Canto Na Liturgia
Canto Na Liturgia
Canto Na Liturgia
São Leopoldo
2009
1
Dissertação de Mestrado
Para obtenção do grau de Mestre em
Teologia
Escola Superior de Teologia
Programa de Pós-Graduação
Teologia Prática
São Leopoldo
2009
2
DEDICATÓRIA
RESUMO
O canto e a música no contexto ritual da liturgia na Igreja Católica: desafios para a formação
de agentes na Diocese de Vacaria/RS. Os sons da natureza, selecionados e combinados,
originaram a arte musical. A música faz parte da cultura humana; é constitutiva de sua própria
existência. Na abordagem desse assunto, o capítulo primeiro deste trabalho busca uma
aproximação histórica da música; investiga a antropologia da música e sua relação ritual com
o sagrado, fazendo parte, inclusive, dos ritos cristãos. O Concílio Vaticano II resgatou, na
Igreja Católica, o valor da arte musical e ampliou suas possibilidades. A arte musical passa a
se inscrever dentre os ritos sacramentais. Mais que cantar na liturgia se nos impõe a
necessidade de cantar a própria liturgia. A música passa a ser entendida como veio de
participação favorecendo que os fiéis expressem sua fé, seu agradecimento e suas
necessidades. Na segunda parte se busca uma aproximação com a realidade litúrgico musical
da Diocese de Vacaria/RS. Além da localização histórico-geográfica, apresentam-se
significativos elementos obtidos através de uma pesquisa de campo. Tendo-se como ponto
referencial o Curso de Canto Litúrgico e Pastoral (CCLP), em execução há três anos, procura-
se entender a compreensão que as pessoas têm de música e a forma que esta incide em suas
vidas. Depois, a pesquisa procura captar a função que a música ritual tem na liturgia, na
opinião dos entrevistados. De modo geral os entrevistados demonstram entender que uma
celebração bem cantada anima a caminhada e torna viva a Igreja cristã. Há, portanto, a
necessidade de preparar os agentes da arte musical para que contribuam na realização de
celebrações vivas através de um adequado uso da música e do canto nas celebrações
litúrgicas. O terceiro capítulo deste trabalho procura apontar indicativos práticos para a
formação dos ministros do canto e da música bem como para a sua atuação nos ritos
litúrgicos. Tais indicativos tomam em consideração os passos que já se tornaram realidade a
partir da renovação conciliar e, especialmente, as reflexões e exigências que se impõem para a
ação evangelizadora sob a ótica da Teologia da Libertação. Esse jeito de refletir e fazer
teologia inspirou passos significativos na reinterpretação bíblica e continua a oferecer
métodos de análise e reflexão pastoral, inclusive litúrgicos. Aos agentes do canto e da música
ritual da Diocese de Vacaria/RS sugere-se agirem considerando-se os fiéis como sujeitos da
ação litúrgica, proporcionando-lhes participação ativa e momentos de verdadeira
comunicação com seu Criador, através de liturgias bem cantadas. Propõe-se a formação
continuada e progressiva em diversos níveis, contando com a colaboração dos sujeitos desse
processo, os próprios agentes.
ABSTRACT
Song and music in the ritual context of the liturgy in the Catholic Church: challenges for the
formation of agents in the Diocese of Vacaria/RS. The sounds of nature, selected and
combined, gave origin to the musical art. Music belongs to human culture; it is constitutive of
its own existence. In the approach of this topic, the first chapter of this work looks for a
historical approach to music. It investigates the anthropology of music and its ritual relation to
the sacred, also as a part of Christian rites. The II Vatican Council has restored, in the
Catholic Church, the value of musical art and increased its possibilities. The musical art
begins to be inserted into the sacramental rites. More than singing in the liturgy, there is the
need to sing liturgy itself. Music begins to be understood as a means of participation, helping
the faithful to express their faith, their gratitude and their needs. In the second part, one looks
for an approach to the liturgical-musical reality of the Diocese of Vacaria/RS. Besides the
historical-geographical localization, there appear significant elements obtained through a field
research. Having as a referencial point the Course of Liturgical and Pastoral Singing (Curso
de Canto Litúrgico e Pastoral =CCLP), since three years in function, one tries to perceive
what understanding persons have of music and the form by which it influences their lives.
Afterwards, the research tries to capture the function of ritual music in liturgy in the opinion
of the persons interviewed. In a general way, the persons interviewed show their
understanding that a well-song celebration animates the journey and makes the Christian
Church to be alive. There is, therefore, the need to prepare the agents of musical art, in order
that they contribute to perform living celebrations through an appropriate use of music and
song in the liturgical celebrations. The third chapter of the present work tries to point out
practical indications for the formation of ministers of song and music, as well as for acting in
liturgical rites. Such indications take into consideration the steps which already became reality
since the conciliar renewal, especially the reflections and requirements necessary for the
evangelizing action from the point of view of the Theology of Liberation. This way of
reflecting and making theology has inspired significant steps in the biblical reinterpretation
and continues to offer methods of pastoral analysis and reflection, including liturgical ones.
To the agents of song and musical ritual of the Diocese of Vacaria/RS, it is suggested to act
by taking into consideration the faithful as subjects of the liturgical action, offering them
active participation and moments of true communication with their Creator, through well-
song liturgies. The suggestion is the continued and progressive formation on various levels,
counting on the collaboration of the subjects of this process, namely, the agents themselves.
ABREVIATURAS
a. C. – antes de Cristo
Ap. – Livro do Apocalipse
Can. – cânone
CCLP – Curso de Canto Litúrgico e Pastoral
Cl. – Carta aos Colossenses
CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
DGAE – Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora
Doc. – Documento
Ed. – edição; edições
Ef. – Carta aos Efésios
Etc. – et cetera
IGMR – Instrução Geral do Missal Romano
Imp. – impressão
Ispal – Instituto de Pastoral Litúrgica
Itepa – Instituto de Teologia e Pastoral
Jr. – Livro do Profeta Jeremias
km – quilômetro(s)
Lc. – Evangelho segundo Lucas
Ltda – limitada
MHE – Metodologia Histórico Evangelizadora
Nº – número
Orgs. – organizadores
p. – página
Pe. – padre
Pr. – pastor
RS – Rio Grande do Sul
SC – Santa Catarina (Estado)
SC – Sacrossanctun Concilium
ss – seguintes
TdL – Teologia da Libertação
Tg – Carta de São Tiago
Trad. – tradução
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ………………………………………………………………………. 07
II – PRÁTICA LITÚRGICO-MUSICAL NA
DIOCESE DE VACARIA/RS ……………………………….... 44
2.1 – A Diocese de Vacaria/RS: elementos históricos e geográficos ……………….. 44
CONCLUSÃO …………………………………………………………………………... 93
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………………....... 98
INTRODUÇÃO
mostrasse: “não é este um assunto que te encanta e tem te ocupado?”. De fato estava bastante
envolvido no processo de preparação dos Cursos de Canto Litúrgico e Pastoral na Diocese de
Vacaria/RS.
A partir de então, e com nova e significativa orientação, a pesquisa avançou de forma
empolgante. Tinha à frente um assunto palpável, cativante, além de estar inserido numa
experiência diocesana acerca do assunto.
A hipótese de a música conter em si certa ritualidade e – talvez por isso mesmo –
prestar-se para as ações rituais da Igreja animaram as investigações. O texto que segue, fruto
dessas investigações, tem como pano de fundo uma pergunta central: qual o melhor jeito de
aproveitar as possibilidades da arte musical a fim de que as liturgias sejam excelentes
oportunidades de encontro das pessoas consigo, com seu círculo de relações e, especialmente
com Deus?
Se a música possui caráter de interatividade, não se constitui espaço privilegiado de
participação dos fiéis nas celebrações cristãs? Isso aponta para a necessidade de alguns
cuidados, o que resulta na definição por uma opção metodológica. Tal opção define alguns
critérios para o canto celebrativo, tais como: o papel da arte musical na liturgia; a escolha dos
conteúdos e melodias; a espiritualidade dos agentes; a didática e as estratégias que favorecem
à participação da Assembléia.
O objeto desta pesquisa é o canto e a música no contexto litúrgico da Igreja Católica,
em vista do processo de formação dos agentes da Diocese de Vacaria/RS. Este trabalho tem o
desejo de visualizar caminhos para uma adequada formação dos ministros do canto e da
música litúrgica naquela diocese.
Um processo mais consistente de formação para os ministros do canto e da música na
Diocese de Vacaria/RS começou há poucos anos objetivando auxiliar as comunidades
eclesiais católicas na tarefa de cantar a liturgia. O Curso de Canto Litúrgico e Pastoral brotou
de um clamor sentido entre os agentes comunitários encarregados do canto e da música que
vinham enfrentando dificuldades de levar adiante sua missão. Como está esse processo de
formação? O que é importante enfocar na preparação dos agentes litúrgicos, em se tratando da
arte musical?
A preocupação com o canto e a música – e, mais especificamente, com a opção
metodológica acerca do canto e da música litúrgica – visa favorecer as celebrações para que
sejam potencializadas pelo recurso da arte musical. Daí a necessidade de compreender o
alcance e os efeitos produzidos pela música no campo religioso por ocasião dos atos
litúrgicos.
10
I – MÚSICA E LITURGIA
1
BUYST, Ione. O mistério celebrado: memória e compromisso I, Editoras Siquem/Paulinas, 2002, p. p. 142-
148.
13
2
T. Ellingson apud TERRIN, Aldo Natale. O Rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. S. Paulo:
Paulus, 2004. p. 268.
3
TERRINI, 2004, p. 270.
14
proteção do rebanho e das colheitas – cujos refrões são semelhantes aos nossos responsórios.
Deduzimos disso que “a música ingressou no culto já nos tempos mais remotos e sempre teve
um papel importante dentro do culto, a ponto de ser expressão integrante do próprio ritual” 4.
2) Egito: além de aparecerem os precentores ou leitores e sacerdotes, segundo
testemunho de Heródoto, outra pista dada por Clemente de Alexandria é de que existiam dez
livros, no mundo egípcio, dedicados aos hinos. Aparece uma concepção, dentre os egípcios,
de que “os próprios deuses são ‘cantores’, gostam da música e ensinaram aos homens as
melhores melodias” 5. Pelo ano 1570 a. C. aparecem as mulheres musicistas, em boa parte,
esposas ou filhas de sacerdotes. Elas participavam dos ofícios de culto e seus instrumentos
eram o sistro, a flauta e a harpa.
3) Índia: possivelmente a Índia antiga seja o país que, mais que qualquer outro,
apreciava a música. Parece não ser possível viver sem música assim como não o é possível
sem alimento. Identificou a música com as concepções filosóficas, religiosa, cosmológica e
musical. Mais que se identificar com o ritual e a religião, a música é portadora de salvação. E
os deuses não só gostam de música, como, também, fazem música, são músicos. Os
instrumentos usados: tambores tocados com as mãos, flauta, harpa curva. Data do ano 200
a.C. a primeira teoria verdadeiramente musical, composta de 36 capítulos. Estudos deduziram
que haviam músicas mais flexíveis e articuladas para se executar durante o dia e, “nas outras
horas apresentavam-se músicas mais sóbrias e contidas” 6.
4) China: no complexo mundo chinês, onde a música está relacionada com os ritos e
com a vida religiosa, há uma atenção especial à harmonia de todas as atividades humanas. Na
concepção da China antiga, toda a ordem do mundo modula-se pela escala pentatônica,
conhecida na época. Em sua teoria, “a música não é outra coisa que a substância das relações
harmônicas que devem reinar entre céu e terra” 7. Essa teoria da harmonia universal assumia,
também, o sentido religioso de forma plena.
4
TERRINI, 2004, p. 275.
5
TERRINI, 2004, p. 275.
6
TERRINI, 2004, p. 279.
7
TERRINI, 2004, p. 280.
15
salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o coração” (Ef 5,
19). E na Carta aos Colossenses: “inspirados pela graça, cantem a Deus, de todo o coração,
salmos, hinos e cânticos espirituais” (Cl 3,16). Esta atitude deveria ser expressão de uma
convicção interior.
Mas logo surge uma oposição ao uso da música nas ações litúrgicas cristãs por causa
da relação com os não-cristãos ou com os pertencentes às religiões mistéricas. Os Padres da
Igreja, irritados, tentam impedir a invasão de instrumentos em todos os tipos de ritos
religiosos cristãos. Terrin cita, por exemplo, Clemente de Alexandria que assume uma batalha
pessoal contra a música dos ídolos; Gregório Nazianzeno convida os cristãos a “não usarem
os instrumentos musicais dos pagãos, porque o que conta é a cordialidade espiritual e a pureza
da alma dos que participam do verdadeiro serviço divino” 8. Fica evidente que, entre os
Padres da Igreja, há rejeição ao uso de instrumentos musicais. Isso a tal ponto de falarem dos
instrumentos musicais citados no Antigo Testamento como metáforas, a fim de evitar o uso
desses instrumentos entre os cristãos.
Para justificar o uso desses instrumentos entre os judeus, se afirmava que “tratava-se
de instrumentos que no passado tinham sido permitidos pela fraqueza mental dos judeus, que
precisavam libertar-se dos seus ídolos” 9.
Essa fobia dos Padres da Igreja tinha em sua base a intenção de evitar o culto aos
deuses, que existia fora do âmbito cristão, onde havia justamente a música. Existia a idéia de
que a música “poderia levar longe demais e muito facilmente à adoração de ídolos e de
divindades fora da esfera do único Deus, pai de Jesus Cristo”, assim como no Egito e outros
lugares, onde se colocavam juntas muitas divindades. O culto às divindades, nesse caso, eram
“evocadas e convocadas através de instrumentos musicais, variados e sedutores” 10.
De acordo com o autor citado, historicamente seguiram-se várias proibições no campo
litúrgico-musical, nos séculos seguintes. Exemplo disso é a proibição de as mulheres
cantarem na liturgia. Ainda havia restrições para o uso da música a fim de evitar semelhanças
com os cultos dos outros povos. Portando, aos cristãos “convinha rezar e cantar mais com o
coração, interiormente, do que com a voz e/ou os instrumentos musicais” 11.
Pelo ano 400, procurando “bloquear um fenômeno que podia ser traumático”,
aparecem textos que esclarecem as finalidades do canto nas assembléias litúrgicas. O “Cânon
8
TERRIN, 2004, p. 306.
9
TERRIN, 2004, p. 307.
10
TERRIN, 2004, p. 307.
11
TERRIN, 2004, p. 308.
16
de Basílio” orienta: “aqueles que cantam os salmos no altar não devem cantar com alegria,
mas com sabedoria; e só devem cantar os salmos” 12.
13
A seguir se abordará a história da música segundo a classificação : modal, tonal e
pós-tonal. Tal classificação está relacionada também às concepções de mundo em cada tempo
histórico. Por isso são denominados “mundo”.
a) Mundo Modal:
Compreende todo o período da antiguidade até a Idade Média. Um dos marcos
musicais do mundo modal é a presença do pulso fortemente definido; o outro é a presença de
uma tônica fixa, que permanece como um fundo imóvel, explícito ou implícito, sob a dança
das melodias. Possui caráter circular das estruturas rítmicas e melódico-harmônicas o que
confere uma experiência de tempo repetitiva e produz uma visão de mundo imutável. O pulso
é um mecanismo bastante eficiente para hipnotizar, levar ao estado de transe. Prova evidente
disso é o carnaval e o candomblé. Portanto a música é portadora de uma ordem sacrifical
(ritualística). Nela não há temas: a música sempre supõe uma significação externa, encontrada
numa outra totalidade e o som é instrumento de contato com essa outra totalidade. Está em
uso a escala pentatônica (apenas cinco notas). Elas possuem encaixe perfeito já que cada nota
se encaixa com outras duas notas e bate de frente com mais duas. Isso lhe permite eliminar
14
toda dissonância sonora, produzindo um som suave a exemplo dos sons orientais . Assim
concebida, a música é força contra qualquer inovação; vincula-se a uma ordem eterna e
imutável que tem importantes implicações sociais.
Na Idade Média temos o Canto Gregoriano (ou cantochão), o canto oficial da Idade
Média, embora houvesse outros. Este é caracterizado, não mais pelo transe do corpo, mas do
cérebro. Há uma recusa ao pulso. Não há percussão: são vozes em polifonia, ou seja, várias
vozes cantando a mesma melodia. Também não há tonalidades dissonantes.
O Canto Gregoriano é um herdeiro da harmonia das esferas. Assim como na visão
platônica, na Idade Medieval o corpo é abominável, representa algo decadente, pecaminoso.
Então o pulso, que se refere ao corpo, é inadmissível. A música se desenvolve, então, no
plano das alturas (freqüência), negando o ritmo recorrente e as estruturas simétricas da canção
12
TERRIN, 2004, p. 308.
13
Para esta abordagem se utilizou das memórias de aula da disciplina de Estética e Filosofia da Arte no Curso de
Filosofia da Universidade de Passo Fundo, em outubro de 2003 e das seguintes obras bibliográficas: 1)
TROMBETTA, Gerson Luís. A Pedagogia da experiência estética no contexto da indústria cultural. In:
DALBOSCO, Cláudio Almir. Filosofia Prática e pedagogia. Passo Fundo: UPF, 2003. p. 159-170. 2) WISNIK,
José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
14
Com a ajuda de um teclado é possível experimentar isso que foi exposto: basta acionar as cinco teclas pretas
de uma oitava. O som produzido retrata essa suavidade de que se está falando.
17
15
popular para fluir estaticamente sobre as sílabas sonoras. Não é possível bater o pé num
ritmo cadenciado durante a execução do Canto Gregoriano. “O transe é dinâmico, constituído
a partir do movimento do corpo e da anulação do cérebro; o êxtase, por sua vez, é estático,
deixando o corpo imóvel e cooptando a energia mental” 16.
No canto gregoriano, então, a música é o território de luta entre a elevação ascética e a
sedução sensível do ouvido. O êxtase não pertence ao corpo, mas ao cérebro. Tudo está sob
controle, expresso na harmonia polifônica.
Estão negados (proibidos) os “acidentes” dissonantes. Na arte musical há um elemento
denominado trítono, que corresponde à quarta aumentada – intervalo de três sons que temos,
por exemplo, entre o FÁ e o SI ou o DÓ e o Fá#. O trítono é a figura da dissonância em meio
à harmonia da polifonia medieval.
A dissonância, na cosmovisão medieval constitui “falha cósmica”, é a figura do mal,
do imperfeito, do diabo (o diabolus in musica); não há nada a fazer com o trítono a não ser
evitá-lo a todo custo. Nas outras tradições modais, o trítono era “afogado” no caldo do ritmo.
Na Idade Média, a música também é modal – inclusive o sentido é o mesmo –, porém,
o caminho é diferente. Se antes o caminho para a totalidade, para o divino, era o corpo, agora
é o cérebro. O trítono (ou dissonância), é compreendido como algo diabólico (dia+bolus =
separação; contrário de syn+bállein = junção). A música com tons dissonantes seria, assim,
uma afronta ao cosmos harmonizado e, portanto, uma afronta ao seu Criador, Deus.
Por isso, a negação do pulso na música gregoriana, prepara o substrato para o mundo
tonal.
15
O seu caráter é estático, em oposição às músicas do transe. O transe é dinâmico, um zero mental que se
transforma em movimento do corpo, dança. O êxtase é estático: o corpo não se move.
16
TROMBETTA, Gerson Luís. A Pedagogia da experiência estética no contexto da indústria cultural. In:
DALBOSCO, Cláudio Almir. Filosofia Prática e pedagogia. Passo Fundo: UPF, 2003. p. 164.
17
TROMBETTA, 2003, p. 165.
18
Na Idade Moderna, Bach é o mais religioso dos compositores. Ele compõe aliviando a
tensão tritônica, colocando notas musicais em suas composições, a que se denomina resolução
– “dominando o diabo” na Idade Média. Várias composições dessa época (Bach e outros)
utilizam a polifonia sem harmonia, ou, jogos de intensa separação, que de vez em quando se
18
encontram. As faixas nº 15 e 16 do roteiro O som e o sentido demonstram exemplos de
19
trítono puro; já nas faixas nº 17 e 18 do mesmo roteiro são demonstrações de tensão e
resolução. A diferença de sensações, ao ouvir os sons, é de alto desconforto no primeiro caso
20
e, de satisfação no segundo . Muitas composições de Mozart e Beetoven são marcadas por
esse estilo: aparecem, constantemente, tensão e resolução; tensão e resolução. É o mundo
tonal marcando o Renascimento.
18
WISNIK, José Miguel. O som e o sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 266.
19
WISNIK, 1989, p. 267.
20
Parece interessante fazer aqui, uma ligação dessa sensação provocada pelo som, com o sentimento gerado pela
Indústria Cultural que abordaremos modestamente mais adiante. Se, na música, temos a resolução da tensão
provocada pela dissonância das notas, no contexto de Indústria Cultural “o que se resolve é a tensão que o
produto mesmo criou, proporcionando um prazer fugaz” (TROMBETTA, 2003, p. 161).
21
TROMBETTA, 2003, p.165.
19
c) Mundo Pós-Tonal:
O mundo pós-tonal é o mundo baseado na crítica à idéia de progresso, à idéia de
evolução, à composição como narrativa e uma crítica à idéia de domínio. Aqui o movimento
de tensão e repouso é rejeitado. Há, isto sim, constante tensão, não havendo, assim, aquele
efeito de beleza como no movimento anterior. Isso se constitui oposição à idéia de progresso,
ou seja, a barbárie nunca é superada; a razão, quando dorme, produz a barbárie.
Dentre as características dessa música (atonal) temos que tal arte torna-se enigmática;
a memória não consegue repetir o que ouve (ao contrário das músicas tonais onde a dinâmica
da narrativa podia ser ouvida e repetida). Ademais, não há mais hierarquia rígida dos sons
completamente dominada pelo compositor. No mundo atonal, a escala é dodecatrônica (doze
tons) e todas as notas têm o mesmo valor. Não é mais o homem que está em evidência e sim a
exposição das possibilidades da própria música; não mais um conteúdo racional ou uma
estória a ser contada mas a tentativa de explorar as potencialidades carregadas na matéria
sonora.
A tensão não é mais propedêutica, preparatória para a resolução, mas sim o princípio
fundamental. A resolução sai de cena por um princípio técnico pois uma nota só ocorre depois
das outras onze serem executadas. O único progresso que há é a expansão de possibilidades
da arte, porque no mundo não há progresso: a barbárie está sempre retornando. A arte se torna
refratária e a indústria cultural oferece produtos para o simples deleite.
O nosso gosto musical foi formado pelo que pode ser mais corretamente
denominado como uma música popular industrializada, ou seja, uma música que se
tornou produto fonográfico e, a partir desse fato, encontrou as condições para sua
divulgação e distribuição. O processo de escolhas que levou a essas decisões de
20
à internet, trabalham para induzir o publico consumidor aos shows, às festas, que são o novo
negócio. Portanto os grandes shows e a veiculação radiofônica são as novas fontes de lucro da
indústria musical 26.
Na opinião de Vicente, tal estratégia “não serve para todos os artistas, mas apenas aos
27
que realizam shows capazes de atrair um significativo público pagante” . O show dos
cantores de renome nacional, Vitor & Léo, no dia 17 de outubro de 2009 em Passo Fundo
reuniu mais de quinze mil pessoas. O preço dos ingressos variou entre R$15,00 e R$60,00, o
que permite dizer que o público pagante entregou à “G8 Produções” não menos que trezentos
mil reais. Isso pode ilustrar o que se está afirmando.
29
MARTÍN, 1997, p. 24.
30
MARTÍN, 1997, p. 23.
31
MARTÍN, 1997, p. 37.
23
‘sobrenatural’ que procede da revelação, pois deixaria de levar em conta a verdadeira natureza
divino-humana da liturgia” 32.
A antropologia litúrgica deve considerar dois grandes aspectos do homem, segundo J.
Martín. 1) visão ôntico-estática é a visão do homem em si mesmo, sua unidade, sua dimensão
corporal. A constatação da corporeidade humana é de grande expressão para a liturgia já que
o homem, este ser espiritual-corporal, atua na liturgia com a linguagem do corpo e dos gestos
litúrgicos. 2) visão funcional-dinâmica é a visão mais completa do ser humano enquanto ser
de relações: com os demais seres com os quais realiza sua existência, com Deus, com o
universo e o planeta onde habita. Aqui nota-se que o homem é um ser que se realiza no tempo
e no espaço, “utilizando sua liberdade e contribuindo conscientemente para a realização
histórica do desígnio divino de salvação” 33.
Se a antropologia cristã auxilia o homem a dar-se conta de sua vocação dinâmica no
mundo, a antropologia litúrgica deverá manifestar claramente um vasto leque de relações
humanas e cósmico-naturais onde se encontra inserido o homem. Portanto, a participação na
liturgia “com todo seu universo de símbolos e expressões socioculturais, é um momento
privilegiado para que o homem tome consciência de si mesmo e de sua função na história” 34.
A antropologia litúrgica tem, diante de si e como seu objeto de estudo, o homem: uma
pessoa encarnada, um ser de relações, um produto da mentalidade cultural e da sensibilidade
religiosa. Inserido na história, ele vai construindo sua felicidade não sem que essa história
afete, inclusive, suas relações com Deus. Logicamente as relações do homem com Deus se
baseiam também nas estruturas mentais, expressivas, comunicativas, rituais, místicas, etc. do
ser humano. Logicamente, também, tudo o que compõe o universo tocado pelo homem (onde
exerce seu domínio, criatividade, auto-realização) está refletido e incorporado na liturgia.
Tudo isso sem esquecer “a dimensão gratuita e de dom de Deus que é sempre a ação litúrgica”
o que também é chamado sinergia. “A liturgia é essencialmente sinergia do Espírito e da
Igreja” 35.
Ao se considerar a antropologia da liturgia – o homem relacionando-se com a liturgia
–, brotam algumas conseqüências, segundo o autor já citado. São conseqüências que os
estudiosos classificam como antropologia a partir da globalidade litúrgica e a partir do fator
globalidade antropológica.
32
MARTÍN, 1997, p. 39.
33
MARTÍN, 1997, p. 41.
34
MARTÍN, 1997, p. 41.
35
MARTÍN, 1997, p. 44.
24
36
MARTÍN, 1997, p. 47.
37
MARTÍN, 1997, p. 49.
25
Uma vez que a ciência litúrgica pode estudar as demais ciências humanas, a recíproca
também é válida. Porém, parece que não basta à antropologia litúrgica simplesmente dar
atenção aos “resultados da antropologia cultural, da psicologia, da sociologia, da lingüística e
38
semiologia, e da fenomenologia religiosa” . Pois elas permanecem no seu objetivo próprio.
Também não se pode pretender que a liturgia seja expressão da vida social e cultural do
mundo: não é esta a sua finalidade. Porém, a liturgia cumpre papel fundamental ao tentar
“adaptar-se às condições dos homens e dos povos para realizar sua missão com maior
eficácia: […] continua sendo um desafio para a Igreja a inculturação da fé e de sua expressão
litúrgica” 39.
Desafio ainda maior se apresenta à música litúrgica. Com proceder para se chegar
àquela música que seja expressão do mistério celebrado, ao mesmo tempo em que é
inculturada, ou seja, fala a linguagem de quem celebra tal mistério?
38
MARTÍN, 1997, p. 50.
39
MARTÍN, 1997, p. 50.
40
Ione Buyst. Música Ritual. In.: Revista de Liturgia, n.91, ano 1989.
41
O uso do hífen pretende acentuar que a música tem o poder sedutor, capaz de provocar grande prazer, de
revelar o invisível e ocultar ou aliviar realidades de sofrimento.
26
Em outro texto, Ione fala do esforço sentido nas últimas décadas, de renovação da
música usada na liturgia cristã. Tal empenho visa não mais contentar-se com qualquer música
sacra ou religiosa, nem mesmo de teor catequético, evangelizador ou conscientizador. Em seu
dizer,
Convém, agora, trazer à tona alguns elementos constitutivos da liturgia. Talvez assim,
a partir da compreensão da ritualidade litúrgica tenha-se explicada mais claramente a função
da música e do canto nos atos de culto cristão.
42
BUYST, 2002, p. 142-148.
43
MARTIMORT, Aimé Georges. A Igreja em oração. Vol. I – Princípios da Liturgia. Trad.: Fr. Almir Ribeiro
Guimarães. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 134.
44
MARTIMORT, 1988, p. 134.
27
45
MARTIMORT, 1988, p. 12.
46
MARTIMORT, 1988. p. 31.
47
As primeiras tentativas de definição do termo liturgia apresentam-se bastante limitadas. Tanto que o Papa Pio
XII na encíclica Mediator Dei, de 1947, rejeitou as tentativas de definição como sendo: 1) apenas a parte externa
e sensível do culto divino, fazendo-a consistir no aparato decorativo das cerimônias; 2) o simples conjunto de
leis e regras que ordenam a execução dos ritos sagrados. “Sublinhando a realidade sobrenatural que a liturgia
encerra, insinuou que sua definição fosse buscada na compreensão do sacerdócio de Cristo e numa justa noção
da Igreja, Corpo Místico de Cristo, como já tinham sugerido os pioneiros do movimento litúrgico”
(MARTIMORT, 1988, p. 33-4).
28
significação normal é a de serviço público, isto é, uma função exercida no interesse de todo o
povo, seja no campo da ordem política, técnica ou religiosa” 48.
Leitourgía (laós {povo} + ergon {trabalho}). Liturgia é compreendida como um
trabalho executado pelas pessoas em benefício de outras, de modo que todas tomem parte
ativa, não como espectadores.
49
No primeiro capítulo do livro Introdução ao culto cristão , James White traça
algumas definições do termo “culto cristão” 50, ou seja, da liturgia.
Entre os pensadores protestantes, ortodoxos e católicos, há muitas definições para o
termo “culto cristão”. Frequentemente elas se sobrepõem, mas cada uso acrescenta novas
percepções complementares. Vejamos.
Para Paul W. Hoon, de tradição metodista, o núcleo do culto é Deus agindo para dar
sua vida ao ser humano e para levar o ser humano a participar dessa vida. É uma relação
recíproca: Deus toma a iniciativa dirigindo-se a nós e nós respondemos usando uma variedade
de emoções, palavras e ações. Peter Brunner, de tradição luterana, diz que essa “dualidade” do
culto é encoberta por um foco único, que é a atividade de Deus tanto em se nos auto-doar
quanto em instigar nossa resposta às suas dádivas.
Jean-Jacques von Allmen, de tradição luterana, afirma que o culto cristão é “epifania
da igreja” que ganha sua identidade na medida em que revela sua natureza e confessa sua
própria essência. Para Evelyn Underhill, de tradição anglo-católica, o culto é condicionado
pela crença cristã – encarnação, trindade – e possui caráter social e orgânico: não é
empreendimento solitário.
Em Georg Florovsky, de tradição ortodoxa, ser cristão significa estar na comunidade,
na igreja. É nesta comunidade que Deus atua no culto, tanto quanto os próprios cultuadores.
Nikos A. Nissiotis, de tradição ortodoxa, diz ser o Espírito Santo quem possibilita à
igreja oferecer o culto que é agradável como ato, tanto proveniente da trindade quanto
direcionado a ela.
Em círculos católicos, glorificação e santificação formam uma unidade pois, como diz
Irineu, a glória de Deus é um ser plenamente vivo. Glorificação e santificação caracterizam o
culto cristão. Outra maneira de falar do culto cristão é o Mistério Pascal, conforme escritos de
Odo Casel (monge beneditino alemão): ao celebrar o culto, a comunidade cristã compartilha
48
MARTIMORT, 1988. p. 32.
49
WHITE, James F. Introdução ao culto cristão. Tradução de Walter Schlupp. São Leopoldo: Sinodal, 1997. p.
11ss.
50
Culto: vem do latim, cultus, colere: “honrar”, “venerar”. É a expressão concreta da virtude da religião,
enquanto manifestação da relação fundamental que une o ser humano a Deus. O culto compreende atos internos
e externos nos quais se realiza essa relação.
29
os atos redentores de Cristo; o que Cristo realizou no passado pode ser experienciado e
apropriado para a própria salvação no tempo atual.
Os estudiosos de várias tradições cristãs acima citados ajudam a definir liturgia com
enfoques que se complementam e evidenciam o sentido da mesma. Várias dessas concepções
51
aproximam-se do pensamento assumido no Concílio Vaticano II que, em resumo é o
seguinte: a função da liturgia é estabelecer uma comunicação entre Deus e a humanidade:
ação de movimento do primeiro e ação de memorial do segundo.
O canto e a música litúrgica colaboram nessa ação quando oferecem aos fiéis o texto
bíblico e, em contrapartida, lhes possibilitam responder a Deus com hinos de preces e
louvores. E isso se refaz de maneira simbólico-ritual.
Martimort postula que a compreensão assumida pelo Concílio Vaticano II tem na sua
base a encíclica Mediator Dei de 1947 do Papa Pio XII 52 situada no contexto do movimento
litúrgico. Porém incrementa vários aspectos importantes, tais como: 1) a liturgia é toda ela um
sinal sagrado. “O elemento visível é sinal eficaz de uma realidade sobrenatural”. Tal
compreensão rejeita a concepção veiculada na década anterior de que o elemento material,
sensível, seria somente “integrante ou assessório”. 2) na compreensão implícita ao sacerdócio
de Cristo, a ação litúrgica cumpre duplo movimento: fazer chegar até Deus a oração da
comunidade e permitir “que desça, sobre a Igreja e seus membros, as graças da Redenção”. 3)
“O lugar e a natureza da liturgia ficam bem evidenciados a partir do momento em que ela é
assumida na economia da salvação”. Isso porque, através dos sinais, ela realiza e atualiza as
promessas do Antigo Testamento e o que se realizou na Páscoa de Jesus Cristo. 4) “A liturgia
pertence ao povo cristão”. Por força do batismo, todos são convidados a tomar parte dela sob
a direção do sacerdócio ministerial 53.
51
Em 1963, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium é promulgada. As explicações
iniciais dão conta dos princípios da reforma e do incremento da liturgia, fazendo um “ensinamento sobre ‘a
natureza da liturgia e sua importância na vida da Igreja’”. Há uma tentativa de reaproximação da linguagem das
categorias da Bíblia e dos Santos Padres (MARTIMORT, 1988, p. 34).
52
As primeiras tentativas de definição de liturgia propostas pelo Movimento Litúrgico eram três: 1) Estéticas: é a
forma exterior e sensível do culto, isto é, o conjunto de cerimônias e ritos. Seu objeto formal era buscado nos
aspectos externos e estéticos do culto religioso. Liturgia era a manifestação sensível e decorativa das verdades da
fé. É uma definição incompleta e insuficiente do ponto de vista da natureza da liturgia (o Papa Pio XII rejeitou
esse conceito de forma explícita na Encíclica Mediator Dei). 2) Jurídicas: liturgia era apresentada como culto
público da Igreja enquanto regulado pela autoridade. Aqui a liturgia é identificada como cumprimento de
normas, regras e rubricas. Mediator Dei considerou esse conceito insuficiente. 3) Teológicas: apontavam liturgia
como culto da Igreja, mas limitavam o caráter eclesial do culto à ação dos ministros ordenados. A partir dessa
idéia, algumas definições procuraram chegar ao núcleo da liturgia cristã, isto é, ao mistério de Cristo e da Igreja.
A liturgia é um mistério ou ação ritual que torna presente e operante a obra redentora de Cristo nos símbolos
cultuais da Igreja.
53
Cfe. MARTIMORT, 1988. p. 34.
30
54
MARTIMORT, 1988. p. 35.
55
Assembléia é uma reunião de pessoas que tem algum interesse em comum; reunião de pessoas especialmente
convocadas (HOUAISS, Instituto Antonio. Dicionário Eletrônico HOUAISS da Língua Portuguesa. Versão
1.0.7. Editora Objetiva Ltda, 2004).
56
MARTIMORT, 1988. p. 96-7.
31
do exílio, há uma assembléia que dura oito dias seguidos e que inaugura o judaísmo”
conforme relata o livro de Neemias, capítulos 8 e 9. A partir daqui, “a convocação não é mais
feita por Deus, mas em seu nome. Sua presença, no entanto, é certa através de sinais […] ou
simplesmente o livro da bíblia” cuja leitura se reveste de solenidade já que é verdadeiramente
Deus quem fala 57.
Após o exílio os fiéis de todas as regiões peregrinarão sistematicamente a Jerusalém,
marcando o tempo pela celebração dos aniversários destas grandes assembléias do passado.
Isso irá até o surgimento de uma nova assembléia, a de Jesus, pela vinda do Espírito Santo
sobre os apóstolos.
O livro dos Atos dos Apóstolos relata os discípulos perseverando na oração. Com isso
o mistério da salvação em Cristo é a constituição de um novo Povo de Deus, a reunião
daqueles que andavam dispersos. Esta nova aliança é selada no sangue do sacrifício de Cristo,
mas a assembléia é convocada a oferecer sacrifícios espirituais. Os que se reúnem, o fazem
convocados pelos que Cristo envia. É o próprio Deus quem convida para a assembléia –
58
apesar de todos os esforços de pastores e fiéis –; “sua iniciativa é anterior e preveniente” .
Aliás, sua presença é garantida na afirmação de Jesus em Mt 18,20: “onde dois ou três
estiverem reunidos em meu nome, estarei no meio deles”. Mais ainda que no Sinai, é um povo
real e sacerdotal. Estão ali incorporados à assembléia que é a Igreja, por força de seu batismo,
tendo recebido um caráter que os incumbe de serem morada do Espírito Santo e sacerdócio
santo.
A assembléia litúrgica é a expressão da Igreja. Ali a Igreja se mostra, se revela. É, por
assim dizer, o corpo místico de Cristo, cuja noção fundamenta a teologia da liturgia. O termo
forte é re-unir-se, re-união. E celebração é um ato comunitário e eclesial. Ausentar-se da
assembléia é diminuir o corpo de Cristo, ou seja, a Igreja. Na assembléia litúrgica, o sacrifício
que é oferecido pelos cristãos “é a missa, memorial e presença do sacrifício da cruz” 59.
Na Idade Média, a compreensão da participação da assembléia, praticamente deixou
de ser ativa. A partir de 1903, com S. Pio X, e em 1928 com Pio XI, iniciam-se reflexões e
estudos e o próprio movimento litúrgico que resultam na encíclica Mediator Dei de Pio XII
em 1947. Queriam aquilo que o Concilio Vaticano II acabou por legitimar: a participação
ativa dos fiéis na liturgia por força de seu batismo e por força da própria natureza da Igreja.
Povo real e sacerdotal, a Igreja caminha para a unidade que, na liturgia é “experimentada e
57
MARTIMORT, 1988. p. 97-8.
58
Graça; que nos induz à prática do bem.
59
MARTIMORT, 1988. p. 98.
32
60
MARTIMORT, 1988. p. 102-3.
61
MARTIMORT, 1988. p. 104ss.
33
destinados a acompanhar as ações celebrativas. “Na sua constituição dever-se-á cuidar não
somente da competência técnica, mas também da qualidade espiritual” 62.
Ione Buyst adverte que
Grande parte da participação na liturgia é assegurada pela música, pelo menos nos
domingos e dias festivos. A música atrai, facilita a participação; porém, pode causar
também enormes estragos espirituais se não for bem compreendida a relação entre
música e liturgia. [Se a liturgia se tornar] “palco” para a “criatividade” de muita
gente, sem que se leve em conta a natureza da liturgia, […] em vez de se tornar uma
63
aliada, acaba impedindo a verdadeira participação.
62
MARTIMORT, 1988. p. 104-110.
63
BUYST, 2002. p. 142-148.
64
O Documento da CNBB de nº 52 diz: “a Palavra conduz à Eucaristia. Se, por um lado, a Palavra encontra sua
realização na Eucaristia, por outro a Eucaristia tem, de certo modo, seu fundamento na Palavra”. E, no nº 30, o
mesmo documento afirma: “Palavra de Deus e Eucaristia são duas formas diferentes da presença de Jesus Cristo
no meio do povo da nova aliança” (CNBB. Orientações para a celebração da Palavra de Deus: Documento nº
52. São Paulo: Paulinas, 1994).
34
abundante, variada e apropriada. Desejou, também, que se incentivasse aquilo que chamamos
de Celebração da Palavra, “comportando leituras, cantos, uma homilia, oração dos fiéis e a
recitação do Pai-Nosso” 65.
O significado da escuta da Palavra na liturgia contém o valor de uma palavra
atualizada para o hoje da história, como uma novidade inesperada, onde o próprio Deus fala
quando se lêem as Escrituras na Igreja. Este caráter é potencializado pela homilia 66. Ela é a
adaptação – através do comentário – às circunstâncias concretas e às necessidades do povo.
67
Recebemos a homilia como herança da sinagoga, tendo passado pela Antiguidade e sendo
incentivado pelo Vaticano II.
Por fim, convém sublinhar que a própria Escritura fornece ricos elementos que
resultam na prática litúrgica: sinais, compreensões dos sacramentos, visão de mundo,
interpretação da história. Certamente não pode haver vida litúrgica sem iniciação à Bíblia.
“As épocas que perderam esse senso bíblico não produziram criações litúrgicas duradouras e
se perderam em alegorias artificiais ou interpretações acomodatícias cuja sobrevivência
provoca mal-estar ainda hoje” 68.
Certamente a sensibilidade aguçada dos cristãos aos sinais de Deus e aos sinais dos
tempos concorrem favoravelmente para uma aproximação entre Criador e criaturas que
anseiam por encontrar-se, conhecer-se, alegrar-se mutuamente.
No que se refere ao canto desta ação ritual, Ione Buyst postula que se deve favorecer
para que a música cumpra seu papel de servir ao diálogo entre as partes que se encontram
celebrando. “É preciso que a música, na liturgia, seja vivida como um diálogo, uma
comunhão, com Deus, de altíssima qualidade, uma participação no ‘mistério’ do próprio
Deus” 69.
65
A esse respeito ver: SC 35.
66
Etimologia: o termo vem da palavra grega HE HOMILIA. O verbo HOMILEIN significa “relacionar-se,
conversar”. HE HOMILIA designa, no NT, “o estar juntos, o relacionar-se, e, nos primeiros séculos da era cristã,
o termo passa a ser usado para denominar a prédica (KIRST, 2004. p. 9). Como vemos, a homilia (ou prédica)
tem a ver com algo de conviver, de valorizar a situação presente dos participantes na ação ritual. Uma
espécie de diálogo familiar onde as situações humanas são “postas à mesa”, discutidas, esclarecidas… à
luz da Palavra de Deus. Homilética é a “ciência que se ocupa com a pregação cristã” (KIRST, Nelson.
Rudimentos de Homilética. 4.ed. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 2004, p. 9), especialmente aquela feita
dentro da liturgia, ou seja, a homilia ou prédica. A homilética tem a tarefa – não apenas no campo
teórico, mas, sobretudo no campo prático – de refletir metodologicamente a pregação que acontece na
Igreja.
67
A prática da homilia dominical na Antiguidade nos valeu a maioria dos comentários bíblicos que temos dos
Santos Padres. Vale à pena conferir as pregações de Santo Agostinho e de São João Crisóstomo (o boca de ouro),
ambos do século IV.
68
MARTIMORT, 1988. p. 132.
69
BUYST, Ione; FONSECA, Joaquim. Música Ritual e mistagogia. São Paulo: Paulus, 2008. p. 7.
35
a) Conceito de Rito
Em As linguagens da experiência religiosa, Severino Croatto nos ajuda a entender os
ritos. Etimologicamente, “a palavra latina ritus é próxima da palavra sânscrito-védica rta
(rita). Significa a força da ordem cósmica sobre a qual velam divindades”. Vê-se, com isso,
que o rito não é uma ação puramente humana ou inventada por uma pessoa qualquer. Ele é, de
alguma forma, “uma ação divina, uma imitação do que fizeram os deuses. Por isso, deve ser
repetido como uma ação divina” 70.
Nesse sentido, rito é o conjunto das cerimônias e das regras cerimoniais que
usualmente se pratica numa religião, numa seita, etc. Mas o rito não é somente uma ordem
cósmica, que é necessário respeitar e realizar. Croatto explica que “a imitatio das ações
divinas é a contrapartida da intenção do rito: participar do divino, possibilitar a comunhão
71
com o transcendente”. Ou seja, o que os ritos buscam é o contato com o sagrado . Neles, a
inclinação humana para o transcendente encontra certo gozo de realização. O desejo humano
de se aproximar de Deus realiza-se – ao menos em parte – pela imitação daquilo que
corresponde aos seus anseios.
Mais adiante o autor afirma que
Dentre as facetas do rito, percebemos que ele nos traz à mente a idéia de repetição, a
idéia de rubricas que normatizam os atos, e sua capacidade de representar simbolicamente
(mito). Vejamos. Numa primeira aproximação, o rito “aparece como uma norma que guia o
desenvolvimento de uma ação sacra. O rito é uma prática periódica, de caráter social,
70
CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa. [Trad.: Carlos M. Gutiérrez]. – São
Paulo: Paulinas, 2001. p. 330.
71
CROATTO, 2001. p. 330-1.
72
CROATTO, 2001. p. 331.
36
submetida a regras precisas”. Em sua exterioridade, porém, a norma é uma “rubrica” e não
define realmente o que é o mito 73.
Na obra de literatura infantil (?) “O Pequeno Príncipe”, Saint-Exupéry aborda essa
temática da seguinte forma:
Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa. – Se tu vens, por
exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a
hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta
e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento,
nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos. - Que é um rito?
perguntou o principezinho. - É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É
o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas.
Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as
moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha.
Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria
74
férias!
A idéia de repetitividade nos parece estar expressa aqui. Os atos que tornam a
acontecer com certa freqüência, certa duração, em determinado lugar, inscrevem-se como
ações rituais.
O texto deixa entrever – nos atos que assumem certa ritualidade pela sua
repetitividade – uma sensação de segurança aos implicados nessa ação. Sem esta segurança
oferecida pela repetitividade, “nunca saberei a hora de preparar o coração”. Significa que, sem
que haja certa constância de ações, é difícil prever algo. É nesse sentido, parece, que o autor
afirma que o rito “faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras
horas”; e, acrescente-se, uma celebração de outra.
Pode-se dizer que a repetitividade contida na métrica, no compasso, no ritmo musical
acabam por produzir – além de segurança e estabilidade – a possibilidade da novidade.
Exemplo disso, parece, é a necessidade de, a cada ano, recriar o espírito natalino mediante a
escuta de determinadas músicas que impregnaram-se em nossa cultura caracterizando o Natal.
Por fim, outras facetas da palavra rito: ritual também é usado para descrever a
Liturgia; liturgos usam para designar um livro de ritos (determinam as ações executadas num
culto por meio das rubricas (instruções impressas em vermelho, rubro); antropólogos usam-no
para designar atos repetidos que são socialmente aprovados; são as palavras pronunciadas ou
cantadas num culto.
Os ritos, portanto, possibilitam comunicação.
73
CROATTO, 2001. p. 330.
74
SAINT-EXUPERY, Antonie de. O Pequeno Príncipe. Com aquarelas do autor; tradução de Dom Marcos
Barbosa. 48ª ed., 8ª imp. Rio de Janeiro: Agir, 2003. p. 70.
37
75
Aquilo que se convencionou chamar “movimento litúrgico” ou, como também era chamado na Alemanha, o
“esforço litúrgico”, se deu no século XIX e pode ser dividido em duas fases. A primeira compreende o período
entre os anos de 1903 a 1914. Pio X com o motu próprio incentiva o povo a participar ativamente da celebração
dos mistérios já que são fonte indispensável do espírito cristão. Ali o canto da assembléia está sendo concebido
como “um primeiro passo na participação do mistério litúrgico”. Tal participação atingirá sua plenitude somente
com a comunhão na mesa do Senhor. A segunda fase do movimento litúrgico compreende o período que
antecede o Concílio Vaticano II: 1940 a 1962. Se no período anterior havia a preocupação de colocar a liturgia
existente ao alcance do povo e de promover o canto gregoriano, agora percebe-se a necessidade de “uma reforma
dos ritos feita em profundidade e a introdução parcial da língua vernácula na celebração”. Nesse período –
segunda fase – perceberam-se algumas medidas que contribuíram para se chegar aos alcances da Sacrossantun
Concilium, como por exemplo: redução da lei do jejum; a água natural já não quebra o jejum eucarístico; o
movimento de volta à Bíblia quer valorizar, também, o seu uso litúrgico e isso requer que ela seja proclamada na
língua do cotidiano; nesse sentido, também, o canto ganha espaço para ser mais vivo na liturgia solene; permite-
38
liturgia mobiliza; […] ‘faz-se’ alguma coisa. A liturgia tem um movimento, um ritmo próprio,
uma dinâmica. […] A liturgia existe somente no momento em que sua ação se desenrola”, na
medida em que se insere em seu movimento. “A eucaristia é a ação por excelência” 76.
se a publicação de rituais bilíngües e a simplificação das rubricas do breviário e da Dedicação das igrejas e dos
altares (MARTIMORT, 1988, p. 83ss).
76
MARTIMORT, 1988, p. 35-6.
77
TABORDA, Francisco. Sacramentos, práxis e festa: para uma teologia latino-americana dos sacramentos.
Petrópolis: Vozes, 1994. p. 67.
78
SC 33.
79
DP 920.
80
FERNANDEZ, Conrado. A Sacramentalidade da Liturgia. In.: Manual de Liturgia 2 – a celebração do
Mistério Pascal: fundamentos teológicos e elementos constitutivos/ CELAM; [Trad.: Maria Stela Gonçalves]. –
São Paulo: Paulus, 2005. p. 85-110. p. 89.
81
BUYST, Ione. Alguém me tocou!: sacramentalidade da liturgia na Sacrossanctum Concilium (SC),
Constituição conciliar sobre a Sagrada Liturgia. In: Revista de Liturgia nº 176 . Junho de 2003. p. 05.
39
82
Rito sagrado instituído para dar, confirmar ou aumentar a Graça. São sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia,
Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.
83
SC 33.
84
BUYST, 2005, p. 233.
85
FERNANDEZ, 2005, p. 94.
86
FERNANDEZ, 2005, p. 94.
40
Como seria de se esperar, a quarta função do sinal corresponde aos ritos finais da
celebração litúrgica. Estes tendem a orientar para uma direção de acordo com o indicado na
mensagem 87. Tais ritos impulsionam cada fiel presente na assembléia litúrgica a assumir seu
compromisso como co-responsável na construção do Reino de Deus.
88
“A celebração não pode ser algo separado da vida, ou paralelo a esta” . Como um
estilingue, a celebração litúrgica há de impulsionar para frente, na direção da utopia, do Reino
de Deus que é construído pelas mãos dos que acreditam serem responsáveis por continuar a
obra do Criador.
Cada vez mais, no mundo das comunicações é possível compreender o que seja a
transmissão do sinal de TV, a sintonia das ondas de rádio, da conexão virtual em informática,
dos serviços de rede em telefonia celular. E, em todo tipo de comunicação há uma terrível luta
por preservar a qualidade da transmissão a fim de manter a fidelidade da mensagem
transmitida.
Chama-se a atenção para o risco de perturbação na comunicação, independentemente
da posição onde ela ocorre ao longo do canal: se localiza-se na fonte ou no destinatário, bem
como nos meios. É certo que esses ‘ruídos’ são “capazes de incomodar, distorcer e até anular
89
a mensagem” . Como exemplo disso, poderia-se citar o dedilhar de instrumentos musicais
em momento inadequado, por simples desatenção do instrumentista; ou, ainda, o desvio da
comunicação essencial na proclamação de um texto bíblico por causa de um cacoete do leitor,
ou por sua postura, veste; imagens projetadas em datashow ou mesmo sua localização
inadequada no espaço litúrgico; etc. Assim como se faz necessária certa familiaridade da
linguagem articulada para a compreensão da ação simbólica, há que se cuidar para que tal
comunicação não fique prejudicada por causa dos ruídos da “transmissão”.
87
FERNANDEZ, 2005, p. 94-5.
88
FERNANDEZ, 2005, p. 95.
89
ARANDA, Alberto. Como celebramos? In.: Manual de Liturgia 1 – a celebração do Mistério Pascal:
Introdução à celebração litúrgica/ CELAM; [tradução: Maria Stela Gonçalves]. – São Paulo: Paulus,
2004. p. 155.
41
Por sua natureza, o rito parece, em geral, imodificável. Terrin recorda que ele possui
uma função quase fisiológica, como uma estilização de sentimentos: “ele ordena, acalma e
sublima os sentimentos, ou então os exalta e os transforma radicalmente” 94. Por conta dessa
quase imutabilidade, a cultura não lhe afeta na essência, mas apenas marginalmente. Os
historiadores, continua Terrin, constatam que os ritos são sempre os últimos a se modificar,
depois de mudar a língua; depois de mudarem os costumes. Já os antropólogos da religião,
“sublinhando a funcionalidade dos ritos, evidenciam o seu contexto e pragmática, com função
essencialmente ‘indessicale’ 95, onde o contexto é decisivo e inalterável” 96. Nesse caso, o rito
não pode desvirtuar a sua verdadeira contextualidade.
Indo adiante, o autor supracitado afirma que, uma vez que o rito é do tipo fixista, então
“se há uma música que seja capaz de ‘transformar’ o rito, tal música deve deixar-se guiar pelo
rito, a fim de não alterar o originário onde nasce o rito, e deve atentar para a natureza do rito,
97
e não vice-versa” . Portanto é a música que acompanha, comenta o rito e não o rito que
busca pelos modos musicais. Em nosso caso, é a tradição cristã que revela a natureza do rito
litúrgico e, por conseguinte, o tipo de música para cada tempo litúrgico ou caráter de
celebração.
90
TERRIN, Aldo Natale. O Rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. S. Paulo: Paulus, 2004. p. 281.
91
TERRIN, 2004, p. 282.
92
TERRIN, 2004, p. 301.
93
TERRIN, 2004, p. 301.
94
TERRIN, 2004, p. 302.
95
Indessicale: refere-se à expressão que só pode ser interpretada pelo contexto no qual é pronunciada.
96
TERRIN, 2004, p. 303.
97
TERRIN, 2004, p. 303.
42
Ainda a respeito do rito e da música se faz oportuno sinalizar para essa relação que
existe desde muito tempo e, para sua importância. A percepção dessa importância há de nos
ajudar a evitar uma tendência da atualidade de exaltar o valor das artes em detrimento do fato
religioso, alerta Terrin. É a música que deve adequar-se à estrutura simbólica do rito para
funcionar como seu apoio e seu comentário. “Os ritos nunca são acompanhados por músicas
arbitrárias ou autônomas, mas por músicas que servem para a melhor realização do rito” 98. E,
segundo Ione Buyst,
substituir a música ritual por uma música religiosa qualquer (de cunho sentimental,
devocional, catequético, querigmático ou ‘conscientizador’) é lesar o direito da
comunidade de ‘cantar a liturgia’, deixando-se moldar por ela. […] somos muitas
vezes ‘roubados(as)’ em nosso direito de cantar a música litúrgica: muitas vezes, os
cantos não acompanham a liturgia do dia, não são adequados para uma celebração
99
litúrgica.
A música pode ser propedêutica à experiência religiosa, afirma Terrin, citando R. Otto.
Ambos, música e religião/ritual, por sua natureza procuram criar uma “simpatia universal com
o mundo, ao mesmo tempo em que é uma ‘ultrapassagem’ do mundo”. Nesse sentido a
música surge como um expressivo e eficaz meio de dizer o indizível religioso – concordando
com Wittgenstein que diz que “o sentido do mundo está fora do mundo”. Ora, essa simpatia
universal das realidades do mundo evocadas e conectadas reciprocamente, tendem à unidade;
uma é som da outra; uma é eco da outra. Ela, então, “recolhe o sentido do mundo num
contexto onde transcendência e imanência formam um ‘solo’ estupendo e impensável,
impossível de ser traduzido pela linguagem ordinária” 100.
Por fim, indagando-se pelo que deve ser expressado pela a música – se conteúdos ou
emoções –, Terrin diz estar convencido de que “a função dela é comunicar através de
101
emoções e não tanto de palavras; das palavras o rito já se serve amplamente” . Mas,
segundo ele, as emoções precisam ser orientadas já que há um conhecimento no sentimento.
98
TERRIN, 2004, p. 312.
99
BUYST; FONSECA, 2008, p. 8.
100
Todas as citações deste parágrafo: TERRIN, 2004, p. 310-311.
101
TERRIN, 2004, p. 312.
43
em seu culto a Deus. Toda espécie de arte produz uma inumerável quantidade de efeitos a
cada um que a encontra. Dentre as formas artísticas, encontra-se a arte musical. A amizade
entre a Igreja e a arte só tem aumentado. Vê-se, nela, um caminho livre de expressão também
do sentimento religioso.
Historicamente vemos os povos – desde os antigos, os do Egito, gregos – associando-
se à arte de cantar. A própria natureza nos oferece seus sons, de maneira que não há como não
admitir esse elemento natural em nossas vidas. Quando falamos emitimos sons com ritmo
próprio. Ademais, hoje a música é encontrada em todos os momentos e espaços da vida. A
música parece ser um dado universal. Ora, se a música faz parte da vida humana, é oportuno
que faça parte, também, das celebrações litúrgicas.
O ser humano faz uso da arte para expressar seus sentimentos mais profundos. No
caso da música litúrgica, à palavra se aliam a melodia e o ritmo. Assim, o canto ajuda o ser
humano a expressar sua religiosidade, sua relação com Deus.
Tome-se como exemplo os Salmos bíblicos. Os Salmos são uma escola de oração e
ensinam a juntar, na oração, o louvor, a intercessão e a confiança, aliados à expressão poética.
Com os Salmos se aprende a rezar, ligados, não só à história pessoal, mas à história do povo
de Deus de ontem e de hoje, iluminados pela Páscoa de Jesus. Cantando os Salmos se reza,
não só com os lábios, mas com o coração e em espírito de solidariedade com toda a
humanidade.
Como se disse, o canto é um sinal; um sinal simbólico, sensível e significativo. Por
isso se lhe dedicaram muitos pronunciamentos eclesiásticos a fim de ressaltar a dignidade que
o canto litúrgico merece.
Muitas vezes se tem a impressão de que toda a música que “fala de Deus” serve para a
liturgia. Isso é um equívoco. Hoje se pode fazer uma distinção entre música religiosa, música
sacra e música litúrgica 102. A primeira é a que serve para a expressão do sentimento religioso,
porém, sem estar comprometida com nenhum credo religioso. A segunda – música sacra – é
toda a música que tem por objetivo a expressão da fé, endereçada a Deus, no templo ou fora
dele, mas sempre a serviço da fé. Já a música litúrgica é aquela que está a serviço da ação
litúrgica. Ou melhor, é aquela que se torna, ela mesma, ação sacramental. Ela será tanto mais
litúrgica quando mais se liga ao culto e dele se torna parte integrante. É, também, denominada
102
Classificação encontrada em: CARDOSO, Custódia. Música Litúrgica e Música na Liturgia. Mímeo.
44
103
música ritual , já que acompanha as ações sagradas e é considerada parte integrante delas,
tendo a mesma eficácia e o mesmo objetivo 104.
Esse tipo de música tem algumas características que lhe são próprias: sua adequação
ao tempo litúrgico; sua adequação à celebração litúrgica; adequação ao momento da
celebração litúrgica e sua adequação à índole cultural dos fiéis 105. Vê-se que ela é serva; está
a serviço do culto divino.
O canto na liturgia não tem um fim em si mesmo, mas é parte integrante da ação
litúrgica. Ele não pretende ser palavra, linguagem em si mesmo, mas sua intenção é
aprofundar e prolongar a Palavra. Assim, a serviço, o canto é gesto social e pastoral, pois
aprofunda e complementa o significado da Palavra; promove e realiza a união de todos os que
celebram juntos; une as inteligências e pensamentos; e, enfim, realiza uma ação comunitária.
A respeito disso, ainda, vale dizer que no canto litúrgico, a união das vozes acaba por
exprimir a união de pessoas numa verdadeira comunidade. É uma ação plenamente pessoal,
porque brota do íntimo e vem carregando vida, pensamentos, emoções. E é ação plenamente
social porque toda essa carga pessoal que a pessoa exterioriza através do canto, vai unir-se à
bagagem das outras pessoas. Na união das vozes, cada um se encontra pessoalmente, mas
percebe-se envolvido comunitariamente aos outros irmãos presentes.
Os elementos históricos e antropológicos e alguns conceitos trazidos nessa primeira
parte, embora tratados insuficientemente, servirão de referência para as observações da prática
corrente que vem a seguir. Possivelmente ajudarão, também, a apontar indicativos de ação
litúrgico-musical, tarefa do terceiro capítulo.
103
Música ritual é um termo antropológico que, segundo Ione Buyst, indica um tipo de música presente em todas
as tradições religiosas, “própria para acompanhar as ações sagradas; é considerada parte integrante destas, tendo
a mesma força e eficácia. Assim, na liturgia cristã, a música ritual vem carregada de ‘sacramentalidade’: é
atuação transformadora de Deus em nós, que nos faz participantes de sua vida divina” (BUYST; FONSECA,
2008, p. 8).
104
CARDOSO, S.d.
105
CARDOSO, S.d.
45
II – PRÁTICA LITÚRGICO-MUSICAL NA
DIOCESE DE VACARIA/RS
Esta investigação, ora empreendida, orienta-se para um referencial concreto: a Diocese
de Vacaria/RS. Neste segundo capítulo procura-se fazer uma aproximação deste referencial
contextual através de alguns elementos históricos e da coleta de informações. Tal construção
possibilitará, acredita-se, a objetivação de elementos litúrgico-musicais significativos desse
lugar. A visualização de indicativos práticos para a ação pastoral, no capítulo terceiro, será
tanto mais eficiente e proporcional à fidelidade e profundidade desta leitura da realidade.
Após breve contextualização histórica e geográfica, intenta-se uma descrição da
vivência contemporânea do âmbito litúrgico-musical na Diocese de Vacaria/RS. Para alcançá-
lo, se lançará mão de observações das práticas litúrgico-musicais e de uma pesquisa de
opinião escrita.
106
Segundo o Concílio Vaticano II, a “Diocese é a porção do Povo de Deus confiada a um Bispo para que a
pastoreie em cooperação com o presbitério, de tal modo que, unida a seu Pastor e por ele congregada no Espírito
Santo mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua uma Igreja particular” (Decreto Christus Dominus, 11).
46
eclesiástica da Arquidiocese de Porto Alegre. Dom João Becker, que visitara várias vezes as
paróquias do Planalto Nordeste, tão distante de Porto Alegre/RS, influenciado pelos padres
capuchinhos e pelas lideranças católicas de Vacaria/RS, levou adiante a idéia da criação de
uma Prelazia 107.
No dia 08 de setembro de 1934, o Papa Pio XI, com a Bula “Dominici Gregis
108
Dominici”, criava a Prelazia de Nossa Senhora da Oliveira de Vacaria . A Prelazia Nossa
Senhora da Oliveira, foi elevada à categoria de Diocese, pelo Papa Pio XII, em 18 de janeiro
de 1957. Hoje, 2009, 75 anos depois, a Diocese de Vacaria/RS é formada por 28 paróquias e
aproximadamente 500 comunidades, sendo que estas, para uma melhor articulação pastoral,
são divididas em foranias 109 ou áreas de pastoral 110.
111
A Diocese de Vacaria/RS abrange e serve a um total de 25 municípios , numa área
geográfica de 15.844 Km2 (aproximadamente 300 km por 70 km). É constituída por 28
112
paróquias , com uma população, conforme pesquisas publicadas recentemente, de 203.322
113
habitantes , sendo atendidos por 34 padres diocesanos e 15 religiosos padres 114.
Muitas famílias ou seus filhos jovens migraram do interior para a cidade, sobretudo os
centros maiores, fora do território diocesano, em busca de melhores condições de vida. Há
uma parcela que vive no campo, em sua maioria, pequenos agricultores. A população
diocesana é composta, etnicamente, por descendentes de imigrantes italianos, alemães e afro-
descendentes; em minoria, poloneses e índios. Está entre as de menor renda per capita do
Estado, sinalizando para o baixo poder aquisitivo da população. Contudo, é um povo de
cultura religiosa. Há uma considerável participação nas celebrações, bem como aos encontros
formativos. Conta-se com uma grande força pastoral de religiosas (os) e sacerdotes provindos
de Institutos Religiosos. As lideranças leigas são presenças marcantes nas comunidades. A
Igreja nessa região é um vasto e desafiante campo de Missão.
107
BARBOSA, Fidélis Dalcin. A Diocese de Vacaria. Porto Alegre: EST, 1984. p. 45-46.
108
BARBOSA, 1984. p. 71.
109
Denominação jurídica para um grupo de Paróquias geograficamente próximas, tendo o vigário forâneo como
figura referencial. A Diocese de Vacaria/RS está sub-dividida em quatro Foranias.
110
DIOCESE DE VACARIA. Plano de ação evangelizadora 2008. Marau: Marka, 2008. p. 75.
111
Confira mapa no Anexo C.
112
Do grego, o verbo “paroquiar” significa: “habitar junto a”. (GIUSTINA, Elias Della. A Paróquia Renovada.
São Paulo: Paulinas, 1986. p. 34). Paróquia designa delimitação territorial sob jurisdição espiritual de um pároco.
113
POPULAÇÃO de nossa Diocese, Novos caminhos. p. 5.
114
Padre diocesano é aquele que pertence a uma Igreja particular e nela se incardina, para, em comunhão com o
bispo e o Presbitério, pastorear a porção do Povo de Deus, que denominamos Igreja particular ou Diocese. O
religioso padre é, ao contrário, religioso, adscrito a um Instituto religioso que, além de religioso, torna-se
também padre” (LORSCHEIDER, Dom Aloísio. Identidade e espiritualidade do padre diocesano. Petrópolis:
Vozes, 2007. p. 17-18).
47
Também estão reunidas algumas apostilas que possivelmente serviram para estudos
em alguns dos encontros supracitados ou trazidos de outros eventos. Os temas contidos
abordam: a oração eucarística; equipes de liturgia e pastoral litúrgica; renovação litúrgica a
partir do Concílio Vaticano II; Ministérios na Igreja; participação ativa na celebração
litúrgica.
São encontrados vários convites, folders, cartas e anúncios de encontros de formação
litúrgica oferecidos no Regional da CNBB (RS) ou em nível nacional. Não há registros de
participação de representações diocesanas nesses encontros. Porém, sabe-se que em vários
desses a Diocese fez-se representar.
Por fim, registram-se arquivos que indicam a existência de uma Equipe Diocesana de
Liturgia no final dos anos 90. Constam alguns relatos de reuniões realizadas, relatos de
avaliações acerca de cursos oferecidos e um projeto de atuação dessa equipe. Embora sem
registros documentais, sabe-se que essa equipe se desfez em seguida, não havendo, até o
presente, a constituição de uma equipe encarregada dessa dimensão, em nível diocesano. Há,
isto sim, uma equipe que, desde o ano 2006 se encarrega de pensar a dimensão do canto
litúrgico, como se abordará a seguir.
Foram objetos de pesquisa, nessa investigação, os livros de cantos produzidos na
Diocese de Vacaria/RS, nos últimos trinta anos. Colheram-se as seguintes informações.
No início da década de 80 foi produzido um livro de cantos destinado às celebrações
litúrgicas. Recebeu o título “Aleluia!”. Consta de 450 cantos e 17 orações. Contém, ainda, as
principais Orações Eucarísticas para ser acompanhado pelo povo dos fiéis. Seu formato é de
10X15 cm.
Em meados daquela mesma década o livro é reeditado conjuntamente com a Diocese
116
de Passo Fundo, recebendo correções e ampliações. Em 1990, a 3ª edição revisada tem o
título “Aleluia! Cantando a caminhada”. Desta vez o livro, com o mesmo formato dos
anteriores, tem o número de cantos ampliado para 899 e de orações para 73. Na apresentação,
os organizadores Pe. Ignácio Dalcim e a Ir. Gema Bernardi, informam ter recebido sugestões
e ajuda de paróquias para a revisão e oferecem orientações ao manuseio dessa edição
ampliada.
No período correspondente – 1987 – um outro livro de cantos foi produzido. Na
verdade não possuía cunho litúrgico propriamente. Foi pensado e organizado pelo grupo
coordenador da Escola de Formação de Agentes de Pastoral (Efap) e visava dispor cantos
116
Também a Diocese de Passo Fundo reeditou o livro outras vezes. As reedições foram independentes.
49
pastorais voltados à animação e aos temas estudados naquela escola. Mesmo assim era
utilizado em celebrações litúrgicas. Continha 260 cantos e seu formato era de 10X20 cm.
Durante toda a década de 90 não são registradas outras edições de livros de cantos.
Ganham força, então, as fichas de cantos. Na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de
Caseiros/RS, por exemplo, foram produzidas aproximadamente uma dezena de fichas, nesse
período. Essa e outras paróquias ofereciam encontros anuais onde se ensaiavam os cantos
novos com as lideranças das comunidades.
Suprindo a carência desse material litúrgico, várias paróquias adquiriram livros
produzidos fora da Diocese. Por exemplo: “Cantos para Missões Saletinas” da Congregação
dos Missionários Saletinos; “Canções da vida” da Paróquia Imaculada Conceição de Caxias
do Sul; “Louvai o Senhor” da Associação do Senhor Jesus de São Paulo; “Ao redor da mesa”
da Diocese de Erexim.
Em 2004, de volta às produções locais, a Paróquia Santuário Nossa Senhora
Consoladora de Ibiaçá/RS organizou o livro “Vem cantar”, contendo 792 cantos e duas
dezenas de orações, em formato de 15X21 cm. Na apresentação do livro, à página 03, se diz:
“há muito tempo sentíamos a necessidade de se ter um livro de uso amplo que atendesse ao
mesmo tempo às celebrações litúrgicas, romarias, encontros de formação […] e outros
momentos iluminados pelo ideal cristão de Louvar a Deus, viver e partilhar a alegria nos
grupos e comunidades”.
No mesmo ano, a Paróquia São João Batista – e, em 2005, a Paróquia São José
Operário – ambas de Sananduva/RS reeditaram o livro de Ibiaçá/RS. Manteve-se o formato e
o número de cantos ficou em 680 e de orações em 59. Ali, na apresentação, página 03, se diz:
“há muito tempo sentíamos a necessidade de se ter um livro de cantos da Paróquia São João
Batista que expressasse a UNIDADE PAROQUIAL, para que todo o povo pudesse participar
com alegria e empolgação”.
A seqüência dessa caminhada litúrgico-musical será escrita através do Curso de Canto
Litúrgico e Pastoral, que abordaremos a seguir. Em suas três edições, nos anos 2007 a 2009,
foram produzidos três livrinhos de cantos de cunho litúrgico, com formato 21X15 cm. O
número de cantos contidos são de 22, 31 e 31, respectivamente.
50
117
Assembléia Diocesana de Pastoral é a instância máxima de tomada de decisões no campo da evangelização
em uma Diocese.
51
novembro de 2007 aprovou a realização de mais uma edição em dois locais, no mês de junho
do ano seguinte.
Em março de 2008 iniciaram-se as conversas e encontros em preparação dessa
segunda edição. Desta vez contava-se com a experiência de um encontro já realizado. Parecia
não haver mais a necessidade de definir tarefas. Tratava-se de selecionar os cantos e
estabelecer um cronograma de trabalho. Novamente a confecção do material caberia ao grupo
do Seminário Diocesano, residentes em Passo Fundo/RS, a partir das definições da equipe de
coordenação. A preparação, desta vez foi mais setorizada e as reuniões visavam definir os
pormenores e realizar os ensaios dos cantos.
Mesmo com um trabalho setorizado o curso aconteceu, em sua segunda edição,
mantendo e até elevando o nível de qualidade. Cada uma das partes fez muito bem o que lhe
cabia. Pensou-se alguns subsídios e conteúdos que agradaram aos cursistas e às duas equipes
de trabalho; a equipe de coordenação e execução se dedicou muito, realizou vários ensaios de
forma que estavam muito mais seguros, se comparado ao ano anterior – mesmo tendo um
número maior de cantos; os seminaristas organizaram o material previamente, manipularam
os equipamentos de informática e coordenaram as inscrições e economia nos dias do curso
com a eficiência que lhes é característico. Enfim, o Curso aconteceu e parece ter agradado.
Este projeto diocesano de cunho pastoral parecia consolidado. Ganhou
reconhecimento e acenava-se para a realização de uma nova edição no ano seguinte.
Reapresentado em Assembléia Diocesana, foi aprovado para o ano 2009. O processo de
construção e a execução aconteceu à semelhança dos anteriores.
material e o ensaio dos próprios cantos. Sempre longas, tais reuniões não pareciam cansativas
já que sempre mesclaram trabalho e lazer; o ofício de coordenação e o prazer proporcionado
pela música.
Há, sempre, a necessidade da ajuda de outras pessoas como os seminaristas da
Diocese, residentes em Passo Fundo/RS, para a confecção do material. O material impresso
foi confeccionado quase artesanalmente na primeira edição. Já na segunda e terceira edições
foram impressos em gráfica. Também o material de áudio disponibilizado aos cursistas é
confeccionado artesanalmente. Após vários ensaios realizados, ora somente com
instrumentistas, ora com todo o grupo de cantores e tocadores, utilizando-se os equipamentos
de som do Santuário de Ibiaçá/RS, de equipamentos de informática com gravador de áudio
acontece a gravação dos cantos. Outras pessoas, ainda, auxiliam nos trabalhos de
ornamentação, sonorização, infra-estrutura e alimentação. Todos os trabalhos contam com a
generosidade individual, já que são gratuitos.
Os encontros costumam ser bastante dinâmicos, descontraídos, participativos. Se, por
um lado, a equipe coordenadora apresenta-se bem preparada para conduzir os trabalhos, por
outro lado, as pessoas que participam dos encontros são portadoras de muitas experiências e
carregam uma grande paixão por música e liturgia
Uma vez que há opção pelo perfil de um curso que não seja meramente encontro para
ensinar cantos novos, a equipe de coordenação não tem a preocupação de repassar todos os
cantos naquele dia. Pensando assim, procura trabalhar intercalando os ensaios de cantos com
pequenas palestras de explicações e dicas litúrgicas, realizando brincadeiras e até dança.
Dado à extensão geográfica da Diocese, cada edição do CCLP é oferecido em dois
locais: em Vacaria/RS e em Sananduva/RS ou Ibiaçá/RS. Isso também proporciona à equipe
de coordenação maior entrosamento entre si e com a dinâmica do curso.
O CCLP ganhou credibilidade e o desejo de continuidade, graças a alguns fatores que
passamos a comentar. Um deles, o trabalho coletivo da equipe coordenadora: entrosada e
sintonizada. Com seriedade e qualidade profissional, proporciona encontros descontraídos,
leves, animadores e carregados de esperança cristã. É notável a qualidade da equipe que
dispôs de seus talentos em favor do canto litúrgico. Outro fator é a possibilidade que o curso
abriu de as pessoas manifestarem os problemas que enfrentam, suas angústias e dificuldades
no campo litúrgico. Para algumas apontaram-se possibilidades, alternativas e saídas. Ademais,
são oferecidos exercícios físicos – especialmente vocais – para uma melhor impostação de
voz, bem como dicas para postura corporal e hábitos alimentares e bebidas.
53
procurando identificar as particularidades dos versos e do refrão; por fim, começar a cantar
junto até saber cantar sozinho. No centro desse método está a intenção de dar destaque à
palavra escrita que, somente num momento posterior, será potencializada pelo ritmo e
melodia, pensados para produzir emoções e alargar o alcance dessa palavra.
Ressalta-se, ainda, o acento que o CCCL dá à beleza 118 da liturgia e do canto litúrgico.
Inscrita dentre as artes, a música ajuda a que os fiéis ultrapassem o meramente usual, o
meramente humano, carregando de dinamismo, emoção e potencialidade e levando o ser
humano ao mais profundo de sua existência, até o seu transcendente.
118
Do Sânscrito, beleza significa “a casa onde Deus brilha” (KOLLING, Miria T. A beleza do canto litúrgico.
Revista Vida Pastoral. Ano 50, n. 267, julho-agosto de 2009. pág. 26).
119
Confira mais elementos do perfil dos participantes no Anexo A.
55
para a parte musical, canto, alegria; e assim a Igreja vai mudando”, afirmaram. “A música
cativa as pessoas” 120.
Há entusiasmo pela oportunidade de partilhar composições musicais (músicas
regionais) e pelo surgimento de novos talentos. Sugere-se continuar valorizando os talentos
diocesanos e incentivando os jovens a participarem.
Em encontro onde não se distribuiu material didático acerca da liturgia, os mesmos são
solicitados, já que “não conseguimos copiar as mensagens que foram apresentadas” e “os
conteúdos a cada ano vem melhorando”. Também reclamam o pouco tempo destinado às
perguntas e esclarecimento de dúvidas. Ainda: “faltou a especificação dos cantos; alguns
cantos com pouca animação: as palavras dizem muito mas a melodia não anima” foram
alguns comentários feitos.
Ressaltamos, ainda, a solicitação de mais cantos em homenagem aos santos; “mais
encontros para que nossa fé seja sempre renovada”; promover curso para instrumentistas;
trabalhar os cantos próprios da Quaresma e Advento; realizar algumas oficinas (laboratórios)
para desenvolver técnicas de desinibição dos animadores do canto.
120
Todas as citações deste parágrafo e dos seguintes, cfe. Avaliação dos cursistas, arquivos dos CCLPs.
56
121
Maior que o alcance do documento final do episcopado latino-americano em Aparecida/São Paulo, é o
alcance dos debates que tal evento propiciou.
57
a freqüência com que isso acontece. Talvez seja possível afirmar que procurou-se atentar às
manifestações fenomenológicas, percebidas por causa da intensidade e contextualização em
que aparecem, ou mesmo pela reincidência.
As entrevistas foram realizadas, em sua maioria, por ocasião do terceiro Curso de
Canto Litúrgico e Pastoral da Diocese de Vacaria/RS, realizado em junho de 2009. Os
questionários foram entregues no início e recolhidos no final do dia, ao encerrar o curso.
Apenas seis entrevistados tiveram alguns dias para responder ao questionário. Estes últimos
não necessariamente participaram do curso.
Entrevistou-se pessoas que atuam em comunidades eclesiais de base. Seu grau de
escolaridade é, em geral, de ensino fundamental e médio. Algumas entrevistas continham
erros de escrita ou de ortografia. Optou-se por transcrever na ortografia correta mantendo-se
ao máximo a fidelidade à idéia de seu autor.
aprendizado: “formação litúrgica só tive na época em que trabalhei nas Missões Diocesanas”
(Anexo A, 4-N).
As respostas a essa questão indicam um vasto campo que inspira cuidados. Os
entrevistados dizem de seu gosto pela arte musical e pelo que fazem no campo litúrgico, mas
dão a entender que carecem de mais orientação e formação para atuarem com maior
segurança.
confere um caráter de sermos da família de Deus (Anexo A, 5-F) com amplo poder
transformador (Anexo A, 5-L).
Assim como as demais formas de expressão artística, a música remete o ser humano
ao encontro consigo e com o transcendente, Deus. Através dela “voamos através dos nossos
sonhos e desejos; é através dela que chegamos diretamente ao coração. […] Muitas vezes me
amparo nela; fujo; serve de refúgio para determinados momentos; ela desencadeia minha
sensibilidade, romantismo” (Anexo A, 5-K). A música ajuda a identificar os problemas e as
superações. É Deus quem alegra, purifica e fortifica (Anexo A, 5-T). Por isso a música “é o
reflexo de Deus e sua perfeição, seu amor, sua bondade!” (Anexo A, 5-R).
texto ser bom se o ritmo não contagia” afirma o padre entrevistado (Anexo A, 7-U). “Quando
se juntam então nem se fala; chega arrepiar e sobe a adrenalina” (Anexo A, 7-F).
Os entrevistados revelam buscar na música aqueles “ingredientes” que contemplem o
momento existencial e/ou produzam vivências. Por exemplo: “gosto de música que de alguma
forma faça com que nossos sentimentos aflorem, que sua letra nos traga algum tipo de
aprendizado, e que no seu conjunto harmonia, melodia e ritmo toque nosso coração e desperte
alguma reação: entusiasmo, alegria, reflexão, admiração, melancolia, festa, saudade, emoção,
euforia” (Anexo A, 6-R).
Por fim, merece registro um dado oferecido por vários entrevistados. Muitos entendem
que para cada momento, cabe um estilo de música diferente. “Algumas eu medito; outras eu
relaxo e outras danço para descontrair um pouco; outras lembro o tempo de criança” (Anexo
A, 6-M). “Música sacra me deixa serena, alegre e feliz e me acalma” (Anexo A, 6-S).
O canto e a música litúrgica não são meros enfeites, para a maioria dos entrevistados.
Entende-se que constituem o próprio rito, ou seja, ajudam a expressar o agradecimento, o
louvor, o pedido de perdão (Anexo A, 8-L, 9-A, 9-I, 9-O, 9-R). Ademais, contribuem para
formar opinião e tornar “clara a nossa fé, nosso comprometimento com Deus e com o
próximo” (Anexo A, 9-R). Alguns entrevistados citam o adágio popular: “quem canta reza
dobrado”. Ou, como expressa um slogan do CCLP, “Cantando, rezamos. Rezando,
cantamos!”.
Os entrevistados postulam que é muito importante que os cantos e músicas litúrgicos
sejam bem escolhidos e executados. Necessitam estar sintonizados com a celebração em que
são cantados (os textos bíblicos, o tempo presente, o lugar); assim torna-se possível “dizer
tudo o que só com a leitura não se pode alcançar; a música junto com a palavra tem um poder
muito maior” (Anexo A, 8-K, 8-L, 8-S, 9-H). Os cantos apropriados ajudam a melhor
perceber a realidade da comunidade (Anexo A, 9-J).
O canto e a música ajudam a rezar, afirmam. “Cantar aproxima a nossa alma e o nosso
coração a Deus” (Anexo A, 11-D). “Eu rezo cantando. A minha oração é a música. Eu vivo o
que eu canto e não poderia ser de outra forma” (Anexo A, 11-E). “É a maneira de soltar da
garganta o que você tem a dizer; quase como gritando para desabafar” (Anexo A, 11-F). “O
canto e a música são as mais belas orações que podemos fazer a Deus” (Anexo A, 11-I). “Me
ajudam a rezar e compreender o amor de Deus, […] ajuda-me a compreender o real sentido da
vida […], amar sem reservas” (Anexo A, 11-L). Os cantos são oração porque permitem
“entender o que Deus pede de nós” (Anexo A, 11-P), mostram que “Deus está sempre ao
nosso lado, mesmo nos momentos mais difíceis” (Anexo A, 11-Q). Ora, “a música é a
linguagem da emoção, da comunicação do amor, e Deus é tudo isso” (Anexo A, 11-P). Por
fim, afirmam: “rezo muito mais quando eu canto [pois] rezar e cantar caminham juntos
(Anexo A, 11-T); “São eles que me fazem verdadeiramente rezar” (Anexo A, 11-U).
nós, então pode escrever que eu assino. Eu creio em Deus porque eu tenho esperança, este é o
catecismo que eu ensino” (Anexo A, 12-L).
mais consistente, sistematizada. Isso, não poucas vezes, as deixa inseguras para uma atuação
inovadora, criativa e até, mais ousada.
Por fim, embora se esteja tratando de uma pesquisa qualitativa, é possível arriscar
algumas leituras quantitativas, a partir da reincidência de algumas manifestações. Tal leitura
pode oferecer novos elementos à prática litúrgico-musical na Diocese de Vacaria/RS.
Convêm explicar, porém, que os elementos serão contabilizados pelo número de vezes
que aparecem nas respostas. Isso significa dizer que não indica necessariamente o número de
entrevistados que o disseram.
Na questão de número quatro, a respeito da formação litúrgico-musical, tem-se:
Formação litúrgica Formação musical
Nenhuma 03 Instrumentos 05
Cursos paroquiais; na catequese 08 Vocal 05
Cursos de cantos 06
Noções básicas 02
De família 02
aos quatro que indicam que o canto ajuda a dar expressão aos elementos existenciais, fazendo-
se gesto ritual, portanto.
122
BUYST; FONSECA, 2008, p. 11.
70
123
Sobre as práticas litúrgicas pré-conciliares, ainda, o padre José Weber conta que “o povo quase não cantava;
dominava o coral, que cantava em latim as partes fixas da Missa […]. Igreja que se prezasse, tinha um coral que
cantava no coro da igreja (nos fundos), nos domingos e festas” (WEBER, José. A CNBB e a renovação do
canto litúrgico no Brasil: recuperação da memória histórica. In.: MOLINARI, Paula (org.). Música Brasileira
Na Liturgia 2. São Paulo: Paulus, 2008. p. 11).
124
Dom Clemente Isnard nasceu em 1917 e tornou-se monge beneditino. Em 1960 foi ordenado bispo para a
Diocese de Nova Friburgo/RJ. Participou do Concilio Vaticano II, sobretudo, todas as sessões que discutiram e
aprovaram a SC. Após o Concílio, foi nomeado para a comissão de aplicação da reforma litúrgica no Brasil. Foi
responsável pelo setor de liturgia da CNBB por 23 anos.
125
SACROSANCTUM Concilium: memória – avanços e desafios. In: CANTO e música na liturgia. Roteiro de
Frei Joaquim Fonseca e direção de Cireneu Kuhn. São Paulo: Verbo Filmes-Paulus, 2006. 1 DVD (28 min.),
color. Extra.
71
traduzindo todos os documentos que iam sendo aprovados em Roma: os rituais, o missal e a
liturgia das horas.
Nasce um trabalho sério de liturgia que vai sendo feito aos poucos. A CNBB realizou
vários encontros nacionais de liturgia. Nasceu a ASLI – Associação de Liturgistas. Nasceram
documentos a respeito dos sacramentos: eram estudos que se submetiam à aprovação nas
assembléias da CNBB. Preparou-se o documento nº 43 da CNBB, sobre a animação da vida
litúrgica no Brasil: ele é fundamento básico sobre a prática litúrgica no Brasil. Fez-se o
diretório para missas com grupos populares (Doc. nº 11 da CNBB), que “foi proibido por
Roma e, apesar de não ter nada errado, foi tirado de circulação. Mas o melhor é que ele está
aplicado em todo o país” afirma Dom Clemente 126.
Um pensamento corrente, relatado por Dom Clemente, dizia respeito à preocupação
com a inculturação, na reforma litúrgica. A liturgia impregna a cultura popular e, com isso,
recebe elementos dela. Não se pode negar que a liturgia mais antiga integra elementos da
cultura grega e latina. Então, por que não terá elementos da cultura africana, oriental, japonesa
ou de qualquer lugar, onde quer que se celebre? Mesmo assim, afirma, várias iniciativas
foram barradas 127.
Nos pouco mais de quarenta anos que se sucederam à promulgação conciliar acerca da
liturgia, muitas comunidades passaram a celebrar com freqüência periódica mais intensa.
Inúmeras comunidades passaram a se reunir para escutar a Palavra de Deus e iluminar suas
vidas com as reflexões e orações dela brotadas.
Para Ione Buyst, “a descentralização dos locais de celebração trouxe consigo a
diminuição do tamanho da assembléia litúrgica [permitindo] relacionamento fraternal e
128
personalizado” , onde as pessoas se cumprimentam, contam os acontecimentos cotidianos,
partilham o que entenderam dos textos bíblicos. Ali se multiplicam os ministérios, diminui o
formalismo e a comunicação é informal. Aumenta, assim, a possibilidade de se exercer a
liberdade criativa. Soma-se a isso o desenvolvimento de um jeito próprio de se fazer teologia
na América Latina.
Esses antecedentes ajudam a perceber a necessidade da fidelidade ao espírito fundante
do seguimento de Jesus, experimentado nas primeiras comunidades e relatados no Novo
Testamento. Tal resgate remete a uma espécie de adesão ao pensamento conciliar e à
valorização do movimento litúrgico.
126
SACROSANCTUM CONCILIUM, 2006.
127
SACROSANCTUM CONCILIUM, 2006.
128
BUYST, Ione. Como estudar liturgia: princípios de ciência litúrgica. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 1990. p. 72.
72
129
GIBELLINI, Rosino. A teologia do século XX. São Paulo: Loyola, 2002. p. 352-3.
130
GIBELLINI, 2002. p. 347-8.
73
131
Para Libânio e Murad , o que diferencia a TdL das demais teologias é que esta se
refere à Revelação a partir da tensão da dominação e da libertação experimentadas em nosso
continente cristão. Não perde o referencial da Revelação, pois se tornaria bandeira ideológica
ou política. Contemplar Deus no pobre e em sua luta é, para a TdL, sinônimo de renovação e
purificação contínuas.
Esses mesmos teólogos da Libertação propõem três momentos do fazer teológico na
metodologia da TdL: a) no momento pré-teológico, o teólogo procura conhecer o contexto de
luta do empobrecido. É uma experiência de fé contextualizada pelo compromisso com o
outro. Precisa cuidar para não se enganar com as informações imediatas, circulantes,
produzidas mas colocá-las em confronto com a Revelação de Deus cientificamente, com
mediações sócio-analíticas. b) o momento teológico consiste na produção da novidade que
surge do confronto entre a situação gritante, socioanalisada, à luz da Revelação divina. c) o
momento da práxis se dá porque toda teologia é sabedoria, saber racional e reflexão crítica.
Ora, a TdL quer ser uma reflexão crítica em nível intrateológico, intraeclesial e sóciopolítico
132
.
Possivelmente já esteja evidente que o método da TdL prima pela realidade contextual
onde se dá a ação teológico-pastoral. O que motiva essa abordagem é o desejo de obter uma
base para a proposição de um método que parta da prática e a ela retorne. Mas isso se dará de
forma enriquecida e iluminada pela Revelação, pela tradição e pelos conceitos oferecidos
pelas ciências, sobretudo as humanas.
Ademais, uma liturgia inculturada prima – sem esquecer a catolicidade ou
universalidade – pela contextualidade. Não descuida, portanto, da realidade sofrida,
desafiadora mas, também, carregada de esperança deste imenso Brasil e América Latina.
Neste sentido cabe a pergunta: para onde vai a Teologia da Libertação? Teólogos
apontam para uma realidade que migrou de opressiva para excludente. Ou seja, o pobre, a que
se refere a TdL, e que era visto como oprimido pelo sistema vigente, agora se encontra
excluído. E a TdL continua sendo a única voz teológica que grita. Se, inicialmente, sua
metodologia trabalhava o binômio opressão-libertação, agora esse binômio será exclusão-
solidariedade, já que a situação social é pior. Maior, também, o produto da práxis teológica
que se requer: uma solidariedade que ultrapasse os países pobres, formando uma cadeia
mundial, e que imponha modificações radicais aos rumos do sistema capitalista neoliberal.
131
LIBÂNIO, João Batista; MURAD, Afonso. Introdução à Teologia: perfil, enfoques, tarefas. S.Paulo:
Loyola, 1996. p.172ss.
132
LIBÂNIO e MURAD, 1996. p.180ss.
74
Libânio e Murad falam de “chances e tarefas da TdL” e, assim apontam para muitas
133
possibilidades e os desafios : acento à dimensão pneumática numa eclesiologia mais
criativa, participativa e crítica; eclesiogênese: uma Igreja feita de rede de comunidade;
compreensão mais ampla do plano salvífico de Deus englobando a natureza e a humanidade
numa crítica à mística cósmica da Nova Era; busca de uma espiritualidade para a teologia da
práxis; nova terra e novos céus numa perspectiva ecológica social; teologia aberta às culturas
em vista da inculturação e inserção; martírio de Cristo nos pobres como oposição ao
descomprometimento da pós-modernidade; valorização da religiosidade popular em oposição
à sua folclorização; ampla e clara presença da mulher na teologia e na pastoral; estudo maduro
nos currículos normais dos institutos e faculdades; aprofundamento corajoso das temáticas da
subjetividade e da sexualidade na perspectiva libertadora; elaboração mais ampla de uma
teologia da liturgia que afete toda a vida da Igreja; compreensão abrangente de todo o
processo da catequese em nível teológico e prático.
Para estes pensadores, cabe à nova geração de teólogos latino-americanos manter viva
a TdL “para iluminar a noite dos pobres com a esperança de Deus” 134.
133
LIBÂNIO e MURAD, 1996. p.192-3.
134
LIBÂNIO e MURAD, 1996, p.193.
135
BUYST, 1990, p. 88-89.
75
136
BUYST, 1990, p. 104-106.
137
BUYST, 1990, p. 106.
138
Anexo A, 10-H.
76
arriscar que, embora a música esteja a serviço da Palavra, prolongando o seu efeito, a própria
arte musical seja referência para esse diálogo da liturgia, apontado por Ione. Certamente nesse
diálogo a música dirá à liturgia em que momentos da ação ritual sua contribuição enriquecerá
ainda mais o encontro dos fiéis com o Senhor.
139
OFÍCIO Divino das Comunidades. 7ª ed. São Paulo: Paulus, 1994. p. 226.
140
Citamos, em ordem cronológica de publicação, obras literárias onde Ione manifesta esse pensamento:
BUYST, Ione. Como estudar liturgia: princípios de ciência litúrgica. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 1990. BUYST,
Ione. Pesquisa em liturgia: relato e análise de uma experiência. São Paulo: Paulus, 1994. BUYST, Ione.
Teologia e liturgia na perspectiva da América Latina: avanços e desafios. In.: FAVRETO, Clair &
77
Por objeto material se entende a vida litúrgica da Igreja. Nisso se inclui, segundo
Buyst, as celebrações que podem ser analisadas sob o aspecto externo, daquilo que é visível –
os gestos, cores, símbolos – e interno, da experiência subjetiva, das vivências. Há que se
considerar que entre os dois aspectos há uma relação que é simbólica, ou seja, há significantes
que remetem aos significados.
À ciência litúrgica interessa pesquisar a celebração em si, bem como o todo, ou o
conjunto de celebrações de determinada comunidade, além de observar o contexto eclesial e
social.
Ademais, fazem parte do objeto material da ciência litúrgica a formação litúrgica e a
organização da pastoral litúrgica. Na primeira é importante observar “a catequese litúrgica, a
mistagogia, a formação dada às equipes de liturgia […] nos seminários e casas religiosas até a
formação acadêmica” 141. Há que se cuidar da acessibilidade dessa formação – para todos – e
se em seu método e conteúdos contribui para uma liturgia renovada e inserida. Como outras
coisas na vida “é preciso que se aprenda isso num caminho pedagógico. Um dos caminhos
possíveis é a mistagogia 142: o método mistagógico ajuda-nos a adentrar nesse mistério” 143.
Já, no que diz respeito à organização pastoral, é interessante perceber o funcionamento
da equipe de liturgia, de seus membros, de seus relacionamentos intra-comunitários e em
nível paroquial, diocesano e assim por diante.
O objeto material mais precioso é coletado na observação da própria celebração, ao
vivo. É insuficiente analisar os textos e livros litúrgicos. As observações “in loco” podem ser
complementadas por entrevistas, questionários e formulários.
Note que o questionário realizado – apresentado no capítulo segundo – embora não o
tivesse como objetivo primeiro, acabou por coletar pontos de vista, percepções para, a longo
prazo, ajudar a melhorar qualitativamente as liturgias na Diocese de Vacaria/RS, de modo
especial na dimensão musical. Nas avaliações do último CCLP, inclusive, se elogia o fato de
estarmos realizando uma pesquisa. Terão se sentido valorizados por terem sido escutados?
Aspirariam que se empreendesse um processo (mais) participativo e interativo de
encaminhamentos litúrgico-pastorais? E que tal pensar um grupo de pesquisa acerca da
música litúrgica dentro daquele contexto? Talvez uma iniciativa nesse sentido possibilitaria a
RAMPON, Ivanir (Orgs.). Eu sou aquele que sou: uma homenagem aos 25 anos do Instituto de Teologia e
Pastoral. Passo Fundo: Berthier, 2008.
141
BUYST, 1990, p. 124.
142
O termo “mistagogia” vem da língua grega e é composto por outros dois que significam, respectivamente,
“mistério” e “guiar, conduzir”. Assim, “mistagogo” quer dizer “quem conduz para dentro do mistério” (BUYST;
FONSECA, 2008, p. 7 – rodapé).
143
BUYST; FONSECA, 2008, p. 7.
78
percepção dos gostos nessa área; ajudaria a perceber o que se está comunicando com as ações
rituais e com a música ritual; perceber as falhas ou desvios de foco ou, ainda, os acertos dos
atos celebrativos.
No livro em que faz o relato e análise de uma experiência, Ione Buyst sugere com
muita ênfase a observação participante. Nesse tipo de levantamento da realidade as próprias
pessoas pesquisadas podem relatar as suas experiências. Ademais, o próprio pesquisador-
liturgo é objeto de investigação. Segundo ela, “a observação participante permite aproximar
teoria e prática. É instrumento fecundo e indispensável para pensar a prática” 144.
O objeto formal é, para o liturgista que faz ciência litúrgica, “seu instrumento de
trabalho, a sua maneira de abordar o objeto material, o ângulo sob o qual irá trabalhar” 145.
Compõem esse ponto de referência, a Sagrada Escritura e a tradição. Além desses
dois, que são os principais, inclui-se os pronunciamentos do magistério, cuja função é, em
geral, a reinterpretação dos dois primeiros em atitude de adaptação e atualização para os
novos contextos e novos tempos.
Haverá, portanto, de cuidar de forma intencionada, pensada: caminhos para a
realização da liturgia – tanto no aspecto do conteúdo como da forma; caminhos para a
formação, sobretudo dos líderes; caminhos para uma liturgia organizada – tanto internamente
como em sua relação com outras áreas da pastoral.
Desse cuidado resultará, provavelmente, um apurado repertório musical que leve em
consideração as ações rituais e os contextos onde elas acontecem.
144
BUYST, Ione. Pesquisa em liturgia: relato e análise de uma experiência. São Paulo: Paulus, 1994. p. 108.
145
BUYST, 1990, p. 127.
79
gênese de várias organizações sociais populares, no norte gaúcho. Foi criado em 1982, tendo
como principal objetivo preparar os agentes de pastoral de forma mais inserida no contexto
geográfico regional, compreendendo as Dioceses de Erexim, Frederico Westphalen, Passo
Fundo e Vacaria – incluindo-se, desde 1996, a Diocese de Chapecó/SC.
Com dez anos de funcionamento, começa-se a constatar nas ações dos agentes
formados pelo Instituto, uma prática que não condizia com a leitura crítica feita em tempos de
estudante. A prática pastoral, muitas vezes, não se regia pela teologia refletida em sala de
aula, mas pela teologia do senso comum, que exalta a submissão e a resignação. “Havia,
portanto, um impasse epistemológico: em princípio, falava-se de teologia libertadora, mas a
epistemologia que fundamentava a prática pedagógica e a prática pastoral era opressora” 146.
Inicia-se a busca por uma metodologia capaz de fazer da pastoral uma ciência, ou seja,
uma pedagogia pastoral. Aos poucos foi e vai sendo construída a chamada Metodologia
Histórico-Evangelizadora (MHE).
Para Elli Benincá – padre e primeiro diretor do Itepa e um dos mentores dessa
metodologia – o projeto central da MHE prevê:
146
ZANANDRÉA, Rene; BALBINOT, Rodinei. Prática pastoral e fazer teológico na perspectiva histórico-
evangelizadora. In.: MEZADRI, Néri; BALBINOT, Rodinei. Metodologia da ação evangelizadora: uma
experiência no fazer teológico-pastoral. Passo Fundo: Berthier, 2008. p. 36.
147
BENINCÁ, Elli. Pedagogia pastoral: Metodologia Histórico-Evangelizadora. In.: BALBINOT, Rodinei e
FAVRETO, Clair. ITEPA: história e prospectivas. Passo Fundo: Pallotti, 2005. p. 110-111.
80
148
O agente procura inserir-se na comunidade olhando e atuando desde o contexto e não de “fora para dentro”,
tornando-se sujeito em transformação com a comunidade.
149
Situação geográfica, etnias presentes, história, grupos sociais…
150
Os valores, o modelo de Igreja, as correntes teológicas, as devoções, a organização, as relações de poder e
práticas existentes.
81
151
CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2008-2009 – Documento nº 87.
São Paulo: Paulinas, 2008. n. 76.
82
152
IGMR 19.
153
SC 112.
154
SC 118.
155
SC 115.
83
Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas. Tal indicativo deve servir de reforço ao processo de
formação em curso na Diocese de Vacaria/RS. Incentivo ainda maior se faz oportuno às
produções musicais com caráter regional.
156
O subsídio de Estudos da CNBB sobre A música litúrgica no Brasil é uma
iniciativa louvável que busca pôr em prática as orientações universais para o canto litúrgico
em nossos dias. Desde 1999, quando foi publicada sua primeira edição, tem sido um
referencial importante para o estudo e a orientação dos que se ocupam da música litúrgica na
Igreja que está no Brasil. Em seus números 347 a 354, fala das Razões do nosso cantar. A
partir deste subsídio tentaremos desenvolver reflexões e vislumbrar algumas intuições
experimentáveis.
Uma vez que se tem afirmado a importância de os agentes do canto não serem meros
executores de rubricas predefinidas e insistido na importância de se compreender o rito para
vivenciá-lo de verdade, parece oportuno olhar para o que dispõe o citado subsídio da CNBB.
A compreensão do sentido desse cantar litúrgico resulta, necessariamente, em indicativo para
a ação criativa nas ações rituais.
157
1) Razão Teológica : celebrar a ação de Deus em nossa vida. O canto litúrgico
expressa a natureza própria da ação sacramental da Igreja. A expressão litúrgica é encarregada
de introduzir no mistério de Deus e desvelar as experiências mais profundas e inefáveis do
coração humano: necessidade de transcendência, comunhão, fé e alegria, e a superação dos
limites. Essas experiências necessitam de ritos, gestos e símbolos. Neste contexto, a expressão
artística é a mais apropriada forma de expressão, e a música e o canto ocupam lugar
privilegiado, senão ímpar, porque a arte carrega capacidade expressiva e mobilizadora muito
acima do "logos" (palavra).
A liturgia faz sonhar. A liturgia remete para o horizonte da utopia, do reino. Por causa
disso um desafio é transformar as liturgias sérias, carrancudas em momento de festa, de
alegria. É um desafio bastante pertinente proporcionar momentos celebrativos que sejam
expressão daquilo que a pesquisa sintetizada no capítulo dois acerca da esperança, do mundo
transformado. Celebrações alegre e vibrantes podem possibilitar a antecipação escatológica da
plenitude da vida. “Não se trata de alegria fácil, barata [já que] o confronto é difícil e o
caminho longo e perigoso. […] Daí a autenticidade e veracidade das liturgias” 158.
156
CNBB. A música Litúrgica no Brasil. Estudos nº 79. 6.ed. São Paulo: Paulus, 2004.
157
CNBB, 2004, nº 347-349.
158
BUYST, 2008, p. 62.
84
Não é qualquer tipo de música que vale na liturgia. Daí a importância da escolha de
música: que seja música ritual, em linguagem poética e musical da comunidade, de
qualidade estética e teológica. Daí também a importância da maneira espiritual de
cantar e tocar os instrumentos, da atitude dos ministros (participantes a serviço do
canto da assembléia e não artistas diante de uma platéia) e da maneira de usar o
microfone (sem abafar a voz do povo). 160
2) Razão Cristológica 161: celebrar o Mistério Pascal do Senhor. O canto litúrgico brota
do fato fundante da fé cristã: o Mistério Pascal do Senhor. É, portanto, um canto
marcadamente esperançoso. A tônica principal do canto litúrgico é e será sempre a alegria
escatológica. A festa no Senhor Ressuscitado produz a essência do nosso cantar.
Jesus Cristo, fundamento teológico da liturgia, com seu Espírito transformador,
convida “o povo a passar da morte para a vida, de condições menos humanas para condições
162
mais humanas” . Desta forma desafia a revisar os repertórios musicais litúrgicos. Não será
possível, no contexto de exclusão, evitar de se cantar composições que exaltem as atitudes
proféticas de tantos(as) mártires deste continente latino-americano solidários com o próprio
Jesus: “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão”, diz a canção litúrgica.
3) Razão Pneumatológica 163: cantar no Espírito. A oração cristã não é somente oração
para Deus, mas em Deus. O cantar em Deus qualifica o nosso canto. A assembléia que canta
no Espírito faz ressoar um canto que é verdadeiro clamor que brota do fundo da alma, cheio
de fervor, de alegria no Espírito, como diz o Apóstolo. Desta forma, provoca-se conversão e
159
A esse respeito, conferir também: KOLLING, 2009. p. 20-26.
160
BUYST, 2008, p. 63.
161
CNBB, 2004, nº 350-351.
162
BUYST, 2008, p. 60.
163
CNBB, 2004, nº 352-353.
85
mudança de vida nos membros da assembléia orante, e ela se torna sinal fecundo e eficaz da
graça de Deus para o mundo. Há casos famosos na história do cristianismo em que, pelo
testemunho de entusiasmo e de alegria dos fiéis que cantam, homens e mulheres são
despertados vivamente para a vida eclesial. Santo Agostinho é exemplo disso.
164
Pode ocorrer o inverso disso. Um dos entrevistados diz ter começado a cantar na
Igreja justamente por sentir que as liturgias de sua comunidade estavam frias, mecânicas. Sua
intenção, portanto, é oferecer seus dons a fim de possibilitar beleza aos atos litúrgicos. Ora, na
beleza, Deus se revela, fala e age.
Da dimensão pneumatológica derivam com força algumas ações dos movimentos
carismáticos e pentecostais. A música nas Igrejas tem assumido algumas características que
são peculiares a esses movimentos. O desafio, diante disso, é justamente estar atentos para
ajudar que essa emoção conduza ao compromisso de fé com Jesus Cristo, e que se traduz em
compromisso social e eclesial, para não permanecer no ornamento litúrgico estético e
individual, subjetivo.
A ação transformadora do Espírito Santo, cuja ação permeia toda celebração, desafia à
comunidade dos fiéis a abrir espaço para sua ação. Dentre as possibilidades de sua ação se
crê, hoje, que o Espírito Santificador age através das palavras e da participação das pessoas.
Isso requer uma atitude consciente, segundo Ione Buyst, de quem exerce a presidência e
demais ministérios: é o sopro do Espírito que orienta as mentes na escuta da palavra e na
interpretação da realidade. Aparece aí, também, a importância do silêncio litúrgico, espaço de
inspiração divina.
4) Razão Eclesiológica 165: cantar em comunidade. O canto é atividade essencialmente
comunitária. A Igreja expressa, maravilhosamente bem, a sua realidade de comunhão e
participação através do canto comunitário. A participação comunitária não se dá só
diretamente cantando, mas ouvindo e apreciando: deixando-se envolver pela beleza da
música. No caso da Igreja, o canto não possui só uma função catártica (de alívio, purificação),
catalisadora (de estímulo, de dinamismo, de incentivo) e motivadora, mas é sacramento, é
simbolismo, isto é: o canto é um dos elementos que compõem a visibilidade, a corporeidade
sacramental. Através deste sinal sensível, a Palavra cantada é veículo do encontro de Deus
conosco e dos fiéis entre si.
A genuína música ritual expressa e possibilita a participação ao Mistério Pascal. Para
que seja, de fato, tomar parte da ação, necessariamente, a “participação existencial, vital,
164
Anexo A.
165
CNBB, 2004, nº 354-355.
86
mística passa pela participação ritual. Esta inclui e levará a um compromisso com a pessoa de
Jesus Cristo e com o Reino por ele inaugurado, que irá se estender a todas as áreas da vida
pessoal e social” 166.
Para Ione Buyst “não há liturgia sem comunidade que a realize” 167. Parece dizer que o
lugar onde se realiza a liturgia mais completa é a comunidade, lugar onde se procura imitar a
trinitariedade de Deus. Mas, e o que hoje se pode dizer da tendência intimista de viver a
religião? Os organizadores do CCLP da Diocese de Vacaria/RS depararam-se com
composições elaboradas na primeira pessoa do singular. Poderia-se classificar como
intimismo religioso? Agiram tomando por base o pensamento de um compositor do Nordeste.
Numa ocasião o compositor e cantor Zé Vicente verbalizou 168 que, quem produz uma canção
e a distribui para as comunidades cristãs deve admitir que as comunidades vão adaptar essa
obra para a sua realidade cultural. Mas devem manter fidelidade à idéia original. Isso aplica-
se tanto para o texto quanto para o ritmo.
No âmbito da eclesialidade Ione Buyst postula, em seu recente trabalho, a necessidade
de se cuidar para não perder de vista o sujeito da liturgia, que é a comunidade. Ela, e somente
ela, é que pode trazer para dentro da liturgia a referência à sua vida. Se valorizarmos as
respostas dos entrevistados 169, haveremos de requerer uma seleção de cantos que falem à vida
das pessoas e que as canções escolhidas sejam munidas de ritmo e melodia que animem e
encham de esperança suas vidas. Mas não esquecer que elas precisam ser genuinamente
músicas rituais. O desafio é – nas comunidades eclesiais – proporcionar aquele clima que
permita a “espontaneidade, simplicidade, informalidade, partilha, fervor religioso, com
participação de todos/as” 170.
Têm surgido muitos cantos marianos. E os fiéis parecem se identificar com eles já que
falam de Maria, a mãe de Jesus. Em nossa cultura, todo filho normalmente é muito apegado à
mãe. Maria é popularmente aceita e vista como “lutadora ao lado de seu povo sofrido; seu
171
cântico é redescoberto e relido como profecia a partir da realidade atual” . Talvez seja por
isso que para alguns católicos os cantos marianos adquiriram cunho eclesiológico,
identificando um modo de ser Igreja.
166
BUYST, 2008, p. 13.
167
BUYST, 1990, p. 29.
168
Oficina de música organizada pela Área Missionária da Ponta Negra. Manaus/AM, 2002.
169
Anexo A.
170
BUYST, 2008, p. 60.
171
BUYST, 2008, p. 59.
87
172
CNBB, 2004. nºs 245-247.
173
Anexo A, 10.
174
BUYST, 2000, p. 32.
175
BUYST, Ione. Equipe de liturgia. 15ª ed., Petrópolis: Vozes, 2000. p. 32.
88
celebrações, desenvolver vivências, ensaios e laboratórios onde seja possível fazer reflexões e
encaminhar ações rituais musicais. Sugere-se, inclusive – e, certamente, com grande proveito
–, um retiro anual desses grupos.
Portanto, além de uma formação inicial que visa “capacitar as pessoas para assumirem
176
o ministério com conhecimento de causa, com segurança e alegria” é importante um
acompanhamento de sua ação. A primeira poderia ser em nível paroquial, enquanto que a
segunda em nível diocesano. Em ambas é importante escutar a opinião dos participantes. Na
formação inicial uma sugestão pode ser “partir dos conhecimentos dos participantes e, em
seguida, estudar a ação ritual a ser realizada com seu sentido teológico e sua espiritualidade”.
Já na linha da formação permanente, pode-se “partir dos relatos e das experiências do grupo
dos ministros/as: o que têm feito, o que tem dado certo, quais as dificuldades encontradas” 177.
Talvez o questionário do Anexo A seja um bom instrumento para início de conversa.
Parece estar claro que já “não basta ter boa vontade, ou uma boa voz, ou saber
arranhar um violão”. As pessoas que se dispõem a oferecer do seu serviço e de seus dons têm
o direito de receber aquela formação capaz de lhes ajudar a “vivenciar o mistério celebrado, e
desta forma, ajudar a comunidade a entrar no mistério e ser transformada por ele” 178.
A formação dos ministros(as) da música ritual será mais eficaz, na opinião de Ione
Buyst e Joaquim Fonseca, se o fizer através de um método mistagógico, que conduz para
dentro do mistério. Tal formação será, portanto, vivencial, pois “para ser cristão ou cristã, não
basta ter um conhecimento intelectual de Cristo e de sua proposta”. Ela será um processo de
participação mística, espiritual, vital, existencial 179.
É conveniente oferecer formação litúrgica aos ministros(as) da música ritual
aproveitando bem o recurso dos ensaios de cantos. Sugere introduzi-los aos tempos litúrgicos
através de um prévio encontro ou retiro litúrgico-musical através do método mistagógico.
Tendo como pano de fundo o método ver-julga-agir, propõe três momentos. “Partimos de uma
descrição e de uma análise ritual do canto em questão; em seguida aprofundamos o sentido
teológico do acontecimento de salvação, expresso no canto […]; por fim, focalizamos e
180
assumimos a atitude que o canto, como ação ritual, propõe e requer” . A partir dessa
significativa proposta metodológica, é possível pensar alguns indicativos de ação.
176
BUYST, 2008, p. 68.
177
BUYST, 2008, p. 68.
178
BUYST; FONSECA, 2008, p. 12.
179
BUYST; FONSECA, 2008, p. 12.
180
BUYST; FONSECA, 2008, p. 13.
89
Para começar a compreender a ação ritual, olhe-se para os sinais sensíveis da música
litúrgica. Olhe-se primeiro para o texto (letra), já que este possui a primazia. O texto poético é
sempre rico por seu conteúdo, forma literária, pelas imagens simbólicas. A seguir olhe-se a
música com seus sons, melodias, ritmos, tempo. Associada à letra haverão de “expressar o
sentido teológico e a espiritualidade própria a cada celebração, a cada tempo litúrgico,
levando em conta o momento ritual do canto”. Por fim olhe-se para o contexto litúrgico
procurando perceber a interação dessa música “com os outros elementos rituais da
celebração” tais como a assembléia e seus ministérios, leituras bíblicas, símbolos, atitudes e
movimentos, estrutura da celebração 181.
No segundo momento propõe-se prestar atenção ao sentido teológico a fim de se
cantar com inteligência e expressar esse sentido na maneira de cantar. Será fundamental
inspirar-se em algumas passagens das Sagradas Escrituras para compreender a ação ritual em
questão. Ajudando a mente a compreender e a acompanhar aquilo que a voz canta “nosso
canto tornar-se-á um ato de fé em Deus” 182.
O terceiro momento será uma decorrência natural dos anteriores. Trata-se de
experimentar e vivenciar aquilo que é anunciado no próprio canto. Então, para além de cantar
bem tecnicamente e de acompanhar o canto como algo fora de si, é necessário que o ensaio
proporcione uma experiência como se fosse na própria celebração. Assim se poderá
experimentar a “atuação do Espírito de Deus em nós, na e por meio da ação ritual […]; trata-
se de cantar espiritualmente, com devoção, ‘de coração’, além de cantar bem e com
inteligência” 183.
181
BUYST; FONSECA, 2008, p. 14.
182
BUYST; FONSECA, 2008, p. 15.
183
BUYST; FONSECA, 2008, p. 16.
90
Cabe, então, ao animador ou animadora de canto, orientar a escolha dos cantos a ser
cantados na celebração em comunhão com sua equipe. Devem dosar o repertório,
promovendo o equilíbrio entre tradição e novidade, repetição e variedade, de modo que
mantenha a assembléia, ao mesmo tempo, segura ao cantar os cantos da sua tradição e
contente em poder renovar o seu repertório. “Todo escriba versado nas coisas do Reino de
Deus sabe tirar do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52).
Isso contempla o conceito de rito oferecido por Terrini, no primeiro capítulo. Ali se
afirmou que os ritos oferecem a idéia de imitação dos deuses. Talvez seja por isso que
algumas celebrações parecem não estarem completas se não se cantar determinados cantos.
Significa, por exemplo, que o Natal só será Natal se a comunidade cantar – à imitação dos
anos anteriores – a canção “Noite Feliz”. A execução de determinadas músicas produzem a
sensação de que este ritual reproduz aquela comunicação alcançada anteriormente.
Gestos de regência certamente auxiliam ao grupo de animadores do canto para
manterem-se cantando em unidade. É recomendável, porém, que sejam discretos e que o
animador posicione-se em um lugar onde possa ser visto pelo grupo, mas, sem prejudicar a
atenção de todos à ação ritual. Também os instrumentistas devem observar suas orientações.
Cabe ao animador preparar com bastante cuidado os ensaios com seu grupo,
oferecendo-lhes elementos que ajudem a compreender o sentido daquele canto em
determinada ação ritual. Também motivará e coordenará ensaios com toda a assembléia no
início da celebração, ajudando-a a introduzir-se no espírito da celebração.
Criador – o grande Artista – às suas criaturas. Bons ensaios os ajudarão a ter segurança na
execução das músicas. Ademais, os ensaios com o grupo de animadores e com a comunidade
favorecerá para uma melhor harmonização na execução ritual da música, o que há de resultar
numa melhor comunicação com o transcendente.
É oportuno comentar um serviço que vem ganhando espaço por causa de sua
importante função na qualidade das ações litúrgicas. Trata-se do serviço de sonoplastia. Um
“verdadeiro ministério” 185. Seu serviço sempre será de regular e equalizar os sons, de modo a
favorecer a audição das vozes e instrumentos, evitando sobreposições e exageros. “O que
ouvidos deve ser algo prazerozo, em harmonia com o clima da celebração” 186.
O uso de microfones deve acontecer quando e somente se fizer necessário. No canto
deve-se cuidar para que ele favoreça aos cantores a ajudar a assembléia no momento de
começar a cantar. Mas nunca se deve cantar o tempo todo. É importante que os animadores do
canto tenham a sensibilidade de perceber quando a assembléia já está segura da melodia e
“saem” do microfone a fim de que a unanimidade das vozes se sobressaia.
O serviço qualificado dos instrumentistas – sonoplastas e musicistas – haverá de
proporcionar à comunidade celebrante um ambiente agradável de celebração e evitarão
situações indesejáveis como nesta descrição: às vezes
185
CANTO E MÚSICA NA LITURGIA. Roteiro de Frei Joaquim Fonseca e direção de Cireneu Kuhn. São
Paulo: Verbo Filmes-Paulus, 2006. 1 DVD (58 min.), color.
186
CANTO E MÚSICA NA LITURGIA, 2006, DVD.
187
BUYST; FONSECA, 2008, p. 8.
188
CNBB, 2004. n º 248.
92
A liturgia é a vida cristã. Uma e outra não se distinguem. A liturgia não é uma
perfumaria que vem dar um bom cheiro à Igreja. Ela é o feijão com arroz da vida da
Igreja. A liturgia é a espiritualidade da Igreja. Sejam fiéis à Sacrosanctum
Concilium. Desenvolvam o que já está na Sacrosanctum Concilium, mas não fiquem
presos às palavras, à letra. Desenvolvam, para chegarmos a um crescimento da vida
litúrgica. 191
189
CNBB, 2004. n º 248.
190
SACROSANCTUM CONCILIUM, 2006.
191
SACROSANCTUM CONCILIUM, 2006.
93
Para Dom Clemente, se não há formação litúrgica, não há, também, vivência litúrgica.
Para isso as comunidades podem servir-se do vasto e rico material que a CNBB publicou e
que se constitui num verdadeiro roteiro para a formação nas bases.
Uma vez que canto e música são elementos integrantes da liturgia, deve-se levá-los a
sério, não deixando-os a critério de qualquer um. É de suma importância formar pessoas para
“compor músicas adequadas, orientar as equipes de liturgia, formar e dirigir os grupos de
canto e instrumentistas, ajudar na formação de um repertório de cantos próprios para cada
ocasião, dirigir o canto da assembléia litúrgica” 192.
Provavelmente a música e o canto litúrgico têm muito a contribuir para reverter a
experiência negativa que muitos têm em relação ao rito. Tal expressão causa repulsa para
muitos justamente porque suas experiências nunca estiveram muito próximas de ser uma
vivência do mandato de Jesus: “façam isso em memória de mim”.
Resgatar a graça de celebrar […], de sentir o prazer de cantar, dançar, nos reunir,
ouvir a Palavra, sentir o gosto do pão e do vinho partilhados. É preciso rever a nossa
capacidade de ver o invisível através do visível, de tocar o mistério através da
participação na ação ritual e deixar-se tocar pelo Outro, o Transcendente, mediante
os gestos rituais. Portanto, é urgente a sensibilização simbólico-ritual, a formação
para a ritualidade. 193
Eis um grande contributo da arte musical na liturgia. Nisso consiste cantar ao Senhor
um cântico novo (Ap 5, 9a), imbuídos do Espírito do Ressuscitado que a todos convida para,
na alegria, segui-lo e anunciá-lo.
Reafirmando o que se disse, da fidelidade à leitura da realidade dependerá o alcance
das propostas práticas. Assim reflete também a MHE. Daí a importância de desenvolver uma
ação conjunta com a colaboração de todos os agentes da liturgia para compreender o gosto
musical da comunidade e aproximar-lhes as práticas litúrgicas. Tal proposta parece
contemplar a opinião dos entrevistados e as avaliações do último CCLP que se pronunciaram
felizes pela coleta de suas opiniões. Ione – citada no item 3.4 a respeito do objeto de estudos
da CL – já apontava para a diferença de uma formação de agentes pela imposição e da
formação que conta com os sujeitos participantes.
Constante atenção às práticas e às sugestões que vêm da Tradição e do Magistério
parecem ser elementos autênticos à composição de uma metodologia de formação litúrgico-
musical. Então, a exemplo do relacionamento interativo que estabelecemos com a arte
musical se apresenta uma proposta de postura metodológica para a prática litúrgica.
192
BUYST, 2008, p. 71.
193
BUYST, 2008, p. 74.
94
CONCLUSÃO
Neste trabalho parece ter ficado claro que a música tem o potencial de elevar o espírito
humano e proporcionar vivências inesquecíveis. E parece não haver dúvidas de que, além de
produzir emoção, pode provocar para a ação. Isso aponta para o poder catártico da música e,
consequentemente, seu poder de transformação, pessoal e comunitário.
A música na liturgia potencializa a incidência da mensagem evangélica na vida das
pessoas porque cria o clima, prepara o terreno do coração para que acolha, se transforme,
vibre e se comprometa com a causa.
Logicamente a música genuinamente ritual contribui para liturgias autênticas. E
liturgias autênticas às vezes confirmam os fiéis na caminhada; às vezes provocam conversões
e mudança de posturas; às vezes disparam “estalos” e percepções ainda não vistas. Disso não
se duvida. A dúvida parece permanecer na definição da fronteira daquela música que se
considera litúrgica e a não litúrgica.
Vimos no capítulo primeiro que, no início da era cristã, se orientava para evitar a
utilização de instrumentos musicais para não confundir com o culto aos ídolos do mundo
pagão. Também hoje se percebe resistência de alguns segmentos eclesiais ao uso de algumas
composições da música popular. Não correm o risco de serem também equivocadas? Seria
totalmente arbitrário proporcionar momentos litúrgicos aproveitando algumas composições
que são verdadeira expressão da “alma” de um povo? Ou, ainda: seria possível pensar que
naquele momento ritual o fiel transportou-se desde a celebração da fé, em seu culto, até a
“vida real” e que essa “mixagem” lhe oportunizou ressignificar aquela situação despertada por
tal música?
Ora, as respostas dos entrevistados estão repletas de afirmações acerca de experiências
vivenciais, cujo significado vê-se respaldado em músicas que falam de um jeito e de assuntos
que só com palavras não conseguiria dizer. Então a música expressa o indizível.
Note que não se está pondo dúvida à orientação para o uso da música cujo conteúdo é
o próprio rito. A provocação é posta no sentido de explorar mais o vasto campo de
possibilidades que a música oferece para momentos orantes, para espaços de reflexão, de
pregação, de pedidos e de ação de graças.
95
Uma vez que a música prolonga e aprofunda a ação da Palavra, ficou evidente o vasto
campo de possibilidades dos solos musicais, dos refrões repetitivos, das mantras e,
especialmente os silêncios contemplativos, meditativos. A pesquisa reafirmou que uma
grande contribuição da música à liturgia é o de produzir sentimentos que, claro, precisam ser
intencionados e orientados para não se tornarem mero sentimentalismo. Talvez a música
possa contribuir para se produzir menos palavras. Há conhecimento nas palavras, mas há
também no sentimento. Daí a importância da boa qualidade musical, da beleza na liturgia.
Esse cuidado é oportuno porque o homem é marcado pelo que recebe e adquire, como
se viu na abordagem antropológica. Faz-se necessária uma constante revisão daquilo que se
produz na área da música litúrgica. Usadas nas celebrações elas sempre produzem, indicam,
moldam a fé e a consciência. Por exemplo: se no mundo modal a melodia agradável e nada
inovadora pretendia produzir a idéia de imutabilidade, o cuidado com esse tipo de produção
também é necessário.
A música litúrgica cumpre papel fundamental na educação e no engajamento solidário.
O enfoque antropológico da liturgia sugeriu considerar a visão que o homem tem de si e a sua
relação com os demais seres do universo. Uma vez que as estruturas mentais são expressas
nos gestos, na criatividade da liturgia como confirmou a pesquisa de campo, então, que a
música favoreça para que o homem possa expressar e cultivar esse relacionamento universal.
Que a música ajude-o a dar-se conta de sua responsabilidade com o planeta, a descobrir o
sentido de sua existência, a perceber-se co-criador.
Uma das “pérolas” encontradas é de que a poesia é capaz de manifestar, de maneira
sábia, o que não se diria facilmente. Ela, então, potencializada pela melodia e pelo ritmo, diz
de forma que os indivíduos têm a certeza de que aquilo que está sendo cantado é seu; é como
se tivesse sido elaborado exclusivamente para si.
A investigação da relação rito-música mostrou suas semelhanças, especialmente no
aspecto da harmonia. A música pode ser propedêutica à experiência religiosa. Nesse sentido a
música contribui para dizer o indizível, como visto: recolhe o sentido do mundo num contexto
onde transcendência e imanência formam um ‘solo’ estupendo e impensável, impossível de
ser traduzido pela linguagem ordinária.
Assim, o ser humano faz uso da arte para expressar seus sentimentos mais profundos;
o canto ajuda o ser humano a expressar sua religiosidade, sua relação com Deus.
Constatamos que no canto litúrgico, a união das vozes acaba por exprimir a união de
pessoas numa verdadeira comunidade. Na união das vozes, cada um se encontra
pessoalmente, mas percebe-se envolvido comunitariamente aos outros irmãos presentes.
96
Por fim, uma constante atenção às práticas litúrgicas e às sugestões que vêm da
Tradição e do Magistério parecem ser elementos autênticos de uma metodologia de formação
litúrgico-musical.
Ao final deste texto dissertativo reafirmamos o que julgamos ter ficado claro: a
música, à serviço da liturgia, possibilita interatividade. Interativo, também, é o
relacionamento que estabelecemos com a arte musical. Desse modo, parece, se apresenta uma
proposta de postura metodológica para a prática litúrgica: interativo, onde os implicados na
ação litúrgica são seus próprios sujeitos.
99
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Fundo: Berthier, 2008. p. 32-93.
102
ANEXO A
Pesquisa de opinião:
Canto e música na liturgia Católica da Diocese de Vacaria/RS
o) Vim participar do curso porque gosto de cantar nas celebrações e porque esse é um momento
importante para aprender cantos novos.. soube através do padre […] e foi quem me convidou a
participar.
p) Para saber mais sobre liturgia e aprender cantos novos. Através do pároco, comunidade e
equipe de liturgia.
q) Porque quando recebi o convite, além de achar o conteúdo interessante, também encarei como
um desafio pois teria a oportunidade de ensinar o pouco que sei e também aprender muito com a
equipe e participantes, recebendo apoio da equipe coordenadora e paróquia.
r) Faço parte da equipe que organiza os cantos. Fui convidada pelo Pe. […], na primeira edição
do curso.
s) Porque adoro cantar e aprender cantos novos. Pela Paróquia […], através do Pe. […]. Apoio
do Movimento Lareira e Pastoral Vocacional.
t) Para aprender mais, me aperfeiçoar e poder participar nas liturgias através do canto mais
corretamente, sabendo os momentos apropriados para o canto e também saber melhor qual a hora certa
de cantar os cantos. Soube através de reuniões que participei, em Assembléia Diocesana, Foranias.
(Infelizmente) só hoje e neste pude participar; os anteriores aconteceram erros de dados de
informações e por isso faltei. Tive apoio do pároco, Pe. […] e também de toda nossa equipe de cantos.
No geral somos em 10 pessoas. Chamamos de Coral Nossa Senhora da […], que nos abençoou com o
dom do canto.
u) Fazia parte da equipe que “coordenava” e também porque gosto de cantar.
3. Quanto tempo faz que participa da Igreja? O que faz? Quanto tempo faz que participa da Liturgia?
O que faz?
a) Sempre participei como fiel. Nos serviços iniciei na Pastoral da Juventude, no grupo de jovens
em […]. Mas foi em […] no ano 2000 que realmente me integrei participando do grupo de animação
da paróquia.
b) Desde sempre, ou depois da crisma. Primeiro como catequista e um coral de 35 crianças,
grupo de jovens. No momento estou mais na liturgia, na animação da paróquia, bairros e interior – há
uns 15 anos.
c) No grupo de cantos estou há 2 anos cantando. Na liturgia estou a mais ou menos 23 anos
participando.
d) Participo desde criança em tudo relacionado à Igreja; por incentivo de minha família, ajudo
desde leituras até cantos.
e) Há 10 anos. Faço parte da equipe do canto do grupo de oração […] da Igreja […] e da equipe
de canto. Participo ativamente a 8 anos. Tocamos violão e cantamos a liturgia.
f) Com doze anos dava catequese. Com … cantava na Igreja. Participava dos encontros de
famílias.
g) Participo desde criança; fazem 30 anos que participo da liturgia, sou ministra da Palavra.
h) Sempre participei; somente participo.
i) Desde pequena. Hoje sou coordenadora da liturgia, coord. da Infância Missionária e ajudo a
equipe de canto.
j) Mais ou menos há 10 anos; ajudo na catequese, na liturgia, na música, entre outros. Da liturgia
propriamente dita há 4 anos, desde que […]. Na questão da liturgia auxilio na proclamação das leituras
bíblicas, na escolha de cantos, etc.
k) (não respondeu).
l) Desde que me compreendo por gente, sempre participei da Igreja (comunidade […]). Mais
direta e assiduamente a partir dos 8 ou 9 anos quando comecei a participar da catequese. Minha
família sempre esteve ligada à vida da comunidade. Se ainda hoje, a família […], possui envolvimento
comunitário/eclesial, isso se deve a nossa querida e saudosa mãe […]. Desde aos 15 anos, […] não
exerço nenhum papel específico (ex.: ministro, catequista, músico...). Contudo, creio que estou
envolvido, mesmo que modestamente, numa série de ministérios.
m) Mais ou menos 18 anos. Sou catequista e trabalho na liturgia (Cursilho Jovem).
n) 25 anos de participação na liturgia tocando violão, cantando e animando as celebrações . na
Igreja sempre participei.
104
o) Participo da Igreja desde que me conheço por gente. Desde os 12 anos, quando aprendi tocar
violão, participo das celebrações sempre que possível e/ou quando recebo convite. Alem de cantar e
tocar violão também faço parte da equipe de liturgia.
p) Desde que comecei a saber e a entender sempre participei da Igreja. No momento estou
desenvolvendo o cargo de coordenadora da equipe de liturgia. Organizar os encontros e reuniões da
equipe.
q) Sempre participei da Igreja; faço parte do Movimento de Cursilho, colaborando com o coral
nas celebrações. Há 12 anos faço parte da liturgia através do canto e da música.
r) Desde pequena com oito anos cantava e tocava teclado no grupo […] de minha cidade […]; e
desde então sempre contribuí cantando , tocando e auxiliando na organização da liturgia. Faço parte do
Apostolado da Oração e do grupo de Cursilho. Portanto, mais ou menos 18 anos que participo da
Igreja, em algum trabalho.
s) Desde quando fia a 1ª Eucaristia com 7 anos. Fico mais na frente dos cantos e às vezes nas
leituras e na parte vocações. Fazem uns 16 anos que participo da liturgia. Canto, canto, canto.
t) Participo da Igreja desde pequena pois os meus pais são católicos participantes e me levaram a
participar desde cedo. Sou catequista coordenadora da catequese em minha paróquia. Sou liturgista e
atuante com canto, leituras, como comentarista. Atuo nestas atividades a muitos anos.
u) Sempre participei da Igreja, da liturgia, motivado pelos meus pais.
ou 2004), realizamos com o Pe. […]. Creio que o “curso” mais eficiente, em relação à formação
musical, que já fiz e venho fazendo é o gosto pela música e a prática de cantar (mesmo que, muitas
vezes, fora do tom).
m) Fiz alguns cursos de liturgia (na catequese), participação do 1º curso de cantos litúrgicos; e
canto com o grupo do Cursilho da Paróquia.
n) Formação litúrgica só tive na época em que trabalhei nas Missões Diocesanas, participando
como leigo.
o) Em 2008 participei de um curso de Mistagogia e espaço litúrgico em Santa Maria. Além disso
fiz parte de um coral de cantos orientados pelo […] que me ajudou bastante a cantar, inclusive fazendo
a 2ª voz em alguns cantos.
p) Escolas paroquiais e cursos litúrgicos.
q) Não tenho formação litúrgica. Na música aprendi com minha família por ouvido, e mais tarde
a teoria em livros.
r) Quanto a formação litúrgica, aprendi observando e interagindo com pessoas mais experientes
que eu, e muitas dúvidas minhas foram esclarecidas nos cursos de canto litúrgico e pastoral. Quanto a
formação musical, desde os oito anos estudo música, toco teclado, acordeon, violão e flauta-doce, e
cursei a faculdade de música na Universidade de Passo Fundo tendo concluído a mesma no ano de
2003. trabalho com música diariamente, aulas de instrumento, técnica vocal, canto coral e educação
musical na pré-escola.
s) Formação litúrgica: de ministro da Eucaristia; participação de 3 Lareiras; participação em
encontros vocacionais. Música: toco violão e acordeon; cantei em coral.
t) Cursos específicos de liturgia não fiz, mas participei muito de todos os encontros que pudesse
ir, ligados à catequese, pastorais, foranias, assembléia. Tudo começou nas escolas paroquiais. Procuro
ler muito. Quanto à formação musical acho que é familiar: tenho irmãos que tocam instrumentos,
ajudam na liturgia e por gostar de cantar, hoje por exemplo, trouxe minha filha, dois sobrinhos que
atuam no CLJ e já nos ajudam. Está no sangue, no espírito.
u) Vários cursos já fiz.
A música na vida pessoal
5. O que significa a música para você?
a) Por ser empresário e viver no corre-corre do dia-a-dia, a música alivia os meus pensamentos e
me dá paz;
b) A música para mim é cantar a vida, enfim é a vida.
c) Música para mim é tudo. Sem música não saberia viver.
d) A música para mim é uma forma de expressar o estado de espírito em que estamos.
e) A música da Igreja para mim é a minha vida, é o que me sustenta, me alimenta como ser
humano, é tudo. Tenho certeza que através da música estou levando o amor de Jesus Cristo a cada ser
humano que busca o caminho verdadeiro. E como eu gostaria que todos sentissem o que eu sinto
quando eu canto. Me sinto realizado; me sinto no mundo sem pecado, sem sofrimento. Me sinto na
celebração cantando como se aquelas pessoas que ali estão, foram privilegiadas de estarem fazendo
parte do amor do Senhor.
f) Não vivo da música mas sem ela não vivo. Gosto. É meu esporte. Principalmente cantos
religiosos que fale da família de Deus.
g) Significa alegria, oração, louvação, contato com Deus porque me faz ficar em paz. Gosto das
letras.
h) Adoro ouvir música. Quando posso sempre estou ouvindo. Ela me tranqüiliza quando preciso.
Quando estou feliz ela me alegra mais ainda.
i) Para mim, música significa “vida”. Cantar é viver. A melodia em si nos faz meditar e nos
encontrar com o nosso interior e com Deus.
j) A música para mim significa tudo, pois tudo é música; os sentimentos humanos são música, o
choro, riso, bocejo, tudo é música! A natureza é sem dúvida uma melodia embalada pelo ritmo do
vento. E como dizer que o canto dos pássaros, o grito gorila e o singelo miado do gato não é música.
Tarefa essa impossível, porque tudo que nos cerca e nós, somos música.
k) Música para mim é a mais pura expressão de sentimentos. Através dela nos comunicamos,
refletimos, voamos através dos nossos sonhos e desejos; é através dela que chegamos diretamente ao
coração. Além de gostar muito de música, muitas vezes me amparo nela; fujo; serve de refúgio para
106
6. Que tipo de música você mais ouve? Por que? O que mais gosta na música?
a) Gosto muito das músicas e mensagens de Fabio de Melo e Jorge Trevisol. Os CDs deles nunca
faltam no meu carro;
b) Vários, bem animada e alegre. Porque dá uma nova visão da vida, de Deus e de nossas
culturas e de nós mesmos. O que mais gosto da mensagem que traz num todo e do ritmo adequado
com o momento.
c) Gosto de todo tipo de música; músicas alegres para me sentir bem. O que eu mais gosto é das
letras que falam de amor.
d) Tenho escutado muito “Rosa de Saron” e outros grupos americanos, com ritmo musical
saudável pois o que mais aprecio nas músicas são as letras.
e) A mais de 12 anos eu só procuro escutar músicas católicas, músicas litúrgicas, músicas que me
passem paz, amor e harmonia para com Deus. Porque a partir do momento que Jesus Cristo entrou em
minha vida mostrando esse caminho maravilhoso de o seguir, comecei a separar o que é de Deus e o
que é do Encardido, e comecei a viver apenas o que é do caminho do Senhor. Gosto na música católica
a paz, o amor, a vida, a partilha, o perdão que impera em cada ser humano, mas acima de tudo a
grandeza do amor de Jesus Cristo a cada um de nós, isto é, maravilhoso!!!
f) Músicas religiosas porque fala da família de Deus, da natureza e nos ensina a caminhar e
seguir a Cristo.
g) Gosto de ouvir músicas católicas, sertanejas. Me faz bem.
h) Ouço todas. Cada uma tem um significado só dela, cada uma para um momento, do
significado que ela tem e do que ela representa.
i) Músicas que falem uma linguagem com um bom sentido; músicas vocacionais, instrumentais,
que expressam a vida do povo.
j) O belo poder que a música tem de nos fazer sonhar, de nos levar a dimensões até então nunca
alcançadas. A música é um poder que Deus concedeu a cada um de nós ou melhor para todas as suas
criaturas. Ouço mais músicas sacras.
k) …
107
l) Aprecio muito a letra da música e o seu ritmo. Quanto ao gênero musical que costumo ouvir,
varia bastante. Porém, minha preferência, recai sobre as músicas religiosas, sertanejas, gaúchas raízes
e bandinhas (estas, de tempos para cá, tenho ouvido pouco).
m) Músicas litúrgicas, cantos gregorianos, músicas para relaxar, sertanejas e moda de viola.
Algumas eu medito; outras eu relaxo e outras danço para descontrair um pouco; outras lembro o tempo
de criança. O que mais gosto na música é a mensagem que ela traz para nossa vivência.
n) Sertaneja. Porque fala das raízes e os princípios da vida. Mais gosto na música é a melodia
bem traçada.
o) Gosto de música sertaneja e bandinhas. São as que mais ouço normalmente. Gosto de aprender
os “solos” principalmente de violão e aprender novas melodias.
p) Música que além do ritmo traga mensagens de paz e de amor.
q) Todo tipo, desde que seja bem executada. Gosto mais melodia e texto.
r) Ouço um pouco de tudo, mas gosto de música que de alguma forma faça com que nossos
sentimentos aflorem, que sua letra nos traga algum tipo de aprendizado, e que no seu conjunto
harmonia, melodia e ritmo toque nosso coração e desperte alguma reação: entusiasmo, alegria,
reflexão, admiração, melancolia, festa, saudade, emoção, euforia, aquela que nos faz bem, que nos faz
sentir humanos.
s) Ouço mais música sacra e sertaneja. Música sacra me deixa serena, alegre e feliz e me acalma.
Gosto na música o ritmo que seja alegre e não muito lento, mais animado.
t) Eu gosto de vários tipos de música: religiosa, música popular, gauchescas. Eu gosto de ouvir e
cantar. Em minha casa uso muito som religioso, acompanho as missas através da TV.
u) Gosto de todo o tipo, mas prefiro sertaneja (música raiz). A letra da música é o que mais
chama a atenção.
m) No texto; é preciso que tenha sentido a sua mensagem (que eu aprenda com sua mensagem).
n) No ritmo e na melodia, depois de aprender o texto, pois a música será perfeita se as três coisas
andarem juntas.
o) Acredito que a música para ser considerada “boa” tem que ser um conjunto. Tem que haver
um texto bem produzido, um ritmo agradável e uma melodia atrativa para que possa expressar o
sentimento que o autor está tentando transmitir.
p) No texto pois quero que o texto transmita uma mensagem e toque o coração das pessoas e que
através da melodia as palavras digam o que elas tem pra dizer. E com ritmo e música é mais fácil
chegar às pessoas do que só com palavras. Ocorre maior sensibilidade com a sonoridade das palavras e
músicas.
q) São dois momentos: a escuta da melodia e a avaliação do texto.
r) Pra mim deve ser um conjunto, a letra deve conter em determinados casos, espiritualidade; em
outros criatividade, senso crítico, sabedoria, deve nos interessar e fazer pensar. Já o ritmo e melodia
devem sintonizados, pois eles é que vão dar o colorido, e nos entusiasmar, emocionar, sem eles não
existiria a música.
s) Me apego ao ritmo e à melodia, e o texto pois este precisa nos trazer uma mensagem e que nos
toque o coração deixando o nosso dia-a-dia melhor.
t) Sou muito ligada ao texto das músicas pois muitas são verdadeiras orações, poesias que,
através de suas letras trazem mensagem de vida espiritual, de paz, amor, doação, perdão. Quanto à
melodia é importante e fundamental que as letras tenham uma melodia ideal, alegre e de acordo com o
momento. Quem canta reza duas vezes. Por isso cantar tendo letra e melodia em harmonia é tudo de
bom e só eleva nosso coração.
u) O texto ajuda, mas o ritmo e a melodia é o que faz o sucesso. Não adianta o texto ser bom se o
ritmo não contagia.
deve ter o cuidado para não cair na tentação de fazer show (cantarem sozinhos), mas ajudar a
assembléia a cantar a vida.
m) A música é a motivação e faz com que este momento seja mais vivido e participado; é sentir-
se mais próximo de Deus e em sintonia com as pessoas que interagimos.
n) O canto é que dá vida em qualquer ambiente celebrativo, com isso fazemos coma mais
animação, tornando as celebrações mais alegres.
o) Quando os cantos são bons, bem escolhidos e bem cantados a celebração fica mais bonita e
agradável. Os cantos representam a alegria e a motivação para muitas pessoas. Por isso a importância
de qualificar cada vez mais os cantos litúrgicos.
p) A celebração se torna mais viva, valoriza o silêncio onde a pessoa se concentra mais na oração
pessoal. Enquanto se canta se reza.
q) A música faz parte da liturgia. Também é uma forma de rezar tornando a celebração mais
animada e participativa.
r) Como diz o ditado “quem canta reza duas vezes”, e a música através do canto ou mesmo
instrumentalmente trabalha a nossa sensibilidade, expressa o que sentimos, desejamos. Acredito que
seja uma ligação direta com Deus.
s) Nos momentos celebrativos, a música e o canto são importantes mas precisam também fechar
um pouco com as leituras, Evangelho e salmo.
t) O canto é fundamental nas celebrações, é necessário e que bom que sempre tem nas
comunidades pessoas que nos ajudam a melhorar e adaptar os cantos certos nos momentos certos. A
música ajuda na nossa participação e oração.
u) É de suma importância. É a mesma coisa de ir numa festa de aniversario e esquecer o bolo.
10. Qual é, na tua opinião, a principal função dos cantores e instrumentistas nas celebrações
litúrgicas? Como devem desempenhar isso?
a) Já frisei no parágrafo anterior, levar a emoção da fé; cativar as pessoas e não permitir que
nossas celebrações sejam frias e monótonas.
b) Convidar, animar, dar firmeza ao que se vai cantar, fazer a assembléia participar nas
celebrações, estar unido com o assunto. Ex.: Evangelho, leituras, etc. Devem desempenhar
aprendendo, ensaiando e pondo em prática.
c) A função de quem canta e de quem toca é de animar a celebração deixando mais bonita e
incentivar as pessoas a soltarem a voz e cantar muito. Devemos convidar as pessoas a participarem
mais.
d) A principal função dos “músicos” nas celebrações é animar o povo que se encontra, em
termos, abandonado em um mundo de superficialidades. Portanto, devem desempenhar um papel de
“cordeiros no meio de lobos”.
e) Passar a vida. Jesus disse: eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância.
Investindo, trabalhando cada momento da celebração, do grupo de oração e na oração do Santo terço.
f) Animar os participantes, agradar a todos e passando a palavra de Deus, através do canto.
g) Tem que ter uma ligação entre todos os que participam das celebrações.
h) Devem animar a todos e também emocionar, com muita alegria.
i) Os cantores e instrumentistas devem animar as celebrações de modo que a assembléia possa
acompanhar, devem fazer com simplicidade e muito amor.
j) Penso que seja a função dos animadores, pessoas que fazem o povo viver intensamente o
mistério celebrado. O papel desempenhado por eles deve ser que eles estejam a serviço do
canto/liturgia e não o canto/liturgia estejam a seu serviço assim conseguindo passar a mensagem
contida no canto.
k) Acredito que a “animação” seria de tentar sensibilizar as pessoas e não fazer o show. A música
tocada com sentimento da alma, passando para as pessoas energia, vontade de cantar, se expressar ou
mesmo só ouvir e refletir. Isso ajuda a fortalecer a fé.
l) Ajudar a assembléia a cantar. Ninguém vai a Igreja para assistir a um show, mas para rezar.
Caso eu quiser assistir a um show, não irei à Igreja, mas ao clube, até porque lá poderei dançar. Ao ir
à Igreja meu objetivo é rezar e espero que os cantos me ajudem a realizar tal objetivo. Para tanto, os
cantos, além de serem ensaiados no início da celebração, devem ser conhecidos. Caso algum seja
novo, o que é bom, o povo deve ter a letra em mãos (folha de cantos, projeção).
m) Animação (sem a música a vida não flui e a fé também não). Devem desempenhar com
simplicidade e harmonia.
111
n) Ajudar com o instrumento e o canto fazer as celebrações mais bonitas e animadas. Assim me
sinto feliz porque posso passar um pouco do que eu sei para outras pessoas. Para desempenhar essa
função é preciso muita alegria, disponibilidade e dedicação.
o) Penso que os cantores não podem cantar para eles, não podem se sobressair , mas sim tem que
animar a assembléia a cantar e a celebrar esse momento importante. Além disso, quando há
instrumentista, tem que ter o cuidado de não elevar muito o volume do instrumento para não cobrir as
vozes e também escolher o tom adequado para que todos possam cantar.
p) Venha contribuir para o entendimento da mensagem; valoriza mais a celebração, dá mais vida,
se torna mais atrativa, transporta os sentimentos da pessoa, se relacionar com o tema do dia
promovendo a participação, o engajamento, a sensibilidade.
q) Fazer com que o canto e a música fiquem em harmonia passando assim uma verdadeira
animação.
r) Contribuir para o embelezamento das celebrações litúrgicas, fazendo-se parte integrante da
assembléia, de forma humilde e bela, trazendo encantamento e uma forma expressiva de comunicar-se
com Deus.
s) Trazer animação às celebrações e ter a colaboração de todos e com alegria e humildade estar
sempre feliz diante dos presentes.
t) Acho que tem a função de concentração, meditação, orientação nas celebrações e através do
canto fazer com que todos os participantes celebrem, pois os instrumentos “falam sobre a motivação
da interiorização encontro com Deus e comigo mesmo”, faz despertar para um encontro e estar em
sintonia com o outro e com Deus.
u) A função dos cantores e instrumentistas na celebração é animar. Fazer com que todos possam
participar alegres na celebração. Devem fazer isso com bons cantos, ensaios muitos, organização. Não
devem chamar a atenção na celebração, mas fazer com que todos prestem atenção.
11. O canto e a música te ajudam a rezar? Fale de um canto que te ajudou a compreender Deus ou te
fez experimentar o jeito de ser d´Ele.
a) … (juntou à resposta da próxima questão).
b) Sim, e como! Às vezes, quando estou cantando, sinto algo diferente, uma emoção muito forte.
É como se cantasse com o coração. Às vezes as pessoas me falam que aquela canção as tocou tão
profundamente, que precisavam escutar a mesma. Foi a música: não sei como aconteceu, quando
acordei eu já era eu. Não sei se foi por encanto, nem sei se mereço tanto, ao meu Pai eu agradeço, o
começo da minha vida, etc… Eu me apaixonei por Jesus e senti vontade de aprender a tocar um
instrumento. Foi aí que aprendi tocar violão. Quando um rapaz do grupo de jovens da comunidade
onde eu morava cantou a canção de que escrevi antes. A canção que me fez experimentar Deus é
aquela: “Deus cantor” (Pe. Zezinho). Eu sinto ele igual a mim e quando canto creio que ele canta
comigo. E a canção é: “eu acredito que Deus existe, fez o mundo e tem amor. Eu acredito que Deus
faz versos e canções que os anjos cantam lá no céu. Se Deus existe ele é amor. Se Deus existe ele é
cantor”. Etc. Ele é o grande maestro. Se olharmos, tudo inspira Deus. E Deus é alegria, amor, vida.
c) Sim, os cantos me ajudam a rezar muito. Quando canto me sinto em paz. Um canto que me
ajudou a conhecer Deus foi “Um coração para amar”. Me sinto em paz quando canto.
d) Acredito que rezar é uma coisa, e cantar outra. Entretanto cantar aproxima a nossa alma e o
nosso coração a Deus. O canto que mais me marcou até hoje foram dois: “Sacramento da comunhão”
(Diácono Nelsinho Correa) e “Quem me segurou foi Deus”.
e) O canto que mais me chamou a seguir e a viver me dando força para superar minhas fraquezas
foi “ninguém te ama como eu”. Este canto revela o tamanho do amor que Jesus Cristo tem para com
cada um de nós: isto é inexplicável; é quase impossível descrever. Eu rezo cantando. A minha oração é
a música. Eu vivo o que eu canto e não poderia ser de outra forma.
f) Ajuda muito. É a maneira de soltar da garganta o que você tem a dizer; quase como gritando
para desabafar. Canto: “Seu nome é Jesus Cristo e passa fome, e passa pela boca dos famintos. Entre
nós está e não o conhecemos. Entre nós está e nós o desprezamos”. Este canto me marcou muito pela
letra e pelo momento que o ouvi dentro do Cursilho. Foi para mim um ensinamento muito forte, que
agora me inspira e me faz levar a Palavra de Deus a todos os irmãos necessitados de pão e fé: através
dos cantos e outras maneiras.
g) Ajudam muito. O canto “Maria de Nazaré” é muito importante.
112
h) Ajuda. Ele emociona e te faz compreender melhor. Agora não me lembro de nenhum.
i) O canto e a música são as mais belas orações que podemos fazer a Deus. Várias vezes ao
cantar me senti leve; é como se Deus estivesse cantando junto comigo.
j) Quando bem preparados, sim. Um canto que me fez compreender a Deus foi escrito pelo Pe.
Zezinho, que diz: “um dia uma criança me parou, olhou-me nos meus olhos a sorrir, caneta e papel em
sua mão, tarefa escolar para cumprir… o que é preciso para ser feliz?” E na resposta o canto diz:
“amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou…”. A mesma pergunta ecoa em pleno século
XXI, porém muitas vezes o problema não está na pergunta, mas sim na resposta que damos a ela.
k) O canto me ajuda a rezar, conversar com Deus. “Pescador de homens” é uma música que me
emociona e fortalece a minha fé, me dá amparo, segurança, me faz sentir que não estou só.
l) Sim. Um dos muitos cantos que me ajudam a rezar e compreender o amor de Deus é a canção
de Jorge Trevisol, intitulada “certas coisas prá dizer”. “Tenho, enfim, outra coisa, que eu não posso
esquecer, mesmo sem ter certeza, mas eu prefiro dizer: o que eu penso a respeito da vida, é que um dia
ela vai perguntar, o que é que eu fiz com meus sonhos; e qual foi o meu jeito de amar; o que é que eu
deixei pras pessoas que no mundo vão continuar, prá que eu não tenha vivido à toa e que não seja tarde
de mais”. Toda a canção, mas especialmente, o trecho supracitado, ajuda-me a compreender o real
sentido da vida. Para mim, o sentido da vida está na capacidade de, assim como Jesus Cristo, amar
sem reservas.
m) Sim. “Quando quero falar com Deus” (Roberto Carlos).
n) Com certeza o canto e a música me ajudam a rezar. “Ide anunciar minha paz; ide sem olhar
para trás. Estarei contigo e serei vossa luz na missão”. Sendo filho de Deus, chamado e escolhido, fui
tocado a seguir e trabalhar na missão a mim confiada.
o) O canto e a música me ajudam a rezar. Lembro-me de um canto que marcou muito na minha
vida. É uma canção do Jorge Trevisol – “O mesmo rosto”.
p) Ajudam, pois todos os dias deveríamos ouvir um pouco de música ou ler uma boa poesia.
Todos, quando transmitem algo que te faça feliz, que possa entender o que Deus pede de nós.
q) Sim. Rastros na areia. Esse canto ensina que Deus está sempre ao nosso lado, mesmo nos
momentos mais difíceis.
r) Com certeza. Deus é a música da existência e sempre que canto penso em Deus. A música é
feita de sons e o universo, a natureza criada por Deus é repleta deles. A música é a linguagem da
emoção, da comunicação do amor, e Deus é tudo isso. São infinitas as músicas que nos comunicam
com Deus, mas uma em especial para mim é a versão cantada da Oração de São Francisco, pois é um
desejo que tenho em minha vida e gostaria que todos pensassem da forma em que é colocada a letra da
música e oração.
s) Me ajudam a rezar e a pensar na vida e nos problemas. Adoro ouvir e cantar “Águia pequena”.
Me toca fundo a letra, o que diz e a mensagem que traz. Outra é a “Oração da Família” que diz tudo e
mais um pouco; faz bem à mente e ao coração.
t) Eu rezo muito mais quando eu canto. Participar da liturgia sem cantar não tem sentido para
mim. Rezar e cantar caminham juntos. Tantas as músicas que me ajudam a compreender Deus que eu
não saberia nomeá-las, mas, “Amar como Jesus amou” – Pe. Zezinho; “Deus está aqui neste
momento” e tantas, tantas. Deus está em todas as orações, canções. Aprendi a ver Deus no irmão
através da canção “Deus é Pai, Bondade, Vida” – conheci melhor Deus na alegria do amor na canção.
u) São eles que me fazem verdadeiramente rezar. O canto que me faz compreender Deus, um
deles é “Águia Pequena”.
No horizonte da esperança
12. Se você tivesse um sonho onde o mundo foi transformado pela música: como seria esse mundo?
Qual música teria feito essa transformação?
a) “Certas coisas pra dizer” (Jorge Trevisol): não é uma música litúrgica , mas a mensagem dela
é muito profunda; nos leva a pensar sobre nossa vida, de que maneira nós a levamos. “O que é que eu
deixei pras pessoas que no mundo vão continuar, para que eu não tenha vivido à toa”. Este canto
poderia transformar o mundo!! Com certeza se as pessoas ouvissem mais música elas não matariam
umas às outras.
b) Alegre, com muito amor e harmonia entre as pessoas, onde todos seriam iguais, e caminhariam
no mesmo objetivo: vida plena, “Jesus”. A música que faria a transformação seria a do Roberto
113
Carlos: “Guerra de meninos”. Parece estranho falar da guerra mas é uma guerra de paz e Jesus seria
luz em tudo e em todos.
c) O mundo seria um jardim de flores lindas e coloridas; e a música seriam todas as que falam da
vida, do amor, da humanidade, dos animais e de todos os seres.
d) Seria um mundo que viveria mais através (movido) pelos sentimentos. A música que teria feito
essa transformação seria: “andei por onde não poderia andar, e vi o que não queria ver, desprezei o
bem que aprendi, não lembrei o que senti quando Cristo segurou as minhas mãos. A tristeza foi o
prêmio pela fuga da vitória reservada para mim. Hoje sei o que sofri, por amor me arrependi e dando
graças volto a olhar para o Pai! Te amo, me amas, te louvo, me curas, te chamo, me escutas, me
entrego, me acolhes”.
e) Maravilhoso. A música seria com certeza “ninguém te ama como eu”.
f) “Utopia”: onde os pais e os filhos cantam juntos ao entardecer. É um mundo que falta muita
coisa, mas o principal não faltava, que era o sorriso no olhar, e a união entre as famílias. “Oração da
Família”: se todas as famílias seguissem e vivessem esta letra não teria desunião entre elas e este
mundo transformado seria de paz e amor e canções.
g) Seria um mundo sem ganância, inveja, calúnia. O canto seria “Cristo é a felicidade” (andar
sem temor pelo mundo).
h) Todos acreditavam em Deus e conheciam ele, as maravilhas que ele fez, todos viveriam em
paz, acabariam as drogas, teria mais saúde e recursos públicos para ter a saúde. Teria saúde pública,
saberiam aproveitar as oportunidades, viver melhor, saber perdoar. “Epitáfio” – Titãs: Devia ter amado
mais, até chorado mais, ter visto o sol nascer…
i) Em meu sonho, não haveria tristeza. Haveria pessoas vivendo como Cristo viveu. Pessoas se
dando as mãos para superar dificuldades. A música “Pai que criastes o céu” é uma entre tantas que me
emocionam quando escuto ou ajudo a cantar e me anima nesta caminhada me renova.
j) Certamente um mundo mais alegre, mais irmão, um mundo que por meio da música tirariam
um tempo para sentar em rodas, para cantar, brincar, sorrir, certamente um mundo com um grande
calor humano; um mundo de coração sempre aberto e disponível, um mundo de paz, um lugar de uma
só família, família essa formada por pessoas que se amam, se ajudam, se respeitam. Seria um mundo
onde não haveria diferenças mas sim igualdades, ajuda mútua, solidariedade. Um local justo para
todos onde cada um se sentisse em casa, mesmo fora dela, pois o mundo seria de todos e todos seriam
do mundo. Um mundo as pessoas conseguissem entrar no tempo do outro para caminhar juntos,
crianças e idosos, pais e filhos. A música transformadora penso que poderia ser “um jovem galileu”.
k) É difícil responder, se tratando de música porque cada uma marca determinada fase da vida.
Acho que a música “pais e filhos” – Renato Russo trata de um tema forte e me toca, porque trata do
amor como bem maior, apesar das perdas e sofrimentos; o amor pelo outro de maneira incondicional.
E também como boa romântica que sou, gosto da música de Roberto Carlos “é preciso saber viver”.
l) Seria um mundo de irmãos, onde a vivência dos princípios evangélicos fosse o primeiro e
único objetivo de todo ser humano. Neste mundo não haverá desigualdades, pois o egoísmo, o
individualismo, a inveja, a injustiça... teriam dado lugar ao amor. A música responsável por essa
transformação é a canção “meu catecismo”, do Pe. Zezinho: “se acreditar em Deus for esperar um
mundo diferente; lá onde não há ricos por demais e onde não há mendigos; lá onde ninguém pisa no
irmão e todo irmão se sente gente; lá onde o cidadão vai onde quer e sem correr perigos. Se acreditar
em Deus for apostar que o mundo tem conserto, que o ser humano é bom e, mesmo se ele errar, ainda
vale a pena; se crer em Deus é crer num Pai que nos criou e apostou em nós, então pode escrever que
eu assino. Eu creio em Deus porque eu tenho esperança, este é o catecismo que eu ensino”.
m) Este sonho onde o mundo seria transformado pela música, (alegria, amor, paz, igualdade,
compreensão) tudo seria lindo, transformador e harmônico. A música expressa a alegria que está em
nosso coração; ela dá vida aos ambientes. “Quando a gente encontra Deus” (Pe. Zezinho) e outras
muitas que nos trazem mensagens lindas e transformadoras.
n) Se fosse transformado pela música o mundo seria com mais alegria e com a união entre todos
os povos. A música que faria essa transformação seria: “Quando o dia da paz renascer”.
o) Seria um mundo mais humano, igualitário e fraterno, onde as pessoas viveriam em paz e
harmonia. O canto que representa isso é “Utopia” (Quando o dia da paz renascer).
p) (não respondeu)
q) Um mundo de paz, muito amor no coração e um só líder: “Deus”. Epitáfio – Titãs.
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r) Gostaria que as pessoas vivessem felizes, em paz, que houvesse respeito, muita fé e amor a
Deus e ao próximo. Também são muitas músicas que transmitem esse pensamento, uma delas é a
versão em português da canção “Imagine” de John Lennon, interpretada por Fabio Junior. “Imaginar
que o mundo/ Possa viver em paz/ Não há inferno, não há céu/ É só tentar imaginar/ Somente o
firmamento/ Feito apenas pra sonhar. / Pessoas sem fronteiras/ Vivendo pra viver/ Nenhuma dor nem
guerras/ Nada por que morrer/ Haver um deus apenas/ Como é bom imaginar/ Não é loucura nem
sonho/ Além de mim há mais alguém/ Se junte a quem pensa assim também/ Que esse mundo vai ser
um só./ Imaginar que a terra/ Possa ser bem melhor/ Pra permitir sementes/ Sem dividir o chão/
Imaginar a fome/ Dando lugar ao pão./ Não é loucura nem sonho/ Além de mim há mais alguém/ Se
junte a quem pensa assim também/ Que esse mundo vai ser um só”.
s) Um mundo transformado pela música seria só alegria, campos floridos, sem violência, sem
pobreza, todos vivendo com igualdade, sem ódio, rancor, falsidade. Um mundo só de amor. A música
seria “Soleado”: De muito longe vem uma canção. Suavemente como uma oração. E um anjo azul
sobre bruma e véu, vem abrir prá nós os portões do céu.
t) (não respondeu)
u) Meu sonho: tudo seria música. Um canto só. As pessoas se cumprimentariam com um canto.
Se trabalharia cantando. O próprio sofrimento se expressaria por cantos. Não tem uma só, mas várias.
Muitas músicas do Pe. Zezinho. Algumas do Jorge Trevisol. Também não podia faltar aquelas músicas
raiz (Poder de Deus; Sete Palavras; …).
115
ANEXO B
Fotos dos Cursos de Canto Litúrgico e Pastoral da Diocese de Vacaria/RS
116
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ANEXO C
Mapas: Interdiocesanos do RS; Diocese de Vacaria/RS