Primeira Parte
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Primeira Parte
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Susi Bianca de Jesus Silva
A janela:
Relações e Transformações no Contexto da
História da Arquitectura
II
A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
[Resumo]
III
A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
[Agradecimentos]
Muito obrigada.
IV
A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
[Considerações iniciais]
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Esta definição, que por motivos de síntese teve que ser abreviada
aos aspectos mais relevantes, classifica a janela de acordo com vários
aspectos. Refere a janela quanto à sua natureza (abertura), a sua função, a
sua forma, a sua relação com a porta e pelos seus elementos básicos.
Página anterior:
Fig. 01 – Janela em Cantanhede: uma janela dentro dos padrões tradicionais com verga
em arco de volta perfeita e bandeira fixa semi-circular
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SILVA, Jorge Henrique Pais da; CALADO, Margarida, Dicionário de termos de arte e
arquitectura, 2005, p.207
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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“Abertura envidraçada no alto de um edifício ; janela aberta na parte alta das paredes.”
ZURITA, José Ruiz, Dicionário básico da construção, 1999, p.39
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“Janela aberta num tecto ou na parte superior de uma parede.” ZURITA, José Ruiz,
Fig. 02 – As ruínas fingidas de Évora: a valorização do contorno e forma das janelas
Dicionário básico da construção, 1999, p.74
num cenário romantico 6
“Abertura circular, óculo ou fresta oval que se abre nas habitações para a entrada de ar e
luz.” ZURITA, José Ruiz, Dicionário básico da construção, 1999, p.77
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 03 – Uma janela de sacada num edifício recuperado mantendo os traços originais
(Aljuriça, Cantanhede)
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Todo o espaço encerrado necessita de uma porta, no entanto, as janelas nem sempre
existiram. Os abrigos subterrâneos dos homens primitivos eram cavernas ou grutas sem
janelas, apenas abertos por um momento de entrada. As grutas foram ganhando janelas,
invenção do homem para se iluminar no seu refúgio, mas a porta, como local de entrada e a
transição entre o exterior e o interior, manteve sempre o destaque. Já no Antigo Egipto a
entrada era monumentalizada. Também na Antiguidade clássica o desenho da porta era
definido pelas ordens enquanto a janela não tinha qualquer significado. Por sua vez, na Idade
Média a porta assume um simbolismo esmagador, enquanto a janela surge como uma mera
miniatura da porta.
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 04 – Vários arcos segundo Banister Fletcher: a forma dos arcos pode por vezes
remeter para épocas específicas
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Fig. 01 – Janela em construção antiga degradada onde é possível observar os elementos
de reforço e preenchimento da abertura assim como a sua relação com a parede
(Aljuriça, Cantanhede)
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PARICIO, Ignacio, «El hueco en la fachada», Tectónica: monografías de arquitectura,
tecnología y construcción, El Hueco, nº 4, p. 4
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[O reforço da abertura]
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Fig. 01 – Uma janela onde se destaca a verga, as ombreiras e o peitoril, os elementos de
reforço da abertura e interrupção da parede (Santo Amaro, Cantanhede)
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LE CORBUSIER, Le Corbusier et Pierre Jeanneret: 1938-1946, Vol. IV, 1995, p.103
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PARICIO, Ignacio, «El hueco en la fachada», Tectónica: monografías de arquitectura,
tecnología y construcción, El Hueco, nº 4, p. 4
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 06 / 07 – Vãos encimados por lintéis e arcos de descarga Fig. 08 – Vãos encimados por arcos de descarga (Cantanhede)
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Fig. 09 (fundo) / 10 / 11 / 12 / 13 – Janelas com sistemas de pingadeiras diversas: uma
janela com cantarias ligeiramente salientes do plano da parede / uma janela encimada
por um frontão triangular / uma janela encimada por um frontão estilizado / uma janela
14 protegida sob um beiral / uma janela coroada por um friso saliente
A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
[O preenchimento do vão]
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Fig. 02 – Janela com caixilharia de madeira dividida em quadriculas, sistema de abrir 15
em guilhotina (Cadima, Cantanhede)
Fig. 03 – Corte perspectivado por uma caixilharia de madeira
A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 05 – Escritório da Junta
de Andaluzia, Sede da
Delegação Provincial de
Saúde, Alberto Campo Baeza
(Almería, 1998-2003): corte
que demonstra a localização
da janela (pano interior) e da
protecção da janela (pano
exterior)
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Para além da panóplia de materiais disponíveis, a janela oferece As janelas que deslizam podem ser de guilhotina (desliza em
igualmente uma vasta gama de modelos. Esta pode ser fixa ou móvel e, calhas verticais) ou de correr (desliza em calhas horizontais). A guilhotina
sendo móvel, pode abrir de diversos modos, girando sobre um eixo ou é uma opção que caiu num certo desuso. Esta janela foi muito usada entre
deslizando num plano. os séculos XVIII e XIX, mas a janela de correr veio substituir este
A janela mais comum é a de portadas, pode apresentar uma ou modelo, tornando-se na opção predilecta dos modernistas. As janelas de
duas folhas que giram em torno de um eixo vertical localizado nas correr oferecem a vantagem de poderem ter vários panos, abrindo assim
extremidades laterais da abertura. Neste caso, se as folhas abrirem para o uma maior área na parede, e recolherem de forma económica. É uma
interior é uma janela ‘à francesa’ e se abrirem para o exterior denomina-se solução de grande funcionalidade e economia de espaço, já que a folha da
de janela ‘à inglesa’. Quando o eixo vertical estiver colocado a meio da janela não afecta o espaço útil no interior da divisão.
abertura designa-se por janela pivotante. Por último, existem ainda as janelas de oscilo-batente. Estas
A janela de báscula é uma janela que gira em torno de um eixo conjugam um cómodo sistema que lhes permite abrir em batente ou em
horizontal. Este pode estar colocado na extremidade superior, inferior ou a báscula conforme o desejado. Tratam-se de opções desenvolvidas pelas
meio do vão. É uma solução que restringe mais a relação com o exterior indústrias de caixilharias e que se tornam cada vez mais comuns.
mas permite ventilar sem causar problemas de intrusão.
Fig. 06 – Os vários sistemas de abertura das janelas: esquema tridimensional, corte e planta
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 03 – Janela de portada de madeira com postigos (Tomar)
Fig. 04 – Janela com portada de alumínio (Gesteira, Cantanhede)
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Grade de fasquias adaptada à abertura de uma janela, com função decorativa e defesa
contra a luz e o calor excessivo.
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Fig. 05 – Janela com jali (pano perfurado): uma grelha islâmica Fig. 08 / 09 / 10 / 11 – Janelas contemporâneas protegidas por grelhas (Cantanhede):
Fig. 06 – Janela com grelha de madeira sobreposta ao vidro (Israel) casa da cultura / tribunal / posto da GNR / posto da GNR
Fig. 07 – Janela com grelha metálica (Bulgária) Fig. 12 (fundo) – Janela com grelha de madeira (Nepal)
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
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Fig. 17 – Janela com estore exterior (Coimbra): a caixa de estore denuncia que este filtro
foi uma adição posterior à construção do edifício
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Fig. 18 / 19 – Edifício no campus de Aveiro, Eduardo Souto de Moura (Aveiro):
sistemas alternativos de filtros, os brise-soleil desta construção são constituídos pelas
várias palas horizontais
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Fig. 20 / 21 – Faculdade de Ciências da Comunicação (Barcelona)
Fig. 22 – Escola Secundária Ecológica, Baumschlager & Eberle (Áustria)
Fig. 23 – Centro Técnico do Livro, Dominique Perrault (Marne-la-Vallée)
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Fig. 03 - Kunsthaus, Peter Zumthor (Bregenz, 1994-97): um revestimento que serve de
olhos, pulmões e pele ao edifício
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Página seguinte:
Fig. 06 – Catedral de Peterborought: vitral
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COTELO, Victor Lopez, «El hueco, punto de inflexión», Tectónica: monografías de
arquitectura, tecnología y construcción, El Hueco, nº 4, p.2
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Mas, para além disso, a janela faz parte da nossa tradição. Existe na A descrição da casa refere-se igualmente à própria Mariquinhas.
“Casa Portuguesa”, onde “a cortina da janela é o luar, mais o sol que bate Neste sentido, as “janelas com tabuinhas” representam simultaneamente a
nela”17, caracterizando de modo singelo uma habitação típica e um modo casa e a personagem, conferindo-lhe um aspecto catito e alegre.
de vida. Posteriormente a casa da dita Mariquinhas é penhorada e sobre o
A janela não é apenas um fenómeno arquitectónico ou um motivo leilão da casa da Mariquinhas diz-se que “a casa foi leiloada,
poético, a sua presença no folclore português é uma constante. Assim, as venderam-lhe as tabuinhas.” 19 Nota-se que o primeiro aspecto que salta à
janelas surgem nas canções tradicionais, nos versos e no fado, para vista é a desfiguração das janelinhas:
caracterizar estados de espírito de personagens isoladas ou colectivas.
Deste modo, não é apenas pela sua forma que uma janela caracteriza uma Foi no Domingo passado que passei
sociedade mas também pelo seu aparato. À casa onde vivia a Mariquinhas
Veja-se o caso da famosa Mariquinhas, personagem incontornável Mas está tudo tão mudado
do fado, cantada pelas mais diversas vozes desde Alfredo Marceneiro, Que não vi em nenhum lado
Amália Rodrigues e Hermínia Silva. As tais janelas que tinham tabuinhas
17
“Uma casa Portuguesa” (Reinaldo Ferreira / V. M. Sequeira e Artur Fonseca)
18 19
“A casa da Mariquinhas” (Silva Tavares / Alfredo Duarte ‘Marceneiro’) “O leilão da casa da Mariquinhas” (Linhares Barbosa)
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A Janela: Relações e Transformações no Contexto da História da Arquitectura
Está patente o desgosto, tanto da pessoa que avista a casa Porém, e como ninguém é eterno, a Mariquinhas morre um dia
penhorada como da própria personagem, cuja atitude é a de beber para “num quarto escuro, fechado, sem cortinas nas janelas”,23 onde de novo a
esquecer. A canção é agora intitulada de “Vou dar de beber à dor”.20 Aqui, caracterização da janela nos informa do estado da personagem. No
todos os aspectos catitos da janela, desde as portadas às cortinas garridas, entanto, como as portadas eram o elemento mais próprio das janelas da
foram substituídos por uma moderna janela de ‘lata’, ou seja de alumínio. sua casa, a Mariquinhas deixou explícito, no seu testamento, que iria no
Esta atitude não condiz em nada com a tradição e com a caracterização de caixão com “as tabuinhas no coração”.
uma casinha típica de fadistagem. A Mariquinhas está desgostosa e perdeu
a sua alegria do mesmo modo como as janelas foram despidas e reduzidas
a um minimalismo impessoal. “Pois chega a esta desgraça toda a graça Da
casa da Mariquinhas.”21
Felizmente “um senhor de falas finas”22 devolve a casa à
Mariquinhas. Na azáfama da rua, as janelas denunciam o retorno ao tempo
antigo:
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