Memória Da Fé - Renilda Santos Do Vale
Memória Da Fé - Renilda Santos Do Vale
Memória Da Fé - Renilda Santos Do Vale
Salvador
2016
RENILDA SANTOS DO VALE
Salvador
2016
V149 Vale, Renilda Santos do
Banca Examinadora
RESUMO
O presente trabalho tem como objeto de estudo a coleo de Paramentos Litrgicos do Museu
do Traje e do Txtil da Fundao Instituto Feminino da Bahia (FIFB), a qual formada por
peas que vo do sculo XVIII ao XX. Aps a viso inicial sobre a origem dos paramentos no
mbito da igreja catlica, comenta-se a trajetria do FIFB e o surgimento do Museu do Traje e
do Txtil e da Galeria Eclesistica, que expe parte dessa coleo. O enfoque em Henriqueta
Martins Catharino, criadora e dirigente do Instituto Feminino da Bahia na fase anterior
transformao do instituto em fundao e sua proximidade com o clero, traz luz para alm
das obras assistenciais a vertente colecionista dessa senhora da sociedade baiana, cuja
trajetria se mescla formao de diferentes colees incluindo a dos paramentos litrgicos,
que nascem de forma distinta da maioria das colees de museus. Concomitantemente
pesquisa, desenvolveu-se a documentao da coleo de modo a ter elementos sistematizados
para estudo e anlise do conjunto de paramentos e dos processos museolgicos que so e/ou
podem ser realizados em torno dela. A partir de uma anlise formal das peas da coleo
concluiu-se que parte dela tem suas origens ou sofreram influncias das indumentrias
litrgicas de origem europeia. Observaram-se, ao longo do processo, os elementos simblicos
a exemplo das cores, bordados ou aplicaes que se prestam a relacionar o paramento ou
veste com a hierarquia eclesistica e determinados rituais catlicos, alm das antigas oraes
que acompanham a sua vestidura. Conclui-se que o paramento litrgico, como objeto
religioso, se reveste de indicaes simblicas e que tais caractersticas so imprescindveis
para serem informadas quando da sua exposio ao pblico na nova condio de objeto
musealizado.
ABSTRACT
The goal of this work is studying the collection of Liturgical Vestments of the Museum of
Costume and Textile of the Women's Institute of Bahia Foundation (FIFB), which consists of
pieces ranging from the Eighteenth to the Twentieth Century. After the initial vision of the
origin of vestments within the Catholic Church, the work exploits the history of FIFB and the
emergence of the Museum of the Costume and Textile and the Ecclesiastical Gallery, which
exposes part of this collection. The focus on Henriqueta Martins Catharino, creator and
director of Women's Institute of Bahia before the transformation of the institute into a
foundation, and her proximity to the clergy, brings to light, beyond charitable works, the
collectors side of this lady of Bahian society, whose trajectory mingles with the formation of
different collections including the one of the liturgical vestments, that is created differently
from most museum collections. Simultaneously with the research, the documentation of the
collection was developed in the way that systematized elements for study and analysis of all
the vestments and museological processes that are and/or can be carried around it. From a
formal analysis of the pieces of the collection the work leads to the conclusion that that part of
it has come from or was influenced by the European liturgical garments. The symbolic
elements that are suitable to connect the vestment or wear with the ecclesiastical hierarchy
and certain Catholic rituals besides the ancient prayers that accompany the dressing up, for
example, colors, embroidery or applications. As a conclusion of this work, it can be said that
the liturgical vestment, as a religious object, comprises symbolic indications and that such
characteristics are essential to be informed when it is exposed to the public as a musealized
object.
Figura: 1 - So Boa Aventura e So Leandro ( leo sobre lona 200x176 cm).................. .22
Figura: 2 - Tnica comum (Khler, 2001, p.138) ............................................................... 26
Figura: 3 - Toga romana (Khler, 2001, p.115) .................................................................27
Figura: 4 - Quito grego(Khler, 2001, p.136), ................................................................ 27
Figura: 5 - Alva (Acervo FIFB) .......................................................................................... 28
Figura: 6 - Tnica (Acervo FIFB) ....................................................................................... 28
Figura: 7 - Pnula (Fonte: Khler, 2001, p.137). ................................................................ 29
Figura: 8 - Desenvolvimento das Casulas (Braun, 1914, p. 92) ..........................................30
Figura: 9 - Papa Leo X com dois cardeais (1518. leo sobre madeira).. .......................... 36
Figura: 10 - Fotografia do edifcio da FIFB (Acervo FIFB) ...........................................47
Figura: 11 - Fotografia de Henriqueta Martins Catharino (Acervo FIFB) ..................... 59
Figura: 12 - Sobrepeliz (Acervo FIFB) ...........................................................................62
Figura: 13 - Sobrepeliz (Acervo FIFB) ............................................................................62
Figura: 14 - Capa Magna (Acervo FIFB) ............................................................................64
Figura: 15 - Solidu (Acervo FIFB). ................................................................................... 65
Figura: 16 - Mitra, casula e estola (Acervo FIFB) ............................................................. 65
Figura: 17 - Casulas na Exposio - (Acervo FIFB) ........................................................... 66
Figura: 18 - Dalmticas na Exposio (Acervo FIFB) ........................................................ 67
Figura: 19 - Guarda-roupas (Acervo FIFB). ........................................................................78
Figura: 20 - Cmoda (Acervo FIFB).. ................................................................................. 78
Figura: 21 - Paramentos pertencentes a Dom Geraldo Majella Agnelo. ............................. 81
Figura: 22 - Estrutura da casula (Alarco e Pereira 2000, p. 54) ........................................96
Figura: 23 - Modelos de casulas (Braun, 1914, p. 94). ...................................................... 97
Figura: 24 - Casula (Acervo FIFB). ................................................................................ 97
Figura: 25 - Casula (Acervo FIFB) ................................................................................ 98
Figura: 26 - Casulas (Acervo FIFB) ................................................................................... 99
Figura: 27 - Casulas (Acervo FIFB) . .................................................................................. 99
Figura: 28 - Casula moderna (Acervo FIFB) .....................................................................99
Figura: 29 - Casula gtica (recorte da fig. 8 da p.30) . ........................................................ 99
Figura: 30 - Estrutura das Dalmticas (Alarco e Pereira 2000, p. 55) .............................. 100
Figura: 31- Dalmticas (Acervo FIFB) ...............................................................................101
Figura: 32 - Dalmticas (Acervo FIFB) ..............................................................................101
Figura: 33 - Dalmticas (Acervo FIFB) ..............................................................................101
Figura: 34 - Dalmtica (Acervo FIFB ..............................................................................102
Figura: 35 - Casula (Acervo FIFB)................................................................................... 106
Figura: 36 - Casula acervo FIFB. ..................................................................................... 106
Figura: 37 - Casula acervo FIFB. ..................................................................................... 106
Figura: 38 - Aplicao de smbolo: cordeiro ......................................................................107
Figura: 39 - Aplicao de smbolo: Cntaro com dois pssaros .........................................107
Figura: 40 - Bordado de smbolo: Trigrama latino .............................................................. 108
Figura: 41 - Aplicao de smbolo: Monogramas A e PX ..............................................108
Figura: 42 - Aplicao de smbolo: Cruz tolosona .............................................................. 109
Figura: 43 - Fanon - Insgnia papal (http://www.salvemaliturgia.com) .............................. 113
Figura: 44 - Frula - Insgnia papal (http://www.salvemaliturgia.com) .............................. 114
Figura: 45 - Anel de pescador - Insgnia papal (http://www.salvemaliturgia.com) ............114
Figura: 46 - Cardeal (http://www.salvemaliturgia.com). ................................................... 115
Figura: 47- Bispo (http://www.salvemaliturgia.com) ......................................................... 116
Figura: 48 - Calendrio Liturgico (http://universovozes.com.br)........................................122
Figura: 49 - Amito (Acervo FIFB) . ................................................................................ 125
Figura: 50 - Alva (Acervo FIFB. ....................................................................................... 126
Figura: 51 - Cngulo (Acervo FIFB) ................................................................................... 126
Figura: 52 - Manpulo (Acervo FIFB) . ...............................................................................127
Figura: 53 - Estola (Acervo FIFB) . .................................................................................... 127
Figura: 54 - Casula (Acervo FIFB) . .................................................................................. 128
SUMRIO
INTRODUO ................................................................................................................. 13
Captulo 1
VESTES SAGRADAS CATLICAS: ORIGEM E HISTRIA
1.1. Trajes Eclesisticos e Paramentos Litrgicos ............................................................... 20
1.2 Paramentos Litrgicos ...................................................................................................21
1.3 Origem das Vestes Sagradas.......................................................................................... 22
1.4 A Sagrada Liturgia e o papel das Alfaias e vestes Litrgicas .......................................30
1.5 Os Paramentos ao longo do Tempo e a Contribuio da Arte ......................................33
1.6 Paramentos: Das Orientaes Tridentinas as Orientaes do Conclio Vaticano II......38
Captulo 2
O INSTITUTO FEMININO DA BAHIA, A ARQUIDIOCESE, O MUSEU DO TRAJE
E DO TXTIL E A GALERIA ECLESISTICA
2.1 A Fundao Instituto Feminino da Bahia e a Igreja Catlica ........................................44
2.2 O Museu do Traje e do Txtil........................................................................................ 50
2.3 A Galeria Eclesistica O Resultado de uma Histria ................................................. 54
Captulo 3
COLEO, COLECIONADORA E O FAZER MUSEOLGICO
3.1 Coleo e Colecionadora ............................................................................................... 57
3.2 Documentao da Coleo ............................................................................................ 68
3.3 Segurana e Conservao da Coleo ...........................................................................75
3.4 Exposio O que temos? O que podemos? .................................................................78
3.5Aes Educativas, Colees Interativas! ........................................................................85
Captulo 4
FORMA E SMBOLOGIA NA COLEO DE PARAMENTOS DO MUSEU DO
TRAJE E DO TXTIL
4.1 Anlise Formal da Coleo de Paramentos do Museu do Traje e do Txtil ................. ..92
4.2 Os Smbolos cristos .....................................................................................................101
4.3 A Hierarquia Eclesistica e a Indumentria Litrgica ................................................... 108
4.4 A Simbologia das Cores e seu Papel na Liturgia........................................................... 118
4.5 Os Paramentos e as Oraes que acompanham a vestidura ..........................................122
5. CONCLUSO................................................................................................................ 129
Introduo
O vesturio faz parte do grupo de coisas com que o ser humano sempre visto. Como
escreve Peter Burke (2005, p. 91) os temas alimentos, vesturio e habitao so constantes
nos estudos sobre cultura material, provavelmente porque nos acompanham durante toda a
nossa vida. Existem muitas outras dimenses da vida social que so tambm bastante
importantes, porm, nenhuma delas talvez seja to necessria quanto os alimentos, to
desejada quanto a habitao e nenhuma outra seja to significativa quanto o vesturio. Este
ltimo acompanha o ser humano durante toda a sua vida, uma vez que h roupas feitas de
variados tipos de matria prima para todo tipo de ambiente, situao e clima. Dessa forma, o
vesturio est presente em todos os momentos da vida e at morte de quase todas as pessoas
que vivem em sociedade. Segundo Carvajal (2000, p. 11) pensa-se, tambm, pouco sobre os
tecidos como importantes objetos para o homem que, no entanto vive rodeado deles.
Entretanto, as pessoas parecem to habituadas aos trajes que se vestem quase
automaticamente, como algo to natural quanto a necessidade de se recolher para dormir ou
beber um copo dgua. Todos parecem conhecer cada pea que ser usada, mas pouqussimas
pessoas chegam a analisar os efeitos das roupas em suas vidas e na vida do outro. Apesar
disso, muitas vezes sabe-se distinguir e selecionar aquilo que ser mais adequado para cada
ocasio. De uma forma ou de outra se aprende a vestir por inmeros motivos, dentre eles
pelos efeitos sensveis sobre os olhos e, por consequncia, sobre a imaginao.
Se no seu surgimento o principal objetivo do traje era proteger o corpo, hoje so
inmeros os motivos que movem homem e mulher a vestirem-se. Os valores simblicos logo
apareceram e foram agregados ao ato de cobrir o corpo. Para alguns autores isso no demorou
muito para acontecer, ou melhor dizendo, veio logo em seguida, ainda com o homem
primitivo nos seus trajes de pele que, alm de cobrir, comunicavam para aqueles que no
possuam peles - a fora e o poder de quem os tinham. provvel que, em certo momento,
esses primeiros trajes passaram a ser muito mais desejados por aquilo que representavam do
que pela sua prpria funcionalidade, como analisa Umberto Eco (ECO, 1989, p. 15), ao
afirmar a primazia do valor comunicativo e de distino da roupa sobre o objeto mesmo que
se torna, nesse aspecto, uma segunda instncia, revelando a relao que h entre o ato de
vestir-se e a classe dominante.
14
Certamente o vesturio, desde seu incio como supe Eco, esteve envolvido por
variados fatores que levavam as pessoas a us-lo, e a sua funo primeira cobrir o corpo
ficava em segundo plano. Desse modo, pode-se afirmar que desde muito cedo o indivduo
percebeu que cobrir o corpo pode dar ou tirar sentidos e valores distintos. Nesse aspecto, a
roupa tem o poder de transmitir mensagens diversas, estabelecer posturas, defender posies,
assumir, afirmar ou negar condutas (FREIRE e VALE, 2014, p. 1). Ou seja, o vesturio
comunicao (ECO, 1989, p.7).
Analisando o vesturio como um objeto emblemtico, entende-se melhor o seu poder
sobre o corpo. Segundo Bhabha (1998, p. 121) cobrir a pele com outra, isto , com um traje,
talvez seja ainda de maior significado do que se possa imaginar. O ato de vestir o corpo
implica tambm uma nova leitura do esteretipo. O novo esteretipo pode impor (ou no)
respeito, admirao ou medo, pois afeta o imaginrio daquele que v, confundindo e muitas
vezes desconstruindo imagens j traadas do que se espera do outro.
Ao longo do tempo o vesturio mudou e, a cada perodo, traz novas e diferentes
propostas. Os tecidos so explorados de todas as formas e esto presentes em todo lugar,
vestindo pessoas e adornando ambientes. Parecem acessveis a todos, porm, na verdade, so
os grandes responsveis por estabelecer posies hierrquicas, seja em espaos pblicos ou
privados. Podem ser utilizados de vrias formas em um mesmo espao, distinguindo a todos
que dele fazem parte. Como, por exemplo, nas fardas dos operrios de uma instituio e
tambm no palet e gravata do funcionrio que a dirige; no caso de um hospital, nos jalecos
dos mdicos, nos uniformes dos atendentes e nos camisoles dos pacientes. Os trajes so
utilizados, como exposto neste exemplo, para identificar os indivduos segundo sua posio
dentro de certo contexto cultural e social. Portanto, pode-se afirmar que o vesturio constitui
uma identificao de como pessoas, em diferentes pocas, veem sua posio nas estruturas
sociais e negociam as fronteiras de status (CRANE, 2006, p. 21).
No plano religioso, quando se trata de vestes do culto catlico pode-se identificar
tambm a hierarquia eclesistica no uso dos trajes segundo a utilizao. Estes possuem traos
distintivos conforme sejam destinados a diconos, presbteros, bispos, cardeais ou papas,
mesmo que a maioria seja de uso comum. Como se ver adiante, os trajes na igreja catlica
so na maioria das vezes diferenciados por detalhes nas tonalidades e pelas insgnias
pontificais. Alm disso, algumas peas s so utilizadas em rituais solenes.
15
1
A Fundao Instituto Feminino da Bahia uma instituio privada, catlica, sem fins lucrativos, localizada no
bairro do Politeama, na cidade de Salvador-Ba.
16
CAPTULO 1
Vestes Sagradas Catlicas: Origem e Histria
Nesta obra de Murilo2, possvel apreciar o traje eclesistico usado por So Boa
Aventura ( esquerda), pertencente ordem franciscana e o traje litrgico utilizado por So
Leandro, irmo de Santo Isidoro. So Boa Aventura retratado com sandlias nos ps
(semelhante as sandlias de couro usadas pelos franciscanos), o hbito na tonalidade marrom
e na cintura o cordo com ns (os trs ns no cordo do hbito franciscano simbolizam os
votos de pobreza, castidade e obedincia). So Leandro est vestido por uma alva com
detalhes aparentemente em bordado ou renda na orla, na gola e nos punhos; na cintura, nota-
se o uso do cngulo; sobre a alva, uma estola aparentemente branca orlada com detalhes na
tonalidade dourada e a capa de asperge; no peito, a cruz e, na mo esquerda, um bculo;
prximo a So Leandro, a figura de uma criana (ou a representao de um anjo) est
carregando em seus braos a mitra3 do sacerdote.
2
leo sobre lona 200x176 cm. Museo Bellas Artes Sevilla. Fonte: http://www.deseoaprender.com/Murillo/ br;
22
A importncia das vestes nos rituais de culto ao divino tem sua origem encontrada
ainda no antigo testamento. No culto religioso judaico elas j exerciam um papel simblico.
Isso pode ser constatado em algumas passagens da Bblia. Inclusive era dado alto valor s
vestes sacerdotais, como se observa na leitura do livro do xodo, captulo 39, versculo um e
seguintes. Esse texto contm um relato descritivo minucioso de como essas vestes foram
solicitadas por Moiss e uma prescrio de como deviam ser confeccionadas as vestimentas
23
dos sacerdotes, atendendo a uma ordem de Iahweh 4, como podemos verificar no excerto
transcrito a seguir:
Aps a descrio do efod, o autor segue at o versculo trinta e dois do mesmo captulo
descrevendo as outras vestes que foram confeccionadas e destinadas ao culto at a entrega de
todas as vestimentas com todo o material que seria usado no templo, como leo da uno,
candelabros, cortinas etc., entregues a Moiss para serem abenoados. Toda a narrao vai at
o versculo quarenta e trs do mesmo livro. Dessa ordem dada a Moiss at a era crist, muito
tempo se passou. Porm, curioso notar a forma com que so feitas as vestes sacerdotais,
assim como as vestes do sacerdote Aaro e seus filhos: Fizeram tambm, para Aaro e seus
filhos, as tnicas tecidas de linho fino; o turbante de linho fino, os barretes de linho fino, os
cales de linho retorcido, e o cinto de linho fino retorcido de prpura violeta e escarlate e de
carmesim, como Iahweh havia ordenado a Moiss (Ex. 39, 27-29). O primor, o cuidado, o
trabalho artstico com os tranados e a denominao vestimenta sagrada fazem lembrar os
trajes utilizados pelos sacerdotes depois de Cristo, na Igreja catlica, especialmente entre os
sculos XII-XV quando era comum a utilizao de ouro, pedras preciosas e tecidos finos na
confeco dos paramentos litrgicos.
Como foi visto reservar trajes especiais para as funes religiosas era algo comum na
religio judaica. Na liturgia crist primitiva, Doutro lado, aconteceu bem depressa foram
reservadas as melhores vestes ou mais vistosas e, ao que parece, brancas (Clem. De Al.,
Strom. VI, 22, 141, 4; Canones Hipp, 37 e depois cf. Jeron, Pelag. I, 29 apud Berardino, 2002,
p. 1407). Outros autores corroboram esta teoria, como por exemplo, Lesage (1959, p.89), para
o qual provvel que, no incio do cristianismo, os sacerdotes usassem na vida cotidiana os
4
Cf. Catecismo da Igreja Catlica. (2006 p.65) Ao revelar seu nome misterioso de Iahweh, Eu sou AQUELE
QUE ou Eu Sou Aquele que SOU ou tambm Eu sou Quem sou, Deus declara quem Ele e com que
nome se deve cham-lo). [[...]]
24
mesmos trajes civis que todo o povo. Isto, porm, no os impediu que existisse aquilo que ele
denomina vestes sacras, distintas das vestes habituais.
Para sustentar tal crena, o autor cita a proibio de se usarem as vestes litrgicas na
vida ordinria feita pelo papa Estevo I, no ano de 237 (encontrada na nona lio de dois (2)
de agosto do Brevirio Romano). Outra prova sobre o uso de vestes especificas destinadas
liturgia uma afirmao dos Livros Pontificais (XXIV, 3) Sob Estevo I (254 -257):
Constitudos sacerdotes e levitas que no usem vestes sagradas no cotidiano, exceto na
Igreja5 (traduo nossa) (Berardino, 2002, p. 1407). Ainda para Berardino (2002, p.1407),
parece algo lgico que desde o final do sculo II e princpio do sculo III j houvesse vestes
destinadas somente para a liturgia, apesar de concordar que estas em nada ainda se
diferenciavam dos trajes usados por todo o povo.
O vesturio eclesistico catlico tem sua origem nas sociedades romana e grega. Com
as invases brbaras, entre os sculos IV e V, os romanos acabaram adotando as roupas curtas
de seus invasores. Porm, tal mudana no aconteceu de forma to tranquila, pois os
romanos com suas rgidas tradies, a princpio no aprovavam as calas curtas nem as
compridas adotadas pelas tribos brbaras. Mas elas acabaram sendo gradualmente aceitas, em
primeiro lugar pelos soldados (Laver, 1989, p. 40).
Portanto, como visto acima, ao que parece, os sacerdotes vestiam-se como todos. No
foram eles que mudaram seu modo de vestir e sim o povo. Enquanto estes adotaram as roupas
curtas de seus invasores, os membros do clero permaneceram fiis tradio na qual usavam
vestes amplas e longas, algo muito semelhante tnica hoje usada pelos sacerdotes sob a
estola e a casula. Sobre isso esclarece Lesage (1959, p. 80)
Alm, disso, a liberao do culto cristo no sculo IV gerou tambm o aumento dessa
forma de distino entre os trajes da vida civil e os trajes usados pelos sacerdotes, como
afirma Berardino, (2002, p. 1407):
5
Constituit sacerdotes et levitas ut vestes sacratas in usu cotidiano non uti , nisi in ecclesia (Berardino, 2002,
p. 1407).
25
(...) numa significativa afirmao de Teodoro (HE II, 23), refervel aos anos 330 e
que, em acrscimo, demonstra, como, com a liberao do culto e em consequncia
de alguns privilgios e honras alcanados pela religio crist no sec. IV, parte do
clero no resistiu sugesto de empregar tecidos algo mais preciosos na confeco
das prprias vestes, chegando mesmo a enriquec-las muitas vezes com todo tipo de
ornatos e bordados.
Entende-se ento, a partir da citao acima, que alm dos sacerdotes no sculo IV se
distinguirem pelas antigas vestes compridas dos romanos, comearam a se diferenciarem
muitas vezes tambm pelos ornamentos que carregavam nas vestes destinadas ao ato litrgico.
Algo que aumentar muito nos sculos seguintes, apesar de haver sempre alguns sacerdotes
que discordassem disso, como por exemplo, Santo Agostinho que, em seus sermes, realava
a simplicidade. E ainda este, publicamente, desaprova a tendncia inteiramente consequente,
de haver distino no vesturio nos vrios graus do clero; ainda mais, ele esclarece que veste
preciosa que lhe fosse presenteada com finalidade de distino seria vendida e o lucro
distribudo pelos pobres (Serm. 356, 13 e cf. tambm Epist. 263,1 apud Berardino 2002, p.
1407). Nos sculos seguintes, este assunto tambm foi motivo de grandes discusses e
discordncias entre alguns clrigos, como se ver melhor no item 1.5.
Sobre as origens das vestes do clero, para
alguns autores como Lesage a tnica talar usada
pelo cidado romano e adotada pelos membros do
clero, como lembra a penltima citao, deu
origem batina (veste eclesistica) e, ainda
segundo o mesmo autor, a batina muito mais
prxima da tnica do que da toga romana (Lesage
1959, p. 81), indumentria tpica do cidado
romano no sculo I a.C. (Khler, 2001, p.138), ao
se referir tunica talaris, define: tratava-se de
uma espcie de camisa de corte bem amplo e
totalmente fechada, que descia abaixo dos
joelhos, semelhante tnica comum, porm mais
longa (Figura n. 2).
Figura 2 Tnica comum
Porm, tanto a toga (figura 3) quanto a tnica romana devem ser consideradas quando
se trata do estudo sobre a origem da indumentria do clero catlico, incluindo tambm nessa
26
anlise o quito grego (figura 4), uma tnica de linho usada principalmente pelos jnicos
(KHLER, 2001, p. 109).
Todas essas vestes tratavam-se especificamente de tnicas longas usadas com um
cinto ou cordo na cintura, como algumas indumentrias usadas hoje pelo clero.
Outro exemplo da influncia dos trajes gregos e romanos nas roupas do clero
a alva, veste litrgica usada pelos ministros ordenados sob a casula ou sob a dalmtica.
Tanto a alva quanto a batina seguem o formato das antigas tnicas acima citadas.
Sendo que a batina, como j foi mencionado, uma veste eclesistica e a alva, um
paramento litrgico obrigatrio e comum a todos os ministros ordenados (Fig. 5).
Alm da batina e da alva, tem-se tambm a tnica branca. Esta ltima se diferencia da
alva por ser mais simples e poder ser utilizada tambm por ministros no ordenados,
como por exemplo: aclitos, coroinhas e leitores (figura n 6).
27
Tambm como exemplo de veste sagrada oriunda dos povos romanos, pode ser citada
a casula, veste prpria do sacerdote, que tem suas origens na pnula (figura 7). Segundo
Khler (2001, p.137):
A pnula [[...]] era um traje em forma de sino que se usava em condies
atmosfricas inclementes. Na maior parte dos casos era totalmente fechada, mas
podia ser aberta na frente. Quando fechada por inteiro, precisava ser levantada dos
lados para permitir o livre movimento dos braos. Em geral, a pnula trazia tambm
um capuz [...] A abertura no peito fechava-se, na parte de cima, com um alfinete. O
capuz era preso ao decote, com abas provavelmente costuradas nas extremidades da
altura do peito. A pnula geralmente era feita com tecido de l grosseira e resistente,
mas s vezes empregava-se um couro macio.
A descrio da pnula acima, trazida por Khler, em forma de sino, totalmente fechada
(exceto a abertura para passar a cabea), a mesma descrio da casula primitiva (ver Figura
8) usada pelos sacerdotes cristos dos primeiros sculos. Nos tempos atuais, encontram-se
algumas alteraes sofridas ao longo do tempo, alm de maior variedade nos cortes, mas ela
ainda muito semelhante antiga pnula usada pelos cidados romanos. Tambm a forma de
usar muito semelhante, visto que em Roma usava-se sobre a tnica talar.
28
No sculo IV, a pnula comeou a ser chamada de planeta, termo ainda usado na Itlia
e em alguns outros pases, nos quais esta possui um simbolismo csmico, como explica Raban
Maur (VIII).
la chasuble symbolise la charit. Certains commentateurs, s'appuyant sur le fait
que la chasuble s'appelle aussi plante (en italien notamment), car elle est ronde et
permet de tourner autour du corps, lui attribue un symbolisme cosmique. Le prtre
qui la revt prie, en effet, pour tout l'univers 6. (Maur (...) apud Crivelli, 1996)
Segundo Lesage (1959, p.100), Somente no sculo VII, a pnula passou a se chamar
casula, diminutivo de tenda, casa ou quarto. At o sculo XIII a casula era feita em
campana, ou seja, um coberto com forma de mantel largo, que chegava at abaixo dos
joelhos (COPOLLA, 2006, p. 82), Porm, com o passar do tempo, no s ficou mais curta
como tambm ganhou formatos distintos e hoje pode ser encontrada em diversos estilos que
variam de acordo com a regio e poca em que foi confeccionada (figura 8) e, apesar das
6
Para Raban Maur (oitavo), a casula simboliza a caridade. Alguns comentaristas, contando com o fato de que a
casula tambm chamada de "planeta" (italiano, em particular), porque ela redonda e permite girar em torno
do corpo, possui um simbolismo csmico . O sacerdote que reza o faz , de fato, para todo o universo. (traduo
nossa)
29
transformaes que sofreu, a ideia inicial de sua forma foi mantida, uma espcie de capa, que
se veste pela cabea, envolvendo parte do corpo.
Nos dias atuais, a casula tida como a veste prpria do sacerdote e utilizada nas
celebraes da Missa e tambm em outras aes sagradas. usada sobre a alva e a estola.
Sobre a casula se falar mais profundamente no captulo 4.
Sobre as origens das vestes litrgicas, a Igreja catlica tambm concorda que estas
tenham suas origens nas antigas vestes gregas e romanas, como afirma a citao abaixo,
que foi extrada de texto publicado pelo Departamento das Celebraes Litrgicas do
Sumo Pontfice.
Enquanto que na antiguidade crist as vestimentas litrgicas diferiam das de
uso cotidiano no pela forma particular, mas apenas pela qualidade dos tecidos
e decorao particular, no curso das invases brbaras, os costumes, e com eles
tambm a forma de vestir dos novos povos, foram introduzidos no Ocidente,
levando a mudanas na moda profana. A Igreja, ao contrrio, manteve
essencialmente inalteradas as roupas usadas pelos sacerdotes nos cultos
pblicos; foi assim que as vestimentas de uso cotidiano acabaram por se
diferenciar das de uso litrgico ( Gagliardi, 2009, p.1).
Desde o seu surgimento at os dias atuais, muitos foram os paramentos utilizados nas
celebraes litrgicas, porm, com o passar do tempo, alguns caram em desuso, mas, todos
eles mantm sua importncia histrica e por isso no devem ser esquecidos.
para essa ao sagrada por excelncia que as alfaias se destinam e assim tambm
os paramentos litrgicos, estes revestindo os ministros ordenados, numa representao
simblica do prprio Cristo, ao celebrar a ltima Ceia. Nesse sentido, Convm, entretanto,
que tais vestes contribuam tambm para o decoro da ao sagrada (IGMR, n. 335). Dessa
31
forma, h de se entender porque quase sempre houve por parte da Igreja uma grande
preocupao com todos os elementos necessrios para a realizao da Liturgia. Desde os
materiais utilizados para a confeco, ornamentao, conservao e guarda. Tudo deve ser
pensado, pois, fazendo parte do culto sagrado, tambm so assim considerados.
Mesmo aps o Conclio Vaticano II, quando a Liturgia passa por uma verdadeira
reforma e o que se pede com mais intensidade simplicidade no ato litrgico, o zelo e os
cuidados para que tudo seja feito com decoro continuam. Sobre as sagradas alfaias, o
Documento Sacrosanctum Concilium (SC)7 reafirmou a preocupao da Igreja para que estas
contribussem para a dignidade e beleza do culto. Desse modo, reconheceu que aceitou e
aceita as mudanas que o tempo trouxe no que corresponde, por exemplo, ao material e forma
com que estes so feitos, considerando os novos anseios desse novo tempo em que a Igreja
est inserida. O documento recomenda que, quanto s vestes e aos ornamentos, que sejam
simples, porm de uma beleza nobre.
Como visto, tendo a Liturgia um valor histrico, simblico, (e ainda para os fiis
catlicos) espiritual e sagrado, no caberia, portanto, que os elementos que a compem
fossem diferentes disso. , portanto de se esperar que a [...] liturgia no mbito mais alargado
do termo designe todo o conjunto de objetos, palavras e actos, pelos quais se traduz o culto
prestado a Deus [...]. (ROQUE, 2011, p.194). Nesse sentido, alfaias e paramentos, que fazem
parte do conjunto de objetos que traduzem o culto em memria de Cristo, so tambm, por
assim dizer, os instrumentos que do corpo Sagrada Liturgia e colaboram, desse modo, de
forma sensvel com a realizao do Mistrio Pascal.
certo que no incio do cristianismo no havia toda essa preocupao e cuidados em
relao beleza e nobreza dos objetos que fariam parte da Ceia do Senhor. Nos sculos II e
III, conhecidos como perodos pr-constantinianos, os cristos viviam em pequenos grupos e
a celebrao da Eucaristia era feita em casas, onde se reuniam para orar, partir o po e comer
a Ceia do Senhor. Tudo era feito com muita discrio, para no chamar a ateno das
autoridades romanas que perseguiam e matavam sem piedade os cristos. Porm, aps essa
fase difcil, segundo Roque (2011, p. 198),
A partir do dito de Tolerncia que, em 313, autorizava a igualdade de direito a
todas as religies e decretava o cristianismo como religio licita, foi permitida a
exteriorizao pblica e triunfante do culto cristo. A transformao da Igreja num
plo de influncia politica e religio oficial do Imprio Romano, bem como a
formao de um clero institucionalizado levaram a utilizao do culto como fator de
propaganda. A nova conjuntura de privilgio conduziu a edificao de locais de
7
A Constituio Conciliar Sacrosanctum Concilium Sobre a Sagrada Liturgia, foi o primeiro documento do
Conclio Vaticano II , discutido e aprovado nesse evento a ficar pronto. Ele trata diretamente da reforma e da
renovao da Sagrada Liturgia.
32
Como foi observado pela autora na citao acima, a partir do momento em que a Igreja
passou a ser a religio oficial do Imprio Romano h uma grande transformao em toda sua
estrutura e d-se incio a um novo modo de celebrar a Ceia do Senhor. Porm, parece
provvel que desde o incio, com a celebrao da primeira Ceia realizada por Cristo, os
primeiros seguidores de Cristo j tivessem entendido o valor dessa ao, pois, o prprio Cristo
demonstrou certo cuidado e zelo ao mandar preparar a ltima Ceia com os seus discpulos.
Conforme esclarece o evangelho de Lucas, Ele envia dois discpulos, Pedro e Joo, dizendo:
Ide preparar-nos a pscoa para comermos (Lucas 22, 8). Em relao ao local da Ceia, Ele diz
aos dois discpulos que estes, ao entrarem na cidade encontrariam um homem, (cujo nome no
foi revelado) e conclui E ele vos mostrar, no andar superior, uma grande sala, provida de
almofadas; preparai ali. (Lucas 22, 12).
A escolha do local, a estrutura da sala e a ordem de Cristo de que eles preparassem a
Ceia deixa a entender que era um momento importante. Afinal era dia da Pscoa, dia de
grande festa para o povo judeu quando eles comemoram a sua libertao da escravido do
Egito. Portanto, o memorial celebrado pelos judeus j era um acontecimento importante. Em
certo sentido pode-se afirmar ento que A Igreja apostlica nasce do sulco do judasmo
(Beckauser, 2004, p. 247). Herdou, portanto, do povo judeu, o modo de celebrar a memria da
Pscoa que, para os cristos, ganha um novo sentido: a ressurreio de Cristo.
A Liturgia para a Igreja a mais importante forma de comunicao com o divino.
Entre os sculos IV e VII, isto , durante os primeiros tempos do cristianismo como
religio oficial e publicamente assumida e proclamada, tornou-se definitiva a
separao e a exclusividade dos objetos destinados ao culto, bem como a respectiva
demarcao face a idnticas tipologias do uso quotidiano: as alfais afastam-se dos
modelos profanos, quer pela riqueza dos materiais , quer pela decorao com
elementos de iconografia religiosa; no campo da paramentaria, enquanto o vesturio
civil evolua para as formas cingidas ao corpo, as vestes eclesisticas persistiam
idnticas ao traje civil romano (ROQUE, 2011, P. 199).
8
Tecido de l, seda ou algodo, liso ou raso de um lado, e do outro coberto de pelos levantados e muito juntos,
seguros por fios de teia. // Tecido cuja superfcie coberta de anelados ou de felpa sados de um cruzamento de
fundo. Os veludos tm assim diversas designaes como os que so produzidos por fios de uma ou mais teias de
fios, que envolvem os ferros. Desta forma, temos veludos bordados, cinzelados, cortados, frisados, de dois ou
mais altos e os veludos formados por corte manual ou mecnico de lassas de teia ou de trama. // Veludo sabre ou
veludilho. (Costa, 2004, p.160)
9
Tecido de seda com desenhos acetinados em fundo no brilhante. // Estofo de l, linho ou algodo imitando o
damasco de seda. // Tipo de tecido, que pela sua composio de efeito de fundo e efeito de desenho, constitudo
pela face teia e pela face trama de um mesmo ponto, tem a particularidade de ser reversvel, apresentando numa
das faces o fundo opaco e os motivos brilhantes e na outra o fundo brilhante e os motivos opacos. // Tcnica de
produo de tecido. (Costa, 2004, p. 144)
34
nem as pessoas e tudo que elas possuam eram suficientes para o que exige o servio
eucarstico. Por outro lado, So Bernardo de Claraval se opunha severamente contra toda
suntuosidade na Igreja e fazia duras crticas aos que assim procediam. Dizia ele: Que
procuram com tudo isto? Vaidade das vaidades. Arde de luz a igreja nas suas paredes e
agoniza de misria nos seus pobres. Cobre de ouro as suas pedras e deixa desnudos os seus
filhos (Roque, 2011 p.201). Fazia propostas de um estilo mais simples, principalmente nos
mosteiros. Porm, nas catedrais reconhecia que tal rigor no podia ser empregado, pois
entendia que, nestas, os fiis eram estimulados pelo que viam. Os elementos de alguma forma
contribuam para o aumento da devoo.
Tais divergncias entre os clrigos sempre existiram e foram motivos de profundas
discusses. Porm, segundo Roque (2011, p. 203),
Ao longo da histria, acaba por prevalecer a ideia de que se deve destinar ao servio
divino o mais belo, mais rico e precioso. Esta atitude funciona como testemunho da
impotncia humana face superioridade e magnificncia de Deus e da consequente
necessidade de agraciar e pedir proteo atravs das oferendas mais sublimes.
10
A Missa Tridentina, ou rito latino, foi normatizada no Conclio de Trento, em 1570, mas tem bases bem mais
antigas, que remontam ao Imprio Romano do Ocidente, extinto no sculo V. O conservadorismo, a sobriedade e
o extremo recolhimento dos fiis na cerimnia foram utilizados pela Igreja no sculo XVI como resposta s
reformas protestantes do Norte da Europa que abalaram as estruturas pontifcias. (...).Foram sculos assim, at
que o Conclio Vaticano II, na dcada de 1960, introduziu inmeras mudanas, o uso da lngua local e o padre de
frente para os fiis entre elas. (VIEIRA, Leonardo, 2014. Missas em latim e com padre de costas para fiis
35
Na obra Papa Leo X com dois cardeais12, o pontfice retratado trajando uma
tnica aparentemente branca. Dela se v apenas parte que cobre os punhos. Traz sobre a
tnica uma pea que lembra levemente um roquete na tonalidade aproximada ao marfim, em
tecido aparentando damasco. Sobre ela, traz tambm uma pea semelhante mura, porm
sem botes, em tom vermelho, em tecido semelhante ao veludo. Sobre a cabea, um camauro,
(paramento pontifcio: uma espcie de gorro vermelho ou branco) que lembra um solidu
(porm distinto, pois este possui um formato menor), aparentemente no mesmo tecido e
tambm na tonalidade vermelha.
As vestes eclesisticas e litrgicas acompanham os perodos de glria e de temor da
Igreja. Gombrich (2008, p. 320), em seu livro A Histria da Arte, ao se referir a esta obra de
Rafael diz:
Nada h de idealizado nesta cabea levemente balofa do Papa mope, que acaba de
examinar um velho manuscrito (algo semelhante, no estilo e perodo, aos Saltrios
da Rainha Mary. p. 211, fig.140). Os veludos e damascos, em vrios e ricos tons,
aumentam a atmosfera de pompa e poder, mas pode-se perfeitamente imaginar que
esses no esto tranquilos. Aqueles eram tempos conturbados, pois no mesmo
perodo em que esse retrato era pintado Lutero atacava o Papa, condenando-o pela
forma como levantava dinheiro para a obra da nova igreja de So Pedro.
O Papa Leo X ficou conhecido por ter sido Pontfice do incio da Reforma protestante
e, como afirma Gombrich, foi alvo das acusaes de Lutero. A pintura retrata os dois lados da
histria. Por um lado, a figura do papa esbanjando luxo, com indumentrias feitas com tecidos
caros. Do outro lado, a imagem no feliz de algum que no tem mais o controle e o poder,
pois as acusaes de Lutero abalaram a Igreja e a Reforma protestante no sculo XVI foi o
mais duro perodo enfrentado pela Igreja desde a sua oficializao, no sculo IV. No se pode
esquecer que (...) durante o sculo XVI a igreja Romana teve de enfrentar objees s suas
principais ideias e estruturas em diversas frentes. Lutero, Calvino e outros questionavam os
prprios alicerces da Igreja Romana (BELLITTO, 2010, p.139). Desse modo, a obra de
Rafael, como compreende Gombrich, externa o sentido da obra, ligados s circunstncias
histricas pelas quais passava a Igreja catlica.
Entretanto, medida que o tempo passava, os paramentos litrgicos ganhavam mais
ateno por parte do clero. Eram feitos cada vez mais com o que havia de melhor em tecido,
renda e bordados muitas vezes feitos com fios de ouro e prata. Contudo, desde antes da
oficializao de seu uso at os dias atuais, os trajes eclesisticos e litrgicos sofreram
transformaes, tanto nas formas, cortes e nos tecidos para confeco, quanto na maneira de
12
Obra de Rafael Sanzio. Fonte:http://historiadaarte.pbworks.com
37
A arte sacra passa por maiores mudanas a partir do sculo XIX. Vrios fatores
contriburam para isso, entre eles a separao entre o Estado e a Igreja e a Revoluo
Industrial, o que torna mais fcil de compreender o contexto histrico dos trajes eclesisticos
e em que medida eles esto ligados ao contexto social e econmico das sociedades.
13
Los sentidos culturales de los objetos son procesos dinmicos desde sus contextos
histricos hasta los modos interpretativos del presente. La produccin de los
ornamentos litrgicos no se desliga de dichos procesos al ser resultado de la
interaccin de los aspectos especficos tanto socio-culturales como econmicos.
(MATIZ E MACHADO, 2000, p.20).
13
Os sentidos culturais dos objetos so processos dinmicos desde seus contextos histricos at os meios
interpretativos do presente. A produo dos ornamentos litrgicos no se desliga de tais processos ao ser
resultado da interao dos aspectos especficos tanto socioculturais quanto econmicos. (traduo nossa).
14
Cf. Segundo a Enciclopdia Catlica Popular, exclaustrao: o abandono temporrio da vida religiosa
concedido pelo legtimo superior, com dispensa das obrigaes incompatveis com a nova situao, especificadas
no indulto da e. (p.ex., uso ou no do hbito). O superior religioso s pode conceder a e. por 3 anos; a
prorrogao deste prazo compete Santa S ou, se se tratar de instituto diocesano, ao bispo local (cf. CDC 686-
687). (Fonte: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia/artigo).
38
de ourivesaria, trabalhava com grandes encomendas feitas por comunidades religiosas que
faziam seus pedidos conforme os ornamentos litrgicos determinavam. Nesse sentido, as
mudanas de estilos artsticos e transformaes sociais no so consideradas fatores negativos
em relao arte sacra catlica, pois,
A Igreja. nunca considerou um estilo como prprio seu, mas aceitou os estilos de
todas as pocas, segundo a ndole e condio dos povos e as exigncias dos vrios
ritos, criando deste modo no decorrer dos sculos um tesouro artstico que deve ser
conservado cuidadosamente. Seja tambm cultivada livremente 'na Igreja a arte do
nosso tempo, a arte de todos os povos e regies, desde que sirva com a devida
reverncia e a devida honra s exigncias dos edifcios e ritos sagrados. Assim
poder ela unir a sua voz ao admirvel cntico de glria que grandes homens
elevaram f catlica em sculos passados. (SC.123).
Conclio Vaticano II
Um dos documentos mais importantes quando se trata das Regras referentes ao uso
dos paramentos litrgicos o Instructionum Fabricae et Supellectilis e ecclesiasticae de
1577, obra escrita por So Carlos Borromeu, num dos momentos cruciais para a Igreja
Catlica, que foi a Contra Reforma. Tal documento considerado a primeira iniciativa
39
quando se pensa em regulamentos quanto liturgia catlica. Nela, Borromeu faz referncias
aos ornamentos txteis e aos paramentos sacros.
Alm do perodo difcil vivido pela Igreja, a obra foi escrita em Milo, que estava
sendo dizimada pela epidemia conhecida como peste negra, contra a qual So Carlos
Borromeu lutou muito na tentativa de combat-la.
Outro fato que cercava o autor das regras que Milo era uma diocese que adotava o Rito
Ambrosiano15. Apesar de o Rito Ambrosiano se diferenciar em muitos pontos do Rito
Romano e de Borromeu pertencer a uma diocese que adotava o primeiro rito, o religioso
conseguiu em suas regras no se limitar a uma s forma de liturgia especfica, mas Liturgia
Romana16 em geral, da qual o Rito Ambrosiano faz parte.
Suas determinaes quanto ao uso dos objetos litrgicos e como estes deveriam ser
tratados foram claras, independentemente do rito adotado nas dioceses. Desse modo, suas
regras tiveram longo alcance por possurem um carter geral.
Motivado pelo amor que nutria pela arte, aliado f, s convices que possua e s
determinaes do Conclio de Trento, escreveu seu segundo texto, com a ajuda do monsenhor
Ludovico Moneta e Dietro Calesino: De iis Pertnet ad ornatun et cultun ecclesiarum, no qual
incentiva a grande necessidade da produo de uma obra sobre aes de conservao e
restaurao dos bens sacros, tanto mveis quanto imveis.
As instrues produzidas por Borromeu foram baseadas nos preceitos legais do
Conclio de Trento e s foram colocados ao acesso de todos a partir do sculo XVII. No
sculo XVIII foram traduzidas para o italiano e s no sculo XIX que foram traduzidas para
outras lnguas.
Em suas obras, entre outras coisas, Borromeu apresenta uma lista dos objetos que so
necessrios nas aes litrgicas, de acordo com o nmero de ministros, da necessidade e
15
A liturgia ambrosiana um dos frutos mais significativos da evoluo que aconteceu nos sculos IV e
seguintes: a diferenciao das famlias litrgicas, quer no Oriente quer no Ocidente. Embora a origem do rito
ambrosiano no se conhea com plena segurana, a tradio relacionou-o activamente com Santo Ambrsio, o
grande bispo de Milo, de finais do sculo IV. Esta liturgia foi-se formando com claros influxos de outras, quer
dos orientais quer da galicana, mas com liberdade e criatividade prpria, na qual certamente Santo Ambrsio
muito se empenhou, pelo menos na composio de oraes e hinos, at chegar coerncia interna de estilo e de
organizao que agora tem. No sculo XV, com a imprensa, cuidaram-se mais dos livros litrgicos prprios, e
So Carlos Borromeo, no sc. XVI, teve o mrito de fomentar e renovar o conjunto desta liturgia ambrosiana. O
Conclio Vaticano II (cf. SC 4) pediu que estes ritos legitimamente reconhecidos, diferenciados do romano, se
respeitem, mais ainda, que se conservem e se fomentem. Por isso, tambm para a liturgia milanesa se ps em
marcha, nos anos ps-conciliares, um intenso trabalho de estudo, renovao, purificao e criatividade, at
chegar s edies dos novos livros litrgicos: Missal, Leccionrio, Ritual, Pontifical, etc. (Fonte:
http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/liturgia.
16
O Rito Romano ou latino possui trs importantes liturgias, a romana, a morabe e a ambrosiana. O Rito
Romano o mais importante e difundido, o Rito Morabe utilizado nas catedrais de Toledo e Salamanca na
Espanha e o Rito Ambrosiano utilizado em Milo e localidades que fazem parte dessa localidade.
40
importncia de cada Igreja em particular. Alm disso, arrolou, de acordo com a solenidade
qual foi determinado, os objetos e a forma dos paramentos, obedecendo s exigncias das
regras dos Ritos e das instrues, desde as especficas catedral, at s Igrejas mais simples.
Tudo isso relacionado de forma precisa e com um nmero predeterminado.
Soraya Coppola finaliza o estudo sobre as regras elaboradas por Borromeu analisando o
carter litrgico-teolgico da obra e chega seguinte concluso:
No o carter formal dos objetos, mas seu valor religioso. Pela sua natureza
informativa e didtica, no se poderia permitir nada que pudesse levar ao erro de
interpretao. A ateno direcionada ao aspecto funcional da arte, enquanto a
funo assume uma alta configurao tica (COPOLLA, 2006, p. 37).
Ou seja, em relao ao valor religioso, ao aspecto funcional da arte e outros pontos das
instrues dadas na obra de So Carlos Borromeu, nota-se, (na anlise de Copolla) que este
seguia as orientaes do Conclio de Trento e que estas no se distanciam tanto quanto se
pensa das orientaes do Conclio Vaticano II, pois ambos os conclios analisam a arte nos
paramentos litrgicos como algo que contribui para a ao litrgica. A Igreja preocupou-se
com muita solicitude em que as alfaias sagradas contribussem para a dignidade e beleza do
culto (SC. 7). Porm, o texto sugere que esta seja feita com mais simplicidade. Com nobreza,
entretanto. O mesmo orientado tanto para ornamentos quanto para as vestes litrgicas.
Realizados em perodos e contextos totalmente distintos, tanto o Conclio de Trento
quanto o Conclio Vaticano II deram ateno Liturgia. Como foi visto, as instrues de So
Carlos Borromeu tiveram como base e motivao as recomendaes tridentinas. Porm, foi
mais um ato de defesa da f expressada na Liturgia, como acreditam alguns autores, como
Frei Alberto Beckauser, do que um Conclio de reformas propriamente dito. Para muitos, uma
resposta Reforma Protestante, ou o incio do movimento que ficou conhecido como
Contrarreforma17. Segundo Beckauser (2004, P. 259),
O Conclio no fez a reforma nem deu princpios para tal. Confiou a tarefa ao
Pontfice. Decretou que fosse universal e uniforme, em continuidade com a tradio,
procurando desfazer o estado catico, ocasionado pela reforma protestante,
satisfazendo o senso histrico-crtico da poca, procurando tirar os acrscimos
posteriores por demais particulares, no romanos, restituindo o primado dos
Templos litrgicos, diminuindo as festas dos santos. Devia ser introduzido um
Ordo Missae e de rubricas gerais obrigatrios. O Conclio fez o que podia,
17
A Contra-Reforma foi um movimento da Igreja Catlica no sculo XVI que surge como resposta s crticas
dos humanistas e de diversos membros da Igreja e de importantes Ordens Religiosas, tais como os Franciscanos,
Dominicanos e Agostinhos, que apelavam moralidade e ao regresso pureza e austeridade primitivas. Alm
disso, a Contra-Reforma surge tambm como resposta ao avano da Reforma Protestante iniciada por Martinho
Lutero. Este movimento assume assim uma vertente de Reforma Catlica (que procura redefinir a Doutrina da
Igreja e a disciplina do clero) e uma vertente de Contra-Reforma que procura combater e impedir o avano do
protestantismo. Os principais meios utilizados pela Igreja Catlica para efectuar a sua Reforma foram a criao
de novas ordens religiosas (destacando-se a Companhia de Jesus) e a realizao do Conclio de Trento (fonte:
http://www.notapositiva.com/dicionario_historia). (Consulta realizada em 19/04/2015).
41
18
Chama-se movimento litrgico ao processo de recuperao dos valores da vida litrgica da comunidade
crist, que se deu entre meados do sculo XIX e princpios do sculo XX. Quando o Conclio Vaticano II, com a
Constituio Sacrosanctum Concilium (1963), deu luz verde reforma litrgica, esta pde programar-se e
realizar--se graas preparao e maturao do Movimento Litrgico, fenmeno to vasto, que comportou a
actividade dos mosteiros, centros de estudo, estudiosos, pastores, congressos e intervenes magisteriais dos
diversos Papas. (Fonte::http://www.portal.ecclesia.pt/ecclesiaout/liturgia/liturgia).
19
Extrado do texto redigido por Fernanda Camargo Giannini para o catlogo da Exposio Vestes Sagrada,
realizada pelo Museu de Arte Sacra de So Paulo em 2011.
42
distanciamento. Por outro lado, muitas vezes havia uma preocupao exagerada apenas com
os elementos da Liturgia (alfaias, indumentrias, ornamentao). Com o Conclio Vaticano II,
esse problema diminuiu sensivelmente. Porm, talvez por m interpretao das propostas,
muitas dioceses se descuidaram com os elementos litrgicos considerados objetos sagrados,
ocasionando em muitos erros na liturgia e desleixos principalmente em dioceses e parquias
menos favorecidas. Entretanto, nada disso tira a importncia desses dois conclios para aquilo
que a Igreja considera o pice para o qual tende a ao da Igreja (CIC, 1073), qual seja, a
Sagrada Liturgia.
A autora Soraya Coppola, em sua dissertao de mestrado Costurando a Memria: O
acervo Txtil do Museu Arquidiocesano de Arte Sacra de Mariana, teve acesso obra de So
Carlos Borromeu20 Instructionum Fabricae et Supellectilis e Ecclesiasticae, de 1577, e ao
estudo de Joseph Braun, de 1914. Segundo ela, Referidas obras no foram publicadas no
Brasil, sendo inclusive no exterior consideradas fontes raras, no estando disponveis para
venda (Coppola, 2006, p. 12). As ideias descritas neste item foram elaboradas a partir do
estudo de Coppola sobre a importncia da obra de So Carlos Borromeu em relao
regulamentao de tudo que faz parte da Liturgia, principalmente por este tratar dos
paramentos sacros e decorao txtil na Igreja. Alm de Coppola, outros autores como Frei
Albert Beckhauser, com sua obra Os fundamentos da Sagrada Liturgia, alm de
documentos e do Catecismo da Igreja contriburam para a construo dessa reflexo.
Todo este primeiro captulo sobre origem e histria dos paramentos e seu papel na
liturgia tem o objetivo de esclarecer quanto importncia desse objeto, seu valor como objeto
da arte txtil e como objeto do culto religioso catlico na histria. Alm disso:
(...) las numerosas iglesias de culto de la religin catlica reunieron a travs de la
historia ornamentos litrgicos que por ser muy lujosos se dejaron de usar en busca
de un mayor acercamiento del clrigo a los feligreses. Al dejarse de usar se
convirtieron en piezas de museos, en objetos de inters cultural al cobrar mayor
importancia su significado cultural que su funcionalidad (Carvajal, 2000, p. 15)21.
20
So Carlos Borromeu nasceu no castelo de Arona, nas margens do Lago Maior, Ducado de Milo, em 2 de
outubro de 1538, filho dos condes Gilberto e Margarida de Mdici. A me era irm do Cardeal Joo ngelo, que
seria elevado ao slio pontifcio com o nome de Pio IV. Aos 21 anos Carlos doutorou-se nos Direitos civil e
eclesistico. Foi Cardeal Arcebispo aos 22 anos. Ficou conhecido como uma figura importante na Contra-
Reforma catlica, grande defensor do Conclio de Trento. A reforma que pregava, ele iniciou em sua prpria
casa. Colocou ordem na diocese de Milo, estabelecendo regulamentos para que todos vivessem em verdadeira
vida de orao e com simplicidade e modstia. Estabeleceu ordem na Catedral de Milo, edificou muitos
seminrios. Porm o mais admirvel em sua vida foi o zelo por seu povo durante a peste que assolou Milo em
1576. Enquanto muitos fugiram, ele ficou cuidando dos doentes, visitando hospitais e administrando os ltimos
sacramentos. So Carlos Borromeu morreu aos 46 anos, em 4 de novembro de 1584, sendo canonizado em 1610.
(O contedo desse texto foi elaborado a partir das informaes encontradas no artigo de Plnio Maria Solimeo,
disponvel no site: http://catolicismo.com.br/materia/materia).
21
(...) As numerosas igrejas da religio catlica reuniram atravs da historia ornamentos litrgicos que por ser
muitos luxuosos se deixaram de usar em busca de um maior aproximao do clrigo dos fiis. Ao deixar de
43
usar se converteram em peas de museu, em objetos de interesse cultural ao se dar maior importncia a seu
significado cultural que sua funcionalidade (traduo nossa). (Carvajal, 2000, p. 15)
44
Captulo 2
No conheo coisa igual em todos os colgios do Brasil por onde andei e que visitei
e no sei se vi pelo menos igual nos Estados Unidos. Se a iniciativa privada na
Bahia faz obra dessa natureza, com frequncia, a Bahia pode se considerar a terra da
promisso.22
rico Verssimo23
22
Relato citado por rico Verssimo ao visitar o Instituto Feminino da Bahia. Publicado pelo Jornal O Estado
da Bahia no dia 05 de novembro de 1951.
23
rico Verssimo nasceu em 17 de dezembro de 1905 em Cruz Alta, no interior do Rio Grande do Sul.
Trabalhou como bancrio, balconista de armazm e farmacutico at se mudar, aos 25 anos, para Porto Alegre.
Na capital gacha, foi redator, diagramador e ilustrador da Revista do Globo, onde estreou como escritor com o
conto "Ladres de gado". Ganhou diversos prmios por sua obra literria, como o Jabuti (1966), o Juca Pato
(1967), o do PEN Clube (1972) e o da Fundao Moinho Santista (1973). Tornou-se tambm um bem-sucedido
autor de livros infantis e tradutor de obras importantes, como Contraponto, de Aldous Huxley. Erico Verissimo
morreu em 1975, antes de concluir o segundo volume de suas memrias, Solo de clarineta, publicado
postumamente. (texto disponvel em: http://www.companhiadasletras.com.br.
24
O incio do trabalho de Henriqueta na sociedade baiana deu atravs do Programa de boa leitura , projeto que
tinha como objetivo divulgar e estimular jovens e senhoras a leitura de boas obras que ela e algumas
companheiras consideravam salutares e proveitosas, como lembra Passos (1992, p. 26) Colocava disposio
das interessadas sua biblioteca particular e, orientada na poca, pelo cnego pio Silva e pelo padre jesuta
Camilo Torrend, ia adquirindo novos ttulos, renovando continuamente o seu acervo a fim de melhor cumprir
suas finalidades. Concomitantemente a esse programa criou em sua prpria casa as tardes de costura onde
reuniam-se senhoras para elaborar trabalhos de croch, tric. O resultado do trabalho era doado a pessoas
carentes. Era o incio da busca pelo que seria seu ideal trabalhar para a maior glria de Deus.
25
A Casa da Providncia de Salvador foi fundada, em 1855, pela Beneficente Associao das Senhoras de
Caridade. Destinava-se s meninas rfs, com um colgio que tambm atendia a alunas externas. Em 1874,
45
seus ideais comearam a ganhar corpo, pois ambos tinham os mesmos sonhos, de trabalharem
em favor do prximo. Assim nasce a obra de proteo a mulher que trabalha. Pouco tempo
depois surge, ento, a Casa So Vicente, localizada na Rua 15 de novembro, no Terreiro de
Jesus. Alm de biblioteca, agncia de empregos e agncia de trabalhos manuais, possua uma
penso onde eram recebidas senhoras e senhoritas. Segundo Passos (1992, p.29),
Visando facilitar a vida daquelas que residindo fora de Salvador, precisassem de um
lugar moralmente sadio, na capital, afim de que pudessem estudar e trabalhar.
Desse modo, abrigavam estudantes, funcionrias pblicas, professoras, bem como
senhoras e senhoritas que visitassem a Bahia desacompanhadas.
contava com 60 alunas internas gratuitas, 86 pensionistas e 140 alunas externas. O ensino inclua religio,
contabilidade, prendas domsticas e lngua francesa. (...) A Casa da Providncia uma instituio catlica que
existe em algumas cidades do Brasil. Em Salvador, abriga atualmente a Escola Municipal Casa da Providncia.
Fica na Rua Ges Calmon, 10, bairro da Sade.
46
p. 27). O resultado foi a construo de ... um palacete de trs pavimentos, com aspecto de um
solar de famlia, situado no bairro do Politeama26.
26
Imagem disponvel em: www.instituto.org.br/fundacao/index.php.
47
tornasse o que hoje, uma instituio com trs grandes museus, tudo acontecia para que isso
viesse a acontecer, de forma natural, mas, com aes concretas, como as exposies que j
aconteciam antes mesmo de o Instituto se instalar na sede que hoje conhecida.
O IFB continuou a crescer nas novas instalaes, ampliou-se de tal forma que se viu
obrigado a subdividr-se em trs departamentos ou divises para melhor administrar todas as
suas aes. Foram elas: Diviso de cultura, Diviso de Economia Domstica e Diviso de
Assistncia social. Segundo Passos (1993, p. 29) a Diviso de Cultura Voltada para a parte
pedaggica e de transmisso do conhecimento, era constituda pela Biblioteca, Museus,
Escola Tcnica de Comrcio Feminina, Ginsio feminino, Curso de secretariado, Auxiliar de
Comrcio, escola de Datilografia, Cursos de Lnguas, Literatura, Taquigrafia, Mecanografia,
de Filosofia e de Religio. Sobre os Museus, a autora esclarece que a primeira iniciativa do
IFB data de 1933, trata-se da abertura da primeira sala do museu, que aconteceu no Primeiro
Congresso Eucarstico Nacional realizado no IFB, com a primeira exposio que teve como
objetivo a divulgao da cultura da mulher baiana. Nesta, foram expostos trabalhos de
agulhas e rendas, flores, vestidos e outras prendas (Passos, 1993, p. 32), (como se ver no
item 2.2). Aps essa primeira exposio, muitas outras aconteceram. A partir do ano de 1944,
essa prtica passou a ser comum: o museu passou a organizar trs a quatro exposies por
ano, abertas ao pblico, em comemorao a datas importantes ou apenas para contribuir com
a educao artstica da juventude (Passos, 1993, p. 32).
A experincia de 1933 de criar um setor para museus foi uma grande inspirao
que consequentemente levou a outras iniciativas ainda maiores, que resultaram na criao de
dois museus: O Museu de Arte Antiga e o de Arte Popular. O primeiro objetivava guardar e
divulgar os trabalhos da mulher baiana (...). O Segundo, Museu de Arte Popular, congregava
peas representativas da cultura nacional em geral e da cultura baiana em especfico (Passos,
1993, p. 33). Pelo que se pode constatar, havia em Henriqueta Catharino uma preocupao
com a divulgao da cultura, em especial da cultura baiana e, agregada a isso, a participao
da mulher nesse contexto. Todas essas iniciativas realizadas no Instituto Feminino no
passavam despercebidas pela mdia baiana, apesar de toda discrio de Henriqueta Catharino
e Monsenhor pio (sucessor de Monsenhor Flaviano) e de muitas vezes desejarem o
anonimato em relao a participao que tinham em cada uma delas, como se pode constatar
em algumas notas de jornais, como essa, do Jornal Dirio da Bahia de 26 de maro de 1954
(ver anexo C), encontrada nos arquivos da biblioteca do IFB, que diz:
Prometi, leitor amigo, que voltaria a falar sobre o Instituto Feminino, ou melhor,
sobre a Prola da Bahia, este relicrio de baianidade, orgulho do nosso Estado, caso
a nobre diretora permitisse.
48
Alm da forma cerimoniosa e do visvel respeito e admirao que o autor (que assina
com o nome de R. Almeida) da nota de jornal acima expressa atravs de suas palavras ao se
referir a Henriqueta Catharino e Monsenhor pio, na poca diretores do IFB, h tambm um
certo fascnio, como quem se refere a pessoas e fatos extraordinrios. E no se trata de um
nico jornal, de um nico texto ou jornalista. So inmeras as notas de jornais que, ao se
referirem seja ao IFB, seja aos seus fundadores, expressam-se, ora de forma potica, ora de
forma extremamente respeitosa, como quem fala de algo ou algum que est acima das
expectativas da poca. Alm disso, a relao com os poderes pblicos parecia ser muito boa.
H vrios registros na instituio que provam isso, a exemplo das solicitaes atendidas no
Dirio Oficial do Estado da Bahia. Registre-se que Elizete Passos (1993, p. 44) cita o Dirio
oficial do dia 04 de julho de 1929, que publicou que o governador do estado da Bahia, por
intermdio da lei 2.117, reconheceu o IFB como uma instituio de utilidade pblica e, desse
modo, o isentava de qualquer tipo de pagamento de imposto.
Passos ainda esclarece em seu livro que muitas outras reinvindicaes eram feitas,
algumas fora da rea econmica, uma delas considerada muito importante foi em ... 25 de
fevereiro de 1939, quando o Instituto Feminino solicitou prefeitura da cidade do Salvador
que fosse feita uma homenagem ao Monsenhor Flaviano Osrio Pimentel, diretor fundador
(junto com Henriqueta Catharino) do Instituto, dando seu nome ao trecho situado entre as ruas
Renato Medrado e Moacyr Leo (Passos, 1993, p. 44). Solitao aceita pela Cmara
Municipal e publicada no Dirio Oficial do Estado da Bahia em 1 de maro de 1939, ou seja,
cinco dias depois da solicitao.
Em 1950, o Instituto tornou-se Fundao, estando j nas instalaes que hoje
conhecida. Em meio aos inmeros trabalhos a instituio no se descuidava do objetivo
inicial, o qual motivava todas as aes Tudo fazer para a maior glria de Deus. Nesse
sentido, segundo Passos (1992, p 33) ... os cursos eram perpassados de ensinamentos e de
atividades religiosas como missas, procisses, retiros espirituais e orientados por princpios de
formao moral crist. As aes educacionais, de formao cultural e profissional, tudo
parece que era envolvido por este ideal de f.
49
27
Informaes disponveis em: http://www.institutofeminino.org.br;
28
Ana Maria Azevedo funcionria da FIFB. Essas informaes foram extradas mediante entrevista cedida em
20 de abril de 2016.
50
A coleo txtil do Instituto Feminino da Bahia foi iniciada no ano de 1933, ano da
realizao do I Congresso Eucarstico Nacional. O Instituto organizou uma exposio
intitulada Arte e Lavores para receber os congressistas. Proporcionar-lhes uma viso da
Bahia no sculo XIX era a inteno da direo do Instituto. O sucesso da exposio foi o
estmulo para que outras iniciativas acontecessem, levando a diretoria do IFB a escrever uma
carta sociedade. Nela a direo do IFB solicitava da sociedade baiana doaes de ... peas
antigas de vesturios, leques, lenos, pentes, teros, livros de missa, tudo enfim que a moda
consagrou em era distante, assim como trabalhos manuais: bordados, flores, pinturas etc.. A
carta , escrita em 1934, foi assinada por Henriqueta Martins Catharino, pela presidente de
honra, Sra. Almerinda Martins Catharino da Silva e pelas conselheiras do IFB. O conselho, na
poca, era composto por Sofia Costa Pinto, Marieta Pacfico Pereira, Leocdia de S Martins
Catharino e por Marieta Alves. Segundo Peixoto (2003, p. 11) , A partir desta carta, comeou
a se formar a coleo de indumentria e txtil do Instituto Feminino da Bahia.
Uma carta escrita sociedade baiana solicitando bens de costumes, como eram
denominados os objetos antigos, para a formao de um acervo parece ter sido uma prtica
normal no sculo XX. Outro exemplo semelhante a este foram as solicitaes feitas por Pietro
Maria Bardi, para o Museu de Arte de So Paulo (Masp). Segundo Bonadio (2014, p. 44)
Data de 7 de junho de 1951 uma srie de cartas enviadas a museus internacionais, em
especial da Amrica Latina, solicitando doaes de peas. Mas, assim como Henriqueta
Catharino, Pietro Bardi tambm fez solicitaes sociedade, neste caso a sociedade paulista.
Um exemplo dessas solicitaes um release feito em 1951, que, de acordo com Bonadio
(2014, p.45) foi escrito provavelmente por Bardi, no qual ele diz:
Como os diretores do museu consideram a moda uma das mais importantes
manifestaes da arte, o Sr. P. M. Bardi dirige s famlias paulistas um apelo no
sentido de que considerem a possibilidade de doar costumes antigos ao Museu de
Arte, muitos destes costumes esto guardados em armrios quando na verdade
poderiam, graas boa vontade e colaborao destas famlias, enriquecer a coleo
do Museu, concorrendo assim para o maior xito dessa campanha que visa aumentar
o nvel cultural desta metrpole29.
Alguns argumentos usados por Pietro Bardi no release acima foram tambm utilizados
por Henriqueta em sua carta sociedade baiana, como por exemplo, os benefcios que traria
dotar o Museu de uma coleo dessa tipologia e como isso era importante. No caso do Masp,
29
Desfile Dior, Caixa 4, Pasta 22, documento 32 (Biblioteca e Centro de Documentao do MASP, 1951).
51
Pietro Bardi afirma que tais benefcios seriam para toda a metrpole e, no caso do Instituto
Feminino, Henriqueta afirma que seria um grande benefcio para a Bahia. Como se pode
constatar, no trecho da carta exposto a seguir:
Por ocasio do 1 Congresso Eucarstico Nacional, graas ao concurso de distintas
famlias baianas, o instituto Feminino da Bahia organizou interessante exposio,
em que figuravam objetos de subido valor, muitos dos quais pertencentes nobreza
de antanho. Desde ento, a diretoria do Instituto Feminino da Bahia trabalha para
dotar a Bahia de um Museu digno do seu passado e, para isso, conta com a
cooperao de V. Excia.
Recebemos com prazer peas antigas de vesturio (...).
Muito nos desvaneceria contar com a simpatia de V. Excia. No sentido de transmitir
s pessoas amigas do Instituto, que deseja conservar tudo quanto de interessante nos
fale do passado. (Peixoto, 2003, p. 11)
30
Os Cadernos de D. Henriqueta foram como o prprio nome diz cadernos, cadernos da fundadora da FIFB.
Criados para anotar a entrada de objetos que fariam parte do acervo da instituio. Alm disso, consta nos
cadernos anotaes de exposies que foram acontecendo ao longo do tempo.
31
Laubisch-Hirth, a mais importante fbrica de mveis do Brasil nos anos 20-50, onde trabalharam mestres
comoTenreiro.Fonte:http://design.novoambiente.com/designer/mendes-hirth_/
32
Florinda Anna do Nascimento ou preta Ful, criada da Fazenda do Coronel Joaquim Incio Ribeiro dos
Santos e D. Ana Maria do Nascimento. No conhecido o ano do seu nascimento, embora se saiba que Ful
carregou o Dr. Ribeiro dos Santos, nascido em 1851. Quando faleceu em maio de 1931, residia em companhia
do casal Isaura Ribeiro dos Santos Diniz Borges e Dr. Otaviano Diniz Borges.(Catlogo do Museu do Traje e
do Txtil, 2003, p. 41)
52
33
Trecho da entrevista concedida pela museloga Ana Maria Azevedo ao G1 Bahia, publicado no dia
13.05.2012 no site: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2012/05/vestido-que-princesa-isabel-utilizou-para-assinar-
lei-aurea-esta-na-bahia.html.
34
Senhora importante da sociedade baiana em meados do sculo XX, foi casada com Jos Wanderley de Arajo
Pinho, sendo ento primeira dama da cidade entre os anos de 1947 e 1951.
53
classificao do Acervo do Museu Henriqueta Catharino. Entretanto, atrada pelo acervo txtil
passou a dedicar-lhe ateno. Sobre esse perodo, ela conta.
Comecei por dividir meu tempo entre a coleo txtil e as colees tradicionais.
Decidi, portanto levar ao conhecimento da Presidente a necessidade de dar uma
maior ateno a esta coleo que, embora bem preservada, necessitava de cuidados
especiais j que o txtil exige condies prprias para a melhor conservao. Apesar
de bem conservados em sua maioria, no poderamos garantir sua preservao se
assim permanecessem por mais tempo (Peixoto, 2003, p. 13).
Grande parte das informaes contidas nesse item foram extradas do Catlogo do
Museu do Traje e do Txtil, com textos dos seguintes autores: Dom Geraldo Majella Agnelo
(na poca arcebispo de Salvador e diretor da FIFB), Ana Lcia Ucha Peixoto (na poca
Diretora executiva da FIFB, falecida em 2009), Marieta Alves (1892/1981, foi conselheira e
professora da FIFB), Maria Jlia Alves de Souza (historiadora baiana), alm dos recortes de
jornais do arquivo da biblioteca Marieta Alves da FIFB. A terceira etapa do projeto do Museu
54
composies, fato que tambm justifica a preservao dessa coleo, que faz parte da histria
e da memria da Igreja.
O projeto apresenta algumas justificativas para a criao da Galeria de Indumentria e
Acessrios Religiosos. Entre elas uma parece se destacar:
Como a f tende, por natureza, a se expressar em formas artsticas e em testemunhos
histricos, que possuem uma intrnseca fora evangelizadora e um forte valor
cultural para a igreja, estes objetos encontram-se vividamente impregnados da
vivncia eclesial, documentando o percurso da Igreja ao longo dos anos, no que se
refere ao culto, catequese, cultura e caridade. Por essas razes, esta exposio
de carter permanente se justifica porque no apenas entra na mens crist, mas
tambm na ordem de valorizao dos bens culturais.35
justamente esse olhar, citado no trecho acima, que vai alm dos tecidos, das rendas e
das linhas, que produziram os trajes que um dia fizeram parte do culto mais importante da
Igreja catlica, mas, que tambm fizeram parte de um processo histrico que no para, nem
aguarda nada e nem ningum, que segue e se transforma continuamente, que sempre ser bem
cultural e que nunca deixar de ser objeto de culto. Como lembra a citao acima, est
intrnseco neste uma fora evangelizadora, pois foi feito para falar no altar. No museu as
indumentrias continuam falando, ganham uma nova leitura. Mas nunca perdero sua prpria
voz. Foram criadas para comunicar. Suas cores comunicam o tempo litrgico, cada pea
comunica um propsito, seus ornamentos e smbolos, como ser visto no captulo 4, tambm.
E essa comunicao vai alm de simples interpretao dos significados, pois, no s a
indumentria do clero, mas, todo tipo de indumentria, em todos os contextos sociais,
utilizada tambm para identificar posies e pensamentos, demarcar espaos e assumir
posturas. Possuem em certo ponto as mesmas caractersticas da linguagem verbal, como
esclarece Eco (1989, p.17):
Porque a linguagem do vesturio, tal como a linguagem verbal, no serve apenas
para transmitir certos significados, mediante certas formas significativas. Serve
tambm para identificar posies ideolgicas, segundo os significados transmitidos e
as formas significativas que foram escolhidas para os transmitir.
35
Trecho da Justificava do projeto 3 Etapa do Museu do Traje e do Txtil Galeria de Indumentria e
Acessrios Eclesisticos da Fundao Instituto Feminino da Bahia
56
no tenham, ou se tm no com tanta fora. Uma ligao muito ntima com a colecionadora,
com a Instituio e com toda a sua histria. Nesse sentido, a Galeria Eclesistica tem muito
mais a falar, pois guarda em si as motivaes que fizeram crescer a prpria instituio.
Atualmente, a galeria apresenta duas exposies. Uma delas, Relquias da F, com objetos
da coleo da FIFB e da Arquidiocese e a outra, Cardeal Agnelo Apstolo da f e da
Caridade. Ambas trazem as memrias de um tempo. A primeira relaciona-se a um perodo
que antecedeu o Conclio Vaticano II. Contm as casulas e dalmticas dos sculos XVIII a
XX, mas tambm as memrias daquele que representou o novo momento da Igreja trazido
pelas novidades desse Conclio, representado em uma vitrine com paramentos do Papa Joo
Paulo II. A segunda exposio traz a memria da trajetria de um arcebispo, de uma
arquidiocese. Apresenta um sacerdote (Dom Geraldo Majella Agnelo) e seu percurso at
chegar ali, onde ele mesmo se veria.
Seja como for e apesar de no explorar como poderia tudo que contm em si mesma, a
exposio oferece ao pblico um recorte de tempo, de uma f e de uma cultura, que sem
cerimnia alguma integram tudo isso da forma mais simples possvel: por meio dos trajes
litrgicos. Mas, conseguir oferecer ao pblico o mximo de parte de uma coleo ser sempre
um grande desafio para os museus, pois, O dilogo entre o visitante e o museu uma
realidade difcil de conseguir atravs do espao fsico em que o primeiro se movimenta e o
segundo permanece (ROQUE, 2011, p. 208). Talvez, seja ainda mais difcil esse dilogo,
quando se trata de um objeto que, quando em uso est sempre em movimento, visto que as
peas do vesturio, como se tivessem vida, participam do cotidiano de seus donos como
nenhum outro objeto.
As inspiraes iniciais que levaram criao da Galeria Eclesistica no foram
concretizadas. A implantao do Centro de F e Cultura, com todas as aes que seriam
desenvolvidas por ele, dariam mais sentido, no s a existncia dessa galeria, mas tambm a
toda instituio, que em sua essncia sempre esteve sob o trip educao, cultura e f.
Entretanto, no momento atual, a galeria uma realidade conquistada e, alm das visitas,
outras aes ainda podem ser desenvolvidas sob sua inspirao. Algo a ser pensado e revisto,
haja vista os exemplos dos fundadores do Instituto Feminino da Bahia, o Monsenhor Flaviano
Osrio Pimentel e Henriqueta Martins Catharino.
Grande parte das informaes sobre a Galeria de Indumentria, expressa aqui neste
item, foi extrada do projeto 3 Etapa do Museu do Traje e do Txtil Galeria de
Indumentria e Acessrios Eclesisticos da Fundao Instituto Feminino da Bahia, o qual foi
disponibilizado gentilmente pelo museu para esta pesquisa.
57
Captulo 3
Coleo, colecionadora e o fazer museolgico
Como nasce uma coleo, por que algum se sente motivado a colecionar certos
objetos? Os motivos para cada um so distintos e, por isso, no to fcil entender as
colees e as motivaes de seus colecionadores. Segundo Pormian (1984, p. 53), coleo
qualquer conjunto de objectos naturais ou artificiais, mantidos temporria ou definitivamente
fora do circuito das actividades econmicas, sujeitos a uma proteco especial num local
fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do pblico. Tal autor esclarece que essa
definio rigorosamente descritiva, porm, a partir dessa simples definio (no to simples
assim), podem-se explorar quatro aspectos: a coleo como conjunto de objetos, no
funcionais, protegidos e colocados para apreciao. geralmente o que acontece com grande
parte dos objetos que pertencem a uma coleo, principalmente se estes pertencerem a um
museu. Tambm, as intenes do colecionador levam os objetos colecionados a esses trs
destinos: ele quem forma o conjunto, quem o retira do seu local de origem e de suas funes
e tambm o primeiro a apreci-lo.
Entretanto, sobre o colecionador e suas colees, talvez haja muito mais a ser
descoberto do que a simples apreciao, do seu gosto ou interesse ou outros motivos pelos
quais ele buscou reunir alguma tipologia de objetos. Mas, mais do que isso, o que h por trs
dessas motivaes. Sobre isso, Pormian ( 1984, p.75) afirma:
(...) um estudo das coleces e dos coleccionadores no pode fechar-se no quadro
conceptual de uma psicologia individual que explica tudo utilizando como
referncias noes como o gosto, O interesse ou ainda o prazer esttico.
exactamente o facto de o gosto se dirigir para certos objectos e no para outros, de se
interessar por isto e no por aquilo, de determinadas obras serem fonte de prazer,
que deve ser explicado.
E o que dizer de uma coleo que surge sem a inteno de se tornar coleo, que rene
objetos para serem utilizados nas funes para as quais foram criados, de uma coleo que
dessa forma tambm colocada ao olhar do pblico e, de certa forma, para ser tambm
apreciada? o caso da coleo de paramentos da FIFB, a qual se entender melhor
conhecendo mais a sua colecionadora Henriqueta Catharino, pois, como afirma Garcia (2009,
p. 1) No h como entender a formao dessa coleo sem passarmos pela vida e
58
pensamento desta mulher36, sua trajetria, crenas e buscas, revelam tambm a trajetria
dessa coleo, uma entre tantas que se encontram na FIFB, mas, como j foi visto, h
caractersticas que a particularizam, seja devido a como esta foi formada, seja quanto ao que
concerne relao desta com a instituio onde se formou, seja, por fim, por causa da
personalidade nica de sua colecionadora.
Henriqueta Martins Catharino, (que, junto com o
Monsenhor Flaviano Osrio fundou o Instituto Feminino
da Bahia), nasceu em Feira de Santana, em 12 de
dezembro de 1886. Filha do portugus Bernardo Martins
Catharino37 e de rsula Martins Catharino (famlia
tradicional da cidade de Feira de Santana), Henriqueta foi
educada em casa como era o costume das famlias ricas
de sua poca. Alm das aulas particulares, sua formao,
segundo Passos (1992, p. 14), ainda era reforada pelas
contnuas viagens Europa, onde tinha a oportunidade de
conhecer elementos de outras culturas, bem como
fortalecer os conhecimentos aqui adquiridos. Em meio
Figura 11, Henriqueta Martins
Catharino, 1909 aos estudos de diferentes disciplinas, lnguas, piano etc,
segundo a mesma autora, Henriqueta recebeu uma slida formao religiosa por uma
professora particular, escolhida por rsula Catharino. Isso leva a crer a contratao de aulas
particulares que tal formao tinha grande valor para a famlia. Essa formao parece ter
influenciado muito na construo do carter e personalidade da colecionadora Henriqueta
Catharino.
De acordo com os estudos constantes dos dois livros de Elizete Passos38, Mulheres
Moralmante Fortes e O Feminismo de Henriqueta Catharino, conforme os escritos da
36
Artigo (no publicado), de Alessandra do Carmo Garcia (museloga, ex-estagiria da Fundao Instituto
Feminino), elaborado para a avaliao da disciplina Curso Normativo de Formao tnica da Arte Baiana do
curso de Museologia da Universidade Federal da Bahia, 2007.
37
O Comendador Bernardo Martins Catharino, foi um grande empreendedor da indstria txtil da Bahia do
incio do sculo XX. Possua um grande faro para a identificao de oportunidades e para a recuperao de
firmas em dificuldades e as quebras teriam sido muitas ao longo de um perodo difcil para a economia.
Comprava as empresas quando nada mais valiam e as reconduzia lucratividade por uma administrao
adaptada com pertinncia e rigor s necessidades do momento. Tornou-se um homem e extremamente rico,
poderoso e influente, graas a esse agudo senso de oportunidades diversificadas, secundado por sua ateno
disciplinada e cotidiana aos negcios. (JORDAN, Ktia Fraga (org.). 2006, p. 28).
38
Graduada em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia, Elizete Passos atualmente professora titular da
Fundao Visconde de Cairu. Tem experincia na rea de Filosofia, com nfase em tica, atuando
principalmente nos temas educao, gnero, tica, moral e valores. Autora de livros como A Educao das
59
Virgens, tica nas Organizaes e tica e Psicologia, a mestra e doutora em Educao pela UFBA. (Fonte:
http://www.edufba.ufba.br/2010/11/elizete-passos).
39
Marieta Alves foi uma historiadora que no IFB foi professora, secretria e oradora das turmas. Hoje, ela
reconhecida na Bahia como uma grande personalidade que contribuiu com inmeras informaes sobre a histria
da Bahia. (Fonte: http://www.institutofeminino.org.br/biblioteca_marieta_alves).
40
Em 30 de maio de 1971, D. Avelar Brando Vilela tomava posse como arcebispo da S primacial do Brasil,
substituindo D. Eugnio de Arajo Sales, que tinha assumido o arcebispado do Rio de Janeiro. Antes de assumir
a arquidiocese de Salvador, ele j tinha sido bispo da diocese de Petrolina, em Pernambuco (1946-1955) e
arcebispo da arquidiocese de Teresina, no Piau (1955-1971). Projetou-se nacionalmente pelas funes que
assumiu junto Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), chegando a ser vice-presidente da CNBB,
em 1964. D. Avelar se tornaria tambm presidente do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM), tendo
por isso uma grande responsabilidade na coordenao da Conferncia de Medelln, em 1968. J comandando a
arquidiocese de Salvador, seria nomeado Cardeal pelo Papa Paulo VI, em 1973 (ZACHARIADHES, 2009).
(Fonte: ZACHARIADHES, GC. Dom Avelar Brando Vilela e a ditadura militar. In: ZACHARIADHES, GC.,
org. IVO, AS., et al. Ditadura militar na Bahia: novos olhares, novos objetivos, novos horizontes [online].
Salvador: EDUFBA, 2009, vol. 1, pp. 175-190. ISBN 978-85-232-1182-0. Available from SciELO Books ).
60
41
Dom Manoel da Silva Gomes, 3 Bispo do Cear e 1 Arcebispo de Fortaleza nasceu na cidade de Salvador-
Bahia, aos 14 de maro de 1874. Preconizado Bispo Auxiliar do Cear, por Pio X, a 11 de abril de 1911, foi
sagrado a 29 de outubro de mesmo ano. Chegou ao Cear a 09 de fevereiro de 1912. A 08 de dezembro de 1912,
assumiu a Diocese como Bispo Residencial. Em 10 de novembro de 1915 nomeado primeiro Arcebispo
Metropolitano de Fortaleza. Por interferncia de Dom Manoel junto Santa S foram criadas as Dioceses de
Crato, Sobral e Limoeiro do Norte. (fonte: http://www.arquidiocesedefortaleza.org.br)
61
Com este pensamento que nasce o IFB, pois tudo girava em torno da religiosidade.
No de se admirar, portanto, que a coleo de objetos religiosos seja um espelho dos anseios
da colecionadora, e que isso se refletisse em toda a instituio. Alm disso, ao lado de
Henriqueta estava Monsenhor Flaviano e, depois dele, outros sacerdotes sempre estiveram
presentes nesta instituio. A coleo tambm traz a presena de Monsenhor Flaviano e seus
sucessores atravs de peas de paramentos pertencentes a estes, como foi falado
anteriormente, a exemplo de duas sobrepelizes que pertenceram a Monsenhor Flaviano (figura
n 12 ), e a Monsenhor pio (Figura n13 ).
punhos e barras em bordado ingls e renda de bilro; gola e decote orlados com bico; fita de
cadaro na gola. Tal pea se encontra no armrio da sacristia da capela do Instituto Feminino
at os dias de hoje. Algo muito peculiar, pois parece que outros continuaram a usar essa
mesma veste.
A figura n13 apresenta uma sobrepeliz que pertenceu ao Monsenhor pio Silva,
sacerdote que sucedeu Monsenhor Flaviano no IFB, em 1933. tambm confeccionada em
cambraia de linho, com pregas e rendas na gola e ombro e decote orlado com bico. Tal pea,
no momento, est na reserva tcnica de roupas brancas do museu.
A presena de peas como essas na coleo, torna a histria do museu ainda mais viva.
No s para aqueles que fizeram e os que fazem parte dela. Mas tambm para os visitantes,
pois os objetos testemunham aquilo que a histria conta. Alm disso, aguam a sensibilidade
e abrem a imaginao para lembrar de personagens importantes que, de certa forma, ainda
esto presentes, por meio daquilo que lhes pertenceram. Essa uma reflexo muito
interessante feita por Peter Stallybrass. No seu livro O Casaco de Marx- roupas, memria,
dor, tal autor provoca o leitor a pensar/repensar sobre a sua relao com os objetos. Inspirado
em histrias que envolvem a morte e as roupas e utilizando a trajetria traada pelo casaco de
Karl Marx, o autor motiva o leitor a fazer uma reflexo sobre a complexidade existente entre
o ser humano e as coisas com as quais este mantm uma relao, de maneira especial as
roupas, pois essas, segundo ele ... recebem a marca humana (STALLYBRASS, 2008,
p.11). O autor nos faz perceber que elas so mais que simples objetos, pois possuem a
capacidade de carregarem em si as nossas memrias.
Stallybrass (2008, p. 14) sustenta que A roupa tende, pois, a estar poderosamente
associada com a memria ou, para dizer de forma mais forte, a roupa um tipo de memria.
Quando a pessoa est ausente ou morre, a roupa absorve sua presena ausente. Nesse
sentido, grande a responsabilidade dos museus que possuem essa tipologia de acervo.
Porm, pode ser que nenhum outro objeto seja to cheio de informaes quanto as roupas,
pois, como afirma Stallybrass,(2008, p. p.14) a roupa um tipo de memria, memria de
algum especfico, de um tempo, de um contexto histrico. Nos museus, na maioria das vezes,
de algum que j no existe mais, mas, suas roupas insistem em deix-la ali, viva. Para
algumas pessoas as roupas podem trazer tristeza, pois a lembrana de quem partiu traz
sentimentos diversos para cada pessoa; para outros, pode trazer apenas lembranas saudosas.
seria como que um prolongar-se da vida do autor dessas lembranas. Seja como for, em
ambos os casos, as roupas no morrem com seus donos, parece que continuam a
comunicarem, seja a presena destes, seja a sua prpria presena. As sobrepelizes de
63
Monsenhor Flaviano Osrio e de Monsenhor pio Silva, vistas a partir da reflexo trazida por
Stallybrass, ganham ainda muito mais sentido para a instituio. Esta, entendendo esse
sentido, pode transmiti-lo com muito mais propriedade a seu pblico, pois o valor esttico dos
trajes sempre estar presente. O valor simblico, portanto, precisa ser desvendado e revelado
pelos museus.
Os museus da FIFB possuem colees abertas, ou seja, aps a morte de D. Henriqueta
em 1969, a instituio continuou a receber doaes, o que acontece at os dias de hoje.
Atualmente, entre as peas consideradas mais importantes pelo museu na coleo de
paramentos eclesisticos, colocadas em destaque na exposio Relquias da F, encontram-
se: a capa magna usada pelo Cardeal Arcebispo D. Augusto lvaro da Silva (Figura n14 ), as
casulas e dalmticas usadas para a Liturgia da Missa antes do Conclio Vaticano II (Figuras n
(s) 17 e 18), um solidu que pertenceu ao papa Pio XII (Figura n 15), um conjunto de
paramentos (mitra, casula e estola) usado pelo Papa So Joo Paulo II (Figura n 16) e uma
mitra que pertenceu a Dom Eugnio Sales. Abaixo sero expostas algumas imagens dessas
peas, com o objetivo de apresenta-las e a partir da, compreender a importncia que estas
possuem para o Museu, a partir de alguns dados importantes que carregam: o que so? A
quem pertenceram? E, como chegaram ao Museu?
A figura n 14 , apresenta uma vitrine paramentos que pertenceram ao Cardeal Augusto
lvaro da Silva. Nela, encontra-se uma capa magna
cardinalcia em tecido vermelho chamalotado; sobre
ela, um paramento semelhante mura, porm sem
botes na cor branca em arminho e forro de algodo
branco; sob estas, um roquete na cor branca, com
rendas na parte inferior e punhos (estes ltimos com
forro vermelho) e uma batina tambm em tecido
chamalotado vermelho; na parte frontal, botes
forrados no mesmo tecido.
O Cardeal Augusto lvaro da Silva (Recife, 08 de
abril de 1876, So Salvador da Bahia, 14 de agosto
Figura: 14 - Capa Magna - FIFB
de 1968) foi arcebispo de So Salvador da Bahia
durante o perodo de 1924 a 1968. Ou seja, durante quase todo o perodo em que Henriqueta
Catharino dirigiu a FIFB.
64
42
Eugenio Maria Giuseppe Pacelli, que se tornou Papa com o nome de Pio XII, nasceu em Roma, 02 de maro
de 1876, filho de Virginia Graziosi e Filippo Pacelli. Foi eleito Papa no dia 2 de maro de 1939 e permaneceu
Papa at a data da sua morte, em 09 de outubro de 1958.
43
Papa Pio XII, nome de nascimento, Eugenio Maria Giuseppe, nasceu em Roma em 02 de maro de 1876. Foi
eleito Papa em 02 de maro de 1939, exercendo essa misso at a data de sua morte em 09 de outubro de 1958
44
O Papa Joo Paulo II, nasceu na cidade de Wadowice, na Polnia. Seu pontificado foi de 1978 a 2005.
65
verde. Nas extremidades, faixa lam com motivo fitomorfo em quatro flores-de-lis se
cruzando e formando a mesma letra encontrada na casula.
Segundo o caderno n 21 da FIFB, foi Dom Eugnio Sales que doou ao museu a casula
e a estola usadas pelo Papa Joo Paulo II e a mitra que pertenceu a ele. Esse gesto revela a
confiana que tinha na FIFB, como instituio capaz de zelar por essas peas e a estima que
este ainda nutria com sua antiga arquidiocese, onde foi pastor, como mencionado, durante o
fim da dcada de 60 e incio da dcada de 70.
mas, como j foi demonstrado, esteve presente e colaborava para o crescimento desta, o que
tambm estava em consonncia com o apoio de toda a sua famlia, pois seu pai cedeu a
Henriqueta parte da herana que lhe caberia, para que esta pudesse construir o prdio que hoje
abriga a FIFB.
Na mesma vitrine, a casula de Monsenhor Flaviano, que representa a presena da
Igreja catlica na histria dessa instituio desde a sua fundao em 1923. Por fim, as duas
casulas que pertencem ao acervo da Catedral Baslica de Salvador e esto sob a guarda do
Museu, revelam tambm a ligao que essa continua mantendo com a Arquidiocese da Bahia.
os paramentos litrgicos que pertenceram a este cardeal, pelos quais se conta a trajetria que
percorreu ao longo de sua vocao sacerdotal.
As peas atualmente em destaque na exposio revelam no somente a relao estreita
da FIFB com a Igreja Catlica, mas tambm a forma como a fundao foi fortalecendo suas
estruturas, firmadas na educao, preocupao constante de Monsenhor Flaviano e Henriqueta
Catharino, e tambm na f, a qual ambos professavam e disseminavam. Ademais, no que se
refere cultura, a instituio revela cuidado e preocupao, no s com o contedo didtico
das alunas do instituto, mas tambm com seu crescimento intelectual, preocupao
demonstrada na criao de uma biblioteca na prpria instituio e de um setor direcionado
cultura e, de modo especial, aos museus, que foram aos poucos formados pelo perfil
colecionador de Henriqueta Catharino, com o acervo que lhe foi confiado. nessa trajetria
trilhada pelos seus fundadores que surge essa instituio.
Desse modo, entende-se que, por trs da histria de cada pea, a quem pertenceu e
muitas vezes tambm de quem doou, existe uma teia de ligaes, que aos poucos esclarece
porque estas se encontram ali. Esse conhecimento da trajetria do objeto e sua histria revela
ao pblico que cada pea da coleo encontra seu verdadeiro sentido dentro do museu e se
integra dessa forma, como parte do acervo. Sobre isso, Padilha (2014, p.19) esclarece:
Para se tornar parte do acervo de um museu, o objeto deve primeiramente passar por
uma investigao que vise sua identificao com a misso da instituio. Assim,
uma vez analisado, recebe intencionalmente um valor documental que admitir sua
incorporao ao acervo museolgico.
Para Susan Pearce dentre os principais aspectos que distinguem o Museu de outras
instituies a propriedade de colees formadas por objetos concretos. Grande parte das
atividades desenvolvidas no museu tem como base as colees, compostas de artefatos que
podem ser definidos como objetos produzidos pelo homem atravs da aplicao de processos
tecnolgicos (PEARCE, 2005, p..13). O objeto ao ser retirado do seu contexto de uso e dar
entrada no museu perde a funo de uso original, e assume outro estatuto, recebendo outro
tratamento e funes. Tal deslocamento faz parte do processo que o caracteriza e o inclui na
condio de objeto museolgico. Francisco Ramos (2008, p.19) para exemplificar esse
deslocamento de funes afirma que no com a inteno de saber as horas que algum visita
uma exposio de relgios antigos. Nessa perspectiva, entende-se que (...) o objeto passa a
ser descrito sob duas circunstncias: sua vida til antes de fazer parte do museu e depois,
quando ganha novos usos e sentidos dentro do espao de salvaguarda (PADILHA, 2014,
p.20).
Cabe ao museu a misso de salvaguardar o objeto nas duas instncias de sua vida:
enquanto objeto dotado de trajetria e historicidade e, depois, ao se tornar objeto museolgico
e receber o valor documental. Escreve Ferrez (1994 apud Padilha, 2014, p. 19):
O objeto, ao ser incorporado pelo museu, recebe intencionalmente um valor
documental e, por conseguinte, necessita ser comunicado, preservado e pesquisado,
passando por um processo de ressignificao de suas funes e de seus sentidos,
para assim se tornar um objeto museolgico, processo no qual devem ser
evidenciadas suas caractersticas intrnsecas e extrnsecas.
outros. Ele se caracteriza como algo que prova, legitima, testemunha e que constitui
de elementos de informao.
antiga, a parente pobre dentre as atividades de museu tornou-se disciplina depois (grifo das
autoras)(CERAVOLO E TLAMO, 2007, p.2):
Os chamados cadernos de D. Henriqueta, vinte e dois cadernos manuscritos,
serviram de base para a busca por informaes sobre cada objeto da coleo de paramentos
litrgicos. Segundo as funcionrias, dezesseis deles foram executados sob a direo de
Henriqueta Catharino. O primeiro caderno se encontra em estado de conservao ruim. Para
no perder as informaes foi iniciado, no ano de 2007, o trabalho de digitalizao dos
cadernos pela equipe do museu. Nestes cadernos, a patrona da casa organizava o acervo da
seguinte forma: atribua um nmero e anotava informaes bsicas: nome, a forma de
aquisio, material e procedncia dos objetos que entravam na instituio (todavia, nem
sempre todos esses dados eram registrados), procedimento que continuou sendo realizado por
funcionrios da casa at os dias de hoje. Durante a pesquisa para a dissertao e contato direto
com a coleo, as informaes encontradas dos cadernos foram organizadas e inseridas em
uma tabela (ver tabela n 1) criada para este fim para facilitar o acesso s informaes.
Alm disso, realizamos o arrolamento no formato de planilhas com imagem por objeto
e por tipologia da pea, para facilitar a busca rpida por informaes precisas, com os
seguintes dados: nmero de ordem, imagem, objeto, procedncia e localizao, trabalhadas
por objetos. Exemplo: tabela de arrolamento para as casulas, para as dalmticas e assim por
diante, exemplificas na tabela n 2.
digitais indicando a localizao de cada pea, contendo o nome do objeto e o nmero (quando
encontrado). A partir desse ponto foi possvel realizar a contagem das peas. Paralelamente ao
levantamento realizamos a medio, a descrio, a anlise parcial do estado de conservao e
o registro fotogrfico de toda a coleo. Todas essas novas informaes tambm foram
inseridas nas fichas de identificao, utilizada pelo prprio museu. Alm disso, o trabalho
gerou a Lista de Inventrio das peas da coleo (Tabela n 3).
ombros, Vu de pxide e Vu de sacrrio. Vale observar que boa parte desses objetos citados
pelas autoras fazem parte da coleo aqui estudada, como atesta o Inventrio apresentado na
tabela n 3.
Alguns critrios usados para a documentao da coleo de Paramentos foram
extrados do Caderno de Normas de Inventrio Txteis Artes Plsticas e Artes
Decorativas, acima citado. Por exemplo: para medir as dimenses deve-se seguir - a altura e
largura do todo e das partes. Exemplo: Casula- A: 150 cm.; L:110 cm.; Manga - A: 50 cm.; L:
20 cm. Em caso de peas que apresentam grandes variaes entre as medidas mnimas e
mximas as instrues orientam para que se registre os dois valores.
Em relao a descrio das peas se fez o mesmo, ou seja, seguir orientaes das Normas de
Inventrio que recomenda, como apoio metodolgico, considerar-se que uma pea de
indumentria pode ser formada pelos seguintes elementos: estruturas, ornamentos, formas e o
forro. A estrutura o tecido utilizado na confeco do paramento; os ornamentos podem ser
bordados, gales, rendas, pedrarias, canutilhos etc.; formas: enchumao (forma de enchimento
ou estofamento) e entretelas (armao que se coloca entre o tecido e o forro).
Entendemos que o trabalho de levantamento, passo necessrio e fundamental para se
ter o conjunto da coleo de Paramentos Litrgicos da FIFB e desenvolver a pesquisa
acadmica, caracteriza-se como primeira plataforma ou base de investigao. Foi, portanto, o
incio e no concluso, pois, necessrio que tenha continuidade posterior. O aprofundamento
das pesquisas poder fundamentar a qualidade das informaes disponibilizadas em painis e,
conseqentemente, ao pblico visitante. Dito de outro modo amplia a comunicao
museolgica. Explica Mrio Chagas que a comunicao faz emergir o bem cultural como
documento:
A conservao dos objetos que formam os acervos dos museus sempre uma
preocupao constante, no s para os conservadores, mas para toda a equipe de profissionais
que neles trabalham, pois o acervo requer cuidados especiais: material adequado, espao e
profissionais da rea de conservao e restaurao. Em se tratando de acervo txtil, a
preocupao muitas vezes ainda maior, pois estes demoraram a ser percebidos como objetos
importantes, no eram associados arte, histria. Pelo contrrio, eram feitos para serem
descartados, como recorda Paula (2006, p. 256).
Alm disso, os tecidos, certamente por terem sido sempre associados ao corpo e ao
gnero femininos, foram muito inferiorizados como objetos de estudo, se
comparados a outras tipologias materiais. Herdamos e preservamos por sculos a
antiga noo de que um tecido, dada sua proximidade com o corpo e os sentidos,
no deveria ser suporte de expresso45. Arte decorativa, arte menor, artesanato foram
algumas das denominaes atribudas aos tecidos por um mundo masculino, de
homens viajantes, homens cientistas, homens de Deus, homens historiadores e
homens de museu.
Essa noo equivocada de ver os tecidos como objetos inferiores por sua associao ao
corpo, como esclarece Paula na citao acima, essa demora em perceber os tecidos como
importantes objetos/documentos, trouxeram vrias consequncias negativas em relao
45
Cf. Conceptual textiles.Material meanings. Sheboyan: John Michael Kohler Arts Center, 1996.
76
guarda e preservao deles. Alm disso, esse atraso no reconhecimento do tecido como objeto
importante na histria da humanidade gerou ainda outros problemas, como admite Paula
(1998, p. 74): Uma das grandes dificuldades encontradas na conservao de txteis a
existncia pouco expressiva, ainda, de pesquisadores e produo em reas correlatas como
histria da indstria txtil e da indumentria no Brasil, por exemplo. E mesmo depois de ter
conquistado o seu lugar dentro dos museus, os tecidos, de maneira especial, as indumentrias
no foram tratadas de forma ideal, nem s em se tratando de acondicionamento, mas tambm
na forma como estes so expostos nos museus, como esclarece Paula (2006, p. 284):
Ainda hoje, em exposies, predominam solues visuais ruins e inadequadas do
ponto de vista da conservao dos objetos. Aqueles museus que evitaram as formas
humanas optaram ou por exp-los na horizontal quase bidimensionalmente, ou
adotaram suportes tipo cabide. O problema no de fcil soluo e tem tomado
bastante o tempo de profissionais especializados em mannequinage de museus.
mesmo pelo pblico religioso (padres, freiras e leigos consagrados). Isso prova que a
exposio do objeto por si s no cumpre os princpios bsicos estabelecidos pelo Estatuto de
Museus47. Mas a forma com que esse acervo trabalhado na exposio e nas atividades que a
envolvem que trar, ou melhor, atrair o publico. Cury (2005, p.31-32) acredita que nos
processos de musealizao do patrimnio cultural, o que atualmente se defende a
participao da sociedade, como forma de cidadania. Essa participao talvez seja algo ainda
muito distante de ser alcanado por muitos museus, assim como ainda no uma realidade do
Museu do Traje e do Txtil da FIFB. Apesar de seguir as principais normas de segurana e
conservao do acervo e tambm as formas de exposies de trajes serem as recomendadas no
que se trata de mobilirio expogrfico, iluminao etc., h ainda deficincia na comunicao,
pois a exposio dialoga pouco com o pblico, certamente porque h ainda muita distncia
entre o processo de musealizao do patrimnio e o pblico, para quem essa feita e deseja
alcanar.
No entanto, h sempre certo dilogo entre pblico e exposio, haver sempre leituras
tanto individuais, quanto coletivas. Essa a concluso que foi alcanada durante o pouco
tempo dispensado no processo de observao do pblico que visitava a Galeria Eclesitica da
FIFB. Distribudas em vitrines com suportes que apresentam as peas como mdulos de
madeira e cabides de p, as peas podem ser apreciadas. Este procedimento segue as
recomendaes para a exposio dessa tipologia de acervo, como explica Teixeira e Ghizoni
(2012, p. 55): para expor as peas de vesturio, utilizar suportes apropriados como
manequins e cabides acolchoados. Chapus e sapatos devem receber suporte adequado, o
indicado sempre dentro de vitrine. O tempo de exposio deve ser restrito em funo da
fragilidade do material.
47
Segundo o Estatuto de Museus: Art. 1o: Consideram-se museus, para os efeitos desta Lei, as instituies sem
fins lucrativos que conservam, investigam, comunicam, interpretam e expem, para fins de preservao, estudo,
pesquisa, educao, contemplao e turismo, conjuntos e colees de valor histrico, artstico, cientfico, tcnico
ou de qualquer outra natureza cultural, abertas ao pblico, a servio da sociedade e de seu desenvolvimento.
Pargrafo nico. Enquadrar-se-o nesta Lei as instituies e os processos museolgicos voltados para o trabalho
com o patrimnio cultural e o territrio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconmico e participao
das comunidades.
Art. 2o So princpios fundamentais dos museus:
I a valorizao da dignidade humana;
II a promoo da cidadania;
III o cumprimento da funo social;
IV a valorizao e preservao do patrimnio cultural e ambiental;
V a universalidade do acesso, o respeito e a valorizao diversidade cultural;
VI o intercmbio institucional.
80
A figura 21 acima expe uma vitrine na qual (da esquerda para a direita) apresenta
uma batina, solidu e cruz peitoral utilizados por Dom Geraldo Majella para acompanhar o
Papa Joo Pauo II em visita apostlica a Santo Domingos, no ano de 1992, quando o
arcebispo era subsecretrio na Congregao para o Culto Divino e Disciplina dos
Sacramentos, na Cria Romana. Tambm h uma alva de 1957, usada na ordenao
sacerdotal de Dom Geraldo Majella, uma mesa de credncias com fita e toalha utilizadas para
envolver as mos na ordenao sacerdotal, um bculo episcopal e, por fim, um conjunto com
casula, mitra e cruz peitoral, utilizados por ele na posse como arcebispo de So Salvador da
Bahia e do Brasil, no dia onze de maro de 1999. A vitrine apresenta as peas de
indumentrias litrgicas seguindo as recomendaes citadas acima. Portanto, coerente, em se
tratando de conservao e segurana do acervo. Por outro lado existem ainda outras
preocupaes. Cury (2005, p. 26) apresenta um grfico de forma simplificada do processo de
musealizao no qual se encontram:
Pesquisa
Aquisio Conservao Comunicao
Documentao
objetos que compem a exposio, a autora sinaliza que estes foram escolhidos duas vezes: a
primeira, quando foram escolhidos para compor o acervo e a segunda quando foram expostos.
Tal escolha deve dar sentido proposta da exposio, pois esta tem como objetivo a
comunicao com o pblico. Em se tratando da galeria Eclesistica, existem peas
pertencentes ao prprio acervo do Museu, peas pertencentes Catedral Baslica de Salvador,
e, ainda, peas do acervo particular de Dom Geraldo Majella Agnelo 48, arcebispo emrito de
So Salvador.
Com um acervo to diversificado, que traz em si histrias distintas e possui
caractersticas estticas e estilos diferentes, a forma de dilogo com o pblico torna-se um
desafio ainda maior. Porm, esse desafio foi solucionado com as disposies das peas em
ambientes e vitrines especficas. Entretanto, talvez o mais importante de todo o acervo no foi
explorado, que o seu potencial como objeto/documento do culto religioso, impregnado de
sentidos e pertencente a contextos histricos significativos dentro da Arquidiocese de So
Salvador e da prpria Fundao Instituto Feminino. Talvez um dos grandes erros de algumas
instituies museolgicas em relao a objetos de arte religiosa seja justamente o de ignorar a
funo destes como objeto de culto. Segundo Brulon (2013, p. 160),
Como uma religio caracterizada pelo culto imagem, o catolicismo, ao longo de
sua histria, mobilizou a arte como categoria operante, especialmente para os
objetos destinados s igrejas, gerando o vocabulrio de arte religiosa ou arte
sacra49. Por essa razo, os artigos de culto possuem uma tendncia artificao 50,
como todos aqueles artigos produzidos por religies que privilegiam o seu valor
imagtico. O objeto de culto catlico , assim, simultaneamente objeto de arte e
objeto religioso, podendo atuar tanto no universo da arte quanto no da religio, e
sendo facilmente incorporado pelos museus, onde pode manter o seu estatuto
ambivalente de objeto-devir51. Permeado por diferentes pontos de vista, a sua funo
a de suscitar mltiplas interpretaes sobre a sua prpria identidade e, aqui, ele
opera como um objeto liminar.
Tal viso no condiciona o objeto, mas explora toda sua potencialidade, como Brulon
afirma na citao acima, quando esclarece que o objeto de culto catlico , simultaneamente
objeto de arte e objeto religioso. Este, segundo o autor, tem a possiblidade de atuar em dois
48
Dom Geraldo Majella Agnelo (Juiz de Fora, 1933) um cardeal brasileiro e arcebispo-emrito da
Arquidiocese de So Salvador da Bahia.
49
Cf. milie Notteghem (2012, p.49).
50
O termo artificao foi proposto por Roberta Shapiro para designar o processo de transformao de no arte
em arte, resultado de um trabalho complexo que leva a uma mudana de definio e de estatuto de pessoas,
objetos e atividades. A autora diz, ainda, que a artificao a resultante do conjunto das operaes, prticas e
simblicas, organizacionais e discursivas, atravs das quais os atores se acordam para considerar um objeto ou
uma atividade como arte. Cf Roberta Shapiro (2012, p.21 apud Brulon, 2013, p. 158).
51
Para melhor explorar tal ideia, podemos remeter noo de devir, na concepo disseminada por Deleuze e
Guattari, que se refere s relaes estabelecidas entre subjetivaes, totalizaes, ou unificaes que so
produzidas a partir de multiplicidades. Logo, falar em objeto-devir significa fazer referncia no mais ao objeto
em si, mas s relaes que dizem respeito a sua existncia social. Ver Gilles Deleuze e Flix Guattari, (2009,
apud Brulon 2013, p. 160).
82
universos, ou seja, tanto na arte, quanto na religio, o que bastante compreensvel, pois
desde sua criao, a preocupao da Igreja com o valor artstico sempre esteve presente.
Esses vieses do objeto religioso ou sacro, unidos, podem dar exposio um sentido
muito mais amplo se bem explorado. O que pode ser sugerido no caso da exposio especfica
da Galeria Eclesistica do Museu do Traje e do Txtil da FIFB justamente isso, usar dos
benefcios do prprio valor intrnseco do objeto, aproximando-o de sua realidade, para assim
aproxim-lo mais do pblico. Valendo-se da simbologia e da tradio do prprio culto
catlico, no que diz respeito ao litrgica e a participao dos objetos, nesse caso as
indumentrias, para benefcio da exposio, que, podendo ser vista no to distante de seu
contexto, pode ser melhor compreendida e apreciada. Pois, Se os objetos no podem ser
tocados, no devem perder a qualidade de tocantes, de alimentar percepes marcantes,
tarefa que somente a racionalidade da anlise no consegue. (Ramos, 2004, p.83).
Nesse caso, o uso de encenao teatral na exposio, pode ser utilizado como um
recurso, pois, este busca atingir o pblico no via objeto pelo objeto, mas deste apresentado
mediante uma linguagem compreensvel, na qual ele consegue alcanar o pblico, ou melhor
dizendo, consegue toc-lo. Portanto,
Se foi necessrio recorrer a tal encenao, porque se compreendeu que os objetos
no falam por si. Compreendeu-se que, sados do seu contexto original, os objetos
no podem informar atravs da pura e simples contemplao e que apenas se tornam
informativos no momento em que so colocados num contexto compreensvel pelo
visitante. O efeito teatral simula uma ao na medida em que projecta sobre os
objetos uma nova linguagem esttica e dramtica (HOFFMANN, 1992 apud Roque,
2011, p. 274 -275).
Segundo, Brulon (2013, p. 160) No se pode diminuir a passagem dos objetos de culto
religiosos arte sacra somente pelo objetivo de torn-lo patrimnio. Tal autora faz uso das
observaes de Notteghem (2012, p 50, apud Brulon, 2013, p.160) quando esta afirma que
apenas a dimenso museogrfica no suficiente para dissociar os objetos de seu estatuto
cultual e para fazer deles objetos de arte, uma vez que a Igreja catlica j os apresentava
ritualmente como objetos de culto que tambm so tesouros ou obras de arte religiosa. Ou
seja, os objetos j vm para os museus como obras de arte, porm, elaborados para o culto
religioso. Portanto, nos museus, estes no ganham seu papel de obra de arte, porque j o eram
antes de entrarem nos museus. Por outro lado, perdem seu papel de objetos religiosos. Nem
ali assumem essa funo original, mas estaro sempre entre uma realidade e outra, como
esclarece Brulon (2013, p. 160):
O objeto de culto se artifica tanto por suscitar uma emoo esttica (ligada emoo
religiosa), quanto por ser estudado como objeto de arte. Nesse sentido, tal processo
no significa a mera passagem de no-arte a arte, mas trata-se de uma
83
52
Termo utilizado por Victor Turner (1988) para se referir a estados liminares.
53
http://www.revistamuseu.com.br/naestrada/naestrada.asp?id=33679
84
apresentadas aos olhos, pois o caimento das peas valoriza toda a sua estrutura e no
deformam, como os cabides de ps.
Entre as trs formas de exposies de indumentrias, a do Museu da Liturgia em
Tiradentes, a da Igreja do Pilar em Ouro Preto e a do Museu do Traje e do Txtil de Salvador,
a que esteticamente melhor se apresenta, sem duvida, da igreja do Pilar.
Todos estes museus, entretanto, possuem solues dentro dos requisitos de segurana e
conservao esperados e todos de uma forma ou de outra oferecem ao pblico oportunidades
de contemplao do objeto.
Na cidade de Salvador existem algumas instituies museolgicas e religiosas que
possuem em seus acervos paramentos litrgicos (como por exemplo, o Museu de Arte Sacra
da Ufba, o Museu do Mosteiro de So Bento, a igreja do Colgio N. Sra. Das Mercs) porm,
a maioria no esto em exposio, mas guardadas em reservas tcnicas ou em gavetas de
antigos armrios de sacristias. Um dos grandes desafios a ser vencido por essas instituies
conseguir tirar essas peas dos armrios e as expor ao pblico para a apreciao, desafio j
vencido Pelo Museu do Traje e do Txtil da FIFB. Porm, h ainda outros desafios, como dar
a esse acervo maior visibilidade por meio dos prprios recursos expositivos.
Como foi visto, os museus de Traje e Txtil ou que possuem essa tipologia de objetos
em seus acervos tero sempre essa grande questo: Como organizar uma exposio que
alcance o objetivo de interagir melhor com o pblico, levando tambm em conta a segurana
de cada pea, pois, de acordo com Paula (2006, p.283 e 284),
At muito pouco tempo, os tecidos e os objetos produzidos com tecidos e outros
materiais assemelhados foram expostos sem qualquer peculiaridade nos museus.
Em todo o Brasil, as prticas expositivas foram bastante semelhantes at poucas
dcadas atrs. Museus histricos, antropolgicos e de folclore, endereos mais
comuns para os tecidos, adotaram as mesmas e preguiosas solues: aqueles
tecidos de pequenas e mdias dimenses, geralmente, receberam uma moldura e, sob
vidros (muitas vezes aderidos), foram colocados sobre as paredes, combinando com
tudo o mais. Esse padro responsvel por uma srie de danos aos objetos. , ainda
pode ser encontrado em muitos museus brasileiros.
o suporte terico e metodolgico necessrio para se obter um bom resultado, como esclarece
Cunha (2010, p. 112):
Por isso mesmo, uma boa exposio dever estar baseada em um eficiente sistema
documental que lhe embase os contedos, em excelente programa de conservao
que possibilite ao museu cumprir seu papel preservacionista do patrimnio, sendo
necessrio tambm, um amplo programa de aes culturais e educativas, dando
sentido a sua existncia, entendendo-o como um espao a ser utilizado para o
desenvolvimento social, para a elaborao e re-elaborao de identidades e
afirmao de cidadanias.
Em se tratando de tecidos, esse cuidado muitas vezes deve ser ainda maior, por ser um
material extremamente delicado. Alm da preocupao esttica, o curador deve tambm se
preocupar com as solues mais favorveis segurana e conservao das peas. Para isso
deve ter conhecimento prvio do material com que est trabalhando e o tempo de durao da
exposio. Alm disso, as atividades precisam (como em todas as outras tipologias de
acervo), serem pensadas e trabalhadas em equipe, buscando conhecer e reunir todas as
informaes dos objetos com que se est trabalhando, o espao em que ser executado, o
pblico que ter acesso etc. Desse modo, se obter, de fato, um resultado positivo. Todo
conhecimento somado contribuir para que a exposio seja, de verdade, um veculo de
comunicao, gerando novos conhecimentos, como define Cunha (2010, p.116):
Buscar atingir a eficincia da exposio enquanto veculo de comunicao implica
em conciliar os vrios discursos que envolvem um determinado tema. Para tal
imprescindvel que se observe questes relacionadas coleta e processamento de
informao, seu arranjo em um espao especfico, as demandas dos pblicos e os
possveis desdobramentos que a partir da realimentao informacional vo gerar
novos conhecimentos.
(...) no meu entender, o museu uma instituio que tem um compromisso com o
processo educacional, seja ele formal ou informal 54 (Maria Clia Teixeira Moura
Santos)55.
54
Trecho do texto museu: centro de educao comunitria ou contribuio ao ensino formal apresentado pela
professora Maria Clia Teixeira Moura Santos, no 1 Simpsio sobre Museologia da Universidade Federal de
86
Minas Gerais, realizado em Belo Horizonte no perodo de 19 a 21 de maro d 1997, sob o patrocnio do Museu
de Cincias Morfolgicas.
55
Maria Clia Teixeira Moura Santos professora aposentada da Universidade Federal da Bahia Curso de
Museologia, mestrado em Educao (1981) e doutorado em Educao (1995), todos pela Universidade Federal
da Bahia. consultora nas reas da Museologia, da Educao e da Gesto e Organizao de Museus e professora
da Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias. Integra o Conselho Consultivo do Patrimnio
Museolgico do Instituto Brasileiro de Museus Ministrio da Cultura. Faz parte do Conselho Editorial da Revista
do Museu Antropolgico da Universidade Federal de Gois; integra o Conselho de Redao do Centro de
Sociomuseologia da Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa Portugal; integra o
Conselho Consultivo da Associao Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitrios ABREMC. membro do
ICOM e da Associao Brasileira de Museologia. Tem vrios livros e artigos publicados.
56
Mrio de Souza Chagas poeta e muselogo. Mestre em Memria Social (UNIRIO) e doutor em Cincias
Sociais (UERJ). Dirigiu o Museu Joaquim Nabuco e o Museu do Homem do Nordeste, ambos da Fundaj. Foi
chefe do Departamento de Dinmica Cultural do MHN, coordenador tcnico do Museu da Repblica e diretor da
Escola de Museologia (UNIRIO).). Publicou livros e artigos no Brasil e no exterior, especialmente em Portugal.
Atualmente consultor do Museu das Misses (RS) e do Museu da Mar (RJ), coordenador tcnico do
Departamento de Museus e Centros Culturais do IPHAN (DF), professor adjunto da Escola de Museologia e do
Programa de Ps-graduao em Museologia e Patrimnio (UNIRIO) e professor visitante da Universidade
Lusfona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa.
57
A Lei N 11.904 de 04 de Janeiro de 2009, instituiu o Estatuto dos Museus.
87
sua participao nesse processo que envolve cultura, patrimnio e sociedade, dando ao
indivduo a possibilidade de pensar e agir sobre ele.
A Fundao Instituto Feminino parece ter nascido com duas vocaes inerentes ao
museu: ser vetor de aes culturais e ser promotora de educao. Desde cedo, esses dois
papis do Instituto parecem ter sido reconhecidos por muitos, dentro e fora do Estado da
Bahia. Como consta em uma das muitas notas de jornais encontrados nos arquivos do museu,
que assim o definiu: (...) existe num edifcio moderno destinado principalmente a fins
educativos, com salas amplas e arejadas, o museu mais rico de artes femininas de carter
tipicamente local que se possa encontrar pelo mundo afora: a coleo do Instituto Feminino
da Bahia. Tal nota foi registrada no jornal A Gazeta de So Paulo, escrita no ano de 1947,
pela escritora Olga Obry, aps uma visita Bahia. Nela podemos constatar duas impresses
sobre o Instituto Feminino, registradas pela escritora. A primeira, como um edifcio destinado
a fins Educativos e a outra, sobre o museu mais rico de artes femininas.
Essa instituio que abriga hoje trs grandes museus abriga tambm uma histria que
se confunde com a histria da cidade, da educao e dos museus. Apesar de nos dias atuais
no estar diretamente ligada ao ensino, nunca estar desligada da educao, pois seu legado,
seu enredo e seus acervos, do hoje subsdios para isso por meio de seus museus.
So muitos os museus de arte sacra catlica ou que possuem arte sacra em seus
acervos. Mas como trabalhar com essas colees? Como faz-las se comunicarem com o
pblico, alm das exposies em si? Sabendo que as aes educativas e culturais fazem parte
dos princpios bsicos dos museus, se faz necessrio o conhecimento do acervo a ser
trabalhado, o que se deseja com ele, o que pode ser extrado, seu contedo mximo, para
ento transformar isso em conhecimento a ser comunicado, via aes desenvolvidas pela
equipe do setor educativo dos museus. Portanto, Como nos lembra o Documento do Ceca58,
(Studart, 2012, p. 33).
A educao uma das funes centrais do museu. Este se caracteriza por ser um
espao de educao no formal, que tem como objeto de trabalho o bem cultural.
O objetivo da educao em museus, assim como da educao em um sentido amplo,
oferecer possibilidades para a comunicao, a informao, o aprendizado, a
relao dialtica e dialgica educando/educador, a construo da cidadania, e o
entendimento do que seja identidade.
Como esclarece o texto acima, o museu esse espao no formal de educao, ou seja,
que vai alm de seus muros, que trabalha a imaginao, a emoo, os sentidos e, de maneira
particular, o olhar, o que possibilita usar de recursos diversos para oferecer tambm diversas
58
CECA-Brasil formado pelos membros brasileiros afiliados ao Comit Internacional para Ao Educativa e
Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
88
disso, a FIFB possui um cerimonial, onde alguns espaos do Museu Henriqueta Catharino
podem ser usados, como a capela, muito utilizada para celebraes de casamentos, batismos,
formaturas e missas em sufrgio dos falecidos, nada mais oportuno para uma instituio que
possui em seu acervo um nmero grande de objetos de arte sacra e uma galeria de trajes
eclesisticos.
Desse modo, o visitante, principalmente os no catlicos tm a oportunidade de ver
alguns paramentos e alfaias litrgicas sendo utilizados nas funes correspondentes a cada
uma delas, antes de se tornarem peas de museu. Porm muito poucos, pois a maioria dos
sacerdotes em missas no solenes utilizam apenas a tnica e a estola, embora outros
paramentos tambm chamados de alfaias litrgicas, utilizadas durante a celebrao litrgica,
como vasos sagrados, clice, patena, mbula, entre estes aqueles confeccionados em txtil
como a pala, sanguneo e corporal. Entretanto, em se tratando das vestes, algumas (com
exceo de alguns sacerdotes), somente so vistas em missas solenes, como por exemplo,
casula, dalmtica, sobrepeliz, roquete etc.
Alm disso, a FIFB promove palestras e outros tipos de eventos catlicos, a exemplo
da realizao da Via-Sacra na semana santa, que antecede a pscoa. Tais aes, ligadas ao ano
litrgico, mantm vivas as festas e tradies catlicas e, dessa forma, do sentido s colees,
mantendo simultaneamente seu status de objeto de arte e objeto religioso, como refletido por
Bruno Brulon, em seu artigo Da artificao do sagrado nos museus: entre o teatro e a
sacralidade, citado no item acima. Porm, para o pblico mais jovem e infantil, o prprio
espao externo pode se tornar um espao de conhecimento, lazer e entretenimento, como no
exemplo do Museu de Arte Sacra de So Joo Del-Rei.
Oferecer ao pblico jovem e infantil um espao de educao, cultura e lazer pode ser a
melhor estratgia dos museus, no intuito de atrair e conquistar a ateno desse visitante, nada
complacente. Essa questo tem sido discutida por muitos profissionais das reas de
museologia e educao, mas, ainda precisa ser levada mais a srio pelas instituies
museolgicas. Como competir com a indstria cultural e de entretenimento sem deixar de ter
como objetivo principal a educao, o conhecimento? Como trabalhar a educao em museus
com o pblico infantil e jovem e conjugar educao e lazer?
Segundo Studart (2002, p.31) essa questo foi abordada, conforme se v no excerto a seguir:
Os museus, em termos de mercado, competem com um grande nmero de
empreendimentos da indstria cultural e do entretenimento, que possuem um
marketing agressivo: parques temticos, cinemas interativos, casas de jogos
eletrnicos, entre outros. Todavia, o trabalho dos museus no se confunde com o
dessas indstrias, pois as instituies museolgicas trabalham principalmente em
uma dimenso educacional que visa o desenvolvimento cultural e social dos
90
cidados. inegvel que existe uma demanda social por programas educativo-
culturais e, nesse sentido, os museus e outras instituies afins podem contribuir
significativamente para atend-la. Essa demanda se insere tambm em um contexto
de lazer e entretenimento. O grande desafio do museu est em conjugar educao e
lazer. Aqui entra uma questo muito importante quando tratamos de educao em
museus com o pblico infantil e jovem: conjugar educao e lazer. Sobre isso o
Documento do CECA de 2002 diz: lazer. Existem riscos de desvirtuar os
compromissos bsicos da educao e da cultura em prol da lgica do mercado.
O Documento do CECA traz um assunto que ainda precisa ser esclarecido, mais
discutido e pensado, embora no se trate de tema que brotou da atualidade: o museu no
mercado cultural, competindo com a indstria do entretenimento. Mesmo estando num
contexto que visa ao desenvolvimento educacional e cultural do indivduo, os museus
precisam aprender a competir, usando instrumentos que possibilitem no s atrair, mas
principalmente formar pblico. Os Museus precisam no s aumentar o nmero de atividades
e programas educativos para poder atender demanda, mas tambm torn-los mais
interessantes, principalmente para o pblico mais jovem. Os programas educativos dos
museus tero resultados muito mais positivos quando suas atividades se tornarem constantes.
Aes isoladas, que s acontecem em determinado perodo, no so capazes de colaborar
eficazmente na formao de pblico, apesar de ajudarem consideravelmente quando se trata
do aumento de quantitativo de pblico.
Entre os anos de 2008 e 2009, ainda durante a graduao em museologia, foi
trabalhado, a partir de um projeto educativo realizado por esta pesquisadora em uma escola
pblica da periferia de Salvador, no qual estava incluso alm de outras coisas visitas e
participao em atividades educativas oferecidas pelos museus visitados (projeto iniciado na
disciplina Ao Cultural e Educativa dos Museus, ministrada pela professora Sidlia Santos
Teixeira e concludo na disciplina Estgio Supervisionado, ministrada pela professora
Maria das Graas de Souza Teixeira).
Entre os museus selecionados para visita durante a execuo do referido projeto,
estava o Museu do Traje e do Txtil da FIFB. Nele, os alunos tiveram a oportunidade de
participar da proposta do museu em um programa educativo que envolvia trs etapas de
trabalho: uma palestra sobre a histria da Moda, uma visita guiada e uma oficina de moda.
Tais atividades faziam parte de um projeto do museu intitulado Brincando e Vestindo
Histria59.
59
Os idealizadores do Projeto Brincando e Vestindo histria, Cludio Rebello e Marijara Queiroz, juntamente
estagiria do Museu, Alessandra Garcia, adaptaram o projeto para a linguagem do grupo, ou seja, tudo foi feito
palestras, visitas e oficinas, no ritmo do grupo que tinha entre 15 e 18 anos.
91
O resultado foi, segundo os alunos que participaram, muito bom. Os comentrios foram
escritos pelos alunos, que avaliavam as atividades no final de cada visita. Conquanto essa
tenha sido uma atividade isolada, pelo resultado alcanado, defensvel que deveria ser
repetida em outras oportunidades e com novas leituras, pois so atravs de resultados de aes
como essas que os museus se orientam, no sentido de descobrirem os melhores caminhos de
uma ao educativa verdadeiramente eficiente.
Essas aes colaboram para que as colees se tornem mais interativas e a distncia
entre a exposio e o pblico seja vencida, visto utilizarem-se de atividades que estaro
sempre entre um e outro. Essas descobertas, na maioria das vezes so encontradas assim, na
prtica, s vezes errando, s vezes acertando. O conhecimento do acervo e todas as prticas
museolgicas (como foi visto anteriormente, neste captulo), aliados ao perfil do visitante so
fatores essenciais para que os museus descubram da melhor forma como aproximar mais
pblico e museu.
92
Captulo 4
Fala-se muito do museu enquanto instituio que entre outras coisas tem a misso de
salvaguardar os objetos que formam as colees, como foi visto no captulo anterior.
Entretanto h muito ainda a se falar sobre a misso do objeto nos museus. Segundo Ramos
(2004, p. 21 e 22) Se aprendemos a ler palavras, preciso exercitar o ato de ler objetos, de
observar a histria que h na materialidade das coisas. Talvez essa seja uma das mais
importantes misso do objeto, se deixar ler, revelar-se atravs de sua materialidade.
Quando se faz uma descrio de um objeto, inicia-se uma leitura sobre este. Essa descrio
pode ser vista como primeira leitura sobre uma pea. Segundo Panofsky (1986, p. 3)
O sufixo "grafia" vem do verbo grego graphin. "escrever"; implica um mtodo de
proceder puramente descritivo, ou at mesmo estatstico. A iconografia , portanto, a
descrio e classificao das imagens um estudo limitado e, como que anciliar, que
nos informa quando e onde temas especficos. Diz-nos quando e onde Cristo
crucificado usava uma tanga ou uma veste comprida; quando e onde foi Ele pregado
Cruz, e se com quatro ou trs cravos; como o Vcio e a Virtude eram representados
nos diferentes sculos e ambientes. Ao fazer este trabalho, a iconografia de auxlio
incalculvel para o estabelecimento de datas, origens e, s vezes, autenticidade; e
fornece as bases necessrias para quaisquer interpretaes ulteriores.
60
Comodato: uma forma de contrato por meio do qual um proprietrio (comodante) transfere ao museu de
forma gratuita a posse temporria de bens patrimoniais para fins de exposio, estudo e quaisquer outras funes
de natureza museolgica. O objeto em comodato receber os mesmos cuidados devidos ao acervo. Dever ser
94
Geraldo Majella Agnelo aos cuidados do museu por sistema de emprstimo (com
possibilidade de doao das mesmas para essa instituio). Porm aqui sero analisadas
apenas algumas delas. Alm das casulas algumas dalmticas tambm sero apresentadas e
analisadas. Segundo dados do inventrio o museu possui sete dalmticas, sendo que cinco (5)
delas fazem parte de seu acervo e duas pertencem a Catedral Baslica de Salvador e sob os
cuidados do museu tambm por sistema de comodato.
A Casula
Tambm conhecida como planeta, a casula uma veste litrgica usada pelos
presbteros sobre a alva. Como vimos no primeiro captulo, uma veste derivada da antiga
pnula. Segundo Berardino (2002, p.1.408) uma sobreveste muito usada no mundo greco-
romano at os scs. IV-V para se resguardar da chuva e do frio e para viajar. Ao longo do
tempo a casula passou por vrias transformaes, como foi visto na figura oito (8) da pgina
vinte e dois (30). Alm disso, ganhou inmeros ornamentos e figuras decorativas, o que a
tornava tambm mais pesada. Essas mudanas, segundo Berardino (2002, p. 1408), aos
poucos foram encurtando-a, a princpio somente na frente, depois ao longo dos braos, para se
tornar, a partir dos scs. XIV-XV at quase nossos dias uma espcie de escapulrio. O
Caderno de Normas de Inventrio Txteis Artes Plsticas e Artes Decorativas61 define a
casula como:
Pea formada por duas partes unidas nos ombros e com uma abertura para a cabea,
com forma varivel atravs dos tempos desde as casulas gticas amplas e maleveis
s peas inteirias e de recorte pronunciado. Executada em tecido (s),ornamentados
com bordados e gales, a pea liturgicamente mais importante, especificamente
destinada celebrao da Eucaristia. Era envergada apenas pelo celebrante ou
celebrantes. (Alarco e Pereira 2000, p.54).
devolvido nas mesmas condies e que foi entregue ( salvo no caso em que tenha passado por algum processo de
restaurao autorizada pelo comodante, quando ento, ser devolvido em condies melhores que a anterior) ao
final do prazo estipulado. (Texto extrado do Glossrio do Caderno de Diretrizes Documentao e
Conservao de Acervos. - So Paulo, Brodowski, 2010, p. 103). (Disponvel em: https://issuu.com/sisem-
sp/docs/documentacao_conservacao_acervos_mu).
61
Publicao do Instituto Portugus de Museus. Autoras:Teresa Alarco, Teresa Pacheco Pereira. "Estabelece
um normativo tendo em vista a inventariao de peas txteis. Encontram-se nesta publicao designaes,
nomenclaturas e glossrios especficos deste tipo de coleces, cujas particularidade, extenso e tecnicidade
pressupem um domnio de conceitos que aqui so sistematizados. Informaes extradas do site:
http://museudamarioneta.
95
Como a figura apresenta o corpo da casula, no centro da pea est o sebasto, uma tira
ornamental de tecido ou bordado; situa-se na parte superior dos pluviais, no centro das dalmticas e
casulas, desenhando frequentemente nas costas destas ltimas um Y. No pluvial acompanha a linha do
pescoo e desce at orla da pea. (COSTA, 2004, p. 157) que geralmente formado por galo
bordado ou de tecido. Segundo Costa (2004, p.147) o galo bordado executado sobre materiais
de enchimento e utilizado com o objetivo de rematar ou a decorar. O galo tecido conhecido como
passamanaria, executado em tear com fios de seda, linho ou algodo.
Os modelos de casulas encontrados na coleo da FIFB so mais semelhantes aos
modelos de casulas modernas alems, italianas e espanholas, como se pode conferir na figura
23.
96
o que acontece com grande parte dos modelos de casulas encontrados na coleo do
Instituto Feminino, peas com influncias do estilo alemo e italiano (ou Romano moderno,
como pode ser observado na figura 8 da p.30). O estilo de casula mais encontrado na coleo
do Instituto Feminino o romano. Porm com influncias do estilo alemo e espanhol. Como
se pode constatar exemplos a seguir.
98
Apesar das caractersticas fortes do estilo romano, pode-se observar que nas costas as
guarnies formam uma cruz, caracterstica do estilo alemo e espanhol. O modelo de casula
mais utilizado atualmente nas missas tm sido o modelo moderno muito parecido com o
antigo modelo da casula gtica, mais longa e cobrindo tambm as mangas da alva. Como no
exemplo da figura N 28.
Figura: 28 casula moderna - Acervo FIFB Figura: 29 casula gtica (recorte da fig. 8 da p.30)
A Dalmtica
Figuras (da esquerda para a direita) N (s): 31, 32, 33 Dalmticas acervo FIFB
A palavra simbologia aqui est sendo usada apenas no sentido cristo do termo tal
como aparece nas referncias da Igreja catlica, pois o objetivo apenas desvendar a inteno
de cada um deles. Nessa toada, investigam-se os significados das prprias vestes, do seu uso,
de suas cores, dos smbolos que trazem em formas diversas por meio de aplicaes, pinturas e
bordados, como: cruzes, nomogramas, elementos fitomorfos, elementos zoomorfos etc.,
abordagens que, entre outras coisas, facilitem o entendimento desse objeto ao ser colocado em
exposio nos museus. Que aumentem, enfim, o grau de comunicao entre ele e o pblico.
Os smbolos esto presentes em todo lugar, em forma de cores, como por exemplo,
nos sinais de trnsito, orientando os pedestres e motoristas, nas siglas das instituies,
empresas etc., nas marcas e logotipos de inmeros objetos, reconhecidos por eles. A todo o
momento se faz sua leitura, interpretam-se estes signos de forma muito natural e se entende o
que cada um quer dizer, ou seja, eles j fazem parte naturalmente do dia-a-dia das pessoas.
Mas, afinal de contas, o que o smbolo, como defini-lo? Segundo Mohr (1994, p. 8) O
smbolo escapa, porm, definio exata. Forma parte de seu ser no se deixar reduzir a
102
quadro fixo, uma vez que une os extremos, o incomponvel, concretitude e abstrao, servindo
finalidade de aludir, com sinal perceptvel aos sentidos, algo que no perceptvel aos
sentidos. Nesse sentido, pode-se afirmar que eles vo muitas vezes aonde as palavras no
conseguem ir e, por isso, tambm no podem ser definidos apenas pelo que deles se
interpretam, pois vo, alm disso, como defende Mohr na citao acima.
Entretanto, Para os cristos, smbolo era de incio uma palavra que tinha o mesmo
sentido de confisso de f: a tentativa de testemunhar de forma vinculante e obrigatria o
dizvel e o indizvel sobre Jesus Cristo, o Deus e homem verdadeiro (MOHR, 1994, p. 09).
Nesse sentido, fica mais fcil compreender sua presena to forte na histria da Igreja
catlica, pois sempre estiveram presentes na tradio crist. Os smbolos fazem parte da
Celebrao Eucarstica (missa), so encontrados na histria da f crist desde a criao da
humanidade, perpassam toda a sua historia do antigo ao novo testamento, quando Deus se
revela na pessoa de Jesus Cristo, como atesta a Igreja, Uma celebrao sacramental tecida
de sinais e de smbolos. Segundo a pedagogia divina da criao, o significado dos sinais e
smbolos deita raiz na obra da criao e na cultura humana, adquire preciso nos eventos da
antiga aliana e se revela plenamente na pessoa e na obra de Cristo (CIC, 1145).
Grande parte dos smbolos que conhecemos hoje, presentes na Igreja catlica so
encontrados na bblia, Antigo e Novo Testamentos, outros na tradio judaica extra bblica,
at mesmo nos textos apcrifos62 e na cultura pag, como assevera a citao abaixo:
Em geral os smbolos empregados pela tradio iconogrfica crist so atestados e
discutidos tambm pelas fontes escritas. A estes se unem numerosos smbolos que
so atestados exclusivamente no nvel literrio, e muitas vezes nascem da utilizao
de duas entre as tcnicas exegticas mais espalhadas na igreja antiga, a alegoria e a
tipologia. Fontes principais destes smbolos so obviamente as Escrituras do AT e
do NT; a estas se ajuntam bem depressa temas tirados da circunstante cultura pag.
Ocasionalmente foi possvel perceber a influncia de tradies judaicas extra
bblicas e de textos apcrifos. (Berardino, 2002, p. 1.289l)
62
Os textos apcrifos So escritos judaicos ou cristos no usados na liturgia e na teologia. Promovem muitas
vezes doutrinas estranhas e mesmo herticas. Para recomend-las aos leitores so apresentados como pretensas
revelaes de personagens bblicos do AT e do NT. Mas no foram inseridos entre os livros cannicos. H livros
apcrifos tanto do AT como do NT. As Igrejas protestantes chamam de apcrifos aqueles livros do AT que os
catlicos consideram deuterocannicos. Os que os catlicos chamam apcrifos, os protestantes consideram
pseudepgrafos. Para o NT adotam a mesma terminologia dos catlicos. (APARECIDO, Edmilson (org.), 2010,
p. 19).
103
Nesse sentido, entende-se que no catolicismo o uso dos smbolos tem tambm como
funo a aproximao entre o Criador e as criaturas, entre Deus e os homens. Apoderando-se
da prpria palavra que revela, Deus como autor de toda criao e, em especial, do homem,
feito sua imagem e semelhana, como revela o livro de Gnesis 1, 26-27:
Deus disse: Faamos o homem nossa imagem, como nossa semelhana, e que eles
dominem sobre os peixes do mar, as aves do cu, os animais domsticos, todas as
feras e todos os rpteis que se rastejam sobre a terra. Deus criou o homem sua
imagem, imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.
Por esse motivo, o homem cristo sente-se talvez vontade ao representar Deus,
muitas vezes com formas humanas, e ainda mais quando se pensa que este, como conta os
quatro evangelhos no Novo Testamento (Mateus, Marcos, Lucas e Joo), envia seu filho
tambm feito homem para viver entre os homens. Por outro lado, as representaes simblicas
de Cristo esto na maioria das vezes apoiadas nas formas simblicas que este ou outros falam
Dele nos evangelhos, como por exemplo: Eu sou a videira verdadeira (Joo 15, 1); Eu sou
o po da vida (Joo 6, 48); Eu sou o Bom pastor (Joo 10, 14); Eis o cordeiro de Deus
(Joo 1, 36).
104
A figura do Bom Pastor com a ovelha nos ombros, a folha da videira, assim tambm
como a uva e a figura do cordeiro, dentre tantas outras, esto em representaes de todas as
formas: esculturas, vitrais, pinturas e tambm nos paramentos litrgicos. Dessa forma, os
artistas desde os primrdios parecem ter somente entendido e assim dado forma quilo que na
literatura crist sempre existiu.
Na liturgia, os smbolos tambm so encontrados nos paramentos utilizados pelos
presbteros no momento da ao litrgica. Ganham durante a realizao das celebraes o
movimento que lhes d sentido, se tornam, dessa forma, tambm comunicadores de uma ao
que no dita apenas com palavras, mas tambm por um conjunto de gestos e objetos que
servem de sinais em toda ao litrgica, pois As realidades que Deus nos quer revelar e
comunicar na Liturgia so to grandes, to profundas e inefveis que o homem no consegue
exprimi-las por palavras. Por isso, ele recorre a uma linguagem mais profunda, aos sinais
sagrados, aos smbolos (BECKHUSER, 1976, p. 8).
Desse modo, os paramentos possuem papel fundamental para o desenrolar do culto
divino e todas as aes sacramentais, onde estes devem ser utilizados. Por mais simples que
sejam, a presena desses objetos em si j possui um valor simblico e, como dito, comunicam
a prpria funo, atravs dessa linguagem simblica, tendo em vista que, de acordo com
Beckhauser (2010, p. 8):
No culto, o homem todo procura entrar em comunho com o seu Deus. No s sua
alma, sua inteligncia. Tambm seu corpo. Deus se vela e se comunica no s pela
linguagem falada. A gua, o fogo, o ar, as nuvens, o vento, as plantas, os animais,
toda a natureza fala de Deus e pode servir de linguagem para o homem. Por isso,
todos estes elementos tambm podem servir de sinais litrgicos que significam e
comunicam a graa.
Nos paramentos litrgicos, muitos desses elementos citados acima por Beckhauser,
so utilizados como sinais litrgicos, cumprem o papel de significar e comunicar, como
afirma o autor, a graa. A prpria indumentria mesmo que no contenha nenhum
ornamento em forma de bordado, pintura e aplicaes, j simblica, por aquilo que , uma
vez que traz em si elementos que a tornam assim, como por exemplo, a estola, que sinal do
servio presbiteral e cujas cores acompanham o desenrolar de todo o ano litrgico e cujo uso
essencial em todas as funes litrgicas pelos bispos, presbteros e diconos.
A prpria ao litrgica tambm simblica, pois, por meio de sinais realiza e renova
a primeira ao litrgica realizada pelo prprio Cristo, e na qual Ele pede que continue sendo
realizada, (ver Lucas 22, 17-19). Nesse sentido, Toda liturgia crist pode ser dita
sacramental, no sentido tcnico que recebeu a palavra sacramento, isto , um sinal
105
Detalhe dos smbolos nas casulas da Coleo do Museu do Traje e do Txtil da FIFB.
106
Smbolo: cordeiro
63
Atade feito dessa pedra, geralmente ornado de esculturas e guardado em uma igreja, sepulcro ou cripta.
Fonte: Dicionrio de Portugus online. Disponvel em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues.
64
Epitfio.e.pi.t.fio. sm (gr. epitphios) 1 Inscrio num tmulo. 2 Breve elogio a um morto. Fonte: Dicionrio
de Portugus online. Disponvel em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues.
107
Smbolo: Cruz
Segundo Mohr (1994, p.123) no incio, houve hesitao dos cristos em utilizar este
smbolo, por considerarem escndalo e infmia pblica um Deus ser crucificado. Porm, aos
poucos, essa ideia foi superada pela reflexo religiosa. Passou-se a ver na morte de Cristo um
sacrifcio expiatrio. A cruz da figura acima uma cruz estilizada, conhecida como cruz de
ramos. Segundo Mohr (1994, p.123), a primeira representao da cruz como monumento
cristo do ano de 134, encontrada em uma inscrio em Palmira. H, atualmente, inmeros
estilos de Cruzes. Nos paramentos, um smbolo muito comum de ser encontrado,
principalmente nas casulas, dalmticas, estolas e pluviais.
Os smbolos aqui apresentados esto entre os mais antigos usados na linguagem crist.
Porm, h muitos outros nos paramentos da coleo aqui estudada, principalmente de
elementos fitomorfos, que se encontram nas casulas, dalmticas, estolas e manpulos.
Para a Igreja catlica, o primeiro e grande Pontfice, que deu incio vida sacerdotal
foi Jesus Cristo. Este estendeu esse ministrio a outros, instituindo Ele mesmo o sacerdcio.
Desse modo, a Igreja deu continuidade quilo que considera como uma oblao perfeita,
como uma oblao pura, como esclarece o Papa Pio XII, no trecho abaixo, extrado da
Encclica Mediator Dei.
O Divino Redentor quis, ainda, que a vida sacerdotal por ele iniciada em seu corpo
mortal com as suas preces e o seu sacrifcio, no cessasse no correr dos sculos no
seu corpo mstico, que a Igreja; e por isso instituiu um sacerdcio visvel para
109
oferecer em toda parte a oblao pura,65 a fim de que todos os homens, do oriente ao
ocidente, libertos do pecado, por dever de conscincia servissem espontnea e
voluntariamente a Deus.66
Desse modo, pode-se dizer que a Igreja apenas cumpre o mandato Daquele que a
fundou, para continuar a sua misso de segundo ela, como afirma o Papa Pio XII, na citao
acima servir espontnea e voluntariamente a Deus. Dando assim continuidade ao ofcio
sacerdotal de Cristo, de modo especial, a realizao da missa, como o mesmo Papa Pio,
afirma no pargrafo 3 da introduo de sua Encclica.
A Igreja, pois, fiel ao mandato recebido do seu Fundador, continua o ofcio
sacerdotal de Jesus Cristo, sobretudo com a sagrada liturgia. E o faz em primeiro
lugar no altar, onde o sacrifcio da cruz perpetuamente representado (5) e
renovado, com a s diferena no modo de oferecer; em seguida, com os
sacramentos, que so instrumentos particulares por meio dos quais os homens
participam da vida sobrenatural; enfim, com o tributo cotidiano de louvores
oferecido a Deus timo e mximo (6). "Que jubiloso espetculo diz o nosso
predecessor de feliz memria Pio XI oferece ao cu e terra a Igreja que reza,
enquanto continuamente dia e noite, se cantam na terra os salmos escritos por
inspirao divina: nenhuma hora do dia transcorre sem a consagrao de uma
liturgia prpria; cada etapa da vida tem seu lugar na ao de graas, nos louvores,
preces e aspiraes desta comum orao do corpo mstico de Cristo, que a Igreja.
65
Malaquias, 1, 11, diz Sim, do levantar ao pr-do-sol, meu nome ser grande entre as naes, e em todo lugar
ser oferecido ao Meu Nome um sacrifcio de incenso e uma oferenda pura. Porque o meu nome grande entre
os povos! Disse Iahweh dos exrcitos (Jerusalm, 2002, p. 1682).
66
Carta encclica Mediator Dei do sumo pontfice Papa Pio XII aos venerveis irmos patriarcas,
primazes, arcebispos e bispos e outros ordinrios do lugar em paz e comunho com a s apostlica.
110
qual possui uma pessoa representando sua maior autoridade e hierarquias prprias, como
afirma o Papa Pio XII no terceiro pargrafo da Encclica Mediator Dei:
A Igreja uma sociedade; exige, por isso, uma autoridade e hierarquia prprias. Se
todos os membros do corpo mstico participam dos mesmos bens e tendem aos
mesmos uns, nem todos gozam do mesmo poder e so habilitados a cumprir as
mesmas aes. O divino Redentor estabeleceu, com efeito, o seu reino sob
fundamentos da ordem sagrada, que reflexo da hierarquia celeste (36). Somente
aos apstolos e queles que, depois deles, receberam dos seus sucessores a
imposio das mos, conferido o poder sacerdotal em virtude do qual, como
representam diante do povo que lhes foi confiado a pessoa de Jesus Cristo, assim
representam o povo diante de Deus. Esse sacerdcio no vem transmitido nem por
herana, nem por descendncia carnal, nem resulta da emanao da comunidade
crist ou de delegao popular. Antes de representar o povo, perante Deus, o
sacerdote representa o divino Redentor, e porque Jesus Cristo a cabea daquele
corpo do qual os cristos so membros, ele representa Deus junto do povo. O poder
que lhe foi conferido no tem, pois, nada de humano em sua natureza; sobrenatural
e vem de Deus: "assim como o Pai me enviou, assim eu vos envio...;(40) "quem
vos ouve, a mim ouve..."; (41) "percorrendo todo o mundo, pregai o evangelho a
toda criatura; quem crer e for batizado, ser salvo"(42).
Como esclarece o Papa Pio XII, o poder hierrquico da igreja no conferido nem por
herana, nem por descendncia e nem ainda por procedncia ou qualquer tipo de procurao.
A Igreja acredita, pois, que essa deve ser feita por fora divina e no vontade humana, pois se
trata de um poder, segundo Pio XII, que no tem ... nada de humano em sua natureza;
sobrenatural e vem Deus. Desse modo, a Igreja acredita e afirma na terceira parte da
Ecncclica que (...) o sacramento da ordem distingue os sacerdotes de todos os outros cristos
no consagrados, porque somente eles, por vocao sobrenatural, foram introduzidos no
augusto ministrio que os destina aos sagrados altares e os constituem instrumentos divinos
por meio dos quais se participa da vida sobrenatural com o corpo mstico de Jesus Cristo.
Em outras palavras, somente os sacerdotes tm nas mos o poder conferido pela Igreja,
atravs do sacramento da ordem, de celebrar a liturgia Eucarstica.
Entretanto, as funes de um sacerdote no se restringem somente celebrao
Eucarstica. Essa considerada pela Igreja, sem sombra de dvida, o mais importante encargo
do sacerdote, pois, segundo a Igreja, somente estes so marcados com carter indelvel que
os configura ao sacerdcio de Cristo e somente as suas mos so consagradas para que seja
abenoado tudo o que abenoam e tudo o que consagram seja consagrado e santificado em
nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (Encclica Mediator Dei). Mas, alm disso, o sacerdote
exerce outras funes, pois est ligado a uma arquidiocese e a uma parquia.
O sacramento da ordem institui trs graus hierrquicos na Igreja, cada um possui suas
respectivas funes. So eles: o diaconato, o presbiterado e o episcopado. Sendo que os dois
ltimos participam do sacerdcio de Cristo, ou seja, os presbteros e os epscopos so
sacerdotes. A Igreja o expressa dizendo que o sacerdote, em virtude do sacramento da
111
Ordem, age in persona Christi (na pessoa de Cristo) (CIC 1548). Portanto, no representa
a pessoa de Cristo, mas, mais do que isso, age em sua pessoa. Aquele que se ordena dicono
no sacerdote, mas se destina a auxiliar e servir os sacerdotes. Registre-se que, No
obstante, ensina a doutrina catlica que os graus de participao sacerdotal (episcopado e
presbiterado) e o de servio (diaconato) so conferidos por um ato sacramental chamado
ordenao, isto , pelo sacramento da Ordem (CIC 1554).
Os presbteros (padres) e bispos (epscopos), podem ainda participar de diversas
funes e, alm disso, ocupar cargos, aos quais so conferidos ttulos, como por exemplo, as
funes de arcebispo, Papa e a de cardeal, que so ttulos atribudos aos bispos. Aqueles
bispos que so indicados ao cardinalato e que fazem parte da escola dos bispos podem ser
votados para ser Papa. No entanto, mesmo apresentando referidos ttulos, como grau mximo
das ordens sagradas, so todos bispos (COPPOLA, 2006, p. 25). H ainda outros ttulos e
funes como de: nncio, monsenhor, cnego e vigrio-geral.
O Dicionrio Patrstico e de Antiguidades Cristo, (cujo organizador Angelo Di
Berardino, j citado neste trabalho), distingue as vestes litrgicas em duas espcies: inferiores
e superiores.
As inferiores so: a alva e cngulo, amito, cota, sobrepeliz e roquete;
As superiores so aquelas sobrepostas. So elas: a planeta (casula), o pluvial, a dalmtica e
a tunicela.
Alm dessa classificao das vestes superiores e inferiores, suas origens e significados, o
dicionrio tambm apresenta outras vestes, denominadas:
Insgnias: o manpulo, a estola e o plio e ainda aquelas classificadas como insgnias
pontificais, que so: a mitra, o bculo, o anel, a cruz peitoral e outros acessrios como as
luvas e os calados.
Dentro do contexto hierrquico, os paramentos representam a forma visual de os
ministros ordenados serem reconhecidos. A hierarquia na Igreja se apresenta de acordo com
o grau da ordem qual pertena seu representante, ou seja, s Ordens Menores e s Ordens
Sagradas (COPPOLA, 2006, p. 24l). Sobre os ministros ordenados (que pertencem s Ordens
Sagradas) diconos, presbteros e bispos e algumas de suas principais funes, nas quais
exercem os ttulos de arcebispos, cardeais e outros, apresenta-se abaixo, de forma resumida,
suas funes e as principais vestes eclesisticas e litrgicas que utilizam, conforme o grau
hierrquico que ocupam.
112
Fanon
Segundo informaes colhidas em texto do
site do vaticano68 sobre esse paramento, o fanon (do
latim Fano, pano) um ornamento litrgico
especfico do Romano Pontfice. Alguns acreditam
que seja uma pea derivada do amito, outros do
manpulo, outros acreditam ainda que se trata de
fode hebraico. No princpio, suas duas partes eram
Figura: 43 Fanon unidas, mas foram separadas pelo Papa Pio X (1903-
1914). feito de tecido de seda fina com listras perpendiculares nas cores vermelho, branco,
amarelo e dourado. Foi usado por papas at Joo Paulo II e o Papa Bento XVI procurou
preservar o uso dessa vestimenta litrgica simples, que, ao longo dos sculos tem sido
enriquecida por um valor simblico significativo: o escudo da f para proteger a Igreja. Esta
leitura simblica, qual seja, a presena de faixas verticais de ouro e prata expressaria a
67
Os bispos formam um colgio. O Conclio Vaticano II diz (Lumen Gentium, n 22): Assim como por
disposio do Senhor So Pedro e os outros apstolos constituem um colgio apostlico, paralelamente o
Romano Pontfice, sucessor de Pedro, e os bispos sucessores dos apstolos, esto unidos entre si. A ndole e o
carter colegial da ordem episcopal so expressos j pela disciplina muito antiga segundo a qual os bispos de
todo o mundo tinham comunho entre si e com o bispo de Roma, no vnculo da unidade, caridade e paz, como
tambm pelos conclios reunidos nos quais se resolviam em comum as questes importantes, auscultando
ponderadamente a opinio de muitos. O mesmo comprovado abertamente pelos conclios ecumnicos
celebrados no decurso dos sculos. Da mesma forma tambm o insinua o antiqussimo costume de convocar
vrios bispos da elevao neo-eleito ao ministrio do sumo sacerdcio. Fonte: SCHMAUS, Michael. O colgio
dos bispos. Disponvel em: < http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/concilio-vaticano-ii/colegio-
dos-bispos/704-o-colegio-dos-bispos-michael-schmaus > Acesso em: 03/07/2014.
68
Ufficio delle Celebrazioni Liturgiche Del Sommo Pontefice Il fanone papale (Disponvel em:
http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20130114_fanone-papale_it.html#to)
113
unidade e indissolubilidade da Igreja Latina e Europa Oriental, que repousam sobre os ombros
do Sucessor de Pedro. O fanone tambm simboliza para alguns o escudo da f para proteger a
Igreja Catlica
Frula
Diferentemente dos bispos, o Sumo Pontfice no faz uso do
bculo, mas da frula, uma haste munida de uma cruz na
extremidade. nas palavras de Oliveira (2013, p.1): Ainda que a
frula usada por Paulo VI, Joo Paulo I e Joo Paulo II fosse
acinzentada e munida da figura do crucificado, o comum que seja
dourada e no possua a imagem do Cristo, como era a frula de Pio
XI e Pio XII que Bento XVI usou durante certo tempo e tambm
aquela confeccionada exclusivamente para ele.
Figura: 44 - Frula
Apesar, de no ser uma veste, um elemento litrgico que faz parte do conjunto de
paramentos que distinguem hierarquicamente a figura do pontfice.
O Anel de Pescador
O anel usado pelo papa denominado anel do
pescador, traz a imagem de So Pedro gravada na frente.
Segundo Oliveira (2012, p1), Este anel entregue ao
papa durante a missa de incio de pontificado, junto com
outras insgnias do ministrio petrino. (...) na morte do
papa, o anel ser quebrado pelo Cardeal Camerlengo na
Figura: 45 anel de pescador presena dos demais cardeais.
69
As trs figuras apresentadas N (s) 43, 44 e 45, referentes ao fanon, frula e o anel de pescador esto
disponveis em: http://www.salvemaliturgia.com.
114
CARDEAL
Os cardeais, na maioria das vezes, so bispos de
dioceses importantes de todo o mundo. Porm, presbteros e
diconos tambm podem ser cardeais. So representantes da
Igreja no mundo e formam, desse modo, o Colgio dos
Cardeais. Escolhidos pelo Papa, so responsveis por
prestar assessoria direta ao Pontfice, na soluo das
questes organizativas e econmicas da Santa S, na
Figura: 46 - Cardeal coordenao dos diversos Dicastrios (uma espcie de
ministrio do Vaticano) que compem o servio da Santa S em favor da comunho em toda a
Igreja e da justia para com os pobres do mundo todo (AQUINO, 2006, p.1). So os cardeais
(enquanto no completarem oitenta (80) anos) que possuem a responsabilidade de eleger o
novo Papa.
vestes detalhes vermelhos, mas tambm os arcebispos. Alm desse detalhe, de acordo com
Coppola (2006, p. 27), As insgnias dos arcebispos so o plio e a cruz arquiepiscopal, sendo
distines honorficas, emanadas da S apostlica como smbolo da mais abundante
participao dignidade e ao poder, inerentes ao pontificado supremo.
BISPO
Bispos auxiliares so aqueles dados pela
Santa S para auxiliarem outro bispo.
O bispo sufragneo o bispo de uma diocese que,
juntamente a outra, forma uma Provncia
eclesistica. Os bispos so responsveis pelo
ensino da palavra de Deus, celebrao do
sacramento eucarstico e demais sacramentos.
Figura: 47 - Bispos
De acordo com o bispo do Rio de Janeiro Orani Tempesta (2010, p.1), o bispo tem
como obrigao fazer visita ad limina apostolorum, uma visita aos tmulos dos apstolos na
Diocese de Roma, na qual apresentam ao Papa um relatrio de sua diocese. Os bispos so
considerados os sucessores dos apstolos, Para que a misso a eles confiada fosse continuada
aps sua morte, confiara a seus cooperadores imediatos o mnus de completar e confirmar a
obra iniciada por eles, recomendando-lhes que atendessem a todo o rebanho no qual o Esprito
Santo institura para apascentar as ovelhas (CIC, 861). No se deve esquecer tambm que
(...) todo bispo exerce seu ministrio dentro do colgio episcopal, em comunho com o Bispo
de Roma, sucessor de S. Pedro e chefe do colgio (CIC, 877).
Cnego: Segundo Coppola (2006, p. 25). cnego o sacerdote secular que faz parte
do Cabido, ou seja, do conjunto de padres (cnegos) que rezam com o bispo o culto das
igrejas Porm, nem todas as dioceses tm Cabido. Entretanto, o Bispo pode recompensar um
sacerdote dando-lhe esse ttulo honorfico, ou seja, como um ttulo de honra em
reconhecimento do seu trabalho.
Monsenhor: um ttulo honorfico, conferido pelo Papa. Porm, este pode o fazer a
pedido de um Bispo diocesano. Segundo Silva (2016, p. 1) O monsenhor no tem uma
autoridade cannica maior que a de qualquer padre, uma vez que a nomeao no implica
num sacramento de ordem. Alm disso, um ttulo que visa apenas honrar o sacerdote por
reconhecimento dos seus servios prestados. O ttulo de monsenhor pode ser tambm dado
queles padres que foram eleitos Bispos e esperam a sua ordenao.
Os ministros ordenados (como j foi dito) so apenas o dicono, o presbtero e o bispo.
As funes de arcebispo, cardeal e Papa so ttulos atribudos aos bispos. Alm dessas
funes, como foi visto, h tambm os ttulos de honra como o de Monsenhor e cnego. Alm
disso, existem tambm outros encargos, como os de Vigrio-geral e Vigrio-forneo. O
Vigrio aquele a quem o bispo diocesano delega poderes para que possa agir no mbito da
parquia a ele delegada. O Vigrio forneo, por outro lado, responsvel por vrias parquias
que, juntas, formam o que denominado de forania, suas principais atribuies so coordenar
as atividades pastorais comuns, acompanhar os sacerdotes na sua vida e exerccio de suas
funes, estar atento e, se necessrio, fazer correes das expresses litrgicas, zelar pelo
tratamento dos livros paroquiais, alfaias e pela boa administrao dos bens eclesisticos.
Tabela: 4
Cores Hierarquia
Papa
Cardeais
Bispos
Presbteros
Na escala hierrquica eclesistica, a cor possui um grande valor simblico (ver tabela
n4), como foi explicitado acima. Elas so responsveis por distinguir por meio dos trajes
eclesisticos: Papa (Branco), cardeais (vermelho), bispos (violceo) e presbteros (preto).
Sobre elas e sua importncia simblica se falar mais no prximo item.
118
70
Espcie de calendrio eclesistico, impresso todos os anos em cada pas, que indica como recitar e celebrar os
ofcios de cada dia. (disponvel em: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues).
119
Com a reforma do Missal Romano pelo Papa Pio V, as cores secundrias foram
suprimidas, foi estabelecido para a Igreja Universal o cnon das cinco cores primrias:
branco, vermelho, verde, roxo, e preto. Alm disso, a cor rosa foi admitida em dois dias do
ano litrgico, Gaudete e Laetare, ou seja, o domingo gaudete, que o terceiro domingo do
advento e o domingo laetare, o quarto domingo da quaresma.
Sobre a origem e o simbolismo das cores Reus (1952, p, 67) recorda que o simbolismo
naquele tempo (700-900) estava muito em voga. E ainda, essa era uma forma de expressar o
carter dos tempos e das festas religiosas por meio das cores que para eles eram mais
convenientes, associavam-na conforme as caractersticas da festa, como por exemplo, o
branco usado na celebrao da festa dos santos, porque, segundo as crenas da poca, essa era
a cor que melhor poderia simbolizar o puro e santo.
Em 2000, autorizado pelo Papa Joo Paulo II, a Institutio Generalis do Missalis Romano, ou
seja, o Missal Romano foi reformado. Neste, a Igreja declara que A diversidade de cores das
vestes sagradas tem por finalidade exprimir externamente de modo mais eficaz, por um lado,
o carter peculiar dos mistrios da f que se celebram e, por outro, o sentido progressivo da
vida crist ao longo do ano litrgico (IGMR, 2002, p. 45). Ou seja, as cores, de forma
concreta e silenciosa, tm o objetivo de colaborar no ato litrgico, na expresso daquilo que
no se pode ver, aquilo que prprio do mistrio da f que celebrado. Alm disso,
expressam tambm como esses mistrios se desenvolvem na vida dos catlicos (como
esclarece o texto do Missal), ao longo de todo o ano litrgico.
As cores, segundo as Instrues Gerais do Missal Romano, se apresentam no ano
litrgico da seguinte forma:
Branco: uma cor usada nos ofcios e Missas do Tempo Pascal, no Natal do Senhor,
nas celebraes do Senhor (exceto as da Paixo), nas celebraes da bem-aventurada Virgem
Maria, dos Anjos, dos Santos (com exceo dos Santos mrtires), nas solenidades de Todos os
Santos (celebradas no 1 de novembro), de So Joo Batista (Celebrada dia 24 de junho), nas
festas de So Joo evangelista (celebrada no dia 27 de dezembro), da cadeira de So Pedro
(celebrada em 22 de fevereiro) e da Converso de So Paulo (celebrada no dia 25 de janeiro).
Simbolismo: O branco utilizado nessas celebraes remete ao que celebrado, nesse caso, nos
ofcios e missas do tempo Pascal, o branco simboliza a ressurreio e tambm a vitria de
Jesus sobre a morte; no Tempo do Natal, o branco simboliza a pureza e a santidade do menino
Jesus que nasce; nas celebraes dedicadas Virgem Maria, aos anjos, na festa dedicada a
Todos os Santos e demais festas que celebram a memria de santos, com exceo das de
120
martrio (no qual se usa o vermelho, como se ver mais adiante) simbolizam tambm a pureza
e santidade de vida desses homens e mulheres que a Igreja denomina santos;
Vermelho: uma cor usada no Domingo de Ramos e na sexta-feira da paixo, no
Domingo de Pentecostes, nas festas natalcias dos apstolos e Evangelistas e nas celebraes
dos Santos Mrtires.
Simbolismo: O Domingo de Ramos o primeiro dia da Semana Santa, semana que
recorda o sofrimento de Cristo, at a sexta feira santa, quando a Igreja celebra a paixo de
Cristo, seu sofrimento e morte de cruz. Nesse caso e tambm no caso das celebraes dos
santos mrtires, o vermelho simboliza o sangue derramado por Cristo e todos os santos
mrtires pela causa do Reino dos cus. Na festa de Pentecostes, o vermelho representa o fogo
do Esprito Santo;
Verde: usado nos ofcios e nas missas durante o tempo comum;
Simbolismo: O verde simboliza a esperana do cristo, esperana que se deve ter e professar
em Cristo.
Roxo: a cor roxa usada no tempo do Advento e da Quaresma. Pode-se usar tambm
nos ofcios e missas pelos mortos.
Simbolismo: o roxo usado durante a quaresma simboliza a preparao, simboliza a penitncia,
meio pelo qual o cristo se prepara para a pscoa. sinal de chamado converso e
serenidade. Usado no advento, o roxo simboliza a espera e a expectativa pela chegada de
Jesus que h de vir no natal;
Preta: uma cor usada nas missas pelos mortos.
Simbolismo: a cor preta simboliza a morte, o luto e a tristeza.
Rosa: usada nos domingos chamados Gaudete (que se refere ao terceiro domingo do
Advento) e Laetare (que se refere ao quarto domingo da quaresma);
Simbolismo: a cor rosa simboliza a alegria.
Segundo o CIC (1171) O ano litrgico o desenrolar dos diferentes aspectos do nico
mistrio pascal. Isto vale particularmente para o ciclo das festas em torno do mistrio da
Encarnao (Anunciao, Natal, Epifania), que comemoram o princpio da nossa salvao e
nos comunicam as primcias do mistrio da Pscoa.
121
Porm, isso de modo algum restringe a liberdade de cada regio expressar sua prpria
cultura. Podendo usar de criatividade na confeco de seus paramentos, como esclarece
tambm a IGMR (n 347): As Conferncias Episcopais podem, no que respeita s cores
litrgicas, determinar e propor a S Apostlica as adaptaes que entenderem mais conformes
com as necessidades e a mentalidade dos povos. Algo tambm importante de ser lembrado
que, apesar das cores litrgicas serem determinadas, isso no quer dizer que outras cores no
sejam tambm utilizadas.
Os tecidos podem ser de cores diversas, desde que haja uma cor principal que
predomine e que esteja entre as cores litrgicas 72. A cor predominante deve ser a do
fundo que determina a cor caracterstica do tecido. Se ao contrrio, o desenho
predominante a cor ser aquela do desenho. O que no deve acontecer o uso de
duas cores, deixando o paramento indeterminado 73. Ou seja, no predominante
nem a cor do desenho e nem a cor do desenho e nem a do fundo, porque ou existe
uma cor predominante ou no existe nenhuma e assim o paramento no pode ser
utilizado. (COPPOLA, 2006, p. 32).
Os paramentos que esto sujeitos s regras das cores litrgicas so: a casula, a estola, o
manpulo, o pluvial e a dalmtica. No caso do cngulo e do conopeu, podem ser da cor
prescrita, mas tambm podem ser sempre brancos. muito comum encontrar paramentos
desse tipo citado pela autora acima com muitas cores nos ornamentos, s vezes o prprio
tecido vem com duas ou mais cores, mas uma cor sempre (litrgica, referente ao dia)
sobressaindo.
71
Imagem disponvel em: http://universovozes.com.br/editoravozes/web/view/BlogDaCatequese.
72
Conforme Braum, 1914, p. 41, Decr. Auth, n 2769.
73
Conforme Braum, 1914, p. 41, Decr. Auth. n 2769, 2675, 2682, 2769.
122
Tabela: N 5
CORES N DE PARAMENTOS
Bege e Branco 36
Amarelo e Dourado 16
Vermelho 13
Verde 06
Roxo 10
Preto 09
Para a Igreja catlica, os paramentos litrgicos possuem um valor que vai alm da
tradio histrica. Com o tempo, foram agregados a eles valores simblicos e, com isso, o
cuidado e o zelo na confeco de cada um deles tambm foram crescendo, assim como a
forma de uso. O fato, por exemplo, de serem vestes destinadas somente ao culto considerado
sagrado para a Igreja catlica, de acompanharem o calendrio litrgico por meio do uso das
cores e o prprio formato das peas, largas e cumpridas, tudo tem um sentido e um propsito.
Como se pode conferir na citao abaixo, extrada da pgina do Vaticano, do Departamento
das Celebraes Litrgicas do Sumo Pontfice (DCLSP), sobre: A Vestio dos Paramentos
Litrgicos e as Respectivas Oraes:
Alm das circunstncias histricas, os paramentos sacros tm uma funo
importante nas celebraes litrgicas: primeiramente, o fato deles no serem usados
no cotidiano, tendo assim um carter cultual, ajuda-nos a romper com o cotidiano e
suas preocupaes, no momento da celebrao do culto divino. Alm disso, as
formas largas das vestimentas, como por exemplo, da casula, pem em segundo
123
74
O Rito Romano antiqssimo na Igreja e, segundo atesta o Papa Paulo VI na sua Constituio Apostlica
Missale Romanum, conservou sempre a mesma forma que foi fixada entre os sculos IV e V [9]. Conservado
assim na Igreja de Roma desde o sculo IV, passando por diversos enriquecimentos ao longo dos sculos, teve
sua principal promulgao, em obedincia s determinaes do Conclio de Trento, em 1570, pelo Papa So Pio
V (Fonte: Rifan, Fernando Aras. Consideraes sobre as Formas do Rito Romano da Santa Missa. Garanhus
Pe. 2010).
75
[2] Edito dalla LEV, Citt del Vaticano 2009, pp. 385-386.
76
Embora este termo, ao longo dos tempos, tenha assumido vrias acepes, indica-se a actualizada definio,
de registo litrgico, expressa na Constituio Apostlica Indulgentiarum doctrina (Paulo VI, 1967): Indulgncia
a remisso, perante Deus, da pena temporal, devida pelos pecados j perdoados quanto culpa; remisso que o
fiel, devidamente disposto e em certas e determinadas condies, alcana por meio da Igreja, a qual, como
dispensadora da redeno, distribui e aplica por fora da sua autoridade o tesouro de satisfao de Cristo e dos
Santos. Disponvel em: http://www.liturgia.pt/dicionario.
124
casula), com pequena explicao sobre cada um deles (que sero apresentados aqui de forma
resumida) e suas respectivas oraes, que aqui sero expostas, acompanhadas de imagens
desses paramentos, que pertencem coleo do Museu do Traje e do Txtil da FIFB. Essas
oraes demonstram, alm do carter simblico dessas vestes, as intenes por trs de cada
uma delas e os fortes sentimentos do sacerdote que as criou e de quem as recitou ou as recita
at os dias de hoje.
O Amito
Inicia-se a vestio com o amito, uma espcie
de pano retangular de linho que tem nas extremidades
duas fitas, que repousam sobre os ombros junto ao
pescoo. O amito usado com o objetivo de cobrir ao
redor do pescoo.
Figura: 49 Amito (Acervo FIFB)
Orao: Colocai, Senhor, na minha cabea, o elmo da salvao para que possa
repelir os golpes de Satans.
Esta orao tem referncia na carta de So Paulo aos Efsios 6, 17 (Jerusalm, 2002,
p.2047 ), que diz E tomai o capacete da salvao e a espada do Esprito, que a palavra de
Deus. O amito, neste caso, interpretado como o capacete da salvao (ou o elmo da
salvao como chamado em outras tradues), que tem como objetivo proteger o sacerdote
das tentaes, de modo especial de pensamentos e desejos maldosos durante a missa. Segundo
o DCLSP, Este simbolismo ainda mais evidente no costume seguido desde a Idade Mdia
pelos monges beneditinos, franciscanos e dominicanos, entre os quais o amito era posicionado
sobre a cabea e deixado recair sobre a casula ou a dalmtica.
125
Alva
Cngulo
Orao: Cingi-me, Senhor, com o cngulo da pureza, e extingui nos meus rins o fogo
da paixo, para que resida em mim a virtude da continncia e da castidade.
A orao faz referncia Primeira Carta de Pedro 1,13 que diz: Por isso, com prontido de
esprito, sede sbrios e ponde toda a vossa esperana na graa que vos ser trazida por ocasio
da Revelao de Jesus Cristo.
126
Manpulo
Orao: Fazei, Senhor, que merea trazer o manpulo do pranto e da dor, para que
receba com alegria a recompensa do meu trabalho.
Acredita-se tambm que esta orao pode ter sido inspirada pelo Salmo 125, 5-6, que diz, Os
que semeiam com lgrimas, ceifam em meio s canes. Vo andando e chorando ao levar a
semente; ao voltar, voltam cantando, trazendo seus feixes.
Estola
A estola um paramento usado por todos os ministros
ordenados, diconos, padres e bispos, nas celebraes das missas e
de todos os sacramentos. Segundo Lesage, (1959, p. 95) A estola
a insgnia do poder de ordem, que distingue aqueles que receberam
o episcopado, presbiterado ou o diaconato. uma pea de tecido,
geralmente com bordados e franjas, usadas em volta do pescoo,
caindo sobre os dois lados, esquerdo e direito (a estola do dicono
usada transversalmente), medindo mais ou menos 250 cm. Suas
cores acompanham o tempo litrgico.
Casula
A casula, tambm conhecida como planeta, um paramento
prprio do sacerdote, usada na celebrao da missa e de todos os
sacramentos. Segundo o DCLSP, Os livros litrgicos usavam as duas
palavras, em latim casula e planeta, como sinnimos. Enquanto o
nome planeta foi usado em particular em Roma e acabou por
permanecer na Itlia, o nome casula deriva da forma tpica da
vestimenta, que originalmente circundava todo o corpo do ministro
sagrado que a portava.
Orao: Senhor, que dissestes: O meu jugo suave e o meu peso leve, fazei que o
suporte de maneira a alcanar a Vossa graa.
Todos os paramentos citados acima (amito, alva, cngulo, manpulo, estola e casula),
que na forma extraordinria do Rito Romano, instituda pelo Papa Pio V, so acompanhados
de uma orao em sua vestidura ( com exceo da casula) so de uso de todos os ministros
ordenados, sejam diconos, presbteros ou bispos. Isso mostra talvez o cuidado para que todos
os ministros pudessem assumir esse vis do simbolismo que remete ao ato da vestio, sem
distino entre eles. O texto A vestio dos paramentos litrgicos e as respectivas oraes,
feito pelo Departamento das Celebraes Litrgicas do Sumo Pontfice (DCLSP), deixa claro
o objetivo de sua publicao.
(...) espera-se que a redescoberta do simbolismo associado aos paramentos e suas
oraes incentive os sacerdotes a retomar a prtica da orao durante a vestio, de
modo a se preparar com o devido recolhimento celebrao litrgica. Se verdade
que possvel rezar com diferentes oraes, ou ainda simplesmente elevando a
128
mente a Deus, por outro lado, os textos da orao de vestio trazem a brevidade, a
preciso de linguagem, a inspirao da espiritualidade bblica e o fato de que so
rezados pelos sculos por um nmero incontvel de ministros sagrados. Estas
oraes so recomendadas ainda hoje, para a preparao da celebrao litrgica, e
tambm realizadas de acordo com a forma ordinria do Rito Romano.
5. CONCLUSO
cadernos de D. Henriqueta, do mesmo modo que outros objetos deram entrada no ento
Museu de Arte Antiga. De todo modo, a pesquisa elucidou esse trao diferencial.
Ressalte-se que, pela disperso dos paramentos litrgicos por vrios espaos ou
armrios da FIFB, para que a pesquisa pudesse se realizar, foi necessrio o desenvolvimento
dos primeiros passos da documentao museolgica, de modo mais sistemtico (elaborao
da ficha de registro, captao dos dados, descrio, medio etc.), etapa que resultou em
muito aprendizado para a autora desta pesquisa e possibilitou a observao detalhada de item
por item. Como se sabe, a documentao de entrada e a produo de informaes trazem
fundamentos para a pesquisa. Assim, os resultados alcanados podem reverter-se em
benefcio da instituio. Informaes de nvel historiogrfico, origens, destinos, funes,
transformaes ao longo do tempo, o carter simblico em todos os aspectos, desde o
formato, cor, as aplicaes etc. podem auxiliar o desenvolvimento de pesquisas posteriores.
Os resultados alcanados podem servir tambm para a ampliao das informaes
apresentadas na atual exposio. Alm disso, podem ser exploradas na mediao, por meio de
programas educativos da FIFB.
Foi observado que, desde seu surgimento at os dias de hoje, os paramentos
mantiveram o mesmo papel na liturgia, porm, claro, no decorrer da histria muitas foram
as transformaes que sofreram, e novos significados foram agregados ao seu uso, de modo
especial no sculo XVI e XVII, aps o Conclio de Trento. No sentimento da poca associado
f e determinaes geradas por este conclio, foi realizado o primeiro documento com regras
especficas para os paramentos litrgicos. Regras essas que foram utilizadas at as novas
determinaes do Conclio Vaticano II, no qual as grandes mudanas na liturgia aconteceram
e, como resultado disso, houve mudanas tambm no uso dos paramentos.
Na coleo do Instituto Feminino, essas diferenas podem ser notadas por qualquer
visitante, pois a primeira exposio Relquias da f apresenta peas do perodo Tridentino,
como as casulas e dalmticas datadas entre os sculos XVIII e XX, quando havia muita
preocupao com a esttica das peas, os melhores tecidos, guarnies e aplicaes. Os
prprios modelos das casulas e dalmticas, de modo especial, eram inspirados em estilos
europeus. Na mesma Galeria, do lado oposto, o visitante pode observar, na exposio
Cardeal Agnelo Apstolo da F e da Caridade, os tecidos mais simples, as peas mais
leves, com poucos ornamentos, que revelam os efeitos das mudanas trazidas pelo Conclio
Vaticano II.
Outro fato importante constatado no estudo da formao dessa Coleo o forte teor
cultural e religioso que envolvia todas as aes da Fundao Instituto Feminino da Bahia,
131
quando esta ainda era uma instituio de ensino. Ela cresceu com dois vieses: cultural e
religioso. A influncia de Henriqueta Catharino sobre a prpria construo e organizao da
casa, que se tornou a sede (onde atualmente se encontra a FIFB) que abrigava a escola, seu
esprito colecionista que levou criao, em sua poca, de dois museus abertos ao pblico o
de Arte Antiga e o de Arte Popular e, depois, um terceiro, para abrigar material de histria
natural para dar apoio s aulas. Corrobora para entender a importncia que esta senhora da
sociedade baiana dava aos museus como elementos pedaggicos as regras existentes para as
alunas da poca, a forte formao religiosa tambm esclarece muito sobre os pilares dessa
instituio.
Em se tratando da coleo de paramentos litrgicos, em uma instituio que se
denomina catlica e cujos fundadores eram um representante da Igreja (Monsenhor Flaviano
Osrio Pimentel) e uma senhora da sociedade que tinha forte formao catlica, isso no
poderia passar despercebido. A influncia do catolicismo est em toda parte, desde o jardim
do Instituto, com as esculturas de santos catlicos, at o acervo, sem falar na arquitetura
singular do edifcio, que hoje abriga os trs museus e entre eles, uma capela no primeiro andar
do prdio, onde, durante trs dias da semana, missas so celebradas. A concluso da pesquisa
conduz para a noo de que, na FIFB, em sua formao inicial, tudo girava em torno do
carter religioso de seus fundadores.
Sobre os aspectos da museologia, com base no trabalho inicial de documentao dessa
coleo e das pesquisas em torno dela, a partir de uma pequena reflexo sobre as atividades
museolgicas (documentao, conservao, exposio e ao educativa) em torno da coleo
e das prprias aes que o museu desenvolve e daquilo que recomendado, chega-se a
concluso que tal coleo est em bom estado de conservao e que a forma com que est
sendo exposta a mais utilizada pelos museus, tendo em vista a segurana e conservao do
acervo.
Porm, h muito que fazer quando o assunto interao com o pblico. Nisso, as
exposies com essa tipologia de acervo poderiam, como foi visto no terceiro captulo,
explorar muito mais, por intermdio de exposies mais criativas e ousadas. Porm,
necessrio que se pesquise mais sobre isso, tanto no que diz respeito exposio de trajes,
novos mobilirios e suportes, quanto no potencial de comunicao que esses objetos possuem,
pois, uma coisa certa: nenhum objeto pode ser mais ntimo do ser humano do que suas
prprias vestes e, quando essas so produzidas para determinadas funes representativas,
isso se torna ainda mais complexo e instigante.
132
O olhar exploratrio sobre as peas que compem a coleo resultou em uma anlise
que no poderia ser apenas formal, seno tambm do teor simblico empregado nos
paramentos, assim tambm como a questo da hierarquia envolvida no uso de algumas peas,
mesmo que as diferenas estivessem apenas na mudana das cores que estas exibem. Sobre
essas questes, o resultado tambm enriquecedor, pois se percebe que, quando se lida com
essa tipologia de acervo, nada por acaso, tudo parece ter um sentido, uma inteno, como
pode ser observado no ltimo captulo desta dissertao. O teor simblico dos trajes litrgicos
vai muito alm das figuras do cristianismo que aparecem nas peas sob a forma de bordados,
aplicaes ou pelo prprio tecido. Esse simbolismo, como foi visto, est presente em toda a
sua estrutura como objeto do culto religioso, seja nas cores, na vestio, na hierarquia de uso,
na prpria tradio de usar trajes especficos para a liturgia, seja na separao deles apenas
para este fim, considerando-os, desse modo, como sagrados.
Dos resultados alcanados, acima apresentados, um de relevncia: o incio do
processo de documentao e pesquisa da coleo. De modo concreto, foi feito o levantamento
do nmero e tipos de peas, o registro fotogrfico e a criao do banco de imagens da coleo,
o reconhecimento dessas peas e sua identificao, assim como o registro das medidas de
cada uma delas e dos materiais que as compem, a organizao do contedo dos cadernos de
D. Henriqueta em uma tabela, o preenchimento das fichas catalogrficas das peas e o
Inventrio ou arrolamento destas (ver apndice com o resultado parcial).
Ainda h muito que se pesquisar sobre a coleo de paramentos litrgicos do Museu
do Traje e do Txtil da FIFB, como por exemplo, uma investigao mais aprofundada deve
ser realizada a respeito dos antigos donos de cada veste e tambm sobre seus doadores,
trazendo tona as relaes existentes entre estes e a Fundao Instituto Feminino da Bahia.
necessrio tambm fazer uma anlise estilstica da coleo, que envolve um estudo sobre os
tecidos, bordados, rendas, fitas e gales utilizados na confeco das peas. Alm disso, se faz
necessrio que a pesquisa se amplie a outras colees existentes em outros museus de
Salvador, no sentido de poder traar um quadro de anlise comparativa sobre os paramentos
Litrgicos da primeira capital do Brasil que resistiram ao tempo e compem o acervo dessa
cidade. Muitos outros pontos em relao pesquisa dessa coleo podem ser tratados, sendo
este trabalho, portanto, apenas um estudo inicial.
Por fim, entende-se que, no Museu do Traje e do Txtil da Fundao Instituto
Feminino da Bahia, todo o contedo aqui pesquisado, principalmente no que concerne
formao e trajetria da coleo, o perfil da colecionadora, os significados desses trajes para a
intuio, unidos prpria essncia simblica, o acervo pode ser explorado pelo setor
133
educativo e nas futuras exposies como objeto de culto religioso, primeiro papel exercido na
instituio que o abriga e como objeto musealizado, no qual assim tambm se tornou.
134
REFERNCIAS
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Comunho. Ed. Nossa Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001;
GLOSSRIO
ALFAIAS: Designao geral para os vasos sagrados, vestes e outros objetos utilizados no
culto divino para a composio do altar e da igreja: galhetas para o vinho e gua; bacia e jarra
para lavar as mos; patena e clice para a Eucaristia; pxide e ostensrio para conservar ou
expor o Santssimo. (URBAN e Bexten. 2013, p. 16).
ALVA: Tnica com mangas comprida, normalmente de linho branco. Pode ser ornamentada
com renda ou bordado na parte inferior e na extremidade das mangas. Usada sob a casula,
dalmtica e pluvial ou apenas com estola. (ALARCO e PEREIRA, 2000, P. 53);
AMITO: Pea retangular de linho branco, cerca de 80 a 90cm de cumprimento, com duas
fitas. Usado sob a alva, como um pequeno Xaile volta dos ombros, ajustado ao corpo pelas
fitas ou cordes. (ALARCO e PEREIRA, 2000, P. 53).
ANO LITTGICO: o conceito foi cunhado no sculo XVI pelo proco evanglico Johanes
Pomarius e se distingue do ano civil pelas festas eclesisticas e pela data do incio. O ano
litrgico comea no primeiro no 1 domingo do Advento. O ltimo domingo do ano litrgico
a solenidade de Cristo Rei, que faz dirigir o olhar para a volta do Senhor. O ano litrgico se
compe dos Tempos prprios do Natal e Pscoa, como tambm do assim chamado Tempo
comum (com 33/34 domingos). O centro do ano litrgico a Pscoa, por ser a celebrao da
morte e ressurreio de Jesus Cristo, como centro da f crist. Seguindo a Parasceve judaica,
celebrada assim desde o sculo I. (URBAN e Bexten. 2013, p. 16).
APSTOLO: Significa "enviado", " mensageiro". Nos evangelhos o termo reservado aos
doze discpulos escolhidos por Jesus (Mc 3,13-19; Lc 6,13-16), para agir em seu nome (Mt
10,5-8.40). Os apstolos so escolhidos por Deus para pregar o Evangelho (Rm 1,1; 2Cor
5,20), so a base da Igreja (Ef 2,20; Ap 21,14) e constituem o novo Israel de Deus,
recordando as doze tribos (Gn 35,23-26; At 7,8; Mt 19,28; Lc 22,30).
(http://www.bsaembare.com.br/download/DicionDblico.pdf).
141
ARCEBISPO: Principal bispo de uma provncia religiosa na Igreja Catlica Romana, nas
igrejas ortodoxas do Oriente e na Igreja da Inglaterra. Uma provncia consiste em uma srie
de dioceses. (http://www.dicio.com.br/arcebispo/).
BCULO: O bculo pastoral composto ao bispo na coleo episcopal, com estas palavras:
Entrego-te este bculo como sinal da funo de pastor. Zela por todo o rebanho de Cristo, pois
o Esprito Santo te nomeou bispo para conduzires a Igreja de Deus. Ao mesmo tempo
entregue a mitra, a insgnia mais significativa da indumentria do bispo (ou abade) nas
funes solenes. O bculo dos abades deriva do bculo dos monges, hoje ainda, entregues nos
jubileus ureos de profisso religiosa como bculo da longevidade; mas j se iguala ao bculo
dos bispos em formato e significado. (URBAN e Bexten. 2013, p. 35).
BARRETE: Cobertura quadrangular para a cabea usada na igreja, juntamente com as vestes
litrgicas, pelo clero, sem mitra ou, fora da igreja, como cobertura vulgar, feito de tecido,
com forro espesso de tecido, carto ou couro, que o torna rgido e apresenta, no topo, uma
borla ou um cordo, de onde partem trs ou quatro pontas. O tecido e a cor do barrete
consoante a dignidade eclesistica: seda moir vermelha, para um cardeal (barrete
cardinalcio); l roxa, para um bispo; tecido preto, para a maioria dos presbteros (barrete de
clrigo). (Rocca e Guedes, (Eds. lit.), 2004, p. 161 ).
CAMAURO: cobertura para cabea, exclusiva do Papa, maior que o solidu, de forma a
cobrir as orelhas. de veludo vermelho, guarnecido a cetim da mesma cor, debruado com
plumas de cisne e forrado a arminho; durante a semana in albis, o camauro branco. (Rocca
e Guedes, (Eds. lit.), 2004, p. 161)
CAPA DE ASPERGE: veste superior usada por todo clero, do Papa aos cantores, mesmo
nalgumas igrejas, pelos meninos de coro, em cerimnias solenes, excepto a missa, nas
vsperas, na procisso ou na beno do Santssimo e, pelo presbtero assistente, na celebrao
de missa pontifical. Geralmente, de seda ou tecido com trama dourada ou prateada, cortada
em semicrculo e a cor varia consoante o tempo litrgico e a dignidade eclesistica de quem a
142
usa. A capa no incio apresentava um capuz que progressivamente se transformou numa pea
destacada em forma de escudete, orlada por galo e franja (capuz de capa). A abertura
orlada por uma banda de tecido diferente e delimitada por galo (sebasto)., geralmente muito
decorada (em italiano, diz-se stolone, em francs, di-se orfrois); os dois lados unem por
uma pala de tecido com colchetes ou por um broche metlico (firmal), reservado ao Papa,
cardeais e bispos. (Rocca e Guedes, (Eds. lit.), 2004, p.171 ).
CAPA MAGNA: Veste exterior que o Papa, um cardeal ou um bispo usa em circunstncias
solenes, fora das aes litrgicas (e, quanto ao bispo, s den-tro da diocese, cf. CB 64; 1200).
(Falco, D. Manuel Franco. Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em:
http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
CARDEAL: Com uma histria ligada ao clero de Roma que j vem de longe (sc. V), hoje os
Cardeais da Santa Igre-ja Romana (cf. CDC 349ss), reu-ni-dos em *conclave, elegem o Papa
e o assistem no governo da Igreja, quer reu-nidos em *consistrio quer indivi-dual-mente
fren-te dos *dicastrios romanos. O Sacro Colgio ou Colgio Cardinalcio tem-se
internacionalizado progressivamente e o nmero dos seus membros tem aumentado. Est
previsto que possam chegar a 200 os eleitores do Papa. Ao Papa pertence exclusivamente a
sua escolha. Dis-tribuem-se por trs ordens (episcopal, presbiteral e diaconal), embora, desde
Joo XXIII, todos recebam o episcopa-do. Os que de-sempenham ofcios na Cria Roma-na
so convidados a pedir a resignao aos 75 anos, e todos deixam de ter voz activa no
*conclave aos 80. V. conclave, Papa. (Falco, D. Manuel Franco. Enciclopdia Catlica
Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
CASULA: Em latim, casulla significa casa pequena ou tenda. Diz-se da veste paramental
com que o sacerdote se reveste por cima da alva e da estola, maneira de capa ou manto
amplo, aberta dos lados e com uma abertura para a cabea. A longo da histria, teve vrias
formas nobres e amplas, inspiradas no manto romano chamado paenula (*planeta). Numa
evoluo no muito feliz chegou-se a formas mais decadentes, como a casula de viola, que
todos conhecemos, e contra a qual j protestava So Carlos Borromeo. A casula a veste que
caracteriza quem preside Eucaristia (cf. IGMR 337). Um dos gestos complementares da
ordenao do presbtero a veste da casula. Os outros concelebrantes, em princpio, so
convidados tambm a revestir-se de casula, mas permite-se que, por motivos imponderveis e
razoveis, possam vestir s a alva e estola (cf. IGMR 209). (Aldazbal, Jos. Dicionrio
Elementar da Liturgia. Disponvel: http://www.liturgia.pt/dicionario/).
CNGULO: cordo de cor branca ou que acompanha a cor litrgica. Pode ser de seda, linho
ou algodo. Usado sobre a alva pelos ministros ordenados na altura dos rins. (Vieira, Pe.
Manoel Pereira (Coord. Ed.). Manual para Ministros extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa
Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001, p. 82).
CLERO: Termo grego. Clrigos so homens chamados para um servio especial na Igreja
Catlica (dicono, sacerdote ou bispo). A admisso ao estado clerical realiza-se atravs da
ordenao diaconal (sacramento da ordem). Nesse estado o clrigo est ligado Igreja pela
obedincia, representada pelo bispo diocesano, e ao celibato, com exceo do dicono
permanente (se j casado). A vocao clerical destinada ao servio. Isso se torna bem mais
evidente, considerando o ttulo que o Papa se d: servo dos servos de Deus (servo termo
latino que significa escravo. (URBAN e Bexten. 2013, p. 70).
CONCLIO: uma assembleia das altas autoridades da Igreja Catlica: cardeais e bispos em
comunho com o papa, alm de assessores, telogos e convidados, mesmo de outra confisso
religiosa. No conclio so levantadas questes de grande alcance para toda a Igreja. O
Conclio Vaticano II foi muito importante para a Liturgia atual, pois introduziu mais ampla
reforma litrgica de toda a Histria da Igreja. Os conclios tomam o nome conforme o lugar
onde se realizaram. Do latim [concilium], assembleia. (URBAN e Bexten. 2013, p. 76).
CNEGO: Clrigo membro dum *cabido. 2. Cnego penitencirio, o que, se-gundo o CDC
(508), tem o mnus de aten-der de confisso os penitentes, com a faculdade de absolver
pecados e censuras reservados ao bispo (p.ex., excomunho contrada por *aborto). Onde no
houver cabido, este mnus deve ser confiado a outro sacerdote. 3. Cnegos regrantes.
Membros de cabidos e colegiadas que, pelo sc. XI, faziam profisso religiosa, seguindo
habitualmente a regra de Santo Agostinho e or-ganizando-se em congregaes. Em Portugal
fo-rm clebres as congrega-es dos Agostinhos e dos Crzios. San-to An-t-nio, an-tes de
ser francisca-no, foi cnego regrante de Santo Agos-ti-nho, tendo professado em S. Vicente
de Fora (Lisboa) e vivido no mosteiro de Santa Cruz (Coimbra). (Falco, D. Manuel Franco.
Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
CORES LITRGICAS: A sua diferenciao iniciou-se no sc. VIII e fixou-se com a edio
do Missal de S. Pio V (1570). O significado convencional, embora baseado no simbolismo
atribudo s cores pelos europeus (pelo que se admitem cores diversas na liturgia de outros
povos). Obranco, smbolo da pureza e da alegria, usa-se no Tempo Pascal e nas festas de J.
144
C., de Maria e dos Santos no mrtires; o vermelho, smbolo do amor e do martrio, nas fes-
tas da Paixo de J. C., do Esprito Santo e dos mrtires; o verde, smbolo da esperana, nos
domingos e frias do Tempo Comum; o roxo, smbolo da dor e da penitncia, no Advento e
Quaresma, podendo tambm usar-se nas missas de defuntos em vez do negro; a cor-de-rosa,
alvio do roxo, pode usar-se no 3. Dom. do Advento e no 4. da Quaresma; e o azul pode
usar-se, em Portugal e Espanha, na festa de N. Sr. da Conceio. (Falco, D. Manuel Franco.
Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
CORPORAL: Toalha branca. O sagrado linho que se estende sobre a toalha do altar, para
depor-se a patena eo clice na celebrao eucarstica, a mbula e o ostensrio para a
exposio do Santssimo Sacramento. (VIEIRA, Pe. Manoel Pereira (Coord. Ed.). Manual
para Ministros extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa Senhora da Paz. Rio de Janeiro,
2001, p. 76).
COTA: Sobrepeliz estreita e curta, sem ultrapassar a cintura. (Rocca e Guedes, (Eds. lit.),
2004, p.173 )
CRUZ: Instrumento de condenao morte, no qual Cristo foi suspenso. Nos primrdios do
cristianismo, foi objeto de venerao, tornando-se sinal de vitria. Tambm o sinal do
cristo. Existem a cruz de procisso ou processional; a cruz do altar; a cruz peitoral usada pelo
Papa, Cardeais, Bispos e Abades. Na Sexta-feira Santa a Igreja adora a Santa cruz
solenemente exposta. Este rito que tem como objetivo a cruz, tem como finalidade adorar o
mistrio da salvao realizada pelo Senhor Jesus em sua morte na cruz. (Vieira, Pe. Manoel
Pereira (Coord. Ed.). Manual para Ministros extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa
Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001, p. 76).
CRUZ PEITORAL: insgnia do bispo, distinguindo-se a do arcebispo por ter dois braos.
(Falco, D. Manuel Franco. Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em:
http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
DALMTICA: Veste superior usada pelos diconos, sobre os restantes paramentos, durante
a celebrao da missa e mostras cerimoniais solenes, na procisso e na beno do Santssimo.
De tecido precioso, geralmente seda ou trama dourada ou prateada, forrado e seguindo as
cores do tempo litrgico, uma veste curta e interia, vestindo pela cabea ou com aberturas
ligadas por cordes com borlas nas extremidades, as mangas curtas, podem tambm ser
abertas na parte inferior. Costuma ser guarnecidas com gales e bandas de tecido diferente ou
bordado e delimitadas por galo (sebasto). Pode integrar um cabeo amovvel (...) (Rocca e
Guedes, (Eds. lit.), 2004, p.173 ).
DICONO: O termo significa "assistente", algum que serve mesa (Jo 2,5.9). Foram
chamados "diconos" os cristos escolhidos pelos apstolos para servirem aos pobres da
145
Igreja de Jerusalm (At 6,1-7). Mas estes diconos logo comearam a dedicar-se tambm
pregao do Evangelho (6,8-7,53; 8,5-13). Eles so os auxiliares dos "epscopos" (cf. At
20,28 e nota) na direo das jovens comunidades crists (Fl 1,1; 1Tm 3,8-13). (Aparecido,
Edmilson (org). Dicionrio Bblico. Disponvel em: https://books.google.com.br).
ESCAPULRIO: (Do lat. = pelos ombros). 1. Originalmente, era a veste usada pelos
monges nos trabalhos agrcolas, que defendia sobretudo a cabea e as costas. Hoje, no hbito
de antigas ordens religiosas (Beneditinos, Carmelitas, Dominicanos...), o e. reduz-se a duas
bandas de tecido que pendem sobre o peito e sobre as costas. ((Falco, D. Manuel Franco.
Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
ESTOLA: Longa tira de tecido, geralmente seda ou com trama dourada ou prateada, com
forro, e com ornado com cruz grega ao centro e duas nas extremidades, mais largas e
franjadas; mede, cerca de 2,5cm. usada volta do pescoo por toda a hierarquia eclesistica,
incluindo o diaconato, na celebrao da missa, administrao de sacramentos, exposio do
Santssimo e noutras cerimnias. Quando usada com casula, a estola do mesmo tecido,
fazendo um conjunto, no qual se pode integrar o manpulo, o manpulo e a estola, idnticos
tambm no ponto de vista formal, diferenciando-se, por essa ser mais longa do que aquele e
por, em geral, no apresentar cordo. A estola pastoral, usada sem casula, mais
ornamentada, por ser mais visvel, e distingue-se da estola por apresentar, no tero superior da
sua altura dobrada ao meio, uma presilha de tecido, um cordo ou fita com borlas nas
extremidades, a unir os dis lados; usada pelo Papa, cardeais, bispos e presbteros, fora da
missa, na pregao e na administrao dos sacramentos. (Rocca e Guedes, (Eds. lit.), 2004, p.
157).
ESTOLA DIACONAL: Estola utilizada pelo dicono. mais comprida do que a estola
comum, dado que posta transversalmente por cima do ombro e a cruzar sob o brao direito,
unindo por duas fitas ou cordes, colocados a cerca de 50cm das extremidades, para manter
nessa posio. (Rocca e Guedes, p.157).
FALDA: Veste talar , larga, comprida e com cauda de seda branca, usada pelo Papa nas
celebraes litrgicas e consistrios (Rocca e Guedes, p. 173).
FANONE: veste exclusiva do Papa. De seda com riscas brancas e douradas, constituda por
duas romeiras sobrepostas, unidas no decote, ambas de corte circular, mas sendo a de cima
mais curta e com chamfradura nas costas, orladas com galo de ouro e debruadas a arminho,
frente, apresenta uma cruz bordada a ouro. vestida entre a alva e o roquete ou a casula, mas
deixando passar a romeira de cima e cair sobre estes. (Rocca e Guedes, p. 173)
146
LITURGIA: (Do gr. = servio do povo). No antigo uso profano designava qualquer servio
em favor do povo. No sc. II a.C. (no-mea-damente na traduo dos *Setenta) aparece
tambm como servio do culto. Mais tarde, nas Igrejas Orientais passou a designar a Missa.
Na Igreja latina, s aparece no sc. XVI. O seu sentido foi se precisando com o Movimento
Litrgico. Depois de Pio XII (Enc. Mediator Dei, 1947), o Conc. Vat. II (SC 7), para a
definir, evoca trs notas essenciais: o exerccio do sacerdcio de Cristo; nela, sinais
sensveis significam e, a seu modo, realizam a santificao do homem; e assim o Corpo
Mstico de Cristo (a Cabea e os membros) exerce o culto pblico integral. O sacerdcio de
Cristo exerce-se nos dois sentidos: no de culto perfeito a Deus (sentido ascendente) e no de
santificao dos homens (sentido descendente). Neste exerccio, a presena e actuao de J. C.
so eficazmente asseguradas por sinais sacramentais. A prpria Igreja *sacramento de
Cristo, pois atravs dela que, hoje, J. C. fala aos fiis, lhes perdoa os pecados e os santifica,
associando-os intimamente sua orao e ao seu sacrif-cio de valor infinito (Mistrio
Pascal). Com razo se diz que a l. o cume para que tende toda a actividade da Igreja e
simultaneamente a fonte de onde dimana toda a sua fora (SC 10). (Falco, D. Manuel
Franco. Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em:
http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
LUVAS PONTIFICAIS: Luvas usadas pelo Papa, cardeais, bispos e abades durante uma
parte da missa pontifical. Geralmente de seda e segundo as cores do tempo litrgico, excepto
o preto, so ornadas, no dorso, com bordado ou aplicaes de pedras preciosas, vidrilhos,
placas metlicas gravadas, relevadas ou esmaltadas (placa de luvas pontificais), etc. As luvas
147
pontificais apresentam, muitas vezes, punhos largos com botes ou borlas. (Rocca e Guedes,
p.158).
MANPULO: Tira de tecido, geralmente seda ou com trama dourada ou prateada, com forro
e ornada com uma cruz grega ou outros motivos cruciformes, ao centro e nas extremidades,
mais largas e franjadas, dobra-se ao meio com um cordo ou fita a unir os dois lados, emede
dobrado cerca de 50cm. usado no brao esquerdo, exclusivamente durante a missa, pelos
clrigos e, eventualmente, freiras o monjas de clausura e meninos de cor. Faz conjunto com a
estola, de que se aproxima formalmente, mas sendo de menor dimenso, e com casula. (Rocca
e Guedes, p.158).
MANTO DE IMAGEM: Capa de tecido geralmente precioso que cobre uma imagem ou
uma escultura processional. Faz parte do enxoval de imagem de vestir. (Rocca e Guedes, p.
168).
MISSA: O termo M., derivado do lat. missio, com sentido de despedida e de envio, designa
a *celebrao do *sacramento da *Eucaristia (ou *mis--trio pascal) sobretudo na dimenso
sa-crificial. Ini-cial-mente usaram-se outros termos, como fraco do po (Act 2, 42; 20,7),
ceia do Senhor (1Cor 11, 20), aco, oblao, sacrifcio ou sacrifcio eucarstico.
(Falco, D. Manuel Franco. Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em:
http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
MITRA: Cobertura cnica para cabea usada, usada sobre o solidu, pelo Papa, cardeais,
bispos e abades, ou, mais raramente, por alguns cnegos e outros clrigos. Inicialmente, a
mitra tinha a forma de um barrete atado com correias ou fitas, sob o pescoo. Na sua forma
actual, apresenta-se dividida ao meio, com as duas pontas cnicas subidas, mantidas rgidas
atravs do forro de carto ou couro, as antigas ataduras transformaram-se em duas tiras
estreitas cadas sobre as costas (pendentes de mitra). geralmente de tecido branco, com
trama dourada ou prateada, ou noutro tecido de cores diversas. O Papa, a maioria dos cardeais
e os bispos podem usar os trs tipos de mitras. A mitra simples feita de seda feita de seda
branca adamascada. A mitra preciosa feita em tecido dourado ou, por vezes, de seda branca,
forrada a seda vermelha, bordada e com aplicaes de pedras preciosas. A mitra aurifrigiada
148
em tecido dourado ou de seda branca espolinada a ouro, forrada de seda vermelha, e sem
bordados e aplicaes, exceo de prolas. (Rocca e Guedes, p.162).
MURA: Veste coral prelatcia em forma de pequena capa posta sobre o roquete,
encarniada, para os bispos, e escarlate, para os cardeais. Tambm chamada mozeta.
Segundo o Cerimonial dos Bispos (63), deixou de ter capuz. (Falco, D. Manuel Franco.
Enciclopdia Catlica Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
OPA: Veste sem mangas, aberta frente, usada pelos membros das irmandades. (ALARCO
e PEREIRA, 2000, P. 58).
ORDENS RELIGIOSAS: Num sentido amplo, d-se impropriamente este nome a qualquer
instituto religioso. Em sentido especfico o *instituto religioso cujos mem-bros emitem
votos solenes. As O. R. masculinas costumam-se classificar em quatro grupos: Cnegos
Regrantes, Ordens Monsticas, Ordens Men-dicantes e Clrigos Regulares. As femininas,
cujos membros se cha-mam monjas, quando esto dependentes duma Ordem masculina (1.
Ordem) designam-se por 2. Ordem (p.ex., as Clarissas so a 2. Ordem Franciscana). H
ainda *Ordens Terceiras. No dependem de uma 1. Ordem, p.ex., a Ordem da Visitao e as
Salesianas. At ao sc. XVIII todos os *institutos religiosos eram Ordens. Pio VI, em 1784,
aprovou a ltima, a dos Irmos da Pe-ni-tncia, extinta em 1935. Por isso, no novo CDC
(607ss) no se faz distino entre ordens e congregaes religiosas, definindo *instituto
religioso, que a am-bas engloba, como sociedade em que os membros emitem votos pblicos
e tm vida comum. (SC 10). (Fonte: Falco, D. Manuel Franco. Enciclopdia Catlica
Popular - Disponvel em: http://www.portal.ecclesia.pt/catolicopedia).
PALA: Quadrado de linho engomado com o qual se cobre o clice. (VIEIRA, Pe. Manoel
Pereira (Coord. Ed.). Manual para Ministros extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa
Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001, p. 82).
PLIO: O plio uma insgnia que actualmente colocada, volta do pescoo, por todos os
arcebispos, nas celebraes mais solenes. uma tira de l branca, com seis cruzes negras,
imposta sobre os ombros, deixando duas faixas pendentes sobre o peito e uma sobre as costas.
No Imprio Romano, era um distintivo para aqueles que o imperador queria honrar; passou,
depois, a honrar o Papa e os bispos a quem este o concede. Hoje, impe-se aos arcebispos,
como sinal da autoridade metropolitana e smbolo de unidade e estmulo de fortaleza (CB
1154). No Oriente, h uma insgnia anloga, o omophorion, mais adornado, mas que levado
por todos os bispos. Alm disso, desde h sculos, existe o costume de, a partir de Roma,
enviar o plio aos patriarcas e metropolitas orientais catlicos. (Rocca e Guedes, p. 158).
PATENA: Pequeno prato, geralmente dourado, destinado a receber a hstia durante a Missa,
ou seus fragmentos. (VIEIRA, Pe. Manoel Pereira (Coord. Ed.). Manual para Ministros
extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001, p. 82).
ROQUETE: De origem nrdica, cujo nome pode provir do francs antigo roquet, faz agora
parte do hbito coral do bispo e de outros ministros, e tambm o vestem os sacerdotes para a
celebrao dos sacramentos, para a pregao e para as bnos. Vestem-no tambm os
aclitos. Sempre sobre a batina. de cor branca, como uma *tnica recortada, com mangas
mais ou menos amplas e longas (tambm h roquetes sem manga), que, inicialmente, chegava
at aos joelhos, e, depois, foi-se encurtando. Veste-se sem se ajustar cintura com o cngulo.
Pela frente tem uma abertura, para se poder vestir com comodidade, abertura que, depois, se
aperta com uma fita ou um cordo. (Aldazbal, Jos. Dicionrio de Liturgia. Disponvel:
http://www.liturgia.pt/dicionario/).
SEBASTO: Banda de tecido diferente ou bordado e delimitado por galo que se aplica como
ornamento de alguns paramentos (capa, casula, dalmtica). (Rocca e Guedes, (Eds. lit.), 2004,
p.175 ).
SOBREPELIZ: Veste superior, usada por todos os clrigos assistentes ao coro, bem como
chantres, sacristo e os meninos do coro, sobre a sotaina e, eventualmente sobre o roquete. De
tecido leve, linho, cnhamo ou algodo branco, uma veste solta, larga, pregueada ou em
forma ou em forma de aba redonda, mas tambm apresentar-se sem mangas, com fendas
laterais para deixar passar os braos. raramente ornamentada, a excepo do decote,
ombros, na extremidade das mangas e na orla inferior. Algumas sobrepelizes de meninos do
coro podem ser cingidas por uma faixa (faixa de sobrepeliz). Uma sobrepeliz estreita e curta,
sem ultrapassar a cintura, disse cota. Em Portugal era tradicional uma sobrepeliz talhada em
crculo sem mangas, com um orifcio central para enfiar a cabea, ajustando-se ao pescoo
por um cordo de correr, sem qualquer ornamento (sobrepeliz redonda). (Rocca e Guedes,
2004, p. 175 ).
151
SOLIDU: Pequena cobertura circular para a cabea, usada durante quase todo o ofcio
litrgico pelo conjunto do clero e, por vezes e apesar das interdies, pelos meninos do coro.
Usado a cobrir apenas a parte superior do crnio, apresenta-se em forma de calote, geralmente
dividido em seis panos, e tem no cimo uma pequena argola. O tecido e a cor do solidu varia
consoante a dignidade eclesistica: branca ou vermelha para o Papa; vermelha para um
cardeal, roxa para um bispo; preta para um presbtero; roxa ou azul para os meninos do coro.
(Rocca e Guedes, 2004, p.163 )
SOTAINA: Veste talar usada por todos os clrigos, meninos de coro e, eventualmente, por
cantores laicos e mestres de cerimnias, sob os outros paramentos litrgicos, nas diversas
funes dentro da igreja e, apenas pelos clrigos, como veste fora da igreja. abotoada
frente, de alto baixo, e ajusta-se ao corpo por uma faixa ou cordo (faixa de sotaina). O
tecido e a cor correspondem dignidade de quem a usa: vermelho ou branco, para o Papa;
vermelha para um cardeal; roxa para um bispo; preta para um clrigo de nvel inferior. (Rocca
e Guedes, p.179).
SUFRGIO: Em sentido cristo e espiritual, d-se este nome proteco que se espera da
Virgem Maria ou dos Santos. Quando dizemos que, por intercesso da Virgem, queremos
obter uma graa, em latim, diz-se suffragiis sanct Mari. Chama-se diocese
sufragnea quela que faz parte de uma arquidiocese (provncia eclesitica ou metropolia).
Mas, sobretudo, d-se o nome de sufrgio/s aos actos piedosos que se realizam em favor
dos defuntos: por exemplo, celebrar uma Missa em sufrgio de algum. A Igreja dos
viandantes, desde os primeiros tempos do Cristianismo, venerou com grande piedade a
memria dos defuntos e ofereceu sufrgios [em latim, suffragia] por eles (LG 50). A Igreja
oferece pelos defuntos o Sacrifcio Eucarstico, memorial da Pscoa de Cristo, eleva oraes e
faz sufrgios por eles, para que, pela comunho de todos os membros de Cristo, todos
aproveitem os frutos da liturgia: auxlio espiritual para os defuntos, consolao e esperana
para os que choram a morte (Ritual das Exquias 1, in EDREL 1605). (Disponvel em:
Disponvel: http://www.liturgia.pt/dicionario).
152
TNICA: Veste romana cujo o formato foi trazido dos romanos da Dalmcia. (URBAN e
Bexten. 2013, p. 264).
VU DE CLICE: um pano utilizado para cobrir o clice como sinal de proteo com o
objeto que reservado exclusivamente para consagrao do sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Deve ser feito de material nobre pela dignidade que tem o clice, pelo que ele
representa. (PEREIRA, 2007, P.84).
VITICO: Com este nome se indica o sacramento Eucarstico dado aos enfermos,
moribundos, aos que esto prximos de passar desta para oura vida segundo a palavra do
Senhor: quem come a minha carne e bebe o meu sangue, ter a vida eterna e o ressuscitarei
no ltimo dia (Jo 6, 54). (VIEIRA, Pe. Manoel Pereira (Coord. Ed.). Manual para Ministros
extraordinrios da Comunho. Ed. Nossa Senhora da Paz. Rio de Janeiro, 2001, p. 84).
153
APNDICE
154
Objeto: Alva
Altura: 58cm
Largura: 28cm
B.I: 7
Altura: 64cm
Largura: 23cm
B.I: 14
155
Altura: 60cm
Largura: 23cm
B.I: 20
Altura: 63cm
Largura:23
B.I: 28
B.I: 1
156
Altura: 59
Largura:
B.I: 2
B.I: 5
B.I: 14
Altura: 56cm
Largura:22cm
B.I: 18
158
Mangas:
Altura: 30cm
Largura:23cm
B.I: 08
Objeto: Amito
Largura:
B.I: 16 58cm
Objeto: Barrete
Objeto: Batina
Altura:
Largura:
B.I: 02
160
Altura: 61cm
Largura: 21cm
B.I: 13
Altura: 58cm
Largura:20cm
B.I: 15
Altura: 57cm
Largura: 18cm
B.I: 27
161
Altura: 60cm
Largura: 20cm
B.I: 30
06 Altura: Exposio
Largura:
Obs: Batina
Mangas: sob Roquete e
mura. No
Altura:
houve
Largura:
possibilidade
B.I: 41 de medir a
pea.
Altura: 61cm
Largura:
B.I: 11
162
Altura: 60cm
Largura: 18cm
B.I: 32
B.I:34
164
Mangas:
Altura: 61cm
Largura: 15cm
B.I:35
Objeto: Casula
Largura:
123cm
B.I: 03
B.I: 04
Largura: 63cm
B.I: 05
166
B.I: 02
B.I:0 4
B.I: 06
167
B.I: 10
B.I:18
B.I:21
168
B.I:23
B.I: 34
B.I: 35
169
B.I: 36
B.I: 38
170
Largura:60cm
B.I: 39
B.I:02
171
B.I: 03
B.I: 04
B.I:05
B.I: 07
172
B.I:09
B.I: 12
B.I:14
B.I:15
173
B.I:17
B.I:19
B.I:20
B.I:22
174
B.I:23
B.I:31
B.I: 15
175
conservao
Objeto: Cngulo
conservao
Largura:
B.I: 32
176
B.I: 15
373cm
B.I: 16
B.I:17
177
Objeto: Corporal
Pertenceu Pe.
B.I:58 Fernandes
Dantas
Largura:39cm
B.I:05
Largura:38cm
B.I: 06
178
Largura:
42cm
B.I:37
Da cruz:
Altura: 12cm
B.I: 26 Largura: 9cm
Largura:
B.I:44
179
Objeto: Dalmtica
B.I:46
Altura: 32cm
Largura: 31cm
03 Altura: 110cm Catedral Bom Exposio
Largura:86cm Baslica de
Salvador
Mangas:
Altura:38
B.I:47
Largura: 30cm
180
Mangas:
B.I:08 Altura:
Largura:
05 0002143 Altura: 92cm Regular Guarda roupas
Largura: 75cm
Mangas:
B.I: 25
Altura:
Largura:
06 02145 Altura: 100cm Regular Guarda roupas
Largura:71cm
Mangas:
B.I:26 Altura:
Largura:
07 02146 Altura: 100cm Regular Guarda roupas
Largura:71cm
Mangas:
B.I:27 Altura:
Largura:
181
Objeto: Estola
Largura: 7cm
Largura(barra):17cm
B.I:07
B.I:09
Largura: 19cm
B.I:16
182
Largura maior:20cm
B.I:21
B.I:23
183
Largura:8cm
B.I: 39
Largura menor: 5 cm
B.I:41
184
B.I: 42
B.I:43
B.I:46
Largura: 4cm
B.I:47
B.I:50
Largura menor:
10cm
B.I:53
B.I: 05
B.I:08
188
Largura: 13cm
B.I:09
Largura menor:
B.I:19
B.I: 21
(exposio)
B.I:22
189
Largura:16cm
B.I:06
Pe. Fernando
B.I:10 Alves Dantas
de Brito
rtenceu a Pe.
190
Largura maior:
Largura menor:
B.I:13
Largura maior:
Largura menor:
B.I:16
Largura maior:
Largura menor:
B.I: 18
191
Largura menor:
B.I: 21
Largura menor:
B.I:24
B.I:16
B.I: 24
193
Objeto: Faixa
Largura:
59cm
B.I:24
Largura:42
B.I:25
Largura:
40cm
B.I:26
194
Largura:
13cm
B.I:51
06 Comprimento: Cmoda
464cm
Largura:
21cm
B.I:60
195
Largura: 9cm
B.I:13
B.I:14 Largura:
14cm
196
B.I: 49
B.I:34
197
B.I:54
198
Objeto: Manpulo
Largura
maior: 18cm
Larg. menor:
B.I:11 9cm
B.I:18
200
B.I: 19
Largura
maior: 15cm
Larg. menor:
B.I:20
7cm
Pertenceu: Pe.
Fernandes
Dantas
B.I:30
201
Largura
maior: 18cm
Larg. menor:
8cm
B.I: 40
Largura
maior: 14cm
Larg. menor:
8cm
B.I:44
Largura
maior: 12cm
Larg. menor:
8cm
B.I:52
202
Largura
Maior:15cm
Larg. menor:
B.I: 8cm
Objeto: Manto
B.I:30
Objeto: Meia
Largura: 26cm
B.I:01
204
Objeto: Mitra
Largura: 32cm
nfulas:
comp.:
B.I:22 Largura:
nfulas:
comp.: 43cm
B.I:01
Largura: 5cm
205
nfulas
comp.: 32cm
B.I: 17 Largura: 7cm
nfulas
B.I:25
Comp.: 41cm
Largura: 8cm
Objeto: Mura
B.I:14
206
Largura:100c
m
B.I:01
Objeto: Pala
B.I: 31
B.I: 49
B.I: 55
B.I:57
208
Pertenceu a Pe.
B.I:54 Fernandes Dantas
Pertenceu a Pe.
Fernandes Dantas
B.I: 55
Objeto: Mura/pelerine
Largura:
B.I:40 85cm
209
Objeto: Sanguneo
Objeto: Sobrepeliz
B.I:12 Altura:60cm
Largura: 24cm
02 Altura: Exposio
Largura:
Obs: no foi
possvel
verificar as
menidas
B.I: 42
Mangas:
Altura: 56cm
Largura:25cm
B.I:01
214
Largura: 105cm
Mangas:
Altura: 57cm
B.I: 02 Largura: 27cm
Altura: 60cm
B.I:03 Largura: 27cm
Largura:
Mangas:
B.I: 04 Altura:55cm
Largura: 9cm
215
Mangas:
Altura: 60cm
B.I:05 Largura: 21cm
Mangas:
Altura:54cm
Largura: 26cm
B.I:06
Mangas:
B.I:07 Altura:57cm
Largura: 25cm
216
Mangas:
Altura: 74cm
Largura: 19cm
B.I:09
Mangas:
Altura: 31cm
Largura: 20cm
B.I:20
Mangas:
Altura:41cm
Largura:19cm
B.I: 21
217
Mangas:
Altura:43cm
Largura:20cm
B.I: 22
Mangas:
Altura: 34cm
B.I:23 Largura: 20cm
Mangas:
Altura: 35cm
Largura:
B.I:40
218
Mangas:
Altura: 39cm
Largura: 21cm
B.I:41
Mangas:
Altura: 44cm
Largura: 20cm
B.I:42
Mangas:
Altura: 52cm
B.I:43 Largura: 20cm
219
Mangas:
Altura: 43cm
Largura: 19cm
B.I:44
Mangas:
Altura:72cm
B.I:45 Largura:23cm
Mangas:
Altura: 54cm
B.I:46 Largura: 26cm
220
Mangas:
Altura: 53cm
B.I:47 Largura: 27cm
Mangas:
Altura: 58cm
Largura: 25cm
B.I:48
Mangas:
Altura: 58cm
Largura: 27cm
B.I: 49
221
Mangas:
Altura: 55cm
Largura: 26cm
B.I: 50
Mangas:
Altura: 56cm
Largura: 33cm
B.I:51
Mangas:
Altura: 44cm
B.I:52 Largura:
222
Objeto: Solidu
B.I:31
Objeto: Tnica
Mangas:
Altura: 81cm
Largura: 32cm
B.I:10
Mangas:
Altura: 80cm
Largura: 55cm
B.I:11
224
Mangas:
Altura: 72cm
Largura: 33cm
B.I:12
Mangas:
Altura: 56cm
B.I:36 Largura:27
Mangas:
Altura: 74cm
Largura: 34cm
B.I:37
225
Mangas:
Altura: 86cm
Largura: 55cm
B.I:38
Mangas:
Altura: 80cm
Largura: 34cm
B.I:39
226
Objeto: Vu de Clice
B.I: 10
B.I:13
Pertenceu a Pe.
Fernandes D.
B.I:29
227
B.I:33
B.I: 34
B.I:35
B.I:38
228
B.I:58
Pertenceu a
B.I: 32 monsenhor
Guerreiro
B.I:25
B.I:26
229
B.I:27
B.I: 28
B.I:29
230
Anexos
231
ANEXO: A
232
ANEXO: B
233
ANEXO: C
234
ANEXO: D