Quando A Função Da Fantasia Falha
Quando A Função Da Fantasia Falha
Quando A Função Da Fantasia Falha
Teresa Pavone
Wendla recorre me para esclarecer-se sobre a sexualidade e a origem dos bebs. Pede
me que o faa de forma velada: Tu pes-me o avental por cima da cabea e contas-
me, contas-me tudo, como se estivesses sozinha no teu quarto. Lacan chama a ateno
de que o vnculo que a se estabelece o da sexualidade com a linguagem. O texto
Prefcio a O despertar da Primavera de Lacan nos ensina que esses adolescentes esto
menos tomados pelo empuxo hormonal do que pelo despertar de seus sonhos.
Se a combinao nome do pai e significante flico que articula gozo e desejo fracassa na
cultura, e a clnica de nossa poca apresenta cada vez mais o desvelamento do real, pois
os vus no conseguem encobri-lo ou at mesmo o nega, ou ainda, o encobre
colocando tudo a nu, como o caso da crueza da pornografia que vela desvelando.
Observamos que a fantasia no cumpre mais a funo de enodar desejo e gozo a
fantasia no mais sonhada e sim atuada e vivenciamos um retorno do desejo ao puro
gozo, uma queda no furo sem fim. Como ento ocorre hoje o lao social entre os
jovens?
Ao que atende essa produo de novidade e nomeaes classificatrias cada vez mais
aumentando as categorias sociais, legalizadas e reconhecidas? Qual o lugar dessas
novidades em nossa teoria e prxis?
Se antes a tatuagem e o percing, por exemplo, eram em alguns casos uma maneira de se
fazer um corpo e poder enderear-se um Outro com a marca de uma singularidade,
quando essas prticas funcionavam como um enlace com o Outro, como inscrio
simblica no real do corpo. Hoje, as recorrentes escarificaes e exibies na internet
destes cortes superficiais no corpo por partes de adolescentes teriam ainda a mesma
funo? A funo de linguagem?
Os sintomas sociais ou atuaes recorrentes hoje, entre os jovens dos cortes no corpo
e da exibio de partes dele cortadas e sangrando na internet, exclui o Outro e a fantasia,
e a violncia da automutilao no se apresenta como marca que faz signo.
Como pensar o enodamento entre desejo e gozo nessa nova forma de sintoma social?
Patrcio lvarez, psicanalista de Buenos Aires, membro da EOL e da AMP, prope dois
tempos para analisarmos esse sintoma da poca:
1
Psicanalista membro da Escola Brasileira de Psicanlise e da Associao Mundial de Psicanlise.
2
STEVENS, A. Quando a adolescncia se prolonga. In Opo Lacaniana online nova srie Ano 4,
Nmero 11 junho 2013.
3
LACAN, J. Prefcio a O Despertar da Primavera. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR
Ed. , 2003. p. 559.
4
LACAN, J. Prefcio a O Despertar da Primavera. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR
Ed., 2003. p. 558.
5
MILLER, J. Em direo Adolescncia. Miller: http:minascomlacan.com.br/blog/author/Jacques-
alain-miller/
6
LACAN, J. Tese II, A agressividade em psicanlise. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. ,
1998.p.106-107.
7
LACAN, J. O seminrio, livro 5: as formaes do inconsciente. Rio de Janeiro: JZE, 1999. cap.17, p.
319-320. Lio de 26 de maro de 1958.
8
As referncias para as articulaes expostas encontram-se em um texto de Guy Trobas intitulado: Tres
respuestas del sujeto ante la angustia: inhibicin, pasaje al acto y acting out. Seminrio de 2003
ministrado na NEL-Miami.
Nota: Esse trabalho foi apresentado na XVII Jornada de Cartis da Delegao Paran da EBP- O Cartel,
O Passe e a Cidade. Ocorrida em 17 de setembro de 2016.