Teoria Dos Circulos Concentricos Artigo II

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IV CONGRESSO NACIONAL DA

FEPODI

DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL

LIVIA GAIGHER BOSIO CAMPELLO

MARIANA RIBEIRO SANTIAGO


Copyright 2016 Federao Nacional Dos Ps-Graduandos Em Direito

Todos os direitos reservados e protegidos.


Nenhuma parte deste livro poder ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados sem
prvia autorizao dos editores.

Diretoria FEPODI
Presidente - Yuri Nathan da Costa Lannes (UNINOVE)
1 vice-presidente: Eudes Vitor Bezerra (PUC-SP)
2 vice-presidente: Marcelo de Mello Vieira (PUC-MG)
Secretrio Executivo: Leonardo Raphael de Matos (UNINOVE)
Tesoureiro: Srgio Braga (PUCSP)
Diretora de Comunicao: Vivian Gregori (USP)
1 Diretora de Polticas Institucionais: Cyntia Farias (PUC-SP)
Diretor de Relaes Internacionais: Valter Moura do Carmo (UFSC)
Diretor de Instituies Particulares: Pedro Gomes Andrade (Dom Helder Cmara)
Diretor de Instituies Pblicas: Nevitton Souza (UFES)
Diretor de Eventos Acadmicos: Abimael Ortiz Barros (UNICURITIBA)
Diretora de Ps-Graduao Lato Sensu: Thais Estevo Saconato (UNIVEM)
Vice-Presidente Regional Sul: Glauce Cazassa de Arruda (UNICURITIBA)
Vice-Presidente Regional Sudeste: Jackson Passos (PUCSP)
Vice-Presidente Regional Norte: Almrio Augusto Cabral dos Anjos de Castro e Costa (UEA)
Vice-Presidente Regional Nordeste: Osvaldo Resende Neto (UFS)
COLABORADORES:
Ana Claudia Rui Cardia
Ana Cristina Lemos Roque
Daniele de Andrade Rodrigues
Stephanie Detmer di Martin Vienna
Tiago Antunes Rezende

ET84
tica, cincia e cultura jurdica: IV Congresso Nacional da FEPODI: [Recurso eletrnico on-line]
organizao FEPODI/ CONPEDI/ANPG/PUC-SP/UNINOVE;
coordenadores: Livia Gaigher Bosio Campello, Mariana Ribeiro Santiago So Paulo:
FEPODI, 2015.

Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-143-2
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicaes
Tema: tica, cincia e cultura jurdica

1. Direito Estudo e ensino (Ps-graduao) Brasil Congressos. 2. tica. 3. Cincia. 4.


Cultura jurdica. I. Congresso Nacional da FEPODI. (4. : 2015 : So Paulo, SP).
CDU: 34

www.fepodi.org
IV CONGRESSO NACIONAL DA FEPODI
DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL

Apresentao

Apresentamos toda a comunidade acadmica, com grande satisfao, os anais do IV


Congresso Nacional da Federao de Ps-Graduandos em Direito FEPODI, sediado na
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo PUC/SP, entre os dias 01 e 02 de outubro de
2015, com o tema tica, Cincia e Cultura Jurdica.

Na quarta edio destes anais, como resultado de um trabalho desenvolvido por toda a equipe
FEPODI em torno desta quarta edio do Congresso, se tem aproximadamente 300 trabalhos
aprovados e apresentados no evento, divididos em 17 Grupos de Trabalhos, nas mais
variadas reas do direito, reunindo alunos das cinco regies do Brasil e de diversas
universidades.

A participao desses alunos mostra comunidade acadmica que preciso criar mais
espaos para o dilogo, para a reflexo e para a trota e propagao de experincias,
reafirmando o papel de responsabilidade cientfica e acadmica que a FEPODI tem com o
direito e com o Brasil.

O Formato para a apresentao dos trabalhos (resumos expandidos) auxilia sobremaneira este
desenvolvimento acadmico, ao passo que se apresenta ideias iniciais sobre uma determinada
temtica, permite com considervel flexibilidade a absoro de sugestes e nortes, tornando
proveitoso aqueles momentos utilizados nos Grupos de Trabalho.

Esses anais trazem uma parcela do que representa este grande evento cientfico, como se
fosse um retrato de um momento histrico, com a capacidade de transmitir uma parcela de
conhecimento, com objetivo de propiciar a consulta e auxiliar no desenvolvimento de novos
trabalhos.

Assim, com esse grande propsito, que nos orgulhamos de trazer ao pblico estes anais
que, h alguns anos, tm contribuindo para a pesquisa no direito, nas suas vrias
especialidades, trazendo ao pblico cada vez melhores e mais qualificados debates,
corroborando o nosso apostolado com a defesa da ps-graduao no Brasil. Desejamos a
voc uma proveitosa leitura!

So Paulo, outubro de 2015.


Yuri Nathan da Costa Lannes
OS LIMITES DOS MEIOS DE INFORMAO E A PRIVACIDADE: A
DICOTOMIA NAS EXPERINCIAS GERMNICA E NORTE-AMERICANA
THE LIMITS OF THE MEDIA INFORMATION AND PRIVACY: THE
DICHOTOMY IN GERMANIC AND NORTH AMERICAN EXPERIENCES

Pedro Henrique Arcain Riccetto


Gabriel Zemuner Paiva Rossini

Resumo
Analisa os limites dos meios de informao em face dos direitos da personalidade do
indivduo, notadamente aqueles atinentes privacidade. Apresenta brevemente o panorama
brasileiro de responsabilizao, em que no h um modelo terico definido. Discorre sobre a
abordagem dada matria no Direito Comparado, especificamente na Alemanha e Estados
Unidos, e demonstra seus principais referenciais tericos e jurisprudenciais, inclusive no que
tange s celebridades em geral e polticos. Ao final, faz apanhado geral do contedo
demonstrado, acentuando os principais pontos e convergncia e divergncia entre os regimes
objeto do estudo.

Palavras-chave: Direitos da personalidade, Privacidade, Liberdade de informao

Abstract/Resumen/Rsum
Examines the limits of the media when facing individual's personality rights, especially those
relating to privacy. Briefly presents the Brazilian panorama of accountability, where there isn
t a theoretical model defined. Discusses the approach to the matter in comparative law,
specifically in Germany and the US, and demonstrates its main theoretical and jurisprudential
references, including those related to celebrities in general and politicians. In the end, it
makes general overview of the content shown, highlighting the main points and convergence
and divergence between the law systems.

Keywords/Palabras-claves/Mots-cls: Personality rights, Privacy, Freedom of information

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OS LIMITES DOS MEIOS DE INFORMAO E A PRIVACIDADE:
A DICOTOMIA NAS EXPERINCIAS GERMNICA E NORTE-
AMERICANA

THE LIMITS OF THE MEDIA INFORMATION AND PRIVACY: THE


DICHOTOMY IN GERMANIC AND NORTH AMERICAN
EXPERIENCES

RESUMO: Analisa os limites dos meios de informao em face dos direitos da


personalidade do indivduo, notadamente aqueles atinentes privacidade. Apresenta
brevemente o panorama brasileiro de responsabilizao, em que no h um modelo
terico definido. Discorre sobre a abordagem dada matria no Direito Comparado,
especificamente na Alemanha e Estados Unidos, e demonstra seus principais
referenciais tericos e jurisprudenciais, inclusive no que tange s celebridades em geral
e polticos. Ao final, faz apanhado geral do contedo demonstrado, acentuando os
principais pontos e convergncia e divergncia entre os regimes.

Palavras-chave: Direitos da Personalidade. Privacidade. Liberdade de Informao.

ABSTRACT: Examines the limits of the media when facing individual's personality
rights, especially those relating to privacy. Briefly presents the Brazilian panorama of
accountability, where there isnt a theoretical model defined. Discusses the approach to
the matter in comparative law, specifically in Germany and the US, and demonstrates its
main theoretical and jurisprudential references, including those related to celebrities in
general and politicians. In the end, it makes general overview of the content shown,
highlighting the main points and convergence and divergence between the law systems.

Keywords: Personality Rights. Privacy. Freedom of Information.

INTRODUO

Seria um equvoco submeter-se a norma contida no artigo 21 do Cdigo Civil


apenas fria letra da lei, em uma interpretao literal de seu texto: os desavisados
acabariam por atribuir carter absoluto defesa da imagem ao se verem diante da
mxima a vida privada inviolvel. A ausncia de maiores critrios legais para

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subsidiar o julgador na definio do direito aplicvel ao caso concreto acaba por criar
uma situao instvel em nosso cenrio, sem que se saiba a metodologia a ser adotada
pelos tribunais, ou ao menos o resultado do jogo. A falta de previsibilidade quanto aos
limites da exposio da vida privada coloca tanto os meios de informao em geral
quanto os particulares em uma saia-justa, trazendo implicaes diretas ao
desenvolvimento da atividade econmica, ou, de outro lado, uma situao de invaso
indevida em sua esfera privada.

A dificuldade de se enfrentar o problema com maior tecnicidade faz com que a


doutrina brasileira se valha de expedientes doutrinrios estrangeiros para a melhor
elaborao de uma metodologia. Evidenciando-se a situao apresentada, o trabalho
busca apresentar as diretrizes - em certos pontos antagnicas - adotadas por dois
ordenamentos jurdicos distintos aqui selecionados: as abordagens alem e norte-
americana dadas ao regime da proteo vida provada.

DESENVOLVIMENTO

Objeto de reivindicaes desde o Sculo XIX na Alemanha, o direito geral da


personalidade sofreu uma mudana evidente de paradigma em 1954, com a deciso que
ficou conhecida como carta do leitor. A aceitao de uma regulamentao geral dos
direitos da personalidade, como um direito subjetivo que deve ser reconhecido e
observado por toda pessoa, demonstra o as primeiras tendncias de uma regulamentao
mais protetiva da esfera privada da pessoa humana. No caso emblemtico, decidiu-se
pioneiramente pela proibio de publicaes indesejadas, ainda que em veculos de
informao detentores de direitos autorais, sobrepondo-se o primeiro interesse, prprio
da personalidade, ao segundo1.

Inicialmente visto como uma emanao especial dos direitos da personalidade,


foi o direito prpria imagem reconhecido como integrante do mencionado direito geral
da personalidade pelo Brgerliches Gesetzbuch (tambm conhecido como BGB, o
Cdigo Civil Alemo), produzindo a deciso, como seu principal efeito, uma ampliao
significativa da gama protetiva desse bem jurdico.

1
BARRETO, Wanderlei de Paula. Os Direitos da Personalidade na Jurisprudncia Alem
Contempornea. Conferncia proferida pelo professor no IV Congresso Nacional de Direito Civil. 2009,
p. 7-8.

157
A nova dinamicidade das relaes sociais, justificada principalmente pelas
recentes tecnologias e seu alto potencial de alcance, compeliu os tribunais adoo de
um mtodo a fim de regulamentar os limites da atuao privada, especialmente no que
tange invaso indevida na esfera particular do indivduo. Surge da a denominada
teoria das esferas da personalidade, que no resistiu s crticas por parte de reforada
doutrina e acabou dando lugar teoria das camadas, adotada no clebre caso
Princesa Carolina de Mnaco2.

A teoria germnica das esferas da personalidade, tambm chamada por parcela


da doutrina de teoria dos crculos concntricos da esfera da vida privada, ganhou
relevo com a construo terica de Heinrich Hubmann na obra Das
persnlichkeitsrecht, publicada em 1953 3 . Em poucas palavras, Hubmann props a
diviso da esfera da vida privada do ser humano em trs crculos concntricos,
separados de acordo com sua densidade, de modo que a esfera mais externa passaria a
representar a privacidade; a intermediria abarcaria o segredo; e ao crculo mais interno
caberia o plano da intimidade. Anos mais tarde, em 1973, Heinrich Heinkel viria a
propor uma alterao na ordem de densidade dos crculos, concedendo intimidade o
plano intermedirio e ao segredo a posio interna/central, em teoria at hoje
majoritamente aceita pela doutrina brasileira4.

Sintetizando os conceitos dos germnicos Henrich Hubmann e Henrich Heinkel,


tem-se que privacidade o crculo da vida privada em sentido estrito (Privatsphre), em
que, embora restrito o acesso pblico, se encontram as relaes interpessoais mais
superficiais - razo pela qual ostenta posio de maior externalidade dentre os trs
crculos na teoria tanto de Hubmann quanto de Heinkel. Por sua vez, a intimidade
dotada de maiores restries em geral, sendo, para Hubmann, compartilhvel com
familiares, amigos de maior intimidade e aqueles que possuem conhecimento em razo
do ofcio, enquanto a esfera do segredo assumiria funo ainda mais interna, ocultando-
se muitas vezes de outros indivduos. Ainda que haja algumas variaes entre os
conceitos de privacidade, intimidade e segredo, e no sejam unnimes suas posies
2
RODRIGUES JUNIOR, Otvio Luiz. Do Prncipe Bismarck Princesa Carolina de Mnaco: vida
privada de pessoas clebres e as liberdades comunicativas no Cdigo Civil. In Estudos em Homenagem
ao Professor Carlos Alberto Dabus Maluf:10 anos de vigncia do Cdigo Civil de 2002. So Paulo:
Saivara, 2013. p. 117-118.
3
FROTA, Hidemberg Alves da. A proteo da vida privada, da intimidade e do segredo no Direito
brasileiro e Comparado. Anuario de Derecho Constitucional Latinoamericano, Montevideo, v. 13, , 2007.
p. 461-463.
4
Idem, p. 464.

158
dentre os crculos, possvel visualizar os graus em que se consideraria tolervel ou no
sua invaso.

Mais recentemente adotada, a teoria das camadas apresenta trs diretrizes


determinantes soluo do caso concreto, obrigatoriamente sequenciais, consistentes
em trs regras a serem balizadas de acordo com a casustica: i) toda imagem de pessoa
isolada deve possuir autorizao prvia do titular para sua divulgao; ii)
excepcionando regra anterior, prescinde de autorizao a difuso da imagem de
pessoas consideradas relevantes para aquela sociedade, observado o contexto da
atualidade ; iii) como exceo exceo, a difuso da imagem no ser permitida caso
sua divulgao lese interesse legitimo do titular do direito de imagem5.

O Tribunal Constitucional Alemo (Bundesverfassungsgericht, ou BVerfG)


demonstra certa resistncia adoo da aplicao direta da teoria das camadas, o que
acaba por imprimir em suas decises uma preponderncia abstrata do direito liberdade
de expresso, vedando como regra geral limitao a priori do contedo. Em sentido
contrrio ao BVerfG, o Tribunal Federal de Justia alemo (Bundesgerichtshof, ou
BGH) tem decidido pela maior proteo imagem, observando-se o regramento da
teoria das camadas, em especial seu terceiro enunciado, no qual se faz meno a
expressa violao ao interesse legtimo do titular, ainda que a pessoa cuja intimidade foi
violada seja considerada pblica. Verificam-se tais tendncias no prprio julgamento do
caso Princesa de Mnaco, em que o BGH adotou posio mais protetiva ao direito da
personalidade dos membros da famlia real, enquanto o BVerfG adotou diretrizes que
demonstram uma maior preponderncia da liberdade de expresso. No se pode dizer,
portanto, que h uma unanimidade no tratamento do tema perante a doutrina e
jurisprudncia alems.

Seguindo a direo e posicionamento predominante adotado pelo Tribunal


Constitucional alemo, a jurisprudncia norte-americana tambm possui uma postura de
preponderncia da liberdade de expresso. Destoa, contudo, em razo da origem cultural
norte-americana, quanto ao entendimento alemo, por possuir carter liberal mais
acentuado, expandindo-se a intensidade da liberdade de atuao dos meios de
informao.

5
RODRIGUES JUNIOR, Otvio Luiz. op. cit, loc. cit.

159
A liberdade de expresso foi consagrada na Constituio americana em 1791,
pela primeira emenda, e teve sua efetividade concretizada pela jurisprudncia aps a
Primeira Grande Guerra. A influncia burgus-liberal refora o carter individualista
predominante na ideologia estadunidense, qualidade que se desdobra, inclusive, ao
sistema decisrio do pas, dentre outras reas do Estado e da cincia.

Grande expoente da influncia do liberalismo no regime da privacidade, a teoria


libertria chegou a ser adotada em determinados momentos histricos. Em poucas
palavras, prega-se que a primeira emenda no permite interveno estatal no contedo
da informao. Parte-se da premissa de que a interveno estatal sempre mais negativa
do que falhas nos mecanismos de informao, pois busca barrar contedo que
eventualmente viesse a ser prejudicial6.

Embora haja discusso doutrinria inclusive para saber-se a qual das vertentes se
filia, Ronald Dworkin trouxe significativas contribuies ao estudo da liberdade de
expresso e seus reflexos na vida privada nos Estados Unidos, reconhecendo seu carter
de direito coletivo e seus efeitos benficos sociedade como um todo (carter
instrumental), alm de afirmar no caber ao Estado calar as convices do indivduo,
visto por ele como um agente moral responsvel7.

A sensvel diminuio dos limites impostos aos meios de comunicao passou


por um perodo de crticas, acarretando a adoo de teoria mais moderada, denominada
teoria da posio preferencial, em que ambos os direitos possuem pesos e que, dentre
estes, alguns possuem maior dimenso 8 . Com o desenvolvimento e maturao da
teoria, observou-se que a jurisprudncia americana passou a tomar posio mais
moderada do que aquela inicialmente difundida, embora se possa dizer que a teoria
libertria continua sendo regra no cenrio norte-americano.

CONCLUSES
6
FIDALGO, Alexandre. O Estado no tem poder para interferir na liberdade de imprensa. Revista
Eletrnica Consultor Jurdico.
7
DWORKIN, Ronald. O Direito da Liberdade: a leitura moral da Constituio Norte-Americana. So
Paulo: Martins Fontes, 2006. p. 318-319.
8
V. ROSENFELD, Michel. Spreading Liberal Constitutionalism: an inquiryy into the fate of the free
speech in new democracies. In The Migration of Constitutional Ideas. Cambridge University Press,
2005, Working Paper 144,apub OLIVEIRA TAVEIRA, Christiano de. Democracia e Pluralismo na
Esfera Comunicativa: proposta de reformulao do papel do Estado na garantia da liberdade de
informao. Tese de doutoramento. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2010. p. 48.

160
A ampliao do leque de direitos tutelado pelo Estado permitiu doutrina e
jurisprudncia promover debates acalorados sobre os limites da proteo dos direitos da
personalidade ligados imagem. A ausncia de critrios bem definidos acerca da
postura a ser adotada pelos meios de informao torna a tarefa do julgador de promover
uma adequada responsabilizao por eventual ato ilcito cometido contra o indivduo
uma tarefa complexa dificuldade que pode se tornar ainda mais latente quando diante
de celebridades e pessoas integrantes da classe poltica.

Buscando fixar algumas diretrizes, o estudo se vale do Direito Comparado para


analisar o tratamento legal dado a matria em dois pases distintos: a Alemanha e os
Estados Unidos, que possuem, dentro de uma similitude, alguns destacados pontos de
divergncia.

A doutrina germnica passou a aceitar, j em 1953, a teoria das esferas,


criao de Heinrich Hubmann, transitando recentemente para a teoria das camadas,
construo adotada pelo Tribunal Federal de Justia Alemo. Em que pese a distino
entre ambas as teorias de origem alem, verifica-se de forma ntida um carter limitativo
da atividade dos meios de informao, que devem se atentar violao dos direitos da
personalidade, mesmo nos casos de pessoas pblicas, de acordo com critrios mais
protetivos quando comparados com aqueles adotados pelos Estados Unidos embora
sejam as situaes de limitao a priori muito limitadas. O prprio Tribunal
Constitucional Alemo, contrariamente ao Tribunal Federal de Justia, fez meno ao
carter abstratamente preponderante da liberdade de expresso, caracterstica mais
notvel no sistema norte-americano9.

Inclusive por razes histricas, os Estados Unidos concedem aos meios de


informao limites menos rgidos, considerando seu cerceamento, em regra, atitude
negativa posio refletida na interpretao do texto da Primeira Emenda. At hoje se
diz preponderante a teoria libertria, que prega a no interveno estatal no mbito da
informao, vista como uma obstruo indevida de eventual contedo prejudicial que
deve ser divulgado.

9
RODRIGUES JUNIOR, Otvio Luiz. op. cit., loc. cit.

161
Ainda que as diretrizes da Alemanha e dos Estados Unidos indiquem um regime
diferenciado no tratamento da matria, ora mais protetivo, ora mais liberal, diversos so
os pontos de convergncia de ambos entre si e com o adotado pelo ordenamento
jurdico brasileiro. No se pode dizer, porm, que possumos aqui um modelo terico
prprio para o enfrentamento da matria, seno algumas poucas equaes para a
facilitao dos limites do caso concreto.

REFERNCIAS

BARRETO, Wanderlei de Paula. Os Direitos da Personalidade na Jurisprudncia Alem


Contempornea. Conferncia proferida pelo professor no IV Congresso Nacional de
Direito Civil. 2009. Disponvel em:
<advocaciabarreto.com.br/arquivos/xb8ya8BWYw.doc>.

DWORKIN, Ronald. O Direito da Liberdade: a leitura moral da Constituio Norte-


Americana. So Paulo: Martins Fontes, 2006.

FARIAS, Edilson. Coliso de Direitos: a honra, a intimidade, a vida privada e a


imagem versus a liberdade de expresso e informao. 2 Ed. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Editor, 2000.

FIDALGO, Alexandre. O Estado no tem poder para interferir na liberdade de


imprensa. Revista Eletrnica Consultor Jurdico. Disponvel em: <
http://www.conjur.com.br/2015-fev-11/liberdade-expressao-estado-nao-poder-interferir-
liberdade-imprensa>.

FROTA, Hidemberg Alves da. A proteo da vida privada, da intimidade e do segredo


no Direito brasileiro e Comparado. Anuario de Derecho Constitucional
Latinoamericano, Montevideo, v. 13, n. 1, t. 2, 2007. Disponvel
em:<http://www.juridicas.unam.mx/publica/librev/rev/dconstla/cont/20072/pr/pr2.pdf>.

RODRIGUES JUNIOR, Otvio Luiz. Do Prncipe Bismarck Princesa Carolina de


Mnaco: vida privada de pessoas clebres e as liberdades comunicativas no Cdigo
Civil. In Estudos em Homenagem ao Professor Carlos Alberto Dabus Maluf:10 anos de
vigncia do Cdigo Civil de 2002. So Paulo: Saivara, 2013.

162
SCHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 3 Ed. So Paulo: Atlas, 2014.

____________. Direito e Mdia. 1 Ed. So Paulo: Atlas, 2013.

V. ROSENFELD, Michel. Spreading Liberal Constitutionalism: an inquiryy into the


fate of the free speech in new democracies. In The Migration of Constitutional Ideas.
Cambridge University Press, 2005, Working Paper 144,apub OLIVEIRA TAVEIRA,
Christiano de. Democracia e Pluralismo na Esfera Comunicativa: proposta de
reformulao do papel do Estado na garantia da liberdade de informao. Tese de
doutoramento. Universidade Estadual do Rio de Janeiro, 2010.

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