Bioquímica - Claretiano

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BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


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Meu nome é Marcelo César Jardim. Sou mestre e doutor em Farmacologia


pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão
Preto (FMRP-USP) e graduado em Farmácia-Bioquímica, com habilitação
na modalidade de Análises Clínicas e Toxicológicas pela Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista "Júlio de
Mesquita Filho" de Araraquara (FCF-UNESP). Minha área de concentração
dos estudos durante a Pós-Graduação foi em Psicofarmacologia. Sou
professor universitário desde 2004 e ministro aulas de Farmacologia e de
disciplinas afins, como Fisiologia, Bioquímica, Biologia Celular, Toxicologia,
Patologia, Anatomia, Farmacobotânica, entre outras, em vários cursos
superiores da área da Saúde.
[email protected]

Meu nome é Maria Isabel da Silva. Sou graduada em Farmácia-Indústria


pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto – USP, onde
também fiz mestrado. Realizei o doutorado na Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto – USP, na área de Genética. Fiz pós-doutorado no Centro de
Imunologia de Marselha, onde trabalhei com Imunogenética Molecular.
Sou docente no Ensino Superior desde 1992, atuando em diversas áreas do
conhecimento. Desde 2005, leciono nos cursos das Áreas de Ciências
Biológicas e da Saúde do Claretiano – Centro Universitário.
E-mail: [email protected]
Marcelo César Jardim
Maria Isabel da Silva

BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA

Batatais
Claretiano
2016
© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma
e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o
arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação
Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves
Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia
Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori
Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia
Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Simone Rodrigues de Oliveira
Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus
Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni
• Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado
Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgarelli • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa
Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami
Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso
Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

615.1 J42b

Jardim, Marcelo César


Bioquímica e farmacologia / Marcelo César Jardim, Maria Isabel da Silva – Batatais,
SP : Claretiano, 2016.
164 p.

ISBN: 978-85-8377-504-1

1. Bioquímica. 2. Biomoléculas. 3. Metabolismo celular. 4. Farmacologia. 5. Farmacocinética.


6. Farmacodinâmica. I. Silva, Maria Isabel da. II. Bioquímica e farmacologia.

CDD 615.1

INFORMAÇÕES GERAIS
Cursos: Graduação
Título: Bioquímica e Farmacologia
Versão: ago./2016
Formato: 15x21 cm
Páginas: 164 páginas

CDD 658.151
SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS............................................................................. 11
3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................ 14
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 15

Unidade 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO,


PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E SISTEMAS-TAMPÃO
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 19
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 20
2.1. ÁGUA E SEU SIGNIFICADO PARA A VIDA................................................ 20
2.2. BIOMOLÉCULAS....................................................................................... 23
2.3. SISTEMAS-TAMPÃO E pH......................................................................... 51
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 54
3.1. A ÁGUA E SEU SIGNIFICADO PARA A VIDA............................................ 54
3.2. BIOMOLÉCULAS....................................................................................... 55
3.3. SISTEMAS-TAMPÃO E pH......................................................................... 56
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 57
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 59
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 59
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 62

Unidade 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO


1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 65
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 65
2.1. BIOENÉRGÉTICA: ASPECTOS GERAIS...................................................... 65
2.2. GLICÓLISE E O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO.............................................. 67
2.3. METABOLISMO DO GLICOGÊNIO............................................................ 74
2.4. METABOLISMO DOS LIPÍDEOS................................................................ 77
2.5. METABOLISMO DO NITROGÊNIO........................................................... 79
2.6. INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO........................................................... 83
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 86
3.1. BIOENERGÉTICA....................................................................................... 86
3.2. INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO........................................................... 87
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 87
5. CONSIDERAÇÕES.............................................................................................. 89
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 90
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 90

Unidade 3 – FARMACOLOGIA: HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS


FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)
1. 1. INTRODUÇÃO............................................................................................... 93
2. 2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA......................................................... 93
2.1. HISTÓRIA, DIVISÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS............................ 94
2.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACOCINÉTICA.......................... 101
2.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACODINÂMICA........................ 116
3. 3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR............................................................ 124
3.1. HISTÓRIA, DIVISÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS............................ 124
3.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACOCINÉTICA.......................... 125
3.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACODINÂMICA........................ 126
4. 4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS................................................................... 127
5. 5. CONSIDERAÇÕES......................................................................................... 129
6. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 130

Unidade 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS


(SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E SISTEMA
NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL,
ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E
QUIMIOTERÁPICOS
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 133
2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA.............................................................. 134
2.1. FÁRMACOS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E O
SISTEMA NERVOSO CENTRAL.................................................................. 134
2.2. FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS................... 143
2.3. FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS CARDIOVASCULAR, RENAL
E ENDÓCRINO........................................................................................... 150
3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR................................................................. 157
3.1. FÁRMACOS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO E O
SISTEMA NERVOSO CENTRAL.................................................................. 157
3.2. FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS................... 158
3.3. FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS CARDIOVASCULAR E
ENDÓCRINO.............................................................................................. 159
4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS........................................................................ 160
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 162
6. E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 162
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 163
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo
A obra Bioquímica e Farmacologia aborda os conceitos básicos para a introdu-
ção ao estudo de Bioquímica e Farmacologia, como a composição e a função
dos componentes químicos orgânicos e inorgânicos do corpo humano. Estu-
da também os processos farmacocinéticos, bem como os efeitos produzidos
pelos principais grupos de fármacos que agem nos sistemas do organismo
humano. No contexto dos cursos da Saúde, apresenta-se como espaço para
o estudo das biomoléculas, do metabolismo, e dos mecanismos de ação de
fármacos e medicamentos nos diversos sistemas do organismo humano, le-
vando em consideração as influências das diferentes etnias e raças e do meio
ambiente.

Bibliografia Básica
LEHNINGER, A. L. Princípios de Bioquímica. 4. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.
HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2012.
FINKEL, R.; CABEDDU, L. X.; CLARK, M. A. Farmacologia ilustrada. 4. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
RANG, H. P.; RITTER, J. M.; DALE, M. M. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2007.

Bibliografia Complementar
CAMPBELL, M. K.; FARRELL, S. O. Bioquímica. São Paulo: Thomson, 2008.
DAU, A. P. A. (Org.). Bioquímica Humana. São Paulo: Pearson, 2015.
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. G. As bases farmacológicas da terapêutica. 10. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

7
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

KATZUNG, B. G. Farmacologia: básica e clínica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2007.
MORAN, L. A. et al. Bioquímica. 5. ed. São Paulo: Pearson, 2013.
PAGE, C.; CURTIS, M.; SUTTER, M.; WALKER M.; HOFFMAN, B. Farmacologia Integrada.
2. ed. Barueri: Manole, 2004.
RAFFA, R. B.; RAWLS, S. M.; BEYZAROV, E. P. Atlas de Farmacologia de Netter. Porto
Alegre: Artmed, 2006.

É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá
ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias
à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos,
os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento
ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de
saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente se-
lecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados
em sites acadêmicos confiáveis. É chamado "Conteúdo Digital Integrador" porque é
imprescindível para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos,
não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitu-
ra de "navegação" (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade
e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigató-
rios, para efeito de avaliação.

8 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃO
Prezado aluno, seja bem-vindo!
Você está preparado para conhecer o fascinante mundo
das biomoléculas e os processos envolvidos na interação entre
as moléculas das substâncias químicas que compõem o organis-
mo humano?
Se está preparado, então vamos lá!
Com o estudo de Bioquímica e Farmacologia, você obterá
as informações necessárias para o embasamento teórico desse
assunto no exercício da sua futura profissão e também para a
integração do conhecimento com os conteúdos de outros temas
de estudo atuais e futuros do seu curso.
Apresentaremos a você os fundamentos moleculares res-
ponsáveis pela organização e pelo funcionamento das células,
assim como os aspectos gerais das reações metabólicas que en-
volvem a obtenção de energia e a produção de novas moléculas
necessárias para as células. Essas bases serão importantes para
que você possa compreender, na Farmacologia, como os medica-
mentos atuam sobre nosso organismo.
Na Unidade 1, você conhecerá as biomoléculas que for-
mam nossas células: carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos
nucleicos. Veremos as características e funções de cada uma e
como interagem no funcionamento das células e organismos.
Já na Unidade 2, mostraremos como é o metabolismo ce-
lular. Nesta unidade, você precisará dos conhecimentos obtidos
anteriormente, pois as reações metabólicas envolvem todas as
biomoléculas estudadas. Falaremos sobre as reações catabólicas
usadas pelas células para a obtenção de energia e também sobre

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 9
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

as reações anabólicas, que são as reações de síntese de novas


biomoléculas.
Na Unidade 3, iniciaremos o estudo da Farmacologia, abor-
dando sua evolução histórica e o seu surgimento como ciência
propriamente dita. Apresentaremos suas áreas e divisões princi-
pais e os conceitos fundamentais relacionados ao estudo do mo-
vimento (farmacocinética) e dos efeitos (farmacodinâmica) das
moléculas dos fármacos e medicamentos utilizados pelos seres
humanos com finalidade terapêutica.
Finalmente, a Unidade 4 apresentará a utilidade terapêu-
tica e abordará de forma sucinta os principais mecanismos de
ação, por meio dos quais os fármacos das principais categorias
terapêuticas agem para produzir seus efeitos no organismo
humano.
É imprescindível lembrar que o conhecimento dos concei-
tos fundamentais constituem as bases que sustentam a farmaco-
terapia realizada de forma consciente e racional.
O conteúdo a seguir foi elaborado com embasamento nas
obras básicas dos seguintes autores: Rang et al. (2007); Good-
man; Gilman (2006); Katzung (2007); Page et al. (2004). Sugeri-
mos a leitura das suas obras na íntegra para melhor compreen-
são e aprendizado. Outras referências que complementam este
material estarão devidamente citadas em seus parágrafos.
Ao final desta obra, esperamos que você desenvolva o gos-
to pela busca de novos conhecimentos, pois isto será muito im-
portante para seu crescimento pessoal e profissional.
Bons estudos!

10 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e
precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domí-
nio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conheci-
mento dos temas tratados.
1) Ácidos graxos: composto por um grupo carboxila e
uma longa cauda de hidrocarbonetos não ramificada,
que pode ou não ser saturada.
2) Ácidos nucleicos: denominação dada em conjunto ao
DNA e ao RNA.
3) Aminoácidos: ácidos carboxílicos que incluem um gru-
po amina em suas estruturas; são as moléculas- base
para a formação das proteínas.
4) Aminoácidos essenciais: são os aminoácidos que não
podem ser sintetizados por um organismo e precisam
ser obtidos por fontes alimentares.
5) Anabolismo: síntese de biomoléculas a partir de com-
postos simples.
6) Anfibólico: capaz de participar tanto do catabolismo
como do anabolismo.
7) Biodisponibilidade: conceito que se refere a uma fra-
ção da dose administrada de uma substância que al-
cança a circulação sanguínea e o local de ação.
8) Biomoléculas: proteínas, carboidratos, lipídios e áci-
dos nucleicos.
9) Carboidratos: também chamados sacarídeos, hidratos
de carbono ou açúcares, são biomoléculas ricas em
energia.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 11
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

10) Catabolismo: quebra de biomoléculas para fornecer


energia.
11) Catálise: é o processo de aumento da velocidade de
uma reação química; nas células, é realizado pelas
enzimas.
12) Ciclo da ureia: rota metabólica que permite a excreção
de produtos nitrogenados resultantes da degradação
de aminoácidos e proteínas.
13) Ciclo de Cori: via metabólica dos carboidratos que liga
a glicólise à gliconeogênese no fígado.
14) Ciclo do Ácido Cítrico: é a via central do metabolismo
celular, também chamado de Ciclo de Krebs ou Ciclo
dos Ácidos Tricarboxílicos.
15) Concentração Máxima Tolerada: é a quantidade máxi-
ma de droga tolerada pelo organismo. Se essa concen-
tração for ultrapassada, provoca efeito tóxico.
16) Dose: caracteriza-se por curvas que relacionam a con-
centração da droga administrada e a porcentagem da
resposta.
17) Dose Eficaz (DE): é a dose capaz de produzir o efeito
farmacológico.
18) Dose Letal (DL50): dose necessária para matar 50%
dos indivíduos.
19) Dose: caracteriza-se por curvas que relacionam a con-
centração da droga administrada e a porcentagem da
resposta.
20) Droga agonista: substância química que, para produzir
seus efeitos, altera a função celular.

12 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

21) Droga antagonista: substância química que não altera


a função celular para produzir seus efeitos.
22) Droga: toda substância capaz de alterar uma função
fisiológica.
23) Efeito placebo: efeito psicológico, psicofisiológico ou
ainda fisiológico de qualquer substância e que não é
devido a sua atividade farmacológica.
24) Endógena: produzida pelo próprio organismo.
25) Fármaco: substância com estrutura química definida,
utilizada para benefício do organismo que o recebeu.
26) Farmacocinética: área da Farmacologia que estuda
quantitativamente a cronologia dos processos meta-
bólicos da absorção, distribuição, biotransformação e
excreção do fármaco.
27) Farmacodinâmica: área da Farmacologia que estuda
as ações e os efeitos que o fármaco vai provocar no
organismo, ou seja, o mecanismo de ação das drogas.
28) Farmacopeia: livro que contém as descrições técnicas
de fármacos e medicamentos.
29) Farmacoterapia: tratamentos em que se utiliza fárma-
cos e/ou medicamentos.
30) Forma farmacêutica: apresentação do produto (me-
dicamento) que contém um ou mais fármacos conve-
nientemente manufaturados.
31) Iatrogenia: problemas ou complicações resultantes do
tratamento clínico ou alteração patológica provocada
por tratamento médico errôneo.
32) Índice Terapêutico (IT) ou "Janela" Terapêutica: defi-
ne relação DL/DE.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 13
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

33) Indutor enzimático: substância que aumenta a ativida-


de enzimática.
34) Inibidor enzimático: substância que diminui a ativida-
de enzimática.
35) Medicamento: é toda preparação (forma) farmacêu-
tica contendo um ou mais fármacos, capazes de curar,
prevenir ou diagnosticar uma enfermidade, utilizado
para benefício de quem o recebeu.
36) Nível plasmático efetivo: é a menor quantidade de
droga, no plasma, capaz de promover o efeito terapêu-
tico (no local de ação).
37) Posologia: estuda a dosagem dos medicamentos e a
frequência com que estes devem ser administrados.
38) Remédio: termo de conceito amplo, impreciso, in-
cluindo substâncias, plantas, produtos, técnicas, pro-
cedimentos, recursos, enfim, tudo o que é utilizado
com a intenção de combater a dor e a doença.
39) Sistema biológico: aquele com o qual as substâncias
químicas vão interagir para produzir seus efeitos.
40) Via de administração: caminho pelo qual um me-
dicamento é levado ao organismo para produzir o
seu efeito. Relaciona-se intimamente com a forma
farmacêutica.

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos concei-
tos mais importantes deste estudo.

14 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

BIOQUÍMICA E
FARMACOLOGIA

BIOQUÍMICA FARMACOLOGIA

Biomoléculas Farmacodinâmica Farmacocinética

Ação dos Caminho dos


Constituintes
medicamentos medicamentos no
celulares
sobre o organismo organismo
humano humano

Metabolismo Efeitos dos


celular medicamentos
sobre o organismo
humano

Reações Reações
anabólicas catabólicas

Biossíntese de Produção de
macromoléculas energia

Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Bioquímica e Farmacologia.

4. REFERÊNCIAS
[Diagramação,BIBLIOGRÁFICAS
por favor, acertar tamanho das caixas e
centralização das cotas.]
CAMPBELL, M. K. Bioquímica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2012.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. L. Princípios de Bioquímica. 4. ed. São
Paulo: Sarvier, 2006.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. Trad. Raimundo Rodrigues Santos. 6. ed. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2007.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 15
© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 1
COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO
HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

Objetivo
• Conhecer a composição química do organismo humano e as principais bio-
moléculas, relacionando-as com o funcionamento celular.

Conteúdos
• Água e seu significado para a vida.
• Carboidratos.
• Lipídios.
• Aminoácidos e proteínas.
• Enzimas e coenzimas.
• A estrutura química dos ácidos nucleicos: nucleotídeos.
• A estrutura química e tridimensional do ácido desoxirribonucleico: DNA.
• A estrutura química e tridimensional do ácido ribonucleico: RNA.
• Semelhanças e diferenças entre DNA e RNA.
• Sistemas-tampão e pH.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) A compreensão dos conteúdos é muito importante para sua formação. Por


isso, quando surgirem dúvidas, fale com seu tutor, discuta com seus co-

17
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

legas e compartilhe suas experiências. Lembre-se sempre de que a cons-


trução de conhecimentos é um processo dinâmico e essencial para nosso
aprendizado.

2) Leia o conteúdo com atenção, grifando as informações mais importantes,


e tente relacioná-las com sua futura atuação como docente.

3) É importante atentar para as figuras e tabelas! Elas são essenciais para a


compreensão do conteúdo. Caso queira mais informações, visite também
as referências eletrônicas.

4) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteú-


do Digital Integrador.

18 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

1. INTRODUÇÃO
A organização das células é basicamente feita por meio das
biomoléculas. Estudaremos nesta unidade as principais biomolé-
culas que são importantes para a organização e o funcionamento
das células em qualquer espécie. Abordaremos a importância da
água como principal constituinte celular, em que ocorrem todas
as reações químicas necessárias para a vida. Veremos ainda a
importância do pH e dos sistemas-tampão que atuam em nosso
organismo.
A seguir, iniciaremos nosso estudo com a formação e as
funções das biomoléculas: os aminoácidos, as proteínas, os car-
boidratos, os lipídios e os ácidos nucleicos.
As biomoléculas recebem esta denominação por serem
consideradas as "moléculas da vida". Estas moléculas, com exce-
ção da água, são formadas a partir da ligação de várias unidades
de um mesmo tipo molecular mais simples. Por exemplo, as pro-
teínas são formadas a partir da ligação de vários aminoácidos, e
os carboidratos se formam a partir de açúcares simples, como a
glicose.
As reações químicas que envolvem a formação das bio-
moléculas são chamadas de polimerização e resultam em po-
límeros. Portanto, as biomoléculas são também chamadas de
polímeros ou macromoléculas, e as pequenas moléculas que são
usadas para sua formação são os monômeros.
As células estão constantemente sintetizando biomolé-
culas para manter sua constituição morfológica e seu funciona-
mento normal. Estes processos implicam grande gasto de ener-
gia por parte da célula e são sempre realizados no meio aquoso.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 19
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

Separamos um tópico especial para o estudo dos ácidos


nucleicos devido a sua grande importância na transferência de
informação genética e na manutenção das atividades celulares.
Eles receberam este nome, ácidos nucleicos, porque foram ini-
cialmente identificados no núcleo. Veremos que podem estar
presentes em outras partes da célula com importantes funções.
Temos nas células dois tipos de ácidos nucleicos. Usare-
mos em toda esta unidade as siglas DNA para denominar o ácido
desoxirribonucleico e RNA, para ácido ribonucleico. Estas siglas
são as abreviações mais usadas para denominar os ácidos nuclei-
cos em inglês e se tornaram usuais em português.
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de
reconhecer as principais características das biomoléculas e sua
importância nos processos de organização biológica, assim como
suas interações na manutenção do ciclo de vida celular.
Desejamos a você bons estudos!

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

2.1. ÁGUA E SEU SIGNIFICADO PARA A VIDA

A água é considerada o solvente universal. Ela está presen-


te em maior quantidade na maioria das células, sejam animais ou
vegetais. Todas as reações químicas, transportes de substâncias
e comunicações celulares ocorrem através da água. Podemos di-

20 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

zer que sem água não há vida, e os cientistas procuram água em


outros planetas com o objetivo de procurar vida.
A água possui propriedades químicas que a tornam extre-
mamente importante para as células. Em primeiro lugar, a con-
formação espacial de sua molécula, formada pela ligação cova-
lente entre dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio,
confere a ela uma forma angular (104,5o). Este formato apresen-
ta dois polos positivos, representados pelos hidrogênios, e um
polo negativo, representado pelo oxigênio na molécula. Veja, na
Figura 1 a seguir, uma esquematização da molécula de água:

Molécula de Água

Figura 1 Molécula de água mostrando o ângulo formado pelos átomos ligantes.

Esta característica de formar cargas positivas e negativas


torna a água um composto polar e, por isso, um ótimo solvente.
Muitas substâncias que iremos estudar em Bioquímica têm
uma afinidade grande pela água, ou seja, dissolverem-se muito
bem nesse composto. Essas substâncias são polares e chamadas
de hidrofílicas.
As substâncias apolares não têm afinidade pela água, ou
seja, não se dissolvem bem nesse meio, e são chamadas de
hidrófobas.

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Podem existir também substâncias nas quais as moléculas


apresentam uma parte polar e uma apolar, chamadas de anfipá-
ticas. Elas são muito importantes na constituição das membra-
nas celulares, como veremos posteriormente.
Outra propriedade importante da água para a manutenção
da vida é sua capacidade de formar pontes de hidrogênio, seja
com outras moléculas de água, seja com outros tipos de molé-
culas. Veremos que as pontes de hidrogênio estabilizam vários
tipos de estruturas moleculares, como, por exemplo, proteínas
e ácidos nucleicos (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006). Veja, na
Figura 2, a seguir, as possíveis pontes de hidrogênio que as molé-
culas de água podem formar.

Figura 2 As possíveis pontes de hidrogênio de uma molécula de água.

Além das células, a água está presente na maior parte da


superfície da Terra formando os oceanos, rios, mares, geleiras
e lagos, participando, assim, da manutenção e do equilíbrio da
vida em nosso planeta.

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As leituras indicadas no Tópico 3.1 tratam da importân-


cia da água em vários aspectos na vida, assim como da crise
hídrica que vivemos atualmente. Antes de prosseguir para o
próximo assunto, realize as leituras indicadas, procurando as-
similar o conteúdo estudado.

2.2. BIOMOLÉCULAS

Carboidratos
Segundo Voet (2006), os carboidratos ou sacarídeos (do
grego sakcharon = açúcar) são componentes essenciais de todos
os organismos vivos, e a classe mais abundante de moléculas
biológicas. O nome "carboidrato" pode ser definido literalmente
como "hidrato de carbono" e se origina da seguinte fórmula ge-
ral deste grupo de substâncias:
Cn ( H 2O ) n , em que n será sempre ≥ 3
Os carboidratos são moléculas muito importantes como
fontes de energia para as células e participam diretamente do
nosso metabolismo. Além disso, desempenham papel no arma-
zenamento de energia (amido e glicogênio) como constituinte
estrutural de células animais (quitina) e vegetais (celulose) e
são um constituinte importante das membranas celulares, fun-
cionando como moléculas de reconhecimento entre as células
(glicoproteínas).
Os carboidratos podem ser divididos em três grupos princi-
pais: monossacarídeos, oligossacarídeos e polissacarídeos.

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Monossacarídeos
Monossacarídeos são os açúcares mais simples que exis-
tem, formados por apenas uma molécula de carboidrato. Podem
ser representados pela seguinte fórmula:
Cn ( H 2O ) n
, em que n ≥ 3 e ≤ 7
Sua denominação dependerá de quantos átomos de car-
bono estiverem presentes na molécula. Desta forma, temos as
trioses (3 carbonos), as tetroses (4 carbonos), as pentoses (5 car-
bonos), as hexoses (6 carbonos) e as heptoses (7 carbonos).
Na natureza, encontramos em maior abundância as hexo-
ses, como a glicose, a frutose e a galactose. Além desses monos-
sacarídeos, são de extrema importância bioquímica as pentoses,
e a ribose e a desoxirribose, que formam os ácidos nucleicos.
Observe na Figura 3 os exemplos das estruturas dos
monossacarídeos.

Figura 3 Estruturas moleculares dos monossacarídeos glicose, frutose e galactose.

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Oligossacarídeos
Os oligossacarídeos são açúcares formados pela ligação de
duas moléculas de monossacarídeos. Também são chamados de
dissacarídeos. A ligação que os une é a glicosídica e ocorre en-
tre os grupos OH- dos dois açúcares ligantes, com a liberação de
uma molécula de H2O. Veja, a seguir, a fórmula geral para estas
substâncias:
C12 H 22O11

Os dissacarídeos encontrados na natureza são a sacarose


(açúcar da cana ou da beterraba), a lactose (açúcar do leite) e a
maltose (açúcar dos cereais).
A Figura 4, a seguir, representa a formação de moléculas
de oligossacarídeos. Já a Figura 5 mostra as suas constituições
químicas.

Figura 4 Esquema representando a formação dos oligossacarídeos.

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Figura 5 Constituição dos dissacarídeos mais comuns.

Polissacarídeos
Os polissacarídeos são formados a partir de ligações glico-
sídicas entre muitas moléculas de monossacarídeos. São abun-
dantes na natureza e suas principais funções são funcionar como
reserva energética para células vegetais e animais (amido e gli-
cogênio) e como componente estrutural em plantas e animais
(celulose e quitina). Veja a fórmula que representa este grupo:
(C6 H10O5 )n , em que n > 10
O amido é um polímero formado pela ligação de várias mo-
léculas de glicose. É a substância de reserva energética das plan-
tas. Está presente, por exemplo, nas raízes de batata e mandioca.
Todas as plantas e animais possuem enzimas capazes de di-
gerir o amido em moléculas de glicose que são usadas como fonte
de energia. Um exemplo deste tipo de enzima é a amilase salivar
dos seres humanos. O amido é formado por dois tipos de cadeias
de glicose. A cadeia com configuração linear é chamada de amilo-
se e a cadeia com ramificações é chamada de amilopectina.

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Observe estes dois tipos de cadeia na Figura 6 e veja como,


em conjunto, eles formam os depósitos de amido.

Figura 6 Esquema da cadeia do amido, constituída por amilose e amilopectina.

O glicogênio é a forma que as células animais encontraram


para armazenar a glicose. Ele é encontrado nas células do fígado e
no músculo esquelético dos seres humanos. Quando o organismo
precisa de energia, enzimas degradam as moléculas de glicogênio
e liberam os monômeros de glicose na corrente sanguínea.
Segundo Campbell (2000), este tipo de reserva é usado por
atletas, que costumam se alimentar de grandes quantidades de
carboidratos antes de competições. Veja, na Figura 7, uma repre-
sentação de uma molécula de glicogênio.

Figura 7 Esquema representando a molécula do glicogênio.

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A celulose tem importante papel estrutural nos vegetais.


É um polímero formado também por monômeros de glicose e
constitui a parede celular que envolve as células vegetais, confe-
rindo-lhes resistência mecânica. A celulose não pode ser digeri-
da por animais, pois apenas algumas bactérias que são habitan-
tes do trato digestivo de bovinos e cupins produzem a enzima
para sua digestão, a celulase. A Figura 8 a seguir demonstra uma
pequena região do polímero da celulose.

Figura 8 Esquema representando a molécula da celulose.

A quitina é polímero de um açúcar chamado glicosamina,


presente na carcaça de animais como as lagostas, camarões e
insetos. Sua função é participar da formação do exoesqueleto
destes animais.
Bactérias e fungos também podem apresentar uma parede
celular contendo polissacarídeos. Essas características serão es-
tudadas oportunamente.
Outros exemplos de polissacarídeos são a heparina, usada
como anticoagulante, e o ácido hialurônico, componente impor-
tante na estruturação dos tecidos animais.

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Lipídios
Os lipídios são compostos orgânicos formados por longas
cadeias de hidrocarbonetos apolares, portanto, insolúveis em
água. Eles têm importante papel biológico, pois funcionam como
componente estrutural das membranas celulares, como reserva
de energia, isolante térmico, precursor na síntese de hormônios
etc. São insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos
como álcool, éter, acetona e benzeno.
São encontrados na gema do ovo, no leite, em grãos (milho
e soja), como proteção de penas, em pelos de animais e células
vegetais (cera de carnaúba). Compõem o tecido adiposo (adipó-
citos) dos animais, tendo o papel de como reserva energética,
proteção mecânica dos órgãos internos e isolante térmico (LEH-
NINGER; NELSON; COX, 2006).
Veremos, a seguir, três classes importantes de lipídios: os
ácidos graxos, os fosfolipídios e os esteroides.
Ácidos graxos
Os ácidos graxos são ácidos orgânicos de cadeia carbônica
longa e linear. Estes compostos são anfipáticos, pois regiões apo-
lares e polares na mesma molécula. A parte polar é composta
pelo grupo carboxila em uma das extremidades. Os ácidos graxos
podem ter em sua cadeia carbônica somente ligações simples,
chamados de saturados, ou contêm uma ou mais ligações du-
plas (monoinsaturados e poli-insaturados, respectivamente). Na
Figura 9, temos dois exemplos dessas estruturas.

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Figura 9 Moléculas de ácido graxo saturado (a) e insaturado (b).

Observe, na Tabela 1, alguns ácidos graxos comuns e suas


fontes.

Tabela 1 Ácidos graxos saturados e insaturados comuns na


natureza.
NOME SATURAÇÃO FONTE NATURAL
Láurico Saturado Loureiro
Mirístico Saturado Gerânio, coco
Palmítico Saturado Palma, toucinho, algodão
Oleico Insaturado Oliva
Linoleico Insaturado Linhaça
Linolênico Insaturado Linhaça
Fonte: Mundo Educação (2016).

A grande preocupação que existe hoje em nossa sociedade


com o consumo de gorduras prejudiciais ao nosso organismo le-
vou a indústria de alimentos e também os próprios consumidores
a reduzirem a quantidade de gorduras saturadas, provenientes
de animais, substituindo-as por gorduras vegetais insaturadas no
preparo de alimentos. Dietas ricas em gorduras saturadas favore-
cem o aumento dos níveis de colesterol no sangue e predispõem
o paciente a risco de doenças cardiovasculares. Como exemplo,
podemos citar a substituição da manteiga pela margarina, esta

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última obtida pela hidrogenação de certos tipos de óleos vege-


tais, tornando-os insaturados.
Outra característica importante dos ácidos graxos é sua ca-
pacidade de formar sabões por meio de uma reação com uma
base forte. A ação de limpeza dos sabões ocorre porque, quando
são adicionados a uma mistura de água e óleo, são capazes de
dissolver-se no óleo por suas características apolares e, na água,
por suas características polares. Formam estruturas chamadas
micelas, que emulsionam o óleo na água e facilitam sua elimi-
nação. Observe a reação de saponificação na Figura 10, a seguir.

Figura 10 Reação de saponificação.

Fosfolipídios
Os fosfolipídios são compostos anfipáticos formados por
duas cadeias de ácidos graxos ligados a uma molécula de glice-
rol e a um grupo fosfato. Podem ser encontrados em todas as
membranas celulares e são responsáveis pelo transporte de vá-
rias substâncias através delas. A Figura 11 ilustra uma molécula
de fosfolipídio.

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Figura 11 Esquema de uma molécula de fosfolipídio.

Esteroides
Os esteroides são compostos cíclicos formados por ácidos
graxos e álcoois. O mais conhecido é o colesterol, importante na
constituição das membranas plasmáticas, presente em gorduras
animais e responsável pela formação de placas de depósito nos
vasos sanguíneos, causando a aterosclerose. É usado pelo nosso
organismo para sintetizar os hormônios sexuais (testosterona,
progesterona e estrogênio). Outros esteroides são a vitamina D,
os sais biliares e os hormônios das suprarrenais.
Observe, a seguir, na Figura 12, a representação da molé-
cula do colesterol.

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Não Planares

Figura 12 Esquema de uma molécula de colesterol.

Aminoácidos e proteínas
As proteínas são macromoléculas formadas a partir da
polimerização de vários aminoácidos unidos através de ligações
peptídicas. As proteínas possuem sequências de aminoácidos al-
tamente específicas, que caracterizam sua estrutura e função.
Pequenas mudanças na sequência de aminoácidos de uma pro-
teína podem alterar completamente sua estrutura e, consequen-
temente, sua função biológica.
As características físicas e químicas de uma proteína são
determinadas pelos aminoácidos que a constituem. Na bus-
ca de uma melhor compreensão, antes de continuarmos com
nosso estudo sobre proteínas, vamos falar um pouco sobre os
aminoácidos.

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Os aminoácidos são moléculas orgânicas que contêm dois


grupos funcionais: uma carboxila (-COOH) e uma amina (-NH2).
Estes grupos estão ligados a um átomo de carbono, chamado
carbono alfa. As outras ligações deste carbono são feitas a outro
grupo funcional, chamado R, que pode variar bastante em tama-
nho, e a um átomo de hidrogênio que completa as quatro ligações
do carbono alfa (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006). Veja a seguir,
na Figura 13, um exemplo de uma molécula de aminoácido.

cadeia lateral
Figura 13 Estrutura molecular de um aminoácido.

Os grupos carboxila e amina das moléculas dos aminoáci-


dos são os responsáveis pelas ligações peptídicas. Estas ocorrem
quando um grupo carboxila (-COOH) de um aminoácido se liga a
um grupo amina (-NH2) de outro aminoácido. Desta ligação, re-
sulta a liberação de uma molécula de água (H2O). Veja, na Figura
14 a seguir, como isto ocorre:

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Figura 14 Esquema ilustrando uma ligação peptídica entre dois aminoácidos diferentes.

Segundo Campbel (2000), a biossíntese das proteínas re-


quer o uso de 20 aminoácidos essenciais. Se um deles estiver fal-
tando ou em quantidade limitante, a síntese das proteínas pode
ser inibida. Alguns organismos, como a E. coli, podem sintetizar
todos os aminoácidos de que precisa. Outros organismos, como
o homem, precisam obter alguns aminoácidos da dieta, e são
capazes de sintetizar outros.
A Tabela 2 a seguir traz estes aminoácidos. Os alimentos
ricos em proteínas, como a carne, o leite e os ovos, são usados
pelo nosso organismo como fontes de aminoácidos.

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Tabela 2 Necessidade de aminoácidos no homem.


Essenciais Não Essenciais
Arginina Alanina
Histidina Asparagina
Isoleucina Aspartato
Leucina Cisteína
Lisina Glutamato
Metionina Glutamina
Fenilalanina Glicina
Treonina Prolina
Triptofano Serina
Valina Tirosina
Fonte: Campbell (2000, p. 621).

Voltando às proteínas, estas se diferenciam entre si pelo


número, tipo e sequência de ligação dos aminoácidos entre si.
Este conjunto determinará a função biológica de cada proteína.
Podemos encontrar proteínas com função estrutural, como a
elastina e o colágeno; com função de transporte, como a hemo-
globina e a albumina; com função protetora, como os anticor-
pos, e hormônios como a progesterona e a insulina, entre outras.
As proteínas apresentam, devido às suas diferenças indivi-
duais, características morfológicas peculiares. Podemos encon-
trar quatro níveis de organização quanto à estrutura de uma pro-
teína (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006):
1) Estrutura Primária: é determinada pela sequência de
aminoácidos que constitui a proteína. Duas proteínas
podem ter o mesmo número de aminoácidos, mas com
sequências diferentes. Exemplo: o peptídeo formado
pela ligação dos aminoácidos Val-His-Pro-Leu é dife-
rente do peptídeo His-Met-Leu-Val, embora tenham o
mesmo número de aminoácidos. A estrutura primária

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irá determinar o comportamento das outras estruturas


de uma proteína. Veja, na Figura 15, um exemplo de
estrutura primária:

Figura 15 Exemplo de estrutura primária de uma proteína.

Estrutura Secundária: é formada a partir do arranjo es-


pacial dos aminoácidos que formam a proteína. Estes arranjos
podem formar estruturas tridimensionais chamadas de α-hélice
e folhas-β. Estas formas são mantidas por meio de interações
entre os átomos, formando pontes de hidrogênio. Veja suas re-
presentações na Figura 16.

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α-hélice folhas-β
Figura 16 Esquemas representativos das conformações de moléculas deproteínas em
α-hélice e folhas-β.

2) Estrutura Terciária: é formada pelo arranjo tridimen-


sional das partes da proteína com as estruturas se-
cundárias que podem fazer vários tipos de dobras e
interações entre si. Na Figura 17, temos o exemplo da
lisozima, com sua estrutura tridimensional.

Figura 17 Estrutura terciária da lisozima.

3) Estrutura Quaternária: este tipo de estrutura tridimen-


sional ocorre quando a proteína é formada por mais de
uma cadeia polipeptídica; resulta da interação espacial

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entre essas cadeias. Neste caso, as cadeias são chama-


das de subunidades, e as interações que as mantêm
unidas são do tipo não covalentes (pontes de hidrogê-
nio e interações hidrofóbicas). A Figura 18 representa
a estrutura quaternária da hemoglobina (formada por
quatro subunidades).

Figura 18 Molécula da hemoglobina.

A Figura 19, como podemos observar a seguir, resume


em um único esquema todos os níveis de organização de uma
proteína:

Figura 19 A) Estrutura Primária; B) Estrutura Secundária; C) Estrutura Terciária; D)


Estrutura Quaternária.

A estabilidade estrutural das proteínas depende das con-


dições do meio onde ela se encontra. A modificação destas con-

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dições pode provocar mudanças na conformação espacial das


proteínas, no entanto, sem modificar sua estrutura primária.
Este fenômeno é chamado de desnaturação e pode ocorrer com
qualquer proteína sob efeito de alterações nas condições de pH
e temperatura; ação de substâncias químicas, como álcool, áci-
dos ou bases; ação de radiações, como o ultravioleta e os raios X.
A desnaturação de uma proteína pode ser reversível quando as
modificações são brandas, ou irreversível, quando as modifica-
ções são drásticas (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006).
Existem proteínas formadas apenas por aminoácidos que
são chamadas de proteínas simples. Outras podem se encontrar
associadas a moléculas diferentes, como lipídios, carboidratos e
ácidos nucleicos. São as proteínas conjugadas, denominadas, res-
pectivamente, lipoproteínas, glicoproteínas e nucleoproteínas.

Enzimas
Segundo Sackheim (2001), as enzimas são catalisadores bioló-
gicos. Os catalisadores são substâncias que aumentam a velocidade
de uma reação química, reduzindo seus requisitos energéticos. Os
catalisadores podem ser reutilizados dentro do metabolismo celu-
lar, pois, ao terminar uma reação, não são alterados quimicamente.
As enzimas são proteínas produzidas pelas células com fun-
ção de catalisar reações que ocorrem no ambiente biológico. Sem
as enzimas, seria impossível para as células realizar a maior parte
das reações bioquímicas necessárias para a manutenção da vida.
Veja o exemplo da anidrase carbônica, enzima presente
nos glóbulos vermelhos do sangue e que catalisa a reação de for-
mação do ácido carbônico:
CO 2 + H 2 O → H 2 CO3

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Ela aumenta a velocidade desta reação em mais de 10


milhões de vezes, quando comparada à mesma reação sem
a enzima, permitindo a rápida eliminação do CO2 da corrente
sanguínea.
As reações enzimáticas precisam de alguns requisitos para
ocorrer. Cada enzima tem um reagente específico, o substrato,
com o qual ela catalisa a reação. Outros requisitos importantes
são a temperatura, o pH e a concentração do substrato.
A velocidade das reações enzimáticas é afetada pela tem-
peratura. Em geral, as enzimas do corpo humano atuam melhor
em temperaturas que variam de 37 °C a 40 °C. Cada enzima pos-
sui também uma faixa de pH ideal para atuar. No caso do nosso
corpo, o pH é específico em cada local. Por exemplo, no suco gás-
trico, temos um pH de aproximadamente 2; já no intestino del-
gado, temos um pH em torno de 8,2. Cada enzima estará adap-
tada ao pH do seu local de atuação. A quantidade de substrato
disponível para a reação também vai influenciar na velocidade,
assim como a quantidade de enzima disponível para realizá-la.
Resumidamente, todas as enzimas precisam ter um substrato es-
pecífico para reagir, além da temperatura e do pH adequados e
das concentrações disponíveis de enzima e substrato. Sem estas
condições, as reações enzimáticas serão menos velozes e pouco
eficazes para as células (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006).
Algumas substâncias inorgânicas podem aumentar a velo-
cidade de uma reação enzimática (ativadores). O íon magnésio
(Mg2+) é um ativador inorgânico da enzima fosfatase. Existem
também os inibidores enzimáticos, que diminuem a velocidade
das reações. Podemos citar algumas substâncias consideradas
venenosas, tais como compostos de chumbo e o mercúrio, que
afetam várias enzimas presentes no sistema nervoso e muscular.

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As enzimas possuem uma região na molécula, chamada de


sítio ativo, onde ocorre a ligação com o substrato. O sítio ativo
da enzima tem uma conformação espacial que complementa a
conformação espacial do substrato (encaixe tipo "chave-fecha-
dura"). A reação catalítica ocorre enquanto os dois estão unidos
(complexo enzima-substrato). No final da reação, os produtos se
desligam da enzima e ela volta a ter seu sítio ativo pronto para
realizar uma nova reação. Veja na Figura 20 como isto ocorre.

sítio
ativo

a) Modelo "chave-fechadura"
Figura 20 Esquema representando o modelo tipo "chave-fechadura" de interação entre
enzimas e substratos.

Como falamos antes neste tópico, todas as enzimas são


proteínas. Entretanto, algumas enzimas possuem uma parte pro-
teica, chamada de apoenzima, e outra parte não proteica, cha-
mada de coenzima. As coenzimas são essenciais no metabolis-
mo de carboidratos, lipídios e proteínas no corpo humano. Elas
são derivadas da vitamina B, vitamina K ou vitamina E. Podemos
citar como exemplos de coenzimas a acetilcoenzima A, a nicoti-
namida adenina dinucleotídeo e a coenzima Q10.

Estrutura química dos ácidos nucleicos: nucleotídeos


As biomoléculas, em sua maioria, são formadas pela união
de vários monômeros que dão origem a um polímero. No caso
dos ácidos nucleicos, estes monômeros são os nucleotídeos.

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Cada nucleotídeo é formado pela ligação covalente entre


três moléculas diferentes: uma base nitrogenada, um açúcar e
um resíduo de ácido fosfórico.
No DNA, o açúcar usado na formação dos nucleotídeos é
a desoxirribose, e no RNA é a ribose. A ligação entre uma molé-
cula desses açúcares e uma base nitrogenada forma um nucleo-
sídeo que, após se ligar a um resíduo de ácido fosfórico, formará
o nucleotídeo.
As bases nitrogenadas dos ácidos nucleicos podem ser
classificadas em púricas e pirimídicas. As bases púricas (purinas)
são adenina e guanina, as pirimídicas (pirimidinas) são citosina,
timina e uracila (que ocorre somente no RNA, onde substitui a
timina). Veja na Figura 21 o esquema demonstrando a formação
de um nucleotídeo e as estruturas químicas das bases nitrogena-
das (LEHNINGER; NELSON; COX, 2006). Observem que a diferen-
ça básica entre elas é a presença de dois anéis nas purinas e um
anel nas pirimidinas:

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Nucleosídeo Nucleotídeo

Uracil

Figura 21 Esquema da formação de um nucleotídeo e as


estruturas químicas das bases nitrogenadas.

A polimerização das cadeias dos ácidos nucleicos ocorre


pela ligação dos nucleotídeos. Veremos que as sequências de nu-
cleotídeos contidas no DNA contêm toda a informação genética
necessária para a sobrevivência e a manutenção de uma espécie.
Estas sequências originam o RNA mensageiro, que leva a infor-
mação necessária para a síntese das proteínas.

Estrutura química e tridimensional do ácido desoxirribonuclei-


co: DNA
A descoberta da composição química e da configuração
tridimensional da molécula do DNA foi um marco na história da
Biologia.

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Até a metade do século 20, cientistas dedicaram-se a eluci-


dar as características químicas das principais biomoléculas para
poder compreender o funcionamento das células. Muitos cien-
tistas tiveram importantes contribuições neste processo. Eles
serão estudados ao longo da formação acadêmica. Neste estu-
do, vamos destacar o trabalho de três desses cientistas: Wilkins,
Watson e Crick. Estes renomados pesquisadores receberam em
1962 o Prêmio Nobel por terem descoberto a estrutura molecu-
lar da dupla hélice do DNA com o modelo da estrutura espacial
do DNA, chamado de modelo de Watson e Crick, descoberto em
1953.
Para conseguir chegar a esse modelo, Watson e Crick em-
pregaram muitas informações sobre as características químicas
do DNA, de difração de raios X e outras já compiladas por Wil-
kins. Por isso, este também recebeu o prêmio. Sugerimos a lei-
tura sobre essa parte da história da Biologia para complementar
seus estudos.
Hoje vemos com bastante frequência representações da
molécula do DNA tanto em livros como na mídia em geral. Essa
estrutura é formada pela associação entre duas cadeias polinu-
cleotídicas de DNA, enroladas uma na outra para formar uma
hélice. Os nucleotídeos que formam as cadeias se posicionam de
forma que as moléculas de açúcar ficam do lado de fora, e as mo-
léculas das bases nitrogenadas ficam para o lado interno da du-
pla-hélice. Essa configuração provoca interações entre as bases
nitrogenadas das duas cadeias, formando pontes de hidrogênio
que estabilizam a estrutura da dupla-hélice. Ela também provoca
o pareamento das bases nitrogenadas A-T e C-G. Isto significa
que adenina pareia com timina, através de duas pontes de hidro-
gênio, enquanto a citosina pareia com a guanina através de três
pontes de hidrogênio. Estudos demonstraram que em qualquer

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molécula de DNA as porcentagens de adenina são iguais às de


timina, e as de guanina são iguais às de citosina.
Nas condições normais do interior celular, com tempera-
tura e pH fisiológico adequados, as moléculas de DNA possuem
cargas negativas. Isso faz com que moléculas de proteínas carre-
gadas positivamente possam se associar às moléculas de DNA.
Nas células eucarióticas, essas proteínas chamam-se histo-
nas. As duas cadeias da dupla-hélice de DNA têm direções anti-
paralelas. A ligação entre dois nucleotídeos, chamada de ligação
nucleotídica, ocorre sempre em uma mesma posição, entre o
carbono na posição 3' de um nucleotídeo e o carbono 5' do ou-
tro nucleotídeo. Por este motivo, as cadeias só podem ser poli-
merizadas em um sentido, e, quando se associam para formar a
dupla hélice, assumem posições antiparalelas. Veja na Figura 22
o diagrama mostrando a estrutura da dupla-hélice de DNA com
o pareamento das bases.

Figura 22 Esquema demonstrando em A) estrutura da dupla hélice; B) estrutura plana


da dupla hélice; C) par de bases.

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A dupla-hélice do DNA é considerada a estrutura secun-


dária dessa molécula. Podemos encontrar ainda alguns tipos de
estrutura terciária resultantes do dobramento da molécula de
DNA sobre si mesma. A dupla-hélice em forma relaxada é en-
contrada no núcleo celular, logo após sua síntese durante o ciclo
celular. Normalmente, ela está associada com moléculas de pro-
teínas, chamadas de histonas, onde se enrola, favorecendo sua
acomodação no espaço intranuclear. O material resultante dessa
interação entre o DNA eucariótico e as histonas é chamado de
cromatina.
Da mesma forma que as proteínas, o DNA também pode
sofrer desnaturação. Este processo ocorre quando, com o au-
mento da temperatura, as pontes de hidrogênio que estabili-
zam a dupla-hélice se rompem, formando fitas simples. Este
processo é reversível caso a temperatura seja restabelecida
lentamente. Cada tipo de molécula de DNA tem uma tempera-
tura ideal em que ocorre essa desnaturação. Esta temperatura
é chamada de Tm (temperatura de melting, que significa "fu-
são", em inglês) e depende do conteúdo de bases G-C contidas
na sequência de DNA, devido a estas bases formarem três pon-
tes de hidrogênio entre si, enquanto as bases A-T formam duas.
As moléculas de DNA diferem entre si pela sequência de
bases nitrogenadas que as compõem. Essa diferença constitui
o código genético. Esse código é composto pelas quatro bases
nitrogenadas (adenina, citosina, guanina e timina) que carre-
gam toda a informação genética de um indivíduo, de qualquer
espécie, desde um vírus até um ser humano. As bases informam
qual será a sequência de aminoácidos que deverá compor uma
proteína. Cada grupo de três bases codifica um aminoácido. Se
ocorrerem mudanças no código, consequentemente haverá mu-
dança na sequência de aminoácidos da proteína. Esses eventos

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são chamados de mutações e podem originar várias doenças. A


informação do código genético é levada do núcleo para o cito-
plasma através do RNA mensageiro.
Quando ocorre a divisão celular, um dos primeiros eventos
é a síntese de novas moléculas de DNA. Este processo é chamado
de replicação e caracteriza-se por originar moléculas-filhas idên-
ticas à original, em sequência de pares de bases. Desta forma,
mantêm-se a integridade e a fidelidade da informação contida
na célula original.
As leituras propostas no Tópico 3.1 dizem respeito a as-
pectos importantes da relação entre a organização e o funcio-
namento dos ácidos nucleicos e seus reflexos na atividade me-
tabólica dos organismos. Neste momento, você deve realizar
essas leituras para aprofundar o tema abordado.

Estrutura química e tridimensional do ácido ribonucleico: RNA


Existem três tipos de RNA: RNA mensageiro, RNA ribos-
sômico e RNA transportador. Os RNAs têm importante papel na
transferência da informação armazenada no DNA do núcleo para
o citoplasma, assim como na síntese das proteínas.
As cadeias dos três tipos de RNA, ao contrário das molécu-
las de DNA, são fitas simples. As bases nitrogenadas no RNA são
as mesmas do DNA, com exceção da timina, que é substituída
pela uracila no RNA.
O menor dos RNAs é o transportador ou de transferência
(RNAt), responsável por transportar os aminoácidos necessá-
rios para a síntese proteica. Existe um ou mais RNAt para cada
aminoácido. As moléculas de RNAt formam estruturas parecidas

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com uma folha de trevo. Essa conformação é estabilizada pelas


pontes de hidrogênio. Veja, na Figura 23, um exemplo de uma
estrutura de RNAt:

Figura 23 Estrutura em "folha de trevo" de um RNA transportador.

O RNA ribossômico é formado por duas moléculas grandes


de RNAs que interagem entre si, formando o ribossomo. Cada
subunidade do RNA ribossômico possui uma conformação espa-
cial que, quando interage com o RNA mensageiro, propicia as
condições necessárias para a síntese proteica. A Figura 24 mos-
tra a estrutura molecular de um ribossomo:

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Figura 24 Estrutura molecular de um ribossomo com suas duas subunidades.

As duas subunidades do ribossomo são independentes no


citoplasma da célula e se associam durante a síntese proteica.
O último dos três tipos é o RNA mensageiro. Ele é uma
fita simples originada no processo chamado transcrição do DNA,
quando a informação genética é transferida do DNA para o RNA
mensageiro. A sequência de nucleotídeos do RNA mensageiro é
montada de acordo com a sequência contida no DNA. Ela deter-
mina a ordem dos aminoácidos das proteínas. Os RNAs mensa-
geiros podem ter vários tamanhos, pois dependem do tamanho
do gene que foi transcrito.
Os três tipos de RNAs são sintetizados no núcleo. Com ex-
ceção dos RNAs mensageiros, todos são sintetizados em uma re-
gião específica chamada nucléolo. Após sua utilização, podem
ser reciclados pelas células. Podem também aumentar ou di-
minuir de quantidade, dependendo da atividade metabólica de
cada célula.

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Semelhanças e diferenças entre DNA e RNA


Nesta seção, faremos um breve resumo das características
dos ácidos nucleicos. Ambas as moléculas compartilham as ba-
ses nitrogenadas adenina, citosina e guanina. Timina é exclusiva
de DNA e uracila é exclusiva de RNA. O açúcar presente no DNA
é a desoxirribose, enquanto no RNA é a ribose. O DNA forma a
dupla-hélice e o RNA forma estruturas tridimensionais mais sim-
ples como a "folha de trevo" do RNAt e os ribossomos. A Tabela
3 apresenta um resumo dessas características:

Tabela 3 Características do DNA e do RNA.


DNA RNA
Pentose Desoxirribose Ribose
Bases púricas Adenina e guanina Adenina e guanina

Bases
Citosina e timina Citosina e uracil
Pirimídicas

Estruturas Duas cadeias Uma cadeia


Informação Síntese de
Função
genética proteínas

As leituras indicadas no Tópico 3.2 tratam de infor-


mações importantes sobre as biomoléculas. Neste momen-
to, você deve realizar essas leituras para aprofundar o tema
abordado.

2.3. SISTEMAS-TAMPÃO E pH

Como vimos nos tópicos anteriores, as biomoléculas pos-


suem estruturas químicas e espaciais que determinam seu com-
portamento, assim como as funções que exercem dentro das

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células. Para que tudo funcione bem nesse sentido, essas bio-
moléculas precisam estar em condições ótimas de pH e tempe-
ratura. Falaremos brevemente neste tópico sobre o pH.
Os valores do pH refletem as propriedades ácido-básicas da
água e a capacidade que suas moléculas têm de se dissociar, ou seja,
de produzir os íons H+ e OH-. Para definir os valores de pH, utiliza-se
a determinação de uma constante chamada Constante do Produto
Iônico da Água (Kw), que reflete a dissociação das moléculas de água
em estado puro a 25 °C. Nestas condições, a quantidade de íons H+ e
OH- produzidas são iguais (SACKHEIM, 2001). A reação de dissocia-
ção da água e os valores de Kw são os seguintes (as fórmulas dos íons
entre colchetes indicam a concentração destes em solução):

H 2O 

←
 [H + ] + [ OH − ]

 H +  =
= OH −  10−7 M

Portanto, a 25 °C, o valor de Kw é dado por:


K w =  H +  ⋅ OH −  = (10−7 )(10−7 ) = 10−14

Essa relação da dissociação da água pura é válida para


qualquer solução aquosa, seja ela ácida, básica ou neutra.
Atualmente, é utilizada uma forma mais simples para ex-
pressar essas concentrações, que denominamos de pH. O pH é
definido como:
pH = −log10 [H + ]
Essa fórmula elimina o expoente da concentração dos íons
e o transforma no valor do pH, ou seja:
−log1010−7 =
pH = 7

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A partir daí, convencionou-se uma escala para os valores de


pH baseados na dissociação da água. A água pura com pH 7 é con-
siderada neutra; valores acima são considerados básicos ou alcali-
nos e valores abaixo são considerados ácidos. A escala inicia-se em
0 (extremamente ácido) e termina em 14 (extremamente básico).
Existem mecanismos bioquímicos nos vários tipos de organis-
mos que controlam as mudanças do pH do meio para que as bio-
moléculas possam funcionar de forma adequada. Este controle é
feito por soluções-tampão, formadas por um ácido fraco e sua base
conjugada. Estas soluções tendem a resistir a mudanças de pH pe-
rante a adição de pequenas quantidades de ácidos ou bases fortes.
No organismo humano, por exemplo, os sistemas-tampão são ba-
seados em diversos tipos de compostos conjugados, sendo um dos
mais importantes o sistema-tampão fosfato, juntamente com o do
carbonato. Ambos têm papel importante na manutenção do pH do
sangue e dos líquidos intercelulares, em torno de 7,4.
Nas leituras indicadas no Tópico 3.3 você encontrará o
detalhamento das deduções dessas equações e mais informa-
ções sobre os sistemas-tampão. Faça essas leituras para apro-
fundar os temas abordados neste tópico antes de prosseguir
para a próxima unidade.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão "Vídeos" e selecione:
Bioquímica e Farmacologia – Vídeos Complementares – Complementar 1.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. A ÁGUA E SEU SIGNIFICADO PARA A VIDA

A água está relacionada a vários aspectos da nossa vida,


não só às nossas células, mas também ao equilíbrio do nosso
planeta.
Atualmente, vivemos uma crise crescente de falta de água.
Leia os textos a seguir e veja o vídeo sugerido, para se atualizar
com alguns fatos importantes sobre a água e as consequências
dessa crise em diversas áreas da nossa vida prática. Lembre-se
de que você, como cidadão e futuro profissional, deve ter res-
ponsabilidade e cuidar da preservação do meio ambiente em
que vive.
• TUNDISI, J. G. Recursos hídricos no futuro: problemas
e soluções. Est. Avan., v. 22, n. 63, 2008. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n63/v22n63a02.
pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• DETONI, T. L.; DONDONI, P. C.; PADILHA, E. A. A escas-
sez da água: um olhar global sobre a sustentabilidade
e a consciência acadêmica. In: ENCONTRO NACIONAL
DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 17., 2007, Foz do Igua-
çu. Anais eletrônicos... Foz do Iguaçu: Enegep, 2007.
p. 1-10. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/
biblioteca/ENEGEP2007_TR650479_9043.pdf>. Acesso
em: 30 jun. 2016.

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SISTEMAS-TAMPÃO

• PROJETO CONDIGITAL MEC – MCT. Água, sanea-


mento e qualidade de vida. Vídeos Educativos – Uni-
camp. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=RJCBlCb-hAA>. Acesso em: 30 jun. 2016.

3.2. BIOMOLÉCULAS

As biomoléculas são de extrema importância na organiza-


ção e no funcionamento das células e dos organismos. Entretan-
to, existem situações em que a falta de uma enzima ou a for-
mação de moléculas defeituosas pode levar ao aparecimento de
doenças.
Veja, nos textos a seguir, um exemplo de doença causa-
da pela falta de uma enzima, a intolerância à lactose, e outro
pela produção de proteínas defeituosas, a encefalopatia espon-
giforme, que causa uma doença muito grave, ainda sem cura.
No terceiro texto, temos um breve esclarecimento sobre como o
câncer pode ser considerado uma doença genética.
• BACELAR, J.; ARILTON J.; KASHIWABARA, T. G. B.; NA-
KAOKA, V. Y.; SILVA, E. Intolerância à lactose – Revisão
da Literatura. Braz. J. Surg. Clin. Res. – BJSCR, v. 4, n. 4,
p. 38-42, set.-nov. 2013. Disponível em: <http://www.
mastereditora.com.br/periodico/20131101_095645.
pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• LUPI, O. Doenças priônicas: avaliação dos riscos envol-
vidos na utilização de produtos de origem bovina. An.
Bras. Dermatol., Rio de Janeiro, v. 78, n. 1, p. 7-18, jan.-
-fev. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
abd/v78n1/v78n1a02>. Acesso em: 30 jun. 2016.

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• GUEMBAROVSKI, R. L., CÓLUS, I. M. S. Câncer: uma


doença genética. Genética na escola, Londrina, v. 3, n.
1, 2008. Disponível em: <http://media.wix.com/ugd/
b703be_7ce057043ef849338248067c71383a95.pdf>.
Acesso em: 30 jun. 2016.

3.3. SISTEMAS-TAMPÃO E pH

O desenvolvimento do conceito de pH, na realidade, envol-


veu a união de vários conhecimentos e teorias químicas. O pri-
meiro artigo indicado neste tópico apresenta como essas teorias
foram unificadas, assim como se chegou ao desenvolvimento da
escala de pH. No segundo artigo, temos uma apresentação do
desenvolvimento das teorias sobre soluções-tampão e sua im-
portância nos sistemas biológicos. No terceiro artigo, as autoras
mostram como substâncias encontradas em frutas comuns po-
dem ser usadas como indicadores coloridos de pH.
• ANDRADE, J. C. Química Analítica Básica: Os conceitos ácido-
-base e a escala de pH. Chemkeys – Liberdade para aprender.
Disponível em: <http://www.portalmedquimica.com.br/
arquivos/articleI-Acidez.php.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• FIORUCCI, A. R.; SOARES, M. H. F. B.; CAVALHEIRO, E. T.
G. O conceito de solução tampão. Quím. Nova Esc., n. 13,
maio 2001. Disponível em: <http://www.ufscar.br/labbes/
wp-content/uploads/buffer.pdf>. Acesso em: 30 jun. 2016.
• TERCI, D. B. L.; ROSSI, A. V. Indicadores naturais de pH:
usar papel ou solução? Quím. Nova, v. 25, n. 4, p. 684-
688, 2002. Disponível em: <http://quimicanova.sbq.
org.br/imagebank/pdf/Vol25No4_684_25.pdf>. Acesso
em: 30 jun. 2016.

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4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A seguir, responda às questões propostas a fim de conferir
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Analise as afirmativas a seguir sobre as funções da água no citoplasma:
I - Atuar como solvente da maioria das substâncias.
II - Não atuar na manutenção do equilíbrio osmótico dos organismos em
relação ao meio ambiente.
III - Constituir o meio dispersante dos coloides celulares.
IV - Participar das reações de hidrólise.
V - Agir como ativador enzimático.
A alternativa que contém as funções verdadeiras é:
a) I, II, III.
b) III, IV, V.
c) I, III, IV.
d) V, II, III.

2) Os compostos glicogênio e a celulose têm em comum:


a) moléculas de amido.
b) moléculas de gorduras.
c) moléculas de aminoácidos.
d) moléculas de glicose.

3) Os lipídios são:
a) os compostos energéticos consumidos preferencialmente pelo
organismo.
b) substâncias insolúveis na água, mas solúveis nos chamados solventes
orgânicos (álcool, acetona, éter e benzeno).
c) mais abundantes na composição química dos vegetais do que na dos
animais.
d) presentes como fosfolipídios no interior da célula, mas nunca na estru-
tura da membrana plasmática.

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4) Um composto químico foi extraído de um tipo de célula animal e, após


análise química, chegou-se à seguinte composição: glicina, serina, histidi-
na, lisina, arginina e fenilalanina. Esta substância é:
a) um aminoácido.
b) um lipídio.
c) uma proteína.
d) um ácido nucleico.

5) Considere as afirmativas a seguir:


I - As proteínas são substâncias de grande importância para os seres vi-
vos: muitas participam da construção da matéria viva.
II - As proteínas, chamada enzimas, facilitam reações químicas celulares.
III - Os anticorpos, que também são proteínas, funcionam como substân-
cias de defesa no organismo humano.
Assinale:
a) se somente I estiver correta.
b) se somente II estiver correta.
c) se somente III estiver correta.
d) se todas estiverem corretas.

6) Sobre o DNA, é incorreto afirmar que:


a) é encontrado em todos os compartimentos da célula.
b) origina o RNA mensageiro.
c) se replica por processo semiconservativo.
d) é integrante dos genes nos cromossomas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) c.

2) d.

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3) b.

4) c.

5) d.

6) a.

5. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você foi convidado a compreender a im-
portância da água, bem como as principais biomoléculas (car-
boidratos, lipídios e proteínas). Estes conceitos são a base para
lhe auxiliar no estudo e na compreensão das próximas unidades.
Pudemos demonstrar que o papel desempenhado pelos
ácidos nucleicos na transferência e manutenção da informação
genética é de extrema importância para a vida.
Suas características químicas e sua organização tridimen-
sional proporcionam as condições necessárias para que suas fun-
ções sejam corretamente desempenhadas.
Na próxima unidade, veremos como as biomoléculas se in-
tegram na realização do metabolismo celular.

6. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Molécula de água mostrando o ângulo formado pelos átomos ligantes.
Disponível em: <http://trigonometriatics.blogspot.com.br/>. Acesso em: 29 maio
2015.
Figura 2 As possíveis pontes de hidrogênio de uma molécula de água. Disponível em:
<http://www.brasilescola.com/quimica/ligacoes-hidrogenio.htm>. Acesso em: 29 jun.
2016.

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Figura 3 Estruturas moleculares dos monossacarídeos glicose, frutose e galactose.


Disponível em: <http://www.vestibulandoweb.com.br/biologia/teoria/carboidratos.
asp>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 4 Esquema representando a formação dos oligossacarídeos. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/bioquimica/dissacarideo/>. Acesso em: 16 mar. 2016.
Figura 5 Constituição dos dissacarídeos mais comuns. Disponível em: <http://biophera.
blogspot.com.br/2012/05/dissacarideos.html>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 6 Esquema da cadeia do amido constituída, por amilose e amilopectina.
Disponível em: <http://www.oocities.org/edu043869/Cursobio_cap1.htm>. Acesso
em: 29 jun. 2016.
Figura 7 Esquema representando a molécula do glicogênio. Disponível em: <http://
www.oocities.org/edu043869/Cursobio_cap1.htm>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 8 Esquema representando a molécula da celulose. Disponível em <http://www.
oocities.org/edu043869/Cursobio_cap1.htm>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 9 Moléculas de ácidos graxos saturado (a) e insaturado (b). Disponível em:
<http://www.infoescola.com/bioquimica/acidos-graxos/>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 10 Reação de saponificação. Disponível em: <http://quimicasemsegredos.com/
reacao-de-Saponificacao.php>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 11 Esquema de uma molécula de fosfolipídio. Disponível em: <http://www.
teliga.net/2010/04/estrutura-da-membrana-plasmatica.html>. Acesso em: 29 jun.
2016.
Figura 12 Esquema de uma molécula de colesterol. Disponível em: <http://www.teliga.
net/2010/04/estrutura-da-membrana-plasmatica.html>. Acesso em: 29 jun. 2016.
Figura 13 Estrutura molecular de um aminoácido. Disponível em: <http://hermes.ucs.
br/ccet/defq/naeq/material_didatico/textos_interativos_35.htm>. Acesso em: 29 maio
2015.
Figura 14 Esquema ilustrando uma ligação peptídica entre dois aminoácidos diferentes.
Disponível em: <http://biophera.blogspot.com.br/2012/05/ligacao-peptidica.html>.
Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 15 Exemplo de estrutura primária de uma proteína. Disponível em: <http://
www.vestibulandoweb.com.br/biologia/teoria/estrutura-das-proteinas.asp>. Acesso
em: 30 jun. 2016.
Figura 16 Esquemas representativos das conformações de moléculas de proteínas em
α-hélice e folhas-β. Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarConceito.
php?idConceito=21>. Acesso em: 29 maio 2015.

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UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
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Figura 17 Estrutura terciária da lisozima. Disponível em: <http://www.fcfar.unesp.


br/alimentos/bioquimica/introducao_proteinas/introducao_proteinas_tres.htm>.
Acesso em: 30 jun. 2016.
Figura 18 Molécula da hemoglobina. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.
gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1599>. Acesso em: 30 jun. 2016.
Figura 19 A) Estrutura Primária; B) Estrutura Secundária; C) Estrutura Terciária; D)
Estrutura Quaternária. Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarConceito.
php?idConceito=21>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 20 Esquema representando o modelo tipo "chave-fechadura" de interação
entre enzimas e substratos. Disponível em: <http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/
Enzimas2.htm>. Acesso em: 30 jun. 2016.
Figura 21 Esquema da formação de um nucleotídeo e as estruturas químicas das bases
nitrogenadas. Disponível em: <http://netxplica.com/>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 22 Esquema demonstrando em A) estrutura da dupla hélice; B) estrutura plana
da dupla hélice; C) par de bases. Disponível em: <http://netxplica.com/>. Acesso em:
29 maio 2015.
Figura 23 Estrutura em "folha de trevo" de um RNA transportador. Disponível em:
<http://www.infoescola.com/genetica/rna-transportador/>. Acesso em: 30 jun. 2016.
Figura 24 Estrutura molecular de um ribossomo com suas duas subunidades. Disponível
em <http://www.virtual.epm.br/cursos/biomol/transcri/html/rrna.htm>. Acesso em:
29 maio 2015.

Sites pesquisados
BIBLIOTECA DIGITAL DE CIÊNCIAS. Home page. Disponível em: <http://www.bdc.
ib.unicamp.br/bdc/principal.php>. Acesso em: 16 mar. 2016.
INFOESCOLA. Home page. Disponível em: <http://www.infoescola.com/>. Acesso em:
30 jun. 2016.
INVIVO FIOCRUZ. Disponível em: <http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/
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MUNDO EDUCAÇÃO. Ácidos graxos. Disponível em: <http://mundoeducacao.bol.uol.
com.br/quimica/acidos-graxos.htm>. Acesso em: 30 jun. 2016.
QUÍMICA NOVA INTERATIVA. Home page. Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/>.
Acesso em: 30 jun. 2016.
TE LIGA.NET. Conexões inteligentes. Home page. Disponível em: <http://www.teliga.
net/>. Acesso em: 30 jun. 2016.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 61
UNIDADE 1 – COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO ORGANISMO HUMANO, PROPRIEDADES DA ÁGUA, PH E
SISTEMAS-TAMPÃO

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPBELL, M. K. Bioquímica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. L. Princípios de Bioquímica. 4. ed. São
Paulo: Sarvier, 2006.
PEREIRA, L. V. Sequenciaram o genoma humano... E agora? 2. ed. São Paulo: Moderna,
2005. v. 1.
SACKHEIM, G. I. Química e Bioquímica para Ciências Biomédicas. 8. ed. Barueri:
Manole, 2001.
VOET, D.; VOET, J. G. Bioquímica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

62 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2
BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Objetivos
• Demonstrar uma visão geral do metabolismo celular e sua relação com a
geração de energia para a manutenção da vida.
• Compreender os aspectos gerais do metabolismo de proteínas, lipídeos e
carboidratos nas células animais.

Conteúdos
• Bioenergética: aspectos gerais.
• Glicólise e ciclo do ácido cítrico.
• Metabolismo do glicogênio.
• Metabolismo dos lipídeos.
• Metabolismo do nitrogênio.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Nesta unidade trataremos das bases do metabolismo celular responsável


pela produção de energia. Você usará vários conceitos abordados na uni-
dade anterior. Se necessário, retome-os.

2) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites con-


fiáveis e/ou nas referências bibliográficas, apresentadas ao final de cada
unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamento pessoal é
um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos no Conteúdo


Digital Integrador.

63
© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

1. INTRODUÇÃO
Na unidade anterior, conhecemos os principais aspec-
tos das biomoléculas com suas características e funções. Nesta
unidade, veremos como as biomoléculas interagem nas várias
reações metabólicas necessárias para a manutenção da vida. Os
tópicos que abordaremos apresentarão uma visão geral do me-
tabolismo celular, as reações envolvidas na produção de biomo-
léculas e na sua degradação, para obtenção de energia.
Nosso objetivo é promover uma integração dos conheci-
mentos adquiridos dentro da obra de Bioquímica e Farmacolo-
gia, levando-o a refletir sobre as bases do funcionamento ce-
lular, gerando uma visão global e interdisciplinar dos conceitos
abordados.
Bons estudos!

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteúdo
Digital Integrador.

2.1. BIOENÉRGÉTICA: ASPECTOS GERAIS

A Bioenergética descreve a transferência e a utilização da


energia nos sistemas biológicos (HARVEY; FERRIER, 2012; MO-
RAN, 2013). O metabolismo celular é composto por várias rea-
ções realizadas entre biomoléculas e catalisadas por enzimas.
Estas reações têm basicamente duas funções:

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 65
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

1) sintetizar novas biomoléculas para manter a integrida-


de e funcionalidade das células;
2) degradar biomoléculas para obter energia e manter o
bom funcionamento celular.
Podemos dividir as reações metabólicas em dois grupos:
1) anabólicas;
2) catabólicas.
As reações anabólicas são feitas para que pequenas mo-
léculas (monômeros) sejam ligadas entre si formando grandes
moléculas (polímeros). São estas reações as responsáveis pelas
sínteses das biomoléculas que estudamos na unidade anterior.
Elas são importantes para as células, pois desta forma obtêm-se
proteínas, lipídios, ácidos nucleicos e polissacarídeos (HARVEY;
FERRIER, 2012; MORAN, 2013).
Já as reações catabólicas são realizadas pelas células para
a obtenção de energia através da quebra de macromoléculas em
moléculas menores, liberando energia sob a forma de adenosina
trifosfato (ATP). A produção de energia pela célula é realizada ini-
cialmente usando carboidratos como fonte, mas podem ser usa-
dos também proteínas e lipídeos para o fornecimento de ener-
gia. As reações metabólicas (catabólicas ou anabólicas) podem
ocorrer em vários compartimentos celulares, tais como mitocôn-
drias, lipossomos, retículos endoplasmáticos e núcleos. Elas são
reações complexas e catalisadas por várias enzimas diferentes
(HARVEY; FERRIER, 2012). Mostraremos a você, ao longo desta
unidade, alguns exemplos destas reações e suas consequências
para o funcionamento celular.
Veja, na Figura 1, o esquema demonstrando a integração
entre as reações anabólicas e catabólicas.

66 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Figura 1 Integração entre reações metabólicas: anabolismo e catabolismo.

2.2. GLICÓLISE E O CICLO DO ÁCIDO CÍTRICO

O metabolismo dos carboidratos constitui a mais impor-


tante via de obtenção de energia pelas células. Moléculas ricas
em energia, como a glicose, são usadas pelas células em uma
série de reações de oxidação, que no final geram energia como
ATP e resultam em CO2 e H2O (MORAN, 2013). Existem duas si-
tuações em que estes processos podem ocorrer no interior da
célula: na presença de oxigênio (aeróbico) ou na ausência de oxi-
gênio (anaeróbico). Todas as reações metabólicas envolvidas na
geração de energia pela quebra dos carboidratos são catabólicas.
Podemos começar falando sobre a glicólise, processo anae-
róbico que ocorre no citoplasma de células eucariotas e proca-
riotas. Na glicólise, uma molécula de glicose com seis átomos de
carbono é quebrada em duas moléculas de piruvato, com três
átomos de carbono cada uma. Todo o processo é composto por
uma via metabólica que envolve dez reações catalisadas por en-
zimas específicas. No final destas reações ocorre a formação do

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 67
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

piruvato e de duas moléculas de ATP, que podem ser usadas de


várias maneiras pelas células, como fonte de energia (HARVEY;
FERRIER, 2012; MORAN, 2013).
A Figura 2 mostra de forma esquemática a quebra de uma
molécula de glicose, gerando duas moléculas de ácido pirúvico
(piruvato). Observe que durante este processo ocorre a formação
de moléculas chamadas de aceptoras de elétrons: nicotinamida
adenina dinucleotídeo (NAD) e flavina adenina dinucleotídeo
(FAD). Estas substâncias são derivadas de vitaminas do complexo
B e são responsáveis por carregarem os elétrons e prótons até o
final das reações (HARVEY; FERRIER, 2012; MORAN, 2013). Após
receberem os elétrons, elas se transformam em NADH e FADH2.
Veja a equação geral da glicólise anaeróbica:
Glicose + 2NAD+ + 2ADP + 2Pi 2NADH + 2 piruvato +
2ATP + 2H2O

As moléculas de piruvato formadas na glicólise anaeróbica


podem seguir para três outras reações importantes para obten-
ção de energia: oxidação aeróbica (ciclo do ácido cítrico, trans-
porte de elétrons e fosforilação oxidativa), glicólise anaeróbica
ou fermentação láctica e fermentação alcoólica (HARVEY; FER-
RIER, 2012).

68 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Figura 2 Esquema da glicólise.

Veremos a seguir o papel da oxidação aeróbica. Esta eta-


pa ocorre na presença de oxigênio, sendo que todas as reações
envolvidas são realizadas no interior das mitocôndrias, onde se
localizam as enzimas responsáveis pelo processo. No final de
toda a oxidação aeróbica, considerando desde o início da glicóli-
se, ocorre a oxidação total da molécula de glicose formando ATP
e água. O papel deste processo é muito importante no metabo-
lismo celular, pois possui características anfibólicas (serve tanto
para fornecer energia para o catabolismo quanto para o anabo-
lismo celular) (HARVEY; FERRIER, 2012; MORAN, 2013).

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 69
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

A oxidação aeróbica compõe-se basicamente de três


etapas:
1) ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs;
2) cadeia transportadora de elétrons ou cadeia
respiratória;
3) fosforilação oxidativa.
O ciclo do ácido cítrico, também chamado ciclo de Krebs
ou ciclo dos ácidos tricarboxílicos, inicia-se com a ligação do pi-
ruvato, produzido na glicólise, à coenzima A. Forma-se a Acetil-
-Coenzima A, que entra no ciclo do ácido cítrico reagindo com o
oxalacetato. Esta reação resulta na produção de citrato, que so-
frerá sucessivas descarboxilações (perda de moléculas de CO2),
formando o succinato. O ciclo se completa com a conversão do
succinato em oxalacetato, que irá reagir novamente com Acetil-
-Coenzima A proveniente de outra molécula de piruvato forne-
cida pela glicólise. Desta forma, o ciclo se completa e se inicia
sendo constantemente alimentado pela produção de piruvato
que veio da glicólise. A Figura 3 mostra este ciclo. Observe que
durante este processo ocorre a formação dos aceptores de elé-
trons, NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo) e FAD (flavina
adenina dinucleotídeo) que após receberem os elétrons elas se
transformam em NADH e FADH2. Estes elétrons serão doados a
outros compostos nas reações subsequentes chamadas de ca-
deia transportadora de elétrons (HARVEY; FERRIER, 2012). A rea-
ção global do ciclo do ácido cítrico é a seguinte:
Piruvato + 4 NAD+ + FAD + ADP + Pi + 2 H 2O →
3 CO 2 + 4 NADH + FADH 2 + ATP + 4 H +
O ciclo do ácido cítrico desempenha não só esse papel na via
glicolítica, mas também veremos que é a via final para onde conver-

70 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

gem a maioria das vias catabólicas resultantes do metabolismo de


outros carboidratos, aminoácidos e ácidos graxos. Desta forma, este
ciclo deve ser visto como um conjunto de reações com compostos en-
trando e saindo de acordo com as necessidades de cada organismo.
A oxidação que ocorre no ciclo do ácido cítrico fornece energia para a
produção de ATP na maioria das células (DAU, 2015; MORAN, 2013).

Figura 3 O ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 71
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

O transporte de elétrons e a fosforilação oxidativa ocorrem


pela transferência dos elétrons armazenados nas moléculas de
NADH e FADH2 ao oxigênio, através de uma série de reações da
cadeia de transporte de elétrons. O objetivo final destas reações
é reduzir o oxigênio a água e liberar, em forma de ATP, a ener-
gia armazenada nas moléculas de glicose, através das reações de
fosforilação oxidativa. Estas reações representam a parte final da
oxidação aeróbica e acontecem em todos os tecidos que contêm
mitocôndrias. Os componentes responsáveis pelo transporte de
elétrons, localizados na membrana mitocondrial interna, são enzi-
mas chamadas Citocromos (DAU, 2015; HARVEY; FERRIER, 2012).
No final de todas essas reações, uma molécula de glicose que
entra na via glicolítica e passa por todas as reações até o final da ca-
deia respiratória gera 32 moléculas de ATP. Este processo é conside-
rado de alto rendimento celular. Todas as enzimas e coenzimas são
recicladas e reutilizadas pelas células (DAU, 2015; HARVEY; FERRIER,
2012). Observe, na Figura 4, o resumo destas reações.

Figura 4 Resumo das reações envolvidas na glicólise.

72 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

A glicólise anaeróbica, também conhecida como fermenta-


ção láctica, é outro destino das moléculas de piruvato formadas
durante a glicólise. Estas reações acontecem sem a presença de
oxigênio. Neste caso, ocorre a conversão do piruvato em lacta-
to. Este tipo de metabolismo é comum em hemácias (por não
possuírem mitocôndrias), no músculo (quando submetido a si-
tuações de estresse) e em algumas bactérias dos gêneros Lacto-
bacillus e Clostrydium. O lactato é o produto final desta via me-
tabólica. No músculo, quando há formação e acúmulo de lactato,
comumente aparecem as câimbras (HARVEY; FERRIER, 2012).
A fermentação alcoólica é mais um destino alternativo
para as moléculas de piruvato formadas na glicólise. Ocorre em
organismos capazes de transformar o piruvato em moléculas de
etanol. Exige a presença de enzimas específicas, como a álcool
desidrogenase, que converte acetaldeído em etanol. Estes orga-
nismos são chamados de fermentadores e podemos citar como
exemplo a levedura Saccharomyces cerevisiae, importante para a
indústria de alimentos, na produção de pães e cerveja. (HARVEY;
FERRIER, 2012; MORAN, 2013). Veja, na Figura 5, um esquema
que compara a glicólise anaeróbica e a fermentação alcoólica:

Figura 5 Comparação das reações de glicólise anaeróbica (fermentação láctica) e


fermentação alcoólica.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 73
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

2.3. METABOLISMO DO GLICOGÊNIO

Alguns tecidos do nosso organismo, como, por exemplo,


o encéfalo, o cristalino, a medula renal, a córnea, os testículos,
o músculo em exercício e células do tecido sanguíneo, como os
eritrócitos, precisam de um abastecimento constante de glico-
se para que funcionem corretamente. Existem dois mecanismos
importantes no metabolismo de carboidratos responsáveis por
manter os níveis constantes de glicose na corrente sanguínea a
glicogênese e a glicogenólise.
A glicogênese é a formação do glicogênio a partir de mo-
léculas de glicose que estão em excesso na corrente sanguínea.
Ocorre no fígado e na musculatura esquelética, formando um
importante reservatório de energia nos períodos entre as refei-
ções. Já a glicogenólise é a quebra das moléculas de glicogênio
em monômeros de glicose. Ocorre quando o organismo precisa
recompor sua taxa de glicose sanguínea (SACKHEIM; LEHMAN,
2001).
Os dois processos em conjunto armazenam as moléculas
de glicose que estão em excesso no sangue, formando glicogê-
nio, e, quando necessário, mobilizam estas mesmas moléculas
de glicose, armazenadas como glicogênio, para a corrente san-
guínea (DAU, 2015; HARVEY; FERRIER, 2012).
O glicogênio é a forma que o organismo encontrou para ar-
mazenar e mobilizar moléculas de glicose de forma rápida e efi-
ciente. Os depósitos de glicogênio no organismo humano estão
concentrados no fígado e na musculatura esquelética, embora
possam ser encontrados pequenos depósitos desta substância
em todas as células que o usam para manter seus níveis de ener-
gia e suas funções normais (DAU, 2015; HARVEY; FERRIER, 2012).

74 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Durante um dia normal de alimentação de um indivíduo,


esse abastecimento é realizado inicialmente pela glicose presen-
te no sangue, após a ingestão dos alimentos, e, posteriormente,
pelo glicogênio hepático, que é capaz de suprir essa demanda
por um período de 10 até 18 horas, na ausência da ingestão de
carboidrato (HARVEY; FERRIER, 2012).
Durante um período prolongado de jejum, quando termina
o suprimento de glicogênio hepático, o organismo realiza a glico-
neogênese para sintetizar moléculas de glicose a partir de pre-
cursores como o lactato, o piruvato, o glicerol e os α-cetoácidos.
As reações envolvidas nesse processo ocorrem tanto nas mito-
côndrias quanto no citoplasma. Durante o jejum de uma noite,
90% da produção de glicose por essa via ocorre no fígado e 10%
nos rins. Se for um jejum prolongado, os rins passam a contri-
buir com 40% desta produção (HARVEY; FERRIER, 2012; MORAN,
2013).
Vale a pena ressaltar a importância dos hormônios insuli-
na, glucagon e epinefrina no controle do metabolismo do glico-
gênio. A insulina é o hormônio produzido e secretado pelas cé-
lulas β do pâncreas. Ela é responsável pelo aumento da oxidação
da glicose e da glicogênese. A insulina diminui a glicogenólise
e facilita a formação de gordura a partir da glicose, removendo
esta do sangue.
O glucagon é produzido e secretado pelas células α do
pâncreas. Possui um efeito oposto ao da insulina, promovendo a
glicogenólise e aumentando a disponibilidade de glicose no san-
gue. A Figura 6 exemplifica a relação entre insulina e glucagon no
metabolismo dos carboidratos:

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 75
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Fígado

Pâncreas

Figura 6 Relação entre insulina e glucagon no metabolismo de carboidratos.

A epinefrina ou adrenalina é produzida pela medula da


glândula suprarrenal. Secretada em estados de estresse emo-
cional ou físico, mobiliza o glicogênio do fígado e músculos para
um aporte rápido de glicose no sangue (reação de fuga ou luta)
(SACKHEIM; LEHMAN, 2001).

Com as leituras propostas no Tópico 3.1, você poderá


se aprofundar nos mecanismos envolvidos na Bioenergética e
sua relação com condições patológicas. Antes de prosseguir
para o próximo assunto, realize as leituras indicadas, procu-
rando assimilar o conteúdo estudado.

76 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

2.4. METABOLISMO DOS LIPÍDEOS

Os ácidos graxos ou lipídeos são compostos de cadeias


carbônicas lineares que podem ser saturados (contendo somen-
te ligações simples entre os átomos de carbono) ou insaturados
(com ligações duplas ou triplas entre os átomos de carbono). São
substâncias altamente energéticas. Seu catabolismo, ou seja, a
quebra de moléculas de lipídeos, gera uma quantidade enorme
de energia, quando comparada à quebra de moléculas de car-
boidratos, por exemplo (MORAN, 2013; SACKHEIM; LEHMAN,
2001).
Os lipídeos são a reserva de energia de muitos organismos,
além de serem importantes na formação das membranas celula-
res, na atividade de vitaminas lipossolúveis e na produção de vá-
rios hormônios. Quando há calorias em excesso, sob a forma de
moléculas de glicose, os lipídeos são sintetizados e armazenados
nos adipócitos (células especializadas em armazenar gordura).
Quando a demanda de energia é grande, os lipídios são mobiliza-
dos e quebrados para gerar energia (MORAN, 2013; SACKHEIM;
LEHMAN, 2001).
Existem dois ácidos graxos considerados essenciais para o
nosso corpo e que devem ser obtidos a partir da dieta: o ácido
linoleico e o ácido α-linolênico. Os ácidos graxos que serão arma-
zenados nos adipócitos são sintetizados no citoplasma das célu-
las hepáticas, após uma refeição com excesso de carboidratos e
proteínas (MORAN, 2013; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
Os lipídeos ingeridos na dieta são digeridos e absorvidos
no trato gastrointestinal. Após atingirem a corrente sanguínea,
são usados pelo organismo de várias formas e seu excesso pode
ser armazenado nos adipócitos. Quando o organismo precisa

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 77
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

mobilizar os lipídeos para gerar energia, a enzima lipase sensível


a hormônio, ativada pela adrenalina ou pelo glucagon, e inibida
pela insulina, entra em ação, iniciando a degradação dos tria-
cilgliceróis armazenados nos adipócitos, transformando-os em
ácidos graxos. Estes são carregados pela albumina sanguínea até
o fígado e os tecidos periféricos, onde serão usados para gerar
energia (MORAN, 2013; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
A degradação dos ácidos graxos ocorre na mitocôndria, em
uma reação chamada de β-oxidação. Nesse processo, unidades
de dois carbonos são sucessivamente retiradas a partir do termi-
nal carboxílico do ácido graxo e o produto final será o acetil-CoA,
que será usado no ciclo do ácido cítrico e na gliconeogênese. O
rendimento da quebra de uma molécula de ácido esteárico, um
tipo de ácido graxo composto por 18 átomos de carbono, é de
120 moléculas de ATP no final da oxidação total, quando toda
a molécula é reduzida a CO2 e H2O (MORAN, 2013; SACKHEIM;
LEHMAN, 2001).
O anabolismo dos ácidos graxos ocorre por uma via me-
tabólica diferente do catabolismo. A síntese de ácidos graxos
ocorre no citosol, sendo feita por um conjunto específico de en-
zimas que precisam de NADPH para realizar o processo. Muitos
compostos lipídicos usados pelas células na constituição de suas
membranas (esfingolipídeos, fosfolipídeos e triacilgliceróis) são
sintetizados a partir de ácidos graxos. Os hormônios esteriodais
também são sintetizados a partir do colesterol (HARVEY; FER-
RIER, 2012).
O esquema da Figura 7 mostra o caminho percorrido pe-
los lipídeos provenientes da dieta até sua degradação ou arma-
zenamento nos adipócitos.

78 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Figura 7 Caminho percorrido pelos lipídeos da dieta.

2.5. METABOLISMO DO NITROGÊNIO

O metabolismo do nitrogênio envolve uma série de eta-


pas e reações com muitos tipos de organismos envolvidos. O
nitrogênio usado pelos organismos para sintetizar suas biomo-
léculas é obtido através do nitrogênio presente na atmosfera
(HARVEY; FERRIER, 2012; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
A fixação deste nitrogênio, para que possa ser disponibili-
zado aos organismos, ocorre pela ação de bactérias fixadoras de
nitrogênio presentes no solo ou de vida livre. Plantas e animais
não possuem a capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico.
Dessa maneira, sua obtenção é feita através da alimentação, no

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 79
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

caso dos animais; no caso das plantas, a obtenção ocorre dire-


tamente do solo, em simbiose com bactérias fixadoras, ou atra-
vés de fertilizantes contendo nitratos (HARVEY; FERRIER, 2012;
SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
As bactérias do gênero Rhizobium, geralmente associadas
às raízes de leguminosas, são responsáveis por fixar o nitrogênio
atmosférico (N2), transformando-o em amônia (NH3), processo
chamado de amonificação. As bactérias do gênero Nitrosomo-
nas são capazes de converter a amônia em nitritos (NO2), no pro-
cesso chamado de nitrificação. Este nitrito, por sua vez, pode
ser convertido em nitrato (NO3) pelas bactérias Nitrobacter, na
nitratação (HARVEY; FERRIER, 2012; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
Estas três formas do nitrogênio (amônia, nitritos e nitratos)
podem ser absorvidas pelas plantas e usadas para a produção
de seus compostos nitrogenados (proteínas e vitaminas em sua
maioria). Os animais que se alimentam destas plantas assimila-
rão o nitrogênio na forma de proteínas e vitaminas da alimenta-
ção. Posteriormente, este nitrogênio voltará ao ambiente atra-
vés da excreção dos animais (amônia, ureia e ácido úrico) ou pela
decomposição dos animais e vegetais mortos (HARVEY; FERRIER,
2012; SACKHEIM; LEHMAN, 2001). A Figura 8 ilustra os passos
desse ciclo.

80 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

raízes

Figura 8 Ciclo do nitrogênio.

Alguns animais, como o homem, por exemplo, não con-


seguem sintetizar os 20 aminoácidos necessários, precisando
obtê-los a partir da dieta. Nos animais, as proteínas provenien-
tes da alimentação são degradadas em aminoácidos, que serão
absorvidos e usados para sintetizar proteínas e outras biomolé-
culas importantes para as células. A síntese de novos aminoáci-
dos pode ocorrer também tanto em animais como em vegetais.
Este processo envolve uma série de reações bioquímicas que se
iniciam com a formação do glutamato e da glutamina, aminoáci-
dos dos quais derivam todos os outros (HARVEY; FERRIER, 2012;
SACKHEIM; LEHMAN, 2001).

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 81
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Além de serem importantes como precursores de proteí-


nas e outras substâncias para as células, os aminoácidos podem
também ser usados como fonte de energia em situações em que
o organismo já esgotou suas reservas de carboidratos e lipídeos
(por exemplo, em desnutrição severa) (HARVEY; FERRIER, 2012;
SACKHEIM; LEHMAN, 2001). Não discutiremos aqui estas rea-
ções, mas observe na Figura 9 a relação entre os aminoácidos e
o ciclo do ácido cítrico.

Figura 9 Relações entre o metabolismo dos aminoácidos e o ciclo do ácido cítrico


(modificado).

Durante as reações de formação ou de degradação dos


aminoácidos, pode haver um excesso de nitrogênio que precisa
ser excretado. Os animais podem excretá-lo em forma de amô-
nia, ureia ou ácido úrico. Os peixes, por exemplo, excretam amô-
nia, que se dissolve na água rapidamente. Os pássaros excretam
o nitrogênio sob a forma de ácido úrico, que é insolúvel em água.
Por isso, eles não produzem urina. Já os animais terrestres, em

82 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

sua maioria, excretam ureia, que se dissolve na urina. A elimina-


ção do nitrogênio pelos animais no meio ambiente fecha o ciclo
que vimos no início desta seção.

2.6. INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO

Você pôde observar, ao longo desta unidade, que o meta-


bolismo celular não se restringe aos carboidratos, e as demais
macromoléculas também têm suas rotas catabólicas e anabóli-
cas (HARVEY; FERRIER, 2012; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
O ciclo do ácido cítrico desempenha um papel central no
metabolismo, pois produtos de degradação de açúcares, lipídeos
e proteínas podem ser precursores neste ciclo e usados na pro-
dução de energia. Ao mesmo tempo, essas mesmas biomolécu-
las podem ser formadas a partir de derivados do ciclo (HARVEY;
FERRIER, 2012; SACKHEIM; LEHMAN, 2001).
Os lipídeos são moléculas que contêm uma quantidade
enorme de energia armazenada. Como dito anteriormente, a de-
gradação de uma molécula lipídica com 18 átomos de carbono
(ácido esteárico) gera 120 moléculas de ATP. A degradação de li-
pídeos com números ímpares de átomos de carbono pode gerar
o propionil-CoA e o succinil-CoA, que entram no ciclo do ácido
cítrico (HARVEY; FERRIER, 2012; SACKHEIM, LEHMAN, 2001).
O catabolismo dos lipídeos também pode gerar um conjun-
to de substâncias chamadas de corpos cetônicos. Estas molécu-
las se formam quando existe um desequilíbrio entre o metabolis-
mo de carboidratos e lipídeos, pela oferta em excesso de lipídeos
e escassez de carboidratos ou em doenças metabólicas, como o
diabetes. O catabolismo dos lipídeos ocorre na matriz mitocon-

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 83
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

drial. O anabolismo ocorre no citosol e é coordenado por um


conjunto de enzimas, usando como base pequenas moléculas de
ácidos graxos. Além dos lipídeos de reserva, as células usam es-
tes precursores para sintetizar os triacilgliceróis, os fosfolipídeos
e os esfingolipídeos, tão importantes na constituição das mem-
branas celulares. Outros compostos importantes derivados de
lipídeos são os hormônios esteroides, como o já citado cortisol
(HARVEY; FERRIER, 2012; SACKHEIM, LEHMAN, 2001).
Uma via metabólica importante para as células são o cata-
bolismo e o anabolismo dos aminoácidos e das proteínas. Estas
vias envolvem uma integração maior entre o meio ambiente e o
indivíduo, representada pelo ciclo do nitrogênio.
Para exemplificar a integração das vias metabólicas, se-
lecionamos a Figura 10, que mostra como as vias anabólicas e
catabólicas convergem para o ciclo do ácido cítrico, com a for-
mação de energia a partir de precursores (lipídeos, carboidratos
e proteínas).

84 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

Figura 10 Integração do metabolismo de lipídeos, proteínas e carboidratos.

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer as leituras propostas no Tópico
3.2 para compreender como a integração do metabolismo é
importante no funcionamento das células e dos organismos.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 85
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por


fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão "Vídeos" e selecione: Bio-
química e Farmacologia – Vídeos Complementares – Complementar 2.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3.  CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. BIOENERGÉTICA

Os processos celulares que estão envolvidos na produção


de energia para a manutenção da vida nas células são muito
complexos. Os textos a seguir esclarecem e integram os conhe-
cimentos sobre o metabolismo celular. Além disso, estabelecem
as relações que podem existir entre as deficiências no metabo-
lismo e o aparecimento de situações transitórias, como a fadiga
muscular ou doenças, como a síndrome metabólica. Realize as
leituras a seguir, antes de iniciar o próximo tópico:
• BIOQUÍMICA HUMANA. São Paulo, Pearson, 2015. Dis-
ponível em: <http://claretiano.bv3.digitalpages.com.
br/users/publications/9788543010953/pages/-12>.
Acesso em: 29 maio 2015.
• BERTUZZI, R. C. M. et al. Metabolismo do lactato: uma
revisão sobre a bioenergética e a fadiga muscular. Dis-
ponível em: <http://www.researchgate.net/profile/
Adriano_LimaSilva/publication/26623016_Lactate_me-
tabolism_bioenergetics_and_muscle_fatigue_review/

86 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

links/00b4951ee76aea9ca5000000.pdf>. Acesso em:


12 jul. 2016.
• SANTOS, K. M. et al. Grau de atividade física e síndrome
metabólica: um estudo transversal com indígenas Khi-
sêdjê do Parque Indígena do Xingu, Brasil. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n12/11.pdf>.
Acesso em: 12 jul. 2016.

3.2. INTEGRAÇÃO DO METABOLISMO

Apesar dos conceitos de rotas metabólicas terem sido


abordados nos tópicos anteriores é importante que você tenha
uma visão geral da complexidade do metabolismo celular quan-
do consideramos todas as reações acontecendo ao mesmo tem-
po na mesma célula. Os textos a seguir apresentam detalhada-
mente os aspectos de gordura e proteínas.
• SACKHEIM, G. I. Química e Bioquímica para Ciências
Biomédicas. 8. ed. São Paulo: Manole, 2001. p. 478 e p.
492. (Biblioteca Digital Pearson).
O vídeo a seguir demonstra de forma bem clara como o
metabolismo pode ser visto de forma integrada:
• ARAÚJO, S. Curso de Bioquímica: integração meta-
bólica. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=zG4xPjUiONQ>. Acesso em: 12 jul. 2016.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para
você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 87
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteú-


dos estudados para sanar as suas dúvidas.
1) Se compararmos um músculo esquelético em estado de repouso e em
contração vigorosa, podemos observar que:
a) ocorrerá um aumento na conversão de piruvato em lactato;
b) ocorrerá uma redução na oxidação de piruvato a CO2 e água;
c) ocorrerá uma diminuição na razão NADH/NAD+;
d) ocorrerá uma diminuição na concentração de AMP.

2) A reação a seguir é a soma de três passos do ciclo do ácido cítrico:


A + B + FAD + H2O C + FADH2 + NADH
Escolha a seguir a resposta que corresponda aos itens A, B e C,
respectivamente:
a) succinil-CoA, GDP e succinato;
b) succinato, NAD+ e oxalacetato;
c) fumarato, NAD+ e oxalacetato;
d) succinato, GTP e malato.

3) Escolha, entre as alternativas a seguir, a resposta correta a respeito da


gliconeogênese:
a) ocorre no músculo;
b) é estimulada pela enzima frutose 2,6 bifosfato;
c) é inibida por níveis elevados de acetil-CoA;
d) é importante para a manutenção da glicose sanguínea durante os pe-
ríodos de jejum.

4) Na espécie humana, os hormônios adrenalina e glucagon possuem qual


efeito sobre o metabolismo do glicogênio hepático?
a) Aumentam a síntese de glicogênio.
b) Aumentam a degradação do glicogênio.
c) Não influenciam no metabolismo do glicogênio.
d) Aumentam a síntese de glicose a partir de aminoácidos.

88 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

5) Com relação ao ciclo da ureia, escolha a alternativa correta:


a) Os dois átomos de nitrogênio da molécula da ureia entram no ciclo
através da amônia e da alanina.
b) A ureia é produzida pela hidrólise da ornitina.
c) O ATP é necessário neste ciclo para formar a arginina.
d) A ureia urinária aumenta com uma dieta rica em proteínas.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) a.
2) b.
3) d.
4) b.
5) d.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da unidade. Aqui tivemos a oportunida-
de de compreender a importância do metabolismo na produção
de energia, assim como ter uma visão geral de como as diferen-
tes biomoléculas podem ser usadas pelas células para obter ou
armazenar energia.
Não deixe de ler os Conteúdos Digitais Integradores, que
ampliarão seu conhecimento sobre o assunto.
Na próxima unidade, você aprenderá os conceitos iniciais
de Farmacologia.
Até lá!

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 89
UNIDADE 2 – BIOENERGÉTICA E METABOLISMO

6. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Integração entre reações metabólicas: anabolismo e catabolismo. Disponível em:
<http://anabolismo.org/2011/02/catabolismo-x-anabolismo/>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 2 Esquema da glicólise. Disponível em <http://www.geocities.ws/ctv10ano/
imagem19.html>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 3 O ciclo do ácido cítrico ou ciclo de Krebs. Disponível em: <http://www.
educadorfisico.esp.br/?pg=bioenergetica>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 4 Resumo das reações envolvidas na glicólise. Disponível em: <http://www.
netxplica.com/>. Acesso em: 29 maio 2015.
Figura 5 Comparação das reações de glicólise anaeróbica (fermentação lática) e
fermentação alcoólica. Disponível em <http://pesquisa-na-escola.blogspot.com.
br/2011/08/fermentacao-e-respiracao.html>. Acesso em: 12 jul. 2016.
Figura 6 Relação entre insulina e glucagon no metabolismo de carboidratos.
Disponível em: <http://dietaslowcarb.blogspot.com.br/2010/08/qual-o-papel-da-
glicoseinsulinaglucagon.html>. Acesso em: 12 jul. 2016.
Figura 7 Caminho percorrido pelos lipídeos da dieta. Disponível em: <http://www.
lookfordiagnosis.com/mesh_info.php?term=metabolismo+dos+lip%C3%ADdeos&la
ng=3>. Acesso em: 12 jul. 2016.
Figura 8 Ciclo do nitrogênio. Disponível em: <http://www.alunosonline.com.br/
biologia/ciclo-nitrogenio.html>. Acesso em: 12 jul. 2016.
Figura 9 Relações entre o metabolismo dos aminoácidos e o ciclo do ácido cítrico
(modificado). Disponível em: <http://pt.slideshare.net/gleicelima1610/metabolismo-
deprotenas>. Acesso em: 12 jul. 2016.
Figura 10 Integração do metabolismo de lipídeos, proteínas e carboidratos. Disponível
em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAt5oAC/integracao-metabolica>.
Acesso em: 12 jul. 2016.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAU, A. P. A. (Org.). Bioquímica Humana. São Paulo, Pearson, 2015.
HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. 
MORAN, L. A. et al. Bioquímica. 5. ed. São Paulo, Pearson, 2013.
SACKHEIM, G. I.; LEHMAN, D. D. Química e Bioquímica para Ciências Biomédicas. 8. ed.
São Paulo: Manole, 2001.

90 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 3
FARMACOLOGIA: HISTÓRIA,
DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS
(FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA)

Objetivos
• Analisar e compreender a evolução histórica da Farmacologia.
• Compreender as divisões básicas da Farmacologia.
• Conhecer os conceitos fundamentais dessa ciência.
• Estudar os processos relacionados à movimentação dos fármacos no orga-
nismo humano (Farmacocinética).
• Estudar os mecanismos pelos quais os fármacos produzem seus efeitos –
desejados e indesejados (Farmacodinâmica).

Conteúdos
• História e divisões da Farmacologia.
• Os processos farmacocinéticos.
• Os mecanismos de ação de fármacos.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites confiá-


veis e/ou principalmente nas referências bibliográficas, apresentadas ao fi-
nal de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamen-
to pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

91
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

2) Para aprofundar seu conhecimento nos conteúdos estudados nas unida-


des, recorra aos materiais complementares apresentados no Conteúdo
Digital Integrador.

3) Caso seja necessário, releia a unidade para um melhor entendimento do


assunto.

4) Tenha sempre à mão o significado dos termos citados no Glossário de Con-


ceitos e suas ligações pelo Esquema dos Conceitos-chave para o estudo
de não apenas esta, mas de todas as unidades. Isso poderá facilitar sua
aprendizagem e seu desempenho.

92 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

1. INTRODUÇÃO
Agora que você conheceu as principais biomoléculas e um
pouco dos processos metabólicos celulares, iniciaremos esta uni-
dade abordando a evolução histórica e o surgimento da Farma-
cologia como ciência.
Veremos aqui suas áreas e divisões básicas, assim como
sua relação com as demais ciências.
Em seguida, vamos apresentar os conceitos fundamentais
que se aplicam praticamente a todas as categorias terapêuticas
de substâncias químicas utilizadas pelos seres humanos.
Vamos analisar também alguns termos e conceitos-chave
bastante utilizados e que muitas vezes se confundem.
Estudaremos os processos fundamentais relacionados à
movimentação (farmacocinética) das moléculas dessas substân-
cia, no organismo humano, desde a sua introdução até o mo-
mento de sua eliminação.
E, finalmente, veremos os processos fundamentais por
meio dos quais as substâncias químicas agem (farmacodinâmica)
para produzir seus efeitos no organismo humano, dos pontos de
vista celular e molecular.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 93
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

2.1. HISTÓRIA, DIVISÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A Farmacologia é uma ciência vasta, multidisciplinar. Não


só devido à quantidade de medicamentos disponíveis e utilizados
na prática terapêutica, mas também graças à grande quantidade
de áreas relacionadas aos conhecimentos sobre as interações
entre os organismos vivos, as drogas, fármacos, medicamentos
e remédios.
Aliás, será que existe alguma diferença entre esses quatro
últimos termos? Para a Farmacologia, sim. Vejamos agora alguns
desses importantes conceitos.
Embora a palavra "droga" venha carregada de estigma cul-
tural, pois muitas pessoas a associam com uma substância ilícita
ou de abuso, o fato é que droga é toda substância capaz de alte-
rar uma função fisiológica, seja para benefício ou não de quem a
recebe, mas também com finalidade experimental (SILVA, 1998).
Assim, a palavra droga é comumente utilizada para desig-
nar qualquer composto biologicamente ativo e, neste termo,
incluem-se muitas substâncias como os fármacos, mas também
a cafeína presente nos cafés, chás, chocolates e refrigerantes à
base de cola. Também são exemplos de drogas o álcool etílico
presente nas bebidas alcoólicas, a nicotina do tabaco, as dro-
gas ilícitas ou de abuso, como maconha, cocaína, LSD, ecstasy;
conservantes, corantes e estabilizantes, presentes nos alimentos
industrializados; os cosméticos, as moléculas protótipos dos fu-
turos medicamentos, entre outros.
Já fármaco é toda substância com estrutura química defi-
nida e que é utilizada para benefício do organismo que a rece-
be (SILVA, 1998). Em outras palavras, é a substância ativa, ou,

94 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

como se chamava anteriormente, o princípio ativo presente nos


medicamentos.
Desta forma, o medicamento consiste de toda preparação
ou forma farmacêutica contendo um ou mais fármacos, capaz de
curar, prevenir ou diagnosticar uma enfermidade (SILVA, 1998).
Ou seja, é um preparo farmacêutico utilizado para benefício de
quem o recebe.
O termo remédio, porém, apresenta um conceito mais am-
plo, impreciso, que inclui substâncias, plantas, produtos, técni-
cas, procedimentos, recursos, enfim, tudo aquilo que é utilizado
com a intenção de combater a dor e a doença (SILVA, 1998).
Farmacologia é uma palavra de origem grega derivada de
pharmakon e que possuiu vários significados ao longo da histó-
ria: desde uma substância de uso terapêutico até um veneno,
mas que, na verdade, do ponto de vista técnico, significa "droga"
(PAGE, 2004).
Portanto, a Farmacologia pode ser definida como o estu-
do dos efeitos das drogas ou substâncias químicas sobre a fun-
ção dos sistemas biológicos. Os princípios da Farmacologia são
aplicados também à Toxicologia, a qual concentra seus estudos
somente nos efeitos maléficos das substâncias biologicamente
ativas (RANG, 2004).
Desde a Pré-História, muito antes da aurora das civiliza-
ções, da domesticação dos vegetais, já existiam seres humanos
que coletavam e selecionavam plantas para serem utilizadas em
seu próprio benefício ou de outros.
Ao longo da linha do tempo, em todas as civilizações, das
mais antigas às mais novas, são encontrados achados relacionan-
do a prática do alívio da dor ou da cura da doença com o uso

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 95
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

de substâncias químicas. Na maioria das vezes, essas substân-


cias eram encontradas principalmente no Reino Vegetal, como
podemos observar ainda hoje sendo praticado nas sociedades
indígenas, consideradas primitivas.
Atualmente, o estudo dos fármacos e suas interações com
o sistema biológico é amplo e abrange uma vasta rede de co-
nhecimentos ou áreas de conhecimento que se inter-relacionam
(RANG, 2004), como observado na Figura 1.

Fonte: Rang HP (2004, p. 5).


Figura 1 Divisões da Farmacologia.

Podemos destacar, como exemplo, a Química, a Fisiologia,


a Patologia, a Genética, a Farmácia, a Biotecnologia, a Farma-
coepidemiologia, a Farmacogenômica, a Imunofarmacologia, a

96 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Farmacovigilância, a Psicofarmacologia, a Farmacotécnica, a Far-


macognosia, a Farmacobotânica, a Etno-farmacologia, a Farma-
cotoxicologia, a Farmacologia Clínica e Terapêutica Experimental,
a Farmacocinética e a Farmacodinâmica, entre outras. A Farma-
cocinética e a Farmacodinâmica são os dois principais pilares que
sustentam e fundamentam a Farmacoterapia.
Antes da língua escrita, o conhecimento era repassado
oralmente de uma geração para outra. Com o tempo, passou a
ser ocupação restrita de pajés, curandeiros, xamãs ou feiticeiros,
alquimistas e sacerdotes que se tornaram pessoas poderosas e
influentes nas comunidades em que se inseriam, combinando
a prática de conhecimentos médicos com magia e ritos religio-
sos. Ora, quando se acredita que a doença pode ser causada por
deuses, espíritos ou forças sobrenaturais, o tratamento eviden-
temente deve evocar a magia. Assim, a cura e a proteção divina
sempre caminharam de mãos dadas, e não é surpresa que o co-
nhecimento sobre drogas estivesse ligado a esse papel supersti-
cioso (PAGE, 2004; RANG, 2004).
A Medicina e o uso de drogas para tratar as doenças esta-
vam em evolução na China e na Índia, de forma paralela à sua
evolução no Egito Antigo e, como já foi citado, baseavam-se prin-
cipalmente na utilização de plantas e/ou de seus derivados.
O Papiro de Ebers, do Egito Antigo, que data de aproxi-
madamente de 1550 a.C., lista o método de preparação e a
aplicabilidade de cerca de setecentos remédios (PAGE, 2004).
Entretanto, o Pen Ts’ao Ching, a primeira farmacopeia conheci-
da do mundo, de autoria do lendário imperador Shen-Nung, o
"agricultor divino", considerado pela tradição o fundador míti-
co da Medicina Chinesa, data de 2737 a.C. Nessa farmacopeia,
ele já descrevia o potencial curativo e terapêutico da maconha

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 97
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

(BURGIEMAN, 2002). Também na Índia, há milênios essa mesma


planta faz parte integrante da medicina ayurvédica, sendo utili-
zada no tratamento de dezenas de males, como descrita no Veda
Atharva, escrito entre 2000-1400 a.C., um dos livros sagrados do
hinduísmo (BURGIEMAN, 2002).
As farmacopeias fitoterápicas também surgiram nas cultu-
ras grega e romana, contribuindo de forma significativa com o
processo evolutivo dessa área do conhecimento. Pedânio Dios-
córides (57 d.C.), foi um médico grego, considerado o fundador
da Farmacognosia através da sua obra De matéria médica. Nes-
sa obra, ele aborda cerca de quinhentas plantas e remédios, in-
fluenciando a terapêutica por cerca de dezesseis séculos (IVER-
SEN, 2012; PAGE, 2004).
Galeno (130-201 d.C.), grego que vivia em Roma e consi-
derado o "pai da Farmácia", desenvolveu a Teoria da Doença.
Paracelso (1493-1541), um estudioso e alquimista itinerante,
considerado o "avô da Farmacologia", já afirmava que a diferen-
ça existente entre o remédio e o veneno era a dose, um conceito
fundamental na terapêutica atual (IVERSEN, 2012; PAGE, 2004).
Mais recentemente, no século 17, na Europa, ocorreram avan-
ços como, por exemplo, a redação de muitas outras farmacopeias.
Porém, ainda não se praticava, naquela época, uma terapêutica me-
dicamentosa baseada em princípios científicos, como pode ser ob-
servado na Coleção de Remédios de 1692, na qual se recomendava
como terapêutica a utilização de uma mistura de vermes, estrume,
urina e musgo do crânio de um homem morto (RANG, 2004).
O fato é que, como ciência propriamente dita, a Farma-
cologia só teve início na metade do século 19, como podemos
observar na Figura 2, concretizando-se realmente no século 20,
após a observação criteriosa, feita nos estudos das interações

98 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

entre as substâncias químicas isoladas com o organismo vivo ou


sistema biológico (GOODMAN, GILMAN, 2006; IVERSEN, 2012;
PAGE, 2004; RANG, 2004).
Paralelamente, naquela época, ocorreram avanços e sur-
giram conhecimentos seguros de Anatomia, Fisiologia, Patologia
e Química que permitiram o desenvolvimento de várias teorias.
Entre elas, a teoria celular do médico patologista alemão Rudolf
Virchow, em 1858, as descobertas sobre microrganismos, do
cientista francês Louis Pasteur, em 1878, e o isolamento de subs-
tâncias químicas dos extratos de plantas, como o realizado por
Friedrich Sertürner, farmacêutico alemão que isolou a morfina
do ópio, em 1805. A morfina foi considerada a primeira droga
pura (IVERSEN, 2012; RANG, 2004).

Fonte: Rang (2004, p. 4).


Figura 2 Evolução histórica da Farmacologia.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 99
UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Foi a partir do isolamento das drogas das plantas e da sín-


tese de compostos químicos, no início do século 20, que a Quí-
mica impulsionaria a indústria farmacêutica e os farmacologistas
nas pesquisas sobre os efeitos de novos compostos, como anes-
tésicos locais e barbitúricos, dentre os quais, a cocaína.
Em um desses estudos, Paul Ehrlich, considerado o "pai da
Farmacologia moderna", deu início, em 1909, à era da quimiote-
rapia, introduzindo a arsfenamina, um composto do arsênio de
nome comercial Salvarsan. Esse medicamento era utilizado no tra-
tamento de doenças infecciosas, como a sífilis (IVERSEN, 2012).
Hoje, a Farmacologia, assim como outras disciplinas biomédi-
cas, não tem suas fronteiras claramente definidas e tampouco cons-
tantes, embora seu propósito essencial ainda seja o de entender as
ações das substâncias exercidas nos organismos vivos e, mais espe-
cificamente, como seus efeitos podem ser aplicados à terapia.
Com o avanço da Biotecnologia dos últimos anos, que uti-
liza a tecnologia do DNA recombinante, muitos novos agentes
terapêuticos têm sido produzidos, como anticorpos, enzimas,
proteínas reguladoras, citocinas e hormônios (RANG, 2004).
Focando nossa atenção no futuro, não é difícil perceber
que a terapia gênica e as terapias baseadas em células, como
a farmacogenômica e a nanotecnologia, apesar de ainda serem
incipientes, estão levando a terapêutica para um novo patamar
ou domínio de conhecimentos (RANG, 2004).

Com as leituras propostas no Tópico 3.1, você vai acompa-


nhar a evolução histórica e o surgimento da Farmacologia como
ciência. Além disso, verá o significado de vários conceitos funda-
mentais. Antes de prosseguir para o próximo assunto, realize as
leituras indicadas, procurando assimilar o conteúdo estudado.

100 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

2.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACOCINÉTICA

Vejamos agora alguns desses conceitos fundamentais que


possibilitam a prática de uma farmacoterapia racional, ou seja,
aquela baseada em evidências cientificamente comprovadas.
Começaremos nosso estudo analisando alguns conceitos
fundamentais da Farmacocinética.
Como citado anteriormente, a Farmacocinética é um dos
pilares da Farmacologia e estuda quantitativamente a cronologia
dos processos metabólicos, no organismo humano, relacionados
à absorção, distribuição, biotransformação ou metabolização e
excreção dos fármacos e/ou seus metabólitos (GOODMAN; GIL-
MAN, 2006). Cinética lembra movimento. Assim, o estudo do
movimento das moléculas dos fármacos nos sistemas biológicos
constitui-se no principal objeto de estudo da Farmacocinética.
Simplificadamente, seria o que o organismo biológico faz com a
droga.
O estudo dos mecanismos das interações entre as pro-
priedades físico-químicas dos fármacos e medicamentos, com
as propriedades das membranas celulares constitui a base para
a compreensão dos processos relacionados à absorção, distri-
buição e excreção dos fármacos e de seus metabólitos (RANG,
2004).
Existem medicamentos que são utilizados para uso inter-
no, enquanto outros, para uso externo. A partir do momento em
que as moléculas do fármaco entram em contato com o organis-
mo biológico, muitos fatores influenciarão, até que essas molé-
culas cheguem aos seus locais de ação (tecidos).

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 101


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

É importante destacar que as ações dos fármacos po-


dem ficar restritas a certas regiões, quando eles forem de uso
tópico, ou seja, quando o medicamento é administrado para
produzir uma ação local. Quando o medicamento for de uso
sistêmico, produzirá uma ação sistêmica, ou seja, em todo o
organismo, porque as moléculas do fármaco alcançarão a cir-
culação sanguínea a partir do local onde foram administradas
(KATZUNG, 2005).

Absorção
O conceito de absorção é definido como a passagem das
moléculas do fármaco de seu local de administração para o plas-
ma. Um processo importante para todas as vias de administra-
ção, exceto para a via intravenosa (RANG, 2004). Este é um dos
mais importantes conceitos da Farmacocinética.

Vias de administração
As vias de administração são os caminhos através dos quais
os medicamentos são introduzidos ou colocados em contato
com o organismo. Elas se relacionam intimamente com a forma
farmacêutica do medicamento que será utilizado e constituem
um importante fator biológico a ser considerado para a produ-
ção quantitativa e qualitativa dos seus efeitos (RANG, 2004).
Temos as seguintes vias: via oral (v. o.), via sublingual (s. l.),
via retal ou via enteral. As vias parenterais são a via inalatória,
a administração em superfícies epiteliais, como a pele (cutânea,
transdérmica), mucosa nasal, córnea e vagina. E há aquelas que
utilizamos quando administramos um medicamento através de in-
jeção intravenosa (i. v.), intramuscular (i. m.), subcutânea (s. c.),

102 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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intraóssea, intra-arterial, epidural (extradural e peridural), suba-


racnoidea (intratecal), intra-articular (intrasinovial), intraocular e
intradérmica (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Veja, a seguir, na Tabela 1, as vantagens e desvantagens de
algumas das principais vias de administração de medicamentos.

Tabela 1 Vantagens e desvantagens das principais vias de admi-


nistração de medicamentos.
VIA DE ADMINISTRAÇÃO VANTAGEM DESVANTAGEM
requer a cooperação do
ORAL econômica e segura
paciente
rápida e com elevada inadequada para grandes
SUBLINGUAL
biodisponibilidade volumes
fácil administração
incômoda e absorção
RETAL em crianças e pessoas
errática
inconscientes
pode haver absorção de
rápida para anestésicos
INALATÓRIA um fármaco administrado
voláteis e gasosos
para ação local
administração deve ser
ideal nas emergências e
INTRAVENOSA lenta e incompatível para
para grandes volumes
oleosos ou insolúveis
volumes moderados,
INTRAMUSCULAR veículos oleosos, dor
substâncias irritantes
SUBCUTÂNEA liberação lenta pequenos volumes

Como já citado, as moléculas dos fármacos, para produzirem


seus efeitos terapêuticos no sistema biológico, precisam alcançar
os tecidos-alvo em uma concentração mínima ou adequada.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 103


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Biodisponibilidade
A biodisponibilidade de um fármaco é um conceito fun-
damental e se refere a uma fração da dose administrada des-
se fármaco, que tem acesso à circulação sistêmica e ao local de
ação. Quando o fármaco não atinge os tecidos-alvo em uma
concentração mínima ou adequada, estaremos comprometendo
sua biodisponibilidade e, consequentemente, o efeito produzido
(SILVA, 1998).
Até que a resposta terapêutica aos medicamentos acon-
teça, diversas fases vão se suceder e muitos fatores poderão in-
fluenciar essa biodisponibilidade.
Certos fatores relacionam-se com a forma farmacêutica do
medicamento e são denominados fatores farmacotécnicos ou
associados ao processo de produção do medicamento. Outros
são os fatores físico-químicos, que estão associados às caracte-
rísticas dos fármacos.
Para entendermos melhor isso, suponhamos que vamos
administrar um comprimido de um medicamento pela via de ad-
ministração oral que, dentre as vias, é uma das mais utilizadas
pelos seres humanos.
Nesse caso, para que as moléculas do(s) fármaco(s) possam
ser absorvidas, primeiro é necessário ocorrer o processo de de-
sintegração da formulação (comprimido), liberação e posterior
dissolução da substância ativa, constituindo o que denominamos
de fase farmacêutica, que pode interferir significativamente na
biodisponibilidade do fármaco (SILVA, 1998).
Além disso, as moléculas dos fármacos são absorvidas
através da mucosa gastrointestinal, que é bastante vasculariza-
da. A partir da circulação gastrointestinal, essas moléculas cairão

104 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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na circulação porta-hepática (veia porta), que as levarão para o


fígado.
Neste órgão, ocorrerá o processo de biotransformação,
que abordaremos em breve. O fato é que parte das moléculas
do fármaco que chegarem ao fígado sofrerá o processo de meta-
bolismo de primeira passagem. Isso resulta em uma diminuição
da concentração do fármaco original, que será devolvida na cir-
culação sanguínea e que, portanto, também chegará ao local de
ação. Ou seja, ocorrerá uma diminuição da biodisponibilidade do
fármaco. Este processo é chamado de eliminação pré-sistêmica
ou metabolismo de primeira passagem (RANG, 2004).

Nível plasmático efetivo


Existe uma concentração plasmática mínima do fármaco
que permitirá sua ação terapêutica, no local ou nos locais de
ação. Essa concentração mínima é denominada nível plasmático
efetivo (KATZUNG, 2005). Como você deve ter percebido, nem
sempre ele pode ser alcançado.
Cm relação aos medicamentos administrados por via oral,
aproximadamente 75% dos fármacos serão absorvidos dentro
de uma a três horas (KATZUNG, 2005). Neste processo, nume-
rosos fatores associados ao sistema biológico influenciarão, por
exemplo, na motilidade gastrointestinal, que pode ou não estar
associada ao tipo e à presença ou ausência de alimentos no trato
gastrointestinal. Outros fatores são: o fluxo sanguíneo esplânc-
nico, as características da mucosa (sã ou doente), no momento
da absorção, além daqueles fatores já citados como farmacotéc-
nicos (tamanho das partículas e formulação), associados ao me-
dicamento, e os físico-químicos (solubilidade, grau de ionização,

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 105


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coeficiente de partição óleo/água, tamanho da molécula), que


estão associados ao fármaco (SILVA, 1998).
Para que as moléculas dos fármacos se movam através dos
compartimentos do organismo humano e cheguem aos locais de
ação, elas precisarão passar por verdadeiras barreiras, que são as
membranas das células dos tecidos. Para isso, elas as atravessam
diretamente através da célula (transporte transcelular) ou pas-
sam através de poros existentes entre as células da maioria dos
tecidos (transporte paracelular) (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Portanto, perceba que é necessária certa compatibilidade
físico-química entre as moléculas do fármaco e as moléculas das
membranas celulares.

Compartimentos
Para facilitar a compreensão do estudo da Farmacocinéti-
ca, considera-se o organismo humano como se fosse organizado
em dois compartimentos – um compartimento central (circu-
lação sanguínea) um compartimento periférico (tecido-alvo),
formado pelo espaço intersticial e intracelular (GOODMAN; GIL-
MAN, 2006).
Os fármacos são transportados através de toda a água
existente no corpo humano. Os mecanismos desses transportes
ocorrem através do processo de difusão passiva ou por difusão
facilitada, ambos sem gastar energia (ATP), ou ainda por algum
mecanismo de transporte ativo, com gasto de energia. No caso
desses dois últimos mecanismos, as moléculas dos fármacos se-
rão transportadas com o auxílio de proteínas. Estas proteínas se
encontram distribuídas através da bicamada lipídica das mem-

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branas celulares, que constituem os diversos tecidos do sistema


biológico (KATZUNG, 2005).
A membrana celular é um fluido que delimita os meios in-
tra e extracelular. Através dessas membranas, existe uma dife-
rença de potencial elétrico, uma vez que as membranas se apre-
sentam, quando em repouso, carregadas negativamente em sua
face interna e positivamente em sua face externa (GOODMAN;
GILMAN, 2006).
Essa configuração traz importantes implicações, fazendo
com que ocorra uma repulsão de substâncias carregadas eletri-
camente, sejam elas positivas ou negativas. O fato é que apenas
as substâncias eletricamente neutras encontrarão facilidade para
atravessar a membrana. Além disso, é preciso também que elas
tenham um tamanho físico compatível. Geralmente, as drogas
são formadas por moléculas relativamente pequenas, contendo
de dez a cem átomos (RANG, 2004).

Lipossolubilidade
A lipossolubilidade do fármaco ou grau de solubilidade
em lipídio, determinado pelo coeficiente de partição óleo/água,
é outra propriedade físico-química importante que também in-
terfere na movimentação do fármaco pela membrana celular
(GOODMAN; GILMAN, 2006). Lembre-se de que as membranas
das células estão organizadas ou dispostas na forma de uma bica-
mada de fosfolipídios, com várias proteínas dispersas entre eles.

Grau de ionização
Outra propriedade físico-química importante associada a
esse processo cinético das moléculas do fármaco é o grau de io-

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nização. Os fármacos, em geral, ou são ácidos ou bases fracas


e, como tais, ionizam-se nos meios aquosos (50-70% do peso
corporal) intra e extracelulares do organismo humano (RANG,
2004). Disso resultarão duas implicações importantes, como ve-
remos a seguir.
A primeira é que sempre teremos o fármaco se apresen-
tando nas suas duas formas: molecular e iônica.
Como podemos observar na Figura 3, as proporções que
encontraremos dessas duas formas dependerão, além do pKa
específico do fármaco, também do pH do meio no qual ele se
encontra dissolvido. Podemos observar como pH e pka se rela-
cionam pela equação de Henderson-Hasselbach, vista a seguir:
pH = pk + log [fármaco na forma ionizada] / [fármaco na forma molecular]
A segunda implicação é que as formas moleculares dos
fármacos, por serem eletricamente neutras, são mais liposso-
lúveis que os seus respectivos conjugados iônicos, permitindo
que atravessem com maior facilidade as membranas celulares
(GOODMAN, GILMAN, 2006).

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Fonte: Rang (2004, p. 107).


Figura 3 Grau de ionização de alguns fármacos.

Distribuição
Devido à lipossolubilidade, a maioria das drogas, para se-
rem transportadas através do sangue, precisam se combinar ou
se conjugar com as proteínas plasmáticas (RANG, 2004). No plas-
ma (parte líquida do sangue), temos a albumina, proteína que se
liga preferencialmente às drogas ácidas, e as globulinas, proteí-
nas que se combinam preferencialmente com as drogas básicas.
Para alcançar os tecidos-alvo, as moléculas dos fármacos
devem sair da circulação sanguínea e, para isso, necessitam se
desligar das proteínas plasmáticas com as quais se combinaram.
É necessário desfazer esse enorme complexo molecular conjuga-

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 109


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do, pois apenas as moléculas livres do fármaco são fisicamente


(tamanho) compatíveis para esse propósito (RANG, 2004).
É importante salientar que a quantidade de fármaco livre
(não conjugado) no sangue, ao longo do tempo, tende a ficar
em equilíbrio com a quantidade de fármaco livre nos tecidos,
graças à sua movimentação. O equilíbrio entre as concentrações
do plasma e dos tecidos ocorre porque a quantidade da droga
que está sendo absorvida é igual à quantidade eliminada, no de-
correr do tempo. Assim, esse equilíbrio influenciará também o
equilíbrio entre as proporções do fármaco em sua forma livre e
conjugada às proteínas plasmáticas (GOODMAN, GILMAN, 2006;
KATZUNG, 2005).
Disso, podemos concluir que apenas as formas livres dos
fármacos na circulação sanguínea é que serão farmacologica-
mente ativas, distribuídas pelo organismo e que filtradas nos
glomérulos dos rins (RANG, 2004).
Para as drogas muito lipossolúveis e administradas pela
via intravenosa poderá ocorrer o fenômeno de redistribuição a
partir dos tecidos com elevado teor de gordura, na qual as mo-
léculas dos fármacos se acumularam inicialmente, após a admi-
nistração. Esse fenômeno também pode ser observado a partir
dos tecidos que recebem um elevado débito cardíaco, como os
rins, por exemplo, para os menos vascularizados, como a pele
(RANG, 2004).

Biotransformação (metabolismo) e excreção


A perda irreversível de uma substância pelo corpo ocorre
através da sua biotransformação e, na maioria das vezes, de sua
subsequente excreção (SILVA, 1998).

110 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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A biotransformação ou metabolismo dos fármacos con-


siste em um processo de interconversão de uma substância quí-
mica em outra, com o auxílio de complexos sistemas enzimáticos
(RANG, 2004).
Já a excreção é outro processo que elimina do corpo, prin-
cipalmente através da urina, a substância quimicamente inalte-
rada e/ou seus metabólitos, ou seja, os produtos do metabolis-
mo (SILVA, 1998).
O metabolismo é um processo de destoxificação de subs-
tâncias estranhas ao corpo que ocorre principalmente no fígado
e, em menor extensão, em outros órgãos ou tecidos (rins, pul-
mões e tecido nervoso) (RANG, 2004).
Na biotransformação, simplificadamente, moléculas com
elevada lipossolubilidade são transformadas em moléculas mais
polares e, portanto, hidrossolúveis. Para a ocorrência desse pro-
cesso, participam importantes sistemas enzimáticos encontrados
nos hepatócitos. Por exemplo, na fração mitocondrial, temos o
sistema da monoamina oxidase (MAO) e, na fração microssomal,
o sistema do citocromo P-450 (CYP), que é o principal sistema
responsável pelo metabolismo (RANG, 2004).
O metabolismo das drogas ocorre em duas etapas que se
complementam: na primeira, ocorrem as reações de fase 1 que
compreendem as reações químicas de oxidação, redução e hi-
drólise. Na segunda etapa ocorrerão as reações de fase 2, que
compreendem as reações de conjugação (GOODMAN; GILMAN,
2006).
Após ocorrerem as reações de fase 1, os produtos ou me-
tabólitos formados nesta fase serão conjugados com substâncias
como o sulfato ou o ácido glicurônico, entre outras. Isso resul-

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 111


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tará em metabólitos suficientemente hidrossolúveis para serem


eliminados na urina, um meio extremamente aquoso (RANG,
2004).
Além do sistema renal, o sistema biliar e os pulmões tam-
bém realizam a excreção dos fármacos e de seus metabólitos.
Assim, muitos metabólitos são eliminados no intestino delgado,
juntamente com a bile, para saírem nas fezes (RANG, 2004).
Os anestésicos gerais e as substâncias voláteis são bastan-
te excretadas na forma inalterada durante a expiração (SILVA,
1998).
Uma pequena quantidade de certas substâncias ou de seus
metabólitos também pode ser encontrada nas secreções exter-
nas como leite, suor, lágrima (SILVA, 1998).
Devemos lembrar que a excreção renal consiste em três
processos que resultam na formação de urina. Primeiramen-
te, ocorre a filtração glomerular, formando o filtrado, que terá
a maior parte das suas substâncias presentes reabsorvidas, ou
seja, voltando para o sangue através do processo de reabsorção
tubular. Paralelamente a este último processo, ocorre a secre-
ção tubular, que depende do transporte ativo, papel exercido por
proteínas de membrana (RANG, 2004).
No ciclo entero-hepático, os metabólitos da excreção biliar
podem ser reabsorvidos e voltam para o sangue a partir do in-
testino, mantendo um nível plasmático efetivo. Isso ocorre após
a atividade de uma enzima chamada glicuronidase, que é produ-
zida pela flora bacteriana intestinal. A ação enzimática desfaz a
ligação de conjugação do metabólito com o glucuronato, realiza-
da no fígado. Assim, o metabólito volta a adquirir uma caracterís-

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tica de lipossolubilidade adequada, que permite sua reabsorção


(GOODMAN; GILMAN, 2006).
Toda essa movimentação de substâncias, como destacado
no início, depende dos mecanismos de interação entre as pro-
priedades físico-químicas dos fármacos e medicamentos com as
propriedades das membranas celulares. E o entendimento des-
ses mecanismos é a base para a compreensão dos processos re-
lacionados à absorção, distribuição e excreção dos fármacos e de
seus metabólitos (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Diversos fatores influenciam na biotransformação de dro-
gas. Desde a espécie animal, a idade, os fatores genéticos, o uso
ao mesmo tempo de outras drogas (interação medicamentosa)
que podem agir como indutores (etanol, omeprazol, fenobarbi-
tal, tabagismo) ou inibidores enzimáticos (cimetidina, eritromi-
cina, cetoconazol, quinidina) são alguns desses fatores (PAGE,
2004).
O estudo dos processos de absorção, distribuição, meta-
bolismo e excreção de um fármaco e suas interações dinâmicas
(Figura 4) permitem determinar a sua concentração plasmática e
estabelecem a capacidade do fármaco de alcançar o seu órgão-
-alvo em uma concentração efetiva para produzir o efeito tera-
pêutico desejado (RANG, 2004).
Existem, ainda, modelos quantitativos que relacionam a
quantidade do fármaco no organismo em relação ao tempo.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 113


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
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Figura 4 Absorção, distribuição, metabolismo e excreção (ADME) dos fármacos.

Índice terapêutico
Frequentemente, o tempo desejado da farmacoterapia é
maior do que o que pode ser obtido, utilizando-se uma única
dose. Assim, é necessário o uso de múltiplas doses para propor-
cionar concentrações plasmáticas relativamente constantes do
fármaco dentro dos limites de sua eficácia (nível plasmático efe-
tivo) e toxicidade, ou seja, dentro do índice terapêutico ou "jane-
la terapêutica" (KATZUNG, 2005).
Não podemos nos esquecer de que, ao mesmo tempo em
que existem moléculas chegando ao local de ação, também exis-
tem moléculas saindo de lá. De volta à circulação, estas molécu-
las são metabolizadas e seus metabólitos eliminados principal-
mente pela excreção renal.

Clearance e meia-vida plasmática


Para expressar o tempo gasto pelo organismo para reduzir
a concentração plasmática de uma droga pela metade, usa-se o

114 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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parâmetro chamado meia-vida plasmática (t1/2). Sua eliminação


é expressa através do clearance ou depuração renal. Esse parâ-
metro farmacocinético limita o tempo de ação das moléculas do
fármaco em seus alvos. Pode ser definido como a taxa de elimi-
nação do fármaco do organismo em relação à sua concentração
plasmática (KATZUNG, 2005; RANG, 2004).
Os conhecimentos da Farmacocinética permitem a elabo-
ração da posologia, que determina a frequência de administra-
ção do medicamento. Assim, o desaparecimento das moléculas
de muitos fármacos segue uma escala temporal exponencial, ca-
racterizada pela meia-vida plasmática (RANG, 2004).
De forma simples, a meia-vida plasmática é diretamente
proporcional ao volume de distribuição e inversamente propor-
cional à taxa global de depuração. Nos esquemas de adminis-
tração repetida dos medicamentos, a concentração plasmática
do fármaco se aproximará de um valor em estado de equilíbrio
dinâmico (steady-state) dentro de 3 a 5 meias-vidas plasmáticas
(PAGE, 2004).
A maioria das substâncias é eliminada do organismo a uma
taxa que depende da sua concentração plasmática. Essas subs-
tâncias seguem uma cinética de primeira ordem. Uma vez que
os mecanismos de depuração da maioria dos fármacos não es-
tão saturados em circunstâncias normais, os aumentos na con-
centração plasmática de um fármaco são contrabalançados por
aumentos na taxa de metabolismo e excreção (GOODMAN; GIL-
MAN, 2006).
Por outro lado, muitas substâncias apresentam uma ciné-
tica de saturação ou de ordem zero na concentração terapêuti-
ca ou bem próxima a ela. Disso decorrem consequências clínicas
importantes, como o aumento desproporcional na concentração

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 115


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plasmática do fármaco, em estado de equilíbrio dinâmico, quando


se aumenta a dose diária. Dessa condição, podem resultar efeitos
tóxicos ou até mesmo letais (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Esse padrão de comportamento não exponencial ocorre
porque a taxa de depuração permanece constante, não se alte-
rando com a concentração plasmática do fármaco ou droga.

As leituras indicadas no Tópico 3.2 tratam da parte da


Farmacologia que estuda o que o organismo faz com os fár-
macos a partir do momento em que são colocados em conta-
to. Compreende os processos de absorção, distribuição, me-
tabolismo e excreção dos fármacos e seus metabólitos, além
dos principais fatores que interferem nesses processos. Neste
momento, você deve realizar essas leituras para aprofundar o
tema abordado.

2.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACODINÂMICA

Quando fazemos uso de um medicamento, esperamos


sempre obter os melhores resultados possíveis com essa far-
macoterapia, não é mesmo? Porém, por falta de conhecimento,
nem sempre alcançamos esses objetivos.
Mas por que isso acontece?
Para responder a essa e outras tantas perguntas, não po-
demos nos esquecer de que muitas variáveis podem interferir
nos efeitos produzidos pelos fármacos no organismo humano.
Essas variáveis podem ser: fatores associados ao sistema
biológico, como, por exemplo, a variabilidade individual, a ida-
de, o gênero, o peso e a composição corporal, fatores genéticos,

116 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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fatores étnico-raciais, ecológicos ou ambientais e idiossincrasia.


Estados fisiológicos ou condicionais (como a gravidez ou o uso
concomitante de outra(s) droga(s) e/ou nutrientes), certos esta-
dos patológicos (como insuficiência renal ou hepática) e psico-
lógicos, além da dose, via de administração e outros fatores não
associados ao sistema biológico, como os fatores farmacotécni-
cos e físico-químicos que estão associados ao fármaco e ao me-
dicamento (SILVA, 1998). Como você pôde perceber, são muitas
as variáveis e daí a complexidade da resposta.
A Farmacodinâmica estuda as ações e os efeitos das drogas
em organismos sãos e doentes. É um processo, como você deve
ter percebido, que também depende das fases biofarmacêutica
(desintegração e dissolução) e Farmacocinética (absorção, dis-
tribuição, metabolismo e excreção). Inclui a análise do local de
ação da droga, do mecanismo de ação, das ações e dos efeitos,
sejam eles terapêuticos ou tóxicos (SILVA, 1998).
Quando nos referimos ao mecanismo de ação de uma dro-
ga, podemos estar nos referindo às suas ações, que podem ocor-
rer em vários níveis, como no sistema, no tecido, na célula ou na
molécula, para produzir seus efeitos (RANG, 2004). Aliás, a res-
posta produzida pela droga no organismo também pode ocorrer
nestes mesmos níveis de complexidade de organização.
Mas você já parou para pensar como os fármacos, ten-
do sido distribuídos através da circulação sanguínea por todo o
organismo, produzirão efeitos específicos em certos alvos? Por
exemplo, um ansiolítico deve agir no Sistema Nervoso Central.
A resposta é que existe uma especificidade recíproca entre as
moléculas dos ligantes endógenos e também das drogas, com as
proteínas receptoras às quais se combinam por afinidade (GOOD-
MAN, GILMAN, 2006; RANG, 2004), como veremos a seguir.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 117


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Parece insistente, mas você precisa compreender que di-


versos fatores alteram qualitativa e quantitativamente os efei-
tos produzidos pelos fármacos. A variação quantitativa depende
evidentemente da quantidade de fármaco presente no seu sí-
tio de ação. Já a variação qualitativa desses efeitos ocorre tanto
da influência de fatores intrínsecos (que dependem do sistema
biológico), como de fatores extrínsecos (próprios do fármaco e
do medicamento, das condições da administração e da presença
concomitante de outras drogas) (SILVA, 1998).
Aliás, o uso ao mesmo tempo de vários medicamentos e/
ou drogas pode ocasionar efeitos que são decorrentes das inte-
rações medicamentosas. Essas interações podem ser responsá-
veis pela diminuição ou pelo aumento dos efeitos produzidos pe-
los fármacos. Podem ocasionar efeitos indesejados ou prejuízos
para a farmacoterapia e até mesmo, em maiores instâncias, pro-
vocarem o óbito (GOODMAN, GILMAN, 2006; KATZUNG, 2005).
Esses efeitos podem ser decorrentes de interações farmaco-
cinéticas, ou seja, são produzidos pela interação das moléculas dos
fármacos, utilizados ao mesmo tempo, e onde um deles está inter-
ferindo com a movimentação do outro, ou seja, com os processos
relacionados à absorção, distribuição, ao metabolismo e à excreção.
Algumas interações farmacodinâmicas promovem um si-
nergismo dos efeitos, podendo produzir um efeito aditivo ou de
potencialização. Esse último é bem maior que o efeito produzido
pela soma (aditivo) dos efeitos de cada um dos fármacos, quando
administrados separadamente. Ainda com relação às interações
farmacodinâmicas, podem ocorrer também vários tipos de an-
tagonismo entre drogas (competitivo reversível ou irreversível;
não competitivo, fisiológico e químico) (GOODMAN, GILMAN,
2006; SILVA, 1998).

118 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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Mecanismos gerais da ação de fármacos


Para entendermos de forma simplificada como os fárma-
cos agem para produzir seus efeitos, podemos dividi-los em dois
grandes grupos principais. Assim, temos os fármacos que agem
de forma específica (a maioria deles) e aqueles que agem de for-
ma inespecífica (anestésicos gerais, alguns antifúngicos e a maio-
ria dos antissépticos) (SILVA, 1998).
Os fármacos de ação inespecífica produzem suas ações
graças às suas propriedades físico-químicas, como, por exemplo,
o grau de ionização, a solubilidade, a tensão superficial, a ativi-
dade termodinâmica etc.
Já os fármacos de ação específica produzem suas ações a
partir da interação ou ligação de suas moléculas com aceptores
específicos (SILVA, 1998), que veremos a seguir.

Alvos específicos para a ação de fármacos


Exemplificando esses aceptores específicos, podemos citar
a ação das moléculas do fármaco sobre a atividade enzimática,
exercendo um processo específico de antagonismo, suprimindo
a função gênica (inibindo a síntese proteica e de ácidos nuclei-
cos) e também agindo sobre as membranas celulares, mais es-
pecificamente em suas proteínas (SILVA, 1998).
Dentre esses alvos específicos (ver Figura 5), as proteínas
de membrana podem exercer diferentes funções nesse local. Por
exemplo, muitas funcionam como proteínas transportadoras.
Outras, como poros ou canais iônicos, e há as que medeiam as
ações de muitos ligantes endógenos, como os hormônios e neu-
rotransmissores, denominadas de receptores (PAGE, 2004).

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 119


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Fonte: Rang (2004, p. 25).


Figura 5 Tipos de alvos para fármacos.

120 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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Como abordado anteriormente, a afinidade e a especifici-


dade recíproca entre as moléculas dos fármacos e dos ligantes
endógenos, com seus receptores localizados em diferentes locais
do organismo, garantem a seletividade dos efeitos dos fárma-
cos. Entretanto, essa seletividade não é absoluta. Na verdade,
esse seria o grande objetivo da indústria farmacêutica – produzir
fármacos cujas moléculas sejam cada vez mais seletivas para se
ligarem a determinado subtipo de receptor, já que muitos dos
efeitos indesejados produzidos pelos fármacos, como alguns
efeitos colaterais, decorrem da ligação de suas moléculas com
outros subtipos de receptores, com outras famílias de recepto-
res e até mesmo com receptores de outros ligantes endógenos
(GOODMAN, GILMAN, 2006; RANG, 2004).

Receptores
Os receptores constituem um dos mais frequentes alvos
das moléculas dos fármacos utilizados na prática clínica terapêu-
tica, não obstante esse termo possa ser utilizado indiscrimina-
damente para se referir a todo e qualquer alvo ou sítio no qual
a ação do fármaco está acontecendo para produzir seus efeitos
(RANG, 2004; SILVA, 1998).
Na verdade, os receptores são as proteínas ou comple-
xos proteicos que constituem os elementos sensores nos siste-
mas de comunicações químicas das células com os mensageiros
do organismo. Esses mensageiros químicos são os hormônios,
transmissores e outros mediadores. Como observado na Figura
6, a seguir, os quatro tipos principais de receptores são:
• canais iônicos controlados por ligante (receptor
ionotrópico);

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 121


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

• receptores acoplados à proteína G (receptor


metabotrópico);
• receptores ligados à proteína quinase ou cinase;
• receptores nucleares.
As drogas ou substâncias ditas como agonistas são aque-
las que, para produzirem seus efeitos a partir da ligação de suas
moléculas com um receptor específico, promovem uma ativação
desse receptor (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Já as drogas ou substâncias antagonistas apenas blo-
queiam a proteína receptora (sem ativação), impedindo dessa
forma a ligação das moléculas da substância ligante endógena
(GOODMAN; GILMAN, 2006).
As drogas agonistas, assim como as drogas antagonistas,
possuem afinidade pelo receptor ao qual se ligam, porém apenas
as drogas agonistas possuem eficácia (capacidade de ativação).
Simplificadamente, os receptores atuariam da seguinte
maneira: os receptores ionotrópicos estão acoplados a um canal
iônico, controlando a entrada e a saída de íons da célula. Me-
deiam respostas rápidas como, por exemplo, os processos de
despolarização e hiperpolarização da membrana plasmática que
tem a duração de milissegundos (RANG, 2004).
Por outro lado, os receptores metabotrópicos, quando ati-
vados, iniciam processos de transdução intracelular, mediados
pela proteína G. Essa proteína, após uma alteração na sua es-
trutura tridimensional, inicia uma cascata de produção e ativa-
ção ou inibição sucessiva de substâncias químicas denominadas
segundos e terceiros mensageiros intracelulares. Estes últimos
mensageiros amplificam o sinal produzido pelo primeiro mensa-
geiro no receptor, localizado na membrana (RANG, 2004).

122 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Os receptores ligados à quinase, a partir de um processo


de fosforilação (adição de fosfato), estimulam o processo de
transcrição gênica que resulta na síntese proteica. É um proces-
so mais demorado que nos casos anteriores e pode demorar até
horas para ocorrer a resposta (RANG, 2004).
Finalmente, temos os receptores nucleares que regulam a
transcrição de genes. Na verdade, muitos desses receptores se
encontram de fato no citoplasma. O complexo formado (droga-
-receptor) migra para o núcleo celular e lá se liga em partes es-
pecíficas dos genes, estimulando a transcrição e a consequente
síntese proteica (RANG, 2004).

Fonte: Rang (2004, p. 30).


Figura 6 Tipos de receptores.

Encerramos aqui essa unidade, na qual você pôde ter um


contato inicial com essa complexa ciência chamada Farmacologia.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 123


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Antes de realizar as questões autoavaliativas propostas


no Tópico 4, você deve fazer as leituras propostas no Tópico
3.3 para compreender como os fármacos agem para produzir
seus efeitos.

Vídeo complementar–––––––––––––––––––––––––––––––––
Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão "Vídeos" e selecione:
Lipossolubilidade e grau de ionização – Vídeos Complementares – Comple-
mentar 3.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. HISTÓRIA, DIVISÕES E CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A evolução histórica, suas divisões e conceitos fundamen-


tais da Farmacologia. Sobre isso, acesse os links:
• COSTA VILAS BOAS, O. M. G. e cols. Farmacologia. Dispo-
nível em: <http://www.ebah.com.br/content/ABAAAB-
f4AAD/historia-farmacologia>. Acesso em: 15 jul. 2016.
• OLIVEIRA, E. A. S. Farmacologia Geral – histórico e evo-
lução. Conceitos de drogas e medicamentos – aspectos

124 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

legais. Subdivisões da Farmacologia. Algumas definições


básicas em Farmacologia. Bioensaio – ensaio clínico.
Disponível em: <http://www.easo.com.br/Downloads/
Conceitos%20e%20definicoes%20em%20Farmacolo-
gia.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2016.
• BITTENCOURT, S. C.; CAPONI, S.; MALUF, S. Farma-
cologia no século XX: a ciência dos medicamentos
a partir da análise do livro de Goodman e Gilman.
Hist. Ciênc. Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.
20, n. 2, abr.-jun., 2013. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/hcsm/2013nahead/0104-5970-hcsm-
-S0104-59702013005000007.pdf>. Acesso em: 15 jul.
2016.

3.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACOCINÉTICA

Veja os links indicados a seguir e complemente seus es-


tudos sobre Farmacocinética, com os mecanismos de absor-
ção, distribuição, metabolismo e excreção dos fármacos e seus
metabólitos.
• ROSE, H. S.; GOLAN, D. E. Farmacocinética. Disponível
em: <https://pt.scribd.com/doc/211091194/FARMA-
COCINETICA-CAP-3-GOLAN> Acesso em: 15 jul. 2016.
• OLIVEIRA, E. A. S. Absorção a partir do local de admi-
nistração. Vias de administração de drogas. Distribui-
ção dos fármacos e receptores. Tolerância. Antagonis-
mo entre fármacos. 2011. Disponível em: <http://www.
easo.com.br/Downloads/Processamento%20das%20
drogas%20no%20organismo%202011.pdf>. Acesso em:
15 jul. 2016.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 125


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

• GOODMAN, L. S. GILMAN, A. As bases farmacológi-


cas da terapêutica. 12. ed. São Paulo: AMGH Editora,
2012. Disponível em <https://books.google.com.br/
books?hl=pt-BR&lr=&id=qsx4cIAwwtcC&oi=fnd&pg=P
R7&dq=a+evolu%C3%A7%C3%A3o+da+farmacologia&
ots=kmnixkDYdW&sig=V1HmRK64JQygg7cIZs61UYAa
3tA#v=onepage&q=a%20evolu%C3%A7%C3%A3o%20
da%20farmacologia&f=false>. Acesso em: 15 jul. 2016.

3.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE FARMACODINÂMICA

Complemente seus estudos de Farmacodinâmica acessan-


do os links indicados a seguir:
• ROSE, H. S.; GOLAN, D. E. Farmacodinâmica. Dispo-
nível em: <http://anestesiologia.paginas.ufsc.br/fi-
les/2015/02/Farmacodinamica-texto.pdf>. Acesso em:
15 jul. 2016.
• TEORIA DA MEDICINA. Farmacodinâmica. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=fkMFltXZK2s>.
Acesso em: 15 jul. 2016.
• KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farma-
cologia Básica e Clínica. 12. ed. São Paulo: AMGH Edito-
ra, 2014. Disponível em: <https://books.google.com.br/
books?hl=pt-BR&lr=lang_pt&id=4Bs4AgAAQBAJ&oi=fn
d&pg=PA36&dq=conceitos+de+farmacodinamica&ots=
UT7Uknz7F-&sig=jC8HnUIHA_j53aIfYkZOwBzWMUQ#v
=onepage&q&f=false>. Acesso em: 15 jul. 2016.

126 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A seguir, responda às questões propostas a fim de conferir
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Para um fármaco exercer efeito sistêmico, ele deve alcançar:
a) o sistema digestivo.
b) o intestino delgado.
c) o sistema vascular.
d) o receptor/alvo terapêutico.
e) o sistema linfático.
2) O processo de absorção das moléculas de um fármaco é importante para
todas as vias de administração, exceto para:
a) a oral.
b) a retal.
c) a intramuscular.
d) a intravenosa.
e) a inalatória.
3) Quanto ao processo de distribuição das drogas, podemos afirmar que:
a) certas drogas não se distribuem de maneira uniforme, acumulando-se
em determinados tecidos.
b) as proteínas plasmáticas são um reservatório provisório de drogas.
c) os verdadeiros depósitos são representados pelos tecidos.
d) os metais pesados fixam-se no fígado, baço e rim.
e) todas estão corretas.

4) Em relação ao processo de biotransformação, podemos afirmar que:


a) as reações de fase 1 modificam as drogas por introdução ou retirada de
radicais em suas estruturas.
b) estão relacionadas a ele a oxidação, a redução e a hidrólise.
c) é preparatório das reações de síntese (conjugação).
d) o sistema enzimático microssomal hepático tem o citocromo P-450
(CYP-450) como principal sistema efetor.
e) todas estão corretas.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 127


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

5) Sobre o processo de excreção de fármacos, qual a alternativa correta?


a) Os fármacos são excretados apenas pela via renal.
b) Os fármacos, como os anestésicos gerais e as substâncias voláteis, são
excretados preferencialmente através do leite, do suor e das lágrimas.
c) No ciclo entero-hepático, fármacos e/ou seus metabólitos são excretados
por via hepatobiliar, podendo ser reabsorvidos novamente no intestino.
d) A alcalinização da urina diminui a excreção de drogas ácidas.
e) O pH do meio não interfere no processo de excreção de fármacos.

6) Sabe-se que a indução enzimática leva a uma aceleração do metabolismo


dos fármacos e, consequentemente, a uma diminuição da ação farmacoló-
gica. Como exemplos de indutores enzimáticos, podemos citar:
a) cimetidina, nicotina, ciprofloxacina.
b) etanol, fenobarbital, omeprazol.
c) cetoconazol, quinidina, eritromicina.
d) cloranfenicol, espironolactona, quinidina.
e) fluoxetina, fenitoína, grapefruit.

7) Com relação aos efeitos produzidos pelos fármacos, os hipoglicemiantes


orais constituem uma classe de medicamentos utilizados no tratamento
de diabetes. Esses fármacos agem através de mecanismos de ação distin-
tos. Um destes fármacos é a glibenclamida, que age ativando as células β
pancreáticas para produzirem insulina. A glibenclamida é uma droga:
a) agonista.
b) antagonista.
c) agonista e antagonista.
d) nem agonista nem antagonista.
e) antagonista parcial.

8) Quanto à variação qualitativa dos efeitos produzidos pelos fármacos, são


fatores associados ao sistema biológico, exceto:
a) via de administração.
b) idade.
c) gênero.
d) composição corpórea.
e) propriedades físico-químicas do fármaco.

128 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:
1) c.

2) d.

3) e.

4) e.

5) c.

6) b.

7) a.

8) e.

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da terceira unidade, na qual você teve
a oportunidade de compreender a evolução histórica da Far-
macologia até sua concretização como ciência. Pôde observar
também a importância dos conhecimentos de Farmacocinética
e Farmacodinâmica para a realização racional de uma terapia
medicamentosa.
Veja, agora, o Conteúdo Digital Integrador indicado, que
ampliará seu conhecimento sobre o assunto. Na próxima unida-
de, você aprenderá a utilidade terapêutica e os principais meca-
nismos de ação de várias classes de fármacos.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 129


UNIDADE 3 – HISTÓRIA, DIVISÕES, CONCEITOS FUNDAMENTAIS (FARMACOCINÉTICA E
FARMACODINÂMICA)

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 10. ed. Rio de
Janeiro: Mc Graw-Hill, 2006.
BURGIERMAN, D. R. Maconha. São Paulo: Abril, Superinteressante, 2002. (Coleção
Para Saber Mais).
FERRACINI, F. T.; ALMEIDA, S. M.; BORGES FILHO, W. M. Farmácia Clínica. v. 7. Barueri:
Manole, 2014. (Série Manuais de Especialização).
IVERSEN, L. L. Drogas. Trad. Flávia Souto Maior. Porto Alegre: L&PM, 2012.
KATZUNG, B. G. Farmacologia: básica e clínica. Trad. Patricia Lydie Voeux. 9. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
PAGE, C. et al. Farmacologia integrada. 2. ed. Barueri: Manole, 2004.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. Trad. Patrícia Lydie Voeux e Antônio José Magalhães
da Silva Moreira. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
SILVA, P. Farmacologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

130 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 4
FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS:
NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL),
CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO,
FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E
QUIMIOTERÁPICOS

Objetivos
• Conhecer alguns fármacos que agem em diversos sistemas do organismo
humano.
• Relacionar suas ações com suas utilidades terapêuticas.
• Estudar os mecanismos através dos quais os fármacos produzem seus efei-
tos (desejados e indesejados).

Conteúdos
• Fármacos que agem no sistema nervoso (Sistema Nervoso Autônomo e Sis-
tema Nervoso Central).
• Fármacos anti-inflamatórios e quimioterápicos.
• Fármacos que afetam os sistemas cardiovascular, renal e endócrino.

Orientações para o estudo da unidade


Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

131
UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

1) Não se limite a este conteúdo; busque outras informações em sites confiá-


veis e/ou principalmente nas referências bibliográficas, apresentadas ao fi-
nal de cada unidade. Lembre-se de que, na modalidade EaD, o engajamen-
to pessoal é um fator determinante para o seu crescimento intelectual.

2) Para aprofundar seu conhecimento nos conteúdos estudados nas unida-


des, recorra aos materiais complementares apresentados no Conteúdo
Digital Integrador.

3) Caso seja necessário, releia a unidade para um melhor entendimento do


assunto.

4) Tenha sempre à mão o significado dos termos citados no Glossário de Con-


ceitos e suas ligações pelo Esquema dos Conceitos-chave para o estudo
de não apenas esta, mas de todas as unidades. Isso poderá facilitar sua
aprendizagem e seu desempenho.

132 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

1. INTRODUÇÃO
Neste momento, você já conhece um pouco dos principais
conceitos da farmacocinética e da farmacodinâmica. Nesta uni-
dade, você conhecerá a utilidade terapêutica e o mecanismo de
ação de muitos fármacos que são utilizados na terapia medica-
mentosa de diversas condições patológicas ou mesmo de des-
conforto para os seres humanos.
Iniciaremos nosso estudo abordando as substâncias que in-
terferem no funcionamento do sistema nervoso. Primeiramente,
veremos os fármacos que agem como agonistas e antagonistas
no Sistema Nervoso Autônomo (SNA) ou visceral. Depois, estu-
daremos os efeitos dos fármacos que agem no Sistema Nervoso
Central (SNC) e que são utilizados em alguns transtornos neuro-
lógicos (anticonvulsivantes, antiparkinsonianos) e psiquiátricos
(ansiolíticos antidepressivos e antipsicóticos). Ainda com relação
aos fármacos que agem no sistema nervoso, abordaremos tam-
bém os fármacos anestésicos, hipnoanalgésicos e antieméticos.
No decorrer da unidade, estudaremos como agem os me-
dicamentos analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios este-
roides e não esteroides, os antimicrobianos (antibacterianos,
antivirais, antifúngicos e antiparasitários) e os antineoplásicos.
Finalmente, fecharemos a unidade com os fármacos que
agem nos sistemas cardiovascular, renal e endócrino (anti-hiper-
tensivos, cardiotônicos, antiarrítmicos e antianginosos, anticoa-
gulantes, diuréticos e antidislipidêmicos, estrógenos, andróge-
nos e hipoglicemiantes orais).

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 133


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma su-
cinta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão
integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteú-
do Digital Integrador.
Entende-se por Conteúdo Básico de Referência (CBR) o re-
ferencial teórico e prático que o estudante deverá assimilar para a
aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias a sua
prática profissional. É a condensação dos principais conceitos, princí-
pios, postulados, teses, regras, procedimentos e de seu fundamen-
to ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a
um campo de saber. Portanto, o Conteúdo Básico de Referência tem
como base o ementário, os objetivos, os conteúdos instrucionais e as
competências estabelecidos no Projeto Político-Pedagógico do Curso.
A partir do Tópico 2, serão apresentados e desenvolvidos
os conteúdos da unidade. Os conteúdos são apresentados de
forma dialógica e com a finalidade de contribuir para o aprendi-
zado do aluno, que ocorre na Sala de Aula Virtual. Não há limite
de tópicos para o desenvolvimento dos conteúdos.

2.1. FÁRMACOS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO AUTÔNO-


MO E O SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Autônomo Simpático


e Parassimpático
O sistema nervoso é o mais complexo dos sistemas orgâ-
nicos e, por meio de sua atividade, permite nossa adaptação ao
meio em que vivemos (GUYTON; HALL, 2002).

134 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

Além de captar informações, o sistema nervoso as integra


com as já existentes na memória e emite respostas. Constitui um
dos principais sistemas de comunicação do organismo (GUYTON;
HALL, 2002).
As informações são transmitidas por condução elétrica ao
longo dos axônios para o Sistema Nervoso Central (SNC) através
dos nervos aferentes ou sensoriais, e também do SNC para a
periferia, através dos nervos eferentes ou motores do Sistema
Nervoso Periférico (SNP) (GUYTON; HALL, 2002).
Para realizar a comunicação dos neurônios com outros
neurônios ou com uma célula-alvo, precisamos de substâncias
químicas chamadas de neurotransmissores. As moléculas des-
sas substâncias se ligam com especificidade aos receptores loca-
lizados na membrana das células (RANG, 2004).
Os principais neurotransmissores do SNP são a acetilcolina
(ACh) e a noradrenalina (NA) (GUYTON; HALL, 2002). A organi-
zação integrada do sistema nervoso e a distribuição particular
e diferenciada das diferentes famílias e dos subtipos dos recep-
tores, desses sistemas de neurotransmissores, permitem efeitos
direcionados ou seletivos (RANG, 2004).
Os nervos do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) ou visce-
ral são essenciais para o controle vegetativo do organismo, pois
inervam importantes estruturas como o miocárdio, os músculos
lisos (outras vísceras e vasos sanguíneos), além de glândulas.
Funcionalmente, podem ser divididos em simpáticos e parassim-
páticos (GUYTON; HALL, 2002).
Graças à ampla distribuição dos receptores pelo corpo
humano, o número de fármacos que podem ser utilizados para
interferir no funcionamento do SNA é extenso. Para simplificar,

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 135


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

eles podem ser divididos e denominados conforme mimetizem


ou inibam as ações simpáticas ou parassimpáticas. Na maioria
das vezes, as ações do fármaco e também muitas das suas ações
adversas são previsíveis, baseando-se nos conhecimentos de
anatomia e fisiologia do sistema nervoso (GUYTON, HALL, 2002;
GOODMAN, GILMAN, 2006; RANG, 2004; SILVA, 1998).
Fisiologicamente, a atividade do SNA simpático está au-
mentada em condições associadas às situações do tipo “luta ou
fuga”. Enquanto o aumento da atividade do SNA parassimpático
está associado às condições de repouso e saciedade, por exem-
plo (GUYTON; HALL, 2002).
A atividade simpática pode ser aumentada pelos fármacos
que imitam ou aumentam a ação da NA. Já a atividade paras-
simpática é aumentada por fármacos que imitam ou aumentam
a ação da ACh. Da mesma forma, essas atividades podem ser
diminuídas ou bloqueadas por fármacos que diminuem ou blo-
queiam as ações desses dois neurotransmissores (GOODMAN;
GILMAN, 2006).
Uma vez que os componentes simpático e parassimpático
do SNA agem de forma tônica, o antagonismo de um componen-
te resulta em um aumento da atividade do outro (RANG, 2004).
Como citado anteriormente, podemos dividir os fármacos
que interferem no funcionamento do sistema nervoso a partir de
seus mecanismos de ação.
Assim, existem fármacos que aumentam a neurotransmis-
são por meio de diferentes mecanismos de ação, pois:
• agem como agonistas dos receptores;
• causam a liberação dos neurotransmissores;
• evitam a degradação do neurotransmissor.

136 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

E há fármacos que suprimem a neurotransmissão, pois:


• agem como antagonistas dos receptores pré-sinápticos;
• agem como antagonistas dos receptores pós-sinápticos;
• agem como bloqueadores ou antagonistas ganglionares.

Fármacos que afetam o Sistema Nervoso Central


Iniciaremos agora o estudo dos psicofármacos, ou seja, aqueles
fármacos que são utilizados para tratar os transtornos psiquiátricos
como ansiedade, depressão e as psicoses, entre elas, a esquizofrenia.
É importante salientar que no Sistema Nervoso Central,
além daqueles neurotransmissores citados anteriormente (NA
e ACh), do Sistema Nervoso Periférico, existem também muitos
outros neurotransmissores importantes, como a serotonina (5-
HT) e a dopamina (DA), além de outros como, por exemplo, o
ácido-gama-aminobutírico ou GABA (GUYTON; HALL, 2002).
A farmacoterapia dos transtornos psiquiátricos é funda-
mentada na teoria monoaminérgica. Nessa teoria, fundamen-
tada na década de 1960, as monoaminas, como a NA, a 5-HT
e a DA, exerceriam um papel fundamental na etiologia desses
transtornos (GOODMAN; GILMAN, 2006).
No SNC também temos fármacos que:
1) aumentam ou facilitam as neurotransmissões;
2) agem como agonistas dos receptores;
3) facilitam a síntese e/ou a liberação dos
neurotransmissores;
4) evitam a degradação do neurotransmissor;
5) diminuem ou suprimem as neurotransmissões;
6) agem como antagonistas dos neurotransmissores nos
receptores pré e pós-sinápticos.

© BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA 137


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

Ansiolíticos, antidepressivos e antipsicóticos


Ansiolítico é o termo utilizado para se referir aos fármacos
utilizados para combater a ansiedade. Não obstante, esta cate-
goria de fármacos foi ampliada recentemente com a introdução
dos fármacos antidepressivos, que atualmente constituem a
principal categoria terapêutica de fármacos utilizada para tratar
a ansiedade (KATZUNG, 2005).
O mecanismo de ação dos fármacos ansiolíticos clássicos
como os barbitúricos e os benzodiazepínicos é aumentar ou fa-
cilitar a neurotransmissão mediada pelo neurotransmissor inibi-
tório GABA, como faz o etanol presente nas bebidas alcoólicas.
Essa ação decorre da ativação do receptor GABAA (Figura 1), com
consequente aumento da entrada de íons cloreto nos neurônios
que hiperpolariza suas membranas, dificultando assim a ativida-
de nervosa (RANG, 2004).

Figura 1 Receptor GABAA.

Como foi destacado anteriormente, existem fármacos que


interferem nas transmissões mediadas pelas substâncias neuro-

138 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


UNIDADE 4 – FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS: NERVOSOS (SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO
E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

transmissoras NA e 5-HT, como os antidepressivos. Esses fárma-


cos podem ser divididos em diversas classes:
1) Fármacos agonistas dos receptores 5-HT1A
serotonérgicos.
2) Inibidores não seletivos da recaptação de noradrenali-
na e serotonina (antidepressivos tricíclicos).
3) Os pertencentes a diversas categorias químicas.
4) Fármacos inibidores da monoaminoxidase.
5) Fármacos inibidores seletivos da recaptação de nora-
drenalina ou serotonina.
São representantes dessa classe de fármacos: buspirona,
imipramina, amitriptilina, venlafaxina, mirtazapina, bupropiona,
moclobemida, maprotilina, citalopram, fluoxetina, sertralina, pa-
roxetina e muitos outros.
Os fármacos utilizados para tratar a esquizofrenia e outros
distúrbios psicóticos são chamados de antipsicóticos ou neuro-
lépticos. Esses fármacos possuem como principais mecanismos
de ação diminuir a neurotransmissão mediada pela DA e alguns
deles também interferem na neurotransmissão mediada pela
5-HT (RANG, 2004).
Nessa categoria de fármacos, existem aqueles que são de-
nominados antipsicóticos típicos, que agem como antagonistas
dos receptores D2 da DA. Já os antipsicóticos atípicos, além de
agirem como antagonistas dos receptores D2 da DA, também
agem como antagonistas dos receptores 5-HT2 da 5-HT (GOOD-
MAN; GILMAN, 2006).
Essa última categoria de fármacos produz uma menor inci-
dência de efeitos colaterais, como os distúrbios motores que são

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INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

bem frequentes, e os endócrinos, produzidos pelo uso crônico dos


antipsicóticos típicos (RANG, 2004; GOODMAN, GILMAN, 2006).
São representantes dos antipsicóticos: clorpromazina, ha-
loperidol, tiotixeno, flufenazina, risperidona, clozapina, sulpirida,
quetiapina, ziprasidona, aripiprazol, entre outros (RANG, 2004;
GOODMAN, GILMAN, 2006).

Anticonvulsivantes e antiparkinsonianos
Os fármacos anticonvulsivantes são utilizados principal-
mente para o tratamento dos distúrbios epilépticos, mas tam-
bém quando há necessidade de conter processos convulsivos
desencadeados, por exemplo, por outra droga (PAGE, 2004).
Basicamente, o mecanismo de ação dessas drogas está
associado aos processos de diminuição da atividade neuronal
(SILVA, 1998). Essa condição é alcançada por meio de diferen-
tes mecanismos que promovem um aumento das ações inibitó-
rias exercidas pelo GABA, mas também por outros mecanismos
que facilitem os processos inibitórios das células nervosas como,
por exemplo, o aumento do período refratário das membranas.
Representam esse grupo de fármacos: barbitúricos, benzodiaze-
pínicos, ácido valproico, carbamazepina, fenitoína, gabapenti-
na, vigabatrina, tiagabina, dentre outros (GOODMAN, GILMAN,
2006).
Os antiparkinsonianos são os fármacos utilizados para mi-
nimizar os distúrbios motores que acompanham o Mal de Par-
kinson e outros tantos distúrbios motores (RANG, 2004).
Trata-se de uma doença neurodegenerativa associada ao
avanço da idade e que tem uma incidência cada vez maior na
população brasileira, devido ao crescimento significativo dessa

140 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

parcela da população nas últimas décadas. A degeneração dos


neurônios dopaminérgicos, com consequentemente diminuição
nos níveis de DA, no núcleo estriado, são os principais respon-
sáveis pela manifestação dos distúrbios motores (RANG, 2004).
Os fármacos dessa categoria terapêutica agem de duas
maneiras principais:
• aumentando e facilitando a neurotransmissão mediada
pela DA;
• diminuindo as ações do neurotransmissor ACh, uma vez
que existe um contrabalanço entre as ações desses dois
sistemas de transmissão no sistema nervoso.
Representam esses fármacos: levodopa, bromocriptina,
tolcapona, selegilina, amantadina, biperideno e orfenadrina.

Anestésicos, hipnoanalgésicos e antieméticos


Abordaremos agora algumas categorias de fármacos utili-
zados em diversas situações.
Vamos começar falando sobre os anestésicos, que são
utilizados para diminuir ou bloquear a percepção dos estímulos
dolorosos. Os anestésicos podem ser divididos em duas catego-
rias principais: os anestésicos locais e os anestésicos gerais. Os
primeiros interferem perifericamente, impedindo o processo de
condução dos estímulos nervosos. Agem basicamente interferin-
do nos processos eletrofisiológicos, responsáveis pela ocorrência
dos potenciais de ação, a base do impulso nervoso (RANG, 2004).
São representantes desse grupo: lidocaína, bupivacaína,
procaína, tetracaína, cocaína e outros.

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Já os anestésicos gerais são fármacos que produzem se-


dação, relaxamento muscular e analgesia. Fazem com que o
paciente fique inconsciente e não responsivo aos estímulos do-
lorosos. Seus mecanismos de ação ainda não estão claramente
elucidados (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Existem hipóteses que sugerem que suas ações estariam
associadas à alteração das propriedades das bicamadas lipídicas
das membranas ou então através da interferência sobre a ativi-
dade dos canais iônicos (GOODMAN; GILMAN, 2006). São repre-
sentantes desse grupo os anestésicos inalatórios, como halota-
no, enflurano e óxido nitroso, e os anestésicos injetáveis, como
tiopental, propofol, cetamina, entre outros.
Os hipnoanalgésicos são os fármacos usados para produ-
zir a analgesia de dores mais intensas, quando os analgésicos e
anti-inflamatórios não são eficientes. Essa categoria de fármacos
é denominada de opioide, uma vez que esses fármacos mimeti-
zam as ações da morfina e de outras substâncias encontradas no
ópio extraído da papoula (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Os fármacos opioides, os opiáceos naturais (morfina, co-
deína) e seminaturais (heroína) agem por meio da ligação de
suas moléculas nos receptores mi, delta e kapa. Representa esse
grupo, além da morfina, codeína e derivados, muitos outros fár-
macos como: meperidina, fentanila, propoxifeno, pentazocina e
tramadol. Da mesma forma ocorre a ação dos peptídeos analgé-
sicos do sistema opioide endógeno, representado pelas endorfi-
nas, encefalinas e dinorfinas (GUYTON, HALL, 2002; GOODMAN,
GILMAN, 2006; RANG, 2004).
Antieméticos são os fármacos utilizados para suprimir
náuseas e vômitos. A substância neurotransmissora dopamina,
agindo na zona do gatilho quimiorreceptora, localizada no bulbo,

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INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

dispara esse processo (GUYTON, HALL, 2002; GOODMAN, GIL-


MAN, 2006).
Neste sentido, vários fármacos antipsicóticos e outros an-
tagonistas dos receptores dopaminérgicos também bloqueiam
essa ativação. Além dos antagonistas da dopamina, fármacos
que antagonizam os receptores 5-HT3 e alguns poucos fárma-
cos antagonistas colinérgicos e da histamina são eficientes para
essa finalidade, embora o substrato neural afetado por esses úl-
timos antagonistas ainda não tenha sido claramente identificado
(GOODMAN, GILMAN, 2006).
São representantes dessa categoria terapêutica: metoclo-
pramida, proclorperazina, prometazina, ondansetrona, difeni-
dramina, dimenidrinato, entre outros.
As leituras indicadas no Tópico 3.1 tratam da parte da
Farmacologia que estuda os efeitos dos fármacos que agem no
sistema nervoso e que são utilizados para tratar diversas con-
dições clínicas diferentes. Neste momento, você deve realizar
essas leituras para aprofundar o tema abordado.

2.2. FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

Anti-inflamatórios, analgésicos e antitérmicos


Abordaremos agora uma das categorias terapêuticas de
fármacos mais utilizadas pelos seres humanos – os que possuem
ação anti-inflamatória, analgésica e antitérmica. Podemos dividir
esses fármacos em duas categorias: os fármacos anti-inflamató-
rios esteroides e os fármacos anti-inflamatórios não esteroides
(AINEs) (GOODMAN; GILMAN, 2006).

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Os fármacos anti-inflamatórios esteroides são substâncias


químicas sintéticas chamadas também de glicocorticoides, pois
se assemelham ao hormônio esteroide cortisol tanto do ponto
de vista químico quanto das suas ações. Esse hormônio é pro-
duzido em condições fisiológicas na região cortical das glândulas
suprarrenais (GUYTON; HALL, 2002).
O cortisol e seus análogos sintéticos agem inibindo a ativi-
dade de uma enzima chamada fosfolipase A2, responsável pela
conversão dos fosfolipídios da membrana em ácido araquidôni-
co (GOODMAN; GILMAN, 2006). Esse derivado fosfolipídico da
membrana é uma substância precursora dos eicosanoides (pros-
taglandinas, tromboxanos e leucotrienos), os principais respon-
sáveis por uma gama de eventos que levam aos sinais dos pro-
cessos inflamatórios (prostaglandinas), alérgicos (leucotrienos)
e da coagulação sanguínea (tromboxanos). Por isso, justifica-se
sua utilização como fármacos anti-inflamatórios e imunossu-
pressores (RANG, 2004).
Representa essa categoria de fármacos: dexametasona,
betametasona, hidrocortisona, prednisona, prednisolona e vá-
rios outros.
Os fármacos AINEs constituem-se em um amplo grupo
formado por substâncias químicas distintas. Nessa categoria, en-
contramos: ácido acetilsalicílico, diclofenaco, ibuprofeno, ácido
mefenâmico, nimesulida, coxibes, dipirona, paracetamol, entre
outros. Esses fármacos, para produzirem seus efeitos, agem ini-
bindo a atividade de outra enzima, a cicloxigenase (COX) (GOOD-
MAN; GILMAN, 2006). Essa enzima participa, nas etapas finais,
da síntese das prostaglandinas (uma família de mediadores quí-
micos do processo inflamatório), e dos tromboxanos, importan-
tes para a agregação plaquetária e coagulação sanguínea. Todos

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os exemplos de AINEs citados anteriormente apresentam uma


boa atividade anti-inflamatória, com exceção da dipirona e do
paracetamol, que exercem predominantemente ações analgési-
cas e antitérmicas (RANG, 2004).
A inibição da atividade da enzima COX é também o princi-
pal fator responsável pela grande incidência dos desconfortos,
como azias, gastrites, úlceras e até mesmo sangramentos gas-
trointestinais, especialmente nos pacientes idosos (KATZUNG,
2005). Estes efeitos indesejados são decorrentes do uso crônico
destes fármacos em certas condições clínicas, como por exemplo,
na artrite reumatoide. Os efeitos colaterais ocorrem porque os
fármacos inibem a atividade de todas as isoformas da COX, não
só aquelas induzidas pelo processo inflamatório, mas também as
que são constitutivas celulares e que participam de importantes
processos fisiológicos, como, por exemplo, a proteção da muco-
sa gastrintestinal (GOODMAN, GILMAN, 2006; KATZUNG, 2005).

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Glicocorticoides

Broncoconstrição

Plaquetária

Homeostasia renal

Broncoconstrição

Figura 2 Mecanismo de ação dos anti-inflamatórios.

Quimioterápicos – antimicrobianos: antibacterianos, an-


tivirais, antifúngicos, antiprotozoários – antiparasitários e
antineoplásicos
Vamos descrever agora como age um grande número de
fármacos que são conhecidos genericamente como quimioterá-
picos. Iniciaremos esse grupo abordando o grupo dos fármacos
antimicrobianos, ou seja, aqueles que combatem os micro-orga-
nismos, como as bactérias, os vírus, os fungos e os protozoários
(GOODMAN; GILMAN, 2006).

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Antibacterianos
Os antimicrobianos utilizados para combater infecções bac-
terianas constituem uma extensa lista de medicamentos. Esses
fármacos podem ser bactericidas (que matam) ou bacteriostáti-
cos (que inibem a proliferação) das bactérias. Neste caso, é o siste-
ma imunológico do hospedeiro que as elimina (RANG, 2004).
Para produzirem seus efeitos, esses fármacos interferem
com alguns mecanismos básicos de manutenção da vida e da re-
produção das bactérias. Essa interferência pode ocorrer com a sín-
tese e reparação da parede celular bacteriana (peptideoglicano)
que a protege externamente, ou atuam no interior das células,
interferindo com o código genético (DNA e RNA), ou ainda com a
síntese de proteínas da bactéria (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Os antibacterianos que atuam no interior da célula pos-
suem mecanismos de ação similares aos dos fármacos utilizados
para combater infecções por outros micro-organismos como
protozoários, vírus e alguns fungos. Essas ações são bastante se-
letivas, pois são direcionadas a estruturas específicas dos micro-
-organismos (RANG, 2004).
São exemplos de fármacos antibacterianos: benzilpeni-
cilina, vancomicina, oxacilina, amoxicilina, cefalexina, cefaclor,
ceftriaxona, ácido nalidíxico, ciprofloxacino, metronidazol, sulfa-
metoxazol/trimetoprima, gentamicina, amicacina, cloranfenicol,
eritromicina, azitromicina, lincomicina, tetraciclina, estreptomi-
cina, rifampicina e muitos outros.

Antivirais
Os antivirais são os fármacos utilizados, como o próprio
nome já diz, para combater os vírus. Esses micro-organismos são

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parasitas intracelulares obrigatórios, porque necessitam do "ma-


quinário" genético das células do hospedeiro para se reproduzir
e se multiplicar (PAGE, 2004).
Para tratar infecções por retrovírus como, por exemplo, a
da síndrome da imunodeficiência humana (AIDS), utiliza-se co-
quetéis de fármacos devido ao desenvolvimento de variedades
resistentes do vírus às ações de determinado antirretroviral. Es-
ses múltiplos fármacos agem em alvos virais distintos, como a
inibição das enzimas DNA polimerase, transcriptase reversa ou
protease (RANG, 2004).
São exemplos de fármacos antivirais: aciclovir, amantadi-
na, ribavirina, ribavirina , indinavir, efavirenz e outros.

Antifúngicos
Os antifúngicos ou antimicóticos são fármacos utilizados
para combater as leveduras e os bolores, que são as formas de
manifestação dos fungos. O tratamento antifúngico é direciona-
do principalmente à destruição da parede celular dos fungos e
das bactérias (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Apesar de as células humanas não terem essa parede ce-
lular que resulta em uma seletividade entre células humanas e
fúngicas, esses fármacos, em geral, são bastante tóxicos e de-
vem ser utilizados com cautela, se administrados sistemicamen-
te (GOODMAN; GILMAN, 2006).
São representantes dos antifúngicos: nistatina, anfoterici-
na B, miconazol, cetoconazol, clotrimazol, itraconazol, flucona-
zol, griseofulvina, terbinafina e outros.

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Antiparasitários
Os antiparasitários constituem um grupo de fármacos uti-
lizados para combater os parasitas. Alguns protozoários combati-
dos por este fármaco: giárdia (causadora da giardíase), entamoe-
ba, trichomonas e plasmódio (causador da malária).
Existem também muitos vermes que são combatidos utili-
zando-se os anti-helmínticos. Muitos antiparasitários são fárma-
cos que têm mecanismos de ação ainda desconhecidos. Alguns
deles agem "quebrando" ou alterando os processos metabólicos
do parasita, em uma igual à dos anti-helmínticos, que aumentam
a permeabilidade da membrana celular ou ainda interferem na
atividade dos seus canais iônicos (RANG, 2004).
São antiparasitários: metronidazol, lindano, mebendazol,
praziquantel, ivermectina, quinina, cloroquina, pirimetamina,
entre outros.

Antineoplásicos
Os antineoplásicos são fármacos utilizados no combate à
proliferação das células tumorais que se manifestam e se multi-
plicam nas várias formas de câncer.
Em geral, os fármacos anticâncer agem lesando o DNA des-
sas células ou impedindo a sua reparação (RANG, 2004). Infeliz-
mente, muitas células normais do organismo humano acabam
também sendo vítimas desses fármacos que apresentam uma
toxicidade significativa (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Em um paciente em tratamento quimioterápico, é funda-
mental avaliar os efeitos adversos que vão limitar as dosagens
utilizadas (RANG, 2004). Muitas células, como as dos folículos
pilosos, as eritropoiéticas e leucopoiéticas, que revestem o trato

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gastrintestinal, crescem e são substituídas em uma velocidade


muito maior que outras células não cancerosas. Dessa forma, a
supressão da medula óssea, a mucosite e a alopécia são efeitos
colaterais previsíveis da maioria dos fármacos anticâncer, além
da febre neutropênica, das náuseas e dos vômitos (GOODMAN,
GILMAN, 2006; KATZUNG, 2005).
Como abordado anteriormente, existem fármacos anticân-
cer que atuam como antibióticos, antimetabólitos, hormônios,
imunomoduladores e hematopoiéticos (RANG, 2004).
A lista desses fármacos é bastante extensa: clorambucila,
ciclofosfamida, estreptozocina, cisplatina, temozolomida, meto-
trexato, mercaptopurina, pentostatina, 5-fluoruracila, citarabina,
doxorrubicina, vincristina, vimblastina, etoposídeo, hidroxiureia,
rituximabe, tamoxifeno, estrógenos, andrógenos, interferon, tre-
tinoína, isotretinoína, filgrastim, oprelvecina e muitos outros.

As leituras indicadas no Tópico 3.2 abordam os efeitos


produzidos pelos fármacos anti-inflamatórios, analgésicos, an-
titérmicos e o vasto grupo de fármacos agrupados como qui-
mioterápicos. Neste momento, você deve realizar essas leitu-
ras para aprofundar o tema abordado.

2.3. FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS CARDIOVASCU-


LAR, RENAL E ENDÓCRINO

Abordaremos agora os fármacos que interferem no funcio-


namento de alguns dos sistemas do organismo humano, como o
cardiovascular, renal, endócrino ou hormonal.

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Os fármacos que possuem essas propriedades compõem


uma extensa lista. Destacaremos, de forma resumida, os prin-
cipais fármacos e seus mecanismos de ação. Não pretendemos
esgotar o assunto, mas facilitar a compreensão.

Anti-hipertensivos
Existem muitos fármacos que agem de formas distintas e
em locais diferentes do organismo como anti-hipertensivos. Sua
ação ocorre por meio de mecanismos de ação moleculares dis-
tintos para reduzir a pressão arterial, mas também em outras
condições associadas ao sistema cardiovascular. Por exemplo,
certos fármacos anti-hipertensivos agem como simpatolíticos,
ou seja, diminuem as influências do SNA simpático sobre a fun-
ção cardíaca e o tônus vascular (GOODMAN; GILMAN, 2006).
Essa influência pode ocorrer de duas formas diferentes:
• Por meio de fármacos (clonidina, metildopa) que ini-
bem a liberação de NA dos terminais pré-sinápticos,
agindo ao nível central ou perifericamente (reserpina,
guanadrel);
• Por meio do bloqueio dos receptores α e β adrenérgi-
cos, os anti-hipertensivos podem alterar a atividade do
coração, como os antagonistas β1-adrenérgicos (ateno-
lol, propranolol, timolol, metaprolol), que agem blo-
queando esses receptores do órgão. Eles impedem as
ações da NA e A, responsáveis por sua ativação, e um
consequente aumento da atividade cardíaca (frequên-
cia cardíaca e força de contração) e da pressão arterial.
Há também os antagonistas α1 e α2 adrenérgicos pós-
-sinápticos periféricos (prazosina, fenoxibenzamina,
fentolamina, doxazosina), que diminuem o tônus sim-

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pático, noradrenérgico ou adrenérgico sobre as artérias


e veias do organismo. Isso impede a vasoconstrição e
o consequente aumento da resistência periférica e da
pressão arterial. São utilizados também os fármacos
que agem como antagonistas mistos ou não seletivos
dos α e β receptores adrenérgicos (labetalol, carvedilol)
(GOODMAN; GILMAN, 2006).
Como vimos, os fármacos anti-hipertensivos podem agir
também como vasodilatadores de ação direta sobre os vasos
ou indiretamente, na síntese ou inibição da ação de mediadores
químicos locais ou de hormônios (RANG, 2004). Existem vários
fármacos vasodilatadores diretos que agem por mecanismos dis-
tintos, como hidralazina, diazóxido, papaverina, nitroprussiato,
entre outros.
Como um aumento na concentração de íons cálcio é fun-
damental para disparar o mecanismo da contração muscular, os
antagonistas da entrada de íons cálcio na célula muscular lisa dos
vasos sanguíneos também agem como vasodilatadores. São eles:
verapamil, diltiazem, nifedipino e outros (RANG, 2004).
Entre os fármacos que agem interferindo nas ações de me-
diadores químicos ou hormônios, temos os inibidores da ECA
(enzima conversora de angiotensina), como captopril, lisinopril,
enalapril, dentre outros (RANG, 2004). Eles inibem a atividade
dessa enzima, que é essencial para a produção de angiotensina,
um hormônio que estimula a vasoconstrição e, portanto, é vaso-
pressor (GUYTON, HALL, 2002; RANG, 2004).
Há os fármacos que agem bloqueando as ações da angio-
tensina II (forma ativa), como os antagonistas losartana, valsarta-
na, além de outros (RANG, 2004). Há também os fármacos anta-
gonistas, espironolactona e eplerenona, que bloqueiam as ações

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do hormônio mineralocorticoide aldosterona, que age nos rins.


Esse hormônio, ao se ligar em seus receptores, estimula a reab-
sorção dos íons sódio e também da água, aumentando o volume
líquido extracelular sanguíneo e a pressão sanguínea (GUYTON;
HALL, 2002).

Diuréticos
Os diuréticos são fármacos que aumentam a formação
da urina, agindo, dessa forma, como anti-hipertensivos (RANG,
2004). A eliminação de água e sódio favorece a diminuição da
pressão sanguínea (GUYTON; HALL, 2002).
Podemos classificar os diuréticos conforme sua ação em:
diuréticos de alça (furosemida, ácido etacrínico, bumetanida),
diuréticos tiazídicos (clorotiazida), diuréticos osmóticos (mani-
tol) e diuréticos poupadores de potássio (amilorida, espirono-
lactona, eplerenona e triantereno) (GOODMAN; GILMAN, 2006).

Antianginosos
Como descrito anteriormente, os antagonistas dos canais
de cálcio são utilizados como anti-hipertensivos (KATZUNG,
2005), mas também são utilizados como antianginosos, assim
como os nitratos (nitroglicerina, dinitrato de isossorbida). Estes
últimos favorecem a formação do óxido nítrico, um gás mediador
químico local com ação vasodilatadora (RANG, 2004). Até a he-
parina, um anticoagulante, pode ser utilizado na angina.

Anticoagulantes
Os dois principais anticoagulantes, heparina e varfarina,
e seus derivados, são os fármacos utilizados na prevenção pré-

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-cirúrgica da trombose de veias profundas e da embolia pulmo-


nar. (KATZUNG, 2005). Simplificadamente, esses fármacos agem
por mecanismos distintos que inibem direta ou indiretamente a
trombina e outros fatores de coagulação sanguínea (GOODMAN;
GILMAN, 2006).

Antiarrítmicos
Os fármacos antiarrítmicos agem para restabelecer a con-
tração do miocárdio com sincronismo. Nesta categoria terapêuti-
ca, encontramos várias classes de fármacos que agem por meca-
nismos diferentes (RANG, 2004). Assim, temos os antiarrítmicos
da classe IA (quinidina, procainamida e disopiramida), os antiar-
rítmicos da classe IB (lidocaína, mexiletina), os antiarrítmicos da
classe IC (flacainida, propafenona), os antiarrítmicos da classe II
(propranolol, esmolol), os antiarrítmicos da classe III (amioda-
rona, ibutilida, dofetilida e sotalol), os antiarrítmicos da classe
IV (verapamil) e os antiarrítmicos não classificados (moricizina,
digoxina e adenosina) (RANG, 2004).

Cardiotônicos
Os cardiotônicos são os fármacos que melhoram a con-
tratilidade ou a força de contração do coração. A digoxina é um
glicosídeo cardíaco utilizado também como cardiotônico na insu-
ficiência cardíaca congestiva (KATZUNG, 2005). Existem também
os derivados da biperidina (anrinona, milrinona), dentre outros
fármacos, como dobutamina, terazosina, nesiritida (GOODMAN;
GILMAN, 2006).

154 © BIOQUÍMICA E FARMACOLOGIA


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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

Antidislipidêmicos
Os fármacos antidislipidêmicos são também chamados de
hipolipemiantes e são utilizados para reduzir os níveis lipídicos
do organismo, seja por meio da redução da síntese endógena
de colesterol, seja pelo aumento de sua excreção (RANG, 2004).
Representam essa categoria: colestiramina, colestipol, niacina,
estatinas (sinvastatina, lovastatina e outras), genfibrozila, feno-
fibrato e ezetimiba.

Estrogênios
Os estrogênios são sintetizados na região cortical das glân-
dulas suprarrenais, nos ovários, na placenta e, em pequenas
quantidades, nos testículos (GUYTON; HALL, 2002).
Assim como para outros esteroides, a substância primária
para a síntese dos estrogênios é o colesterol. Os antiestrogênios
são agonistas parciais ou antagonistas que competem com os
estrogênios naturais pelos receptores presentes nos órgãos-alvo
(GOODMAN; GILMAN, 2006).
Os estrogênios são utilizados clinicamente nas terapias de
reposição hormonal das insuficiências ovarianas primárias e se-
cundárias, na menopausa e como contraceptivo. Os antiestrogê-
nios são usados no tratamento do câncer de mama sensível aos
estrogênios (tamoxifeno) e no tratamento da infertilidade (clo-
mifeno), induzindo a ovulação (KATZUNG, 2005).

Androgênios
Os androgênios ou hormônios sexuais masculinos têm a tes-
tosterona como o principal androgênio natural, que é sintetizado

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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

em sua maior parte nos testículos e, em menores quantidades, pe-


los ovários e pelo córtex das suprarrenais (GUYTON; HALL, 2002).
Os estrogênios, assim como os progestogênios, apresen-
tam atividade antiandrogênica, principalmente ao inibirem a
secreção de gonadotropinas, e os progestogênios, ao competi-
rem com os androgênios nos órgãos-alvo (GOODMAN, GILMAN,
2006; RANG, 2004).
Os androgênios são preparações de testosterona ou aná-
logos sintéticos utilizados clinicamente como anabolizante e na
terapia de reposição hormonal da insuficiência testicular. Já os
antiandrogênios, como flutamida, ciproterona e finasterida, são
utilizados como parte do tratamento da hipertrofia prostática
benigna e do câncer de próstata (GOODMAN, GILMAN, 2006;
RANG, 2004).

Hipoglicemiantes orais
Os agentes hipoglicemiantes orais são os fármacos utiliza-
dos para a redução dos níveis de açúcar do sangue nos pacientes
com diabetes tipo 2. Esses fármacos pertencem a várias catego-
rias químicas e agem por intermédio de diferentes mecanismos
de ação (RANG, 2004). Alguns estimulam a secreção do hormô-
nio insulina (tolbutamida, clorpropamida, glibenclamida; repa-
glinida, nateglinida), outros aumentam a sensibilidade aos seus
efeitos e a produção hepática de glicose (metformina, rosiglita-
zona, pioglitazona); há, ainda, aqueles que inibem a absorção de
glicose (acarbose) (GOODMAN, GILMAN, 2006; RANG, 2004).

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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

As leituras indicadas no Tópico 3.3 abordam os efeitos


produzidos pelos fármacos que agem em diversos sistemas e
que são utilizados no tratamento de várias patologias, como
hipertensão, diabetes, distúrbios hormonais e outras. Neste
momento, você deve realizar essas leituras para aprofundar o
tema abordado.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione:
Fármacos que agem no sistema nervoso – Vídeos Complementares – Com-
plementar 4.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDO DIGITAL INTEGRADOR


O Conteúdo Digital Integrador representa uma condição
necessária e indispensável para você compreender integralmen-
te os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. FÁRMACOS QUE AFETAM O SISTEMA NERVOSO AUTÔNO-


MO E O SISTEMA NERVOSO CENTRAL

Os fármacos que agem no sistema nervoso são muitos e


pertencem a diversas categorias terapêuticas. Para aprender
mais, acesse os links a seguir e não se limite apenas a eles:

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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

• OLIVEIRA, E. A. S. Farmacologia – Sistema Nervoso Au-


tônomo. Disponível em: <http://www.ebah.com.br/
content/ABAAAAynMAA/farmacologia-sistema-nervo-
so-autonomo>. Acesso em: 19 jul. 2016.
• FERREIRA, D. T.; FACCIONE, M. Opiáceos, opioides de
ação analgésica e antagonistas. Semina: Ciências Exa-
tas e Tecnológicas, Londrina, v. 26, n. 2, p. 125-136, jul./
dez. 2005. Disponível em: <http://www.uel.br/prop-
pg/portal/pages/arquivos/pesquisa/semina/pdf/semi-
na_26_2_22_25.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2016.
• ARAÚJO, S. Curso de Farmacologia: Aula 16 – Anticon-
vulsionantes – Epilepsia. Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=b-qbAVn3ZDE>. Acesso em: 19
jul. 2016.

3.2. FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

Essas categorias terapêuticas de fármacos compreendem


aqueles que são utilizados com a finalidade de diminuir os pro-
cessos inflamatórios e as reações imunológicas. Também com-
preende os fármacos utilizados no combate aos micro-organis-
mos, parasitas e às células tumorais. Veja os links a seguir:
• DELUCIA, R. (Org.). Farmacologia Integrada. Joinvil-
le: Clube dos Autores, 2008. Disponível em: <https://
books.google.com.br/books?id=NgktBQAAQBAJ&pg
=PA196&dq=farmacologia+dos+antiinflamat%C3%B3
rios&hl=pt-BR&sa=X&ved=0CBsQ6AEwAGoVChMI4Jz
KkM6pyAIVQQyQCh1x5QG-#v=onepage&q=farmaco-
logia%20dos%20antiinflamat%C3%B3rios&f=false>.
Acesso em: 19 jul. 2016.

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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

• INFECTONEWS INFECTOPEDIA. Farmacocinética e Far-


macodinâmica de antibióticos – Conceitos Básicos. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=t_y-
-HnuJfYI>. Acesso em: 19 jul. 2016.
• PANUS, P. C. et al. Farmacologia para Fisioterapeutas.
São Paulo: AMGH, 2012. Disponível em: <https://books.
google.com.br/books?id=eCPOIHg6PAAC&pg=PA422&
dq=farmacologia+dos+antineopl%C3%A1sicos&hl=pt-B
R&sa=X&ved=0CCkQ6AEwAmoVChMIkNuGptSpyAIVyU
OQCh0EqgnC#v=onepage&q=farmacologia%20dos%20
antineopl%C3%A1sicos&f=false>. Acesso em: 19 jul. 2016.

3.3. FÁRMACOS QUE AFETAM OS SISTEMAS CARDIOVASCU-


LAR E ENDÓCRINO

Ao longo desta unidade, abordamos muitos mecanismos


de ação de fármacos que pertencem a diferentes categorias te-
rapêuticas. Como destacado inicialmente, a Farmacologia é uma
ciência vasta em vários aspectos como, por exemplo, o vasto nú-
mero de fármacos que são utilizados na prática clínica para pre-
venção e tratamento de muitas patologias. Para aprender mais,
acesse os links a seguir e não se limite a apenas estes:
• KATZUNG, B. G.; MASTERS, S. B.; TREVOR, A. J. Farma-
cologia Básica e Clínica. Farmacologia básica dos fár-
macos anti-hipertensivos. 12. ed. São Paulo: AMGH,
2014. Disponível em: <https://books.google.com.
br/books?id=4Bs4AgAAQBAJ&pg=PA171&dq=farm
acologia+dos+antihipertensivos&hl=pt-BR&sa=X&
ved=0CDkQ6AEwBGoVChMImLfgh9epyAIVxEKQCh
2Gmw2-#v=onepage&q=farmacologia%20dos%20
antihipertensivos&f=false>. Acesso em: 19 jul. 2016.

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E SISTEMA NERVOSO CENTRAL), CARDIOVASCULAR, RENAL, ENDÓCRINO, FÁRMACOS ANTI-
INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

• CLARK, M. A.; FINKEL, R.; REY, J. A.; WHALEN, K. Farma-


cologia Ilustrada. 5. ed. Disponível em: <https://books.
google.com.br/books?id=7F8GBwAAQBAJ&printsec=fr
ontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=
0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 19 jul. 2016.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
A seguir, responda às questões propostas, a fim de conferir
seu desempenho no estudo desta unidade:
1) Qual dos antiadrenérgicos a seguir bloqueia os receptores α situados em
artérias e veias, promovendo a diminuição na pressão arterial sistêmica?
a) Metoprolol.
b) Indoramina.
c) Reserpina.
d) Guanetidina.
e) Prazosina.

2) Com relação ao mecanismo de ação dos fármacos antipsicóticos, para pro-


duzirem seus efeitos terapêuticos, é correto afirmar:
a) Os antipsicóticos agem aumentando a neurotransmissão mediada pela
acetilcolina.
b) Os antipsicóticos agem diminuindo a neurotransmissão mediada pela
noradrenalina.
c) Os antipsicóticos agem aumentando a neurotransmissão mediada pela
noradrenalina.
d) Os antipsicóticos agem diminuindo a neurotransmissão mediada pela
dopamina.
e) Os antipsicóticos agem aumentando a neurotransmissão mediada pela
dopamina.

3) Os fármacos chamados de anti-inflamatórios não esteroides diferem dos


fármacos anti-inflamatórios esteroides porque o mecanismo de ação:

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a) dos primeiros é inibir a atividade da araquidonato ciclo-oxigenase, en-


quanto dos segundos é a inibição da fosfolipase A2 .
b) dos primeiros é estimular a atividade da araquidonato ciclo-oxigenase,
enquanto dos segundos é estimular a atividade da fosfolipase A2 .
c) dos primeiros é estimular a atividade da fosfolipase A2 , enquanto dos
segundos é estimular a atividade da araquidonato ciclo-oxigenase.
d) dos primeiros é inibir a atividade da fosfolipase A2 , enquanto dos se-
gundos é a inibição da araquidonato ciclo-oxigenase.
e) ambos os tipos de anti-inflamatórios agem nos mesmos sítios.

4) Com relação aos fármacos antimicrobianos, podemos afirmar que:


a) os antibacterianos são divididos em dois grupos principais: os bacteri-
cidas e os bacteriostáticos.
b) ertos antimicrobianos agem inibindo a síntese proteica no micro-orga-
nismo ou a atividade enzimática.
c) certos antimicrobianos agem inibindo a síntese da parede bacteriana.
d) certos antimicrobianos agem inibindo a síntese de ácidos nucleicos do
micro-organismo.
e) Todas as anteriores.

5) Com relação aos fármacos utilizados para tratar a hipertensão arterial sis-
têmica, é correto afirmar que:
a) os beta-bloqueadores são fármacos que diminuem o tônus das arté-
rias e arteríolas periféricas.
b) os antagonistas da angitensina agem bloqueando os receptores desse
hormônio nas artérias e arteríolas periféricas.
c) os diuréticos são fármacos que promovem uma diminuição da excre-
ção de sais minerais e líquidos do organismo.
d) os inibidores da enzima conversora de angiotensina agem estimulando
o aumento na produção de aldosterona.
e) Nenhuma das anteriores.

Gabarito
Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões au-
toavaliativas propostas:

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1) e.

2) d.

3) a.

4) e.

5) b.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta última unidade, vimos a utilidade terapêutica e, de
forma resumida e bastante simplificada, os principais mecanis-
mos de ação de uma variedade de fármacos.
Os conhecimentos adquiridos com este material didático
são de fundamental importância para um primeiro contato com
a Farmacologia. Como já citado, é de fundamental importância
que você leia e estude para aprofundar seus conhecimentos so-
bre os assuntos aqui abordados, utilizando especialmente a bi-
bliografia citada.

6. E-REFERÊNCIAS

Lista de figuras
Figura 1 Receptor GABAA. Disponível em: <http://www.arnoldgroup.org/Research-
GABA%20Receptor.html>. Acesso em: 18 jul. 2016.
Figura 2 Mecanismo de ação dos anti-inflamatórios. Disponível em: <https://
resumosdosegunda.wordpress.com/2011/10/09/anti-inflamatorios-nao-esteroides-
e-hormonais/>. Acesso em: 18 jul. 2016.

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INFLAMATÓRIOS E QUIMIOTERÁPICOS

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOODMAN, L. S.; GILMAN, A. As bases farmacológicas da terapêutica. 11. ed. Rio de
Janeiro: Guanabora Koogan, 2006.
GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2002.
KATZUNG, B. G. Farmacologia: básica e clínica. Trad. Patricia Lydie Voeux. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
PAGE, C. et al. Farmacologia integrada. 2. ed. Barueri: Manole, 2004.
RANG, H. P. et al. Farmacologia. Trad. Patrícia Lydie Voeux e Antônio José Magalhães
da Silva Moreira. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
SILVA, P. Farmacologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

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