Texto de Apoio UNIDADE 1 - SSPP1
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A noção de proposição não é exclusiva da Linguística. Ela tem sido aplicada em outras
ciências tais como a Filosofia e Matemática. De um modo geral, podemos definir a proposição
como sendo o conteúdo de uma asserção. Crystal (2000:212-213) define a proposição como
sendo um «termo tirado da filosofia (...) e frequentemente usado na Linguística como parte de
uma análise Semântica ou Gramatical». E acrescenta que se refere à «unidade de significação
que constitui o assunto de uma afirmação, na forma de uma sentença declarativa simples». Para
este autor, a análise de proposições conta com dois termos, nomeadamente, a expressão de uma
acção de estado único (um predicado) ou uma ou mais entidades (“nomes”) que delimitam o
efeito desta acção ou estado.
Outra definição de proposição é a que nos é dada por Campos e Xavier (1991), segundo a
qual proposição é uma estrutura abstracta constituída basicamente por uma relação entre um
predicado e seus argumentos. Ela exprime um estado de coisas real ou imaginário, concreo ou
abstracto.
Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português; Carlos Mutondo, UP-Sede, 2018.
Note que nos exemplos acima apresentados “escrever” e “(ser) simpático” são os predicados
que seleccionam “Pedro” e “carta”, e “menino” como seus argumentos.
Como podemos observar dos exemplos em (a) e (b), o resultado de uma proposição pode ser
uma frase ou enunciado.
Uma outra definição que podemos aqui apresentar é a que Lima (2006:109) nos propõe,
segundo a qual a proposição é o conteúdo exprimível numa frase ou oração, a que pode ser
atribuído um valor de verdade. Ou seja, uma proposição pode se verdadeira ou falsa.
Enunciado. Este conceito é de difícil tratamento, dado que muitas vezes se confunde com o
de frase. Por isso, iremos recorrer ao conceito de Campos e Xavier (1991), segundo o qual se
refere a uma sequência linguística cujos valores que o afectam – número, género, caso, aspecto,
quantificação, determinação – permtem localizar o estado de coisas expresso pela proposição em
relação ao chamado parâmetro situação de enunciação2.
E frase (também tida com oração ou sentença), de acordo com Dubois (1993:292) será a
«reunião de palavras que formam um sentido completo, distinta da proposição pelo facto de
poder conter várias proposições»; e Vilela (1992:288) acrescenta que a «frase configura numa
proposição, um estado de coisas e ocorre num texto transformada em um enunciado ou em parte
de um enunciado».
Há que realçar que muitos autores afirmam que a frase é determinada por princípios que
regem a sua boa formação sintáctico-semântica.
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Neste exemplo, o predicado é o adjectivo “simpático” e não o verbo ser, visto que este verbo é predicativo, e
assim sendo, não selecciona qualquer argumento, mas sim usa-se para ligar o predicado e o respectivo argumento.
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De acordo com Campos e Xavier (1991:32) «Situação de enunciação é o parâmetro enunciativo definido pelos
parâmetros enunciativos Sujeito da Enunciação (ou Sujeito enunciador) e Tempo da enunciação.
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Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português; Carlos Mutondo, UP-Sede, 2018.
Destas sequências, apenas a frase (1) (a) é que constitui um enunciado, pois nela está
subjacente um valor de quantificação (evento único) e um valor temporal (evento localizado
temporalmente como simultâneo à enunciação). Já as outras sequências linguísticas, na
perspectiva de Campos e Xavier (1991), não o são, dado que a eles não se pode atribuir qualquer
dos valores acima referidos. Para que sejam considerados enunciados, precisam de ser
localizados em relação ao parâmetro enunciativo Situação de Enunciação.
Repare que Lima (2006:23) ao estabelecer uma distinção entre frase e enunciado, afirma que
«uma frase é uma unidade abstracta, potencial, que pertence a uma língua, e que existe nela
independentemente de ser, ou não ser, enunciada por qualquer falante». Para este autor quando
um locutor enuncia uma frase está a torná-la real, no a cto de fala concreto. Daí que se deve
considerar que o enunciado como o produto da enunciação, ou seja, do acto de realização ou
produção de uma frase. Os enunciados de uma frase são sempre relativos a falantes, tempos e
lugares específicos.
(2)
(i) Léxico
(ii) Sintaxe
Estrutura – P
Mover - α
Estrutura – S
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Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português; Carlos Mutondo, UP-Sede, 2018.
De acordo com este modelo, certos princípios universais determinam a interelação das várias
componentes da gramática.
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Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português; Carlos Mutondo, UP-Sede, 2018.
de vários princípios das subteorias da gramática universal, tais como a teoria do caso, a teoria
temática e a teoria das barreiras.
Geralmente, a estrutura S apresenta categorias vazias [cv] sem realização fonética, que são
vestígios deixados pelas categorias deslocadas por actuação de Mover α nas posições de que
saem.
Outro princípio importante é o Princípio de Preservação da Estrutura, de acordo com o
qual, a representação estrutural de uma frase mantem-se inalterada nos aspectos essenciis na
sua derivação. Deste modo, a regra sintáctica de mover α apenas é aplicável se houver
deslocação de uma categoria para a posição de uma outra cateoria idêntica, deixando na posição
de origem um vestígio, identificado com o mesmo índice do constituinte movido. Regra geral,
esta regra, em Português actua no sentido ascendente, ou seja, da direita para a esquerda!
A Estrutura de Superfíce (interpretação fonológica) de uma proposição e a frase escrita ou
pronunciada. Ela já terá sofrido todas as transformações e adequações necessárias para que se
possa realizar no acto de comunicação.
É importante não confundir a Estrutura S com a Estrutura de Superfície3. Consideraremos a
Estrutura S como uma estrutura intermédia, entre a Estrutura P e a Estrutura de Superfície: Na
Estrutra P os constituintes encontram-se ainda nas posições sintácticas em que foram gerados
pelo Princípio de Projecção associado ao Princípio de Projecção Alargado; A Estrutura S dá nos
conta da actuação das regras transformacionais que deslocam constituintes das posições que
ocupam em estrutura S à novas posições estruturais. E a Estrutura de Superfície é o que nós
como falantes produzimos, ou seja, o resultado final da actuação das regras: a frase.
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Note-se que alguns autores, consideram a Estrutura S e a Estrutura de Superfície como sendo a mesma.
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Sintaxe, Semântica e Pragmática do Português; Carlos Mutondo, UP-Sede, 2018.
EXERCÍCIO
Para uma melhor retenção do que acaba de aprender, resolva os seguintes exercícios:
1. A sintaxe e a semântica são dois domínios distintos porém em interacção.
1.1.Em que os dois domínios convergem?
1.2.Indique os aspectos nos quais a sintaxe e a semântica divergem.
2. É comum confundir-se as noções de proposição, frase e enunciado. Que implicações
acarreta a confusão destes três conceitos?
2.1.Considera as distinções entre estes conceitos como formais ou funcionais? Justifique.
3. A proposição podem exprimir uma propriedade que caracteriza um objecto.
Apresente 3 (três) exemplos de proposições distintas que exprime propriedades.
3.1.A partir das proposições por si apresentadas, construa frases e enunciados.
4. Apresente exemplos para cada um dos casos abaixo apresentados:
4.1.Duas frases que representam duas proposições distintas;
4.2.Uma frase que representa duas ou três proposições diferentes;
4.3.Duas frases distintas que representam uma mesma proposição.
5. Explicite o tipo de relação que se estabelece entre o léxico e a sintaxe.
6. O que entende por Estrutura P, Estrutura S e Mover α?
6.1.Explique como actua a regra Mover α?
6.2.Será que dizer “Estrutura S” é o mesmo que dizer “Estrutura de Superfície”? Em
caso de uma resposta negativa, justifique.
7. O que consagram os seguintes princípios:
7.1.Princípio de Projecção?
7.2.Princípio de Projecção Alargado?
7.3.Princípio de Predicação?
7.4.Princípio de Preservação da Estrutura?
8. Em que consiste a interpretação semântica de uma frase?
9. Registe no seu caderno as expressões-chave desta unidade.
10. Mencione três conteúdos desta Unidade que acha ter assimilado.
11. Mencione dois conteúdos desta Unidade que considera não terem sido claros.
BIBLIOGRAFIA:
CAMPOS, M.H,C & XAVIER, M.F., Sintaxe e Semântica do Português. Universidade Aberta.
Lisboa. 1991.
CRYSTAL, D., Dicinário de Linguística e Fonética. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2000.
DUBOIS, J., Dicionário de Linguística. 9ª ed., São Paulo, Editora Cultrix. (1ª ed. original, Paris,
1973), 1993.
LIMA, J.P de, Pragmática Linguística. Caminho Editorial. Lisboa. 2006
VILELA, M., Gramática de Valências: Teoria e Aplicação. Coimbra, Livraria Almedina, 1992.