Teoria Geral Do Direito Privado

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TEORIA GERAL DO DIREITO PRIVADO

LINHA DE SEBENTAS
Teoria Geral do Direito Privado

ndice
Teoria Geral da Situao Jurdica ................................................................................... 4
A situao jurdica e as suas classificaes ................................................................ 4
Algumas situaes jurdicas ativas ................................................................................. 5
Direitos subjetivos...................................................................................................... 5
Faculdades e poderes ................................................................................................ 7
Direitos Potestativos .................................................................................................. 7
Expetativas jurdicas................................................................................................... 8
Poderes funcionais ..................................................................................................... 8
Proteo indireta e proteo reflexa ......................................................................... 9
Excees ..................................................................................................................... 9
Algumas situaes jurdicas passivas ........................................................................... 10
Obrigaes ............................................................................................................... 10
Estado de sujeio ................................................................................................... 11
Deveres .................................................................................................................... 11
nus ......................................................................................................................... 11
Dever funcional ........................................................................................................ 12
Pessoas jurdicas .......................................................................................................... 12
Princpio da autonomia privada ................................................................................... 13
Princpio da boa f ....................................................................................................... 14
Abuso de direito ........................................................................................................... 15
As consequncias do abuso de direito .................................................................... 17
A atividade jurdica e o negcio jurdico .............................................................. 17
As caractersticas do negcio jurdico...................................................................... 18
A declarao negocial e o processo de atividade jurdica ....................................... 18
A forma da declarao negocial............................................................................... 19
Perfeio da declarao negocial ............................................................................ 21
Interpretao e integrao da declarao negocial ................................................ 22
A ineficcia das declaraes negociais ou dos negcios jurdicos ............................... 24
Algumas disposies sobre a invalidade .................................................................. 25
Os vcios da declarao negocial.................................................................................. 26
Vcios na formao da vontade................................................................................ 26
Erro de vcio ............................................................................................................. 26
Vcios pela falta de liberdade na deciso................................................................. 29
Vcios na exteriorizao da deciso ......................................................................... 30

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Divergncia intencional: a simulao e a reserva mental ....................................... 30


Divergncia no-intencional: o erro na declarao ................................................. 31
A condio e o termo ................................................................................................... 31
O instrumento jurdico da representao ................................................................... 33
Da procurao em particular ................................................................................... 35
O objeto, o contedo, e o fim negociais ...................................................................... 36
Dos negcios usurrios em especial ........................................................................ 37
Repetitrio de Perguntas ............................................................................................. 38

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Teoria Geral da Situao Jurdica


A situao jurdica e as suas classificaes
As situaes jurdicas so fundamentais, pois representam a forma de
concretizao do Direito. A situao jurdica a ligao entre pessoa e bem, servindo
como instrumento do ordenamento jurdico para a atribuio de bens.
Existem vrios tipos de situaes jurdicas, tambm chamadas de relaes
jurdicas. (como ocorre no Cdigo Civil1) Imaginemos que A deve 1000 a B. B possui
um direito de crdito, e A uma obrigao para com B. Existe, entre os dois, uma
relao jurdica. A relao jurdica definida por Mota Pinto2 como A relao da vida
social disciplinada pelo Direito, mediante atribuio a uma pessoa de um direito
subjetivo e a imposio a outra pessoa de um dever jurdico ou de uma sujeio. Esta
perspetiva ope-se a uma segunda, normalmente aceite pela Escola de Lisboa. Esta
acredita que o Direito pode acontecer isoladamente, sem a interao de vrias
pessoas, dividindo ento a ideia entre situaes jurdicas relativas (entre duas ou mais
pessoas, dando ento origem a uma relao jurdica) e absolutas. (que ocorrem
isoladamente)
Faz-se tambm a distino entre as situaes jurdicas ativas e passivas. As
ativas ocorrem quando, com elas, o sujeito ganha uma vantagem; as passivas, quando
no a ganha, ou quando ganha uma desvantagem. A vantagem, no Direito Privado,
no coincide necessariamente com a ideia socioeconmica normalmente atribuda ao
termo prende-se, isso sim, com a ideia de liberdade: surge vantagem quando o
Direito nos concede um determinado espao de liberdade. Assim, a situao jurdica
ativa d-nos a liberdade de agirmos como nos aprouver; enquanto que a passiva nos
obriga a uma determinada ao. Escusado ser dizer que a situao jurdica passiva
por excelncia ser, claro est, a obrigao.
Existe ainda uma distino entre as situaes jurdicas complexas e as simples,
sendo que as complexas so compostas por vrias situaes simples. (podemos ver
um exemplo disto no direito de propriedade3, que utilizaremos agora) Enquanto isto,

1 Livro I, Ttulo II: Das relaes jurdicas


2 Mota Pinto, pp. 167
3 Cdigo Civil, art. 1305

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as situaes simples so as insuscetveis de diviso noutras situaes. O termo


situao jurdica compreensvel tambm usado ao invs de situaes complexas, pois
a situao complexa , em si mesma, mais do que a soma das situaes simples que a
compem, adquirindo assim uma lgica prpria que deve ser compreendida;
tambm usado o termo situao analtica ao invs de situao simples, pois a situao
simples ser a reduo, aos fatores componentes elementares, das realidades
jurdicas4.

Algumas situaes jurdicas ativas


Direitos subjetivos
O direito subjetivo considerado a situao jurdica por excelncia, pois nele
podemos encontrar os elementos bsicos do Direito Privado. , afinal, atravs do
direito subjetivo que o Direito Privado concede pessoa um espao de liberdade para
o uso dos seus bens como lhe bem aprouver. A definio de Menezes Cordeiro do
direito subjetivo como a permisso normativa especfica de aproveitamento de um
bem5. Analisaremos, passo por passo, esta definio.
O termo permisso refere-se ao espao de liberdade que o direito subjetivo
concede ao titular do direito; normativa, pois este espao tutelado pelo Direito,
significando isto que este pode atuar para o proteger; especfica, pois a permisso
atribuda individualmente a uma ou mais pessoas, e no a todas as pessoas, e sempre
relativamente a um determinado bem; de aproveitamento, pois o bem pelo sujeito
utilizado para satisfazer as necessidades que quiser, como quiser e somente se quiser;
de um bem, pois o direito subjetivo alocar bens a pessoas.
Quanto definio de bem, devemos notar que a definio de coisa est
presente no Cdigo Civil6, que nos refere, na definio de coisa, que Diz-se coisa tudo
aquilo que pode ser objeto de relaes jurdicas. Esta definio criticada por trs
razes: primeiro, pela sua utilizao do termo relao jurdica, repudiado por muitos,
como j analismos anteriormente. Em segundo, pela sua utilizao do termo coisa.

4 Menezes Cordeiro, p. 308


5 Idem, p. 332
6 Cdigo Civil, art. 202

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O termo utilizado deveria ser bem, pois todas as coisas so bens, mas nem todos os
bens so coisas. A coisa um bem associado a uma realidade fsica, nomeadamente
alvo de Direitos Reais. Finalmente, considera-se que a definio de coisa presente no
Cdigo uma definio circular. O bem tudo aquilo que obedece a dois critrios:
primeiro, deve ser um ente til, isto , que sirva para a satisfao de uma ou mais
necessidades, sendo que estas so definidas pelo seu detentor; e s bem o ente
suscetvel de apropriao individual. (por exemplo, o ar nunca poderia ser um bem)
Mostra-nos o n 2 do art. 202 do CC que a insusceptibilidade de apropriao deriva,
ou da natureza do bem em causa, ou do seu carter jurdico. (por exemplo, no caso
dos bens pblicos)
A definio que aqui fornecemos visa captar todos os tipos de direito subjetivo,
sendo ento uma definio formal. As trs primeiras caractersticas a permisso, a
normatividade, e a especificidade - aplicam-se a todos os direitos subjetivos, sendo
variveis as outras duas a questo do aproveitamento e a presena de um bem.
Variam, por exemplo, na natureza dos bens que alocam. A forma de aproveitamento
de uma coisa no direito de propriedade diferente do bem respeitante ao direito de
imagem. Em funo da natureza dos bens, os direitos subjetivos podem-se distinguir.
Tambm se podem distinguir em funo do mbito de aproveitamento do bem ao
qual se referem. Por exemplo, o direito de usufruto7 mais limitado, em termos de
uso e aproveitamento da coisa a que ambos se referem, do que o direito de
propriedade, embora iguais em todas as outras caractersticas. No direito de usufruto,
h uma limitao de interesses por parte do proprietrio; no direito de propriedade,
o proprietrio tem gozo pleno da coisa.
O direito subjetivo , obviamente, uma situao ativa, embora tambm possa
ter momentos de passividade. O abuso de direito, por exemplo, um exemplo das
limitaes impostas pelo ordenamento jurdico ao exerccio dos direitos subjetivos.
Tambm determinadas limitaes, como a do princpio da boa f no direito de
crdito8, limitam o espao de liberdade do detentor.

7 Cdigo Civil, art. 1439


8 Cdigo Civil, art. 762, n2
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Faculdades e poderes
Quanto s faculdades e aos poderes, estes funcionam como o mecanismo que
nos oferecido pelo ordenamento jurdico para a concretizao de um dado fim,
sendo estas, ento, situaes ativas. As faculdades so situaes complexas,
enquanto que os poderes so situaes simples. A faculdade de disposio prevista
no direito de propriedade9, por exemplo, altera o direito de propriedade na nossa
esfera jurdica, com opes como a venda ou a destruio da coisa que possumos. A
venda uma disposio jurdica, enquanto que a destruio ser uma disposio
material. Esta uma faculdade existem vrios meios para atingir o fim da eliminao
do bem, e a pessoa tem liberdade para escolher o que preferir.
O poder, por outro lado, uma situao simples, pois existe somente um nico
meio para atingir um determinado fim. (por exemplo, o poder de venda, sendo o fim
a venda da coisa) Os poderes podem estar integrados nas faculdades (o poder de
venda est integrado na faculdade de disposio), e estas nos direitos subjetivos. (a
faculdade de disposio no direito de propriedade)
O direito subjetivo distingue-se da faculdade e do poder ao conceder ao seu
utilizador liberdade para um fim genrico de aproveitamento de um bem; enquanto
isto, o poder e a faculdade pr-identificam um fim em relao a esse bem, e concedem
ao detentor do bem um (no caso do poder) ou mais (no caso da faculdade) meios para
o alcanar.

Direitos Potestativos
O direito potestativo a situao jurdica ativa na qual se encontram aqueles
que, mediante a sua atuao unilateral, podem produzir efeitos na esfera jurdica
alheia. Imaginemos que A envia uma carta a B. A carta refere que Caso me respondas
a esta carta, afirmativamente, no prazo de trinta dias, vender-te-ei a coisa X pelo preo
Y. Caso B responda afirmativamente no prazo estabelecido, A ser obrigado a efetuar
o negcio com B, nas condies estabelecidas. Assim, a resposta de B um direito
potestativo, pois cria na esfera jurdica de A, com um ato unilateral, um determinado
efeito.

9 Cdigo Civil, art. 1305


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Regra geral, o princpio da autonomia privada defende que s ns podemos


alterar a configurao da nossa esfera jurdica; no entanto, alguns podem alterar a
configurao da esfera de outrem. Estes atos so sempre regulados por normas.

Expetativas jurdicas
A expetativa jurdica a situao jurdica ativa em que se encontram investidos
aqueles que, enquanto ainda no titulares de uma situao final, j se encontram
protegidos pelo ordenamento jurdico, pela confiana que depositam na aquisio
futura da situao final. Quanto maior esta confiana, maior ser a valorao
concedida pelo ordenamento jurdico expectativa.
Podemos identificar quatro caractersticas que levam expetativa: a
existncia de confiana, a justificao objetiva para a existncia da mesma; a
imputabilidade dos comportamentos motivantes dessa confiana outra pessoa
envolvida na aquisio futura da situao; e a certeza da aquisio da situao final.
Quando estas circunstncias esto reunidas, passamos de uma expetativa de facto
para uma expetativa jurdica, existindo assim uma tutelao do Direito.
Distinguimos entre as expetativa jurdica fraca e forte. Na fraca, antevemos
uma possibilidade de frustrao da aquisio futura da situao. Neste caso, podemos
exigir que a outra parte obedea ao princpio da boa f; e, caso a negociao seja
frustrada, -nos possvel exigir uma indemnizao pelo interesse negativo isto ,
que seja reposto o estado da pessoa como na expetativa de facto. Chegamos
expetativa forte quando, com a evoluo do processo de aquisio, o nico resultado
lcito do mesmo a sua concluso. Aqui, o Direito impe, no s o respeito pelo
princpio da boa f, mas a prpria concluso do negcio; ou, em caso de indemnizao,
uma indemnizao pelo interesse positivo isto , como no caso da concluso do
negcio.

Poderes funcionais
O poder funcional uma situao jurdica ativa, onde, embora tenhamos um
espao de liberdade para decidir como nos aprouver, a ponderao das necessidades
e aes relativas a um determinado bem no feita no nosso interesse, mas sim no
de um terceiro. Exemplos tpicos deste caso so o da paternalidade, em que os pais
devem decidir no melhor interesse do filho; ou o do mandato, em que o mandatado

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dever decidir no interesse do mandatrio. Um dado comportamento, em termos de


poder funcional, considerado ilcito quando no ocorra de acordo com a
prossecuo do interesse do terceiro em causa.

Proteo indireta e proteo reflexa


Estas situaes jurdicas existem em contraposio com a proteo direta. O
ordenamento jurdico protege os sujeitos consoante as situaes jurdicas das quais
eles so titulares; na maior parte das vezes, visando-os diretamente. No entanto, em
alguns casos, o ordenamento protege o titular de um direito atravs da imposio de
um conjunto de situaes jurdicas passivas a todos os terceiros. Um exemplo disto
o instituto da responsabilidade civil10, em que o ordenamento protege o titular de um
direito, no diretamente, mas ao visar os possveis violadores desse mesmo direito.
A diferena entre a proteo indireta e reflexa prende-se com a configurao
do interesse que a norma em causa visa proteger. Na proteo indireta, faz-se a
proteo do titular de um determinado bem, sendo um exemplo desta o instituto da
responsabilidade civil, antes mencionado. Enquanto isto, na proteo reflexa procura-
se proteger o interesse pblico, e o conjunto dos seus prossecutores. A diferena no
necessariamente bvia, sendo normalmente necessrio o recurso ao elemento
teleolgico.

Excees
A exceo a situao jurdica ativa em que se encontra aquele a quem o
ordenamento jurdico reconhece um fundamento que tornar lcita a paralisao ou
trmino de uma situao ativa alheia, ou uma situao passiva prpria. A situao
jurdica que possibilita a exceo sempre uma em que o sujeito se encontra em
desvantagem, quer dada pelo ordenamento jurdico, quer porque a vantagem foi dada
a outrem. Um exemplo de uma exceo a de no-cumprimento do contrato11, no
qual o sujeito pode exigir um dado comportamento de outrem neste caso, a
exigncia do cumprimento simultneo de uma obrigao por parte dos dois
contraentes, sendo essa exigncia a exceo situao jurdica passiva da obrigao.

10 Cdigo Civil, art. 483


11 Cdigo Civil, art. 428
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As excees podem ser divididas em vrias categorias podem ser absolutas


ou relativas; perentrias ou dilatrias; e materiais ou adjetivas. A exceo absoluta
paralisa a situao-base por inteiro; nos casos da exceo relativa, a situao
somente aligeirada, com a modificao da situao-base, sendo um exemplo a
reduo da obrigao de indemnizao12. A exceo dilatria ocorre nos casos em
que, mesmo sendo a exceo absoluta, a situao em causa no eliminada
permanentemente, mas sim de forma temporria; no caso da exceo perentria, a
situao eliminada de forma permanente. A exceo material resultado de uma
norma de Direito material ou substantivo, atendendo materialidade dos interesses
privados, auxiliando-os e visando a justa prossecuo dos mesmos. A exceo adjetiva
ou processual, por outro lado, deriva da aplicao de normas processuais, sendo um
exemplo a liquispendncia, onde, no caso do sujeito acusado simultaneamente pelo
mesmo terceiro, do mesmo facto, em dois processos diferenciados, o sujeito se pode
escusar do segundo, invocando uma exceo.

Algumas situaes jurdicas passivas


Se, nas situaes jurdicas ativas se atribu ao sujeito um espao de liberdade
para agir como bem entender, nas situaes passivas tal j no ocorre. Estas so as
situaes nas quais os sujeitos a elas vinculados so colocados numa posio de
desvantagem, sendo o seu comportamento, no livre, mas sim condicionado de dada
forma pelo ordenamento jurdico.

Obrigaes
A obrigao poder ser descrita como a correspondncia passiva do direito de
crdito, opondo duas pessoas no polo ativo, o titular do direito de crdito; e, no
passivo, o obrigado. O artigo 397 do Cdigo Civil, que nos oferece a noo de
obrigao, leva-nos definio de uma relao jurdica entre credor e devedor, e no
da situao jurdica da obrigao num sentido terico. Aqui, estabelece-se que aquele
sob o qual recai a obrigao o devedor; e o titular do direito de crdito o credor.
O credor pode exigir do devedor um dado comportamento, ou prestao. Esta pode
ser um comportamento de facto uma ao num determinado sentido -, de dar

12 Cdigo Civil, art. 570


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alguma coisa, de no fazer algo, e de sacrifcio. A prestao a traduo jurdica destes


comportamentos, sendo que o credor receber sempre um bem jurdico do devedor,
para que este satisfaa dadas necessidades.
A obrigao uma situao jurdica complexa, sendo formada por vrias
situaes simples. Ela primariamente composta por deveres, que se podem
distinguir entre principais, secundrios e acessrios. O dever principal o que se
reporta ao comportamento devido isto , prestao. Muitas vezes, as partes
estabelecero tambm deveres secundrios, que rodeiam o principal e que so
necessrios para a sua concluso. Finalmente, os deveres acessrios so aqueles que,
num caso concreto, tm como vista a concretizao do princpio da boa f em sentido
objetivo, como referido pelo artigo 762, n2.

Estado de sujeio
O estado de sujeio a situao passiva na qual se encontram aqueles que
podem ver a sua esfera jurdica alterada pelo comportamento de outrem, sem o seu
consentimento. Esta situao aparece pelo uso de um direito potestativo por um
terceiro, sendo assim a sua contraposio passiva.

Deveres
O dever a situao jurdica na qual se encontram aqueles dos quais se pode
exigir dado comportamento, sendo normalmente considerado como a situao
elementar da obrigao.
Podemos fazer uma distino entre dever genrico e especfico, sendo que o
genrico pode ser exigido a todos; enquanto isto, o especfico s pode ser exigido
queles com dadas caractersticas ou vinculaes jurdicas. Um exemplo de dever
genrico seria, por exemplo, o dever genrico de respeito para com o titular de um
direito de propriedade sobre dado bem.

nus
O nus a situao jurdica na qual se encontram aqueles que, para acederem
a uma vantagem ou afastarem uma desvantagem, devem adotar dado
comportamento. Este comportamento no exigido pelo ordenamento jurdico,
sendo a sua adoo livre, mas o ordenamento reconhecer a sua adoo ao conceder

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ao adotante uma vantagem, ou pela retirada de uma desvantagem. Um exemplo do


nus a denncia do defeito na venda de coisas defeituosas13, que, embora opcional,
pode produzir vantagens na esfera jurdica do denunciante.

Dever funcional
Tal como o poder funcional, o dever funcional ocorre nas situaes em que
deve acontecer, na determinao de um comportamento, a ponderao dos
interesses, no do sujeito em causa, mas sim de um terceiro. A diferena entre o poder
e o dever funcional a de que, no dever funcional, o espao de liberdade para a
tomada de deciso desaparece, existindo um s comportamento vivel para a
prossecuo dos interesses do terceiro, que dever ser seguido. Se, no caso do poder
funcional, o comportamento ilcito quando no ocorre de acordo com o interesse do
terceiro, no poder funcional h um ato ilcito quando o nico comportamento possvel
no ocorre.

Pessoas jurdicas
Para o Direito Privado, a pessoa o ente ao qual o ordenamento jurdico
reconhecer a capacidade de ser titular de situaes jurdicas. Esta capacidade
denomina-se personalidade jurdica. Existem pessoas que o so natural as pessoas
singulares -, e as pessoas criadas pelo ser humano as pessoas coletivas. Ambas so
agentes do Direito Privado, tendo, assim, uma esfera jurdica isto , o conjunto de
situaes de cada pessoa titular num dado momento. A alterao da esfera jurdica
de algum dever ser sempre por ele aceite.
Associado a este conceito surge o de patrimnio isto , o conjunto das
situaes jurdicas com carter patrimonial presentes na esfera jurdica de algum. O
princpio da responsabilidade exclusivamente patrimonial leva a que todos os atos
ilcitos civis sejam sancionados com consequncias patrimoniais, desde que o
praticante do ato possua patrimnio. Este princpio advm da caracterstica
puramente reparadora, e no sancionatria ou punitria, do Direito Privado.
Existem duas capacidades que definem as pessoas jurdicas, e estas
capacidades diferem, de pessoa para pessoa, em intensidade. A primeira destas

13 Cdigo Civil, art. 916


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capacidade a capacidade de gozo isto , a medida das situaes jurdicas de que


uma pessoa pode ser titular. Regra geral, as pessoas singulares tm capacidade de
gozo plena14, enquanto que as pessoas coletivas tm uma capacidade especfica, com
base no princpio da especialidade15.
Diferente desta capacidade, surge a capacidade de exerccio a medida das
situaes jurdicas que uma pessoa pode exercer, de forma pessoal e livre. Algumas
pessoas, pelas suas circunstncias fsicas ou mentais, no tm, pelo ordenamento
jurdico, capacidade para a melhor prossecuo do seu interesse. Estas pessoas so os
incapazes, existindo trs categorias para os mesmos: os menores, os inabilitados e os
interditos. O objetivo desta restrio no , como poderia parecer, o de ofender ou
agredir a personalidade jurdica dos incapazes, mas sim o de tutelar essa
personalidade, tendo como fim a proteo do incapaz e dos seus interesses. A
diferena entre a inabilidade e a interdio prende-se com o grau das suas limitaes,
levando a limitao absoluta interdio 16 e uma limitao menos intensa
inabilitao17.

Princpio da autonomia privada


Regra geral, os efeitos produzidos da esfera jurdica de uma pessoa so por ela
livremente configurados. Esta autonomia no concedida pelo Direito Privado; ,
antes, reconhecida pelo ordenamento jurdico, sendo corolrio do princpio da
dignidade da pessoa humana, como consagrado na CRP, e, subsequentemente, da
personalidade jurdica. A funo do ordenamento jurdico a de reconhecer, tutelar
e proteger a autonomia privada. Este princpio possui duas dimenses: uma dimenso
positiva a liberdade de ao da pessoa, sendo o exemplo primo desta a liberdade
contratual18 - e uma dimenso negativa a liberdade de ao da pessoa no dever
nunca infringir a liberdade de outrem, sendo exemplo a ineficcia do negcio jurdico
em relao a terceiros19.

14 Cdigo Civil, art. 67


15 Cdigo Civil, art. 160
16 Cdigo Civil, art. 138
17 Cdigo Civil, art. 152
18 Cdigo Civil, art. 405
19 Cdigo Civil, art. 406, n 2

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Teoria Geral do Direito Privado

H duas regras fundamentais no exerccio da autonomia privada. A primeira


o princpio da responsabilidade, segundo o qual a pessoa ser responsvel pelo
cumprimento das situaes que configura na sua esfera jurdica, exigindo o
ordenamento comportamentos a estas conformes. Um exemplo deste princpio a
obrigatoriedade de cumprimento dos negcios jurdicos20. Isto leva a uma lgica de
auto-vinculao da pessoa suas escolhas, traduzidas em situaes jurdicas.
A segunda destas regras o cumprimento do princpio da boa f, princpio
geral do Direito Privado, que dever estar presente em todas as aes das pessoas, e
que ser melhor concretizado em seguida.

Princpio da boa f
O cumprimento do princpio da boa f deve ser assegurado em todas as aes
das pessoas jurdicas. Por esta magnitude, seria impossvel que o ordenamento
jurdico prevesse todas as situaes de aplicao concreta do princpio da boa f. No
caso das obrigaes, por exemplo, a boa f integra-se no contedo das mesmas,
criando um conjunto de deveres acessrios. Noutros casos, a boa f funciona como
mecanismo de controlo, sendo exemplo o abuso de direito21. O princpio da boa f
tem como base o comportamento de um bom homem honesto, que age, no
atendendo somente aos seus interesses, mas tambm ao interesse dos outros.
Distinguimos entre a boa f objetiva o padro comportamental que um bom homem
honesto seguiria num determinado caso concreto, sendo uma infrao boa f
objetiva uma infrao consciente destes princpios22 e boa f subjetiva quando o
agente, ao agir de forma contrria boa f, desconhecia que a sua ao seria
prejudicial para outrem. Podemos distinguir entre boa f subjetiva psicolgica onde,
para o ordenamento jurdico, basta demonstrar a ignorncia do agente do mal que o
seu comportamento causaria23 e boa f subjetiva tica em que no basta que o

20 Cdigo Civil, art. 406, n1


21 Cdigo Civil, art. 334
22 Um exemplo da boa f em sentido objetivo a referida para aceitao dos usos

enquanto fonte de direito, no Cdigo Civil, art. 3, n1


23 Um exemplo da boa f em sentido subjetivo psicolgico a necessidade de

conscincia presente na definio de m f no Cdigo Civil, art. 612, n2; ou a


necessidade de conhecimento, no Cdigo Civil, art. 119, n3.
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Teoria Geral do Direito Privado

agente tenha ignorncia do mal que o seu comportamento causaria, mas este deve
demonstrar que, nas circunstncias nas quais agiu, no existia uma exigncia de que
este soubesse do mal que estes atos provocariam, ou seja, existe uma ignorncia sem
culpa24.
A boa f em sentido objetivo, segundo Menezes Cordeiro, concretiza-se de
duas formas essenciais. A primeira forma de concretizao da boa f em sentido
objetivo o princpio da tutela da confiana isto , a ideia de que o agente no deve
surpreender os outros, quebrando a confiana de terceiros quanto a um
comportamento expectvel, devendo sempre ser respeitados os princpios da
confiana estabelecidos na situao jurdica da expetativa. H vrias formas de quebra
da confiana; por exemplo, a adoo de comportamento desconforme a
comportamentos anteriores. A segunda forma de concretizao o princpio da
primazia da materialidade subjacente, que refere que se deve sempre poder
identificar, por detrs de dada situao jurdica, um determinado interesse; e que,
quando estes interesses forem conformes aos princpios gerais do Direito Privado, e
aos princpios da boa f, no se procurando, por exemplo, causar dano a outrem,
ento os comportamentos levados a cabo pelo agente sero, por esta tica,
conformes boa f.

Abuso de direito
O abuso de direito, previsto no art. 334 do Cdigo Civil, um instituto jurdico
correlacionado com a boa f, visto ser a ultrapassagem dos limites desta uma das
causas para o abuso de direito. O abuso de direito ocorre com a ilicitude do exerccio
de dada situao jurdica ativa e isto significa que este comportamento ilcito
ocorrer dentro do espao de liberdade do titular -, que, embora dentro dos limites
formais desse direito, manifestamente contrrio aos limites impostos pela boa f,
pelos bons costumes ou pelo fim econmico e social do direito exercido
abusivamente. Esta contrariedade deve ser manifesta, de forma a garantir a segurana
jurdica de um titular eventualmente inocente.

24Um exemplo da boa f em sentido subjetivo tico a no-culpabilidade do ato do


agente, no Cdigo Civil, art. 291, n3; ou na referencia a ignorncia desculpvel
presente no Cdigo Civil, art. 1648, n1.
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Teoria Geral do Direito Privado

A contrariedade boa f surge quando o exerccio de dado direito ocorre de


forma que quebra a concretizao da boa f em sentido objetivo, no caso concreto.
Existem vrias situaes-tipo de abuso de direito por m f. A primeira a chamada
exceptio doli, quando o exerccio do direito em causa tenha como fim, no a
prossecuo de um interesse prprio, mas sim a causa de dano a outrem, estando em
causa o princpio da materialidade subjacente. A segunda a venire contra factum
proprium, isto , quando o titular causa no outro confiana quanto a uma ao futura
num determinado sentido, agindo depois num sentido contrrio. A terceira o caso
das inalegabilidades formais, que ocorre quando, tendo algum conhecimento da
forma que dado contrato deva ter 25 , e sabendo da sua nulidade em caso de
inobservncia da forma 26 , contrata, vindo mais tarde a invocar a sua nulidade. A
quarta a tu quoque, a situao na qual se encontra aquele que exerce dado direito,
tendo efetuado um ato ilcito para aceder ao mesmo. A ltima destas situaes o
exerccio inadmissvel de posies jurdicas, estando aqui em causa a primazia da
materialidade subjacente. O que ocorre nesta situao , mediante ao do titular de
um direito, uma desproporo significativa entre um benefcio pequeno do titular do
direito e um prejuzo grande para terceiros. Assim, acredita-se que este
comportamento ser desconforme ao princpio da boa f.
Quanto aos bons costumes, estes so um conjunto de regras relativas e
circunstanciais, temporais e geograficamente alterveis, e que as pessoas mais
honestas e razoveis observam na sua vida. Os bons costumes, so, de certa forma, a
moral social dominante e um comportamento a eles contrrio ser um que v contra
as regras morais da sociedade comum.
Finalmente, quanto ao fim econmico e social do direito, este ocorre quando
o legislador prev um fim especfico para dado direito atribudo pelo ordenamento
jurdico, e no nos casos como os direitos subjetivos, em que o direito no tm um fim
em si prprio. Nestes casos, qualquer exerccio de um direito que no respeite os fins
definidos pelo ordenamento ser um exerccio em abuso de direito. Finalmente, do
final do art. 334 do Cdigo Civil podemos retirar tambm que est em abuso de

25 Cdigo Civil, art. 219


26 Cdigo Civil, art. 220
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direito aquele que, tendo um fim econmico e social definido pelo ordenamento para
dado direito, no o exerce conforme qualquer necessidade.

As consequncias do abuso de direito


Mas quais as consequncias do exerccio abusivo de um direito? No mbito do
Direito Privado, a sano atribuda ao abuso de direito , no caso do dano a outrem, a
indemnizao por esses mesmos danos. O Direito Privado baseia-se numa ideia de
reparao patrimonial, e no em sanes ou punies per se. Esta reparao dever
retornar o prejudicado ao estado em que estaria caso nunca lhe tivessem sido infligido
danos. Como bvio, esta indemnizao no ocorrer caso o abuso de direito no
tenha gerado dano a outrem. A segunda consequncia do abuso de direito a
paralisao, a priori, do exerccio do direito do agente, por parte do ordenamento
jurdico, quando se possa crer que este v agir abusivamente.

A Atividade Jurdica e o Negcio Jurdico


A atividade jurdica pode ser definida como o estudo do conjunto de atos,
praticados por dado agente, que se traduzam na exteriorizao da vontade de
produo de efeitos jurdicos. -nos possvel, aqui, distinguir entre dois tipos de ato
jurdico: o ato jurdico em sentido estrito e o negcio jurdico. O ato jurdico a ao
na qual a mera celebrao de uma dada ao levar produo de um facto jurdico,
no sendo necessria uma ponderao ou confirmao quanto aos seus efeitos, que
so atribudos ao agente pelo ordenamento jurdico. O mesmo no ocorre no negcio
jurdico; aqui, a celebrao do negcio implica uma ponderao dos efeitos que o
celebrante deseja que ocorram, sendo estes por ele e por mais celebrantes, na maior
parte dos casos decididos. Assim, o negcio jurdico tem sempre a inteno de
produzir determinados efeitos, decididos pelo agente. O negcio jurdico por
excelncia o contrato.
Quanto ao regime jurdico aplicvel aos atos jurdicos em sentido restrito, de
notar que os atos jurdicos so consideravelmente residuais em comparao com os

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negcios jurdicos, no existindo um regime geral para os atos; ao invs, surge a


possibilidade de criao de analogias com os regimes aplicveis ao negcio27.

As caractersticas do negcio jurdico


A primeira questo que deve ser tomada em considerao em relao ao
negcio jurdico e sua criao a da distino entre os comportamentos com
relevncia jurdica, ou no. Afinal, apenas os comportamentos com relevncia jurdica
podero ser criadores de negcios jurdicos. Pode at acontecer que, em situaes
diferentes, o mesmo comportamento possa, numa dada situao, ter relevncia
jurdica, e noutra no. No caso de um comportamento sem relevncia jurdica, falamos
ento da formao de acordos; no comportamento com relevncia jurdica, surge o
negcio. Como comprovar a existncia de relevncia jurdica para dado
comportamento? Surgem dois critrios um subjetivo e um objetivo. O primeiro
critrio, o subjetivo, define-se como a existncia de uma vontade expressa dos
sujeitos envolvidos no comportamento de celebrar um negcio jurdico. O segundo
critrio, o objetivo, refere-se ao bem em causa no comportamento, que dever ser
valioso o suficiente para justificar a interveno do ordenamento jurdico, como
manifestado pelo Cdigo Civil, art. 398, n 2. Este refere que os bens no necessitam
de ter um valor pecunirio, mas que devem, isso sim, corresponder a um interesse
digno de proteo legal. Em suma, o negcio jurdico existe quando se verifique a
sobreposio dos dois critrios.
Outra questo que deve ser abordada so as duas caractersticas-base da
atividade jurdica. A primeira destas caractersticas a performatividade isto , a
capacidade de produo de efeitos jurdicos atravs da celebrao da atividade. A
segunda caracterstica a reflexividade, ou seja, a noo de que esses efeitos sero
produzidos na esfera jurdica do prprio agente, havendo uma reflexo dos negcios
celebrados pelo agente na sua esfera jurdica.

A declarao negocial e o processo de atividade jurdica


Um conceito fundamental quanto atividade jurdica a declarao negocial,
como definida pelo Cdigo Civil, art. 217. Esta importantssima, visto ser utilizada

27 Cdigo Civil, art. 295


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pelo ordenamento jurdico como traduo dos comportamentos por este tidos como
confirmao da deciso para a produo de efeitos jurdicos. A declarao negocial
corresponde a dados comportamentos, previstos no Cdigo Civil, arts. 217 e 218. O
Cdigo Civil prev as declaraes expressa, tcita, e o silncio. As noes de
declarao expressa e a declarao tcita surge no n 1 do art. 217. A declarao
expressa a feita por palavras, quer escritas, quer por outro meio direto de
manifestao da vontade; enquanto isto, a declarao tcita aquela que pode ser
deduzida de factos que a revelem com probabilidade. Quanto ao silncio, que surge
previsto no art. 218, este comportamento a traduo de uma omisso pura quanto
a dado negcio; deste modo, no funciona como a declarao tcita, na qual existe
uma manifestao da vontade de negociar.
A declarao negocial normalmente tida como o trmino do processo de
atividade jurdica. Este processo tem duas fases uma fase interna e uma externa. A
fase externa adota a forma da declarao negocial. Enquanto isto, a fase interna tem
momentos vrios, podendo ser dividida na fase intelectual, onde so identificadas
dadas opes de atividade jurdica, e onde recolhida informao sobre a
consequncia de cada uma destas opes; e a fase volitiva, em que a deciso
tomada e ocorre o processo negocial.
H casos nos quais, atravs da falsa representao da realidade, da expresso
inadequada da declarao negocial, da falta de liberdade, entre outros, o negcio
jurdico se torna invlido. Estes so conhecidos como os vcios da declarao negocial.
Estes vcios, que estudaremos mais aprofundadamente depois, podem surgir
associados a dados interesses o do declarante e do declaratrio, que se procuram
desvincular da situao em que se encontram, ou manter o outro agente vinculado
situao, consoante os casos. o ordenamento jurdico que decide, em cada situao,
que interesse dever ser protegido.

A forma da declarao negocial28


A forma das declaraes negociais regulada pelos arts. 219 e seguintes do
Cdigo Civil. Inerente ideia de exteriorizao de uma determinada deciso aquilo
a que chamamos a declarao negocial estar sempre a forma da mesma. Ora, o art.

28 Cdigo Civil, arts. 219 e ss.


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219 refere que, na falta de disposio legal em contrrio, a forma da declarao


negocial livre este o princpio geral da liberdade de forma. Sendo, quando a lei
o impe como o tal, o desrespeito pela forma razo para a invalidade da declarao,
estaremos aqui perante uma situao de forma ad substancia, comprovada ainda pelo
art. 364, n1. O que isto significa que a forma especfica, quando haja uma indicao
da mesma, ser fundamento para a validade da declarao; o mesmo no ocorre nos
casos previstos pelo art. 364, n2, onde a forma especfica somente dotada de
relevncia enquanto prova, existindo aqui a forma ad probationam.
necessrio ainda fazer uma distino entre formas legal, voluntria e
convencional. Na forma legal, cujo regime est definido nos arts. 220 e 221, falamos
dos casos em que a lei exige uma forma especfica para a declarao negocial; significa
isto que, quando a declarao desrespeite essa forma, ser considerada nula, quando
a lei no indique outra sano. O desrespeito pela forma , alis, uma das causas para
a invalidade da declarao negocial. Podemos apontar dois motivos fundamentais
para a exigncia de forma feita pelo ordenamento jurdico: o primeiro a necessidade
de ponderao face a dados negcios, sendo exemplo a exigncia da forma escrita na
venda de bens imveis29; o segundo a necessidade de segurana jurdica.
O art. 221 trata do mbito da forma legal; isto , a possibilidade de validade
de clusulas verbais acessrias declarao, podendo-se distinguir entre clusulas
anteriores declarao e clusulas posteriores. Para as clusulas anteriores,
estabelece o n1 deste artigo que, caso estas no sejam transpostas para o
documento escrito, sero nulas, exceto pela verificao de duas condies
cumulativas: a primeira a de que no lhes seja tambm exigida a forma escrita; a
segunda, que estas clusulas verbais correspondam vontade das partes, devendo o
interessado provar que a excluso das mesmas no significa o trmino do
compromisso em causa. Quanto s clusulas posteriores, prev o n2 que a nica
condio para a sua aceitao a inexigncia de forma escrita.
A forma voluntria e a forma convencional referem-se s situaes em que,
no obstante a inexigncia de forma escrita, esta respeitada. Quando esse respeito
deriva de uma vontade autnoma e espontnea do declarante, estamos perante uma

29 Cdigo Civil, art. 875


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situao de forma voluntria; quando este respeito tenha sido previamente acordado
pelas partes, ocorre a forma convencional. No caso do mbito da forma voluntria,
como previsto pelo art. 222, tem-se que as clusulas verbais anteriores ao
documento so vlidas, como previsto pelo n1, quando demonstradamente
correspondentes vontade do declarante, e quando no haja uma exigncia de forma
escrita para as mesmas. No caso das clusulas verbais posteriores, tal como surge no
n2, essas sero vlidas, a menos que lhes seja exigida a forma escrita.
No caso da forma convencional, cujo regime previsto pelo art. 223, diz-nos
o n1 que ocorre uma presuno 30 de que a vinculao pela declarao ocorrer
somente por aquela forma. Esta presuno pode, no entanto, ser ilidida. No caso de
conveno posterior celebrao, diz-nos o n2 que, quando as partes se tenham
querido vincular desde logo, a declarao sob forma escrita funcionar, no como
substituio da celebrao, mas sim como uma confirmao ou consolidao da
mesma.

Perfeio da declarao negocial31


A perfeio da declarao negocial o momento em que esta passa a produzir
efeitos; e, subsequentemente, a vincular as pessoas nela envolvidas. Chamamos
declarao negocial produtora de efeitos uma declarao eficaz. O momento da
eficcia definido pelo art. 224, que faz uma distino entre declarao recetcia
isto , uma declarao com destinatrio ou declaratrio definido e as declaraes
no-recetcias as sem destinatrio definido. Estas tm, como nos indica o n1,
momentos de eficcia diferenciados.
No caso das declaraes recetcias, a declarao produz efeitos, ou quando
chega ao poder do destinatrio, ou quando a declarao for por este conhecida
destes dois momentos, o que ocorrer primeiramente considerado o momento da
eficcia. Esta uma consequncia direta do disposto no n1 do art. 224. No caso em
que a ao culposa do destinatrio leva a que a declarao no seja por ele recebida,
diz-nos o n2 que a declarao , no obstante, eficaz. No caso em que a declarao
seja recebida mas em que, sem culpa do destinatrio, o seu contedo no possa ser

30 Cdigo Civil, arts. 349 e ss.


31 Cdigo Civil, arts. 224 e ss.
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conhecido, a declarao ineficaz, como nos refere o n3. Finalmente, no caso em


que a identidade ou paradeiro do destinatrio sejam desconhecidos, o art. 225
refere a possibilidade de anncio pblico da declarao, sendo este publicado num
jornal da residncia do declarante.
Quanto s declaraes no-recetcias, indica-nos o n1 do art. 224 que estas
se tornam eficazes quando a vontade do declarante se manifeste de forma adequada.

Interpretao e integrao da declarao negocial32


O art. 236 dita que a declarao negocial valer com o sentido que um
declaratrio normal, no lugar do declaratrio real, possa deduzir do comportamento
do declarante existe, assim, o princpio geral da prevalncia do sentido objetivo da
declarao. No entanto, este princpio mitigado de duas formas primeiramente,
pois a perspetiva adotada ser, no a do homem normal, mas sim a de um homem
normal com todos os conhecimentos que o declaratrio real tenha; em segundo,
porque h um limite ao sentido objetivo da declarao, e este limite o da
razoabilidade do declarante aquando da emisso da declarao; ou seja, a nulidade
do sentido subjetivo do comportamento do declarante.
O declarante tem o nus de exprimir a sua deciso da forma mais precisa
possvel, evitando-se a multiplicidade de sentidos interpretativos. O art. 236, n2
trata da situao j qual o declaratrio conhece a vontade real ou subjetiva do
declarante; aqui, a declarao valer de acordo com essa vontade.
O art. 237 explica-nos o que fazer num caso duvidoso, fazendo-se uma
distino entre negcios onerosos aquele no qual ambas as partes tm
determinadas vantagens ou desvantagens e gratuitos nos quais uma das partes
tem todas as vantagens, e outra parte ter todas as desvantagens. Nos negcios
gratuitos, em caso de dvida, prevalecer o sentido da declarao que seja menos
gravoso para o disponente isto , a parte em desvantagem. Nos negcios onerosos,
deve ser utilizado o sentido que oferea o mximo equilbrio entre as prestaes das
partes. pressuposto da aplicao do art. 237 a aplicao prvia do art. 236.

32 Cdigo Civil, arts. 236 e ss.


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O art. 238 oferece-nos regras especficas para a interpretao das declaraes


negociais sujeitas exigncia de forma33. O que este artigo refere que, no mbito
da interpretao de uma declarao negocial sujeita a forma legal, a interpretao
no se poder afastar substancialmente do texto da declarao, ainda que o sentido
deste seja imperfeitamente expresso.
Quanto integrao lacunar nas declaraes negociais, esta surge prevista no
art. 239. Para isto, deve o intrprete fazer uma distino entre lacuna e omisso,
sendo que a lacuna uma omisso cuja resoluo necessria para a interpretao
da declarao como um todo. tambm necessrio relembrar a existncia, no Direito
Privado, de normas supletivas; isto , aplicveis somente em caso de omisso pelas
partes, sendo acionadas subsidiariamente. Estas normas supletivas resolvem a grande
maioria dos problemas que possam surgir, falando-se, assim, aqui de omisses e no
de lacunas. Ou seja, o art. 239 trata das lacunas; isto , as omisses em que, caso o
declarante fosse com essa situao confrontado, quereria corrigi-la.
Este artigo aplica-se s declaraes negociais em geral, no significando a
existncia de normas supletivas a inexistncia de uma lacuna. A expresso disposies
gerais refere-se a disposies legais sobre determinados tipos de declaraes
negociais34, e no s normas supletivas antes mencionadas. possvel concluir que,
no caso de confronto com dada situao omissa, o declarante poderia no escolher a
soluo concedida por uma norma supletiva; assim, a escolha desta soluo ser
contrria ao princpio da autonomia privada e, deste modo, a aplicao do art. 239
dever ser feita afastando as normas supletivas. (Embora, notemos, na generalidade
dos casos, a soluo que o declarante escolheria seria a indicada pela norma
supletiva.)
A aplicao deste artigo feita, assim, do seguinte modo primeiro,
verificando a possibilidade de aplicao de outras normas integrativas; segundo,
verificando a existncia de uma lacuna; terceiro, integrando essa lacuna de acordo
com os critrios previstos no art. 239. O primeiro destes critrios para a integrao
de lacunas a vontade hipottica das partes quanto ao ponto omisso; o segundo a

33Cdigo Civil, arts. 219/220


34Por exemplo, o diploma relativo s Clusulas Contratuais Gerais inclui normas de
integrao especficas para este tipo de contratos.
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soluo de acordo com o princpio da boa f; e, caso a soluo pela vontade hipottica
v contra os ditames da boa f, estes prevalecero.

A ineficcia das declaraes negociais ou dos negcios jurdicos


Normalmente, o ordenamento jurdico associar aos comportamentos das
pessoas os efeitos jurdicos que quiserem adotar; a isto se chama a eficcia da
declarao negocial. s vezes, por dada razo, o ordenamento jurdico impedir que
dada declarao negocial produza os efeitos desejados pelo declarante; a isto
chamamos a ineficcia da declarao negocial. Existem trs razes abstratas para a
ineficcia o desrespeito pela forma, que j abordmos anteriormente; os vcios da
declarao negocial, que surgem no mbito dos fatores contextuais que rodeiam a
declarao negocial, levando ineficcia declarativa, quer na fase da representao
da realidade, da deciso e da sua exteriorizao. O regime destes vcios previsto
pelos arts. 240 e ss. A terceira razo a invalidade do contedo da declarao,
quando o ordenamento jurdico, considerando o prprio contedo do negcio
negativo, considera a declarao invlida35.
A ineficcia tambm pode ser distinguida por trs modalidades diferentes de
atuao a inexistncia, a invalidade e a ineficcia em sentido estrito. A inexistncia
ocorre naquelas declaraes s quais o ordenamento jurdico no atribui qualquer
relevncia, sendo assim para este inexistente; , por isto, a pior das modalidades. Nas
outras, a declarao ser alvo de uma valorao, ainda que negativa; na inexistncia,
tal no acontece, pois a declarao considerada inexistente para o ordenamento.
Um exemplo de uma declarao inexistente ser a emitida por coao fsica36. Deve
ser notado que as situaes de inexistncia so relativamente raras. A invalidade
surge regulada pelo Cdigo Civil nos arts. 285 e ss., e iremos abord-la em detalhe
posteriormente. Finalmente, surge a ineficcia em sentido estrito, nas situaes em
que, no se verificando a invalidade, tambm impossvel o reconhecimento de
efeitos s declaraes. O comportamento em causa no ser valorado negativamente
pelo ordenamento jurdico, mas ser, isso sim, considerado como ineficaz.

35 Cdigo Civil, arts. 280 e ss.


36 Cdigo Civil, art. 246
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Algumas disposies sobre a invalidade37


Existem duas modalidades especficas para a invalidade: a nulidade e a
anulabilidade. A nulidade surge prevista no art. 286, sendo invocvel por qualquer
interessado ou seja, todos aqueles com um interesse legtimo no negcio em causa,
podendo este interessado ser um terceiro. (isto , no ser nem o declarante nem o
declaratrio) A nulidade pode ser invocada a todo o tempo, sendo declarada
oficiosamente pelo tribunal. Isto significa que o tribunal poder declarar a invalidade
de uma declarao a qualquer momento, mesmo que nenhuma das partes a tenha
invocado.
A estas caractersticas poderemos opor as da anulabilidade, que surge prevista
no art. 286. A anulabilidade s pode ser arguida pelas pessoas cujo interesse seja pela
lei protegido para tal com o estabelecimento da mesma; e, em termos temporais, s
poder ser arguida dentro do ano subsequente cessao do vcio que torne a
declarao anulvel38. O n2 do art. 286 elimina, notemos, a dependncia de prazo,
quando o negcio em causa ainda no tenha sido cumprido. A anulabilidade pode
ainda ser confirmada39 - isto , eliminada -, enquanto que a nulidade insanvel. O
vcio poder tambm, notemos, ser sanado pelo trmino do prazo40. O que ocorre na
confirmao a desistncia do direito anulao, sendo ento poder daquele a quem
pertena o direito de anulao, como nos refere o n2 do art. 287, e s poder tomar
lugar aps a cessao do vcio. O n3 refere-nos ainda que a confirmao pode ser
expressa ou tcita, no exigindo forma. Os efeitos da invalidade so previstos pelo art.
289 - regra geral, dever ser restitudo tudo o que tenha sido prestado, sendo a
invalidade retroativa.
No caso do negcio contra disposio legal, este ser nulo41. Surge tambm o
princpio do aproveitamento do negcio42, que refere que a soluo de invalidade
prefervel ser sempre a que continue a permitir a eficcia, ainda que parcial, da
declarao negocial. Finalmente, o art. 292 prev que um negcio parcialmente

37 Cdigo Civil, arts. 285 e ss.


38 Cdigo Civil, art. 286, n1
39 Cdigo Civil, art. 288
40 Cdigo Civil, art. 287, n1
41 Cdigo Civil, art. 294
42 Cdigo Civil, arts. 292 e 293

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invlido ser inteiramente invlido quando este no tivesse sido concludo com a
remoo do contedo invlido.

Os vcios da declarao negocial


Abordaremos agora exemplos de vcios da declarao negocial, que ocorrem
em trs fases diferentes do processo declarativo na formao da vontade, na falta
de liberdade da deciso e na exteriorizao da deciso. Cada uma destas fases
encontra regimes especficos, que abordaremos de seguida.

Vcios na formao da vontade


Na fase da representao, pode acontecer que no haja uma representao
adequada da realidade; a estes erros chamamos os erros na formao da vontade, ou
erro de vcio. Ocorrem quando h uma representao errnea da realidade; isto ,
quando a deciso do sujeito tomada tendo em conta dada informao, que se vem
a descobrir ser falsa. Este regime previsto pelos arts. 251 e ss. Outra situao
aquela na qual a declarao negocial ocorre numa situao de ameaa, falando-se
aqui da coao moral, no art. 255. Noutros casos, pura e simplesmente no existe
qualquer negcio43, quando a declarao no seja sria; ou quando haja coao fsica,
no art. 246. Finalmente, podem em dados momentos existir negcios invlidos
devido incapacidade acidental do declarante44.

Erro de vcio45
Nesta situao, o declarante utiliza, para a sua deciso, situaes que presumia
serem factos, mas que so, na realidade, errneos. -nos necessrio, primeiramente,
distinguir sobre a causa do erro de vcio isto , se este erro espontneo ou causado
com dolo. O regime aplicvel ao erro de vcio variar de acordo com este fator. No
caso do erro simples ou espontneo, aplicvel o regime presente nos arts. 251 e
252; no caso do erro causado por dolo, aplicvel o regime dos arts. 253 e 254.
O dolo , como definido pelo art. 253, uma sugesto ou artifcio com a
inteno de manter em erro o declarante. No somente o declaratrio que pode

43 Cdigo Civil, art. 245


44 Cdigo Civil, art. 257
45 Cdigo Civil, arts. 251-254

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induzir esta sugesto; segundo o n1 do mesmo artigo, qualquer pessoa poder


provocar o dolo. Este artigo possibilita tambm a caracterizao do dolo como uma
omisso que possa induzir uma realidade no-factual na mente do declarante. O
conceito de dolo encontra limites, no entanto, sendo-nos estes dados pelo art. 253,
n1; aqui, esclarece-se que no dolo o comportamento usual no comrcio jurdico
e, no dolo por omisso, este s ser ilcito quando haja um dever de elucidao,
resultante de lei, estipulao negocial ou usos. No caso da verificao de dolo,
deveremos ento aplicar o regime do art. 254; caso tal no ocorra, ser aplicado o
regime relativo ao erro de vcio simples.
No regime aplicvel ao dolo, previsto no art. 254, torna-se primeiramente
necessrio perceber se este advm do declaratrio ou de terceiro; quando o dolo
provenha do declaratrio, ser aplicvel o n1 do mesmo artigo quando provenha
de terceiro, ser aplicvel o regime do n2. Quando o dolo advm do declaratrio, a
declarao ser anulvel pelo declarante. Quando provenha de terceiro, torna-se
necessrio, para a anulao, o conhecimento, ou exigncia de conhecimento, do
declaratrio, do comportamento com dolo de terceiro. A segunda parte do n2 refere-
se aos casos nos quais a declarao negocial v beneficiar um terceiro, e, se este tiver
sido o autor do dolo, ou se, como no caso da primeira parte do n2, este tivesse ou
devesse ter conhecimento do dolo, ento a declarao ser anulvel em relao ao
beneficirio. Podemos chegar, eventualmente, concluso de que, mesmo existindo
dolo de terceiro, este irrelevante; neste caso, ser aplicvel ao regime geral do erro
de vcio, quando este erro v prejudicar o declarante. Isto deriva do facto de que o
dolo prejudicar sempre o declarante; deste modo, o ordenamento jurdico escolher
a proteo do seu interesse.
No regime aplicvel ao erro simples ou espontneo ao qual podemos chegar,
tanto pela inexistncia de dolo, ou, quando este exista, pela sua irrelevncia para a
anulao da declarao -, devemos distinguir os elementos sob os quais recai o erro.
Em abstrato, o erro poder recair sob: o objeto do negcio ou a pessoa do
declaratrio46; sob a base do negcio47 ou sob os outros motivos determinantes da

46 Em ambos os casos, aplicaremos o Cdigo Civil, art. 251


47 Cdigo Civil, art. 252, n2
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vontade48. O regime aplicvel ao erro espontneo variar consoante o elemento sob


o qual recaia o erro.
Consideramos existir um erro sob a pessoa do declaratrio quando o
declarante faz uma construo errnea da identidade do declaratrio, devendo ser
ento aplicado o art. 251. Surge um erro sobre o objeto da declarao quando o
objeto seja erroneamente representado; este difere do contedo do negocio, visto o
ltimo representar as suas consequncias jurdicas, e o primeiro a coisa qual o
negcio se refira. O art. 251 refere-se somente aos erros sobre pessoa e objeto, e
no ao contedo. Este artigo remete-nos para o art. 247, aplicando-se ento o regime
do erro na declarao. Este artigo remete-nos, novamente, para a ideia de que a
anulabilidade aceite somente quando o declaratrio conhea, ou deva conhecer, a
essencialidade do elemento sobre o qual recaiu o erro. Caso o declarante no consiga
provar esta essencialidade, ento o erro ser considerado irrelevante.
O art. 252 refere-se ao erro que recaia sob a base do negcio ou sobre os
outros motivos determinantes da vontade. O n2 deste artigo, referente base do
negcio, remeter-nos- para os arts. 437 e ss., aplicando-se, analogicamente, o
regime referente alterao fundamental de circunstncias. A base do negcio pode
ser definida como o conjunto das circunstncias nas quais foi fundada a deciso de
contratar; e podemos falar da alterao de circunstncias quando a exigncia de
cumprimento do contrato, quando as circunstncias volta deste se tenham alterado
radicalmente, tornando este cumprimento impossvel, se torne de m f. Refere-nos
o n2 do art. 252 que, no caso de erro sobre a base do negcio, a anulabilidade ser
possvel quando se vejam cumpridos os requisitos no art. 437 para a alterao
fundamental de circunstncias; que, notemos, normalmente no levaria
anulabilidade do negcio, mas sim sua modificao ou resoluo, algo que no
ocorre no regime do erro de vcio. Refere-nos este artigo que, para a alterao de
circunstncias, esta alterao dever ser anormal; a exigncia das obrigaes dever
ser manifestamente ofensiva boa f; e esta alterao no pode ser prevista pelos
riscos prprios do negcio. Quando estes requisitos estejam preenchidos, ento ser
possvel arguir a anulabilidade por erro referente base do negcio.

48 Cdigo Civil, art. 252, n1


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O erro sobre os outros motivos determinantes da vontade, que no se


adeqem a qualquer dos outros regimes, ser previsto pelo art. 252, n1, sendo que
a anulabilidade s pode aqui ser arguida quando esse motivo determinante tenha
pelas partes sido acordado como essencial. Caso o declarante no consiga demonstrar
a existncia deste acordo, ento o erro ser considerado irrelevante. Um motivo
considerado essencial quando determinante para o contedo da declarao, sendo
possvel a distino entre essencialidade absoluta quando este motivo seja
determinante para contratar ou essencialidade relativa quando a remoo deste
motivo alterasse somente parte do contrato.

Vcios pela falta de liberdade na deciso


O primeiro caso em que, existindo uma deciso do declarante, esta no livre,
a coao moral49. Aqui, a declarao ocorre sob ameaa ilcita, como referido pelo
art. 255, n1, sendo, no entanto, lcitas a ameaa do exerccio normal de um direito
ou a declarao emitida sob simples temor reverencial50. A coao moral pode ainda
advir de terceiro, como referido pelo art. 256, e poder tambm dizer respeito, quer
honra ou fazenda, de um terceiro; e o seu objeto poder ser pessoal ou
patrimonial. 51 O efeito da coao 52 , quando esta provenha do declaratrio, a
anulabilidade da declarao; no entanto, quando esta provenha de terceiro, a
declarao ser anulvel somente quando se preencham dois requisitos cumulativos:
primeiramente, o mal da ameaa deve ser grave; e, em segundo lugar, o receio da
consumao dessa mesma ameaa dever ser justificvel. Quanto coao moral,
dever ser ainda referido que a natureza do mal presente na ameaa irrelevante;
sempre que haja espao para a deciso do declarante, ainda que coagida, estaremos
perante um caso de coao moral; quando no haja deciso, ocorrer coao fsica.
Surge tambm a incapacidade acidental, prevista no art. 257, que ocorre
quando algum se encontra temporariamente incapacitado, embora seja
normalmente capaz. A declarao feita sob incapacidade acidental anulvel, quando
a mesma seja notria (n2) ou conhecida do declaratrio.

49 Cdigo Civil, arts. 255-256


50 Cdigo Civil, art. 255, n3
51 Cdigo Civil, art. 255, n2
52 Cdigo Civil, art. 256

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Vcios na exteriorizao da deciso


Normalmente, a declarao negocial ser a exteriorizao perfeita dos efeitos
que o agente lhe pretenda atribuir; s vezes, no entanto, esta exteriorizao diverge
dos efeitos pretendidos estes so os vcios na declarao, previstos nos arts. 240-
244 e 247-250. A anlise destas normas permite-nos distinguir entre dois grupos
de divergncias entre a vontade do declarante e a vontade declarada os casos da
divergncia intencional (o primeiro grupo de artigos antes referido) e de divergncia
no-intencional (o segundo grupo de artigos referido).

Divergncia intencional: a simulao e a reserva mental53


A primeira destas situaes a simulao, presente nos arts. 240-243. A sua
noo surge no art. 240, n1. Esta a situao na qual declarante e declaratrio
acordam, no intuito de enganar terceiro, fazer existir uma divergncia entre a
declarao e a vontade real do declarante. A este acordo, chamamos acordo
simulatrio. Existem vrias modalidades de simulao a absoluta e a relativa. Na
simulao relativa, prevista no art. 241, h, sob o negcio simulado, outro que as
partes pretendem simular. Surgem tambm a distino entre as simulaes real e
pessoal nas simulaes pessoais, as partes verdadeiras no so as partes que fizeram
a negociao.
O negcio simulado nulo 54 . No entanto, no caso da simulao relativa, o
negcio dissimulado v-lhe ser aplicado o seu regime normal, a menos que haja uma
exigncia de forma que no tenha sido cumprida, como refere o art. 241, n2.
A segunda situao de divergncia intencional a reserva mental, prevista no
art. 244. Aqui, a divergncia usada pelo declarante, sozinho, para enganar o
declaratrio. Na reserva mental, -nos tambm possvel a distino entre reserva
absoluta e relativa, sendo que estas divergem do mesmo modo do que na simulao.
Quando o declaratrio conhea desta reserva, ento ela ter os efeitos da simulao;
quando a desconhea, a declarao ser vlida e produzir efeitos. O declaratrio
poder arguir a nulidade, no mbito do regime geral da nulidade.

53 Cdigo Civil, arts. 240-244


54 Cdigo Civil, art. 240, n2
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Divergncia no-intencional: o erro na declarao55


Nos casos em que a divergncia entre as vontades real e declarada seja
acidental, aplicar-se- o regime do erro na declarao, previsto nos arts. 247-250.
Aqui, a declarao ser anulvel, quando o declaratrio conhea, ou deva conhecer, a
essencialidade, para o declarante, do elemento sob o qual recaia o erro. Aqui, o
conceito de essencialidade adotar os mesmos moldes da essencialidade estudada no
erro de vcio que recaia nos motivos determinantes da vontade. No entanto,
devemos notar que o art. 248 refere que a anulabilidade fundada em erro na
declarao no proceder, quando o declaratrio conhea do erro.
O art. 249 trata de uma modalidade especfica de erro na declarao o erro
de clculo ou de escrita, no qual ser possvel a retificao da declarao. Este artigo
s aplicvel quando este erro seja evidente, da prpria declarao, ou das
circunstncias que a rodeiem.
Finalmente, surge o erro na transmisso da declarao, previsto no art. 250.
Neste caso, a declarao negocial transmitida por um intermedirio. Quando esta
transmisso seja inexata, ser aplicvel o regime do erro da declarao, previsto no
art. 247, exceto quando essa inexatido seja devida a dolo do intermedirio; neste
caso, previsto no n2, a declarao ser sempre anulvel, no se aplicando o regime
especfico do art. 247, mas sim o regime geral.

A condio e o termo
O termo e a condio so habitualmente referidos como clusulas acessrias
aos negcios, constituindo uma estipulao. Estas clusulas acessrias podem ser
atpicas, isto , no correspondendo a modelos previstos na lei, existem na sequncia
da liberdade contratual; e tpicas, previstas na lei com um regime estabelecido, sendo
este o caso do termo e da condio. A distino entre as duas questes o facto de
que, na segunda, o evento a ser observado para a eficcia do negocio de realizao
incerta. Em ambos os casos, os efeitos da declarao negocial estaro sujeitos
observao de um determinado facto.

55 Cdigo Civil, arts. 247-250


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A condio -nos prevista pelos arts. 270 a 277. A condio pode ser, como
nos refere o art. 270, suspensiva isto , os efeitos de determinada declarao
produzir-se-o somente com a verificao desta condio ou resolutiva ou seja, os
efeitos da declarao deixaro de se produzir aquando da verificao da condio.
Devemos notar, como referimos anteriormente, que a verificao da condio se
prender com um acontecimento futuro e incerto; a incerteza , em suma, uma
caracterstica base da condio. Devemos ainda considerar a questo das condies
potestativas; isto , aquelas em que a verificao do ato condicionante est ao alcance
da vontade de uma ou de ambas as partes, e pode por elas ser determinadas. Estas
no so verdadeiras condies.
Devemos notar, no entanto, que no qualquer acontecimento futuro e
incerto que pode ser utilizado como condio: h um conjunto de limites impostos
condio, que nos so referidos pelo art. 271. Devemos notar que estes limites no
podem inferir, claro est, no princpio da autonomia privada; assim, refere-nos o n
1 que proibida a condio que seja contrria lei ou ordem pblica, ou ofensiva
dos bons costumes, sob pena de nulidade. Refere-nos o n 2 do mesmo artigo que,
no caso de uma condio fsica ou legalmente impossvel, o negcio sujeito a esta ser,
no caso da condio suspensiva, nulo; e, no caso da condio resolutiva, esta ser
tida como no escrita.
Surge ainda a questo da pendncia da condio, prevista pelos arts. 272 a
274, isto , a situao de pendncia na qual se encontram aqueles que celebrem um
negcio condicionado, antes da verificao desta condio. No art. 272, refere-se
que, na pendncia da condio, cada uma das partes dever respeitas a integralidade
do direito da outra parte, agindo segundo os ditames da boa f. O art. 273 refere-
nos que, mesmo na pendncia de uma condio suspensiva, o adquirente do direito
poder praticar atos conservatrios, podendo estes ser igualmente realizados pelo
devedor ou pelo alienante condicional. Deste modo, tanto o adquirente como o
alienante podem praticar atos conservatrios. Quanto aos atos dispositivos, refere-
nos o art. 274 que estes ficaro sujeitos eficcia ou ineficcia do prprio negcio;
isto , verificao da condio a menos, claro est, que haja uma disposio em
contrrio pelas partes, dando-se preferncia ao princpio da autonomia privada e
sendo esta, assim sendo, uma disposio subsidiaria.

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Quanto verificao da condio, as condies desta so-nos oferecidas pelo


art. 275. Primeiramente, refere-nos o n 1 deste artigo que a certeza da
impossibilidade de verificao de dada condio equivaler no verificao da
mesma; quanto ao n 2, este refere-se que, quando a verificao da condio seja
impedida contra as regras da boa f por aquele a quem prejudica, ter-se- por
verificada. Quando seja provocada, tambm contra a boa f, por aquele a quem
aproveita, considerar-se- como no verificada.
Quanto aos efeitos da verificao da condio, esta ter normalmente efeitos
retroativos, como nos refere o art. 276, exceto quando a vontade das partes seja
outra. Em dados casos, referidos pelo art. 277, no se verificar a retroatividade da
verificao da condio.
Ao termo, previsto pelos arts. 278 e 279, ser aplicvel o regime da
condio, como nos refere o art. 278. O termo poder ser certo isto , saber-se-
que o evento que marca o incio ou a cessao dos efeitos do negcio ir acontecer, e
em que momento este ir ocorrer ou incerto isto , embora esse evento v
acontecer, no se sabe quando acontecer. O art. 279 indica-nos um conjunto de
regras para a verificao dos prazos do termo.

O instrumento jurdico da representao


A representao pode ser definida como a situao em que uma pessoa,
exercendo plenamente a sua autonomia privada, decide no atuar pessoalmente, mas
sim recorrendo colaborao de um terceiro, atribuindo poderes este para que atue
em seu nome. Isto significa, que, se o sujeito X atribuir poderes de representao ao
sujeito Y para dado efeito, perante terceiros, os seus atos tero de ser justificados,
no em nome prprio, mas em nome de X. Inerente figura da representao estar
a ideia de que a atuao em nome de outrem levar sempre criao de efeitos
jurdicos na esfera jurdica do representado.
importante fazer-se uma distino entre a atuao por conta de outrem
isto , em que o representante funciona como um mero veculo para a deciso do
representado, atuando juridicamente tal como mandatado por este e a atuao em
nome de outrem isto , em que o representante poder agir, produzindo efeitos
jurdicos na esfera do representado, e tendo um espao de deciso para agir como

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bem lhe aprouver. (sendo este, claro est, o caso da representao) Podemos
perceber isto pela leitura do art. 258, que, quanto aos efeitos da representao,
refere que o negcio jurdico realizado no mbito de uma representao produzir os
seus efeitos na esfera jurdica do representado. Deste modo, ser o representado o
investido dos direitos, e vinculado s obrigaes, que resultem da atuao do
representante.
A representao normalmente voluntria, embora haja casos como nos do
impedimento ou incapacidade nos quais esta imposta pelo ordenamento jurdico.
Falamos, assim, da representao legal, quando a representao tenha como base a
aplicao de dada norma legal; e a representao orgnica, que se aplica nas pessoas
coletivas. No caso da representao voluntria, esta ocorrer sempre nos limites da
autonomia privada, e apenas no caso da autorizao do representado. Devemos
partir do princpio que o representado atribui poderes ao representante para agir em
seu nome, estando este vinculado aos poderes especficos que lhe forem autorizados
assim, falamos, no caso da representao voluntria, de uma autorizao com
delimitao de poderes. O caso mais clssico desta autorizao ser a procurao
com poderes especficos, cuja noo nos oferecida pelo art. 262.
tambm importante mencionarmos, na questo da representao, e para
efeitos de nulidade ou anulabilidade de uma declarao com erro, qual ser a
localizao das faltas ou vcios da vontade. Esta questo -nos respondida pelo art.
259, que menciona que, exceto nos elementos nos quais tenha sido decisiva a
vontade do representado, deveremos verificar estas questes no representante.
Deste modo, a questo da delimitao dos poderes do representante em termos de
quantidade ou liberdade tornar-se- importante. -nos feita uma exceo para as
situaes em que o representado esteja de m f, como nos refere o n 2 do mesmo
artigo.
Devemos notar que o representado s ficar vinculado dentro dos poderes
atribudos. Quando o representante atue fora destes, o representado no ficar
vinculado; ou seja, o comportamento do representante ser ineficaz face ao
representado. Esta situao deixar poder deixar terceiros desprotegidos; deste
modo, refere-nos o art. 260 que, quando uma declarao seja dirigida a terceiro por
outrem, este terceiro poder exigir que o representante faa prova dos seus poderes,

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sob pena de ineficcia da declarao. A relao entre este artigo e o art. 258 leva-
nos a concluir que existe um nus a favor do terceiro.
As situaes de representao podem levar a questes de conflito de
interesses, que analisaremos em seguida. A primeira destas situaes a questo do
negcio consigo mesmo (com o representante), prevista pelo art. 261. Aqui, as duas
partes celebram um negcio, sendo, ou ambas representadas pela mesma pessoa, ou
uma delas seja ao mesmo tempo representante e contraparte. Surge, claro est, o
risco de que o representante subordine os interesses do representado aos seus. Estes
negcios so anulveis, como nos refere o n 1 deste artigo, salvo quando o
representado tenha especificamente consentido a celebrao do negocio, ou quando
o negocio exclua, pela sua natureza, a possibilidade de existncia de um conflito de
interesses. Este artigo um exemplo de atuao preventiva do ordenamento jurdico,
em que no se atende justia do negcio concreto, mas aplica-se imediatamente a
qualquer negcio celebrado com o representante.

Da procurao em particular
A procurao pode ser definida como o instrumento atravs do qual uma dada
pessoa o representado atribui a outrem o procurador determinados poderes
para que atue em nome do representado. , deste modo, um negcio jurdico
unilateral, que ocorre pela declarao do representado. Quando mencionamos o
contedo essencial da procurao, este ser a identificao do representado e do
procurador, e a lista de poderes do procurador, que incluir tambm uma lista de atos
que o procurador estar autorizado a praticar em nome do representado. Esta
procurao, na sua forma escrita, poder ser exigida por terceiro ao abrigo do art.
261, como referimos anteriormente. O objetivo da procurao a formalizao desta
atribuio de poderes, no mbito da representao voluntria.
A extino da procurao ocorre, no mbito do art. 265, n 1, no caso da
extino da relao jurdica que lhe serve de base, ou quando o procurador a ela
renuncie; ela , assim, livremente revogvel, exceto nos casos de conveno contrria
ou renncia ao direito de revogao, como nos refere o n 2 do mesmo artigo. Para
alm disso, outra limitao ser, como nos refere o n 3 do mesmo artigo, o acordo
do procurador ou de terceiro quando a procurao tenha sido conferida no interesse

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deste, a menos que exista justa causa. Quanto forma da procurao, refere-nos o
art. 262, n 2 que esta ser a forma exigida para o negcio que o procurador deva
realizar, salvo disposio legal em contrrio.
Devemos tambm notar a importncia da identidade do procurador no caso
da procurao isto leva a que a substituio do procurador s possa ocorrer, nos
termos do art. 264, n 1, quando autorizada pelo representado.
-nos ainda necessrio perceber a possibilidade da representao sem
poderes, prevista no art. 268. Neste caso, quando algum celebre um negcio em
nome de outrem e no tenha poderes para tal, o negocio ser considerado ineficaz
em nome desta pessoa, a menos que seja ratificado. A ratificao poder ser definida
como o ato unilateral pelo qual algum assume um ato praticado em seu nome, sendo
que a pessoa que o praticou no tinha poderes para tal. Esta ratificao dever ter a
forma exigida para a procurao (ou seja, e subsequentemente, a forma exigida para
o negcio celebrado, como nos refere o art. 262, n 2), tendo efeitos retroativos.
Surge igualmente a situao do abuso da representao, prevista pelo art.
269. Esta ocorre nos casos em que, embora o procurador tenha poderes para agir,
este utiliza-os de forma abusiva. Devemos notar que, em princpio, o ato praticado
com abuso da representao ser considerado eficaz em relao ao representado, a
menos que a outra parte no negcio conhecesse, ou devesse conhecer, do abuso.

O objeto, o contedo, e o fim negociais


O objeto e o contedo do negcio, previstos pelos arts. 280 e ss., so
indispensveis existncia do negcio jurdico. O objeto ser o bem sobre o qual o
negcio jurdico recaia; enquanto isto, o contedo traduzir-se- nos efeitos que as
partes pretendam ver produzidos na sequncia do negcio jurdico. O art. 280
estabelece um conjunto de requisitos para o objeto negocial: primeiramente, este
deve ser possvel, quer fsica, quer legalmente (n 1); em seguida, o objeto deve ser
lcito isto , dever ser conforme lei (n 1), ordem pblica e aos bons costumes
(n 2); finalmente, este objeto dever ser determinvel. (n 1) A consequncia para a
quebra de qualquer uma destas regras ser a nulidade.
Quanto ao fim do negcio, devemos, primeiramente, consider-lo sempre
como externo ao negcio; deste modo, refere-nos o art. 281 que este ser somente

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causa para nulidade quando respeite duas condies cumulativas: primeiramente,


dever ser comum a ambas as partes; em seguida, dever ser contrrio lei, ordem
pblica, ou aos bons costumes.

Dos negcios usurrios em especial


Regra geral, o ordenamento jurdico possibilita, devido ao princpio da
autonomia privada, a prtica de qualquer tipo de negcio. No entanto, sero
anulveis os negcios usurrios isto , aqueles que sejam celebrados como
resultado da explorao da inferioridade ou fragilidade de uma parte, tendo a outra
parte a possibilidade de retirar destes um conjunto de benefcios excessivos ou
injustificados, como nos refere o art. 282. Estes negcios tm como consequncia a
anulabilidade, devendo ter-se como trmino do vcio o fim da explorao da situao
de inferioridade, ou o fim da inferioridade em si prpria. Quanto possibilidade de
modificao destes negcios, o lesado poder requer-la ao invs de requerer a
anulao, como nos refere o art. 283, n 1. Esta modificao ocorrer sempre de
acordo com juzos de equidade. A modificao pode tambm ser requerida pelo
usurrio isto , pela parte contrria em resposta a um pedido prvio de
anulabilidade, como nos refere o n 2 do mesmo artigo. Quando o negcio usurrio
constitua crime, refere-nos o art. 284 que o prazo para o exerccio dos direitos de
anulao ou modificao no terminaro enquanto o crime no prescreva.

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Repetitrio de Perguntas

1. Existem quatro estgios diferentes de maturidade na lei portuguesa. Quais e quais


as diferenas?
2. Quais as principais diferenas entre o regime da interdio e da inabilitao?
3. Quando que o regime da ausncia deve ser aplicado?
4. Distingue os regimes da nulidade e da anulabilidade
5. Os negcios jurdicos podem tomar forma voluntria e forma convencional.
Distingue-as
6. Quando que uma declarao negocial juridicamente perfeita?
7. Qualquer resposta a uma proposta que contenha um sim encarada como uma
aceitao. Concorda?
8. A representao pode tomar vrias formas. Indica-as e caracteriza-as
9. Distingue a representao sem poderes e o abuso de representao
10. Distingue a simulao absoluta da simulao relativa
11. Diferencia os diferentes tipos de erros possveis nas declaraes negociais
12. Quais as principais diferenas entre o erro e o dolo?
13. Quais as diferenas fundamentais entre o dolo do declaratrio e o dolo de
terceiro?
14. Em que que a reduo e a converso se distinguem?
15. Distingue prdio rstico de prdio urbano
16. As obrigaes conjuntas tm um regime diferente no Direito Comercial e no
Direito Civil: a afirmao verdadeira e falsa?
17. Esclarece e comenta a importncia dos conceitos indeterminados presentes no
artigo 127 n1 alnea b) do C.C
18. Distingue as associaes das fundaes
19. Quem cala consente. Aprecie juridicamente este ditado popular
20. Exemplifica, com normas do C.C, excees ao regime estabelecido pelo artigo 21.

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