Cemitério de Alemães, Versão Retificada

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Breve Relato Histrico Sobre a Fundao da Igreja Presbiteriana

e Construo do Cemitrio de Protestantes de Cachoeira Bahia

Luiz Cludio Dias do Nascimento

A partir de 1860, europeus provenientes da Inglaterra, Alemanha e Sua, de orientao


religiosa luterana e calvinista principalmente, chegaram ao Recncavo baiano, motivados com
a implantao da Tram Road of Paraguau Estrada de Ferro do Paraguau - e com a
industrializao e manufatura de fumos. Nessa poca, a cidade de Cachoeira experimentava
um momento de significativas tenses sociais em torno da abolio da escravatura, e tambm
como uma cidade onde ocorria um expressivo processo de consolidao de expanso urbano-
industrial, iniciado naquele sculo, que refletiria na sua definio e modernizao espacial.

O processo de industrializao e modernizao, no entanto, teria conseqncias: ele


coagiria a populao pobre e negra a se agruparem em ncleos residenciais em zonas recuadas
das zonas formais de expanso urbana. Isto refletiria no afastamento do escravo e do liberto
das zonas centrais e tradicionalmente habitadas pelos estratos superiores da sociedade local
para as zonas marginais da cidade, fenmeno que vinha acontecendo desde o momento em
que intensificou o processo de expanso da ento vila, no final do sculo XVIII.

O mais importante ncleo residencial negro de Cachoeira ficava localizado numa zona
denominada Recuada. Nesse ncleo surgiram quatro agrupamentos (arruados). Eram eles:
Curral Velho, Corta-jaca, Galinheiro e Bited. O Corta-jaca (depois denominado Rua de
Belchior e atualmente a Rua e Largo dos Remdios) situava-se margem do riacho Pitanga e
distava, aproximadamente, 300 metros lineares da Rua da Ponte Velha (atualmente Rua 13 de
maro)1, divisando, alis, com um pequeno stio onde se plantavam hortalias e legumes. Era
o agrupamento que fazia fronteira com a rea urbana formal. Curral Velho (hoje Praa
Marechal Deodoro) era o matadouro pblico, ligado ao Corta-jaca pela Rua do Rosarinho
(atualmente Rua Alberto Rabelo) e rea formal pelas ruas da Fasca e Lama

O agrupamento do Galinheiro localizava-se contguo ao Corta-jaca, separado por uma


praa que margeava o riacho Soberbo (hoje canalizado); era um arruado incrustado no sop

1
. A Ponte Velha foi construda sobre o rio Pitanga no final do sculo XVIII e demarcava a zona do rossio vila.
Rossio, segundo a historiadora Ktia Maria Queirs Mattoso, era o espao agrcola contguo ao espao urbano.
Cf. Mattoso, Ktia Maria Queirs, Bahia, Sculo XIX: Uma Provncia no Imprio. No processo de expanso
urbana de Cachoeira, que aconteceu com maior intensidade no incio do sculo XIX, o traado urbano
acompanhou o seu alinhamento.

1
do morro Bited, que lhe servia de bastio. J o Bited era muito complexo. Tratava-se de um
morro ngreme localizado a cavaleiro desses dois primeiros ncleos citados. Pela sua altura
era possvel ter uma viso panormica de toda a rea urbana, inclusive de parte do Rio
Paraguau. Junto ao morro Bited, numa depresso, formava-se outro morro muito maior,
conhecido por Capapina.

As terras da zona da Recuada pertenciam no incio do sculo XIX a Jos Antnio Fiza
da Silveira e Souza. Antes do seu falecimento, parte dessas terras foi por ele vendida e doada
para construo de igrejas, cemitrios e construo de casas, estas mediante pagamento de
foros.
O processo de urbanizao que originaria o ncleo africano da Recuada teve incio em
meados da dcada de 1830. Em 1841 a Cmara de Cachoeira designou o
Pedreiro da municipalidade, Jos Marinho Falco, a proceder-se a vistoria e
alinhamento requerido por Jos Antonio Fiza da Silveira e Souza, em uma
poro de terreno baldio, de que o suplicante proprietrio, sito na mencionada
rua da Pitanga, afim de nela levantar casas, e sendo a foi feito pelo suplicante
apresentado a Camara o dito terreno pedindo que lhe mandasse alinhar da quina
da casa de Claudina Maria da Silveira a findar quase no morro que fica em
direo a rua do [largo do] Remdio2.
No dia 15 de janeiro de 1853, o referido Jos Antnio Fiza da Silveira envia oficio
Cmara de Cachoeira, dizendo que:

Sendo proprietrio dos terrenos msticos [mistos, vizinhos] a Igreja Nova


denominada Capella do Rosrio [igreja dos nags], no alto por detrs do antigo
curral, que inda se acho aqueles terrenos sem conveniente alinhamento para os
arruamentos e como j tinha o supplicante adquirido pessoas que quisessem
edificar suas propriedades nos mencionados terrenos no podendo o supplicante
dar arruamento sem que V.V.S.S vim ao indicado lugar juntamente o pedreiro
desta Camara para fazer o mencionado arruamento tanto para aformosiao
desta cidade como para sentena publica3.

Fiza se referia no seu ofcio Cmara, no aos terrenos colina onde em 1842 havia
sido erigida a mencionada Capela do Rosrio, e sim s terras do antigo curral (atualmente a
Praa Marechal Deodoro), e adjacncias (Corta-Jaca, Galinheiro e Bited). Baseado em outro

2
. ARC, documentos avulsos.
3
. ARC, documentos diversos, sem cdice.

2
documento datado de 1839, o curral e matadouro haviam sido deslocados para outra zona, em
terras de sua propriedade, atualmente denominada Avenida So Diogo4.

Em 1858, as terras que hoje compreendem a Praa Augusto Rgis (antigo Rua do
Moinho), incluindo o morro Bited (atualmente Alto do Cruzeiro ou Manoel Vitrio) e Rua 28
de Junho (antiga Rua do Cemitrio) e Rua Stela, foram compradas por Jos Joaquim
dOliveira. Consta no livro de registro de terras de Cachoeira de 1858 que:

Jos Joaquim dOliveira, morador nesta Freguesia, possue uma sorte de terras
no rio Pitanga desta cidade, que as houve pr compra a Jos Antonio Fisa da
Silveira, e se divide com as do vendedor pelo outeiro fronteiro [Bited] ao
Moinho at seu cme; deste a estrada que vai do simiterio para Belm [ladeira
que sobe para o Bited], por esta at encontrar com terras de Francisco
Fernandes da Costa, dividindo-se com este at o Rio Pitanga com Domingos
Joaquim de Vasconcellos com Domingos Moreira, com Alberto Teixeira Guedes,
com Jos Caetano Alvim, e com Antonio Moreira Barreto, conforme escritura.
Cachoeira, 28 de julho de 1858. O Vigrio Dionsio Borges de Carvalho.

Desde a dcada de 1840 a Recuada se caracterizava tambm como zona agrcola e


industrial. Em 1838, Manoel Vasconcelos de Souza Bahiana fundava em Cachoeira a segunda
fbrica de rap da Provncia5 na localidade do Pitanga, prximo ao morro Bited, que aparece
no documento acima citado Domingos Joaquim de Vasconcellos. Em 1870 a propriedade foi
vendida ao italiano Jaccomim Vaccarezza, que, alm de preservar a fbrica de fumos, se
estabeleceu tambm com uma serraria e fbricas de pequenas e elegantes caixas de madeira
utilizadas para acondicionamento de charutos e cigarrilhas.

Em 1860, uma iniciativa do vereador Jos Ruy Dias dAffonseca, foi aprovada em
Cmara a implantao de uma ferrovia ligando Cachoeira a Feira de Santana. A Lei nmero
124, de 16 de junho de 1865, autorizou o incio das obras da Tram Road of Paraguau,
Estrada de Ferro do Paraguau, depois Brazilian Imperial Central da Bahia Railway, Imperial
Estrada de Ferro Brasileira Central da Bahia.

4
. No ofcio de 25 de maio de 1839 Fiuza diz que elle supplicante por sertido o theor da atta feita por esta
Camara sobre a creao do curral novo desta cidade em terras do supplicante, sendo veriadores Jos
Marcolino, Jos Borges Ferraz, Joaquim Jos Bacellar, Jos Felix da Silva e Souza, Manoel Ferraz da Motta
Pedreira, Bernardo Miguel Guanaes Mineiro, e Presidente Luiz Ferreira da Rocha a qual sertido precisa de
seu titolo...
5
.CALMON, Francisco Marques de Ges, Vida Econmica-Financeira da Bahia: elementos para a histria de
1808 1899. 1979. Sc. de Planejamento, Cincia e Tecnologia. Salvador Bahia p. 60.

3
A implantao da ferrovia em Cachoeira ocorreu no momento em que europeus de
variadas nacionalidades chegavam a Cachoeira como tcnicos especializados empregados na
ferrovia, ferreiros, artfices e como comerciantes. Na dcada de 1870, Cachoeira absorveu
significativo nmero de capitalistas alemes provenientes principalmente de Bremen e
Hamburgo, que investem na cultura e manufatura do fumo.
Esse novo segmento social contribuiria para a definio espacial da rea urbana de
Cachoeira, que expandia com maior intensidade nesse momento para os espaos do antigo
rossio6. Contribuiriam tambm para introduzir novos hbitos e idias cientficas.
Cachoeira em meados do sculo XIX inaugurava salas de vistas (como eram
denominadas as salas de cinema), teatro, clubes sociais, tal como o Clube dos Alemes, este
na outra parte de cidade, atualmente So Felix, e o pensamento da sociologia de Herbert
Spencer circulava atravs de extensos artigos publicados nos semanrios locais.
Evidentemente, a zona fumageira do Recncavo baiano no abrigou uma colnia alem
como ocorreu no Sul do pas. Entretanto, um nmero significativo de famlias de europeus de
variadas nacionalidades (ingleses, alemes e suos) e, como j foi mencionado, de orientao
religiosa protestante (mormente presbiterianos e luteranos), fixaram residncia em Cachoeira e
So Felix nesse momento. A presena de protestantes ensejou evidentemente a fundao da
Igreja Presbiteriana e, consequentemente, a construo do Cemitrio de Protestantes.

Fundao da Igreja Presbiteriana de Cachoeira

Segundo o historiador e pastor da Igreja Presbiteriana, Gevaldo Simes, a Igreja


Presbiteriana de Cachoeira foi fundada no dia 12 de setembro de 1875 i, com apenas trs
membros comungantes: os reverendos. James Theodore Houston, Francis Joseph e
Christopher Schneider. De acordo com o historiador Gevaldo Simes, os mencionados
reverendos chegaram ao Brasil entre as dcadas de 1860 e 1870, filiando-se ao Presbitrio do
Rio de Janeiro. Schneider, o terceiro missionrio presbiteriano a vir para o Brasil, em 1861,
transferiu-se do Rio de Janeiro para a Bahia em fevereiro de 1871, fixando residncia em
Salvador, tendo organizado a igreja presbiteriana soteropolitana no dia 21 de abril de 1872.
Houston chegou Bahia, vindo dos Estados Unidos, no final de 1874, a fim de colaborar com
Schneider no seu ministrio religioso, transferindo-se para a cidade de Cachoeira no dia 31 de
dezembro daquele mesmo ano de 1874, permanecendo nessa cidade at 1877, quando se
6
. Rossio, ou rocio, era uma denominao para definir o espao agrcola contguo ao espao urbano. CF.
MATTOSO, Ktia Maria Queirs, Bahia, Sculo XIX: uma provncia no Imprio. Editora Nova Fronteira, Rio
de Janeiro, 1989.

4
transferiu para o Rio de Janeiro.
De 1877 a 1880, o templo presbiteriano de Cachoeira esteve sob os cuidados do Rev.
Robert Lenington. A partir da, assumiu o cargo de pastor o reverendo. Alexander L.
Blackford, o segundo presbiteriano europeu a chegar ao Brasil com funo missionria. De
1884 a 1886, Blackford foi auxiliado no campo baiano por Jonh Benjamin Kolb, que em
seguida transferiu-se para Sergipe.
Em 1891 a 1892 assumiu a liderana religiosa o reverendo Woodward E. Finley, e
Edgard M. Pinkerton, que foram sucedidos de 1892 at 1902 pelo pastor George Whitehill
Chamberlain, que residiu em Salvador, Feira de Santana, Cachoeira e So Flix, viajando
extensamente pelo interior. Entre 1902 e 1905, residiu em Cachoeira o Rev. William Alfred
Waddell, genro de Chamberlain. Em 1906 a famlia Waddell seguiu para a Chapada
Diamantina, onde fundou o famoso Instituto Ponte Nova, nome certamente inspirado na rua
onde estava sendo construdo o templo presbiteriano de cachoeira.
Nessa poca tambm trabalhou na Igreja de Cachoeira o pastor Pierce Chamberlain,
filho de George Chamberlain. A partir de 1903 assumiu o pastor Henry John McCall, que
tambm trabalhou em Muritiba, Feira de Santana, So Gonalo dos Campos e outros locais
pertencentes jurisdio de Cachoeira onde residiam alemes ligadoa plantao e
exportao de tabaco. Nessa poca, sete membros da igreja mudaram-se para Canavieiras,
organizando a igreja presbiteriana naquela cidade no dia 26 de setembro de 1906.
A seguir, a Igreja de Cachoeira teve o seu primeiro pastor brasileiro, o Rev. Jos Ozias
Gonalves (1906-1908). Ele reconstruiu o templo, que havia sido destrudo por uma
inundao. Sua esposa, Neflia, fundou um clube recreativo ltero-musical. No dia 7 de
janeiro de 1907 foi organizado o Presbitrio da Bahia e Sergipe, do qual o Rev. Jos Ozias foi
o primeiro moderador.
No referido livro de atas da igreja presbiteriana de Cachoeira, referente ao perodo de
1875 a 1902, encontra-se anexado um folheto com o programa da cerimnia da Casa de
Orao Rua da Ponte Nova, com data de 7 de setembro de 1901. No ano de 1901 foi
conseguida junto ento intendncia municipal a doao de um terreno margem do Rio
Paraguau, na Rua Ponte Nova, tendo sido lanada em 7 de setembro de 1901 a pedra
fundamental do templo. Em 1903 o templo foi concludo. O edifcio que ainda conserva as
mesmas caractersticas na sua fachada foi construdo com um jardim gradeado com ferro
batido e fundido. O pastor que coordenou a construo foi o Rev. George W. Chamberlain,
que veio a falecer em 1902, sem ter visto a concluso da obra.
Por se localizar em rea de aterro, foi gasta uma soma muito alta de dinheiro s para

5
preparar o terreno e fazer os alicerces. O projeto de construo foi elaborado e executado pelo
pastor.dr. William Waddell, que substituiu o pastor Chamberlain. O mestre de obras se
chamava Jos Martins Alves. No ano da inaugurao do templo a igreja tinha 97 membros.
Depois de trs anos de inaugurado, em 26 de outubro de 1906, o templo desabou em
conseqncia de uma enchente, deixando seis pessoas feridas. O Rev. Henry McCall, que
viajaria em misso para os Estados Unidos, resolveu adiar a viagem e trabalhar na
reconstruo, o que ocorreu em 1907 na gesto do citado pastor Jos Ozias Gonalves. Na
dcada de 1970, de forma impensada, foram trocados os janelas laterais do templo por
basculantes, descaracterizando parcialmente o edifcio.

A Fbrica de Charutos Suerdieck


Subsequente fragmentao do espao da plantation aucareira no Recncavo baiano, a
partir da segunda metade do sculo XIX, emergiu uma agricultura rudimentar domstica
[roas] baseada em redes familiares, que engendrou outros modos de relaes sociais entre
escravos, entre estes e os libertos, e a consolidao de espaos sociais alternativos no prprio
sistema plantocrticoii.
Segundo Marcelin, no tocante a Cachoeira essa relao peculiar com o regime do
tempo e a organizao do espao de produo introduziram outras esperanas de vida dos
escravos, principalmente relacionadas acumulao de bens a fim de poder comprar sua
liberdade, ou ainda no sentido de uma ativao dos laos familiares de modo a alcanar esse
mesmo objetivo.iii Isto tornou possvel no contexto da produo do tabaco plantado em
pequenas unidades agrcolas domsticas espalhadas em Cachoeira e em cidades e vilarejos
prximos, que no s engendrou uma organizao social distinta no Recncavo como foi
acompanhada de uma reorganizao do trabalho, uma especializao profissional, que seria
mais tarde absorvida pelas indstrias fumageiras locais, e na organizao dos espaos e
formao de ncleos residenciais negros em torno de unidades fabris.
Nesse momento, como resposta ao estrangulamento da plantation aucareira, entrou em
cena a agroindustrializao do fumo, que a partir de meados do sculo XIX passou a ser
produzido em grande escala para atender o mercado europeu atravs do controle da
exportao e capital alemo. Em 1838, Manoel Vasconcelos de Souza Bahiana fundava em
Cachoeira a segunda fbrica de rap da Provncia iv. Em 1842 seria instalada a primeira
fbrica de charutos em So Felix, a Imperial Fbrica de Charutos Juventude, pertencente a
Francisco Paes Cardoso. Em 1851, Jos Furtado de Simas inauguraria a Fbrica de Charutos

6
Fragrncia. Em 1856, a firma Leite & Alves, do Rio de Janeiro, instalava sua filial em
Cachoeira para produzir cigarros e cigarrilhas, a primeira da Bahia, que funcionaria at a
dcada de 1970v.
Em 1873, dois anos antes da fundao da Igreja Presbiteriana de Cachoeira, fundava-
se em So Felix a Fbrica de Charutos Dannemann. Nessa mesma dcada seriam instaladas
em Cachoeira as potentes fbricas de charutos Stein, Poock, intastalada na Rua 13 de Maio 7,
na zona central da cidade da cidade de Cachoeira.
No incio do sculo XX, seria instalada a fbrica de fumos Suerdieck, com matriz em
Maragojipe e filiais em Cachoeira Cruz das Almas. A unidade fabril da Suerdieck
inicialmente funcionou em Cachoeira na Rua Formosa, importante zona comercial e endereo
dos principais armazns de fumos de Cachoeira, transferindo-se mais tarde para uma oura
uniade a poucos metros da instalao inicial. Por volta de 1940 a empresa comprou, em mos
de Porcino Jos de Souza, a chcara de nmero 84 [antiga nmero 12] Rua dos Artistas,
ampliando a sua rea industrial e rea de plantio de tabaco para experimentao de sementes..
A chcara abrangia o Curral Novo (Avenida So Diogo) e a Rua Stela, conforme consta no
livro de registro de notas de Cachoeiravi.

Alm da casa de duas portas laterais de entrada, dez janelas de frente, duas salas de
fundo, sete quartos, sala de jantar, cozinha e latrina, o imvel possua ainda quintal com um
terreno no mesmo lugar, com 45 braas de frente, e trinta e duas [braas] de fundo. Porcino
Jos de Souza as adquiriu em 1937, em mos de Felinta Chagas Vieira. Desconhece-se a
relao profissional de Pocino Jos de Souza com a Suerdieck, mas provvel que tenha sido
funcionrio graduado da empresa e intermediou a transao comercial como tal, visto que
residia em Coqueiro, distrito de Maragojipe, onde, como j foi mencionado, funcionava a
unidade fabril matriz da Suerdieck. A Chcara pertencia a Felinta Vieira por herana de seu
marido, Carlos Silvestre de Souza Farias, que por sua vez as adquiriu em sociedade com Joo
Pinheiro de Carvalho junto Irmandade de Nossa Senhora da Conceio do Monte, em 3 de
setembro de 1907.

A Suerdieck, Dannemann e Costa Penna representavam, at meados do sculo XX, as


maiores empresas fumageiras do Recncavo baiano. Segundo o socilogo Luis Aguiar Costa
Pinto, essas empresas admitiam aproximadamente mil funcionrios, a maioria constituda de
mulheres. Alm do quadro de operrios diretamente empregados, as indstrias de fumo
absorviam numerosa mo-de-obra, que eram contratadas temporariamente para o servio de
`destalamento` e seleo, que consistiam na retirada do pecolo da folha de fumo e a

7
subseqente separao de acordo a sua qualidade, trabalhos esses indispensveis para garantir
a boa qualidade de produto. Tratava-se de uma atividade domstica, que alm de absorver
trabalho de famlias inteiras, garantia principalmente a gerao de emprego e renda de parte
de populaovii. Desse modo, as indstrias fumageiras no Recncavo baiano foi um propulsor
de desenvolvimento econmico.
Os operrios fumageiros no especializados eram, na sua maioria, constitudos de
indivduos oriundos da escravido. Um questionrio com doze perguntas apresentado pelo
Ministrio em 1881 com o objetivo de traar o perfil das indstrias fumageiras do Recncavo
baiano evidencia a sua estrutura funcional. O quesito 5, que questiona os meios de produo,
as empresas responderam unanimemente que os charutos so fabricados a mo. Respondem
que a matria prima o fumo superior das Mattas de So Felix, So Gonalo e Pedro, que
pode-se calcular em cerca de 2:0000 arrobas por anno, do custo aproximado de 20$000 reis
por arroba. Respondem no quesito 8 que os operrios empregados no fabrico regular so 40
homens; 20 mulheres e 10 meninos, que ganham o salrio de 2 at 12:000 reis por semana,
conforme as suas habilitaes de trabalho. Mais adiante, no ltimo quesito, diz que os
operrios so geralmente sem instruco e na maior parte anaphabetos.
Embora o desenvolvimento agroindustrial fumageiro no Recncavo baiano tenha
aumentado a produo anual e o nmero de operrios e lucro, como foi observado por L.
A.Costa Pinto na dcada de 1940, o perfil do operrio e seu salrio no diferenciou muito
daquela fbrica que em 1881 respondeu o questionrio solicitado pelo Ministrio da
Agricultura. Embora no tenha sido o objetivo principal das companhias fumageiras de capital
alemo absorver a mo-de-obra barata da populao negra e especializada historicamente
explorada no Recncavo baiano, fica evidente que essas companhias se beneficiaram dessa
aspecto. Atento para a boa qualidade e refinamento de seu precioso produto, os empresrios
alemes cuidaram em produzir o que de melhor pudessem para o exigente mercado europeu,
visto que charuto era uma representao de status e refinamento social.
Para garantir o seu acesso no mercado, as grandes empresas no mediam esforos em
absorver especialistas renomados. A Poock & Cia Fbrica de Charutos e a Suerdieck so casos
exemplares. A Poock era uma empresa familiar instalada na Alemanha, que em finais do
sculo XIX instalou filiais inicialmente no Rio Grande do Sul e depois em Cachoeira. Seus
empregados que exerciam funes tcnicas e outros funcionrios graduados eram oriundos da
Alemanha. Alm de tcnicos alemes, trabalhavam tambm em suas unidades fabris
especialistas cubanos. A Suerdieck igualmente tinha em seus quadros funcionais trabalhadores
alemes exercendo funes relevantes. O alemo Carl Kaorner, por exemplo, transferiu-se de

8
Bremem, sua terra natal, para exercer funo relevante na matriz maragojipana, transferindo-
se em seguida para Cachoeira, onde exerceu funo de gerente geral e constituindo famlia,
que ainda hoje reside nessa localidade.
Assim como o fundador da empresa, em 1945 Carl Kaorner retornou para seu pais.
Naquele momento o Brasil ingressava na Segunda guerra Mundial como aliado norte-
americano. As tenses sociais ocorridas no Recncavo baiano em torno desse evento poltico
representou um dos fatores basilares da decadncia da industria fumageira nessa regio,
comprometendo principalmente a Suerdienck, que nesse momento representava a mais
importante empresa, tanto em Cachoeira quanto em Maragojipe. Registra-e na tradio oral
local que, em 1944, durante a festa em louvor a Santa Ceclia, quando ocorre em novembro
uma expressiva manifestao popular danante nas ruas de Cachoeira, Carl Kaorner, temendo
uma reao violenta popular contra a empresa alem, esse estendeu uma enorme bandeira do
Brasil na fachada da unidade fabril, o que impediu uma possvel reao popular. Conta-se
ainda que em frente fbrica a multido danante improvisou o seguinte verso:
Oh, Santa Ceclia
Venha nos valer
Para a guerra acabar
E o Brasil vencer.

O Cemitrio de Protestantes

No dia 13 de abril de 1857, a Mesa administrativa da Irmandade de So Joo de Deus


da Santa casa de Misericrdia enviou ofcio s irmandades religiosas catlicas de Cachoeira
solicitando a cada uma delas construir, suas expensas, carneiras no cemitrio que estava
sendo construdo na cidade de Cachoeiraviii. Com exceo da Irmandade de Nossa Senhora do
Rosrio do Sagrado Corao de Maria do Monte da Rua Formosa, conhecida como Irmandade
dos Nags, que alegou possuir seu cemitrio prprio, construdo em 1856, da Irmandade de
Nossa Senhora da Ajuda, que no era constituda formalmente, e da Irmandade da Ordem
Terceira do Carmo, a Confraria do Amparo autorizou construir 40 carneiras, a Irmandade do
Santssimo Sacramento, construiu 15 carneiras, a Irmandade do Senhor Bom Jesus da
Pacincia adquiriu 20, a de Senhor Bom Jesus dos Martrios 20, a de Nossa Senhora do
Rosrio 25, a Irmandade da Conceio do Monte construiu 12 e a Irmandade de So Joo de
Deus construiu 50 carneiras.

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Dezessete anos depois, em 1874, a Irmandade de So Joo de Deus inaugurava o
equipamento, que ganharia a denominao de Cemitrio Piedade. Antes da construo formal
do mencionado cemitrio, a Irmandade de So Joo de Deus sepultava seus mortos, e os
falecidos no seu hospital da Santa Casa de Misericrdia, num arrabalde da ento vila,
localizada na imediao da estrada que dava acesso ao Capoeiruu, uma zona rural de
Cachoeira. Esse cemitrio foi criado provisoriamente e de forma emergencial para sepultar
vtimas da epidemia do clera morbus, que vitimou milhares de pessoas no Recncavo baiano
entre 1550-60.

Numa data no especificada, prximo ao cemitrio fundado pela Irmandade de So


Joo de Deus na proximidade da estrada de Capoeiruu, havia um cemitrio construdo por
protestantes. O termo protestante remete ao grupo de europeus no portugueses (alemes,
ingleses, suos de orientao religiosa luterana e calvinista, isto , protestantes) que, como foi
mencionado acima, chegou a Cachoeira (por extenso ao Recncavo baiano), motivado pela
implantao da ferrovia e pela industrializao do fumo nessa regio a partir da segunda
metade do sculo XIX. Baseado na data de fundao da Igreja Presbiteriana em Cachoeira,
acima analisada, o referido cemitrio, que era uma reivindicao desse grupo religioso,
certamente foi construdo em meados ou final do sculo XIX.

No dispomos de peas documentais que ofeream suportes para afirmar, mas


possvel afirmar que as terras onde foi erigido esse cemitrio foram compradas por Feliciano
Jos de Araujo Lima. Vale ressaltar que no livro de atas da Igreja Presbiteriana de Cachoeira,
corforme relata o j mencionado pastor Gevaldo Simes Sobrinho, consta um texto intitulado
Palavras proferidas na ocasio de se enterrar o Sr. Feliciano Jos de Arajo Lima.

Diz o pastor Gevaldo Simes que Feliciano o primeiro nome da seo de bitos
do livro de atas, onde consta que ele faleceu no dia 8 de abril de 1877 e foi sepultado no dia
seguinte no terreno que ele mesmo comprou para servir de cemitrio para os acatlicos na
Cachoeira. Seis anos depois do falecimento, em 1883, Jos da Costa Ferreira, procurador
da Sociedade Fraternal Evanglica, solicita Cmara autorizao para construir seu
cemitriotransferindo do alto da Rua da Feira, onde presentemente edificado, para o alto
dos Currais Velhos, a um [ao] lado [do cemitrio] da Santa Casaix.

O alto da Rua da Feira em referncia hoje denominado Cucu de Brito, com suas

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ruelas e becos. J o alto dos Currais Velhos a um lado da Santa Casa citado no documento
seguramente a atual Rua Stela (ou Rua Andr Rebouas). Neste sentido, podemos afirmar que
sem embargo as terras onde atualmente est assentado o Cemitrio de Alemes (e tambm de
Protestantes, acatlicos,exclusivamente para edificao do referido cemitrio, de Estrangeiros,
etc.), foram adquiridas em 1883 atravs da referida Sociedade Fraternal.

No mesmo ano de 1883, o conselheiro municipal Francisco Vicente de Oliveira emitiu


parecer em sesso ordinria, dizendo que Attendendo as necesidades sentidas na Freguesia
de So Felix de um cemitrio, e ainda attendendo a utilizao rel que pode elle prestar quella
populao, proponho que do producto do imposto sobre o fumo em folha arrecadado no
municpio no prximo exerccio seja designado a quantia de trs contos de reis destinado
excluzivamente para edificao do referido cemitrio, a crescentando-se [sic] na redaco do
respectivo paragrapho o seguinte: trs reais sobre kilograma de fumo em folha exportado do
municpio, tirando-se a quantia de 3:000$000 desta verba para ser aplicado exclusivamente a
factura de um cemitrio na freguesia de So Felix. Cachoeira, 30 de abril de 1883.

O que se pode reter deste parecer que o grupo de europeus protestantes moradores na
zona fumageira do Recncavo baiano se impunha pela sua insero econmica na regio, e
tambm pela sua insero poltica diferenciada enquanto um grupo que se unia de forma
identitria, tendo como elemento de referncia a sua orientao religiosa protestante.

As terras onde foi erigido o cemitrio de Alemes pertenciam Irmandade de Nossa


Senhora da Conceio do Monte. Como foi citado em linhas acima, Fiuza fez doaes de parte
de suas terras, que no limiar do sculo XIX estavam sendo urbanizadas. Certamente as terras
que foram vendidas para a Sociedade Fraternal Evanglica pela Irmandade de Nossa Senhora
da Conceio do Monte foi uma das que em pocas anteriores dcada de 1870 foram para
ela doadas por Jos Antnio Fiza da Silveira ou por seus herdeiros em pocas posteiores.

A partir dessas evidncias, possvel concluir, que a aquisio da chcara por parte da
Fbrica de Charutos Suerdieck no se limitou unicamente em ampliar a sua rea industrial,
muito menos dotar empresa de um laboratrio de seleo de sementes de fumos, como foi
utilizado o antigo quintal da chcara. Tudo o que foi aqui dito leva a crer que a sua aquisio
teve tambm como objetivo resgatar um espao que tinha um significado simblico
importante para um pequeno, mas significativo ncleo de europeus protestantes que deixou
marcas indelveis nessa poro territorial do Recncavo baiano.

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O Cemitrio de Protestantes, como j foi aqui assinalado, est localizado no cume de
uma ladeira que d nome Rua Stela, atualmente denominada Rua Andr Rebouas. Trata-se de
uma rua estreita, onde direita existem casas vernaculares construdas no sop de uma
propriedade rural fragmentada da antiga chcara, resultante da diviso de propriedade quando
da venda efetuada pela Irmandade de Nossa Senhora da Conceio do Monte, em 1907, lado
esquerdo existem casas igualmente vernaculares construdas no declive do limite dos quintais
das casas da Rua dos Artistas, a antiga Rua do Mata Burro, atualmente rua dos Artistas. O
cemitrio uma construo simples, pequena (aproximadamente 600m2), composto de um
portal em estilo gtico, que evidencia sua influncia europia, com porto de ferro batido,
protegido por um muro de aproximadamente 2 metros de altura. Vizinho existe uma casa onde
residia o coveiro e vigia, atualmente ocupado pelo filho de um por um antigo operrio da
Suerdieck e funcionrio do cemitrio.

Na entrada do cemitrio existem colunas de ferro fundido, que sustentavam uma


cobertura de telhas com frisos laterais de materiais no identificado. Em toda a extenso do
cemitrio os jazigos so dispostos de forma paralela uns aos outros. Os jazigos so separados
paralelamente. No bloco direita da entrada do cemitrio os jazigos so diferenciados dos
outros blocos. Nessa parte os blocos so menores, certamente porque destinavam ao
sepultamente de crianas. So poucos os jazigos preservados nesse bloco, visto que foram
violados sem motivos aparentes.

As lpides so simples, pequenas e artisticamente diferenciadas das lpides de


cemitrios catlicos. So elas caixas construdas em tijolos que afloram do cho, cobertas por
uma placa de mrmore, pedras e granito e cercadas por uma grade de ferro fundido e
artisticamente trabalhados. Na cabeceira, em vez de epitfios que caracterizam as lpides
catlicas, a maioria constituda de placas de mrmore com inscries em baixo relevo
contendo o nome, data de nascimento e falecimento do indivduo, escritos em alemo e e em
ingls

No Cemitrio de Protestantes foram sepultados indivduos pertencentes at a segunda


gerao de europeus chegados na dcada de 1870 e incio do sculo XX, ou seja, at
aproximadamente a dcada de 1960. Verifica-se, contudo, a existncia de jazigos datados da
dcada de 1980, alguns em verdade constitudos de restos mortais de indivduos falecidos em
pocas anteriores e sepultados em outros cemitrios, sendo posteriormente trasladados para
jazigos familiares naquele cemitrio.

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Na dcada de 1950, no entanto, a Igreja Presbiteriana de Cachoeira no mais possuam
membros ou possuam poucos membros - de sobrenome alemo, ingls ou suo, embora
descendentes seus permanecessem residindo e se envolvendo por relaes matrimoniais com
antigas famlias portuguesas e at mesmo negras da regio e professando outros segmentos
religiosos cristos no-protestantes (catlicos, por exemplo). Em meados da dcada de 1950,
por exemplo, padres missionrios alemes realizavam missas na igreja matriz local, e
procisses acompanhadas por alemes catlicos residentes em Cachoeira e So Flix 7. Do
mesmo modo, ao longo do tempo a Igreja Presbiteriana de Cachoeira foi aos poucos
acolhendo adeptos de variados estratos sociais, tnicos e de outras orientaes religiosas,
inclusive adeptos do candombl. A Igreja Presbiteriana de Cachoeira, enfim, se tornou aos
poucos, do ponto de vista da etnicidade, uma instituio mestia.

Por causa desses fatores, entre outros, atualmente o equipamento encontra-se


abandonado. Tal desinteresse deve-se ao fato de a referida instituio religiosa ter perdido suas
referncias histricas. A maioria dos jazigos foi depredado ou sofreu degradao devido a
ao do tempo, necessitando de urgente interveno para conter a sua iminente destruio.
Localizada em meio a uma rea de recentes e desordenadas construes de casas, o
equipamento sofre ameaa de ser invadido. A Igreja Presbiteriana de Cachoeira no manifesta
interesse em preservar o cemitrio, embora, como foi discutido, seja de fato e de jri a
proprietria do equipamento.

Em 1914, o cachoeirano Augusto Duarte registrou o falecimento de Aurlia Bertha


Kiesler, de 48 anos, ocorrido s 11:30 h. na Rua 25 de Junho, filha do Conde General de
Kiesler e da condessa de Kiesler, casada com Frederico Hpsel, natural da cidade de Neustadt
Oberschlenn Kreisrtadt, na Alemanha, residente em Cachoeira. A nobre alem era me de
Oceanna, Alfredo, Carlota, Gertrude, Anna, Hebert, Jos e Elsa.

Como j foi dito, observando-se os jazigos preservados, verifica-se que at a dcada


de 1940 o Cemitrio dos Protestantes no realizava regularmente sepultamentos, mas pelo
menos abrigava restos mortais de estrangeiros. Analisando tais jazigos, possvel
identificar nome de pessoas que ainda possuem descendentes em Cachoeira, ou de pessoas
que no so naturais ou residem nela, mas que mantm relaes afetivas por relaes de
ancestralidades. Algumas famlias so aqui citadas a partir de inscrio de suas lpides. So
elas: Sophia Martfeld, nascida em Bahia [Salvador], em 19 de maro de 1870, era filha de

7
. Interlocuo pessoal com o coronel Otto Schramm, descendente de seu homnimo av, que chegou a
Cachoeira no final do sculo XIX, aqui falecendo nesta cidade no incio do sculo XX.

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Konrad Martfeld, alemo que se estabeleceu em Cachoeira como plantador e exportador de
fumos. Possui descendentes em Cachoeira, que preserva ainda um pequeno fabrico de
manufatura de fumo.
Walter Dannemann; geb 8 marz 1890; gest 14 august 1892, (nascido em 8 de maro de
1892 e falecido em agosto de 1892), filho de Gerald Dannemann; Gerald Dannemann era
natural de Bremem. Gerald era filho de Gerald Dannemann e Ottilia Danneman, e casado
com Aleluia Navarro, filha do Dr. Antonio Rodrigues Navarro de Siqueira e Joanna Navarro
de Siqueira, naturais de Salvador. Gerald Dannemann nasceu em 23 de abril de 1851 e Aleluia
em 7 de abril de 1860, sendo testemunhas de casamento Carl Friedrick Schramm, natural de
Bremen, negociante em Salvador, e Jos Isidoro Reppol, baiano de Salvador, engenheiro.

Sophia Schramm, geb 16 mai 1918; gest 31 october 1920, era filha de Otto Schramm.
Outra famlia Sharamm, sem vnculo de parentesco com seu patrcio Otto Schramm e Bertha
Schramm. Esta Bertha Schramm foi casada com Heinrich Schramm, que era tia de Sophia
Martfeld, que era casada com Alberto Conrado Martfeld. Consta no seu inventrio que Bertha
Schramm faleceu na casa do sbdito allemo Alberto Conrado Martfeld, num sobrado
existente no fundo da Estao Ferroviria de Cachoeira, o qual era casado com sua sobrinha
Sophia Martfeld Bertha. Heinrich Schramm possua imvel Rua Ponte Nova, 5, e faleceu
na casa do sbdito allemo Alberto Conrado Martfeld, o qual era casado com sua sobrinha
Sophia Martfeld. Bertha possua herdeiros no estrangeiro (Alemanha e Argentina). Residiu,
depois de viva, com o j citado negociante Alberto Conrado Martfeld. Ela era alem e seus
familiares eram ligados Igreja Luterana, conforme documento anexado na arremataox.

O alemo Alberto Conrado Martfeld, agora com o nome aportuguesado, era filho dos
alemes Konrad Joseph Martfeld e Nitte Maria Martfeld, naturais de Bremen, Alemanha,
ambos luteranos.
Otto Schramm, gest 18 de abril de 1869 geb 17 de marz 1934, era proprietrios de
terras em algumas localidades prximas de Cachoeira, onde plantava tabaco para exportao e
fornecimento para fbricas de fumos da regio. Alguns descendentes residem atualmente em
Braslia, Rio de Janeiro e Salvador; Rudolf Gaeschlin; geb 23/11/1877; gest 17/01/1938,
fazendeiro e proprietrio de terras na zona aucareira de Cachoeira.
Identificamos cinco europeus de variadas nacionalidades moradores de So Flix que
eram protestantes e foram sepultados no citado cemitrio. Eram eles: Sydney Clement Dore,
ingls, natural de Londres, maquinista da Estrada de Ferro Central da Bahia, casado com

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Amrica Tavares, brasileira. Em 1890, ano de seu falecimento, Sydney tinha 23 anos. Era
filho de Thomas Bert Dore e Maria Lusa Dore, O outro era Carlos [Carl] Cristiano Emilio
Deter, filho de Henrique Joo Deters e Carolina Mendes Deters, 41 anos, natural de
Hamburgo, Alemanhaxi.
Pedro Cupertino e Philomena Galizia. Pedro Cupertino era filho de Cupertino e Maria
Rosa, italiano, 45 anos, Maria Rosa era viva, 35 anos, filha de Nicolau Galizia Rosa. Joo
Carlos Frederico Simes, filho legtimo de Frederico Simes e Helena Simes, 45 anos,
natural da Alemanha, e Anglica Senhorinha Pereira Baio, 29 anos, natural de Salvador, filha
de Manoel Marcolino Pereira Baio e Tecla Maria do Pilar Baio. Felix Angelotti, filho
natural de Joo Angelotti e Rosa Maria Angelotti, 32 anos de idade, e D. Cndida Laudelino
de Queiroz, 16 anos, cachoeirana, filho de Jos Machado de Queiroz e Simpliciana de Jesus
Queiroz, de So Felix.
Igualmente europeus residentes em So Felix que possuem lpides no Cemitrio de
Protestantes so os cinco nomes que no foi possvel encontrar referncias documentais. So
eles: Ernst Jorn; geb 27/11/1884 in Uslar Deutschland; gest 19 februar 1910 in So Flix;
Johann Rudolf Schrader; geb in Barsbuttel, 17 august 1874; gest in St. Flix [So Felix] 24
april 1899; Franz L. Reiske 28.IX.1901/01.11.1923; Erwin Stanffert; geb 03/01/1900; gest
22 de mai 1926; Franz Feuerherd; geb 17/01/1876; gest 09 de maio 1931.

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i
. A anlise histrica deste tpico baseada nas informaes por escrito do historiador e pastor e pastor presbiteriano
Gevaldo Simes Sobrinho, a quem penhoradamente agradeo.
ii
. MARCELIN, Luis Herns:1996
iii
. Idem.
iv
. CALMON, Francisco Marques de Ges, Vida Econmica-Financeira da Bahia: elementos para a histria de 1808
1899. 1979. Sc. de Planejamento, Cincia e Tecnologia. Salvador Bahia p. 60.
v
. Op. cit., p. 71.
vi
. ARC, livros de notas, sem cdice.
vii
. As folhas de fumos eram entregues em fardos (ou trouxas, como eram denominadas), que eram levadas pelo
contratado para suas casas. Na atividade de destalamento, as folhas eram espalhadas, geralmente no passeio da
residncia, onde membros da famlia, inclusive crianas, laboravam diante todo o dia. Cada contratado podia adquirir
tantas trouxas quanto fossem capazes de realizar o trabalho, o qual eram entregues no final de semana, quando recebia
o pagamento pelo trabalho executado. Em dias atuais no mais realizado essa atividade anteriormente domstica.
Entretanto, ainda persistem atividades temporrias contratadas por empresas de fumos locais, como a DANCOIN, que
absorve mo-de-obra temporria, evidentemente daquelas crianas, agora adultas e conhecedoras do trabalho, que
ajudavam seus familiares dcadas atrs. Tratando-se de uma atividade expressivamente especializada, parte do tabaco
produzido no Brasil transferido para o Recncavo baiano para serem selecionados e beneficiados.
viii
. ARC. Documentos diversos, sem cdice.
ix
. Arquivo do Cartrio de Notas e Ofcios de Cachoeira, 26 de julho de 1883. Pgina 27, registro nmero 50.

x
. Arrematao de Bertha Schramm Incompleto - Caixa 275 Cachoeira 1912/1913.

xi
. Cartrio de Registro Civil, frum Andrade Teixeira, So Felix, livro 1, pgina 7, sem nmero de registro. Cartrio de
Registro Civil de So Felix , livro 1 -25.2.1889 a 30.6.1890. (casamentos) p. 60v, p. 77v, p. 97

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

CALMON, Francisco Marques de Ges. Vida econmica-financeira da Bahia: elementos para a


histria de 1808-1899. 1979. Secretaria de Planejamento, Cincia e Tecnologia. Salvador.

MARCELIN, Louis Herns. A inveno da famlia afro-americana: famlia, parentesco e


domesticidade entre os negros do Recncavo baiano. 1996. Tese de doutoramento. Universidade
Federal do rio de Janeiro. Departamento de Antropologia. Programa de Ps-Graduao em
Antropologia social (PPGAS/Museu Nacional), Rio de Janeiro.

PINTO, L. A. Costa. Recncavo: laboratrio de uma experincia humana. In. Brando, Maria de
Azevedo (org). Recncavo da Bahia: sociedade e economia em transio. Fundao Casa de Jorge
Amado/ABL/UFBa. Salvador, 1998.

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