Texto Edgar Graeff

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Edifício elementos construtivos que definem suas

qualidades específicas e essenciais. Tais


Edgar Graeff elementos só são realmente importantes na
Cadernos Brasileiros de Arquitetura medida em que geram, delimitam,
Editora Projeto - 1976 organizam, ordenam e animam o espaço
arquitetônico, isto é, o lugar agenciado para
Elementos de teoria dos edifícios a prática das atividades humanas. Assim,
ao falar dos edifícios, temos em vista
Capítulo 1 principalmente os espaços que eles
definem.
1. Etimologia e conceituação O espaço arquitetônico apresenta duas
modalidades: espaço edificado e espaço
“O eruditismo port. edificio, do séc. XV, e urbano. Entre um e outro não há diferenças
sp. edifício, c. 1275, é o lat. aedificium, essenciais, mas a distinção é útil para
‘edifício, construção’, do verbo lat. efeitos de estudo e melhor conhecimento
aedífícare, ‘edificar, construir’, de aedes, do espaço arquitetônico.
aedis, ‘templo, casa’, e facere, ‘fazer’. Entende-se por espaço edificado aquele
que está contido pelo edifício. Esta
1.1. Do frâncico bastjan, há o verbo fr. bâtir, modalidade do espaço arquitetônico
‘edificar, construir’, do sé. XII, donde o de- identifica-se, em certa medida, com a
rivado bâtiment, ‘construção, criação’, do noção de espaço interno, de largo uso
séc. XII, ‘edifício’, a partir do séc. XVII. O entre teóricos e historiadores da
vocábulo fr. édifice, do séc. XII e da mesma arquitetura.
origem que o port. edifício, esp. edificio, Ao ser erigido, o edifício, além de abarcar
contém a idéia de ‘monumentalidade ou envolver uma certa porção de espaço,
arquitetônica’, não traduzida por bâtiment, exerce influências sobre as adjacências.
completando-se, assim, os dois (bâtiment e Ele constitui uma presença, um objeto
édif ice), na acepção aqui tratada. ocupando um lugar; e se relaciona com
outros objetos, com o solo, as árvores, a
1.2 O it. edifício, edífizio, do séc. XIII, e o paisagem, outros edifícios. Ele projeta
ing. edif ice, do séc. XIV (ambos do Iat. sombras, apara o vento, modifica um pouco
aedificium, o inglês através do fr. édifice), a “atmosfera” local. É como se ocorresse
correspondem apenas parcialmente ao um fenômeno de irradiação, através do
significado qual o edifício viesse a incorporar uma
do port. edifício, ora considerado. Building, parcela do espaço que o envolve. Nessa
do séc. XIV-XV (do verbo to build, construir, presença dos edifícios, nesse
edificar’, do séc. XII-XIII e de formação relacionamento entre eles e deles com
vernácula), é, em inglês, a palavra que acidentes naturais, lança raízes a idéia de
traduz com correção o port. edifício, na espaço urbano, que se identifica, em certa
acepção que se segue.” (Enciclopédia medida, com a noção de espaço externo.
Mirador Internacional) Verifica-se, então, que, embora nem
sempre seja o aspecto mais importante do
espaço arquitetônico, o edifício constitui
2. Conceituação condição necessária e indispensável à sua
existência, quer sob a forma de espaço
O edifício constitui o produto mais edificado, quer sob a forma de espaço
característico da arquitetura. É através dele urbano.
que a arquitetura se relaciona com a vida Desde que deixou a caverna, e talvez antes
dos homens em suas diversas mesmo, o homem começou a fabricar seus
manifestações. Do nascimento à morte, da abrigos. Simples palhoças e tendas, no
maternidade ao túmulo, o homem inicio; depois, sólidas casas de madeira,
atravessa o tempo da sua existência adobe e pedra. Através dos séculos,
trabalhando, repousando, cultivando milhões de prédios vêm sendo construídos
divindades e memórias, brincando e e hoje a face da terra mostra-se, quase
sofrendo, no abrigo dos edifícios toda ela, salpicada por uma quantidade
construídos para proteger e favorecer o imensa de tetos. Contudo, apesar de serem
exercício das atividades que a vida requer. contados aos milhões, são bem poucos
A rigor, o edifício é apenas construção de aqueles edifícios que se destacam e que,
alvenaria ou outro material resistente; mas por suas qualidades e características, se
não são as paredes, pisos, tetos, revelam capazes de atrair a atenção dos
estudiosos da arquitetura. O alto grau de intervenção da tecnologia e
Distinguem-se, por um lado, e adquirem da indústria na atividade do arquiteto gera
individualidade marcante, algumas uma tendência que pretende situar a
centenas de edifícios que poderíamos arquitetura fora do campo das artes. Ela
caracterizar como obras mestras, passa, sob a pressão dessa tendência, a
exemplares do patrimônio artístico da ser considerada como uma espécie de
humanidade; por outro lado, certos tipos de técnica enriquecida pela intervenção de
edifícios solicitam atenção e estudo, devido certas preocupações e elementos
às circunstâncias históricas e sociais que artísticos, tais como o “bom gosto”,
envolveram sua construção. acessórios decorativos, enfeites etc. Essa
O conhecimento dos fundamentos dessa superestimação dos aspectos técnicos e
espécie de seleção é indispensável quando industriais tem conduzido a arquitetura a
se deseja estabelecer um critério descaminhos perigosos, que levam a uma
satisfatório de avaliação das qualidades produção abastardada. A tecnologia e os
artísticas das obras de arquitetura, assim maquinismos são facilmente envolvidos por
como do valor documentário de certos tipos auras divinizantes.
de edifícios construídos ao longo da Arquitetos bem dotados têm malbaratado
história e nos dias atuais. ricos recursos e excelentes oportunidades
Para reconhecer tais fundamentos cumpre na construção de edifícios primorosamente
abordar o edifício segundo dois pontos de projetados e executados segundo os mais
vista: o edifício como manifestação artística apurados requisitos da técnica, edifícios
e o edifício como reflexo de interesses que, contudo, resultam inexpressivos e
sociais. nulos como obras de arte.
Mas a tendência tecnicista não é a única
Capítulo 2 que ameaça a arquitetura. Do lado oposto
manifesta-se o chamado academismo, que
O edifício como obra de arte se caracteriza por subestimar os
condicionamentos decorrentes da
Há edifícios que se distinguem construção e por confundir com leis
independentemente da sua função, das estéticas certos maneirismos, clichês e
suas características técnicas e cânones meramente formais. O
construtivas, ou da eventual importância academismo assume as mais variadas
social que lhes é atribuída. Sobrevivem feições e contínua a se manifestar, agora
graças às suas qualidades artísticas, em termos de formalismo modernista. Mas
mesmo quando já estão superados como ele teve seu momento de glória no século
instrumentos de utilidade prática. É a XIX, na Europa, quando arrastou a
presença dessas qualidades que permite arquitetura ao mais alto grau de
caracterizar um edifício como obra de arte abastardamento, até afundá-la e sufocá-la
e, em conseqüência, definir a arquitetura num verdadeiro festival de ecletismo, em
como atividade artística. A manifestação de que, a rigor, chegou-se a confundir
valor artístico é que permite distinguir a arquitetura com cenoplastia.
simples construção da obra de arquitetura. Para evitar descaminhos na atividade do
A arquitetura constitui uma atividade arquiteto e equívocos no julgamento do
artística, mas não deixa de ser uma valor dos edifícios, convém ter sempre
atividade comprometida com rigorosas presente as relações que se estabelecem
exigências prático-funcionais formuladas entre arte e técnica na arquitetura. Lúcio
fora do seu campo específico. A realização Costa esclarece bem a natureza dessas
de uma obra de arquitetura, incluindo a relações quando faz a crítica daqueles que
concepção e o projeto, é previamente encaram com prevenção as qualidades
programada. Ela obedece, entre outras plásticas e líricas da obra de Le Corbusier,
condições, a um programa de gente que só aceita essa obra em
necessidades, formulado à base de consideração à lógica implacável do
necessidades e aspirações individuais e raciocínio doutrinário do consagrado
sociais, pouco sujeitas à influência direta mestre. Lúcio Costa defende a legitimidade
do arquiteto. Como todos os outros tipos de da intenção plástica que toda obra de
atividades artísticas, a arquitetura sofre as arquitetura necessariamente pressupõe. E
limitações decorrentes das maiores ou para determinar a natureza e o grau da
menores possibilidades oferecidas pelos participação da intenção artística no
recursos técnicos e industriais colocados processo do qual resulta a obra, começa
ao seu alcance. por definir o que seja arquitetura:
“Arquitetura é, antes de mais nada, construção; mas,
construção concebida com o propósito primordial de físico. De modo semelhante, os materiais
ordenar o espaço para determinada finalidade e
de construção selecionados e as técnicas
visando a determinada intenção. E nesse processo
fundamental de ordenar e expressar-se ela se revela empregadas deixam marcas bastante
igualmente arte plástica, porquanto nos inumeráveis nítidas no edifício. Mesmo um leigo é capaz
problemas com que se defronta o arquiteto desde a de perceber, após rápido exame
germinação do projeto até a conclusão efetiva da
comparativo, algumas das características
obra, há sempre, para cada caso específico, certa
margem final de opção entre os limites máximo e formais menos evidentes que distinguem
mínimo determinados pelo cálculo, preconizados pela uma estrutura de madeira de uma estrutura
técnica, condicionados pelo meio, reclamados pela de pedra. E não é necessário ser
função ou impostos pelo programa, — cabendo então
especialista para reconhecer, de relance,
ao sentimento individual do arquiteto (ao artista,
portanto) escolher, na escala de valores contidos as características formais do concreto-
entre tais limites extremos, a forma plástica apropriada protendido, as do concreto-armado ou as
a cada pormenor em função da unidade última da da alvenaria comum.
obra idealizada — A intenção plástica que semelhante
Convém, portanto, precisar a natureza da
escolha subentende é precisamente o que distingue a
arquitetura da simples construção’ (L. Costa — influência exercida pelos meios de
Considerações sobre arte contemporânea, 1952). edificação sobre a forma do edifício. Os
Assim, a atividade criadora do arquiteto meios de edificação constituem, como o
constitui uma atividade artística termo indica, simples meios, instrumentos
rigorosamente comprometida com um mobilizados para a realização da obra; são
programa de necessidades e com os selecionados e escolhidos em função das
denominados meios de edificação. finalidades do edifício. O arquiteto que
Para reconhecer a natureza e o grau de tal deve conceber e projetar um jardim de
comprometimento, cumpre verificar de que infância seleciona meios de edificação
modo cada um desses fatores intervém no muito diferentes daqueles que escolheria
processo de realização da obra, bem como para realizar uma escola superior.
a natureza da intervenção do próprio As próprias dimensões do terreno e sua
arquiteto. localização urbana seriam diversas, o
mesmo ocorrendo com a maioria dos
Capítulo 3 materiais de acabamento e com os
equipamentos. Diversidade essa que
Meios de edificação implicaria necessariamente a utilização de
técnicas diferentes.
Os meios de edificação compreendem os Contudo, o fato de serem previamente
recursos materiais e intelectuais selecionados e escolhidos, em função do
indispensáveis à realização do edifício. São tipo de edifício a ser construído, não anula
os materiais de construção e os ou neutraliza a influência dos meios sobre
equipamentos, as técnicas construtivas (os a forma, e a seleção e a escolha se dão,
sistemas e métodos de construção, em parte, tendo em vista justamente essa
incluindo-se aqui a mão-de-obra e a influência.
maquinaria especializada) e, por fim, o Os meios de edificação comparecem no
meio físico. O meio físico envolve o terreno, processo de gestação do edifício como
com seus acidentes topográficos e suas fatores capazes de condicionar sua
adjacências, que podem ser meio natural realização, mas não de modificar sua
ou meio urbano; envolve ainda as natureza específica. Assim como no caso
características de clima do lugar. da germinação de uma semente — em que
Quando lança mão dos meios de edificação as circunstâncias de clima ou a constituição
em disponibilidade, a arquitetura sofre sua do solo não modificam a natureza e as
influência, que, eventualmente, é qualidades específicas do vegetal que vai
considerável, podendo afetar a própria nascer —, no caso do edifício, os meios de
estrutura orgânica do edifício em gestação. edificação apenas condicionam, não
A simples escolha de um terreno, por determinam a natureza e as qualidades
exemplo, implica uma orientação solar, isto específicas e essenciais da arquitetura em
é, um movimento aparente do sol em torno gestação. A utilização de melhores
do edifício, implica uma direção dos ventos materiais e dos mais sofisticados recursos
dominantes, um relevo topográfico, uma da tecnologia não assegura a realização de
vista sobre a paisagem — circunstâncias uma obra de arte e nem permite organizar
diversas que o arquiteto tem de levar em um hospital com base no programa de um
conta ao conceber o edifício, sob pena de cassino.
sacrificá-lo ou, pelo menos, de não utilizar Os meios de edificação devem, portanto,
bem as oportunidades oferecidas pelo meio ser caracterizados como autênticos fatores
externos, capazes de favorecer ou assim como daquelas que estão nele
desfavorecer o processo de elaboração do implícitas, constitui o objetivo principal da
edifício; capazes mesmo de frustá-lo, mas realização do edifício. O programa define,
impotentes para determinar a natureza portanto, as finalidades do espaço
específica da obra e suas qualidades arquitetônico. Caracteriza-se, pois, o
essenciais, entre elas seu valor artístico e programa, como fator interno do processo
seu verdadeiro significado histórico e de criação do edifício, aquele que
social. E é esta condição de fator externo determina as qualidades específicas da
que explica o fato de que hoje, dispondo de obra, os seus valores funcionais.
recursos materiais e equipamentos
excelentes, e de uma tecnologia Ação do arquiteto
sofisticada, a arquitetura só eventualmente
consegue criar obras equiparáveis ao O arquiteto funciona como agente principal
Templo de Karnak, à Acrópole de Atenas, à do processo de realização do edifício.
Catedral de Chartres ou ao Templo Byodo- Estabelece o relacionamento das
in, todos eles edifícios realizados com exigências do programa com os meios de
escassos recursos técnicos e materiais edificação em disponibilidade. É o autor da
singelos. obra, responsável pela sua concepção e
verdadeiro criador dos seus valores
Capitulo 4 essenciais, os valores artísticos.
O grau da ação exercida pelo arquiteto na
Programa de necessidades e ação do definição dos valores essenciais do espaço
arquiteto arquitetônico, assim como o peso da
responsabilidade que assume perante a
O programa traduz necessidades e sociedade, é melhor avaliado através do
aspirações formuladas pela vida individual exame das relações do arquiteto com os
e social dos homens. Em sua expressão meios de edificação e com o programa.
mais simples, se apresenta sob a forma de
relação dos espaços que devem ser Como operador do processo de realização
criados mediante a realização do edifício. O da obra, o arquiteto estabelece os
programa para uma habitação média, por necessários vínculos entre o programa e os
exemplo, costuma explicitar: pequeno meios de edificação. Mas não o faz
vestíbulo, lavabo, salas de estar e jantar colocado acima ou fora do processo, mais
conjugadas, dois quartos de dormir e ou menos indiferente, isento ou imparcial
quarto de banho completo, apartamento — o arquiteto interfere no processo e o
para casal, com quarto de banho privativo, conduz, com base no seu discernimento
cozinha-copa, varanda de serviço, quarto pessoal e na sua sensibilidade, que
de empregada, e quarto de banho de constituem os fundamentos das
empregada, garagem ou abrigo para interpretações e opções que deve realizar.
automóvel. Durante os entendimentos com Os meios de edificação, por exemplo,
as partes interessadas e ao elaborar os existem em disponibilidade, oferecidos pela
chamados estudos preliminares, o arquiteto natureza, pela indústria, pela tecnologia da
toma conhecimento das características construção; cabe ao arquiteto, informado
particulares que devem marcar tais das exigências do programa, selecionar e
compartimentos e do relacionamento escolher os meios que lhe parecem mais
mútuo a ser criado entre eles. Essas convenientes à realização da obra. Assim,
características e esse relacionamento dentro de certos limites, ditados peio
refletem, no espaço arquitetônico, os programa e decorrentes das possibilidades
hábitos da vida familiar e, de certo modo, dos próprios meios — limitações tanto
as aspirações individuais dos futuros menores quanto maior o desenvolvimento
moradores da casa. O programa, portanto, Industrial e tecnológico —, o arquiteto é
é tanto mais eficiente quanto melhor livre para escolher os meios de edificação e
explicita a finalidade do edifício, definindo a o faz, geralmente, nos termos descritos por
capacidade ou o dimensionamento Lúcio Costa, isto é, apoiando-se no seu
aproximado de cada compartimento, as sentimento individual.
circulações entre eles, as condições Quanto ao programa de necessidades, não
desejáveis de iluminação, ventilação, brota espontaneamente das necessidades
temperatura, o equipamento previsível etc. e aspirações das pessoas, mas é
O atendimento das necessidades e elaborado mediante o estudo e a
aspirações expressas pelo programa, interpretação de dados colhidos pelo
arquiteto. Esses dados raramente exigências de natureza artística e
ultrapassam o limite de uma relação dos psicológica —, não encontram, via de
compartimentos requeridos, alguns índices regra, veículo nas leis. Se manifestam
de capacidade, uma ou outra informação através do próprio arquiteto, que tanto mais
sobre equipamentos e modo de utilização se aproxima da satisfação efetiva das
do espaço. Os Interessados no edifício são, necessidades e aspirações da comunidade
via de regra, leigos em arquitetura, e suas quanto mais está identificado com ela e sua
informações valem menos como dados cultura. Como intérprete das necessidades
precisos do que como índices de e aspirações que concernem ao edifício, o
necessidades e aspirações concernentes arquiteto não se limita a traduzi-las: ao
ao espaço arquitetônico. fazê-lo ele as transforma de acordo com
Cabe ao arquiteto, portanto, coordenar e sua própria concepção das coisas, com a
orientar a organização dos dados que fixam sua sensibilidade e o seu entendimento,
a finalidade da obra. Cumpre-lhe filtrar sua visão do mundo e da vida.
exigências, selecionando-as, excluindo É esse poder do arquiteto — de selecionar
algumas e sugerindo outras não e escolher os meios de edificação e de
pressentidas pelas pessoas interessadas interpretar as necessidades e aspirações
na obra. Durante a elaboração do concernentes ao edifício — que faz dele o
programa, o arquiteto, ao orientar, responsável maior pelas qualidades da
selecionar e coordenar os dados, faz obra de arquitetura. E é também daí que
intervirem suas próprias aspirações, decorre o peso da sua responsabilidade
tendências e intenções, que passam a social, como autor de obras que afetam
constituir requisitos das exigências direta e impositivamente a vida cotidiana
programadas. dos membros de uma comunidade.
Convém ainda ressaltar, a fim de que se
revele na sua integridade o papel do Capítulo 5
arquiteto como elaborador do programa,
que as noções jurídicas de proprietário e Constituição do programa de necessidades
usuário de um edifício são estreitas para
equacionar o problema da apropriação do O programa de necessidades determina a
espaço arquitetônico. Na maioria dos realização de um espaço arquitetônico para
casos, a obra de arquitetura ocupa um abrigar e favorecer o exercício de certas
lugar no espaço urbano, interessando, por atividades humanas. Sob a forma de um
isso mesmo, a toda comunidade. Em Saber edifício ou sob a forma de um espaço
ver a arquitectura Bruno Zevi aponta com urbano, o espaço arquitetônico tem como
precisão esse traço particular da obra ao traço mais importante o fato de constituir
explicar que ‘todo mundo pode desligar o um ambiente especialmente condicionado
rádio, desertar dos consertos, aborrecer-se às atividades que abriga.
no cinema e no teatro e não ler o livro, mas Em atenção às exigências do programa o
ninguém pode fechar os olhos frente a ambiente deverá, então, apresentar certas
todas as edificações que integram a cena características físicas, de sentido prático-
cidadã e levam o selo do homem aos utilitário, tais como os dimensionamentos, o
campos e à paisagem”. sistema de circulação, as condições
Esse caráter impositivo da presença dos acústicas e de temperatura, de iluminação
edifícios implica a necessidade de e ventilação, o abastecimento de água e
reconhecer a comunidade inteira como eletricidade etc. Essas características são
proprietária e usuária da obra de distintas, conforme o tipo de edifício
arquitetura. A sociedade aparece, portanto, requerido. O agenciamento de um espaço
diante do arquiteto como cliente, parte para fabricar calçados é completamente
interessada na obra, com necessidades e diferente daquele que se destina ao
aspirações a serem integradas no exercício de atividades médicas. Mesmo no
programa. complexo espacial constituído por um único
A coletividade manifesta parte das suas edifício, como, por exemplo, uma casa de
necessidades e aspirações através de habitação, são distintas as características
exigências legais: códigos e regulamentos físicas de um quarto de dormir, das de uma
que incidem sobre as construções. Trata-se sala de estar ou de uma cozinha.
aqui, principalmente, de aspectos que As características físicas do espaço
dizem respeito à saúde e à segurança edificado correspondem apenas aos
públicas. Os outros aspectos, que se aspectos mecânicos da função, isto é, da
referem especifica-mente ao espírito — atividade desenvolvida no ambiente,
incluídas aí certas atividades biológicas do artístico. Trata-se da exigência formulada
organismo humano (respiração, pela cultura de que o edifício apresente
transpiração etc.). A função em arquitetura, valor artístico.
entretanto, é bem mais complexa.
Entende-se a função como atividade Capítulo 6
exercida na forma, isto é, no espaço
arquitetônico, no ambiente edificado. Precedência dos valores artísticos
Envolvendo seres humanos, essa atividade
não se reduz aos aspectos mecânicos de Confrontando os valores revelados pelos
capacidade, ritmo, circulações, edifícios, observa-se que as exigências
movimentos, gestos, respiração, artísticas e aquelas que se relacionam com
transpiração etc. — ela implica também, e as funções prático-utilitárias não ocupam o
necessariamente, aspectos psicológicos. mesmo nível de importância.
No exercício saudável de qualquer Há, de fato, diversos tipos de edifício do
atividade, uma pessoa envolve não apenas mais alto valor como obra de arquitetura,
seu instrumental orgânico — seus braços, mas cujas qualidades prático-funcionais
mãos, seu corpo enfim — mas também são diminutas. A funcionalidade de
suas faculdades psíquicas. A atividade é edifícios, como os mausoléus, arcos de
exercida de maneira tanto mais eficiente e triunfo e outros monumentos, não
econômica quanto maior a coerência corresponde ao conceito de utilidade
manifestada entre seus aspectos físicos e prática. São obras que não respondem a
seus aspectos psicológicos. Quando uma exigências da vida material. São de-
pessoa se entrega a qualquer atividade terminadas por aspirações de ordem
mas permanece com o espírito espiritual, emocional ou intelectual. Os
concentrado em outras preocupações — seus valores realmente importantes se
quando não se estabelece coerência entre manifestam através de qualidades
a atividade física e a atividade psíquica —, artísticas, como a beleza, o caráter, a
o exercício da atividade tende a se tornar expressão arquitetônica.
desagradável, penoso e, em certas Erigir um monumento funerário não tem
circunstâncias, alienante. outra função além de marco de memória.
O espaço arquitetônico é animado por Não é da existência material de um corpo
formas de diversas naturezas, formas que morto que se trata, mas da preservação de
se conjugam para definir a forma uma lembrança útil à existência dos que
arquitetônica. As formas plásticas de um permanecem vivos. Os monumentos
ambiente estimulam os olhos, a funerários funcionam, geralmente, como
temperatura e o grau de umidade, falam à instrumentos de unidade social, veículos de
percepção através do tato, as condições enraizamento das nações no seu próprio
acústicas afetam a audição, e os cheiros e passado.
perfumes que impregnam o ar sensibilizam Os valores utilitários não são, portanto,
o olfato, e, em conjunto, integrados pela absolutamente necessários à manifestação
percepção, esses estímulos todos definem arquitetônica. Já com os valores artísticos
a forma arquitetônica como uma espécie de não ocorre o mesmo. É absurdo falar de
“atmosfera” que envolve e condiciona a arquitetura diante de uma obra desprovida
atividade psicológica das pessoas. de valores artísticos, pois a qualidade
Convém não perder de vista, então, a artística é necessária e indispensável à
diferença que existe entre a organização do manifestação arquitetônica.
espaço e a sua ordenação. O espaço é Outro fato que afirma a precedência dos
organizado com vistas aos aspectos físicos valores artísticos sobre os valores utilitários
e mecânicos da atividade, e é ordenado e no campo da arquitetura relaciona-se com
animado em função dos aspectos a sobrevivência da obra arquitetônica às
psicológicos dessa mesma atividade. condições do seu tempo. É fácil constatar a
À luz dessa distinção, pode-se reconhecer transitoriedade dos valores ditados pelas
no programa de necessidades a presença exigências utilitárias e a permanência mais
de exigências de natureza prática ou física, ou menos longa dos valores determinados
e exigências de natureza psicológica, umas por exigências artísticas.
e outras perfeitamente identificadas pela Os valores de natureza utilitária são, via de
origem comum. regra, superados em pouco tempo. Isto
O programa, contudo, não se define acontece devido às profundas modificações
apenas pelas exigências práticas e que sofre a vida material dos homens no
psicológicas, mas também pelo aspecto decorrer de alguns anos. As exigências de
natureza utilitária, que têm origem nas É essa transitoriedade das qualidades
necessidades materiais e na atividade utilitárias dos edifícios que vem colocando
prática, mantêm estreitos vínculos com o entre as preocupações dos arquitetos a
desenvolvimento material e técnico da procura de soluções estruturais capazes de
sociedade. Os hábitos da vida cotidiana, as se adaptarem às constantes modificações
noções de conforto, as técnicas de das exigências utilitárias. Assim nasceu a
trabalho, as relações entre os homens, concepção moderna de planos flexíveis,
respondem muito de perto à situação isto é, de estruturas que permitam, sem
econômica da sociedade, ao nível do •constrangimento para o aspecto formal do
conhecimento, aos avanços da tecnologia, edifício, modificar as plantas e reorganizar
à ordem social em vigor, à maior ou menor os ‘espaços internos sempre que isso se
disponibilidade de recursos etc. faça necessário.
A invenção de um simples mecanismo As exigências e os valores de natureza
pode alterar profundamente as noções e artística, ao contrário das outras,
exigências de conforto, superando em apresentam acentuada estabilidade no
pouco tempo valores que representavam tempo. E é justamente dessa questão de
um máximo de qualidades utilitárias. Uma sobrevivência da obra que fala Lúcio Costa,
alteração na estrutura da sociedade pode ao recomendar que o arquiteto procure
se refletir nas exigências utilitárias, transmitir ao conjunto edificado “ritmo,
modificando-as profundamente, a curto expressão, unidade, clareza — o que
prazo. Falando da velha casa brasileira do confere à obra o seu caráter de
tempo da colônia e do império, Lúcio Costa permanência” (L. Costa — “Memória
ilustra a estreita relação entre ordem social descritiva do Anteprojeto para a
e organização do espaço arquitetônico: “A Universidade do Brasil ‘).
máquina brasileira de morar, ao tempo da Dos valores de natureza artística decorre o
colônia e do império, dependia dessa fato das obras de arquitetura sobreviverem
mistura de cousa, de bicho e de gente, que à sua própria utilidade prática. Graças a
era o escravo. Se os casarões esses valores, uma obra como o Partenon,
remanescentes do tempo antigo parecem em ruínas e nada mais significando para os
inabitáveis devido ao desconforto, é porque rituais de uma religião que também
o negro está ausente. Era ele que fazia a pereceu, permanece viva e continua
casa funcionar; havia negro para tudo — tocando a sensibilidade. Essa
desde negrinhos à mão para recados, até sobrevivência não se apóia no mero valor
negra velha, babá. O negro era esgoto, documentário — ela se nutre na
água corrente no quarto, quente e fria, era capacidade das formas de emocionar e de
interruptor de luz e botão de campainha, o transmitir, comunicar algo do antigo
negro tapava goteira, e subia vidraça pensamento grego.
pesada. Era lavador automático, abanava Estas reflexões permitem concluir que os
que nem ventilador” (L. Costa — A crise da valores artísticos são necessários e
arte contemporânea). indispensáveis à manifestação
A abolição da escravatura paralisou os arquitetônica, não ocorrendo o mesmo com
casarões antigos, fazendo-os arcaicos e os valores prático-. utilitários. Conclui-se
desconfortáveis. Já a difusão desses ainda que os valores artísticos são mais
pequenos e sofisticados laboratórios que permanentes ou menos transitórios do que
são as cozinhas modernas foi crescendo os outros, neles apoiando-se a
na medida em que os novos processos sobrevivência da obra quando ela não mais
industriais e administrativos, e as novas apresenta eficiência prático-funcional.
condições de vida social, atraíram o É evidente, contudo, que reconhecer o
trabalho feminino para as fábricas, lojas, maior destaque dos valores artísticos na
escritórios e repartições públicas. existência da obra de arquitetura não
Nas condições de vida moderna, quando implica subestimar as determinações das
cada dia traz uma novidade — quer no exigências utilitárias. Quando o programa
campo da produção, quer no dos recursos manifesta exigências utilitárias, isso
oferecidos ao conforto —, os valores significa que os valores práticos requeridos
utilitários dos edifícios são extremamente são tão necessários e indispensáveis
transitórios. Em uns poucos decênios, a quanto os valores artísticos. O que não
mais revolucionária ‘máquina de morar” significa dizer que uns e outros adquirem a
começa a emperrar e a dificultar o pleno mesma importância, ou que apareçam
exercício das atividades que deveria nivelados no plano da arquitetura.
abrigar e favorecer.
Em Citadelle, o Príncipe de Saint-Exupèry sub-humanas, abrigadas em palhoças,
explica aos seus arquitetos a diferença malocas, favelas, mocambos, cortiços,
entre o necessário e urgente, e o cabeças-de-porco. Como seres humanos,
importante: “E vós me dizeis: — Nós essas pessoas têm necessidade de
respondemos às necessidades dos habitações, mas tal necessidade em nada
homens. Nós os abrigamos — Sim. Como afeta ainda o campo da arquitetura. Para a
se responde às necessidades do rebanho realidade arquitetônica brasileira é como se
que se instala no estábulo sobre seu leito essa necessidade não existisse
de palhas. E o homem, na verdade, tem concretamente. Fato semelhante acontece
necessidade de paredes para entre elas se com necessidades humanas relativas a
enterrar e tornar-se como a semente. Mas hospitais, escolas, bibliotecas, teatros etc.
ele necessita também da grande via-láctea — necessidades que existem no seio das
e da extensão do mar, apesar de que nem populações mas que ainda não atuam
as constelações e nem o oceano lhe são sobre a arquitetura.
úteis no momento (...). E eu penso como A necessidade existe independentemente
vós, que se trata de instalar os homens de da consciência das pessoas a respeito
um modo feliz. Para que eles disponham dela. Centenas de milhões de pessoas, em
das comodidades da cidade e não toda a face da terra, precisam de
desperdicem seus esforços em vãs habitações, maternidades, hospitais,
complicações e despesas estéreis. Mas eu escolas, todos os tipos de abrigos
sempre aprendi a distinguir o importante do indispensáveis a uma vida decente, mas
urgente. Pois é urgente, na verdade, que o não têm ainda consciência de que isso lhes
homem se alimente, porque se ele não se é necessário e urgente. Ignoram suas
nutre cessa de ser homem e não mais se próprias necessidades, em decorrência das
colocam problemas. Mas o amor e o condições de subdesenvolvimento das
sentido da vida e o gosto de Deus são mais sociedades em que vivem.
importantes. ( ... ) Porque, na verdade, são O desenvolvimento da sociedade humana
urgentes as cozinhas no palácio, mas, no vai permitir que uma quantidade enorme de
fim, o que conta é somente o palácio, ao pessoas adquira conhecimentos sobre
qual as cozinhas devem servir” (Saint- melhores condições de vida e suas
Exupêry, Citadelle). próprias necessidades Uma vez adquirida a
consciência das suas necessidades, os
Capítulo 7 homens naturalmente desejarão satisfazê-
las, o que autoriza dizer que tais
Fontes do programa de necessidades necessidades se transformam em
aspirações.
Os programas são ditados por Embora a simples aspiração não atue
necessidades e aspirações humanas — e ainda diretamente no campo da arquitetura,
não há outra forma correta de interpretar o revela-se como um elemento em potencial,
homem senão como indivíduo vivendo em prestes a assumir a forma de exigência
sociedade. As suas exigências programática.
concernentes à arquitetura mantêm A aspiração conduz naturalmente à luta por
correspondência íntima com os costumes, sua realização. Impulsiona as pessoas no
hábitos, tradições, nível de cultura, sentido de obterem os meios de realizar os
necessidades da produção, crenças edifícios de que carecem. A busca de
religiosas etc., que variam no espaço e no meios se processa individualmente, quando
tempo. as pessoas procuram acumular economias;
É sob a pressão de mudanças ocorridas na ou socialmente. quando elas formulam
vida social que as necessidades e reivindicações e se lançam à ação política.
aspirações concernentes à arquitetura se No último caso, as aspirações assumem o
transformam em exigências programáticas. caráter de questão social, interessando a
iniciativa ou a cooperação do Estado.
A necessidade humana relativa à morada O requisito para que a aspiração se
existe fora do campo da arquitetura, só transforme em exigência e compareça no
ingressando nele quando vigoram programa de necessidades, passando a
determinadas condições na vida social. atuar diretamente no campo da arquitetura,
Não é a necessidade mesma, considerada é que existam em disponibilidade os
em sua acepção mais ampla, que atua recursos ou meios para a realização do
sobre a arquitetura. No Brasil, por exemplo, edifício. A elaboração do programa — e a
vivem milhões de pessoas em condições conseqüente transformação da aspiração
em exigência — constitui o primeiro passo por isso mesmo, subestimar a importância
concreto do processo de realização da obra do volume de edificação para o processo
de arquitetura. da arquitetura. Por outro lado, a arquitetura
A disponibilidade de recursos depende do de um povo não é constituída por algumas
nível da economia social. É o baixo nível da obras excepcionais. Ou ela se afirma num
economia brasileira, por exemplo, que sentido genérico, marcando a grande
impede a transformação das necessidades massa de edifícios realizados no país, ou
e aspirações de milhões de brasileiros em acabará sendo historicamente considerada
exigências programáticas. O como simples curiosidade mais ou menos
desenvolvimento da arquitetura está acidental.
intimamente relacionado com o Essas reflexões sobre a transformação das
desenvolvimento econômico e cultural da necessidades em aspirações e exigências,
sociedade. e sobre problemas de quantidade e
É bem de ver que essas relações externas qualidade, permitem avaliar melhor o
—do programa com a vida social, por significado da insistência de Lúcio Costa
exemplo — não autorizam a concluir que em torno do esclarecimento da opinião
do desenvolvimento social decorre pública, esclarecimento que o mestre
mecanicamente o progresso da arquitetura. propõe como tarefa urgente dos arquitetos:
Uma sociedade de economia altamente “O alcance do problema ultrapassa, portanto, o âmbito
estritamente profissional, pois que são os próprios
desenvolvida assegura apenas a gestos cotidianos e o bem-estar físico e moral de
formulação de grande número de populações imensas — constituídas, não se esqueça,
programas. A realização de grande de multidões de indivíduos — que estão na
quantidade de edifícios favorece, sem dependência da sua solução. Cabe, por conseguinte,
informá-las para que cada um saiba, no seu estrito
dúvida, o apuramento da sua qualidade interesse pessoal, que, do ponto de vista do
arquitetônica, mas não o garante. A desenvolvimento tecnológico contemporâneo, é
qualidade essencial da arquitetura não se perfeitamente possível lhes dar, a todos, condições de
resolve através de nexos externos — ela é habitação, de transporte, de trabalho e de lazer
verdadeiramente ideais. Apenas a complexidade dos
decidida dentro do campo da própria direitos “adquiridos” e dos interesses em jogo, e a
arquitetura e particularmente, como obstinação implacável da sua reação, apoiada nos
conseqüência do nível de habilitação e do dogmas sacrossantos de um status social obsoleto —
talento dos arquitetos, o que envolve porque baseado ainda no primitivo arcabouço social
decorrente das possibilidades limitadas da produção
relações mais complexas. artesanal, e não nos amplos quadros de produção e
Estados Unidos e União Soviética têm sido distribuição em massa —, o impedem. Aliás essa
os países que realizaram, nestes últimos espécie de advertência não se deveria dirigir apenas
tempos, os maiores volumes de edificação. aos mais velhos, tantas vezes amortecidos de vontade
pelas vicissitudes do dia a dia, e desencantados de
A quantidade, entretanto, não lhes esperança, mas igualmente à mocidade e à própria
assegurou a realização de arquitetura de infância, a fim de lhes despertar a consistência
especial valor, pelo menos na proporção obliterada e de lhes restituir a confiança e o otimismo
que seria de esperar. A produção norte- capazes de predispor às tarefas, certamente penosas,
que se antepõem no caminho da superação das
americana, em que pese a presença de contradições atuais e de uma ordenada, integral e
arquitetos de notável capacidade, não se generalizada industrialização. / Industrialização capaz
coloca acima do nível de mediocridade de transferir o imemorial anseio de justiça social do
característico de todo o mundo. A plano utópico para o plano das realidades inelutáveis”
(L. Costa — Considerações sobre a arte
arquitetura norte-americana não revela contemporânea).
melhores qualidades essenciais do que
aquela que se vem realizando em países
como o México e o Brasil, por exemplo. A
União Soviética, após trinta anos de
edificação intensiva, acabou por verificar a
reconhecer a má qualidade da sua
arquitetura, deformada por preconceitos
acadêmicos e descaminhos políticos —
reconhecimento que serviu como ponto de
partida para uma reformulação geral do
conteúdo e da forma da arquitetura
soviética, reformulação hoje em curso, com
decêníos de atraso.
A quantidade de obras realizadas favorece,
ou pode favorecer, o aperfeiçoamento da
qualidade arquitetônica — e não é lícito,

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