Apostila Eletricidade 2. Corrente Alternada
Apostila Eletricidade 2. Corrente Alternada
Apostila Eletricidade 2. Corrente Alternada
Antonio Luiz
2) Provas Escritas: Serão realizadas 2 Provas Escritas, compostas das seguintes seções:
3) Recuperação Paralela: Será proporcionado ao aluno que tiver nota inferior a 6,0 em
qualquer das 2 Provas Escritas um processo paralelo de recuperação. Esse processo será
realizado através da inclusão em cada Prova (com a óbvia exceção da primeira) de questões
referentes à prova anterior. As questões de recuperação paralela terão seu valor medido em
porcentagem. 20% serão referentes a duas questões discursivas, 20% serão referentes a uma
ou duas questões de Laboratório e os 60% restantes serão referentes a uma questão de cálculo
e/ou análise. O aluno que obtiver 100% nessas questões terá o valor da nota da prova anterior
alterado para 6. Para porcentagens inferiores, a nota será alterada de modo proporcional. Note-
se que esse processo de Recuperação Paralela é a solução prevista para os alunos que por
qualquer motivo venham a perder alguma das Provas Escritas.
8) Devolução e Guarda dos Trabalhos: Todos os trabalhos realizados ao longo do Curso (Listas
de Exercícios, Relatórios e Provas Escritas) serão devolvidos aos alunos após sua correção.
Essa devolução será feita durante o horário oficial de aulas e, se o aluno não estiver presente, o
trabalho será entregue ao Representante da Turma ou ao seu vice. Os trabalhos deverão ser
cuidadosamente guardados até o encerramento do módulo. Reclamações em relação a notas
não lançadas ou lançadas com erro serão aceitas apenas mediante a apresentação do trabalho
correspondente, antes da data estipulada para a entrega dos resultados finais à Secretaria da
Escola.
9) Resultado Final: Após realizadas todas as atividades previstas neste documento e calculada a
Média Final de acordo com o exposto nos itens 4 e 5 deste documento, não caberá qualquer
recurso junto ao professor para que a Média Final seja alterada (realização de prova-extra,
trabalho-extra, etc.). Isso deve estar bem claro para o aluno, a fim de que sejam evitadas
situações constrangedoras para si mesmo e para o professor.
2
ELETRÔNICA – UMA BREVE INTRODUÇÃO
Cada dispositivo eletrônico pode ser representado por um ou mais modelos constituídos
por uma associação de componentes elétricos ideais (resistores, capacitores, indutores,
geradores independentes e geradores controlados). Um modelo para um dispositivo é obtido
através de medidas ou através do conhecimento dos mecanismos físicos internos a esse
dispositivo. Como o comportamento de um determinado dispositivo eletrônico está
necessariamente ligado a condições bem específicas (magnitude e polaridade da tensão
aplicada, temperatura, etc.), é possível que, em situações diferentes, ele tenha que ser
representado por meio de modelos totalmente. O objetivo é obter o modelo mais simples capaz
de descrever satisfatoriamente um dispositivo numa determinada condição.
C C C
R
L
R
Uma vez escolhido o modelo mais conveniente para o(s) dispositivo(s) eletrônico(s)
presente(s) num circuito, o mesmo “deixa de ser” um circuito eletrônico e “passa a ser” um circuito
elétrico. Assim, as ferramentas de análise desse circuito são as fornecidas pela teoria de
circuitos elétricos: leis de Ohm e de Kirchoff, teoremas de Thévenin e Norton, o princípio de
superposição, etc. Com o uso de tais ferramentas, podem ser obtidas as informações
relevantes para o circuito em questão.
3
MATERIAIS SEMICONDUTORES
Os elétrons de valência (da última camada eletrônica) dos materiais sólidos se distribuem
em níveis bem definidos de energia, aos quais se dá o nome de bandas de energia. Em ordem
crescente de energia, essas bandas são:
b) Banda Proibida → é um nível de transição, que não abriga elétrons de forma permanente.
Elétrons que eventualmente se encontrem nesse nível ou receberam energia e estão passando
da banda de valência para a de condução ou perderam energia e fazem o percurso contrário.
Uma vez que os níveis de energia associados às partículas atômicas têm valores muito
reduzidos, eles costumam ser expressos por meio de uma unidade especial, o elétron-volt (eV).
Lembrando que a energia W é dada pelo produto entre a carga Q e a tensão V, chegamos à
relação:
-19 -19
W = Q × V ⇒ 1 eV = 1,6 × 10 C × 1 V ⇒ 1 eV = 1,6 × 10 J
3) Semicondutores → são aqueles cuja banda proibida tem largura relativamente estreita
(intervalo inferior a 5 eV entre os níveis de valência e condução), permitindo a passagem de
elétrons para a banda de condução com relativa facilidade, se comparados aos isolantes. Como
veremos, a energia necessária para levar os elétrons a "saltar" a banda proibida pode provir da
temperatura (energia térmica) ou da luz incidente (energia luminosa).
4
Nível Nível Nível
energético energético energético
EC
EG > 5 eV
EV
EG ≤0 EC
EG < 5 eV
EV EC EV
- Seus átomos possuem quatro elétrons na última camada, isto é, são tetravalentes.
5
Representação Bidimensional de um Cristal de Silício
As convenções
adotadas na figura são:
Si Si Si
+4 +4 +4
Ligação covalente
Si Si Si entre os átomos
+4 +4 +4
Um cristal como o representado acima, que possui "apenas" átomos de silício, é chamado
de cristal semicondutor intrínseco ou puro.
Com uma estrutura "perfeita" como a acima representada, o cristal comporta-se como um
isolante, uma vez que todos os elétrons participam de ligações covalentes, estando dessa forma,
fortemente ligados aos respectivos núcleos e indisponíveis para o transporte de corrente elétrica.
No entanto, a estrutura só tem esse aspecto a 0 K (zero absoluto de temperatura ≈ -273 °C),
quando não existe agitação térmica das moléculas. Em temperaturas superiores, a agitação das
moléculas (que é devida à aplicação de energia térmica) leva à ruptura de ligações covalentes, e
a rede fica com configuração mostrada na Figura 5.
Convenções:
Átomo de silício sem
Si os elétrons da última
Si Si Si +4 camada.
+4 +4 +4
Elétron de valência
(última camada).
Ligação covalente
Si Si Si entre os átomos
+4 +4 +4
Ligação covalente
Si Si Si rompida
+4 +4 +4
Energia térmica ou
luminosa
Figura 5 – Cristal de Silício Numa Temperatura Absoluta Não Nula
6
Com a ruptura de ligações covalentes, temos elétrons que, não estando fortemente
ligados a um núcleo, estão disponíveis para se deslocarem sob a ação de um campo elétrico -
são os elétrons livres. Isso aumenta a condutividade da rede. Além disso, a ausência dos
elétrons das ligações rompidas deixa na rede "buracos" que a tornam suscetível a receber
elétrons que restabeleçam a integridade dessas ligações, ou seja, a rede tem facilidade de atrair
elétrons externos. É da mais alta importância compreender que, por essa razão, esses "buracos"
também contribuem para o aumento da condutividade da rede. Assim, podemos interpretar esses
"buracos" como se fossem cargas elétricas móveis positivas, com a mesma carga, em módulo, de
um elétron (uma espécie de "elétron positivo"). Esses buracos são denominados lacunas.
As lacunas e os elétrons livres são os portadores de carga elétrica em um semicondutor,
já que a condução de corrente depende dessas duas partículas. Num metal, como sabemos, a
condução de corrente se dá apenas através de elétrons livres, razão pela qual dizemos que os
metais são unipolares (apenas um tipo de portador de carga). Os semicondutores, cuja
condutividade depende de elétrons livres e lacunas, são bipolares (dois tipos de portadores de
carga). Essa é a principal diferença entre metais e semicondutores no que concerne à condução
da corrente elétrica.
A geração de elétrons livres e lacunas devido à agitação térmica é chamada de geração
térmica (ou termogeração) de portadores. Nesse processo, a cada elétron livre gerado
corresponde, necessariamente, uma lacuna, ou seja, os portadores aparecem aos pares.
É fácil concluir que quanto maior a temperatura, maior a agitação térmica, maior o número
de ligações covalentes rompidas, maior o número de portadores gerados e maior a condutividade
da rede. Logo a condutividade de um semicondutor intrínseco é diretamente proporcional à
temperatura.
Com a agitação de rede, eventualmente um elétron livre pode-se encontrar com uma
lacuna, restabelecendo-se uma ligação covalente e "desaparecendo" ambos os portadores. A
isso chamamos de recombinação. Os fenômenos de geração e recombinação de portadores
ocorrem simultaneamente, ou seja, enquanto portadores estão sendo gerados termicamente
outros estão desaparecendo por recombinação. Isso impede que todas as ligações covalentes de
um cristal semicondutor estejam rompidas num dado instante. A geração e a recombinação
ocorrem com maior freqüência em regiões do semicondutor em que a estrutura cristalina
apresenta imperfeições.
Equilíbrio Térmico
Para cada valor de temperatura existe uma taxa de equilíbrio entre os fenômenos de
geração e recombinação, de modo que o número total de portadores será uma função da
temperatura a que se encontra o cristal. A esse número chamamos de concentração intrínseca
de portadores (ni). Essa concentração é expressa em termos de portadores por centímetro
-3
cúbico. Sua unidade é átomos por centímetro cúbico (cm ). Seu valor depende não apenas
da temperatura, mas de outros fatores, entre quais o material e a iluminação. A concentração
intrínseca pode ser calculada através da equação:
7
A Figura 6 apresenta de forma gráfica a dependência da concentração intrínseca de
portadores em relação à temperatura para três diferentes materiais semicondutores.
A ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ ⊕ B
S
ITotal
IElétrons livres
+
V
Figura 7 - Mecanismo de Condução Num Semicondutor
8
Mesmo com a chave S aberta, os portadores estão em movimento contínuo, mas tendo a
sua direção modificada após cada colisão com os íons. Estes, com massa muito superior à dos
elétrons livres, permanecem praticamente estáticos. Como o movimento das partículas é
totalmente aleatório, o número de elétrons circulando em todas as direções é o mesmo. Ou seja,
o valor médio da corrente resultante é nulo.
o número de elétrons livres e p é o número de lacunas. Lembrando que nos cristais intrínsecos
temos o mesmo número de elétrons livres e lacunas (n = p = ni), a fórmula pode ser reescrita
como: σ= i n ×q (µ µ )
×
e
+
n
. Devemos lembrar que a resistividade ρ é o inverso da
p
1
condutividade, ou seja: ρ = .
σ
9
Por outro lado, se tivermos N >> ni, a dopagem é efetiva e a concentração de portadores
será controlada, de fato, por intermédio das impurezas adicionadas.
Há dois tipos de impurezas: as impurezas doadoras, que são elementos pentavalentes
(com cinco elétrons na última camada) e as impurezas aceitadoras, que são elementos
trivalentes (com três elétrons na última camada).
Suponhamos que de algum modo sejam introduzidos em uma rede cristalina de silício
átomos de um elemento pentavalente, como o antimônio (Sb), o arsênico (As) ou o fósforo
(P). A configuração da rede, numa temperatura diferente do zero absoluto, tomaria o aspecto
mostrado na Figura 8:
Si Si Si
+4 +4 +4
Si P Si
+4 +5 +4
Elétron “a
mais” do
fósforo
Si Si Si
+4 +4 +4
Notar que nessa rede existem de elétrons livres que não são decorrentes de rompimento
de ligações covalentes. Em vez disso, tratam-se dos elétrons que “sobram” devido ao fato de a
impureza (na figura acima, o fósforo) ser pentavalente. Logo, não existem lacunas
correspondentes a esses elétrons livres e, portanto, esse tipo de cristal sempre terá mais elétrons
livres do que lacunas. Por esse motivo, diz-se que nos cristais dopados com impurezas
pentavalentes os elétrons livres são os portadores majoritários. Sendo os elétrons livres
portadores de carga negativa, os cristais dopados com impurezas pentavalentes são conhecidos
como cristais extrínsecos do tipo N, ou simplesmente, cristais N. Esse tipo de cristais possui
tendência a "doar" os elétrons "em excesso", sendo essa a razão pela qual as impurezas
pentavalentes são chamadas de impurezas doadoras.
Chamando de Nd (“d” de doadora) a concentração de átomos de impurezas doadoras no
cristal, lembrando que essa concentração é, numa dopagem efetiva, muito superior à
concentração intrínseca, e lembrando que cada átomo de impureza adicionado contribui com um
elétron livre para a rede, o número total de elétrons livres será a soma dos elétrons livres gerados
termicamente com os provenientes dos átomos de impureza. Logo: n = ni + Nd ≈ Nd.
10
2
Como visto acima, ni é uma constante. Logo, podemos calcular o número p de lacunas
presentes no cristal:
2 2
p ×n = n ⇒ p = n
2
i
i
= n i
.
n Nd
Conclui-se que os cristais N possuem um número de lacunas inferior ao de um cristal
intrínseco à mesma temperatura. Isso pode ser explicado pelo fato de que, devido à maior
quantidade de elétrons livres disponíveis, a taxa de recombinação de lacunas aumenta,
reduzindo-se assim o seu número.
Si Si Si
+4 +4 +4
Si B Si
+4 +3 +4
Ligação
covalente
incompleta
(“falta” um
elétron no
boro
Si Si Si
+4 +4 +4
Notamos que para cada átomo de impureza trivalente adicionado à rede teremos uma
ligação covalente incompleta (com uma lacuna), "ávida" para receber um elétron que a complete.
A rede fica assim com tendência a "aceitar" elétrons, razão pela qual as impurezas trivalentes são
chamadas de aceitadoras. Nesse tipo de rede, as lacunas são os portadores majoritários, pois
para as lacunas provenientes dos átomos de impureza não há elétrons livres correspondentes.
11
É importante notar a diferença entre uma ligação covalente incompleta e uma ligação
covalente rompida. No primeiro caso, não houve a absorção de energia térmica ou luminosa, que
dê ao elétron energia para passar da banda de valência para a banda de condução e assim se
tornar um elétron livre. Portanto, o único elétron de valência que participa da ligação continua
fortemente ligado ao núcleo, não estando disponível para o transporte de corrente elétrica (em
outras palavras, não é um elétron livre). No caso de uma ligação covalente rompida, ocorre
aplicação de energia, que rompe a ligação e “liberta” os dois elétrons de valência que dela
participavam da influência do núcleo, gerando simultaneamente dois elétrons livres e duas
lacunas.
Sendo as lacunas portadores de carga positiva, os cristais dopados com impurezas
trivalentes são conhecidos como cristais extrínsecos do tipo P, ou simplesmente, cristais P.
Esse tipo de cristal possui tendência a "aceitar" elétrons para suprir as lacunas "em excesso",
sendo essa a razão pela qual as impurezas trivalentes são chamadas de impurezas aceitadoras.
Chamando de Na (“a” de doadora) a concentração de átomos de impurezas aceitadoras
no cristal, lembrando que essa concentração é, numa dopagem efetiva, muito superior à
concentração intrínseca, e lembrando que cada átomo de impureza adicionado contribui com um
elétron livre para a rede, o número total de lacunas será a soma das lacunas geradas
termicamente com as provenientes dos átomos de impureza. Logo: n = ni + Na ≈ Na.
Podemos calcular o número n de elétrons livres presentes no cristal:
2 2
p ×n = n ⇒ n = n
2
i
i
= n
i
.
p Na
Analogamente ao observado em relação aos cristais N, os cristais P possuem um número
de elétrons livres inferior ao de um cristal intrínseco à mesma temperatura. Isso pode ser
explicado pelo fato de que, devido à maior quantidade de lacunas disponíveis, a taxa de
recombinação de elétrons livres aumenta, reduzindo-se assim o seu número.
Caso não seja interrompida por outro motivo, a corrente de difusão continua até que se
alcance uma distribuição homogênea dos portadores ao longo do cristal.
12
A difusão é influenciada pelo chamado coeficiente de difusão (D), expresso em
2
centímetros quadrados por segundo (cm /s). Como ele possui valores diferentes para os
elétrons livres e para as lacunas, definem-se Dn (coeficiente de difusão para os elétrons livres) e
2
Dp (coeficiente de difusão para as lacunas), que valem, para o silício, Dn = 34 cm /s e Dp = 13
2 2 2
cm /s. Para o germânio, os valores são: Dn = 99 cm /s e Dp = 47 cm /s.
Como se pode intuir, a difusão depende da mobilidade µ dos portadores. Essas duas
grandezas estão ligadas pela chamada relação de Einstein:
D = D = k ×T = V
n p
. O termo k é a constante de Boltzmann, já mencionada
T
µ µ
n p
q
anteriormente. A grandeza VT, de grande importância para a compreensão do funcionamento
dos semicondutores, é conhecida como o equivalente térmico da tensão ou tensão
termodinâmica.
• Tanto os cristais P como os cristais N são eletricamente neutros. A carga elétrica das lacunas
ou elétrons livres é anulada pela carga elétrica do "resto" dos átomos a que esses portadores
pertencem.
• Uma concentração relativamente baixa de átomos de impureza (da ordem de partes por
milhão ou mesmo partes por bilhão) altera drasticamente as propriedades elétricas de um
cristal semicondutor.
• À temperatura ambiente, podemos considerar que cada átomo de impureza adicionado a um
cristal semicondutor contribui com um portador de carga.
• Em temperaturas elevadas, o número de portadores termicamente gerados pode se tornar
maior do que os introduzidos por meio de dopagem. Nesse caso, o semicondutor volta a se
comportar como um cristal intrínseco.
• É possível também modificar o tipo de um cristal semicondutor (tornar um cristal P em N ou
intrínseco ou tornar um cristal N em P ou intrínseco) através da injeção de portadores opostos
nesse cristal (impurezas doadoras num cristal P ou impurezas aceitadoras num cristal N).
13
FORMAÇÃO DE UMA JUNÇÃO PN
Injeção de Injeção de
impurezas impurezas
aceitadoras Barra de Cristal Semicondutor doadoras
Intrínseco (puro)
++++
- - ⊕
⊕ ---
+
-- + Íon Positivo
++++ ⊕ + + Íon Negativo
--- --
-+ +-+ + ⊕ +
--- -- + Lacuna
Elétron livre
REGIÃO DE DEPLEÇÃO
Figura 12 - Aspecto do Cristal No Final do Processo
Como se pode notar, existem alguns elétrons livres na região P e algumas lacunas na
região N – são os portadores minoritários de cada lado da junção. Esses portadores minoritários
se originam do rompimento de ligações covalentes, que, como vimos, ocorre sempre que a
temperatura é superior a 0 K. Os portadores majoritários (lacunas na região P e elétrons livres na
região N), por sua vez, se originam da injeção de impurezas e também do rompimento de
ligações covalentes.
14
Com a interrupção da corrente de difusão, temos à esquerda da barra uma região P com
uma concentração uniforme Na de lacunas e, à direita, uma região N com concentração uniforme
Nd de elétrons livres. Em ambos os casos, estamos desprezando a concentração de portadores
termicamente gerados. A região central, em que não existem portadores (tendo, portanto,
características de isolante) é chamada de região de carga espacial, região de transição ou
região de depleção (que é a denominação que adotaremos).
Essa estrutura é denominada de junção PN. Junções PN como a esquematizada acima,
em que ocorre uma drástica variação na concentração de portadores de ambos os lados são
denominadas junções em degrau ou junções abruptas. O potencial interno Vo entre as duas
regiões é denominado potencial de contato ou potencial de barreira. Seu valor pode ser
Na × Nd
calculado pela expressão: V =V O T
× ln 2
.
n i
temos a relação: x n
=
Nd . A largura total W da região de depleção vale:
x p Na
W = xn + xp = 2 ×ε ×V × 1 + 1 , onde é o valor da permissividade (constante
O
q e Nd Na
dielétrica) absoluta do material semicondutor. Para o silício, temos ε = 1,04 × 10-12 F/cm e, para
-12
o germânio, temos ε = 1,42 × 10 F/cm.
Para se ter uma idéia da ordem de grandeza, a largura da região é da ordem de micra,
enquanto que o comprimento total da barra é da ordem de cm (dez mil vezes maior). Logo, a
largura da região de depleção é desprezível em relação ao comprimento total do dispositivo.
Como o campo elétrico é igual à diferença de potencial dividida pela distância, conclui-se que a
sua intensidade no interior da região de depleção é bastante elevada.
15
Diodo Semicondutor
16
Junção PN Reversamente Polarizada - Características e Aplicações
Dizemos que uma junção PN está reversamente (ou inversamente) polarizada quando o
potencial do anodo é menor de que o potencial do catodo, ou seja, o anodo é negativo em relação
ao catodo. A Figura 14 ilustra algumas situações de polarização reversa de uma junção PN.
VR
5V 4V 8V 2V
A ×q ×D ×p p
Iss = e n
, onde A é a área da seção reta da junção, pn é a concentração de
L p
Is' = Is × 2 10
.
17
Essa equação mostra uma das formas como os diodos semicondutores podem ser
utilizados como sensores de temperatura. Nesse tipo de aplicação, os diodos de germânio são
∆Is
preferíveis, pois embora possuam a mesma sensibilidade dos diodos de silício, apresentam
∆θ
um valor de corrente reversa muito mais elevado e, portanto, mais fácil de ser medido com
precisão.
Nos diodos reais, à corrente de saturação reversa se soma uma corrente de fuga
superficial, cujo valor independe da temperatura. A equação acima já leva em conta essa
corrente de fuga.
EXEMPLO NUMÉRICO: No circuito abaixo, utiliza-se um diodo de silício que possui corrente de
saturação reversa igual a 100 nA, a 20 ºC. a) Sabendo que o valor da temperatura é de 35 ºC,
calcular a tensão sobre o diodo. b) Calcular a temperatura em que a tensão sobre o resistor
iguala a tensão sobre o diodo.
R
800
KΩ
Ω
4V
VR
Is ≈ 0
REGIÃO DE DEPLEÇÃO ALARGADA
PELA TENSÃO REVERSA VR
REGIÃO P ⊕ ⊕ REGIÃO N
+ +-+ ⊕ ⊕
⊕ ⊕ - -+--
+++ ⊕ ⊕ - -+- -
-
+++ ⊕ ⊕----
LARGURA ORIGINAL DA REGIÃO DE DEPLEÇÃO
18
Como sabemos, a capacitância de um capacitor plano é inversamente proporcional à
espessura do dielétrico. Como a largura da região de depleção (que faz as vezes de dielétrico)
é proporcional ao módulo da tensão de polarização reversa VR, conclui-se que um diodo
reversamente polarizado pode ser usado como capacitor com capacitância dependente da
tensão. O valor máximo da capacitância de transição será obtido, portanto, sem tensão aplicada
(ou seja, com VR = 0), pois nessa condição a largura da região de depleção será mínima.
Chamando esse valor máximo de capacitância de transição de Co, podemos calculá-lo por meio
da equação:
= CTmáx = A ×
ε ×q × Na × Nd .
2 × V × (Na + Nd )
e
Co
O
(VR) =
Co . O expoente m vale 0,5 para junções abruptas e cerca de 0,33 para
CT m
VR
1+
Vo
junções graduais. O valor da tensão reversa VR deve ser tomado em módulo.
Os diodos fabricados especialmente com a finalidade de servir como capacitores de
capacitância controlada por tensão são conhecidos como varicaps ou varactores (que, na
verdade, são nomes comerciais). O símbolo desses dispositivos é mostrado na Figura 16.
O símbolo deixa bastante claro que o efeito capacitivo é obtido a partir de um diodo e que
a capacitância do dispositivo é variável. A particularidade é que no caso dos varicaps a variação
da capacitância é conseguida através da variação da tensão reversa aplicada, e não da rotação
de um cursor, como ocorre nos capacitores variáveis comuns. Assim, os varicaps possuem
sobre os capacitores variáveis comuns a vantagem de não terem partes móveis, além das
dimensões muito menores. Tais características têm levado os varicaps a substituir os capacitores
variáveis convencionais em circuitos de sintonia de receptores de rádio e televisão.
16 -3
EXEMPLO NUMÉRICO: Um diodo de silício com concentração Na igual a 5 × 10 cm e
13 -3
concentração Nd igual a 8 × 10 cm apresenta capacitância de transição igual a 20 pF quando
submetido a uma tensão reversa de 5 V. Calcular a área da seção reta do corpo desse diodo.
19
Diodos Zener - Estabilização
O valor da corrente de saturação reversa de uma junção PN, como vimos, é muito
pequeno. Entretanto, aumentando-se o módulo da tensão reversa aplicada, chega-se a um
ponto em que a corrente reversa aumenta consideravelmente, atingindo intensidades
comparáveis às das correntes diretas. Ao mesmo tempo, a variação da tensão sobre a junção é
muito pequena. Essa região de operação do diodo, chamada de região de avalanche ou região
de breakdown, é mostrada na Figura 17.
Pequena variação i
de tensão (∆
∆v)
Grande variação
Região de de corrente (∆
∆i)
avalanche
20
Existem diodos fabricados de tal maneira que entram na região de avalanche com valores
relativamente pequenos de tensão reversa (alguns volts a algumas dezenas de volts), a chamada
avalanche controlada. Desse modo, limitando-se a corrente que os percorre, podem operar na
região de avalanche sem que sejam danificados. Esse tipo de diodo é conhecido como diodo
Zener, independente de qual seja o mecanismo físico (efeito Zener ou avalanche) que explique o
comportamento do dispositivo.
Uma das principais aplicações dos diodos Zener é na estabilização de tensão, já que, uma
vez dentro da região de avalanche (que no caso desses diodos é chamada de região de Zener
ou região de regulação), a tensão os terminais do Zener praticamente não varia,
independentemente do valor da corrente (pequena variação de tensão ∆v para uma grande
variação de corrente ∆i). A Figura 18 mostra a simbologia de um diodo Zener.
A tensão reversa necessária para levar o diodo Zener à região de regulação é chamada de
tensão de regulação ou tensão de Zener (VZ). São fabricados diodos Zener com tensões de
regulação na faixa de poucos volts a dezenas de volts. Para um melhor ajuste da tensão que se
deseja regular, é possível utilizar diodos Zener associados em série. Pode-se fazer também
uma associação paralela de diodos Zener, para aumentar a capacidade de corrente. A
associação paralela, no entanto, não é muito freqüente e só será válida caso os diodos Zener
associados possuam o mesmo valor de tensão de regulação.
Como o efeito Zener (que predomina para VZ < 5 V) possui coeficiente térmico negativo (a
tensão de avalanche diminui com o aumento da temperatura) e o efeito avalanche (que
predomina para VZ > 5 V) possui coeficiente térmico positivo (a tensão de avalanche aumenta
com o aumento da temperatura), os diodos Zener com maior estabilidade térmica são os que
possuem tensão de regulação por volta de 6 V, em que os dois efeitos se compensam.
PZ = VZ × IZmáx, onde IZmáx é a máxima corrente reversa que o diodo Zener pode
suportar.
Quando não é possível determinar o valor de IZmín, pode-se utilizar a aproximação prática
= IZ
máx
. Trata-se apenas de uma estimativa prática que costuma funcionar com boa
IZ mín
10
margem de segurança - não é uma lei da Eletrônica.
21
Circuito Básico de Estabilizador de Tensão Utilizando Diodo Zener
Quase sempre é necessário que o valor da tensão contínua que alimenta um dispositivo
qualquer seja mantido praticamente constante. No entanto, existem alguns fatores que
concorrem para a variação desse valor, como a alteração do valor da tensão AC a partir da qual
se obtém a tensão contínua ou a alteração do valor da corrente consumida pelo dispositivo. Para
minimizar essa variação, utilizam-se circuitos chamados de estabilizadores de tensão, cuja
versão básica, empregando o diodo Zener, está esquematizado na Figura 19.
IRS = iZ + IL
RS
+ +
+ vRS iZ
R IL
vi vo = vL = VZ L
Respeitadas certas condições básicas, esse circuito permite obter na saída uma tensão de
cuja variação seja significativamente menor do que as variações no valor da tensão de entrada ou
na resistência de carga. Obviamente, nesse tipo de circuito estabilizador, o valor da tensão de
saída será sempre inferior ao valor mínimo assumido pela tensão de entrada.
Temos, nesse caso, uma corrente de carga IL de valor fixo. O ponto crítico para o
adequado funcionamento do circuito é o correto dimensionamento do resistor limitador RS. Se for
superdimensionado, RS fará com que, nos valores mínimos da tensão de entrada, a corrente no
diodo Zener seja inferior a IZmín, saindo dessa forma da região de regulação. Se RS for
subdimensionado, quando a tensão de entrada atingir seus valores máximos a corrente no diodo
Zener será maior que IZmáx e ele será danificado.
O limite superior de RS (RSmáx) deve ser calculado de modo a garantir que mesmo no
valor mínimo da tensão de entrada a corrente no diodo Zener seja superior (no limite, igual) a
IZmín. O circuito equivalente nessa situação é o mostrado na Figura 20.
22
IRS = iZmín + IL
RSmáx
+ iZmín +
+ vRS
R IL
vimín vo = vL = VZ L
vimin − VZ
IRS = IZmín + IL, VRS = vimín - VZ, RSmáx = VRS / IRS ⇒ RSmáx =
IZmin + IL
O limite inferior (RSmín) deve garantir que a corrente no Zener não ultrapasse IZmáx,
mesmo quando a tensão na entrada atingir seu valor máximo. Aplicando as leis de Kirchoff e de
Ohm ao circuito equivalente nessa situação:
IRS = iZmáx + IL
RSmín
+ iZmáx +
+ vRS
R IL
vimáx vo = vL = VZ L
vimax − VZ
IRS = IZmáx + IL, VRS = vimáx - VZ, RSmín = VRS / IRS ⇒ RSmin =
IZmax + IL
O valor efetivo de RS deve ser escolhido entre os dois limites acima, isto é, de tal forma
que: RSmín < RS < RSmáx . Uma boa escolha é a média aritmética entre os dois limites.
Isso garante uma boa margem de segurança, para o caso dos valores reais não serem
exatamente iguais aos considerados no momento do projeto.
É possível que em alguns projetos os cálculos acima conduzam a um valor de RSmín
superior ao de RSmáx (uma impossibilidade física). Quando isso ocorre, significa que a potência
do diodo Zener empregado é insuficiente para atender aos requisitos do projeto, devendo ser
substituído por outro de maior potência. Ao se atingir o limite de potência do Zener, temos
RSmáx = RSmín.
23
Outras situações em que esse circuito pode ser usado são:
♦ Tensão na entrada constante, mas corrente de carga variável.
♦ Tensão de entrada constante combinada com corrente de carga também variável.
Embora não abordemos diretamente essas situações nesta apostila, os princípios vistos
acima se aplicam a elas de forma análoga.
Exemplo Numérico: Uma carga de resistência igual a 100 Ω e que necessita de uma
corrente de 200 mA é alimentada a partir da tensão cujo gráfico é mostrado abaixo. Projetar um
circuito estabilizador com diodo Zener para fornecer a alimentação adequada para a carga a partir
da tensão disponível. O diodo Zener deve ser o de menor potência possível.
vi (V)
35
25
b) Supondo que o verdadeiro valor da corrente mínima de regulação seja de 2 mA, recalcular o
valor mínimo de potência do diodo.
24
JUNÇÃO PN DIRETAMENTE POLARIZADA
CARACTERÍSTICAS E APLICAÇÕES
1000 V
999 V
Vd
8V 8,7 V
REGIÃO P REGIÃO N
decréscimo exponencial da corrente de lacunas
decréscimo exponencial da corrente injetadas, devido à recombinação
de elétrons livres injetados,
devido à recombinação
25
Como na polarização direta a corrente é composta basicamente de portadores
majoritários, conclui-se que sua intensidade terá valor muito superior ao que se verifica na
polarização reversa. Na prática, valores significativos de corrente (acima de 1% da corrente
máxima suportada pela junção) só se verificam quando a tensão de polarização direta ultrapassa
um determinado valor, que é denominado de tensão de limiar (Vγ). O valor aproximado de Vγ é
de 0,5 V para junções de silício e de 0,2 V para junções de germânio. Essa é, aliás, uma das
vantagens que os diodos de germânio apresentam sobre os de silício (necessitam de menor
tensão direta para o início efetivo da condução de corrente).
A relação entre a tensão de polarização direta vd aplicada a uma junção PN e a corrente
id que a percorre é expressa através da chamada equação característica direta do diodo:
vd
id = Is × e η× V T − 1 .
O fator η é chamado de parâmetro de emissão e tem valor
situado entre 1 e 2. Esse fator varia em função do método de fabricação do diodo. Para diodos
discretos, o valor do parâmetro de emissão está mais próximo de 2, enquanto diodos integrados
em pastilhas possuem valores mais próximos de 1. Experimentos realizados com o diodo de
silício 1N4004 apresentam um valor de parâmetro de emissão igual a 1,984. A ordem de
grandeza da corrente também influi sobre o valor do parâmetro de emissão. Quanto maior o
valor da corrente, mais o valor desse parâmetro se aproxima de 1. Salvo indicação em contrário,
utilizaremos o valor 2 para esse fator.
Representando-se a equação característica do diodo na forma de um gráfico ele terá o
aspecto mostrado na Figura 24.
iD
vD
vγ
Figura 24 – Característica Volt-Ampère de uma Junção PN Diretamente Polarizada
É fácil constatar na curva que a corrente é praticamente zero até que o valor da tensão
direta ultrapassa a tensão de limiar. A partir de então, pequenos incrementos no valor da tensão
aplicada dão origem a grandes incrementos no valor da corrente que percorre o diodo, sendo
bastante fácil atingir valores danosos para o dispositivo, caso não sejam tomadas as devidas
medidas de proteção. O exemplo numérico a seguir demonstrará claramente essa afirmação.
EXEMPLO NUMÉRICO: Calcular o valor da corrente que percorre os diodos de silício em cada
um dos casos abaixo. A corrente de saturação reversa em todos os casos vale 50 nA e a
temperatura vale 27 ºC.
a) b) c)
26
Resistência Dinâmica do Diodo
vd id
id ≅ Is × e η× V T ⇒ v d
≅ η × V T × ln . Lembrando que a resistência
Is
dinâmica (ou resistência incremental) rd é definida como a derivada da tensão em função da
d vd Is × 1 η × VT
corrente, podemos calcular: r d
= = η × VT × ⇒ rd = . No entanto, ao se
d id id Is id
utilizar essa equação não se deve esquecer que, além da resistência dinâmica, o diodo apresenta
também a resistência ôhmica, que pode ter valor superior.
EXEMPLO NUMÉRICO: Calcular o valor da resistência dinâmica do diodo nas três situações do
exemplo anterior.
CD =
τ ×id , sendo τo chamado tempo médio de vida dos portadores, ou seja, o tempo
η× V T
médio decorrido até a recombinação dos portadores majoritários que cruzam a junção.
Dependendo do diodo, a ordem de grandeza de τ varia entre nanossegundos e centenas de
microssegundos.
Ao contrário do que ocorre com a capacitância de transição (na polarização reversa), não
existe uma aplicação prática para a capacitância de difusão, que é sempre considerada
indesejável, de forma que a junção deve ser projetada de tal forma a apresentar um valor mínimo
para essa característica, especialmente quando se objetivam aplicações em alta freqüência.
As capacitâncias de transição (CT) e de difusão (CD) se manifestam tanto na polarização
direta como na polarização reversa. No entanto, na polarização reversa predomina a capacitância
de transição, e podemos desprezar a de difusão. Na polarização direta ocorre justamente o
contrário, e desprezamos a capacitância de transição, considerando apenas a de difusão.
27
Tempo de Recuperação Reversa de um Diodo
Imaginemos que o circuito esquematizado na Figura 25 seja submetido a uma tensão com
o comportamento temporal mostrado no gráfico superior.
vi(t) RL
vi
+V
t1 t
-V
V i
+
RL
-Is
t
i
V
+
RL trr = ts + tt
-Is
t
V
−
RL ts tt
Figura 25 – Circuito Com Diodo e Respectivos Gráficos de Tensão e Corrente
28
Logo após o tempo de acumulação, o número de portadores decai exponencialmente
devido à recombinação. Depois de um intervalo de tempo tt, chamado de tempo de transição,
a corrente finalmente atinge o valor de saturação reversa. O intervalo compreendido entre o
instante da inversão de polaridade e o instante em que a corrente chega ao valor de saturação
reversa é conhecido como tempo de recuperação reversa (trr), e é uma característica de grande
importância para os diodos, especialmente quando utilizados em aplicações de chaveamento, nas
quais podem ocorrer inversões de polaridade num intervalo muito pequeno.
Nos diodos comerciais, a ordem de grandeza do tempo de recuperação reversa varia entre
centenas de milissegundos e centenas de picossegundos.
Como pudemos notar através do exemplo numérico da Página 24, o valor da corrente que
percorre uma junção PN diretamente polarizada aumenta bruscamente com pequenos aumentos
na tensão aplicada. Desse modo, é necessário limitar o valor dessa tensão, para impedir que a
junção seja danificada pelo excesso de potência dissipada. Essa limitação pode ser facilmente
obtida colocando-se uma resistência em série com a junção, como na Figura 26, que mostra um
circuito dado, com propósito apenas ilustrativo, com valores numéricos.
+ vR
R = 100 Ω
+
V = 100 V i vD
diodo seja igual a 50 nA (mesmo valor utilizado no exemplo numérico), podemos calcular a tensão
sobre o diodo correspondente a uma corrente direta de 1 A:
vD i vD i vD v D = ln iD + 1 ⇒
= × 0,052 − 1 ⇒ D = 0,052 − 1 ⇒ D + 1 = 0,052 ⇒
iD e Is e e
Is Is
Is 0,052
⇒ v D = 0,052 × ln i D + 1 ⇒ v D = 0,052 × ln
1 ≅ 0,874V
+ 1
Is 50 × − 9
10
Esse exemplo mostra claramente o efeito protetor da resistência limitadora. Quando não
existirem os dados necessários para a realização dos cálculos, consideraremos que, existindo
alguma resistência em série com uma junção PN diretamente polarizada, o valor aproximado da
tensão sobre ela será igual a 0,7 V.
Uma vez que a tensão sobre uma junção PN reversamente polarizada é relativamente
baixa (centésimos de volts) mesmo para uma corrente relativamente alta (centenas de
miliampères ou até alguns ampères), podemos concluir que, em condições de polarização direta,
uma junção PN se comporta como uma resistência de baixo valor.
29
EXEMPLO: As lâmpadas no circuito abaixo necessitam de uma tensão mínima de 5 V para
apresentar uma luminosidade perceptível, sendo nessa condição percorridas por uma corrente de
10 mA. Determinar quais delas estão acesas e quais estão apagadas e explicar o porquê.
L1 L3
D1 D3
L4 D5
D2
L2 L5
D4
6V
Essa última equação representa uma reta, chamada reta de carga, que relaciona a
tensão e a corrente no diodo. Esse conceito não é exclusivo para o diodo, mas se estende a
qualquer tipo de dispositivo eletrônico, como teremos oportunidade de constatar futuramente.
Como vimos anteriormente, a relação entre a tensão e a corrente num diodo diretamente
polarizado também é representada através da equação característica do diodo. Logo, com essas
duas equações (equação característica diodo e equação da reta de carga), obtém-se um sistema
que permite calcular com exatidão os valores de iD e vD.
Infelizmente, a solução desse sistema não pode ser obtida através de operações
“normais”, sendo necessário o uso de métodos iterativos (tentativa e erro). No entanto, pode-se
obter uma solução gráfica para o problema: basta traçar no mesmo sistema de eixos a reta de
carga e a curva característica do diodo, obtendo-se os valores de iD e vD através da interseção
de ambas.
Para traçar uma reta, basta obter dois quaisquer de seus pontos. Para tanto, vamos
tomar a equação da reta de carga e fazer primeiramente iD = 0 e calcular o valor correspondente
de vD (obtendo assim o 1º ponto) e depois fazer vD = 0 e calcular o valor correspondente de iD
(obtendo assim o 1º ponto):
para iD = 0, tenho vD = V (primeiro ponto)
vD = V - iD × R, ⇒
para vD = 0, tenho iD = V / R (segundo ponto)
Assim, a reta de carga tem o aspecto mostrado no primeiro gráfico da Figura 27. No
gráfico da direita, vemos a reta de carga e a curva característica do diodo traçadas
simultaneamente. O ponto de interseção entre ambas determina os valores efetivos iD e vD da
tensão e da corrente no diodo. Isso é o que chamamos de determinação gráfica do ponto de
operação do diodo.
30
i i
Curva característica
V V
R R
Ponto de interseção
iD
v v
V vD V
Figura 27 – Traçado da Reta de Carga e Determinação do Ponto de Operação de um Diodo
iD
VBR
vD
vγ
Analisando essa curva, concluímos que uma junção PN diretamente polarizada (com
tensão direta superior a Vγ) apresenta baixíssima resistência, enquanto reversamente polarizada
(com tensão reversa inferior a Vbr) apresenta altíssima resistência. É justamente essa
característica que lhe permite ser utilizada como retificadora de tensão.
31
Conceito de Diodo Ideal
Várias das características da junção PN que estudamos até aqui são indesejáveis para
boa parte das aplicações. Embora, obviamente, elas estejam presentes, os procedimentos
envolvidos em um projeto utilizando diodos seriam grandemente facilitados caso tais
características pudesse ser desprezadas. Por esse motivo, introduziu-se um modelo com as
seguintes características para o diodo semicondutor:
• corrente de saturação reversa nula
• resistência reversa infinita
• tensão de avalanche infinita
• capacitâncias de transição e de difusão nulas
• resistência direta nula
• tensão de limiar nula
• comportamento independente da temperatura
Esse modelo, conhecido como diodo ideal, se comportará como uma chave perfeita:
quando diretamente polarizado, equivale a um curto-circuito (chave fechada) e quando
reversamente polarizado, equivale a um circuito aberto (chave aberta), como mostra a Figura 28.
Desde que se obedeçam determinadas condições, esse modelo pode ser utilizado sem
que se incorra em erro significativo. Isso é possível quando:
♦ As resistências no circuito estão bem acima da resistência direta do diodo e bem abaixo de
sua resistência reversa (500 Ω < R < 10 KΩ).
♦ A tensão direta aplicada ao circuito é bem superior à tensão de limiar (Vd >> Vγ).
♦ A tensão reversa aplicada ao circuito é inferior à tensão de limiar do diodo (Vr < Vbr).
Vários são os circuitos em as condições acima são satisfeitas, permitindo considerar o(s)
diodo(s) neles utilizado(s) como ideal(ais). Deste ponto em diante, consideraremos todos os
diodos utilizados em nossos circuitos como ideais, a menos que sejam expressamente declarados
como reais.
32
RETIFICAÇÃO
A forma mais comum em que se obtém energia elétrica é a alternada senoidal na forma
v(t) = Vmáx sen(ωt + ∅). Apesar disto, boa parte dos aparelhos e dispositivos eletrônicos requer
tensão contínua para o seu correto funcionamento. Por esse motivo, muitas vezes é necessário
que se obtenha tensão (e/ou corrente) contínua a partir de tensão (e/ou corrente) alternada. A
este processo chamamos retificação. Os circuitos que realizam esse processo chamam-se
retificadores. Há, basicamente, dois tipos de retificadores: os retificadores de meia-onda
(RMO) e os retificadores de onda completa (ROC).
Nas análises de circuitos que faremos a seguir usaremos o modelo ideal para os diodos.
Retificadores de Meia-Onda
São aqueles que realizam a retificação bloqueando a circulação da corrente pela
resistência de carga durante um dos semiciclos. O circuito básico de um RMO utilizando diodo
semicondutor é apresentado na Figura 29.
D
R
vi
L vo
(alternado)
vi
R vo = vi
L
D
vD = vi
R vo = 0
vi i=0
L
+ +
33
Supondo de o sinal de entrada vi seja senoidal , ou seja, vi(t) = Vmáx sen(ωt + ∅ ),
teremos no circuito as formas de onda mostradas na Figura 32.
vi
+Vimáx
0 t
-Vimáx
vD
0 t
-Vimáx
vo
-Vimáx
Como podemos notar através do gráfico de vo, a tensão na saída possui uma única
polaridade, sendo, portanto, uma tensão contínua. Como a tensão de entrada é alternada,
ocorreu, de fato, uma retificação.
O valor médio DC (voDC) e o valor eficaz da tensão de saída podem ser calculados
através das fórmulas abaixo (válidas apenas para entradas senoidais):
Vimax Vimax
voDC = voef
=
π 2
Dimensionamento do Diodo
Vdc Vimax
I = = , logo, deve ser escolhido um diodo que suporte
DC
RL π × RL
continuamente esse valor de corrente. O valor de pico da corrente será:
Vimax
I max
= , e o diodo escolhido deverá ser capaz de suportar
RL
periodicamente picos de corrente com esse valor. O último dado de importância para a escolha
do diodo adequado ao projeto é a tensão de pico inverso (TPI), que é o máximo valor de tensão
reversa a que ele ficará submetido. Através dos gráficos acima podemos constatar que para o
retificador em questão teremos:
TPI = Vimáx , e devemos escolher um diodo com tensão de avalanche com
valor superior (VBR > Vimáx).
34
Retificadores de Onda Completa
São aqueles que realizam a retificação invertendo o sentido da corrente na resistência de
carga em um dos semiciclos. Possuem sobre os RMOs a grande vantagem de aproveitar quase
toda a energia fornecida à sua entrada, com a desvantagem de necessitarem de circuitos mais
complexos. Existem dois circuitos básicos para o ROC: o que utiliza transformador com
tomada central (ROCT) e o retificador em ponte (ROCP).
Esse circuito necessita de um transformador cujo secundário possua uma tomada central
(“center tap”) que divida a tensão AC na entrada do retificador em duas partes iguais. Seu
diagrama está esquematizado na Figura 33.
D1
RL
vi' (tensão vo
efetiva de
vi entrada)
(alternado)
vi'
D2
TRAFO
+ D1 (diretamente polarizado)
+ + +
+
vi' RL vo = vi’
vi IL
+
vi'
vD2 = 2 × vi’
+
D2 (reversamente polarizado)
35
Nos semiciclos negativos, invertem-se as polarizações dos diodos e o novo circuito
equivalente será o mostrado na Figura 35.
D1 (reversamente polarizado)
+
+
vD1 = 2 × vi’
vi' RL vo = vi’
vi +
IL
vi'
+ + +
+ D2 (diretamente polarizado)
Figura 35 – Circuito Equivalente do ROCT nos Semiciclos Negativos
0 t
-Vi’máx
vD1
t
-Vi’máx
vD2
+Vi’máx
t
vRL
+Vi’máx
t
Figura 36 – Formas de Onda das Várias Tensões num ROCT
36
Como a tensão efetiva de entrada é senoidal, valem as relações:
2 × Vi' max Vi' max
vo DC
= vo ef
= .
π 2
Escrevendo a equação LKT para o secundário do transformador (semiciclo positivo):
+vi’ – vD1 – v D2 + vi’ = 0. Como v D1 = 0 (diodo diretamente polarizado nesse semiciclo), temos:
v D2 = 2 × vi’. Conclui-se que o diodo reversamente polarizado fica submetido a uma tensão igual
ao dobro da tensão efetiva de entrada. Esse fato deve ser levado em conta ao se dimensionar
os diodos de um ROCT.
Retificador em Ponte
D1
D4 D4 D1
vi
vi RL
D3 D2
R vo vo
L
D3 D2
+ D1
+
D4
D4 D1
vi
+ vi RL
IL D3 D2
+
R vo = vi vo = vi
L
D3 D2
IL
D1 IL
IL D4
D4 D1
vi
+ vi RL
D3 D2 +
+ R vo = vi vo = vi
L
D3 D2
+
Figura 39 – Circuito Equivalente do ROCP nos Semiciclos Negativos
Como podemos ver, em ambos os semiciclos a tensão na saída tem a mesma polaridade,
mostrando que o circuito é realmente um retificador. Para o caso de uma entrada senoidal, as
formas de onda são semelhantes às observadas no ROCT. A diferença é que os diodos
reversamente polarizados ficam submetidos a uma tensão igual a vi (em vez de 2 vi’). Logo,
para um mesmo valor de tensão de saída, o ROCP utiliza diodos menos robustos (e portanto
mais baratos) do que os exigidos por um ROCT com mesmo valor de tensão de saída. Em
compensação, necessita de quatro diodos, ao invés dos dois requeridos pelo ROCT.
Para o caso de tensão de entrada senoidal vi(t) = vimáx sen(ωt + ∅), temos as relações:
2 × Vimax Vimax
vo DC
= vo ef
=
π 2
• Os circuitos retificadores que estudamos até aqui são os tipos “clássicos”. Existem outros
circuitos utilizando diodos que realizam a retificação. O método para a análise desses circuitos
é o mesmo: verifica-se a polarização do(s) diodo(s) nos semiciclos positivo e negativo do sinal
alternado de entrada, determina-se o circuito equivalente em cada caso e se obtém o sinal de
saída. Caso o sinal de saída seja contínuo (uma única polaridade), o circuito é retificador.
Caso o sinal de saída seja alternado ou zero, o circuito não é retificador.
38
EXEMPLO: Dados os circuitos abaixo, cujos diodos são ideais, analisar o seu funcionamento
determinando o circuito equivalente para cada polaridade do sinal de entrada, que é o mesmo
para ambos os circuitos. Esboçar o gráfico do sinal de saída para cada um deles. Determinar
se os circuitos são ou não retificadores. Cada divisão vertical dos gráficos equivale a 3 V.
vi
R1 15 Ω
R2
10
Ω t
vi vo1
R3
5
Ω
vo1
t
R1 15 Ω
R2
10
Ω
vo2
vi vo2
R3
5
Ω
t
39
FILTRAGEM
Como pudemos notar em nosso estudo sobre retificadores, a tensão sobre a resistência
de carga, apesar de contínua, não é constante, isto é, não se trata de uma tensão contínua “pura”
- juntamente com a componente DC (voDC) existem componentes alternadas “misturadas”. É
possível demonstrar que essas componentes alternadas são uma soma de senóides, com
freqüências que são múltiplos inteiros da freqüência da rede. Quanto maior a freqüência da
componente, menor a sua amplitude. O valor eficaz dessa soma de componentes alternadas é
chamada de tensão de ondulação ou tensão de ripple (Vr).
A relação entre a tensão de ripple e a tensão DC na saída de um retificador é chamada de
fator de ondulação ou fator de ripple ( r ), sendo calculado através da fórmula:
Vr
r=
vo DC
O fator de ripple permite avaliar a qualidade de um retificador. Quanto menor seu valor,
melhor o retificador. Como geralmente é difícil determinar o valor de Vr, é mais comum calcular o
fator de ripple utilizando a fórmula:
2
vo ef
r= −1
vo DC
O fator de ripple é geralmente dado na forma de porcentagem.
40
Retificador de Meia-Onda com Filtro Capacitivo
D
C
vi R
(senoidal) L vo
Como a Figura 42 ilustra, à medida em que a tensão na entrada começa a subir, o diodo
fica diretamente polarizado. O diodo se comporta como um curto circuito e a tensão no capacitor
será igual à tensão de entrada vi. Essa situação perdura até que se atinja o valor de pico do
semiciclo positivo, quando o valor da tensão no capacitor passa a ser igual a vimáx.
carga do capacitor até
+Vimáx atingir vimáx
D
C
R vo = vc = vi
0 t vi (valor L
crescente)
-Vimáx
Nesse instante, o valor da tensão de entrada começa a decrescer, o que leva o diodo a
ficar reversamente polarizado ainda no semiciclo positivo de vi. Isso ocorre porque a tensão no
anodo, embora ainda positiva, é menor do que a tensão no anodo. Assim, o diodo passa a se
comportar como um circuito aberto e o capacitor passa a se descarregar sobre a resistência de
carga RL. A Figura 43 ilustra essa situação.
descarga do capacitor até
+Vimáx que vc seja menor do que vi
D
C
t R vo = vc = vi
0 vi (valor L
decrescente)
-Vimáx
41
Esse processo de descarga continua durante o restante do semiciclo positivo e durante
todo o semiciclo negativo, só se interrompendo no próximo semiciclo positivo, no momento em
que a tensão na entrada do retificador volte a ser superior à tensão sobre o capacitor. A partir
desse ponto, o diodo volta a ficar diretamente polarizado, permitindo uma nova carga do capacitor
e recomeçando o ciclo. A forma de onda sobre a carga é conhecida como dente-de-serra. Na
Figura 44 a forma de onda mais clara é uma dente-de-serra.
+Vimáx
0 t
-Vimáx
Quanto maior a constante de tempo de descarga do capacitor (τD = RL . C), menor será a
variação de tensão sobre a carga e menor o fator de ripple. A Figura 45 ilustra esse efeito.
vo
Constante de tempo τ1 (maior)
Variação da tensão
na saída com o uso Variação da tensão
da constante τ1 na saída com o uso
da constante τ2
A análise para os ROC é inteiramente similar, com a diferença de que o fator de ripple é
ainda menor, já que nesse caso o capacitor fica menos tempo se descarregando. Os valores da
tensão DC na saída e do fator de ondulação quando se usa um filtro capacitivo e entrada senoidal
vi(t) = vimáx sen(ωt + ∅) podem ser calculados com as fórmulas abaixo.
Para o RMO:
I r=
1
voDC = vimax − 2×f ×C
DC
2 × 3 × RL × f × C
Para o ROC:
I 1
voDC = vimax − 4×f ×C
DC
r=
4 × 3 × RL × f × C
42
Em ambos os casos (RMO e ROC), no período em que o(s) diodo(s) está(ão) conduzindo
o circuito fica sujeito a picos de corrente Ip, cujo valor pode ser calculado através da fórmula:
Ip = vi max
× (2 × π × f × C ) +
2 1
RL
Nas fórmulas acima, temos:
Exemplo Numérico: Uma resistência de carga de 100 Ω necessita de uma corrente contínua
e constante de 200 mA, com um fator de ripple máximo de 10% para o seu correto
funcionamento. Sabendo que está disponível uma tensão senoidal de 220 V / 60 HZ, projetar e
desenhar o diagrama de um retificador em ponte com filtro capacitivo para a alimentação dessa
carga. Fazer o correto dimensionamento dos componentes.
43
OUTROS CIRCUITOS UTILIZANDO DIODOS
Circuitos Limitadores
D
vi vo
VREF
Usando o modelo ideal para o diodo e supondo uma tensão de entrada alternada e que
possua valores de pico superiores a VREF, constata-se que, nos semiciclos positivos do sinal de
entrada, o diodo D estará diretamente polarizado (e, portanto, comportando-se como um curto-
circuito) apenas enquanto o valor instantâneo do sinal de entrada for superior a VREF. Nessa
situação, o circuito equivalente tem o diagrama mostrado na Figura 47.
+ R +
D
vi vo = VREF
VREF
44
Em qualquer outra situação, o diodo estará reversamente polarizado, comportando-se
como um circuito aberto. Assim, temos o circuito equivalente mostrado na Figura 48.
D
vi vo = vi
VREF
vi
+Vimáx
VREF
0
t
-Vimáx
vo
VREF
0
t
-Vimáx
Note-se que a análise feita acima é totalmente independente da forma de onda do sinal de
entrada. A única informação importante para a análise do circuito é a relação entre o valor de
pico do sinal de entrada e o valor da tensão de referência, pois esse é o fator determinante da
condição de polarização do diodo durante a operação do circuito.
45
Podemos ter também circuitos limitadores com duas tensões de referência, como o
mostrado no diagrama da Figura 50.
D1 D2
vi vo
VREF2
VREF1
Para o correto funcionamento desse circuito é necessário que o sinal de entrada seja
alternado e que possua valor de pico máximo superior à tensão de referência positivo e valor de
pico mínimo inferior à referência negativa. Satisfeitas essas condições, deve-se dividir a análise
do circuito em três etapas. Lembrando que durante os semiciclos positivos do sinal de entrada o
diodo D2 estará reversamente polarizado (independente do valor de vi), constata-se que o diodo
D1 só estará diretamente polarizado enquanto o valor da tensão de entrada for superior ao da
tensão de referência positiva VREF1. Nessa situação, o circuito equivalente tem o diagrama
mostrado na Figura 51.
+ R +
D1 D2
vi vo = VREF1
VREF2
VREF1
D1 D2
vi vo = VREF2
VREF2
VREF1
+ +
Figura 52 – Circuito Equivalente nos Semiciclos Negativos para vi < VREF2
D1 D2
vi vo = vi
VREF2
VREF1
Feita essa análise, podemos ver na Figura 53 os gráficos dos sinais de entrada e saída
para um circuito desse tipo, supondo que o sinal de entrada seja uma senóide que atenda às
condições para o correto funcionamento do circuito. As áreas hachuradas dos semiciclos
positivos correspondem aos intervalos em que o diodo D1 está diretamente polarizado, enquanto
as dos semiciclos negativos correspondem aos intervalos de polarização direta de D2. O gráfico
do sinal de saída permite ver os “cortes” nas alturas de VREF1 e de VREF2.
vi
+Vimáx
VREF1
0 t
VREF2
-Vimáx
vo
VREF1
0 t
VREF2
DZ1
vi vo vi vo
DZ
DZ2
EXEMPLO NUMÉRICO: Dado o circuito abaixo e o gráfico do seu sinal de entrada, traçar o
gráfico do sinal de saída correspondente. Cada divisão vertical dos gráficos equivale a 3 V.
R 1KΩ
Ω
D1 D2
vi vo
6V DZ1
12 V
vi
t
0
vo
t
0
48
Circuitos Grampeadores
São circuitos que apresentam em sua saída um sinal correspondente ao sinal de entrada
somado algebricamente a um determinado nível DC. Por esse motivo, os circuitos
grampeadores também são conhecidos como circuitos deslocadores de nível. Da mesma
forma como os circuitos limitadores, os grampeadores também utilizam uma fonte de tensão de
referência. A Figura 55 mostra o diagrama de um circuito grampeador.
C
D
vi vo
VREF
vC
+
D vD = 0
vi + vo = VREF
+
corrente de carga VREF
do capacitor
+
Figura 56 – Circuito Equivalente no Início do 1º Semiciclo Negativo
49
C
+
vC = Vmáx + VREF D vD = 0
vi = Vmáx + vo = VREF
+
VREF
+
Figura 57 – Situação do Circuito ao Se atingir o Pico do 1º Semiciclo Negativo
+
Figura 58 – Circuito Equivalente no Estado Permanente (Semiciclos Negativos e Positivos)
As duas equações acima mostram que, no estado permanente, o circuito produz um sinal
de saída que é a soma algébrica do sinal de entrada com uma tensão constante, confirmando que
os grampeadores atuam como deslocadores de nível DC. A Figura 59 mostra os gráficos dos
sinais de entrada e saída de um circuito grampeador como o da Figura 55. Para facilitar a
visualização da característica de deslocamento de nível DC, atribui-se o valor de 2 V para a
tensão de referência e de 3 V para o valor de pico do sinal senoidal de entrada.
50
+5 V
vi
(+Vmáx)
+2 V
(VREF)
0 t
-5 V
(-Vmáx)
vo
+12 V
(2Vmáx + VREF)
∆v
+5 V
(+Vmáx)
+2 V
(VREF)
0 t
-5 V
(-Vmáx)
Figura 59 – Formas de Onda de Entrada e Saída de um Circuito Grampeador
51
va
+5V
0 t
-2V
vb
+2V
0 t
-5V
São circuitos que apresentam em sua saída uma tensão contínua e (idealmente) constante
com valor igual a n vezes o valor de pico do sinal de entrada. São utilizados para a alimentação
de cargas que necessitam de elevadas tensões mas que consomem pouca corrente. Um
exemplo típico de carga com essas características é o cinescópio (“tubo de imagem”) de
monitores e receptores de TV. Apesar de largamente aceita e utilizada, a denominação dada a
esses circuitos não é correta, pois diferente do que o nome sugere, eles não produzem em sua
saída um sinal vo = n × vi, mas sim Vo = n × Vimáx, ou seja, enquanto o sinal de entrada de
um multiplicador de tensão é um sinal variável, sua saída é uma tensão (idealmente) constante.
O nome mais apropriado seria circuito somador de picos.
Vamos considerar inicialmente o caso particular de n = 2 (os chamados dobradores de
tensão) e faremos em seguida a generalização para qualquer valor inteiro de n.
vo = Vimáx + |Vimín| C1
C2
C2 vo
D2
0 t
-Vmáx
vo
2 Vmáx
Vmáx
0 t
Figura 61 – Tensões de Entrada e Saída de um Dobrador de Onda Completa
53
A área hachurada mostra o intervalo de tempo necessário para que a tensão de saída
atinja o seu valor final. Esse intervalo, para o caso de um sinal senoidal, é de três quartos de um
período, sendo essa a razão pela qual o circuito é chamado de dobrador de onda completa.
C1
vi D1 D2
C2
vo = Vimáx + |Vimín|
Como se pode observar, o circuito é formado por duas combinações entre um diodo e um
capacitor. A cada uma dessas combinações daremos o nome de seção. A seção formada pelo
diodo D1 e pelo capacitor C1 é o que chamamos de uma “seção negativa”, pois o diodo só
poderá conduzir (e, consequentemente, o capacitor só poderá ser carregado) durante um
semiciclo negativo da tensão de entrada. A seção constituída por D2 e C2, por sua vez, é uma
“seção positiva”, pois a condução do diodo e a carga do capacitor ocorrerão durante um semiciclo
positivo da tensão de entrada.
Para a análise do comportamento do circuito, iremos supor, como de costume, um sinal de
entrada senoidal, os capacitores inicialmente descarregados e o início da análise a partir do início
do primeiro semiciclo negativo da tensão de entrada. O circuito equivalente na condição inicial é
o mostrado na Figura 63.
vC1 = vi
+
C1
vi D1 D2
C2
vo = 0
54
vC1 = Vimáx
+
C1
vi D1 D2
C2
vo = 0
vC1 = Vimáx
+ +
C1
vi D1 D2
C2
+
+
vo = Vimáx + vi
+
Figura 65 – Situação do Dobrador de Tensão de Meia-Onda Até o Pico do Semiciclo Positivo
55
vi
+Vmáx
0 t
-Vmáx
vo
2 Vmáx
Vmáx
0 t
Figura 66 – Tensões de Entrada e Saída de um Dobrador de Meia-Onda
A área hachurada mostra o intervalo de tempo necessário para que a tensão de saída
atinja o seu valor final. Esse intervalo, para o caso de um sinal senoidal, é de metade de um
período, sendo essa a razão pela qual o circuito é chamado de dobrador de meia-onda.
Os dobradores de onda completa possuem sobre os de meia-onda a vantagem de que a
tensão de saída é obtida sobre dois capacitores em série. Dessa forma, cada um deles precisa
suportar apenas metade da tensão total, o que possibilita utilizar capacitores com menor valor de
tensão de trabalho, o que significa componentes menores e mais baratos.
Os dobradores de meia-onda, no entanto, possuem diversas vantagens em relação aos de
onda completa:
• O fato de que a tensão de saída é obtida sobre um único capacitor significa constantes de
tempo maiores quando uma resistência de carga é conectada à saída do circuito. Logo,
nessa situação, o desempenho de um dobrador de meia-onda será mais próximo do ideal do
que o de um dobrador de onda completa.
• Os dobradores de meia-onda possuem um ponto de referência (“terra”) comum entre os sinais
de entrada e saída, o que não ocorre com os dobradores de onda completa.
• Como veremos a seguir, é bastante simples modificar um dobrador de meia-onda de forma a
obter circuitos multiplicadores de tensão.
+ +
vC2 = 2
Vimáx
Figura 67 – Adição de uma Seção “Negativa” a Um Dobrador de Tensão de Meia-Onda
57
Em termos práticos, a implementação de um circuito multiplicador de tensão requer o uso
de capacitores de alta qualidade, com baixo valor de corrente de fuga. O desempenho desse
tipo de circuito cai drasticamente em função da corrente que lhe seja exigida, pois a presença de
uma resistência de carga provê um caminho para descarga dos capacitores, o que causa a
redução do valor da tensão neles armazenada.
A queda de tensão ∆V causada pela drenagem de uma corrente I na saída de um
multiplicador por n formado por capacitores de capacitância C e alimentado por uma tensão
periódica de freqüência f pode ser calculada de forma aproximada através da equação:
I 2 3 1 2 1
∆V = × n + n − n .
f ×C 3 2 6
EXEMPLO NUMÉRICO: Um quintuplicador de tensão é utilizado para alimentar uma resistência
de carga de 47 KΩ a partir de uma tensão de entrada vi(t) = 50 sen 500 t. Os capacitores
utilizados no circuito são iguais e sua capacitância vale 100 nF. Calcular o valor aproximado da
tensão sobre a carga.
58
O significado dos termos mais comuns utilizados nessas folhas de especificação é dado a
seguir. Note-se que a terminologia pode variar de um fabricante para outro.
VRRM (maximum repetitive reverse voltage = máxima tensão reversa repetitiva) → É o máximo
valor de tensão reversa que o diodo pode suportar na forma de pulsos periódicos.
VR ou VDC ou VBR (maximum DC reverse voltage = máxima tensão reversa contínua) → É o
máximo valor de tensão reversa que o diodo pode suportar em modo contínuo.
VF (maximum forward voltage = máxima tensão direta) → É o valor máximo de tensão direta
suportado pelo diodo, relacionado com a potência máxima que ele pode dissipar.
IF(AV) (maximum average forward current = máxima corrente direta média) → É o valor máximo
de corrente média que o diodo é capaz de suportar na polarização direta. Trata-se
fundamentalmente de uma limitação de ordem térmica, ou seja, está ligada à quantidade de calor
que a junção é capaz de dissipar.
IFSM ou if(surge) (maximum peak or surge forward current = máximo valor de pico ou de surto de
corrente direta) → É o valor máximo de corrente que o diodo é capaz de conduzir quando
diretamente polarizado. Da mesma forma como o anterior, este parâmetro é limitado pela
capacidade térmica da junção.
PD (maximum total dissipation = máxima dissipação total) → É a quantidade de potência que o
diodo é capaz de dissipar, seja ela obtida pelo produto entre a corrente no diodo e a queda d
tensão sobre ele, ou obtida pelo produto entre o quadrado da corrente no diodo e a resistência
ôhmica do corpo do diodo.
TJ (operating junction temperature = temperatura de operação da junção) → É o máximo valor
permitido de temperatura para a junção.
TSTG (storage temperature range = faixa de temperatura de armazenamento) → É a faixa
permitida de temperaturas na qual um diodo pode ser estocado. Freqüentemente,TJ e TSTG
possuem valores iguais.
R(Θ) (thermal resistance = resistência térmica) → Pode ser calculada de duas formas
diferentes: a diferença entre temperatura da junção e a temperatura ambiente dividida pela
potência dissipada (nesse caso é denominada como R(Θ)JA), ou a diferença entre temperatura
da junção e a temperatura dos terminais do diodo dividida pela potência dissipada (nesse caso é
o
denominada como R(Θ)JL). A unidade desse parâmetro é graus Celsius por watt ( C/W).
Quanto menor o valor da resistência térmica, melhor o desempenho do diodo. Um valor zero para
esse parâmetro seria o ideal, pois significaria que o encapsulamento do diodo seria um perfeito
dissipador de calor. Um alto valor de resistência térmica significa que o diodo sofrerá uma
grande elevação de temperatura na junção, o que limita sua máxima dissipação de potência.
IR (maximum reverse current = máxima corrente reversa) → É o valor de corrente reversa quando
o diodo está submetido à máxima tensão reversa contínua (VBR). Note-se que essa corrente não
é constituída simplesmente pela corrente de saturação reversa IS, mas inclui a corrente que
passa pelo corpo do diodo. Por isso, essa corrente é às vezes chamada de corrente de fuga.
CJ (typical junction capacitance = capacitância típica de junção) → É o valor típico da capacitância
de transição.
trr (reverse recovery time = tempo de recuperação reversa) → É o tempo necessário para que o
diodo “abra” quando a tensão sobre ele passa da polarização direta para a polarização reversa.
Visto que a maior parte desses parâmetros tem valor dependente da temperatura, é
comum que os fabricantes forneçam tabelas com os valores em uma determinada temperatura de
referência (normalmente 25 ºC) e disponibilizem gráficos mostrando a variação desses
parâmetros em função da temperatura.
59
TRANSISTOR BIPOLAR DE JUNÇÃO
Considere uma barra de cristal semicondutor do tipo P, em cuja região central se faça uma
dopagem que leve essa região a se tornar do tipo N (ou seja, injetam-se impurezas pentavalentes
até que o número de elétrons nessa região se torne superior ao de lacunas), como representado
na Figura 69, à esquerda. Ao final do processo, a barra terá o aspecto representado no lado
direito da figura.
INJEÇÂO DE IMPUREZAS
PENTAVALENTES 1ª junção PN 2ª junção PN
NA REGIÃO CENTRAL
+ + + + + + + ++ + + + + + +- - + ++ + + +
- - - - - - +-+ +
+ + + + + +-+ + ++ + + + + - - - - ++
-+ +- + + -+ ++ -+ +-++ -+ +-++ + - - - -++ -+ +
Figura 69 – Diagrama Simplificado da Fabricação de um Transistor Bipolar de Junção
O dispositivo assim formado possui, como mostra a figura, três regiões distintas e duas
junções PN, uma vez que a região central passou a ser do tipo N devido à dopagem realizada.
Colocando-se terminais nas três regiões distintas para permitir ligações externas, obtém-
se o dispositivo conhecido como transistor bipolar de junção. Esse dispositivo é chamado de
bipolar porque, como veremos adiante, a sua corrente é composta pelos dois tipos de portadores
de carga (os elétrons livres e as lacunas). Existem vários tipos de transistores, mas como o
transistor bipolar de junção é o mais comum de todos, daqui para a frente iremos denominá-lo
simplesmente como transistor.
No caso do exemplo acima, obteve-se o transistor do tipo PNP, como fica evidente através
da estrutura do dispositivo. Uma das regiões P é chamada de coletor (C), a outra região P é
chamada de emissor (E) e a região N, no centro, é chamada de base (B). Analogamente, seria
possível submeter uma barra do tipo N a uma injeção de impurezas trivalentes em sua região
central, obtendo-se um transistor do tipo NPN. A estrutura interna e a simbologia desses dois
tipos de transistores estão representadas na Figura 70.
60
Notar que a única diferença entre a simbologia do transistor PNP e a do transistor NPN
consiste no sentido da seta que representa o emissor. Um transistor é, portanto, constituído por
duas junções PN: a junção base-coletor e a junção base-emissor. Cada uma dessas junções
possui as características elétricas já explanadas no estudo sobre os diodos semicondutores.
A representação da estrutura interna de um transistor mostrada na Figura 70 dá a
impressão de que as regiões de coletor e emissor são absolutamente idênticas e que, portanto,
seria possível inverter os papéis desses terminais (utilizar o emissor como coletor, e vice-versa).
Essa representação, no entanto, não corresponde à realidade. Na prática, as técnicas industriais
empregadas na fabricação de transistores fazem que essas regiões sejam diferentes, tanto em
termos de nível de dopagem como em termos de geometria. A Figura 71 mostra algumas das
tecnologias utilizadas na fabricação de transistores.
7 B
25 µ
5µ
3 mm B
25 µ 0,3 mm
C
3 mm
E
Figura 71 – Algumas Tecnologias de Fabricação de Transistores
Como o transistor possui duas junções PN e três terminais, existem quatro formas
possíveis de polarizá-lo. Cada uma dessas formas de polarização determina características
peculiares de funcionamento para o dispositivo, as quais chamamos de regiões de operação do
transistor. Passaremos a descrever essas regiões de operação, mostrando a maneira de
polarizar o transistor para fazê-lo operar na região desejada.
Os exemplos mostrados são para transistores NPN. Para obter a polarização
correspondente para um transistor PNP, basta inverter as polaridades das tensões e os sentidos
das correntes.
61
C E
N P N
IC B IE
B) Ambas as junções reversamente polarizadas: Nesse caso, as junções serão percorridas por
correntes de valor desprezível (ordem de nA, à temperatura ambiente, para transistores de
silício). Trata-se da corrente de saturação reversa das junções. Por outro lado, o valor da tensão
entre os terminais pode ser bem maior do que no caso anterior, sendo necessário apenas o
cuidado de não se atingir a tensão de avalanche das junções. Nessas condições, representadas
na Figura 73, o transistor está na região de operação chamada de região de corte.
C E
N P N
IC ≈ 0 B IE ≈ 0
VCB VCE
A região de corte se caracteriza por uma circulação praticamente nula de corrente pelo
transistor, enquanto que a queda de tensão sobre ele será praticamente igual à tensão externa
aplicada ao circuito. Por esse motivo, um transistor na região de corte se comporta como uma
chave aberta.
A principal utilização do transistor nas regiões de saturação e corte é, portanto, como uma
chave liga/desliga eletrônica. É óbvio que um circuito em que o transistor esteja
permanentemente na região de saturação ou permanentemente na região de corte não teria
nenhuma utilidade. Os circuitos de aplicação devem ser tais que façam o transistor passar da
saturação para o corte (ou vice-versa) quando for conveniente. Uma aplicação que possui tal
característica são os circuitos integrados digitais, dos quais a família lógica TTL é um exemplo.
C) Uma das junções reversamente polarizada e a outra diretamente polarizada: Nessas condições,
representadas na Figura 74, o transistor está na região de operação conhecida como região
ativa ou região linear. Quando a junção diretamente polarizada é a base-emissor, a região de
operação é chamada de ativa direta. Quando a junção diretamente polarizada é a base-coletor,
a região de operação é chamada de ativa reversa. Devido às características construtivas do
transistor, não há sentido prático em polarizá-lo na região ativa reversa. Logo, estudaremos
exclusivamente para o comportamento do transistor quando polarizado na região ativa direta
(junção base-emissor diretamente polarizada e junção base-coletor reversamente polarizada), à
qual nos referiremos simplesmente como “região ativa”. As características de funcionamento de
um transistor nessa região são tão peculiares que as estudaremos com mais detalhes no item
seguinte. A principal aplicação de um transistor polarizado na região ativa é a amplificação.
62
C E C E
N P N N P N
IB IE IB IE
IC B IC B
Figura 74 – Transistor NPN Polarizado nas Regiões Ativa Direta e Ativa Reversa
5
6
1 4
3
2
VBE VCB
IB (corrente de base)
Lembrando que a corrente de emissor é formada soma dos deslocamentos dos portadores
majoritários provenientes de ambos os lados da junção base-emissor, podemos definir a
eficiência de emissor λ como a fração da corrente de emissor devida exclusivamente aos
portadores majoritários provenientes da região de emissor. Assim, temos:
= IE
emissor
= 1 − IEbase , onde IEemissor e IEbase representam, respectivamente, as
λ
IE IE
parcelas da corrente de emissor devidas aos portadores majoritários de emissor e de base.
Sendo a região de emissor muito mais dopada do que a de base, conclui-se que a eficiência de
64
emissor será um número bastante próximo à unidade. Em termos construtivos, a eficiência de
emissor pode ser calculada pela equação (válida para transistores NPN):
Dp × WB × Na
λ =1 − , onde Dp e Dn são os respectivos coeficientes de difusão
Dn × Ln × Nd
de lacunas e elétrons livres, Na e Nd são respectivamente as concentrações de lacunas na base
e de elétrons livres no emissor, WB é a largura da região de base e Ln é o comprimento de
difusão dos elétrons livres. Essa equação mostra que a diminuição da largura da região de base
e o aumento da concentração de portadores na região de emissor colaboram para o aumento da
eficiência. Para o caso de um transistor PNP, devem-se inverter na equação os índices
referentes a elétrons livres e lacunas.
Outro parâmetro construtivo importante de um transistor é o chamado fator de transporte
de base B, que pode ser interpretado como a probabilidade de que um portador injetado na
região de base a partir da região de emissor alcance a região de coletor. Desprezando-se a
parcela da corrente de coletor devida à corrente de saturação reversa da junção base-coletor,
vale a relação:
IC = B× IE emissor
. O fator de transporte de base pode ser calculado através das equações:
2 2
B = 1 − WB 2
(transistores NPN) e B = 1 − WB 2
(transistores PNP).
2 × Ln 2 × Lp
io
ii
vi vo
TRAFO
Impedância de Saída (Zo) → relação entre a tensão de saída e a corrente de saída, ou seja:
vo
Zo = .
io
Como o transistor possui apenas 3 terminais, para analisá-lo como um quadripólo é
necessário fazer com que um dos seus terminais seja comum à entrada e à saída, ou seja,
apareça em ambas ao mesmo tempo. Seguindo-se este conceito, temos as chamadas
configurações básicas dos circuitos transistorizados, que são: base comum, coletor comum e
emissor comum. Examinaremos de forma sucinta as características principais de cada uma
dessas configurações, sempre supondo um transistor NPN operando na região ativa.
ii = IE io = IC
vi = VBE vo = VBC
vo VBC
Av = = . Como VBC é a tensão sobre uma junção PN reversamente polarizada
vi VBE
(junção base-coletor), seu valor numérico será maior do que o de VBE, que é a tensão sobre
uma junção diretamente polarizada (junção base-emissor). Logo, teremos AV >> 1 (ganho de
tensão muito superior à unidade). Das três configurações, a base comum é a que possui maior
ganho de tensão.
io IC
O valor do ganho de corrente será: Ai = = =α .
ii IE
Por esse motivo, o parâmetro α é chamado de ganho de corrente da configuração
base comum. Lembrando do que foi visto no estudo dos parâmetros construtivos de um
transistor, podemos escrever:
66
Dp × WB × Na 2
=
IC = B × IE emissor
= λ ×B ⇒ α
= 1 −
WB
,
α × 1 − 2
para
IE IE emissor
Dn × Ln × Nd
2 × Lp
λ
transistores NPN. Para transistores de baixa e média potência, o valor de α é pouco menor que
a unidade (α ≈ 1).
O ganho de potência da configuração é obtido através do produto do ganho de tensão
pelo ganho de corrente:
Ap = Av × Ai > 1 , o que significa que a configuração base comum fornece em sua saída um
sinal com potência maior do que a do sinal de entrada. Isso não ocorre, por exemplo, com um
transformador de tensão, que sempre fornece no enrolamento secundário uma potência inferior à
aplicada no enrolamento primário. Esse fato, obviamente, não constitui uma violação do princípio
de conservação de energia: a amplificação realizada por um transistor ocorre às custas da
energia fornecida pela fonte de alimentação necessária para a polarização do dispositivo.
A Figura 78 apresenta o conjunto de curvas características de entrada (IE em função de
VBE) e de saída (IC em função de VCB) para a configuração base comum. Sendo a junção
base-emissor um diodo, a curva característica de entrada tem o aspecto visto anteriormente por
ocasião do estudo das junções PN. O conjunto de curvas características de saída permite
visualizar as diferentes regiões de operação do transistor e a dependência da corrente de coletor
em relação à corrente de emissor. Note que a região de saturação corresponde à polarização
direta da junção base-coletor (VCB < 0, para um transistor NPN). Caso a polarização reversa da
junção base-coletor ultrapasse determinado valor, ela entra na região de avalanche, ocorrendo
um aumento considerável no valor da corrente de coletor. Essa região não aparece no conjunto
de curvas características representado na figura.
IE
IC
região de saturação
IE4
IE3
IE2
IE1
VBE IE = 0
região de corte
VCB
A configuração base comum é caracterizada por uma baixa impedância de entrada e uma
elevada impedância de saída, o que a torna apropriada para realizar o casamento de impedâncias
entre uma carga e um circuito ou entre dois circuitos. Possui como vantagens sobre um
transformador o ganho de potência e a possibilidade de trabalhar com sinais que não sejam
senoidais. Sob a configuração base comum o transistor apresenta melhor desempenho em altas
freqüências, razão pela qual essa configuração é utilizada como estágio amplificador em circuitos
que operam nessa faixa de freqüências. Na configuração base comum os sinais de entrada e
saída estão em fase.
67
Configuração Coletor Comum
Neste caso, o terminal comum à entrada e à saída é o coletor. Seu diagrama simplificado
é mostrado na Figura 79. O sinal de entrada é aplicado à base e o sinal de saída é obtido no
emissor. Essa configuração é também conhecida como seguidor de emissor.
ii = IB io = IE
vi = VBC vo = VCE
vo VCE
O ganho de tensão da configuração coletor comum vale: Av =
= . O valor
vi VBC
numérico de VBC será ligeiramente maior do que o de VCE. Logo, teremos AV ≈ 1 (ganho de
tensão próximo à unidade).
io IE
O ganho de corrente nessa configuração vale: Ai = = =γ . O parâmetro γ (gama)
ii IB
é chamado ganho de corrente da configuração coletor comum.
Como a corrente de emissor IE é a maior corrente de um transistor na região ativa e a
corrente de base IB a menor delas, teremos γ >> 1. Logo, das três configurações básicas, o
coletor comum é a que apresenta o maior ganho de corrente.
Multiplicando o ganho de tensão pelo ganho de corrente, obtemos o ganho de potência da
configuração: Ap = Av × Ai > 1 , o que significa que a configuração coletor comum também
fornece em sua saída um sinal com potência maior do que a do sinal de entrada. O ganho de
potência do coletor comum é inferior ao das outras duas configurações.
Como o valor da tensão entre base e coletor possui influência praticamente nula sobre o
valor da corrente de base, o conjunto de curvas características de entrada (IB em função de VCB)
não tem utilidade nessa configuração. A Figura 80 apresenta o conjunto de curvas características
de saída (IE em função de VCE) para a configuração coletor comum. Esse conjunto de curvas é
bastante semelhante ao da configuração emissor comum, como veremos a seguir.
IE IB5
IB4
IB3
IB2
IB1
IB = 0
VCE
68
Outras características importantes da configuração coletor comum são elevada
impedância de entrada, baixa impedância de saída e sinal de saída em fase com o sinal de
entrada. Essas características tornam o coletor comum apropriado como casador de
impedâncias e como “buffer” (isolador) entre dois circuitos ou entre um circuito e uma carga.
Essa configuração melhora o desempenho do transistor em baixas freqüências e proporciona
uma maior banda passante.
ii = IB io = IC
vi = VBE vo = VCE
IB3
IB2
IB1
região de
IB = 0 corte
VBE
VBE1VBE2 VBE3 VCE
Figura 82 – Conjuntos de Curvas Características da Configuração Emissor Comum
69
As curvas características de entrada mostram que a tensão VCE influi sobre o
comportamento da junção base-emissor: quanto maior o valor da tensão entre coletor e emissor,
há necessidade de maior tensão entre base e emissor para se conseguir um determinado valor de
corrente de base (no conjunto de curvas características de entrada mostrado na Figura 82, temos
VCE3 > VCE2 > VCE1).
As curvas características de saída mostram o relacionamento entre a corrente de coletor e
a tensão entre coletor e emissor. Podemos notar que, com exceção da parte inicial das curvas, o
valor da tensão entre coletor e emissor VCE tem pequena influência sobre o valor da corrente de
coletor IC, que por sua vez é bastante dependente do valor da corrente de base IB. As curvas
características de saída permitem a visualização das três regiões de operação do transistor:
abaixo de IB = 0 temos a região de corte; à esquerda da região de linearidade entre IC e IB
temos a região de saturação e, entre as duas, temos a região linear ou ativa.
A região ativa reversa, que não está representada no conjunto de curvas, teria um aspecto
semelhante ao da região ativa “rebatida” no 3º quadrante. A diferença fundamental em relação às
curvas da região ativa direta seria que, para um dado valor de corrente de base IB, a corrente de
coletor IC teria um valor bastante inferior. Em outras palavras, o hFE na região ativa reversa tem
um valor muito menor do que o da região ativa direta.
Pelo fato de possuir maior ganho de potência, que é o objetivo principal de um
amplificador, a configuração emissor comum é a mais utilizada entre as três configurações
básicas e será a escolha natural, a menos que estejam envolvidas questões referentes ao
casamento de impedâncias ou ao desempenho numa determinada faixa de freqüências de
operação.
As características gerais do emissor comum são: altos ganhos de tensão, corrente e
potência, valores médios de impedâncias de entrada e saída, sinais de entra e saída defasados
em 180º, bom desempenho em médias freqüências.
Dos três ganhos de corrente vistos acima, os manuais dos fabricantes de transistores
fornecem em geral apenas um deles, hFE. Além disso, existem multímetros que possuem
escalas próprias para a medição desse mesmo parâmetro (hFE). Por esse motivo, é bastante
útil que se conheça o relacionamento entre os três valores de ganho de corrente, de forma que
seja possível, a partir do conhecimento do valor de um deles, calcular os valores dos outros dois.
Para tanto, basta utilizar as relações acima, e lembrar que IE = IC + IB. Manipulando-se
essas equações, obtém-se:
70
hFE
♦ α= e γ = hFE + 1, fórmulas que permitem calcular α e γ em função de hFE.
hFE + 1
α 1
♦ hFE = e γ = , fórmulas que permitem calcular hFE e γ em função de α.
1− α 1− α
γ -1
♦ α= e hFE = γ − 1 , fórmulas que permitem calcular α e hFE em função de γ.
γ
+VCC
IBq + ICq + IBq + ICq + malha
de
R R R R coletor
B VRB C VRC B VRB C VRC
+
+ + VCC
+ VCEq + VCEq
malha
VBEq VBEq
IEq IEq de base
malha de coletor
malha de base
Como podemos ver, o resistor RB “leva” o potencial positivo da fonte de alimentação VCC
até a base, fazendo com que ela fique positiva em relação ao emissor. Como se trata de um
transistor NPN, isso significa que a junção base-emissor está diretamente polarizada. Da mesma
forma, o resistor RC “leva” o potencial positivo de VCC até o coletor. Se a queda de tensão
sobre RC for menor do que a queda de tensão sobre RB, o potencial do coletor será mais positivo
do que o da base, o que equivale a dizer que a junção base-coletor está reversamente polarizada.
As duas condições ocorrendo simultaneamente colocam o transistor na região ativa.
71
Antes de fazer a análise do circuito, vamos estabelecer alguns pontos que serão bastante
úteis daqui para a frente. Em primeiro lugar, devemos notar que os dois diagramas acima são
absolutamente idênticos, ou seja, são duas formas distintas de representar o mesmo circuito.
Embora já estejamos familiarizados com a representação da direita, utilizaremos com mais
freqüência a representação da esquerda, por que ela é a mais utilizada para circuitos eletrônicos
de maior complexidade. Nessa representação, temos assinalado um ponto que serve como
referência de tensão para os demais pontos do circuito. Esse ponto ( ) é chamado de terra
ou massa, e não é positivo, nem negativo (os demais pontos do circuito é que serão positivos ou
negativos em relação a ele). Como se pode notar, no diagrama da esquerda apenas um dos
pólos (o positivo) da fonte de alimentação VCC está representado. Quando isso ocorre, o outro
pólo está, necessariamente, ligado ao terra.
Em segundo lugar, no caso particular da análise de circuitos de polarização de
transistores, faremos as seguintes considerações:
♦ VBEq ≈ 0,6 V (a junção base-emissor é um diodo diretamente polarizado)
♦ ICq = hFE × IBq
♦ IEq ≈ ICq (consideração opcional, válida somente para transistores de baixa potência)
Essas considerações são válidas apenas se o transistor estiver operando na região linear.
No entanto, como veremos adiante, se por acaso o transistor estiver fora dessa região, os
resultados obtidos serão absurdos, o que nos permite facilmente perceber o equívoco.
Por último, temos basicamente dois tipos de problema. Um deles é, conhecidos os valores
das resistências de polarização e das características do transistor (hFE), determinar as
coordenadas do POE (VCEq e ICq). O outro, mais comum em projetos práticos, é determinar os
valores das resistências de polarização a partir do conhecimento do ponto de operação desejado
e das características do transistor e da tensão de alimentação disponível. Suponhamos que
nosso objetivo com o circuito acima seja determinar as coordenadas do POE. Escrevendo a
equação LKT da malha de base:
VCC − VBEq
+VCC – IBq × RB – VBEq = 0 ⇒ IBq = . Lembrando que estamos considerando
RB
que VBEq ≈ 0,6 V, o valor de IBq está determinado. Lembrando agora que ICq = hFE × IBq,
chegamos à primeira das coordenadas do POE.
Aplicando a LKT à malha de coletor:
+VCC – ICq × RC – VCEq = 0 ⇒ VCEq = VCC – ICq × RC, obtendo-se assim a segunda
coordenada do POE. É simples notar que as equações acima poderão ser utilizadas para se
determinar os valores das resistências, caso as demais grandezas sejam conhecidas.
Da mesma forma como fizemos no estudo do diodo, podemos também determinar o POE
de um transistor por meio de um processo gráfico, bastando traçar a reta de carga do circuito
transistorizado sobre o conjunto de curvas características de saída.
A metodologia para o traçado da reta de carga é semelhante à utilizada no caso do diodo.
A partir da equação LKT da malha de coletor: VCE = VCC – IC × RC, obtêm-se dois pontos para
determinar a reta. Para o 1o ponto faz-se IC = 0 , obtendo-se VCE = VCC. Para o 2o ponto, faz-
se VCE = 0, obtendo-se IC = VCC / RC.
Com estes dois pontos, traça-se a reta de carga, que é representada na Figura 84 no
mesmo sistema de coordenadas onde aparecem as curvas características de saída da
configuração emissor comum, o que permite a desejada determinação gráfica do ponto de
operação do transistor, desde que se conheça o valor quiescente da corrente de base (IBq). A
localização do POE será determinada pela interseção entre a reta de carga e a curva relativa a
esse valor de corrente de base, conforme mostra a figura.
72
IC
VCC
reta de carga ponto de operação estática IB5
RC
IB4
IB3
ICq
IBq = IB2
IB1
IB = 0
VCE
VCEq
EXEMPLOS NUMÉRICOS:
1) Calcular os resistores de polarização para fazer um transistor que possui hFE = 100 operar em
ICq = 5 mA e VCEq = 10 V. A tensão de alimentação disponível é de 15 V.
2) Suponha que no mesmo circuito do exemplo anterior, o resistor de coletor é substituído por
outro de 10 KΩ. Determinar as novas coordenadas do POE.
73
Influência da Temperatura Sobre o Ponto de Operação de um Transistor
Esse exemplo permite compreender a razão pela qual o circuito de polarização fixa,
apesar de sua simplicidade e baixo custo, é pouco utilizado: ele não possui recursos para conferir
estabilidade térmica ao ponto de operação do transistor, ou seja, tornar a localização do ponto
de operação mais estável em função de flutuações na temperatura. Para se alcançar tal objetivo,
é necessário o uso de circuitos de polarização mais elaborados, alguns dos quais veremos a
seguir.
74
2) Circuito de Polarização Com Resistência de Emissor
Como indica o nome e pode ser constatado na Figura 85, a diferença entre esse circuito
de polarização e o estudado anteriormente consiste no acréscimo de uma resistência entre o
emissor e o terra.
+VCC
IBq
+ ICq +
R R
B VRB C VRC
+
+ VCEq
VBEq
+ IEq
R
VRE E
malha de base
malha de coletor
Nas três equações, quanto maior o valor da resistência de emissor RE, menor o valor do
fator de estabilidade, ou seja, mais próximo do ideal será o comportamento do circuito. Isso
significa que quanto maior for o valor de RE, maior será o seu efeito de estabilização térmica do
ponto de operação. Obviamente, existem restrições relacionadas ao rendimento do circuito que
impõem um limite superior para o valor dessa resistência. De qualquer forma, torna-se evidente
a razão pela qual a grande maioria dos circuitos de polarização inclui a resistência de emissor.
75
Esse circuito de polarização tem como peculiaridade o fato de que a tensão sobre o
resistor RE (que é produzida pela corrente de saída IEq) influi sobre o valor da corrente de base,
que é a corrente de entrada do circuito. Essa influência de uma grandeza de saída sobre o valor
de uma grandeza de entrada é chamada de realimentação, sendo nesse caso uma
realimentação negativa, pois quando a grandeza de saída aumenta, a grandeza de entrada
diminui e vice-versa. Por esse motivo, esse circuito de polarização é conhecido também como
circuito de polarização por realimentação de emissor.
Para o cálculo dos valores das resistências, caso sejam conhecidas as coordenadas do
POE, partiremos das mesmas premissas utilizadas para o circuito de polarização fixa: o transistor
está na região ativa e, por isso, VBEq ≈ 0,6 V e ICq = hFE × IBq. Outra aproximação, para
simplificar os cálculos, é que IEq ≈ ICq. Desenvolvendo a equação da malha de coletor:
EXEMPLOS NUMÉRICOS:
1) Calcular os resistores de polarização para fazer um transistor que possui hFE = 100 e ICBo =
80 nA a 25 ºC operar em ICq = 5 mA e VCEq = 10 V. A tensão de alimentação disponível é de
15 V. Utilizar um circuito de polarização com resistência de emissor no qual RC = 4 × RE.
76
Comparando os resultados dos exemplos acima com os obtidos quando o circuito de
polarização não tinha a resistência de emissor, podemos avaliar a importância dessa resistência
na estabilização térmica do ponto de operação. Por esse motivo, praticamente todos os circuitos
de polarização práticos utilizam resistência no emissor, embora existam também circuitos que
utilizam realimentação de coletor. Os circuitos de polarização fixa são apropriados apenas em
aplicações onde o transistor opera do corte para a saturação e vice-versa. Em circuitos onde o
transistor opera na região linear, os circuitos de polarização sem nenhum tipo de realimentação
só devem ser utilizados quando a temperatura de operação é rigorosamente controlada.
+VCC
+ ICq +
I1 R
R
B VRB1
1
C VRC
IBq +
M2
+ VCEq
VBEq
+
R
VRB2 B +
2
M1 R
VRE
I2 E
IEq
Como se pode ver pelo diagrama, este circuito também utiliza a realimentação de emissor.
A diferença em relação ao circuito anterior é a presença de um segundo resistor de base (RB2),
que fica praticamente em paralelo com o resistor de emissor RE (se desprezarmos a pequena
tensão VBEq). Isso faz com que a corrente de base IBq seja muito mais sensível a eventuais
variações na tensão sobre o resistor de emissor, o que torna a estabilização térmica mais
eficiente.
Essa maior eficiência permite trabalhar com valores de RE que proporcionem uma queda
de tensão entre 10% e 20% da tensão de alimentação VCC. Dessa forma, a potência dissipada
sobre o resistor de emissor será bem menor do que no caso anterior, o que aumenta o
rendimento do circuito.
77
Os resistores de base devem ser dimensionados de forma que a corrente I1 que percorre
o primeiro resistor seja entre 20 e 50 vezes maior do que a corrente de base IBq, o que permite
considerar que a corrente I2 terá praticamente o mesmo valor da corrente I1.
O cálculo dos resistores deste circuito de polarização segue o seguinte roteiro:
VCC − VCEq
♦ Através da equação LKT da malha de coletor, chega-se a RC+ RE = .
ICq
Existindo uma relação conhecida entre RC e RE, obtêm-se os valores dessas duas
resistências.
ICq
♦ Calcula-se o valor da corrente de base pela equação IBq = . Escolhe-se o valor da
hFE
corrente I1 de tal forma que 20 IBq < I1 < 50 IBq. Feito isso, pode-se considerar I2 ≈ I1.
Todas as deduções feitas acima mostram de modo claro que, uma vez conhecidos alguns
princípios básicos do funcionamento dos transistores na região ativa, os valores das resistências
de polarização podem ser obtidos por meio da aplicação das leis de Kirchoff e de Ohm. Isso é
válido qualquer que seja o circuito utilizado para polarizar o transistor.
+VCC
ICq +
R
C VRC
+ VRBB
+
RBB VCEq
+
IBq VBEq
+ +
VBB R VRE
IEq E
A partir desse circuito, é possível chegar ao valor da corrente de base IBq através da
equação LKT da malha de base (lembrando que IEq ≈ ICq):
+ VBB − IBq × RBB − VBEq − IEq × RE = 0 ⇒ + VBB − IBq × RBB − VBEq − ICq × RE = 0 ⇒
VBB − VBEq
+ VBB − IBq × RBB − VBEq − hFE × IBq × RE = 0 ⇒ IBq =
RBB + hFE × RE
A partir do valor de IBq, calcula-se ICq = hFE × IBq e chega-se ao valor de VCEq por
meio da equação LKT da malha de coletor:
VCEq = VCC – ICq × (RC + RE). Ficam, assim, determinadas as coordenadas do POE.
79
Polarização de um Transistor nas Regiões de Saturação e de Corte
+ + +VCC
ICq
P VRB R
B C VRC
IBq
+
VCEq
+
VBEq
IEq
VCC − VBEq
A corrente de base vale: IBq = (1), onde RB é o valor para o qual o
RB
potenciômetro PB está ajustado. A corrente de coletor pode ser calculada de duas formas
diferentes. A primeira é através da relação com a corrente de base:
ICq = hFE × IBq (2). A segunda é através da equação LKT da malha de coletor:
VCC − VCEq
ICq = (3). Uma vez que o potenciômetro P pode ser ajustado inclusive para o
RC
valor zero, não há limite matemático para o valor da corrente de base, que pode chegar a ter valor
infinito. No entanto, a equação (3) para a determinação da corrente de coletor deixa claro que
ela tem um valor limite, acima do qual não pode mais aumentar. Esse valor será alcançado
quando a tensão entre coletor e emissor VCEq for igual a zero.
Em resumo, ao se diminuir o valor ajustado no potenciômetro PB, aumenta o valor da
corrente de base. A corrente de coletor, de acordo com a equação (2) aumenta na mesma
proporção, enquanto não chegar ao limite imposto pela equação (3). Quando esse limite é
alcançado, deixa de existir a relação direta entre o valor da corrente de coletor e o valor da
corrente de base, ou seja, a corrente de base aumenta, mas a corrente de coletor continua com o
mesmo valor e temos ICq < hFE × IBq. Essa condição indica que o transistor chegou à região
de saturação.
As coordenadas do POE de um transistor saturado possuem uma notação especial: o
valor da corrente de coletor é simbolizado por ICsat e o valor da tensão entre coletor e emissor é
80
simbolizado por VCEsat. O valor de VCEsat não é nulo, mas de alguns décimos de volt. Em
nossos problemas consideraremos VCEsat = 0,2 V, salvo indicação contrária. O valor da tensão
entre base e emissor de um transistor saturado também recebe uma denominação especial,
VBEsat. Consideraremos, salvo indicação em contrário, VBEsat = 0,8 V . Podemos então
calcular o valor da corrente de coletor de um transistor saturado (equação válida para o circuito
acima):
VCC − VCEsat VCC − 0,2 VCC
ICsat = = ≅ .
RC RC RC
Podemos então calcular o valor-limite de corrente de base que leva o transistor a operar
na região de saturação:
ICsat VCC
IBlim = ≅ . A partir da equação LKT da malha de base, podemos
hFE hFE × RC
determinar o valor-limite da resistência de base para que o transistor sature:
VCC − VBEsat
+ VCC - IBlim × RBlim - VBEsat = 0 ⇒ RBlim = . Assim, para valores de
IBlim
resistência de base iguais ou inferiores a RBlim, o transistor estará operando na região de
saturação.
Em projetos práticos, para que se garanta a saturação mesmo com as inevitáveis
variações nos parâmetros do transistor, deve-se calcular o valor-limite acima para a resistência de
RBlim
base e utilizar-se no circuito uma resistência com valor 10 vezes menor, ou seja: RB = .
10
Como vimos no início de nosso estudo sobre transistores, a operação na região de corte é
caracterizada pela polarização reversa de ambas as junções. No entanto, como na prática é
necessária uma tensão mínima para que uma junção comece efetivamente a conduzir (a tensão
de limiar Vγ), não é necessário realmente aplicar uma tensão reversa entre base e emissor para
levar o transistor ao corte – basta fazer com que VBE seja igual a zero. Isso pode ser feito de
duas maneiras:
A – Deixando a base em aberto → Como se pode ver pelo 1º diagrama abaixo, a corrente de
base será nula e a corrente de coletor será praticamente zero (apenas o valor da corrente de
saturação reversa da junção base-coletor, que é desprezível à temperatura ambiente).
B – Aterrando a base → Exatamente como no caso anterior, teremos corrente de base nula.
Assim, não há necessidade de cálculos para se levar um transistor ao corte. As correntes
de base e de coletor serão nulas e a tensão entre coletor e emissor terá praticamente o valor da
tensão de alimentação. As duas possibilidades para levar um transistor ao corte são mostradas
na Figura 89.
+VCC +VCC
ICq ≈ 0 ICq ≈ 0
R R
C Base Aterrada C
Base Aberta
IBq = 0
IBq = 0 +
+ VCEq ≈ VCC
PB
PB VCEq ≈ VCC +
+
VBEq = 0
VBEq = 0
81
Aplicações do Transistor no Corte e na Saturação
Estudaremos agora algumas aplicações em que o transistor deve operar nas regiões de
corte ou saturação: portas lógicas (circuitos digitais), acionamento de cargas DC e geradores de
sinais. Para efeito de simplificação, consideraremos que o valor de VCEsat em todos os
circuitos seja igual a 0. Adotaremos para VBEsat o valor padrão de 0,8 V.
Considere o circuito da Figura 90, cuja entrada é no ponto A e cuja saída é no ponto B.
+VCC
R
C
B
vo
A
vi RB
Supondo que o sinal de entrada vi seja uma onda quadrada cuja tensão varie entre os
valores 0 e VB e que RB está dimensionado de tal forma que quando vi = VB o transistor chegue
à saturação, o diagrama de tempos mostrando o comportamento do sinal de saída em função do
sinal de entrada terá o aspecto mostrado na Figura 91.
vi
VB
0
t
vo
VCC
0
t
Podemos constatar que quando o sinal de entrada é “baixo” (OFF, nível lógico 0), o sinal
de saída é “alto” (ON, nível lógico 1), e vice-versa. Este é exatamente o comportamento de uma
porta lógica inversora, mostrando que o circuito acima pode ter essa aplicação. O detalhe
principal é o correto dimensionamento dos resistores RB e RC, que devem garantir a saturação
do transistor quando o sinal de entrada estiver “alto”. Conhecendo-se o valor de VB e as
características do transistor, os resistores podem ser calculados através das equações e dos
conceitos vistos quando estudamos polarização de transistores.
82
É importante notar que os valores de VB e VCC não precisam ser iguais. Isso significa
que o valor de tensão correspondente ao nível “1” do sinal de entrada pode ser diferente do valor
de tensão correspondente ao nível “1” do sinal de saída. Essa propriedade é extremamente útil
no projeto de circuitos de interface (casadores), que servem para interligar portas de famílias
lógicas diferentes (TTL e CMOS, por exemplo).
Relembrando o que foi visto por ocasião do estudo sobre polarização de transistores, o
roteiro para o cálculo dos resistores do circuito acima é:
♦ Conhecido o valor desejado para ICsat, o resistor de coletor pode ser calculado através da
VCC
fórmula: RC = (já que estamos considerando VCEsat = 0).
ICsat
ICsat
♦ O valor-limite de corrente de base que leva o transistor à saturação é: IBlim = .
hFE
♦ A parir desse valor de corrente, obtenho o valor-limite para a resistência de base que leva o
VB - VBEsat VB - 0,8
transistor à saturação: RBlim = = , onde VB é o valor da tensão de
IBlim IBlim
nível “1” do sinal aplicado à entrada.
♦ Uso, na prática, um resistor de base com valor resistência 10 vezes menor do que o calculado
RBlim
pela fórmula acima: RB = . Isso garante a saturação ainda que haja variações nos
10
parâmetros do transistor
EXEMPLO NUMÉRICO: Para “casar” um sinal digital que varia entre 0 e 2 V, proveniente de
um circuito CMOS (um tipo de família lógica) com um circuito TTL, utiliza-se um inversor
construído com um transistor cujo hFE vale 50. Sabendo que a corrente de saturação deve ser de
1 mA, projetar o inversor.
Muitas vezes é necessário que uma interface como a realizada por meio do circuito do
exemplo anterior tenha um sinal de saída com o mesmo nível lógico do sinal de entrada, ou seja,
em que não ocorra inversão lógica, de forma que para uma entrada em “1” apresente uma saída
também em “1” e para uma entrada em “0” apresente uma saída também em “0”. Tal dispositivo
é conhecido como buffer e têm como função apenas permitir a interligação de circuitos que
possuam níveis diferentes de tensão e/ou corrente. O símbolo de um buffer, sua expressão
lógica e sua tabela-verdade são mostrados na Figura 92.
X Y
Y=X
X Y 0 0
1 1
Para se obter um buffer transistorizado basta simplesmente que se liguem dois inversores
em série, como na Figura 93, que apresenta o diagrama em blocos e o diagrama completo de
uma ligação desse tipo.
83
+VCC
R
R C
C Y=X
X Y=X
RB
X
RB
1º Inversor 2º Inversor
Figura 93 – Diagrama em Blocos e Diagrama Esquemático de Um Buffer
R
C
X
VS = V 1 + V 2 + ... + Vn
T1 T2 Tn
R R R
B B B
1 2 n
V1 V2 V3
EXEMPLO: A partir das portas lógicas estudadas, desenhar o diagrama de uma porta AND de
duas entradas.
84
Porta Lógica NAND da Família TTL
Das diversas famílias de circuitos integrados digitais, a TTL continua sendo a mais
utilizada. A porta lógica “básica” da família TTL, ou seja, aquela que é mais facilmente
implementada, servindo de base para as demais portas lógicas da família é a porta NAND.
Estudaremos essa porta para ilustrar os princípios básicos que regem a família TTL.
A Figura 97 mostra o diagrama de uma porta NAND de três entradas da família TTL, com
os valores típicos das resistências empregadas.
+ 5V
R1
R2 R4
4
1,6 130
KΩ
Ω
KΩ
Ω Ω
T3
T1
A T2 D1
B S=A•B•C
C
T4
R3
1
KΩ
Ω
O primeiro detalhe que chma a atenção é o fato de que o transistor T1 possui 3 emissores
(na verdade, o número de emissores será igual ao número de entradas da porta lógica). Essa
técnica, denominada de transistor multiemissor, é largamente utilizada em circuitos integrados.
Caso pelo menos um dos emissores estiver aterrado (vi = “0”), o transistor T1 estará saturado, o
que leva a base do transistor T2 ao nível lógico “0”, ou seja, leva T2 ao corte. Com T2 cortado, o
transistor T3 é levado à saturação através do resistor R2, enquanto T4, sem corrente de base,
permanece cortado. Logo, a saída S estará em nível “1”. Podemos calcular a corrente IS que a
saída fornecerá a uma carga a ela conectada:
+ VCC − VCEsat − VD1
IS = . O valor numérico aproximado da corrente de curto circuito será:
R4 + RL
5 − 0,2 − 0,7
IS = ≅ 32 mA. Fica evidente, portanto, que a função do resistor R4 é limitar a
130
corrente de saída caso ocorra um curto-circuito acidental com o terra.
Caso as três entradas estejam simultaneamente em nível “1”, teremos a junção base-
emissores de T1 reversamente polarizada e a junção base-coletor diretamente polarizada, isto é,
o transistor T1 passa a operar na região ativa reversa. Lembrando que nessa região o valor de
hFE é muito baixo (nos CIs TTL os transistores são projetados para hFE por volta de 0,02 nessa
região), a corrente de emissor terá um valor muito baixo, enquanto as correntes de coletor e de
base terão valores elevados e aproximadamente iguais. Como a corrente de coletor do transistor
85
T1 é também a corrente de base do transistor T2, este estará saturado, levando o transistor T4 à
saturação e a saída S ao nível “0”. A tensão no coletor do transistor T2 será, então:
VCT2 = VCEsatT2 + VBEsatT3 ≈ 0,2 + 0,8 = 1 V. Logo, caso o circuito não tivesse o
diodo D1, essa tensão poderia ser suficiente para levar o transistor T3 à saturação. Explica-se,
portanto a inclusão do diodo no circuito.
O estágio de saída do circuito analisado, formado pelo resistor R4, pelo diodo D1 e pelos
transistores T3 e T4 é conhecido pelo nome de totem-pole. Em portas cujas saídas deverão ser
utilizadas para o acionamento de cargas que requeiram correntes elevadas ou em portas lógicas
utilizadas como interface entre circuitos com níveís lógicos de tensões diferentes, utiliza-se um
outro tipo de estágio de saída, denominado de coletor aberto ou open collector.
+VCC
R
Tensão de B
controle
Uma dúvida bastante razoável que pode surgir comparando-se o primeiro e o terceiro
circuitos é sobre que vantagem haveria em se utilizar um transistor para o acionamento da
lâmpada, uma vez que foi necessário utilizar, além da chave, um transistor e um resistor, dos
quais o primeiro circuito não precisa. Para compreendermos essa questão, suponhamos que a
lâmpada seja de 12 V e 50 W. Logo, a sua corrente vale aproximadamente 4 A, de forma que o
interruptor utilizado no primeiro circuito tem que ser dimensionado para suportar esse nível de
corrente. Se no terceiro circuito o transistor tiver um hFE igual a 50, a corrente de base
necessária para a saturação será de cerca de 100 mA. Como nesse circuito a chave está na
malha de base, será possível utilizar uma unidade que suporte apenas 100 mA de corrente, o
que na prática significa uma chave menor e mais barata do que a requerida pelo primeiro circuito.
Em muitos casos, a diferença de preço entre as duas chaves é mais do que suficiente para pagar
o transistor e o resistor de base que são utilizados a mais pelo terceiro circuito.
Mesmo quando isso não ocorre, o circuito transistorizado possui uma grande vantagem
sobre o circuito manual: seu acionamento pode ser automatizado, ou seja, a tensão de base não
precisa vir da mesma fonte que alimenta a malha de coletor (VCC), mas pode ser proveniente,
por exemplo, de um sensor ou da porta serial de um computador. Nesse caso, a chave que
aparece na malha de base pode ser eliminada, sendo substituída pela ligação ao elemento de
controle. Isso permite que a lâmpada seja acesa ou apagada automaticamente, em condições
bem específicas, determinadas por esse elemento. A Figura 99 ilustra essa situação.
86
+VCC
Sensor ou
Equipamento RB
Microprocessado
tensão
de
controle
EXEMPLOS NUMÉRICOS:
1) O LED (Ligth Emitting Diode - Diodo Emissor de Luz) é um tipo especial de diodo que ao ser
diretamente polarizado emite luminosidade. Projetar um circuito de acionamento do LED
utilizando um transistor NPN de hFE igual a 200, a partir de uma tensão disponível de 9 V. O
LED, quando aceso, fica submetido a uma queda de tensão VLED = 1,4 V e a corrente ILED que
o percorre deve ser de 30 mA.
2) Modificar o circuito do exemplo anterior para acionar o mesmo LED, desta vez a partir de um
sinal enviado pela porta serial de um computador, que tem nível “1” igual a –5 V e nível “0” igual a
0 V.
87
Multivibrador Astável Transistorizado
+VCC
R R R R
1 2 3 4
vo1 C1 C2 vo2
1 2
T1 T2
Princípio de Funcionamento
+VCC
R carga R R carga R
1 de C1 2 3 de C2 4
+ +
vo1 vo2
C1 C2
T2
T1
cortado
saturado
88
Como C1 está inicialmente descarregado, a base de T2 está aterrada em t = 0. Logo, T2
estará inicialmente cortado. O capacitor C1 começa a se carregar através de R2. Ao mesmo
tempo, o capacitor C2 começa a se carregar através de R4. Note bem a polaridade da tensão
nos capacitores. Esse processo continua até que a tensão no capacitor C1 atinja o valor
suficiente para levar o transistor T2 à saturação (vC1 ≈ 0,8 V). Nesse instante vCE2 passa a ser
praticamente 0 e o novo circuito equivalente será o mostrado na Figura 102.
+VCC
R carga R R carga R
1 de C1 2 3 de C2 4
+ +
vo1 vo2
C1 C2
T1 T2
cortado + saturado
C2 C1
+
Note que a polaridade da tensão sobre C2, agora aplicada à base do transistor T1, leva-o
imediatamente ao corte (já que polariza reversamente a junção base-emissor). Temos agora T2
saturado e T1 cortado, e o capacitor C1 passa a se carregar através de R1, enquanto o capacitor
C2 começa a se carregar através de R3. Como podemos notar, a polaridade da tensão nos
capacitores se inverte ao longo do tempo, isto é, a tensão nos capacitores é alternada.
No momento em que a tensão em C2 atinge o valor suficiente para levar T1 novamente à
saturação, a tensão armazenada em C1 “aparece” entre a base e o emissor de T2, levando-o ao
corte e recomeçando todo o ciclo, que se repete indefinidamente. O diagrama de tempos da
Figura 103 mostra o comportamento ideal das tensões em vários pontos do circuito. Na prática,
as ondas não apresentam a “perfeição” mostrada nos gráficos, apresentando arredondamentos e
picos nos instantes de transição (passagem do corte para a saturação ou vice-versa).
É fácil concluir que o tempo em que cada transistor ficará cortado dependerá do tempo
necessário para que a tensão no capacitor correspondente atinja o valor necessário para levá-lo à
saturação. Em outras palavras, depende da constante de tempo τ = R x C. Pode-se demonstrar
que:
t1
= 0,693 × R2 × C1 , onde t1 é o tempo em que o transistor T1 permanece cortado (e a
tensão entre o seu coletor e o seu emissor permanece “alta”, isto é, vCE1 ≈ VCC).
t 2
= 0,693 × R3 × C2 , onde t2 é o tempo em que o transistor T2 permanece cortado (e a
tensão entre o seu coletor e o seu emissor permanece “baixa”, isto é, vCE2 = VCEsat ≈ 0).
O período T das formas de onda, que é o tempo necessário para um ciclo completo, será
dado por:
T = t1 + t 2 ⇒ T = 0,693 × (R 2 × C1 + R 3 × C2) .
1 1,443
Logo, a freqüência f das ondas será: f= = .
T R 3 × C2 + R 2 × C1
89
vo1 T
T1 cortado
+VCC
t1 t2
vB1
VBEsat
t
vo2
T2 cortado
+VCC
vB2
VBEsat
t
Figura 103 – Diagrama de Tempos das Diversas Tensões Num Multivibrador Astável
onda permanece em nível “alto” e o seu período T, isto é: DC = tH . Assim, para o transistor
T
T1, teremos:
t 0,693 × R 2 × C 1 R × C1
DC 1 = 1
= ⇒ DC 1 =
2
.
T 0,693 × ( R 2 × C 1 + R 3
× C 2) R ×C
2 1
+ R 3
× C2
t 0,693 × R 3 × C 2 R ×C
DC = 2
= ⇒ DC = 3 2
2
T 0,693 × ( R 2 × C 1 + R ×C3 2
) 2
R ×C + R ×C
2 1 3 2
90
É fácil demonstrar que DC1 + DC2 = 1. O ciclo de trabalho é freqüentemente expresso
na forma de porcentagem.
91
Amplificador Transistorizado de Pequenos Sinais
+VCC IB (µ
µA)
12 V Ponto de operação
IBq + ICq + quiescente
R R 1 KΩ
Ω
B VRB C
60
+ ∆IB 40
20
+ VCEq
0,55 0,65 0,75
VBE (V)
VBEq
∆VBE
Figura 104 – Efeito da Variação da Tensão Entre Base e Emissor Sobre a Corrente de Base
Podemos notar que uma variação de 0,2 V na tensão VBE originou uma variação de 40
µA na corrente de base IB. Com o auxílio do conjunto de curvas características de saída
mostrado na Figura 105, podemos determinar o efeito dessa variação de corrente de base sobre
a corrente de coletor IC e sobre a tensão entre coletor e emissor VCE.
IC
12 mA reta de carga ponto de operação estática
VCC IB = 100 µA
RC
IB = 80 µA
IB = 60 µA
7 mA (IC2)
5 mA (ICq)
IB = 40 µA (IBq)
3 mA (IC1) IB = 20 µA
IB = 0
5V 9V VCE
7V 12 V
(VCE2) (VCEq) (VCE1) (VCC)
Figura 105 – Efeito da Variação da Corrente de Base Sobre a Malha de Saída
92
Como já vimos, o ponto de operação estará necessariamente localizado sobre a reta de
carga. Dessa forma determinamos os pontos de operação correspondentes às variações da
corrente de base e chegamos aos seguintes valores de ∆VCE (variação da tensão entre coletor e
emissor) e de ∆IC (variação da corrente de coletor):
A maneira usual de obter variações na tensão entre base e emissor é através da aplicação
de um sinal variável à entrada do circuito, conforme ilustrado na Figura 106. A presença dos
capacitores Ci e Co é necessária para que a fonte geradora do sinal de entrada ou uma carga
eventualmente ligada à saída do circuito não venham a interferir na polarização DC do transistor,
alterando dessa forma o POE originalmente projetado. Esses capacitores são chamados de
capacitores de desacoplamento DC.
+VCC
R R
B C
Co vo
Ci
VCEq
VBEq
vi
Nota-se claramente que se o sinal de entrada tiver valor de pico-a-pico superior ao valor
quiescente da tensão entre base e emissor (algumas centenas de milivolts), o sinal de saída do
“grampeador” atingirá valores inferiores a zero. Isso significa que a junção base-emissor ficará
reversamente polarizada durante esse intervalo, resultando no corte do transistor. Logo, o sinal de
saída será constante e igual a VCC durante esse intervalo.
Por outro lado, se o valor positivo de vi for muito elevado, a corrente de base poderá ser
suficiente para levar o transistor à saturação, resultando num sinal de saída igual a VCEsat
(aproximadamente zero) enquanto perdurar essa situação.
Em ambos os casos, teremos o sinal de saída com forma de onda diferente da forma de
onda do sinal de entrada. A essa diferença entre as formas de onda dos sinais de entrada e
saída chamamos de distorção.
Visto que a distorção é quase sempre uma característica indesejável, os amplificadores
que estudaremos devem utilizar como sinal de entrada os chamados pequenos sinais, que são
aqueles com amplitude tal que mantenham o transistor sempre dentro da região ativa, não o
levando ao corte nem à saturação.
t t
VCE (polarização) vce (sinal de entrada) vCE (sinal completo)
IC
ponto de operação muito próximo à saturação
VCC IB5
RC
IB4
ponto de operação “ideal”
IB3
IB2
ponto de operação muito próximo ao corte
IB1
IB = 0
VCE
Figura 109 – Efeito da Escolha do Ponto de Operação
Logo, supondo-se um sinal de entrada simétrico (como os sinais senoidais) e tendo como
objetivo obter-se a máxima variação possível (compliância) do sinal de saída sem que ocorra
distorção, deve-se polarizar o transistor no meio da reta de carga. Assim fazendo, garante-se
que o transistor permaneça sempre na região ativa. Os amplificadores que usam essa técnica
são chamados de amplificadores Classe A.
95
EXEMPLO NUMÉRICO: O amplificador esquematizado abaixo possui ganho de tensão com
módulo igual a 200. Sabendo que o transistor utilizado possui hFE = 100: a) Calcular o máximo
sinal de entrada senoidal que pode ser aplicado a ele sem que ocorra distorção do sinal de saída.
b) Calcular o valor de RB necessário para colocar o POE na posição “ideal”.
+VCC
10 V
R R
470 KΩ
Ω 1 KΩ
Ω
B C
Co
vo
Ci
1 µF
1 µF
vi
Ci
Ci
+
+ + vbe
+
vbe +
vi
R
vi vRE
E
Como vimos, o sinal efetivamente amplificado pelo transistor é a tensão vbe. No primeiro
circuito acima, a tensão vbe é exatamente igual ao sinal aplicado à entrada vi. Isso significa que
todo o sinal aplicado à entrada será amplificado pelo circuito.
No segundo circuito, podemos notar que uma parte do sinal de entrada fica sobre a
resistência de emissor, resultando numa tensão vbe menor do que no caso anterior, para um
mesmo valor de sinal de entrada. Assim, sinal de saída será menor do que o do primeiro circuito.
Conclui-se então que a presença da resistência de emissor provoca uma redução no
ganho de tensão de um amplificador transistorizado. Será demonstrado oportunamente que o
valor do ganho de tensão dos circuitos que possuem resistência de emissor é dado,
RC
aproximadamente, por: A v ≅ − .
RE
96
EXEMPLO NUMÉRICO: O transistor abaixo possui hFE = 100. Calcular o máximo valor de
pico de um sinal de entrada senoidal para que não ocorra distorção na saída.
+VCC
12 V
R
B 47 KΩ
Ω R 1K5Ω
Ω
1 C
R
B 33 KΩ
Ω R 1 KΩ
Ω
2 E
+VCC
R R
B
1 C
vo
vi
Co
Ci
R
B R
2 E CE
20
CE = . Esse valor garante que o módulo da reatância
2 π × f mín × RE
capacitiva do capacitor de emissor será, de fato, muito menor (20 vezes) do que a resistência do
resistor de emissor. Nesta fórmula, fmín é a freqüência mínima do sinal de entrada do
amplificador.
vi = K 1 × ii + K 2 × vo. . .( 1)
, onde K1, K2, K3 e K4 são os chamados parâmetros híbridos do
io = K 3 × ii + K 4 × vo.. . ( 2)
quadripólo.
98
Analisando a equação (1), constatamos que K1 x ii e K2 x vo devem obrigatoriamente
ter a dimensão de tensão (volts). Assim, é fácil concluir que a dimensão de K1 é resistência
(ohms) e que K2 é adimensional.
Usando o mesmo raciocínio em relação à equação (2), concluímos que K3 x ii e K4 x vo
têm a dimensão de corrente (Ampères) e, conseqüentemente, K3 é adimensional e K4 possui a
dimensão de condutância (inverso de resistência - ampère por volt).
A partir das equações (1) e (2), é possível determinar o circuito elétrico que representa o
funcionamento do quadripólo. Esse circuito é mostrado na Figura 113.
ii + − io
K1
+ −
+
vi K2 x vo K3 x ii
1/ vo
K4
−
− +
Figura 113 – Circuito Elétrico Equivalente a um Quadripólo Descrito Pelos Parâmetros Híbridos
vi
• Na equação (1), teremos vi = K 1 × ii ⇒ K 1 = . Assim, constatamos que K1 constitui uma
ii
relação entre duas grandezas da entrada do quadripólo. Por esse motivo, o parâmetro K1 é
simbolizado por hi (h de híbrido e i de input - entrada). Mais especificamente, ele é chamado
de impedância de entrada do quadripólo e é definido como a relação entre a tensão de
entrada e a corrente de entrada do quadripólo quando a sua saída está em curto-circuito.
io
• Na equação (2), teremos io = K 3 × ii ⇒ K 3 = . Assim, constatamos que K3 constitui uma
ii
relação entre uma grandeza da saída e uma grandeza da entrada do quadripólo. Por esse
motivo, o parâmetro K3 é simbolizado por hf (h de híbrido e f de forward - para a frente).
Trata-se do ganho de corrente do quadripólo e é definido como a relação entre a corrente de
saída e a corrente de entrada do quadripólo quando a sua saída está em curto-circuito.
99
io
• Na equação (2), teremos io = K 4 × vo ⇒ K 4 = . Assim, constatamos que K4 constitui uma
vo
relação entre duas grandezas da saída do quadripólo. Por esse motivo, o parâmetro K4 é
simbolizado por ho (h de híbrido e o de output - saída). Trata-se da admitância de saída
do quadripólo, que é definida como a relação entra a corrente de saída e a tensão de saída do
quadripólo quando a sua entrada está aberta.
Quando o modelo híbrido é aplicado aos transistores, os nomes dos símbolos dos seus
parâmetros serão ainda acrescidos de uma terceira e última letra, que será b, c ou e, caso o
transistor a ser substituído pelo modelo esteja configurado, respectivamente, como base comum,
coletor comum ou emissor comum. Exemplificando, a impedância de entrada de um transistor
configurado em coletor comum será simbolizado por hic, o ganho de corrente de um transistor
configurado em base comum será simbolizado por hfb e o ganho reverso de tensão de um
transistor configurado em emissor comum será simbolizado por hre.
A Tabela 2 apresenta valores típicos dos parâmetros híbridos de um transistor de baixa
potência. Esses dados servem apenas para transmitir uma noção quantitativa da ordem de
grandeza dos parâmetros, uma vez que o seu valor exato depende de fatores como o ponto de
operação do transistor, a temperatura de trabalho, etc.
Emissor Comum 3 2 -4 -4
hie = 10 hfe = 10 hoe = 10 hre = 10
Coletor Comum 3 2 -4 0
hic = 10 hfc = 10 hoc = 10 hrc =10
Base Comum 1 0 -6 -4
hib = 10 hfb = 10 hob = 10 hrb = 10
ib ic
B hie C
+
+
vi = vbe 1 vo = vce
hre x vce hfe x ib
h oe
+
E E
3. Substituir todos os geradores de tensão constantes pela sua resistência interna. Como
sempre trabalhamos com geradores ideais, isso equivale a substituí-los por um curto-circuito.
5. A partir do circuito equivalente AC obtido, que é um circuito puramente elétrico, aplicar as leis
de Kirchoff e de Ohm para obter as relações desejadas.
R R +VCC
B C
1 vo
vi
Co
Ci
R
B R
2 E
101
Modelo Híbrido Simplificado
hfe x ib
ib
C
hie
B
E
Figura 115 – Modelo Híbrido Simplificado Para o Transistor
O modelo híbrido simplificado pode ser utilizado sempre que for satisfeita a condição:
hoe x (RC // RL) < 0,1.
Daqui para a frente, utilizaremos apenas o modelo simplificado. A utilização desse
modelo simplifica significativamente as equações na análise de um amplificador. Além disso,
tem a vantagem de ser aplicável a qualquer que seja a configuração do transistor (base comum,
coletor comum ou emissor comum), sem que seja necessária qualquer alteração no circuito
equivalente. Desse modo, só é necessário conhecer os valores dos parâmetros hie e hfe,
mesmo que no circuito analisado o transistor esteja nas configurações base comum ou coletor
comum.
102
Impedâncias de Entrada e Saída de um Amplificador
+VCC
R R
B C
Co
vo vi
ii Ci Zi =
ii
A
V vi
+VCC
R R
B C
Co
Ci
POT
V vo
vi
103
A impedância de saída Zo é aquela “enxergada” pela resistência de carga RL do
amplificador. Devemos lembrar que RL é um elemento externo e, como tal, não faz parte do
amplificador. Por isso, ao determinar o valor da impedância de saída de um amplificador, a
influência da resistência de carga deve ser neutralizada. Para tanto, ao se obter o valor da
tensão de saída, a resistência de carga deve ser desconectada do circuito, para que a sua
influência sobre o valor dessa tensão seja eliminada. Da mesma forma, ao se determinar a
corrente de saída do amplificador, a resistência de carga deve ser curto-circuitada, para que não
venha a influir no valor da corrente. A impedância de saída do amplificador será a relação entre
a tensão de saída e a corrente de saída assim obtidas. Os diagramas da Figura 118 ilustram a
determinação experimental da impedância de saída de um amplificador.
+VCC vo +VCC
R R Zo = R R
B C io B C
Co Co
S S
Ci Ci
io
R R
vo V A
vi L vi L
A Tabela 3 mostra a ordem de grandeza das principais características de cada uma das
três configurações básicas de amplificadores transistorizados. A configuração apropriada para
cada aplicação específica de um amplificador é escolhida a partir dessas características.
Tabela 3 – Ordem de Grandeza das Principais Caraterísticas das Três Configurações Básicas
104
Resposta em Freqüência de um Amplificador
+VCC
R R
B cbc C
1 vo
Co
vi
Ci
R
B
2 cbe R
E CE
1
Relembrando a fórmula da reatância capacitiva X C = , analisemos a influência das
πfC
2π
capacitâncias dos capacitores “reais” (Ci, Co e CE) nas baixas freqüências:
Ci → Apresenta “alta” reatância, retendo parte do sinal de entrada vi, impedindo que ele seja
amplificado pelo transistor. Isso reduz o ganho de tensão do circuito.
Co → Apresenta “alta” reatância, retendo parte do sinal de saída vo, impedindo que ele seja
transferido para a carga. Isso também reduz o ganho de tensão.
CE → Apresenta “alta” reatância, de modo que não pode ser considerado como um curto-circuito
para os sinais alternados. Logo, uma parte do sinal de entrada fica sobre o paralelo RE-CE,
reduzindo o ganho.
105
Ainda nas baixas freqüências, as capacitâncias internas também terão “alta” reatância,
mas não terão nenhuma influência sobre o comportamento do amplificador, pois se encontram
em paralelo com o percurso da corrente (ou seja, a corrente não passa por essas capacitâncias
porque encontram em paralelo com elas um caminho com resistência muito menor).
Em altas freqüências, todas as capacitâncias apresentarão “baixa” reatância, e ocorre
justamente o contrário: as capacitâncias dos capacitores Ci, Co e CE, que ficam em série com o
caminho da corrente, terão pouca influência sobre o comportamento do circuito (pois a parcela de
sinal que fica sobre elas é desprezível), enquanto que as capacitâncias internas do transistor, que
ficam em paralelo com o caminho da corrente, começam a desviar o sinal do amplificador,
reduzindo dessa forma o seu ganho.
Resumindo, em baixas freqüências prevalece a influência das capacitâncias que estão em
série com o caminho da corrente, enquanto em altas freqüências prevalece a influência das
capacitâncias internas do transistor, que ficam em paralelo com o caminho da corrente. Para
minimizar o efeito das primeiras, devem-se utilizar os maiores valores possíveis de capacitância.
Com relação às últimas, que se tratam de características internas do transistor e que não podem
ser modificadas, a única solução é escolher outro tipo de transistor, que possua menor valor para
as capacitâncias internas, de modo a minimizar sua influência.
Pelo que vimos acima, o ganho de um amplificador é reduzido nas freqüências baixas
pelas capacitâncias em série (capacitores Ci, Co e CE) e nas freqüências altas pelas
capacitâncias em paralelo (capacitâncias internas do transistor). Conclui-se que haverá uma
faixa intermediária de freqüências em que a influência das capacitâncias em série já se tornou
desprezível, mas a influência das capacitâncias em paralelo ainda não é significativa. Logo, o
ganho do amplificador será reduzido em freqüências muito altas ou muito baixas e será máximo
na faixa intermediária.
O gráfico que representa o módulo do ganho de tensão de um amplificador em função da
freqüência do sinal de entrada é chamado de curva de resposta em freqüência. O aspecto
típico da curva de resposta de um amplificador transistorizado com acoplamento capacitivo é
mostrado na Figura 120.
Avmáx
Av max
banda passante
f
fci fcs
Figura 120 – Aspecto Típico da Curva de Resposta em Freqüência de um Amplificador
106
• Freqüências de Corte Inferior (fci) e Superior (fcs): Observando o gráfico, notamos que
existem dois valores de freqüência em que o valor do ganho é aproximadamente igual a 70%
• Banda Passante (BW, do inglês Band Width - Largura de Faixa): É a diferença entre a
freqüência de corte superior e a freqüência de corte inferior. BW = fcs - fci.
Como vimos, o valor da freqüência de corte inferior é determinado pela capacitância dos
capacitores externos do circuito (Ci, Co e CE). Lembrando que num filtro RC a freqüência de
corte é aquelas em que o módulo da reatância capacitiva é igual ao valor da resistência associada
ao capacitor, podemos calcular os valores das freqüências relativas a cada um desses três
capacitores.
O circuito equivalente “visto” pelo capacitor de desacoplamento de entrada Ci é o
mostrado na Figura 121.
Ci
Z
vi i
RB’
R
CE
E
RB’ é a impedância de base refletida no emissor, ou seja, dividida por um fator igual a hfe.
Logo, a expressão da freqüência de corte relativa ao capacitor de desvio CE será:
1 hie + RB1//RB2
fci = , onde Zeq vale: Zeq = //RE .
CE
2 × π × Zeq × CE hfe
107
O circuito equivalente “visto” pelo capacitor de desacoplamento de saída Co é o mostrado
na Figura 123.
Co
R R
C L
RL é a resistência de carga ligada à saída do circuito, sem a qual não haverá queda de
tensão sobre o capacitor Co e, conseqüentemente, não haverá freqüência de corte relacionada a
esse capacitor. Através do circuito equivalente, podemos determinar a expressão da freqüência
de corte relativa ao capacitor de desacoplamento de saída Co:
1
fci = .
Co
2 × π × (RC + RL ) × Co
Av
Av (f) = fci
máx
, onde Avmáx, como vimos, representa o valor máximo do ganho, obtido na
1+
f
região de resposta plana.
Av
Av (f) = f
máx
, onde Avmáx é o valor máximo do ganho, obtido na região de resposta plana.
1+
fcs
108
Em sendo impossível a determinação experimental da freqüência de corte superior, uma
fT
boa estimativa do seu valor é: fcs ≅ , onde hfe é o valor nominal do ganho de corrente
hfe
incremental na resposta plana e fT é um parâmetro do transistor chamado de freqüência de
transição, que se caracteriza pelo fato de que, nessa freqüência, o valor efetivo de hfe é unitário,
ou seja, a partir dessa freqüência o transistor deixa de ser um amplificador de corrente.
Note-se que a aproximação dada pela fórmula acima só é válida para circuitos de banda
larga, ou seja, nos quais não se utiliza nenhum tipo de recurso para, intencionalmente, restringir a
banda passante do amplificador. A Figura 124 mostra dois exemplos de circuitos em que a banda
passante é deliberadamente restringida. No primeiro, isso é feito através da inclusão de um
capacitor de realimentação (CF) entre o coletor e a base do transistor. Quanto maior a
capacitância desse capacitor, menor será o valor da freqüência de corte superior e mais restrita
será a banda passante. No segundo circuito, a restrição da banda passante é obtida por meio de
um filtro LC ressonante que funciona como impedância de coletor. Logo, a banda passante será
uma faixa restrita em torno da freqüência de ressonância. Quanto maior o fator de qualidade do
filtro, mais estreita será a banda passante. Esse é um exemplo de amplificador sintonizado.
+VCC +VCC
R R R CC
B CF C B vo
1 vo 1
Co TC
vi vi
Ci Ci
R R
B B
2 R 2 R
E CE E CE
Nos amplificadores práticos, o ganho que realmente importa é o ganho de potência Ap, o
qual costuma apresentar valores muito elevados. Considere-se, por exemplo, o ganho de
potência total proporcionado por um receptor de rádio: enquanto a potência captada pela antena
é da ordem de miliwatts ou de microwatts, a potência entregue aos auto-falantes é de ordem de
7
watts ou de dezenas de watts, ou seja, um ganho de potência da ordem de até 10 .
Por esse motivo, é bastante comum expressar o ganho dos amplificadores através de uma
unidade com características logarítmicas, o que, além de resultar em números menores, facilita
os cálculos (pois transforma operações de multiplicação e divisão em operações de soma e
subtração, respectivamente). Essa unidade é o Bel (B – nome originado de Alexander Graham
Bell), ou, mais especificamente, o seu submúltiplo deciBel (dB).
A definição do Bel baseia-se na característica logarítmica da percepção acústica do ser
humano. Isso significa que um acréscimo real de 10 vezes numa potência sonora é percebido
pelo ouvido humano como uma variação de duas vezes. Essa é a razão pela qual os
potenciômetros utilizados em controle de volume são do tipo logarítmico.
109
O deciBel não é uma unidade absoluta, baseando-se na verdade na relação com um nível
referencial de potência. Esse nível de referência (1 dB) corresponde, à freqüência de 600 Hz, à
-16 2
densidade sonora de 1 × 10 W / cm , que é o nível mínimo perceptível pelo ser humano. O
valor máximo suportável (limiar da dor) corresponde a 130 dB.
Apesar de estar intimamente relacionado a potência, o deciBel também pode ser utilizado
para representar ganhos de tensão e de corrente. Valem as relações:
PO .
- Ganho de Potência em deciBéis: A P ( dB ) = 10 log
Pi
- Ganho de Tensão em deciBéis:
v
(dB) = 20 log O
.
A V
v i
+VCC
33 2
K K
Ω 7
Ω
vo
vi
1 nF
S
1 nF
15
K 1
Ω 8 10
0 µF
Ω
Com o resultado do exemplo acima, podemos concluir que quando o ganho de tensão de
um amplificador é expresso em dB, as freqüências de corte terão ganho 3 dB inferior ao ganho
máximo.
110