Caderno de Apresentação UJC

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

CADERNO DE

APRESENTAÇÃO
União da Juventude Comunista - UJC
SUMÁRIO

Apresentação................................................................................. 02

História da UJC............................................................................... 03

Estratégias da Revolução e Frentes Táticas da UJC........................ 11

Organização da UJC ...................................................................... 15

A UJC é uma frente de massa do PCB............................................. 19


APRESENTAÇÃO

Este caderno tem por proposta apresentar, em linhas gerais e de modo


sintetizado, a história da União da Juventude Comunista; sua linha
política na atualidade (concepções estratégicas e táticas para a
revolução brasileira); suas formas atuais de organização interna; e
suas relações com o Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Ele pode ser utilizado para diferentes finalidades, entre as quais


destacamos duas: como um disparador para atividades de formação
política; e como um instrumento que auxilie nos processos de
recrutamento de militantes.

Em ambas as finalidades o caderno tem uma função auxiliar, que não


substitui a leitura de textos, a realização de discussões e de encontros
presenciais, entrando neste processo como mais um elemento a
contribuir nas atividades da UJC.

Coordenação Nacional da UJC


Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão
Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada
Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada. (Gonzaguinha)
HISTÓRIA DA UJC

N
ão é possível conhecer a história da União da Juventude Comunista sem
entender o momento de criação e desenvolvimento do Partido
Comunista Brasileiro (PCB). Fundado em 1922, o PCB nasce inspirado
no processo da Revolução Russa, para fazer frente à necessidade de
organização do crescente movimento operário brasileiro, que já naquele
momento apontava para as limitações das teses anarquistas¹, predominantes
no período. Era preciso criar uma organização que unificasse as novas
demandas, mobilizações e lutas e que fosse capaz de formular um programa de
intervenção política que superasse os limites das ações diretas e se
configurasse como uma alternativa real para a conquista do poder pelos
trabalhadores.

Na tentativa de seguir as orientações da Terceira Internacional Comunista², já


em 1924 o Comitê Central do PCB deliberou pela organização da Juventude
Comunista (JC). Contudo, somente a partir do ano de 1925 que o partido
passou a dar maior ênfase à sua articulação. A tarefa de organizar a Juventude
foi passada ao jovem estudante Leôncio Basbaum, que, em Recife organizara
uma forte base da Juventude Comunista. No Rio de Janeiro, em 1926, se
organizavam os primeiros Diretórios e Centros Acadêmicos em universidades
já sob a influência da JC. No ano seguinte, Leôncio Basbaum assumiu o
compromisso pela organização da JC a nível nacional.

No 1° de Maio de 1927, a Juventude Comunista participou intensamente das


mobilizações, mostrando não só a viabilidade como a necessidade de uma
organização do gênero. Esta participação no 1° de Maio incentivou o Comitê
Central do PCB a apressar o processo de organização da JC e, desta maneira,
no dia 1° de Agosto de 1927 é oficialmente fundada a Juventude Comunista.
Logo após sua fundação, a JC pede ingresso na Internacional da Juventude
Comunista, onde não só é aceita como convidada a mandar delegado ao seu

1 - O movimento operário brasileiro, em sua origem, devido a presença marcante de trabalhadores imigrantes europeus, foi
hegemonizado por teses e concepções políticas anarquistas, que postulavam a necessidade de ações diretas de combate ao
Estado, sem uma organização centralizada forte.
2 - A Internacional Comunista é o nome dado a uma associação criada para coordenar e organizar as ações dos diversos
movimentos e grupos comunistas atuantes no mundo todo. Sua existência se deu em diferentes momentos da história,
tendo sido criada e dissolvida diversas vezes. A “primeira internacional” foi criada em 1864, em Londres, sendo que dela
participaram os fundadores do Marxismo, Marx e Engels. Foi extinta em 1876. A “segunda internacional” foi criada em 1889,
tinha em suas fileiras importantes revolucionários como Karl Kautsky, Rosa Luxemburgo e o próprio Lênin. A “terceira
internacional” foi criada dois anos após a revolução russa, em 1919, e é dissolvida em plena 2ª Guerra Mundial, em um
movimento estratégico de Stálin para se aliar as potências imperialistas contra a Alemanha Nazista. Com a ascensão do
stalinismo as dissidências trotskystas criam a “quarta internacional”, mas essa já não consegue uma ampla aderência do
movimento comunistas internacional. A Internacional Comunista a qual se refere o texto é a Terceira Internacional, também
conhecida como “Komintern”. 4
V Congresso, em Setembro de 1928.

O Movimento Comunista Internacional (MCI) passava então por uma forte


disputa de projetos que culminaria, no final dos anos 20, na vitória do
segmento de Stalin e da política de “Classe contra Classe”³, uma política de
confrontação direta. Essa política, porém, ainda não havia atingido o PCB nem
a JC. Em 04 de Janeiro de 1929, após o III Congresso do PCB, é realizado o I
Congresso da JC, num momento de grande riqueza de formulações originais
por parte do Partido, que na época possuía à sua frente Astrojildo Pereira. O
congresso da JC formula ricamente sua intervenção no movimento de
juventude, priorizando o meio sindical e cultural, a organização dos Centros de
Jovens Proletários, além de manter diálogo com o nascente movimento
estudantil.

A JC entra na década de 1930 ainda sem muita expressão. Tanto o PCB quanto
a JC, conseqüentemente, sofrem a crescente influência do “obreirismo”,4 o que
engessou as organizações levando-as a um estreito isolamento político.
Todavia, com o crescimento do movimento fascista na Europa, o Komintern se
viu obrigado a recuar de sua política estreita, e, em 1935 efetua uma guinada
na linha política do Movimento Comunista Internacional a partir da busca pela
construção de “frentes únicas” contra o avanço do fascismo.

No Brasil, desde o ano anterior, já se sentia a necessidade da JC se integrar a


um movimento mais amplo diante da fascistização do Estado com Getúlio
Vargas e sair do isolamento em que se encontrava. Foi com este espírito que a
JC participou ativamente da Conferência Nacional de Estudantes Antifascistas.
Nesta ocasião ocorreu, além das grandes mobilizações promovidas pela
Juventude Comunista, uma série de conflitos físicos entre os Comunistas e os
Integralistas (movimento de nítida caracterização fascista). Num dos mais
famosos confrontos, a chamada Batalha da Sé em São Paulo, houve diversos
feridos e quatro mortos, sendo um militante da Juventude Comunista. No Rio,
houve violentos confrontos, na Cinelândia (centro da cidade). A necessidade,
cada vez maior, de se intensificar a luta contra não só a fascistização do Estado
como também contra a Ação Integralista Brasileira, obrigava a Juventude
Comunista a diversificar suas formas de resistência e lutas. Assim, é criado o
jornal “Juventude” em 1935, jornal que conclamava a unidade incondicional
dos segmentos antifascistas.

3 A política de “classe contra classe” foi uma política advinda da Terceira Internacional no seu VI Congresso Mundial que
postulava o combate à social-democracia por parte dos comunistas.
4 Obreirismo é uma ideologia que proclama a necessidade de que os trabalhadores “produtivos” cumpram funções centrais
no partido, sendo os outros quadros, como os quadros intelectuais, desprezados, secundarizados ou até depurados da
organização partidária. 5
Ainda em 1935, deliberação do partido apontava para a necessidade da JC
formar comitês juvenis da ANL, a Aliança Nacional Libertadora,5 e indicava
também como prioridade, no meio estudantil, organizar o Congresso da
Juventude Proletária, Estudantil e Popular, e que o congresso deliberasse por
sua adesão à ANL, fazendo um trabalho paralelo entre os estudantes e entre os
Jovens operários nas fábricas, sindicatos etc: “Formar e ampliar a JC dentro de
amplos organismos de massa juvenis”.

Porém, com a radicalidade crescente da ANL, o Governo de Getúlio a coloca na


ilegalidade, desencadeando uma série de prisões e atos arbitrários por parte
do Estado, como o fechamento de sedes de partidos políticos, prisões e
6
espancamentos. Com o fracasso do Levante Comunista de novembro de 1935,
se instaura no país uma violenta caça aos comunistas, ocasionando o
desmantelamento do Partido e das organizações a ele ligadas.

Durante a década de 30, os jovens comunistas intensificaram sua atuação no


movimento estudantil, onde jogaram papel fundamental para a criação da
UNE, a União Nacional dos Estudantes, em dezembro de 1938.

Na década de 1940, a UJC se encontrava dispersa e sem uma atuação


orgânica. O que se tinha era a militância jovem do PCB atuando de maneira
hegemônica no movimento estudantil, onde a UNE começa a ganhar espaço e,
mesmo com forte repressão, os comunistas se destacaram nas mobilizações
contra a entrada do Brasil na II Grande Guerra.

Em 1943 o PCB realiza a Conferência da Mantiqueira, aprovando como eixo


principal a luta pela restauração das liberdades democráticas com a anistia
para os presos políticos. Amplas mobilizações, integrando todo o conjunto da
sociedade civil, dos estudantes à intelectualidade progressista, e, em abril de
1945, finalmente o Estado recua e o PCB volta à legalidade, podendo assim
atuar livremente na sociedade.

Nesse sentido, o PCB coloca novamente na “ordem do dia” a necessidade de


reorganizar a Juventude Comunista, agora com um novo formato, como UJC,
União da Juventude Comunista. Porém, o Partido Comunista teria uma curta
trajetória na legalidade. O registro do partido foi caçado e todos os mandatos
de seus deputados e de seu Senador, anulados. Inicia-se, no governo Dutra,
5 A Aliança Nacional Libertadora foi uma frente política formada em 1935 com o objetivo de combater a ascensão do
fascismo e a submissão nacional do Brasil ao imperialismo. Foi composta por diversos setores da sociedade brasileira que
aderiam a essa linha, como comunistas (PCB), democratas nacionalistas, operários, tenentes, estudantes de esquerda,
entre outros. Foi fechada pelo governo de Getúlio Vargas no mesmo ano.
6 Com o fechamento da ANL no ano de 1935 se acirra a luta de classes no país culminando em um levante armado de
tententes comunistas em novembro do mesmo ano. Sem contar com forte aderência da população o levante é esmagado e
se inícia um largo período de fechamento do regime presidido por Getúlio Vargas, o chamado Estado Novo. 6
3
uma forte repressão e um grande sentimento anticomunista. Nesse contexto
por questão de segurança, o Partido decide fechar a UJC.

Em 1950 o PCB adota uma nova linha política e decide pela reorganização da
juventude. A UJC compreende, no período, a necessidade de estender sua
inserção para os mais amplos movimentos de juventude, direcionando-os sob
a perspectiva da luta de classes. Neste período, foi presidente da UJC João
Saldanha, o João Sem Medo.

Ainda nos anos 50, a UJC esteve engajada na luta pela adesão do Brasil à
guerra da Coréia (contra o eixo Berlim-Roma-Tóquio) e na campanha do
“Petróleo é nosso”. Em 1956, compôs a chapa que reconduziu a UNE a posturas
mais progressistas, além de ter participado dos espaços da UBES e ter
cumprido papel importante na construção dos Centros Populares de Cultura
(CPCs) vinculados às entidades estudantis. Nesse mesmo período, no plano
internacional, teve atuação decisiva na Federação Mundial das Juventudes
Democráticas (FMJD), do qual é uma das organizações fundadoras.

A crise do movimento comunista internacional, decorrente das resoluções do


XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, onde Kruschev faz
duras críticas ao período da direção de Stálin na URSS, rebate também no PCB,
principalmente em seu núcleo dirigente, que passa a travar forte luta interna.
Esta luta culminaria na saída do Partido de vários dirigentes que adotariam
uma linha de não-autocrítica do período anterior e assumiriam uma postura
sectária ao fundarem em 1962 o PC do B. Na UJC, alguns militantes saem e vão
para o PC do B, atraídos pelo seu discurso estreito.

Em 1964, o golpe civil-militar depõe o governo Jango e instala no Brasil uma


ditadura com clara postura anticomunista, que contribui para a dispersão dos
militantes. Ainda assim, no ano seguinte se organiza o congresso da UNE, onde
a UJC assume cargos na direção da entidade, que então estava na ilegalidade.
O movimento estudantil assume papel de vital importância no combate à
ditadura civil-militar, onde em parte desenvolve a política do PCB de enfrentar a
ditadura com amplos movimentos de massas em mobilizações reivindicando a
volta da legalidade democrática. Com o maior tensionamento com a ditadura,
diversos setores da juventude optam pela luta armada como forma de
combate. Esta postura entrava em choque com a política do PCB e, portanto,
da UJC, de combater a ditadura através das mobilizações de massa, o que
7
acarreta novamente a saída de diversos militantes. O AI-5 viria para confirmar
7 O Ato Institucinal nº 5, também conhecido como AI-5 é um decreto governamental publicado em dezembro de 1968, que
se tornou um marco no endurecimento da Ditadura Militar, dando poderes extraordinários ao presidente da república, o
militar Costa e Silva, e suspendendo diversas garantias constitucionais. A partir do AI-5 a perseguição a militantes
comunistas ou de esquerda se tornou feroz, assim como a proibição de toda e qualquer manifestação política. 7
3
que a ditadura não estava disposta a ceder diante da radicalidade de
segmentos da esquerda: ao contrário, a ditadura utilizava-se destas posturas
para justificar o aumento da repressão.

Com a derrota dos segmentos armados da resistência à ditadura, esta volta sua
atenção para o PCB, que era então responsável pelas maiores fissuras na
ditadura, com amplas denúncias e passeatas. Desencadeia-se, assim, uma
forte perseguição aos comunistas. Um terço do Comitê Central do PCB é
assassinado, assim como diversos militantes do Partido e muitos jovens da
UJC. Tal situação levou a UJC a praticamente deixar de existir, atuando mais em
núcleos dispersos e com pouca funcionalidade. Mesmo assim Jovens
Comunistas participaram do Encontro Nacional dos Estudantes que definiu
pela reorganização da UNE.

Com a volta dos exilados e com a lei da anistia, o PCB organiza uma comissão
incumbida de reorganizar a UJC; porém, já se iniciava, então, a disputa interna
8
que culminaria no “racha” de 1992. Diversos membros da comissão de
reorganização da UJC foram substituídos, vários jovens saíram do PCB com
Prestes e outros se afastaram do PCB diante das novas posturas adotadas pelo
Partido, importadas do Eurocomunismo, que levavam o PCB a uma clara
postura de conciliação de classes.

A UJC ressurge neste cenário, em 1985, junto com a legalidade do PCB, porém
com o discurso muito diluído e com fraca capacidade de mobilização, o que
afastava, paulatinamente, a juventude mais aguerrida das fileiras da UJC. O VII
Congresso, em 1984 e o VIII Congresso em 1987, aprofundaram a linha
conciliadora do PCB. Agravou-se a luta interna. A seqüência de acontecimentos
que ocorreram no Leste Europeu no fatídico ano de 1989, e posteriormente
com o próprio colapso da URSS, serviu para justificar uma suposta legitimação
as posturas liquidacionistas dentro do PCB, que apontavam para a constituição
uma nova organização, ideologicamente gelatinosa, que viria a ser o PPS, hoje
de perfil claramente burguês. É chamado, em caráter extraordinário, o X
Congresso, que ocorre de maneira confusa e não legitima, onde inclusive não-
militantes puderam fazer uso do direito de voto, passando por cima de todos os
principios éticos-organizativos do partido.

Retira-se do Congresso um expressivo número de militantes e delegados

8 Em 1989, sobre a pressão da crise no Leste Europeu, um grupo interno ao PCB, liderado por Roberto Freire, postula a
necessidade do abandono da tese da revolução social e a aderência às idéias social-democratas da “nova esquerda”
européia. Tal grupo aprova um congresso relampâgo, em 1992, que permite que pessoas não filiadas ao partido decidam
sobre os rumos da organização, decidindo pela liquidação do PCB e a formação de uma novo partido. Assim se dá a formação
do Partido Popular Socialista (PPS), que hoje em dia faz alianças reacionárias com partidos como o PSDB. A maior parte dos
militantes comunistas, contudo, não reconhece tal congresso e decide pela manutenção do PCB. 3
8
organizados no movimento nacional em defesa do PCB que, durante o
congresso, denunciam as posturas liquidacionistas e antimarxistas dos que
conduziam o congresso e organizam em outro local uma conferência nacional
de reorganização do PCB, rompendo não apenas com as posturas
liquidacionistas como com a política de conciliação operante no PCB nos anos
de 1980 – reorganizando-o, assim, de maneira revolucionária, sobre os pilares
do Marxismo-Leninismo.

Em Março de 1993 se realiza de fato o X Congresso do PCB, que aprova a


reativação da UJC. As teses para o X congresso do PCB afirmavam a
necessidade de “ter especial atenção com a formação dos jovens comunistas,
com a ativa renovação revolucionária da UJC, como instrumento de atuação
dos comunistas na juventude, (…) Este é o grande investimento do Partido em
longo prazo, pois os jovens são os verdadeiros continuadores da história,
tradições e lutas do Partido Comunista Brasileiro”. As teses procuravam
formular uma série de bandeiras gerais para unificar a atuação da juventude.

Em 1994, no mês de Agosto, se dá o Congresso de reorganização da UJC no Rio


de Janeiro, no Sindicato dos Médicos, onde é eleita uma diretoria nacional com
o intuito de organizar a atuação da UJC nacionalmente. Na ocasião, é eleita
como presidente da UJC a estudante e militante da UJC em São Paulo, Sofia
Pádua Manzano. Nos anos seguintes a UJC volta a participar da UNE e procura
desenvolver outras frentes de atuação. O mesmo quadro se manteria no XI
Congresso.

Com a realização do XII Congresso do PCB, em 2000 foi aprovada uma


resolução que permitia a ativação ou desativação da UJC nos Estados,
conforme a prioridade de ação política e de organização do Partido em cada
região. No Movimento Estudantil, os Jovens Comunistas atuavam através
Movimento “A Hora é Essa, Ousar Lutar – Ousar Vencer”. Este priorizou, em
âmbito nacional, a atuação dentro da UBES e UNE. Mesmo assim, se mantém a
UJC organizada em alguns estados.

As resoluções do XIII Congresso do PCB apontam para a reorganização em


nível nacional da UJC, como frente orgânica ao PCB, com suas direções, ações
em linha gerais referendados pelo Partido, constituindo assim uma renovada
UJC, adaptada às novas demandas e exigências históricas.

Em 2005 foi constituída uma comissão nacional provisória da UJC, que


organizou as atuações da organização em diversas frentes e ocasiões,
enquanto preparava o Congresso de Reorganização da UJC (realizado em
9
3
2006, em Belo Horizonte/ MG). Em 2010, a UJC realizou seu V Congresso em
Goiânia/GO e em 2012 em Niterói-RJ. Pela primeira vez em sua história realizou
três congressos nacionais seguidos, sem interrupções impostas pela
conjuntura no país ou pelos processos de luta interna no PCB.

Nesses três últimos congressos, a UJC aprofundou suas formulações políticas e


avançou em termos organizativos. Pôde dar importantes passos no sentido da
consolidação do processo de reconstrução revolucionária do PCB, apontado no
partido a partir das resoluções de seu XIV. Hoje, a UJC se apresenta como uma
alternativa revolucionária de organização às massas de jovens inconformados
com o atual sistema societário e que têm sentido na pele o avanço da
exploração do trabalho e da retirada de direitos, que tendem a acirrar cada vez
mais a luta de classes no país.

130
O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência (Mauro Iasi)
A ESTRATÉGIA DA REVOLUÇÃO E
AS FRENTES TÁTICAS DA UJC.

A
ntigamente, os comunistas faziam a análise de que o modo de produção
capitalista no Brasil ainda não estava completo, se comparado com o
capitalismo e a industrialização dos principais países capitalistas do
mundo, como EUA, França, Inglaterra, etc. Isso quer dizer que eles
identificavam que vários momentos da economia brasileira, bem como várias
relações sociais no país, não eram de fato capitalistas, mas sim pré-capitalistas
(por exemplo, as relações de trabalho no campo que deixaram de ser baseadas
no trabalho escravo, sem, contudo, se consolidarem como relações de trabalho
livre, baseadas no assalariamento). Por consequência, argumentavam que
não era possível para os trabalhadores no Brasil lutarem por uma revolução
socialista, visto que era necessário primeiro desenvolver o capitalismo e as
forças produtivas do Brasil, para depois se atingirem as condições para
socializar toda a produção através de uma revolução, sem haver escassez ou
falta de capacidade produtiva.

Essa estratégia da revolução, que é mediada pela necessidade do crescimento


do capitalismo, sendo, portanto necessário que, por algum tempo, os próprios
trabalhadores defendessem políticas de desenvolvimento do capitalismo em
aliança com setores da burguesia, é o que se convencionou chamar de uma
visão “etapista” da revolução, a estratégia “nacional desenvolvimentista” ou
“democrático-burguesa”.

Contudo, a partir da década de 50, o capitalismo brasileiro vai se tornando cada


vez mais encorpado e completo, mesmo que ainda tivesse uma condição
econômica totalmente subordinada às grandes potencias imperialistas. Tal
desenvolvimento capitalista se consolida na ditadura militar, momento
marcado por uma forte repressão a qualquer manifestação e organização da
classe trabalhadora, e coloca uma nova situação para a ação estratégica dos
comunistas na década de 80. Esse período foi marcado por um grande ascenso
das lutas dos trabalhadores e a consequente construção de instrumentos de
organização como a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e o PT (Partido dos
Trabalhadores) que passaram a hegemonizar a luta dos trabalhadores através
de uma estratégia que identificava que a subordinação da burguesia brasileira
aos interesses dos países imperialistas impossibilitava um desenvolvimento
democrático mais amplo no país (maior distribuição de renda, reforma agrária,
acesso universal a saúde, educação etc.) ainda nos marcos do capitalismo.
Segundo essa estratégia era necessário que se desenvolvesse uma luta,
12
através da aliança entre setores oprimidos da sociedade, para eliminar essas
“tarefas democráticas em atraso”, e posteriormente atingir o socialismo.

Essa estratégia ficou conhecida como estratégia “democrático-popular”, é uma


variante etapista da estratégia “democrático-burguesa”, e ainda hoje possui
adeptos no Brasil (como a Consulta Popular, o PC do B, setores do PT, etc).

Como a história recente demonstrou, a política de alianças do PT foi


aumentando cada vez mais, com o objetivo de conquistar o governo, chegando
ao cúmulo atual, de alianças com setores burgueses brasileiros, com a
burguesia financeira internacional, com os ruralistas, entre outros. Isso fez
com que o PT abandonasse seus princípios de defesa da classe trabalhadora e
focasse seus esforços em uma política de conciliação de classes, compondo um
bloco liberal burguês hegemônico, que possibilita uma exploração cada vez
maior do trabalhador brasileiro, e uma lucratividade maior para vários setores
da burguesia.

Ao contrário dessas posições, para os comunistas, no Brasil e no mundo atual


predominantemente capitalista em todas as suas esferas, não há mais lugar
para um direcionamento das lutas dos trabalhadores que não seja pautado por
uma estratégia socialista, baseada na união dos setores de esquerda e contra
todas as manifestações do capital, rumo à revolução. As estratégias “etapistas”
há um bom tempo perderam sua razão de ser na medida em que somente
prejudicam a luta dos trabalhadores na construção de uma sociedade
comunista.

Como dizem as Teses do XIV Congresso do PCB: “Afirmamos que a Revolução


Brasileira é uma Revolução Socialista, considerando que o Brasil é uma
formação social capitalista desenvolvida e monopolista, que a burguesia
monopolista nacional/internacional constituiu-se em classe hegemônica e
dominante; que o Estado brasileiro é um Estado burguês e que o processo
político da luta de classes no ciclo recente produziu um bloco liberal burguês
hegemônico e dominante, formado pela aliança entre a grande burguesia
monopolista, o monopólio capitalista da terra, o imperialismo e um setor
político da pequena burguesia política que, através de burocracias partidárias
e sindicais e o controle de mecanismos de governo, buscam cooptar o
proletariado e neutralizar suas ações; considerando ainda que um bloco
proletário procura resistir na direção de uma contra-hegemonia que aponta
para uma meta de superação do capitalismo e da necessidade de uma
sociedade socialista”.
3
13
Mas para que construamos a Revolução Brasileira, não basta que afirmemos
uma estratégia acertada. É preciso também que trabalhemos para a
construção de mediações táticas que consigam unir os setores que hoje
defendem a estratégia da revolução socialista. Somente assim poderemos
construir uma nova ofensiva da classe trabalhadora contra o capital.

O ciclo de esquerda hegemonizado pelo PT, que resultou em um


apassivamento da classe trabalhadora, nos coloca em um momento histórico
de grande fragmentação na esquerda, e de pouca inserção na massa dos
trabalhadores. Por conta disso é que nós, comunistas, concebemos que é
necessário que as forças de esquerda hoje se unam em torno de uma Frente
Anti-Capitalista e Anti-Imperialista, tendo em vista formar no futuro um Bloco
Revolucionário do Proletariado que dispute a hegemonia com o Bloco liberal
burguês atualmente dominante na sociedade brasileira.

Nessa construção, que se dá nas lutas cotidianas e somente através de alianças


entre os setores populares da sociedade, é necessário que, na organização da
luta, impulsionemos formas de organização e de ação que conduzam a uma
auto-organização dos trabalhadores diretamente oposta as estruturas de
dominação burguesas, de forma a criarmos uma hegemonia proletária e
popular na realidade política brasileira. É o que chamamos da tática da
construção do Poder Popular.

Ora, se lutamos pela construção de uma sociedade onde a organização da


produção e da distribuição será feita pelos próprios trabalhadores e para os
próprios trabalhadores, é de extrema importância tática que tais formas de
autogestão sejam de fato maneiras de combate direto à ordem atual. E nesse
sentido, “é na construção do poder popular, de mecanismos coletivos de
controle econômico e de tomadas de decisão que se encontram as sementes
da sociedade socialista”. (Teses do VI Congresso da UJC)

3
14
Mas, quando entre camaradas nos encontramos
e ousamos sonhar futuros.
Quando a teoria nos aclara a vista
e com o povo, ombro a ombro, marchamos.
Respondemos: vale a pena viver,
quando se é comunista. (Mauro Iasi)
ORGANIZAÇÃO DA UJC

A
tualmente a UJC se organiza em três frentes principais de atuação:
movimento estudantil, jovens trabalhadores e cultura. A estruturação
da UJC nesse formato se deu a partir da análise da realidade brasileira,
que concluiu sobre a necessidade de atuação dos comunistas nessas frentes de
lutas juvenis. Contudo, não se trata de uma forma de organização engessada:
ela se altera de acordo com a dinâmica das lutas sociais e das demandas de
atuação política que se colocam para nós. Há estados, por exemplo, em que a
UJC mantém também uma frente voltada para os movimentos sociais.

Através da frente de Movimento Estudantil temos o intuito de nos inserir na


grande luta que é travada nos dias atuais entre os interesses dos trabalhadores
contra os interesses do capital no seio da educação. Reforçamos dessa maneira
a necessidade da construção do Poder Popular também dentro dos espaços
universitários e escolares, fazendo isso através da organização da luta de
estudantes, de professores e funcionários contra as ofensivas do capital na
educação e na perspectiva da construção de uma educação para além do
capitalismo, que seja de fato, popular.

Na frente dos Jovens Trabalhadores a UJC procura denunciar a, cada vez mais
precária, inserção do jovem no mundo do trabalho, e organizar a juventude
trabalhadora para reagir às diversas formas de expropriação que sofrem na
sociedade capitalista.

E finalmente, na frente de Cultura, a UJC também procura estabelecer e


incentivar no seio da juventude, através de organização de eventos e atuação
cultural direta, o surgimento de formas culturais que rejeitem os valores
capitalistas de reprodução da ordem, e reproduzam a solidariedade ativa entre
os trabalhadores para a sua auto-organização e resistência.

Outro eixo importante de nossa organização é a intervenção no plano


internacional. Estamos empenhados em articular uma verdadeira frente
anticapitalista e anti-imperialista a nível mundial, que enfrente a hoje
hegemônica composição dos campos reformista no movimento comunista
internacional e nas organizações de juventude vinculadas. Para isso, atuamos
Federação Mundial das Juventudes Democráticas (FMJD), entidade na qual a
UJC é um dos membros-fundadores e atualmente tem a tarefa de atuar em seu
conselho fiscal. Além disso, realizamos atividades constantes de solidariedade
16
internacional, participando ativamente do diálogo e construção de um campo
político que dê visibilidade às bárbaras realidades de diversos países, na
América Latina e no mundo, que vivenciam processos de profunda
criminalização (e dizimação) de movimentos sociais e populares e de
trabalhadores do campo e da cidade, como é o caso da Colômbia.

Desde a decisão pela reorganização da UJC, mais enfaticamente após o XIV


Congresso do PCB, a União da Juventude Comunista vem se enraizando cada
vez mais nas lutas sociais que se travam por todo o país. Atualmente, estamos
organizados em quinze estados brasileiros, em todas as regiões do país,
inseridos em diferentes fóruns de lutas, em frentes do movimento popular e
cultural, na agitação e propaganda voltada para a organização da juventude
trabalhadora.

A nível de organização interna, funcionamos através das organizações em


núcleos de base (nas frentes de cultura, movimento estudantil e jovens
trabalhadores e, em algumas localidades, através de frentes de movimentos
sociais), coordenações estaduais e coordenação nacional. A esfera máxima de
deliberação coletiva da UJC é seu Congresso Nacional, que é precedido de
etapas locais (discussões no âmbito dos núcleos e, posteriormente, nos
estados).

No Congresso Nacional da UJC são definidas as principais questões políticas e


de organização, a serem redefinidas somente no congresso seguinte. É
também deliberada a nova coordenação nacional, cuja tarefa é a de coordenar
a direção política, a nível nacional, dos eixos gerais definidos em congresso, em
termos de finanças, organização, comunicação, agitação e propaganda,
formação e relações internacionais. Esses eixos gerais são organizados através
de comissões nacionais, que englobam também militantes que não fazem
parte da coordenação nacional.

As coordenações estaduais se organizam de modo semelhante, funcionando


como uma instância de mediação entre a direção nacional e as bases. Elas têm
a tarefa de instrumentalizar, em cada localidade, as deliberações políticas a
nível nacional, considerando as especificidades de cada realidade e realizando
as mediações táticas de acordo com esta.

Ambas, a coordenação nacional e as coordenações estaduais, contam com


Coordenações Gerais Colegiadas (CGC), com a definição de membros da
coordenação (no caso da coordenação nacional, 5 membros, conforme
17
resolução congressual) como responsáveis pela operacionalização das tarefas
de finanças, comunicação, relações internacionais e organização. A CGC
possibilita a maior dinamização da direção política, uma vez que permite a
tomada de decisões políticas de modo mais ágil, sempre respeitando as
deliberações em congresso.

Já os núcleos se organizam através da participação da militância e da definição


de secretariados: secretaria política, de organização e de finanças, que são
responsáveis por operacionalizar a direção política de cada núcleo e garantir a
execução das resoluções congressuais (no caso da secretaria de finanças, por
exemplo, é necessário que o secretário cumpra os repasses definidos em
congresso).

Outro importante aspecto de nossa formação de organização diz respeito à


forma de funcionamento das decisões e deliberações. Estas passam por um
processo de profundas discussões, passando pelo espaço dos núcleos e das
coordenações, tendo como momento máximo o congresso. A partir daí, chega-
se a um consenso sobre o conteúdo das questões em debate e este deve ser
respeitado por todos os militantes, que devem defender as posições, decididas
coletivamente, publicamente. A isto denominamos de centralismo
democrático, que se difere das organizações composta por correntes. As ações
da juventude comunista buscam, desse modo, a unidade na ação. As
divergências devem ser postas nos espaços de discussão internos, conforme
preza a tradição comunista.

18
Há homens que lutam um dia e são bons,
Há outros que lutam um ano e são melhores,
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida e estes
são imprescindíveis. (Bertolt Brecht)
A UJC É UMA FRENTE DE LUTA DO PCB

A
UJC se caracteriza como uma frente de massas do PCB, estando
inseridos nela tanto militantes do PCB como militantes não organizados
no partido, mas que tem concordância com a linha politica adotada pela
UJC e pelo PCB. Propõe-se a ser um elemento de mediação entre o Partido e a
juventude brasileira, tendo como pauta central a necessidade de fortalecer
ações táticas que tencionem a ordem do capital, organizando e formando as
camadas da juventude, na perspectiva de construção da Revolução Socialista.
Dessa forma, as nossas deliberações precisam estar em consonância com as
Resoluções do PCB. Contudo, na perspectiva de democracia de mão dupla, o
PCB pode levar em consideração as resoluções e acúmulos que a UJC vem
adquirindo na elaboração das suas resoluções no trabalho com a juventude,
incorporando às suas resoluções.

20
EXPEDIENTE

- Caderno de Apresentação -
União da Juventude Comunista

Coordenação Nacional UJC


Produção

Danielli Cristini
Diagramação

Thiago Almeida
Fotos

Capa: Quarto Axadrezado, Vieira da Silva, 1935.


UJC
União da Juventude Comunista - UJC
www.ujc.org.br

Você também pode gostar