Teoria Geral Do Direito Privado
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LINHA DE SEBENTAS
Teoria Geral do Direito Privado
ndice
Teoria Geral da Situao Jurdica ................................................................................... 4
A situao jurdica e as suas classificaes ................................................................ 4
Algumas situaes jurdicas ativas ................................................................................. 5
Direitos subjetivos...................................................................................................... 5
Faculdades e poderes ................................................................................................ 7
Direitos Potestativos .................................................................................................. 7
Expetativas jurdicas................................................................................................... 8
Poderes funcionais ..................................................................................................... 8
Proteo indireta e proteo reflexa ......................................................................... 9
Excees ..................................................................................................................... 9
Algumas situaes jurdicas passivas ........................................................................... 10
Obrigaes ............................................................................................................... 10
Estado de sujeio ................................................................................................... 11
Deveres .................................................................................................................... 11
nus ......................................................................................................................... 11
Dever funcional ........................................................................................................ 12
Pessoas jurdicas .......................................................................................................... 12
Princpio da autonomia privada ................................................................................... 13
Princpio da boa f ....................................................................................................... 14
Abuso de direito ........................................................................................................... 15
As consequncias do abuso de direito .................................................................... 17
A atividade jurdica e o negcio jurdico .............................................................. 17
As caractersticas do negcio jurdico...................................................................... 18
A declarao negocial e o processo de atividade jurdica ....................................... 18
A forma da declarao negocial............................................................................... 19
Perfeio da declarao negocial ............................................................................ 21
Interpretao e integrao da declarao negocial ................................................ 22
A ineficcia das declaraes negociais ou dos negcios jurdicos ............................... 24
Algumas disposies sobre a invalidade .................................................................. 25
Os vcios da declarao negocial.................................................................................. 26
Vcios na formao da vontade................................................................................ 26
Erro de vcio ............................................................................................................. 26
Vcios pela falta de liberdade na deciso................................................................. 29
Vcios na exteriorizao da deciso ......................................................................... 30
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O termo utilizado deveria ser bem, pois todas as coisas so bens, mas nem todos os
bens so coisas. A coisa um bem associado a uma realidade fsica, nomeadamente
alvo de Direitos Reais. Finalmente, considera-se que a definio de coisa presente no
Cdigo uma definio circular. O bem tudo aquilo que obedece a dois critrios:
primeiro, deve ser um ente til, isto , que sirva para a satisfao de uma ou mais
necessidades, sendo que estas so definidas pelo seu detentor; e s bem o ente
suscetvel de apropriao individual. (por exemplo, o ar nunca poderia ser um bem)
Mostra-nos o n 2 do art. 202 do CC que a insusceptibilidade de apropriao deriva,
ou da natureza do bem em causa, ou do seu carter jurdico. (por exemplo, no caso
dos bens pblicos)
A definio que aqui fornecemos visa captar todos os tipos de direito subjetivo,
sendo ento uma definio formal. As trs primeiras caractersticas a permisso, a
normatividade, e a especificidade - aplicam-se a todos os direitos subjetivos, sendo
variveis as outras duas a questo do aproveitamento e a presena de um bem.
Variam, por exemplo, na natureza dos bens que alocam. A forma de aproveitamento
de uma coisa no direito de propriedade diferente do bem respeitante ao direito de
imagem. Em funo da natureza dos bens, os direitos subjetivos podem-se distinguir.
Tambm se podem distinguir em funo do mbito de aproveitamento do bem ao
qual se referem. Por exemplo, o direito de usufruto7 mais limitado, em termos de
uso e aproveitamento da coisa a que ambos se referem, do que o direito de
propriedade, embora iguais em todas as outras caractersticas. No direito de usufruto,
h uma limitao de interesses por parte do proprietrio; no direito de propriedade,
o proprietrio tem gozo pleno da coisa.
O direito subjetivo , obviamente, uma situao ativa, embora tambm possa
ter momentos de passividade. O abuso de direito, por exemplo, um exemplo das
limitaes impostas pelo ordenamento jurdico ao exerccio dos direitos subjetivos.
Tambm determinadas limitaes, como a do princpio da boa f no direito de
crdito8, limitam o espao de liberdade do detentor.
Faculdades e poderes
Quanto s faculdades e aos poderes, estes funcionam como o mecanismo que
nos oferecido pelo ordenamento jurdico para a concretizao de um dado fim,
sendo estas, ento, situaes ativas. As faculdades so situaes complexas,
enquanto que os poderes so situaes simples. A faculdade de disposio prevista
no direito de propriedade9, por exemplo, altera o direito de propriedade na nossa
esfera jurdica, com opes como a venda ou a destruio da coisa que possumos. A
venda uma disposio jurdica, enquanto que a destruio ser uma disposio
material. Esta uma faculdade existem vrios meios para atingir o fim da eliminao
do bem, e a pessoa tem liberdade para escolher o que preferir.
O poder, por outro lado, uma situao simples, pois existe somente um nico
meio para atingir um determinado fim. (por exemplo, o poder de venda, sendo o fim
a venda da coisa) Os poderes podem estar integrados nas faculdades (o poder de
venda est integrado na faculdade de disposio), e estas nos direitos subjetivos. (a
faculdade de disposio no direito de propriedade)
O direito subjetivo distingue-se da faculdade e do poder ao conceder ao seu
utilizador liberdade para um fim genrico de aproveitamento de um bem; enquanto
isto, o poder e a faculdade pr-identificam um fim em relao a esse bem, e concedem
ao detentor do bem um (no caso do poder) ou mais (no caso da faculdade) meios para
o alcanar.
Direitos Potestativos
O direito potestativo a situao jurdica ativa na qual se encontram aqueles
que, mediante a sua atuao unilateral, podem produzir efeitos na esfera jurdica
alheia. Imaginemos que A envia uma carta a B. A carta refere que Caso me respondas
a esta carta, afirmativamente, no prazo de trinta dias, vender-te-ei a coisa X pelo preo
Y. Caso B responda afirmativamente no prazo estabelecido, A ser obrigado a efetuar
o negcio com B, nas condies estabelecidas. Assim, a resposta de B um direito
potestativo, pois cria na esfera jurdica de A, com um ato unilateral, um determinado
efeito.
Expetativas jurdicas
A expetativa jurdica a situao jurdica ativa em que se encontram investidos
aqueles que, enquanto ainda no titulares de uma situao final, j se encontram
protegidos pelo ordenamento jurdico, pela confiana que depositam na aquisio
futura da situao final. Quanto maior esta confiana, maior ser a valorao
concedida pelo ordenamento jurdico expectativa.
Podemos identificar quatro caractersticas que levam expetativa: a
existncia de confiana, a justificao objetiva para a existncia da mesma; a
imputabilidade dos comportamentos motivantes dessa confiana outra pessoa
envolvida na aquisio futura da situao; e a certeza da aquisio da situao final.
Quando estas circunstncias esto reunidas, passamos de uma expetativa de facto
para uma expetativa jurdica, existindo assim uma tutelao do Direito.
Distinguimos entre as expetativa jurdica fraca e forte. Na fraca, antevemos
uma possibilidade de frustrao da aquisio futura da situao. Neste caso, podemos
exigir que a outra parte obedea ao princpio da boa f; e, caso a negociao seja
frustrada, -nos possvel exigir uma indemnizao pelo interesse negativo isto ,
que seja reposto o estado da pessoa como na expetativa de facto. Chegamos
expetativa forte quando, com a evoluo do processo de aquisio, o nico resultado
lcito do mesmo a sua concluso. Aqui, o Direito impe, no s o respeito pelo
princpio da boa f, mas a prpria concluso do negcio; ou, em caso de indemnizao,
uma indemnizao pelo interesse positivo isto , como no caso da concluso do
negcio.
Poderes funcionais
O poder funcional uma situao jurdica ativa, onde, embora tenhamos um
espao de liberdade para decidir como nos aprouver, a ponderao das necessidades
e aes relativas a um determinado bem no feita no nosso interesse, mas sim no
de um terceiro. Exemplos tpicos deste caso so o da paternalidade, em que os pais
devem decidir no melhor interesse do filho; ou o do mandato, em que o mandatado
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Excees
A exceo a situao jurdica ativa em que se encontra aquele a quem o
ordenamento jurdico reconhece um fundamento que tornar lcita a paralisao ou
trmino de uma situao ativa alheia, ou uma situao passiva prpria. A situao
jurdica que possibilita a exceo sempre uma em que o sujeito se encontra em
desvantagem, quer dada pelo ordenamento jurdico, quer porque a vantagem foi dada
a outrem. Um exemplo de uma exceo a de no-cumprimento do contrato11, no
qual o sujeito pode exigir um dado comportamento de outrem neste caso, a
exigncia do cumprimento simultneo de uma obrigao por parte dos dois
contraentes, sendo essa exigncia a exceo situao jurdica passiva da obrigao.
Obrigaes
A obrigao poder ser descrita como a correspondncia passiva do direito de
crdito, opondo duas pessoas no polo ativo, o titular do direito de crdito; e, no
passivo, o obrigado. O artigo 397 do Cdigo Civil, que nos oferece a noo de
obrigao, leva-nos definio de uma relao jurdica entre credor e devedor, e no
da situao jurdica da obrigao num sentido terico. Aqui, estabelece-se que aquele
sob o qual recai a obrigao o devedor; e o titular do direito de crdito o credor.
O credor pode exigir do devedor um dado comportamento, ou prestao. Esta pode
ser um comportamento de facto uma ao num determinado sentido -, de dar
Estado de sujeio
O estado de sujeio a situao passiva na qual se encontram aqueles que
podem ver a sua esfera jurdica alterada pelo comportamento de outrem, sem o seu
consentimento. Esta situao aparece pelo uso de um direito potestativo por um
terceiro, sendo assim a sua contraposio passiva.
Deveres
O dever a situao jurdica na qual se encontram aqueles dos quais se pode
exigir dado comportamento, sendo normalmente considerado como a situao
elementar da obrigao.
Podemos fazer uma distino entre dever genrico e especfico, sendo que o
genrico pode ser exigido a todos; enquanto isto, o especfico s pode ser exigido
queles com dadas caractersticas ou vinculaes jurdicas. Um exemplo de dever
genrico seria, por exemplo, o dever genrico de respeito para com o titular de um
direito de propriedade sobre dado bem.
nus
O nus a situao jurdica na qual se encontram aqueles que, para acederem
a uma vantagem ou afastarem uma desvantagem, devem adotar dado
comportamento. Este comportamento no exigido pelo ordenamento jurdico,
sendo a sua adoo livre, mas o ordenamento reconhecer a sua adoo ao conceder
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Dever funcional
Tal como o poder funcional, o dever funcional ocorre nas situaes em que
deve acontecer, na determinao de um comportamento, a ponderao dos
interesses, no do sujeito em causa, mas sim de um terceiro. A diferena entre o poder
e o dever funcional a de que, no dever funcional, o espao de liberdade para a
tomada de deciso desaparece, existindo um s comportamento vivel para a
prossecuo dos interesses do terceiro, que dever ser seguido. Se, no caso do poder
funcional, o comportamento ilcito quando no ocorre de acordo com o interesse do
terceiro, no poder funcional h um ato ilcito quando o nico comportamento possvel
no ocorre.
Pessoas jurdicas
Para o Direito Privado, a pessoa o ente ao qual o ordenamento jurdico
reconhecer a capacidade de ser titular de situaes jurdicas. Esta capacidade
denomina-se personalidade jurdica. Existem pessoas que o so natural as pessoas
singulares -, e as pessoas criadas pelo ser humano as pessoas coletivas. Ambas so
agentes do Direito Privado, tendo, assim, uma esfera jurdica isto , o conjunto de
situaes de cada pessoa titular num dado momento. A alterao da esfera jurdica
de algum dever ser sempre por ele aceite.
Associado a este conceito surge o de patrimnio isto , o conjunto das
situaes jurdicas com carter patrimonial presentes na esfera jurdica de algum. O
princpio da responsabilidade exclusivamente patrimonial leva a que todos os atos
ilcitos civis sejam sancionados com consequncias patrimoniais, desde que o
praticante do ato possua patrimnio. Este princpio advm da caracterstica
puramente reparadora, e no sancionatria ou punitria, do Direito Privado.
Existem duas capacidades que definem as pessoas jurdicas, e estas
capacidades diferem, de pessoa para pessoa, em intensidade. A primeira destas
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Princpio da boa f
O cumprimento do princpio da boa f deve ser assegurado em todas as aes
das pessoas jurdicas. Por esta magnitude, seria impossvel que o ordenamento
jurdico prevesse todas as situaes de aplicao concreta do princpio da boa f. No
caso das obrigaes, por exemplo, a boa f integra-se no contedo das mesmas,
criando um conjunto de deveres acessrios. Noutros casos, a boa f funciona como
mecanismo de controlo, sendo exemplo o abuso de direito21. O princpio da boa f
tem como base o comportamento de um bom homem honesto, que age, no
atendendo somente aos seus interesses, mas tambm ao interesse dos outros.
Distinguimos entre a boa f objetiva o padro comportamental que um bom homem
honesto seguiria num determinado caso concreto, sendo uma infrao boa f
objetiva uma infrao consciente destes princpios22 e boa f subjetiva quando o
agente, ao agir de forma contrria boa f, desconhecia que a sua ao seria
prejudicial para outrem. Podemos distinguir entre boa f subjetiva psicolgica onde,
para o ordenamento jurdico, basta demonstrar a ignorncia do agente do mal que o
seu comportamento causaria23 e boa f subjetiva tica em que no basta que o
agente tenha ignorncia do mal que o seu comportamento causaria, mas este deve
demonstrar que, nas circunstncias nas quais agiu, no existia uma exigncia de que
este soubesse do mal que estes atos provocariam, ou seja, existe uma ignorncia sem
culpa24.
A boa f em sentido objetivo, segundo Menezes Cordeiro, concretiza-se de
duas formas essenciais. A primeira forma de concretizao da boa f em sentido
objetivo o princpio da tutela da confiana isto , a ideia de que o agente no deve
surpreender os outros, quebrando a confiana de terceiros quanto a um
comportamento expectvel, devendo sempre ser respeitados os princpios da
confiana estabelecidos na situao jurdica da expetativa. H vrias formas de quebra
da confiana; por exemplo, a adoo de comportamento desconforme a
comportamentos anteriores. A segunda forma de concretizao o princpio da
primazia da materialidade subjacente, que refere que se deve sempre poder
identificar, por detrs de dada situao jurdica, um determinado interesse; e que,
quando estes interesses forem conformes aos princpios gerais do Direito Privado, e
aos princpios da boa f, no se procurando, por exemplo, causar dano a outrem,
ento os comportamentos levados a cabo pelo agente sero, por esta tica,
conformes boa f.
Abuso de direito
O abuso de direito, previsto no art. 334 do Cdigo Civil, um instituto jurdico
correlacionado com a boa f, visto ser a ultrapassagem dos limites desta uma das
causas para o abuso de direito. O abuso de direito ocorre com a ilicitude do exerccio
de dada situao jurdica ativa e isto significa que este comportamento ilcito
ocorrer dentro do espao de liberdade do titular -, que, embora dentro dos limites
formais desse direito, manifestamente contrrio aos limites impostos pela boa f,
pelos bons costumes ou pelo fim econmico e social do direito exercido
abusivamente. Esta contrariedade deve ser manifesta, de forma a garantir a segurana
jurdica de um titular eventualmente inocente.
direito aquele que, tendo um fim econmico e social definido pelo ordenamento para
dado direito, no o exerce conforme qualquer necessidade.
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pelo ordenamento jurdico como traduo dos comportamentos por este tidos como
confirmao da deciso para a produo de efeitos jurdicos. A declarao negocial
corresponde a dados comportamentos, previstos no Cdigo Civil, arts. 217 e 218. O
Cdigo Civil prev as declaraes expressa, tcita, e o silncio. As noes de
declarao expressa e a declarao tcita surge no n 1 do art. 217. A declarao
expressa a feita por palavras, quer escritas, quer por outro meio direto de
manifestao da vontade; enquanto isto, a declarao tcita aquela que pode ser
deduzida de factos que a revelem com probabilidade. Quanto ao silncio, que surge
previsto no art. 218, este comportamento a traduo de uma omisso pura quanto
a dado negcio; deste modo, no funciona como a declarao tcita, na qual existe
uma manifestao da vontade de negociar.
A declarao negocial normalmente tida como o trmino do processo de
atividade jurdica. Este processo tem duas fases uma fase interna e uma externa. A
fase externa adota a forma da declarao negocial. Enquanto isto, a fase interna tem
momentos vrios, podendo ser dividida na fase intelectual, onde so identificadas
dadas opes de atividade jurdica, e onde recolhida informao sobre a
consequncia de cada uma destas opes; e a fase volitiva, em que a deciso
tomada e ocorre o processo negocial.
H casos nos quais, atravs da falsa representao da realidade, da expresso
inadequada da declarao negocial, da falta de liberdade, entre outros, o negcio
jurdico se torna invlido. Estes so conhecidos como os vcios da declarao negocial.
Estes vcios, que estudaremos mais aprofundadamente depois, podem surgir
associados a dados interesses o do declarante e do declaratrio, que se procuram
desvincular da situao em que se encontram, ou manter o outro agente vinculado
situao, consoante os casos. o ordenamento jurdico que decide, em cada situao,
que interesse dever ser protegido.
situao de forma voluntria; quando este respeito tenha sido previamente acordado
pelas partes, ocorre a forma convencional. No caso do mbito da forma voluntria,
como previsto pelo art. 222, tem-se que as clusulas verbais anteriores ao
documento so vlidas, como previsto pelo n1, quando demonstradamente
correspondentes vontade do declarante, e quando no haja uma exigncia de forma
escrita para as mesmas. No caso das clusulas verbais posteriores, tal como surge no
n2, essas sero vlidas, a menos que lhes seja exigida a forma escrita.
No caso da forma convencional, cujo regime previsto pelo art. 223, diz-nos
o n1 que ocorre uma presuno 30 de que a vinculao pela declarao ocorrer
somente por aquela forma. Esta presuno pode, no entanto, ser ilidida. No caso de
conveno posterior celebrao, diz-nos o n2 que, quando as partes se tenham
querido vincular desde logo, a declarao sob forma escrita funcionar, no como
substituio da celebrao, mas sim como uma confirmao ou consolidao da
mesma.
soluo de acordo com o princpio da boa f; e, caso a soluo pela vontade hipottica
v contra os ditames da boa f, estes prevalecero.
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invlido ser inteiramente invlido quando este no tivesse sido concludo com a
remoo do contedo invlido.
Erro de vcio45
Nesta situao, o declarante utiliza, para a sua deciso, situaes que presumia
serem factos, mas que so, na realidade, errneos. -nos necessrio, primeiramente,
distinguir sobre a causa do erro de vcio isto , se este erro espontneo ou causado
com dolo. O regime aplicvel ao erro de vcio variar de acordo com este fator. No
caso do erro simples ou espontneo, aplicvel o regime presente nos arts. 251 e
252; no caso do erro causado por dolo, aplicvel o regime dos arts. 253 e 254.
O dolo , como definido pelo art. 253, uma sugesto ou artifcio com a
inteno de manter em erro o declarante. No somente o declaratrio que pode
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A condio e o termo
O termo e a condio so habitualmente referidos como clusulas acessrias
aos negcios, constituindo uma estipulao. Estas clusulas acessrias podem ser
atpicas, isto , no correspondendo a modelos previstos na lei, existem na sequncia
da liberdade contratual; e tpicas, previstas na lei com um regime estabelecido, sendo
este o caso do termo e da condio. A distino entre as duas questes o facto de
que, na segunda, o evento a ser observado para a eficcia do negocio de realizao
incerta. Em ambos os casos, os efeitos da declarao negocial estaro sujeitos
observao de um determinado facto.
A condio -nos prevista pelos arts. 270 a 277. A condio pode ser, como
nos refere o art. 270, suspensiva isto , os efeitos de determinada declarao
produzir-se-o somente com a verificao desta condio ou resolutiva ou seja, os
efeitos da declarao deixaro de se produzir aquando da verificao da condio.
Devemos notar, como referimos anteriormente, que a verificao da condio se
prender com um acontecimento futuro e incerto; a incerteza , em suma, uma
caracterstica base da condio. Devemos ainda considerar a questo das condies
potestativas; isto , aquelas em que a verificao do ato condicionante est ao alcance
da vontade de uma ou de ambas as partes, e pode por elas ser determinadas. Estas
no so verdadeiras condies.
Devemos notar, no entanto, que no qualquer acontecimento futuro e
incerto que pode ser utilizado como condio: h um conjunto de limites impostos
condio, que nos so referidos pelo art. 271. Devemos notar que estes limites no
podem inferir, claro est, no princpio da autonomia privada; assim, refere-nos o n
1 que proibida a condio que seja contrria lei ou ordem pblica, ou ofensiva
dos bons costumes, sob pena de nulidade. Refere-nos o n 2 do mesmo artigo que,
no caso de uma condio fsica ou legalmente impossvel, o negcio sujeito a esta ser,
no caso da condio suspensiva, nulo; e, no caso da condio resolutiva, esta ser
tida como no escrita.
Surge ainda a questo da pendncia da condio, prevista pelos arts. 272 a
274, isto , a situao de pendncia na qual se encontram aqueles que celebrem um
negcio condicionado, antes da verificao desta condio. No art. 272, refere-se
que, na pendncia da condio, cada uma das partes dever respeitas a integralidade
do direito da outra parte, agindo segundo os ditames da boa f. O art. 273 refere-
nos que, mesmo na pendncia de uma condio suspensiva, o adquirente do direito
poder praticar atos conservatrios, podendo estes ser igualmente realizados pelo
devedor ou pelo alienante condicional. Deste modo, tanto o adquirente como o
alienante podem praticar atos conservatrios. Quanto aos atos dispositivos, refere-
nos o art. 274 que estes ficaro sujeitos eficcia ou ineficcia do prprio negcio;
isto , verificao da condio a menos, claro est, que haja uma disposio em
contrrio pelas partes, dando-se preferncia ao princpio da autonomia privada e
sendo esta, assim sendo, uma disposio subsidiaria.
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bem lhe aprouver. (sendo este, claro est, o caso da representao) Podemos
perceber isto pela leitura do art. 258, que, quanto aos efeitos da representao,
refere que o negcio jurdico realizado no mbito de uma representao produzir os
seus efeitos na esfera jurdica do representado. Deste modo, ser o representado o
investido dos direitos, e vinculado s obrigaes, que resultem da atuao do
representante.
A representao normalmente voluntria, embora haja casos como nos do
impedimento ou incapacidade nos quais esta imposta pelo ordenamento jurdico.
Falamos, assim, da representao legal, quando a representao tenha como base a
aplicao de dada norma legal; e a representao orgnica, que se aplica nas pessoas
coletivas. No caso da representao voluntria, esta ocorrer sempre nos limites da
autonomia privada, e apenas no caso da autorizao do representado. Devemos
partir do princpio que o representado atribui poderes ao representante para agir em
seu nome, estando este vinculado aos poderes especficos que lhe forem autorizados
assim, falamos, no caso da representao voluntria, de uma autorizao com
delimitao de poderes. O caso mais clssico desta autorizao ser a procurao
com poderes especficos, cuja noo nos oferecida pelo art. 262.
tambm importante mencionarmos, na questo da representao, e para
efeitos de nulidade ou anulabilidade de uma declarao com erro, qual ser a
localizao das faltas ou vcios da vontade. Esta questo -nos respondida pelo art.
259, que menciona que, exceto nos elementos nos quais tenha sido decisiva a
vontade do representado, deveremos verificar estas questes no representante.
Deste modo, a questo da delimitao dos poderes do representante em termos de
quantidade ou liberdade tornar-se- importante. -nos feita uma exceo para as
situaes em que o representado esteja de m f, como nos refere o n 2 do mesmo
artigo.
Devemos notar que o representado s ficar vinculado dentro dos poderes
atribudos. Quando o representante atue fora destes, o representado no ficar
vinculado; ou seja, o comportamento do representante ser ineficaz face ao
representado. Esta situao deixar poder deixar terceiros desprotegidos; deste
modo, refere-nos o art. 260 que, quando uma declarao seja dirigida a terceiro por
outrem, este terceiro poder exigir que o representante faa prova dos seus poderes,
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sob pena de ineficcia da declarao. A relao entre este artigo e o art. 258 leva-
nos a concluir que existe um nus a favor do terceiro.
As situaes de representao podem levar a questes de conflito de
interesses, que analisaremos em seguida. A primeira destas situaes a questo do
negcio consigo mesmo (com o representante), prevista pelo art. 261. Aqui, as duas
partes celebram um negcio, sendo, ou ambas representadas pela mesma pessoa, ou
uma delas seja ao mesmo tempo representante e contraparte. Surge, claro est, o
risco de que o representante subordine os interesses do representado aos seus. Estes
negcios so anulveis, como nos refere o n 1 deste artigo, salvo quando o
representado tenha especificamente consentido a celebrao do negocio, ou quando
o negocio exclua, pela sua natureza, a possibilidade de existncia de um conflito de
interesses. Este artigo um exemplo de atuao preventiva do ordenamento jurdico,
em que no se atende justia do negcio concreto, mas aplica-se imediatamente a
qualquer negcio celebrado com o representante.
Da procurao em particular
A procurao pode ser definida como o instrumento atravs do qual uma dada
pessoa o representado atribui a outrem o procurador determinados poderes
para que atue em nome do representado. , deste modo, um negcio jurdico
unilateral, que ocorre pela declarao do representado. Quando mencionamos o
contedo essencial da procurao, este ser a identificao do representado e do
procurador, e a lista de poderes do procurador, que incluir tambm uma lista de atos
que o procurador estar autorizado a praticar em nome do representado. Esta
procurao, na sua forma escrita, poder ser exigida por terceiro ao abrigo do art.
261, como referimos anteriormente. O objetivo da procurao a formalizao desta
atribuio de poderes, no mbito da representao voluntria.
A extino da procurao ocorre, no mbito do art. 265, n 1, no caso da
extino da relao jurdica que lhe serve de base, ou quando o procurador a ela
renuncie; ela , assim, livremente revogvel, exceto nos casos de conveno contrria
ou renncia ao direito de revogao, como nos refere o n 2 do mesmo artigo. Para
alm disso, outra limitao ser, como nos refere o n 3 do mesmo artigo, o acordo
do procurador ou de terceiro quando a procurao tenha sido conferida no interesse
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deste, a menos que exista justa causa. Quanto forma da procurao, refere-nos o
art. 262, n 2 que esta ser a forma exigida para o negcio que o procurador deva
realizar, salvo disposio legal em contrrio.
Devemos tambm notar a importncia da identidade do procurador no caso
da procurao isto leva a que a substituio do procurador s possa ocorrer, nos
termos do art. 264, n 1, quando autorizada pelo representado.
-nos ainda necessrio perceber a possibilidade da representao sem
poderes, prevista no art. 268. Neste caso, quando algum celebre um negcio em
nome de outrem e no tenha poderes para tal, o negocio ser considerado ineficaz
em nome desta pessoa, a menos que seja ratificado. A ratificao poder ser definida
como o ato unilateral pelo qual algum assume um ato praticado em seu nome, sendo
que a pessoa que o praticou no tinha poderes para tal. Esta ratificao dever ter a
forma exigida para a procurao (ou seja, e subsequentemente, a forma exigida para
o negcio celebrado, como nos refere o art. 262, n 2), tendo efeitos retroativos.
Surge igualmente a situao do abuso da representao, prevista pelo art.
269. Esta ocorre nos casos em que, embora o procurador tenha poderes para agir,
este utiliza-os de forma abusiva. Devemos notar que, em princpio, o ato praticado
com abuso da representao ser considerado eficaz em relao ao representado, a
menos que a outra parte no negcio conhecesse, ou devesse conhecer, do abuso.
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Repetitrio de Perguntas
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