Língua Portuguesa e Literaturas de Língua ...

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LÍNGUA PORTUGUESA E LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

1.

(Folha de S. Paulo,11 de outubro de 2004).

Na tira de Garfield, a comicidade se dá por uma dupla pos- provocada pela longa espera mundial de que, um dia, enfim, ocorrerá
sibilidade de leitura. a derrubada de Fidel Castro.
a) Explicite as duas leituras possíveis e explique como se b) “O acidente de Fidel” poderia ser um outro título para a legenda, já
constrói cada uma delas. que o substantivo “acidente” não permite a leitura apresentada no
b) Use vírgula(s) para discernir uma leitura da outra. item a.

Resolução:
a) A 1a leitura deve ser entendida como comida com pouca gordura. 3. Foi no tempo em que a Bandeirantes recém-inaugurara suas
Essa leitura se constrói, se o adjunto adnominal “com pouca gordura” novas instalações no Morumbi. Não havia transporte pú-
for aplicado ao substantivo “comida”. blico até o nosso local de trabalho, e a direção da casa
a
A 2 leitura deve ser entendida como para gato com pouca gordura organizou um serviço com viaturas próprias. (...) Paraná
(magro). Essa leitura se constrói, se o adjunto adnominal “com pou- era um dos motoristas. (...)
ca gordura” for aplicado ao substantivo “gato”. Numa das subidas para o Morumbi “fechou” sem nenhu-
b) Há duas construções possíveis: ma maldade um automóvel. O cidadão que o dirigia estava
– Comida, para gato, com pouca gordura. com os filhos, era diretor do São Paulo F.C., e largou o
– Comida para gato, com pouca gordura. verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altu-
ra. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo mun-
do de ponto batido, o automóvel pára em frente da porta
2. Na primeira página da Folha de S. Paulo de 22 de outubro dos funcionários, e o seu condutor desce bufando: “Onde
de 2004, encontramos uma seqüência de fotos a companhada está o motorista dessa perua? (e lá vinha chegando o
de uma legenda cujo título é: “A QUEDA DE FIDEL”. No Paraná). Você me ofendeu na frente dos meus filhos. Não
texto da legenda, o jornal explica: O ditador cubano, Fidel tem o direito de agir dessa forma, me chamar do nome que
Castro, 78, se desequilibra e cai após discursar em praça me chamou. Vou falar ao João Saad, que é meu amigo!”
de Santa Clara (Cuba), em evento transmitido ao vivo pela E o Paraná, já fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu
TV; logo depois, ele disse achar que havia quebrado o joe- sotaque mais que explícito: “Le” chamei e “le” chamo de
lho e talvez um braço, mas que estava “inteiro”; mais tar- novo... veado ... veado ...
de, o governo divulgou que Fidel fraturou o joelho esquer- Não houve reação da parte ofendida.
do e teve fissura do braço direito. (ARAÚJO, Flávio. O rádio, o futebol e a vida.
a) O que a leitura desse título provoca? Por quê? São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001, p. 50-1).
b) Proponha um outro título para a legenda. Justifique.
a) Na seqüência “(...) e largou o verbo em cima do pobre
Resolução: do Paraná. Que respondeu à altura”, se trocarmos o
a) A leitura do título, independente da leitura da matéria, faz o leitor pen- ponto final que aparece depois de ‘Paraná’ por uma vír-
sar que o governo do ditador cubano chegou ao fim. Essa leitura é gula, ocorrem mudanças na leitura? Justifique.

a
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b) O trecho da resposta de Paraná “Le chamei e le chamo 5. Em Angústia, de Graciliano Ramos, encontramos seqüên-
de novo ...” chama a atenção do leitor para a sintaxe da cias instigantes:
língua. Explique.
c) Substitua ‘tonitruou’ por outra palavra ou expressão. Penso em indivíduos e em objetos que não têm relação
com os desenhos: processos, orçamentos, o diretor, o secre-
Resolução: tário, políticos, sujeitos remediados que me desprezam por-
a) Não ocorre mudanças na leitura, porque, usando-se a vírgula no lu- que sou um pobre-diabo.
gar do ponto final, o pronome relativo torna o sujeito mais enfático. Tipos bestas. Ficam dias inteiros fuxicando nos cafés e
b) “Le chamei e le chamo de novo”, que Paraná diz por “lhe chamei e preguiçando, indecentes.
lhe chamo de novo”, traz o pronome oblíquo átono “le” (lhe) no início (...)
da oração, o que a sintaxe de colocação não permite. Fomos morar na vila. Meteram-me na escola de seu
Na linguagem oral é mais enfático “lhe chamei e lhe chamo de novo” Antônio Justino, para desasnar, pois, como disse Camilo
do que “Chamei-lhe e chamo-lhe de novo”. quando me apresentou ao mestre, eu era um cavalo de dez
c) “Tonitruou” pode ser substituído pelos verbos “vociferou”, “bradou”, anos e não conhecia a mão direita. Aprendi leitura, o cate-
“gritou”. cismo, a conjugação dos verbos. O professor dormia du-
rante as lições. E a gente bocejava olhando as paredes,
esperando que uma réstia chegasse ao risco de lápis que
4. Em um jornal de circulação restrita, vemos, na capa, a se- marcava duas horas. Saíamos em algazarra.
guinte chamada: (RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Ed. Record,
56a.ed., 2003, p. 8-9 e 15).
Inspire
saúde!
a) Que processos permitem as construções ‘preguiçando’
Sem fumar,
e ‘desasnar’ na língua?
respire
b) Se substituirmos ‘preguiçando’ por ‘descansando’ e
aliviado!
‘desasnar’ por ‘aprender’, observamos uma relação di-
No interior do Jornal, a matéria começa da seguinte forma: ferente com a poesia da língua. Explicite essa diferença.
Desperte o não-fumante que há em você!, seguida logo adi- c) O uso de ‘desasnar’ pode nos remeter, entre outras pala-
ante de O fumante passivo – aquele que não fuma, mas fre- vras, a ‘desemburrecer’ e ‘desemburrar’.
qüenta ambientes poluídos pela fumaça do cigarro – tam-
bém tem sua saúde prejudicada. No Dicionário Houaiss da língua portuguesa (Ed. Objetiva,
(Jornal da Cassi – Publicação da Caixa de Assistência dos Funcionários 2001), o verbete ‘desemburrar’ apresenta como acepções tanto
do Banco do Brasil, ano IX, n. 40, junho/julho de 2004). ‘livrar-se da ignorância’, quanto ‘perder o enfezamento’, e
Levando em consideração os trechos citados, observamos, marca sua etimologia como des + emburrar.
na chamada da capa, um interessante jogo polissêmico. Seguindo nossa consulta, encontramos no verbete ‘embur-
a) Apresente dois sentidos de ‘Inspire’ em ‘Inspire saú- rar’ o ano de 1647 que, segundo a Chave do Dicionário
de!’. Justifique. Houaiss, indica a “data em que [essa palavra] entrou no por-
b) Apresente dois sentidos de ‘aliviado’ em ‘respire alivia- tuguês”. A fonte dessa datação é a obra Thesouro da lingoa
do!’. Justifique. portuguesa composta pelo Padre D. Bento Pereyra,
publicada em Lisboa.
Resolução: Embora ‘desemburrecer’ não apareça no dicionário, encon-
a) O primeiro sentido de “Inspire” se refere a aspirar um ar saudável, tramos ‘emburrecer’, cuja entrada no português , segundo o
livre da poluição causada pela fumaça do cigarro; o segundo sentido Houaiss, data de 1998, atestada pela obra de Celso Pedro
equivale a despertar, sugerir uma vida alicerçada em uma conduta Luft Dicionário prático de regência verbal, publicada em
livre de atos nocivos à saúde. São Paulo.
b) O primeiro sentido de “aliviado” remete à idéia de tranqüilidade do O verbete ‘desasnar’ data de 1713, atestado pela obra Voca-
indivíduo por não ser adepto do tabagismo; o segundo sentido se bulário portugueza e latino de Rafael Bluteau, publicada
refere a uma respiração saudável, livre de intercorrências causadas em Coimbra-Lisboa.
pelo hábito de fumar. Tendo em vista as observações acima apresentadas – a pre-
sença ou não desses verbetes no dicionário, as datas de en-

2 a
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trada no português e as fontes que atestam essas entradas – b) O pronome nós na frase “Nós brasileiros falamos português” denota uma
o que se pode compreender sobre a relação entre o dicioná- idéia de exclusão, pois sugere a idéia de ser falante do português somente
rio e a língua? o povo brasileiro, excluindo os demais povos que usam o idioma.

Resolução:
a) O processo de formação do vocábulo “preguiçando” é a derivação 7. Leia o seguinte trecho do conto “O enfermeiro”:
sufixal por meio do sufixo –ndo, formador do gerúndio.
Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados
Em “desasnar” temos uma derivação parassintética (des = prefixo,
e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra
asn = radical e –ar = sufixo verbal).
dos séculos: “Caim, que fizeste de teu irmão?”
b) Na substituição do termo “preguiçando” por “descansando” e
(ASSIS, Machado de. “Várias Histórias”, em Obra Completa,
“desasnar” por “aprender”, observa-se a perda de criação de pala-
v. II, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 532).
vras que expressam o verdadeiro sentimento do autor, cujo objetivo
é narrar de uma forma clara, sem preciosismo, o âmago do eu-poé- a) A qual episódio do conto essa citação bíblica remete?
tico. b) O que leva o narrador a relacionar o episódio narrado
c) Pode-se estabelecer uma relação de causa e conseqüência, pois o com a citação bíblica?
dicionário registra termos usados pelos falantes que se incorporam c) De que modo o desfecho do conto revela uma outra faceta
ao idioma padrão, conhecido como língua. do narrador-personagem?

Resolução:
6. Mario Sergio Cortella, em sua coluna mensal “Outras a) A citação remete à morte do coronel Felisberto.
Idéias” escreve: b) A relação estabelecida pelo narrador se dá pelo fato de ele próprio
ter assassinado o coronel Felisberto, assim como Caim assassinou
(...) reconheça-se: a maior contribuição de Colombo Abel.
não foi ter colocado um ovo em pé ou ter aportado por aqui c) Através da lei da compensação, pois o narrador-personagem, Procópio
depois de singrar mares nunca dantes navegados. Colombo Valongo, recebe herança do morto, além de ouvir relatos sobre a per-
precisa ser lembrado como a pessoa que permitiu a nós, sonalidade violenta do coronel, razões que revelam sua outra face
falantes do inglês, do francês ou do português, que tivésse- que, até então, estava oculta.
mos contato com uma língua que, do México até o extremo
sul da América, é capaz de nos ensinar a dizer “nosotros”
em vez de apenas “we”, “nous”, “nós”, afastando a arro- 8. Leia o poema abaixo, de Manuel António Pina, importante
gante postura do “nós” de um lado e do “vocês” do outro. nome da lírica portuguesa contemporânea:
Pode parecer pouco, mas “nós” é quase barreira que sepa- AGORA É
ra, enquanto “nosotros” exige perceber uma visão de
alteridade, isto é, ver o outro como um outro, e não como Agora é diferente
um estranho. Afinal, quem são os outros de nós mesmos? O Tenho o teu nome o teu cheiro
mesmo que somos para os outros, ou seja, outros! A minha roupa de repente
(CORTELLA, Mario Sergio. Folha de S.Paulo, 9 de outubro de 2003).
ficou com o teu cheiro

O texto acima nos faz pensar na distinção entre um ‘nós’ Agora estamos misturados
inclusivo e um ‘nós’ excludente. No meio de nós já não cabe o amor
a) Segundo o excerto, ‘nosotros’ apresenta um sentido in- Já não arranjamos
clusivo. Justifique pela morfologia dessa palavra. lugar para o amor
b) “Nós brasileiros falamos português” apresenta um ‘nós’
excludente. Explique. Já não arranjamos vagar
para o amor agora
Resolução:
isto vai devagar
a) A palavra “nosotros” é formada pela junção de dois pronomes, res-
Isto agora demora
(PINA, Manuel António. Poesia Reunida (1974-2001).
pectivamente, nos pronome pessoal e otros pronome indefinido, isto
Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p. 49).
é, nós e os outros, o que denota uma idéia de inclusão.

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a) O poema trata de uma transformação. Explique-a. (Mocinha) – Estás doente, ou que haveis?
b) Que palavra marca essa transformação? (Velho) – Ai! não sei, desconsolado,
c) Qual a diferença introduzida por essa transformação no Que nasci desventurado.
tratamento convencional dado ao tema? (Mocinha) – Não choreis;
mais mal fadada vai aquela.
Resolução: (Velho) – Quem?
a) O eu-lírico refere-se a uma nova forma de se perceber e assimilar o (Mocinha) – Branca Gil.
relacionamento existente com o outro. (Velho) – Como?
b) Trata-se da palavra agora, pois especifica uma noção temporal defi- (Mocinha) – Com cent’açoutes no lombo,
nida (momento presente) distinta do que foi e do que pode vir a ser. e uma corocha por capela*.
c) A diferença introduzida no tema é que as relações amorosas são tra- E ter mão;
dicionalmente compreendidas como eternas, enquanto, no poema, o leva tão bom coração,**
eu-lírico as caracteriza como transitórias, efêmeras. como se fosse em folia.
Ó que grandes que lhos dão!***

9. Leia a seguinte passagem do conto “A sociedade”: (Gil Vicente, O Velho da Horta, em Cleonice Berardinelli (org.),
Antologia do Teatro de Gil Vicente.
O esperado grito do cláxon fechou o livro de Henri Ardel Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Brasília, INL, 1984, p. 274).
e trouxe Teresa Rita do escritório para o terraço.
* (corocha) cobertura para a cabeça própria das alcoviteiras; (por capela)
O Lancia passou como quem não quer. Quase parando.
por grinalda.
A mão enluvada cumprimentou com o chapéu Borsalino.
** caminha tão corajosa
Uiiiiia-uiiiiia! Adriano Melli calcou o acelerador. Na
*** Ó que grandes açoites que lhe dão!
primeira esquina fez a curva. Veio voltando. Passou de novo.
Continuou. Mais duzentos metros. Outra curva. Sem- a) A qual desventura refere-se o Velho neste diálogo com a
pre na mesma rua. Gostava dela. Era a Rua da Liberdade. Mocinha?
Pouco antes do número 259-C já sabe: uiiiiia-uiiiiia! b) A que se deve o castigo imposto a Branca Gil?
(ALCÂNTARA MACHADO, Antônio de. Brás, Bexiga e Barra Funda, c) Diante do castigo, Branca Gil adota uma atitude para-
em Novelas Paulistanas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959, p. 25). doxal. Por quê?

a) No trecho acima, a linguagem e as imagens apontam Resolução:


para a influência das vanguardas no primeiro momento a) Refere-se à sua desventura amorosa: o Velho apaixonou-se por uma
modernista. Selecione dois exemplos e comente-os. mulher mais jovem e não foi correspondido.
b) O título refere-se a mais de uma sociedade presente no b) A alcoviteira Branca Gil foi castigada por roubo, desonestidade e má
conto. Quais são elas? fé.
c) Branca Gil, mesmo sendo castigada, continua suas práticas deso-
Resolução: nestas para ganhar a vida.
a) 1) Experimentalismo lingüístico (registros sonoros, onomatopéias); 2)
O uso sem constrangimentos de marcas consagradas (Lancia,
Borsalino) e logradouros que dão veracidade ao relato (Rua da Liber- 11. Leia o seguinte trecho extraído do romance Angústia:
dade, 259-C) e 3) a presença do carro e da velocidade que fixam no
texto a idéia de modernidade. Onde andariam os outros vagabundos daquele tempo?
b) A sociedade efetivada entre Salvatore Melli e conselheiro José Naturalmente a fome antiga me enfraqueceu a memória.
Bonifácio, e o casamento, propriamente dito, entre Adriano Melli e Lembro-me de vultos bisonhos que se arrastavam como bi-
Teresa Rita. chos, remoendo pragas. Que fim teriam levado? Mortos nos
hospitais, nas cadeias, debaixo dos bondes, nos rolos san-
grentos das favelas. Alguns, raros, teriam conseguido, como
10. Leia os diálogos a seguir da peça “O Velho da Horta” de eu, um emprego público, seriam parafusos insignificantes
Gil Vicente: na máquina do Estado e estariam visitando outras favelas,
desajeitados, ignorando tudo, olhando com assombro as

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pessoas e as coisas. Teriam as suas pequeninas almas de E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.
parafusos fazendo voltas num lugar só.
(RAMOS, Graciliano. Angústia. Rio de Janeiro: Ed. Record, Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
a
56 ed., 2003, p. 140-1). Raramente, um pouco mais.

a) No momento da narração, a posição social do narrador- (MEIRELES, Cecília. O estudante empírico, em Antonio Carlos
personagem difere de sua condição de origem? Respon- Secchin (org.), Poesia Completa. Tomo II.
da sim ou não e justifique. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 1455-56).
b) Na citação acima, o termo ‘parafusos’ remete ao verbo
‘parafusar’ que, além do significado mais conhecido, a) Tanto o título quanto as imagens do poema remetem a
também tem o sentido de ‘pensar’, ‘cismar’, ‘refletir’, um domínio do conhecimento humano. Que domínio é
‘matutar’. Como esses dois sentidos podem ser relacio- esse?
nados ao modo de ser do narrador-personagem? b) Em que sentido são empregadas tais imagens no poe-
c) De que maneira o segundo sentido do verbo ‘parafusar’ ma?
está expresso na técnica narrativa de Angústia? c) Esse sentido acaba por ser contrariado ao longo do
poema? Responda sim ou não e justifique.
Resolução:
a) Sim, pelo fato de ser, no momento da narração, um funcionário públi- Resolução:
co e não mais um simples sertanejo, sua condição original. a) Trata-se da capacidade de traçar planos, estabelecer metas, objeti-
b) Os dois sentidos do verbo “parafusar” se relacionam com o perfil psi- vos e criar perpectivas para a vida.
cológico de Luís Silva, tipo introspectivo, intimista, silencioso, reflexi- b) No sentido metafórico, que remete às expectativas que o ser humano
vo e psicológico, capaz de remoer pensamentos e sensações duran- cria ao longo de sua existência.
te longos períodos. c) Sim, pois nem sempre os objetivos são alcançados de acordo com as
c) A técnica narrativa de Angústia deriva de todo o processo reflexivo e metas traçadas. Por essa razão, os “desenhos” traçados se renovam
memorialista do narrador-personagem Luís Silva. a cada dia, a cada momento.

12. Leia este poema de Cecília Meireles:

DESENHO

Traça a reta e a curva,


a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso. COMENTÁRIO
De tudo viverás.
A prova da 2 a fase da UNICAMP-2005 foi trabalhosa, principal-
Cuida com exatidão da perpendicular mente, no que concerne à parte gramatical, pois foram questões
e das paralelas perfeitas. muito bem elaboradas, explorando, com requinte, os processos de
Com apurado rigor. formação de palavras. Os candidatos, além de mostrar a sua capa-
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, cidade de interpretação e de conhecimento semântico, deveriam
Traçarás perspectivas, projetarás estruturas. ter domínio da sintaxe de colocação.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Em Literatura foram solicitados os seguintes autores: Machado
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
de Assis (O Enfermeiro); Manuel António Pina, poeta português
contemporâneo; Antônio de Alcântara Machado (A Sociedade); Gil
Construirás os labirintos impermanentes
Vicente (O Velho da Horta); Graciliano Ramos (Angústia) e Cecí-
que sucessivamente habitarás.
lia Meireles (Desenho). Exigiu-se do candidato conhecimento de
enredo e capacidade interpretativa, especialmente nas obras poéti-
Todos os dias estás refazendo o teu desenho.
cas.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.

a
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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

13. O amido nas plantas pode ser facilmente detectado porque,


em presença de uma solução fraca de iodo, apresenta colo-
ração azul-violeta. Foi feito um experimento em que uma
folha, ainda presa à árvore, foi totalmente recoberta com
papel alumínio, deixando exposto apenas um pequeno qua-
drado. Após alguns dias, a folha foi retirada da árvore, des-
corada com álcool e colocada em solução de iodo.
a) Que resultados foram obtidos nesse experimento? Por
quê? a) A que fases correspondem as figuras A, B e C? Justifi-
b) A que classe de macromoléculas pertence o amido? que.
c) Em que órgãos vegetais essa macromolécula é estoca- b) Qual é a função da estrutura cromossômica indicada pela
da? seta na figura D?

Resolução: Resolução:
a) Observa-se que a parte exposta da folha, pela presença de luz, reali- a) A – Metáfase mitótica.
zou o processo fotossintético, permitindo o acúmulo do glicídio no B – Metáfase II da meiose.
mesófilo foliar. C – Metáfase I da meiose.
b) Polissacarídeo energético, característico de vegetais. • No esquema (A), todos os cromossomos duplicados encontram-se
c) Raiz, caule e grãos. alinhados na região equatorial da célula.
• No esquema (B), nota-se a presença de apenas dois cromossomos
duplicados não homólogos, alinhados na região equatorial.
14. Os grãos de pólen e os esporos das plantas vasculares sem • No esquema (C), observa-se o pareamento dos cromossomos
sementes variam consideravelmente em forma e tamanho, o homólogos duplicados na região equatorial.
que permite que um grande número de famílias, gêneros e b) O centrômero é responsável pela união das cromátides irmãs.
muitas espécies possam ser identificados através dessas es-
truturas. Os grãos de pólen e os esporos das plantas
vasculares sem sementes permanecem inalterados em regis- 16. É comum, nos dias de hoje, ouvirmos dizer: “estou com o
tros fósseis, em virtude do revestimento externo duro e alta- colesterol alto no sangue”. A presença de colesterol no san-
mente resistente, o que possibilita inferências valiosas so- gue, em concentração adequada, não é problema, pois é um
bre floras já extintas. componente importante ao organismo. Porém, o aumento
a) Suponha que em um determinado local tenham sido en- das partículas LDL (lipoproteína de baixa densidade), que
contrados apenas grãos de pólen fósseis. A vegetação transportam o colesterol no plasma sanguíneo, leva à for-
desse local pode ter sido formada por musgos, samam- mação de placas ateroscleróticas nos vasos, causa freqüente
baias, pinheiros e ipês? Justifique sua resposta. de infarto do miocárdio. Nos indivíduos normais, a LDL
b) Esporos de plantas vasculares sem sementes e grãos de circulante é internalizada nas células através de pinocitose
pólen maduros, quando germinam, resultam em estru- e chega aos lisossomos. O colesterol é liberado da partícula
turas diferentes. Quais são essas estruturas? LDL e passa para o citosol para ser utilizado pela célula.
a) O colesterol é liberado da partícula LDL no lisossomo.
Resolução: Que função essa organela exerce na célula?
a) A vegetação desse local pode ter sido formada por pinheiros e ipês, b) A pinocitose é um processo celular de internalização de
já que se constituem em vegetais fanerógamos. substâncias. Indique outro processo de internalização
b) Os esporos, ao germinarem, originam os prótalos, enquanto que os encontrado nos organismos e explique no que difere da
grãos de pólen originam o tubo polínico. pinocitose.
c) Cite um processo no qual o colesterol é utilizado.

15. Os esquemas A, B e C, a seguir, representam fases do ciclo Resolução:


de uma célula que possui 2n = 4 cromossomos. a) O lisossomo promove a digestão intracelular.

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b) A fagocitose permite a entrada de substâncias sólidas através da anterior (cefalização) e aumento da capacidade de coordenação cor-
evaginação (caracterizando a formação de pseudópodos) da mem- poral promovendo uma locomoção mais eficiente.
brana plasmática. b) • Tênia: Filo Platelminto – endoparasita.
c) O colesterol é utilizado, principalmente, para a fabricação de • Sanguessuga: Filo Anelídeo – exoparasita.
hormônios sexuais. • Lombriga: Filo Nematelminto – endoparasita.

17. O uso das células tronco embrionárias tem levantado mui- 19. Em abril de 2003, freqüentadores da praia da Joatinga, no
tas discussões. As células embrionárias, geradas nos pri- Rio de Janeiro, mataram a pauladas um tubarão mangona.
meiros dias após a fecundação do oócito pelo As espécies animais que causam medo, repulsa ou estão
espermatozóide, não estão diferenciadas e podem se trans- associadas a superstições são inapelavelmente sentencia-
formar em qualquer célula do organismo. A célula-tronco das à morte. Cobras, aranhas, morcegos, escorpiões, ar-
prototípica é o zigoto. raias, marimbondos, sapos, lagartos, gambás e, claro, tu-
(Adaptado de IstoÉ, 20 de outubro de 2004) barões, morrem às dezenas, porque falta à população um
a) Após a formação do zigoto, quais são as etapas do de- nível mínimo de conhecimento sobre tais animais, seu com-
senvolvimento até a formação da notocorda e tubo ner- portamento, seu papel na cadeia alimentar e nos
voso nos embriões? ecossistemas.
b) Em que fase do desenvolvimento embrionário as célu- (Adaptado de Liana John, Sentenciados à morte por puro preconceito.
las iniciam o processo de diferenciação? www. estadao.com.br/ciência/ecos/mai/2003).
c) O desenvolvimento embrionário é uma das formas de a) As arraias pertencem ao mesmo grupo taxonômico dos
dividir os filos em dois grandes grupos. Dê duas dife- tubarões. Que grupo é esse? Dê uma característica que
renças no desenvolvimento dos protostomados e permite agrupar esses animais.
deuterostomados, e indique em qual desses grupos os b) Sapos e lagartos pertencem a classes distintas de verte-
humanos estão incluídos. brados. Dê uma característica que permite diferenciar
as duas classes.
Resolução: c) Aranhas e escorpiões têm em comum o fato de captura-
a) Segmentação – blastulação – gastrulação – organogênese. rem as suas presas ou se defenderem utilizando vene-
b) Mórula. nos. Indique que estruturas cada um deles utiliza para
c) • Protostomados: blastóporo origina a boca; o celoma é esquizocélico. inocular o veneno e em que região do corpo do animal
• Deuterostomados: blastóporo origina o ânus; o celoma é enterocélico. essas estruturas se localizam.
Os humanos pertencem ao grupo dos deuterostomados.
Resolução:
a) Condríctes. Ambos possuem esqueletos exclusivamente cartilaginosos.
18. Sob a denominação de “vermes”, estão incluídos b) Podemos diferenciá-los pelo tipo de fecundação, tipo de tegumento,
invertebrados de vida livre e parasitária como platelmintos, tipo de desenvolvimento.
nematódeos e anelídeos.
Anfíbios Répteis
a) Os animais citados no texto apresentam a mesma sime-
Fecundação externa interna
tria. Indique qual é essa simetria e dê duas novidades
Tegumento permeável impermeável
evolutivas associadas ao aparecimento dessa simetria.
Desenvolvimento indireto direto
b) Hirudo medicinalis (sanguessuga), Ascaris lumbricoides
(lombriga) e Taenia saginata (tênia) são exemplos de c) • Aranhas: quelíceras.
parasitas pertencentes a cada um dos filos citados que • Escorpiões: aguilhão.
podem ser diferenciados também pelo fato de serem
endoparasitas ou exoparasitas. Identifique o filo a que
pertencem e separe-os quanto ao modo de vida parasitá- 20. O processo de fermentação foi inicialmente observado no
ria. fungo Saccharomyces. Posteriormente, verificou-se que os
mamíferos também podem fazer fermentação.
Resolução: a) Em que circunstância esse processo ocorre nos mamífe-
a) Simetria bilateral, desenvolvimento do sistema nervoso na região ros?

a
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b) Dê dois exemplos da importância do processo de fer- rato, planta ou bactéria. James Watson e Francis Crick des-
mentação para a obtenção de alimentos. cobriram a estrutura do DNA, que permitiu posteriormente
decifrar o código genético determinante para a síntese
Resolução: protéica.
a) Na ausência do oxigênio nas células musculares. a) Watson e Crick demonstraram que a estrutura do DNA
b) • Produção do pão (fermentação alcoólica). se assemelha a uma escada retorcida. Explique a que
• Produção de coalhada (fermentação lática). correspondem os “corrimãos” e os “degraus” dessa es-
cada.
b) Que relação existe entre DNA, RNA e síntese protéica?
21. “Os ouvidos não têm pálpebras”. A frase do poeta e escri- c) Como podemos diferenciar duas proteínas?
tor Décio Pignatari mostra que não podemos nos proteger
dos sons desconfortáveis fechando os ouvidos, como faze- Resolução:
mos naturalmente com os olhos. O ruído excessivo, que atin- a) Os corrimões correspondem ao ácido fosfórico e à pentose
ge o auge em concertos de rock, causa problemas auditi- desoxirribose, enquanto que os degraus correspondem às ligações
vos. Nesses concertos, cerca de 120 decibéis são transmiti- (pontes de hidrogênio) entre as bases nitrogenadas.
dos durante mais de duas horas seguidas, quando, de acor- b) O DNA realiza a transcrição do RNA e este a tradução das proteínas
do com recomendações médicas, deveriam ser limitados a ou síntese protéica.
3 minutos e 45 segundos. Quem ouve música alta, em fones c) Através do número, seqüência e tipos de aminoácidos, além do ta-
de ouvido, também está sujeito a danos graves e manho e estrutura das proteínas.
irreversíveis, já que, uma vez lesadas, as células do ouvido
não se regeneram.
(Adaptado de Época, 10 de agosto de 1998). 23. Gatos Manx são heterozigotos para uma mutação que resul-
ta na ausência de cauda (ou cauda muito curta), presença de
a) O ouvido é constituído por três partes. Quais são essas pernas traseiras grandes e um andar diferente dos outros. O
partes? Em qual delas estão as células lesadas pelo ex- cruzamento de dois gatos Manx produziu dois gatinhos Manx
cesso de ruído? para cada gatinho normal de cauda longa (2 : 1), em vez de
b) Indique a função de cada uma das três partes na audi- três para um (3 : 1), como seria esperado pela genética
ção. mendeliana.
a) Qual a explicação para esse resultado?
Resolução: b) Dê os genótipos dos parentais e dos descendentes. (Uti-
a) Ouvido externo, ouvido médio, ouvido interno. lize as letras B e b para as suas respostas).
As células estão no ouvido interno.
b) • Ouvido externo: captação e direcionamento do som para as partes Resolução:
mais internas. Além disso, os pêlos e o cerúmen protegem e lubrifi- a) O gene dominante em dose dupla determina a morte da prole.
cam o órgão da audição. b) Parentais: Bb.
• Ouvido médio: transferência do estímulo sonoro do ouvido externo Descendentes: Bb e bb.
para o interno. Mantém, ainda, equilibradas as pressões nas faces da
membrana timpânica.
• Ouvido interno: a vibração de sua endolinfa, provocada pelo es- 24. O texto abaixo se refere ao relato de um viajante inglês que
tímulo sonoro, excita as células ciliadas sensitivas, de onde parte o esteve em Minas Gerais entre 1873 e 1875:
nervo coclear. Através deste nervo, o impulso é transmitido até os
centros da audição, situados nos lobos temporais do córtex cere- O bócio é muito comum entre os camponeses mais po-
bral. bres, mas raramente é visto nos fazendeiros mais próspe-
ros. A presença de cal nas águas dos córregos e uma at-
mosfera úmida são consideradas as causas primárias do
22. Em 25 de abril de 1953, um estudo de uma única página na mal, mas hábitos indolentes e uma ausência de toda higie-
revista inglesa Nature intitulado A estrutura molecular dos ne e limpeza, seja na própria pessoa ou na casa, são sem
ácidos nucléicos, quase ignorado de início, revolucionou dúvida grandes promotores da doença. Pode ser, e possi-
para sempre todas as ciências da vida sejam elas do homem, velmente é, hereditária, pois está principalmente confina-

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UNICAMP/2005 - 2 FASE - Prova de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Ciências Biológicas
da àqueles nascidos nas áreas afetadas, e os colonos vin-
dos de outras localidades não são muito sujeitos a ela.
(Adaptado de James W. Wells, Explorando e viajando três mil milhas
através do Brasil, do Rio de Janeiro ao Maranhão. v. 1. Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro, 1995).
a) Das causas mencionadas pelo autor, alguma é realmen-
te responsável pelo aparecimento do bócio? Justifique.
b) Qual a conseqüência do aparecimento do bócio para o
organismo?
c) Que medida foi tomada pelos órgãos de saúde brasilei-
ros para combater o bócio endêmico?

Resolução:
a) Não. Pois esta doença está, principalmente, relacionada à ausência
de iodo na alimentação e alterações hormonais.
b) Modificações na concentração dos hormônios da glândula tireóide
responsáveis pela regulação do metabolismo.
c) Exigir a introdução de iodo no sal de cozinha.

COMENTÁRIO

A 2a fase do vestibular da Unicamp-2005 apresentou questões


com alto grau de dificuldade. Registra-se a ausência de questões de
Ecologia. A prova exigiu uma grande atenção por parte do candida-
to.

Distribuição das questões por assunto


Botânica ........................................................................................ 2
Citologia ........................................................................................ 2
Embriologia .................................................................................. 1
Zoologia ........................................................................................ 2
Bioquímica .................................................................................... 2
Morfofisiologia humana .............................................................. 2
Genética ....................................................................................... 1

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UNICAMP/2005 - 2 FASE - Prova de Língua Portuguesa e Literaturas de Língua Portuguesa e Ciências Biológicas 9

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