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Maiutica - Curso de Artes Visuais

DESENHOS ESTEREOTIPADOS: um mal


necessrio ou necessrio acabar com
esse mal?
Aracely da Silva
Tutora Externa: Brbara Milioli
Professor: Geraldo de Andrade Fagundes
Centro Universitrio Leonardo da Vinci UNIASSELVI
Licenciatura em Artes Visuais (ART 0096) Prtica do Mdulo III
26/04/2013

RESUMO

cena comum, na maioria das turmas dos anos iniciais, quando solicitado um desenho,
os alunos afirmarem que no sabem desenhar, ou, quando o fazem, reproduzem modelos
prontos, aqueles que tm na lembrana e que por longos anos observaram nos murais
festivos e de datas comemorativas nas escolas. Numa viso negativa, os esteretipos nos
desenhos trazem o empobrecimento da percepo e da imaginao da criana. Podem
inibir sua necessidade expressiva, alm de no estimularem os processos de criatividade
e o desenvolvimento natural de suas potencialidades. O objetivo dessa pesquisa foi levar
as pessoas a se questionarem e formarem uma opinio sobre os esteretipos das imagens
usadas no s na escola, mas tambm nos diversos meios de comunicao visual. A pesquisa
foi realizada por meio de estudo de material bibliogrfico, incluindo o Caderno de Estudos da
disciplina Leitura de Imagem. Ficou evidente, nos estudos, que o importante e o fundamental
nesse processo conduzir a recriao das imagens para que as crianas passem a ter em
seu contedo percepo e criaes prprias.

Palavras-chave: Esteretipos. Desenho. Viso negativa.

1 INTRODUO havendo, em consequncia, a criao, por


parte das crianas, de desenhos prprios,
No presente trabalho, estudaremos os perpetuando-se assim o uso da cpia, na
esteretipos nas imagens, seu surgimento segurana de que ir agradar.
pelo mtodo da impresso e a sua continuao
atravs de imagens escolares prontas, No processo de desestereotipizao
representando datas comemorativas nos acontece um estmulo viso, uma releitura
murais escolares repletos delas e das quais de imagem com impresso prpria, formas
lembraremos para o resto da vida, assim de recriar e criar novos conceitos do mesmo
como na publicidade e na mdia, onde tema e imagem.
perfilam famlias felizes e corpos perfeitos.
Iniciamos o trabalho pela pesquisa
As opinies negativas esto em torno sobre o assunto, levando discusso o tema,
da estagnao da criatividade e da criao, com a escolha de referncias bibliogrficas
pois os pais, alunos e professores perpetuam a serem trabalhadas de forma a elucidar aos
a ideia dos desenhos estereotipados, colegas o tema abordado nesse trabalho. Na
classificando-os como bonitinhos e fofos, no prtica, distribumos folhas com modelos de

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esteretipos de imagens usadas nas escolas, passam a t-los em mente como reproduo,
que foram relembrados nas histrias de e por serem bonitinhos, as crianas
vivncia de cada um. acreditam que o esteretipo um desenho
mais lindo que aqueles que elas mesmas
A pesquisa, portanto, foi feita atravs possam criar. E esse pensamento, por muitas
de estudo de material bibliogrfico, incluindo vezes, reforado pelo adulto. Assim, a
o Caderno de Estudos da disciplina estudada criana tem sua imaginao e viso inibidas,
no curso. passando a falar no sei desenhar, ficando
com medo de criar suas prprias imagens em
relao ao tema (VARGAS, 2010).
2 DESENHOS ESTEREOTIPADOS
Para perceber porque certos desenhos
comum, ainda, encontrarmos nas so denominados esteretipos, preciso
escolas, nos anos iniciais, os desenhos observar os fatos do ano 1.000, quando,
tpicos de datas comemorativas enfeitando os na China, um tipgrafo chamado Pi Ching
murais, por diversas vezes entregues prontos inventou um processo de impresso que
aos alunos para colorir. prtico repetir as veio a ser conhecido na Europa pelo nome
mesmas atividades para turmas diferentes de estereotipia. No processo, uma espcie
ou copiar algo pronto de um livro didtico. de cera derretida conseguia fundir a pgina
Nesse processo existe uma preocupao composta em uma placa inteiria, obtendo
excessiva com o ler e escrever e esquece- assim uma frma da mesma pgina, o que
se de uma alfabetizao muito importante possibilitava sucessivas reimpresses. Esse
para o desenvolvimento infantil, ou seja, a novo invento acelerou em muito o processo
alfabetizao visual. Esteretipo a repetio de impresso.A pgina fundida em placa dura
de uma imagem, simples e esquematizada, funcionava como uma matriz e, ao ser adotada
que geralmente acompanha geraes, e pelos europeus, no sculo XVIII, recebeu o
um hbito que acontece em vrias culturas nome de esteretipo ou clich; foi quando
do mundo no ensino infantil. estereotipia passou a ser a designao do
novo processo tipogrfico(VIANNA, 1995).
A alfabetizao visual tambm
muito importante, e por muitas vezes fica Para a naturalidade e criatividade na
esquecida. De acordo com Barbosa (2009, produo artstica das crianas e adultos
p. 4): importante que haja uma reeducao do
ver e da forma de receber visualmente a
Temos que alfabetizar para a leitura de diversidade de imagens prontas com que
imagem. Atravs da leitura das obras de estamos em contato diariamente. Iniciando
artes plsticas estaremos preparando
a criana para a decodificao da pela escola e seguindo por suas vidas dirias,
gramtica visual, da imagem fixa e, na tentativa de uma mudana na maneira
atravs da leitura do cinema e da como armazenamos essas imagens, dessa
televiso, a prepararemos para aprender forma e posteriormente, por meio de contato
a gramtica da imagem em movimento. com outras obras, treinando o nosso olhar
para uma releitura dessas mesmas imagens.
Esteretipo vem de estereotipia,
Qualquer espectador, a exemplo de nosso
do grego steres, que quer dizer: igual,
aluno, tem contato visual com o mundo
denso, inerte, constante, e de typos,
dos efeitos especiais chamativos e com a
que significa: sinal, molde, caricatura. Os
quantidade de informaes que recebemos
desenhos estereotipados aparecem em
todos os dias, possuindo a falsa ideia de
muitos momentos e de forma constante nas
que isso tudo que grandioso, fantasioso,
escolas. No sabemos quem os criou. O fato
fruto de grandes produes, algo belssimo,
que so utilizados com os alunos e esses

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confivel e autntico. O que acontece desenho pronto, significa simplificar, reduzir,


uma tentativa de despertar o interesse pela pouca riqueza de detalhes (VIANNA, 1995).
compra do conhecimento-mercadoria, e s
se vende se as pessoas acreditam. Ento Segundo Mredieu (1974, p. 102-103),
se recria, nas imagens, algo que se deseja, nos esteretipos usados na escola:
um produto perfeito, que aparentemente
supre todas as expectativas e necessidades A comparao de desenhos efetuados
e se torna um objeto de consumo idealizado na idade pr-escolar e de desenhos
realizados depois da entrada na escola
(SANCHES; MATTOS, 2013). permite extrair alguns fatos: a escola
impe criana a utilizao de um
de extrema importncia trabalhar repertrio de signos grficos devidamente
com imagens em sala de aula e que estas classificados (flor, rvore, pssaro, casa,
causem diferentes sensaes e reaes. etc). O aparecimento deste cdigo
acarreta um empobrecimento tanto ao
E que, ao perguntarmos s crianas sobre nvel dos temas (incomparavelmente
o que percebem ao visualizar e interpretar, mais ricos, admirveis e variados nos
possam elas ir alm da expresso gosto, desenhos executados em casa) quanto
no gosto, legal, bonita; questionarmo- ao nvel formal. Esta reduo torna os
nos sobre que sensao pode causar essa desenhos legveis e comparveis entre
si, da a possibilidade de classific-los.
imagem, buscando diversas reaes, como O impacto social ressaltado, pois,
estranhamentos, discusses, espanto. quando refora e seleciona alguns tipos
De outra forma, seria recomendvel que de grafismos julgados desejveis e que
pensssemos por que escolher essa se tornam mais comuns a todos. Tudo
imagem, que poder ou no transformar- o que no entra nestes quadros torna-
se anomalia, desvio, signo inquietante.
se em encaminhamentos pedaggicos. Assim, a escola castra a criana de uma
Devemos nos questionar: o que nos leva parte de si mesma.
a escolher determinadas imagens seria a
data comemorativa que se aproxima? Por
acreditarmos que esboa determinado A melhor forma de ensinar o olhar
contedo que devemos passar ao aluno? e aprender fazer com que os aprendizes
(DIEFENTHLER, s/d). permaneam em aberto para receber novas
informaes e acrescentar suas impresses.
Esse processo de aprendizagem pode,
3 DESESTEREOTIPIZAO: UM PROCESSO ento, igualmente, ser dito de reconstruo
POSSVEL e desaprendizagem permanente. Tendo-se
o aprender como experimentar novas vises
difcil determinar que os esteretipos e conhecimentos incessantemente, fugir
so negativos. As crianas adoram colorir ao controle da repreenso e representao
e reproduzir, seus pais acham lindos e as prontas. E para que isso seja possvel,
professoras se sentem bem e tm praticidade depende do professor estimular por meio de
em faz-los. Porm, como educadores, um leque possibilidades imagticas na escola,
precisamos perceber que isso de forma para que, com este contato, abra-se a viso
nenhuma estimula a criatividade das pessoas, e a mente para as trocas e experimentaes,
das crianas. Devemos buscar elementos e criando-se assim crianas que criam e
imagens que nos estimulem a sair de nossa produzem suas prprias imagens. Desta
zona de conforto e nos encaminhem para forma estaremos, enquanto professores, por
a criao. Com a contnua cpia, vamos meio de um treino da releitura de imagem,
perdendo nossa identidade artstica e a formando alunos habilidosos no sentido
confiana na beleza de nossas prprias criativo, crtico e criador, com seus prprios
criaes. Estereotipar, nesse sentido de

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estilos (DIEFENTHLER, s/d). em aberto e ligado releitura de imagem,


estimulando novas vises dessas imagens
Na maioria dos adultos percebemos, com o uso da criatividade.
em rascunhos ou desenhos prprios,
certa impessoalidade, sempre iguais ou
REFERNCIAS
padronizados, em geral reproduzindo imagens
que foram passadas desde a infncia e j esto
BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos. A
petrificadas no desenho dessas pessoas.
imagem no ensino da arte: anos oitenta
Num processo de desestereotipao so
e novos tempos. So Paulo: Perspectiva,
usados alguns exerccios, em que a pessoa
2009.
desenha vrias vezes o mesmo desenho de
formas diferentes, com o objetivo de levar
DIEFENTHLER, Daniela Linck.
as pessoas a abandonar esses desenhos
Provocaes imagticas: o professor
recebidos e se expressar de uma forma mais
como mediador de aes propositoras no
pessoal e criativa (VIANNA, 1995).
ensino de arte na infncia. Disponvel em:
<https://online.unisc.br/seer/index.php/
reflex/article/viewFile/329/386>. Acesso em:
4 CONSIDERAES FINAIS
23 abr. 2013.
Ao fim dessa experincia e estudo,
MREDIEU, Florence de. O desenho
chega-se concluso de que esteretipos
infantil. So Paulo: Cultrix, 1974.
esto presentes no s nas fases iniciais
de ensino, como durante toda a nossa
SANCHES, Ana Cludia Neif; MATTOS,
vida, pelos comerciais em campanhas
Maria de Fatima da Silva Costa Garcia.
publicitrias onde se tem a imagem de
Aeducao do olhar atravs da mdia.
mulheres perfeitas, cerveja, mes perfeitas,
Disponvel em: <http://www.nupea.fafcs.ufu.
profissionais poderosas.
br/pdf/7eraea/textos/txt_rp_a_educacao.
pdf>. Acesso em: 21 abr. 2013.
Os aspectos negativos das imagens
estereotipadas acontecem na alienao e na
VARGAS, Paula Regina de. Eu no sei
falta de estmulo ao uso da criatividade, da
desenhar: vendo, conhecendo e recriando
criao de produes prprias, com novas
rvores. 2010. Disponvel em: <http://
vises daquela imagem, o que leva muitas
ged.feevale.br/bibvirtual/Monografia/
vezes estagnao.
MonografiaPaulaVargas.pdf>. Acesso em:
21 abr. 2013.
Por outro lado, tem-se a possibilidade
de mudar isso pela mudana na leitura de
VIANNA, Maria Letcia. Desenhos
imagem e na releitura de muitas imagens,
estereotipados: um mal necessrio ou
onde, ao observarmos uma obra pronta, ou
necessrio acabar com este mal? Revista
desenho, a interpretamos pelo nosso olhar e
Advir. Associao dos Docentes da
impresses prprias.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
n. 5, abr. 1995.
Os objetivos da pesquisa foram
alcanados, pois todos entenderam e
formaram uma opinio sobre o tema
abordado. E como sugesto para futuras
questes relacionadas ao tema est a forma
de apresentar os esteretipos, sempre
colocando como um processo que fique

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