Poemas de Mensagem
Poemas de Mensagem
Poemas de Mensagem
O dos Castelos
A Europa é perspetivada pelo poeta como figura feminina cujo rosto é, in-
dubitavelmente, Portugal – “O rosto com que fita é Portugal.
Porém, esta figura feminina “jaz”, melhor dizendo, está deitada sobre os
cotovelos, numa atitude de hipotético adormecimento, ou de espera, vivendo das
memórias de um passado, cujas raízes culturais estão associadas à Grécia, Itália e
Inglaterra.
Desta atitude passiva, expectante, apenas o rosto parece estar animado de
vida, porque fita, olha fixamente o Ocidente – o mar, onde a Europa se lançou
através de Portugal, na grandiosidade das descobertas com a qual traçou o seu
próprio futuro. Neste sentido, só Portugal parece estar pronto a despertar e o seu
olhar é, simultaneamente, “esfíngico e fatal”, ou seja, enigmático e marcado pelo
destino.
Assim, o poeta refere-se, sem dúvida, ao papel de Portugal como líder ine-
gável de uma nova Europa, cujo futuro recuperará a glória do passado. A missão
de Portugal está, desde logo, assinalada pela sua localização geográfica estratégi-
ca: conquistar o que está para ocidente, o mar, criando um novo império que da-
rá continuidade à supremacia do restante império europeu.
O título do poema é uma alusão ao território português, protegido por os
sete castelos que, uma vez conquistados aos mouros, definiriam a geografia de
Portugal.
20 Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa,
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora, e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
O das Quinas
Só o que passa!
Ter é tardar.
E Filho o ungiu.
Ulisses
Vivo e desnudo.
E nos criou.
E a fecundá-la decorre.
De nada, morre.
Canto VIII:
- Armada estacionada em Calecut
- Narrador: Paulo da Gama
- Narratário: Catual de Calecut
4 (…)
Vês outro, que do Tejo a terra pisa,
Depois de ter tão longo mar arado,
Onde muros perpétuos edifica,
E templo a Palas, que em memória fica?
D. Afonso Henriques
Espada:
• Confere luminosidade (tudo à sua volta se torna claro);
• Defesa dos valores (morais, religiosos, nacionais);
• Símbolo de cavalaria união mística entre o cavaleiro e a espada;
• Valor profético;
• Símbolo:
- Da Guerra Santa da guerra interior;
- Do verbo, da palavra;
- Da conquista do conhecimento;
- Da libertação dos desejos;
- Da espiritualidade;
- Da vontade divina;
D. Afonso Henriques intertextualidade
N’Os Lusíadas, como não podia deixar de ser, é dado um destaque enorme
a D. Afonso Henriques, figura que preenche as estrofes 28 a 84 do canto III. Ele é
o fundador da nação, o escolhido por deus que legitima o seu poder ao aparecer-
lhe na batalha de Ourique. De resto, a lenda de Ourique, muito alimentada desde
o século XVI, serviu para conferir uma dimensão sagrada ao nascimento de Por-
tugal. Na Mensagem, curiosamente, o poema dedicado a D. Afonso Henriques não
refere a lenda, mas ela está lá, implícita, através da espada/bênção.
Os Castelos
D. Dinis
Infante D. Henrique – grande impulsionador dos descobrimentos. Tendo defendido uma politica
expansionista voltada para a descoberta, foi o responsável pela escola de Sagres e levou a cabo a
realização de uma série de descobertas que englobam os arquipélagos dos Açores e da Madeira e
a costa ocidental africana até próximo do equador.
O Infante – sistematização
O Mostengo:
• Revela atitudes intimidatórias, ameaçadoras, amedrontadoras;
• É informe (não tem uma forma concreta);
• Está carregado de conotação negativa;
• É pouco definido, pouco descrito (não tem identidade);
• Simboliza os perigos do mar, os obstáculos, as adversidades e os medos.
O Mostrengo – intertextualidade
(…)
(…)
Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
O Quinto Império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
(Terceiro)
'Screvo meu livro à beira mágoa.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Terceiro – sistematização
Este é o único poema de Mensagem que não apresenta titulo, sendo, por
esse facto, considerado como aquele em que o discurso se identifica com o pró-
prio Pessoa.
O poema estrutura-se em torno do desencanto e da mágoa do poeta que
sente os seus “dias vácuos”, o vazio que subjaz à ruína do império, e que anseia
pela chegada de um messias, de um salvador, que possa restituir a Portugal a
grandeza perdida – “Quando virás, Ó Encoberto,/Sonho das eras português”.
O predomínio das interrogações revela essa dor do presente e a ânsia da
chegada da “Nova Terra” e dos “Novos Céus”. Atende-se, ainda, na identificação
realizada pelo sujeito poético entre o sonho e a entidade divina inspiradora –
“Quando, meu Sonho e meu Senhor?” – que o torna uma das forças impulsiona-
doras da vontade humana.
Terceiro – intertextualidade
145 No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
(...)
É a Hora!
Valete, Fratres
Nevoeiro – sistematização
O poema final de Mensagem apresenta uma caracterização negativa de
Portugal, país marcado pela falta de identidade, de entusiasmo, de objetivos e de
valores morais.
Portugal é um pais fragmentado, mergulhado na incerteza, vivendo à so-
bra de um passado glorioso que morreu – “Como que o fogo-fáctuo encerra”. No
entanto, o nevoeiro que envolve Portugal traz em si o gérman da mudança, indi-
cia um outro tempo anunciado pela exclamação final – “É a Hora!” – e pela sauda-
ção latina – “Valete fratres”. É o tempo do Quinto Império, que dará à língua e
cultura portuguesas uma dimensão eterna e universal.
Nevoeiro – intertextualidade
145 No mais, Musa, no mais, que a lira tenho
destemperada e a voz enrouquecida,
e não do canto, mas de ver que venho
cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
não no dá a pátria, não, que está metida
no gosto da cobiça e na rudeza
duma austera, apagada e vil tristeza.
Os símbolos
As Ilhas Afortunadas
O Desejado
À Eucaristia Nova.
O Encoberto
A Rosa do Encoberto.
Tormenta
Antemanhã
Noite
A certeza de Pessoa acha aqui nobre conclusão. “Não sei a hora, mas sei
que há a hora”. De maneira perentória o poeta não deixa dúvidas ao leitor – o re-
gresso de D. Sebastião será uma realidade. Mas num futuro incerto.
Como tem ele tanta certeza? É fácil esconder a certeza em ambiguidade:
“Demore-a Deus, chame-lhe a alma (…) / Mistério”. “Mistério” é afinal uma pala-
vra que pode tomar diferentes significados. A certeza é uma certeza interior, fir-
mada numa convicção de “iniciado”.
Viriato
E é já o ir a haver o dia
Calma