Capovilla Marcilio Capovilla 2004a

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Temas multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem 693

Prova de Conscincia Fonolgica por Escolha de Figuras (PCFF)


para avaliao coletiva em sala de aula e de crianas com paralisia
cerebral

Fernando C. Capovilla, Luciana F. Marcilio


(Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo)
Alessandra G. S. Capovilla
(Doutorado em Avaliao Psicomtrica, Universidade So Francisco)

Uma das mais importantes caractersticas que distingue a maior


parte das crianas que fracassam em aprender a ler a baixa
habilidade metafonmica, tambm chamada de conscincia fonmica.
Trata-se da conscincia de que a fala pode ser concebida como um
fluxo no tempo de um certo nmero limitado de fonemas que se
combinam e recombinam em diferentes ordens conforme regras
convencionais compondo diferentes palavras faladas, e que esses
fonemas podem ser convertidos em seus grafemas correspondentes
num mapeamento de ordem conforme a seqncia tempo-espao (da
esquerda para a direita na linha, e de cima para baixo entre linhas), e
com lacunas para separar as palavras. Tal conscincia pode ser
facilmente avaliada medindo os nveis de um conjunto de habilidades
metafonolgicas, como as de manipular fonemas (i.e., adio,
subtrao ou substituio de fonemas no incio, meio ou fim de
palavras produzindo novas palavras ou pseudopalavras, como do som
b por m transformando cabelo em camelo) e transpor fonemas (i.e.,
inverter sua ordem produzindo novas palavras ou pseudopalavras,
como de ris para siri), e fazer trocadilhos (i.e., inverter a ordem de
fonemas iniciais, mediais ou finais entre palavras, como de bomar
tanho para tomar banho). J se demonstrou fartamente que os nveis
dessas habilidades metafonmicas predizem com bastante preciso os
nveis de leitura em voz alta, escrita sob ditado, e compreenso de
textos (A. Capovilla & F. Capovilla, 1997, 1998a, 1998b, 2002a,
2002d, 2003, , 2004; F. Capovilla, 2004; F. Capovilla & A. Capovilla,
1996, 2001a, 2001b, 2002a, Cardoso-Martins, F. Capovilla, Gombert,
Oliveira, Morais, Adams, & Beard, 2003; National Institute of Child
Health and Human Development, National Reading Panel, 2000;
Observatoire National de la Lecture, et Centre National de
Documentation Pdagogique, 1998; UK Government's Department for
Education and Employment, Standards and Effectiveness Unit, 2000).
Alm disso, j se demonstrou, tambm, que as relaes entre a
conscincia fonolgica e a alfabetizao so de causalidade recproca,
e no de mera correlao. De fato, os significativos benefcios de
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 694

instrues metafonolgicas (i.e., exerccios para desenvolver


conscincia fonolgica) e fnicas (i.e., ensino explcito e sistemtico
das relaes entre grafemas e fonemas) para a preveno e o
tratamento de problemas de leitura e escrita foram cientificamente
documentados em uma srie de trabalhos (A. Capovilla & F.
Capovilla, 1997, 1999, 2000, 2002b, 2002c, 2003, 2004; F. Capovilla
& A. Capovilla, 1999, 2003, 2004).
A Prova de Conscincia Fonolgica por escolha de Figuras
(PCFF: A. Capovilla & F. Capovilla, no prelo a) avalia a habilidade da
criana de manipular os sons da fala. Ela contm nove subtestes, cada
qual composto por dois itens de treino e cinco itens de teste. Portanto,
o escore mximo de 45 acertos, com cinco acertos por subteste. Em
cada item h cinco desenhos, dentre os quais a criana deve escolher o
que melhor corresponde palavra pronunciada pelo avaliador. Os
nove subtestes so: 1) Rima: tendo ouvido um nome pronunciado pelo
examinador, a criana deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo
nome falado termina com os mesmos sons daquele nome falado; 2)
Aliterao: tendo ouvido um nome pronunciado pelo examinador, a
criana deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado
comea com os mesmos sons daquele nome falado; 3) Adio
Silbica: tendo ouvido o avaliador pronunciar uma palavra e uma
slaba adicional, a criana deve escolher, dentre cinco figuras, aquela
cujo nome falado corresponde adio da slaba quela palavra falada
(e.g., pato + sa no comeo = sapato); 4) Adio Fonmica: tendo
ouvido o avaliador pronunciar uma palavra e um fonema adicional, a
criana deve escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado
corresponde adio do fonema ao nome falado pelo avaliador (e.g.,
ala + /s/ no comeo = sala); 5) Subtrao Silbica: tendo ouvido o
avaliador pronunciar uma palavra e uma slaba, a criana deve
escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado corresponde
palavra falada pelo avaliador menos aquela slaba (e.g., macaco - ma =
caco); 6) Subtrao Fonmica: tendo ouvido o avaliador pronunciar
uma palavra e um fonema, a criana deve escolher, dentre cinco
figuras, aquela cujo nome falado corresponde palavra falada pelo
avaliador menos aquele fonema (e.g., boca /b/ = oca); 7)
Transposio Silbica: tendo ouvido o avaliador pronunciar uma
palavra, a criana deve inverter a ordem das slabas que compem
essa palavra e escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado
corresponde ao resultado dessa inverso de slabas (e.g., lobo / bolo);
8) Transposio Fonmica: tendo ouvido o avaliador pronunciar uma
palavra, a criana deve inverter a ordem dos fonemas que compem
essa palavra e escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado

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corresponde ao resultado dessa inverso de fonemas (e.g., ris / siri);


9) Trocadilho: tendo ouvido o avaliador pronunciar duas palavras, a
criana deve inverter a ordem dos fonemas iniciais dessas duas
palavras e escolher, dentre cinco figuras, aquela cujo nome falado
corresponde ao resultado dessa inverso de fonemas (e.g., cular porda
/ pular corda).
A PCFO se baseia na Prova de Conscincia Fonolgica por
Produo Oral (PCFO: A. Capovilla & F. Capovilla, 1998a, 1998b,
2003), um teste comprovadamente robusto e sensvel, normatizado e
amplamente validado em uma srie de estudos que mostram sua
elevada correlao com habilidades centrais como leitura em voz alta,
leitura silenciosa, memria de trabalho fonolgica, discriminao
fonmica, vocabulrio receptivo auditivo, dentre outras (A. Capovilla
& F. Capovilla, 1997, 2000, 2002b, 2002c, 2003, 2004; F. Capovilla
& A. Capovilla, 1996, 1999, 2001a, 2004; F. Capovilla, Nunes,
Nogueira et al., 1997). Em relao PCFO, a PCFF apresenta duas
importantes vantagens, como as de permitir avaliar a conscincia
fonolgica em situao coletiva, bem como avaliar a conscincia
fonolgica em pessoas com severos distrbios de articulao da fala,
como no caso da paralisia cerebral, sendo, assim, ideal para avaliar os
ganhos de programas de alfabetizao fnica de paralisados cerebrais
(F. Capovilla, Tomazette, & A. Capovilla, no prelo). Embora
recentemente desenvolvida, a PCFF j foi empregada em trs estudos
preliminares de validao, os quais documentaram boa fidedignidade
no teste-reteste e boa correlao positiva com a PCFO (A. Capovilla,
Gtschow, & F. Capovilla, 2003b), boa correlao com a competncia
de leitura silenciosa e boa capacidade de distinguir entre bons e maus
leitores (A. Capovilla, Suiter, & F. Capovilla, 2003), boa correlao
com a competncia de leitura silenciosa e a escrita sob ditado (A.
Capovilla, Gtschow, & F. Capovilla, 2003a), e com conscincia
sinttica (A. Capovilla, F. Capovilla, & Soares, no prelo). Segue uma
breve descrio desses estudos.
O estudo intitulado Diferenas em processamento cognitivo
entre crianas com e sem dificuldades de leitura, (A. Capovilla,
Suiter, & F. Capovilla, 2003) analisou processos cognitivos
envolvidos na aquisio da linguagem escrita e identificaram algumas
das habilidades cognitivas mais freqentemente prejudicadas nas
dificuldades de leitura e escrita. Participaram 90 crianas de pr-
escola e 1 a. srie da rede pblica e particular, avaliadas em leitura,
escrita, conscincia fonolgica, memria fonolgica, vocabulrio,
aritmtica, processamento visual (cpia e desenho de memria) e
seqenciamento. Em cada teste, foram comparados os desempenhos
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 696

de bons e de maus leitores (definidos como tendo desempenhos em


leitura acima e abaixo de um desvio-padro em relao mdia de sua
classe, respectivamente), usando srie escolar e percentil no Raven
como covariantes. Resultados revelaram que os bons leitores obtm
pontuaes significativamente superiores s dos maus leitores em
tarefas de escrita, conscincia fonolgica, vocabulrio, memria
fonolgica de curto prazo e memria visual com desenho de memria.
Tais resultados so compatveis com estudos (e.g., Grgoire & Pirart,
1997) que demonstram a existncia de forte relao causal entre
processamento fonolgico e linguagem escrita, alm de uma relao
tambm significativa entre processamento seqencial, aritmtica e
linguagem escrita e, finalmente, uma relao mais fraca e meramente
correlacional entre processamento visual e linguagem escrita.
O estudo intitulado Instrumentos de avaliao de habilidades
cognitivas relacionadas aquisio de leitura e escrita: anlise de
validade e fidedignidade (A. Capovilla, Gtschow, & F. Capovilla,
2003b) analisou a validade e a fidedignidade de diversos instrumentos
de avaliao de leitura, escrita e outras habilidades cognitivas. Foram
avaliadas as habilidades de leitura, escrita, memria fonolgica,
vocabulrio, conscincia fonolgica, seqenciamento, memria visual,
cpia de formas geomtricas e qualidade da escrita em 54 crianas de
escolas pblicas e particular. Foram administradas duas aplicaes de
cada instrumento, com intervalo de dez meses entre elas. Os
resultados revelaram que todos os instrumentos se mostraram vlidos
e fidedignos. Vlidos porque os testes de comparao entre pares,
subseqentes a Anovas, revelaram que os testes so capazes de
discriminar entre sries sucessivas. Fidedignos porque produziram
correlao alta e significativa entre as duas aplicaes (i.e.,
fidedignidade teste-reteste). Foi observado um efeito significativo da
srie escolar sobre escores de escrita, leitura, conscincia fonolgica,
vocabulrio, aritmtica, memria fonolgica e qualidade da escrita.
Comparando os desempenhos entre sries sucessivas por meio de
testes de comparao de pares subseqentes a Anovas, foi observado
que os instrumentos so discriminam o desempenho de crianas de
sries escolares consecutivas. Assim, esse estudo sugere que os
instrumentos so vlidos e fidedignos.
O estudo intitulado Caractersticas cognitivas que predizem
dificuldades de alfabetizao (A. Capovilla, Gtschow, & F.
Capovilla, 2003a) avaliou as habilidades de memria fonolgica,
vocabulrio, conscincia fonolgica, seqenciamento, memria visual,
cpia de formas geomtricas e qualidade da escrita por parte de 54
crianas de pr-escola e 1a. srie oriundas de escolas pblicas e

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particular com o objetivo de identificar quais habilidades cognitivas


so capazes de servir como boas preditoras do desempenho ulterior de
leitura e escrita. Foram avaliadas as habilidades de memria
fonolgica, vocabulrio, conscincia fonolgica, seqenciamento,
memria visual, cpia de formas geomtricas e qualidade da escrita.
Dez meses depois foram avaliadas a leitura e a escrita e empreendidas
anlises de regresso para verificar quais habilidades na pr-escola e
no incio da alfabetizao melhor predizem desempenhos ulteriores
em leitura e escrita. Memria fonolgica, vocabulrio, conscincia
fonolgica (especialmente fonmica) e seqenciamento mostraram-se
boas preditoras de leitura e escrita. Assim, leitura e escrita se
mostraram correlacionadas de modo positivo e significativo com
habilidades de processamento fonolgico, mas no de processamento
visual e motor (cpia de figuras e qualidade da escrita). A nica
exceo foi correlao entre memria visual e escrita. Os resultados
corroboram a hiptese do dficit fonolgico, segundo a qual
problemas de leitura e escrita so devidos principalmente a distrbios
fonolgicos e no visuais ou motores. O estudo forneceu validao
preliminar de instrumentos recm-desenvolvidos e diretrizes para
interveno preventiva e remediativa. Identificando habilidades
capazes de predizer leitura e escrita, torna-se possvel detectar
crianas de risco por meio da avaliao dessas habilidades, de modo a
prevenir e remediar distrbios da linguagem escrita.
O estudo intitulado Conscincia sinttica no ensino
fundamental: correlaes com conscincia fonolgica, vocabulrio,
leitura e escrita (A. Capovilla, F. Capovilla & Soares, no prelo)
avaliou 204 crianas de 1a. a 4a. sries do ensino fundamental e
descobriu correlaes positivas significativas entre a conscincia
sinttica, conscincia fonolgica, vocabulrio receptivo auditivo,
leitura e escrita sob ditado, fornecendo corroborao ulterior
hiptese do deficit fonolgico.
O presente estudo objetivou fazer uma sondagem inicial do
crescimento do desempenho no PCFF como funo da srie escolar,
tanto para o escore geral quanto para cada um de seus subtestes.

Mtodo

Participantes
Participaram 116 escolares sem distrbios do desenvolvimento,
matriculados de 1 a 3 srie do Ensino Fundamental de uma Escola da
Rede Pblica de Ensino do Municpio de So Paulo. As salas foram
selecionadas a partir da indicao da professora de sala e da direo da
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 698

escola. A Tabela 1 sumaria a distribuio das crianas por nvel


escolar, sexo e fornece a mdia de idade das crianas em cada srie
escolar.
Tabela 1. Distribuio de freqncia das crianas por nvel escolar,
sexo e idade mdia (em anos e meses) por nvel escolar.

Meninos Meninas Total Idade Mdia


1 srie 13 16 29 7a1m
2 srie 19 23 42 8a1m
3 srie 21 24 45 9a3m
Total 53 63 116

Instrumento
Foi empregada a PCFF com seus nove subtestes, que se
encontram descritos e ilustrados a seguir.
Prova de Conscincia Fonolgica por escolha de Figuras
(PCFF)
Rima: A criana deve julgar, dentre cinco itens, qual termina com o
mesmo som que a palavra falada pelo examinador. Instrues: Vejam
essas linhas. H cinco desenhos em cada linha. Na primeira linha
temos: castor, funil, bola, bode e remdio [O examinador aponta os
desenhos conforme fala seus nomes correspondentes]. Vou dizer uma
palavra, e vocs devem escolher o desenho que termina com o mesmo
som dessa palavra. Por exemplo, olhem os desenhos dessa primeira
linha. Qual dos cinco desenhos termina como a palavra cola? Isso,
o desenho de bola. Agora resolvam os seguintes itens. Itens de teste:
1) palavra falada: sereia; figuras: ave, baleia, bicicleta, aranha, avio;
2) palavra falada: po; figuras: chuveiro, apito, trator, mo, mel; 3)
palavra falada: foto; figuras: moto, ona, lata, bico, ma; 4) palavra
falada: feia; figuras: dado, porta, teia, prdio, colher; 5) palavra
falada: moo; figuras: beb, melancia, tnis, poo, bolsa. A Figura 1
exemplifica a aparncia dos itens, no caso, o item 2.

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Aliterao: A criana deve julgar, dentre cinco itens, quais so os


dois que comeam com o mesmo som. Instrues: Vejam essas linhas.
H cinco desenhos em cada linha. Na primeira temos: morcego,
cabea, vestido, peteca e menino. [O examinador aponta os desenhos
conforme fala seus nomes correspondentes]. Eu vou dizer uma
palavra, e vocs devem escolher qual desenho comea com o mesmo
som que essa palavra. Por exemplo, olhem os desenhos dessa primeira
linha. Qual desenho comea igual a palavra cachorro? Itens de teste:
1) palavra falada: sala; figuras: pipa, luva, pincel, sapo, panda; 2)
bolo: bon, sorvete, pavo, joelho, leo; 3) galho: pizza, bala, vaso,
lpis, gato; 4) folha: porco, meia, lixo, fogo, pudim; 5) pra: garfo,
pena, leite, anel, selo. A Figura 2 exemplifica a aparncia dos itens,
no caso, o item 1.

Adio Silbica: O examinador pergunta como fica uma palavra


adicionando uma slaba, e a criana deve escolher o desenho
correspondente resposta correta. Instrues: Agora eu vou dizer
algumas palavras, e depois ns vamos colocar mais uma parte nessa
palavra, e vamos criar novas palavras. Vejam essas linhas. H cinco
desenhos em cada linha. Na primeira temos: menina, canguru, rdio,
torta e comeu [O examinador aponta os desenhos conforme fala seus
nomes correspondentes]. Eu vou dizer uma palavra e ns vamos
colocar mais um pedao nessa palavra, e vai dar um desses desenhos.
Por exemplo, a palavra meu. Como fica a palavra meu se eu
colocar o pedacinho co na frente? Fica comeu. Ento qual
desenho ns vamos marcar? O ltimo, o desenho do comeu. Itens de
teste: 1) fala: caco + ma no comeo; figuras: macaco, presente,
coruja, mala, chave; 2) fala: ladeira + ge no comeo; figuras: elefante,
batedeira, geladeira, papagaio, gnio; 3) fala: ch + pu no final;
figuras: panela, abajur, chinelo, chapu, pra; 4) fala: maca + rro no
final; figuras: macarro, balo, abelha, pipoca, camelo; 5) fala: boca
+ n no meio; figuras: coelho, caneta, boneca, bruxa, mgico. A
Figura 3 exemplifica a aparncia dos itens, no caso, o item 3.
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 700

Subtrao Silbica: O examinador pergunta como fica uma palavra


retirando uma slaba, e a criana deve escolher o desenho
correspondente resposta correta. Instrues: Agora vamos fazer um
jogo quase igual, mas ns vamos ver como fica uma palavra tirando
um pedao. Vou dizer algumas palavras, e depois ns vamos tirar uma
parte nessa palavra, e vamos criar novas palavras.
Vejam essas linhas. H cinco desenhos em cada linha. Na primeira
temos: colar, tubaro, cavalo, telefone e bandeira [O examinador
aponta os desenhos conforme fala seus nomes correspondentes]. Vou
dizer uma palavra e ns vamos tirar um pedao dessa palavra, e vai
dar um desses desenhos. Por exemplo, a palavra decolar. Como fica
a palavra decolar se eu tirar o pedacinho de? Prestem ateno:
decolar sem o de. Fica colar. Ento qual desenho ns vamos
marcar? O primeiro, o desenho do colar. Ento, desses cinco
desenhos, o que fica igual a decolar retirando o de o colar.
Ento vamos fazer um X no colar. Itens de teste: 1) fala: brincadeira
brin no comeo; figuras: escorpio, bota, brinco, urso, cadeira; 2)
fala: escola es no comeo; figuras: caderno, cola, ladro, caminho,
espada; 3) fala: pedra dra no fim; figuras: jacar, polvo, p,
bailarina, pedreiro; 4) fala: nota ta no fim; figuras: mscara, carro,
chorar, cabide, n; 5) fazenda zen no meio; figuras: fada,
amendoim, zebra, ferro, cogumelo. A Figura 4 exemplifica a aparncia
dos itens, no caso, o item 1.

Adio Fonmica: O examinador pergunta como fica uma palavra


adicionando um fonema, e a criana deve escolher o desenho
correspondente resposta correta. Instrues: Agora vou dizer

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algumas palavras, e depois ns vamos colocar mais uma parte nessa


palavra, e vamos criar novas palavras. Mas agora ns vamos colocar
uma parte pequena, apenas um som. Vamos olhar esta primeira linha.
Ns temos cinco desenhos em cada linha. Ns temos: cu, vassoura,
cco, vela e bermuda. [O examinador aponta os desenhos conforme
fala seus nomes correspondentes]. Eu vou dizer uma palavra e ns
vamos colocar mais um pedao nessa palavra, e vai dar um desses
desenhos. Por exemplo, a palavra ela. Como fica a palavra ela se
eu colocar o pedacinho /v/ na frente? Fica vela. Itens de teste: 1)
fala: oca + /f/ no comeo; figuras: flor, agulha, foca, caveira, macaco;
2) fala: oi + /b/ no comeo; figuras: injeo, nozes, banana, anjo, boi;
3) fala: sai + /a/ no meio; figuras: algemas, saia, galinha, violo,
cenoura; 4) fala: ms + /a/ no fim; figuras: fantasma, mesa, castelo,
estrela, morango; 5) fala: bo_a + /c/ no meio; figuras: abridor,
bombeiro, camiseta, banheira, boca. A Figura 5 exemplifica a
aparncia dos itens, no caso, o item 5.

Subtrao Fonmica: O examinador pergunta como fica uma palavra


retirando um fonema, e a criana deve escolher o desenho
correspondente resposta correta. Instrues: Agora vamos fazer um
jogo quase igual, mas ns vamos ver como fica uma palavra tirando
um pedao. Tambm vai ser um pedacinho pequeno, apenas um som.
Eu vou dizer algumas palavras, e depois ns vamos tirar uma parte
nessa palavra, e vamos criar novas palavras. Vejam essas linhas. H
cinco desenhos em cada linha. Na primeira temos: xcara, po, unha,
nariz e beringela. [O examinador aponta os desenhos conforme fala
seus nomes correspondentes]. Eu vou dizer uma palavra e ns vamos
tirar um pedao dessa palavra, e vai dar um desses desenhos. Por
exemplo, a palavra punha. Como fica a palavra punha se eu tirar o
pedacinho /p/, que o som do comeo? Prestem ateno: punha sem
o /p/. Fica unha. Ento qual desenho ns vamos marcar? O terceiro,
o desenho da unha. Ento, desses cinco desenhos, o que fica igual a
punha retirando o /p/ a unha. Ento vamos fazer um X na unha.
Itens de teste: 1) fala: milha - /m/ no comeo; figuras: alho, ilha,
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tapete, ncora, mamo; 2) fala: casa - /c/ no comeo; figuras: asa,


ventilador, cachorro, trem, cabelo; 3) fala: gatas - /s/ no final; figuras:
batata, gatas, escada, abacaxi, gata; 4) fala: casal - /l/ no final; figuras:
cobra, sola, carta, casa, palhao; 5) fala: pasto - /s/ mo meio; figuras:
pato, domin, pirulito, balano, peixe. A Figura 6 exemplifica a
aparncia dos itens, no caso, o item 4.

Transposio Silbica: A criana deve inverter as slabas de uma


palavra, escolhendo o desenho correspondente. Instrues: Vou dizer
uma palavra, e depois ns vamos falar essa palavra de trs para frente,
criando novas palavras. Mas agora vamos inverter cada som da
palavra. mais difcil, precisamos prestar mais ateno. Assim, eu
vou dizer uma palavra, e depois ns falar essa palavra de trs para
frente, e criando novas palavras. Vejam essas linhas. H cinco
desenhos em cada linha. Na primeira temos: corao, nado, golfinho,
filtro, navio. [O examinador aponta os desenhos conforme fala seus
nomes correspondentes]. Vou dizer uma palavra e ns vamos repetir
essa palavra, mas de trs para frente. Por exemplo, a palavra dona.
Como fica a palavra dona se eu falar de trs para frente? Prestem
ateno: dona tem duas partes: do - na. Eu vou falar comeando
pela ltima parte, pelo na. Ento vai ficar na - do, nado. Ento
qual desenho ns vamos marcar? O desenho do nado. Assim, desses
cinco desenhos, o que fica igual a dona de trs para frente nado.
Ento vamos fazer um X no nado. Itens de teste: 1) fala: fao; figuras:
roda, flecha, chupeta, cala, sof; 2) fala: tapa; figuras: bola, pente,
foguete, pata, tatu; 3) fala: lobo; figuras: bolo, limo, borboleta, mo,
janela; 4) fala: cabo; fiuras: culos, boca, rob, caju, bolacha; 5) fala:
cava; figuras: faca, nuvem, relgio, vaca, caracol. A Figura 7
exemplifica a aparncia dos itens, no caso, o item 3.

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Transposio Fonmica: A criana deve inverter os fonemas de uma


palavra, escolhendo o desenho correspondente. Instrues: Vejam
essas linhas. H cinco desenhos em cada linha. Na primeira temos:
ol, orelha, olho, freira e sol. [O examinador aponta os desenhos
conforme fala seus nomes correspondentes]. Vou dizer uma palavra e
ns vamos repetir essa palavra, mas de trs para frente, invertendo
cada som. Por exemplo, a palavra al. al tem 3 sons: a - l - o.
Eu vou comear a falar do ltimo som. a - l - o. Vou comear do
o. Vai ficar: o - l - a. Vai dar ol. Ento qual desenho ns
vamos marcar? O desenho do ol. Assim, desses cinco desenhos, o
que fica igual a al de trs para frente ol. Ento vamos fazer
um X no ol. Itens de teste: 1) fala: alas; figuras: aqurio, batom,
sala, sino, lanterna; 2) fala: ol; figuras: bu, elo, ovo, livro, luz; 3)
fala: aias; figuras: pia, sapato, cruz, saia, p; 4) fala: ova; figuras:
avio, ch, vela, gravata, av; 5) fala: ocas; figuras: saco, rosa, uva,
sinal, boto. A Figura 8 exemplifica a aparncia dos itens, no caso, o
item 4.

Trocadilhos: O examinador diz duas palavras com os fonemas


iniciais trocados. A criana deve inverter os fonemas, corrigindo as
palavras, e ento escolher o desenho correspondente. Instrues: Vou
dizer duas palavras, mas eu vou dizer de uma forma engraada. Eu
vou falar as palavras de um jeito errado. Vou trocar os sons do
comeo dessas palavras. Vou colocar o som de uma palavra na outra
palavra. Ento vai ficar errado. Vocs tm que adivinhar o que eu
estou dizendo. Vejam essas linhas. H cinco desenhos em cada linha,
cada desenho representa uma frase com duas palavras. Na primeira
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temos: colar papel, subir na parede, ave, pescar peixe, e pular corda.
[O examinador aponta os desenhos conforme fala a frase
correspondente]. Eu vou dizer: cular porda. Estou falando um
desses desenhos, mas em cdigo secreto. Estou trocando os sons do
comeo. Prestem ateno: cular porda. Vocs acham que cular
porda colar papel trocando os sons? No. cular porda subir
na parede trocando os sons? No. cular porda ave trocando os
sons? No. cular porda pescar peixe trocando os sons? No.
cular porda pular corda trocando os sons? Sim! Prestem ateno
nos sons: cular porda e pular corda. So parecidos, no? Eu
troquei os sons do comeo. cular e pular; e porda e corda.
Entenderam? Ento cular porda pular corda. Ento vamos fazer
um X no pular corda. Itens de teste: 1) fala: botar tanho; figuras:
sentir vento, atrapalhar a menina, frutas, tomar banho, boneca; 2)
fala: cazer fonta; figuras: tirar foto, casa, fazer conta, atravessar
ponte, fonte; 3) fala: vomar tacina; figuras: tomar vacina, piscina,
votar, tartaruga, beber gua; 4) fala: paca vintada; figuras: vinte, jogar
vlei, vaca pintada, fazer po, capivara; 5) fala: fogar jutebol;
figuras: afogar, jogar futebol, jogar golfe, lutar jud, fogo. A Figura
9 exemplifica a aparncia dos itens, no caso, o item inicial de treino.

Alm da Prova de Conscincia Fonolgica por Escolha de


Figuras (PCFF) foram tambm empregados os seguintes instrumentos:
1.) Teste de Compreenso de Leitura de Sentenas (TCLS: F.
Capovilla, Viggiano, A. Capovilla, Raphael, Bid, Neves, & Mauricio,
2004) para o diagnstico diferencial de distrbio de aquisio de
leitura. composto de seis itens de treino e de 40 itens de teste
arranjados em ordem de dificuldade. Em cada item, a criana deve
escolher e marcar com um X, dentre cinco figuras alternativas, aquela
que corresponde sentena lida.
2.) Prova de Escrita sob Ditado de itens isolados (PESD: A.
Capovilla & F. Capovilla, 2003). composta da lista de 72 itens
psicolingsticos de Pinheiro (1994) e de critrios de correo
estabelecidos, validados e normatizados por A. Capovilla e F

704
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Capovilla (1998a). Dos 72 itens, 24 eram regulares, 24 regra, 24


irregulares, 24 palavras de alta freqncia, 24 de baixa freqncia e 24
pseudopalavras. Destas, 36 eram bisslabos e 36 eram trisslabos. Foi
feita anlise quantitativa de erros, ou seja, a freqncia de erros total e
por tipo de item, ou seja, lexicalidade (i.e., palavra ou pseudopalavra),
regularidade grafofonmica (i.e., regular, regrado por posio ou
irregular), freqncia (i.e., alta ou baixa) e extenso (i.e., duas ou trs
slabas). Nas pseudopalavras, diferentes escritas foram consideradas
como corretas desde que a pronncia resultante estivesse de acordo
com a forma fonolgica ditada pelo aplicador (e.g., para /ezal/ foram
consideradas corretas as formas ezal, esal, ezau e esau).
3.) Teste de Competncia de Leitura Silenciosa de Palavras
(TCLP: F. Capovilla, Viggiano, A. Capovilla, Raphael, Mauricio, &
Bid, 2004) para avaliar o estgio de desenvolvimento da leitura.
Trata-se de instrumento psicomtrico porque permite avaliar o grau de
desvio de cada criana em relao ao seu grupo de referncia (em
termos de idade e escolaridade) e neuropsicolgico cognitivo porque
permite interpretar os dados da criana em termos de modelo de
desenvolvimento da leitura e da escrita e verificar a fase de
desenvolvimento da leitura e as estratgias de leitura que prevalecem
em seu desempenho. Consiste em oito itens de treino e 70 de teste,
cada qual com um par composto de uma figura e de um item escrito.
A criana deve marcar um X nos pares figura-escrita incorretos. H
sete tipos de pares distribudos aleatoriamente ao longo do teste em
palavras corretas regulares (e.g., figura: fada; escrita: fada) palavras
corretas irregulares (e.g., xadrez; xadrez), palavras com incorreo
semntica (e.g., nibus; trem), pseudopalavras com trocas visuais
(e.g., cabea; caeba), pseudopalavras com trocas fonolgicas (e.g.,
canguru; cancuru), pseudopalavras homfonas (e.g., boxe; bquisse) e
pseudopalavras estranhas (e.g., xarope; pazido), com dez itens de teste
para cada tipo de par.
4.) Teste de Vocabulrio por Figuras USP (Tvfusp: F. Capovilla
& A. Capovilla, no prelo b). Trata-se de teste de mltipla escolha
baseado no Teste de Vocabulrio por Imagens Peabody: Adaptao
Brasileira (L. Dunn, D. Dunn, F. Capovilla, & A. Capovilla, 2004a,
2004b) que avalia o grau de desenvolvimento do vocabulrio
receptivo auditivo. Seus resultados podem ser interpretados como
indicativos do rendimento e aptido escolstica. Consiste em cinco
itens de treino e 139 de teste, cada qual com quatro alternativas
compostas por uma figura. A criana deve marcar um X na figura que
representa a palavra dita em voz alta pelo examinador.
5.) Teste de Compreenso Auditiva de Sentenas (TCAS: F.
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 706

Capovilla & A. Capovilla, no prelo c). Consiste em seis itens de treino


e 40 itens de teste arranjados em ordem crescente de dificuldade. A
cada item, a criana deve escutar a sentena dita em voz alta pelo
examinador, escolher e marcar com um X, dentre cinco figuras
alternativas, aquela que melhor corresponde sentena ouvida.

Procedimento
Uma amostra de 210 alunos recebeu a Carta de Informao e o
Termo de Consentimento. Os professores ficaram encarregados de
receber as autorizaes j preenchidas. Das 210 cartas entregues, 116
retornaram. Foram determinados junto direo da escola e aos
professores os horrios de aplicao dos testes. Os 116 escolares
foram submetidos Prova de Conscincia Fonolgica por Escolha de
Figuras, bem como a outros cinco testes, na seguinte oredem: TCLS,
PESD, TCLP, Tvfusp, PCFF, TCAS.

Resultados

Efeito da srie escolar sobre escore geral na PCFF

A Figura 1 representa o efeito da srie escolar sobre a pontuao


na PCFF. Conforme a figura, a pontuao na PCFF tambm foi funo
crescente direta da srie escolar. Anova da pontuao no PCFF como
funo da srie escolar revelou efeito significativo, F (2, 113) = 8,96,
p < 0,000. Anlises de comparao de pares pelo teste conservador de
Bonferroni revelaram que a pontuao na 3 srie (39,38) foi
significativamente maior do que na 1 srie (32,21).

Figura 1. Efeito da srie escolar sobre a pontuao na PCFF.

706
Temas multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem 707

Efeito da srie escolar sobre escores nos subtestes da PCFF

A Figura 2 representa o efeito da srie escolar sobre a pontuao


em dois subtestes da PCFF: Subtrao Silbica ( esquerda) e Adio
Fonmica ( direita). Conforme a figura esquerda, a pontuao de
Subtrao Silbica aumentou com a srie escolar. Anova revelou
efeito significativo, F (2, 113) = 5,85, p = 0,004. Anlises de
comparao de pares de Bonferroni revelaram que a pontuao na 3
srie (3,91) foi significativamente maior do que na 1 srie (2,76).
Conforme a figura direita, a pontuao de Adio Fonmica tambm
aumentou com a srie escolar. Anova da revelou efeito significativo, F
(2, 113) = 8,50, p < 0,000. Anlises de comparao de pares de
Bonferroni revelaram que a pontuao na 1 srie (3,76) foi
significativamente menor que na 2 (4,69) e 3 sries (4,67).
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 708

Figura 2. Efeito da srie escolar sobre a pontuao nos subtestes da


Prova de Conscincia Fonolgica por Escolha de Figuras (PCFF):
Subtrao Silbica ( esquerda), e Adio Fonmica ( direita).

A Figura 3 representa o efeito da srie escolar sobre a pontuao


em dois outros subtestes da PCFF: Subtrao Fonmica ( esquerda) e
Transposio Silbica ( direita). Conforme a figura esquerda, a
pontuao de Subtrao Fonmica aumentou com a srie escolar.
Anova revelou efeito significativo, F (2, 113) = 7,18, p = 0,001.
Anlises de comparao de pares de Bonferroni revelaram que a
pontuao na 1 srie (3,21) foi significativamente menor que na 2
(3,98) e 3 sries (4,29). Conforme a figura direita, a pontuao de
Transposio Silbica tambm aumentou com a srie escolar. F (2,
113) = 3,98, p = 0,021. Anlises de comparao de pares de
Bonferroni revelaram que a pontuao na 3 srie (4,40) foi
significativamente maior que na 1 srie (3,59).

708
Temas multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem 709

Figura 3. Efeito da srie escolar sobre a pontuao nos subtestes da


PCFF: Subtrao Fonmica ( esquerda), e Transposio Silbica (
direita).

A Figura 4 representa o efeito da srie escolar sobre a pontuao


em ainda outros dois subtestes da PCFF: Transposio Fonmica (
esquerda) e Trocadilho ( direita). Conforme a figura esquerda, a
pontuao de Transposio Fonmica aumentou com a srie escolar. F
(2, 113) = 6,21, p = 0,003. Anlises de comparao de pares de
Bonferroni revelaram que a pontuao na 3 srie (4,24) foi
significativamente maior que na 1 srie (3,28). Conforme a figura
direita, a pontuao de Trocadilho tambm aumentou com a srie
escolar. Anova revelou efeito significativo, F (2, 113) = 5,03, p =
0,008. Anlises de comparao de pares de Bonferroni revelaram que
Ribeiro do Valle, L. E.; & Capovilla, F. C. 710

a pontuao na 3 srie (4,27) foi significativamente maior que na 1


srie (3,45).

Figura 4. Efeito da srie escolar sobre a pontuao nos subtestes da


PCFF: Transposio Fonmica ( esquerda), e Trocadilho ( direita).

Foram, tambm, observadas correlaes positivas significativas


entre os escores gerais de todos os testes, sendo que quanto maior a
pontuao em conscincia fonolgica (PCFF), maior a pontuao em
competncia de leitura (TCLP), a compreenso auditiva de sentenas
(TCAS), a compreenso de leitura de sentenas (TCLS), o vocabulrio
receptivo auditivo (Tvfusp), e a escrita sob ditado (PESD).

Discusso
O advento da PCFF permite avaliar a conscincia fonolgica de

710
Temas multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem 711

escolares na situao coletiva de sala de aula, bem como avaliar


escolares com paralisia cerebral. Nesse estudo exploratrio, as
evidncias preliminares acerca da validade da primeira verso da
PCFF so encorajadoras, e motivam sua normatizao, que j est em
curso. O estudo mais amplo, com uma amostra de 4 mil estudantes,
permitir aperfeioar a prova, com a eliminao dos itens e dos
subtestes menos discriminativos. Neste estudo exploratrio com uma
amostra preliminar foi observado que, dos nove subtestes que
compem a PCFF, seis deles se mostraram discriminativos da srie
escolar. Foram eles subtrao silbica e fonmica, adio fonmica,
transposio silbica e fonmica, e trocadilho. Os trs subtestes que
no se mostraram sensveis srie escolar foram rima, aliterao e
adio silbica. Esses trs testes produziram efeito de teto, o que
sugere sua maior adequao para crianas menores na educao
infantil. Tais dados da PCFF corroboram os achados da PCFO quanto
maior adequao das tarefas de rima, aliterao e adio silbica
para crianas menores no ensino infantil, e a de tarefas mais
fonmicas para escolares do ensino fundamental (A. Capovilla & F.
Capovilla, 1997, 1998a, 1998b; A. Capovilla, F. Capovilla, & Silveira,
1998). Isso sugere a adequao da estratgia de eliminar essas tarefas
na avaliao de alunos do ensino fundamental, e de limitar seu
emprego avaliao de crianas na educao infantil. Com essa
indicao, a extenso do teste ser reduzida em 1/3 (i.e., apenas 60
itens em vez de 90), permitindo reduzir substancialmente o tempo da
avaliao e aumentar ainda mais a sensibilidade, validade,
fidedignidade e eficincia da PCFF.

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Temas multidisciplinares de Neuropsicologia e Aprendizagem 713

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