Apostila de Espirito Santo
Apostila de Espirito Santo
Apostila de Espirito Santo
[...] o alvará da dita doação da dita ilha ou leziria de Santo Antônio e, feito o dito alvará
por sua própria pessoa, lhe fora a pegar a dita ilha e lhe dera corporalmente posse atual,
civil e natural, e como senhor e governador da terra o incorporou na posse da dita ilha e,
em pessoa dele, Vasco Fernandes Coutinho, ele, Duarte de Lemos, dera logo às pessoas
e moradores da terra grandes partes de sesmarias das terras da dita ilha para
aproveitarem e a povoarem, fazendo fazenda para si como em cousa própria, forra e
isenta do dízimo a Deus [...]
hidroavião e a Ilha das Caeiras, por ser terreno mais espraiado. Consta que ergueu casa
na parte mais alta da Ilha e ao seu lado uma igreja, que viria a ser o patrimônio mais
antigo existente em Vitória, a Igreja de Santa Luzia. Uma ocupação rarefeita, já que o
nobre tinha posses em outros locais do Brasil, e que foi sobrepujada, quando nosso
Donatário para cá transferiu a sede da capitania.
A data oficial de fundação da Vila foi estabelecida no dia 8 de setembro de 1551, mas
documentos provam que a Vila já estava fundada desde 1550, provavelmente entre
fevereiro e março desse ano, ou fins de 1549.
De 1550 é o predicamento de vila dado à povoação, que tomou o nome de Vila da
Vitória. Tal fato teria ocorrido antes de três de março daquele milésimo, pois dessa data
existe uma provisão passada por Antonio Cardoso de Barros, “Provedor-mor da
Fazenda de El Rei Nosso Senhor nestas partes do Brasil”, onde se lê: “ Faço saber aos
que esta virem, que por nesta Villa da Victória Província do Espírito Santo Capitania de
Vasco Fernandes Coutinho ...”
A tradição reza, que foi o triunfo alcançado pelos ilhéus a 8 de setembro de 1551, na
maior batalha contra os índios e sua conseqüente expulsão da ilha , que teria dado o
nome a Vila Nova, como passa a ser popularmente conhecida até o século XIX.
Consta por tradição que Vasco Fernandes Coutinho, vendo-se de continuo inquietado
pelo gentio, juntara suas forças, expulsára o Gentio da maior ilha que estava na baia,
uma legoa acima da villa, n’ella se estabelecêra, e fundara a villa denominada da
Victória, tendo neste logar alcançado a maior vitória, por isso como tropheo, assim a
denominou: não consta o anno d’este acontecimentos; porém sim que no anno de 1551
o padre Affonso Braz, da companhia de Jesus, [...], dêo principio a fundar o Collegio na
Villa da Victória, n’ella foi sepultado o venerável padre José de Anchieta em 9 de julho
de 1597, hoje serve de casa de residência do Governo, o que prova já neste anno estar
fundada a villa.
Em 1572, quando da divisão da colônia em dois governos, o Espírito Santo foi
localizado, junto com Porto Seguro, na Repartição do Sul. Vitória contava, nesse
período, com 1.390 “fogos”, como se chamavam as casas residenciais que comportavam
fogões à lenha.
O Colégio dos Jesuítas, também conhecido como Colégio de São Thiago, aparecia
como a principal edificação da ilha durantes os séculos de história de Vitória. Ele
abrigou Tomé de Souza, então Governador Geral do Brasil, em 1552, que lá se
hospedou, assim como todas as autoridades que visitaram o Espírito Santo, inclusive o
Imperador Pedro II em 1860. Daí partia também a maior parte das mobilizações para a
defesa da Capitania contra os invasores estrangeiros, sendo o índio o principal
combatente dos batalhões formados.
Em 1581, quando três naus francesas investiram contra a vila, foram os catecúmenos
aldeiados pelos inacianos que saíram a campo em defesa da terra, matando e ferindo a
muito dos assaltantes. “Os moradores, atemorizados, não acharam quem os defendesse
senão quase só, diz Anchieta, os índios das aldeias jesuíticas”.
Desde o ano de 1704, através da Bahia, vinham ordens rigorosas de Portugal para que
não houvesse migração de capixabas em direção às minas, e que os que lá estivessem,
fossem recambiados à capitania.
Racionalmente, o primeiro ouro descoberto na região, nos fins do século XVII, pelo
paulista Domingos José Arzão, na área conhecida como “Casa do Casca”, foi trazido
para registro pelo caminho mais fácil, na vila de Vitória.
valiam até 800$000 ( oitocentos mil reis), demonstra que existem fortunas significativas
na cidade de Vitória, pois possuí-los demanda capital.
[...] Posse de escravo era sempre indicio de prosperidade. Assim, no fim do século
dezoito, a cidade é pobre mas a população remediada. Importam-se mercadorias no
valor de 21:267$840 [contos de reis], e exportam-se 45:668$480, saldo belíssimo ,
senão em valor, em percentagem altamente abonadora. A maior parcela de importados é
de tecidos:[...] panos de linho, cambraias e sedas. Segue-se o sal, monopólio da Coroa,
[...]; e o vinho a 76$800 a pipa, num total de [...] 16 pipas, [..].
núcleos urbanos do interior brasileiro, como pude constatar na descrição dos viajantes
estrangeiros, da primeira metade do século XIX,
[...] caracterizava-se por um aspecto descuidado, sendo imprecisos os limites entre a
zona rural e urbana. Boa parte da população vivia em chácaras cujos limites chegavam à
cidade. A maioria das casas era construída de taipa, segundo a tradição colonial [...] Nas
cidades do interior os únicos edifícios dignos de registro eram as igrejas e conventos
(grifo meu), e mais raramente os edifícios da Câmara e cadeia [...] Dada a falta de
esgotos, os dejetos eram despejados nos ribeirões ou no mar [...] Apenas nas cidades
mais importantes havia assistência hospitalar e essa era, em geral, fornecida pelas
Santas Casas, instituições religiosas filantrópicas, de caráter paternalista, inspiradas na
tradição de caridade cristã, típica do catolicismo. Entre seus patrocinadores figuravam
representantes dos setores mais ilustres da sociedade local que a amparavam através de
doações pessoais ou subvenções estatais, obtidas graças ao seu prestígio junto ao
governo (grifo meu) [...].
Impressionante, no entanto, foi o relato que reproduzimos a seguir, de obra que se
propôs realizar a história da Ilha, em referência a primeira metade do século XIX, e que
representava bem, a falta de um olhar mais amplo e cientifico sobre as condições
urbanísticas das cidades brasileiras de então.
Vitória foi tipicamente cidade colonial portuguêsa. [...] Como moravam mal os
capixabas, como se submetiam pacificamente aos azitumes descritos pelas mulas em
suas caminhadas obrigatórias! A geometria só apareceu com a República. [...]
Raríssimas casas tinham janelas em todas as peças. [...] Uma ou outra tinham sacadas
guarnecidas de gradis de ferro batido, apainelados, cujos parapeitos se rematavam com
pinhas de vidros coloridos. [...] Cidade suja, sem esgotos, as fezes eram guardadas em
tonéis de madeira à espera do despejo, à noite. [...] A fama da cidade suja deslustrou,
por muitos anos, o nome da capital e do estado. A pobreza havia crescido
assustadoramente (grifo meu).
A elite capixaba e seus filhos, na maior parte formados nas escolas e faculdades da
cidade do Rio de Janeiro, partem dessa cidade, capital do Reino Unido e depois do
Império, para estabelecer comparações com Vitória, muitas vezes “cegos” a real
situação da cidade carioca, deslumbrados com o aparato das celebrações teatrais da
Corte e do Império.
Para estabelecermos comparações mais pertinentes apreciemos então uma descrição, do
inicio do século XIX, da sede do governo do Estado do Brasil.
Do Rio de Janeiro, [...], pode-se dizer que preservava as características de uma quase
aldeia ao encerrar-se o período colonial. Ruas estreitas, escuras, e sujas; não havia
remoção de lixo, sistemas de esgoto, qualquer noção de higiene pública. As casas eram
térreas em sua maioria, [...] Obras públicas, somente o passeio público e o Aqueduto da
Carioca.
As diferenças com a paisagem do Rio de Janeiro se aprofundaram a partir de 1840,
devido a fatores que se somaram em prol do desenvolvimento da capital do Império.
Iniciou-se com a comercialização do ouro e concretizou-se com a vinda da família real,
a proclamação da Independência pelo Príncipe Regente, que deslocou todo eixo político
para o centro-sul, a produção cafeeira e sua transformação em principal porto do Brasil.
São 266 mil habitantes, no final da década de 1840, que desfrutavam de faculdades,
teatros com apresentações de companhias internacionais, uma vida cultural diversificada
e europeizada, mercado interno consumidor representativo e o maior centro de
exportações e importações do país.
Reforçando essa representação, referencio-me a Luiz Felipe de Alencastro , que mostra
o Rio de Janeiro como padrão comportamental para todo o Brasil, na transição dos
8
criadas pelo Ato adicional, em 1834. No Espírito Santo, a Assembléia teve sua primeira
sessão em 1835, presidida pelo padre João Clímaco.
A REVOLTA DE QUEIMADO
O processo imigratório no estado foi caracterizado pela presença dos Núcleos Coloniais,
localizados, principalmente, na região central de Vitória, em terrenos de serra, que não
interessavam aos grandes proprietários.
Um dos fatos mais importantes para a província, à visita de Pedro II a Vitória, em 1860,
provocou modificações na cidade. O porto dos padres e o cais das Colunas foram
remodelados e ampliados, as ruas e becos foram limpos, os moradores caiaram suas
casas, adquiriram mobílias novas, enfeitaram suas fachadas, o palácio do governo foi
restaurado para receber sua majestade imperial.
11
europeus.
A República também representou uma nova configuração na organização administrativa
no Brasil. Com a criação do sistema federalista, as antigas províncias tornam-se estados.
As municipalidades passam a contar, em algumas cidades, com uma prefeitura.
Em Vitória cria-se o Conselho Municipal em 1893, a partir da Constituição Estadual de
1892, sendo formado por nove membros que recebem o titulo de governadores.O
Conselho seguia um regimento interno de 24/01/1893 e pelo Decreto nº. 05 de
23/01/1893 destinou 48% de seu orçamento, extraído da regulamentação da cobrança de
imposto predial, para as obras públicas. O presidente do Conselho funcionava como
poder também executor, acumulando o cargo de prefeito ainda inexistente.
O Conselho Municipal também organiza serviço de limpeza pública e coleta domiciliar
de lixo, além do saneamento de valas e banhados, ordenação do abastecimento de
carnes, melhorias da Vila Rubim e, ainda, abre novos bairros como o loteamento do
Campinho ( atual Parque Moscoso).
O processo urbano-modernizador de Vitória, considerando suas especificidades em
relação ao Brasil e ao mundo, já que esse processo aqui inicialmente não esta associado
a industrialização, apesar dos esforços de diversificação de Jerônimo Monteiro, esteve
diretamente ligado a formação de uma praça comercial que convergisse para si a função
de escoar a produção do café, não somente do estado mas também da área centro-oeste e
de Minas.
E para que essa praça comercial fosse criada, o estado precisava sistematizar as políticas
urbanizadoras e a gestão das demandas municipais com maior agilidade e via
centralização político administrativa. Tal demanda consubstanciou-se na criação do
órgão gestor da modernização paisagística da capital do estado, a prefeitura de Vitória,
em 1908. Em resumo, a política urbanizadora capixaba centralizou suas ações na
capital, tendo nos governos Moniz Freire, Jerônimo Monteiro e Florentino Avidos, seus
principais executores.
O conceito de modernização das cidades dos políticos capixabas no início do século XX
esteve voltado para o paisagismo e a salubridade, condições básicas para o novo status
citadino, influenciado pelo crescimento da área da saúde e higiene pública. A cidade, no
nosso caso Vitória, para as elites dirigentes do país e do estado era, parafraseando
Jerônimo Monteiro, “a sala de visitas” do Espírito Santo.
Outra constatação importante para se entender a constituição urbana de Vitória é a sua
função burocrático-administrativa. Antes da efetiva consolidação de sua região
produtiva na área serrana do interior, a cidade se notabilizava por sua função política de
sede administrativa da Província do Espírito Santo. “Fica implícita, nesta colocação, a
outra facies da cidade, [...] vista como locus da autoridade político-administrativa ou
[...] sede da burocracia do Governo” .
A dinâmica política, econômica e social de Vitória girou em torno dessa face
burocrática por um longo período de sua história. Mesmo que tentativas de fazendas e
aldeamentos jesuíticos tivessem tido relativo sucesso na Capitania, após a expulsão dos
padres da Companhia de Jesus (no século XVIII) até os primeiros anos da República
(no final do século XIX) a vida urbana da capital esteve ligada, essencialmente, a esse
aparato governamental .
Este quadro, contudo, toma outro rumo quando se ampliam as atividades do comércio,
em razão da expansão da lavoura cafeeira na região produtiva de Vitória . Esta região –
ocupada em grande parte por imigrantes europeus e baseada na pequena propriedade de
mão-de-obra familiar – torna-se uma importante produtora de café, chegando a se
responsabilizar por até 40 por cento da safra provincial.
É o primeiro boom do café, período no qual a cidade de Vitória experimenta um relativo
13
Nas décadas seguintes, em continuidade a esse processo, foi desenvolvida uma série de
projetos urbanísticos, planos e obras públicas com a intenção de retificar, ampliar e
alongar percursos, além de criar novos espaços públicos sobre o traçado colonial da
cidade ou em seu prolongamento. As transformações urbanas em Vitória, que ocorreram
nas primeiras décadas do século XX foram motivadas
[...]muito mais pelo pensamento de progresso da elite dominante que assumiu o poder
na República e pelo desejo de romper com um passado considerado vergonhoso, do que
propriamente pela procura de soluções para dotar a cidade de melhorias para a vida de
sua população. [...] Assim, no governo de Jerônimo Monteiro, as necessidades de
mudanças na cidade encontraram eco no pensamento da elite dirigente do Estado.
O Espírito Santo passou a discutir sérios projetos de desenvolvimento com a nomeação
e eleição de Presidentes de Estado nascidos capixabas, ou como no caso de Florentino
Avidos, envolvidos seriamente com os destinos regionais. Discutiam-se os rumos
futuros a seguir e os projetos de desenvolvimento regional. O quadriênio que vai de
1924 a 1928 é especialmente profícuo neste sentido. Refere-se aos anos do governo de
Florentino Avidos.
Vários foram os projetos políticos que envolveram o desenvolvimento do porto de
Vitória, crucial na independência comercial do estado do Rio de Janeiro, que realiza
pelo seu porto a exportação de grande parte do café produzido na região sul capixaba,
que tinha a cidade de Cachoeiro do Itapemirim como seu centro econômico.
Apesar da construção das estações das estradas de ferro Sul do Espírito Santo, em 1895,
e da Vitória Minas, em 1902, o que reforçava a corrente dos favoráveis a construção do
porto no continente, os políticos capixabas optaram pela construção na parte insular.
15
Essa opção política se esboçava desde o império com o fortalecimento da elite local que
se esforçava em conseguir sua independência comercial do Rio de Janeiro e que sabia
que isso só aconteceria com a construção de um porto que colocasse nossa produção
agrícola no mercado internacional.
A ilha era o ponto estratégico para a construção do porto, porque os governos capixabas
pensavam em desenvolver a capital e ampliar o sítio urbano da cidade, e Vitória como
capital já tinha estrutura comercial local. [...] Um porto traz conceitos e tradições de
negociações; esta tradição divulga o porto e consequentemente a cidade de origem. [...]
Na época, a localização do porto em Vitória representava um impulso sócio-econômico
para a capital.
Nesse novo plano de obras, aprovado pelo decreto nº. 7.994 de 12 de maio de 1910, a
ponte teria seu inicio na linha ligando o extremo do cais do porto na Avenida Schmidt à
ilha do Príncipe, contornando esta pelo seu lado extremo leste e deste ponto, ao
continente, próximo a estação de ferro Vitória a Minas.
As obras iniciadas no governo Jerônimo Monteiro (1908 a 1912) em 1911, foram
paralisadas em 1914, devido a Primeira Guerra Mundial, sem qualquer tentativa de
construção da ponte de ligação entre Vitória e o continente.
Jerônimo Monteiro, que tinha sido Presidente do Estado entre 1908 a 1912, disputava
com seu irmão Bernardino Monteiro, também presidente entre 1916 a 1920, a direção
política capixaba. A eleição de Nestor Gomes representou a vitória da corrente de
Bernardino, colocando Jerônimo na oposição, o que dificultou a execução de muitos
projetos nesse período, pela grande projeção política que tinha Jerônimo Monteiro.
Com a aproximação das eleições de 1924 a cisão entre os irmãos Monteiro se ampliava
colocando em risco os projetos de desenvolvimento da capital e do próprio estado do
Espírito Santo. O nome de Florentino Avidos, cunhado dos irmãos Monteiro,
representou a PAZ entre as correntes divergentes.
16
O novo contrato então tratado entre o Governo do Estado e o Governo Federal na gestão
Nestor Gomes, só veio a ser entregue ao estado na gestão do governador Florentino
Avidos, em 7 de setembro de 1925.
A ponte Florentino Avidos permaneceu durante 50 anos como a única ligação entre
Vitória e o continente pelo seu lado sul. Mesmo a ponte da Passagem, que liga Vitória
ao continente pelo lado norte, nunca teve a magnitude da ponte metálica.
Nos anos 40, os aterros e a valorização das áreas urbanas da capital devido ao
crescimento da população e do comércio incitam “diferenciações espaciais nas áreas
centrais de Vitória com reflexo nos preços dos terrenos.” A região do atual Parque
Moscoso é exemplo disso.
Foi onde primeiro começou a se evidenciar a diferenciação espacial, pois ali veio a
predominar a localização de pessoas de maior renda daquele momento. A consolidação
de sua ocupação ocorre nos anos 40 e se estende pelas ruas Dom Fernando, Padre
Nóbrega e Uruguai.
Jones dos Santos Neves ( 1950 a 1954), de forma mais objetiva que os anteriores,
executou aterro destinado exclusivamente à implantação de edifícios.
[...] Isso tudo repercute na saída do centro, da elite que ali residia e que se transfere para
a ‘nova cidade’, construída pelo setor imobiliário na zona norte, junto às praias, que se
torna a área nobre da cidade.
Ainda na segunda metade do século XX, a economia do Espírito Santo era totalmente
centrada no café. Vale ressaltar que:
[...]por volta de 1950 a população urbana representava apenas 20% da população total
do Estado e que só a partir dos anos 70 vai-se sobrepor à rural, vindo a representar 67%
da população total em 1980.
No Espírito Santo não existia segundo produto que pudesse competir com o café,
cultivado em grandes e pequenas propriedades, essas últimas com o trabalho familiar, e
a produção destinada ao mercado externo.
Paralelamente à atividade agrícola, as indústrias do centro hegemônico do país
buscavam novos mercados, produzindo implementos para modernização do campo. O
consenso vigente acreditava que a agricultura "atrasada" constituía fator de entrave para
o desenvolvimento. Era preciso, segundo esse pensamento corrente na época,
modernizar o campo, seja com o uso de novas técnicas, isto é, desenvolvimentos de
máquinas e insumos, seja promovendo mudanças nas relações de trabalho, para que se
pudesse aspirar a qualquer alternativa de progresso.
No Espírito Santo as mudanças no campo não foram imediatas, nem ocorreram pelo
intenso emprego das máquinas. O café aqui era plantado sem técnica (morro abaixo),
era velho e de baixa produtividade. Com a crise nos preços internacionais do produto a
partir de 1956, a política federal de erradicação dos cafezais, a primeira iniciada em
1962 e a segunda em 1966, teve grande aceitação no Estado, visto que ao produtor não
restava alternativa.
A forma como era cultivado o café e os preços internacionais desfavoráveis acarretaram
mudanças na agricultura capixaba. Foi no bojo dessa crise que se processaram
mudanças no campo. O café deu lugar à pecuária, ao reflorestamento e mais tarde à
cana-de-açúcar, que trouxeram concentração fundiária e mudanças nas relações de
trabalho, com a criação de um acentuado êxodo rural.
Na cidade a alternativa perseguida para a recuperação econômica do Estado foi a via da
industrialização.
Se, a partir da década de 60, se inicia a modernização do campo, a capital capixaba
passa a ter acesso fácil e rápido com as demais cidades do país. Rompem-se os limites
das fronteiras regionais. Vive-se o momento da instalação de empreendimentos de fora
no Estado, seja do setor industrial, seja do comercial ou de prestação de serviços.
Nesse período, o Espírito Santo beneficia-se das propostas do II Plano Nacional de
Desenvolvimento, de descentralização industrial, criado pelo governo federal, que tem
como estratégia conter os fluxos migratórios para os grandes centros, industrializando
as cidades de porte médio. As lideranças estaduais se articulam e conseguem atrair a
implantação dos Grandes Projetos Industriais para a Grande Vitória.
As mudanças no campo, desencadeadas com a erradicação do café na década de 60, e o
processo de industrialização iniciado a seguir, vão dar os traços do novo contexto que o
Espírito Santo passa a viver.
A Grande Vitória se apresentou como alternativa mais viável, dentre as cidades do
Estado, como opção de vida e oportunidade de trabalho para os que deixaram o campo e
viram em busca dos empregos que seriam gerados pela produção industrial concentrada
20
O que temos certeza é que o imaginário criado sobre o centro, que historicamente se
coloca na modernização do século XX como o embate entre o velho e o novo, deve ser
resgatado através do conhecimento sobre a região. A população do município deve ser
levada a conhecer e valorizar o centro de Vitória para que possamos, consequentemente,
valorizar a História do Espírito Santo e da capital, escrita nesse belo pedaço de ilha do
século XVI até os nossos dias.