Teoria Dos Stakeholders e Responsabilidade Social
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RESUMO: O trabalho tem por objetivo analisar as teorias de stockeholders e de stakeholders e suas
implicações nas organizações. É uma pesquisa bibliográfica. O artigo aborda a teoria de stockholders,
pela qual o gestor é visto como um investidor organizacional apenas em função do lucro e a teoria de
stakeholders, que considera o relacionamento entre os diversos atores e a integração de seus diferentes
interesses como elemento central. A responsabilidade social do gestor é trabalhada nesse contexto,
como um elemento de equilíbrio entre os interesses dos acionistas e o da sociedade. Pois, acredita-se
que aumentando o valor da empresa perante a sociedade, aumenta-se também o valor das ações da
mesma e, consequentemente, o lucro dos stockeholders.
INTRODUÇÃO
1
Trabalho de conclusão de curso para obtenção de nota parcial no curso de pós-graduação lato sensu à distância
em MBA - Executivo em Gestão Empresarial pelo convênio UCDB/Portal da Educação. 2011
2
Professor de Filosofia e Ética da Faculdade Arnaldo Horácio Ferreira (FAAHF). Especialista em Filosofia do
Direito e Mestrado em Ciência Cognitiva e Filosofia da Mente. E-mail: [email protected] /Site:
www.acslogos.com/
3
Graduado em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Mestre em
Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e professor da Universidade Católica
Dom Bosco. Orientador. E-mail: [email protected]
4
Países ricos são aqueles com grande potencialidade na área industrial e com elevado Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Tais como a Noruega, os Estados Unidos, a Suécia, o Japão, a Alemanha, a
França. (KERDNA, 2011).
Em função de pressões sociais, os gestores mudaram a concepção e a atuação
empresarial, passando de entidade puramente econômica para “uma rede de relações entre a
empresa e seus stakeholders” (ROCHA; GOLDSCHMIDT, 2010, p. 15). A gestão das
organizações contemporâneas se configura pela relação dialética entre o gestor empresarial e
os stakeholders, ou seja, entre o dono da empresa, acionistas, empregados, fornecedores,
clientes, financiadores, governo, comunidades, mídia e Organizações não governamentais
(ONG´s) (OLIVEIRA, 2008). A teoria dos stakeholders, segundo Freeman e McVea (2010),
se sustenta na sociologia, no comportamento organizacional e na política de interesses de
grupos específicos, sendo uma abordagem que prioriza o gerenciamento de relacionamentos
entre os diversos atores que compõem o universo empresarial, procurando integrar seus
diferentes interesses.
Nesse contexto, a relação entre as duas abordagens gerenciais, ou seja,
stockholders e stakeholders, e suas contraposições surge como um elemento instigante e de
estímulo à reflexão, despertando o interesse pelo desenvolvimento de estudo que realizasse tal
reflexão. Assim nasce este artigo, cujo objetivo é analisar as teorias em questão e suas
implicações para as organizações. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa exploratória
e bibliográfica. Por pesquisa exploratória é aquela cuja principal finalidade é “[...]
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. [...]” (GIL, 2008,
p. 27). A pesquisa bibliográfica, por sua vez, é aquela “[...] desenvolvida a partir de material
já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. [...]” (GIL, 2008, p.
50).
1.1 STAKEHOLDERS
Freeman e Mc Vea (2010) apontam que nos últimos vinte anos as pesquisas em
administração seguiram quatro linha distintas, que são: planejamento corporativo, teoria de
sistemas, responsabilidade social corporativa e teoria organizacional. Em termos de
planejamento corporativo, as pesquisas apontam que uma estratégia considerada de sucesso é
aquela que integra os interesses de todos os stakeholders sem privilegiar algum grupo em
detrimento dos demais. Já, as linhas da teoria de sistemas e da teoria organizacional enfatizam
a ideia de que a empresa é um sistema aberto que se relaciona com grupos externos, havendo,
portanto, a necessidade de elaboração de estratégias coletivas que aperfeiçoe e garanta a
sobrevivência da empresa em longo prazo.
O termo stakeholder, conforme Freeman e Mc Vea (2010), apareceu em um
memorando do Instituto de Pesquisa de Stanford (SRI) nos anos 60 5. Nesse memorando
discutiu-se a atuação do gestor de empresa como sendo de múltiplos objetivos, que deveriam
atender aos stakeholders, ou seja, às necessidades de acionistas, empregados, clientes,
fornecedores, financiadores e sociedade. Nessa ótica, a gestão empresarial deve ser
desenvolvida para garantir o apoio de cada um desses interessados, o que garantiria o sucesso
da empresa em longo prazo. Assim, segundo os autores, o gestor deve explorar as relações
com os stakeholders para desenvolver as estratégias empresariais.
Donaldson e Preston (1995) 6 apontam que há uma multiplicidade de definições de
stakeholders, que variam conforme suas abrangências. Definições mais abrangentes
consideram os stakeholders como atores diversos, sejam eles pessoas, grupos ou entidades, e
que tenham relações ou interesses diretos ou indiretos com ou na empresa. As definições
menos abrangentes, por sua vez, os consideram como atores sem os quais a empresa
inviabilizar-se-ia, como empregados, gerentes, fornecedores, proprietários, acionistas e
clientes, todos interessados e com expectativas em relação à organização.
Para Oliveira (2008, p. 94), stakeholders podem ser definidos como “[...] grupos
de interesse com certa legitimidade que exercem influência junto às empresas” e que
pressionam proprietários, acionistas e gestores, interferindo, de certa forma, nos rumos da
empresa. Portanto, a abordagem de stakeholders é aquela que prioriza o gerenciamento de
relacionamentos entre os diversos atores que compõem o universo empresarial, procurando
integrar esses diferentes interesses.
Mitchell, Agle e Wood (1997) estabelecem uma classificação de stakeholders com
5
The use of the term stakeholder grew out of the pioneering work at Stanford Research Institute (now SRI
International) in the 1960’s. SRI’s work, in turn, was heavily influenced by concepts that were developed in the
planning department of Lockheed and these ideas were further developed through the work of Igor Ansoff and
Robert Stewart. (FREEMAN; Mc VEA, 2010),
6
Unfortunately, anyone looking into this large and evolving literature with a critical eye will observe that the
concepts stakeholder, stakeholder model, stakeholder management, and stakeholder theory are explained and
used by various authors in very different ways and supported (or critiqued) with diverse and often contradictory
evidence and arguments. Moreover, this diversity and its implications are rarely discussed-and possibly not even
recognized (DONALDSON; PRESTON, 1995, p. 66)
base nos atributos poder, legitimidade e urgência, conforme ilustra a figura 1. Para eles, não
existem somente stakeholders visíveis, há também os latentes, que podem se manifestar a
qualquer momento. Então, um dos papéis do gestor é identificar e trabalhar com as diversas
classes de stakeholders.
São tipificados como stakeholders ocultos aqueles que possuem somente um dos
três atributos considerados na classificação. São denominados de dormente (latente),
discricionário (livre) e demandante (reclamante). Dormente são os de baixa saliência e de
difícil percepção, pois não se pode predizer quando se tornarão salientes. Discricionários são
os que possuem o atributo de legitimidade, porém, não possuem reivindicações urgentes, nem
poder para influenciar a empresa, sendo grupos legítimos como instituições filantrópicas,
associações diversas, etc.. Demandantes, por sua vez, possuem o atributo da urgência, porém
não possui poder, nem legitimidade. Conforme Mitchell, Agle e Wood (1997), estes últimos
não são perigosos, mas são barulhentos, como por exemplo uma Organização não
governamental (ONG) que solitariamente anuncia que determinada substância química
promoverá a destruição do ecossistema.
Já os stakeholders que esperam algo da empresa são tipificados como expectantes,
cuja saliência é moderada, pois possuem dois dos três atributos. Estes são chamados por
Mitchell, Agle e Wood (1997) de dominantes, dependentes, e perigosos. Os dominantes se
caracterizam por possuir poder e legitimidade, como são os conselhos de administração,
representantes de donos e acionistas, credores, sindicatos e líderes comunitários. Os
dependentes são assim chamados porque, embora suas reivindicações sejam urgentes e
legítimas, falta-lhes poder, sendo, portanto, dependentes de advogados, Ministério público e
etc. para levar avante as suas reivindicações. E os perigosos se caracterizam pela falta de
legitimidade, porém com poder coercitivo e possivelmente violento, tornando-se literalmente
perigosos para a empresa. As sabotagens, atos terroristas e o perigo de sequestro de
funcionários são exemplo desse tipo de stakeholders, que devem ser identificados, não
necessariamente para contenção, mas fundamentalmente para prevenção.
Os stakeholders definitivos são os que possuem os três atributos. A saliência
desses stakeholders é a mais alta porque detêm os três atributos e deve ser percebido como
urgente pelo gestor. Os acionistas de uma empresa são exemplos desses stakeholders. E os
indivíduos ou entidades que não possuem nenhum dos atributos são chamados de não-
stakeholders ou stakeholders potencial.
Os diversos stakeholders considerados para a gestão de uma organização são
apontados por Freeman (2010), que cita como stakeholders os acionistas, os fornecedores, os
empregados, administradores, comunidade e consumidores. Oliveira (2008) por sua vez,
amplia essa rede, acrescentando funcionários, governo, mídia e Organizações Não
Governamentais (ONG’s). E Sousa e Almeida (2006) ampliam ainda mais tal rede,
acrescentando a ela os sindicatos e os concorrentes. A figura 3 ilustra essa rede de
stakeholders, a partir das especificações apontadas pelos autores.
A questão dos stockholders, que são os acionistas, foi abordada por Smith (1983,
p. 379) quando afirmou que um empresário investe seu capital em função do lucro e só o fará
“[...] no fomento daquela atividade cujo produto é suscetível de atingir o valor máximo”. Ou
seja, só investirá em um produto que apresentar perspectiva de maior retorno financeiro e no
menor tempo possível.
Friedman (2010, p. 74) retomou essa questão ao discutir a responsabilidade social
do capital e do trabalho. Argumentou que numa economia não planificada, denominada de
livre mercado, a função social dos líderes sindicais é a de lutar pelos direitos da classe dos
trabalhadores e a função social dos empresários e seus gestores é a de “[...] usar seus recursos
e dedicar-se a atividades destinadas a aumentar seus lucros até onde permaneça dentro das
regras do jogo, o que significa participar de uma competição livre e aberta, sem enganos ou
fraude”. Nessa ótica, portanto, respeitando-se as leis do país no qual a empresa atua, a única
responsabilidade social dos gestores empresariais é o máximo lucro para os stockholders.
Para Friedman (2010) a aceitação da ideia de que empresários e gestores tenham
uma responsabilidade social é uma subversão das bases da sociedade do livre mercado. Pois,
em sua concepção, tal responsabilidade é do governo ou do sistema capitalista que,
naturalmente, por sua liberdade mercadológica, encarregar-se-ia de distribuir renda e justiça
social para todos os membros da sociedade. Segundo ele, numa situação de inflação elevada,
se os empresários assumissem a responsabilidade social de controlar os preços das
mercadorias para impedir o aumento dos preços e salários, ocorreria a “[...] escassez de
produtos, escassez de empregos, mercados cinzentos, mercados negros” (FRIEDMAN, 2010,
p. 75).
Doações e filantropias, cujos valores são dedutíveis dos impostos pagos, para
Friedman, são caridades feitas com o dinheiro dos outros. A melhor solução, segundo ele, não
seriam as doações, mas “[...] a abolição do imposto para as pessoas jurídicas” (FRIEDMAN
2010, p. 76), deixando em aberto para que cada acionista faça a doação que melhor lhe
convier.
O sistema de Friedman (2010) é exclusivista porque trabalha com um objetivo
único para tomada de decisão o gestor, que é o lucro dos stockholders. A ideia de objetivo
único para tomada de decisão segura foi reformulada por Jensen (2010) que afirma que, para
o gestor, o principal é definir se a empresa trabalhará com apenas um objetivo ou com
múltiplos objetivos, assim, o gestor poderia optar ou pelo lucro ou pelo crescimento da
empresa. Mas, alerta que o gestor não deve tentar, ao mesmo tempo, aumentar os lucros e a
participação no mercado, visto que até certo patamar, os lucros e o crescimento da empresa
aumentarão proporcionalmente, porém, a partir de um determinado grau de crescimento o
aumento na participação de mercado só ocorrerá com a redução dos lucros. O aumento na
participação do mercado só será possível com o aumento de despesas com marketing.
Jensen (2010) diz que é impossível maximizar as duas variáveis, o que obrigaria o
gestor a optar pelo lucro ou pela participação de mercado. Como o gestor não consegue
definir com clareza e precisão o ponto de interseção entre máximo lucro e a máxima
participação no mercado, ele deverá optar por maximizar lucro. Múltiplos objetivos, na ótica
de Jensen (2010), representa um impedimento para tomadas de decisões seguras. Pois, por
falta de critérios claros, impedem o gestor tomar decisões lógicas, levando-o a ter que se
amparar no subjetivismo o que é deletério para o processo administrativo da empresa. Já, com
um único objetivo - lucro máximo ou participação de mercado, o gestor passa a ter um critério
lógico para tomadas de decisões e avaliações de desempenho.
2 RESPONSABILIDADE SOCIAL
7
AccountAbelity 1000.
8
Social Accountability 8000.
países e culturas, a ISO-26000 recomenda que o gestor siga as normas internacionais de
comportamento, tais como as definidas na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(OLIVEIRA, 2008).
No caso de pequenas e médias empresas, para evitar a descapitalização e falência,
a ISO-26000 recomenda que o gestor deve considerar desde início as questões e impactos de
maior relevância para o desenvolvimento sustentável e que busque ajuda de órgãos
governamentais competentes e organizações coletivas para criarem manuais e programas
práticos para uso dessa Norma Internacional. Quando possível deve-se, para poupar recursos e
aumentar a capacidade de ação, juntar a sua organização a outras organizações com mais
capacidade e experiência em responsabilidade social e padronização. A padronização,
conforme Oliveira (2008), leva a ecoeficiência, pois diminui o desperdício e diminuindo o
desperdício, melhora a eficiência gerando ganhos econômicos e sociais.
Algumas objeções sempre irão aparecer à padronização e a mais forte é a questão
da competitividade. Pois, muitas empresas poluidoras, ou não, migram para países com regras
menos rígidas, fugindo assim de Responsabilidade Social Corporativa imposta em seu país de
origem. Entretanto, a própria globalização se encarrega de reordenar o sistema. Pois, muitas
Organizações não Governamentais (ONG´s) que atuam em diversos países do mundo acabam
denunciando e pressionando as empresas para realizarem os Termos de ajuste de conduta
(TAC´s). Isso implica que o gestor empresarial não pode mais ser exclusivista, ou seja,
voltado apenas para o lucro dos acionistas, afinal o exclusivismo, em longo prazo, pode trazer
prejuízos para os acionistas, visto que pode desqualificar a empresa diante da sociedade e dos
órgãos públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
9
Neste trabalho as palavras responsabilidade social empresarial (SRE) e responsabilidade social corporativa
(RSC) serão consideradas sinônimas.
administração superior dos stakeholders deixou de ser “[...] uma simples operação de Receitas
menos Despesas ou de Lucro/Investimento. Pois, contempla, pelo menos, quatro importantes
aspectos: (1) perspectiva de longo prazo, (2) expectativa de realização de ganhos pelos
investidores, (3) dimensões de risco e retorno e (4) responsabilidade social”. Assim, o gestor
ao privilegiar a criação de valor da empresa, deve atender, além dos interesses dos
stockeholders, às expectativas dos stakeholders e, conforme os anseios dos stakeholders são
levados em considerações nas tomadas de decisões, a empresa ganha legitimidade e
credibilidade.
As implicações das abordagens relativas aos stakeholders e stockeholders ficam
evidentes, bem como as mudanças nas organizações contemporâneas, enfatizando o
predomínio da abordagem fundamentada na relação da organização com os seus stakeholders.
Novos estudos são pertinentes e podem ser desenvolvidos a partir destas reflexões,
estendendo-se inclusive para uma abordagem mais específica aos aspectos relacionados à
responsabilidade social nas organizações.
REFERÊNCIAS
BERTOLI, Ana Lúcia; RIBEIRO, Maisa de Souza. Passivo Ambiental: Estudo de Caso da
Petróleo Brasileiro S.A – Petrobrás. A Repercussão Ambiental nas Demonstrações Contábeis,
em Consequência dos Acidentes Ocorridos. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/rac/v10n2/a07.pdf . Acesso: 20 abr.2009.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.
MITCHELL, Ronald K.; AGLE, Bradley R.; WOOD, Donna J. Toward a Theory of
Stakeholder Identification and Salience: Defining the Principle of Who and What Really
Counts. The Academy of Management Review, Vol. 22, No. 4. Oct., 1997, pp. 853-886
SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. 11. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993.
SMITH, Adam. A riqueza das nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas. São
Paulo: Abril Cultural, 1983.
SOUSA, Almir ferreira de; ALMEIDA, Ricardo Jose. O Valor da Empresa e a influência
dos Stakeholders. São Paulo: Saraiva, 2006.