de formigar, se
andasse a cigarrar em vez de cadilhar?
Miguel Cadilhe, ministro das Finanças, em resposta a Natália Correia. [RTP, 21 de Novembro de 1989, cit.
O Independente].
Café (táct.) Sinal de um afastamento várias vezes anunciado (v. Golpe da caneta): no
XIV Congresso do CDS-PP (1996), em Coimbra, Manuel Monteiro, presidente do
partido, abandona a sala durante o discurso de Paulo Portas (deputado) para ir beber
um café – Monteiro demite-se em 1997 e Portas é eleito líder do CDS-PP no
congresso de Braga, em Março de 1998.
Câmara (isalt.) «Universo tão variado» mas tão variado que, se «vasculhado» em
pormenor, «não há presidente que não cometa irregularidades», de acordo com a
tese de Isaltino Morais, presidente da Câmara Municipal de Oeiras e da Associação
Nacional dos Autarcas Sociais-Democratas. [Público, 29 de Junho de 1992].
Cândido Voltaire (soar.) Epíteto atribuído por Mário Soares a Carlos Marques,
candidato apoiado pela União Democrática Popular (UDP) às eleições presidenciais
de 1991: para o presidente da República em exercício, o adversário mostrava-se qual
«cândido Voltaire» ou mesmo «Alice no País das Maravilhas», tal o «simplismo e a
ingenuidade do discurso». [Expresso, 22 de Dezembro de 1990].
Que a coligação não seja um casamento de amor, o PS aceita. Em qualquer caso, sem adultério…
António Almeida Santos, ministro de Estado e dos Assuntos Parlamentares do governo do Bloco Central
(v. Bloco Central), com as eleições presidenciais de 1986 em perspectiva.
[Expresso, 28 de Novembro de 1984].
Cassete (cavaq.) Pequena caixa de fita magnética que, replicada por centenas de
exemplares, regista «mais de mil horas» de governação de Aníbal Cavaco Silva
(1985-1995) – «tenho cassetes de todas as vezes que apareci na televisão, durante dez
anos» –, ajudando o antigo primeiro-ministro a corrigir pormenores estéticos – «é
importante vermos a cara que fizemos e até a cor do fato ou da gravata». [Público, 22
de Março de 2004].
Cassius Clay (barret.) Muhammad Ali (Cassius Marcellus Clay), mito do boxe e do
KO, convocado pelo sociólogo António Barreto para explicar a Mário Soares o que
aconteceria se ele (Soares) fosse o único candidato às eleições presidenciais de
1991: «É como o Cassius Clay estar na arena com a casa cheia. E então o público só
grita: vai-lhe ao focinho! Mas Cassius Clay está sozinho e não tem em quem bater…»
[O Independente, 19 de Outubro de 1990].
O governo não vai ter descanso. Mas eu já disse aos meus ministros que este ano, no Verão, irão ter mais
do que as habituais duas semanas de férias. A cenoura é essa.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro.
[Expresso, 18 de Janeiro de 1992].
Chip (sant.) Circuito desintegrado de Pedro Santana Lopes, presidente do PSD, dias
antes de perder as eleições legislativas de 2005: «Agora, há uma matriz, um chip, que
está dentro de mim: um governo, uma maioria, um presidente.» [Expresso, cit. Grande
Reportagem, 21 de Fevereiro de 2005].
Cinco minutos (cavaq.) Duração máxima que Aníbal Cavaco Silva, primeiro-
ministro, dedica à leitura de jornais. [Expresso, 22 de Janeiro de 1994].
Crianças (port.) Políticos sem estados de alma, somente gratos por qualquer oferta;
«Quem anda na política não tem estados de alma. Somos como crianças: tudo o que
nos dão temos de aceitar com gratidão» – Paulo Portas, presidente do CDS-PP.
[Sábado, 4 de Fevereiro de 2005].
Cristo (marc.) E Ele desceu à Terra em Fevereiro de 2006 para Marcelo Rebelo de
Sousa poder, finalmente, candidatar-se a presidente do PSD.
Fidel Castro, a quem muitos chamam ditador, não o é. Eu estive em Cuba e sei que não é.
Odete Santos, deputada do PCP. [Focus, 24 de Janeiro de 2000].
Tenho dúvidas [sobre a pena de morte em Cuba]. Não me manifesto claramente que não se justifica.
Ruben de Carvalho, membro do Comité Central do PCP.
[A Capital, 23 de Julho de 2003].
Cultura do cocktail (cavaq.) Universo nos antípodas do novo homem português (v.
Novo homem português) já com rodagem feita (v. Rodagem).
Sei o que a burguesia portuguesa pensa de mim. Não venho da «cultura cocktail», como toda a gente sabe.
Depois da Figueira da Foz, percebi que tinha entrado, de uma forma inesperada e radical, num novo
universo e que, se não me adaptasse depressa e não surpreendesse, era crucificado.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro.
[Revista K, Setembro de 1991].
D
de D. Constança, que aparece sempre para a festança; de «de» e «da»,
nuances de discórdia autárquica; de dama de antanho, a relevação poética
de Maria Cavaco Silva; de défice, com periquito na gaiola; de défice
democrático, e aí falamos de Bokassa; de «deixem-nos trabalhar!»; de
democracia suspensa, mas só por seis meses; de derrapagens que são uma
maravilha; de descamisados, o apoio eleitoral que fugiu a Marcelo; de
desemprego convertido em «estado de espírito»; de deserto e desvio
colossal; de dialecto madeirense; de diálogo, antes de «ir-lhes às fuças»; de
dinossauros, de dique e de direito à indignação; de dívidas, de ditadura da
maioria e de dossiers; de «Duarte Pacheco deste fim de século» e de Durão.
Dúvidas?
D. Constança (vitor.) O primeiro nome da lista socialista de candidatos a candidatos
(v. Impulso pessoal).
[António Sousa Franco] não é apenas o pai do défice. É o pai, a mãe, o avô, a avó, o gato e o periquito
do défice.
Paulo Portas, presidente do CDS-PP e ministro da Defesa. [Público, 31 de Maio de 2004].
Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia. Quando não se está em democracia é outra
conversa, eu digo como é que é e faz-se. E até não sei se a certa altura não é bom haver seis meses sem
democracia, mete-se tudo na ordem e depois então venha a democracia.
Manuela Ferreira Leite, presidente do PSD.
[Público, 18 de Novembro de 2008].
Descamisados (marc.) Apoio que faltou à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa nas
eleições autárquicas de 1989; convicção expressa do candidato todo-o-terreno (v.
Mergulho) apoiado pela coligação PSD/CDS: «[ganharei] com o apoio dos
descamisados»; e por tabela: «se for presidente da câmara, serei altamente
populista». [Expresso, 18 de Novembro de 1989].
Desvio [ ] colossal (gasp.) Escreva o que quiser entre parênteses. Vai dar ao mesmo.
A expressão «desvio colossal» deve-se a uma omissão de palavras que foram utilizadas entre «desvio» e
«colossal». Foram detectados desvios e o cumprimento das metas orçamentais vai exigir-nos um trabalho
colossal.
Vítor Gaspar, ministro das Finanças, explicando a expressão atribuída ao primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho. [Diário de Notícias, 14 de Julho de 2011].
Senhor presidente, para surpresa da minha bancada, acaba de ser-nos comunicado que um senhor
deputado passará a dirigir-se ao plenário no «dialecto madeirense». Como não conheço este dialecto e
temo que tenhamos de dispor de tradução simultânea no caso das intervenções do senhor deputado
Carlos Rodrigues, pergunto-lhe, senhor presidente, se tem algum conhecimento da existência deste
«dialecto», porque eu próprio certamente não o conheço.
Francisco Louçã, coordenador do Bloco de Esquerda.
Quanto ao dialecto, só tenho uma coisa a dizer-lhe, senhor deputado Francisco Louçã, e agora mesmo em
jeito de brincadeira: o grade azoigou e foi atupido na manta das tanarifas!
Carlos Rodrigues, deputado do PSD.
Dinossauros (esp.) Espécie autárquica em vias de extinção que tenta o seu último
fôlego através de uma nuance lexical (v. De/da).
Dívidas (socrat.) Contas eternas cujo pagamento só pode ser ideia de criança.
Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos
Estados são por definição eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei.
José Sócrates, ex-primeiro ministro, estudante de mestrado em Ciência Política, em conferência na
Sciences Po, Paris.
[Correio da Manhã, 3 de Novembro de 2011].
Dúvidas (cavaq.) Momento raro ou, no limite, nunca vivido. (v. Enganar).
E
de e-Government e de ECU; de «eixo sulista, elitista e liberal»; de
electrodomésticos e elefantes; de enganar e de enorme aumento de
impostos; de ensaio de porrada e de Entrem na Onda, título de um hino
rap de Cavaco Silva; de entroikado e de enviesamentos
masculinocêntricos; de equivalências e de equívoco eleitoral; de
escangalhar e de escarro moral; de escrito nos astros e escrito nas estrelas;
de escutas, de espinha direita e de espiral recessiva; de esquerda das
alcatifas e dos sofás; de essência de Portugal e de essência da transparência;
de estado de graça e de «estilo Rambo»; de estratégia do funil e de
eucalipto; de Euro 2004, de eurocalmo e de excesso de quadrilha; e, para
fim da parada, de um exército de coisos.
e-Government (sant.) Era político-virtual de curta duração (Julho-Dezembro, 2004),
imediatamente anterior à era do «choque tecnológico» de José Sócrates, declarada
por Pedro Santana Lopes («estamos na era do e-Government», SIC, 12 de Julho de
2004) enquanto esperava pela tomada de posse oficial como primeiro-ministro; teoria
de longo alcance – ministérios fora de Lisboa, conselhos de ministros com recurso a
videoconferência, etc. – reduzida à instalação de secretarias de Estado em Coimbra
(Administração Local), Santarém (Agricultura e Alimentação), Aveiro (Educação),
Évora (Bens Culturais), Faro (Turismo) e Braga (Juventude).
Eixo sulista, elitista e liberal (menez.) Movimento de rotação a partir do qual Luís
Filipe Menezes, presidente da comissão política do PSD-Porto, apontando o alvo à
lista de candidatura de José Manuel Durão Barroso («eixo sulista, elitista e liberal»),
se estatelou ao comprido, lacrimejante, no congresso social-democrata do Coliseu de
Lisboa (Fevereiro de 1995).
Telefonei para a minha loja e mandei entregar um vídeo e um televisor. A notícia espalhou-se e, depois,
toda a gente me pedia o mesmo. Como não sou capaz de discriminar ninguém, mandei carregar uma
camioneta com oitenta televisores e aparelhos de vídeo e distribui por todas as escolas.
Valentim Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Gondomar (1993-2013), recordando a visita a uma
escola que não tinha leitor de vídeo para exibir as cassetes enviadas pelo Ministério da Educação. [Jornal
de Notícias, 6 de Fevereiro de 2012].
Elefante (zool.) 1. «Designação comum aos grandes mamíferos proboscídeos [...] com
peso até 7,5 toneladas, dotados de uma longa tromba flexível, que representa um
prolongamento do nariz, orelhas grandes, largas e achatadas, membros maçicos e
colunares, patas com três a cinco dedos, com unhas e incisivos superiores formando
um par de enormes presas» (def. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Círculo
de Leitores, 2003); 2. «Bicho» com peso político: referência animal de Mário Soares
(PS) e Francisco Sá Carneiro (PSD), em 1979.
Você afinal não me perguntou se eu fosse um bicho, qual seria? Disseram-me que anda a perguntar aos
outros entrevistados... Eu seria um elefante!
Francisco Sá Carneiro, presidente do PSD, interpelando a jornalista Maria João Avillez, a quem Mário
Soares, secretário-geral do PS, deu a mesma resposta. [Expresso, 24 de Março de 1979].
Entrem na Onda (mús.) Título do hino rap da campanha de Aníbal Cavaco Silva para
as eleições presidenciais de 1996, cantado por Nino e Tony Brown, nomes artísticos
dos cabo-verdianos Jorge e António Furtado. [Visão, 16 de Novembro de 1995].
Equívoco eleitoral (sear.) Ganhar uma corrida à Sissi de Sintra (v. Sissi de Sintra)
sem se saber muito bem como.
Costumo dizer que me candidatei a Sintra para perder. Sou um exemplo de equívoco eleitoral. Era uma
batalha difícil contra Edite Estrela, quase impossível, aceitei para ajudar o doutor Durão Barroso.
Fernando Seara, presidente da Câmara Municipal de Sintra desde as «eleições do pântano» (v. Pântano).
[Maxim, Junho de 2013].
Escarro moral (i.p.) Inédito insulto parlamentar atirado por Francisco Sousa Tavares
(deputado dos «Reformadores») à cara de Raúl Rego (PS) e lavrado em acta no
Diário das Sessões de 19 de Março de 1980, dia em que se ouviram outros mimos
entre as bancadas: «mentiroso», «animal», «espécie de farrapo humano», «cabotino»,
«puta que o pariu».
Escrito nas estrelas (sant.) Alusão antiga de Pedro Santana Lopes para um embate
pessoal com José Manuel Durão Barroso que dá nisto: faísca (v. Zandinga) no
congresso do PSD (Viseu, 2000) e vitória de Durão.
As escutas telefónicas em Portugal são feitas exageradamente [...]. Eu próprio tenho muitas dúvidas de
que não tenha telefones sob escuta. Como é que vou lidar com isso? Não sei. Como vou controlar isso?
Não sei.
Penso que tenho um telefone sob escuta. Às vezes faz uns barulhos esquisitos.
Fernando Pinto Monteiro, procurador-geral da República, em entrevista ao semanário Sol. [Cit. Público,
20 de Outubro de 1997].
Espinha direita (pass.) Posição proibida («[andar] de espinha direita, como se não
fosse nada com eles») a políticos que impõem sacrifícios, falham previsões e
objectivos e não acertam uma nos orçamentos.
Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre merece ou não merece ser responsabilizado civil e
criminalmente pelos seus actos?
Não podemos permitir que todos aqueles que estão nas empresas privadas ou que estão no Estado fixem
objectivos e não os cumpram. Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do Orçamento
derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de
poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-
se.
Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, um ano antes de chegar ao Palácio de São Bento. [Público, 6
de Novembro de 2010].
Espiral recessiva (cavaq.) Linha curva, ilimitada, onde vivem os entroikados (v.
Entroikado)
Temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva em que a redução drástica da procura leva ao
encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego.
Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, na mensagem de Ano Novo (1 de Janeiro de 2013).
Estilo Rambo (sant.) Fernão Capelo Gaivota (v. Fernão Cape-lo Gaivota) a andar
por aí (v. Andar por aí); «Não o deixem ficar só, porque senão ele vai para a floresta
estilo Rambo» (cit. António Pinto Leite).
Confesso que as que mais me empolgam são as estradas que estão a rasgar o interior. Tenho a certeza de
que ajudarão a criar um país novo – e não há nada mais entusiasmante do que participar nisso.
Joaquim Ferreira do Amaral, ministro das Obras Públicas, sobre as «suas obras de sonho». [O
Independente, 21 de Dezembro de 1990].
Vejo com apreensão que alguns quando falam de clarificação estão a pensar em ajustes de contas, em
limpeza de balneários. É aquilo a que eu chamo a estratégia do funil, que é normalmente um sinal de
fraqueza e de insegurança.
Manuel Alegre, deputado socialista, sobre a vida do PS em tempos de segundo governo de António
Guterres. [Público, 21 de Dezembro de 2000].
Eucalipto (felix.) Árvore que mais se assemelha a Vítor Gaspar, ministro das Finanças,
segundo a opinião botânica de António Bagão Félix, antigo ministro da Segurança
Social e das Finanças, autor do livro Trinta Árvores em Discurso Directo: «Se fosse
uma árvore, Vítor Gaspar seria…» [SIC Notícias, 14 de Abril de 2013].
Poupado e racional, ganho no que agora se costuma designar por eficiência energética. Teimoso que sou,
se me cortarem, volto a rebentar de toiça em mais do que uma vara...
Excerto do texto sobre o eucalipto em Trinta Árvores em Discurso Directo (Sextante, 2013).
Eu sou um eurocalmo…
Paulo Portas, ministro de Estado e da Defesa e presidente do CDS-PP. [Visão, 27 de Fevereiro de 2003].
Não posso aceitar mais estar num combate e ter tiros dentro da trincheira. Não se dão tiros ao próprio
exército!
Pedro Santana Lopes, primeiro-ministro.
[Jornal de Notícias, 5 de Dezembro de 2004].
Neste momento tocou-se a rebate e toca a unir o partido. Quando soam as trombetas de guerra, o nosso
partido é o melhor exército armado do país.
Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira, quando era certa a demissão do
governo de coligação PSD/CDS-PP, conduzido por Pedro Santana Lopes. [Público, 6 de Dezembro de
2004].
Há uma coisa que o presidente da República nunca pode fazer, que é a de comentar em público a vida
dos partidos políticos. Nunca o fiz, não faço, nem façarei.
Aníbal Cavaco Silva, presidente da República.
ß[Junho de 2013].
É necessário votar em massa na CDU, nos favos de mel. Não vão à procura das argolinhas porque essas
desapareceram…
Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP.
[Diário de Lisboa, 11 de Maio de 1987].
Não é a abelha que estará nos boletins eleitorais, mas sim os favos de mel.
Idem, ibidem. [Diário de Lisboa, 18 de Maio de 1987].
São… o Produto Interno Bruto são cerca de três mil milhões de contos… portanto, seis por cento… seis
por cento de três mil milhões… seis vezes três dezoito… um milhão e… um milhão e… ou melhor… enfim, é
fazer a conta.
António Guterres, secretário-geral do PS.
[SIC, 30 de Maio de 1995].
Já disse aqui que [António José Seguro] devia fazer de morto. Foi aliás um conselho que me deu António
Guterres e que eu não segui e já não sei se não devia ter seguido. Ele disse-me quando lhe fui apresentar
cumprimentos como líder do PSD: só tens é que fazer de morto. Se fizeres de morto, se estiveres lá no sítio
certo, no momento certo, vais lá. Era meu adversário. Ele queria dar um conselho de amigo. Eu achei que
era um conselho de adversário. Não sei se não me enganei.
Marcelo Rebelo de Sousa, comentador político.
[TVI, 26 de Maio de 2013].
Fernão Capelo Gaivota (sant.) Nome segundo o qual Pedro Santana Lopes revela
ser carinhosamente tratado pelo pai, por maioria de razão simples: apesar de
pertencer a um «bando», gosta «de voar sozinho» [O Jornal, 30 de Maio de 1991;
Público, 16 de Junho de 2002]; tradução portuguesa de Jonathan Livingston Seagull,
best-seller do norte-americano Richard Bach publicado em 1970.
Tenho falta de estrutura política, se tivesse essa cultura, que não tenho, poderia ter sido um Fidel Castro
da Europa. Tenho uma cultura limitada aos conhecimentos que adquiri ao longo dos 17 meses da primeira
revolução em que me meti na minha vida.
Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do Comando Operacional do Continente (Copcon). [Diário
Popular, 30 de Setembro de 1975].
2012 certamente irá marcar o fim da crise. Será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014.
Álvaro Santos Pereira, ministro da Economia.
[Diário de Notícias, 14 de Novembro de 2011].
A crise acabou.
Manuel Pinho, ministro da Economia.
[Público, 14 de Outubro de 2006].
Fininho (jard.) Portugal em novo andamento se por algum acaso Alberto João Jardim
se mudasse para o Palácio de São Bento com um «governo só de madeirenses». [Cit.
Grande Reportagem, 21 de Fevereiro de 2004].
Fio dental (sarm.) Colecção tanga (v. Tanga) para dias quentes; proposta de Nuno
Morais Sarmento, ministro da Presidência: «Eu acho que nem tanga temos. Se
estivéssemos no Verão, seria um fio dental.» [Público, 3 de Outubro de 2002].
Fixe (soar.) Adjectivo uniforme a duas versões MASP – Movimento de Apoio Soares à
Presidência (1986, 1991), com desdobramentos criados para rimar: «Soares é fixe e o
Freitas que se lixe.» [v. Mais fixe].
Flauta interior (pass.) Instrumento sobre pressão.
Temos aqui um tubo até à nossa garganta. É o diafragma, músculo por trás das nossas costelas flutuantes,
que controla a nossa respiração. O objectivo para que a voz possa ser expressa, audível, é que
mantenhamos uma certa pressão sobre este tubo, como uma flauta ou outro instrumento de sopro.
Portanto, não se canta a deitar o ar fora, porque se deitássemos o ar fora ninguém nos ouvia. […] Para
que a voz ressoe temos de manter a voz com o diafragma dentro da nossa flauta interior e depois temos de
fazer com que o som, produzido pelas cordas vocais quando tocam uma na outra, possa ser espalhado
naquilo a que desde os gregos se chama a máscara, que é no fundo todas as cavidades que temos no
nosso rosto.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, barítono reconhecido (v. Ópera bufa), em lição de educação
musical a alunos da Escola Miguel Torga (Amadora), no âmbito do projecto «Escola Voluntária» do
Ministério da Educação e Ciência.
[TV Ciência, 30 de Maio de 2012].
FMI (port.) Sigla de Fundo Monetário Internacional também baptizada por Paulo
Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do CDS-PP, com a
sequência «Fruta, Milho e Investimento», durante uma visita à Feira de Agricultura
de Santarém. [Público, 16 de Junho de 2013].
As forças de bloqueio ao governo têm um rosto (…): todos aqueles sectores ou políticos que, frontal ou
encapotadamente, querem impedir a legislação reformadora e querem bloquear a modernização do país.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro, no XVI Congresso do PSD (Porto, Novembro de 1992).
Frenético (marc.) Político em frenesim após eleição por milagre (v. Cristo); estado
contrário a languidez sugerida (v. Fazer de morto); «É bom que o engenheiro António
Guterres se habitue à ideia de que eu vou ficar frenético para sempre», Marcelo
Rebelo de Sousa, presidente do PSD. [SIC, 16 de Abril de 1996].
Frota (port.) Três táxis e meio, quatro táxis (v. Táxi) em bandeirada directa do Largo
do Caldas (sede do CDS-PP) para a Assembleia da República, após o resultado do
CDS-PP nas eleições legislativas de Outubro de 1995: 9,05%, 15 deputados.
Acabou o táxi. Se Deus Nosso Senhor permitir, vai começar uma frota.
Paulo Portas, cabeça de lista do CDS-PP por Aveiro.
[Diário de Notícias, 4 de Agosto de 1995].
Fuças (gut.) Vontade socialista de dar nas ventas de «uma direita» através de
«determinado clima».
Há um problema político. Há uma direita que nos quer derrubar por razões diferentes. Tocámos em certos
tabus e a reacção está aí. Não temos sabido responder. Mas para responder precisamos de ter entre nós
determinado clima. Não me aparece outra coisa senão ir-lhes às fuças.
António Guterres, primeiro-ministro, em reunião com as federações distritais socialistas. [Público, 27 de
Junho de 2001].
Fuças completas (port.) «Determinado clima» (v. Fuças); «O senhor primeiro-
ministro fica a saber o que não pode fazer se não quer levar com a direita outra vez
e com as fuças completas», Paulo Portas, presidente do CDS-PP. [Expresso, 8 de
Setembro de 2001].
Futebol de salão (menez.) PSD a jogar em recinto fechado; táctica de Luís Filipe
Menezes – presidente da Câmara Municipal de Gaia, derrotado no congresso do PSD
em Pombal (Abril de 2005) – «oferecida» ao treinador principal Luís Marques
Mendes: «O partido tem de sair do futebol de salão, do indoor, e virar-se para as
pessoas.» [Público, cit. Grande Reportagem, 17 de Setembro de 2005].
Futuro (cavaq.) «Espaço onde cada um de nós vai passar o resto da sua vida», Aníbal
Cavaco Silva, primeiro-ministro. [O Independente, 13 de Agosto de 1993].
G
de Gabriela, Cravo, Canela e aulas práticas de Ciências Políticas; de galos
e gamela; de «gang do Multibanco», com pontaria certa na caça ao voto; de
gato Gaspar e de «gato por lebre»; de gelatina política e de gene PSD; de
género feminino do socialismo e de geração rasca; de golpe da caneta, de
governo-luz e governo XS; de grande líder, o grande Alberto e mais
nenhum; de grande tranquilidade espiritual; de grandolizar, verbo com
manifesto próprio; de gravador e gravatas; de «grávido do interesse
nacional» e de gravuras rupestres; de grupo do cacilheiro e de grupo da
sueca; de Guerreiro Menino e de um guião à prova de cinema.
Gabriela, Cravo e Canela (tel.) Telenovela brasileira de enorme audiência em
Portugal (transmitida entre Maio e Novembro de 1977), tanto assim que a
interpretação curvilínea de Gabriela (Sónia Braga) serviria de exemplo para «aulas
práticas» de «Ciências Políticas».
Vi também grande parte da Gabriela, que me serviu para analisar nas aulas práticas de Ciências Políticas
e reflectir sobre o poder selvagem ou pré-democrático.
Francisco Lucas Pires, deputado do CDS.
[Portugal Hoje, 12 de Abril de 1981].
Uma das frases que ficou da campanha de 1991 foi que toda a gente comia à mesa do Orçamento.
Continua a pensar assim?
Gato por lebre (zool.) Declaração pública de Aníbal Cavaco Silva, primeiro-
ministro, no dia 13 de Outubro de 1987 (RTP), com efeito directo na queda abrupta do
valor das acções: os investidores, sobretudo os pequenos, poderiam estar a «comprar
gato por lebre» na Bolsa de Lisboa.
Gene PSD (doc.) Título de uma «comissão de revisão» do programa do PSD com
conclusões passadas a livro em 2011 – «um livro sem dono» e «sem autor», devido a
centenas de «contributos», pode ler-se no prefácio de José Pedro Aguiar Branco.
[Correio da Manhã, 31 de Janeiro de 2012].
Golpe da caneta (táct.) Manobra atribuída por Paulo Portas a Manuel Monteiro,
presidente do CDS-PP, durante as eleições para a bancada parlamentar centrista
(1996): com sete votos a favor, sete brancos e uma abstenção, o candidato único
Paulo Portas (v. Rato Mickey) convoca uma conferência de imprensa para, com sete
deputados a seu lado, acusar Manuel Monteiro de ter dado o «golpe da caneta», ao
aparecer de esferográfica em punho no acto de votar... em branco, comportamento que
o presidente do CDS-PP justificaria mais tarde: preparava-se para devolver a caneta
que pedira emprestada para assinar o caderno eleitoral.
Governo XS (táct.) Proposta de dieta política explicada por Jorge Moreira da Silva,
vice-presidente do PSD, no artigo de opinião «Um governo tamanho XS» (Expresso, 3
de Junho de 2011), publicado dois dias antes das eleições legislativas: o prometido
«governo com dimensão historicamente pequena» (Pedro Passos Coelho, Março de
2011) traduzia-se em dez ministros, quatro vantagens e um inconveniente, segundo as
linhas de Jorge Moreira da Silva, aqui resumidas:
Vantagens:
1. «Reforça a coordenação ministerial e a obtenção de resultados.»
2. «Promove uma maior integração de políticas, contrariando a nossa proverbial
tendência para uma governação por “quintas”.»
3. «Reforça o peso dos nossos ministros nas negociações internacionais. Quanto
maior o portfólio de um ministro, mais escutados são os seus argumentos.»
4. «Embrião da redução do peso do Estado no orçamento e na economia.»
Inconveniente:
1. «Obrigará os ministros a trabalhar mais e de forma mais competente.»
Grupo do cacilheiro (táct.) Nome atribuído nos jornais ao grupo socialista (José
Vera Jardim, António Costa, Jaime Gama e Eduardo Ferro Rodrigues) que, nos anos
1990, se reunia habitualmente no restaurante O Cacilheiro, em Lisboa, para alegadas
«conspirações» políticas.
Não vejo porque é que pessoas que há anos almoçam periodicamente em conjunto haveriam de o fazer só
pelo facto de umas estarem no governo e outras não, quando são até bons garfos… O «grupo do
Cacilheiro» é um grupo gastronómico e aberto.
Eduardo Ferro Rodrigues, ministro do Trabalho e da Solidariedade. [O Independente, 1996].
Grupo da sueca (táct.) Nome atribuído nos jornais ao grupo de militantes do PSD
reunido à volta de um baralho de cartas no período da governação de Aníbal Cavaco
Silva: Fernando Nogueira, Luís Marques Mendes, Luís Valente de Oliveira, José
Silva Peneda, José Vieira de Carvalho, Eurico de Melo.
O grupo da sueca nunca existiu como grupo. Eu não sou um grande jogador de sueca. Não me lembro de
este grupo ter jogado à sueca de uma forma sistemática… não é verdade isso. Sei que o professor Vieira
de Carvalho e o engenheiro Eurico de Melo gostam de jogar às cartas.
José Silva Peneda, ministro do Emprego e da Segurança Social nos dois governos de maioria absoluta de
Aníbal Cavaco Silva (1987-1995). [TSF, 19 de Junho de 1993, cit. O Independente].
Guião (doc.) 1. Proposta de reforma do Estado da autoria de Paulo Portas, ministro dos
Negócios Estrangeiros e presidente do CDS-PP, anunciada em Fevereiro de 2013 e
sucessivamente adiada; 2. Desejo manifestado por Paulo Portas em 2011: inscrever-se
num curso de argumentista em Londres, «porque ninguém nasce a saber escrever para
cinema». [Público, 11 de Fevereiro de 2011].
H
de habitat, o que é natural é bom em Miguel Relvas; de harakiri
colectivo, porque nunca se sabe onde nos levam as previsões de Vítor
Gaspar; de herbívoro, para quem mastiga as funções presidenciais; de
homem da mala, seja ela de Marcelo, de Preto engessado ou de Linda de
Suza; de homem da Regisconta, já que uma ambulância nunca se esquece;
de homem do aparelho, cheio de créditos e equivalências; de homem do
leme, a navegar na onda laranja; de homem para todos os climas, quando a
casa fica sem Portas; de homens bons, perdidos na rede; de homens sem
sono, para fazer cumprir a lei de madrugada; e, por fim, de honestidade,
virtude elevada ao quadrado por Aníbal Cavaco Silva.
Habitat natural (relv.) Prisão.
Quero agradecer esta oportunidade. É sempre importante conhecer os presos no seu habitat natural.
Miguel Relvas, presidente da Comissão Parlamentar da Juventude (1991-1995), durante uma visita à
prisão de Coimbra na década de 1990. [Visão, 26 de Julho de 2012].
Harakiri colectivo (man.) Hipótese de cortar à faca, sugerida por Manuela Ferreira
Leite, ex-presidente do PSD, caso os anunciados cortes de quatro mil milhões (ou
mais) na despesa pública (v. Guião) fossem adiante, depois de uns valentes «24 mil
milhões» retirados da economia portuguesa desde o início de 2011 (v. Programa de
ajustamento): «Não vejo possibilidade, a menos que tivéssemos decidido todos fazer
um harakiri colectivo.» [TVI 24, 11 de Abril de 2013].
Herbívoro (marc.) Opção alimentar de Aníbal Cavaco Silva quando tem de mastigar
os seus poderes presidenciais.
Cavaco é herbívoro, não carnívoro. Ele come erva, não come carne.
Comentário de Marcelo Rebelo de Sousa.
[TVI, 10 de Março de 2013].
Homem do leme (cavaq.) Capitão que navega a favor da corrente (v. Onda laranja).
Mesmo aqueles que discordam de nós não têm dúvidas de que o barco tem um rumo e que há uma pessoa
que segura o leme.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro.
[Público, 9 de Agosto de 1993].
Homens bons (nog.) Rede espalhada por Portugal na qual «assenta o PSD», segundo
o ministro Fernando Nogueira, em anos de primeira maioria absoluta de Aníbal
Cavaco Silva. [Diário de Notícias, 3 de Dezembro de 1989].
Homens sem sono (alm.) Políticos capazes de redigir e aprovar leis de madrugada.
Tenho uma grande facilidade em redigir linguagem jurídica. […] E escrevo muito depressa, o que
significa que muitas vezes decorriam conselhos de ministros e eu estava a fazer uma lei urgente para
podermos dizer que tinha sido aprovada no próprio Conselho de Ministros. Leis que tinham de ser feitas
ali e no fim passava e acabou. Confiavam em mim, já quase não se discutia. […] A verdade é que eu
dormia pouco e eu gosto de dormir, mas não se conseguia. Éramos chamados os homens sem sono. Nunca
tive tanto sono na minha vida. É curioso que sendo eu um indivíduo que gosta de dormir fui o único que
nunca dormiu nos conselhos de ministros de que fiz parte. […] Excepcionalmente, só uma vez é que vi o
Cunhal a cochilar. Esse também não dormia. Os outros todos dormiam belas sonecas.
António Almeida Santos, entrevistado pelo diário A Capital, 29 de Janeiro de 2005, recordando os
primeiros anos pós-25 de Abril, titular das pastas da Coordenação Interterritorial em quatro governos
provisórios (como independente), da Comunicação Social, da Justiça no I Governo Constitucional (1976-
77), de ministro adjunto (1978) e, um pouco mais tarde, dos Assuntos Parlamentares (1983-85).
Honestidade (cavaq.) 1. Linha que separa Aníbal Cavaco Silva da restante classe
política: «O senhor deputado pode ter uma ambição na vida: ser tão honesto como o
primeiro-ministro. Mas nunca será mais.» [Expresso, 30 de Janeiro de 1988]; 2.
Virtude elevada ao quadrado nas eleições presidenciais de 2011, em reacção a uma
«campanha desonesta» (cit.) que ligava o seu nome ao escândalo da falência do
Banco Português de Negócios (BPN): «Para serem mais honestos do que eu, têm que
nascer duas vezes.» [Diário Económico, 23 de Dezembro de 2010].
I
de imensa Madeira, reino político expandido de norte a sul de Portugal;
de ímpeto reformista, fase inicial de uma cooperação estratégica; de
Impulso Jovem, programa com pipocas à mistura; de impulso pessoal, ou
como voltar a D. Constança; de inaugurações, premissa maior do silogismo
de Jardim transformado em defeito ministerial; de inclinação consensual,
sinal de entrada em cena de Jerónimo de Sousa; de incubadora, tese de
Santana baseada na lei de Gresham; de independentes, plural de um jornal
singular; de Indiana Jones, o aventureiro do betão; de Inglês técnico,
cadeira obrigatória para dominar o bad English; de institutos de beleza,
pretexto para falar de Maomé; de interpretação especial, um direito original
dedicado a Manuela; e I de ismo, muito ismo.
Imensa Madeira (lour.) A graça divina e o toque de Alberto João Jardim (v. Mão de
Deus e do homem) alargados à totalidade do território português; desejo de Manuel
Dias Loureiro, presidente do Congresso Nacional do PSD e antigo ministro da
Administração Interna, «emocionado» pela «revolução dos factos e das obras» do
arquipélago: «Gostaria que Portugal, de norte a sul, fosse uma imensa Madeira.»
[Público, 9 de Maio de 2004].
Amigo, se tu com 20 anos não consegues arranjar cem euros por mês para pagar os estudos, então vais
ter muitos problemas na vida, porque até a vender pipocas se arranja cem euros por mês.
Miguel Gonçalves, «embaixador» do programa Impulso Jovem. [Público, 2 de Abril de 2013].
Impulso pessoal (vitor.) Estímulo que falta a Dona Constança (v. D. Constança) para
mudar de residência política.
Este é um governo a quem ninguém deu quase o direito a existir antes de ele nascer, e que, depois de
nascer através de um parto difícil, teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e
davam-lhe uns estalos e uns pontapés. Tem sido difícil, para quem está na incubadora, ver passar a
família e, em vez de acarinhar, haver membros da família que dão uns estalos no bebé.
Pedro Santana Lopes, primeiro-ministro.
[Diário de Notícias, 29 de Novembro de 2004].
Independentes (esp.) Convidados políticos a quem os partidos não passam cartão; na
sua forma singular, título do semanário que mais espremeu a laranja (v. Onda
laranja).
Inglês técnico (socrat.) Célebre cadeira (v. Licenciatura) que origina momentos
de originalidade linguística (v. Bad English).
O que eu acho é que há peles tão sensíveis que deveriam ser exemplos para os institutos de beleza. O
mandatário Lopes Cardoso disse sobre mim, com a maior desenvoltura, o que Maomé não disse do
toucinho, e eu mantive-me sereno.
Jorge Sampaio, candidato à Presidência da República, em resposta à pergunta: «Admite ter cometido
alguns erros e que o discurso de Gomes Mota [seu mandatário], chamando salazarento a Cavaco Silva,
possa ter sido um deles?» [Expresso, 12 de Janeiro de 1996].
Interpretação especial (pach.) Direito sem regra e com excepção para os discursos
de Manuela Ferreira Leite, presidente do PSD, proferidos em ano de eleições
legislativas (2009).
Manuela Ferreira Leite tem direito a uma interpretação especial. Não fala em slogans como o primeiro-
ministro [José Sócrates], em que aquilo é tudo montado, tudo feito para passar encaixadinho e passa
bem. Manuela Ferreira Leite fala como uma pessoa normal, com veemência, mas não está ali a debitar
recados. Portanto, como não tem capacidade de repetir os slogans, não tem capacidade mediática, nem
fala tão bem como o primeiro-ministro ou outras pessoas como o engenheiro Guterres, enreda-se, tropeça.
O eleitorado percebe muito bem a mensagem porque a substância não é a mesma coisa.
José Pacheco Pereira, comentador político, no programa Quadratura do Círculo, SIC Notícias, Julho de
2009.
Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não
posso fazer. […] O primeiro-ministro entendeu seguir o caminho da mera continuidade no Ministério das
Finanças. Respeito mas discordo. Expressei, atempadamente, este ponto de vista ao primeiro-ministro, que,
ainda assim, confirmou a sua escolha. Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do
Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente
sustentável, nem é pessoalmente exigível.
Excerto do comunicado de Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros e presidente do CDS-PP.
[Público, 2 de Julho de 2013].
-ismo (corr.) Sufixo de origem grega que se agarra ao nome de quem se aproxima do
poder, cujo resultado, por vezes, dá nisto: pintasilguismo, mota-pintismo, sá-
carneirismo, eanismo; _________, __________, __________, _______, _________,
________, ____________, _________, _________, _________, _________,
________ (complete você mesmo).
J
de Jacinto, primeiro nome de Leite Capelo Rego, porque a ficção é
género maior da política; de jamais, francesismo que serve para afastar
aeroportos do deserto; de James Jardim Bond, agente sempre em
dificuldades contra os cubanos do continente; de jobs for the boys,
evidência que começa em negação; de jogging, narrativa de José Sócrates
tratada com os pés; de jóia de família; de José Trocas-te, anúncio com
pompa oficial e na circunstância do programa Contra-Informação; e J de
Jotas, via verde com custos para o eleitor.
K
de karma, porque Avelino Ferreira Torres acredita na justiça divina; e
também de Kinder – o ovo, claro. O que haveria de ser? Pedro Passos
Coelho, não?
Jacinto Leite Capelo Rego (alc.) Nome «sonante e anedótico» (palavra de Polícia
Judiciária) de um doador fictício descoberto entre os 4216 recibos que justificavam o
depósito de um milhão de euros na conta do CDS-PP; peça hilariante do puzzle
«Portucale» – caso de suspeita de tráficos de influências na aprovação de um
empreendimento turístico do Grupo Espírito Santo em Benavente –, que terminou com
a absolvição dos 11 arguidos.
É um nome fora do comum, [mas o CDS] não tem culpa se um doador decide não escrever o seu
verdadeiro nome nos recibos.
João Almeida, secretário-geral do CDS-PP.
[Jornal de Notícias, 16 de Junho de 2007].
Jamais (lin.) Francesismo utilizado por Mário Lino (2007), ministro das Obras
Públicas, Transportes e Comunicações, para repetir o conselho de «maiores
sumidades» e «pessoas de grande competência da área do ambiente» sobre a
possibilidade de construir um novo aeroporto a sul do Tejo: «Na Margem Sul jamais,
jamais!» (v. Margem Sul, Deserto).
James Bond (jard.) Bond, Jardim James Bond, com licença para governar o
arquipélago da Madeira desde 1978, em conflito permanente com os «cubanos» do
continente.
Há vinte e tal anos que governo com dificuldades. Estou como James Bond. O perigo é a minha profissão!
Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira. [Diário de Notícias, 22 de Dezembro
de 1998].
Jobs for the boys (gut.) Evidência que começa em negação; promessa de António
Guterres («Com o PS no poder não há jobs for the boys», 1995) que perdeu
caracteres com o tempo; cartões com preferência militante (v. Cartão laranja).
Jogging (socrat.) Narrativa de José Sócrates escrita com os pés nas visitas oficiais do
primeiro-ministro ao estrangeiro (2005-2011).
Jotas (esp.) Via verde com custos para o eleitor (v. Aparelho partidário).
Karma (avel.) Segunda coisa em que acredita Avelino Ferreira Torres, presidente da
Câmara de Marco de Canaveses, logo a seguir às viagens de helicóptero (v. Viagens
de helicóptero): «Acredito piamente na justiça divina. E acredito muito em karmas.
Acho que estou aqui a pagar por alguma coisa que familiares meus do passado
fizeram.» [Grande Reportagem, 1 de Outubro de 2005].
Kinder (sarm.) Ovo de chocolate muito popular entre as crianças oferecido por Nuno
Morais Sarmento – ministro da Presidência nos governos de José Manuel Durão
Barroso (2002-2004) e Pedro Santana Lopes (2004-2005) – a Pedro Passos Coelho
nos seus primeiros meses de presidente do PSD: «Ainda é um ovo Kinder. Não tem
provas dadas.» [Jornal de Notícias, 7 de Novembro de 2010].
L
de lamber um cinzeiro, célebre slogan antitabagista de Macário Correia;
de lavoura, porque para Portas a «terra não se agricula»; de «lelé da cuca»,
com Marcelo Rebelo de Sousa em desafio expresso a Francisco Pinto
Balsemão; de «levar» com o PS – e os punhos cerrados de Jorge Coelho;
de levar às cavalitas; de licenciatura num duelo de equivalências; de lide da
casa, analogia doméstico-política de Ramalho Eanes; de lista de erros,
«amplo material» curricular de Vítor Gaspar; de livros brancos, para quase
tudo; de lixo, como prova material de crime; de loira do regime, mimo
Menezes ao «companheiro» Pacheco; de Lucky Luke, sem Jolly Jumper; e
de Lusíadas (Os), obra-prima pronta a citar quando se vai, de vela, além da
troika e da Taprobana.
Lamber um cinzeiro (macar.) Consequência de um slogan antitabagista divulgado
por Macário Correia, secretário de Estado do Ambiente, no final dos anos 1980
(primeiro governo de maioria absoluta de Aníbal Cavaco Silva, 1987-1991): «Beijar
uma rapariga que fuma é o mesmo que lamber um cinzeiro.» [cit. O Independente, 2
de Outubro de 1994].
Divergências: O Diário de Lisboa da quarta-feira passada titulava, peremptório, que Eanes, no seu
discurso, não quisera ser o Sidónio Pais de Mateus. O Balsemão é lelé da cuca. […]
[Expresso, 5 de Agosto de 1978].
Leva(r) (coelh.) Promessa de punhos erguidos (v. Fuças) a quem afrontar o PS no
caminho para as eleições autárquicas de Dezembro de 1991 (v. Pântano).
É esta a forma como vamos actuar: quem se meter connosco, leva! Quem lutar connosco vai saber como é
a resposta do PS.
Jorge Coelho, coordenador da Comissão Permanente do PS. [Público, 1 de Abril de 2001].
Lide da casa (ean.) Analogia doméstica utilizada por António Ramalho Eanes,
presidente do Partido Renovador Democrático (PRD), para distinguir as funções de
presidente da República, cargo que exerceu entre 1976 e 1986, e de primeiro-
ministro, cargo a que se candidatava durante as eleições legislativas de 1987.
Isto do presidente e do governo é como marido e mulher na lide da casa. Mesmo que o marido diga isto e
aquilo, na casa é a mulher que manda.
[Expresso, 17 de Julho de 1987].
Lista de erros (gasp.) «Amplo material» de pesquisa (v. Ajustamento bonito,
Astrólogo, Enorme aumento de impostos, Teoria do Excel).
Apresentar uma lista de erros seria demasiado demorado. Deixe-me apontar-lhe apenas um que parece
importante. O erro de que falo é que pensei que se poderia dar prioridade à consolidação orçamental e à
estabilização financeira sem uma transformação estrutural profunda das administrações públicas.
Lixo (táct.) Resíduos de toda a espécie que funcionam como prova da conduta
ambiental dos cidadãos; segundo a proposta apresentada em 2004 por José Eduardo
Martins, secretário de Estado do Ambiente, a fiscalização da separação do lixo e da
utilização de ecopontos – «a cargo dos municípios e até da GNR» – previa multas
para prevaricadores e um caminho forense original.
O lixo fornece provas de quem o fez, pelo que através dele pode-se chegar ao cidadão.
José Eduardo Martins, secretário de Estado do Ambiente. [Correio da Manhã, 27 de Fevereiro de 2004].
O que é isso?
Jornalista
Não é nada de depreciativo. Quando nos lembramos do La Dolce Vita, de Fellini, nenhum de nós se
lembra do Marcello Mastroianni, mas lembramo-nos da bela sueca a tomar banho na Fontana di Trevi.
Cada filme, cada país, cada circunstância, cada momento histórico, tem a sua loira do regime. No nosso
momento histórico, o meu companheiro Pacheco Pereira é a loira do regime. Ele só quer centrar todas as
atenções nele, independentemente daquilo que esteja em causa. É evidente que a loira do regime é sempre
má actriz. Quando se lhe dá um papel importante dá sempre para o torto – mas esteticamente é fantástica.
Luís Filipe Menezes, presidente da Câmara Municipal de Gaia e antigo presidente do PSD. [Jornal i, 20 de
Junho de 2009].
Lusíadas, Os (pass.) Obra-prima pronta a citar quando se vai, de vela, além da troika
(v. Programa da ajustamento) e da Taprobana.
Camões fala-nos de uma corrente que nos arrasta para trás e que é mais poderosa do que os ventos que
nos impelem para a frente. Mas hoje, em Portugal, se é certo que não podemos subestimar a corrente em
que o navio português foi posto […], também temos de reconhecer que há ventos favoráveis a soprar nas
nossas velas. E serão ventos mais favoráveis quanto mais firmes, quanto mais hasteadas, quanto mais
resistentes, forem as nossas velas.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, e a análise do momento através de um canto d’Os Lusíadas.
[Público, 26 de Setembro de 2012].
M
de má moeda e de MacGyver; de Machado de Assis, de macho e de
madeixas grisalhas; de Maizena, de mais fixe e de mal desenhado; de
malabarices, de maminha esquerda e de mandados em branco; de mangas
arregaçadas e de «manifestE Anti-Eanes»; de «manifesto anti-Cavaco» e de
manos Fred Astaire; de manso e de manta; de mão atrás do arbusto e de
mão de Deus e do homem; de máquina e de máquina de calcular; de
Margem Sul, de Marocas e de Marretas; de Matrix 4, de mau hálito político
e de meia bola e força; de mel e de melancia; de melhor povo do mundo e
de memorando de entendimento; de mergulho e de mesa do Orçamento; de
mil-folhas e de mioleira; de ministro aditivado, de mísseis nucleares e de
monstro, de Mr. Wonderful e, para não falar mais do assunto, de mulheres
dos candidatos.
Má moeda (cavaq.) Reverso da boa moeda (v. Boa moeda).
As televisões deram horas a um macho e a nós apenas alguns segundos. É preciso lembrar que os machos
não votam.
Álvaro Cunhal, antigo secretário-geral do PCP.
[Diário de Notícias, 28 de Agosto de 1995].
Madeixas grisalhas (gut.) Estratégia de recorte espanhol sugerida a António
Guterres, secretário-geral socialista, em caminho para as eleições legislativas de
1995: «Aconselharam-me a fazer madeixas grisalhas, como Felipe González, mas eu
recusei.» [O Independente, 22 de Setembro de 1995].
Mais fixe (seg.) Versão revista de um fixe original (v. Fixe); «Com António Guterres, o
PS será mais fixe», aposta de António José Seguro, deputado, para um duelo
socialista «escrito nos astros» (v. Escrito nos astros). [Lusa, 10 de Janeiro de 1992].
Em 2011, não obstante um esforço bastante considerável de controlo orçamental e medidas orçamentais
que não estavam previstas no programa original, a forma como estava desenhado o programa impediu a
concretização plena dos montantes de ajustamento orçamental que estavam previstos.
Vítor Gaspar, ministro das Finanças.
[Rádio Renascença, 19 de Março de 2013].
Malabarices (pass.) Contributo lexical (v. Ouvisto, Façarei) ainda sem entrada
conhecida nos dicionários de língua portuguesa; garantia parlamentar do primeiro-
ministro Pedro Passos Coelho: «Nós não fazemos malabarices com as cativações.»
[Expresso, 12 de Novembro de 2011].
Maminha esquerda (i.p.) Política de peito aberto exercida por Ilona Staller na
Assembleia da República: a 19 de Novembro de 1987, Elena Anna Staller, ou Ilona
Staller (Cicciolina para o mundo), actriz porno e deputada italiana do Partido
Radical, eleita em 1985, chega a Lisboa para um show no Coliseu dos Recreios, mas
antes dedica uns minutinhos de fim de tarde ao Parlamento português, tempo suficiente
para, desde o alto da tribuna reservada às visitas diplomáticas, exibir o seu manifesto
internacional – a «maminha esquerda», escândalo parlamentar com a devida atenção
poética de Natália Correia (v. Botão rosado da tetina).
Em cena, Cicciolina faz pouca política. Apenas apelou a que surjam em Portugal muitos «cicciolinos
radicais» a aderirem à secção local do seu partido transnacional e escarneceu dos «deputados democratas-
cristãos» que invectivaram o seu inesperado topless, nessa mesma tarde, na Assembleia da República.
Excerto da reportagem sobre o show de Cicciolina no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. [Expresso, 21 de
Novembro de 1987].
Era para facilitar o serviço e se voltasse atrás faria de novo o mesmo, apesar dos inúmeros processos
levantados pela Polícia Judiciária Militar e pela Comissão de Averiguações e Sevícias e Violências
praticadas contra presos militares. Acontecia que eu passava cerca de 19 horas fora de casa e dormia
cinco. Naquela altura conturbada tínhamos a preocupação de não permitir qualquer conspiração contra
a jovem Revolução portuguesa. Eu era a única pessoa que podia passar mandados de captura, buscas e
outros, por competência atribuída pelo general Costa Gomes. Como nem sempre era fácil contactar-me,
eu deixava dez mandados em branco (rigorosamente contados) assinados entregues ao oficial de dia.
Quando era necessária qualquer acção, estava tudo mais facilitado: o oficial de dia preenchia o papel e
punha o selo branco sobre a minha assinatura.
Otelo Saraiva de Carvalho, comandante do Copcon (Comando Operacional do Continente) no Verão
Quente (v. Verão Quente). [Correio da Manhã, 15 de Abril de 1980].
Porque Spielberg só há um
Porque de pateta e louco todos temos um pouco
Porque não há pachorra
Porque destrói a camada do ozono
Porque Portugal não é a reserva
Porque general só o atum
Porque lembra o Príncipe Carlos
Porque não se pode rir que fica feie
Porque somos alérgicos ao pó
Porque já nos vimos gregos para nos livrarmos dele.
Senhor primeiro-ministro, vejo que de intervenção em intervenção vai ficando um pouco mais manso.
Francisco Louçã, coordenador do Bloco de Esquerda.
Manta (utens.) 1. Peça de lã que envolveu João de Deus Pinheiro («o inolvidável,
invencível e incomparável Sir John of God Pine Tree», como Paulo Portas certo dia
escreveu) num caso fictício, posteriormente julgado em tribunal, após O Independente
ter publicado a «notícia» (26 de Julho de 1991) de que o ministro dos Negócios
Estrangeiros desviara uma manta da classe executiva da TAP (voo de 17 de Julho de
1991, de Lisboa para Nova Iorque); 2. Finanças Públicas:
As Finanças Públicas são como uma manta que, puxada para a cabeça, deixa os pés de fora e, puxada
para os pés, deixa a cabeça descoberta.
Mário Soares, primeiro-ministro.
[Correio da Manhã, 29 de Outubro de 1984].
O PS já não é um partido sequer, é uma máquina, mas já esgotou a máquina, não tem gasolina, veio tudo
para baixo.
Belmiro de Azevedo, presidente do grupo Sonae. [Expresso, 7 de Junho de 2011].
Máquina de calcular (utens.) Suporte clássico das ideologias: «As ideologias, hoje
mais do que nunca, devem ter ao lado uma máquina de calcular» – Luís Barbosa,
candidato a presidente da comissão directiva do CDS. [Expresso, 19 de Fevereiro de
1983].
Um aeroporto na Margem Sul tem um defeito: precisa de pontes. Suponha que é dinamitada uma ponte.
Hoje, o terrorismo está na ordem do dia. Quem quiser criar um grande problema em Portugal, em termos
de aviação internacional, dinamitando uma ponte, desliga o Norte do Sul do país.
António Almeida Santos, presidente do PS.
[Público, 24 de Maio de 2007].
Marretas (alc.) Alcunha de José Sócrates e Pedro Santana Lopes na régie da RTP
quando ambos se vestiam de comentadores políticos dominicais, entre 2002 e 2003.
Matrix 4 (menez.) Apresentação da candidatura de Luís Filipe Menezes no XXVII
Congresso do PSD, em Pombal, do qual saiu derrotado por Luís Marques Mendes:
«Espero funcionar como Matrix 4 e acabar com os oráculos do regime […] que
utilizam o poder para manipular a opinião pública.» [O Independente, Abril de
2005].
Mel (j.soar.) Substância para adoçar eleitores preparada por Pedro Santana Lopes, de
acordo com a experiência de João Soares, derrotado em Lisboa nas eleições
autárquicas de 2001 (v. Pântano): «O pior é que Santana Lopes tem mel.» [Expresso,
20 de Julho de 2002].
Mergulho (marc.) Político lançado à água com a promessa: «Eu nunca vou ao
fundo…»; braçadas de Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara Municipal de
Lisboa pela coligação PSD/CDS, nas «águas sujas do Tejo», rumo às eleições de 17
de Dezembro de 1989.
Na margem e no cacilheiro parado mesmo ao lado alguns gritam: «Atira-te! Atira-te!» Ele esfrega as mãos
e… zás! Aí vai um mergulho nas águas sujas do Tejo, por entre muitas palmas e assobios. São
precisamente 16h05. E aí vem ele, braçada firme, cheio de pedalada, como um leão-marinho ao encontro
do magote de jornalistas e repórteres fotográficos que o aguardam a alguns metros do Padrão dos
Descobrimentos.
Excerto da reportagem publicada no Correio da Manhã (1 de Setembro de 1989).
Mr. Wonderful (doc.) Título de um artigo sobre Vítor Gaspar (v. Condições
meteorológicas), então assessor do ministro das Finanças Miguel Beleza, publicado
em O Independente (15 de Fevereiro de 1991), seminário dirigido por Paulo Portas,
com direito a chamada de capa: «Um génio nas finanças».
Na nossa política agrícola temos alguns nabos, mas não há mais nabos na agricultura do que haverá na
classe política. É caso para dizer que anda ela por ela…
Raul Rosado Fernandes, fundador da Confederação de Agricultores de Portugal e eurodeputado eleito na
lista do CDS-PP. [O Diabo, 5 de Maio de 1992].
Nadar (marc.) Braçadas de candidato que «nunca [vai] ao fundo» (v. Mergulho).
Nafarros (geog.) Aldeia da freguesia de Colares (Sintra) com mais tráfego socialista
por metro quadrado, sobretudo em dias de reuniões e intriga política na casa de Mário
Soares (anos 1980 e 1990).
Narrativa (socrat.) Histórias sem princípio nem fim e onde lá pelo meio aparece uma
mão atrás do arbusto (v. Mão atrás do arbusto); substantivo feminino que José
Sócrates trouxe directamente de Paris para fixar, à base da repetição, no discurso
político português.
A atitude do Partido Socialista deixou que a narrativa feita pelos meus adversários políticos estivesse
sozinha em campo.
José Sócrates, antigo primeiro-ministro (2005-2011), na sua
primeira entrevista após ter decidido viver em Paris com o propósito de estudar Ciência Política na
Sciences Po. [RTP, 27 de Março de 2013].
Nazaré (geo.) Mulher casada, bonita e socialista, cujo único desejo é regressar a casa,
farta da aventura com o cavaleiro laranja e seu alazão branco.
A Nazaré é uma mulher muito bonita, que casou há muitos anos com o PS mas que há quatro anos se
deixou levar para uma aventura pelo apelo de um cavaleiro montado num alazão branco. Porém, depois
da aventura inicial, a Nazaré viu que o cavaleiro só oferecia promessas e não lhe dava amor e carinho,
tudo era um embuste, e ela agora quer regressar a casa.
José Vera Jardim, ministro da Justiça, em campanha pelo candidato que tentava recuperar para os
socialistas a autarquia da Nazaré, conquistada pelo PSD em 1993. [O Independente, 5 de Dezembro de
1997].
Sabe qual é a coisa que nos une? Ambos estamos no negócio da roupa suja. Eu na política, você na
lavandaria.
José Mendes Bota, candidato do PSD à Câmara Municipal de Loulé, em campanha dentro de uma
lavandaria. [O Independente, 5 de Dezembro de 1997].
Neopolítico (esp.) Político que se apresenta a eleições sem um pão de quilo (v. Pão de
quilo).
Sei que o senhor [presidente da República] não é crente, mas tenho as provas irrefutáveis, racionais,
positivistas, de que Nossa Senhora existe. Que é portuguesa. E que é de Fátima.
Acho que Portugal, na crise do Prestige, […] foi muito ajudado por aquilo que eu, que sou crente, acho
que foi uma intervenção de Nossa Senhora. […] Reparei que havia uma espécie de «tortura doméstica» em
que me parecia que alguns sectores sopravam a mancha para que chegasse cá… Mas Nossa Senhora foi
mais forte.
Paulo Portas, ministro da Defesa, entrevistado semanas depois do naufrágio do petroleiro Prestige (9 de
Novembro de 2002), tragédia ambiental que o próprio explicou a Jorge Sampaio, presidente da República,
com recurso a um mapa onde se podia ver a «onda negra» a afastar-se da costa portuguesa, empurrada
pela força de ventos e marés divinas, rumo à costa da Galiza. [Visão, 27 de Fevereiro de 2003].
Quando, no dia 13 de Maio, surgiu a notícia de que finalmente a sétima avaliação tinha sido mandada
para trás das costas e que estava aberto o caminho para a extensão das maturidades, a minha mulher
disse-me: «Ó meu caro – ela trata-me de outra forma – isto é com certeza influência de Nossa Senhora de
Fátima, porque hoje é dia 13.»
Aníbal Cavaco Silva, presidente da República.
[Público, 15 de Maio de 2013].
Nova Esperança (corr.) Marcelo Rebelo de Sousa, José Manuel Durão Barroso,
Pedro Santana Lopes e José Miguel Júdice ligados à corrente, dentro do PSD, no
início dos anos 1980.
A Nova Esperança deu três líderes do PSD e dois primeiros-ministros. Eu não fui ministro porque não
quis.
José Miguel Júdice, advogado, militante do PSD até 2007 e um dos redactores da moção que Aníbal
Cavaco Silva levou, na sua rodagem de 1985 (v. Rodagem), ao congresso da Figueira da Foz. [Diário de
Notícias, 18 de Fevereiro de 2007].
São expressões que se usam. Mas vejo nos portugueses de hoje, ou pelo menos em muitos portugueses de
hoje, diferenças significativas em relação ao passado. […] Tornou-se exigente. Exige qualidade. Nos
políticos. Nos bens culturais e materiais. Nos serviços. Em tudo. Mas também podia acrescentar que o
«novo português» é descomplexado, liberto de preconceitos, valoriza a diferença, etc.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro. [Revista K, Setembro de 1991].
Nurlufts (pseud.) Apelido de um dos pseudónimos de João Soares (v. Sowinds), antigo
presidente da Câmara Municipal de Lisboa; Nurlufts, Hans Nurlufts (João Só Ares,
em tradução livre), nascido na Alemanha e a viver em Sagres há uma data de anos, é
autor de El Sindroma de la Hormiga (Cicon Ediciones, 2002), antologia de cinco
contos, escritos em 1993 e 1994, que «misturam histórias reais com pura ficção»,
entre eles um assumidamente erótico e outro que aborda «o suicídio de um ex-
comunista convertido em militante do PS e funcionário de uma fundação que, antes de
morrer, ameaça denunciar um escândalo relacionado com financiamentos partidários».
[O Independente, 27 de Dezembro de 2002].
O
de oásis, inspiração literária com dedo de Gaspar; de obra do século,
ponte com feijoada à mistura; de oceano, quando a política fica à margem;
de oftalmologista, para Carvalhas ver melhor; de «olhe que não!», «olhe
que não!»; de onda laranja, a unir Cavaco e Santana; de Only You, um
clássico em versão karaoke político; de OPA, oferta pública de noivado
anunciada por Marcelo; de ópera bufa, campanha com recurso a «flauta
interior»; de orçamento limiano, porque há quem goste de queijo; de orgia
de impostos, bacanal denunciado por Constâncio; de Ota, longe do deserto
e de Bin Laden; de ouvisto, por um serviço público com gramática na
ponta da língua; de ovo presidencial, terceira fase de uma «bochecha
mimosa» a correr para o palácio cor-de-rosa.
Oásis (brag.) Visão do «ministro bebé» (ver. Bebé) no dia 28 de Setembro de 1992 a
partir de números fornecidos por Vítor Gaspar (v. Astrólogo, Condições
meteorológicas, Teoria do Excel, etc.), director do Gabinete de Estudos Económicos
do Ministério das Finanças (a previsão de crescimento de 2% do PIB em 1992
transformou-se em conta de subtrair de 0,7%).
Tendo em conta o ambiente internacional extremamente incerto, penso que o governo, dentro da ambição
das suas reformas, está a ter uma grande compreensão por parte dos cidadãos. Portugal é um oásis, é
bom pensar nisso…
Jorge Braga de Macedo, ministro das Finanças.
[Diário de Notícias, 28 de Setembro de 1992].
A expressão «oásis» é uma expressão, de facto, mais interessante pelo modo como é utilizada do que pela
sua origem literária, embora a origem, ela própria, seja interessante. É aquele famoso poema de
Fernando Pessoa, intitulado «Múmia», em que diz: «Há um oásis no Incerto / E, como uma suspeita / De luz
por não-há-frinchas / Passa uma caravana.»
Jorge Braga de Macedo, ex-ministro das Finanças.
[TSF, cit. O Independente, 24 de Outubro de 1997].
É inequivocamente a obra do século, que só foi possível graças à coragem e poder de decisão que o meu
governo demonstrou e vai ficar nos anais das obras públicas de toda a Europa.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro, em visita às obras da Ponte Vasco da Gama. [Diário de Notícias,
5 de Setembro de 1995].
Oceano (seg.) Grande massa de água que se forma entre o Largo do Rato e o Palácio
de São Bento após períodos de chuva miudinha (v. Abstenção violenta); o que divide
aparentemente dois políticos que aprenderam a nadar juntos (v. Jotas): António José
Seguro (JS) e Pedro Passos Coelho (JSD); «Hoje, entre mim e o primeiro-ministro, há
um oceano que nos separa», António José Seguro, secretário-geral socialista. [Diário
de Notícias, 14 de Março de 2013].
Oftalmologista (carv.) Médico especialista a que recorre um secretário-geral do PCP
no primeiro dia como ex-secretário-geral do PCP; «Pela primeira vez em 12 anos não
vou ao partido, porque tenho de ir ao oftalmologista», Carlos Carvalhas. [Sábado, 3
de Dezembro de 2004].
Olhe que não! (cunh.) Interjeição de advertência usada por Álvaro Cunhal,
secretário-geral comunista, quando não concordava com o socialista Mário Soares
(«o PCP deu provas durante estes meses de que quer transformar este país numa
ditadura»); o que fica para memória futura de um frente-a-frente televisivo de quatro
horas (RTP, 6 de Novembro de 1975).
Onda laranja (cavaq./sant.) Vaga que une o que a lei de Gresham separou (v. Má
moeda).
Only You (mús.) Cover de um tema dos The Platters (1955, voz principal de Tony
Williams) interpretado por Jorge Coelho, ministro adjunto e da Administração
Interna, em dueto com Herman José no programa Herman 99; momento a partir do
qual a expressão «político a dar música» adquire outra robustez semântica.
[Expresso, 20 de Março de 1999].
Ópera bufa (pass.) Utilização artística da flauta interior (V. Flauta interior) em
certos e determinados momentos de campanha eleitoral; demonstração de barítono de
Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, na campanha legislativa de 2011, talvez
recordando o dia em que tentou um casting para o musical My Fair Lady, de Filipe
La Féria.
Não vivemos nem somos reféns das audiências, mas ser visto e ser ouvisto pelos portugueses é também
uma razão para justificar...
Miguel Relvas, ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares. [RTP, Janeiro de 2013].
Ovo (cul.) Alimento a usar com parcimónia durante as funções governativas, segundo
receita de Alfredo Nobre da Costa, que não teve tempo para preparar uma omeleta em
condições quando era primeiro-ministro (o III Governo Constitucional durou 85 dias
em 1978): «Quando se está a governar não se tem o direito de partir mais ovos do que
os necessários.» [Jornal Novo, 19 de Setembro de 1977].
Ovo presidencial (soar.) Terceira corrida de Mário Soares (v. Bochecha mimosa) ao
Palácio de Belém.
Não há maneira de pôr todos os ovos no mesmo cesto, porque o ovo presidencial que eu serei é
independente.
Mário Soares, candidato às eleições presidenciais de 2005. [Expresso, Novembro de 2005].
P
de paixão patológica; de pão de quilo e de panhonha; de pântano político
e de par de chifres no Parlamento; de partido-canguru e de partido
sossegado; de pastéis de nata do Álvaro e de Partido Regional do Norte de
Pinto da Costa; de Paulinho das Feiras a tomar-lhe o gosto e de peça de
teatro; de penetração populista e de piada do Borrego com demissão
imediata; de picareta falante e de piegas; de pimenteira-bastarda e de
pintelhos; de piolhos à esquerda e de plano B à direita; de poeta das horas
vagas e de política portuguesa, essa «empolgante obra de ficção»; de
político profissional e de porreiro, pá; de pós-modernidade e de
presidência aberta; de programa de ajustamento e, de volta ao mapa, de
Pulo do Lobo, onde Cavaco comeu caracóis para não ouvir Soares.
Paixão patológica (ean.) Declaração de amor de António Ramalho Eanes, presidente
do Partido Renovador Democrático (PRD), em campanha para as eleições legislativas
de Julho de 1987, um ano após deixar o Palácio de Belém (1976-1986): «Sou um
desconhecido para mim próprio. Não gosto do palco; ele desgasta-me. […] A
Presidência da República não me interessa e não penso lá voltar. Tenho uma paixão
patológica por Portugal.» [Correio da Manhã, 11 de Junho de 1987].
António José Seguro nunca faria figura de panhonha sem alma nem força frente à troika.
Idem, ibidem. [Jornal de Negócios, 27 de Abril de 2013].
Pântano político (gut.) Terreno de águas estagnadas previsto por António Guterres,
primeiro-ministro e secretário-geral socialista, depois de fazer a conta (v. Fazer a
conta, Orçamento limiano, Queijo Limiano, Valsa) aos resultados das eleições
autárquicas de 16 de Dezembro de 2001: o PS vencia em percentagem total (34%),
mas perdia câmaras municipais importantes, como Lisboa, Porto, Cascais ou Sintra; o
PSD e CDS-PP, juntos, obtinham mais votos (41%).
Se olhasse para estas eleições e passasse por elas, como porventura seria integralmente o meu direito
constitucional, continuando a exercer as funções de primeiro-ministro, o país cairia inevitavelmente num
pântano político que minaria as relações de confiança entre governantes e governados, indispensáveis
para que Portugal possa vencer os desafios que tem pela frente.
António Guterres, primeiro-ministro, na noite eleitoral de 16 de Dezembro de 2001.
Par de chifres (i.p.) Aparte gestual, devidamente enraivecido, executado por Manuel
Pinho, ministro da Economia – enquanto se debatia o Estado da Nação na Assembleia
da República, em particular a situação das minas de Aljustrel –, com um alvo
específico: Bernardino Soares, deputado comunista, que dizia ter conhecimento da
visita de Manuel Pinho a Aljustrel para «entregar um cheque da EDP ao clube de
futebol local, enquanto cidadão e não como ministro.» [2 de Julho de 2009].
Pastéis de nata (alvar.) Questão doce do Álvaro (v. Álvaro): «Porque não existe um
franchising de pastéis de nata?» [Público, 12 de Janeiro de 2012].
Partido Regional do Norte (táct.) Partido para memória futura com militante n.º 1
assegurado: Jorge Nuno Pinto da Costa.
Acho indispensável a existência de um Partido Regional do Norte. E eu seria, nesse sim, o primeiro a
inscrever-me.
Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do FC Porto.
[Visão, cit. Expresso, 10 de Julho de 1993].
Paulinho das Feiras (port.) Tomar o gosto, sobretudo quando se encontram pessoas
sem gastar dinheiro.
Não tínhamos um tostão e eu perguntei ao responsável pela campanha do partido onde poderia encontrar
pessoas sem gastar dinheiro.
[Sugeriram-lhe centros comerciais e feiras].
E o Belmiro [de Azevedo] deixa fazer campanha nos centros comerciais?
[Não deixava].
Então resolvi ir para as feiras, e acabei por tomar-lhe o gosto.
Paulo Portas, presidente do CDS-PP, explicando a origem da alcunha que o acompanha desde as
legislativas de 1999 e de 2002: certo dia, em Espinho, disse-lhe um feirante: «Você já foi a mais feiras do
que eu, você é o Paulinho das Feiras.» [Público, 11 de Fevereiro de 2011].
[Jorge Coelho] é um grande político. E mais: é um político que tem uma penetração populista espantosa,
se a quiser ter. É um orador em que o som é tão importante como as palavras, uma voz espantosa, e as
audiências políticas para que fala vibram com ele como não vibram com ninguém, nem com o Sócrates.
António Almeida Santos, presidente do PS e antigo presidente da Assembleia da República. [Diário de
Notícias, 11 de Maio de 2008].
Sabem o que é que no Alentejo – em Évora, melhor dizendo – fazem aos cadáveres das pessoas que
morreram ultimamente? Mandam-nos para reciclar para aproveitar o alumínio.
Picareta falante (alc.) Alcunha atribuída por Vasco Pulido Valente, historiador e
comentador político, a António Guterres, eleito secretário-geral do PS em 1992: «A
verdade é que o engenheiro Guterres estava sempre a explicar tudo. E, se estava em
campanha eleitoral, explicava tudo de dia e de noite a toda a gente, não havia nada
sobre que ele não se pronunciasse» [Euronotícias, 1999].
Sou uma árvore heliófita e resistente, e depressa me habituei a climas mais agrestes, a secas e a solos mais
pobres, mesmo arenosos. O meu tronco apresenta, desde novo, um aspecto precocemente idoso e duro, de
um castanho-escuro, muito rugoso e esfoliado. […] Ah, um aviso ainda para quem por mim passe
descuidadamente, confundindo-me com o meu amigo salgueiro-chorão [v. Salgueiro-chorão, Pedro
Passos Coelho]. Assemelhamo-nos na gracilidade de uma folhagem pendente e no vaivém artístico que o
vento lhes proporciona.
Excerto do texto sobre a pimenteira-bastarda em Trinta Árvores em Discurso Directo (Sextante, 2013).
Pintelhos (utens.) Colocar os pontos nos is.
Em vez de andarem a discutir as grandes questões que podem mudar Portugal, andam a discutir – passe a
expressão – pintelhos.
Eduardo Catroga, coordenador do programa eleitoral do
PSD, criticando a comunicação social por não destacar os aspectos mais importantes do documento [SIC
Notícias, 11 de Maio de 2011].
Plano B (relv.) Quem falou em carregar uma cruz às costas? (v. Memorando de
entendimento).
Poeta das horas vagas (bot.) Baterias intelectuais (v. Baterias intelectuais) de um
burocrata do sonho (v. Burocrata do sonho).
Penso que sou um dos políticos mais conhecidos de Portugal, mas também, por vezes, um dos mais
invejados. Talvez porque tenha tido a coragem, que alguns não têm, de dizer que, para lá da máscara
pública, sou um cantor de casa de banho, um poeta das horas vagas, um escritor de gaveta e, porventura,
um desportista no defeso.
José Mendes Bota, eurodeputado do PSD, autor do slogan eleitoral «Vota Bota prà Europa». [Público,
14 de Março de 1994].
Porto (menez.) Geografia política ibérica à medida de Luís Filipe Menezes, autarca de
Gaia e candidato à Câmara Municipal do Porto: «O Porto que eu defendo é um Porto
que vai de Coimbra às Astúrias.» [SIC Notícias, 18 de Abril de 2013].
Há salários em atraso, há fome, há pessoas que passam mal – e é desagradável. Mas essa situação não
fui eu que a criei. O presidente não pode é tapar a realidade, porque então é que estaria a ser parcial, a
favor do governo.
Mário Soares, presidente da República.
[Expresso, 20 de Fevereiro de 1993].
O chefe da banda deu o tom: não se pronunciava porque não o conhecia. Encontrava-se no Alentejo
profundo, no Pulo do Lobo, ao que parece a comer caracóis num café situado a tal profundidade que o
tornou impenetrável às ondas hertzianas. No Alentejo há cafés assim!
António Almeida Santos, líder parlamentar do PS. [Expresso, 14 de Maio de 1994].
Q
de qualidade creditícia, atributo em economês maior; de Qualidade de
Vida, que só tem maiúsculas porque é nome de ministério; de «quase
dilúvio», tempestade bíblica vencida nos governos de Aníbal; de quatro
mosqueteiros, fiéis amigos do «animal feroz» que aparecem em
madrugadas eleitorais; de Queijo Limiano, prato principal de um
orçamento fatiado até à última hora; de queimado, premissa da teoria solar
de Portas que Balsemão aplica a um «velho ilusionista»; de Quinta Vigia, a
última fortificação de Jardim contra os cubanos do regime; de quotas,
sendo que eles ficam por cima e por baixo e elas no meio, ou vice-versa.
Qualidade creditícia (pass.) Efeito pretendido por Portugal nos mercados
financeiros que, a avaliar pela aritmética expressa por Pedro Passos Coelho
(primeiro-ministro), depende de uma causa (as contas «têm de bater certo») tão
improvável como a capacidade de o seu ministro das Finanças acertar uma (v. Adepto
do Benfica, Astrólogo, Condições meteorológicas, Teoria do Excel). [Expresso, 1
de Maio de 2013].
Antes do governo de Cavaco Silva, e depois dele, não é o dilúvio: mas quase!
Miguel Cadilhe, ministro das Finanças, no debate parlamentar sobre o Orçamento de 1988. [Expresso, 19
de Dezembro de 1987].
Queijo Limiano (gut./camp.) Trunfo de última hora para desempatar dois orçamentos
com resultado parlamentar certo à partida: 115-115 (v. Valsa); alcunha de Daniel
Campelo, deputado na bancada do CDS-PP e presidente da Câmara Municipal de
Ponte de Lima, conquistada quando o seu voto desequilibrou a balança (116/114) a
favor do prato governativo e socialista de António Guterres (v. Orçamento limiano).
José Sócrates está queimado, não vou perder tempo com ele. […]. Pedro Passos Coelho está preparado
para governar, sabe ouvir, decidir e guardar segredo. A sua autoridade tranquila contrasta com os
truques gastos do velho ilusionista e com a dificuldade de olhos nos olhos do líder do CDS.
Francisco Pinto Balsemão, militante n.º 1 do PSD e primeiro-ministro entre 1981 e 1983, durante a
campanha eleitoral de 2011. [Expresso, 31 de Maio de 2011].
Quinta Vigia (ed.) Sede oficial madeirense do governo de Alberto João Jardim.
As listas eleitorais devem ser organizadas com uma mulher entre cada dois homens, ou vice-versa.
Maria de Belém, ministra da Igualdade.
[24 Horas, 17 de Julho de 2000].
R
de Rato Mickey, ou da sua versão qualificada; de «razão do impoder»,
pós-modernidade de Manuel Sérgio em tempos de Partido da Solidariedade
Nacional; de recruta, experiência de veto de Sousa Lara; de reformas, mas
só com a democracia suspensa; de rei mago escurinho, analogia sindical
para FMI ver; de respeito pelas instituições, mesmo que não se trabalhe
muito; de restauração nacional, tese histórica em passos de austeridade; de
retrato, entre os largos do Caldas e do Rato; de Revolução Cultural, fase
seguinte da Revolução Tranquila na Madeira; de Robin dos Bosques,
evocação de Paulo Portas para lidar com o governo, esse «ladrão mais que
perfeito»; de rodagem, com Cavaco ao volante do Citroën BX rumo à
Figueira da Foz; de roteiros, com prefácios afiados; e de roupa de catálogo,
um «valor seguro» em campanha.
Rato Mickey (m. nog.) Eleição Walt Disney (v. Golpe da caneta).
Eu costumo dizer: se o Rato Mickey se candidatasse, poderia ter sete votos. […] Se uma versão
qualificada do Rato Mickey, que podia ser eu (da Minnie, neste caso), se candidatasse, poderia talvez
ganhar, porque o meu voto era importante.
Maria José Nogueira Pinto, deputada «centrista», logo após Paulo Portas renunciar ao cargo de líder
parlamentar do CDS-PP, para o qual fora eleito (1996) por sete votos a favor, sete em branco e uma
abstenção – num total de 15 deputados (v. Frota). [Expresso, 28 de Setembro de 1996]; entrada em cena
da mascote da Walt Disney justificada posteriormente: «Qualquer americano perceberia o que eu quis
dizer. Na América, quando
não se gosta dos candidatos, vota-se no Rato Mickey.»
O PSN é a razão do impoder, a razão do contrapoder porque os humilhados e ofendidos passam a ter voz.
Nem podia deixar de ser a razão do impoder, quando é certo que ele nasce num banco de jardim e o
partido me é entregue, de lágrimas nos olhos, por quatro ou cinco reformados.
Manuel Sérgio, professor de Epistemologia na Faculdade de Motricidade Humana, presidente do Partido
da Solidariedade Nacional, autor de uma proeza sem precedentes na democracia portuguesa: a eleição
como deputado nas legislativas de Outubro de 1991, com 1,7% dos votos. [Diário de Notícias, 14 de
Outubro de 1991].
Respeito pelas instituições (psic.) Qualidade intrínseca dos portugueses («um certo
sentido de respeito pelas instituições», a par de «bom senso») reconhecida por
Alfredo Nobre da Costa, antigo primeiro-ministro (1978); efeito de compensação,
segundo ele, de um defeito nacional: «não trabalhar muito». [Diário de Notícias, 5 de
Abril de 1984].
O programa terminará em Maio de 2014. Mantenho a convicção de que assim será, mas que o processo
de ajustamento prosseguirá e ele não é apenas financeiro. A segunda fase desta nova restauração
nacional irá projectar-se durante muitos anos e terá tanto mais êxito quando mais alargado for o
entendimento que as forças políticas, sociais, económicas, tiverem sobre a sua necessidade e extensão.
Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro (v. Programa de ajustamento).[Jornal de Negócios, 3 de
Junho de 2013].
Retrato (utens.) Imagem reproduzida por fotografia enviada entre sedes partidárias
quando um antigo presidente aceita integrar um executivo de outra cor política; ex.:
retrato de Diogo Freitas do Amaral, presidente do CDS (1974-1982/1988-1991),
remetido via postal do Largo do Caldas para o Largo do Rato (PS) depois da sua
tomada de posse (2005) como ministro dos Negócios Estrangeiros no primeiro
governo de José Sócrates (PS). [Diário de Notícias, 7 de Março de 2005].
O Estado decreta, arbitra, taxa, cobra e recebe com a facilidade com que um ladrão perfeito entra em
casa de pessoas decentes. Contra a «ditadura fiscal», desobedecer, desobedecer, desobedecer. […] Tendo a
achar que no mundo moderno é preciso recuperar Robin Hood: tudo o que se puder roubar ao Estado é
muito bem roubado, porque evidentemente, nos dias que correm, não há ladrão mais perfeito do que o
governo, este, o próximo ou os anteriores.
Paulo Portas, director de O Independente, em editorial escrito (1988-1995) durante os governos de
maioria absoluta de Aníbal Cavaco Silva. [Cit. Expresso, 18 de Maio de 2013].
Mas o almirante Rosa Coutinho referiu-se aos modelos argelino, peruano, cubano, jugoslavo…
Jornalista
É isso a salada…
Otelo Saraiva de Carvalho [Excerto retirado de Os Dias Loucos do PREC, de Adelino Gomes e José
Pedro Castanheira, ed. semanário Expresso e jornal Público, Abril de 2006].
Possuo um sistema radicular muito extenso, fibroso, entrelaçado e superficial, sempre sequioso de água e
nutrientes. É esta a razão – e só essa – porque recomendo alguma cautela com a plantação em espaços
acanhados ou perto de casas. Havendo água abundante, facilmente crio raízes com os raminhos que
caem do meu hábito.
Excerto do texto sobre o salgueiro-chorão em Trinta Árvores em Discurso Directo (Sextante, 2013).
São Tomé (cavaq.) Ler para crer, em maré de «onda laranja» (v. Onda laranja) e bem
no início de um calendário «de excitação» (v. Anos de excitação).
Vim aqui, como São Tomé, para acreditar, porque as obras são de tal modo grandiosas que estava
preocupado, já que me comprometi a inaugurar este troço no segundo semestre de 1988.
Aníbal Cavaco Silva, primeiro-ministro, em visita a alguns «troços em construção do IP4», entre Vila Real
e Amarante. [Diário de Notícias, 10 de Janeiro de 1988].
Sem pasta (utens.) Função ministerial nos primeiros governos pós-25 de Abril de
1974.
Sequestrado (azev.) «Coisa» que em Novembro de 1975 chateava tanto José Pinheiro
de Azevedo – «fui sequestrado já duas vezes, já chega, não gosto de ser sequestrado,
é uma coisa que me chateia» – que vai daí o primeiro-ministro «suspende a
actividade» do VI Governo Provisório, mas oferece uma «solução» antes de ir
almoçar.
Bom, seria um equilíbrio razoável que numa reestruturação houvesse melhor distribuição das pastas pelos
partidos que eu entendo que constituem a base social na qual se apoia o VI Governo. Era um desejo feliz.
Mas é capaz de ser apenas um desejo. Eu agora vou almoçar, pá.
José Pinheiro de Azevedo, primeiro-ministro.
[Diário de Lisboa, 21 de Novembro de 1975].
Nunca norteei a minha vida por esse objectivo [concluir uma licenciatura]. Norteei a minha vida pela
simplicidade da procura do conhecimento permanente. Sou uma pessoa mais de fazer do que falar.
Miguel Relvas, ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares, sobre a sua polémica licenciatura (v.
Licenciatura). [Público, 12 de Julho de 2012].
Sissi de Sintra (alc.) «Arquiduquesa» Edite Estrela, presidente da Câmara Municipal
de Sintra entre 1994 e 2002.
Se ganhar, vai tornar-se na arquiduquesa, na Sissi de Sintra, vai conseguir tudo e conduzir legiões na
defesa do património e da cultura. Vai ser de tal modo reivindicativa e charmosa que os governantes não
vão resistir-lhe ao sorriso. Vai conseguir as bienais e os abastecimentos de água…
José Lello, deputado do PS, referindo-se a Edite Estrela, candidata socialista à autarquia de Sintra.
[Expresso, 7 de Agosto de 1993].
Socialismo na gaveta (soar.) Terceira via rejeitada em 1978 por Mário Soares,
secretário-geral do PS e primeiro-ministro (1976-1978): «Não [estamos] aqui para
meter o nosso socialismo na gaveta.»
Está enganada! Não disse que a União Soviética era o sol na terra, nem cheguei da URSS há meses.
Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP.
[Expresso, 19 de Novembro de 1976].
Cá estou eu de novo, como há 12 anos, soldado-base […] Este não era o momento para desertar.
Fernando Seara, presidente da Câmara Municipal de Sintra, no momento em que aceitava avançar para a
autarquia de Lisboa (v. Presidente da Câmara, Presidente de Câmara) com apoio duplo: PSD/CDS-
PP. [Diário de Notícias, 27 de Janeiro de 2013].
Sowinds (pseud.) Apelido de um dos pseudónimos de João Soares (v. Nurlufts), antigo
presidente da Câmara Municipal de Lisboa; Sowinds, John Sowinds (João Só Ventos,
em tradução livre) nasceu na África do Sul, rumou a Londres e vive em Auckland
(Nova Zelândia); é autor de Vidigueira, um álbum de fotografias editado pela
neozelandesa World Forum. [O Independente, 27 de Dezembro de 2002].
Sr. Silva (jard.) Nome pelo qual Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional
da Madeira, se referia a Aníbal Cavaco Silva, sobretudo quando este, como primeiro-
ministro (1985-1995), o aconselhava a ir «ao Totta» (v. Totta).
Isso não aconteceu. Houve, de facto, um encontro entre nós, sem testemunhas, e eu, nessa altura, servi-lhe
um Sumol, e acho que ele ficou muito irritado de eu lhe servir um Sumol! Agora a do táxi, não me lembro…
Jorge Braga de Macedo, antigo ministro das Finanças (v. Oásis). [TSF, cit. O Independente, 24 de
Outubro de 1997].
T
de tabu, com dia D marcado para 23 de Janeiro de 1995; de tanga,
anunciada por Durão; de tango, dança política que acaba em peça de teatro;
de tartaruga, animal de estimação presidencial; de Tarzan, com Jardim em
lianas; de táxi, o fantasma do CDS; de técnica da jibóia, diz Basílio; de
telefone e de telemóvel, registo de acordo orçamental; de tempestade num
copo de licor e de tempo oportuno; de teoria do Excel e de TGV; de tia rica
e de timoneiro; de Tino, o presidente de Rans (ou Rãs); de tinta-da-china e
de tiro na cabeça; de tomar posse, ou seja, fanar gravadores a jornalistas; de
Totta e de tralha socrática; de trazer a luz e de troika; de truca-truca,
«prova» de debate com Morgado; de TSU e de tsunami laranja, para quem
quer entrar na onda.
Tabu (cavaq.) Auto-interdição política sobre o futuro do PSD e, por arrasto, das
eleições legislativas de 1995; sentença de Aníbal Cavaco Silva – primeiro-ministro e
presidente do PSD desde 1985 (v. Rodagem) – em Outubro de 1994: «Esse é um
assunto tabu»; o dia D, fim do tabu, aconteceria a 23 de Janeiro de 1995, quando
finalmente revela a um pequeno núcleo de ministros e «altos dirigentes do PSD» a
decisão de não continuar na liderança do partido (v. Bolo-rei). [O Independente, 27
de Janeiro de 1995].
Preciso de algum tempo de reflexão para ultrapassar o choque emocional que agora sinto.
Fernando Nogueira, ministro da Defesa. [A Capital, cit. O Independente, 27 de Janeiro de 1995].
Tanga II (socrat.) Estilo rejeitado por José Sócrates, secretário-geral do PS, que
prefere a versão «arranjadinho» (v. Arranjadinho): «Não vai ser repetido o discurso
da tanga. Não haverá Tanga II.» [Público, cit. Grande Reportagem, 5 de Fevereiro
de 2005].
Como se diz em espanhol, para dançar o tango são precisos dois. Durante muitos meses não tinha
parceiro para dançar.
José Sócrates, primeiro-ministro.
[Jornal i, 17 de Maio de 2010].
Tarzan (jard.) Herói da selva, ficção do norte-americano Edgar Rice Burroughs, que
Alberto João Jardim invoca em campanha eleitoral ao puxar das suas lianas para
cumprimentar e dançar com as mulheres que o abordam nas ruas do Funchal: «Dá-me
um beijo na boca e chama-me Tarzan!» [O Independente, 3 de Dezembro de 1993].
Técnica da jibóia (hort.) Conjunto de processos que Basílio Horta (CDS) atribuía
(«técnica da jibóia») ao socialista Mário Soares («saliva, saliva, amolece e depois
engole»), em plena arena de debates televisivos nas eleições presidenciais de 1991.
[Expresso, 8 de Dezembro de 1990].
Os chefes das duas delegações vieram dar conta aos restantes membros dos termos do acordo que foi
assinado ontem (sexta-feira), pelas 23h e 19 minutos.
Eduardo Catroga, representante do PSD nas negociações com o governo, mostrando o telemóvel e
respectiva fotografia que regista o momento da assinatura do «protocolo de entendimento» sobre o
Orçamento do Estado de 2011. [Jornal de Notícias, 30 de Outubro de 2010].
TGV (utens.) Projecto ferroviário de alta velocidade dentro dos carris de José Sócrates
(primeiro-ministro entre 2005 e 2011), desviado em 2013 – «o TGV está cancelado,
esse cancelamento é irreversível», Sérgio Monteiro, secretário de Estado dos
Transportes [Sol, Janeiro de 2013] – e do qual nos restam expressões como
«tecnologia bi-bitola».
Tia rica (cunh.) Parentesco da Comunidade Económica Europeia, segundo
genealogia aplicada por Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP, dois anos após a
adesão de Portugal: «Lutamos e lutaremos para que Portugal seja um país
independente da Europa e não um primo pobre em casa da tia rica.» (Maio de 1988).
Vitorino é o rapaz que transporta o Tino. Tino, o pensador, é o político de todo o terreno. É a personagem
que criei para me defender do mundo da política. O Tino não erra. Só o Vitorino. Porque errar é humano.
Vitorino Silva, presidente da junta de freguesia de Rans (ou Rãs), em entrevista ao Diário de Notícias [9
de Fevereiro de 1999].
Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável, porque não
vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom-nome, exerci acção directa e, irreflectidamente,
tomei posse de dois equipamentos de gravação digital.
Ricardo Rodrigues, vice-presidente do grupo parlamentar do PS, em declaração aos jornalistas na
Assembleia da República. [Expresso, 5 de Maio de 2010].
Totta (cavaq.) Slogan publicitário parafraseado por Aníbal Cavaco Silva, primeiro-
ministro, no final de uma visita de quatro dias à Madeira (1992): «Jardim, queres
dinheiro? Vai ao Totta…» [Público, 19 de Julho de 1992].
Tralha socrática (mend.) Conceito de Luís Marques Mendes (v. Número 10)
atribuído ao «grupo de oposição interna» do secretário-geral socialista – «a tralha
socrática faz a vida negra a António José Seguro» [TVI24, 2 de Dezembro de 2011] –,
com definição apropriada em artigo de opinião.
A pretensa impunidade socrática não se afirma apenas no país. Ela ressurgiu agora também dentro do
Partido Socialista. De repente, os socráticos querem abrir uma crise de liderança no PS e voltar ao poder
cavalgando as costas de um novo líder. Depois de terem deixado o país à beira da bancarrota e o partido
com uma derrota histórica, voltaram para fazer a vida negra à liderança da oposição. [...] A sede de
governo, a vontade de vingança e a gula pelo poder são mais fortes do que o respeito por quaisquer
princípios ou convicções.
Luís Marques Mendes, comentador político.
[Correio da Manhã, 28 de Janeiro de 2013].
Troika (aust.) Palavra de origem russa, que também pode designar um «conjunto
de três cavalos atrelados a um trenó ou a uma carruagem» (def. Dicionário Houaiss
da Língua Portuguesa, Círculo de Leitores, 2003); referência ao triângulo político-
financeiro (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário
Internacional) que negociou em 2011 as condições do resgate português com o
governo de José Sócrates (v. Memorando de entendimento, Programa de
ajustamento).
TSU (aust.) 1. Taxa sensível ao toque radical nas contribuições para a Segurança
Social, como anunciado oficialmente pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (os
trabalhadores passariam a descontar não 11% mas 18%, e a contribuição das
empresas descia de 23,75% para 18%) horas antes de assistir a um concerto
sentimental de Paulo de Carvalho no Teatro Tivoli, em Lisboa (8 de Setembro de
2012); invocar o seu nome (Taxa Social Única) em vão pode revelar-se pior do que
um corta-relvas descontrolado – mais de um milhão de portugueses nas ruas
(manifestação de 15 de Setembro de 2012) garantiram o recuo da medida; 2. TSU dos
pensionistas, linha vermelha politicamente incompatível com o «cisma grisalho» (v.
Politicamente incompatível).
Tsunami fiscal (felix.) Onda de choque provocada pelo Orçamento do Estado de 2011,
de acordo com a medição de António Bagão Félix, antigo ministro das Finanças: «[É]
um tsunami fiscal, porque é uma onda fiscal gigante, indiscriminada, que vai ter
reflexos muito grandes na economia, no consumo e no investimento.» [Jornal de
Notícias, 17 de Outubro de 2010]; dois anos depois, Bagão Félix atribuía o título de
«napalm fiscal» às alterações do IRS propostas no Orçamento do Estado de 2013.
[Jornal de Notícias, 11 de Outubro de 2012].
Tsunami laranja (menez.) Vaga oceânica que se segue à onda laranja anunciada por
Pedro Santana Lopes (v. Onda laranja) nas eleições legislativas de 2005; «É um
tsunami…», Luís Filipe Menezes, cabeça de lista do PSD por Braga. [Diário de
Notícias, 14 de Fevereiro de 2005].
U
de último mandato, despedida de Alberto João Jardim há coisa de 25
anos; de último suspiro, um partido às voltas com o táxi; de «um milhão de
votos», bilhete eleitoral de Manuel Alegre; de «um governo, uma maioria,
um presidente», sonho de Francisco Sá Carneiro em 1979, austera
realidade em 2011; de unir o partido, com os cacos colados à pressa; de
Universidade de Verão, «formação política ao mais alto nível»; de urso,
proverbial momento de Durão; e U de Utopia, a obra de Thomas, com
certeza.
Último mandato (jard.) Promessa de Alberto João Jardim, presidente do Governo
Regional da Madeira, nunca cumprida em 25 anos; primeira referência ao «último
mandato» data de 1988 (uma década após conquistar o poder), mas a probabilidade
de registos anteriores é manifestamente alta.
Último suspiro (mont.) Quilómetros de um táxi com quatro (1987) ou cinco (1991)
deputados (v. Táxi).
Utopia (cavaq.) Obra-prima de Thomas More (1477-1535) que, se não há engano (v.
Enganar), pode ser atribuída a Thomas Mann (1875-1955).
V
de vacas, mamíferos ruminantes que, volta não volta, merecem a atenção
de Cavaco; de «vai do Fiat 600 para o Ferrari», linha de cilindrada
definida à partida por Menezes; de valsa, dança de um Parlamento dividido
ao meio; de Vanette, Bloco de Esquerda em quatro rodas; de Vangelis, sons
da paixão socialista; de «vão bardamerda», sinal de impaciência do
almirante Pinheiro de Azevedo; de vara torta e de varapau; de Verão
Quente; de viagens de helicóptero e de viagens-fantasma, esse milagre do
«desdobramento dos bilhetes»; de viatura, conduzida por Cadilhe e ideal
para absorver «solavancos»; de vichyssoise, sopa que esfriou a relação
Portas-Marcelo; de vida para além do Orçamento; de violino de Chopin e
de vírgula, o caso do sinal de pontuação que acabou em reticências; de
voltinha e de «vossos eleitores»; de voto de castidade e voto Fukushima; e
de vuzuzela, assim mesmo, a apitar com dois «z».
Vacas (zool.) Mamífero ruminante, da família dos Bovídeos, de grande utilidade para o
homem e referência habitual na política portuguesa; 1. Hermínio Martinho, criador de
vacas, fundador e deputado do PRD, mostrava-se preocupado com os seus animais na
noite de uma pesada derrota eleitoral (legislativas de 1987): «Agora vou para casa,
que as minhas vacas estão com água pela barriga.»; 2. Cenário de campanha para as
eleições legislativas de 2011: «Ora digam-me lá em que outro partido é que era
possível um almoço no campo com as vaquinhas ali ao fundo… só no CDS», Paulo
Portas, presidente do CDS-PP, no Alentejo. [Expresso, 21 de Maio de 2011]; 3.
Aníbal Cavaco Silva em sequência:
Ontem eu reparava no sorriso das vacas. Estavam satisfeitíssimas olhando para o pasto que começava a
ficar verdejante.
Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, em visita aos Açores, duas décadas depois da sua última
viagem política ao arquipélago (v. Saquinhos de lava). [Público, 21 de Setembro de 2011].
[Fiquei] surpreendidíssimo por ver como as vacas avançavam, umas atrás das outras, se encostavam ao
robot e se sentiam deliciadas enquanto ele, durante seis, sete minutos, realizava a ordenha.
Idem, percorrendo uma exploração agrícola em Amarante. [3 de Novembro de 2008].
Vai do Fiat 600 para o Ferrari (menez.) Diferença de rotação política registada
por Luís Filipe Menezes, autarca de Gaia, antigo presidente do PSD, ao comparar a
sua liderança do partido (2007-2008) com os primeiros meses da sucessora Manuela
Ferreira Leite, segundo critérios de «capacidade para liderar, conhecimentos,
dimensão cultural e intelectual»: «É uma diferença que vai do Fiat 600 para o
Ferrari.» [Jornal de Notícias, 29 de Agosto de 2008].
Vanette (i.p.) Variante, à esquerda, de um histórico táxi parlamentar (v. Táxi); proposta
de Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, dirigindo-se à bancada do Bloco de
Esquerda, composta por oito deputados: «Os senhores todos juntos podem vir de
Vanette.» [Jornal i, 5 de Outubro de 2012].
Vangelis (mús.) Petit nom do compositor grego Evangelos Odysseas Papathanassiou,
autor de Conquest of Paradise, banda sonora escolhida pelo PS tons rosa de António
Guterres para acabar com a onda laranja (v. Onda laranja).
Se, inesperadamente, surgir um piso em mau estado, posso garantir a Vossas Excelências que a nossa
viatura não leva excesso de velocidade e dispõe de bons amortecedores para absorver os efeitos dos
solavancos. Sempre que necessário, regularemos a velocidade, para mais na boa estrada, para menos nos
sinais de perigo, e sobretudo não faremos inversões de marcha.
Miguel Cadilhe, ministro das Finanças, no debate parlamentar sobre o Orçamento de Estado de 1988.
[Expresso, 19 de Dezembro de 1987].
Vichyssoise (cul.) Sopa fria nunca servida no Palácio de Belém, primeiro sinal de uma
relação longa e azeda entre Paulo Portas e Marcelo Rebelo de Sousa (v. Alternativa
Democrática); prato principal da narrativa contada pelo director de O Independente
no programa Parabéns (RTP), apresentado por Herman José (Janeiro de 1995): o
professor universitário e comentador político era a sua fonte anónima num jantar
oferecido por Mário Soares, presidente da República, a alguns constitucionalistas –
para provar a sua presença no Palácio de Belém, Marcelo relata conversas e
pormenores da ementa, mas Portas viria a descobrir que era tudo ficção.
[Marcelo] disse-me: «Venha ter comigo ali ao pé do Hotel da Torre, à uma da manhã, que eu depois conto-lhe
tudo…» Perguntei-lhe: «Então o que é que jantaram [em Belém]?» E ele disse-me: «Vichyssoise».
Paulo Portas, director de O Independente.
[cit. Visão, 1 de Abril de 1999].
Vida para além do Orçamento (samp.) Olhar para lá da tanga (v. Tanga).
O problema orçamental da economia portuguesa, merecendo embora – e não me canso de o repetir –
exigente e necessária atenção, não é o único. Há mais vida para além do Orçamento.
Jorge Sampaio, presidente da República, no discurso de comemoração do 25 de Abril, em 2003.
O nosso Congresso coroa, culmina, todo um amplo trabalho colectivo em que cerca de cinquenta mil
militantes deram a sua participação para a definição da linha do partido. É evidente que se um militante
encontra nas teses rectificações que ele próprio propôs, que vão desde uma vírgula, da mudança de um
adjectivo, até modificações políticas apreciáveis, ao dar o seu voto positivo, vota num documento que
reconhece também como seu.
Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP.
[Expresso, 19 de Novembro de 1976].
Voltinha (ferreir.) Versão em diminutivo de andar por aí (v. Andar por aí);
Não conheço ninguém que tenha saído da política. Conheço quem vá dar uma voltinha, mas não conheço
quem saia.
Joaquim Ferreira do Amaral, deputado do PSD e antigo ministro das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações. [Cit. Grande Reportagem, Outubro de 1996].
Vossos eleitores (gasp.) Expressão utilizada por Vítor Gaspar, ministro das
Finanças, durante um encontro com os grupos parlamentares do PSD e do CDS-PP –
base da coligação de governo desde as legislativas de 2011 –, para manifestar
compreensão pelas diferentes posições dos deputados «obrigados» a responder ao
eleitorado, ou melhor, aos «vossos eleitores» (v. Coisíssima nenhuma). [Público, 20
de Março de 2013].
Voto de castidade (barros.) Abstenção socialista reclamada dois anos após a
declaração de austeridade indumentária (v. Tanga).
O PS devia fazer voto de silêncio, voto de castidade, não tocar sequer no assunto do défice.
José Manuel Durão Barroso, primeiro-ministro.
[Diário de Notícias, 1 de Maio de 2004].
Vuzuzela (mús.) 1. Vuvuzela (com dois «v» e um «z»), instrumento musical, semelhante
a uma corneta, célebre pela sua utilização aos magotes nas bancadas dos estádios do
Campeonato do Mundo de Futebol da África do Sul (2010), proporcionando no
espectador a reacção pavloviana de desligar o som da televisão; 2. Vuzuzela (com um
«v» e dois «z»), derivação de Jorge Lacão, ministro dos Assuntos Parlamentares, em
debate parlamentar sobre política orçamental: «É possível retirar a consequência
política desta iniciativa de interpelação. Ouvimos logo de início a intenção do Bloco
de Esquerda de marcar aqui uma interpelação estridente. Verdadeiramente, podíamos
qualificá-la pelo seu valor facial: seis apitos de vuzuzela» – os deputados ainda
corrigiram, mas Lacão estava seguro dos «seis apitos de vuzuzela». [SIC Notícias, 17
de Junho de 2010].
W
de windurf, quando Ramalho Eanes se aguentava em cima da prancha.
X
de xadrez político, tabuleiro onde a rainha não fala português e, no fim,
quem ganha é a Alemanha.
Z
de Zé e de Zandinga, estrelas de dois congressos de outros tempos.
Windsurf (ean.) Modalidade desportiva praticada por António Ramalho Eanes,
presidente da República, nas suas «primeiras boas férias» (expressão de Manuela
Eanes); diferente do bodyboard (v. Bodyboard), tem a vantagem de conquistar a capa
do semanário Expresso. [Julho de 1985].
Xadrez político (táct.) Tabuleiro com 32 peças, 16 para cada lado, e no fim ganha a
Alemanha.
Zandinga (barros.) Bruxo de ocasião citado para desafiar Pedro Santana Lopes a
voltar à floresta (v. Estilo Rambo), cumprindo assim o que «estava escrito nas
estrelas» (v. Escrito nas estrelas).
Esse candidato que, além de astrológico, a todos nos entusiasma com os seus comentários desportivos, o
que quer com certeza dizer que teríamos uma espécie de misto de Zandinga e Gabriel Alves.
José Manuel Durão Barroso, presidente do PSD, referindo-se a Pedro Santana Lopes no congresso de
Viseu. [Público, 27 de Fevereiro de 2000].
Zé (barros.) Cada partido com o seu Tino (v. Tino).
Um destes dias ia na rua e encontrei o Zé, que me disse: «Dr. Durão Barroso, ainda bem que acabou com
essa coisa da AD!» (v. Alternativa Democrática).
José Manuel Durão Barroso, no congresso de Coimbra (Maio de 1999), palco onde foi eleito presidente do
PSD.