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Guião de leitura
Auto da Índia*
Gil Vicente
* O texto do Auto da Índia referenciado segue a edição didática anotada e comentada por
Mário Fiúza, da Porto Editora; as notas são adaptadas da mesma edição.
Título Síntese
1.ª parte
(vv. 1-95)
2.ª parte
(vv. 96-356)
3.ª parte
(vv. 357-514)
Títulos:
a. O adultério; b. A expectativa da partida; c. O regresso do marido.
Síntese
a. Ao ouvir a notícia do regresso das naus, a Ama começa por se descontrolar, mas depressa recupera o
sangue-frio. No diálogo que se estabelece entre ambos, a hipocrisia de Constança é evidente e
consegue convencer o Marido que sofreu muito com a sua ausência e que levou uma vida de privações
e de oração.
b. Na ausência do Marido, Constança recebe em sua casa um castelhano fanfarrão, Juan de Zamora, e um
antigo namorado, de nome Lemos, pondo em prática toda a sua astúcia e habilidade para evitar que os
dois se encontrem.
c. Através do diálogo entre a Ama e a Moça, percebemos que o Marido de Constança está de partida para
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a Índia. A Ama mostra-se ansiosa, pois teme que o Marido acabe por não partir, e só descansa quando
a Moça lhe traz a notícia de que as naus já tinham partido. Constança expressa, então, o seu
contentamento e o desejo de que o Marido nunca mais regresse.
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a. Mulher de idade indefinida é subserviente, por necessidade. Fiel à sua Ama, de quem é confidente e que
nunca denuncia, revela-se perspicaz e atenta aos seus comportamentos, criticando-os através da ironia, em
muitos apartes. Sensata, pois não se deixa iludir pelo aparato e pelas falas pomposas do Lemos e do
Castelhano, é a única personagem que mostra ser capaz de distinguir claramente o certo do errado.
Funciona como intermediária entre o interior e o exterior. É ela que sai, logo no início, para confirmar a
partida do Marido. É ela, igualmente, que traz da rua a notícia do seu regresso.
Personagem:
b. Fisicamente ausente, ao longo da maior parte da representação, só no final entra em cena, encerrando,
desse modo, o conflito dramático. A sua ausência é essencial para que a intriga se desenvolva, pois cria as
condições necessárias para que a leviandade da Ama se transforme em adultério (o que, provavelmente, já
acontecera antes). Esta personagem-tipo representa todos aqueles portugueses com experiência marítima,
pescadores ou marinheiros, que se alistavam nas armadas para a Índia, na mira de um enriquecimento
fácil, bem como todos os maridos enganados pelas esposas na sua ausência. Pode dizer-se que esta
personagem condensa alguns dos aspetos negativos da expansão portuguesa.
Personagem:
c. Escudeiro pobre, procura esconder a sua condição social com modos delicados e um discurso galanteador.
Exibe um desafogo material que não corresponde à realidade, o que é rapidamente denunciado: quando
manda a Moça fazer compras, vai rejeitando os alimentos caros e dá-lhe muito pouco dinheiro para as
despesas. Procura aproveitar-se da ausência do Marido para obter os favores sexuais da Ama.
Personagem:
d. É a personagem principal, já que é em torno dela que se desenvolve a ação. Revela-se uma mulher sensual
e leviana, incapaz de controlar os seus desejos durante a ausência do Marido. O seu carácter libertino
leva-a a aceitar e até a estimular as propostas imorais e o assédio de dois pretendentes (Castelhano e
Lemos). Falsa, mentirosa e hipócrita, engana não apenas o Marido, mas os próprios amantes, escondendo
a cada um deles a existência do outro. A sua falsidade torna-se mais evidente quando o Marido regressa e
ela lhe garante que sofreu muito com a sua ausência, que rezou pela sua segurança e que permaneceu três
anos recatadamente em casa, aguardando o seu regresso. É também uma mulher extremamente manhosa
e habilidosa, chegando ao ponto de manifestar ciúme pelas presumíveis aventuras amorosas do marido na
Índia. Representando todas as mulheres que, abandonadas pelos maridos empenhados na aventura
ultramarina, se mostravam incapazes de resistir ao assédio dos pretendentes, incorrendo em adultério,
materializa também um dos aspetos negativos da expansão portuguesa.
Personagem:
e. De origem social humilde, denunciada, desde logo, pelo modo como se veste (uma pobre capa usada),
revela-se um fanfarrão, exagerando a sua valentia e insinuando ser um homem de posses. Oportunista,
assim que se apercebe da ausência do Marido, procura imediatamente seduzir a Ama, utilizando como
estratégia a lisonja e um discurso retórico, excessivo e inadequado ao seu estatuto social, o que o torna
ridículo.
Personagem:
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Guião de leitura Oo
3. Diz se as afirmações que se seguem são verdadeiras (V) ou falsas (F) e corrige as falsas.
b. A ação desta peça decorre num único lugar – a casa da Ama – subdividido em três
espaços: a câmara (quarto) da Ama, onde decorre a maior parte da ação, a cozinha,
onde se esconde Lemos, em determinado momento, e o quintal, onde o Castelhano
aguarda, noite fora, autorização para entrar.
d. Os nomes utilizados pela Ama para se referir ao Marido (“demo” – v. 8, “gamo” –
v. 8, “fastio” – v. 62, entre outros) mostram o respeito que ela lhe tem.
f. O nome Constança, atribuído à Ama por Gil Vicente, está de acordo com o seu com-
portamento.
g. A Moça desempenha, nesta peça, o papel de coro, comentando com grande ironia as
atitudes da Ama e de outras personagens, mas também de confidente de Constança
e de mensageira.
i. O Castelhano concentra em si os três tipos de cómico utilizados por Gil Vicente: o
cómico de carácter (pelo seu exagero, pela sua fanfarronice, pelo contraste entre
aquilo que diz e aquilo que é, na realidade); o cómico de situação (por exemplo,
quando é obrigado a aguardar no quintal, ao frio, durante a noite, autorização para
entrar em casa da Ama); o cómico de linguagem (pomposa, exagerada, cheia de
expressões de cunho literário, inadequada à personagem e à situação).
j. Para além de usar diversos tipos de cómico, Gil Vicente recorre também à ironia e à
caricatura para criticar os comportamentos das personagens da peça.
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4. As palavras da Ama a seguir transcritas apresentam os argumentos com que justifica o seu
Identifica-os.
4.1.
5. Comenta aquilo que o Marido conta à Ama sobre as suas andanças pelo Oriente, nos versos
que se seguem.
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6. Compara a temática desenvolvida no Auto da Índia com a letra da canção a seguir reprodu-
zida, salientando as semelhanças encontradas.
Trovas Vicentinas
Vós que vos ides por ganância
Debaixo da capa do cruzado
Buscando no incerto e na distância
A mina delirante do El Dorado1
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Redige um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 100 palavras, no qual apre-
sentes linhas fundamentais de leitura do excerto da peça Auto da Índia.
• uma parte introdutória, em que, com base no teu conhecimento da obra, indiques o espaço
onde as personagens se encontram e em que identifiques a personagem a propósito de quem
a Ama e a Moça dialogam;
• uma parte de desenvolvimento, em que explicites a relação entre estas duas personagens e
em que expliques o sentido da primeira fala da Moça e a razão do choro da Ama;
• uma parte final, na qual exemplifiques o recurso à ironia numa das falas da Ama e expliques a
intenção de crítica social presente no excerto.
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Escreve um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras, no qual apre-
sentes linhas fundamentais de leitura do excerto da peça Auto da Índia.
O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e uma parte de
conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente, tratando os sete tópicos
apresentados a seguir. Se não mencionares ou se não tratares corretamente os dois primeiros
tópicos, a tua resposta será classificada com zero pontos.
• Identificação da personagem a propósito de quem a Ama e a Moça dialogam.
• Referência à peça de vestuário que caracteriza essa personagem.
• Explicitação da opinião que a Moça deixa transparecer sobre essa personagem.
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Escreve um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 120 palavras, no qual apre-
sentes linhas fundamentais de leitura do excerto da peça Auto da Índia.
O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de desenvolvimento e uma parte de
conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente, tratando os sete tópicos
apresentados a seguir. Se não mencionares ou se não tratares corretamente os dois primeiros
tópicos, a tua resposta será classificada com zero pontos.
• Referência à relação entre as duas personagens em cena.
• Identificação da personagem a quem a Moça se refere com o pronome “ele” (v. 4).
•E
xplicitação da notícia trazida pela Moça.
• Indicação da reação da Ama a essa notícia.
• Explicação do verso “agora há de tornar cá?” (v. 7).
• Referência ao motivo pelo qual a Moça responde “Falo cá com esta cama.” (v. 12).
•E
xplicação, com base no teu conhecimento da obra, da intenção de crítica social, feita através
da Ama.
in Prova Escrita da Língua Portuguesa, 2012, 2.a chamada