Mapeamento - Pemba
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MuniSAM
MUNCÍPIO DE PEMBA
Mapeamento Inicial MuniSAM (Programa de Monitoria de Responsabilização Social ao Nível dos Municípios)
Município de Pemba – Julho 2016
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INDICE
Índice
Sumário Executivo .........................................................................................................................................3
Introdução ......................................................................................................................................................5
Antecedentes gerais ..................................................................................................................................5
O Município de Pemba .............................................................................................................................7
A SITUAÇÃO DA RESPONSABILIZAÇÃO SOCIAL POR COMPONENTE ........................................... 9
COMPONENTE A – Maior resistência às Mudanças Climáticas e sistemas sustentáveis de Gestão
de Resíduos sólidos urbanos ................................................................................................................... 9
COMPONENTE B – Gestão Financeira ................................................................................................. 18
COMPONENTE C – Governação Municipal e Participação dos cidadãos.........................................22
Conclusões e Reflexões Finais ................................................................................................................... 29
Anexos ..........................................................................................................................................................34
Anexo A - Bibliografia .................................................................................................................................34
Anexo B - Lista de Entrevistados ............................................................................................................... 35
Índice de Figuras
Figura 1 – Vista sobre o quintal de uma residência no Bairro Paquitequete ........................................................... 08
Figura 2 – Contentor para o depósito do Lixo ........................................................................................................... 163
Figura 3 – Casas no Bairro Paquitequete construídas em zonas de grande perigo de desabamento ..................... 17
Figura 4 – Vereador apresentando o mapa de suspectibilidades a calamidades no bairro de Pemba...................17
Figuras 5 e 6 – O impacto do lixo nas infra-estruturas de drenagem ....................................................................... 18
Figura 7 – Pesquisador do MuniSAM (à esquerda) com o Vereador de Finanças (à direita) ................................ 20
Figura 8 – Escada de Participação de Sherry Arnstein .............................................................................................. 28
LISTA DE ABREVIATURAS
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CM Conselho Municipal
AM Assembleia Municipal
OIDP Observatório Internacional de Democracia Participativa
FMI Fundo Monetário Internacional
USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
CCAP Programa de Adaptação Climática em Cidades Costeiras – USAID
OSC Organizações da Sociedade Civil
AMA Associação do Meio Ambiente
MULEIDE Associação Mulher, Lei e Desenvolvimento
FOCADE Fórum das Organizações de Cabo Delgado
DUATS Direito de Uso e Aproveitamento de Terras
DATA Departamento de Administração do Território Autárquico
CC Conselhos Consultivos
PERPU Plano de Redução de Pobreza Urbana
NUIT Número Único de Identificação Tributária
AGRADECIMENTOS
A CONCERN Universal Moçambique endereça um especial agradecimento ao Presidente do Conselho
Municipal da Cidade de Pemba, o qual abriu as portas da instituição que dirige e facilitou - na impossibilidade
de receber-nos pessoalmente - o acesso aos entrevistados e a documentação relevante. Os vereadores
contactados e a toda equipa do Conselho Municipal, a Assembleia Municipal e alguns representantes da
sociedade civil ofereceram-nos notas importantes que servirão como referência à equipa na utilização da
abordagem de responsabilização social no âmbito do Programa de Desenvolvimento Municipal - PRODEM.
A todas as pessoas e entidades que partilharam connosco a sua opinião e contributo tornando possível o
presente mapeamento, o nosso Muito Obrigado em nome de toda a equipa MuniSAM.
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Sumário Executivo
O presente relatório é referente a um exercício de Mapeamento Inicial no âmbito da
implementação do Programa MuniSAM – Programa de Monitoria de
Responsabilização Social ao nível dos Municípios, integrado a partir de Janeiro de
2016 no PRODEM – Programa de Desenvolvimento Municipal, um programa do
Governo de Moçambique que conta com o apoio de quatro parceiros internacionais
de desenvolvimento (Dinamarca, Suíça, Suécia e Irlanda). O MuniSAM está
integrado dentro da componente de Participação do Cidadão, a Componente C, mas
também é implementado numa perspectiva transversal, abrangendo, deste modo, as
Componentes A (maior resistência às Mudanças Climáticas e sistemas sustentáveis
de Gestão de Resíduos sólidos urbanos) e B (Gestão Financeira) do PRODEM.
Para que a análise fosse possível foi consultada uma série de documentação
relevante e contactos com intervenientes e partes interessadas–chave foram
realizados em Maputo e em Pemba. Foi também efectuada uma análise aprofundada
ao quadro jurídico-legal e institucional relacionado com cada um dos processos de
responsabilização social no nível municipal e as normas aplicáveis a cada um dos
processos de responsabilização social foram mapeadas.
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Introdução
ANTECEDENTES GERAIS
Moçambique é um país que enveredou, desde 1997, num processo de
municipalização1, o qual vem sido gradualmente implementado. Se, por um lado, o
estabelecimento de autarquias tem como fim desconcentrar certos poderes do
Estado para entidades públicas autónomas; por outro, o objectivo é de aproximar a
prestação de serviços básicos ao cidadão. Assim, questões como o ensino primário,
a prestação de serviços primários de saúde, a gestão de resíduos sólidos e, entre
outros, a adopção e controle da utilização de formas de estar ambientalmente
sustentáveis, devem estar sob a alçada do município.
Um estudo realizado em 2009 sobre as lições aprendidas nos primeiros dez anos de
autarquização2 concluíra que os municípios enfrentavam (riam) sérios problemas
em áreas específicas como sejam, na gestão financeira, em recursos humanos, na
gestão de resíduos sólidos, pobreza urbana, e na prestação integrada de serviços.
Estes desafios permanecem até hoje, e permanecem também pertinentes as
questões principais de análise que o estudo colocava: (a) o impacto da
urbanização em Moçambique e no futuro? (b) os principais desafios,
constrangimentos, soluções e oportunidades enfrentados pelos municípios? (c)
como responder a tais desafios? (d) qual o papel do Governo, da ANAMM e dos
Parceiros de Cooperação na criação de um clima mais propício a que os municípios
funcionem com eficácia? (e) como podem as agências de ajuda ao desenvolvimento
dar melhor apoio ao desenvolvimento autárquico e quais as lições aprendidas até ao
presente?
Apesar de ser certo que o processo de descentralização municipal veio para ficar e
expandir, muitas destas questões continuaram, e continuam, actualmente, sem
resposta e poucas evidências sólidas existem para depreender-se que tenha havido
um forte impacto sobre os desafios então identificados. Durante o Seminário
Nacional de Governação Municipal Participativa em preparação da 16ª Conferência
1Com a aprovação do Decreto nº 33/2006 de 30 de Agosto, que estabelece o quadro de transferência de funções e
competências dos órgãos do Estado para as autarquias Locais.
2 Desenvolvimento Municipal em Moçambique: As Lições da Primeira Década, MAE (Ministério da Administração
Estatal), ANAMM, SDC, Banco Mundial, GTZ, ADA, Embaixada Real da Dinamarca, UCL-DPU e UN-Habitat, vários
autores, 2009.
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Observatório Internacional de Democracia Participativa.
4
Por favor, consulte IMF Executive Board Completes Fifth PSI Review, Approves US$282.9 Million
Credit Facility and Concludes 2015 Article IV Consultation with Mozambique, Press Release No.
15/580, December 18, 2015
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O Município de Pemba
Paquitiquete foi a aldeia a partir da qual originou a Cidade de Pemba (outrora Porto
Amélia). É, contudo, o bairro mais pobre e com os piores índices de saneamento.
Para agravar, várias secções do bairro são afectadas pelas subidas de maré,
inundando quintais e residências e impedindo a adopção de práticas apropriadas de
saneamento.
5
Website da Direcção Provincial de Turismo de Cabo Delgado
(http://www.turismocd.gov.mz/cabo/pemba/pemba_pt.htm) e Perfil das Primeiras 33 Autarquias de
Moçambique.
6
FRELIMO (Partido Político) – Frente de Libertação de Moçambique.
7
MDM (Partido Político) – Movimento Democrático de Moçambique.
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Pemba é uma cidade portuária e uma das maiores baías naturais do mundo. Possuí
uma localização geográfica favorável à navegação, mas conserva o seu ecossistema
natural único por não ter feito parte das rotas comerciais tradicionais ao longo dos
séculos. Até, sensivelmente, à última década, e apesar de a localização do Porto de
Pemba ser estratégico de acesso aos mercados da região, a actividade comercial era
limitada. As suas condições não são favoráveis para a prática da agricultura.
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No entanto, Pemba terá de ser capaz de vencer os desafios mencionados nas sub-
secções seguintes por forma a alcançar as metas do referido Plano Estratégico e para
aproveitar o seu potencial sócio-económico e o bem-estar dos seus munícipes.
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De acordo com o nosso entrevistado, estes pilotos foram seleccionadas tendo como critério algumas
características comuns como o fecalismo a céu aberto, a localização costeira, as condições de
saneamento e os riscos climáticos.
9
Alojado em Data Winner e colocado à disponibilidade do Conselho Municipal para utilizar
conforme às suas necessidades.
10
Formado por aproximadamente 10 elementos, é um órgão presidido pelo Presidente do Conselho
Municipal e aconselha, entre outros, sobre como o Plano pode ser disseminado, sobre o processo de
angariação de fundos, sobre o processo de monitoria. É prudente que haja uma interacção entre este
comité e/ou projecto para assegurar uma coordenação apropriada, unir esforços e evitar a duplicação
de acções. O nosso entrevistado referiu que o projecto irá implementar uma linha que irá trabalhar
com organizações locais, rádios comunitárias, dramaturgos, como uma iniciativa transversal e
complementar ao projecto.
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11. Adicionalmente, explica ainda que as actividades deste plano poderão (ou não)
ser inclusas no Plano Anual do Município 201711. Contudo, sublinha, que cada
actividade será, por seu turno, enviada à vereação responsável pela sua execução
e já existe uma Estratégia de Implementação e um Plano de Monitoria.
12. Este programa da USAID para além de apoiar a elaborar o plano e execução pelo
Municípios irá também preparar pacotes de formação (em Adaptação às
Mudanças Climáticas em sala de aula e online) para os quadros do Conselho e
Assembleia Municipal com o objectivo de apoiar funcionários na melhor
implementação do plano.
13. Ainda não existem, no entanto, espaços de diálogo próprios para interacção entre
o Conselho Municipal e os munícipes em volta do Plano Municipal de resiliência
a Mudanças Climáticas, no entanto, durante as visitas do executivo aos bairros
tanto o Presidente do Conselho Municipal como os vereadores aproveitam para
discutir aspectos relacionados com as matérias.
14. O plano ainda não está disponível para consulta pois aguarda ainda a aprovação
pela Assembleia Municipal (Abril 2016).
16. Existe também um Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos que foi
elaborado em parceria com o PRODEM e um Plano de Recolha de Lixo para lidar
com este enorme desafio do Município. De acordo com o vereador de Economia
e Finanças para lidar com o grave problema de gestão de resíduos sólidos que se
verifica na Cidade de Pemba o Município contratou uma empresa privada para
fazer a recolha do lixo em pontos identificados pelo Conselho Municipal (cerca
de 60 %). O vereador de Mudanças Climáticas explicou que estão a trabalhar nas
zonas periféricas (cerca de 40% de cobertura do Município) através de uma
associação que faz a recolha nos locais de difícil acesso através do uso de “txovas”.
11
Algumas já estão incorporadas no Plano de Desenvolvimento Municipal, por exemplo, o Mapa de
Vulnerabilidade (a ser implementado desde Março de 2015), e já encontram-se em implementação.
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17. Ademais, Pemba ainda não possui qualquer actividade de reciclagem e separação
do lixo mas o Vereador da área aproveitou para partilhar que depois da época
das chuvas o Conselho Municipal pretende abrir uma nova lixeira situada a 12
km da Cidade de Pemba
18. Foi também recentemente lançada a Campanha ‘Eu amo o meu Bairro’ que foca
questões de saneamento. Nesta campanha, de acordo com o vereador, todos os
sábados é eleito um Bairro onde são realizadas jornadas de limpeza, sessões de
teatro e o Presidente do Conselho Municipal marca presença para dar palestras
e falar aos munícipes sobre questões de saneamento.
19. De acordo com o vereador da área estas campanhas têm tido tanto sucesso que
recentemente quando se elege um bairro para a realização da actividade os
bairros vizinhos juntam-se. A equipa de pesquisa procurou confirmar a
realização destes eventos mas não obteve confirmação sobre o mesmo.
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24. Um dos nossos entrevistados da sociedade civil refere que a experiência com o
Conselho Municipal é promissória, porque o órgão abre espaço para ouvir e
debater com a sociedade civil. Indica, contudo, que o que costuma faltar são
planos reais de seguimento de tais debates e sugestões. Os planos, projectos e
legislação relevante não são devidamente divulgados aos munícipes. Estes,
consequentemente, ficam sem perceber, afinal quais são os fundamentos que
orientam a actuação do município12.
25. As conversas mantidas (tanto com OSC como CM e AM) sugerem que a
metodologia do MuniSAM pode vir a ser bastante útil para ultrapassar situações
como esta. Quer com a intensificação de actividades de sensibilização, bem
assim, através do estabelecimento de mecanismos efectivos de debate entre
autoridades municipais e munícipes.
12
Um dos nossos entrevistados refere-se à construção de infra-estruturas em áreas municipais outrora
consideradas zonas de reserva como um exemplo de falta de comunicação efectiva entre CM e
munícipes.
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“(...) a planta da Cidade em 1978 já previa que as zonas mais habitadas hoje seriam
muito vulneráveis. Ora podemos dizer que a culpa é dos munícipes que não
respeitam, não ouvem e constroem em qualquer lugar mas temos também de
responsabilizar o Conselho Municipal pela falta de controle que está a exercer nesta
área. Acredito que a vossa abordagem de responsabilização social possa vir a ajudar
o Município a ultrapassar grande parte dos desafios que sentimos pois muitos estão
relacionados com a falta de responsabilização dos gestores municipais”.
32. O entrevistado vai mais longe ao afirmar que a falta de aplicação de normas
municipais também resulta do descuido dos próprios líderes ao nível dos bairros.
O mesmo, sublinha ainda que a realização de auditorias sociais no âmbito das
intervenções do PRODEM será benéfica quer para o Conselho Municipal
(obrigando-o a agir de forma mais responsável) quer para os munícipes, porque
irá permitir sensibilizá-los e mudar alguns hábitos nocivos ao ambiente.
33. Esperamos, por isso, que a mesma venha estimular um maior diálogo entre
ambos os lados da governação municipal nesta autarquia.
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Desafios -
Descrição
Componente A
A construção desordenada e o fraco ordenamento territorial
dos bairros municipais (em parte devido à cedência sem os
Ordenamento devidos conhecimentos de aspectos técnicos de terra pelos
Territorial líderes comunitários) tem causado danos graves como a erosão,
construções desordenadas, desabamento de casas, disputas
entre munícipes sobre posse de terra, entre outros.
Munícipes depositam lixo nas valas de drenagem e quando
chove o lixo todo vai para o mar. De acordo com a
Gestão de
Coordenadora da MULEIDE esta prática usada pelos munícipes
Resíduos Sólidos
é propositada para “não terem trabalho de ir colocar o lixo nos
e Saneamento
contentores, assim, quando chove aproveitam a boleia da água
para tirar lixo de perto das suas casas”.
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35. Por este motivo, o Conselho Municipal estava, à altura deste mapeamento, a criar
uma base de dados de contribuintes. O seu orçamento para a contratação de uma
empresa para o efeito era extremamente limitado, por isso, firmaram um
protocolo com uma Universidade local e desenvolveram um projecto com 100
estudantes13 onde os mesmos se dirigiam ao terreno para realizar inquéritos e
efectuar um levantamento dos dados nos bairros.
36. Esta é uma acção que tem como meta melhorar a colecta de receitas próprias e
visa também trazer melhorias significativas para o processo de Planificação
habilitando o Conselho Municipal a projectar melhor as suas actividades com
base numa perspectiva mais real dos recursos locais que terá ao seu dispor.
13
Estes foram recrutados pelo Conselho Municipal ao abrigo de um protocolo com uma universidade
local. O CM oferece uma ajuda de custos simbólica e os inquiridores efectuam o levantamento de
todos os prédios, das publicidades e identificam todas as prováveis fontes de taxas e impostos
municipais. Esta é a alternativa que o município encontrou face a um orçamento de 700.000 USD,
proposto por uma empresa privada. Ao abrigo do referido protocolo o CM irá despender um
orçamento total de 20.000 USD, quase 98% mais baixo que o preço inicial.
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40. Para além do referido desconhecimento, existe também uma forte resistência por
parte dos munícipes em pagar os seus impostos. Os munícipes questionam:
porque é que temos de pagar impostos ao Conselho Municipal se já pagamos à
Autoridade Tributária? Estas preocupações são legítimas. É, por isso, essencial
incluí-las em iniciativas de sensibilização e divulgação sobre o processo de
municipalização e desconcentração fiscal.
41. Outro factor para o não pagamento, pelos munícipes, dos seus impostos, prende-
se com o facto de estes não reconhecerem melhorias nas suas vidas e no seu bem-
estar. A este respeito o vereador de Finanças deixou claro que as pessoas nunca
vão estar dispostas a pagar impostos e taxas quando não recebem serviços.
Segundo o mesmo, outro desafio que contribui para a baixa arrecadação de
14
O programa cobre apenas as receitas próprias e não abrange as receitas resultantes das
transferências de nível central, nomeadamente, FIIL, PERPU, FE e FCA.
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documentos possam ser discutidos com os munícipes pois segundo o que foi
possível apurar não existem de momento, espaços efectivo para divulgação e
discussão dessa informação entre Conselho Municipal e munícipes.
49. Outros entrevistados (da sociedade civil organizada) foram também unânimes
em afirmar que não existe nenhum tipo de feedback entre os membros da
Assembleia Municipal e as comunidades.
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54. Também apuramos que assuntos críticos mais sensíveis como por exemplo casos
relacionados com corrupção são ainda menos prováveis de serem levantados e
que nunca os assuntos são levados de volta aos munícipes. As razões por detrás
destes cenários são o medo de represálias políticas e devido ao facto de o posto
ser voluntário que tende a que os membros não se dêem ao trabalho. Outra nota
importante no que toca a este assunto é o facto de os Conselhos Consultivos
apenas discutirem em torno dos “7 biliões” e não sobre o desenvolvimento local.
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57. As organizações do FOCADE (do qual fazem parte, entre outras, a Kulima,
Heipo, Progresso, Congresso Islâmico, Solidarmed, CESC, ADEMO, Helvetas e
Fundação Wiwanana) partilharam com a equipa que a interacção e coordenação
entre as organizações da sociedade civil e os órgãos municipais na área de
Governação praticamente não existe, facto confirmado por outra OSC local:
“Ninguém sabe de nada que se passa no Município, não há envolvimento nem
participação dos munícipes nem da sociedade civil organizada, não há partilha de
informação, nem auscultação nem prestação de contas pelo Conselho Municipal”.
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“Eles [CM] têm feito algum trabalho com os munícipes a nível dos bairros mas não
com a Sociedade Civil organizada. Mas mesmo esse trabalho que fazem com os
munícipes não sei até que ponto reflecte um bom engajamento. Por exemplo, nunca
soube de nenhuma auscultação em torno dos problemas enfrentados pelos
munícipes nos bairros residenciais em que vivem. Sentimos que há receio por parte
do CM neste tipo de interacção, talvez não seja falta de vontade, talvez seja apenas
falta de experiência sobre como dialogar com munícipes”.
(Membro do FOCADE)
)
58. Por outro lado, de acordo com a MULEIDE os próprios doadores são a causa do
seu foco a nível Distrital, havendo sempre uma maior tendência para trabalhar
nos Distritos ao invés do Município e também pelo facto de que a maior parte
das Organizações Não-Governamentais em Cabo Delgado serem internacionais
e por isso optarem por não se envolverem muito no fórum municipal e em
participar em eventos de muito cunho político.
“Não digo medo, mas em termos políticos é difícil esta participação. Vejam que
quando a Sociedade Civil organiza por exemplo uma marcha os munícipes não
aparecem, e quando o Conselho Municipal organiza um evento a Sociedade Civil
não participa porque não somos convidados, nem sabíamos desse grande encontro
de dirigentes municipais que vai acontecer esta semana em Pemba. Não existe
conexão, nem coordenação. Somos conotados como oposição, estamos a andar
para trás quando devíamos andar para a frente”.
(Membros do FOCADE)
60. Foi possível perceber a dependência que o Conselho Municipal tem nos Líderes
Comunitários e nos Conselhos Consultivos para interagir e disseminar
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informação aos munícipes o que deixa a equipa com algumas dúvidas quanto à
efectividade destes mecanismos na melhoria da participação e engajamento dos
cidadãos tendo a conta as limitações acima discutidas.
64. As suas relações com o Conselho Municipal são boas. Em termos processuais
afirmaram receber os documentos para as sessões, por vezes, até com 45 dias de
antecedência, e realçaram também o facto de o Conselho Municipal acatar
muitas das suas recomendações chegando mesmo a confessar quando “cometem
alguns erros”. Para o seu funcionamento, a Assembleia Municipal possui um
orçamento anual, o qual é parte integrante do orçamento do Conselho
Municipal. A sua gestão é feita pelo Conselho Municipal, e é disponibilizado
sempre que solicitado, excepto na falta de liquidez já que o seu financiamento
depende do nível de colecta de receitas próprias.
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nós mesmos temos de fazer com que as coisas aconteçam, e, quando acontecem, é
preciso manter. No final do ano é preciso divulgar o que foi feito, o que não foi feito,
e os motivos”.
66. Os nossos entrevistados da sociedade civil, contudo, afirmam que não existe
divulgação do Plano e Orçamento, pelo menos, não a nível dos bairros. Ademais,
afirmam nunca ter tido acesso ao Plano e Orçamento, à conta de gerência, ou a
colecta diária de receitas.
“Pode até ser que afixem no Conselho Municipal mas nenhum munícipe
vai lá consultar. Na verdade, os documentos deveriam estar ao alcance das
bases, nos bairros, porque ninguém tem coragem de ir lá consultar e
também porque como é que o munícipe vai saber que os documentos estão
lá? Só aí o Conselho Municipal pode dizer que o munícipe e a sociedade
civil organizada não foram consultar porque não querem. Além disso
ainda não há abertura para esta consulta, quem for lá procurar Planos e
Orçamentos pode ser conotado como um desocupado, um confuso. Ainda
não há esta cultura e por isso ainda existe desconfiança”.
(MULEIDE)
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Municipal carece de formação específica nessa área. A mesma refere que o poder
local deve servir para resolver assuntos locais; que é preciso ter consciência que,
para haver sucesso, é preciso envolver as pessoas, porque há coisas que não
requerem custos mas que podem ser feitas para melhorar a vida das pessoas.
Acresce ainda que, apesar de as actividades dos Planos Anuais serem retiradas
dos Planos Quinquenais, e considerando que as necessidades das comunidades
encontram-se em constante mutação, referiu que as autoridades municipais
auscultam, junto das comunidades, as actividades de impacto, as que poderão
fazer a diferença.
69. Um dos membros da sociedade civil consultado refere que é necessário que os
planos municipais requeiram a participação do cidadão e que seja obrigatório
que a participação cívica seja um requisito na elaboração de planos municipais.
Afirma que até existem espaços radiofónicos onde se abre espaço para debates
municipais, contudo, caso os debates estiverem a ferir “entidades” podem ser
cortados imediatamente. Mesmo em relação ao observatório provincial, conta
que são realizados encontros prévios para diluir e esclarecer os assuntos a
conversar; e que os órgãos municipais acreditam que participação é ser
convocado pelos mesmos sem um papel activo da sociedade civil. Afirma existir
uma mão invisível no poder, fala-se por conveniência, mas não é necessariamente
aquilo que se pretende dizer; poucas pessoas têm coragem de falar.
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Componente Constatações
A ausência de conhecimento e interesse nesta
componente tem impacto sobre o comportamento dos
munícipes no que toca ao meio ambiente. A questão das
deficientes práticas de gestão de resíduos urbanos ainda
constitui um problema sério e tem consequências para a
saúde dos munícipes. Recentemente, o Conselho
Municipal terceirizou o serviço de recolha de resíduos
urbanos, contudo o mesmo ainda não consegue abranger
todos os bairros, OU por insuficiência de meios, OU pela
dificuldade de acesso em muitas das zonas da autarquia
À excepção dos Conselhos Consultivos Municipais, os
quais apenas abordam questões relacionadas com o
PERPU, não há espaço estruturado ou regular onde
Componente A -
órgãos municipais e munícipes possam abordar, interagir
Maior Resistência
e discutir matérias ambientais
às Mudanças
Esta autarquia encontra-se a implementar, desde 2015, no
Climáticas e
âmbito de uma parceria com a USAID (CCAP), um Plano
Sistemas
de Adaptação e Resiliência a Mudanças Climáticas. Uma
Sustentáveis de
das primeiras intervenções do SAMCom pode ser,
Gestão de Resíduos
sem limitação, a monitoria às suas actividades. O
Sólidos Urbanos
Conselho Municipal não possui mecanismos de
reciclagem ou separação de lixo doméstico
O acesso a informação sobre aspectos climáticos e gestão
de resíduos sólidos ainda é limitado. Contudo, no âmbito
do projecto acima referido, prevê-se a entrada em
funcionamento de um sistema de alerta de eventos
extremos. O CCAP produziu também um sistema
integrado de informação urbana, o qual, apesar de não se
encontrar em funcionamento, é uma importante fonte de
informação para o processo de auditorias sociais, mas
também, de captura de percepções dos munícipes sobre
a qualidade dos serviços prestados pelo Conselho
Municipal
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Fortalecer as organizações locais da sociedade civil para intervirem nos assuntos sob
a alçada do Conselho Municipal é igualmente importante. Recomendamos o
envolvimento de representantes das chefias comunitárias, do Conselho Municipal,
da Assembleia Municipal e de membros de organizações da Sociedade Civil como
MULEIDE, AMA ou FOCADE15 nos processos de capacitação em responsabilização
social. O SAMCom de Pemba deve ter um papel relevante na sensibilização fiscal. A
planificação das suas intervenções deve tomar em consideração a dimensão
territorial da Cidade de Pemba. Este facto pode requerer a utilização da experiência
de pessoas familiarizadas com a governação e participação cívica na província, em
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Tomando em consideração a importância da equidade do género, achamos prudente que, a nível
das organizações da sociedade civil existentes em Pemba, a MULEIDE poderá ser uma parceira
crucial para esta intervenção pois, entre outros (a) poderá assegurar a questão da igualdade e
equidade de género; (b) possui uma experiência de 25 anos de intervenção em prol de grupos
desfavorecidos, liderança e democracia, (c) tem uma experiencia adequada de interacção com órgãos
de governação na provincial, (d) possui escritórios próprios, o que é um factor importante em termos
de sustentabilidade.
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Anexos
Anexo A - Bibliografia
Nº Descrição
1 Plano Estratégico do Conselho Municipal da Cidade de Pemba
2 Boletim Informativo “Pemba”, edição nº 4, Conselho Municipal da Cidade
de Pemba
3 Acta da V sessão ordinária da AMCP, Acta nº 05/2015, Dezembro 2014
4 Acta da VI sessão ordinária da AMCP, Acta nº 01/2015, Abril 2015
5 Resolução nº 01/2015, sobre o balanço e a Conta de Gerência do Conselho
Municipal referentes ao exercício de 2014, Assembleia Municipal da Cidade
da Pemba, aos 09 de Abril de 2015
6 Resolução nº 13/2015, sobre o Plano Económico e Social e Orçamento
Municipal 2016, Assembleia Municipal da Cidade da Pemba, aos 15 de
Dezembro de 2015
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