Meiaidade
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Meiaidade
R ESUMO
ABSTRACT
T his article tries to analyze the effect of middle age crisis in the individuals and the
organizations. In this direction, we based on interpretation of Carl Gustav Jung
about the middle age and the individuation process. In this sense, we analyze the
Jung´s concepts related to phenomenon emphasizes the shadow, anima, animus
and self archetypes. After, we utilize this concepts and archetypes to evaluate as the middle
age crisis dilemmas and the conflict between masculine and feminine dimensions of individuals
affects the organizational dynamics.
* Prof. EAESP/FGV
** Profa. UFMG
1
Ficam registrados nossos agradecimentos à Elaine Maria Castro de Paula, psicóloga junguiana, que
realizou uma crítica do artigo contribuindo para o seu desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
De vossa paciência, possuireis vossas almas
E
Lucas 21,19
Como vimos, os pacientes pelos quais Jung mais se interessou eram pessoas
desencantadas com as metas de honra, poder, riqueza, fama e mulheres. Na sua
O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO E
SEUS ARQUÉTIPOS
unilateral talvez seja a única resposta. Todavia, Jung estava, principalmente, inte-
ressado em pacientes de meia-idade em processo de individuação e pessoas ro-
bustas no plano psíquico, capazes de sofrer o conflito e conter as emoções
dissonantes: somente quando alguém consegue tolerar os opostos em seu íntimo
poderá alcançar uma solução simbólica.
Para Jung, as dificuldades nas relações interpessoais são, geralmente, atri-
buíveis aos “mundos interiores” dos envolvidos: as imagens desse mundo inte-
rior são projetadas em outras pessoas e criam dificuldades. É por essa razão
que a tarefa principal de qualquer espécie de análise consiste em identificar es-
tas imagens e descobrir algum meio de lidar com elas. É por esta razão que a
maioria das análises que se propõem a lidar com o inconsciente, sejam elas
freudianas ou junguianas, estão muito mais preocupadas com as soluções sim-
bólicas, que ocorrem no interior da própria psique, do que com as ações dos
pacientes no mundo externo.
Geralmente essas soluções simbólicas exigem um alto grau de desprendi-
mento de sentimentos que somente será viável se o homem subordinar a sua
subjetividade a uma meta mais elevada. Para Jung, as pessoas que possuem uma
fé viva em algum credo religioso, freqüentemente, conseguem isto, pois em face
de tal conflito, têm uma autoridade superior para quem se voltar, um conjunto de
regras às quais se subordinar e uma promessa de redenção.
No entanto, existem muitas pessoas que não aceitam nenhum credo religioso
ou não acreditam em Deus. Deveria então existir no ser humano alguma “imagem
virtual”, uma aptidão psíquica para Deus, um arquétipo: algo que permita que ele
se sinta como o deus egípcio Osíris. Lê-se no livro dos mortos: “juntei-me a mim
mesmo, tornei-me inteiro e completo; renovei a minha juventude; sou Osíris, o
Senhor da Eternidade.”
Jung entendia a psique humana como parte de um inconsciente coletivo,
que transcendia os limites do tempo e do espaço. Os arquétipos compreendem
um dos aspectos mais significativos e distintivos de sua obra. Para Jung, os arqué-
tipos desempenham um papel central e crítico que liga o indivíduo ao inconsciente
coletivo. No plano mais geral, os arquétipos são vistos como padrões que estruturam
os pensamentos e, dessa maneira, também organizam o mundo. Uma boa parte
dos escritos de Jung foi dedicada a explicar os arquétipos, já que não era possível
uma definição inequívoca. De qualquer modo, Jung dedicou muito tempo e energia
procurando demonstrar que os arquétipos são universais e que estavam divorcia-
dos do tempo. Assim, podem ser encontrados nos sonhos, nos mitos e nas idéias,
tanto do homem primitivo, quanto do antigo e moderno.
Não há um número finito de arquétipos ou, pelo menos, Jung não procurou
listá-los. Os arquétipos mais freqüentemente citados são: herói, que analisamos
anteriormente, pai, mãe, Sombra, Anima, Animus e Self. Para Jung, quando nos
encontramos com o mundo externo, os arquétipos nos orientam: eles também
são cruciais para que possamos compreender as relações entre os lados conscien-
te e inconsciente da psique. De acordo com Franz (1992), o processo de
individuação envolve, principalmente, os seguintes arquétipos, que examinare-
mos a seguir: Sombra, Anima, Animus e Self.
SOMBRA
ORGANIZAÇÕES E INDIVIDUAÇÃO
Até o presente momento, discutimos como Jung interpreta a crise de meia-
idade e o processo de individuação. Na literatura organizacional, são escassas as
referências ao uso de arquétipos junguianos para entendimento dos comporta-
mentos no trabalho (BOWLES, 1993; HANZE, 1994; AURELIO, 1995; MORGAN, 1996;
CARR, 2002; ZANETTI, 2002). Nesta última seção, faremos uma tentativa deste
tipo de análise discutindo como o processo de individuação é vivenciado no âmbito
das organizações, enfatizando dois pontos: 1) a tensão entre a dinâmica
organizacional e o processo de individuação, que contrapõe os arquétipos do he-
rói e do Self, além de confrontar o indivíduo com a sua Sombra; e 2) a tensão
entre o masculino e o feminino, ou seja, entre os arquétipos Animus e Anima.
MASCULINO E FEMININO
C ONCLUSÃO
A análise, anteriormente realizada, demonstrou que a dinâmica
organizacional e o processo de individuação parecem ser regidos por lógicas
conflitantes. Isto de certa forma justifica porque alguns executivos e executivas,
ao alcançarem a meia-idade, desejam e, por vezes realizam, uma mudança radical
em suas carreiras, como abrir um negócio próprio, fazer consultoria como autôno-
mos, atuar na área acadêmica, ou mesmo mudar de profissão.
Apesar disso, é preciso considerar que o processo de individuação e a atua-
ção no contexto organizacional não são mutuamente excludentes, pois ao atingir
um novo nível de consciência psíquica o indivíduo pode, também, solucionar seus
conflitos e ambivalências em relação à organização decidindo por uma permanên-
cia na mesma. Sob um outro ponto de vista, uma visão melhor dimensionada so-
bre a importância das características relacionadas aos arquétipos do velho sábio
ou da velha sábia, em sua maior proximidade com o Self no indivíduo que se en-
contra na meia-idade, poderia ajudar a redefinir o papel deste indivíduo na orga-
nização, uma vez que, também, seriam valorizadas suas habilidades de sênior e
conselheiro.
Por outro lado, é importante frisar que o entendimento do processo de
individuação, talvez, possa contribuir para a melhoria das relações interpessoais
nas organizações, na medida em que o indivíduo for chamado a refletir e a amadu-
recer certos aspectos de sua personalidade. As energias desencadeadas pelo
processo de individuação, também, podem alterar positivamente a dinâmica
organizacional, pois conduzem à busca de um equilíbrio que tem um grande po-
tencial criativo, por trazer à tona características negligenciadas ou desconhecidas
da personalidade de cada indivíduo.
No que se refere à integração dos opostos, a exemplo das pessoas, toda
organização, por mais masculina que pareça, possui uma dimensão feminina que
não deve ser desconsiderada: não há masculinidade e feminilidade, mas masculi-
nidades e feminilidades, e estas, também, estão presentes na esfera
organizacional. Seguindo o pensamento jungiano, além de reconhecer as diferen-
ças, é fundamental que se perceba a importância da complementariedade entre
as dimensões masculina e feminina nas organizações.
Conforme sugerem alguns recentes estudos realizados no Brasil, estas di-
mensões se completam (MASCARENHAS; VASCONCELOS; VASCONCELOS, 2004) e,
embora as práticas e discursos organizacionais reforcem as assimetrias de gêne-
ro, isto não ocorre sem resistências, pois existe um movimento de mudança no
que se refere ao quadro de perpetuação da dominação masculina sobre o femini-
no nas organizações (BRITO; CAPELLE; BRITO; MELO, 2004). Considerando que
as organizações hoje são permeadas por uma enorme diversidade cultural, o equi-
líbrio sugerido por Jung pode gerar insights para constituir relações mais saudá-
veis e integradas.
No Tai Chi chinês, o continente de opostos sugere este equilíbrio: o mascu-
lino e o feminino, a terra e o céu, a noite e o dia, o negro e o branco são contidos
por uma forma redonda. Porém, em Lao-Tsé, encontramos: “Havia algo sem forma,
porém completo;/ Existente antes do céu e da terra; / Sem som, sem substância,/
De nada dependente, imutável, Impregnando tudo, inquebrantável./ Pode-se
considerá-lo a mãe de todas as coisas sob o céu”. O sábio sugere que éramos um
e nos dividimos em opostos. Assim, nosso maior desafio é dialogarmos com as
diversidades para atingirmos um maior equilíbrio, de modo que a relação entre os
opostos em nós possa estar mais próxima de uma unidade harmoniosa.
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