A Cristologia Da Divindade em Marcos PDF
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Earle Ellis*
Ao perdoar pecados em seu prprio nome, isto , como Filho do homem, Je-
sus assume implicitamente uma prerrogativa de Deus e, assim, incita um in-
tercmbio com os escribas, ou seja, os estudiosos das Escrituras. Jesus e eles
pressupem o ensino bblico de que apenas Deus pode perdoar pecados. Para
essa questo teolgica, ambos tm uma base comum de argumentao nas
Escrituras cannicas recebidas e, contra a postura da escola da histria das
religies, quaisquer paralelos anedticos na literatura apcrifa judaica ou pa-
g so provas duvidosas para o assunto em Marcos.
Com seu ato de perdo, Jesus d uma pista de sua misteriosa auto-designao,
o Filho do homem, insinuao que os escribas entendem melhor do que os
outros. Ao curar o paraltico, novamente em seu prprio nome, ele intensifica
o ato verbal, visto que todos ali tambm pressupem a concepo bblica que
relaciona morte com pecado e cura com o poder de Deus e, mais ainda, que
atribui somente a Deus a autoridade para dar vida ou (verdadeiramente) tir-
la. Dificilmente Jesus deixa subentendida apenas uma reivindicao messini-
ca humana, pois parece no haver nenhuma tradio judaica no sentido de o
Messias ou qualquer outra criatura ter o direito de perdoar pecados sob sua
prpria autoridade. Alm disso, Jesus no fala como um agente, sacerdotal,
proftico ou anglico, assegurando ao homem o perdo de Deus, nem oferece
um perdo provisrio de um tribunal humano a ser ratificado posteriormente
por Deus. Ele faz uma afirmao clara daquilo que ele e os telogos sabem ser
prerrogativa de Deus e passa a ratific-la por sua prpria palavra de vida ao
paraltico.
*
E. Ellis, Ph.D., professor de teologia no Southwestern Baptist Theological Seminary, nos
Estados Unidos. membro da Society of Biblical Literature e membro-fundador do Institute
for Biblical Research.
Todos esses aspectos, vistos num conjunto, afirmam que o segredo messini-
co da tradio sinptica, incluindo Marcos, no o segredo de alguma carac-
terstica humana da pessoa do Messias, mas um segredo de sua posio como
Filho de Deus, o segredo de sua divindade.
desse texto, aqui o santurio (naos) no alude predio de Jesus sobre o con-
junto do templo (hieron), em Marcos 13.2, conforme Eta Linnemann percebeu
corretamente, ou a qualquer outra afirmao de Jesus sobre o templo de Jeru-
salm. A referncia ao santurio em Jerusalm parte da falsidade da alegao
das testemunhas que Marcos contrape com seus qualificadores edificado
por mos humanas e no (construdo) por mos humanas.
A orao construirei outro [santurio] (Mc 14.58) pode ser uma citao er-
rada de um discurso de Jesus feita pelas testemunhas. De acordo com algumas
Creio que a pista decisiva para o significado pretendido por Jesus so as pala-
vras em trs dias. Segundo o comentrio de Donald Juel, parece duvidoso
que a expresso seja uma referncia ressurreio [de Jesus]. Considerando-
se o uso de tal expresso ou de seu equivalente anterior em Marcos, pode-se
falar de maneira mais incisiva: em trs dias aponta para a ressurreio de
Jesus. Diante de outros usos de acheiropoietos nas misses helensticas para a-
ludir nova criao surgida com a ressurreio de Cristo, o santurio no
[feito] por mos humanas, em Marcos 14.58, confirma esse entendimento
da expresso em trs dias.
Marcos, ento, usa o santurio destrudo e reedificado em trs dias para refe-
rir-se ao corpo de Jesus. Nesse sentido, concorda com a interpretao mais
explcita em Joo 2.21 e com a referncia mais alusiva encontrada em Mateus,
uma meno de Jesus como o santurio de Deus. Ele preparou seus leitores
para essa identificao pelo midrash sobre os lavradores maus, em que Jesus
identifica-se com a pedra rejeitada que se torna a pedra angular do templo
escatolgico.