Livro Agentes - Economicos - Maraba-Los - Angeles-WEB PDF

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CIDADES EM TRANSIO

UMA CIDADE MDIA NA AMAZNIA ORIENTAL:


AGENTES ECONMICOS E

MARAB E LOS NGELES


A CENTRALIDADE URBANO-REGIONAL DE MARAB
NO SUDESTE PARAENSE REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL
Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior,
Mrcio Douglas Brito Amaral, Rovaine Ribeiro,
Bruno Cezar Pereira Malheiro e
Jovenildo Cardoso Rodrigues

ALGUNAS CLAVES SOBRE LAS TRANSFORMACIONES


URBANAS DE LA CIUDAD MEDIA DE LOS NGELES
MARAB E LOS NGELES
Cristin Henrquez Ruiz e Federico Arenas Vsquez

Maria Encarnao Beltro Sposito

Denise Elias

Beatriz Ribeiro Soares

CIDADES EM TRANSIO
(Orgs.)
AGENTES ECONMICOS
E REESTRUTURAO
URBANA E REGIONAL

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MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO
DENISE ELIAS
BEATRIZ RIBEIRO SOARES
(Orgs.)

AGENTES ECONMICOS
E REESTRUTURAO
URBANA E REGIONAL
MARAB E LOS NGELES

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2016 Cultura Acadmica
Cultura Acadmica
Praa da S, 108
01001-900 So Paulo SP
Tel.: (0xx11) 3242-7171
Fax: (0xx11) 3242-7172
www.culturaacademica.com.br
www.livrariaunesp.com.br
[email protected]

CIP Brasil. Catalogao na publicao


Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

A21
Agentes econmicos e reestruturao urbana e regional [recurso eletrnico]: Ma-
rab e Los ngeles / Maria Encarnao Beltro Sposito, Denise Elias, Beatriz Ribeiro
Soares (Orgs.). 1.ed. So Paulo: Cultura Acadmica, 2016.
recurso digital.
Formato: ebook
Requisitos do sistema:
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-7983-745-6 (recurso eletrnico)
1. Poltica habitacional 2. Habitao. 3. Habitao popular. 4. Planejamento
urbano. 5. Comunidade urbana. 6. Livros eletrnicos. I. Sposito, Maria Encarna-
o Beltro. II. Elias, Denise. III. Soares, Beatriz Ribeiro.
16-31326 CDD: 363.5
CDU: 351.778.532

Editora afiliada:

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SUMRIO

Apresentao Uma rede de pesquisadores, sua pesquisa e o caminho


partilhado 7
Maria Encarnao Beltro Sposito, Denise Elias e Beatriz Ribeiro Soares

Uma cidade mdia na Amaznia Oriental: a centralidade urbano-regional de


Marab no Sudeste Paraense 27
Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior, Mrcio Douglas Brito Amaral,
Rovaine Ribeiro, Bruno Cezar Pereira Malheiro e Jovenildo Cardoso
Rodrigues

Algunas claves sobre las transformaciones urbanas de la ciudad media de


Los ngeles 223
Cristin Henrquez Ruiz e Federico Arenas Vsquez

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APRESENTAO
UMA REDE DE PESQUISADORES, SUA PESQUISA
E O CAMINHO PARTILHADO
Maria Encarnao Beltro Sposito1
Denise Elias2
Beatriz Ribeiro Soares3

Este livro o quinto da Srie CIDADES EM TRANSIO, que compe a


Coleo GEOGRAFIA EM MOVIMENTO. Os quatro primeiros foram editados
e distribudos pela Editora Expresso Popular e este o primeiro pelo Selo
Cultura Acadmica, que a partir de agora propiciar a difuso das ideias da
Rede de Pesquisadores sobre Cidades Mdias (RECIME).
Com este livro, damos continuidade divulgao dos resultados da
pesquisa que vem se realizando desde 2007. Os quatro primeiros livros
versaram sobre as cidades de Passo Fundo (RS) e Mossor (RN), Tandil
(Argentina) e Uberlndia (MG), publicados em 2010; Chilln (Chile) e
Marlia (SP), publicado em 2012; e Campina Grande (PB) e Londrina
(PR), em 2013.
O que esperamos, com esta nova publicao, alimentar o dilogo com
nossos interlocutores, leitores tanto deste livro como dos quatro anteriores
e dos outros que a srie trar, para que, recebendo a opinio e a crtica,
possamos realizar a autocrtica e nos realimentar para continuarmos a de-
senvolver essa linha de investigao.

A ReCiMe

A ReCiMe constituda por pesquisadores de diversas instituies de


ensino superior, pblicas (estaduais e federais), privadas e confessionais,

1 Universidade Estadual Paulista (Unesp) Cmpus de Presidente Prudente.


2 Universidade Estadual do Cear (UECE).
3 Universidade Federal de Uberlndia (UFU).

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8 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

sobretudo brasileiras, e tambm uma chilena e uma argentina.4 Somos,


assim, um grupo grande, pois em cada um desses ncleos da rede os pes-
quisadores tm suas equipes compostas por estudantes, desde aqueles que
fazem iniciao cientfica at os que cursam mestrado e, em vrios casos,
ps-doutorado.
Temos, ento, uma grande diversidade de nveis de formao intelec-
tual, assim como tambm alguma variedade de reas, visto que h entre ns
gegrafos, arquitetos e economistas, assim como mltiplas trajetrias de es-
pecializao, ainda que a maior parte tenha interesse nos estudos urbanos.
Esses percursos diferenciados tambm se expressam em pontos de vista
terico-conceituais que no so idnticos, ainda que no sejam completa-
mente divergentes entre si, o que foi um desafio para a elaborao do pro-
jeto e da metodologia de investigao, mas ao mesmo tempo um potencial,
porque nos tem possibilitado dialogar, crescer e, sobretudo, ver determina-
do fato, dinmica ou processo a partir de perspectivas variadas, quer se con-
sidere o recorte temtico e analtico, quer se tome como base o referencial
terico adotado para a anlise.
Esse perfil da ReCiMe foi o que nos ofereceu oportunidade para realizar
uma pesquisa de maior envergadura, especialmente em decorrncia da co-
bertura espacial que a disposio das universidades propicia, mas tambm
pela amplitude de formaes e pontos de vista terico-conceituais de seus
membros.
Ainda que sem financiamento, a ReCiMe vinha realizando, h mais de
dez anos, um intercmbio de ideias, por meio de participao em bancas de
mestrado e doutorado, em mesas-redondas e em sesses de comunicaes

4 Compem a primeira formao da equipe da pesquisa coletiva: a Universidade Estadual Pau-


lista (Unesp), cmpus de Presidente Prudente; a Universidade Estadual do Cear (UECE);
as Universidades Federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Uberlndia (UFU), do Rio
de Janeiro (UFRJ), da Paraba (UFPB), de Pernambuco (UFPE) e do Cear (UFC); a Pon-
tifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (PUC/Minas); e a Universidade do Vale do
Itaja (Univali). Na Argentina, temos a Universidad Nacional del Centro de la Provincia de
Buenos Aires (Unicen) e, no Chile, a Pontificia Universidad Catlica de Chile (PUC/Chile).
Nos ltimos anos, outras instituies ingressaram na pesquisa: as Universidades Federais
do Par (UFPA), do Amazonas (UFAM), da Grande Dourados (UFGD) e da Fronteira
Sul (UFFS); o cmpus de Ituiutaba da Universidade Federal de Uberlndia; a Universidade
Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS); a Universidade Comunitria da Regio de Cha-
pec (Unochapec); a Universidade Federal de Sergipe (UFS); e a Universidade Estadual de
Maring (UEM).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 9

coordenadas em eventos cientficos, em especial da rea de Geografia. Tal


parceria concretizava-se, tambm, atravs da redao de projetos de pes-
quisa, visando participao em editais das instituies de fomento.
A troca de ideias vinha se processando e o grupo se fortalecendo, espe-
cialmente em funo de dois fatores: 1) o aumento do interesse pela produ-
o dos espaos urbanos no metropolitanos, em decorrncia inclusive de
sua maior participao no total populacional do pas, diante da queda de
ritmo de crescimento demogrfico de algumas metrpoles; 2) o aumento
do nmero de programas de ps-graduao em Geografia, muitos deles em
universidades localizadas em cidades no pertencentes a regies metropoli-
tanas, estimulando-se os estudos sobre elas.
Motivados por esse potencial e instigados compreenso das dinmi-
cas e processos que vm se desenvolvendo no mundo contemporneo, nos
quais se alteram os papis, as estruturas e as formas das cidades mdias,
entendidas como aquelas que desempenham papis de intermediao nas
redes urbanas, propusemo-nos a passar do patamar de troca de ideias para
o da realizao de uma investigao cientfica em rede.
Durante e aps a realizao do Encontro da Associao Nacional de
Ps-Graduao e Pesquisa em Geografia (Anpege), ocorrido em Fortaleza
(CE) em setembro de 2005, comeamos a realizar as reunies de trabalho,
nas quais elaboramos o projeto intitulado Cidades Mdias: agentes eco-
nmicos e reestruturao urbana e regional. O ano de 2006 foi dedicado a
conclu-lo e submet-lo s agncias de fomento que pudessem financi-lo,
tendo as atividades, de fato, se iniciado em 2007, com o desenvolvimento da
metodologia que a orientou.5
Dessa forma, em virtude do tamanho do pas, ou seja, das distncias
que separam as universidades onde trabalham os componentes dessa rede,
apesar das iniciativas de trocas de experincias e do interesse em partilhar
um caminho conjunto mais sistemtico, a ReCiMe, s a partir do final de
2006, pde se articular como tal, em torno de um nico projeto de investi-
gao cientfica, em funo do apoio recebido do Ministrio de Cincia e

5 Vrios dos atuais participantes da ReCiMe j vinham trocando ideias sobre pesquisas relati-
vas s chamadas cidades mdias, desde 1996, como destacado, e estavam se motivando para
organizar essa rede. Na apresentao do livro Cidades mdias: espaos em transio, h um
histrico breve do processo de organizao dessa rede, que poder ser lido, caso o leitor tenha
interesse em ampliar as informaes aqui oferecidas.

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10 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Tecnologia (MCT), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento


Cientfico e Tecnolgico (CNPq).6

A pesquisa coletiva

Essa iniciativa foi importante, entre outras razes, porque, ao lado da


metropolizao, principal caracterstica da urbanizao brasileira nas dca-
das de 1960 e 1970, o Brasil passou por inmeras transformaes urbanas,
a partir dos anos de 1980, quando cresceram e/ou se alteraram, tambm,
os papis das cidades mdias e locais. Tudo isso promoveu a quebra de
paradigmas, necessitando revises que dessem conta da complexidade da
realidade atual. Indubitavelmente, uma das vias de reconhecimento das
mudanas a compreenso de como se processa a produo dos espaos
urbanos no metropolitanos, aqui includas as cidades mdias. Com a ge-
neralizao do fenmeno da urbanizao da sociedade e do territrio, que o
Brasil atingiu no final do sculo XX, os estudos sobre essas cidades tm sua
relevncia reforada.
A pesquisa tem7 como objetivos principais: a) analisar as diferentes
funes desempenhadas pelas cidades mdias escolhidas para estudo; b)
avaliar as diferenas entre elas, distinguindo as que mais rapidamente se
modernizam daquelas que mantm papis regionais herdados de perodo
histrico anterior; c) consolidar os programas de ps-graduao que a reali-

6 Em primeiro lugar, pelo Edital MCT/CNPq 07/2006 (Casadinho). Sposito; Elias, Cida-
des mdias brasileiras. Projeto de pesquisa coordenado por Denise Elias (UECE) e Maria
Encarnao Sposito (Unesp/PP) at fevereiro de 2009. Um segundo apoio veio com o
Edital MCT/CNPq/CT-Infra/CT Petro/Ao Transversal IV n. 16/2008 (Casadinho),
coordenado por Doralice Styro Maia (UFPB) e Maria Encarnao Sposito at meados de
2011. Um terceiro apoio, ainda vigente, foi ganho com a proposta apresentada ao MCTI/
CNPq/MEC/Capes Ao Transversal n. 06/2011 (Casadinho/Procad), para o perodo
de dezembro de 2011 a dezembro de 2015, coordenado por Maria Jos Martinelli Silva
Calixto (UFGD), William Ribeiro da Silva (UFRJ) e Maria Encarnao Sposito (Unesp/
PP). Houve ainda financiamentos associados Capes (programa Procad e programa Pr-
-Integrao) e propiciados por inmeras agncias estaduais (FAPs) que tm contribudo
para a consolidao dessa rede de pesquisa.
7 Embora esta seja a quinta publicao com os resultados da pesquisa, ela tem continuidade,
em funo de sua amplitude e das questes levantadas na etapa j realizada, razo pela qual
adotamos, em vrias passagens dessa apresentao, os verbos no presente.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 11

zam, aos quais pertencem os pesquisadores dessa rede; d) contribuir para o


adensamento da reflexo terica sobre a noo de cidade mdia e ampliar os
conhecimentos sobre assentamentos urbanos assim denominados, em dife-
rentes regies brasileiras, e, por conseguinte, ter uma melhor compreenso
do Brasil a partir de algumas de suas partes, oferecendo-se ainda elementos
para compar-lo a outros pases do Cone Sul Argentina e Chile.
De maneira geral, a pesquisa busca: conhecer as dinmicas de estrutura-
o urbana e regional das cidades e, ao mesmo tempo, compar-las entre si;
avaliar os nveis de determinaes decorrentes da atuao de novos agentes
econmicos; elaborar o pensamento com base no apenas em recortes ter-
ritoriais (escala cartogrfica), mas tambm a partir das articulaes entre
diferentes dimenses e nveis de organizao espaciais (escala geogrfica),
verificando os fluxos que articulam as cidades mdias aos espaos regio-
nais, nacionais e supranacionais. O recorte temporal considerado abarca a
dcada de 1980 at o presente.

Temas, eixos e variveis

A fim de que o leitor tenha alguns elementos para avaliar o que se apre-
senta nesta publicao e nas que lhe sucedero, parece-nos importante
oferecer os elementos essenciais da estrutura do projeto. Como funda-
mentos de mtodo, imps-se a escolha de temas norteadores: 1) a difuso
do agronegcio; 2) a descentralizao espacial da produo industrial; 3) a
difuso do comrcio e dos servios especializados; 4) o aprofundamento das
desigualdades socioespaciais.
A eleio do primeiro tema, ligado difuso do agronegcio, como pode
depreender o leitor, indica a necessidade de se desenvolver um olhar acura-
do para as novas relaes entre o urbano e o rural, indicando que os estudos
dessa rede no se restringem s cidades, porque exigem que observemos
suas articulaes com o campo. No que tange ao segundo tema, a realizao
da pesquisa mostrou que as dinmicas de concentrao econmica e de
centralizao do comando e da deciso, observadas no setor industrial, no
oferecem elementos para se reconhecer efetiva descentralizao espacial.
Com a seleo do terceiro, procuramos analisar a tendncia de expanso
geogrfica dos grandes e mdios capitais do setor comercial e de servios.

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12 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

O quarto e ltimo tema foi escolhido para tratar de dinmicas que no so


exclusivas s cidades mdias, mas que tm sido nelas observadas, segundo
particularidades e ritmos que lhes so peculiares.
Com os trs primeiros temas, pretendamos cobrir o conjunto das ati-
vidades econmicas, tendo como objetivo selecionar, em relao a eles, os
ramos de atividades e as dinmicas que nos pareciam mais significativas
para compreender as alteraes profundas, ensejadas pelos ajustes observa-
dos no modo capitalista de produo, desde o ltimo quartel do sculo XX.
Alm disso, ao priorizarmos para anlise essas dinmicas, valorizamos
suas dimenses espaciais e buscamos apreender as relaes entre elas, pois
a difuso do agronegcio, por exemplo, no pode ser compreendida estrita-
mente no mbito do setor primrio da economia. Tampouco a desconcen-
trao da atividade industrial resulta apenas de interesses e determinaes
restritas ao setor secundrio da economia, haja vista a ampliao dos pro-
cessos de transformao industrial da produo agrcola, bem como dos
interesses financeiros e dos entrecruzamentos, por meio da formao dos
grandes grupos econmicos, com as atividades de comercializao dessa
produo. No que toca ao terceiro tema, o foco nas atividades econmicas
associadas ao setor tercirio da economia, tambm no significa interesse
ou possibilidade de estudar todas elas, mas sim de selecionar aquelas que
nos pareceram as mais importantes para compreender as dinmicas atuais,
quando seus rebatimentos sobre as cidades mdias so mais significativos.
Esses trs temas indicam, de modo muito claro, que nossa escolha recaiu
sobre a valorizao da dimenso econmica, o que no significa o tratamen-
to dela sem a considerao de outras dimenses, como a poltica, a social, a
cultural, quando isso se fez imperioso.
As mudanas econmicas que propiciam maior articulao, ainda que
com vetores e intensidades diferentes, entre cidades mdias e os circuitos
econmicos mais capitalizados, das escalas nacional e internacional, ge-
raram por sua vez alteraes significativas nas formas de estruturao dos
espaos urbanos, em um processo de mo dupla, pois as novas demandas
econmicas exigem alteraes nas formas e contedos do espao e as novas
morfologias favorecem a atuao dos grandes capitais. A eleio do quarto
tema pareceu-nos, assim, imprescindvel para tratar da dimenso social,
ainda que reconhecendo as determinaes econmicas da reestruturao
dos espaos urbanos estudados. Por essa razo, demos nfase dinmica de

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 13

aprofundamento das desigualdades, reconhecendo a ntima relao entre o


social e o espacial, quando se trata das cidades.
Eleitos os temas, passamos tarefa de desenvolvimento da metodologia
e, para tal, planejamos as atividades de levantamento, organizao e sis-
tematizao das informaes e dos dados, segundo quatro eixos, cada um
deles composto por diversas variveis: 1) ramos de atividades econmicas
representativas da atuao dos novos agentes econmicos; 2) equipamentos
e infraestruturas; 3) dinmica populacional e mercado de trabalho; 4) con-
dies da moradia.
No eixo 1, buscamos reunir variveis que interessassem aos quatro
temas, oferecendo elementos para reconhecer quais seriam as empresas e/
ou grupos econmicos que j atuavam ou, mais recentemente, passaram a
atuar nas cidades mdias em estudo, alterando, mais ou menos, seus papis e
intensificando suas articulaes interurbanas. O segundo eixo estruturador
buscou revelar um esforo de obter dados que oferecessem um quadro de
contextualizao aos quatro temas escolhidos. As informaes relativas ao
terceiro eixo foram obtidas para se organizar as variveis relativas s bases
materiais existentes nas cidades estudadas, capazes de apoiar ou denotar o
desenvolvimento de mudanas em seus papis econmicos. Tais variveis
tambm oferecem elementos para tratar do quarto tema da pesquisa. Em
relao a ele, o eixo condies de moradia orientou-nos, no que concerne
ao conjunto de variveis selecionadas, a apreender como a atuao dos
agentes responsveis pelas dinmicas expressas nos temas 1, 2 e 3 revela-se,
ou no, por meio do aprofundamento das desigualdades socioespaciais. A
moradia foi escolhida tanto para propiciar a apreenso da dimenso social
dos processos, como j destacado, como pelo fato de que esse uso de solo,
o residencial, que ocupa a maior parte da cidade, revelando-se atualmente
em uma diviso social do espao cada vez mais complexa.8
Esses eixos e suas variveis compem o escopo da metodologia, que se
constituiu em um ponto fundamental para a conduo dos investigadores
da rede. Como vnhamos de trajetrias de formao diferentes e muitos de
ns adotvamos perspectivas tericas e conceituais diversas, tinha de haver
algo que nos articulasse, de modo a que no desenvolvssemos vrias pes-

8 Foram selecionadas cerca de 35 variveis para ser analisadas em cada cidade. Um maior deta-
lhamento sobre os temas, eixos e variveis da pesquisa poder ser visto em Sposito et al. (2007).

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14 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

quisas, mas sim uma nica que obedecesse a um importante princpio da


Geografia, bem como de outros campos cientficos: o da comparao.
Esse ponto de partida pareceu-nos fundamental, porque se, de um lado,
pretendemos denotar o que particular s cidades mdias, no contexto
atual da urbanizao, totalidade que expressa o universal desse processo,
de outro, temos interesse em revelar suas singularidades, escapando a qual-
quer nvel de generalizao que a expresso cidades mdias pode sugerir
e o enseja.
Esforando-se para ter clareza sobre as distines e articulaes entre
temas, eixos, variveis e princpio orientador da investigao cientfica, a
ReCiMe pautou-se em dois nveis que so a base de nossa articulao em
rede: o interesse na compreenso das peculiaridades das cidades mdias e a
metodologia elaborada para essa pesquisa.
Temas, eixos e variveis foram pensados a partir de um conjunto de
questes norteadoras que revelavam, no momento da elaborao do projeto,
um rol de observaes que nos sensibilizavam. Foram elencados tomando-
-se como base, sobretudo, a realidade do Centro-Sul do Brasil, onde estava
a maior parte dos que nucleavam a rede. medida que pesquisadores do
Nordeste e da Amaznia, bem como aqueles da Argentina e do Chile foram
se incorporando rede e colocando em consecuo o trabalho, vimos que
a presena ou ausncia das variveis nas cidades estudadas, e no apenas a
presena maior ou menor delas, tende a ser um elemento importante para
apreender as diferenas de formao socioespacial e de nveis de articula-
o das regies que as cidades mdias representam economia nacional e
internacional.
Essa constatao j indica que ajustes, supresses e ampliaes no te-
mrio e na metodologia tm sido necessrios, tanto para dar continuidade
s atividades da rede quanto para ser observado se outros pesquisadores
tiverem interesse em adotar a mesma perspectiva analtica e procedimentos
metodolgicos semelhantes.

As cidades estudadas

Outro aspecto que merece destaque na apresentao deste quinto livro


de nossa srie a escolha das cidades estudadas. Ela no decorreu de qual-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 15

quer metodologia que possa assegurar que temos um grupo suficientemen-


te diverso e, portanto, representativo do conjunto das cidades mdias; e
esse um limite com o qual nos deparamos. A escolha foi feita a partir das
possibilidades do grupo dos pesquisadores que aceitou o desafio da tarefa,
o qual veio se ampliando em etapas mais recentes.
As razes da escolha das cidades so bem prticas, como: tempo de
deslocamento at elas, recursos disponveis para a consecuo das ati-
vidades de campo, interesses pretritos dos investigadores sobre algumas
delas, no que se refere a pesquisas anteriores realizadas, nmero de alunos
de iniciao cientfica, mestrado e doutorado que vm se articulando ao
projeto, entre outras tantas.
A despeito desses condicionantes ampliao da anlise, mas tambm
valorizando o que se vem realizando e considerando-o como um patamar
inicial a partir do qual olhamos para as cidades mdias com base no tema
proposto, temos um conjunto significativo de cidades em estudo, ainda que
no muito amplo.
Em um primeiro momento, tivemos como objeto de estudo um conjunto
de onze cidades mdias, sendo oito representativas da realidade brasileira,
duas do Chile e uma da Argentina, respectivamente Mossor (RN), Cam-
pina Grande (PB), Uberlndia (MG), So Jos do Rio Preto (SP), Marlia
(SP), Londrina (PR), Itaja (SC), Passo Fundo (RS), as cidades chilenas
de Chilln e Los ngeles e Tandil, na Argentina. Posteriormente, em um
segundo momento, foram se integrando rede novos pesquisadores, o que
est nos possibilitando a ampliao do nmero de cidades analisadas, uma
vez que passaram a ser estudadas as cidades de Marab (PA), Parintins
(AM), Tefilo Otoni (MG), Resende (RJ), Dourados (MT), Chapec
(SC), Ituiutaba (MG) e, mais recentemente, Bauru (SP).
Distribuda por diferentes regies, a pesquisa tem como estratgia me-
todolgica a realizao de estudos especficos sobre esse conjunto de cida-
des, buscando reconhecer a importncia de cada uma delas em sua regio de
influncia e, principalmente, as transformaes ocorridas em seus espaos
urbanos. Alm disso, cada um dos membros da rede definiu um recorte
temtico abarcando estudos transversais, buscando reconhecer as simila-
ridades e diferenas entre as cidades estudadas. Esse conjunto de recortes
temticos aponta para uma anlise interescalar atravs de seu rebatimento

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16 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

espacial, indicando a possibilidade de compreenso de processos nas di-


menses interurbanas e urbanas, abrangendo assim a regio e a cidade.9

As rotinas

Para realizar esse trabalho em rede com pesquisadores residentes em


diferentes pontos do Brasil, da Argentina e do Chile, alguns procedimentos
foram adotados sucessiva e simultaneamente, e destacaremos os principais.
O mais usual deles se refere comunicao pela internet, por meio de
um endereo comum, o que favoreceu, desde a fase de elaborao do proje-
to, a comunicao entre ns.
Para a comunicao de decises, orientaes, bem como para a troca
de ideias, a coordenao10 vem redigindo alguns documentos, os quais
chamamos cartas, que so, em geral, mais longas e detalhadas do que
as mensagens, com instrues e informaes que so remetidas a todos
os coordenadores de equipes. Para tanto, so realizadas reunies entre
coordenadores da pesquisa, visando : discusso dos encaminhamentos; re-
dao das cartas, contendo as orientaes gerais sobre os procedimentos
para a realizao das diferentes etapas; atualizao do cronograma; agenda
e organizao dos workshops; sugestes de leituras; organizao de propos-
tas de mesas-redondas encaminhadas s coordenaes de alguns eventos
cientficos; destaques a editais abertos para possvel participao; discusso
sobre as mais adequadas formas de publicao etc.
Um terceiro procedimento foi o de realizao de workshops, efetivas
reunies de trabalho em que os membros da rede trocam ideias, montam
a metodologia, discutem prioridades, conversam sobre estratgias poss-

9 No que tange aos estudos sobre os recortes temticos, essa parte ainda est em desenvol-
vimento e ser motivo de outras publicaes da presente srie denominada Cidades em
transio.
10 Considerando que o financiamento da pesquisa tem sido possvel, em especial, com edital
do CNPq que prev associao entre cursos de ps-graduao, a pesquisa tem coordenao
geral de Maria Encarnao Sposito, da Unesp/PP, tambm coordenadora da ReCiMe, e
de mais um pesquisador que encabea a proposta enviada a essa agncia. Dessa forma, de
novembro de 2006 a fevereiro de 2009, a pesquisa teve a coordenao compartilhada com
Denise Elias, da Universidade Estadual do Cear (UECE); de 2009 a 2010, com Doralice
Satyro Maia, da UFPB, e de final de 2011 ao presente momento, com Maria Jos Martinelli
da Silva Calixto, da UFGD, e William Ribeiro da Silva (UFRJ).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 17

veis para financiar nossos encontros e a pesquisa, apresentando resultados


parciais da investigao cientfica em consecuo. Visando ao incremento
do intercmbio de ideias e troca de experincias, a realizao de workshops
com a presena de todos os pesquisadores foi considerada um procedimen-
to imprescindvel para o bom desenvolvimento dessa experincia.
Foram realizados, at o final de 2012, dez workshops: em Presidente
Prudente, em novembro de 2006, em julho de 2007,11 julho de 200812 e
agosto de 2012;13 em Uberlndia, em abril de 2008;14 em Santiago, em ou-
tubro de 2008;15 em Tandil, em abril de 2009;16 no Rio de Janeiro, em abril
de 2010;17 em Marab, em novembro de 2010;18 em Joo Pessoa, em junho de
2011;19 em Presidente Prudente, em agosto de 2012;20 em Dourados, em
agosto de 2013;21 em Presidente Prudente, em fevereiro de 2015.22
Os dois primeiros workshops visaram, especialmente, discusso meto-
dolgica, a ajustes de cronograma, ao oferecimento das orientaes gerais
para realizao dos trabalhos de campo. Por sua vez, o workshop ocorrido

11 Esses dois primeiros workshops foram organizados por Maria Encarnao Sposito (Unesp/
PP).
12 Esse workshop foi organizado por Renato Pequeno (Universidade Federal do Cear), com
contribuio de Maria Encarnao Sposito (Universidade Estadual Paulista).
13 O X Workshop da ReCiMe foi realizado a partir da organizao de Maria Encarnao Beltro
Sposito e equipe da Universidade Estadual Paulista.
14 O workshop de Uberlndia foi organizado por Beatriz Ribeiro Soares, Vitor Ribeiro Filho e
Jlio Ramires e respectiva equipe da Universidade Federal de Uberlndia.
15 O workshop de Santiago foi organizado pelos professores Federico Arenas Vasquez e Cristian
Henriquez Ruiz e respectiva equipe da Pontifcia Universidade Catlica de Chile.
16 O workshop de Tandil foi organizado por Diana Lan e respectiva equipe da Universidad
Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires.
17 Esse workshop foi organizado por William Ribeiro da Silva e equipe da Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
18 Em Marab, os trabalhos foram preparados e coordenados por Saint-Clair Cordeiro da Trin-
dade Junior e equipe da Universidade Federal do Par.
19 O IX Workshop da ReCiMe foi realizado a partir da organizao de Doralice Styro Maia e
equipe da Universidade Federal da Paraba.
20 O X Workshop da ReCiMe foi realizado com organizao de Maria Encarnao Beltro Spo-
sito e equipe da Universidade Estadual Paulista. Nessa ocasio, foi inaugurado o prdio sede
da ReCiMe, construdo com recursos da Finep e da Unesp.
21 O XI Workshop da ReCiMe foi realizado com organizao de Maria Jos Martinelli da Silva
Calixo e equipe das Universidades Federal da Grande Dourados e Estadual do Mato Grosso
do Sul.
22 O XII Workshop da ReCiMe foi realizado com organizao de Maria Encarnao Beltro
Sposito e equipe da Universidade Estadual Paulista.

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18 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

em julho de 2008, em Presidente Prudente (SP), teve um carter totalmente


diferente dos demais, pois tinha como objetivo principal a realizao da
oficina de treinamento para montagem e operacionalizao da Plataforma
de Gerenciamento de Informaes (Banco de dados e Servidor de mapas).
O workshop ocorrido em Uberlndia teve como objetivos principais: o
balano do levantamento das variveis em estudo; ajustes do cronograma;
discusso do contedo mnimo para redao dos textos sobre as cidades
estudadas; discusso geral dos resultados; ajustes metodolgicos; organi-
zao do quarto workshop da rede que se realizaria em Santiago (Chile). No
workshop realizado nessa cidade, priorizou-se a discusso dos relatrios
produzidos pelos pesquisadores coordenadores de cidades, cujos textos
foram disponibilizados com antecedncia na internet, na Plataforma de
Gerenciamento da Informao (PGI), alm da realizao de trabalho de
campo nas cidades de Chilln e Los ngeles. No workshop de Tandil j
iniciamos a discusso dos textos que comeam agora a ser publicados. Nos
workshops subsequentes, mesclaram-se atividades associadas apresenta-
o e avaliao dos relatrios das pesquisas sobre as cidades que se integra-
ram pesquisa na segunda etapa e o debate dos textos relativos aos recortes
temticos. Para esse debate, contamos com a valiosa contribuio de deba-
tedores externos rede, aos quais registramos nossos agradecimentos e o
interesse de continuar dialogando sobre nossa produo: Ester Limonad,
Gisela Aquino Pires do Rio, Jan Bitoun e Mara Laura Silveira. No ltimo
workshop, realizado em fevereiro de 2015, efetivou-se uma autoavaliao
dos percursos da rede, buscando estratgias para reorganiz-la e definir
pontos principais para um plano de trabalho para o futuro.
Para registrar o desenvolvimento da metodologia e unificar os proce-
dimentos, houve uma quarta iniciativa. Foram elaborados dois manuais
de pesquisa, em que eixos e variveis foram detalhados, fontes de dados
foram indicadas, condutas frente a instituies e empresas foram apon-
tadas, parmetros para considerar cada varivel foram definidos. No que
tange a esses manuais, destacamos que, tendo em vista o grande volume
das informaes coletadas para cada cidade, a redao dos mesmos, embora
no prevista inicialmente, mostrou-se fundamental, visando a tornar, na
medida do possvel, homogneos os procedimentos e os instrumentos de
consecuo da investigao cientfica sobre todas as cidades estudadas.
Dessa forma, foram redigidos logo no primeiro ano da pesquisa coletiva.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 19

A redao deles teve como objetivo reunir uma srie de informaes,


orientaes e sugestes para facilitar e uniformizar procedimentos relativos
consecuo da pesquisa, para no haver disparidades grandes na condu-
o dela, o que inviabilizaria a comparao entre as cidades estudadas. Por
outro lado, os mesmos deveriam refletir as especificidades regionais e de
cada cidade, de modo a possibilitar a apreenso de particularidades e singu-
laridades. Constituiu-se, dessa forma, um roteiro inicial possvel, o qual foi
sendo aperfeioado com a realizao da prpria pesquisa.
Mostrou-se importante, tambm, a proposio de procedimentos co-
muns para o conjunto de pesquisadores, tendo em vista a oportunidade
de realizar estudos comparativos e interligados, atendendo aos objetivos
estabelecidos. Mais ainda, indicaes especficas associadas aos recortes
temticos de cada um dos pesquisadores foram formuladas, apontando ou-
tros aspectos, tais como: as possveis bases de dados; as instituies a serem
visitadas; os locais a serem observados; os atores a serem entrevistados; as
orientaes, os procedimentos e as planilhas para o tratamento e armazena-
mento das informaes e os produtos finais dessa investigao cientfica.
No que tange ao tratamento das informaes, nesses dois manuais des-
tacam-se orientaes para a circulao delas entre os membros do grupo,
elaborao de quadros e tabelas, organizao de hemeroteca digital e com-
posio de banco de imagens digitalizadas. Os manuais tambm contm
orientaes para a redao de relatrios parciais, procedimentos para pu-
blicaes e citaes, parmetros para elaborao dos textos para os livros
sobre as cidades, entre outros procedimentos, visando uniformizao
dos dados, informaes e depoimentos a serem coletados e registrados.
Assim sendo, foi construdo instrumental para os membros da ReCiMe,
tanto para a realizao das atividades de campo como para a coleta de dados
primrios e secundrios, e sempre que possvel para sua representao
cartogrfica.
Um quinto procedimento adotado foi o relativo montagem de uma
Plataforma de Gerenciamento da Informao (PGI), qual se associam um
Servidor de Dados e um Servidor de Mapas. Essa montagem foi idealizada
e coordenada por um dos pesquisadores da ReCiMe, Renato Pequeno,
da Universidade Federal do Cear (UFC). Esse ambiente amplamente
interativo tem nos servido tanto para comunicao como para abrigo e sis-
tematizao de todo o material levantado, permitindo que as informaes

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20 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

coletadas possam ser compartilhadas on-line entre os que integram a rede.23


Atualmente, a coordenao da PGI est a cargo de Vitor Koiti Miyazaki
(UFU), com apoio de Cleverson Alexsander Reolon (UEM).
Considerando a diviso do trabalho entre os participantes da rede,
adotamos a composio de grupos que se voltavam ao estudo das cidades
selecionadas, ou seja, cada cidade tem um coordenador e, de maneira geral,
uma equipe composta, muitas vezes, por outros pesquisadores, assim como
por alunos de diferentes nveis, da graduao ps-graduao. Esta res-
ponsvel pelos trabalhos de campo na respectiva cidade, pelo levantamento
dos dados e variveis para todos os recortes temticos escolhidos pelos
membros da rede; pela redao dos relatrios sobre a cidade, assim como
pela redao dos captulos para compor a parte do livro relativa cidade,
entre outros. Ao mesmo tempo, esse pesquisador coordenador de cada
equipe responsvel, tambm, pela anlise de seu recorte temtico espec-
fico, voltado compreenso de dada dimenso da realidade, comparando
todas as cidades em estudo.
Dessa forma, tendo em vista as estratgias adotadas, o que articulou o
grupo de pesquisadores entre si foi a adoo de uma metodologia nica,
de modo a tornar os resultados obtidos comparveis entre si. O enfoque
analtico, sobretudo no que se refere aos recortes temticos, por outro lado,
revela autonomia dos investigadores, expressando trajetrias individuais
que no so coincidentes, do ponto de vista terico-conceitual, ainda que
no sejam divergentes, como j foi ressaltado.

Estrutura dos livros da srie CIDADES EM TRANSIO

No incio desse trajeto coletivo desenvolvido desde 2007, pensamos


que organizaramos uma coletnea composta por captulos, cada qual com
os resultados referentes a uma cidade. Mas, com seu desenvolvimento,
percebemos que tnhamos material para alguns livros, da a ideia da srie
CIDADES EM TRANSIO.

23 Seu endereo <http://www.recime.org> e o leitor s pode acessar sua pgina de rosto e


o link relativo bibliografia, no qual se inserem notcias e resenhas bibliogrficas, visto que o
objetivo da PGI no o de divulgao de resultados, mas sim o de constituir o ambiente de
trabalho da ReCiMe.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 21

Visando aos objetivos da pesquisa, as partes deste volume, assim como


dos demais livros da srie, foram planejadas buscando seguir um mesmo
plano de redao, de modo a garantir relativo grau de comparabilidade
entre as cidades.
Cada parte tem seu prprio ttulo, escolhido por seus autores, buscando
sintetizar a anlise feita. composto por uma introduo e, de maneira
geral, por mais quatro, cinco ou seis captulos. Grosso modo, variando con-
forme a realidade encontrada em cada cidade, o contedo dos captulos
organiza-se como se expe a seguir. O primeiro captulo dedicado an-
lise da cidade a partir da bibliografia existente, buscando-se apresentar a
evoluo histrica dela e as perspectivas analticas que se abrem a partir de
sua conformao socioespacial. Nos trs ou quatro captulos subsequentes,
os autores tratam da anlise da cidade, nos dias atuais, a partir dos quatro
temas estabelecidos como os pilares da pesquisa. Por ltimo, h um captu-
lo final, no qual os autores realizam a sntese, destacando o que singulariza
essa cidade.
Detalhando um pouco mais o contedo, temos: o Captulo 1, em que se
apresentam as cidades com tratamento, principalmente, na reviso biblio-
grfica, buscando contextualizar sua origem, sua evoluo, sua insero
pretrita na rede urbana brasileira e/ou na diviso regional do trabalho,
assim como a expanso urbana dela. Eles so, em sua quase totalidade,
baseados em fontes secundrias, em estudos j realizados sobre a cidade e/
ou municpio, compondo uma espcie de reviso bibliogrfica que apresen-
te ao leitor uma ideia inicial de quais foram os grandes eixos estruturantes
historicamente importantes da cidade.
Considerando o espao articulado ao tempo, sempre que possvel, bus-
cou-se realizar uma periodizao, mesmo que sucinta, da evoluo da ci-
dade, deixando claro para o leitor as mudanas mais significativas vividas,
ou seja, objetivou-se sintetizar, para cada um dos momentos reconhecidos
como principais da histria das cidades, as mais importantes caracters-
ticas socioeconmicas e seus respectivos rebatimentos espaciais. Nesses
captulos, h a incluso de um mapa relativo situao geogrfica de cada
cidade.
Os captulos seguintes so compostos pela anlise das cidades na atua-
lidade, a partir dos quatro temas estabelecidos para conduzir a pesquisa:
1) difuso do agronegcio; 2) descentralizao da produo industrial;

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22 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

3) difuso do comrcio e dos servios especializados; 4) aprofundamento


das desigualdades socioespaciais. Esses captulos buscam oferecer o mxi-
mo de elementos para comparar as cidades entre si. Esto entre as parcelas
mais importantes das partes dos livros, ou seja, seu mago, uma vez que
buscam refletir o presente e, dessa forma, a produo do conhecimento
novo, feita pelos partcipes da rede, atravs da anlise das atuais dinmicas
de estruturao urbana das cidades estudadas, visando a permitir a compa-
rao delas entre si, assim como avaliar os diferentes nveis de determina-
es decorrentes da atuao de novos agentes econmicos. Tais captulos
foram elaborados tendo como base no apenas o recorte territorial, mas
tambm as articulaes entre as diferentes escalas geogrficas, verificando
os nexos que articulam as cidades escolhidas aos espaos regionais, nacio-
nais e supranacionais.
A proposio de quatro captulos, cada um dedicado a um dos temas em
destaque, foi uma primeira indicao. Mas as equipes poderiam organizar
a anlise sobre os quatro temas de outro modo, em dois ou trs captulos,
articulando-os entre si, dando maior ou menor destaque aos que forem
mais ou menos importantes para as respectivas cidades.
Para esses captulos, foram privilegiados os aspectos que refletem mais
fortemente as mudanas, atentando-se para os objetivos propostos na pes-
quisa e para seu tema central. Dessa forma, buscamos destacar os processos
e situaes sociais que incorporam os novos aspectos do perodo atual,
assim como aqueles que se mostrem mais associados difuso e generaliza-
o das inovaes.
Destacamos que, apesar da importncia do intercmbio entre as dife-
rentes escalas geogrficas para a anlise e sntese do texto produzido, esses
captulos buscaram refletir a compreenso de cada uma das diferentes cida-
des entendendo-as como distintos espaos, lembrando que no local que as
escalas internacionais, nacionais e regionais se do empiricamente e que os
processos gerais se revelam em toda a sua complexidade. Dessa forma, alm
dos dados de fonte secundria disposio, os textos que compem a srie
CIDADES EM TRANSIO buscam refletir fortemente a realidade encontrada
durante os trabalhos de campo.
Cada especificidade, tendncia, conhecimento novo dos processos
emergentes adquiridos empiricamente, captados durante a anlise de nosso
objeto de estudo, busca contribuir para que possamos ultrapassar o dis-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 23

curso sobre as novas tendncias da urbanizao brasileira e, efetivamente,


contribuir para o aperfeioamento dos instrumentos de anlise, fazendo
avanar a construo terica mais consistente sobre a complexidade do
territrio brasileiro.
No captulo final, cada autor ou grupo de autores realizou sua sntese
da cidade estudada, destacando o que a singulariza, apresentando suas
principais especificidades, explicitadas a partir das interaes entre os mais
diferentes pares dialticos, como o estado e o mercado, o novo e o velho, o
interno e o externo, o local e o global, o moderno e o tradicional etc. e, em
especial, o resultado da interao de todos eles. Sempre que possvel, os
autores buscaram oferecer elementos para se apreender quais so ou no
so os efetivos papis da cidade estudada na intermediao da rede urbana,
polarizao regional, complexificao funcional, articulao escalar, entre
outros temas. Tal sntese levou em conta o recorte temporal considerado,
assim como as principais tendncias que esto se mostrando, visando a
possibilitar uma viso prospectiva.

Estrutura deste livro

Este livro composto de duas partes. Cada uma delas se refere a uma ci-
dade estudada pela ReCiMe. A primeira dedicada a Marab, no estado do
Par, Brasil, de autoria de Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior, Mrcio
Douglas Brito Amaral, Rovaine Ribeiro, Bruno Cezar Pereira Malheiro e
Jovenildo Cardoso Rodrigues, que compem a equipe da ReCiMe nuclea-
da na Universidade Federal do Par. A segunda Los ngeles, na Regin
del Biobo, no Chile, de autoria de Cristin Henrquez Ruiz e Federico
Arenas Vsquez, da equipe da ReCiMe nucleada na Pontificia Universidad
Catlica de Chile.
As relaes entre o urbano e o regional so a linha condutora da primei-
ra parte do livro, intitulada Uma cidade mdia na Amaznia Oriental: a
centralidade urbano-regional de Marab no Sudeste Paraense.
A noo de cidade dos notveis, cunhada por Milton Santos, adota-
da para tratar dos perodos econmicos e polticos que dirigiram a confor-
mao da centralidade da cidade, na escola interurbana, desde a produo
extrativa da borracha, passando pela da castanha e da colonizao oficial

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24 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

at chegar aos dias atuais, em que os grandes empreendimentos de carter


corporativo tm papel preponderante.
A relao cidade-campo entra em cena no Captulo 2 e, tambm neste
caso, as dimenses econmica e poltica so valorizadas para tratar tanto da
ao das siderrgicas, produtores de carvo e eucalipto, como para abordar
a difuso do agronegcio e das formas alternativas de produo prim-
ria, que os autores qualificam como agrossubsistncias. No sem razo,
emerge ao final dessa seo a anlise dos conflitos e confrontos que ali se
estabelecem, revelando mltiplas territorialidades que se justapem e se
sobrepem.
As mltiplas relaes entre o regional e o global so tratadas no Captulo
3, novamente com apoio de Milton Santos, por meio de seu par dialtico
verticalidades e horizontalidades, que se mostra uma ferramenta concei-
tual capaz de revelar como se reestrutura o espao local e sub-regional por
meio das formas contemporneas da atividade industrial nessa cidade.
A informalidade e suas intrnsecas relaes com os setores formais da
economia comercial e de servios o caminho tomado pelos autores para
tratar das funes preponderantes, se quisermos compreender a centra-
lidade exercida por este setor na definio da posio de Marab na rede
urbana. A espacialidade de tais atividades , assim, objeto de ateno dos
autores no Captulo 4.
Novamente, a abordagem da centralidade, agora na escala sub-regional,
constitui-se o ponto de vista a partir do qual iluminada a compreenso
das desigualdades sociais na escala da cidade e da regio, no Captulo 5. Os
novos empreendimentos e as tendncias contemporneas de expanso ter-
ritorial da cidade so interpretados a partir das aes ensejadas no mbito de
foras confluentes e divergentes que chamamos de mercado imobilirio.
Com base nos captulos sucintamente descritos nos pargrafos anterio-
res, a equipe de pesquisadores da ReCiMe nucleados na Universidade Fe-
deral do Par desenvolve sua ideia de centralidade poltica para caracterizar
e analisar o que particular regio sudeste do Par e singular sua cidade
polo, Marab.
Com o ttulo Algunas claves sobre las transformaciones urbanas de
la ciudad media de Los ngeles, a segunda parte do livro redigida por
Henrquez e Arenas, que j no incio do texto destacam que essa cidade
vem tendo crescimento urbano significativo associado aos impactos da

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 25

abertura econmica neoliberal, em funo do papel que desempenha, em


sua economia, a produo florestal e as atividades ligadas a ela.
Para os leitores, especialmente para os no chilenos, o Captulo 1 con-
tm um conjunto importante de informaes e aportes de diferentes natu-
rezas, que ajudam a compreender a origem, a evoluo e a situao atual da
cidade em suas relaes espaciais mais imediatas, ou seja, em seu contexto
regional, sem deixar de abordar contextos espaciais mais abrangentes.
O enfoque da articulao entre escalas geogrficas, to caro aos pesqui-
sadores da ReCiMe, valorizado no Captulo 2, em que os autores tratam
das mudanas ocorridas no Chile desde os anos de 1970, quando a ideia de
desenvolvimento pela via industrial foi substituda pela de desenvolvimen-
to por meio de exportao de produtos primrios, tanto no que se refere
produo agropecuria como florestal. A ao das empresas do agronegcio
analisada a partir de muitos pontos de vista, com destaque para suas
articulaes com o setor industrial, razo pela qual no texto referente a Los
ngeles o tratamento dos temas 1 e 2 da pesquisa esto associados em um
mesmo captulo.
A difuso do comrcio e servios especializados estudada a partir da
ideia de terciarizao econmica. Essa perspectiva possibilita compreender
o crescimento dos servios especializados e nos oferece base para avaliar as
articulaes intensas que h entre os trs setores da economia urbana, pro-
postos por Colin Grant Clark na dcada de 1930. Temos, no texto, elemen-
tos para constatar que no mais possvel conceber cada um dos trs setores
em si, como mostram Henrquez e Arenas, no Captulo 3, ao relacionar o
tercirio ao industrial e, inclusive, aos ramos silvoagropecurios. Nessa
seo, tratam ainda do comrcio tradicional, mas indicam suas alteraes
recentes mostrando as mltiplas modalidades e localizaes que marcam as
estruturas espaciais do varejo. Abordam as dinmicas em curso, por meio
da populao ativa, das empresas que operam no setor, dos ramos mais
importantes economicamente e destacam, ao final, a importncia de Los
ngeles no oferecimento de bens e servios na parcela do territrio chileno
que denominam como subsistema urbano suroriente.
O aprofundamento das desigualdades socioespaciais, quarto tema do
projeto de pesquisa levado a cabo pela ReCiMe, tratado pelos pesqui-
sadores que se voltaram ao estudo da cidade chilena. O hbitat urbano e a
produo de moradias so o foco central, a partir do qual toda anlise feita,

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26 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

com informaes, mapas, fotos que quantificam, comunicam e ilustram a


linha de raciocnio dos autores.
Ao final dessa segunda parte do livro, so destacados os pontos prin-
cipais, a ttulo de sntese, sendo retomados elementos essenciais para a
compreenso dos papis que Los ngeles desempenha e das condies de
vida urbana que oferece.
H sempre um interregno temporal significativo entre a realizao da
pesquisa, a redao do texto, o debate no mbito da ReCiMe, a produ-
o editorial do texto e sua publicao. Em funo desse aspecto, o leitor
deve ficar atento, pois fatos, informaes, dados, localizaes podem j ter
passado por alteraes nos ltimos trs anos. Isso no diminui os aportes
trazidos nesses dois textos que esperamos ofeream fundamentos impor-
tantes para a anlise e possibilitem, ao leitor, reunir mais elementos para
compreender o processo de urbanizao de parte da Amrica Latina, com
destaque para o que particular ao conjunto das cidades mdias e singular
a Marab e a Los ngeles. Boa leitura!

Presidente Prudente
Fortaleza
Uberlndia

Outubro de 2015

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UMA CIDADE MDIA NA AMAZNIA ORIENTAL:
A CENTRALIDADE URBANO-REGIONAL
DE MARAB NO SUDESTE PARAENSE*

Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior


Mrcio Douglas Brito Amaral
Rovaine Ribeiro
Bruno Cezar Pereira Malheiro
Jovenildo Cardoso Rodrigues

* O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento


Cientfico e Tecnolgico (CNPq), uma entidade do governo brasileiro voltada ao desenvol-
vimento cientfico e tecnolgico, e da Fundao Ford, por meio da Federao de rgos
para Assistncia Social e Educacional (FASE) Amaznia. Integra um esforo coletivo
de pesquisa realizado pela Rede de Pesquisadores de Cidades Mdias (ReCiMe), da qual
participam pesquisadores de universidades brasileiras, argentinas e chilenas. Alm dos
autores deste trabalho, que integram a ReCiMe, o levantamento de campo contou com a
contribuio do professor Marcos Alexandre Pimentel da Silva (Universidade Federal do
Par/UFPA cmpus de Marab), dos ento alunos do curso de Geografia da UFPA,
Dbora Aquino Nunes, Gleice Kelly Gonalves da Costa e Michel de Melo Lima (bolsistas
de Iniciao Cientfica do CNPq), e da aluna Ana Luiza de Arajo e Silva (bolsista de exten-
so da UFPA), aos quais registramos os nossos sinceros agradecimentos.

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SUMRIO

Introduo 31

1 A formao da centralidade urbana de Marab no Sudeste Paraense 39


1.1. A cidade dos notveis e a produo extrativa da borracha 43
1.2. A cidade dos notveis da castanha 49
1.3. A cidade da colonizao oficial 56
1.4. A cidade econmica corporativa dos grandes empreendimentos 62
2 Entre frentes econmicas e projetos governamentais: a relao
campo-cidade em Marab 79
2.1. As siderrgicas, o carvoejamento e o plantio de eucalipto: formas de
relao entre o rural e o urbano 82
2.2. A difuso do agronegcio e suas variantes urbanas: a produo do
gado de corte, do leite e de seus derivados 86
2.3. Dos agronegcios s agrossubsistncias: uma economia alternativa
articulando o rural e o urbano 94
2.4. A fronteira dos conflitos e o confronto de mltiplas
territorialidades 101
3 Verticalidades e horizontalidades: a fronteira econmico-industrial
e as articulaes globais e regionais 113
3.1. Marab no centro das transformaes socioespaciais 115
3.2. A dinmica industrial recente e a reestruturao do espao local
e sub-regional 120
4 A centralidade do comrcio e dos servios: importncia regional
e configurao de uma estrutura urbana multinucleada 135
4.1. A cidade econmica: entre o formal e o informal 136

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30 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

4.2. A espacialidade do comrcio e dos servios na cidade de Marab: uma


primeira aproximao 137
4.3. A lgica das espacialidades do comrcio e dos servios no espao
intraurbano 150
5 Centralidade sub-regional e produo de desigualdades sociais
intraurbanas 167
5.1. A diferenciao intraurbana e a cidade das coexistncias e
convivncias 168
5.2. As demandas por infraestrutura e servios urbanos 171
5.3. Da centralidade regional s desigualdades intraurbanas 180
5.4. Os novos empreendimentos e as tendncias de expanso urbana da
cidade e do mercado imobilirio 187
6 Rumo centralidade poltica? Tendncias de uma cidade mdia na
Amaznia Oriental 205
Referncias bibliogrficas 215

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INTRODUO

No tem sido comum, nas polticas de desenvolvimento regional pen-


sadas para a Amaznia, o enfoque dimenso urbana, ainda que mais de
70% do contingente total de habitantes da regio Norte estejam vivendo nas
sedes municipais e distritais, consideradas urbanas. Constata-se um perfil
marcadamente no urbano dessas polticas, muito mais preocupadas com
as importantes questes de ordem ambiental e agrria presentes na regio
do que propriamente com os problemas de natureza urbana, os quais tam-
bm tm ocupado as agendas dos movimentos sociais organizados desde a
segunda metade do sculo XX. Alm disso, so poucas as iniciativas, em
termos de polticas de desenvolvimento, que reconheam a interseo entre
as questes ambiental, agrria e urbana na Amaznia e apontem instru-
mentos para enfrent-las em conjunto.
Quando a preocupao urbana se faz presente, h uma tendncia a
tomar como referncia polticas notadamente metropolitanas. Isso aconte-
ce de tal maneira que, muitas vezes, se tem a impresso de que as pequenas
e mdias cidades no fazem parte da nova realidade regional, ou mesmo de
que diferentes tipos de cidades no componham a diversidade urbana, ou
urbanodiversidade, existente em escala regional.
Em contraponto a essa tendncia, busca-se aqui realizar o estudo de
uma cidade no metropolitana, com uma populao de 186.270 habitantes,
segundo o Censo de 2010 da Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatstica (IBGE), alada condio de cidade mdia nas ltimas dcadas.
Trata-se de Marab, localizada s margens dos rios Tocantins e Itacainas

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e em uma das sub-regies mais dinmicas e conflituosas da Amaznia


Oriental, o Sudeste Paraense1 (Figura 1).
O olhar que tangencia o estudo recai sobre a dinmica urbana, mesmo
que questes de ordem agrria e ambiental regionais sejam transversais
e imprescindveis para o reconhecimento das especificidades e particula-
ridades que o espao urbano amaznico apresenta. O sentido da anlise,
portanto, remete-nos discusso dos papis que algumas cidades vm
assumindo dentro da rede urbana amaznica a partir da reestruturao
produtiva regional. O estudo de cidades como Marab acaba sendo funda-
mental para a compreenso desse processo.
Duas dimenses so consideradas para efeito de anlise, conforme a
proposio de Santos (1994b). A primeira a economia poltica da urba-
nizao, que considera as cidades em face da diviso social e territorial do
trabalho, ou seja, busca compreender o papel assumido por uma cidade
como Marab diante da repartio, no plano regional, dos instrumentos
de trabalho, dos empregos e dos homens, o que nos leva a dialogar com
processos mais amplos de organizao do espao regional. A segunda a
economia poltica da cidade, que pressupe compreender sua organizao
intraurbana a partir da produo econmica e da forma como os diversos
atores da vida urbana se inserem e se espacializam internamente.
Busca-se considerar, como parte de nossas reflexes, que para o estudo
das cidades mdias a relao cidade-regio assume extrema importncia,
pois, alm de seu carter definidor da dinmica da cidade no contexto em

1 Identificamos aqui como Sudeste Paraense uma mesorregio do Estado do Par, na Ama-
znia Oriental, com uma rea, segundo o IBGE, de 297.344,257 quilmetros quadrados,
populao aproximada de 1,7 milho de habitantes, densidade demogrfica de 4,8 habitan-
tes por quilmetro quadrado, Produto Interno Bruto (PIB) de 32.100.390.641,00 reais, e
PIB per capita de 12.556,86 reais (IBGE, 2010). constituda pelas seguintes microrregies
e municpios: Microrregio de Conceio do Araguaia (Conceio do Araguaia, Floresta do
Araguaia, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia), Microrregio de Marab (Brejo
Grande do Araguaia, Marab, Palestina do Par, So Domingos do Araguaia, So Joo do
Araguaia), Microrregio de Paragominas (Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Dom
Eliseu, Goiansia do Par, Paragominas, Rondon do Par, Ulianpolis), Microrregio
de Parauapebas (gua Azul do Norte, Cana dos Carajs, Curionpolis, Eldorado dos Cara-
js, Parauapebas), Microrregio de Redeno (Pau-dArco, Piarra, Redeno, Rio Maria,
So Geraldo do Araguaia, Sapucaia, Xinguara), Microrregio de So Flix do Xingu (Ban-
nach, Cumaru do Norte, Ourilndia do Norte, So Flix do Xingu, Tucum), Microrregio
de Tucuru (Breu Branco, Itupiranga, Jacund, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Tucuru).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 33

Figura 1: Marab. Situao geogrfica no Sudeste Paraense.

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que se insere, influi, igualmente, no padro de organizao interna por


ela apresentado. Nesse aspecto, acompanhando o raciocnio de Villaa
(1998), diferena dos estudos metropolitanos, em que o deslocamento e a
localizao da fora de trabalho no interior do espao urbano definem, em
sua maior parte, a dinmica urbana, nas cidades mdias essa importncia
possui um menor peso, quando comparada circulao de mercadorias em
geral (capital constante, energia, informaes etc.); da o estudo da cidade
mdia ser tambm, e ao mesmo tempo, um estudo de uma dada dinmica
sub-regional.
A abordagem estabelece ainda como pressuposto de anlise a diferen-
ciao entre cidade de porte mdio, cidade intermediria e cidade mdia.
No primeiro caso, trabalha-se com o patamar populacional para reconhecer
to simplesmente o tamanho das cidades. No segundo caso, das cidades
intermedirias, a definio se d levando em conta sua posio relativa
e intermediria (entre as pequenas cidades e as metrpoles regionais), in-
dependentemente de sua expressividade poltico-econmico no contexto
hierrquico de uma rede urbana. A condio de cidade mdia, por sua vez,
considera a importncia sub-regional apresentada por uma dada cidade
intermediria, ipso facto, as fortes centralidades que a se materializam por
meio de fluxos, a ponto de contriburem significativamente para o ordena-
mento do espao regional em que se inserem, a exemplo de Marab, cuja
polarizao extrapola os limites do estado do Par (Figura 2).
Nesse sentido, so consideradas cidades mdias aquelas que, na estrutu-
ra urbana regional, assumem o papel de centro sub-regional, no sendo ape-
nas centros locais, mas centros urbanos capazes de polarizar e influenciar
um nmero significativo de cidades menores e articular relaes de toda
ordem como anteparo e suporte s metrpoles regionais, no compondo
junto com estas uma unidade funcional contnua e/ou contgua (Trindade
Jr.; Pereira, 2007).2 Ainda que as cidades mdias possam ser reconhecidas
tambm como intermedirias, as duas definies no so intercambiveis.
Como cidade mdia, Marab chama ateno pelo fato de constituir
centro cujas dinmicas e funes urbanas servem de mediao entre as
pequenas cidades da regio e as metrpoles regionais (So Lus e Belm)

2 Essa noo acompanha premissas j levantadas por outros autores, a saber: Sposito (2001b),
Pontes (2001), Santos e Silveira (2001), Amorim Filho e Rigotti (2002).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 35

Figura 2: Marab. rea de influncia aproximada.

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e extrarregionais (Goinia, Braslia etc.), assumindo relevncia devido


ao papel que desempenha em nvel sub-regional. O entendimento dessa
importncia sugere a distino entre centro, definido pelo sistema de fixos
(o que se localiza), e centralidade, definida pelo sistema de fluxos (o que
circula), conforme Sposito (2001a).3
Para a realidade aqui tratada, a referncia ao sistema de fixos se faz im-
portante, mas na definio da centralidade que se pode reconhecer o perfil
de cidade mdia assumido por Marab ao longo da formao socioespacial
do Sudeste Paraense e da Amaznia Oriental como um todo, posto que
no exatamente a densidade dos fixos que define a importncia dessa
cidade nos ltimos anos na regio, mas sobretudo a centralidade, que mui-
tas vezes intensifica o uso dos fixos disponveis. Trata-se, nesse sentido,
de considerar, em um dado contexto sub-regional, a centralidade de um
ncleo urbano que se destaca pela convergncia de fluxos, com seu carter
centrpeto-centrfugo devido a uma dada disponibilidade de infraestrutura
e a uma relativa densidade tcnica, de atividades econmicas e sociais que
nele se concentram (Trindade Jr.; Ribeiro, 2009).
A forma de abordagem da questo feita tomando como referncia
dois momentos da formao socioespacial amaznica, situando o papel das
cidades em cada um deles e a emergncia das cidades mdias no segundo
momento, conforme apresentado no Quadro 1.

Quadro 1: Amaznia. A rede urbana em dois momentos. Antes e depois de 1960.


Forma dendrtica (antes de 1960) Forma anastomosada (depois de 1960)
Atividades econmicas tradicionais Frentes econmicas e de modernizao
Circulao fluvial e ferroviria Circulao multimodal: destaque s rodovias
Cidades dos notveis: pequenas e Cidades hbridas diversas: dos notveis e
semelhantes econmicas
Cidade primaz Difuso do fenmeno de metropolizao
Concentrao econmica Desconcentrao econmica
Pouco destaque s cidades intermedirias Importncia das cidades mdias
Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

3 Se a localizao, sob a forma de concentrao de atividades comerciais e de servios, expressa,


no plano das espacialidades sociais, espaos considerados centrais, aquilo que se movimenta
revela-se como centralidade. Trata-se de duas experincias da realidade urbana e tambm,
poderamos dizer, da realidade regional que articulam, com pesos diferentes, as dimenses
espacial e temporal desses espaos (Sposito, 2001a).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 37

A inteno dessa discusso a de que nossas preocupaes se apresen-


tem como pontos de partida para o entendimento do conjunto de relaes
desencadeadas no mbito da rede urbana regional, de forma a compreender,
no processo de reestruturao produtiva da regio amaznica, como a cidade
de Marab ganha expressividade econmica e poltica na dinmica sub-
-regional do Sudeste Paraense. Para esse intento, foram eleitos os seguintes
eixos de discusso: a formao da centralidade urbana de Marab em face da
regio; as frentes de expanso, as relaes rural-urbanas e suas expresses
espaciais e territoriais; a fronteira econmico-industrial e as articulaes glo-
bais e regionais entre verticalidades e horizontalidades geogrficas; a centra-
lidade do comrcio e dos servios no contexto sub-regional; a centralidade
sub-regional e a produo de desigualdades socioespaciais intraurbanas.
O desenvolvimento da pesquisa que resultou na presente sistematizao
foi orientado por um conjunto de questes, cujas respostas decorreram
de diferentes procedimentos metodolgicos executados em campo, pres-
supondo levantamentos de dados estatsticos e documentais primrios e
secundrios, bem como contatos diversos e entrevistas com informantes
especficos. A consecuo desses procedimentos obedeceu seleo de
variveis, pauta de entrevistas previamente elaborada e a planilhas que
subsidiaram o levantamento de dados primrios e secundrios.
Considerando a importncia das informaes levantadas, para o cotejo
com os dados das demais cidades estudadas no interior da Rede de Pesqui-
sadores sobre Cidades Mdias (ReCiMe), seguiu-se, sempre que possvel, a
metodologia por ela proposta (Sposito et al., 2007). Tal metodologia esteve
baseada em variveis previamente definidas, com o intuito de compreender
as dinmicas e os agentes econmicos que vm alterando, com intensidades
e ritmos diferentes, os papis dos ncleos urbanos hoje considerados como
cidades mdias no Brasil, como no caso de Marab, para a qual, de forma
especfica, se voltou nosso levantamento de dados. As dinmicas, indisso-
civeis dos agentes que lhes do movimento, foram priorizadas na pesquisa
por meio de quatro temas norteadores: difuso da agricultura cientfica
e do agronegcio, desconcentrao da produo industrial, expanso do
comrcio e dos servios especializados, aprofundamento das desigualda-
des socioespaciais internas. Esses indicadores so fruto de eixos temticos
trabalhados em campo, a partir dos quais esto organizados os resultados e
concluses decorrentes da pesquisa e da anlise realizada.

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Tendo por guia essas variveis, foram levantados dados do ponto de


vista da articulao da cidade com a regio/sub-regio e do ponto de vista
da organizao interna da cidade. No primeiro caso, para verificar a articu-
lao, por meio de fluxos, da cidade de Marab com o espao sub-regional
do qual faz parte, mas igualmente seu grau de articulao com outras es-
calas, a regional, a nacional ou a internacional. No segundo caso, os dados
coletados se referem produo, aos servios, ao comrcio, infraestrutura
e a equipamentos disponveis na cidade. Alm desses, foram tambm con-
siderados outros, concernentes a espaos de moradia, equipamentos de
consumo, dinmica populacional e mercado de trabalho.
A sistematizao e a anlise dos dados, orientadas pelos eixos e vari-
veis, buscaram reconhecer, portanto, o espao intraurbano de Marab
como cidade mdia e o de sua sub-regio como espaos socialmente pro-
duzidos, portanto, como produtos, condies e meios de reproduo social
(Lefbvre, 1974) em uma dada formao socioespacial (Santos, 2005). Com
base nessa especificidade (Sudeste Paraense) e particularidade (Amaznia
Oriental), a sistematizao indica a possibilidade de contribuir para uma
teorizao sobre esse nvel de cidade no Brasil, assim como de destacar
indicadores e elementos que favoream o cotejo com os de outras cidades j
estudadas ou em estudo no interior da ReCiMe.

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1
A FORMAO DA CENTRALIDADE URBANA
DE MARAB NO SUDESTE PARAENSE

Ainda que a origem de Marab1 seja registrada oficialmente como tendo


ocorrido no final do sculo XIX, h relatos da presena de populaes nati-
vas nessa regio h bastante tempo, assim como de bandeirantes, atravs de
expedies; de aventureiros, em busca de drogas do serto; e de jesutas,
com a finalidade de catequizar e atrair tribos indgenas para as misses
prximas a Belm (Almeida, 2002). A ocupao dita efetiva, entretanto,
reconhecida oficialmente a partir de 1895, com a formao do burgo agr-
cola do Itacainas. Assim, a origem de Marab atribuda aos brancos,
remanescentes de lutas polticas ocorridas no norte de Gois (atual estado
do Tocantins),2 que passaram a ocupar as terras que hoje constituem o Su-
deste Paraense (Quadro 2).
Ainda que o pequeno ncleo de povoamento tenha se originado no final
do sculo XIX, s em 1913 Marab tornou-se municpio, a partir do qual
outros vieram a se formar em anos subsequentes. Isso aconteceu com maior
intensidade, entretanto, no final da dcada de 1980 e incio da de 1990,
conforme se observa no Quadro 3.

1 O nome Marab originado do tupi-guarani mayr (estranho) e ab (gente) , sendo esta


uma denominao atribuda aos filhos de ndias e europeus (Par, s/d). Refere-se, ainda,
ao nome de um poema de Gonalves Dias, e que Francisco Coelho, por volta do final do
sculo XIX, em homenagem ao poeta maranhense, atribuiu sua casa comercial instalada no
povoado que veio tambm a se chamar Marab (Almeida, 2002).
2 O coronel Carlos Gomes Leito e seu grupo, derrotado em Gois, fugiu da localidade de
Boa Vista, atual Tocantinpolis, descendo o Rio Tocantins, instalou-se nas proximidades do
quilmetro 6 da foz do Rio Itacainas, dando origem ao que veio a se tornar o ncleo urbano
de Marab (Emmi, 1999; Almeida, 2002).

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40

Quadro 2: Sudeste do Par. Formao socioespacial inicial e sua relao com o contexto regional. 1616 a 1850.
Fases Elementos do processo de produo do Principais elementos da configurao urbana Formao socioespacial do Sudeste do
espao regional paraense Par e de Marab
1616 Incio da conquista do territrio amaz- Fundao da cidade de Belm (1616): localizao es- Territorialidade exclusiva das populaes
a nico. tratgica de carter poltico-militar. nativas com forte ligao ao ecossistema flo-
1655

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Interesse em assegurar a defesa do terri- Criao dos ncleos de Souza do Caet (Bragana)- restal amaznico.
trio. 1633, Vila Viosa de Sta. Cruz do Camet (Ca-
Perspectiva de controle econmico. met)-1635, Sto. Antnio de Gurup (Gurup)-1639 e
Vigia-1639, a partir de Belm.
1655 Economia baseada no trabalho indgena e Surgimento de ncleos populacionais ao longo do vale Realizao de expedies de bandeirantes e
a no sistema de aviamento. do Amazonas embrio da rede urbana amaznica. aventureiros, em busca de drogas do ser-
1750
Controle e gesto da vida econmica e Presena de fortins e aldeias missionrias ao longo dos to, assim como de jesutas, com a finalidade
social pelas ordens religiosas. vales dos rios. de catequizar e atrair tribos indgenas para as
misses prximas a Belm.
Economia voltada para a exportao das Surgimento de aldeias missionrias Ex.: Surubi
drogas do serto. (Alenquer), Jamunds (Faro), Gurupatiba (Monte
Alegre) prximas s aldeias indgenas, ou sob a pro-
teo de um fortim s margens do Amazonas, ou foz
de seus afluentes Ex.: Santarm (Tapajs), bidos
(Amazonas).
Reafirmao de Belm como centro regional.
Continua
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

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Quadro 2: Continuao
1750 Expanso das atividades produtivas. Ratificao e reforo da estrutura urbana e da primazia Intensifica-se o movimento exploratrio
a de Belm. em direo ao Tocantins devido ao interesse
1778 A Cia. Mercantil do Gro-Par e Mara-
nho assume o controle econmico e mer- Aldeias missionrias so transformadas em vilas, re- nesse rio como via de articulao e comuni-
cantil. cebendo outras denominaes, como Alenquer, Aveiro, cao.
Doao de terras para colonos e soldados. Faro, bidos, Santarm, Nova Cintra (Maracan), Vila Surgimento gradativo de alguns entrepos-
Del Rey (Curu) etc. tos ligados navegao do Rio Tocantins,

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Poltica pombalina de insero da econo-
com prtica de pequena agricultura de sub-
mia amaznica no mercado mundial ex- Belm passa a ser a capital do Gro-Par e Maranho
por razes locacionais. sistncia.
pulso dos jesutas.
Introduo da mo de obra escrava africa-
na e estmulo a uma agricultura comercial
(cacau, caf, fumo, anil, baunilha etc.) e
pecuria.
Ratificao do sistema de aviamento
importao de produtos manufaturados e
produo exportvel.
1778 Estagnao econmica regional. Estagnao na vida urbana. Expanso da atividade pastoril do Maranho
a Queda da demanda de produtos regionais Concentrao dos recursos e das riquezas em Belm. e norte de Gois para reas do sul e sudeste do
1850 no mercado europeu declnio econmico Par, em direo a Marab.
Existncia de vrios ncleos pequenos.
regional. Fundao, em 1781, do posto fiscal e militar
Ausncia de cidades de tamanho intermedirio. de Alcobaa (atual Tucuru) no Rio Tocantins.
Extino da Cia. do Gro-Par e Maranho.
Formao de uma rede urbana dendrtica.
Arrefecimento da expanso agrcola.
Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr., Michel de Melo Lima e Jovenildo Cardoso Rodrigues, com base em Velho (1981), Yoschioka (1986), Corra (1987), Tourinho
(1991), Tavares (1992), Lima (1992), Mattos (1996), Becker (1997), Moraes (1998), Emmi (1999), Almeida (2002), Petit (2003), Silva (2004), Coelho (2005), Marab (2006),
Marab (2008), Miranda (2009).
AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL
41

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Quadro 3: Marab. Gnese e fragmentao poltico-territorial. 1833 a 1994.
42

ANOS 1833 1908 1913 1923 1947 1961 1988 1991 1993 1994
T Baio Baio Baio
E So So
R Joo do Joo do
Araguaia Araguaia
R
(extinto
I em 1923 e
T anexado a
Marab)

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R Marab Marab Marab Marab
I Curionpolis Curionpolis
O Eldorado do Carajs
S Parauapebas gua Azul do Norte
Parauapebas Parauapebas

M Cana dos
Carajs
U
So So Joo do So Joo do Araguaia
N
Joo do Araguaia So Domingos do Araguaia
I Araguaia
Brejo Grande Brejo Grande do Araguaia
C
do Araguaia Palestina do Par
I
P Jacund Jacund
A Nova Ipixuna
Itupiranga Itupiranga
I Itupiranga
S Conceio do Araguaia (extinto em 1930 e recriado em 1933)
Fonte: Tavares (2007). Elaborao: Saint-Clair C. da Trindade Jr.
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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 43

O entendimento dessa dinmica mais recente de intensa fragmentao


territorial pressupe a compreenso do processo inicial de formao urbana
de Marab no Sudeste Paraense, que remonta aos ltimos anos do sculo
XIX, quando o ento ncleo urbano de povoamento tornou-se ponto estra-
tgico para a expanso da atividade mercantil do caucho (hevea castilhoa)3
(Velho, 1981).
Convm advertir que a centralidade, compreendida como conjunto de
fluxos que passaram a se estabelecer entre Marab e outros ncleos ur-
banos e rurais no final do sculo XIX, apresentava-se em processo inicial,
intensificado apenas a partir do comeo do sculo XX, como resultado de
determinaes relacionadas ao movimento de reproduo do capital na es-
cala local. A esse respeito, delinearemos algumas reflexes de maneira mais
detalhada a seguir.

1.1. A cidade dos notveis4 e a produo extrativa da


borracha

A produo da borracha contribuiu decisivamente para a estruturao


do espao urbano de Marab, na confluncia entre os rios Tocantins e
Itacainas, que ascendeu condio de centro comercial mais importante
do Sudeste do Par a partir do incio do sculo XX e cuja dinmica est
diretamente ligada consolidao da rede urbana dendrtica na Amaznia,
associada circulao atravs dos rios (Quadro 4).

3 A hevea castilhoa constitui uma modalidade de planta que produz uma seiva de boa qua-
lidade, similar hevea brasiliensis, a qual pode ser transformada em ltex, matria-prima
essencial para a indstria de pneumticos que se expandiu nos Estados Unidos a partir do
final do sculo XIX. Contudo, sua extrao requer o sacrifcio da rvore, uma vez que apenas
a partir de seu corte integral pode-se extrair a seiva (Tourinho, 1991).
4 O termo notvel, inspirado em Santos (1993), define aqui um tipo particular de persona-
lidade local, que exerce a hegemonia no cenrio poltico e econmico na sub-regio Sudeste
do Estado do Par e, consequentemente, na cidade de Marab. Tal hegemonia baseava-se
no controle dos meios de produo, juntamente com o controle do aparelho poltico institu-
cional local; este ltimo, utilizado por vezes como mecanismo de coero para manuteno
de prticas espoliativas no mbito das relaes de trabalho. Emmi (1999) denominou esses
grupos locais como oligarquia do Tocantins.

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Quadro 4: Sudeste do Par. Formao socioespacial no perodo da borracha e sua relao com o
contexto regional. 1850 a 1920.
Fases Elementos do Principais elementos Formao socioespacial do
processo de da configurao Sudeste do Par e de Marab
produo do espao urbana paraense
regional
1850 Perodo do boom Revigoramento econ- Formao do burgo agrcola do Ita-
a econmico da borracha mico e demogrfico das cainas em 1895, de onde se origi-
1920 e maior explorao da cidades j existentes. nou Marab, por remanescentes de
castanha-do-par. Intensificao das re- lutas polticas ocorridas no norte de
Superao do proble- laes entre os ncleos Gois (atual estado do Tocantins).
ma do sistema de trans- de povoamento. Decadncia do burgo agrcola
porte e da escassez da Surgimento e/ou cres- (final do sculo XIX), seguida de
mo de obra. cimento de centros ur- mudana de localizao para o atual
Oferta de capitais para banos em funo da im- stio onde hoje se encontra a cidade
o f inanciamento da plantao da Estrada de de Marab.
produo. Ferro Belm-Bragana, Constituio de Marab como
Reforo ao sistema de como Igarap-Au, Joo municpio (1913).
aviamento: viabili- Coelho (Sta. Izabel do Aumento da atividade extrativa do
zao da produo, cir- Par), Castanhal, Ana- caucho e da castanha, que era escoa-
culao, consumo e da nindeua, Anhang (S. da pelo Rio Tocantins, consolidan-
estrutura de poder. Fco. do Par), Inhan- do o ncleo urbano de Marab (hoje
gapi e Benevides, ou da Velha Marab) e a formao do que
intensificao do extra- viria a ser a futura oligarquia do
tivismo vegetal, como Tocantins.
Marab e Altamira.
Configurao do ncleo urbano de
Prosperidade de cida- Marab como cidade dos notveis
des como Belm, San- da borracha.
tarm e bidos, em de-
corrncia da economia Crise na regio decorrente da que-
da borracha. da do comrcio do caucho, notada-
mente a partir de 1919.
Transferncia da infraestrutura
voltada para a produo da borra-
cha e para a atividade de explorao
e comercializao da castanha.
Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr., Michel de Melo Lima e Jovenildo Cardoso Rodrigues, com
base em Velho (1981), Yoschioka (1986), Corra (1987), Tourinho (1991), Tavares (1992), Lima (1992), Mat-
tos (1996), Becker (1997), Moraes (1998), Emmi (1999), Almeida (2002), Petit (2003), Silva (2004), Coelho
(2005), Marab (2006), Marab (2008), Miranda (2009).

O estabelecimento do centro de comercializao em Marab decorreu


da necessidade, por parte do capital mercantil, de estabelecer bases para
sua expanso prxima a reas com elevado potencial extrativo (Velho, 1981;
Machado, 1989). A condio assumida por Marab definiu a centralidade
desse ncleo, para onde passou a convergir grande parte da produo eco-
nmica proveniente do interior da floresta (Yoschioka, 1986). Paralelamen-
te, a cidade apresentou considervel crescimento econmico em virtude
da expanso das atividades de extrao do ltex, fato que desencadeou a

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 45

induo de intensos fluxos migratrios em direo sub-regio hoje deno-


minada Sudeste Paraense, advindos de diversos estados brasileiros, dentre
os quais se destacaram Maranho e Gois.
Acerca dessas circunstncias histrico-geogrficas, Paternostro (1945),
em suas narrativas de viagem ao Rio Tocantins, descreve o ncleo urbano
de Marab, no incio do sculo XX, como um grande acampamento de
caucheiros,5 de migrantes, de trabalhadores rurais e de comerciantes, que
sobreviviam do trabalho extrativo de coleta e comercializao da borracha.
A funo que Marab passou a exercer deve-se ao fato de ter se tornado um
centro estrategicamente situado, constituindo um importante entreposto
comercial e de transporte conectado rede urbana paraense cuja cidade
primaz e de destaque era Belm, situao que contribuiu para fortalecer a
centralidade desse ncleo populacional (Velho, 1981).
Centro para onde convergiam as mais diversas atividades comerciais e
de transporte, bem como locus de atrao de contingentes demogrficos, a
pequena cidade de Marab logo prosperou, passando a ser palco de atuao
de uma emergente oligarquia local (Yoschioka, 1986). Nesse momento,
evidenciaram-se diversos conflitos, em razo de disputas pelo poder local e
da resistncia explorao da mo de obra (Velho, 1981). Tais conflitos no
decorreriam necessariamente da luta pela posse da terra, mas pelo controle
das fontes de ltex (Emmi, 1999).
Emmi (1999) ressalta que a ascenso da oligarquia local foi importan-
te porque possibilitou a estruturao de bases logsticas necessrias ao
empreendimento mercantil. A expanso do capital mercantil, por sua vez,
convergiu para os anseios das oligarquias locais em formao, de tal manei-
ra que esse conjunto de fatores, associado s novas dinmicas econmicas
e demogrficas evidenciadas em Marab, contribuiu para a criao de um
poder local institucionalizado (Velho, 1981; Emmi, 1999). Cabe ressaltar
aqui o intenso papel exercido pelos comerciantes, que passaram a pressio-
nar o governo do estado do Par no sentido de promover a emancipao
desse territrio, tornando-o municpio (Velho, 1981).6

5 Denominao dada aos trabalhadores que faziam a coleta do caucho na sub-regio sudeste
do Estado do Par.
6 Os comerciantes de Marab ganham importncia extralocal. Sentindo-se abandonados
pelo governo do Par, criam uma comisso, vo at Belm, manipulam, inclusive, as antigas
questes de limites entre os estados, e alegando estarem por origem mais ligada a Gois, bem

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46 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

A conjuno de fatores polticos e econmicos influenciou decisiva-


mente para a constituio do municpio de Marab, no incio do sculo XX
(Velho, 1981). Sua estrutura econmica, cujas bases estavam fortemente
atreladas ao capital mercantil de origem exgena, associada aos interesses
da poltica hegemnica local e regional, passou a ditar os rumos das trans-
formaes evidenciadas no ncleo urbano de Marab. Nessa perspectiva, o
ncleo urbano de Marab tornou-se a cidade dos notveis da borracha,7
locus de reproduo social de uma recm-formada oligarquia local, que
passou a exercer o poder poltico a partir da constituio de uma hierarquia
administrativa proveniente da criao do municpio.8
A paisagem urbana de Marab nesse momento, a despeito da produo
econmica existente, foi marcada por um cenrio composto por habitaes
precrias, recorrentemente chamadas de palhoas, que demonstravam
as condies de extrema pobreza dos moradores daquele lugar (Paternos-
tro, 1945). A reproduo social da grande maioria deles estava relacio-
nada ao trabalho extrativo da coleta do caucho, com base no sistema de
aviamento,9 fato que contribuiu para a criao de dependncia entre o
caucheiro e o comerciante local (Emmi, 1999).
O relativo isolamento de Marab em relao a outras cidades e povoa-
dos, acessveis somente pelos rios, contribuiu para que esses grupos locais
pudessem desenvolver prticas de monoplio das comunicaes, dos trans-

como as dificuldades de comunicao com o Par, representam Gois no sentido de serem


incorporados a esse estado. O movimento surte o efeito de despertar o governo do Par
(Velho, 1981, p.44).
7 A definio de cidade dos notveis da borracha apresenta-se como uma forma de reforar
um momento da periodizao aqui proposta. No acompanha, portanto, uma definio
institucional, posto que Marab elevada categoria de cidade apenas no ano de 1923.
8 Segundo Velho (1981), no ano de 1913, Marab ganha autonomia municipal como territrio
desmembrado de So Joo do Araguaia, que, por sua vez, fora anteriormente desmembrado
do ento imenso municpio de Baio, sendo que apenas em 1923 o ncleo populacional de
Marab oficialmente elevado categoria de cidade.
9 Consistiu em um processo de trabalho cujas bases estavam aliceradas na apropriao do
produto do trabalho. Segundo Emmi (1999), tal sistema se dava por meio da troca desi-
gual entre os trabalhadores/caucheiros que faziam a coleta da borracha na floresta e os
comerciantes, donos de barraces, que exerciam o monoplio de compra da borracha e da
castanha. Tais comerciantes utilizavam diversos artifcios, entre eles o aviamento, ou seja,
o financiamento de produtos de primeira necessidade aos trabalhadores/coletores como
mecanismo para forar dvidas antecipadas e difceis de ser saldadas, alm de fraude na
capacidade do hectolitro, medida que servia para comercializar o produto (Emmi, 1999).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 47

portes e, por consequncia, do comrcio (Velho, 1981). Dessa maneira,


criavam-se as bases para a constituio e estruturao do poder hegemnico
da oligarquia do Tocantins (Emmi, 1999).
Foi nesse contexto que Marab tornou-se a cidade dos notveis da bor-
racha, territrio de exerccio do poder de elites locais, com destaque para
o papel exercido por grupos de personalidades polticas que passaram
a ganhar notoriedade no cenrio poltico paraense (Emmi, 1999). Nomes
como Carlos Leito, Norberto Mello, Raimundo Rocha, Francisco Coelho,
Ricardo Maranho, Francisco Casemiro, Antnio da Rocha Maia, Anas-
tcio de Queiroz, Melchiades Fontenelle (alguns dos quais denominam
importantes ruas na cidade de Marab, no perodo atual), constituram-se
autoridades que exerceram o poder local, a partir de um controle poltico de
carter personalista (Velho, 1981).
Dessa forma, o meio rural representava um elemento fundamental para
a reproduo social da vida local, uma vez que os produtos extrativos con-
sistiam fontes de subsistncia das populaes (Velho, 1981). A coleta do
caucho em moldes mercantis, por sua vez, apresentou-se como um forte
atrativo, influenciando a prtica constante de incurses de trabalhadores
que se embrenhavam na floresta durante dias a fim de obt-lo.
O modo de vida ribeirinho e as condies de sobrevivncia dos habitan-
tes locais, baseados em relaes orgnicas entre homem e natureza e sob a
lgica do valor de uso, passaram a ser profundamente alterados com a de-
marcao das relaes baseadas no valor de troca. Por outro lado, a cidade
dos notveis da borracha apresentava profundas relaes com o rio, uma
vez que a articulao do ncleo urbano com outras cidades ou regies por
via terrestre era praticamente inexistente (Emmi, 1999). Destarte, a rede
de rios, alm de definir sobremaneira o tempo do transporte e das relaes
de deslocamento e de troca com outros mercados, constitua igualmente o
locus de reproduo do modo de vida ribeirinho.
De acordo com Dias (1958), a rede hidrogrfica foi no s a principal
via de povoamento da cidade, como tambm fator importante no desen-
volvimento econmico regional. O Itacainas e seus tributrios geravam a
quase totalidade da produo que era exportada pelo Tocantins. Uma vez
que o Araguaia-Tocantins e o Itacainas escoavam a produo na altura de
Marab, a cidade funcionava como um ponto estratgico, tanto para a pro-

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duo quanto para a circulao, estabelecendo um domnio absoluto sobre


as regies circunvizinhas. Alm disso, cabe destacar a influncia alcanada
por Marab no Baixo Tocantins (at Baio) e no mdio Tocantins (atingin-
do o norte de Gois e o sudoeste do Maranho).
Fundamentando-se em uma perspectiva metodolgica clssica dos estu-
dos de Geografia urbana, a mesma autora aponta que, por mais que o stio
urbano de Marab fosse bastante precrio, estando submetido, inclusive,
a grandes enchentes anuais que levavam seus moradores e comerciantes a
abandonarem suas residncias e casas de comrcio para buscarem abrigo
em topografias de cotas mais elevadas, sua posio geogrfica era de extre-
ma riqueza, dada sua localizao na confluncia dos rios Tocantins e Ita-
cainas, local estratgico para o domnio da circulao de toda a produo
regional. De um lado, a produo de caucho produzida na regio do mdio
Tocantins era escoada para Belm a partir de Marab; de outro, a cidade
funcionava como entreposto comercial na distribuio das mercadorias
provenientes principalmente de Belm, mas tambm de So Paulo, Rio de
Janeiro, Recife e Fortaleza, para as reas de extrativismo, para o Sudoeste
do Maranho e para o Norte de Gois (Dias, 1958).
A partir da primeira dcada do sculo XX, dinmicas econmicas da
ordem distante10 do capitalismo influram decisivamente nos rumos da
atividade extrativa da borracha na Amaznia, gerando estagnao econ-
mica e efeitos na rede urbana (Corra, 1987). Referimo-nos s novas de-
terminaes evidenciadas no mbito do mercado mundial, provenientes do
desenvolvimento tcnico-cientfico, bem como de uma nova racionalidade
imposta a determinadas atividades extrativas em algumas regies produto-
ras (Almeida, 2008a).11
A reduo das exportaes da borracha na Amaznia e a queda do preo
do produto no mercado mundial trouxeram como consequncia nova es-

10 A esse respeito, Lefbvre (1999) ressalta a necessidade de se estabelecer uma articulao de


pensamento que considere a produo do espao a partir do movimento relacional constante
entre o particular e o geral, entre a ordem prxima e a ordem distante do capitalismo.
11 Machado (1989) ressalta que a reduo das exportaes brasileiras de borracha a partir da
primeira dcada do sculo XX decorreu, em grande medida, da concorrncia com algumas
colnias inglesas da sia (Ceilo, Cingapura) que empreenderam uma racionalidade produ-
tiva s suas plantaes de borracha, o que influiu no preo do produto no mercado mundial.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 49

tagnao econmica para a regio (Corra, 1987), com aumento da dvida


pblica interna e externa, alm de refluxo populacional e estagnao urba-
na. A sub-regio do Sudeste Paraense, um espao diretamente associado
lgica produtiva da borracha, sofreu considervel impacto devido crise
do mercado desse produto (Emmi, 1999). A esse respeito, Velho (1981)
ressalta o ano de 1919 como um momento em que os impactos do setor da
borracha repercutiram negativamente nas atividades comerciais de Mara-
b, fato que contribuiu para um grande despovoamento do ncleo urbano
naquele ano.
O quadro de decadncia econmica da regio no se manifestou de
forma homognea em todas as sub-regies e cidades que compunham o
espao amaznico (Corra, 1987). O Sudeste Paraense, no caso, demons-
trou capacidade de adequao s novas demandas do mercado, conseguin-
do assim se recuperar mais rapidamente da crise (Velho, 1981; Yoschioka,
1986). dentro desse contexto que o extrativismo da castanha-do-par12
passou a exercer papel importante como atividade produtiva, responsvel
pela introduo de uma nova dinmica econmica ao Sudeste Paraense
(Emmi, 1999). E Marab transformou-se em um verdadeiro centro regio-
nal da castanha (Dias, 1958).
Com efeito, diante das novas dinmicas empreendidas pelo capital in-
ternacional, cujos impactos se fizeram sentir na sub-regio do Sudeste
Paraense, redefiniram-se novas estratgias de reproduo do capital em
nvel local.

1.2. A cidade dos notveis da castanha

Os anos de 1920 compreendem um perodo de mudanas no mbito da


atividade extrativa local e, por consequncia, na estrutura econmica do
Sudeste Paraense, em decorrncia da crise do mercado da borracha, com
rebatimentos na respectiva sub-regio, como, por exemplo, segundo Velho
(1981), a intensa reduo do contingente demogrfico de Marab.

12 Fruto obtido a partir de coleta em rvore da famlia das lecythidaceae, gnero berthholletia
que, por sua vez, apresenta as espcies exccelsa e nobilis (Velho, 1981; Yoschioka, 1986).

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50 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Nesse contexto, uma atividade extrativa que era complementar ainda


na poca da borracha foi, ao longo do tempo, assumindo centralidade e am-
pliando sua importncia econmica e social no cenrio marabaense. Referi-
mo-nos ao extrativismo da castanha, que passou a despontar como produto
de considervel demanda nos mercados nacional e internacional (Dias, 1958;
Velho, 1981; Emmi, 1999). Sua explorao, de acordo com Dias (1958),
foi incrementada por volta de 1920 e, a partir dessa poca, teve influncia
fundamental na vida do municpio de Marab (Quadro 5), com reflexos
profundos tambm na economia de todo o mdio Tocantins e Araguaia.

Quadro 5: Sudeste do Par. Formao socioespacial no perodo da castanha e sua relao com o
contexto regional. 1920 a 1960.
Fases Elementos do Principais Formao socioespacial do Sudeste
processo de elementos da do Par e de Marab
produo do configurao
espao regional urbana paraense
1920 Nova estagnao Estagnao urbana. Nova fase das atividades econmicas,
a econmica, fruto da Prosperidade urba- com predomnio da castanha e manuten-
1960 queda da demanda na restrita s cidades o das relaes de trabalho baseadas na
da borracha. do Baixo Amazonas e prtica do aviamento.
Aumento da dvida do Tocantins-Itaca- Marab apresenta sua funcionalidade
pblica interna e ex- nas, em virtude da econmica pautada na produo e co-
terna. produo da juta e da mercializao da castanha.
Refluxo populacio- castanha, respectiva- Incremento na atividade de extrao e
nal e relativa autarci- mente. exportao da castanha, que era escoada
zao dos seringais. Belm como princi- pelo Rio Tocantins e, mais tarde, tam-
Diminuio absolu- pal foco de direo do bm, pela Estrada de Ferro do Tocan-
ta da populao das xodo rural. tins.
pequenas cidades. Consolidao do ncleo urbano ori-
Destaque econmi- ginal de Marab (Velha Marab), pela
co: produo da juta importncia dos fluxos relacionados
no Mdio Amazonas explorao e exportao da castanha-do-
e da castanha-do- -par.
-par no Tocantins/ As atividades econmicas contribu-
Itacainas. ram para a reconfigurao do poder lo-
cal, com reafirmao de uma oligarquia,
desta feita ligada castanha.
Surgimento do municpio de Itupiran-
ga, a partir de Marab (1947).
Estruturao de Marab como a cidade
dos notveis da castanha.
Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr., Michel de Melo Lima e Jovenildo Cardoso Rodrigues, com
base em Velho (1981), Yoschioka (1986), Corra (1987), Tourinho (1991), Tavares (1992), Lima (1992), Mat-
tos (1996), Becker (1997), Moraes (1998), Emmi (1999), Almeida (2002), Petit (2003), Silva (2004), Coelho
(2005), Marab (2006), Marab (2008), Miranda (2009).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 51

A cidade de Marab, que desde o perodo anterior (explorao do cau-


cho) era um mercado consumidor dos produtos agrcolas e pecurios do
serto, intensificou ainda mais a importao dessa regio. Deve-se destacar
que, ao mesmo tempo, com o avano de sua praa comercial, tornou-se
um importante ponto de intercmbio com todo o mdio Tocantins. Alm
disso, a cidade se consolidou como centro de redistribuio, para Gois
e Maranho, de produtos que chegavam de Belm, Rio de Janeiro, So
Paulo, Recife e Fortaleza, como j vinha ocorrendo desde a poca do caucho
(Dias, 1958).
Conforme Velho (1981), o aumento da demanda pela castanha contri-
buiu para o revigoramento do centro comercial de Marab em razo da
existncia de importante reserva extrativa no Sudeste do Par. Diante do
crescente papel exercido por esse ncleo urbano como centro polarizador
dessa sub-regio, Marab foi elevada categoria de cidade no ano de 1923.
Paralelamente, assistiu-se ascenso de grupos polticos locais ligados ao
produto, devido ao aumento da atividade mercantil a ele relacionada (Yos-
chioka, 1986). Emmi (1999) ressalta que os anos de 1920 at mais ou menos
o final da dcada de 1940 caracterizaram-se pela dominao exercida pelo
grupo poltico liderado por Deodoro de Mendona, comerciante de cas-
tanha e secretrio estadual de governo durante a segunda gesto de Lauro
Sodr, entre os anos de 1917 e 1921.
Nesse contexto, a cidade dos notveis da borracha cedeu lugar ci-
dade dos notveis da castanha,13 com a ascenso do grupo poltico liderado
por Deodoro de Mendona e sua parentela. As mudanas na estrutura
poltica e econmica de Marab, bem como o crescimento da importncia
e do papel da cidade no resultaram em transformaes significativas nas
formas espaciais intraurbanas, cujas paisagens retratadas nas narrativas de

13 O jogo metafrico entre as cidades simblicas aqui apresentadas visa a identificar algumas
mudanas na estrutura poltica e econmica da cidade de Marab, atentando para o declnio e
para a ascenso de determinados grupos polticos do poder local. Tais mudanas, no entanto,
no devem ser compreendidas como uma ideia de ruptura total ou substituio de uma
estrutura poltica por outra, uma vez que coexistiam articulaes e alianas entre um grupo
poltico e outro. Devemos entender o jogo simblico como um elemento que permite revelar
a mudana do papel hegemnico que passou a ser exercido pela oligarquia dos Tocantins, e
para, alm disso, compreender as novas espacialidades provenientes da produo social da
cidade.

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52 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

viagem de Paternostro (1945)14 denunciam a permanncia de um cenrio


dominado por palhoas e casebres improvisados, onde os moradores
reproduziam-se socialmente a partir da forte explorao de sua fora de
trabalho, revelando, assim, a forma de expropriao associada atividade
de extrao e de comercializao da castanha.
A cidade dos notveis da castanha estruturou-se a partir das heranas
deixadas pela atividade da borracha, notadamente as prticas de aviamento,
que se reforaram com o extrativismo e a comercializao do produto, mas
tambm com base em outros itens, que exerciam carter complementar,
como o cristal de rocha e o diamante (Velho, 1981).
As estruturas socioespaciais (fsica, poltica, social e econmica) esta-
vam relacionadas ao poder exercido pelos grupos polticos locais que con-
duziam os rumos de muitas das transformaes na cidade (Emmi, 1999).
Assim sendo, a prtica do arrendamento dos castanhais pblicos, efetua-
da a partir de meados dos anos de 1920, constituiu estratgia de dominao
e controle social por parte da oligarquia dos castanhais, que detinham,
pelas vias do Estado, o monoplio da terra (Emmi, 1999).15
As tticas de atuao poltica das oligarquias consistiam no controle
dos meios de produo, a partir do exerccio da dominao do poder ins-
titucional (Emmi, 1999). A concesso de aforamentos por parte do Estado
contribuiu para a formao de um cenrio de intensa concentrao da es-
trutura fundiria no Sudeste Paraense, tendo como resultado a constituio
de grandes latifndios, indispensveis manuteno do poder e do controle
territorial exercido pelos oligarcas locais (Emmi, 1999).

14 A esse respeito, Paternostro (1945), em viagem ao mdio Tocantins no ano de 1935, descreve
o espao da cidade de Marab da seguinte maneira: Marab constitui-se em um acam-
pamento de arrendatrios de castanhais, de comerciantes e de apanhadores de castanha.
um centro com todas as caractersticas sociogeogrficas da produo extrativa vegetal.
Os arrendatrios controlam o produto que desce pelos rios, os comerciantes fiscalizam
os indivduos aos quais fornecem mercadorias pelo trabalho na safra e os apanhadores de
castanha encontram em Marab aguardente, mulheres e jogo, que no existem nas matas
(Paternostro, 1945, p.109).
15 Atravs dessa prtica, escolhem-se a dedo aqueles que tm o direito de acesso terra, que no
destituda de valor pelo aparecimento de relaes entre capital e trabalho; pelo contrrio,
transformada em propriedade territorial capitalista, sendo a condio bsica para a emer-
gncia do poder oligrquico, principalmente em virtude de o processo de arrendamento ter
retirado a possibilidade de acesso terra de posseiros e pequenos produtores da regio que,
expropriados das condies materiais de existncia, sujeitavam-se a formas aviltantes de
trabalho nos castanhais.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 53

A atuao dessas elites no processo de formao da estrutura fundiria


naquela sub-regio no se deu de maneira pacfica, posto que trabalhadores
rurais, como representantes de uma contrafinalidade insurgente, oferece-
ram, por vezes, severas resistncias ao domnio dos oligarcas da castanha.
Mas o monoplio dos meios de produo, do transporte e das comunicaes
exercido por parte da oligarquia dos castanhais garantiu a hegemonia dos
respectivos grupos (Emmi, 1999).
importante ressaltar, ainda, que a cidade dos notveis da castanha,
a exemplo da cidade dos notveis da borracha, caracterizou-se por uma
relao de dependncia com a rede de rios, que representavam elos entre
Marab e as diversas outras cidades que compunham a rede urbana paraen-
se. A nica exceo como alternativa de transporte da castanha, originada
das imediaes do Tocantins e Itacainas, at Alcobaa, hoje Tucuru, foi a
construo da Estrada de Ferro do Tocantins (concluda em 1944), em um
trecho de difcil transposio no Rio Tocantins devido presena de corre-
deiras que dificultavam a navegabilidade.
A dcada de 1950 marca, assim, um momento de consolidao da oli-
garquia do Tocantins, cujo poder hegemnico passou a ser exercido por
um grupo de comerciantes, fazendeiros e exportadores de castanha, dentre
os quais se destacou o tronco familiar Mutran (Emmi, 1999).
Conforme Almeida (2008b), at meados dos anos 1950 existiam trinta
ruas em Marab, cada uma compreendendo entre cinco e dez metros de
largura, e apenas a que contornava a Praa Duque de Caxias, onde se en-
contrava a prefeitura, era asfaltada. Para o mesmo autor, o bairro Francisco
Coelho, tambm conhecido como bairro do Cabelo Seco,16 situado na ex-
tremidade do pontal, no encontro dos dois rios (Tocantins e Itacainas),
era muito povoado. Tratava-se de um bairro habitado por comerciantes, la-
vradores e pescadores, cujo trabalho era facilitado pela proximidade com os
rios, que, para grande parte das famlias residentes na cidade dos notveis
da castanha, durante os anos de 1950, representavam espaos essenciais
para a reproduo social de seu modo de vida (Almeida, 2008b).

16 No existe uma explicao nica para justificar o nome do bairro. Moradores mais antigos
afirmam que a denominao decorreu do fato de o espao ter sido inicialmente habitado
por lavadeiras que, em consequncia de ficarem muito tempo ao sol, apresentavam cabelos
ressecados. Segundo outros relatos, havia ali uma zona de meretrcio, cujas moradoras, em
sua maioria, prostitutas, apresentavam cabelos ressecados em decorrncia do sol (Nova
cartografia social da Amaznia, 2007). Acredita-se, ainda, que a denominao est associada
presena marcante da populao negra no bairro desde sua origem (Par, s/d).

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54 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

De maneira sinttica, pode-se dizer que a cidade dos notveis da borra-


cha e a cidade dos notveis da castanha correspondem, em linhas gerais,
ao ncleo urbano denominado, na atualidade, de Marab Pioneira ou Velha
Marab (Figura 3). Esse ncleo, inicialmente ribeirinho, entre os anos de
1920 e 1950, apresentou uma tendncia interiorizao do povoamento,
com a busca de terrenos de cotas mais elevadas como forma de fugir s
constantes enchentes que assolavam a cidade todos os anos no perodo de
maior intensificao das chuvas.
Ao analisar os trs perodos de expanso da cidade presentes na Figura 3,
Dias (1958) aponta que entre 1929 e 1947 a cidade mudou sua fisionomia,
com o surgimento de ruas paralelas Avenida Antnio Maia17 e com a criao
de largas avenidas. Alm disso, passou a perder uma de suas caractersticas
at ento mais marcantes, a instabilidade de sua populao, o que se refletia
no padro das casas de palha que ainda existiam na cidade e que foram, aos
poucos, sendo substitudas por outras de tijolos/alvenaria. Pode-se verificar
que o crescimento da cidade, que historicamente acompanhou as margens
do Tocantins, agora tendia para as reas mais altas, raramente afetadas pelas
enchentes. Esse dado reforado pela transferncia das instituies pblicas
tambm para essas reas notadamente a Avenida 5 de Julho, atual Praa
Duque de Caxias , em detrimento da extremidade do pontal, onde as en-
chentes causavam transtornos todos os anos (Dias, 1958).
O segundo perodo de crescimento da cidade (1947-1954), presente na
Figura 3, caracteriza-se, segundo Dias (1958), pela expanso da rea urba-
na em direo zona rural do municpio a partir da Fazenda Santa Rosa,
onde se constituiu um novo bairro, que acabou conservando o antigo nome
da fazenda, e que no perodo estudado pela autora formava um espao peri-
frico nas proximidades do centro comercial de Marab.
Outra rea ocupada a partir da expanso urbana, at 1954, foi a localiza-
da no sentido sudeste do Rio Tocantins, que se constituiu, tal como a da Fa-
zenda Santa Rosa, por populaes que vinham para a atividade da castanha
e que ali se estabeleciam, tambm por haver a possibilidade de consegui-
rem emprego em outras atividades no perodo da entressafra, as chamadas
atividades de vero, como o garimpo, por exemplo. A ocupao se dava
tambm pelo fato de que nessa rea os terrenos eram os menos valorizados

17 A Avenida Antnio Maia era at ento a principal via da cidade de Marab.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 55

Figura 3: Velha Marab. Expanso urbana inicial. 1895 a 1954.


Fonte: Dias (1958).

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56 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

da cidade, visto que o abastecimento de gua e de alimentos era dificultado


em virtude da distncia do rio e do centro comercial da cidade (Dias, 1958).
A atuao das oligarquias locais como agentes hegemnicos que exer-
ceram forte monoplio dos meios de produo com vistas ao processo de
extrao da castanha, por meio do controle dos transportes e comunicao
e amparados na fora do aparelho poltico local, perdurou at aproximada-
mente o final dos anos 1960. A partir de ento, entrou em declnio, diante
das novas dinmicas regionais e urbanas que surgiram no Sudeste Paraense.
A poltica de desenvolvimento regional ento pensada para o espao ama-
znico desencadeou relaes de produo que repercutiram no rearranjo
das respectivas elites polticas locais.

1.3. A cidade da colonizao oficial

A dcada de 1960 foi marcada pela intensificao do processo de urba-


nizao do espao amaznico. As mltiplas transformaes evidenciadas
na regio nesse perodo esto diretamente relacionadas atuao do poder
estatal, que teve como objetivo promover o processo de modernizao do
territrio amaznico de maneira a inseri-lo como uma fronteira no contexto
de expanso capitalista nacional e internacional.
As mudanas ocorridas no padro de organizao do espao nessas cir-
cunstncias histrico-geogrficas, decorrentes do processo de estruturao
do territrio, contriburam para a redefinio da rede urbana paraense.
Nesse sentido, a inaugurao de eixos rodovirios configurou-se como
elemento estruturador e que exerceu forte impacto nas dinmicas de muitas
cidades ribeirinhas at ento no conectadas por rede rodoviria (Tavares,
1999). Marab, at o final dos anos 1960, apresentava uma lgica de ordena-
mento espacial eminentemente ribeirinha, tendo os rios como espaos que
permitiam a fluidez da circulao de mercadorias, pessoas e informaes.
Na escala do Sudeste Paraense, a implantao das redes rodovirias
exerceu influncia decisiva na formao de ncleos urbanos, que mais tarde
se transformariam em cidades e sedes de municpios s margens das rodo-
vias. A opo por esse tipo de circulao promoveu intensa reestruturao
regional (Quadro 6), da qual resultaram a decadncia de diversas cidades
ribeirinhas paraenses e a ascenso de outras (Tavares, 1999).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 57

Quadro 6: Sudeste do Par. Formao socioespacial no perodo da colonizao oficial e sua relao
com o contexto regional. 1960 a 1980.
Fases Elementos Principais elementos da Formao socioespacial do
do processo de configurao urbana Sudeste do Par e de Marab
produo do espao paraense
regional
1960 As rodovias como no- Reorganizao da rede Nova fragmentao poltico-territo-
a vos eixos de circulao. urbana e definio de um rial do municpio de Marab (1961),
1980 Presena marcante do sistema mais complexo de dando origem a outros municpios
Estado atravs de incenti- rede de cidades. (So Joo do Araguaia e Jacund).
vos, da criao de infraes- Maior incremento da ur- Decadncia do comrcio local por
trutura e de reparties banizao regional. conta da presena dos bancos, o que
pblicas. Surgimento e crescimen- ir conferir mais autonomia aos ar-
Criao de rgos de to de ncleos urbanos e rendatrios dos castanhais em relao
planejamento e financia- povoados ao longo das ro- aos comerciantes tradicionais locais.
mento. dovias e/ou ligados a pro- Diminuio relativa da importn-
Projetos de colonizao jetos de colonizao. cia da Marab ribeirinha, a partir
agropecurios. Revigoramento de cen- dos anos 1960, em decorrncia da
criao do eixo rodovirio Belm-
Estrutura fundiria tros sub-regionais articu- -Braslia, que ligou a regio amazni-
marcada pela grande pro- lados a uma nova dinmica
ca ao Centro-Sul do pas e provocou
priedade rural, com in- local. barateamento geral de mercadorias
centivos governamentais. Estagnao de cidades no espao local.
Predomnio de uma em reas de pouco impac- Instalao de agncias bancrias
mo de obra volante e to das frentes de expanso diretamente ligadas s polticas de
polivalente. econmica.
desenvolvimento regional (BASA
Maior articulao com o Urbanizao concentrada e Banco do Brasil) em Marab nos
Centro-Sul e o Nordeste. nas principais cidades. meados dos anos 1960.
Introduo de grandes Conformao metropoli- Construo da Rodovia Transama-
capitais na regio, ligados tana de Belm e incremento znica nos anos 1970-1971.
explorao de recursos das atividades industriais, Mudana na orientao do sistema
naturais regionais, nota- com o auxlio dos incenti- de transportes e comunicaes da na-
damente os minerais, ma- vos fiscais. vegao fluvial predominncia do
deireiros e energticos. transporte rodovirio.
Construo da PA-70 (atual BR-
222), o chamado ramal de Marab
para a Belm-Braslia, nos anos 1970,
e abertura da PA-150, em 1972, per-
mitindo maior fluidez para algumas
cidades do Sudeste Paraense.
Tendncia de expanso da grande
pecuria nos anos 1970 e empobreci-
mento dos vales midos, pela dimi-
nuio dos movimentos do comrcio
local.
Nos anos 1970, Marab torna-se
uma das cidades-base para a im-
plantao do projeto de urbanis-
mo rural conduzido pelo Instituto
Nacional de Colonizao e Reforma
Agrria (Incra) e pela Superintendn-
cia do Desenvolvimento da Amaz-
nia (Sudam).
Continua

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58 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 6: Continuao
Fases Elementos Principais elementos da Formao socioespacial do
do processo de configurao urbana Sudeste do Par e de Marab
produo do espao paraense
regional
Primeiros estudos acerca da viabi-
lidade da produo mineral em larga
escala no Sudeste Paraense.
Afloramento da provncia mineral
que ficou conhecida como a Serra das
Primeiras Descobertas Carajs, cujo
minrio passou a ser explorado pela
ento estatal Companhia Vale do Rio
Doce.
Incio dos anos 1970: Marab torna-
-se rea de segurana nacional e ter-
ritrio de atuao direta do governo
ditatorial.
Anos de 1970: criao e implantao
do ncleo urbano planejado da Nova
Marab, com um traado orgnico
em forma de folhas de castanheira,
com ingerncia direta do governo di-
tatorial e sob coordenao da Sudam.
Como consequncia da poltica dos
polos agropecurios implantados
pelo Incra no municpio de Marab,
expandiu-se espacialmente o ncleo
urbano da Cidade Nova, com aumen-
to da ocupao espontnea desse n-
cleo s margens da Transamaznica.
A gesto municipal de Marab foi
exercida por interventores nomeados
pelo governo federal.
Consolidao de Marab como ci-
dade da colonizao oficial, com a
definio de trs ncleos com perfis
urbanos bem distintos.
Elaborado por Saint-Clair C. da Trindade Jr., Michel de Melo Lima e Jovenildo Cardoso Rodrigues com base
em Velho (1981), Yoschioka (1986), Corra (1987), Tourinho (1991), Tavares (1992), Lima (1992), Mattos
(1996), Becker (1997), Moraes (1998), Emmi (1999), Almeida (2002), Petit (2003), Silva (2004), Coelho
(2005), Marab (2006), Marab (2008), Miranda (2009).

Essas mudanas verificadas no espao amaznico alaram algumas ci-


dades condio de centros urbanos de grande importncia regional, como
aconteceu com Marab, isso porque a rede rodoviria, possibilitando maior
fluidez da circulao, tendeu a privilegiar determinadas cidades tradicio-
nais que se tornaram entrepostos e entroncamentos de circulao, passando
a conectar-se direta e mais intensamente com outros ncleos urbanos em
nvel regional e extrarregional (Corra, 1987).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 59

Nessa perspectiva, Marab, como cidade dos notveis da castanha,


pautada na rede dendrtica e no poder restrito de oligarquias locais, passa
gradativamente a conviver com as novas polticas de desenvolvimento
regional que atingiram de forma decisiva a vida local e o padro de orde-
namento espacial do Sudeste Paraense. Configura-se, assim, a cidade da
colonizao oficial, cujas dinmicas de mobilidade passam a estar ali-
ceradas na rede rodoviria, na poltica de colonizao agrria definida
por agentes privados e pelo Incra, e por uma srie de redes tcnicas que
configuraram uma nova lgica de ordenamento territorial e novas prticas
econmicas e sociais (Tavares, 1999; Ribeiro, 1998).
Cabe ressaltar aqui o papel exercido pela cidade de Marab como espao
de convergncia de fluxos migratrios, bem como de concentrao e de
redistribuio de fora de trabalho para todo o Sudeste Paraense a partir
dos anos 1970. Dados dos censos demogrficos do IBGE, nas dcadas de
1970 e 1980, demonstram que o municpio sofreu um grande incremento
populacional, passando de 24.474 para 59.881 habitantes. Se comparar-
mos esses nmeros com os das dcadas seguintes, observamos, a partir
desse momento, a importncia dessa cidade como destino de grande parte
dos fluxos migratrios que se dirigiram para sua sub-regio: 505% (1970-
1991), representando um aumento de 99.194 habitantes em duas dcadas,
e 686% (1970-2000), com aumento de 143.546 habitantes em trs dcadas.
Ainda hoje, o crescimento populacional marcante, uma vez que, em 2010,
a populao do municpio atingiu 233.669 habitantes, sendo o contingente
populacional situado, em grande parte, na sede do municpio (79,29%) e
decorrente de processo migratrio.
Com o advento das redes tecnopolticas18 (rede rodoviria, rede de trans-
porte, redes eltricas, redes de comunicaes, rede urbana) (Becker, 1982;
1990), a partir da dcada de 1970, provenientes de intensos investimentos
governamentais, o avano do capital financeiro e industrial, bem como
de outras frentes de expanso atreladas ou no a atividades econmicas,
como a pecuria, a extrao madeireira e a agricultura camponesa (Hbette,
2004), contribuiu para a nova configurao de Marab, cujas marcas se

18 A esse respeito, Tavares (1999) destaca a expanso das dinmicas de distribuio das redes de
energia eltrica no Sudeste Paraense, ressaltando a importncia da cidade de Marab como
ponto estratgico dotado de diversificadas demandas de energia, com vistas a abastecer os
setores industrial, comercial e residencial.

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60 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

fizeram presentes notadamente em sua paisagem urbana, quando ento


novos ncleos, alm da Velha Marab, onde se originou a cidade, passaram
a constituir a estrutura da cidade (Idesp, 1977).
Em razo de limitaes fisiogrficas,19 a cidade fragmentou-se (Idesp,
1977), dando origem a outros dois ncleos urbanos relativamente descon-
tnuos, em relao Marab Pioneira, como passou a ser chamado, a partir
de ento, o ncleo mais antigo (a Velha Marab). O primeiro dos novos
ncleos, constitudo com base no planejamento governamental da Supe-
rintendncia do Desenvolvimento da Amaznia (Sudam), foi concebido
para ser um ncleo de equilbrio, de maneira a abrigar contingentes po-
pulacionais advindos da Marab Pioneira, notadamente aquela populao
cujas habitaes eram atingidas anualmente pelas cheias dos rios Tocantins
e Itacainas, bem como para servir de espao de conteno para fluxos
migratrios que se deslocavam para o Sudeste do Par (Tourinho, 1991),
movidos pela poltica de atrao assentada nos discursos de terras sem ho-
mens para homens sem terra e de integrar para no entregar, propagada
pelo governo militar em seu intento de definir uma nova ocupao para a
regio amaznica, em moldes capitalistas modernos.
Com um traado urbano inusitado, em forma de uma castanheira at
hoje no facilmente reconhecida no desenho da cidade, o ncleo da Nova
Marab,20 nos anos 1970, revelava um cenrio cujas ruas mais pareciam
labirintos, muitas vezes indecifrveis para os prprios moradores do lugar
(Tourinho, 1991). Ruas de terra batida, condies inadequadas de sanea-
mento bsico, ausncia ou morosidade de aes pblicas no sentido de
promover infraestrutura adequada para os moradores do local so fatores

19 A expanso horizontal contnua de Marab no foi possvel devido ao fato de que, ao norte, a
cidade era limitada pelo Rio Tocantins, ao sul, pelo Itacainas, a oeste, pela juno dos dois
rios, e a leste, apresentava terrenos de vrzea suscetveis a alagamentos constantes em pero-
dos das cheias dos dois rios. Diante disso, ocorreu uma expanso horizontal descontnua da
cidade (Idesp, 1977).
20 O ncleo da Nova Marab, localizado s margens da rodovia Transamaznica (Yoschioca,
1986), foi inicialmente pensado com base em um Plano Diretor Urbano que definiu os cami-
nhos a serem adotados para a construo da futura cidade, sob a incumbncia do Servio
Federal de Habitao e Urbanismo (Serfhau), que delegou a coordenao do processo de
implantao Sudam (Yoschioka, 1986). Em seu desenho urbano, em forma de castanheira,
destacam-se as folhas, espcies de unidades de vizinhana, que so numeradas para fins de
identificao e de melhor localizao no conjunto da cidade.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 61

que denunciavam a precariedade da cidade planejada para ser o ncleo


de equilbrio (Tourinho, 1991).21
Por sua vez, a constituio do Ncleo Integrado Cidade Nova,22 como
era chamado inicialmente (composto pelos bairros Amap, Cidade Nova,
Novo Horizonte, Parque das Laranjeiras e Agrpole Amap), estava rela-
cionada, no incio, ao processo de expanso espontnea, no planejada, da
cidade de Marab, devido ao intenso fluxo migratrio que se estabeleceu
nos ncleos urbanos planejados (agrovilas, agrpolis) em direo a Mara-
b, diante do fracasso da poltica de colonizao oficial empreendida pelo
governo federal, via Incra, ao longo da rodovia Transamaznica, na sub-
-regio do Sudeste Paraense.
Diante da crescente expanso que esse espao de ocupao espontnea
apresentou, bem como em razo do intenso aumento das demandas e rei-
vindicaes sociais de seus moradores, o ncleo urbano Cidade Nova23 foi
inserido no permetro urbano da sede do municpio, atravs da Lei no 742,
de 15 de dezembro de 1976 (Idesp, 1977). Configurava-se, assim, a cidade
tripartite de que nos fala Becker (1990), com trs ncleos bem definidos e
descontnuos, portanto, uma cidade multinucleada,24 ainda que compondo

21 Vicentini (2004) ressalta que a Nova Marab foi implantada tendo como principal objetivo
servir como centro de apoio aos grandes projetos, de maneira a receber fluxos migratrios,
bem como de prestar servios microrregio da qual faz parte. O projeto de sua implanta-
o, conduzido pela Sudam, apresentou como principal inovao o traado dos arruamentos
na forma de folhas de castanheira. O desenho urbano considerado excntrico, nunca foi
totalmente assimilado pela populao, de maneira que a prefeitura constantemente inaugu-
rava pontes (interligaes) entre as folhas, como so denominadas suas reas internas
(Vicentini, 2004).
22 A partir da dcada de 1970, Marab tem sua importncia revigorada, uma vez que passou a
constituir ponto estratgico para a implantao do projeto de urbanismo rural conduzido
pelo Incra (Tourinho, 1991). Como consequncia da poltica de colonizao baseada nos
polos agropecurios implantados pelo Incra, nas proximidades de Marab, expandiu-se
espacialmente, com aumento da ocupao espontnea, o ncleo urbano Cidade Nova, loca-
lizado s margens da rodovia Transamaznica (Tourinho, 1991).
23 Com o tempo, a denominao Ncleo Integrado Cidade Nova caiu em desuso, sendo atual-
mente chamado simplesmente Cidade Nova.
24 Para efeitos da presente anlise, denominaremos aqui de cidade multinucleada essa estrutura
urbana presente em Marab, pouco comum no conjunto das cidades mdias brasileiras,
normalmente marcadas pela presena de um nico centro principal. A preferncia por
essa denominao, e no a de cidade polinucleada, tem por objetivo diferenciar esse tipo
de configurao urbana daquelas outras estruturas, visivelmente mais complexas, que tm
servido para identificar as metrpoles contemporneas, caracterizadas pela vasta extenso,
pela disperso e pela descontinuidade dos diversos tipos de assentamentos que configuram o
tecido urbano. Por no se tratar de uma estrutura urbana metropolitana, pensamos ser mais

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62 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

uma s unidade urbana: a Velha Marab ou Marab Pioneira, a Nova Ma-


rab e a Cidade Nova.
A paisagem urbana da Cidade Nova, em meados dos anos 1970, com
ruas de terra batida e casas improvisadas, alm da ausncia de saneamento
bsico, energia eltrica e asfaltamento, revela o carter precrio desse n-
cleo de expanso (Idesp, 1977).
A condio de Marab rurpolis, segundo a concepo do urbanismo
rural definido pela colonizao oficial, cuja funo consistia em ocupar a
posio de liderana na hierarquia urbana proposta pelo governo federal ,
como ncleo administrativo principal, constituir-se-ia em centro de inte-
grao regional, responsvel por polarizar as agrpolis, de perfil interme-
dirio, e as agrovilas, que estariam na base da hierarquia urbana proposta.
Essa mesma condio contribuiu para o fortalecimento da centralidade
urbana dessa cidade no mbito do Sudeste do Par, tendo em vista a im-
portncia que passou a exercer como ponto estratgico para a expanso de
contingentes demogrficos e do grande capital nessa sub-regio.

1.4. A cidade econmica corporativa dos grandes


empreendimentos

A cidade de Marab, a partir dos anos 1980, tornou-se espao de atuao


do grande capital, cujo representante maior foi a Vale,25 que empreendeu
uma racionalidade empresarial pautada em prticas de controle do territ-
rio (Becker, 1992). Para tanto, o Estado, como gestor do territrio, exerceu
papel essencial na implantao e consolidao do domnio da respectiva
corporao, seja como agente estruturador do territrio, seja como indutor
de dinmicas econmicas e demogrficas para a Amaznia como um todo e
a sub-regio do Sudeste do Par, em particular (Quadro 7).

adequado denominar a configurao do tecido urbano de Marab como sendo o de uma


cidade mdia multinucleada, conforme passaremos a nomin-la ao longo deste trabalho.
25 Utilizamos a denominao Vale, dada a recorrncia desse nome para o reconhecimento da
Companhia Vale do Rio Doce, atravs da publicidade. Entendemos, entretanto, que essa
marca configura verdadeiramente uma estratgia propagandstica que parece ter como obje-
tivo alterar a imagem historicamente construda pela empresa ao longo de dcadas perante
a sociedade brasileira, e amaznica em especfico, estreitamente associada a fortes impactos
sociais, ambientais e territoriais, em decorrncia da forma e da lgica de explorao de recur-
sos naturais, a exemplo das reservas minerais existentes no Sudeste Paraense.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 63

Quadro 7: Sudeste do Par. Formao socioespacial recente e sua relao com o contexto regional.
1980 a 2012.
Fases Elementos do Principais elementos Formao socioespacial do
processo de da configurao Sudeste do Par e de Marab
produo do urbana paraense
espao regional
1980 Presena marcante Consolidao de novas A construo da Usina Hidreltrica
a de uma centralidade cidades como sedes de de Tucuru induziu intensos contin-
1990 capitalista perpe- novos municpios. gentes demogrficos para a regio,
tuada pelo Estado Disseminao de aglo- notadamente a partir do incio dos
Nacional atravs de merados rurais e urbanos anos 1980.
incentivos e da cria- com precria infraestru- Implantao do Projeto Carajs e
o da infraestrutura tura. construo do corredor de exportao
necessria para as at o porto de Itaqui, no Maranho.
empresas desenvol- Intensa fragmentao
verem suas ativida- poltico-territorial com a Em 1981, a cidade de Marab deixa
des, alm da insero criao de novos muni- de ser rea de segurana nacional e re-
das rodovias como cpios. toma a condio de territrio adminis-
novos eixos de circu- Disseminao do mo- trado pelo poder pblico municipal.
lao regional. delo cidade-empresa ou Forte atuao de atores sociais (ma-
Ao intensiva de company towns, como deireiros, fazendeiros, garimpeiros
empresas capitalis- base logstica de grandes etc.) que influem na construo de ter-
tas na explorao dos empreendimentos. ritorialidades conflituosas na regio.
recursos da regio. Incio das exportaes de minrio de
Nova estruturao ferro em larga escala a partir de 1982.
do espao pela pre- Surgimento de cidades vinculadas
sena de grandes explorao mineral, como Curio-
projetos, como aque- npolis, Parauapebas e Eldorado de
les ligados ao Progra- Carajs.
ma Grande Carajs. Alguns ncleos urbanos se firmam
Reafirmao dos como bases logsticas e espaos de
f luxos atravs da conteno de fluxos migratrios (Ma-
melhoria infraestru- rab, Parauapebas, Curionpolis, El-
tural aeroviria e a dorado dos Carajs).
presena da Estrada Marab constituiu-se base logstica
de Ferro de Carajs. da Vale e sede do mais importante dos
quatro polos industriais planejados
pela companhia.
Incremento do movimento de cria-
o do estado de Carajs, com sede em
Marab.
No ano de 1988, ocorre o desmem-
bramento de parte do territrio de
Marab, dando origem aos munic-
pios de Curionpolis e Parauapebas.
No ano de 1988, ocorre a instalao
do distrito industrial de Marab, com
o objetivo de formao do parque si-
derrgico, voltado para o beneficia-
mento do minrio de ferro explorado
pela Vale.
Continua

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64 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 7: Continuao
Fases Elementos do Principais elementos Formao socioespacial do
processo de da configurao Sudeste do Par e de Marab
produo do urbana paraense
espao regional
Forte presena de conflitos ligados
ao acesso terra agrria, com vrios
registros de violncia no campo.
Consolidao de Marab como uma
expresso de cidade corporativa, de
forte presena da Vale na definio da
estrutura urbana.
A Combinao de A rede urbana clssica Intensificao do processo de frag-
partir uma economia de substituda por um siste- mentao territorial com a formao
de fronteira com um ma de cidades que com- de municpios desmembrados de Ma-
1990 vetor tecnoecolgico bina diversos padres de rab e Parauapebas, como gua Azul
de desenvolvimento. urbanizao, localizao do Norte, Eldorado do Carajs e Ca-
Definio de uma e circulao. na do Carajs.
nova Poltica Nacio- Disseminao de aglo- Consolidao de uma rede urbana
nal Integrada para merados rurais, prec- complexa, com rebatimentos intensos
a Amaznia Legal rios e instveis. em municpios com maiores nveis de
com base no desen- Esgotamento do mode- centralidade, como Marab.
volvimento susten- lo cidade-empresa. Expanso de aglomeraes urbanas
tvel. precrias s margens de rodovias, a
Reforo s cidades de
Integrao amaz- porte intermedirio co- exemplo de Eldorado do Carajs e
nica como parte de nectadas por rios e rodo- Curionpolis.
um projeto nacional vias. Expanso do setor tercirio em cida-
de insero no atual des intermedirias, com redes de lojas
estgio da globaliza- Consolidao de novos
centros regionais. e supermercados que tendem a esta-
o. belecer filiais para outros municpios
Integrao das di- Crescimento econmi- do Sudeste do Par.
menses econmica, co e indcios de moderni-
zao em cidades situa- Significativo crescimento demo-
social e ambiental. grfico da populao do Sudeste Pa-
das em novas frentes de
Interesses e proje- expanso. raense e aumento das desigualdades
tos diferenciados: o socioespaciais intraurbanas.
discurso ecologista, Reforo metropoliza-
o de Manaus e Belm Crescimento da importncia e do
a geopoltica ecol- papel de cidades como Parauapebas
gica, os projetos al- (disperso em direo a
municpios vizinhos). e Tucuru.
ternativos de desen-
volvimento. Empobrecimento ge- Recrudescimento de conflitos agr-
neralizado de cidades de rios e urbanos, com papel decisivo de
Prioridades estra- resistncia empreendida por impor-
tgicas: rede hidro- grande, mdio e pequeno
porte, devido ao esgota- tantes movimentos sociais, a exemplo
grfica conectada s do MST.
demais vias de circu- mento de determinadas
lao, rede de energia frentes de expanso eco- Retomada do movimento e do dis-
e telecomunicaes e nmica no interior do curso emancipacionista que projetam
fluidez da rede ur- estado. Marab como capital do futuro estado
bana. de Carajs.
Crescimento acelerado de algumas
cidades do Sudeste do Par com re-
percusso na expanso da periferia de
cidades como Marab e Parauapebas.
Continua

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 65

Quadro 7: Continuao
Fases Elementos do Principais elementos Formao socioespacial do
processo de da configurao Sudeste do Par e de Marab
produo do urbana paraense
espao regional
A Marab reafirma-se como base lo-
partir gstica para a expanso de novos
de agentes capitalistas da regio e como
1990 centro importante para a projeo de
agentes polticos hegemnicos e con-
tra-hegemnicos.
Expanso da segunda etapa do Dis-
trito Industrial de Marab, a partir de
2005, com implantao de novas side-
rrgicas e rea disponibilizada para a
instalao de outras indstrias.
Presena de filiais de grandes cor-
poraes nacionais e internacionais
que passam a atuar na regio Sudeste
do Par a partir do ncleo urbano de
Marab.
Manuteno por parte de Marab da
condio de base logstica da Vale, par-
tilhando essa condio com a cidade
de Parauapebas.
Crescimento populacional e expan-
so do nmero de loteamentos e ocu-
paes urbanas, principalmente nas
reas perifricas.
Importncia de Marab como gran-
de emtroncamento rodovirio, ferro-
virio, aerovirio, hidrovirio, com
reforo de sua centralidade urbano-
-regional.
Fortalecimento do setor tercirio na
cidade de Marab, com a presena
de comrcios e servios que atendem
modernizao econmica urbana e
rural e que define igualmente um cir-
cuito econmico inferior e alternativo
que a caracterizam como cidade dos
agronegcios e das agrossubsistncias.
Conf igurao de Marab como
uma cidade mdia polinucleada, com
trs centros urbanos principais (Ve-
lha Marab, Nova Marab e Cidade
Nova) e dois secundrios (So Flix e
Morada Nova), com novas tendncias
de expanso urbana a partir da insta-
lao da Alpa,* mais recentemente, de
propriedade da Vale.
* Empresa da Vale que ser implantada na cidade de Marab, mais especificamente no ncleo Cidade Nova,
na rodovia Transamaznica, no sentido do municpio de Itupiranga.
Continua

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66 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 7: Continuao
Fases Elementos do Principais elementos Formao socioespacial do
processo de da configurao Sudeste do Par e de Marab
produo do urbana paraense
espao regional
A cidade econmica passa a subs-
tituir a cidade dos notveis do pas-
sado, definindo para Marab fortes
verticalidades, com o espao globali-
zado, e horizontalidades, com o espao
local e sub-regional.
Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr., Michel de Melo Lima e Jovenildo Cardoso Rodrigues, com
base em Velho (1981), Yoschioka (1986), Corra (1987), Tourinho (1991), Tavares (1992), Lima (1992), Mat-
tos (1996), Becker (1997), Moraes (1998), Emmi (1999), Almeida (2002), Petit (2003), Silva (2004), Coelho
(2005), Marab (2006), Marab (2008), Miranda (2009).

Os dados da Tabela 1 revelam o intenso crescimento demogrfico do


municpio de Marab. No levam em conta, entretanto, o processo de
fragmentao territorial (Quadro 3, p.42) que ocorreu a partir do territrio
desse municpio e que deu origem, conforme j demonstrado, principal-
mente a partir do final dos anos 1980 e incio dos anos 1990, a outros muni-
cpios do Sudeste Paraense, que tambm tiveram significativo incremento
demogrfico, com particular destaque para Cana dos Carajs e Parauape-
bas, os quais mais que duplicaram sua populao em dez anos, devido aos
grandes projetos de minerao neles instalados.
Tabela 1: Amostragem de municpios do Sudeste Paraense. Evoluo da populao total. 1970 a
2010.
Municpios Populao total
1970 1980 1991 2000 2010
Brejo Grande do Araguaia 11.939 7.464 7.324
Cana dos Carajs 10.922 26.727
Curionpolis 38.672 19.486 18.295
Eldorado dos Carajs 29.608 31.745
Itupiranga 5.346 15.651 37.011 52.655 51.258
Marab 24.474 59.881 123.668 168.020 233.669
Parauapebas 53.335 71.568 153.942
So Domingos do Araguaia 20.005 23.140
So Joo do Araguaia 15.322 35.774 19.824 12.247 13.149
Fonte: IBGE. Censos Demogrficos, 1979, 1980, 1991, 2000 e 2010.

Esse crescimento populacional mais expressivo em relao popula-


o urbana, posto que entre 1970 e 2010 esse segmento da populao, que
em 1970 j era predominante (59,53%), chegou a 79,97% do total em 2000,
com um mnimo decrscimo em 2010 (79,71%) (Tabela 2).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 67

Tabela 2: Marab. Variao da populao urbana e rural. 1970 a 2010.


Ano Populao urbana Populao rural
Abs. % Abs. %
1970 14.569 59,53% 9.905 40,47%
1980 41.752 69,72% 18.129 30,28%
1991 102.435 82,83% 21.233 17,17%
2000 134.373 79,97% 33.647 20,03%
2010 186.270 79,71% 47.399 20,29%
Fonte: IBGE. Censos Demogrficos 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010.

No contexto de crescimento populacional e racionalidade produtiva,


empreendida para a sub-regio em questo, a cidade de Marab assumiu
papel importante como entroncamento rodoferrovirio, constituindo base
logstica da Vale no mbito da rea de polarizao da empresa, que tambm
ficou conhecida como regio de Carajs (Becker, 1992), sendo hoje oficial-
mente reconhecida pelo governo estadual, para fins de planejamento, como
uma regio de integrao.26 formada pelos municpios de Marab, Bom
Jesus do Tocantins, Brejo Grande do Araguaia, Cana dos Carajs, Curio-
npolis, Eldorado do Carajs, Parauapebas, Palestina do Par, Piarra, So
Domingos do Araguaia, So Geraldo do Araguaia e So Joo do Araguaia,
todos fazendo parte da sub-regio que aqui estamos denominando de Su-
deste Paraense.

26 A partir da Resoluo n. 2, de 5 de fevereiro de 2004, o Governo do Estado do Par criou uma


nova regionalizao do territrio paraense e, com o Decreto n. 1.066, de 19 de junho de 2008,
definiu as denominadas Regies de Integrao. No processo de definio e identificao das
doze Regies de Integrao, levaram-se em considerao caractersticas como: concentrao
populacional, acessibilidade, complementaridade e interdependncia econmica. Ao todo
foram utilizados doze indicadores que permitiram uma verso preliminar para a regionali-
zao do estado: populao total e densidade populacional (IBGE 2000); concentrao de
localidades (Geopar 2002); repasse de ICMS (Sefa segundo semestre de 2002); renda
per capita (IBGE 1991); acessibilidade fsica (Sigiep 2002); consumo de energia eltrica
(Rede Celpa 2002); leitos por mil habitantes (Datasus/Seeps); ndice de Desenvolvimento
Humano IDH (PNUD 2000); telefonia fixa (Telemar 2002); ndice de Alfabetizao
(IBGE 2000) e fatores geopolticos. A partir do cruzamento desses dados, as doze Regies
de Integrao foram definidas e hierarquizadas em quatro nveis, em funo de seu grau
de acessibilidade, de dinmica econmica, ocupao populacional e nvel de acesso a equi-
pamentos bsicos e conectividade. Essa nova regionalizao reuniu as doze Regies de
Integrao nos quatro nveis: Nvel 1 Metropolitana (cinco municpios), Rio Caet (quinze
municpios) e Guam (dezoito municpios); Nvel 2 Araguaia (quinze municpios), Carajs
(doze municpios), Tocantins (onze municpios) e Baixo Amazonas (doze municpios); Nvel
3 Lago de Tucuru (sete municpios), Rio Capim (dezesseis municpios) e Xingu (dez muni-
cpios); Nvel 4 Maraj (dezesseis municpios) e Tapajs (seis municpios). (Par, 2008).

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O intenso papel estruturador exercido pela Vale a partir dos anos 1980
contribuiu decisivamente para que Marab se definisse como uma verda-
deira cidade econmica corporativa, ainda que fora dos moldes de cidade-
-empresa ou company town, a exemplo da cidadela de Carajs, na serra
de mesmo nome (municpio de Parauapebas). Essa condio possibilitou
maior fluidez das atividades econmicas modernas, de forma a atender s
novas demandas dos mercados local, regional e extrarregional.27
O ritmo das transformaes da cidade econmica corporativa revela-
-se claramente na paisagem urbana de Marab, entre outras expresses,
por meio de: expanso dos assentamentos urbanos nos novos ncleos; in-
tensificao dos fluxos de transportes intra e interurbanos, com destaque
para a Ferrovia de Carajs; implantao do parque siderrgico de Marab;
e ampliao e diversificao das atividades comerciais e de servios consi-
deradas modernas, que passam a surgir com vistas a atender precipuamente
s novas demandas corporativas.
Evidenciou-se, tambm, a presena de empresas que tendem a fixar-se
em diversos pontos da cidade, passando a atuar em atividades econmi-
cas complementares, a fim de atender s demandas da Vale, bem como
a fornecer produtos e servios como consultorias, assistncia tcnica para a
reproduo de bovinos, revendas de tratores, caminhes e automveis, em
geral para as elites polticas locais capitalizadas. Cabe ressaltar aqui a insta-
lao do Distrito Industrial de Marab (DIM), ocorrido na segunda metade
dos anos 1980, onde se passou a promover o beneficiamento de produtos
extrativo-minerais de interesse da empresa (Petit, 2003).
O processo de modernizao do territrio empreendido pelos grandes
projetos, particularmente o Projeto Ferro-Carajs (PFC), no municpio de

27 A dcada de 1980 representou um perodo de intensas mudanas no mbito da Amaznia


Oriental. Nesse contexto, evidencia-se a implantao do projeto Carajs, ainda nessa poca,
no territrio do municpio de Marab, bem como a construo do corredor ferrovirio de
exportao at o porto de Itaqui, em So Lus do Maranho (Coelho, 2005). A implantao
desses empreendimentos na sub-regio do Sudeste do Par trouxe consigo srios rebatimen-
tos socioespaciais em nvel local, devido ao estabelecimento de uma racionalidade produtiva
baseada na incorporao de novas verticalidades e horizontalidades. Nessa lgica, a cidade
de Marab sofreu um intenso processo de reestruturao produtiva, decorrente do estabele-
cimento de novas verticalidades que promoveram profundas alteraes nas relaes horizon-
tais existentes no espao marabaense, em razo da imposio de arranjos organizacionais de
origem exgena ao respectivo territrio (Coelho, 2006; Silva, 2004).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 69

Parauapebas, favoreceu o desenvolvimento de uma lgica de regulao no/


do territrio da cidade de Marab, aplicada pela Vale, posto que o ritmo das
atividades produtivas, de comrcio e de servios passou a estar direta ou
indiretamente relacionado aos interesses empresariais.
A atuao do grande capital, em Marab, reforou fluxos e, por conse-
quncia, a centralidade dessa cidade no contexto sub-regional e regional,
e promoveu tambm mudanas no mbito do espao intraurbano. A con-
solidao da cidade como polo industrial do Sudeste Paraense (Marab,
2006) contribuiu substancialmente para que a cidade econmica corpo-
rativa se fortalecesse como centro regional a partir dos anos 1980 e 1990.
No entanto, a paisagem urbana dessa cidade econmica corporativa
revela intensas contradies entre os centros dos ncleos urbanos, dotados
de redes de energia eltrica e de comunicaes, e as reas perifricas de
cada um deles, que se caracterizam por serem espaos dotados de precria
infraestrutura (Marab, 2006), alm do dficit quantitativo e qualitativo
da habitao. Tal fato permite que a lgica de desenvolvimento geogrfico
desigual (Harvey, 2004), to presente na escala regional, seja traduzida com
grande fora para a escala intraurbana.
O perodo que compreende o final dos anos 1980 e meados dos anos
1990 representou um tempo de mudanas no mbito da estrutura poltico-
-administrativa do territrio do Sudeste Paraense, movidas principalmente
pela Constituio de 1988, a qual estabeleceu algumas diretrizes cujas bases
estavam aliceradas no processo de descentralizao do poder da Unio,
que atribuiu novas competncias a estados e municpios.
Diante das novas configuraes polticas, os diversos atores (Vale, fa-
zendeiros, garimpeiros, camponeses, movimentos sociais etc.) passaram a
reivindicar junto ao governo estadual a criao de novos municpios, prin-
cipalmente na sub-regio do Sudeste Paraense (Silva, 2004). Em razo da
intensa presso dos diversos atores sociais, presentes e atuantes no cenrio
poltico da referida sub-regio, e do prprio rearranjo do poder local, com a
chegada de novos quadros polticos, ocorreu o processo de fragmentao de
alguns municpios paraenses, em especial do territrio de Marab, dando
origem a diversas outras cidades, j indicadas no Quadro 3 (p.42), o que
contribuiu para a reduo da rea e a alterao das densidades populacio-
nais no mbito municipal (Tabela 3).

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Tabela 3: Marab. Populao, rea e densidade demogrfica. 1970 a 2010.


Anos Populao (hab.) rea (km2) Densidade (hab./km2)
1970 24.474 37.373,00 0,65
1980 59.881 37.373,00 1,60
1991 123.668 15.288,16 8,09
1996 150.095 15.157,90 9,90
19971 156.685 15.157,90 10,34
19981 162.236 15.157,90 10,70
19991 167.795 15.157,90 11,07
2000 168.020 15.092,30 11,08
20011 173.301 15.092,30 11,48
20021 177.352 15.092,30 11,75
20031 181.683 15.092,30 12,04
20041 191.508 15.092,30 12,69
20051 195.807 15.092,30 12,97
20061 200.801 15.092,30 13,30
2007 196.468 15.092,30 13,02
20081 199.946 15.092,30 13,25
2010 233.669 15.092,30 15,48
Fonte: IBGE. Elaborao: Idesp/Sepof (1) apud Par (2007a). Populao Estimada. Adaptado.

Cabe ressaltar a influncia da Vale no mbito desse processo de fragmen-


tao territorial, uma vez que a presena da corporao na regio contribuiu
para a fragilizao das elites polticas tradicionais, as quais obstavam a
ao e os interesses dos novos agentes que nela se instalavam, por meio de
estratgias de manuteno e de controle do aparelho poltico institucional
municipal, bem como do estabelecimento de normas institucionais que
dificultavam as operaes de empresas como a citada mineradora (Silva,
2004). Com efeito, a Marab cidade econmica corporativa representa
um elemento emblemtico que sintetiza o processo de expanso do grande
capital e de privatizao do territrio no Sudeste Paraense, fazendo aluso a
Santos (1994a), para quem o territrio de uso e controle corporativo cons-
titui espao privatista, sujeito cooptao pela racionalidade empresarial.
Os trs principais ncleos urbanos de que constituda a cidade de Ma-
rab (Velha Marab ou Marab Pioneira, Nova Marab e Cidade Nova),
assim como os outros dois ncleos urbanos secundrios (So Flix e Mora-
da Nova) (Figura 4), formam fragmentos de um s espao.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 71

Figura 4: Marab. Estrutura multinucleada do espao urbano.

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As especificidades dessa formao urbana esto diretamente relacio-


nadas a diferentes processos que definiram as cidades dos notveis, a
cidade da colonizao oficial e, mais recentemente, a cidade econmica
corporativa. O perfil de Marab hoje, menos que negar os padres ante-
riores, a exemplo do padro ribeirinho identificado no conjunto da cidade
(Quadro 8), representa a sntese de todos eles e projeta a especificidade do
contexto dessa cidade em face da dinmica da rede urbana amaznica.

Quadro 8: Marab. Espaos de vivncias ribeirinhas na orla do Tocantins/Itacainas. 2012.


Identificao do espao Ncleo Principais usos e funes
Bairro Cabelo Seco Velha Moradia; atividades porturias de pequena escala;
(Francisco Coelho) Marab lazer no rio; uso domstico da gua do rio.
Rampa da Orla Sebastio Velha Atividades porturias de pequena escala; lazer no
Miranda Marab rio; uso domstico da gua do rio.
Espao Beira-Rio da Velha Moradia; uso domstico da gua do rio; lazer no rio.
Transmangueira (Bairro Marab
Santa Rita)
Rampa do Bairro Santa Rosa Velha Comrcio do pescado; lazer no rio; atividades
Marab porturias e pesqueiras de pequena escala.
Balnerio da Mangueira Velha Moradia; atividades porturias de pequena escala;
Marab intenso uso domstico da gua do rio; confeco/
reparos de canoas e rabetas; lazer no rio e na orla.
Lote da Rampa Nova Moradia; atividades porturias de pequena escala;
Marab lazer no rio; uso domstico da gua do rio.
Porto das Canoinhas Velha Moradia; atividades porturias de pequena escala;
Marab lazer no rio; uso domstico da gua do rio.
Amapazinho Cidade Moradia; uso domstico da gua do rio; atividades
Nova porturias de pequena escala; comrcio.
Balnerio Vavazo Cidade Moradia; uso domstico da gua do rio; atividades
Nova porturias de pequena escala; lazer no rio.
Porto do Tacho Cidade Moradia; uso domstico da gua do rio; atividades
Nova porturias de pequena escala; lazer no rio.
Comunidade do Geladinho So Flix Moradia; lazer no rio; atividades porturias de
pequena escala; uso domstico da gua do rio.
Rampa do So Felix So Flix Moradia; lazer no rio; atividades porturias de
pequena escala; uso domstico da gua do rio.
Balnerio Esprito Santo Vila Esprito Moradia; uso domstico da gua do rio; atividades
Santo porturias de pequena escala; lazer.
Fonte: Trabalho de campo, 2010 e 2012. Elaborado por Dbora Aquino Nunes e Michel de Melo Lima.

A cidade que navega pelas guas do Tocantins e do Itacainas permanece


viva nos barcos e canoas que chegam diariamente orla da cidade (Foto 1),
trazendo, entre outras coisas, produtos de ilhas e de outros espaos beira-
-rio, conhecidos como vazantes, pois no perodo em que o rio est mais baixo

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 73

que a colheita de produtos maior. tambm viva na vida diria de pesca-


dores e de moradores de bairros prximos ao rio, como Francisco Coelho
(Cabelo Seco) (Foto 2), Santa Rosa, Santa Rita, So Flix Pioneiro e Amap.

Foto 1: Marab. Ponte rodoferroviria sobre o Rio Tocantins. 2010.


A superposio de processos socioeconmicos de forte presena no Sudeste Paraense revela-se
tambm no espao intraurbano, por meio da convivncia de diferentes padres espaciais, a
exemplo da cidade ribeirinha e da cidade rodoferroviria.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., set. 2010.

Foto 2: Marab. Bairro Francisco Coelho (Cabelo Seco). 2010.


Local onde teve incio a cidade e em que as prticas sociais de seus moradores at hoje esta-
belecem forte relao de vizinhana e de permanncia nas mltiplas formas de interao da
cidade com o rio.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

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Essas permanncias se fazem presentes com uma dinmica de vida coti-


diana que, em muito, est ligada de forma marcante ao tempo do rio, ainda
que algumas prticas a ele relacionadas comecem a se alterar.
Se antigamente era possvel observar as palhoas beira-rio serem
anualmente reconstrudas aps as cheias, hoje os moradores adotam novas
estratgias para evitar o transtorno da mudana de endereo por causa das
enchentes, como a improvisao de pavimentos intermedirios em suas
casas, onde se abrigam e protegem seus pertences. Nessas circunstncias,
os moradores dependem basicamente do poder pblico local e de aju-
das humanitrias para ter gua potvel e alimentao. (Cardoso; Lima,
2009, p.177).
Por outro lado, a cidade se dinamiza tambm por via rodoviria, co-
nectando-se diretamente s estradas e buscando diminuir o tempo de cir-
culao de mercadorias. Assim, possvel evidenciar a coexistncia de um
tempo lento, da cidade ribeirinha, e de um tempo mais rpido, da cidade da
beira de estrada, que tambm cortada pela Estrada de Ferro Carajs.
Construda para transportar minrios advindos da regio de Carajs
e inaugurada em 1985, a estrada de ferro, que possui 892 quilmetros,
ligando Carajs (Par) ao Porto de Itaqui, em So Lus (Maranho), tam-
bm realiza o transporte de passageiros, na maioria migrantes que chega-
ram regio e a Marab, estimulados pelo dinamismo econmico que tem
marcado a cidade nas ltimas dcadas. A ferrovia de Carajs, com cinco
estaes, dez paradas, 330 vages e quatro locomotivas, alm do minrio
de ferro, em todo o seu tempo de existncia tem transportado mangans
e, em mdia, cerca de 5 milhes de toneladas anuais de produtos diversos
(CVRD, 2007). Conforme j citado, Marab cortada tambm pela fer-
rovia, e sua populao v passar o trem, diariamente, levando milhares de
toneladas de minrio de ferro para o porto de Itaqui, no Maranho, de onde
seguem ento para a China e outros pases compradores.
Alm de minrios, transporta tambm madeira, cimento, bebidas,
veculos, fertilizantes, combustveis e produtos agrcolas, destacando-se,
nesse ltimo caso, a soja produzida no sul do Maranho, no Piau, Par
e Mato Grosso, de acordo com o Ministrio do Transporte (MT, 2011;
ANTF, 2011). Em 2009, a Estrada de Ferro Carajs fechou o ano com mais
de 93 milhes de toneladas transportadas, sendo 89.538 s de minrio de
ferro e 3.988 de carga geral (CVRD, 2007). Quanto ao transporte de passa-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 75

geiros, em 2010, por exemplo, segundo dados da empresa, circularam por


ela, 339.790 pessoas (CVRD, 2007), sendo essa uma alternativa cada vez
mais presente para o fluxo de passageiros em diversas cidades atravessadas
pelos trilhos da ferrovia. Seu trajeto atinge 25 localidades entre povoados e
municpios, 21 deles no estado Maranho e quatro no estado do Par, com
uma mdia de 1.300 pessoas por dia teras, sextas e domingos, no sentido
Carajs-So Lus, e segundas, quintas e sbados, no sentido So Lus-
-Carajs sendo a quarta-feira dia reservado aos trabalhos de manuteno
dos carros e locomotivas (CVRD, 2007).
Paralelamente aos padres de organizao rio-vrzea-floresta e es-
trada-terra firme-subsolo (Porto-Gonalves, 2001), portanto, possvel
identificar um terceiro padro que nos parece adequado chamar de subso-
lo-ferrovia-cidade-porto, devido ao papel desempenhado pela Estrada de
Ferro Carajs, tambm de carter corporativo, posto que de responsabi-
lidade da Vale.
Da mesma maneira, a relao da cidade com a via area se faz cada vez
mais presente, tal o crescimento do nmero de passageiros e cargas (Tabela
4) que passaram a usar o avio como meio de transporte nos ltimos anos.
Alm das companhias de txi areo, de grande importncia para a cone-
xo de Marab com os municpios vizinhos, trs principais companhias
(TAM, Gol e Sette) possuem linhas regulares ligando Marab diretamente
a capitais brasileiras (Belm, Braslia, Palmas, Goinia), a outras cidades
de mdio e pequeno porte do Par (Redeno, Conceio do Araguaia,
Santana do Araguaia, Carajs, Ourilndia do Norte/Tucum, So Flix
do Xingu e Altamira) e a municpios de estados vizinhos (Araguana-TO e
Imperatriz-MA).

Tabela 4: Marab. Movimento operacional do aeroporto Joo Corra da Rocha. 2010.


Aeronaves Carga area Passageiros
Ano Quantidade Ano Quantidade Ano Quantidade
2005 5.827 2005 1.474.846 2005 87.153
2006 6.503 2006 1.303.144 2006 90.233
2007 8.899 2007 1.643.118 2007 188.271
2008 10.571 2008 2.215.494 2008 251.071
2009 9.592 2009 1.911.844 2009 243.094
Fonte: Infraero, 2010.

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76 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

A configurao do espao multinucleado definido por Marab no con-


texto atual (Figuras 4 e 5), dessa forma, constitui produto, meio e condio
de mltiplos padres de organizao socioespacial que se sobrepem e que
revelam as especificidades da formao socioeconmica regional e sub-
-regional. Tais padres reforam a convergncia de uma pluralidade de
fluxos capazes de conferir hoje importante centralidade urbana cidade,
proveniente de uma racionalidade que combina solidariedade orgnica
(horizontalidades), em escala mais prxima, e organizacional (verticalida-
des), em escala mais distante (Santos, 1996),28 fluidez essa que produziu e
produz srios impactos, sobretudo decorrentes de processos responsveis
pela mobilidade da fora do trabalho e de capitais que convergem para
Marab.
Esses processos tm definido no s desigualdades internas e intrar-
regionais, como tambm diferenciaes de ordem social e cultural que
rebatem na construo de uma identidade que, para alm de econmica,
tambm cultural e tem reforado a perspectiva de criao de um novo
estado da federao, o de Carajs, a ser formado a partir dos municpios
integrantes do Sudeste Paraense, e cuja capital seria Marab, a cidade de
maior projeo econmica dessa sub-regio. Nesse contexto, ela deixa de
ser apenas um espao de forte centralidade econmica para se tornar tam-
bm a cidade que projeta as foras polticas formadas e consolidadas nos
ltimos anos no Sudeste Paraense. Uma expresso dessas duas dimenses
ocorre a partir da relao campo-cidade, responsvel por definir alguns
elementos da centralidade urbana, os quais sero discutidos a partir de
agora, de maneira a visualizar suas manifestaes na configurao espacial
urbana atual.

28 Para Santos (1996), essas noes expressam atributos do espao no perodo tcnico-cientfico
-informacional que vivemos, marcado pela menor rigidez do ponto de vista da continuidade
e da contiguidade absoluta, que demarcaram em outros tempos maiores horizontalidades e
solidariedades orgnicas do ponto de vista espacial. Diferentemente, hoje, convivendo com
aquelas, mas ganhando cada vez mais notoriedade, as solidariedades organizacionais tendem
a substituir as solidariedades orgnicas de outrora.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 77

Figura 5: Cidade de Marab. Malha urbana distrital e rodoferroviria. 2005.

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2
ENTRE FRENTES ECONMICAS
E PROJETOS GOVERNAMENTAIS:
A RELAO CAMPO-CIDADE EM MARAB

Podemos entender, sinteticamente, as polticas estatais direcionadas para


a Amaznia a partir do trip integrao, ocupao e desenvolvimento. Em
termos de integrao, temos a instalao de vrias redes tcnicas no terri-
trio, ou seja, rodovias, redes energticas e de telecomunicaes. Quanto
ocupao, podemos ressaltar o forte estmulo migrao, expresso em gran-
des projetos implementados para gerar desenvolvimento regional e ocupar
o vazio demogrfico que representava a regio para os responsveis pela
poltica nacional. No que se refere ao desenvolvimento, podemos listar os
vrios incentivos e isenes fiscais oferecidos s empresas para se instalarem
na Amaznia atravs, por exemplo, de projetos que revelam, como mostra
Becker (1990), a produo de um espao transnacional, que se apoia em mul-
tinacionais estrangeiras e grandes empresas privadas nacionais e pblicas.
Decorrentes de uma viso deslocada de Amaznia (vazio demogrfico,
terra sem homens etc.), essas polticas geraram srios conflitos sociais e
variados problemas socioambientais, possibilitando a expanso de frentes
econmicas na regio e sua estruturao para receber o grande capital.
Isso pode ser visualizado, em primeiro lugar, na expanso de uma frente
agropecuria, posteriormente, de uma frente mineral e, recentemente, de
uma frente tecnoecolgica, ligada valorizao do capital natural, como
mostra Becker (2004).
Na realidade do Sudeste Paraense, a expanso dessas frentes econ-
micas, impulsionada por polticas governamentais, encontrou uma regio
amplamente ocupada por castanhais, que j definiam oligarquias regionais
(Emmi, 1999). Mas, para alm dos castanhais, que aparecem para a histria

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econmica, so vrios outros grupos sociais organizados, como ndios e


posseiros, que dinamizam a regio pelo tempo do rio e imprimem mem-
rias e narrativas at hoje presentes em cidades, vilas e povoados da regio.
Entretanto, o desenvolvimento de novas atividades econmicas pro-
vocou uma ampliao dos fluxos migratrios em fins da dcada de 1950 e
nas dcadas posteriores, principalmente a partir da construo da rodovia
Belm-Braslia. Contriburam tambm para esse processo a abertura do
ramal rodovirio (rodovia PA-70, hoje BR-222) entre o municpio de Ma-
rab e a Belm-Braslia (Municpio de Dom Eliseu), em 1969, e, finalmen-
te, a abertura da Transamaznica (BR-230), em 1971, e da PA-150, que
liga Moju a Redeno e, portanto, articula Marab com o Nordeste e Sul do
Par, tambm na dcada de 1970. Isso sem contar a construo da BR-153,
a partir de 1958, em seu trecho paraense, que liga o municpio de Marab a
So Geraldo do Araguaia. A malha urbana de Marab cortada pelas BR-
262, BR-230, PA-150 e pela Estrada de Ferro Carajs (Figura 5, p.77).
Outra medida que permite a expanso de frentes econmicas no terri-
trio a instalao da rede energtica, estendida para o Sudeste Paraense,
principalmente na dcada de 1990, inserindo-se na lgica de incentivo in-
dstria de extrao e transformao mineral do Programa Grande Carajs.
Esse melhoramento, diga-se de passagem, no garantiu populao o aces-
so irrestrito energia eltrica, uma vez que, ainda hoje, o servio desigual,
se compararmos as reas mais estruturadas das cidades s suas periferias e
aos assentamentos agrrios distantes das reas mais densamente ocupadas
(Tavares; Coelho; Machado, 2007).
A Tabela 5 demonstra que Marab e tambm outros municpios do
Sudeste do Par, como Itupiranga e Jacund, apresentaram, entre 1970
e 1996, um crescimento populacional entre os maiores de toda a regio
Norte, o que ratifica o grande fluxo migratrio recebido por esses munic-
pios no perodo.
As redes de telecomunicaes tambm ganharam destaque no que se re-
fere difuso e circulao de informaes na regio do Sudeste Paraense.
Nesse quesito, Marab assumiu posio importante, com dois jornais de
circulao diria (Jornal Opinio e Correio do Tocantins), e com vrias re-
petidoras das grandes redes de telecomunicao brasileiras, como a TV
Liberal Marab (Globo), a TV Eldorado (SBT), a TV Tocantins (Band),
SM Comunicaes (Rede TV) e TV Fox (Record).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 81

Tabela 5: Regio Norte do Brasil. Municpios com maiores taxas de crescimento populacional,
localizados ao longo das principais rodovias. 1970 a 1996.
Municpios-Estados Populao residente % %
(1991/1970) (1996/1970)
1970 1980 1991 1996
Altamira (PA) 15.345 46.496 72.408 78.782 372 413
Ananindeua (PA) 22.527 65.878 88.151 341.257 291 1.415
Araguana (TO) 37.780 72.063 103.315 105.019 173 178
Boa Vista (RR) 36.464 67.017 144.249 165.518 296 354
Itaituba (PA) 12.690 38.573 116.402 97.630 817 669
Itupiranga (PA) 5.346 15.651 37.011 37.771 592 607
Jacund (PA) 2.219 14.860 43.012 39.526 1.838 1.681
Marab (PA) 24.474 59.881 123.668 150.095 405 513
Paragominas (PA) 14.697 48.112 67.075 65.931 356 349
Paraso Tocantins (TO) 9.310 20.702 28.825 34.251 210 268
Porto Velho (RO) 84.048 133.882 287.534 294.227 242 250
So Flix do Xingu (PA) 2.332 4.954 24.891 40.983 967 1.657
Senador J. Porfrio (PA) 2.971 6.391 39.010 22.884 1.213 670
Variaes mdias (%) 598 694
Fonte: IBGE apud Bentes, Amin (2005).

A instalao dessas redes transporte, energia e telecomunicaes d


cidade de Marab um destaque, no apenas por seu papel como centro
difusor de informaes e concentrador de servios e instituies governa-
mentais, mas tambm por sua condio de entroncamento rodovirio. As
rodovias trazem consigo uma quantidade expressiva de migrantes e um
processo intenso de colonizao de suas margens, que, na regio Sudeste do
Par, processou-se, segundo Hbette (2004), por dois modelos de ocupa-
o: o oficial e o privado. O primeiro modelo, pautado na colonizao orga-
nizada pelo Incra, levou instalao dos colonos em lotes, em sua maioria,
de 100 hectares, e criao tambm das chamadas glebas, com lotes de 500
a 3 mil hectares. O segundo modelo, que na regio de Marab foi predo-
minante, caracterizou-se pela demarcao de terras por livre iniciativa de
mdios e grandes fazendeiros em reas devolutas, de florestas privatizadas
(castanhais) ou, ainda, de grandes fazendas de criao de gado.
A partir da dcada de 1980, com o agravamento da crise do balano de
pagamentos e da dvida mobiliria federal, o Brasil adota uma poltica de
ajustamento recessivo, priorizando assim o setor exportador. Com efeito,
percebemos um pacote de incentivos e estmulos para projetos exportado-

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res na Amaznia, especialmente na rea mineral. Nesses termos, intensifi-


ca-se a articulao da regio com a escala nacional e internacional.
A expanso dessas diversas lgicas na regio Sudeste do Par no ocor-
reu sem conflitos, uma vez que o que percebemos efetivamente a difuso
de formas diferentes de compreenso da natureza, ou seja, o jogo entre inte-
resses variados. Se entendermos a fronteira de acordo com Martins (1997),
veremos que no s da expanso de uma lgica sobre outras que se fala,
mas de uma situao de conflito social, sendo a fronteira essencialmente o
lugar da alteridade, do (des)encontro de perspectivas que denotam tempos
histricos distintos, ritmos de vida diferentes, formas de usar o espao e o
tempo que entram em confronto; da reforarmos a ideia de que s podemos
compreender o Sudeste Paraense se observamos o espao pela simultanei-
dade e coexistncia de mltiplos processos diversificados e contraditrios.
A partir daqui, discorreremos sobre essa simultaneidade e coexistncia
de variados processos produtivos, tempos histricos e concepes de des-
tino, para compreendermos melhor as relaes entre o rural e o urbano no
Sudeste Paraense, as quais so visualizadas, primeiramente, por meio das
ligaes entre a siderurgia, o carvoejamento e o plantio de eucalipto; em
um segundo momento, pelas vinculaes entre o agronegcio e a dinmica
urbana, assim como entre a dinmica de assentamentos agrrios e a cidade.

2.1. As siderrgicas, o carvoejamento e o plantio de


eucalipto: formas de relao entre o rural e o urbano

No mbito do processo de expanso capitalista na fronteira, produ-


zem-se tambm relaes no capitalistas. Isso acontece principalmente
num contexto em que o comrcio ainda preside a dinmica de expanso
do capital. A fronteira, nesses termos, um espao produzido por relaes
contraditrias, o qual carrega em si mltiplas temporalidades dspares,
territorialidades desencontradas, como nos mostra Martins (2010):

A produo capitalista de relaes no capitalistas de produo expressa no


apenas uma forma de reproduo ampliada do capital, mas tambm a repro-
duo ampliada das contradies do capitalismo o movimento contraditrio
no s de subordinao de relaes pr-capitalistas ao capital, mas tambm a
criao de relaes antagnicas e subordinadas no capitalistas [...]. Um com-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 83

plemento da hiptese que tal produo capitalista de relaes no capitalistas


se d onde e quando a vanguarda da expanso capitalista est no comrcio.
(Martins, 2010, p.37)

Nesse sentido, atividades como a produo siderrgica geram uma de-


manda crescente no entorno do parque industrial, como, por exemplo, a
produo de carvo mineral. As siderrgicas localizadas na cidade, em face
da abundncia de fora de trabalho, da proximidade dos servios e da in-
fraestrutura disponvel, polarizam grande parte da regio, principalmente
ao redor de Marab, que se especializa na produo do carvo. A demanda
crescente por carvo vegetal pode ser visualizada atravs da Tabela 6, que
demonstra a dinmica de produo do ferro-gusa na regio, entre a mina de
Carajs, no Par, e o Porto de Itaqui, no Maranho.

Tabela 6: Polo Carajs. Produo de ferro-gusa e demanda anual de carvo vegetal. 2000 a 2004.
Ano Produo Gusa (t) Demanda carvo (m3)
2000 1.543.892 3.296.016
2001 1.870.602 4.007.049
2002 2.080.313 4.450.718
2003 2.296.581 4.875.855
2004 2.734.329 5.808.196
Fonte: Ibama apud Assis; Halmenschlager; Oliveira (2008).

Como nos mostram Assis, Halmenschlager e Oliveira (2008), de incio


a produo de carvo era feita por famlias trazidas de estados como Minas
Gerais, Esprito Santo e Bahia, realizada em condies de trabalho as mais
precrias possveis. Atualmente, a maioria da produo de carvo tem ori-
gem em estabelecimentos familiares dispersos em um raio de 200 quilme-
tros a partir de Marab. At mesmo os agricultores familiares comeam a
produzir carvo, inserindo-se em uma cadeia de produo em que no tm
nenhuma autonomia, e a precariedade das condies de trabalho permane-
ce a mesma, como denuncia Monteiro:

Os empregos gerados na produo de carvo [so] de pssima qualidade,


medida que, para esses trabalhadores, as condies de trabalho e moradia
so extremamente precrias, as contrataes so temporrias, no contam com
garantias previdencirias e trabalhistas, no utilizam apesar da periculosidade
e insalubridade do trabalho qualquer equipamento de segurana, a remunera-

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o mensal dificilmente ultrapassa o salrio mnimo nacional, alm do que, em


alguns casos, esto sujeitos a mecanismos coercitivos que atuam no sentido de
buscar promover a imobilizao da fora de trabalho. (Monteiro, 1998, p.128)

A dinmica de produo do ferro-gusa tambm gera um processo avas-


salador de desmatamento na regio do entorno de Marab. Pelas estimati-
vas do governo brasileiro, o consumo atual de lenha para carvo destinado
produo de gusa de aproximadamente 14 milhes de metros cbicos.
Essa madeira procedente, em sua maioria, de florestas primrias e secun-
drias e, em pequeno monte, de reas de reflorestamento, que, alis, come-
am a proliferar na regio, sobretudo com o plantio do eucalipto, financiado
pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), o
que extremamente combatido pelos movimentos sociais da regio, uma
vez que vastas reas j vm sendo apropriadas pelas grandes empresas para
projetos de reflorestamento.
Temos, portanto, duas formas de relao com a natureza que se arti-
culam para a transformao do ferro em ferro-gusa. Para que esse proces-
so ocorra, preciso utilizar carvo, seja ele mineral e/ou vegetal. Como
consequncia, vemos, de um lado, o surgimento de vrias carvoarias, boa
parte com trabalho escravo ou semiescravo, contribuindo para elevar as
estatsticas desse regime no Par, onde, entre 2008 e 2009, foram resgata-
dos 1.137 trabalhadores em condies anlogas escravido, encontrados
em carvoarias, fazendas e em outras situaes de emprego, segundo os
relatrios do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE, 2010). De outro
lado, observamos um macio investimento das siderrgicas no plantio de
eucalipto, formando extensas reas de monocultura, como o caso de uma
empresa cujo grupo de comando, alm de investir prioritariamente nesse
campo, atua tambm nos ramos do comrcio, de imveis e da indstria,
como afirma um de seus representantes entrevistado:

A carvoaria nossa abastece 60% da minha produo e os outros 40% de


empresas da regio, isso at 2013, porque hoje ns j estamos com 4 mil hec-
tares plantados de eucalipto e eu preciso de 9 mil hectares para ficar autossus-
tentveis e at 2013 conseguimos plantar. Plantamos s na rea degradada, isso
importante ressaltar. (Representante de grupo empresarial com atuao no
ramo siderrgico em Marab, em entrevista realizada em 28 jan. 2010)

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 85

A dinmica de um processo produtivo extremamente desigual comea


a ganhar contornos claros com as estratgias usadas pelas prprias siderr-
gicas para gerar fornecedores de carvo. A Companhia Siderrgica do Par
(Cosipar), por exemplo, localizada em Marab, desde o incio terceirizou
a produo do carvo. Para viabilizar essa iniciativa, montou um esquema
de financiamento que envolvia o fornecimento de tijolos e o adiantamento
em espcie para os que se prontificassem a produzi-lo exclusivamente para
a empresa. Usou tambm a estratgia de comprar o carvo direto do pro-
dutor que, assim, no precisava ter caminhes para o transporte (Monteiro,
1998), e a dvida contrada pelo financiamento seria paga com a produo.
Essa estratgia demonstra a maneira como se criou um sistema pro-
dutivo em que o produtor de carvo torna-se bastante dependente das
empresas siderrgicas. Indica tambm formas de organizao do espao
rural conduzidas pela expanso da atividade industrial urbana, dentre as
quais a plantao do eucalipto teve seu papel na dinmica de subordinao
do campo indstria.
A rede de dependncias no mbito da produo da indstria mineral,
por um lado, refora relaes desiguais entre a cidade com seu contedo
de relaes urbano-industriais e o campo, que se apresenta preenchido
por relaes de produo (que envolvem o trabalho escravo) do carvo
mineral, atreladas, desigual e combinadamente, s relaes urbano-indus-
triais das atividades siderrgicas articuladas ao mercado global. Por outro
lado, o investimento em eucalipto forma latifndios de monocultura com
pequena fora de trabalho agregada, contribuindo para o aprofundamento
da concentrao fundiria e tambm, muitas vezes, expulsando o trabalha-
dor do campo.
Em termos gerais, os grandes projetos da indstria mineral na Amaz-
nia no geram o to propalado desenvolvimento regional, em virtude de
fatores como: dificuldade de enraizar o desenvolvimento, limitada capa-
cidade de encadeamento produtivo, grande dependncia de dinmicas ex-
trarregionais, falta de contribuio para a formao de um capital humano
regional, gerao de receita tributria pouco expressiva se comparada com
os lucros das empresas, concentrao de capitais geralmente sob controle
extrarregional, sistemas industriais homogneos que no consideram as
especificidades regionais, aproveitamento do potencial energtico e de bio-
massa regional sem o retorno necessrio, alm da degradao ambiental de
reas no recuperadas (Monteiro, 2001).

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86 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Se o ferro-gusa a matria-prima do ao, no podemos negar que o tra-


balho assalariado das grandes montadoras de automveis, mundo afora, s
existe em funo do trabalho escravo das carvoarias e da concentrao fun-
diria provocada pelo plantio do eucalipto na Amaznia. Essas microrre-
laes, muitas vezes invisveis a um olhar estrutural, que dinamizam as
relaes entre o rural e o urbano no Sudeste Paraense e estruturam Marab
como centralidade urbana na regio.
Mas no so apenas esses os termos das relaes entre o urbano e o rural
no Sudeste do Par. A expanso do agronegcio na regio, principalmente
a partir da entrada de grandes frigorficos e laticnios, tambm reconfigura
as relaes entre o rural e o urbano e o papel de Marab no interior dessas
relaes.

2.2. A difuso do agronegcio e suas variantes urbanas:


a produo do gado de corte, do leite e de seus
derivados

A pecuria sempre foi uma caracterstica marcante no Sudeste Paraense,


sendo, inclusive, um dos elementos responsveis pela grande concentrao
fundiria e pelo intenso desmatamento na regio. De ordinrio localizadas
s margens das rodovias abertas pelos governos militares na Amaznia, as
fazendas de gado sempre apresentaram baixa produtividade e ampla rea
apropriada.
Recentemente observamos na regio a formao de um conjunto de
atividades auxiliares que indicam o surgimento de algumas cadeias produ-
tivas ligadas pecuria, sobretudo com a instalao de vrios frigorficos e
laticnios, beneficiados por incentivos e isenes fiscais. O Sudeste Paraen-
se, segundo os dados do ltimo censo agropecurio do IBGE referente ao
ano de 2006, rene 68% do rebanho bovino do estado do Par, totalizando
8.719.371 cabeas de gado (IBGE, 2009). Enquanto, em todo o Brasil, o
aumento do rebanho foi de 12,1% na ltima dcada, no Par o crescimento
registrou 119,6%, e o nmero de estabelecimentos ligados pecuria bo-
vina, no estado, subiu de 62.632 para 82.651. Se considerarmos o percen-
tual do rebanho bovino concentrado na regio, podemos identificar um
crescimento proporcional no Sudeste Paraense, com destaque para alguns

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 87

municpios, como So Flix do Xingu, Redeno, Conceio do Araguaia,


Parauapebas, Paragominas e Marab (IBGE, 2009).
Como citado, esse novo salto da pecuria est relacionado chegada de
grandes empresas que atuam no setor de frigorficos e laticnios, de cujos
empreendimentos resulta uma cadeia produtiva ligada ao gado de corte e
ao leite. O Quadro 9 demonstra a quantidade de frigorficos existentes na
regio, e os de maior porte, bem como a origem do capital dos grupos de
investimento aos quais esto ligados, esto descritos no Quadro 10.

Quadro 9: Sudeste do Par. Principais frigorficos instalados. 2010.


Frigorficos Municpios
Frigol Par gua Azul do Norte
Frigorfico Trs Irmos gua Azul do Norte
Mofrinorte gua Azul do Norte
Margem Frigorfico Conceio do Araguaia
Frigorfico Industrial Eldorado Ltda. Eldorado dos Carajs
Frigorfico Bertin Marab
Frigorfico Eldorado Marab
Fricarnes Marab
Mafrinorte Matadouro Frigorfico do Norte Marab
Ltda.
Frigonorte Marab
Fricam Marab
Redeno Frigorfico do Par Ltda. Redeno
Margem Frigorfico Redeno
Frigorfico do Par Ltda. Redeno
Frigorfico Redeno Ltda. Redeno
Frigorco Rio Maria Rio Maria
Frigomax Com. e Ind. de Carnes e Alimentos Rondon do Par
Ltda.
Frigorfico do Par Ltda. Santana do Araguaia
Atlas Frigorfico Ltda. Santana do Araguaia
Frigorfico Tucum Ltda. Tucum
Frigorfico Mercosul Tucum
Redeno Frigorfico do Par Ltda. Tucum
Friboi Xinguara
Frigoxin Comercial Ltda. Xinguara
Mafripar Frigorfico Ltda. Xinguara
Fonte: Trabalho de campo, 2010. Elaborado por Bruno Cezar Pereira Malheiro.

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Quadro 10: Sudeste do Par. Principais grupos do ramo de carnes com


investimentos na sub-regio. 2010.
Frigorficos Origem do capital
Bertin Lins (SP)
Friboi Anpolis (GO)
Frigol Par Lenis Paulistas (SP)
Margem Barretos (SP)
Mercosul Porto Alegre (RS)
Fonte: Trabalho de campo, 2010. Elaborado por Bruno Cezar Pereira Malheiro.

O grupo Bertin, responsvel por 22% das exportaes de carne no Brasil,


foi o primeiro a investir na regio. No comeo de 2005, comprou o frigor-
fico Marab, do grupo Frigoclass, onde abate oitocentas cabeas por dia.
Em 2007, arrendou, com opo de compra, trs unidades do frigorfico,
com plantas localizadas em Redeno, Santana do Araguaia e Tucum, as
quais, juntas, devem abater mais de 2 mil cabeas de gado por dia (Bertin,
2006). Outro grande grupo do setor o Minerva que, em Redeno, fez um
investimento de 40 milhes de reais em um frigorfico que tem capacidade
para abater oitocentas cabeas por dia e tambm faz a desossa. J o gacho
Mercosul construiu uma unidade para o abate de 1,5 mil cabeas por dia em
Tucum (Rocha, 2007).
Recentemente, o Ministrio Pblico Federal, atravs da Procuradoria
da Repblica do Par, denunciou trs grandes frigorficos da regio Ber-
tin S/A, Bracol Holding Ltda. (tambm do grupo Bertin, localizado em
Castanhal-PA) e Redeno Frigorfico do Par Ltda. por comprarem
carne de fazendas cujos proprietrios descumprem a legislao ambiental
e promovem o desmatamento, tornando os frigorficos corresponsveis
por todos os danos causados ao meio ambiente (MPF, 2009). O episdio
demonstra que a pecuria na regio Sudeste do Par, embora tenha experi-
mentado um processo de beneficiamento e formao de cadeia produtiva,
no deixa de ser extensiva e de baixa produtividade, alm de se colocar
como a responsvel por 80% do desmatamento que ocorre na Amaznia,
gerando uma srie de outros problemas ambientais (Greenpeace, 2009).
Juntamente com os frigorficos, instalaram-se tambm na regio os
laticnios, identificados, os principais, no Quadro 11. Nesse ramo de ati-
vidades, como nos mostra Alves (2006), foram os pequenos e mdios in-
vestidores que entraram, prioritariamente, o que demonstra um capital
investido bem menor, comparado ao dos frigorficos citados.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 89

Quadro 11: Sudeste do Par. Principais laticnios instalados at o ano 2005.


Empresa Municpio
M.M Bom Jardim Porto Ltda. (Leite Paraso) Marab
Coelho & Handem Ltda. (Usbel) Marab
Vitolac Vitria Indstria de Laticnios Marab
BBN Betnia Brasil Norte Laticnio Ind. Ltda. Marab
Lebom Indstria de Laticnios Ltda. Marab
Paraleite Ind. e Com. de Laticnios Ltda. Marab
Queijo Sagrada Famlia Marab
R. L. de Castro Laticnios (Lat. Ouro Bom) Jacund
Laticnios Mineiro Ltda. Jacund
Indstria e Comrcio de Laticnios Cana Ltda. Cana dos Carajs
Laticnios Nortesul Ltda. Cana dos Carajs
Vitolac Vitria Indstria de Laticnios (Filial) Nova Ipixuna
Ind. e Com. de Laticnios Ipixuna Ltda. (ICI Lat.) Nova Ipixuna
Indstria de Laticnios Eldorado dos Carajs Ltda. Eldorado dos Carajs
Laticnios Morrinhos Ind. e Com. Ltda. (Leitbom) Redeno
Laticnios Nortesul Ltda. Redeno
Indstria e Comrcio de Queijos Xinguara Xinguara
Gois Minas Indstria de Laticnios Ltda. (Italac) Xinguara
Asa Agroindustrial de Alimentos S/A Xinguara
Laticnios Nata Ltda. Xinguara
Indstria de Laticnios Recanto do Par Ltda. Xinguara
Phoenix Indstria e Comrcio de Laticnios Ltda. Xinguara
Laticnios Morrinhos Ind. e Com. Ltda. (Leitbom) Xinguara
Laticnios Frylac Ltda. Tucum
Ind. de Laticnios da Amaznia Ltda. (Lat. Ilda) Tucum
Laticnios Natta Ltda. Tucum
Indstria e Comrcio de Lat. Sabor do Norte Ltda. Tucum
Fbrica de Laticnios Tucum (Lat. Tuculeite) Tucum
Laticnios Morrinhos Ind. e Com. Ltda. (Leitbom) Conceio do Araguaia
Laticnios Nortesul Ltda. Conceio do Araguaia
Indstria e Comrcio de Laticnios Sudoeste Ltda. So Flix do Xingu
Laticnios Ladeira Vermelha Ltda. So Flix do Xingu
Ind. e Comrcio de Laticnios Vale do Xing Ltda. So Flix do Xingu
Gvinah Ind. e Comrcio de Alimentos Ltda. Rio Maria
Gvinah Ind. e Comrcio de Alimentos Ltda. Floresta do Araguaia
Indstria e Comrcio de Laticnios Ourilndia Ltda. Ourilndia do Norte
Laticnios Soberano Ltda. Ourilndia do Norte
Fonte: Chaxel (2005).

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Esse conjunto de laticnios responsvel por uma considervel produ-


o de leite (Tabela 7) e de seus derivados, na regio, com destaque especial
para os municpios de Eldorado dos Carajs e Jacund, grandes produtores
de leite. Isso se deve ao fato de os municpios de maior porte terem dificul-
dade com o escoamento da produo devido distncia entre os laticnios
e os postos de coleta. Ao contrrio, quando as rodovias cortam proporcio-
nalmente todo o municpio, como ocorre em Eldorado dos Carajs e So
Domingos do Araguaia, e em grande parte de Jacund (Alves, 2006), existe
uma grande vantagem para o transporte da produo.

Tabela 7: Sudeste do Par. Produo anual de leite por


municpios em 2004.
Municpio Produo anual (mil/ano)
Eldorado 22.908
Jacund 20.382
Cana dos Carajs 18.137
Marab 15.557
Bom Jesus 14.179
Nova Ipixuna 12.625
So Domingos 12.018
Rondon 8.715
Itupiranga 5.954
Abel Figueiredo 3.620
Curionpolis 3.385
So Joo 1.220
Parauapebas 657
Total 139.357
Fonte: Chaxel (2005).

Se a coleta um elemento determinante para a dinmica da cadeia pro-


dutiva do leite, porque ela feita de duas maneiras, como bem retrata um
representante do Sindicato das Indstrias de Laticnios e Produtos Deriva-
dos do Par (Sindileite) de Marab:

[...] So duas situaes. Tem situao em que o transporte que considerado


o transporte em lato, o transporte de leite em lato, uma situao. O que
o transporte de leite em lato? aquele transporte que o produtor tira ali seus
cinquenta mil litros de leite e tudo mais, passa o caminho todo o dia na porta

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 91

dele, pe o lato em cima e entrega na empresa. E tem outra situao, os pro-


dutores que j trabalham com os tanques de resfriamento. Nesses casos, nesse
primeiro caso a que eu te falei, vai direto da fazenda para a indstria. Na outra
situao, que o resfriamento do leite, o tanque de resfriamento, em algumas
regies, tem seus tanques de resfriamento, a esse leite resfriado e de dois em
dois dias o caminho-tanque da indstria passa, faz a coleta do leite e leva para
a indstria. outra situao, entendeu? O em lato todos dias! E o resfriado
no precisa ser todos os dias! Pode ser de dois em dois dias. (Representante do
Sindicato das Indstrias de Laticnios e Produtos Derivados do Par Marab,
entrevista realizada em 26 jan. 2010)

A exemplo da dinmica relacionada siderurgia, a cadeia de produo


do gado de corte e do leite desenha relaes desiguais, dadas as estratgias
que frigorficos e laticnios criam para diminuir seus custos de produo e
garantir fornecedores.
Alguns estudos, como os elaborados por Feitosa et al. (2009) e Macha-
do (2000), destacam o grande nmero de pequenas unidades de produo
familiar sobrevivendo da venda do leite e de animais, sem, no entanto, de-
senvolver nenhuma outra atividade agrcola que venha a servir como com-
plementao da renda familiar. A venda de bezerros e novilhos faz que os
pequenos produtores funcionem como uma espcie de abastecedores para
os mdios e grandes produtores que, por sua vez, em geral, abastecem os fri-
gorficos e laticnios. Essa relao desigual da cadeia produtiva do gado e do
leite bem explicitada por um representante do Sindicato Rural de Marab:

Hoje o trabalhador no tem condies de juntar vinte bezerros e engordar, e


a ele vai e vende os dois primeiros bezerros que aparecer para o atravessador,
e a o atravessador quem pode comprar os bezerros, e a vende pro grande pro-
dutor, que o fazendeiro, e a o vnculo da agricultura familiar com a produo
do gado ou do laticnio esse; nos laticnios mais direto, porque ele vai e pega
10, 20, 30, 50 litros de leite toda semana e leva, mas no caso do gado, existe o
atravessador no meio e ele que ganha, e esse atravessador o grande fazen-
deiro. Eles vm e saem comprando bezerro dois, trs pra formar uma boiada
[...] a eles colocam pra engordar. esse fazendeiro que tem o elo direto com
o mercado, porque eles tm condies de colocar duzentos bezerros pra se for-
mar e a abastecer o frigorfico. (Representante do Sindicato Rural de Marab,
entrevista realizada em 29 jan. 2010)

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A prpria dinmica de financiamento rural, por priorizar os propriet-


rios ligados pecuria, reproduz essa lgica desigual:

E a eu digo que o governo errou feio, porque os primeiros financiamentos


que saem so para gado [...]. Ento se o governo investiu em gado e hoje quer
voltar discusso de preservar 80% do lote: querer colocar gua fria naquilo
que esquentou antes. Quem foi o culpado? Foi o governo, porque se voc no
podia derrubar, como voc faz um financiamento pra gado? [...]. Hoje eu digo
que 60% do leite dos laticnios da regio abastecido pelo leite dos projetos de
assentamento da regio. (Representante do Sindicato Rural de Marab, entre-
vista realizada em 29 jan. 2010)

O representante da Federao das Cooperativas da Agricultura Familiar


do Sul do Par (Fecat) reitera que:

[...] A gente enxerga nisso um problema muito srio, pois voc v que os pr-
prios bancos, hoje, que pra voc fazer um projeto de fruticultura, eles no te
financiam se no tiver gado de corte ou gado de leite. Ento ns sofremos muito
com essa questo. Falta ter essa viso produtiva e a voc tem dez alqueires de
terra, voc derruba a metade e comea a criar gado, daqui a uns quatro ou cinco
anos chega concluso que ele no tem condio e vende o lote pra outro, por-
que no tem um p de acerola, cupuau, laranja, s pasto, s tem bezerro e leite
pra vender pro atravessador. (Representante da Federao das Cooperativas da
Agricultura Familiar do Sul do Par, entrevista realizada em 29 jan. 2010)

De maneira geral, o que se desenha, novamente, uma rede de relaes


desiguais articuladas por uma cadeia produtiva do gado de corte e do leite,
que retira a autonomia dos produtores familiares. Nessa mesma dinmica,
contraditoriamente, a expanso do capital e o adensamento tcnico da pro-
duo do gado e do leite promovem uma modernizao da pecuria, que
refora formas e relaes de um capitalismo rentista, pois a maioria das fa-
zendas da regio ainda utiliza a pecuria extensiva, o que nos leva a concluir
que o beneficiamento da carne bovina na regio do Sudeste do Par corro-
bora a concentrao fundiria na regio. Como condio de existncia das
caixinhas de leite nos supermercados e da carne consumida mundo afora,
est a subordinao da produo familiar, o trabalho servil e escravo prati-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 93

cado ainda em muitas fazendas e a acelerao da concentrao fundiria na


Amaznia, sem falar no processo de desmatamento causado por esse tipo
de atividade.
A rede de relaes desiguais ganha contornos espaciais na relao ci-
dade-campo. Enquanto as cidades, nesse caso, principalmente Marab e
Redeno, concentram as atividades de beneficiamento da carne bovina
e do leite, bem como os servios ligados ao setor, no campo, observa-se, por
um lado, um conjunto de agricultores familiares que perdem a capacidade
de produo para sua subsistncia e se inserem em relaes desiguais, e,
por outro, mdios e grandes fazendeiros que direcionam sua produo para
o beneficiamento nas realidades urbanas, continuando a reproduzir uma
pecuria extensiva e possibilitando a elevao do nmero de latifndios.
Tratando especificamente de Marab, sob essas lgicas, sua centralida-
de fica clara, no apenas devido concentrao dos frigorficos e/ou latic-
nios, mas tambm aos servios que a cidade oferece: contbil e bancrio (11
agncias e 21 postos de atendimento bancrio), consultoria relacionada ao
setor e lojas especializadas em agropecuria (Quadro 12).

Quadro 12: Marab. Estabelecimentos comerciais ligados ao setor da agropecuria. 2010.


Nome dos estabelecimentos Localizao
Agropecuria JVM Ltda. ME Nova Marab
Agroquima Prod. Agropecurios Ltda. Cidade Nova
Agroverde Sementes Cidade Nova
Asa Agropecuria Cidade Nova
Casa da Roa Cidade Nova
Casa do Pecuarista Cidade Nova
Casa do Produtor Cidade Nova
Fecap Cidade Nova
Hidroservice Amaznia S/A Nova Marab
Grupo de Apoio Agricultura Familiar Nova Marab
Jos Miranda Agroindustrial Ltda. Nova Marab
Norwhyll Comrcio Ind Ltda. Cidade Nova
Par Nutri Indstria e Comrcio de Prod. Agropcuarios Ltda. Cidade Nova
Sementes Chapado Cidade Nova
Tacaja Produtos Agropecurios Ltda. Cidade Nova
Zooflora Nova Marab
Fonte: Trabalho de campo, 2010. Elaborado por Bruno Cezar Pereira Malheiro.

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Em um quadro de relaes desiguais, Marab novamente refora sua


importncia na diviso territorial do trabalho, assumindo novas funes
de centralidade, em termos de rede urbana, a partir da proliferao das
cadeias produtivas ligadas ao gado de corte e ao leite. Mas, para alm dessas
atividades, animadas por um desenvolvimento geogrfico desigual, outra
dinmica assume tambm relevncia: a criao de assentamentos agrrios e
as formas de relao entre eles e a cidade.

2.3. Dos agronegcios s agrossubsistncias: uma


economia alternativa articulando o rural e o urbano

No se pode deixar de falar da formao de acampamentos e assenta-


mentos, se o que se quer entender minimamente as relaes urbano-rurais
da regio. Essa necessidade se edifica e se comprova quando percebemos,
por exemplo, atravs dos dados da Comisso Pastoral da Terra (CPT), que
dos 61 acampamentos registrados no Par entre 2001 e 2008, cerca de 45
foram formados no Sudeste do Par, envolvendo uma grande quantidade
de famlias (CPT, 2009); isso falando apenas de acampamentos, sem incluir
a criao de assentamentos agrrios, que muitas vezes so a consolidao
institucional daqueles.
Com relao criao de assentamentos na regio Sudeste do Par,
podemos tomar por base os dados da Superintendncia Regional do Incra,
em Marab (SR-27), bem como a rea compreendida por sua malha admi-
nistrativa, que inclui sete municpios (Marab, Nova Ipixuna, Itupiranga,
Eldorado dos Carajs, Parauapebas, So Domingos do Araguaia e So Joo
do Araguaia).
Analisando a dinmica de criao de assentamentos nesses sete muni-
cpios, Michelotti et al. (2007) descrevem cinco perodos distintos: o pri-
meiro (1987-1988) corresponde instalao dos primeiros assentamentos
na regio, resultantes da presso nacional e regional pela reforma agr-
ria, acrescida de interesses locais, expressos pela poltica de regularizao
fundiria promovida por Jder Barbalho frente do Ministrio da Reforma
e do Desenvolvimento Agrrio (Mirad); o segundo perodo (1989-1996)
reflete o refluxo na criao de assentamentos na regio, com retomada
da presso social a partir de 1994-1995; o terceiro (1997-1999) repercute

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 95

a presso social em escala nacional e regional, esta ltima elevada com a


criao da Regional Sudeste da Federao dos Trabalhadores da Agricul-
tura (Fetagri-Par) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST-Par), ampliando o nvel de organizao e o alcance da luta pela terra
na regio. Nesse mesmo perodo, ocorre tambm a criao da Superinten-
dncia Regional do Incra em Marab (SR-27) e o massacre de Eldorado dos
Carajs atinge repercusso em escala mundial. Todos esses fatores fazem
o nmero de assentamentos criados se elevar bastante. No quarto perodo
(2000-2002), coincidente com o final do governo de Fernando Henrique
Cardoso (FHC), a criao de assentamentos registra um declnio em re-
lao ao perodo anterior. E o quinto perodo (2003-2006), em que pese a
retomada da presso nacional pela reforma agrria, a criao de assenta-
mentos nesses municpios segue o mesmo padro do perodo anterior.
A importncia dos assentamentos na regio Sudeste do Par pode ser
mais bem compreendida se analisarmos a rea total que eles ocupam nos
municpios. A Tabela 8 demonstra essa realidade nos sete municpios da
malha administrativa da Superintendncia do Incra de Marab, mais os
municpios de Novo Repartimento e Pacaj.

Tabela 8: Sudeste do Par. Percentual da soma das reas de assentamento por municpios. 2007.
Municpio rea (km2) rea dos Percentual
assentamentos (km2) aproximado
Marab (PA) 1.512.700,00 387.943,81 26%
Itupiranga (PA) 789.900,00 371.174,10 47%
Eldorado dos Carajs (PA) 296.700,00 190.859,36 64%
Parauapebas (PA) 701.900,00 122.574,05 17%
So Domingos do Araguaia (PA) 139.600,00 44.711,03 32%
Nova Ipixuna (PA) 160.500,00 45.158,11 28%
So Joo do Araguaia (PA) 129.100,00 41.078,76 32%
Novo Repartimento (PA) 1.543.300,00 568.480,61 37%
Pacaj (PA) 1.185.200,00 339.963,72 29%
Total 6.458.900,00 2.111.943,55 33%
Fonte: Michelotti et al. (2007).

De acordo com Assis, Halmenschlager e Oliveira (2008), na segunda


metade da dcada de 1990, a poltica de assistncia tcnica aos assentados
passou a ser incentivada atravs de programas geridos pelo Incra/Minis-

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trio do Desenvolvimento Agrrio (MDA), em contraste com perodos


anteriores, em que esse servio era bastante incipiente. Destaque para esse
perodo o Programa Lumiar que, de 1997 a 2000, possibilitou o surgi-
mento de alguns servios relacionados assistncia tcnica rural (quatro
prestadoras de servio de assistncia tcnica rural), tanto de carter pblico
quanto privado. O Quadro 13 mostra a quantidade de prestadoras de servi-
o e seus respectivos anos de criao.

Quadro 13: Sudeste do Par. Prestadoras de servios de assistncia tcnica rural. 2008.
No Prestadora Ano de criao
1 Emater Sudeste-PA 1965
2 Emater Sul-PA 1966
3 Fetagri Sul 1996
4 Coopvag 1997
5 Coomasrp 1997
6 Coopservios 1998
7 Aexam 1998
8 Grapas 2001
9 Procampo 2001
10 Coomafasp 2003
11 Amazon Rural 2004
Fonte: Equipe de Articuladores de Ates apud Assis; Halmenschlager; Oliveira (2008).

Algumas das prestadoras de servio mostradas no Quadro 13 tm sede


em Marab, inclusive a Cooperativa de Servios (Coopservios), que de
todas as empresas listadas anteriormente , segundo dados de 2006, a que
tem o maior nmero de tcnicos (um total de 94) e que atende o maior n-
mero de famlias assentadas (um total de 9.761) (Assis; Halmenschlager;
Oliveira, 2008). Mas a condio de centralidade de Marab na organizao
do espao rural dos assentamentos agrrios vai alm de possuir uma gran-
de quantidade de cooperativas de prestao de servios: l tambm que
se encontra a Superintendncia Regional do Incra (SR-27), responsvel
institucional pela criao dos assentamentos na regio.
A importncia desses espaos rurais para o abastecimento da cidade
deve ser considerada, em um circuito econmico que se desenha localmen-
te e articula um conjunto de sujeitos, possibilitando-lhes a sobrevivncia.
Esse circuito da economia desenhado por mltiplos atores que vo desde
os produtores rurais dos assentamentos agrcolas da regio, passando pelos

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 97

atravessadores que comercializam os produtos na cidade, at o feirante que,


muitas vezes, o prprio produtor rural.
As feiras, ento, sintetizam um conjunto de relaes rural-urbanas que,
alm de abastecer a cidade, tambm condensam relaes que extrapolam a
economia, pois em seu interior o contato entre atores de diferentes lugares,
com perspectivas diversas e mltiplas concepes de destino, elabora um
conjunto de sociabilidades marcadas pela alteridade, uma vez que proces-
sam o encontro de diferenas (Foto 3).

Foto 3: Marab. Feira da Folha 28, Nova Marab. 2010.


Expresses das relaes rural-urbanas no interior da cidade, as feiras representam estratgias
de sobrevivncias para moradores da cidade de Marab e de seu entorno rural, alm de
apresentarem a dimenso da reproduo social e cultural, onde se fazem presentes fortes
sociabilidades entre os sujeitos que nelas trabalham e consomem.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

Alm das feiras, as cooperativas ligadas produo dos assentamentos


tambm se apresentam como alternativa sobrevivncia de vrias pessoas
e, nesse caso, h o exemplo da Federao das Cooperativas da Agricultura
Familiar do Sul do Par (Fecat), que articula seis cooperativas envolvidas
com a produo da fruticultura nos municpios de Nova Ipixuna, Itupiran-
ga, So Joo do Araguaia, Marab, Eldorado dos Carajs e So Domingos
do Araguaia, para a comercializao de polpas de fruta no mercado local.

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As feiras e as cooperativas parecem, assim, fazer movimentar uma eco-


nomia de pequena escala, que muitas vezes ainda se alimenta do crdito
pessoal, na qual a solidariedade condio de sobrevivncia e que no se
define apenas por perdas e ganhos, mas expressa a produo de relaes
sociais que transcendem a esfera econmica. O Quadro 14 mostra as feiras
oficialmente registradas em Marab, ressaltando que essa dinmica de ar-
ticulao entre assentamentos e feiras no se restringe a essa cidade, pois se
espacializa em vrios outros municpios e localidades da regio.

Quadro 14: Marab. Feiras oficialmente reconhecidas. 2010.


Identificao Localizao Ncleo Tipo
Feira da Velha Marab Rua Getlio Vargas Marab Pioneira Feira livre + camels
Feira da 28 Folha 28 Nova Marab Feira
Feira Coberta das Bairro das Laranjeiras Cidade Nova Feira
Laranjeiras
Feira do Agricultor Rua 7 de Junho Marab Pioneira Feira
Feira Miguel Pernambuco PA-150 com Nova Marab Feira
Transamaznica (Km 6)
Fonte: Prefeitura Municipal de Marab. Setor de Fiscalizao de Obras e Postura, 2010. Elaborado por Bruno
Cezar Pereira Malheiro.

Essa lgica econmica posta em evidncia pela fala de um represen-


tante dos trabalhadores da Feira da Rua Getlio Vargas, no ncleo Velha
Marab:

Em geral salientar que o comrcio informal, ele essencial para a cidade!


Por qu? Porque na realidade, a informalidade, ela gera emprego! Ela tira a
possibilidade de um pai de famlia se tornar um bandido. [...] A informalidade,
ela faz parte da economia, faz parte da populao, e os rgos pblicos tm que
valorizar a informalidade [...]. Tm que ver o outro capital valorizando mais.
(Representante dos Trabalhadores da Feira da Rua Getlio Vargas, entrevista
realizada em 29 jan. 2010)

Todas as feiras parecem expressar o circuito econmico que se repro-


duz localmente e responsvel pela dinmica de sobrevivncia de vrios
sujeitos do campo e da cidade. Nelas so comercializados, entre outros
itens, hortifrutigranjeiros, roupas, calados, produtos importados, ervas
medicinais, leite e animais. Vale ressaltar que ainda existem outras feiras

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 99

no registradas oficialmente e que tambm representam condio de sobre-


vivncia para milhares de sujeitos, como a formada nos arredores da Feira
Coberta das Laranjeiras, localizada no ncleo Cidade Nova.
Nem todas as feiras, contudo, so abastecidas exclusivamente pelos as-
sentamentos, e vrios produtos chegam de outras regies, transportados em
grandes caminhes comumente observveis em seus arredores. Os assenta-
mentos so responsveis pelo abastecimento principalmente dos hortifru-
tigranjeiros, conforme Tabela 9, que mostra a produo dos assentamentos
de quatro municpios do Sudeste Paraense.

Tabela 9: Sudeste do Par. Produo dos assentamentos de Marab, Parauapebas, Nova Ipixuna
e Eldorado dos Carajs. Jan./2010.
Projetos de Assentamento Total
Marab Parauapebas Nova Ipixuna Eldorado
Aves Cabea 48.245 41.306 20.316 32.368 142.235
Ovos/dzia 7.812 3.442 1.458 7.302 20.014
Sunos (Cabea) 2.857 2.587 1.149 3.298 9.891
Stio (ha) 849 845 442 896 3.032
Bovino Cabea 37.318 36.160 14.933 23.355 111.766
Adulto 7.870 8.105 3.821 7.238 27.034
Bezerro 964 977 417 962 3.320
Leite (1.000 l) 8.424 3.727 2.929 8.894 23.974
Queijo (kg) 7.097 6.374 2.834 6.352 22.657
Gros Feijo (Saco de 60 kg) 2.120 2.416 1.112 2.629 8.277
Arroz (Saco de 60 kg) 5.256 5.450 2.244 5.887 18.837
Milho (Saco de 60 kg) 4.901 4.877 2.018 5.225 17.021
Mandioca (Saco de 7.916 9.672 3.151 9.422 30.161
60 kg)
Mel (litro) 2.031 1.087 2.076 1.402 6.596
Peixe (mil) 322 226 140 359 1.047
Fonte: Incra (2010).

Segundo os dados, a produo dos assentamentos bastante variada,


ainda que para esse levantamento no estejam computadas informaes de
frutas e verduras, tambm representativas. Isso observado, por exemplo,
na Feira do Agricultor, na Feira da 28, na Feira Coberta das Laranjeiras e na
Feira Miguel Pernambuco, essa ltima localizada no interior da rodoviria,
no Km 6 da PA-150.

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Uma em especial, a Feira do Agricultor, localizada em frente ao Sin-


dicato dos Trabalhadores Rurais de Marab, no ncleo Velha Marab,
uma idealizao dos prprios produtores rurais, em virtude dos mltiplos
processos de subordinao aos quais so submetidos regionalmente, como
falamos h pouco. Uma das pessoas organizadoras da feira sintetiza o que
significa esse espao de comercializao:

A nossa batalha que, antes, a gente estragava muito as coisas no nosso pro-
jeto de assentamento e hoje, com muita dificuldade ainda, porque mora longe,
tem que pedir ajuda aos prefeitos [...] ns consegue vender nossos produtos.
Antigamente a gente vivia mais humilhado e aqui no, ns faz do jeito que ns
quer e d pra tirar o nosso sustento. A gente no vende pro atravessador, s se
sobrar. Se a gente vende pro atravessador, a gente no tinha nada pra vender
aqui. O transporte pra chegar aqui Kombi, micro-nibus, vans e carros de
frete. E a, aqui voc v, o cara traz a verdura, a fruta, traz a galinha, traz o
porco, traz o bode, traz o leite no balde. (Representante da organizao da Feira
do Agricultor, entrevista realizada em 30 jan. 2010)

A feira torna-se, assim, uma alternativa para fazer chegar cidade a


produo dos assentamentos, sem atravessadores, o que implica tambm
o transporte alternativo de forma decisiva. Desse modo, a produo, a
circulao e o consumo desenham-se em uma lgica horizontal, ou seja,
realizam-se em uma escala local e, assim, enrazam-se no territrio.
O representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marab
tambm sintetiza o que significa a feira para os agricultores e por que ela
foi criada.

Ns criamos essa feira a que funciona sbado, porque muita das vezes os
trabalhadores diziam: a gente produz, mas no tem onde vender, onde escoar.
E a a gente criou a feira e se voc v a variedade de produtos aqui: aa, bacaba,
laranja, tangerina, milho, frango, babau, verdura, farinha, castanha-do-par.
Cada produtor traz um pouco e ali junta. (Representante do Sindicato dos Tra-
balhadores Rurais de Marab, entrevista realizada em 29 jan. 2010)

O juntar mercadorias, podemos dizer, tambm um entrelaar de his-


trias e trajetrias distintas, uma dinmica recortada pela desigualdade,

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 101

pela necessidade de sobrevivncia, criando a possibilidade do encontro de


diferenas. Assim, alm de aparecerem como lugares expressivos do ponto
de vista cultural e simblico, as feiras ainda possuem uma importncia
econmica significativa para a cidade, uma vez que nelas onde a maioria
da populao se abastece dos produtos bsicos para a sobrevivncia. Mas,
apesar disso, esses espaos no aparecem nas estatsticas econmicas mu-
nicipais nem so tratados como relevantes, haja vista sua precariedade e o
pouco investimento municipal em sua manuteno ou em programas volta-
dos diretamente melhoria de seu funcionamento.
Vimos, at aqui, as mltiplas relaes que conectam o rural e o urbano
no Sudeste Paraense e desenham um papel central para Marab. Tratamos,
portanto, de uma dinmica espacial caracterizada pela coexistncia de ml-
tiplas formas de produo e de temporalidades, o que define simultaneida-
des de processos distintos articulando o rural e o urbano.
A partir deste ponto, discorreremos sobre as tenses marcadas pela
forma de articulao entre esses mltiplos processos. Em sntese, encetare-
mos uma anlise territorial, privilegiando a dimenso poltica das relaes
e suas articulaes com o espao. O que queremos, enfim, reconhecer o
que j est nas entrelinhas dessas relaes, isto , a coexistncia de tem-
poralidades marcada por uma dinmica de conflitos que se expressam
territorialmente.

2.4. A fronteira dos conflitos e o confronto de mltiplas


territorialidades

A dinmica de gerao do valor na regio Sudeste do Par envolve uma


gama de interaes rural-urbanas, as quais no se explicam s pelas rela-
es entre capital e trabalho, espacialmente definidas por uma diviso do
trabalho. Essas relaes no so apenas reflexos de estruturas mais amplas
do modo de produo capitalista, pois se realizam em uma formao social
e econmica extremamente complexa. A realidade analisada de fronteira,
seja porque agora comea a se inserir em circuitos econmicos mais mo-
dernos, seja porque, em sua dinmica de constituio, observamos uma
simultaneidade de processos distintos e articulados, e tambm porque a ge-

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102 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

rao do valor envolve, ao mesmo tempo, a explorao do trabalho assala-


riado e escravo, o controle dos recursos naturais e a formao de latifndios.
A simultaneidade recortada por conflitos de vrias ordens, incluindo
sistemas de produo distintos, que entram em choque com identidades
dspares e se confrontam. Tais conflitos ganham uma dimenso espacial
clara e definem territrios e territorialidades, que nos ajudam a explicar a
natureza das relaes entre o rural e o urbano no Sudeste Paraense.
No plano econmico, existem lgicas distintas de reproduo, desen-
volvidas em diferentes escalas e por meio de diversas estratgias de terri-
torializao. Em primeiro lugar, temos um projeto de territorializao da
produo mineral, que se expressa sob a forma de apropriao das minas,
de cultivo do eucalipto e, tambm, de produo do carvo mineral. Sua
implantao, porm, mostra-se avassaladora, uma vez que se articula,
em grande parte, aos incentivos do governo e ganha, assim, legitimidade
poltica.
No sem razo, para dar suporte a todo o polo siderrgico de Marab
e nova siderrgica da Vale a ser instalada a Aos Laminados do Par
(Alpa) esto previstas, entre outras medidas: a retomada da explorao do
ouro em Serra Pelada; a construo de um parque de Cincia e Tecnologia
em Marab;1 a ampliao da rodovia Transamaznica; a construo de uma
termoeltrica, bem como vrias hidreltricas, entre elas a Hidreltrica de
Marab; a abertura da hidrovia Araguaia-Tocantins, com a construo
das eclusas da Usina Hidreltrica de Tucuru, que permitiro o escoa-
mento da produo do polo siderrgico de Marab tambm pelo Porto de
Vila do Conde, em Barcarena, alm de Itaqui, no Maranho. O projeto
de territorializao da indstria mineral, que tem a Vale como carro-chefe,
bem aceito pelas autoridades municipais, conforme se constata na fala do
representante de uma das principais secretarias da Prefeitura Municipal de
Marab:

1 O Parque de Cincia e Tecnologia Tocantins encontra-se ainda em fase de concepo. Nesse


sentido, estudos e projetos foram feitos no sentido de dar elementos para o ordenamento
territorial, a definio de diretrizes de atuao, a instalao de redes de servios e os modelos
de governana e gesto, por meio de vrios instrumentos, a saber: Plano Diretor, Plano de
Atrao de Investimentos e Plano de Negcios. O Parque voltar-se- notadamente para as
reas de: Tecnologia Mineral e Novos Materiais, Pesquisa Agropecuria e Tecnologia Flo-
restal (PCT Guam, 2013).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 103

Realmente, a implantao da Alpa, em simples palavras, para resumir


minha viso da implantao da Alpa, a realizao de um sonho histrico da
sociedade do Sudeste do Par pelo momento da to sonhada verticalizao
mineral. (Secretrio municipal da prefeitura de Marab, entrevista realizada
em 26 jan. 2010)

Esse projeto claramente territorial e isso fica bastante visvel na argu-


mentao de um diretor de uma das principais siderrgicas instaladas em
Marab:

Todas as empresas de Marab s tm necessidade de 20% das reas degrada-


das do estado para ficarem autossustentveis, isso, da rea que est degradada, e
no fomos ns que derrubamos. Ento tem 80% pro pessoal questionar, porque
tem muito ambientalista a que so radicais e s vo em cima da grande empresa,
quem t trabalhando e plantando, pra no ter mais derrubada. (Representante
de Siderrgica instalada em Marab, entrevista realizada em 27 jan. 2010)

S as empresas de Marab teriam ento o direito a 20% das reas degra-


das apenas para o plantio do eucalipto, excluindo-se da as minas e os espa-
os industriais. Percebe-se claramente um projeto de territorializao que,
ao se afirmar, promove mltiplas restries a outros grupos, para no falar
em desterritorializao de outros grupos, como os agricultores dos proje-
tos de assentamento, Belo Vale, Boa Esperana do Burgo, Grande Vitria
e Palmeiro Juara, que esto em vias de ser expulsos devido construo
da Alpa.
Em segundo lugar, temos um projeto de territorializao do agrone-
gcio, uma vez que a expanso dos frigorficos e laticnios no Sudeste do
Par, conforme j demonstrado, refora a pecuria extensiva na regio e,
consequentemente, a ampliao da concentrao fundiria.
Em terceiro lugar, temos um projeto de territorializao camponesa que,
na regio, parece ter tido origem na criao das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs) e dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais (STRs), ainda du-
rante o regime militar, quando em Marab se concentravam as instituies
de represso e inibio da formao de movimentos, conferindo, naquele
momento, protagonismo ao STR de Conceio do Araguaia.

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Podemos identificar, nesse primeiro momento, que a luta pela reforma


agrria tornou-se o horizonte poltico dos movimentos que surgiram no
Sudeste do Par, uma vez que a concentrao fundiria e a expropriao dos
trabalhadores rurais mostravam-se brutais. Mesmo concentrando as insti-
tuies de represso do estado, Marab era o ponto onde estava localizada a
maioria das entidades e das agncias de medio que apoiavam a atividade
sindical no Par (Assis, 2007).
Na dcada de 1980, como destaca Hbette (2004), a atuao dos mili-
tantes, alm das prticas das associaes, alargou a possibilidade de luta
pela terra, quebrando o isolamento das diversas frentes de conflitos dos
posseiros e permitindo, dessa forma, o estabelecimento de uma nova articu-
lao com o estado, tendo os STRs como interlocutores. O Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que primeiramente se instalou em
Conceio do Araguaia, tambm assumiu um papel importante, sobretudo
no final dos anos 1980 e na dcada de 1990, junto com vrios outros movi-
mentos, como a prpria criao da sede regional da Fetagri, alm da orga-
nizao de outras associaes e de comisses na luta pela reforma agrria.
O projeto de territorializao camponesa efetiva-se com a criao de
acampamentos e assentamentos rurais a partir de mltiplos conflitos es-
tabelecidos com outras formas de territorializao existentes na regio,
ligadas principalmente ao gado. Trata-se, da mesma forma, de um projeto
de territorializao que representa uma sorte de resistncia s intenes de
controle territorial da minerao e dos agronegcios, conforme se constata
na fala do representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marab:

Essa questo das empresas de ferro-gusa com os trabalhadores rurais outra


coisa que quiseram empurrar goela abaixo, porque os assentamentos no foram
criados pra produzir eucalipto. Eles foram criados pra produzir alimentos, a
mandioca, o milho, o arroz, o feijo, o leite, a carne. Ento, essa articulao do
governo pra criar as siderrgicas, tem algumas empresas tentando convencer
os trabalhadores que eucalipto melhor pra eles. Porque quem sabe um pouco
e tem experincia, o eucalipto s vem ressecar a terra, porque ele suga a gua e
pra ns um projeto que no vem fortalecer a agricultura familiar [...] como
se eu te vendesse o eucalipto hoje pra amanh morrer de fome. Com relao
Alpa, vejo que isso tudo vai mais atrapalhar do que ajudar, porque voc vai tirar
um conjunto de trabalhadores que j esto produzindo e vai desapropriar quem

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 105

j est assentando. (Representante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de


Marab, entrevista realizada em 29 jan. 2010)

A resistncia empreendida pelos movimentos sociais com relao ao


plantio do eucalipto em reas de assentamento tambm lembrada pelo
representante da Federao das Cooperativas da Agricultura Familiar do
Sul do Par Fecat:

Olha, aqui j teve um debate amplo puxado pelas siderrgicas sobre reflo-
restamento, que no emplacou. Os movimentos sociais, Fetagri, MST, que
questionaram por que fazer reflorestamento com eucalipto e no fazer com casta-
nha-do-par, cupuau, acerola, porque a gente precisa ter uma outra alternativa
na regio. Pra ns no emplacou, mas eles vm trabalhando, os grandes, pra con-
vencer, mas a gente se coloca contra, pois isso vai acabar com a questo da agri-
cultura familiar. (Representante da Fecat, entrevista realizada em 29 jan. 2010)

Se considerarmos que o projeto de territorializao camponesa leva em


conta a existncia de feiras livres na cidade para que os trabalhadores rurais
dos assentamentos tenham para onde destinar sua produo sem passar
por atravessadores, a estratgia de se territorializar contrape-se lgica do
prprio poder pblico, o que se infere na fala do representante do setor de
fiscalizao de obras e postura da Prefeitura Municipal, quando demonstra
a dificuldade em lidar com esse tipo de trabalho ligado ao circuito inferior
da economia urbana:

No temos, nunca fizemos esse trabalho [...]. Tudo desordenado, no tem


como controlar o trabalho informal. Eu no sou contra, mas sou contra a forma
como eles trabalham. [...] Tem que ter organizao! (Representante da Prefei-
tura Municipal de Marab, entrevista realizada em 26 jan. 2010)

No bastassem os projetos de territorializao mineral e do agronegcio,


que atuam na lgica de desterritorializao camponesa, o prprio poder p-
blico tem dificuldade em desenvolver aes no sentido de reconhecer efe-
tivamente as prticas econmicas e sociais desenvolvidas nas feiras, como
formas alternativas de sobrevivncia no interior da cidade.
Em quarto lugar, temos projetos de territorializao de movimentos
sociais ligados a questes tnicas, como os ndios Xicrim, os Gavies (e toda

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a sua diversidade interna), os Guarani, os Aikewara, entre vrias outras


etnias, assim como grupos que lutam pelo reconhecimento de suas iden-
tidades, territrios e lutas, ligados a identidades coletivas de mobilizao.
Exemplos dessas organizaes so as que envolvem as quebradeiras de coco
babau, as colnias de pescadores e os chacareiros (proprietrios de ch-
caras de 10 a 20 hectares), que tambm lutam pelo reconhecimento de suas
atividades, identidades e seus territrios.
Um exemplo claro desse projeto a mobilizao indgena, principal-
mente dos ndios Xicrim que, em junho de 2003, ocuparam as instalaes
do Projeto Sossego, da Vale, em Cana dos Carajs, e, em 2006, ocuparam
por mais de trs dias a mina de ferro de Carajs, na tentativa de obrigar a
Vale a negociar valores relacionados ao direito dos ndios que sofreram di-
versos impactos com a instalao do projeto Ferro-Carajs.
No que concerne s outras organizaes, o projeto de territorializao
tem tambm como expresso a carta escrita pelo Movimento Interestadual
das Quebradeiras de Coco Babau (MIQCB), que envolve as trabalhado-
ras dos estados do Maranho, Par, Tocantins e Piau, aglutinando vrias
unidades regionais, quais sejam: So Lus, baixada maranhense (munic-
pio de Viana-MA), Mdio Mearim (municpio de Pedreiras-MA), muni-
cpio de Imperatriz-MA, Tocantins (Bico do Papagaio), Sudeste do Par
(municpio de So Domingos do Araguaia-PA) e ainda outra no Piau (Es-
perantina). A carta foi escrita em face do perigo da desterritorializao das
quebradeiras. Nela, portanto, apontam as principais questes relacionadas
sua atividade, bem como projetam um territrio de sobrevivncia:

O processo de devastao dos babauais, atravs do desmatamento indis-


criminado e de corte raso, vem se intensificando nas terras tradicionalmente
ocupadas e usadas pelas quebradeiras de coco babau; a produo de carvo
vegetal, principalmente com a usurpao do coco inteiro, vem aumentando
com a multiplicao das carvoarias, vinculadas indstria siderrgica, que
operam em desrespeito s leis trabalhistas e associadas ao trabalho escravo,
com ameaas integridade fsica das quebradeiras de coco; a expanso desor-
denada do rebanho bovino restringe o extrativismo do babau, que prestaria
servios ambientais, contradizendo o discurso de proteo social e ambiental
do governo. Por isso reivindica-se a aprovao do projeto de lei que dispe
sobre a Preservao e o Livre Acesso aos Babauais pelas quebradeiras de coco.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 107

(Carta ao VI Encontro do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco


Babau, 2009, p.1)

Alm das questes enfrentadas pelo movimento, est presente, no do-


cumento, a demanda jurdica de aprovao do projeto de lei de acesso livre
aos babauais, que demarca as estratgias territoriais do movimento. Mas
uma pergunta pode ser feita nesse momento: o que diferencia o projeto
de territorializao pautado em identidades territoriais ligadas a grupos
tnicos, ou mesmo a identidades coletivas de mobilizao, do projeto de
territorializao camponesa?
Primeiramente, precisamos mostrar que, pelas vias da hegemonizao
de um projeto de territorializao ligado minerao e ao agronegcio,
mltiplos grupos so afetados e muitas vezes desterritorializados. Esse pro-
cesso confere cultura uma potncia de mobilizao poltica e transforma
a luta pelo reconhecimento em prioridade de muitos movimentos sociais,
em especial aqueles ligados a grupos tnicos e a identidades coletivas de
mobilizao. Nesse sentido,

[...] pode-se dizer que, mais do que estratgia de discurso, ocorre o advento
de categorias que se afirmam por meio da existncia coletiva, politizando no
apenas as nomeaes da vida cotidiana, mas tambm as prticas rotineiras
de uso da terra. A complexidade de elementos identitrios, prprios de auto-
determinao afirmativa de culturas e smbolos, que fazem da etnia um tipo
organizacional, ou traduzida para o campo das relaes polticas, verificando-
-se uma ruptura profunda com a atitude colonialista e homogeneizante, que
historicamente apagou diferenas tnicas e a diversidade cultural, diluindo-as
em classificaes que enfatizavam a subordinao dos nativos, selvagens e
grafos ao conhecimento erudito do colonizador. (Almeida, 2004, p.167)

Esses grupos parecem criar uma nova relao jurdica com o Estado,
pautada pelo reconhecimento da diversidade cultural e tnica e tendo como
base o pluralismo jurdico incorporado na Constituio de 1988. Isso,
ento, nos indica que a questo do reconhecimento identitrio e jurdico
surge como elemento de centralidade na agenda desses grupos, o qual se
expressa na carta do MIQCB ou mesmo no conjunto de reivindicaes de
comunidades indgenas da regio. Trata-se de uma forma de relao com

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o Estado que parece claramente distinta da dos movimentos ligados aos


projetos de territorializao camponesa que, por sua vez, no associam a
cultura e o territrio possibilidade de reconhecimento jurdico e tm como
centralidade de luta, principalmente, a dinmica de produo econmica,
necessria subsistncia.
A importncia dada identidade e o valor cultural conferido ao territ-
rio tambm nos parecem elementos de diferenciao entre os projetos de
territorializao camponesa e os projetos de territorializao dos movimen-
tos ligados a questes tnicas e a identidades coletivas de mobilizao.
Esses dois elementos, a associao da cultura e do territrio ao reco-
nhecimento jurdico e o valor cultural atribudo ao territrio, tambm nos
permitem colocar os movimentos indgenas e os das quebradeiras de coco
babau em um mesmo projeto de territorializao, mesmo que admitamos
a existncia de diferenas internas profundas, o que tambm fato nos ou-
tros projetos que aqui foram desenhados em suas linhas gerais.
Alm disso, preciso mostrar que, para a concretizao desses projetos,
so necessrias a criao/reproduo e a difuso de identidades territoriais.
Em primeiro lugar, existe hoje, claramente, um clamor das elites indus-
triais, comerciais e das ligadas ao agronegcio, com vistas criao do esta-
do de Carajs,2 o que, inclusive, materializou-se em um plebiscito realizado
em 2011, em todo o estado do Par, para decidir sobre criao ou no dos
estados de Carajs e Tapajs, proposta essa derrotada nas urnas, embora a

2 Essa nova unidade da federao seria formada por municpios localizados na poro sul e
sudeste do estado do Par. Esses mesmos municpios propuseram, sem resultado favorvel, a
partir da juno de seus territrios, a criao do estado de Carajs, desvinculando-se do estado
do Par. O territrio que pretendia ser emancipado tem em Marab sua principal cidade,
tanto do ponto de vista do quantitativo populacional quanto do dinamismo econmico e
da fora poltica. Inclui 39 municpios paraenses, com uma rea de 289.799 quilmetros
quadrados, uma populao aproximada de 1,4 milho de habitantes, um Produto Interno
Bruto de 19,6 bilhes de reais. O novo estado seria formado pelos seguintes municpios: Abel
Figueiredo, gua Azul do Norte, Anapu, Bannach, Bom Jesus do Tocantins, Brejo Grande
do Araguaia, Breu Branco, Cana dos Carajs, Conceio do Araguaia, Cumaru do Norte,
Curionpolis, Dom Elizeu, Eldorado do Carajs, Floresta do Araguaia, Goiansia do Par,
Itupiranga, Jacund, Marab, Nova Ipixuna, Novo Repartimento, Ourilndia do Norte,
Pacaj, Palestina do Par, Parauapebas, Pau DArco, Piarra, Redeno, Rio Maria, Rondon
do Par, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, So Domingos do Araguaia, So
Flix do Xingu, So Geraldo do Araguaia, So Joo do Araguaia, Sapucaia, Tucum, Tucuru
e Xinguara.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 109

maioria dos votos da regio do sudeste do Par tenha sido a favor da criao
do estado de Carajs. Cria-se uma identidade territorial de projeto que
homogeneza toda uma regio pela definio de signos culturais ligados
cultura do gado, da minerao e do progresso. As bases discursivas e
identitrias dessa territorialidade so expostas a seguir:

Uma economia dinmica e forte. Um povo cheio de esperanas. Uma regio


que quer construir o seu prprio futuro, para que a comunidade possa ter uma
nova vida, recuperando sua identidade e principalmente a sua autoestima.
No futuro estado do Carajs a economia est baseada na agropecuria com
frigorficos e mais de 14 milhes de cabeas de bovinos, vrios laticnios, setor
madeireiro consolidado, explorao de minrio de ferro e outros minrios, dez
siderrgicas de ferro-gusa e uma aciaria em processo de implantao, alm de
investimentos intensivos em reflorestamento. (Estado de Carajs, 2010, p.1)

Percebemos claramente os sujeitos envolvidos na definio dessa iden-


tidade de projeto com fins territoriais, desenhada pela pujana econmica
e por vislumbrar um futuro de progresso. Nesse sentido, h a predomi-
nncia de uma homogeneizao cultural, pelas vias da msica sertaneja,
da monocultura dos sabores, pela predominncia da carne como cardpio
mais adotado, entre outras tendncias que reprimem formas diversas de
expresso e produo cultural e artstica, como o preconceito em relao
s religies de origem africana e forte identidade maranhense presente na
figura dos migrantes provindos daquele estado.
Por outro lado, e em contraponto a essa homogeneizao, percebemos a
construo de uma identidade territorial camponesa, notadamente em dois
movimentos sociais de ampla abrangncia regional, o Movimento dos Tra-
balhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Fetagri, que se articulam aos vrios
sindicatos rurais da regio.
A criao da Via Campesina, que pretende unificar os movimentos
sociais ligados questo agrria, parece ser uma tentativa de difundir uma
identidade camponesa como motor de articulao entre os vrios sujeitos
do campo. No final de 2007 e incio de 2008, alguns povos indgenas, jun-
tamente com o MST e a Via Campesina, ocuparam os trilhos da Estrada de
Ferro Carajs, administrada pela Vale, e lanaram o Manifesto da Mobili-
zao dos Camponeses de Marab.

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Percebe-se, nesse caso, um processo de articulao poltica de movi-


mentos sociais que, embora de natureza diferente, unificam suas lutas e
demandas. De novo, mesmo que as situaes de conflito no estejam no
interior de Marab, a cidade se coloca, simbolicamente, como centro e polo
para os prprios movimentos. Isso observado no nome atribudo mani-
festao, o qual demonstra duas tentativas de unificao das lutas: uma pela
identidade territorial (camponesa), e outra pelo recorte espacial (Marab);
com isso, as identidades sociais ganham contornos espaciais na luta pela
terra e na definio de uma territorialidade de natureza camponesa.
Existem, ainda, outras identidades territoriais, que emergem em virtude
da dinmica de conflitos regionais. Com a expanso da territorializao
mineral e do agronegcio, mltiplas identidades sociais com fortes apelos
espaciais foram colocadas em xeque e muitos grupos sociais foram forados
a sair de seus territrios. A pretensa modernizao do espao, que nada
mais do que a imposio de uma territorializao mineral e do agroneg-
cio, tambm deve ser compreendida como um processo civilizatrio, nos
termos de Elias (1993, 1994), uma vez que o que se verifica a construo
de uma rede de censuras, proibies e condicionamentos de um comporta-
mento e de uma concepo de mundo que se sobrepe a outros.
As aspiraes do progresso na regio nascem de um discurso fundado
em uma viso de histria linear, que coloca a Amaznia como uma regio
atrasada e que deve se desenvolver a qualquer custo. Alm disso, monta-se
o esteretipo do no moderno, ou melhor, definem-se os atores sociais his-
toricamente presentes na regio tambm como atrasados, indolentes, no
capazes de conduzir para a frente a marcha da histria regional. Portanto, a
territorializao mineral e a territorializao da agropecuria, consideradas
modernas, expressam uma narrativa sobre a regio que s se legitima na
criao/negao do outro, identificado como no moderno e atrasado.
Na verdade, essa narrativa de modernizao da Amazniaproduz um
referente ao qual tudo se relaciona em termos de nveis, o que nos leva a
crer que qualquer distoro ao que se preconiza como desenvolvimento
encaixado em uma posio inferior no mago de uma linearidade histrica.
Como alerta Bhabha (2003, p.110), h nessas leituras uma vontade de
poder e de conhecimento que, ao deixar de especificar os limites de seu
prprio campo de enunciao e eficcia, passa a individualizar a alteridade
como a descoberta de suas prprias pressuposies.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 111

A difuso dessa narrativa se d, portanto, a partir de uma violncia


epistmica, nos termos de Castro-Gomes (2005), uma vez que tira a visi-
bilidade e o poder enunciativo de outras maneiras de ver e dizer, de outros
modos de vida, de outras formas de organizao da prpria vida regional,
enfim, de outras matrizes de conhecimento.
Nesse contexto, como nos mostra Almeida (2004), identidades cole-
tivas objetivam-se em movimentos sociais, sendo que o sentido coletivo
das autodefinies (Atingidos por Barragens, Atingidos por Minerao,
Pescadores, Quebradeiras de Coco Babau, Ribeirinhos, entre muitas ou-
tras) impe uma noo de identidade que corresponde a territorialidades
especficas, configurando um processo em que as associaes voluntrias
e entidades da sociedade civil tornam-se foras sociais e territoriais, princi-
palmente em decorrncia, ainda, no caso de Marab, do peso das atividades
econmicas praticadas por esses sujeitos polticos (Tabela 10).

Tabela 10: Marab. Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas, por seo de atividade do
trabalho principal, na semana de referncia. 2000.
Seo 2000
Pop. de 10 anos ou mais %
Agricultura, pecuria, silvicultura, explorao 11.771 20,10
florestal e pesca
Indstria extrativa, indstria de transformao e 6.642 11,34
distribuio de eletricidade, gs e gua
Construo 3.879 6,62
Comrcio, reparao de veculos automotores, 12.728 21,73
objetos pessoais e domsticos
Alojamento e alimentao 3.370 5,75
Transporte, armazenagem e comunicao 2.835 4,84
Intermediao financeira e atividade imobiliria, 2.168 3,70
aluguis e servios prestados a empresas
Administrao pblica, defesa e seguridade social 4.779 8,16
Educao 2.974 5,08
Sade e servios sociais 1.142 1,95
Outros servios coletivos, sociais e pessoais 1.846 3,15
Servios domsticos 4.020 6,86
Organismos internacionais e outras instituies
extraterritoriais
Atividades mal definidas 406 0,69
Total 58.560 100,00
Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 1991/2000. Elaborado por Idesp/Sepof apud Par (2007a).

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Nesse processo, alm das identidades ligadas a situaes sociais es-


pecficas, observamos que aquelas de natureza tnica, como a indgena,
ganham uma conotao de afrontamento poltico na regio, principalmente
pelos Xicrim, Gavio, Guarani, Aikewara, entre outros. Temos, portanto,
um mosaico de projetos de territorializao ligados a identidades territoriais
especficas ou, ainda, projetos territoriais no mbito econmico e poltico,
que carregam consigo a fora simblica e discursiva de identidades.
No podemos, pois, ficar na apreenso espacial da realidade, se quiser-
mos entender a natureza das relaes entre o rural e o urbano no Sudeste
Paraense, as quais do um sentido de centralidade cidade de Marab, uma
vez que operam em grande parte por uma dinmica de conflitos, com forte
dimenso poltica e relao com o espao.

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3
VERTICALIDADES E HORIZONTALIDADES:
A FRONTEIRA ECONMICO-INDUSTRIAL
E AS ARTICULAES GLOBAIS E REGIONAIS

Para se entender a presena de indstrias em Marab preciso, antes,


discutir o processo de desconcentrao industrial vivenciado pelo Brasil
depois dos anos 1970, pois foi a partir desse perodo que se iniciou uma
reestruturao produtiva (e espacial) sem precedentes no pas. De acordo
com Sposito (2001b), a rede urbana brasileira foi se estabelecendo e criando
uma hierarquizao de acordo com a integrao da economia e da sociedade
nacional ao modo capitalista de produo. Para a compreenso desse pro-
cesso, a autora prope trs momentos.
O primeiro, entre 1930 e 1950, em que surgiram iniciativas pblicas e
privadas com o intuito de estabelecer bases materiais para o desenvolvi-
mento da industrializao no pas. O segundo, desencadeado a partir de
1955 e at parte dos anos 1980, em que ocorreu a desconcentrao de parte
da produo, de pases de industrializao consolidada para pases com a
base de sua produo apoiada no setor primrio. O terceiro compreende o
final do sculo XX, quando, na passagem do sistema fordista para o sistema
flexvel de produo, desencadearam-se novas dinmicas, como a amplia-
o da importncia das grandes metrpoles com o aumento dos papis de
gesto empresarial e financeira do capital, bem como a descentralizao da
atividade produtiva, aumentando o papel de cidades grandes e mdias.
De acordo com Cano e Guimares Neto (1986), o mapa da distribuio
regional do valor de transformao industrial mostra, para o ano de 1970,
uma forte concentrao do parque industrial brasileiro na regio Sudes-
te, com um ndice de 80,66% (58,23% apenas em So Paulo), ficando os
19,34% restantes distribudos entre as outras regies: 11,99% no Sul, 5,74%
no Nordeste, 0,82% no Norte e 0,79% no Centro-Oeste.

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Ainda segundo esses autores, foi tambm a partir desse momento que
as vantagens competitivas da periferia comearam a surtir efeitos sobre
o Estado nacional, que repensou seus investimentos para a indstria e o
desenvolvimento do pas, atravs de polticas de desenvolvimento regional,
expressas, em grande medida, nos sucessivos Planos Nacionais de De-
senvolvimento (PND): I PND (1970-1974), direcionado modernizao
da agricultura, II PND, voltado redistribuio da indstria e III PND
(1980-1985), elaborado para a correo de rumos (Moreira, 2004). O resul-
tado desse processo foi a localizao do capital produtivo tambm na peri-
feria do territrio, estabelecendo, assim, uma acumulao em nvel nacional
que beneficiou os grupos econmicos j consolidados do Centro-Sul por
meio da venda de insumos e de bens de capital.
Para a Amaznia, o resultado dessas polticas foi sua transformao,
ainda nos anos 1970, em uma fronteira econmica. No caso especfico de
Marab e do Sudeste Paraense, essa mudana ocorreu do ponto de vista tanto
de sua estrutura produtiva quanto de seu papel na rede urbana regional.
Segundo Coelho (2005), a minerao tem um papel fundamental nas
novas dinmicas empreendidas na regio, haja vista sua contribuio para
a penetrao do povoamento, a expanso das tenses sociais no interior, a
interiorizao do processo de urbanizao e da hierarquizao das cidades
e, alm disso, para a formao de redes tcnicas que fomentaram o surgi-
mento de foras produtivas de efeitos seletivos e gradativos.
Esse processo estimulou tambm a criao do Programa Grande Carajs
(PGC), que fez que a indstria mineral passasse a ser a ponta de lana para
a promoo do desenvolvimento econmico regional. Inseridas no PGC,
entre outros projetos, podemos citar a explorao da bauxita, em Oriximi-
n, realizada pela Minerao Rio do Norte, com financiamento da Vale, e a
construo da Albras-Alunorte-Alumar, para beneficiar a bauxita, trans-
form-la em alumina para, ento, ser transformada em alumnio. A matriz
energtica desses projetos disponibilizada pelo governo federal, atravs
da construo da Hidreltrica de Tucuru e de suas linhas de transmisso.
Alm desses, outro projeto associado ao PGC, e que merece destaque, a
explorao do ferro na serra dos Carajs, para cujo escoamento foram cons-
trudos a estrada de ferro, ligando Carajs ao porto de Itaqui no Maranho,
o prprio porto de Itaqui e o ncleo urbano de Carajs. Associado a esse
projeto, vlido lembrar o desenvolvimento da siderometalurgia em Ma-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 115

rab, como forma de beneficiamento primrio do ferro e sua transformao


em ferro-gusa.
No caso especfico de Marab, que passou de uma economia agrcola
ou extrativista vegetal para uma economia de produo mineral indus-
trial, sua dinmica socioespacial deve ser compreendida a partir do pro-
cesso de transformao seletiva das economias regionais, estaduais e locais,
permeadas, no caso da Amaznia oriental, pelo forte papel exercido pelos
empreendimentos mineradores (Coelho; Monteiro; Cota, 2007).

3.1. Marab no centro das transformaes socioespaciais

No processo de desconcentrao industrial no Brasil, Sposito (2004)


aponta a relao entre a mudana espacial da indstria e a alterao do
papel das cidades na rede urbana, em que cidades de porte mdio passaram
a receber equipamentos para a estruturao de seus parques industriais, e
o conjunto de objetos e aes (Santos, 1996) desencadeado por esse movi-
mento comeou a redefinir os papis dessas cidades na rede urbana de suas
respectivas regies.
Entretanto, deve-se atentar ao fato de que a desconcentrao da inds-
tria, assim como outras dinmicas, devem ser compreendidas a partir das
formaes socioespaciais das realidades regionais em que se inserem. Isso se
faz necessrio em nossa anlise, posto que em outras realidades esse proces-
so ocorreu no sentido da desconcentrao espacial de unidades produtivas
estabelecidas nas regies metropolitanas e da reconcentrao em cidades de
porte mdio, sendo tais indstrias de grande porte e de alta tecnologia. Por
outro lado, todavia, houve uma centralizao espacial dos capitais produti-
vos e financeiros nas metrpoles, conforme aponta Sposito (2004).
No caso da regio amaznica, e em especial do Sudeste Paraense e da
cidade de Marab, o que se nota que esse processo no aconteceu como em
outras localidades, ou seja, com a desconcentrao industrial da metrpole,
para as cidades de mdio porte. A indstria que se estabelece na regio,
por um lado, proveniente de outras regies brasileiras e se caracteriza por
grandes empreendimentos econmicos de capital internacional e privado e
por uma tecnologia que corresponde apenas ao beneficiamento primrio de
seus produtos (caso da indstria siderrgica). Por outro lado, instala-se uma

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indstria de menor porte, com capitais regionais e baixa tecnologia, mas


tambm importante na dinmica econmica de Marab, pois fortalece sua
centralidade regional na distribuio de sua produo para atender a uma
demanda local (caso da construo civil, da indstria agropecuria leiteiras
e frigorficos, e da indstria moveleira). A complexidade da organizao in-
dustrial , por certo, heterognea, e nela se constata uma relativa articulao
entre capitais nacionais e transnacionais e capitais ligados a agentes locais.
As transformaes socioespaciais ocorridas no processo de instalao
da indstria na regio (atravs de um projeto de modernizao e desenvol-
vimento regional) refletiram-se na mudana da estrutura produtiva do Su-
deste Paraense e tambm na cidade de Marab, que passa de uma dinmica
econmica atrelada ao extrativismo mais tradicional, como a castanha, para
uma dinmica mais moderna, voltada produo mineral. Nesse contexto,
as aes do estado contriburam para a transformao da paisagem regional,
no s com a criao dos grandes projetos mnero-metalrgicos (Programa
Grande Carajs, com os projetos Ferro Carajs, Albras-Alunorte, Hi-
dreltrica de Tucuru etc.) e de programas de assentamento e colonizao
agrcola (criao das agrovilas, agrpolis e rurpolis), mas tambm com a
implantao de infraestruturas de suporte, como a abertura de rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos, bem como a construo de company towns,
como cita Becker (1990), para assentar os trabalhadores das empresas.
A reorganizao espacial, com um expressivo crescimento populacional,
acabou, ao mesmo tempo, gerando uma periferizao das grandes cidades
e daquelas de porte mdio, alterando ainda um conjunto de aes e relaes
at ento existentes na regio: de uma cultura extrativa e um modo de vida
atrelado ao rio, ao tempo lento, passa para uma vivncia da estrada, da rapi-
dez, do espao da circulao mais fluida (Santos, 1996).
No caso especfico da cidade de Marab, a reestruturao produtiva, que
conduz tambm a uma reestruturao espacial da cidade, ocorre a partir
de aes estatais, tendo em vista sua posio geogrfica, no entroncamen-
to de vias de circulao regionais (especialmente as rodovias BR-230
Transamaznica , PA-150 e a Estrada de Ferro Carajs), conferindo-lhe
um papel de centralidade na convergncia de investimentos de capitais,
bens e servios, e da infraestrutura logstica, voltada para atender a uma
nova demanda de capitais, que no os regionais.
De acordo com Hall (1989), a implantao de siderrgicas na regio
faz parte de um contexto mais amplo de transformaes na Amaznia, no

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 117

qual a promoo do desenvolvimento regional fundamentava-se na adoo


de uma poltica integrada de desenvolvimento industrial, tendo como
espao privilegiado para tal finalidade o entorno da Estrada de Ferro Ca-
rajs, onde deveria ser instalado um verdadeiro parque industrial (ou polo
mnero-metalrgico), com trinta fundies de ferro-gusa, mais algumas
unidades de beneficiamento de minrio de ferro e mangans, concentradas
nas cidades de Marab, Aailndia e Santa Ins.
Dentre os fatores que explicam a mudana, para a Amaznia Oriental,
das indstrias de ferro-gusa que fazem uso do carvo vegetal de Minas
Gerais, onde estavam concentradas quase que exclusivamente at 1980 ,
destacam-se: a) a possibilidade de produzir carvo a partir de mata nativa,
uma realidade que estava se tornando cada vez mais remota em Minas
Gerais, e que obrigava as empresas a investirem em reflorestamento, au-
mentando os custos de produo; b) as polticas governamentais de apoio
implantao desse tipo de empreendimento na Amaznia, tanto no mbito
federal por meio de incentivos fiscais, como o Fundo de Investimento
do Nordeste (Finor), o Fundo de Investimento da Amaznia (Finan) e o
financiamento para a implantao de toda a estrutura produtiva atravs
da Agncia de Desenvolvimento da Amaznia (ADA) quanto no mbito
estadual, por meio de isenes fiscais da Secretaria de Estado da Fazenda
(Sefa); c) a elevao dos preos desse produto no mercado internacional,
que passou de 140 dlares a 160 dlares a tonelada, em 1990, para 190 d-
lares, em 2004, e 313 dlares, em 2007; d) o fato de o volume de recursos
necessrios para instalao de uma unidade de produo ser relativamente
pequeno (Carneiro, 2008; Monteiro, 2003).
A consequncia imediata dessa conjugao de fatores atrativos foi a ins-
talao de diversos empreendimentos siderrgicos na regio, tanto daqueles
que migraram de Minas Gerais, fugindo da necessidade de se modernizar,
quanto dos que aproveitaram a conjuntura favorvel para se tornarem pro-
dutores de ferro-gusa, como descreve Carneiro (2008, p.325):

A implantao da produo guseira na regio de Carajs teve incio com o


deslocamento de grupos siderrgicos de Minas Gerais (Itaminas, Ferroeste) e
com a converso de empresas de construo civil (Construtora Brasil, Rodo-
minas), que, aproveitando-se dos incentivos e isenes fiscais oferecidos pelo
governo federal, tornaram-se produtores de ferro-gusa. A expanso obser-
vada nos anos subsequentes fez-se com a ampliao da capacidade instalada de

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alguns grupos pioneiros (Viena Siderrgica, Cia. Vale do Pindar e Cia. Side-
rrgica do Par) e pela entrada de novos agentes econmicos, caso de grupos
siderrgicos de maior porte (Gerdau, Ao Cearense), de uma trading que passa
a produzir o ferro-gusa antes importado (Promotora Vascoasturiana) e de gru-
pos empresariais locais (Grupo Revemar, Grupo Leolar etc.).

Deve-se ressaltar, com base em Monteiro (2003), que, apesar de ser


possvel produzir carvo fazendo uso de coque metalrgico, entre 25% e
35% do mercado de ferro-gusa ainda dominado pelas chamadas guseiras
empresas que o produzem com utilizao de carvo vegetal. Ainda segundo
o autor, as empresas que migraram ou que se instalaram na Amaznia so,
em sua grande maioria, caracterizadas como produtores independentes,
ou seja, aqueles que se especializaram unicamente na produo de ferro-
-gusa, fazendo uso do carvo vegetal como insumo principal. No trabalho
de campo realizado junto s empresas, em Marab, para levantamentos de
dados sobre esse setor, porm, foi possvel constatar que duas empresas
locais no podem ser assim enquadradas, pois mantm certo nvel de ver-
ticalizao: a Siderrgica do Norte do Brasil (Sinobras) que, alm do alto
forno e da aciaria, atua na produo de arames lisos, de lminas de ao, de
vergalhes SI-60 para a construo civil etc.; e a Ferro-Gusa Carajs, uma
empresa da Companhia Vale do Rio Doce e da Nucor Corporation maior
consumidora individual do ferro-gusa de Carajs.
A Figura 6 tem a inteno de mostrar o crescimento da produo de
ferro-gusa na regio de Carajs, comparativamente do Brasil. Nela se ob-
serva o crescimento bastante intenso registrado ao longo dos dezesseis anos
abrangidos, em que, de uma produo de 5%, em 1990, passou para um
tero de toda a produo nacional (Carneiro, 2008), o que indica a importn-
cia desse ramo no processo de desconcentrao industrial para a Amaznia.
A reestruturao produtiva atravs da indstria siderrgica originou
ainda o aparecimento da atividade do carvoejamento (Monteiro, 1997), pro-
piciando uma inter-relao entre a cidade e a regio do entorno de Marab,
pois municpios como Dom Eliseu, Rondon do Par, Jacund e Tailndia in-
cluem, na atividade da indstria madeireira, a produo do carvo vegetal.1

1 Em princpio, o processo de produo do carvo vegetal era feito apenas pelas indstrias
madeireiras. Hoje, o que se constata um crescimento dessa produo nas propriedades rurais
dessas cidades, que buscam atender demanda das indstrias siderrgicas (Amaral, 2007).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 119

Figura 6: Brasil e regio de Carajs. Evoluo da produo de ferro-gusa. 1990 a 2006.


(Grfico 1).
Fonte: Carneiro (2008).

A nova dinmica econmica teve ainda como resultado a gerao e a


intensificao de conflitos de ordem fundiria. A aquisio contnua de
terras pelos grandes empreendimentos contribuiu para aumentar ainda
mais as contradies da estrutura fundiria da regio e constituiu relaes
de carter conservador com os demais agentes sociais locais que tambm es-
tabeleciam, atravs do latifndio, suas relaes de poder (Monteiro, 1997).
Ressalta-se ainda, no que diz respeito dinmica industrial de Marab,
a importncia da indstria da construo civil, em especial a produo de
dois dos seus principais insumos (o beneficiamento da madeira portas e
forros e a fabricao de telhas e tijolos), conforme indica a Prefeitura de
Marab (2006). H que se destacar, igualmente, no setor agropecurio, a
indstria frigorfica e de laticnios (beneficiamento do leite e produo de
derivados), bem como a indstria moveleira (beneficiamento de artefatos
de madeira na produo de mveis).
Todavia, a reestruturao espacial da cidade, que tem como um de seus
elementos principais a reestruturao produtiva e as aes estatais de de-
senvolvimento regional, mostra uma dinmica urbana mais intensa a par-
tir da implantao desses novos objetos espaciais, com um crescimento
populacional muito rpido, que contribuiu para a expanso da cidade, a

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implantao de servios anteriormente inexistentes e o incremento da pr-


pria infraestrutura urbana, permitindo uma maior circulao de capitais,
bens e servios.

3.2. A dinmica industrial recente e a reestruturao do


espao local e sub-regional

No que se refere dinmica industrial recente, a composio do PIB


municipal indica que a indstria desempenha papel fundamental na eco-
nomia da cidade de Marab. Segundo dados do IBGE (2009), esse o se-
gundo componente mais importante, depois do setor de comrcio e servios
(Figura 7).

Figura 7: Marab. Produto Interno Bruto (PIB). 2008. (Grfico 2).


Fonte: IBGE, em parceria com os rgos estaduais de Estatstica, Secretarias Estaduais de Governo e Superin-
tendncia da Zona Franca de Manaus Suframa, 2009.

O parque industrial de Marab est localizado no Distrito Industrial


(Figura 5, p.77), rea criada especificamente para sua instalao, no final
da dcada de 1980, com uma rea total de 2.886 hectares. Nele se encontra
um nmero significativo de siderrgicas (doze instaladas), entre as quais
a maior produtora a Companhia Siderrgica do Par (Cosipar), com um
valor correspondente a 46.560 toneladas por ms, nmero significativo
quando se compara com o total da produo do conjunto das indstrias
siderrgicas 213.893 toneladas/ms , de acordo com os dados da Prefei-
tura Municipal (2006), apresentados na Tabela 11.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 121

Tabela 11: Marab. Produo das siderrgicas instaladas no Distrito Industrial. 2006.
Siderrgicas instaladas h No de Produo Produo Empregos
mais tempo fornos ms (t) anual (t) diretos
Cosipar 5 46.560 558.720 760
Simara 2 18.000 216.000 400
Usimar 2 19.000 228.000 480
Ibrica 2 27.000 324.000 200
Terranorte 2 11.000 132.000 170
Sidepar 1 18.000 216.000 150
Sidenor (incio op. ago. 2005) 1 13.000 156.000 200
Ferro-gusa Carajs (incio op. 2 30.000 360.000 200
jun. de 2005)
Subtotal (1) 17 182.560 2.190.720 2.460
Siderrgicas instaladas No de Produo Produo Empregos
recentemente fornos ms (t) anual (t) diretos
Da Terra (Grupo Revemar) 1 15.000 180.000 350
Maragusa (Grupo Leolar) 1 15.000 180.000 350
Fermar (ferro-liga) 2 1.333 16.000 135
Subtotal (2) 4 31.333 376.000 835
Total da produo (1+2) 21 213.893 2.566.720 3.295
Fonte: Marab (2006).

Na lgica de expanso da fronteira mineral na Amaznia foi que se


observou o crescimento do nmero de siderrgicas, sobretudo no eixo da
Estrada de Ferro Carajs, construda para o escoamento do ferro retirado
da serra dos Carajs, com destaque para as cidades de Aailndia, no Mara-
nho, e Marab, no Par. S em Marab so vrias as indstrias instaladas
atualmente, como a Cosipar, a Usimar, a Ibrica, a Sidepar, a Sidenorte,
a Maragusa (do grupo Leolar, grande empresa varejista da regio), Da
Terra (do grupo Revemar, que atua tambm nos ramos da pecuria e de
concessionrias de veculos automotores), Sinobras, Cikel e a Ferro-Gusa
Carajs, da Vale.
As atividades de produo do ferro-gusa, que se espacializam no distrito
industrial de Marab, localizado na rodovia PA-150, esto diretamente ar-
ticuladas com o mercado global de commodities minerais, uma vez que boa
parte da produo exportada pelo Porto de Itaqui, no Maranho. Segundo
o Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior, Paraua-

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pebas, um dos municpios situados na provncia mineral, apresentou um


crescimento nos valores de exportao, passando de R$ 771.304.420,00 em
2000 para R$ 3.839.570.234,00 em 2009 e, apesar da crise internacional,
atingiu aumento de 105,61% em 2010, chegando a R$ 7.894.717.018,00
(MDIC, 2011). Isso demonstra que cada vez maior, entre as empresas
exploradoras de minrio, particularmente a Vale, a iniciativa de direcionar a
produo de minrio para o mercado internacional.
A articulao com escalas globais, diga-se de passagem, revela certa
dependncia, pelo menos do setor da indstria de transformao mineral,
no caso as siderrgicas, em relao aos mercados internacionais. Devido
crise mundial, as siderrgicas comearam a atuar com sua capacidade m-
nima, sendo que algumas delas, como a Maragusa, a Da Terra e a Usimar,
at pararam completamente sua produo de ferro-gusa. Para se ter uma
noo dos efeitos da crise sobre a indstria siderrgica de Marab, pode-se
comparar a produo de janeiro de 2008, que foi de 241.044 toneladas, com
a de janeiro de 2010, que foi de 19.737 toneladas, segundo o Sindicato dos
Metalrgicos regional Marab (Simetal, 2010).Tais efeitos ganham mais
expresso na fala do representante de uma das empresas do setor siderrgi-
co que desativaram a produo:

A [nome da empresa] foi instalada em 2007 e, no final de 2008, em funo


da crise mundial, parou as atividades. [...] Dos 550 funcionrios, demitimos
480, mas temos a expectativa de voltar a funcionar e readmitir todo mundo
ainda nesse primeiro semestre de 2010. [...] Ns no voltamos ainda a produzir
porque o preo que eles esto pagando a no vale a pena voltar, porque temos
custos com funcionrios e de produo. uma questo puramente comer-
cial. (Representante de uma das empresas do setor siderrgico instaladas em
Marab, entrevista realizada em 28 jan. 2010)

Parece-nos que a produo do ferro-gusa e derivados revela uma espcie


de especializao produtiva altamente dependente dos mercados interna-
cionais. Conforme dito anteriormente, as siderrgicas ocupam grandes
reas no parque industrial e propiciam uma intensa circulao de pessoas
e de veculos de grande porte (caminhes), em virtude da necessidade do
abastecimento de sua principal fonte de energia no processo de beneficia-
mento do ferro (Fotos 4 e 5).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 123

Foto 4: Marab. Ptio da Companhia Siderrgica do Par (Cosipar). 2008.


Essa uma das indstrias mais importantes do parque industrial do municpio de Marab, estan-
do entre as cinco mais relevantes junto Associao Comercial e Industrial de Marab (Acim).
Fonte: Rovaine Ribeiro, out. 2008.

Foto 5: Marab. Descarga de carvo vegetal no Distrito Industrial. 2008.


Por meio de caminhes, o carvo vegetal transportado de todo o estado do Par para o mu-
nicpio de Marab e, no Distrito Industrial, utilizado na indstria siderrgica como fonte
de energia na produo de ferro-gusa.
Fonte: Rovaine Ribeiro, out. 2008.

Do ponto de vista da importncia do capital industrial para a econo-


mia do municpio, a produo de Marab possibilitou uma arrecada-
o de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) correspondente a
R$ 682.675,20 no primeiro semestre de 2008, o que atribui cidade o
quarto lugar entre os municpios do estado do Par que tambm recolhem
esse tributo, posicionando-se atrs apenas de Belm, capital do estado

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(R$ 2.405.117,23), Parauapebas, onde se localiza a mina de minrio de ferro


da Vale (R$ 1.051.436,50) e Barcarena, onde est instalado o parque indus-
trial da Albras/Alunorte (R$ 750.359,23), como demonstra a Tabela 12.

Tabela 12: Par. Municpios com maiores repasses de IPI. 1o semestre/2008.


Municpios Total do Semestre % Cota-parte
Almeirim 155.206,50 1,33
Altamira 189.048,52 1,62
Ananindeua 506.463,31 4,34
Barcarena 750.359,23 6,43
Belm 2.405.117,23 20,61
Cana dos Carajs 210.053,91 1,80
Castanhal 177.378,85 1,52
Itaituba 127.199,31 1,09
Marab 682.675,20 5,85
Oriximin 316.247,83 2,71
Paragominas 159.874,36 1,37
Parauapebas 1.051.436,50 9,01
Santarm 268.402,21 2,30
Tucuru 547.307,12 4,69
Fonte: Governo do Estadodo Par. Secretaria de Estado da Fazenda, Diretoria do Tesouro Estadual, 2008.

A composio da base econmica de Marab demonstra um cresci-


mento favorvel no que se refere ao setor industrial, no perodo entre os
anos de 1997 a 2004. No primeiro ano de referncia, ele correspondia a
R$ 136.004,00 (36,32%) e, em 2004, esse valor subiu para R$ 748.516,00
(52,01%), sendo mais da metade do total da economia municipal, o que
ratifica sua importncia para a dinmica local (Tabela 13).

Tabela 13: Marab. Base econmica do municpio (Valores em R$ mil/%). 1997 a 2004.
Ano Agropecuria Indstria Comrcio e Total
servios
1997 33.128 (8,85) 136.004 (36,32) 205.267 (54,83) 374.399 (100)
1998 35.739 (8,49) 158.105 (37,56) 227.071 (53,95) 420.915 (100)
1999 40.159 (8,42) 192.369 (40,35) 244.272 (51,23) 476.800 (100)
2000 41.445 (7,46) 252.929 (45,55) 260.927 (46,99) 555.301 (100)
2001 50.663 (7,40) 274.301 (40,07) 359.586 (52,53) 684.550 (100)
2002 83.254 (11,44) 262.896 (36,12) 381.763 (52,44) 727.913 (100)
2003 94.790 (10,13) 378.921 (40,50) 461.813 (49,37) 935.524 (100)
2004 148.499 (10,32) 748.516 (52,01) 542.105 (37,67) 1.439.120 (100)
Fonte: IBGE, 2007. Organizado por Rovaine Ribeiro.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 125

Outro elemento a ser considerado na dinmica industrial o papel do


setor na gerao de empregos. De acordo com dados do Ministrio do Tra-
balho e Emprego (MTE), entre 2000 e 2007, teve importncia significativa
e promoveu um aumento na oferta de vagas, especialmente no setor da
indstria de transformao, principal atividade do parque industrial de
Marab, que teve uma variao entre 649 admisses, em 2000, e 2.569, em
2007 (Tabela 14).

Tabela 14: Marab. Estoque de emprego segundo setor de atividade econmica. 1999 a 2008.
Setor de 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
atividade
Extrativa 17 19 22 50 65 107 183 124 198 241
Mineral
Indstria de 1.156 1.968 2.019 2.622 3.332 4.663 5.500 5.973 6.684 6.624
Transformao
Servios 244 264 274 268 273 290 350 687 453 234
Industriais
de Utilidade
Pblica
Construo 198 251 462 230 417 812 982 897 2.403 2.003
Civil
Comrcio 2.298 3.344 3.769 4.602 5.309 6.485 7.313 7.923 9.052 9.629
Servios 1.966 2.161 2.366 2.721 3.253 3.923 4.569 4.843 5.340 6.038
Administrao 1.556 1.988 2.420 3.043 4.112 4.440 4.652 6.350 7.354 6.090
Pblica
Agropecuria 260 256 463 601 991 1.280 1.229 1.173 1.507 1.539
Outros / 3
Ignorados
TOTAL 7.695 10.254 11.795 14.137 17.752 22.000 24.778 27.970 32.991 32.398
Fonte: MTE/Rais. Elaborado por Idesp/Sepof apud Par (2014).

Os dados de evoluo do emprego por setor de atividade econmica


revelam ainda que, alm da indstria de transformao (no caso a indstria
siderrgica), o setor da construo civil tem tambm um papel importante
no tocante ao emprego formal, com crescimento, entre 1999 e 2009, de 198
para 2.003 admitidos.
Conforme dados do Departamento Intersindical de Estatstica e Es-
tudos Socioeconmicos (Dieese), no ranking dos municpios do Par com
maior gerao de postos de trabalhos em 2010 e 2011, Marab ocupa a ter-
ceira posio, com destaque para a oferta de empregos nos ramos do setor
industrial (Tabelas 15 e 16).

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126 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Tabela 15: Par. Saldo de postos de trabalho em municpios com mais de 30 mil habitantes. 2010
e 2011.
No de ordem Municpios Saldo de postos de trabalho
1o Belm 15.379
2o Ananindeua 5.300
3o Marab 3.334
4o Parauapebas 2.985
5o Castanhal 1.836
6o Paragominas 1.726
7o Santarm 1.685
8o Barcarena 1.632
9o Moju 1.467
10o Marituba 1.396
Fonte: Dieese apud jornal O Liberal, 1o maio 2011, Cad. Poder, p.6.

Tabela 16: Marab. Gerao de postos de trabalho por ramos de atividades. 2010 e 2011.
No de ordem Ramo de atividade Saldo de postos de trabalho
1o Servios 1.091
2o Comrcio 957
3o Construo Civil 965
4o Extrativa Mineral 237
5o Indstria de Transformao 84
SALDO DE POSTOS DE TRABALHO 3.334
Fonte: Dieese apud jornal O Liberal, 1o maio 2011, Cad. Poder, p.6.

Deve-se ressaltar, entretanto, que houve algumas mudanas no desem-


penho do setor industrial nos ltimos anos em Marab. Segundo informa-
es obtidas junto Associao Comercial e Industrial de Marab (Acim),
Maragusa e ao Sindicato da Indstria de Ferro de Marab (Sindiferro),
das onze indstrias de produo de ferro-gusa existentes em 2010 (Cosi-
par, Sinobras, Ibrica, Terra Norte/Cikel, Da Terra, Sidenorte, Sidepar,
Maragusa, Ferro-Gusa Carajs, Buritirama e Usimar), mais da metade
estava com sua principal produo (ferro-gusa) parada, em funo da crise
ocorrida no mercado internacional desde o final de 2008 (Tabela 17).
Como boa parte da produo de ferro-gusa exportada, a crise fez bai-
xar a exportao, de 241.044, em janeiro de 2008, para 19.737 toneladas,
em janeiro de 2009, o que refletiu tambm na reduo de postos de trabalho
desse setor.2

2 As informaes foram obtidas atravs de entrevistas realizadas com representantes de side-


rrgicas, da Acim, e a partir de dados levantados junto ao Sindiferro, durante trabalho de
campo realizado em janeiro de 2010.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 127

No trabalho de campo realizado em 2010, foi possvel verificar as conse-


quncias negativas da alta dependncia em relao ao mercado internacional
(circuito da globalizao). As indstrias siderrgicas de Marab apresenta-
vam um quadro bastante desolador, motivado pela crise norte-americana,
que atingiu diretamente o setor e fez que a maior parte das empresas fechasse
suas portas ou funcionasse com capacidade de produo reduzida. Na Tabe-
la 17, tem-se uma dimenso bastante concreta do impacto da crise no setor
de siderurgia em Marab, confirmando assim a alta dependncia em face das
oscilaes do mercado internacional. Entre as empresas que continuaram
produzindo, duas em particular merecem um breve comentrio, por seu
carter diverso das demais. A primeira a Ferro-Gusa de Carajs, que co-
mercializa com empresas do prprio grupo; a segunda a Sinobras que,
com certo nvel de verticalizao industrial, no se restringe produo de
ferro-gusa e continuou funcionando com a metade da capacidade produtiva
para atender aos prprios interesses (do grupo Ao Cearense). Destaca-se
que um dos carros-chefe dessa empresa um tipo de vergalho utilizado na
construo civil, cuja demanda cresceu em funo dos investimentos pbli-
cos realizados no mercado imobilirio nesse perodo.

Tabela 17: Marab. Situao da indstria siderrgica com a crise dos


Estados Unidos. 2010.
Nome da empresa No de fornos No de fornos em
funcionamento
Ferro-Gusa Carajs 2 2
Sinobras 2 1
Terra Norte Metais 2 0
Cosipar 4 1
Ibrica 3 1
Sidenorte 1 0
Sidepar 2 1
Maragusa 1 0
Da Terra 2 0
Usimar 3 0
Buritirama 1 0
TOTAL 23 6
Fonte: Trabalho de campo, jan. 2010. Elaborado por Rovaine Ribeiro.

A dependncia das indstrias de ferro-gusa em relao dinmica da


globalizao to forte que os agentes locais no tm controle nem mesmo
sobre quem so seus clientes ou para que mercados esto exportando seus

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128 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

produtos. O papel da empresa, nesse contexto, apenas o de executar as


deliberaes adotadas em outras escalas de poder. A regio e a cidade apa-
recem, assim, apenas como espao do fazer, da obedincia cega e acrtica
das verticalidades e das ordens distantes, como se pode comprovar por
meio da reproduo das palavras de um dos informantes entrevistados:

Tem as trades, voc negocia com as trades, que so canais de exportao


que tem no Brasil, e ela que viabiliza toda logstica de navio, pra chegar at as
empresas. A gente no tem a noo assim pra que empresa vai, como que .
Porque fecha um navio grande, eu imagino com vrios compradores, ento
essa responsabilidade a j da trade, j no uma responsabilidade nossa. O
mercado de commodities um mercado que voc no tem um domnio sobre
ele, os preos so direcionados pela bolsa internacional, e voc tem que ficar na
mo do pessoal. Eu produzo aqui e eu no posso colocar preo no meu produto,
eu tenho que vender a preo de mercado. (Representante de empresa do setor
siderrgico instalada em Marab, entrevista realizada em 28 jan. 2010)

Esse processo reflete o alto grau de solidariedade organizacional e de ver-


ticalidade3 dos investimentos que foram realizados nas ltimas dcadas em
Marab, articulando a cidade de forma intensiva aos espaos de comando da
economia mundial, o que lhe confere forte dependncia dos fluxos e das vul-
nerabilidades do mercado global, em uma lgica que representa o jogo das
relaes entre as regies que perdem e as regies que ganham (Benko;
Lipietz, 1994), ou ainda, para usar os termos de Santos (1994a), das regies
do mandar e das regies do fazer. Tal situao tem tambm contribudo
para ratificar a existncia de contradies socioespaciais locais, reforadas
pela reduo de postos de trabalhadores no setor industrial, por exemplo.
Trata-se de uma dinmica bem caracterstica dos tempos atuais, a que
Santos (1996) denominou como perodo tcnico-cientfico informacional,
cujas verticalidades passam a coexistir com as horizontalidades, tornando
mais complexas determinadas realidades locais e regionais. Em outros ter-
mos, os nexos de energia so substitudos por nexos de informao, em que

3 Para Santos (1994, 1996), essas noes expressam atributos do espao no perodo tcnico-
-cientfico-informacional que vivemos, marcado pela menor rigidez do ponto de vista da
continuidade e da contiguidade absoluta, que demarcaram em outros tempos maiores hori-
zontalidades e solidariedades orgnicas do ponto de vista espacial. Diferentemente, hoje,
convivendo com aquelas, mas ganhando cada vez mais notoriedade, as solidariedades orga-
nizacionais tendem a substituir as solidariedades orgnicas de outrora.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 129

se definem recortes horizontais espaos contnuos, formados de partes


agregadas, condio e resultado das relaes de produo propriamente
ditas e verticais pontos separados uns dos outros que asseguram o fun-
cionamento global da sociedade e da economia, e que resultam das novas
necessidades de intercmbio e de regulao (Santos, 1994a).
No que concerne construo civil, um estudo sobre a cadeia produtiva
do setor, realizado para a composio do Diagnstico do Plano Estadual de
Habitao de Interesse Social (Pehis) (Par, 2009), identificou os munic-
pios que tiveram maior crescimento no ramo: Marab (224,13%), Paraua-
pebas (222,73%), Ananindeua (165,93%), Paragominas (76,14%) e Belm
(58,98%). Constatou-se, igualmente, quanto produo e circulao dos
produtos dessa cadeia produtiva, que na Regio de Integrao Carajs, da
qual Marab o municpio polo, a fabricao de telhas e tijolos realizada na
regio, com distribuio para o mesmo mercado consumidor (Par, 2009).
A Tabela 18 demonstra a arrecadao de Imposto sobre Circulao de
Mercadorias e Servios (ICMS) na atividade da construo civil no Estado
do Par, em 2006. Devido concentrao de muitas empresas do setor na
regio metropolitana de Belm, o percentual relativo arrecadao desse
imposto na capital , certamente, maior (66,08%), vindo em seguida as
regies Carajs (6,02%) e Araguaia (4,72%), onde o mercado da construo
civil est em desenvolvimento.

Tabela 18: Par. Arrecadao de ICMS na construo civil por regies de integrao. 2006.
Regies de integrao ICMS 2006 Participao (%)
Araguaia 1.964.030,70 4,72
Baixo Amazonas 2.021.619,27 4,86
Carajs 2.505.101,86 6,02
Guam 1.925.434,72 4,63
Lago de Tucuru 923.676,33 2,22
Maraj 344.207,38 0,83
Metropolitana 27.500.462,84 66,08
Rio Caet 540.013,50 1,30
Rio Capim 1.379.510,03 3,31
Tapajs 778.255,62 1,87
Tocantins 1.005.370,44 2,42
Xingu 732.083,29 1,76
TOTAL 41.619.765,98 100
Fonte: Sefa, 2006. Elaborado por Par (2009).

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130 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

A indstria da construo civil aparece, portanto, com um papel signifi-


cativo no que se refere dinmica industrial recente de Marab, levando-se
em conta que, embora no se trate de um perfil de indstria de alta tecnolo-
gia, do ponto de vista econmico bastante representativa para o municpio.
Segundo informaes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Mara-
b (Semma), em 2010, esse setor passou a contar com trs construtoras de
artefatos de cimento, oito fbricas de peas, ornatos e estruturas de cimento
e gesso, 33 cermicas, 34 serralherias e 94 empresas de extrao de areia,
cascalho, saibro e argila, presentes no municpio. Esse crescimento, claro,
deve ser lido associado ao do mercado imobilirio municipal.
No que concerne ainda ao mercado de trabalho, verifica-se a preocu-
pao com a formao de uma fora de trabalho regional para atender s
demandas das indstrias locais. Em Marab, existem hoje cursos universi-
trios especificamente voltados para as indstrias minerais, dentre os quais
se destacam: a) Engenharia de Minas e Meio Ambiente, Engenharia de
Materiais e Geologia, e especializao em Tecnologia Mineral e Metalur-
gia, da Universidade Federal do Par (UFPA); b) Engenharia Ambiental e
Tecnologia Agroindustrial, da Universidade do Estado do Par (UEPA); c)
Engenharia de Produo (EAD), da Faculdade Metropolitana. Alm des-
sas instituies de ensino superior, h ainda doze faculdades privadas com
cursos de graduao e ps-graduao (especializao) de ensino distncia,
em sua maioria direcionados rea de Administrao, Cincias Contbeis,
Direito, Gesto de Negcios Imobilirios, Produo Industrial, Sade e
Educao.4
Entretanto, o que se observa , ainda, a pouca absoro dessa fora
de trabalho especializada local pelos grandes empreendimentos mnero-
-metalrgicos. A maior parte dos empregos formais nessas indstrias ainda
rene mo de obra menos especializada ou, quando especializada, vinda
de outros estados brasileiros, principalmente de Minas Gerais, onde a Vale
tem grande atuao. Embora existam alguns projetos de parceria entre
a Universidade Federal do Par e a Vale no desenvolvimento desses cursos, a
incorporao da fora de trabalho formada ainda reduzida.

4 Informaes obtidas durante os trabalhos de campo em Marab (2008 e 2009) junto


Universidade Federal do Par (UFPA), Universidade Estadual do Par (UEPA), ao Centro
Federal de Educao Tecnolgica-PA (Cefet) e Secretaria de Educao do Municpio de
Marab.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 131

O terceiro elemento a ser considerado em relao ao papel da indstria


em Marab diz respeito ao setor moveleiro que, de acordo com a Semma
(2010), possui 54 empresas no municpio. Alm disso, h ainda o projeto
Mveis e artefatos de madeira no Sudeste do Par, desenvolvido pelo
Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que realiza tra-
balhos de capacitao envolvendo desde a produo at a comercializa-
o dos produtos, em parceria com prefeituras, Banco da Amaznia S.A.
(Basa), Associao Industrial Moveleira de Jacund, Associao das Inds-
trias Moveleiras de Marab (Assima), Cooperativa da Indstria Moveleira
e Serradores de Parauapebas (Coopmasp), Governo do Estado do Par e
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama),
promovendo uma articulao regional com Rondon do Par, Parauapebas e
Jacund, municpios envolvidos nesse projeto.
Por fim, destacam-se ainda as indstrias do setor agropecurio, frigo-
rficos e laticnios, que aparecem em terceiro lugar na composio do PIB
municipal. Conforme informaes da Secretaria de Agricultura, so trs
os frigorficos instalados no municpio (Seagri, 2010), todos pertencentes
a grupos locais. A indstria leiteira, por sua vez, apresenta uma dinmica
central nesse setor econmico na regio. Segundo o diretor executivo do
Sindicato das Indstrias de Laticnios do Estado do Par (Sindileite), com
sede em Marab, esto estabelecidas no municpio 27 empresas de mdio
porte, algumas sob inspeo federal, outras sob inspeo estadual, das quais
apenas dezessete so sindicalizadas.
Essas empresas encontram-se ao longo das rodovias: PA-150, em dire-
o ao municpio de Goiansia do Par; BR-222, em direo a Rondon do
Par; e PA-273, em direo a So Flix do Xingu. As maiores, entre elas,
so a Lebom e a Par Leite, que atuam somente na regio Sudeste do Par,
e h ainda a Manac, que se localiza nas proximidades de Belm, mas que
tambm associada. Os produtos so queijos (muarela, prato, provolone,
coalho), manteiga, iogurte e o leite longa vida UHT, produzido pela Mana-
c, beneficiado no municpio de Me do Rio, mas cuja captao feita nos
municpios dos eixos anteriormente citados, tendo em vista ser essa rea a
maior bacia leiteira do estado. Os municpios produtores so: Rondon do
Par Laticnio CNA (produtor de queijos), coleta de leite (Manac); Abel
Figueiredo Laticnio Montanhs e captao do leite ao longo da rodovia
(BR-222), com tanques de resfriamento. Na PA-150, esto o Laticnio

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132 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Ouro Bom, no municpio de Jacund, e o Vitolac, no municpio de Nova


Ipixuna, com vrios postos de captao de leite e tanques de resfriamento
espalhados s margens da mesma rodovia.
O destino da produo, especialmente das indstrias que fabricam os
queijos muarela e prato, , em sua maior parte, o mercado do Nordeste
Recife, Fortaleza, Natal, Joo Pessoa e Teresina, mas inclui tambm os de
So Paulo e Rio de Janeiro. Apenas 20% da produo fica no Par, devido
ao fato de que tanto Marab quanto as cidades vizinhas so abastecidas
sobretudo com queijos de produo artesanal.
Em relao ao leite, em torno de 7 mil litros do tipo C, produto sem ins-
peo e fiscalizao, so consumidos por dia em Marab. As duas maiores
empresas citadas compram a matria-prima nos municpios de Marab,
So Domingos do Araguaia, Brejo Grande do Araguaia, Nova Ipixuna,
Jacund e Bom Jesus do Tocantins. A Lebom, cujo proprietrio do Cear,
est instalada no Par h mais de quinze anos, e sua produo de manteiga
e dos queijos muarela, prato, coalho e tropical ralado direcionada para o
mercado do Nordeste. A Par Leite, que atua em Marab h cerca de dez
anos, produz os queijos muarela, ricota e tropical ralado, e tem sua produ-
o dirigida a So Paulo, onde tem sua sede.
A importncia dessas indstrias para a cidade e para a regio est no
fato de que elas estimulam o crescimento da bacia leiteira e geram empre-
go, contribuindo para o desenvolvimento do setor na regio e garantindo
a compra da produo. Com base nos levantamentos in loco, constatou-se
que a Lebom emprega cerca de oitenta trabalhadores diretos e duzentos
indiretos, enquanto a Par Leite possui cerca de cinquenta funcionrios
diretos e 150 indiretos. A cadeia produtiva abrange a pecuria de leite, o
transporte e a industrializao, via laticnios. As duas empresas, juntas,
beneficiam 50 mil e 35 mil litros por dia, respectivamente. Em termos de
faturamento, a mdia em reais da Lebom gira em torno de 1,5 milho, e a
da Par Leite, perto de 850 mil, estimativa calculada pelo preo do queijo e
pelo volume de leite recebido. A produo no tem nenhuma relao com
Belm, seno do ponto de vista da fiscalizao, em funo de estarem as
sedes dos rgos fiscalizadores localizadas na capital.
Alm da atuao do sindicato, o Sebrae tambm desenvolve um projeto
nesse setor, o Leite e Derivados no Sudeste do Par, com o objetivo de
aumentar a produo e a produtividade nas pequenas propriedades, bus-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 133

cando qualificar o produto e seus derivados. Atualmente, o projeto atende


150 produtores dos municpios de Cana dos Carajs, Rondon do Par,
Parauapebas, Eldorado dos Carajs e Jacund, tendo como parceiros as
prefeituras municipais, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias
(Embrapa), o Servio Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), a Empresa
de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Estado do Par (Emater) e o
Ministrio da Integrao Nacional (MI) (Sebrae, 2010).5
Diante do exposto, conclui-se que a dinmica industrial de Marab, mais
recentemente, tem se apresentado com uma configurao socioespacial que
nos permite visualizar dois aspectos principais. O primeiro refere-se ao
plano das verticalidades e das horizontalidades (Santos, 1996), em que se
constatam, no plano poltico e econmico, as relaes diretas da indstria
siderrgica com agentes e capitais externos (nacionais e internacionais), e
pouqussimo vnculo com a dinmica regional, refletindo as verticalidades
que se criam na economia local. No que se refere s horizontalidades, en-
contram-se as indstrias da construo civil, leiteira e moveleira, de capitais
regionais, voltadas a atender s demandas de mercados locais e nacionais.
O segundo aspecto diz respeito ao fato de que essas duas dinmicas
propiciam, do ponto de vista espacial, dois fluxos contrrios e complemen-
tares: enquanto a produo siderrgica estabelece uma rede local com os
municpios do entorno de Marab, na absoro de insumo para sua pro-
duo (o carvo vegetal), mas que, por outro lado, gera um fluxo extralocal
de mercado consumidor dos produtos por ela beneficiados, as indstrias
leiteira e da construo civil, por sua vez, estabelecem fluxos de escoamento
da produo para um mercado consumidor local e nacional, propiciando o
surgimento de redes regionais e nacionais, mas que mantm apenas capitais
internos em seus investimentos.
Essas duas dinmicas de fluxos mostram que a indstria tambm con-
tribui para a construo da centralidade regional assumida por Marab. A
indstria siderrgica refora uma centralidade anterior, no estabelecimento
de um conjunto de objetos e aes que se inserem na dinmica socioespacial
da cidade a partir da reestruturao produtiva regional. Por outro lado, as
indstrias da construo civil e do setor agropecurio criam uma centrali-

5 Informaes obtidas em entrevista realizada em janeiro de 2010 com representante do pro-


jeto, no escritrio regional do Sebrae em Marab.

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dade mais recente, atravs da oferta de produtos que atendem a demandas


locais e nacionais.
Essas duas centralidades, criadas pelos trs principais setores da in-
dstria em Marab, tm sofrido dois movimentos inversos recentemente.
Ao contrrio da indstria siderrgica, que aps a ltima crise do mercado
mundial teve um refreamento de sua produo e de suas demandas junto ao
mercado externo, a indstria da construo civil apresentou um incremen-
to significativo, a partir da nova poltica habitacional do governo federal,
que subsidiou o setor com a retirada do IPI sobre seus produtos, gerando
um aumento na demanda desse ramo, assim como a indstria leiteira, que
atende a uma forte dinmica produtiva regional.
Em suma, importante notar que, em Marab, a indstria tem um peso
significativo tanto no que concerne sua participao na composio da
economia quanto do ponto de vista da estruturao socioespacial da rede
urbana e do papel de centralidade dessa cidade, processo esse que se d por
relaes diversas e complementares, na regio, atravs de verticalidades e
horizontalidades que a se estabelecem.

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4
A CENTRALIDADE DO COMRCIO E DOS SERVIOS:
IMPORTNCIA REGIONAL E CONFIGURAO
DE UMA ESTRUTURA URBANA MULTINUCLEADA

Considera-se que a presena de atividades comerciais e de servios em


Marab uma das chaves para revelar o papel de centralidade desempe-
nhado por essa cidade no Sudeste Paraense, mas tambm uma forma de
expressar o carter multinucleado de sua organizao interna e a relativa
fragilidade de seu centro em face da perspectiva de modernizao do terri-
trio. Apesar de estar inserida na modernidade, atravs dos fluxos econ-
micos que centraliza, isso no significa dizer que a cidade seja moderna, em
termos territoriais, pois sua estrutura urbana apresenta-se bastante precria
para os padres das cidades mdias brasileiras. Por outro lado, a precria
modernizao territorial permite e estimula a construo de novas aborda-
gens tericas centradas no plano das horizontalidades e na natureza poltica
das cidades mdias da Amaznia.
As teses sobre as cidades mdias, at agora sustentadas, atribuem-lhes
um papel de comando tcnico, mas no necessariamente poltico. Na ver-
dade, isso acontece porque o fundamento da reflexo est pautado na l-
gica das verticalidades e nos pressupostos de um circuito hegemnico da
economia. Mesmo aqueles autores que buscam trabalhar com outros fun-
damentos, como Santos e Silveira (2001) e Silveira (2002), que destacam o
papel do circuito inferior da economia urbana, acabam assumindo uma
natureza residual para esse tipo de circuito econmico, verdadeiramente
alternativo.

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136 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

4.1. A cidade econmica: entre o formal e o


informal

Para tomar como tema o comrcio e os servios em Marab, no basta


apenas centrar a anlise nas atividades ditas formais, como as redes de
supermercados, as concessionrias de automveis, a rede bancria e fi-
nanceira, as lojas de departamentos, os servios de sade e de educao.
preciso considerar, igualmente, o papel exercido pelas feiras, pelos merca-
dos e pelos transportes alternativos na produo de outras formas de arti-
culao da cidade com sua regio, bem como de outros pressupostos para a
centralidade.
No momento atual, Marab, em sua paisagem urbana, revela marcas
da diversificao das atividades nos vrios setores e circuitos da economia.
A presena, por exemplo, de concessionrias de diferentes marcas do setor
automotivo, de modernas lojas de departamentos, alm de supermercados
bem estruturados, de agncias bancrias e de empresas do setor do agrone-
gcio, nos diversos ncleos da cidade multinucleada, denuncia as marcas
de novas formas capitalistas de produo e de circulao, cujas bases eco-
nmicas se diversificaram em razo da maior complexidade da rede urbana
paraense e da insero de Marab, como cidade mdia, na rede urbana das
cidades amaznicas.
Esse papel, por sua vez, tem contribudo para algumas mudanas no
mbito da dinmica da nova relao campo-cidade que se estabeleceu na
Amaznia. Assim, a configurao urbana atual reflete as novas funciona-
lidades definidas para o meio rural, que vem se tornando, cada vez mais, o
locus induzido da produo, voltado para a reproduo ampliada do capital
devido expanso de atividades tecnicamente mais adensadas.
Com a introduo dessas atividades em seu entorno rural, ligadas prin-
cipalmente agropecuria e minerao, as quais exigem formao de
fora de trabalho mais qualificada, a cidade de Marab, portanto, tem uma
elevao no nmero de atividades e servios especializados, de maneira a
atender s demandas de reproduo ampliada do capital. Expresso disso
a forte presena de lojas de revenda de tratores e caminhes, e tambm de
produtos agrcolas, como pesticidas e fertilizantes, alm de servios espe-
cializados voltados para a pecuria bovina e de outros animais, que fazem

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 137

parte da cadeia produtiva de atividades agrrias, assim como das vrias


empresas de transporte de cargas, que tambm esto presentes com filiais
na cidade, responsveis pelo escoamento de produtos diversos. Nesse sen-
tido, Marab, que antes definia seu perfil como cidade dos notveis, cada
vez mais se caracteriza como cidade econmica,1 tornando-se palco de
atuao de agentes capitalizados, relacionados ao agronegcio, minerao,
ao comrcio e aos servios.
Expressando tais circuitos, observamos, vizinhas a grandes lojas de
revenda de caminhes, pequenas oficinas improvisadas s margens da
rodovia, assim como a presena de vrios bares e comrcios bastante pre-
crios nas imediaes de empresas de transporte de carga. Os contrastes
so evidentes na paisagem da cidade, e a proximidade fsica entre formas
tecnicamente adensadas e outras, construdas de modo precrio, demonstra
a complementaridade econmica que as aproxima, mas tambm denun-
cia o abismo social que as distancia. Os circuitos mostram-se muito bem
articulados cidade econmica, dela decorrendo e com ela firmando
dependncia recproca; reciprocidade esta que define uma maior comple-
xidade a Marab, como cidade mdia em uma regio onde se desdobram e
se confrontam temporalidades e territorialidades de vrias naturezas, que
representam um acmulo de tempos e de formas espaciais diferenciadas,
mas conviventes, no obstante suas contradies.

4.2. A espacialidade do comrcio e dos servios na


cidade de Marab: uma primeira aproximao

As atividades comerciais e de servios existentes em Marab or-


ganizam-se em torno de trs centros principais (Velha Marab, Nova
Marab e Cidade Nova) (Fotos 6, 7 e 8) e dois secundrios (So Flix e

1 Conforme j discutido, no Brasil, as cidades dos notveis de outrora tendem a ser substi-
tudas pelas cidades econmicas de hoje, que se caracterizam pela estreita relao com as ati-
vidades econmicas modernas, tpicas de um perodo marcado pela importncia da tcnica,
da cincia e da informao, como definidoras da produo, da circulao, do consumo e de
um modo de vida urbano moderno (Santos, 1993).

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Morada Nova), o que refora, de maneira precisa, sua natureza de cida-


de mdia multinucleada, um tema ainda pouco debatido pela literatura
especializada.
No diagnstico da socioeconomia do Sudeste Paraense, realizado pela
empresa de consultoria Diagonal Urbana (CVRD, 2007), contratada
pela Vale, possvel encontrar uma breve descrio do uso e da ocupao
do solo de Marab quanto s atividades de comrcio e servios. De forma
geral, o diagnstico trabalha com quatro graus de estruturao das ati-
vidades comerciais e de servios dentro da cidade (Figura 8): 1) servios
especializados e intenso comrcio de carter regional, localizados nos
eixos das rodovias PA-150 e BR-230 (Transamaznica), sobretudo no n-
cleo denominado Nova Marab; 2) servios especializados e comrcio de
carter regional, encontrados nas ruas principais da Velha Marab, com
destaque para a Avenida Antnio Maia, e tambm no ncleo Nova Mara-
b, especialmente na VP-8,2 e no Cidade Nova, no eixo da Transamaz-
nica e nas duas primeiras ruas paralelas (Rua Transamaznica e Rua Sol
Poente); 3) servios e comrcios de grande porte instalados na Antnio
Maia (Velha Marab), VP-8 (Nova Marab) e BR-230, assim como nas
duas primeiras ruas paralelas da Cidade Nova; 4) servios e comrcios de
mdio porte disseminados ao longo de todos os ncleos: na Velha Mara-
b, localizados no eixo da orla fluvial do Tocantins, na Nova Marab, na
VE-2, na VP-3 e na VE-1 e, na Cidade Nova, ao longo das Avenidas Ti-
radentes, Antonio Vilhena, Boa Esperana, Manaus e Tocantins. Deve-se
ressaltar o papel de destaque quanto ao uso institucional na Nova Mara-
b, onde, alm da prefeitura, encontram-se tambm o hospital regional,
os dois cmpus da Universidade Federal do Par, as vilas militares (Vila
Costa e Silva e Vila Presidente Mdici) e o quartel do Exrcito (CVRD,
2007).

2 Alm das folhas, que identificam as unidades de vizinhana, no traado urbanstico da


Nova Marab encontram-se tambm as VPs (Vias Principais) e as VEs (Vias Especiais), que
so seguidas de numeraes especficas e que buscam diferenci-las, umas das outras, no
conjunto desse ncleo urbano.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 139

Figura 8: Marab. Uso e ocupao do solo (predominncia).


Fonte: CVRD (2007).

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Foto 6: Marab. rea comercial da Velha Marab. 2010.


Tambm chamada de Marab Pioneira, nesse ncleo formou-se o primeiro centro comercial
da cidade, com forte dinamismo at hoje.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

Foto 7: Marab. VP-8, Nova Marab. 2010.


Uma das principais vias da cidade em que se concentra grande quantidade de comrcios e
servios modernos, localizada no ncleo planejado da Nova Marab.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 141

Foto 8: Marab. Entorno da praa So Francisco, Cidade Nova. 2010.


Um dos mais dinmicos espaos do setor tercirio, localizado no ncleo Cidade Nova; jun-
tamente com as reas comerciais da Velha Marab e da Nova Marab, constituem, as trs, os
centros principais de comrcios e servios da cidade tripartite.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

Alm das atividades indicadas no estudo da Diagonal Urbana (CVRD,


2007), deve-se considerar o papel das feiras livres e do comrcio de rua na
estruturao da cidade. Em Marab, conforme se pode notar no Quadro
15, o desenvolvimento dessas atividades, dispersas por todos os ncleos
principais da cidade, ocorre em nove espaos diferentes, onde so comer-
cializados produtos agrcolas, alimentcios, vesturios, calados etc.
Em entrevista realizada com camels das feiras da Velha Marab, da
Folha 28 e da Laranjeira, foi possvel identificar as principais rotas por eles
construdas para a aquisio de seus produtos e os meios utilizados para
isso. De maneira geral, as compras, principalmente de roupas, calados e
eletrnicos, so feitas nas cidades de Fortaleza (CE), Santa Cruz do Capi-
baribe (PE), Goinia (GO), So Paulo (SP) e tambm no Paraguai. Deno-
minadas excurses, as viagens a esses locais so realizadas semanalmente e
organizadas tanto por empresas de turismo locais quanto por pessoas que
agem informalmente, sem possuir uma empresa regularizada.

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Quadro 15: Marab. Feiras e comrcio de rua por ncleos urbanos. 2010.
Identificao Localizao Ncleo Tipo Situao Organizaes
Feira da Velha Rua Getlio Velha Feira Regular Associao dos
Marab Vargas Marab livre + Ambulantes de
Camels Marab
Feira da 28 Folha 28 Nova Feira Regular Associao
Marab da Folha 28
Sindicato da
Folha 28
Comrcio de Rua 5 de Abril Velha Camels Irregular -
rua da Caixa Marab
Econmica
Comrcio de Praa So Cidade Camels Parcialmente -
rua da Praa So Francisco Nova Regular
Francisco
Feira coberta da Avenida Boa Cidade Feira Regular Associao
Laranjeira Esperana Nova da Feira da
Laranjeira
Comrcio de Folha 32, Nova Camels Parcialmente -
rua do Banco do Quadra 06 Marab Regular
Brasil
Orla Sebastio Av. Sebastio Marab Camels Irregular -
Miranda Miranda Pioneira
Feira do Rua 7 de Junho Velha Feira Regular -
Agricultor Marab
Feira Miguel PA-150 com Nova Feira Regular -
Pernambuco Transamaznica Marab
(Km 6)
Fonte: Prefeitura Municipal de Marab. Setor de Fiscalizao de Obras e Postura, 2010. Elaborado por Saint-
-Clair C. da Trindade Jnior.

Os produtos agrcolas comercializados nas feiras so, em parte, pro-


venientes de reas rurais do prprio municpio, sobretudo assentamentos
rurais e vazantes3 e, em parte, obtidos em reas rurais de outros municpios
da regio e de fora dela. muito comum a presena de caminhes, os cha-
mados caminhes verdureiros, nos arredores das feiras, com produtos de

3 interessante notar que no perodo de menor incidncia de chuvas na regio, principal-


mente quando as guas dos rios Tocantins e Itacainas diminuem seu volume, uma pro-
duo proveniente das chamadas reas de vazantes reas de vrzea que, inundadas no
perodo das cheias, se tornam ricas em nutrientes comea a abastecer as feiras da cidade
com mercadorias como mandioca, milho e feijo.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 143

reas distantes. No raro, tambm, que grupos de feirantes se organizem


para realizar suas compras em outras localidades, como os da feira da Folha
28, na Nova Marab, que se deslocam periodicamente at o municpio de
Castanhal, no nordeste do estado do Par, para comprar farinha. Resumi-
damente, foi possvel verificar, no trabalho de campo, que a maior parte
dos produtos comercializados nas feiras livres de Marab proveniente de
outras regies do pas, principalmente do Sudeste devendo-se ressaltar
o papel da Companhia de Entrepostos e Armazns Gerais de So Paulo
(Ceagesp) como um importante distribuidor de mercadorias, no s do
Sudeste e do Sul do Brasil, do Nordeste, especialmente do Vale do So Fran-
cisco, e do Centro-Oeste, com destaque para Gois.
H ainda uma feira, localizada na Rua 7 de Junho, na Velha Marab,
que funciona somente aos sbados, na qual so comercializados produtos
provenientes de reas de assentamentos rurais da regio, principalmente
Brejo do Meio, Piranheira, Belo Vale, Talism, Pirajuba, Alegria e Esca-
da Alta. Trata-se de um espao que, em geral, garante a comercializao
dos produtos sem necessariamente a intermediao de atravessadores que
atuam livremente.
O que se deseja enfatizar que as feiras da cidade de Marab, por ini-
ciativa dos prprios trabalhadores rurais, apresentam-se como alternativa
para fazer com que a produo possa chegar cidade sem o controle dos
atravessadores que, historicamente, dominaram a circulao de produtos
dentro da regio. E, no que respeita circulao, fundamental a ao do
transporte alternativo, em especial as formas que associam a circulao de
pessoas de produtos agrcolas.
Um elemento, portanto, que marca a paisagem da cidade e que expressa
a dinmica desses circuitos a quantidade de fluxos cotidianos que a arti-
culam, tanto internamente quanto com seu entorno sub-regional. Do ponto
de vista interno, vale a pena destacar a presena da cidade rodoviria na
paisagem do fluxo urbano. Isso pode ser constatado na correria de sua frota
de 47.898 veculos, com seus 14.008 automveis, 4.808 caminhonetes,
2.862 caminhes, 355 caminhes-tratores, 345 nibus, 192 micro-nibus,
3 tratores de rodas, somados ainda ao grande nmero de motos (20.060) e
motonetas (5.265) (Denatran apud IBGE, 2010), as quais conferem um
ritmo diferenciado cidade, mas que, devido pouca observncia s nor-

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mas de trnsito e ao dinamismo frentico da cidade, so frequentemente


envolvidas em acidentes cotidianos.
Do ponto de vista de sua conexo com o entorno e com a escala regional
e nacional, essa interao bem visvel quando se constata a existncia de
duas rodovirias em uma cidade do porte de Marab e, tambm, a quanti-
dade de empresas de transporte rodovirio com linhas regulares (Quadro
16) para vrias cidades brasileiras.

Quadro 16: Marab. Empresas de transporte rodovirio com linhas regulares. 2011.
Empresas Destinos/via Nmero de
viagens dirias
Atual Belo Horizonte (Palmas e Braslia) 1
Transbrasil Teresina (Aailndia, Santa Inez e Bacabal) 2
Araguana 4
Goinia (Palmas e Braslia) 1
Montes Belos Goinia (Palmas, Barreira e Braslia) 1
Jam-Joy Imperatriz (Araguatins, Augustinpolis, Axixa, Sitio 1
Novo)
Guanabara Recife (Aailndia, Santa Inez, Bacabal, Teresina, 1
Picos e Caruaru)
Aailndia Imperatriz 2
Belm 4
Goiansia 1
Cana dos Carajs (Parauapebas) 2
Transbrasiliana Belm 6
Goinia 2
Teresina 1
Braslia 1
So Paulo 1
Imperatriz 4
Araguana 2
Parauapebas 4
Cana dos Carajs 2
So Flix do Xingu 2
Conceio do Araguaia 2
Santarm 1
Itaituba 1
Altamira 3
Tucuru 2
Fonte: Trabalho de campo, 2011. Elaborado por Bruno Cezar Pereira Malheiro.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 145

Para se ter uma ideia desse tipo de fluxo, principalmente de pessoas, e


de sua intensidade entre Marab e as diversas cidades da regio, revelando
a importncia que assume na oferta de atividades de comrcio e de servios,
principalmente os mais especializados, no disponveis nas pequenas cida-
des, constata-se a atuao de 23 cooperativas4 (Quadro 17) de micro-nibus
e vans nos terminais da cidade, principalmente no do Km 6,5 viabilizando
viagens dirias para as mais diversas cidades do Sul e do Sudeste Paraense.
Os dados obtidos junto a essas cooperativas e Agncia de Regulao e
Controle de Servios Pblicos do Estado do Par (Arcon-PA), em Marab,
mostram que a maior parte dos trajetos tem como destino cidades que, em
geral, se localizam a uma distncia mxima de 300 quilmetros da cidade
de partida.6 Para ultrapassar esse limite, como no caso de viagens realizadas
diariamente entre Marab e Imperatriz (MA), as cooperativas estabelecem
parcerias, de modo que o passageiro viaja at a cidade de Dom Eliseu (Km 0
da BR-222), e desta, em outro micro-nibus/van, chega at seu destino final.

4 muito comum, no Sudeste Paraense, a presena de cooperativas regularizadas de vans e


micro-nibus. Trata-se, de modo geral, da forma tradicional de cooperativa de servios, em
que existe uma associao de pessoas com a finalidade de promover a melhoria econmica e
social de seus associados por meio da explorao de um servio e/ou empresa. A cooperativa
foi uma estratgia encontrada para regularizar o servio que j era prestado informalmente,
bem como para impedir a entrada de novos agentes prestadores desse servio em sua rea de
atuao (abrangncia). Deve-se ressaltar que, no caso das vans e micro-nibus, cada coo-
perado possui seu prprio veculo, sendo, na maioria dos casos, tambm seu motorista ou
cobrador.
5 Esse terminal surgiu no final da dcada de 1970, a partir dos fluxos existentes no entron-
camento da PA-150 com a Transamaznica (Km 6), devido forte relao da cidade de
Marab com os municpios e localidades do entorno. Com o tempo, notadamente com a alta
produo de ouro em Serra Pelada (dcada de 1980), o Km 6 foi se consolidando como ponto
de comrcio informal e como terminal de transportes alternativos, que em alguns momentos
chegou a ser mais dinmico do que o terminal rodovirio oficial. Essa intensidade de fluxos
induziu, desde seu incio, a formao de uma feira no local e de uma espcie de subcentro de
atividades, principalmente no regularizadas, que serviam e ainda servem de apoio a esse
intenso fluxo, como dormitrios, pequenos hotis, restaurantes, mercearias e barracas de
feira, que vendiam os mais diversos produtos e servios. A precariedade da feira e das ins-
talaes comerciais e de servios ligadas ao terminal rodovirio improvisado levou o poder
pblico municipal a conceber, em 1998, uma interveno urbanstica na rea, inaugurando,
mais tarde (no ano 2000), o Terminal e Feira Miguel Pernambuco, que permanece at hoje
como o segundo terminal rodovirio de Marab, tornando-se, igualmente, uma das mais
importantes feiras da cidade (Almeida, 2002).
6 Os mesmos dados mostram que so mais de 35 (trinta e cinco) as cidades e vilas conectadas
a Marab por esse tipo de servio.

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Quadro 17: Marab. Cooperativas de transporte alternativo com linhas regulares. 2010.
Cooperativa Principais destinos Cidade Sede
COOPERTRANS So Geraldo, Xinguara, Redeno, Rio Maria, Marab
Rondon do Par, Goiansia, Tucuru, Jacund,
Breu Branco, Dom Eliseu
COOPASUL So Domingos do Araguaia, So Geraldo Marab
do Araguaia, Bom Jesus do Tocantins, Abel
Figueiredo, Breu Branco, Dom Eliseu, Rondon
do Par, Brejo Grande do Araguaia, Porto da
Balsa (divisa com Tocantins), Parauapebas
COOPERRVAMI Itupiranga Marab
COOCAVUMP Parauapebas, Curionpolis, Eldorado dos Parauapebas
Carajs, Cana dos Carajs, Marab
COODEVAN Dom Eliseu, Paragominas, Ulianpolis, Itinga Dom Eliseu
do Par, Ipixuna do Par, Abel Figueiredo,
Bom Jesus do Tocantins, Marab
COOPERALT Eldorado dos Carajs, Xinguara, Gog da Eldorado dos
Ona, Sapucaia, Curionpolis, Parauapebas, Carajs
Marab
TRANSUL So Domingos do Araguaia, Apinajs, So Joo So Domingos
do Araguaia, Marab do Araguaia
COOROVAN Rondon do Par, Dom Eliseu, Abel Figueiredo, Rondon do Par
Bom Jesus do Tocantins, Marab
TRANSJAC Jacund, Nova Ipixuna, Goiansia, Marab Jacund
COOMASPA Tucuru, Breu Branco, Goiansia, Nova Tucuru
Ipixuna, Novo Repartimento, Maracaj,
Pacaj, Marab
COOTRANSUPA Redeno, Xinguara, Pau DArco, Sapucaia, Redeno
Gog da Ona, Eldorado dos Carajs, Rio
Maria, Santana do Araguaia, Cumaru do
Norte, Banach, Marab
COOPERMAB Itupiranga, Vila Cajazeiras, Novo Itupiranga
Repartimento, Marab
COOMITRANSNOR Novo Repartimento, Altamira (todas as Novo
cidades entre Altamira e Novo Repartimento), Repartimento
Marab
COOPERTASP Xinguara, So Flix do Xingu, Tucum, gua Xinguara
Azul do Norte, Ourilndia do Norte, Rio
Maria, Marab
COOPTASUL Em processo de desativao (segundo Arcon) Rio Maria
COOTTCAP Pacaj, Maracaj, Altamira, Itaituba, Novo Pacaj
Repartimento, Marab
COONTACP Goiansia, Jacund, Tucuru, Tailndia, Breu Goiansia
Branco, Marab
COONAATRANSP Cana dos Carajs, Parauapebas, Curionpolis, Cana dos
Eldorado dos Carajs, Marab Carajs
Continua

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 147

Quadro 17: Continuao.


Cooperativa Principais destinos Cidade Sede
BURUR Itaituba, Novo Progresso, Brasil Novo, Itaituba
Medicilndia, Uruar, Placas, Altamira,
Rurpolis, Marab
COOTAIT Altamira, Uruar, Pacaj, Medicilndia, Altamira
Anapu, Brasil Novo, Marab
CARAJS (NIBUS, Marab, Tucuru, Nova Ipixuna, Sapucaia, Marab
MICRO-NIBUS E Goiansia, Breu Branco
VANS)
TRANSBELM So Geraldo do Araguaia, So Domingos do So Geraldo do
(NIBUS, MICRO- Araguaia Araguaia
-NIBUS E VANS)
COOPERVAMI Vilas ou assentamentos: Rota 1 (Santa F, Trs Marab
Poderes, Panelinha, Capistrano de Abreu,
Cruzeiro do Sul, Cupu, Bandeirante, Plano
Dourado, Vila Seca) / Rota 2 (Unio, Piareira,
Capota, Brejo do Meio, Bode, Surubim, Alto
Bonito, Barro Vermelho, So Joo, Cinzeiro,
Conquista) / Rota 3 (Burgo, Joo do Lanche,
Cabo de Ao, Imbuaba, Rancho Rico,
Bandeirante, Z do nibus)
Fonte: Agncia de Regulao e Controle de Servios Pblicos (Arcon), Prefeitura Municipal de Marab e
trabalho de campo, 2010. Organizado por Bruno Cezar Pereira Malheiro.

Alm dessas viagens, em que grande parte dos passageiros constituda


de pessoas que vivem em reas rurais (assentamentos, fazendas, vilas etc.),
ao longo das rodovias principais que convergem para Marab,7 existem
ainda as cooperativas que mantm rotas diretamente para essas reas rurais,
tanto de Marab quanto de outros municpios da regio, como o caso da
Coopervami, que tem como destinos vilas e/ou assentamentos, definindo
dois trajetos principais: rota 1 (Santa F, Trs Poderes, Panelinha, Capis-
trano de Abreu, Cruzeiro do Sul, Cupu, Bandeirante, Plano Dourado, Vila
Seca); rota 2 (Unio, Piarreira, Capota, Brejo do Meio, Bode, Surubim,
Alto Bonito, Barro Vermelho, So Joo, Cinzeiro, Conquista). De acordo
com informaes obtidas junto a essa empresa, possvel afirmar que exis-
tem, ao mesmo tempo, o transporte de pessoas (realizado em vans e micro-
-nibus, em geral, bem mais precrios do que aqueles que fazem viagens

7 importante destacar que Marab se localiza no entroncamento das rodovias BR-222, que
liga essa cidade BR-010 (Belm-Braslia), PA-150, que, partindo de Belm, chega at a
cidade de Conceio do Araguaia, nos limites com o estado de Tocantins, e Transamaznica,
que articula a cidade com o Nordeste, de um lado, e com o Oeste do estado do Par, de outro.

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com destino s cidades) e o transporte de produtos agrcolas (realizado em


caminhes e nibus antigos e precrios).
Essa breve apresentao de alguns dos fluxos entre Marab e a sub-
-regio do Sudeste Paraense serve para reforar a relao que a cidade esta-
belece com a regio. Deve-se ressaltar que no esto aqui considerados os
deslocamentos realizados por meio de nibus de empresas, nem aqueles por
meio fluvial (pelos rios Tocantins e Itacainas, que margeiam a cidade), ou
ferrovirio (que parte de So Lus), os quais certamente ampliariam essa
intensidade dos fluxos decorrente, em grande parte, da centralidade do
comrcio e dos servios na cidade de Marab.
No tocante a esse setor da economia, de forma geral, possvel apontar
um padro de organizao no interior do espao urbano. Pode-se dizer,
assim, que a Velha Marab tem suas atividades organizadas em alguns
pontos principais. Um deles a orla do Rio Tocantins, onde possvel
verificar uma especializao de atividades voltadas ao lazer e ao turismo,
principalmente bares, restaurantes, lanchonetes e casas noturnas. Outro
abrange a Avenida Antnio Maia, a Praa Duque de Caxias e algumas ruas
paralelas, onde se encontram farmcias, lojas de vesturios, ticas e perfu-
marias, servios bancrios e financeiros (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa
Econmica Federal, Ita etc.), escritrios de contabilidade e advocacia,
clnicas odontolgicas8 e mdicas (ginecologia, endocrinologia, pediatria,
gastrenterologia etc.), servios pblicos e hotis de baixo padro e de capi-
tais locais, bem como o comrcio varejista especializado, com a presena de
lojas de departamentos (venda de secos e molhados e de eletrodomsticos,
tais como Leolar, Armazm Paraba, Liliani, City Lar e Esplanada). H
uma forte espacialidade de um circuito inferior na feira da Rua Getlio
Vargas, em frente ao Banco do Brasil e Caixa Econmica Federal e na orla
fluvial Sebastio Miranda.
Na Nova Marab, existem dois pontos principais com intensa presena
de comrcio e de servios: o entroncamento do Km 6 (ponto em que as

8 Foi possvel encontrar clnicas odontolgicas com diferentes especialidades (ortodontia,


buco-maxilo-facial, prtese dentria, odontopediatria etc.) que dispem de diferentes con-
sultrios, onde trabalham vrios profissionais de forma terceirizada. Em geral, um profis-
sional com bom prestgio junto aos clientes da cidade constri uma clinica com alguns con-
sultrios (entre cinco e dez) e contrata os servios de jovens profissionais recm-formados,
muitas vezes que recebem por produo (entre 10% e 20%) e tm uma meta a cumprir todos
os meses (entre 15 mil e 20 mil reais).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 149

rodovias Transamaznica e PA-150 se encontram) e a regio ao longo da


Avenida VP-08, Folhas 27, 31 e 32, alm da feira da Folha 28. No primeiro,
localizam-se o terminal rodovirio administrado pela prefeitura municipal,
onde o maior movimento de micro-nibus e vans (conhecido como rodo-
viria do Km 6) e a feira Miguel Pernambuco, as principais concessionrias
de veculos, notadamente aquelas voltadas para o comrcio de veculos
pesados (caminhes e tratores), hotis de baixo padro, postos de gasolina
(onde so contratadas empresas de transporte rodovirio), hospital regional
(com servios mdicos de mdia e alta complexidade, tais como cardiologia,
neurocirurgia, ortopedia, fonoaudiologia, fisioterapia etc.), lojas de auto-
peas e oficinas mecnicas. No segundo ponto, encontra-se um comrcio
direcionado no apenas s demandas locais, mas tambm regionais, com
destaque para as concessionrias de veculos, assim como um comrcio
varejista, principalmente com redes de supermercados (Alvorada, Valor,
Guerra etc.) e feira, alm das instalaes de servios pblicos (como di-
versas secretarias municipais, Receita Estadual, Universidade Federal do
Par e outras, particulares), dos correios, de servios especializados na rea
de sade, como clnicas, laboratrios, centros de distribuio de medica-
mentos, e do terminal rodovirio ligado Agncia Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT), no qual operam as empresas que realizam viagens
intermunicipais e interestaduais.
Na Cidade Nova buscou-se, inicialmente, uma forma urbana com di-
ferentes centralidades (Marab, 2006): por um lado, a presena de uma
rea de maior concentrao de comrcio e de servios (o chamado centro
comercial), localizada no entorno da Praa So Francisco, nas ruas para-
lelas rodovia Transamaznica (Rua Transamaznica e Rua Sol Poente)
e na Avenida Nagib Mutran; por outro, uma rea onde se concentram os
servios pblicos: a sede do Incra, instalada em uma antiga fazenda, deno-
minada Agrpolis do Incra, a Previdncia Social, o Instituto de Terras do
Par (Iterpa), a Emater, o hemocentro do Par (Hemopa), a Universidade
do Estado do Par (UEPA), as secretarias municipais de agricultura, meio
ambiente, sade e educao, o Tribunal de Justia do Estado (frum e jui-
zados especiais), a secretaria de integrao regional etc.; uma terceira rea,
mais dispersa, formada por vias principais internas aos bairros (antigos
loteamentos ou projetos de loteamentos privados), principalmente as ave-
nidas Antnio Vilhena, Tiradentes, Boa Esperana, Manaus e Tocantins.

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4.3. A lgica das espacialidades do comrcio e dos


servios no espao intraurbano

Por que as atividades comerciais e de servios da cidade de Marab esto


organizadas, espacialmente, em torno desses trs ncleos principais? Como
essas atividades e essa espacialidade ajudam a entender a centralidade urba-
na exercida pela cidade dentro da sub-regio do Sudeste Paraense?
Para responder a essas perguntas, a hiptese que no se pode entender,
separadamente, a dinmica comercial e de servios existentes na cidade e o
papel regional que ela sempre desempenhou. Ao mesmo tempo, preciso
considerar tambm o impacto dos grandes empreendimentos econmicos
em sua estruturao. Assim, so duas as dinmicas que ajudam a explicar
as espacialidades do comrcio e dos servios na cidade de Marab: uma,
mais ligada aos grandes circuitos da produo e do consumo, em que a
cidade funciona como base logstica reproduo capitalista, exercendo,
portanto, um papel mais tcnico do que poltico; outra, mais voltada s
demandas regionais, ao plano da continuidade e da contiguidade, em que se
verifica a presena de atividades que permitem afirmar a existncia de um
processo de acumulao interna do capital na cidade, o que faz que ela
exera tambm um papel de natureza poltica e no somente tcnica, sob
o comando tanto de grupos econmicos locais (como no caso dos grupos
Leolar e Revemar, que atuam em diferentes setores econmicos dentro da
cidade, como ser mostrado adiante) quanto dos movimentos fundados na
luta contra a desigualdade e no direito diferena (sindicatos, ONGs, mo-
vimentos sociais e socioterritoriais etc.).9
Uma das variveis que confirmam a centralidade urbano-regional de
Marab a referente ao nmero de lojas de redes de eletrodomsticos e ele-
trnicos observado na Tabela 19, onde se pode constatar a existncia de 33

9 No se trata de afirmar que o comando do lugar seja exercido apenas pelos grupos locais, mas
sim de que, de um lado, via adensamento e diversificao das atividades em que atuam, eles
tm constitudo grupos econmicos importantes dentro da regio amaznica e mesmo fora
dela, se considerarmos o Oeste do Maranho e o estado de Tocantins; de outro lado, algumas
atividades econmicas de grande significncia, em processo de instalao na cidade de Marab,
tm contado com parcerias desses grupos considerados locais. o caso do shopping center
Ptio Marab, por exemplo. Deve-se ressaltar, porm, que a razo dessa nossa afirmao no
se encontra apenas na ao desses grupos econmicos, mas tambm na importncia assu-
mida pelos movimentos sociais que constroem redes de articulao e ao no plano regional,
para fazer frente a essas grandes dinmicas econmicas que vm se instalando na Amaznia.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 151

lojas de departamentos que comercializam esses produtos, das quais a maior


parte est na Cidade Nova (treze lojas), aparecendo, em seguida, a Velha
Marab (dez lojas), a Nova Marab (sete lojas), a Morada Nova (duas lojas)
e So Flix (uma loja).

Tabela 19: Marab. Principais lojas de eletrodomsticos, eletrnicos, magazines e lojas de depar-
tamentos. 2010.
Ncleos Lojas de Departamento
urbanos Leolar Liliani Armazm City Lar Esplanada Renovar Jovilar Lojas
Paraba Centro
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Velha 02 13,3 01 33,3 02 33,3 01 33,3 01 100 01 100 01 100 01 33,3
Marab
Nova 05 33,3 01 16,7 01 33,3
Marab
Cidade 06 40,0 02 66,7 02 33,3 01 33,3 02 66,7
Nova
So Flix 01 6,7
Morada 01 6,7 01 16,7
Nova
TOTAL 15 100 03 100 06 100 03 100 01 100 01 100 01 100 03 100
Fonte: Trabalho de campo, jan. 2010. Elaborado por Mrcio Douglas Brito Amaral e Marcos Alexandre
Pimentel da Silva.

De imediato, constata-se uma expanso dessas atividades na cidade,


pois segundo os dados obtidos em um primeiro trabalho de campo, reali-
zado em 2008, havia 18 lojas na cidade, a maior parte delas na Velha Ma-
rab (10 lojas). Os dados de 2010, alm de mostrarem que esse setor quase
dobrou de tamanho, revelam tambm que a maioria das lojas surgidas na
cidade nesse intervalo est localizada na Cidade Nova, passando de 4 para
13, seguida pela Nova Marab, que de 2 subiu para 7.
O crescimento em direo aos ncleos Cidade Nova e Nova Marab est
associado a trs fatores principais: a disponibilidade de imveis, inclusive
com preos e tamanhos mais atrativos quando comparados aos da Velha
Marab; a expanso residencial, com crescimento de bairros populares e de
loteamentos horizontais e verticais direcionados s classes mdia e alta;10 e
o fato de que, depois de Belm, as lojas localizadas em Marab so as que
mais do lucro, dentro do estado do Par, para os grupos que investem

10 Os principais loteamentos da cidade esto sendo implantados na Nova Marab e na Cidade


Nova, conforme ser mostrado em seguida.

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nessa cidade.11 Alm desses fatores, um outro comeou a aparecer como


indicativo de uma antecipao espacial: a expectativa da instalao da Alpa
(Aos Laminados do Par)12 que, conforme pode ser verificado na Figura 5
(p.77), ficar localizada s margens do Rio Tocantins e da rodovia Transa-
maznica, na rea de expanso do ncleo Cidade Nova.
Nas entrevistas realizadas com os gerentes das lojas de departamentos13
da cidade, pde-se notar o interesse de suas empresas em instalarem novas
unidades de comrcio em Marab, especialmente na Cidade Nova, em fun-
o da anunciada instalao da Alpa e do nmero de pessoas e de empregos
que ela deve atrair. De acordo com uma supervisora, indicada para falar em
nome de um dos grupos comerciais, o proprietrio dessa empresa foi recen-
temente at Marab, com a inteno de avaliar a possibilidade de ampliao
da loja j existente e de instalao de outra filial, na Cidade Nova.
Esse mesmo aspecto foi observado na fala de outro entrevistado. Segun-
do esse informante, desde meados de 2009, o grupo que representa tem se
preparado para as transformaes pelas quais a cidade dever passar em
funo da Alpa, bem como para as mudanas j em curso na sub-regio
como um todo. Dessa forma, todas as lojas da cidade foram modificadas
e/ou modernizadas, com ambiente climatizado, piso novo, instalao de
elevador e de escada rolante, calada para pessoas com dificuldade de lo-
comoo etc. Ainda de acordo com o entrevistado, uma loja em especial
foi totalmente modernizada, a da Avenida Antnio Maia (Velha Marab),
com vistas a receber um pblico mais seleto da cidade, oferecendo produtos
sofisticados e de alto padro (mveis finos, roupas de grifes famosas etc.).
Apesar da maior importncia assumida pelos ncleos Cidade Nova e
Nova Marab, na expanso das atividades comerciais das lojas de depar-
tamentos da cidade, deve-se ressaltar que os representantes dos grupos
comerciais entrevistados foram unnimes em afirmar que a Velha Marab,

11 Essa informao foi obtida a partir de entrevistas gravadas com representantes de lojas
comerciais existentes em Marab.
12 De acordo com a prpria empresa Vale, os investimentos diretos previstos para a construo
da usina siderrgica de 3,3 bilhes de dlares, e o nmero de empregos gerados, inicial-
mente, ser de 15 mil diretos (quando estiver sendo construda), e 3 mil diretos (quando
estiver em funcionamento). Alm desses, ainda sero gerados 12 mil empregos indiretos
permanentemente (CVRD, 2009).
13 Nos dias 28, 29 e 30 de janeiro de 2010 foram entrevistados representantes de sete grupos
comerciais considerados importantes e com atuao na cidade de Marab.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 153

em termos de faturamento,14 continua sendo o ncleo mais importante para


esse setor. Esse fato est associado ao processo de coeso encontrado na
Avenida Antnio Maia, onde podem ser encontradas todas as lojas desse
ramo existentes na cidade, e tradio de consumo da populao local, que
tambm encontra facilidade para acessar esse ncleo.15
importante, ainda, chamar a ateno para o movimento que se anun-
cia, mesmo que embrionrio, de acumulao cada vez mais interno, devido
ao papel de comando que vm exercendo na cidade os grupos econmicos
locais ligados ao comrcio e aos servios em face dos demais grupos de fora
da cidade e da regio. Ainda que se verifique a presena de grupos externos,
principalmente do Nordeste, tais como Lojas Liliani e Irmos Claudino,
em Marab, a maior fora exercida pelo grupo Leolar, que alm das quin-
ze lojas descritas na Tabela 19 (p.151), mantm filiais em diversas cida-
des do Sudeste Paraense (Jacund, Nova Ipixuna, Tucuru, Parauapebas,
Rondon, Dom Eliseu etc.), e mesmo fora do Estado do Par (Maranho e
Tocantins), por meio de diferentes ramos e empresas: Borges Informtica,
Leolar Fotografias, LeoSound Equipamentos de Som, Leolar tica, Leolar
Provedor de Internet e Siderrgica Maragusa, alm de franquias de grandes
empresas comandadas pelo grupo (Leolar, 2012).
Um segundo elemento capaz de expressar a centralidade de Marab
com base nas atividades comerciais e de servios so os supermercados.
Conforme se pode observar na Tabela 20, existem 29 deles na cidade, dos
quais dezoito esto na Nova Marab, nove na Cidade Nova, um na Velha
Marab e um em So Flix.
De modo geral, esses supermercados possuem as seguintes caractersti-
cas: so empreendimentos familiares, de origem local e administrados por
seus prprios membros; possuem sistema de informatizao dos caixas, a
maioria terceirizada; no tm estacionamento privativo; realizam a limpeza
e a higienizao do ambiente com mo de obra prpria; contratam equipes
de segurana locais/regionais que utilizam sistema de cmeras monitoradas

14 De acordo com os entrevistados, as lojas dos grupos que mais do lucro, individualmente,
so aquelas que se localizam na Velha Marab.
15 Alm de a grande maioria das tradicionais linhas de nibus coletivo que circulam dentro da
cidade passar pela Velha Marab, esse ncleo tambm ponto de chegada e de partida para
a maior parte dos txis de lotao txis que transportam vrios passageiros com destinos
diferentes, ao mesmo tempo, e que cobram tarifas (2 reais) muito prximas s dos nibus
(1,75 real), oferecendo, porm, a possibilidade de o usurio parar em qualquer ponto e no
apenas naqueles predefinidos.

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por satlite para proteger a loja contra furtos, principalmente depois que o
estabelecimento fechado; estabelecem parcerias com empresas de txis,
para que seus clientes tenham desconto no transporte das mercadorias ou,
dependendo do valor de suas compras, tenham esse transporte pago pelo
prprio supermercado; celebram convnios com rgos pblicos e empre-
sas privadas, para que seus funcionrios tenham facilidades e descontos na
realizao de compras; e, na maior parte dos casos, fazem o transporte das
mercadorias que comercializam, com exceo dos produtos perecveis, que
so realizados por empresas de fora do prprio Estado do Par.

Tabela 20: Marab. Principais supermercados segundo a localizao por ncleos. 2010.
Supermercados Ncleos urbanos
Marab Nova Cidade So Flix Morada Total
Pioneira Marab Nova Nova
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Bom Preo 01 100 01 100
Comercial Apache 01 100 01 100
Supermercado 01 11,1 06 66,7 02 22,2 09 100
Alvorada
Supermercado 01 50,0 01 50,0 02 100
Valor
Supermercado 01 100 01 100
Andorinha
Supermercado e 01 100, 01 100
Panificadora Real
Ltda.
Supermercado 04 80,0 01 20 05 100
Guerra
Supermercado 01 100 01 100
Irmos Loiola
Supermercado 02 100 02 100
Laranjeiras
Supermercado 02 100 02 100
Mix Po Ltda.
Supermercado 02 100 02 100
Norte Sul
Supermercado 01 100 01 100
Santa Maria
Supermercado 01 100 01 100
Secos e Molhados
TOTAL 01 3,5 18 62,0 09 31,0 01 3,5 29 100
Fonte: Acim, Marab, 2008; trabalho de campo, jan. 2010. Organizado por Mrcio Douglas Brito Amaral e
Marcos Alexandre Pimentel da Silva.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 155

Um dado importante revelado na Tabela 20 o papel de comando exer-


cido pelos grupos locais nesse ramo de atividade, sobretudo o Alvorada,
proprietrio de nove dos 29 supermercados existentes na cidade, alm de
outros na regio, particularmente em Redeno, Parauapebas, Tucuru e
Altamira. Deve-se ressaltar que no setor de supermercados, o grupo Al-
vorada e a rede Valor so os nicos com atuao em Marab que tm suas
atividades estendidas para alm da cidade. A atuao do primeiro emi-
nentemente regional, com destaque para o Sudeste do Par, ao passo que a
do segundo, como visto anteriormente, atinge o territrio nacional. Ambos,
porm, reforam a centralidade de Marab, de um lado, pela importncia
de ser escolhida para a instalao dos negcios de um grupo que atua na
escala da rede nacional de cidades e, de outro lado, por sua capacidade de
expandir e comandar uma rede desse tipo de negcios na escala regional.
Trs aspectos ainda merecem destaque para o entendimento desse ramo
e sua relao com a cidade e a regio. O primeiro deles refere-se origem
dos produtos comercializados nos supermercados, que revela um baixo
nvel de articulao com o municpio e com a regio. Com exceo, basi-
camente, de alguns perecveis, tais como carne, hortalias, leite in natura e
queijo, os demais produtos so adquiridos, em sua maioria, fora da regio,
principalmente em So Paulo, Minas Gerais e Gois.
O segundo aspecto est relacionado presena de uma rede de super-
mercados de carter extrarregional na cidade, a Valor, que faz parte do
grupo Peixoto Comrcio, Indstria, Servios e Transporte S.A., cuja sede
est em Uberlndia, Minas Gerais.16 Possui mais de duzentas lojas no
pas, atuando principalmente em Minas Gerais (Tringulo Mineiro e Sul
de Minas), Paran (Norte Paranaense) e So Paulo (regies de Campinas,
Ribeiro Preto, Grande So Paulo, Vale do Paraba e Litoral Norte), com

16 De acordo com Peixoto Grupo Empresarial (2012), A Rede Valor de Supermercados tem
como objetivo promover o desenvolvimento, fortalecimento e profissionalizao do pequeno
e mdio varejo. Atravs do associativismo buscamos atender s necessidades e expectativas
de todos os pblicos envolvidos no negcio, atravs da gerao de benefcios ao longo da
cadeia Fabricante / Atacado / Varejo / Consumidor. O posicionamento mercadolgico
com lojas de vizinhana, valorizando a praticidade, convenincia, servios, atendimento,
promoes e preos competitivos. A Rede Valor mantm a identidade e o nome dos super-
mercados fidelizados, no interferindo na forma de gerir o negcio. Os proprietrios perma-
necem coordenando toda a operao das lojas. O que no a caracteriza como uma franquia, e
sim uma rede de lojas unidas pela bandeira Valor.

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um faturamento de R$ 907.481.171,00,que lhe rendeu o segundo lugar no


ranking das Centrais de Compras e Negcios, e o 14o lugar no ranking da
Associao Brasileira de Supermercados (Abras) (Peixoto Grupo Empresa-
rial, 2012). Em Marab, atua junto com o grupo Vitria Supermercados.17
O terceiro aspecto relativo crise internacional que atingiu diretamen-
te as siderrgicas da cidade, levando metade delas a fecharem as portas, e a
outra metade, a funcionar com a produo reduzida. Nesse caso, apesar de
o setor siderrgico ser fundamental para a economia de Marab, a cidade
tem sua dinmica econmica fundada no apenas no mercado internacional
e na lgica da globalizao, fato notado na avaliao dos gerentes dos super-
mercados da cidade, unnimes em afirmar que a crise mundial no afetou
o movimento e o crescimento do setor; ao contrrio, muitos tiveram um
faturamento anual ainda maior.
Depois das lojas de eletrnicos/eletrodomsticos e das redes de super-
mercados, as concessionrias de veculos existentes na cidade constituem o
terceiro elemento, dentro das atividades comerciais, que permite entender
ainda mais fortemente a centralidade regional exercida por Marab dentro
do Sudeste Paraense. A esse respeito, pode-se dizer que dois grupos locais
basicamente dominam todo esse setor no contexto da economia local: a
Revemar e a Zucatelli.
O grupo Revemar (Revendedoras de Veculos de Marab Ltda.) res-
ponsvel pela comercializao das marcas Ford, Volkswagen, Honda, Re-
nault e Nissan, no s em Marab, mas tambm em outras cidades no
estado do Par. Entre as principais empresas do grupo esto: a Revemar
Motocenter, que faz a comercializao de motocicletas Honda; a Fnix
Automveis, que comercializa a marca Ford em Belm; a Sulpar Volkswa-
gen Caminhes, que comercializa esse tipo de veculos em todo o Sudeste
Paraense; a Sulpar Tratores Massey Ferguson, que atua no comrcio de
mquinas para o trabalho no campo; a Tropical, que negocia as marcas
Renault e Nissan em Marab. Alm do ramo de concessionrias, o grupo
atua tambm no setor de siderurgia, por meio da empresa Da Terra Side-
rrgica, e no setor do agronegcio, com os Complexos Agropecurios da

17 Dados obtidos atravs de entrevista gravada com representante da empresa, em janeiro de


2010.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 157

Taboquinha-Bela Aurora e Floresta, uma empresa que est localizada entre


os municpios de Marab e Altamira e atua na criao e no melhoramento
gentico de bovinos, principalmente da raa nelore.
O grupo Zucatelli no muito diferente, pois tambm comercializa
diversas marcas de automveis em Marab e regio. Dentre elas, pode-se
destacar a Agrale (trator, caminhes leves, mquinas e implementos), a Fiat
Automveis, a Chana (caminhes de pequeno porte), a Iveco (caminhes
e carretas para transporte de grandes volumes), a JCB (mquinas pesadas,
retroescavadeiras), a Mahindra e a SsangYong (empresas que produzem
veculos utilitrios esportivos), a Mitsubishi (veculos utilitrios), a Vo-
lare (transportes alternativos, tipo vans) e a Sundown Motos (que vende
motocicletas). Em entrevista realizada com um representante, foi possvel
verificar que, alm de manter as concessionrias, o grupo atua tambm na
comercializao de pneus, com a Tipler; em atividades rurais, com o grupo
RR Agropecuria, voltado para o setor agroflorestal, com a plantao de
teca, e para a criao de animais de elite e de avestruz; e, ainda, no setor
imobilirio, por meio da comercializao de lotes e da locao de imveis.
interessante notar que os dois grupos tm sua base na cidade de Ma-
rab, onde iniciaram suas atividades e esto estabelecidos desde os anos
1970, mas com atuao estendida a toda a regio, principalmente em parte
do Maranho e do Tocantins, e com expanso, nos ltimos anos, para a
Regio Metropolitana de Belm, atravs de empreendimentos do ramo de
concessionrias. As concessionrias, sobretudo as de veculos, caminhes,
tratores e retroescavadeiras, esto todas localizadas em duas reas princi-
pais da cidade, na VP-8 e no entroncamento do Km 6, na Nova Marab,
ou seja, em pontos estratgicos, na perspectiva de um comrcio regional
que, importante que se reafirme, no foi atingido fortemente pela crise
internacional, como foi o setor siderrgico da cidade.
Aps discorrer sobre o perfil dos principais grupos ligados s atividades
de comrcio, dar-se- nfase, em seguida, ao papel dos servios na produ-
o da centralidade urbana de Marab. Para isso, trs elementos so utiliza-
dos como referncia: os servios especializados de sade; o ensino superior,
com destaque para cursos de ps-graduao; e a rede bancria e financeira.
A espacializao dos servios especializados de sade em Marab pode
ser observada na Tabela 21, que mostra a distribuio de suas unidades

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158 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

nos trs ncleos principais da cidade, destacando-se a Cidade Nova, que


concentra 44,7% de todas as modalidades de servios existentes, seguida
pela Nova Marab, com 36,5%. Conforme se pode verificar, os servios de
sade que mais se destacam na cidade so as clnicas odontolgicas, que
representam 44,6% do setor, as clnicas especializadas, que correspondem
a 40,2%, e os laboratrios, que somam 7,38% desses servios. Deve-se res-
saltar, ainda, com base na Tabela 21, a presena de centros de distribuio
de medicamentos e de lojas de equipamentos hospitalares que, apesar dos
ndices de apenas 5,16% e 0,7%, respectivamente, so de fundamental im-
portncia para regio.

Tabela 21: Marab. Servios especializados de sade por ncleos. 2010.


Servios Ncleos urbanos
especializados Marab Nova Cidade So Morada Total
Pioneira Marab Nova Flix Nova
Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. % Abs. %
Clnicas especializadas 16 14,7 37 33,9 56 51,4 109 100
Laboratrios 05 25,0 07 35,0 08 40,0 20 100
Lojas de equipamentos 01 50,0 01 50,0 02 100
hospitalares
Consultrios 28 23,1 42 34,7 51 42,2 121 100
odontolgicos
Ambulatrios 03 100 03 100
Unidades de servios 01 50,0 01 50,0 02 100
especializados
Consultrios mdicos 02 10,53 14 73,68 03 15,79 19 100
especializados
Distribuidora de 02 14,3 08 57,1 04 28,6 14 100
medicamentos
TOTAL 53 18,8 113 36,5 124 44,7 290 100
Fonte: Secretaria Municipal de Sade, 2010. Elaborado por Mrcio Douglas Brito Amaral e Marcos Alexandre
Pimentel da Silva.

O principal equipamento de sade especializada do Sudeste Paraense,


localizado na cidade de Marab, mais especificamente na Nova Marab,
prximo ao entroncamento do Km 6, o Hospital Regional do Sudeste do
Par Dr. Geraldo Veloso. Implantado sob a concepo de regionalizao
da sade adotada pelo governo federal, tem tambm servido de base para
as aes do governo estadual em anos recentes. De acordo com a Secret-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 159

ria de Sade do Estado do Par, a sra. Slvia Maria Comaru Leal, a ado-
o de uma regionalizao especfica para a rea da sade acompanha de
perto a orientao do Ministrio da Sade, que estabelece a necessidade de
elaborao de um Plano Diretor de Regionalizao, em que so definidas
as regies de sade, levando em considerao o processo de polarizao
urbana por que passam as cidades mais importantes de cada regio. Segun-
do a Secretria, a proposta do rgo alocar investimentos nos municpios
polos, dotando-os de equipamentos complexos para que possam atender os
municpios prximos.
O Hospital Regional do Sudeste do Par (Marab) foi inaugurado em
outubro de 2006, faz parte da 11a Regional de Sade e Proteo Social, e
tem como objetivo atender a populao dos seguintes municpios: Rondon
do Par, Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Nova Ipixuna, Itupi-
ranga, So Joo do Araguaia, So Domingos do Araguaia, So Geraldo do
Araguaia, Curionpolis, Eldorado dos Carajs, Parauapebas, Cana dos
Carajs, Brejo Grande do Araguaia e Piarra. Possui 77 leitos-enfermaria
(entre os quais assistncia peditrica especializada, assistncia mdica espe-
cializada e assistncia cirrgica especializada), 38 em Unidades de Terapia
Intensiva (UTI), sendo vinte para adultos, nove para neonatais e nove para
a pediatria, assim como obstetrcia de alto risco, clnica mdica, clnica
cirrgica. Alm disso, o hospital disponibiliza diagnstico por imagem
(tomografia, ressonncia magntica, raios x, ultrassonografia), mtodos
grficos, patologia clnica, reabilitao e fisioterapia (Par, 2012).
No que se refere presena de cursos superiores, com destaque para
os de ps-graduao, pode-se dizer que Marab vem acompanhando de
perto a tendncia de expanso que ocorre em diferentes cidades brasileiras,
principalmente as de porte mdio. Das 17 instituies de ensino superior
existentes na cidade atualmente, 3 delas so pblicas e 14 particulares, das
quais apenas 2 possuem cursos de graduao regulares, enquanto as outras
12 oferecem cursos na modalidade distncia, tanto graduao quanto
ps-graduao latu senso (especializao). Os principais campos de forma-
o dos cursos desenvolvidos por essas instituies pblicas e privadas so
o educacional, o tecnolgico, o gerencial e o de agricultura. A maior parte
deles, com exceo dos voltados formao docente, tem como objetivo o
desenvolvimento de atividades empresariais, principalmente nos setores de
minerao e agropecuria (Quadro 18).

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160 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 18: Marab. Instituies de ensino superior com cursos regulares. 2012.
Cursos da Cursos da Faculdade Faculdade de
Universidade Universidade do Metropolitana de Cincias Sociais
Federal do Par Estado do Par Marab Aplicadas
(UFPA) (UEPA) de Marab
(FACIMAB)
Agronomia Biomedicina Cincias Contbeis Administrao
Cincias Sociais (Lic.) Engenharia Ambiental Educao Fsica Cincias Contbeis
Cincias Naturais Tec. Agroindustrial Engenharia Civil
(Lic.) Alimentos
Direito Tec. Agroindustrial Fisioterapia
Madeira
Educao do Campo Sistema de
(Lic.) Informao
Eng. Materiais Administrao
(Marketing, Finanas,
Recursos Humanos)
Eng. Minas e Meio
Ambiente
Fsica (Lic.)
Geografia (Lic./Bach.)
Geologia
Letras (Lng. Inglesa-
Lic.)
Letras (Lng.
Portuguesa-Lic.)
Matemtica (Lic.)
Pedagogia (Lic.)
Sistema de Informao
Fonte: Ministrio da Educao e Cultura, Universidade Federal do Par e Universidade do Estado do Par.
Organizado por Mrcio Douglas Brito Amaral.

A dinmica de expanso das instituies de ensino superior acompanha,


portanto, as tendncias e realidades econmicas vividas na cidade e em seu
entorno. Junto com as faculdades, tambm crescente o nmero de insti-
tuies que oferecem cursos em nvel tcnico e tecnolgico, mas a absoro
da fora de trabalho formada na cidade ainda tmida, principalmente se
verificarmos o ramo da minerao, cuja mo de obra, pelo menos a de maior
nvel de capacitao, em sua maioria de fora do estado do Par. comum
tambm, no que se refere formao em nvel superior, a sada de pessoas
da cidade para frequentarem universidades pblicas e faculdades particu-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 161

lares, principalmente, mas no apenas, em Belm (PA), Goinia (GO) e


Braslia (DF), centros importantes na oferta de equipamentos e servios
para a rede de cidades da qual Marab faz parte, segundo o IBGE (2008).
Fatos que reforam ainda mais a sada de jovens para estudar na metrpole
de Belm so a manuteno, por parte de cidades como Marab, Rondon
do Par e Abel Figueiredo, de casas de estudantes em funcionamento na
capital e a presena de moradores dessas cidades na Casa do Estudante
Universitrio do Par (CEUP).
Um elemento fundamental para reafirmar o papel de centralidade de
Marab a criao da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Par (Uni-
fesspa), uma instituio anunciada pela presidente Dilma Rousseff, a ser
instalada em 2013. De acordo com o Projeto de Lei (PL 2206/2011) de sua
criao, a Unifesspa resulta do desmembramento da Universidade Federal
do Par (UFPA) e ter sede e foro no municpio de Marab. Sua insero
regional se dar mediante um modelo de multicmpus, segundo o qual Ma-
rab abrigar inicialmente 36 cursos de graduao, Rondon do Par, oito,
Xinguara, sete, e Parauapebas, oito. Alm desses, existe ainda a previso da
instalao dos cmpus de Santana do Araguaia e So Flix do Xingu. Entre
as principais reas de formao esto previstas: engenharias, educao,
lingustica, sade, cincias sociais, humanas, biolgicas, socioeconmicas,
jurdicas e exatas. A previso de que sejam ofertadas 2.170 vagas, com
uma estimativa de contratao de 755 docentes e 436 tcnicos administrati-
vos, distribudos pelos diferentes cmpus (Cmara dos Deputados, 2012).
Por fim, a centralidade exercida por Marab na regio da qual faz parte
tambm observada por meio de outro tipo de servio muito importante
para o processo de modernizao da economia, o setor bancrio-financeiro,
que detm uma rede significativa para os padres regionais. No Quadro 19,
pode-se verificar a importncia de Marab na oferta desse tipo de servio
para o Sudeste Paraense, j que possui 12 das 78 agncias bancrias (15%),
e 28 dos 146 postos de atendimento bancrio (PABs) (19%). Destacam-
-se tambm as cidades cuja dinmica est relacionada s atividades de
minerao (Parauapebas, Paragominas e Tucuru) que, juntas, concentram
22 agncias e 38 PABs, alm do subcentro regional de Redeno, onde h 6
agncias e 4 PABs.
Antes de concluir que esse dado revela um nvel de centralidade pouco
significativo para uma cidade mdia, preciso chamar a ateno para um

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aspecto importante, no visualizado no Quadro 19: o fato de que, dentro da


regio Sudeste Paraense, 15 cidades (ou 38%) no possuem agncias ban-
crias e, destas, 2 no contam nem mesmo com um posto de atendimento
bancrio. preciso acrescentar, ainda, que na regio metropolitana de
Belm encontram-se 38,2% das agncias e 50,5% dos postos de atendimen-
to bancrio de todo o Estado.

Quadro 19: Sudeste Paraense. Cidades com agncias bancrias e PABs. 2009.
Municpio No de agncias No de PABs
Bom Jesus do Tocantins 1 1
Cana dos Carajs 1 2
Conceio do Araguaia 4 3
Curionpolis 1 1
Dom Eliseu 3 3
Eldorado dos Carajs 1 2
Itupiranga 2 1
Jacund 2 4
Marab 12 28
Novo Repartimento 2 2
Ourilndia do Norte 1 7
Paragominas 7 8
Parauapebas 9 17
Pau DArco 0 2
Piarra 0 0
Redeno 6 4
Rio Maria 2 2
Rondon do Par 4 3
Santana do Araguaia 2 5
So Domingos do Araguaia 1 1
So Flix do Xingu 3 5
So Geraldo do Araguaia 1 1
Tucum 3 5
Tucuru 6 13
Ulianpolis 1 1
Xinguara 3 3
Sudeste Paraense 78 146
Regio Metropolitana de Belm 126 406
Estado do Par 329 803
Fonte: Federao Brasileira de Bancos (Febraban), 2009. Elaborado por Rovaine Ribeiro.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 163

A presena relativamente significativa de agncias bancrias e de PABs


em Marab, considerando a realidade do estado do Par, est associada, de
um lado, forte dinmica econmica do municpio, que possui o quarto
maior PIB do estado e, de outro, presena de uma expressiva populao
urbana e de uma densa rede de articulao regional.
A distribuio espacial das agncias bancrias e dos postos de aten-
dimentos (PABs) nos principais ncleos urbanos da cidade (Tabela 22)
refora ainda mais seu carter multinucleado e sua relao direta com a
espacialidade das atividades comerciais e de servios. A concentrao de
agncias bancrias na Nova Marab pode ser associada importncia que
esse ncleo tem na oferta de servios especializados e na comercializao
intensa de produtos voltados s demandas locais e regionais, tais como as
concessionrias, os supermercados, os terminais rodovirios e as secretarias
municipais. Por outro lado, a maior presena de PABs na Cidade Nova est
relacionada s demandas do aeroporto e das instituies pblicas de car-
ter regional, que dependem de operaes mais simples e que demandam
maior agilidade e rapidez, tais como saques, transferncias e pagamentos
de boletos.

Tabela 22: Marab. Distribuio espacial de agncias e PABs por ncleos. 2009.
Ncleos urbanos Agncias PABs
Abs. % Abs. %
Marab Pioneira 4 30,8 3 14,3
Cidade Nova 3 23,1 12 57,1
Nova Marab 6 46,1 6 28,6
So Flix
Morada Nova
Total 13 100 21 100
Fonte: Banco Central do Brasil Dicad-Desig Diviso de Gesto de Informaes Cadastrais. Elaborado pela
Federao Brasileira de Bancos (Febraban). Superintendncia de Comunicao Social Gerncia de Sistemas.

Os elementos acima elencados apontam, conforme j sugerido, que o


comrcio e os servios presentes em Marab reforam o carter multinu-
cleado da cidade, uma vez que as atividades so pensadas sempre no sentido
de intensificar a diferenciao e definir complementaridades no interior
da estrutura urbana formada por trs ncleos principais e dois outros de
carter secundrio. Esse setor, portanto, pode ser considerado fundamental

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para explicar a centralidade regional da cidade, uma vez que algumas das
atividades so encontradas somente ou com maior intensidade em Marab,
tais como a venda de veculos, os servios de sade no Hospital Regional
do Sudeste Paraense e nas clnicas de sade especializadas e as lojas de de-
partamentos. Os dados apontam, igualmente, que preciso um olhar mais
cuidadoso para um possvel processo de acumulao interna ou regional,
que parece estar ocorrendo, com certo destaque, em paralelo ao movimento
de globalizao e lgica das verticalidades que, nos ltimos anos, foram a
base para explicar a dinmica urbano-regional.
Em termos gerais, a explicao da urbanizao na Amaznia, e espe-
cificamente em Marab, no pode prescindir de uma atenta anlise do
comrcio e dos servios, uma vez que eles definem processos em uma escala
da cidade e da regio, e revelam a fora de grupos locais e a forma como
se articulam em outras escalas e com outras atividades, sem perderem a
capacidade de acumulao. A importncia desse ramo de atividades para
a cidade e para a definio de processos de estruturao urbana parece ser
crescente, tanto que recentemente foram anunciados vrios empreendi-
mentos: o Shopping Ptio Marab,18 em estgio avanado de construo e
comercializao, pelos grupos Leolar, Dan-Hebert, AD Shopping, Solare e
Couceiro & Rubim e o Unique Shopping, com construo prevista por um
consrcio de empresas (Urbia, Premium Engenharia e Mutran & Mutran),
que contar com duzentas lojas, seis ncoras, dez megalojas, 27 lojas do tipo
fast-food, alm de seis salas de cinema (Marab 98 anos, 2011). Destacamos
ainda a recente instalao do Golden Ville Hotel, um empreendimento com
145 apartamentos, um restaurante e espaos para eventos e convenes
(Golden Ville Hotel, 2012).
Deve-se ressaltar que esses novos empreendimentos esto localizados
na Nova Marab, em particular no eixo da rodovia Transamaznica, que

18 Esse shopping center foi concebido como um espao multiuso, contando em seu complexo
com dois hotis Solare Hotis e Sutes e Expresso XXI, totalizando 274 unidades habitacio-
nais e uma torre comercial com 12 pavimentos e 168 salas comerciais. O empreendimento
possui ainda cinco salas de cinema, sendo uma delas em 3D (Moviecom Cinemas), um par-
que de diverses, dezessete lojas de fast-food, nove lojas ncora (Lojas Americanas, C&A,
Renner, Riachuelo, Viso, Marisa, Leolar etc.), sete lojas mega (Sol Informtica, Borges
Informtica, Big Ben, Super Sport etc.), oito escadas rolantes, oito elevadores, 1.235 vagas de
garagem. Deve-se ressaltar que a primeira etapa contemplar 32.538,65 metros quadrados,
e a segunda, 39.659.10 metros quadrados de rea construda (Ptio Marab, 2012).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 165

foi recentemente reestruturada no permetro urbano de Marab, articu-


lando os trs principais ncleos urbanos por meio de sua duplicao, da
construo de trs viadutos e da duplicao da ponte que faz a interliga-
o com o ncleo Cidade Nova. Alm disso, preciso chamar a ateno
para dois grandes empreendimentos imobilirios localizados na rodovia
Transamaznica, no eixo de expanso da Nova Marab: 1) Residencial Ci-
dade Jardim, uma iniciativa dos grupos Leolar e Buriti Empreendimentos
Imobilirios, com 7.855 terrenos, entre lotes comerciais e residenciais, que
vm com uma proposta de construir um novo ncleo urbano dentro de Ma-
rab, tanto assim que seu slogan Cidade Pioneira, Cidade Nova, Nova
Marab e agora a Cidade Jardim (Buriti Empreendimentos Imobilirios,
2012); 2) Residencial Total Ville Marab, um empreendimento do grupo
Direcional Engenharia, que trabalha com o conceito de bairro planejado,
com apartamentos de dois e trs quartos e casas de trs quartos (Direcional
Engenharia, 2012).
Diante dessas projees do comrcio e dos servios e da dinmica de
estruturao e reestruturao do espao intraurbano que esse ramo de ativi-
dades e suas projees provocam, passaremos agora a investigar de maneira
mais detida as formas de organizao interna de Marab, enfatizando as
desigualdades socioespaciais to flagrantes em uma cidade como esta.

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5
CENTRALIDADE SUB-REGIONAL
E PRODUO DE DESIGUALDADES SOCIAIS
INTRAURBANAS

Por sua estratgica localizao contato da Amaznia com o Nordeste e


o Centro-Oeste, na confluncia dos rios Tocantins e Itacainas e prxima a
importantes rodovias de articulao nacional e regional , Marab se estru-
turou internamente em decorrncia de ser uma das mais importantes portas
de entrada da populao migrante na regio. Esse contingente caracterizou-
-se por ser notadamente uma mo de obra mvel e polivalente, responsvel
por definir tanto a fronteira econmica que se constituiu a partir da segun-
da metade do sculo XX (Becker, 1990) quanto a fronteira tecnoecolgica,
que passou a assinalar a nova poltica de desenvolvimento regional a partir
da dcada de 1990 (Becker, 2004). Essas diferenas internas revelam uma
geografia histrica da cidade, associada a padres de ocupao que esto
refletidos na paisagem urbana da cidade, em seus diferentes ncleos, por
meio de suas dimenses urbanstica, cultural e histrica.
Assim, no apenas no circuito econmico que se reproduz interna-
mente a cidade econmica. O processo de acumulao seletivo confere
diferenciaes e desigualdades sociais internas, expressas atravs da segre-
gao socioespacial e ritmadas, em boa medida, pela no formalizao das
relaes de troca e pela presena de assentamentos residenciais, marcados
pela improvisao e por redes no necessariamente formais.
semelhana de sua dinmica sub-regional, portanto, a estrutura in-
traurbana da cidade de Marab tambm se mostra complexa. Nela se des-
tacam a combinao entre a colonizao e a explorao antiga e recente,
assim como as sobreposies e convivncias de tempos e de temporalida-
des, visualizadas nas espacialidades e territorialidades que compem sua
estrutura interna.

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5.1. A diferenciao intraurbana e a cidade das


coexistncias e convivncias

Conforme mostra Becker (1990), desde a dcada de 1980 a cidade de


Marab j apresentava uma estrutura intraurbana tripartite bem diferen-
ciada. Hoje, a Velha Marab, tambm chamada de Marab Pioneira, sede
da frao regional em declnio e do comrcio mais tradicional, apresenta
ainda um padro de organizao espacial fortemente relacionado dinmi-
ca dos rios, esta, por sua vez, associada a um tempo mais remoto de forma-
o do espao marabaense, muito embora constitua, concomitantemente,
produto de novas espacialidades inerentes dinmica de beira de estrada.
O ncleo urbano Nova Marab, planejado pela Sudam sob a forma de
uma castanheira, onde se encontram as instalaes de rgos do governo
municipal, instituies estatais e bancos. A ocupao do solo, um misto
entre o planejado e o espontneo, dificulta o reconhecimento do desenho
inicial da castanheira e apresenta uma organizao espacial fortemente
associada aos eixos rodovirios (PA-150 e BR-230) e ferrovirio, cuja espe-
cificidade de formao relaciona-se a tempos mais recentes, provenientes
do intenso processo de urbanizao do territrio amaznico evidenciado a
partir dos anos de 1970.
A formao do Km 6 (entroncamento da rodovia PA-150 com a Tran-
samaznica), uma subunidade da estrutura da Nova Marab, surgida com
o movimento decorrente das estradas, um bom exemplo do ritmo que a
rodovia deu cidade. Definiu-se a um espao marcado pelo fluxo e pela
passagem do migrante e dos que chegam para se fixar ou apenas para usar
seus servios, comrcios, lazer etc., justificando a, inclusive, a criao de
uma nova rodoviria. Nascida de modo espontneo, formou-se em torno
dela uma espcie de subcentro comercial voltado para esse fluxo que ocorre
a partir das estradas, o qual, inclusive, exigiu do poder pblico a construo
de um terminal rodovirio que, combinado com uma feira, do suporte a
esse tipo de circulao ali consolidada, onde se pensou construir um dos
shoppings centers da cidade.
O ncleo Cidade Nova, por sua vez, resultado de ocupao mais espon-
tnea, apresenta expressivo crescimento horizontal ao longo da rodovia
Transamaznica, onde despontam comrcios e servios mais dinmicos e
modernos. Possui uma organizao espacial relacionada sobretudo ao eixo

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 169

rodovirio, mas tem tambm uma dinmica em parte associada presena


do aeroporto de Marab, a instalado, definindo servios (restaurantes, co-
mrcios, hotis etc.) que materializam fixos decorrentes do sistema de cir-
culao, o qual se efetiva e se incrementa com base na complementaridade
entre rodovia e aerovia. Esse ncleo apresenta-se como produto de proces-
sos socioespaciais que remontam aos anos 1970, decorrentes do fracasso do
programa de polos agropecurios implantados nas proximidades da cidade
de Marab, mas que se redefine como espao de coexistncia da cidade for-
mal e da cidade informal.
Esses trs ncleos principais so complementados pelo ncleo de So
Flix, em direo tambm PA-150, que mescla a tendncia rodoviria a
um padro ribeirinho (Rio Tocantins), permanecendo como espao residual,
mas tambm voltado ao lazer relacionado nova dinmica urbana de Mara-
b; e o ncleo Morada Nova, um verdadeiro entroncamento rodovirio (PA-
150 e BR-222), que, alm de espao de moradia em descontnuo aos demais
ncleos, um pequeno centro de comrcio e de apoio circulao rodoviria.
No caso de So Flix, trata-se de um ncleo antigo, situado na margem
direita do Rio Tocantins e habitado por comunidades indgenas at a dcada
de 1940, articulado, hoje, margem esquerda atravs da ponte rodoferro-
viria por onde passam os trens da Vale. Comeou a ser controlado por cas-
tanheiros a partir de 1930 e, em 1960, por migrantes de diferentes origens.
Nos dias atuais, tem-se tornado um espao de expanso espontnea para o
nordeste da cidade. Com histrico diverso, o ncleo Morada Nova surgiu
mais recentemente, na dcada de 1970, no entroncamento rodovirio da
PA-150 e da BR-222, distando 12 quilmetros da Marab Pioneira, e se
configura, conforme j mencionado, como espao descontnuo de expanso
urbana.
Assim, da cidade dos notveis e da colonizao oficial cidade corpo-
rativa e econmica, o ordenamento interno de Marab fruto e sntese de
sucessivos processos que remontam s frentes extrativas vegetais, agrcolas,
pastoris, minerais e industriais, e a seus respectivos modais de circulao
predominantes. Nessa cidade, de organizao espacial interna bem dife-
renciada quando comparada das demais cidades amaznicas, e multinu-
cleada, conforme j discutido, parecem se combinar diferentes padres de
urbanizao, se considerarmos os modelos pensados por Becker (1990) para
a Amaznia (Quadro 20).

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Quadro 20: Marab. Padres de urbanizao expressos na estrutura intraurbana.
170

Modelos Caracterizao Presena no espao intraurbano de Marab


Urbanizao Muito presente na Amaznia Oriental, resulta em grande parte da ao Espaos de ocupao espontnea, presentes de forma genrica no
espontnea indireta do Estado na produo do espao, quando incentiva a apropriao conjunto do espao urbano, nos cinco ncleos que formam a estrutu-
privada da terra por empresas, grupos econmicos ou agentes individuais. ra urbana de Marab.
Nesse processo, surgem ou se expandem cidades que acompanham as fren-
tes econmicas, mobilizando, igualmente, uma grande quantidade de mo
de obra mvel e polivalente e que acaba por incrementar a dinmica dos
ncleos urbanos recentes ou em expanso.
Urbanizao Direcionada por particulares, um tipo de urbanizao comandada por Mais presentes s margens das estradas, os ncleos formados em
dirigida pela relaes econmicas baseadas em trabalho familiar e cuja configurao entroncamentos rodovirios representam uma resposta a demandas
colonizao territorial assemelha-se ao urbanismo rural do Incra. Articula um sistema de mercadorias, servios e mo de obra dos espaos rurais prximos,
particular de ncleos urbanos configurados em localidades centrais hierarquizadas, colonizados por agentes privados cujas atividades pressupem a cir-

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onde os agentes principais so os colonos, os funcionrios de empresas, os culao rodoviria.
comerciantes e os investidores.
Urbanizao Trata-se do modelo de urbanismo rural do Incra, que articula um sistema de A definio de Marab como uma das rurpolis que compunham a
dirigida pela ncleos urbanos configurados em localidades centrais hierarquizadas, apro- estrutura do urbanismo rural definido pelo Incra ao longo da Trans-
colonizao veitando a estrutura urbana preexistente para a configurao de um sistema amaznica definiu um mosaico urbano formado por trs ncleos
oficial de cidades, que, por sua vez, est baseado em uma estrutura social complexa: principais, Cidade Nova, Nova Marab e Marab Pioneira.
colonos, funcionrios, comerciantes (bens, terras, fora de trabalho), extrati-
vistas, antigos moradores, burocracia, fazendeiros, migrantes etc.
Urbanizao Trata-se de um processo de urbanizao ligado a projetos de grande escala Mesmo no sendo caracterizada como uma cidade-empresa ou com-
dos grandes os grandes projetos econmicos e de infraestrutura , que dependem de pany town, o papel de cidade corporativa atribudo a Marab fa-
projetos cidades-empresa diretamente, mas tambm, indiretamente, de centros sub- cilmente reconhecido devido sua importncia para as atividades
-regionais, que cumprem o papel de bases logsticas e se mostram funcional- desenvolvidas por grandes empreendimentos econmicos no Sudeste
mente articulados a esses empreendimentos. Paraense, sendo o mais expressivo o Projeto Carajs, da mineradora
Vale. Grande parte dos fluxos que se expressam na estrutura intraur-
bana deve-se forte relao com esse tipo de empreendimento, em
razo dos quais a existncia de fixos, como o ptio da Estrada de Fer-
ro Carajs, demarcam uma estreita relao com a paisagem urbana.
Urbanizao Com pouca repercusso da expanso das frentes econmicas, trata-se de A presena de um padro de ordenamento urbano tradicional for-
tradicional cidades que apresentam uma configurao com pouca alterao do padro temente marcada em ncleos como So Flix e, igualmente, na Velha
tradicional beira do rio e com forte ligao a um centro regional que no Marab ou Marab Pioneira, em que populaes como a do bairro
prescinde do padro dendrtico fluvial. Cabelo Seco ainda mantm intensas relaes com o rio, sendo este
de forte presena na vida cotidiana.
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Fonte: Becker (1990) e trabalho de campo, out. 2008 e jan. 2010. Elaborado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 171

Essa estrutura reflete a concentrao da populao na zona urbana, que


se justifica, em grande parte, pela natureza da fronteira urbana que se defi-
niu no Sudeste Paraense, a partir da dcada de 1960. Nesse caso, a fronteira
econmica j nascia urbana, em funo de vrios fatores, conforme mos-
traram Becker (1990) e Machado (1999). A expanso das diversas frentes
ocorreu em um contexto urbano, haja vista que os fluxos migratrios em
direo a Marab, diferena do que foi propalado pelas polticas oficiais,
no assumiram um destino predominantemente rural. Foi nesse sentido
que o urbano surgiu como estratgia de ocupao e resultado de uma com-
plexa e dinmica organizao espacial imposta ao Sudeste Paraense, bem
refletida no espao intraurbano marabaense.

5.2. As demandas por infraestrutura e servios urbanos

Esse perfil diferenciado e complexo revelador de fortes contrastes


sociais e econmicos que marcam o Sudeste Paraense, cuja dinmica econ-
mica, que faz de Marab um dos maiores PIBs do Estado do Par, promove
tambm o aprofundamento das desigualdades socioespaciais, tornando-a
uma realidade urbana com srios problemas sociais. A expressividade dos
problemas sociais e urbanos parece diferenci-la de outras cidades mdias
onde o meio tcnico-cientfico informacional mostra-se mais consolidado,
e o processo de urbanizao tende a ganhar modernamente outra conotao.
Como exemplo desses problemas, temos os dados de inadequao fundiria
urbana e de precariedade da habitao.
No contexto da Regio de Integrao de Carajs, integrante do Sudeste
Paraense, Marab um dos municpios que se destaca, em nmeros absolu-
tos, devido existncia de 1.061 domiclios com problemas de inadequao
fundiria, em 2000, e 862 unidades, em 2007, segundo dados calculados pelo
Instituto de Desenvolvimento Econmico, Social e Ambiental do Par
Idesp (Par, 2009). Ainda que em termos proporcionais no seja Marab
a que apresenta a maior gravidade desse tipo de problema na sub-regio
mencionada, em termos absolutos o municpio que lidera demandas por
regularizao fundiria, assim como por infraestrutura urbana e servios,
mesmo que os nmeros oficiais tenham revelado reduo do dficit habi-
tacional, de domiclios sem banheiro exclusivo e de moradias com carncia
de energia eltrica, abastecimento de gua, esgotamento sanitrio e coleta
de lixo (Tabela 23).

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172

Tabela 23: Marab. Dficits absoluto e relativo de moradia e servios urbanos segundo a situao de domiclio. 2000 e 2007.
Servios e No absoluto No relativo (%) No absoluto No relativo (%)
infraestrutura 2000 2000 2007 2007
Total Urb. Rur. Total Urb. Rur. Total Urb. Rur. Total Urb. Rur.
Dficit Habitacional 9.691 5.573 4.118 26 18 57 6.249 3.594 2.656 6 4 13

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Domiclios sem 20.746 14.726 6.020 54,71 47,96 83,44 4.693 3.033 1.660 4,29 3,42 7,98
Banheiro Exclusivo
Domiclios sem 4.493 605 3.888 11,85 1,97 53,89 692 93 599 0,63 0,11 2,88
Energia Eltrica
Domiclios sem 27.911 21.286 6.625 73,61 69,33 91,82 33.828 27.326 6.502 30,93 30,85 31,24
Abastecimento de
gua
Domiclios com 25.097 18.707 6.390 66,19 60,93 88,57 25.543 19.906 5638 23,35 22,48 27,09
Carncia de
Esgotamento Sanitrio
Domiclios com 16.183 10.009 6.174 42,68 32,60 85,57 7.621 2.900 4.722 6,97 3,27 22,69
Carncia de Coleta de
Lixo
Fonte: Idesp/Sepof apud Par (2007a). Nota: A estimativa para 2007 foi realizada com base nos dados para o total do Estado (PNAD-2007), redistribudos proporcionalmente
aos dados de 2000.
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 173

A minimizao da dificuldade de acesso a determinados servios justifi-


ca-se, em parte, pela modernizao do territrio e pela difuso de redes tc-
nicas na Amaznia Oriental, de que exemplo o fornecimento de energia
eltrica, em especial com a expanso desse servio por meio do sistema de
distribuio a partir da hidreltrica de Tucuru.
Ainda que nmeros oficiais de 2007 sejam sugestivos de avanos e de
melhoria de padro de vida quando comparados aos de 2000, as condi-
es apresentadas por Marab quanto oferta de servios e infraestrutu-
ra parecem revelar, ainda, a gravidade dos problemas intraurbanos. Isso
porque, no obstante o aumento de fluxos econmicos e a intensidade de
acumulao de capitais, essa cidade expressa muito bem o tipo de dinmica
econmica que tem se difundido no Sudeste Paraense. A solidariedade
organizacional e o grau de verticalidade dos investimentos realizados nas
ltimas dcadas nessa frao do espao regional amaznico estabelecem,
igualmente, a condio de espaos pontualmente infraestruturados e com
alto grau de excluso social, ainda que de grande centralidade para o entor-
no geogrfico no qual se situa.
Muito mais que definir uma estrutura de cidade moderna e com quali-
dade de vida, que tende a acompanhar o perfil de outras aladas condio
de cidades mdias em regies de economias mais consolidadas, Marab,
apesar de sua importante centralidade, no revela uma possvel incorpora-
o de riquezas a ponto de melhorar substancialmente as condies de vida
locais.
No que concerne habitao, por exemplo, mesmo com reduo do
dficit habitacional, do ponto de vista quantitativo, e com mudanas no
padro de vida nas moradias, que passam a incorporar, na estrutura das
casas, a presena de banheiros e a construo de fossas spticas como so-
luo alternativa ausncia do esgotamento sanitrio, no se pode dizer
que a soluo do problema, do ponto de vista qualitativo, seja assim to re-
presentativa, dada a proliferao, de forma ainda acentuada, de ocupaes
(Quadro 21) do tipo espontneas, as quais, ainda que garantam o acesso
habitao, no resultam de uma poltica habitacional clara e direcionada
para a soluo do problema da moradia.

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Quadro 21: Marab. Ocupaes na sede municipal. 2010.
174

Ocupao Localizao Ano No Situao Observao


aproximado
de Unidades
Habitacionais
Belo Horizonte Cidade Nova Ocupao consolidada Propriedade privada
Ocupao do Km 8 Cidade Nova 1980 3.000 Ocupao consolidada em Propriedade desconhecida
litgio
S. Flix I So Flix 1985 Ocupao consolidada Propriedade privada
S. Flix II So Flix 1985 Ocupao consolidada Propriedade privada

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S. Flix III So Flix 1985 Ocupao consolidada Propriedade privada
S. Flix IV So Flix 1985 Ocupao consolidada Propriedade privada
Aeroporto Cidade Nova 1986 200 Ocupao consolidada em Terra da Unio (Aeronutica)
litgio
Vila Soc Velha Marab 1988 130 Ocupao consolidada rea impactada pela duplicao da Transamaznica
sujeita a remanejamento
Santa Rita Velha Marab 1990 200 Ocupao consolidada em Terras da Unio
litgio
Bom Planalto Cidade Nova 1995 5.000 Ocupao consolidada Propriedade privada comprada pela Prefeitura
Folha 35 Nova Marab 1997 500 Ocupao consolidada no Terra particular/decreto estadual invalidado/liminar
regularizada
Jardim Unio Cidade Nova 1998 4.000 Ocupao consolidada Propriedade privada
Ocupao da Estrada da Marab Pioneira 1998 500 Ocupao em litgio Terras da Unio
Mangueira
Invaso da Renomar Nova Marab 1999 148 Ocupao consolidada em rea pblica municipal em regularizao
(Folha 31) litgio
Folha 25 Nova Marab 2001 380 Ocupao consolidada em rea pblica municipal e particular/liminar/em
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

litgio regularizao
Continua

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Quadro 21: Continuao
Ocupao Localizao Ano No Situao Observao
aproximado
de Unidades
Habitacionais
Bairro Tancredo Neves Cidade Nova 2004 1.200 Ocupao consolidada sob Terra da Unio repassada para o municpio sob
(Jd. Jerusalm) regularizao do Programa responsabilidade da Associao dos Flagelados e
Minha Casa, Minha Vida Sem-Teto da Regio de Marab (AFTRM).
Jardim Bela Vista Cidade Nova 2004 4.000 Ocupao consolidada Propriedade da Unio
Jardim Filadlfia Cidade Nova 2005 288 Ocupao consolidada em Propriedade privada/Liminar de reintegrao

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litgio
Nossa Sra. Aparecida Nova Marab 2005 781 Ocupao consolidada em Propriedade privada desapropriada pelo governo do
(Invaso da Coca-Cola) litgio estado: antiga fazenda Bandeira
So Miguel da Conquista I Cidade Nova 2006 1.800 Ocupao consolidada em Propriedade particular/liminar de reintegrao
litgio
Bairro da Paz Cidade Nova 2007 2.800 Ocupao consolidada em Propriedade particular (Fazenda Sta. Izabel)/ Liminar
litgio
Folha 14 (Vila 4 de Nova Marab 2007 30 Ocupao consolidada em Terra pblica municipal/sem liminar
Novembro) litgio
Nova Aliana Km 12 Taurizinho 2007 450 Ocupao consolidada Ocupao urbano-rural
So Miguel da Conquista Cidade Nova 2007 180 Ocupao consolidada em Terra particular/liminar de reintegrao
II (Nova Vida) litgio
Bairro Araguaia (Invaso Nova Marab 2008 2.100 Ocupao consolidada em rea em litgio Incra e Particular (Mutran)/Liminar
da Fanta) litgio
Bairro Novo Paraso Nova Marab 2008 70 Ocupao consolidada em Terra pblica/liminar
(Km 6,5) litgio
AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL

Cidade de Deus (Soror) Cidade Nova 2008 800 Ocupao consolidada em rea da Cosipar/liminar de reintegrao
litgio
175

Fonte: Trabalho de campo, out. 2008 e jan. 2010 e informaes verbais do representante da FGTRM. Elaborao: Saint-Clair C. da Trindade Jr.

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176 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Alm das ocupaes urbanas, formas espaciais muito flagrantes na pai-


sagem e na estrutura urbana de Marab, cujos agentes e suas representa-
es como a Associao dos Flagelados e Sem-Teto da Regio de Marab
(FGTRM) e outras associaes e movimentos de mesma natureza emba-
tem-se com outros interesses de agentes produtores do espao urbano (pro-
prietrios fundirios rurais e urbanos, proprietrios de meios de produo e
servios, Estado etc.), h, igualmente, no interior do mercado imobilirio,
aes no formais que prescindem dos agentes imobilirios intermedirios
(corretores, planejadores de venda e servios especializados). Trata-se da
atuao de pequenos proprietrios imobilirios urbanos que produzem o
servio da moradia e o colocam no mercado de locao sem qualquer for-
malidade jurdica. Por esse meio, comum, em todos os ncleos da cidade,
encontrar-se o aluguel informal, sem qualquer tipo de contrato. Normal-
mente, dizem respeito a pequenas habitaes, com um ou dois quartos,
chamadas de vilas ou quitinetes, oferecidas a uma demanda relativamente
solvvel da populao, muitas vezes pessoas que realizam trabalhos, servi-
os ou negcios em Marab, onde se encontram sem nenhuma perspectiva
de vnculos e de permanncia.
Esse tipo de prtica d uma grande dimenso aos fluxos que conferem
centralidade cidade de Marab, embora no possa ser conferida atravs de
dados formais relacionados habitao e ao mercado de locao. Isso per-
mite inferir uma dinmica muito prxima daquela atribuda a espaos de
fronteira econmica, onde a fugacidade, a versatilidade, a informalidade e a
rapidez da circulao revelam uma cidade de intensa dinmica urbana, mas
tambm bastante voltil e que, por essas razes, redimensiona um perfil
urbano ligado s prticas de uma economia invisvel, devido a sua pouca
ou nenhuma formalidade.
Tal economia, por sua vez, contribui para a existncia de baixos inves-
timentos sociais para o conjunto da cidade e para a expanso de fixos cole-
tivos, haja vista que, associada a essa prtica, manifestam-se igualmente a
inexistncia e mesmo a sonegao de impostos e de tributos que poderiam
contribuir para uma configurao urbana menos desigual. Dessa forma,
a situao de fronteira, muito presente ainda no espao regional e sub-
-regional, tende a se expressar como reflexo, meio e condio das prticas
socioeconmicas e das espacialidades intraurbanas cotidianas dessa cidade
mdia.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 177

Do mesmo modo, a melhoria do padro de vida revelada pelos dados


oficiais mostra-se associada tambm a uma variedade de situaes ocupa-
cionais no necessariamente regularizadas, de forma a garantir os direitos
bsicos do trabalhador assalariado, por exemplo. Situam-se entre as estra-
tgias de empregos no formalizados, muito caractersticas da dinmica
econmica que tem configurado o Sudeste do Par nas ltimas dcadas,
decorrente da taxa de desocupao, que aumentou no perodo entre 1991 e
2000 (Tabela 24).

Tabela 24: Marab. Populao de 10 anos ou mais de idade, economicamente ativa e ocupada.
1991 e 2000.
Indicadores 1991 2000
Populao Residente de 10 anos ou mais 86.079 126.095
Populao Economicamente Ativa (PEA) 41.648 67.776
Populao Ocupada (POC) 38.722 58.560
Taxa de Atividade 48,38 53,75
Taxa de Desocupao 7,03 13,6
Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 1991/2000. Elaborado por Idesp/Sepof apud Par (2007a).

A soluo dos problemas no interior da cidade acompanha, portan-


to, uma tendncia de natureza mais espontnea, que pressupe formas
alternativas de acesso habitao, pela fora do mercado na proviso de
servios e de mercadorias necessrias dinmica da cidade e, sobretudo,
por iniciativas individuais, no sentido de garantir a sobrevivncia de grande
parte da populao em uma cidade de intensos fluxos econmicos. Decorre
da o grau da precariedade e da improvisao presentes na estrutura urba-
na, seja no transporte,1 com forte presena de veculos alternativos (motos,
bicicletas, vans etc.), seja no abastecimento (feiras, mercado informal etc.)
ou na precria infraestrutura de natureza pblica (lazer, vias de circulao,
servios bsicos de sade etc.), denotando a pouca atuao do poder pbli-
co na proviso de servios e infraestruturas.
Em algumas situaes, a precariedade tomada mesmo como estratgia
de captao de recursos ou de desenvolvimento de uma economia informal e
complementar para as famlias de baixa renda; isso o que acontece nos pero-
dos das enchentes anuais, to presentes nas imagens desenhadas para a Velha
Marab atravs da mdia e tambm por meio das atitudes governamentais:

1 Apenas duas linhas de transporte coletivo atendem cidade (Cardoso; Lima, 2009).

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178 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Para as autoridades, a possibilidade de decretar estado de emergncia


interessante porque agiliza o repasse de recursos, e para a populao existe
sempre a possibilidade de explorar lucrativamente as circunstncias, como
o caso dos barqueiros que facilitam o transporte fluvial entre os pontos
de chegada nas ruas no totalmente inundadas e as reas que anteriormente
serviam como ruas. Ano aps ano o mesmo processo se repete. (Cardoso;
Lima, 2009, p.179)

Reconhece-se aqui uma modernizao de superfcie (Brito, 2001),


mais associada aos fluxos econmicos que propriamente s atitudes po-
lticas e distribuio de fixos no conjunto espacial intraurbano. H, por
assim dizer, muito mais uma intensificao na reutilizao de fixos que
propriamente a expanso deles no conjunto da cidade, no obstante os
avanos apresentados pelos nmeros oficiais que medem o padro de vida,
mas que no do conta de revelar a diferenciao interna e o empobreci-
mento de sua populao, esta que, em sua maior parte, sugere condies
de vida urbana ainda relativamente precrias, se comparadas s de outras
cidades mdias brasileiras de regies onde a modernizao econmica e do
territrio esto mais presentes (Tabela 25).

Tabela 25: Marab. Pobreza e renda comparada a municpios com sedes de porte mdio no Estado
de So Paulo. 2001.
Municpios Renda mdia resp. p/ Proporo de Renda per capita
domiclio (R$) pobres (%) (R$)
NO PAR
Marab (PA) 614,00 44,0 188,6
EM SO PAULO
Pres. Prudente (SP) 1.073,00 12,0 482,6
Sorocaba (SP) 1.089,00 10,6 448,2
Marlia (SP) 979,00 11,5 421,2
Franca (SP) 854,00 8,30 359,6
Fonte: Ipea, FJP e PNUD apud Trindade Jr., Pereira (2007).

Cotejados com os de outros municpios cujas sedes so consideradas


cidades mdias no Par, como Castanhal e Santarm, os dados oficiais, no
caso especfico de Marab, revelam nmeros melhores em relao tanto
renda mdia do responsvel domiciliar quanto renda per capita e ao ndice

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 179

de pobreza da populao, embora sejam nveis muito baixos quando com-


parados ao desempenho de cidades paulistas, por exemplo, o que em certa
medida demonstra as grandes diferenas regionais das cidades mdias bra-
sileiras (Trindade Jr.; Pereira, 2007). Isso ocorre mesmo considerando que
o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Marab vem crescendo
a cada ano (Tabela 26) e se coloca como um dos melhores ndices quando
comparado ao dos demais municpios do Sudeste Paraense (Tabela 27),
abaixo somente de Parauapebas, onde se situa o Projeto Ferro Carajs.

Tabela 26: Marab. ndice de Desenvolvimento Humano (IDH). 1970 a 2000.


IDH/ANO 1970 1980 1991 2000
IDH M 0,325 0,645 0,563 0,714
IDH M LONGEVIDADE 0,361 0,513 0,551 0,668
IDH M EDUCAO 0,373 0,476 0,594 0,826
IDH M RENDA 0,241 0,945 0,544 0,647
Fonte PNUD/Ipea/Fundao Joo Pinheiro. Elaborado por Sepof-PA/Diepi/Gede, 2008.

Tabela 27: Regio Carajs. ndice de Desenvolvimento Humano por municpios. 2000.
Unidades poltico- IDH-M IDH-M IDH-M IDH-M
administrativas EDUCAO LONGEVIDADE RENDA
Estado do Par 0,720 0,815 0,718 0,629
Carajs 0,670 0,738 0,698 0,576
Bom Jesus do Tocantins 0,620 0,640 0,660 0,550
Brejo Grande do Araguaia 0,680 0,760 0,720 0,560
Cana dos Carajs 0,700 0,790 0,680 0,630
Curionpolis 0,680 0,770 0,720 0,550
Eldorado dos Carajs 0,660 0,720 0,710 0,550
Marab 0,714 0,826 0,668 0,647
Palestina do Par 0,650 0,690 0,720 0,550
Parauapebas 0,740 0,840 0,700 0,670
Piarra 0,660 0,690 0,720 0,570
So Domingos do Araguaia 0,670 0,720 0,730 0,560
So Geraldo do Araguaia 0,690 0,730 0,750 0,590
So Joo do Araguaia 0,580 0,670 0,600 0,480
Fonte: PNUD/FJP. Elaborado por Sepof/Diepi/Gede.

A urbanizao no Sudeste Paraense, onde se situa a Regio de Integrao


de Carajs, conferiu a Marab, portanto, uma centralidade sub-regional di-

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180 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

retamente associada atrao de investimentos e de migrantes. Ressalta-se,


porm, que para os migrantes no estava garantido o acesso terra rural,
fato ao qual se atribui, sobretudo, a responsabilidade pela manuteno de
uma estrutura fundiria rural arcaica e concentradora nessa sub-regio,
que redirecionou a mo de obra mvel e polivalente para os centros urba-
nos (Becker, 1990), notadamente para aqueles que j apresentavam uma
maior quantidade de infraestrutura e servios, como o caso de Marab. A
situao de fronteira, ento, parece se reproduzir no ambiente intraurbano,
podendo-se mesmo falar de fronteira urbano-imobiliria ao se tratar da
escala intraurbana.
Ribeiro (1997) identifica, nas metrpoles, a existncia de dois grandes
segmentos de produo no interior do urbano, que tambm parecem vli-
dos para uma cidade mdia como Marab: o no capitalista e o capitalista.
O primeiro refere-se a todas as formas de produo domstica da moradia,
que tm como caracterstica comum o fato de no serem orientadas pela
acumulao de capital, mas, essencial e predominantemente, a produo de
valores de uso. Nesse caso, os preos so fixados por condies alheias sua
produo, constituindo-se, portanto, em moradias-mercadorias, mas no
capital. No segmento capitalista, observa-se a existncia de trs submer-
cados. No primeiro deles, o de cooperativas e de companhias estaduais de
habitao, o preo da moradia regulado por condies especficas, pois se
trata de uma produo capitalista cujo produto no circula necessariamen-
te como capital. Os outros dois, os submercados normal e monopolista,
tm como base a diviso social e simblica do espao urbano que diferencia
a moradia, em termos qualitativos, segundo a localizao e as condies que
regulam a produo (submercado normal) e circulao (submercado mono-
polista). Isso o que parece acontecer em Marab, que s mais recentemen-
te comea a definir, de forma mais acentuada, um mercado imobilirio nos
moldes da reproduo capitalista.

5.3. Da centralidade regional s desigualdades


intraurbanas

A intensidade de fluxos ligados direta ou indiretamente s frentes de


modernizao definiram para Marab a condio de espao atrativo para

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 181

uma fora de trabalho de carter temporrio, mvel, polivalente e verstil,


que no passou por um processo de proletarizao linear, direta. Antes,
pelo contrrio, caracterizou um esquema de proletarizao passiva, mar-
cada pela dissoluo das formas tradicionais de reproduo no espao de
origem do migrante e que, para a maioria dos produtores diretos, no
traduzida em perspectiva de trabalho formal e assalariado na cidade (Mists-
chein; Miranda; Paraense, 1989), fato que agravou a forma precria de in-
sero da mo de obra migrante no interior do espao urbano marabaense.
Vrias so as expresses dessa desigualdade interna na regio imediata na
qual se insere Marab, dentre elas o prprio valor do solo urbano nas reas
centrais e perifricas (Tabela 28).

Tabela 28: Regio Carajs. Tamanho e valor dos lotes urbanos segundo municpios. 2009.
Municpio Dimenso Preo (R$ 1,00)
Centro Periferia
Brejo Grande do Araguaia 10x30 10.000 5.000 a 7.000
Eldorado dos Carajs 10x30 15.000 a 20.000 3.000 a 5.000
Marab 10x30 50.000 a 500.000 7.000 a 10.000
Palestina do Par 12x30 5.000 a 7.000 2.000
Parauapebas 10x25 100.000 a 500.000 30.000 a 40.000
Piarra 10x30 12.000 a 15.000 4.000 a 8.000
So Domingos do Araguaia 10x30 20.000 2.000 a 5.000
So Geraldo do Araguaia 15x30 / 12x30 150.000 a 200.000 7.000 a 15.000
So Joo do Araguaia 10x30 3.000 a 4.000 30.000
Fonte: Governo do Estado do Par. Informaes obtidas a partir da Oficina Regional Carajs (Par, 2009).

A anlise dos valores do solo urbano no conjunto da Regio de Integra-


o de Carajs demonstra a importncia assumida por Marab e Paraua-
pebas nesse quesito. O preo dos lotes teve sua valorizao intensificada a
partir de 2000, justificada pela demanda de moradias, comrcio e servios,
que conferiu a essas cidades fortes centralidades, traduzidas nas formas de
apropriao do espao intraurbano.

Entretanto, a distribuio dessa performance no interior do espao ur-


bano no se d de maneira homognea nos trs ncleos principais que com-
pem a cidade de Marab, conforme se constata em relao distribuio
da populao em funo da renda (Figura 9).

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182 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

De acordo com Cardoso e Lima (2009), possvel detectar na cida-


de manifestaes diversas de segregao socioespacial, com diferentes
gradientes, definidos com base na participao de agentes produtores do
espao urbano: a) na Velha Marab, a produo do espao promovida no-
tadamente por iniciativa do poder pblico local, ou de maneira espontnea
pelos agentes produtores do espao; b) na Nova Marab, ela resultado do
confronto entre as ideias urbansticas introduzidas pelo governo federal e as
necessidades da populao, o qual alterou de forma substancial o moderno
desenho urbanstico em forma de castanheira proposto para esse ncleo
inicialmente planejado, intensificando, ao mesmo tempo, a fragmentao
do tecido urbano; c) na Cidade Nova, o confronto est entre a malha retan-
gular e o traado xadrez, com a desarticulao dos loteamentos privados e
das ocupaes espontneas do entorno.
A concentrao da populao com melhor perfil de renda ocorre, so-
bretudo, na Nova Marab, onde os preos dos terrenos so mais caros
em determinadas folhas, conforme foram denominadas as unidades de
vizinhana poca da concepo desse ncleo. Algumas dessas folhas
da Nova Marab j se configuram como espaos seletivos, que resultam
de um processo de segregao urbana definido pelos valores dos lotes e dos
imveis edificados e comercializados:

A necessidade de criar instalaes para a mo de obra dos poderes executivo


e judicirio federal levou implantao da infraestrutura adequada nas pri-
meiras quadras ocupadas, localizadas entre a rodovia Transamaznica e a grota
Criminosa. Por falta de controle, porm, essa ocupao adensou-se muito,
comprometendo a reserva de reas para passeios pblicos, duplicao de vias
e zonas de rpido escoamento das guas. Essa rea corresponde hoje em dia ao
centro da Nova Marab e abriga comrcios e servios, praas e usos institucio-
nais, ao longo de seus eixos principais. A disputa pela localizao privilegiada
ensejou a ocupao de toda sorte de reas pblicas e a construo de estabeleci-
mentos comerciais at mesmo sobre adutoras de distribuio de gua.
Outras quatro folhas localizadas entre a grota Criminosa e outro varjo
nunca alcanaram o mesmo grau de distribuio de usos no residenciais e de
proviso de infraestrutura. As demais folhas j no seguiram o projeto, e foram
evitadas algumas reas que, no por acaso, constituem a periferia social e
espacial da Nova Marab. (Cardoso; Lima, 2009, p.184)

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 183

No conjunto da cidade, a autossegregao, caracterizada por espaos


mais seletos em funo do poder aquisitivo, pode ser observada notada-
mente em setores da Nova Marab e da Cidade Nova, conforme se constata
na distribuio de renda (Figura 9) da populao intraurbana.

Figura 9: Marab. Distribuio de renda em Salrios Mnimos por Setor Censitrio do IBGE.
2010.

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184 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Essa constatao reforada quando se analisa tambm a distribuio


e a concentrao da populao total pelos diversos setores do espao in-
traurbano (Figura 10). Nesse sentido, os setores de maior concentrao
populacional no coincidem com aqueles considerados de maior renda.
Isso no significa dizer que haja uma rgida diviso social do espao
associada diretamente s caractersticas apresentadas pelos trs principais
ncleos aqui considerados. Na verdade, os problemas urbanos, muitas
vezes, esto bem prximos das reas onde se localiza a populao de maior
renda, demonstrando haver, na cidade, uma proximidade entre espaos
bem estruturados e outros bastante precrios. No entanto, a contiguidade
fsica no reduz a distncia social, to flagrante na paisagem urbana, o que
pode ser constatado, inclusive, na Nova Marab, o ncleo onde existe uma
relativa concentrao da populao de maior poder aquisitivo:

A segregao mais aparente nesse ncleo do que nos demais, uma vez que
o parmetro espacial adotado so folhas inteiras, e no pores perifricas do
espao urbano. H folhas melhores e folhas piores, em funo do sucesso
na implantao da infraestrutura viria e de saneamento. Haveria uma espcie
de compensao entre as dificuldades impostas pela ondulao do stio. As
dificuldades de acessibilidades so as mesmas das cidades modernas, com
limitao do nmero de conexes e de oportunidades para a socializao da
populao e consequente apropriao social dos espaos. Os elementos mor-
folgicos, lotes e ruas internas no so espacializados com a mesma qualidade
que a quadra, o que causa dificuldades no endereamento (as casas so identi-
ficadas pela associao do nmero da quadra, da rua interna e do lote). Alm
disso, os canteiros das rotatrias que articulam os grandes eixos so obstculos
para o pedestre.
[...] A proposta espacial da Nova Marab foi mais bem aceita pelos grupos
de migrantes (funcionrios pblicos, militares, etc.), que constituem a classe
mdia urbana, e tambm pelos grupos mais prsperos, que dispuseram de mais
rea para construir suas moradias de luxo. Entretanto, paradoxalmente, as
quadras mais bem cotadas em termos imobilirios so aquelas que apresentam
maior percentual de terrenos no utilizados, enquanto as demais apresentam
vegetao de quintais mais expressiva. (Cardoso; Lima, 2009, p.185-6)

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 185

Figura 10: Marab. Distribuio de moradores por Setor Censitrio do IBGE. 2010.

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186 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Para o caso da Cidade Nova, ncleo que apresenta a maior concen-


trao de reas ocupadas pela populao de baixa renda (Quadro 22), a
coexistncia de setores seletivos de melhor poder aquisitivo e de um entor-
no com infraestrutura ainda precria expressa igualmente uma lgica de
desigualdade em que a autossegregao e a segregao imposta parecem,
justapostas, compor uma s unidade espacial, ainda que marcadamente
fragmentada.
Os loteamentos privados adjacentes s reas preexistentes passam hoje
a estar integrados ao restante do ncleo. Esse arranjo espacial enseja a for-
mao de uma estrutura interna com um centro comercial especializado,
localizado s margens da rodovia Transamaznica e suas proximidades, e
outras centralidades secundrias que, por sua vez, se localizam ao longo das
ruas internas que compem os loteamentos constituintes de bairros como
Laranjeira, Bom Planalto e Belo Horizonte.
Nessas reas, no obstante a carncia de infraestrutura, observa-se a
presena de residncias amplas e de bom padro, que convivem com as
deficincias do entorno. Em setores mais distantes e tambm com prec-
ria infraestrutura, localiza-se a populao mais pobre, sendo igualmente
nesses locais, considerando a cidade como um todo, onde se constatam
os ndices mais elevados de doenas, como a hansenase (Cardoso; Lima,
2009).
Assim sendo, mesmo com a tendncia de autossegregao concentrada
mais em determinados ncleos do que em outros, os problemas urbanos e
a segregao imposta esto presentes em todos os cinco ncleos urbanos
que constituem Marab. Importante considerar nesse processo o papel da
populao migrante no solvvel, que se configura como o principal agente
definidor da espacialidade relacionada segregao imposta. Essas pessoas
podem estar concentradas em uma folha especfica na Nova Marab, mas
tambm no entorno de bairros de condomnios e de propriedades muradas,
como se v no ncleo Cidade Nova; ou, ainda, localizadas em reas de risco,
sujeitas s inundaes anuais, como ocorre na Velha Marab (Cardoso;
Lima, 2009). Dessa forma, como se constata no Quadro 22, os problemas
esto presentes em todos os ncleos, definindo uma espcie de pulverizao
dos contrastes socioespaciais no espao urbano.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 187

Quadro 22: Marab. Principais problemas segundo a subdiviso intraurbana. 2006.


Ncleos Principais usos Principais problemas
Velha Marab Residencial, institucional, ser- rea vulnervel a enchentes por conta de sua
vios e concentrao de usos localizao (desembocadura de dois rios, To-
(principalmente na orla) ligados cantins e Itacainas); carncia de saneamento
ao lazer, ao entretenimento, a bsico (esgoto e dejetos despejados no rio);
alimentao (casas noturnas, ba- infraestrutura precria de moradias da popula-
res e lanchonetes) e ao comrcio o de menor poder aquisitivo; excluso social
varejista. intensificada devido valorizao da orla; subs-
tituio de equipamentos urbanos existentes
por outros voltados para o turismo; aumento da
concentrao de casas de prostituio; especu-
lao imobiliria.
Nova Marab Residencial, institucional, ser- Sistema virio de trnsito rpido e dispendioso
vios e comercial (comrcio de devido largura das vias de ligao entre as fo-
grande porte: concessionria lhas e a urbanizao lenta por que o interior de
de veculos, postos de gasolina, cada folha passou; descontinuidade de infraes-
oficinas mecnicas para veculos trutura do ncleo; desenho urbano que privi-
pesados) e de servios. legia os veculos em detrimento dos pedestres.
Cidade Nova Residencial e comercial (centros Presena de extensos vazios urbanos; precarie-
comerciais localizados ao longo dade de infraestrutura de saneamento bsico
da rodovia Transamaznica). (elevados ndices de hansenase); altos padres
de segregao expressos na ocupao dos lotes
(os melhores e mais prximos da rodovia Trans-
amaznica so controlados pelo setor privado).
So Flix Residencial (moradias de baixa Precrias infraestruturas de habitao (palafitas
renda que se instalaram atra- na margem do rio); alguns lotes no possuem
vs de ocupaes espontneas e regularizao fundiria (So Flix II) ou esto
dirigidas). em vias de regularizao (So Flix III).
Morada Nova Residencial e comercial. Carncia de infraestrutura, de equipamentos de
sade e de saneamento bsico.
Fonte: Marab (2006).

5.4. Os novos empreendimentos e as tendncias de


expanso urbana da cidade e do mercado imobilirio

A pulverizao dos problemas urbanos e a multicentralidade apresenta-


da por Marab contribuem para que o processo de valorizao diferenciada
do espao (Fotos 9 e 10) esteja presente nos trs principais ncleos urbanos,
assim como para que as tendncias de expanso se definam por diferentes
eixos e a partir dos diversos ncleos j consolidados. Isso pode ser consta-
tado (Quadro 23) pela localizao dos tipos de assentamentos residenciais
(ocupaes espontneas, loteamentos, conjuntos residenciais e condom-
nios etc.) j implantados ou em processo de implantao.

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Quadro 23: Marab. Assentamentos residenciais na sede municipal. 2010.
188

Categoria Nome do Localizao Ano Unidades/ Situao OBS.


empreendimento famlias
Vila Lafayete Nova Marab
Nova Marab Nova Marab 1980 1.025 Consolidado Empreendimento da Cohab
Residencial Geraldo Veloso Cidade Nova 2000 140 Comercializado Empreendimento da Cohab
Residencial Francisco Velha Marab 2009 80 Em construo Obra do PAC, em execuo

Estado
Coelho (Cabelo Seco)
Conjunto Habitacional So Flix 2009 1.366 Lanamento Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida
Marab 2

Miolo_Agentes_economicos_e_reestruturacao_(GRAFICA).indd 188
Conjuntos residenciais do
(Novo So Flix)
Residencial Tocantins Cidade Nova 2009 Lanamento Em fase de regularizao/aprovao pela
Seplan
Conj. Res. Marab 1 (Vale 2009 Programa Habitacional Minha Casa Minha
do Sol) Vida

privados

Conjuntos
residenciais
Conj. Res.Marab 2 (Novo So Flix 2009 1.366 Em construo Programa Habitacional Minha Casa Minha
S. Flix) Vida
Greenville Cidade Nova 80
Soror Cidade Nova 2009 32 Lanamento Empresa: Invest Imobiliria
Total Ville Marab Nova Marab 2009 3.000 Lanamento Empresa: Direcional
Construtora: Construfox

horizontal
Condomnio Maria Izabel Nova Marab 2010 20 Lanamento Empresa: Tercasa Negcios Imobilirios

residencial
Condomnio
Condomnio Araagi Cidade Nova 2010 192 Lanamento Proprietrio/empresa: Vetor Incorporadora e
Construtora
Continua
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

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Quadro 23: Continuao
Categoria Nome do Localizao Ano Unidades/ Situao OBS.
empreendimento famlias
Carajs Nova Marab 1992 16 Construdo Empresa: El Dourado Construtora e Incorporadora
Xavantes Nova Marab 1992 16 Construdo Financiado pela Caixa Econmica
Tucum Nova Marab 1997 36 Construdo Empresa de Engenharia S/A (Engeia)
Solar da Castanheira Cidade Nova 2005 80 Construdo Empresa: Casas Gois
Vitria Rgia Cidade Nova 2008 32 Lanamento Empresa: Invest Imobiliria
Portal da Orla Nova Marab 2008 72 Lanamento Empresa: Terra Santa Imobiliria

Miolo_Agentes_economicos_e_reestruturacao_(GRAFICA).indd 189
Rodobens Cidade Nova 2009 987 Lanamento Empresa: Rodobens Consrcios e Imobiliria
Flamboyant Cidade Nova 2009 152 Lanamento Empresa: SPE Flamboyant Empreendimentos

vertical
Imobilirios
Edifcio PA 150 (Km 3,5) Nova Marab 2009 Lanamento Em fase de regularizao/aprovao pela Seplan
Edifcio Marab Cidade Nova 2009 28 Lanamento Empresa: Construtora Alterosa

Condomnio residencial
Total Ville Nova Marab 2009 3.000 Lanamento Empresa: Direcional
Construtora: Construfox
Belle Ville Park Marab Cidade Nova 2009 100 Lanamento Empresas: Engetower Engenharia & Ferreira e
Loureno Incorporadora
Guam Residence Nova Marab 2009 40 Lanamento
Loteamento Morada Nova Morada Nova Cohab
Independncia Cidade Nova Consolidado
So Flix III So Flix Consolidado
Liberdade Cidade Nova 1984 25.000 Consolidado Antiga Propriedade da famlia Mutran

pblicos
AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL

Loteamentos
Tiradentes Cidade Nova 2010 1.000 Lanamento Programa Habitacional Minha Casa Minha Vida
Financiamento da Caixa Econmica
Continua
189

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Quadro 23: Continuao
190

Categoria Nome do Localizao Ano Unidades/ Situao OBS.


empreendimento famlias
Loteamento Beira Rio
Amazon Vile Nova Marab
Belo Horizonte Cidade Nova 1982 4.000 Consolidado Propriedade do senhor Aurlio
Bom Planalto Cidade Nova 1995 Consolidado
Vale do Itacainas Cidade Nova 1998 1.500 Consolidado Propriedade da dona Cana
Novo Progresso So Flix 2006 1.800 No Antiga Fazenda
consolidado/ Lotes residenciais e comerciais
lotes em venda

Miolo_Agentes_economicos_e_reestruturacao_(GRAFICA).indd 190
Jardim Imperial Cidade Nova 2007 Lanamento
Loteamento Castanheira Cidade Nova 2008 220 Em construo Empresa: Imobiliria Chaves
Jardim So Flix So Flix 2008 412 Consolidado Propriedade da senhora Lcia
Loteamento Morumbi Nova Marab 2008 935 Lanamento Empresa: Terra Santa Imobiliria
Loteamento Soror Cidade Nova 2008 54 Lanamento Empresa: Invest Imobiliria
Ipiranga Ecoville Premium Nova Marab 2009 797 Lanamento Empresa: Premium Engenharia
Residencial Paris Nova Marab 2009 1.700 Lanamento Empresa: Terra Santa Imobiliria

Loteamentos privados
Jardim do dem Morada Nova 2009 898 Lanamento Empresa gua Santa
Residencial Jos Tibiri BR-230 2009 Lanamento Em fase de regularizao/
Quindangues aprovao pela Seplan
Castanheira Residence Cidade Nova 2009 300 Lanamento Empresa: Deltaville
Vale do Tocantins So Flix 2009 1.150 Lanamento Antiga Fazenda So Miguel
Lotes comerciais e residenciais
Loteamento Leolar Nova Marab 2009 270 Lanamento Em fase de terraplenagem
Empresa: Leolar
Deltapark Nova Marab 2010 1.300 Lanamento Lotes residenciais e comerciais
Portal dos Ips So Flix 2010 388 Lanamento Empresa: Terra Santa Imobiliria
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Fonte: Trabalho de campo, out. 2008 e jan. 2010. Elaborado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 191

Foto 9: Marab. Espao de assentamentos sem infraestrutura urbana. 2010.


O dficit habitacional, estimulado pela excluso social e pelo processo migratrio, define
novas reas de ocupao, a exemplo do que acontece no ncleo So Flix.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., set. 2010.

Foto 10: Marab. Condomnio fechado na Cidade Nova. 2010.


semelhana das grandes cidades, a difuso de novas formas de habitao voltadas para
estratos sociais de melhor renda comeam a fazer parte da paisagem urbana da Cidade Nova.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., set. 2010.

No caso da Velha Marab, cabe destaque para a parte da orla, que, do


ponto de vista de comrcio e servios, sobretudo aqueles relacionados ao
lazer, constitui uma rea nobre, dadas as amenidades oferecidas pelo rio.

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192 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Essa condio leva, em parte, a um processo de especulao imobiliria e


substituio da populao original por segmentos sociais mais solvveis.
Trata-se, na verdade, de um espao que revela uma importncia simblica
para a cidade, embora esteja suscetvel s enchentes por trs meses, em
mdia, todos os anos (Cardoso; Lima, 2009). As obras que a se realizam, de
melhorias infraestruturais (Fotos 11 e 12), tendem a reforar essa tendncia
(Quadro 24).
Quadro 24: Marab. Principais obras de infraestrutura na orla da cidade. 2010.
Obra Descrio da obra Ano de Principais funes e usos Iniciativa
concluso
Estrutura sustentada por oito 2004 Concentrados de servios Governo Federal,
metros de estacas cravadas e comrcios ligados princi- atravs do Depar-
em concreto, avanando em palmente ao lazer. tamento Nacional
direo ao rio, sobre as quais Os trapiches e portos pro- de Infraestrutura de
Orla Sebastio Miranda

esto assentados pilares de porcionam a continuidade Transporte (DNIT),


altura mdia de 4 a 5 metros, do uso do rio para a popu- em parceria com o
que servem de base a uma lao que l reside. governo municipal.
laje de 20 centmetros de es- As pessoas vo para consu-
pessura e largura mdia de 9 mir a/na orla, ir para festas,
metros. boates, restaurantes e apre-
Presena de calado com 2 ciar a vista do rio.
metros de largura Esses usos coexistem com
o uso do rio para recursos
domstico, ldico e simb-
lico-cultural.
Aterramento e pavimentao 2007 Fluxo de pessoas e merca- Governo Federal,
da Transmangueira, criando dorias na cidade de Mara- em parceria com o
um novo eixo de ligao en- b, com definio de uma governo municipal.
Transmangueira

tre a Nova Marab e a Mara- nova via de circulao para


b Pioneira. cidade.
Usos destinados ao trans-
porte rpido, mas convi-
vente com o tempo lento do
pedestre e moradores dos
bairros beira-rio
Construo de muro de con- Em fase de Reafirmao de vivncias Governo Federal,
teno, realizao de terrapla- execuo da populao ribeirinha re- atravs do Progra-
nagem, drenagem das guas desde 2007 sidente no Bairro Francisco ma de Acelerao do
pluviais, regulamentao fun- Coelho, melhorando suas Crescimento (PAC),
diria e pavimentao com re- unidades habitacionais, ge- em parceria com o
Cabelo Seco

vestimento em concreto. rando renda e protegendo-as governo estadual.


das cheias dos rios Tocantins
PAC

Construo de oitenta uni-


dades habitacionais assisti- e Itacainas.
das com rede de gua e esgo- Prioridade ao uso habita-
to, amenizando o efeito das cional, gerao de renda,
cheias no bairro Francisco s prticas sociais cotidia-
Coelho (Cabelo Seco) nas existentes e intima
relao da populao com
o rio.
Fonte: Correio do Tocantins (2004), Marab (2007) e trabalho de campo, 2010. Elaborado por Dbora Aquino
Nunes.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 193

Foto 11: Marab. Requalificao urbana do espao beira-rio. 2010.


Um dos cartes-postais da cidade de Marab, as obras realizadas no espao beira-rio tm
definido novas formas de uso, voltadas notadamente para as atividades de turismo, de con-
templao e de lazer na Velha Marab.
Fonte: Foto: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan.2010.

Foto 12: Marab. Obras do PAC no bairro Francisco Coelho (Cabelo Seco). 2010.
O encontro de tempos que permanecem e aqueles que chegam so definidos, em grande
parte, pelas obras de infraestrutura que tendem a provocar alteraes na cidade, valorizando
espaos, criando novas imagens e definindo novos usos e formas de apropriao do urbano.
Fonte: Michel Lima, jan. 2010.

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194 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Dos ncleos existentes, a Nova Marab, a Cidade Nova e o So Flix


apresentam-se efetivamente h mais tempo como espaos de expanso ur-
bana. No caso de Morada Nova, por ser um espao descontnuo e distante
das reas mais adensadas, esse processo menos intenso e tambm mais
recente.
A Velha Marab, por sua vez, por no apresentar disponibilidade de
terrenos para esse fim, desponta, dentre os cinco ncleos, como o de menor
tendncia para a definio de novos espaos de assentamentos, mesmo do
ponto de vista vertical, tal a extenso e a pouca viabilidade de seu stio, for-
mado em grande parte por reas de risco (Quadro 25) e mais suscetvel s
enchentes anuais, se comparado aos demais ncleos.

Quadro 25: Marab. reas de risco no espao urbano. 2010.


No reas de risco Localizao Problema
1 rea do Geladinho So Flix Enchente do Rio Tocantins
2 S. Flix Pioneiro/Olarias So Flix Enchente do Rio Tocantins
3 Rua das Mangueiras (Bairro Sta. Rita) Velha Marab Enchente do Rio Tocantins
4 Rua Silveira Santos e transversais Velha Marab Enchente do Rio Tocantins
(Bairro Sta. Rosa)
5 Grota Criminosa Velha Marab Enchente do Rio Tocantins
6 Centro Velha Marab Enchente do Rio Tocantins
7 Bairro Francisco Coelho (Cabelo Velha Marab Enchente dos rios
Seco) Tocantins/Itacainas
8 Vila Rato/Porto das Canoinhas Velha Marab Enchente do Rio Itacainas
9 Bairro do Amap Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
10 Bairro Independncia Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
11 Bairro Unio Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
12 Invaso da Lucinha I (Divisa com Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
Laranjeiras)
13 Bairro Belo Horizonte Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
14 Bairro Novo Horizonte Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
15 Invaso da Lucinha II (Divisa c/ N. Cidade Nova Enchente do Rio Itacainas
Horizonte e B. Horizonte)
16 Folha 33 Nova Marab Enchente do Rio Itacainas
17 Folhas 6, 7 e 8 (Beira-Rio) Nova Marab Enchente do Rio Tocantins
18 Folhas 14 e 15 (divisa) Nova Marab Enchente do Rio Tocantins
19 Folha 25 (Beira-Rio) Nova Marab Enchente do Rio Tocantins
Fonte: Defesa Civil de Marab, 2010. Elaborado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 195

De todas as reas de risco relacionadas s enchentes que atingem Ma-


rab anualmente e identificadas no Quadro 25, as mais vulnerveis so
as da Velha Marab ainda que o maior nmero delas esteja na Cidade
Nova , notadamente o setor do Pontal, como chamada a confluncia dos
rios Tocantins e Itacaianas, com destaque para o bairro Francisco Coelho
(Cabelo Seco),2 o qual, conforme j mencionado, est situado no ncleo
central da Velha Marab, de grande valor histrico e cultural para a cidade,
e tem sua condio de risco considerada pela Defesa Civil de Marab.
Os demais ncleos apresentam tendncia de expanso urbana por meio
dos mais diversos tipos de assentamentos residenciais. No caso das ocupa-
es espontneas, a maior tendncia , sem dvida, continuarem a ocorrer
em todos os sentidos, mas com maior expresso na Cidade Nova, conforme
tem sido verificado at o presente. Em seguida, esse tipo de assentamento
tem acontecido com mais recorrncia na Nova Marab e, depois, no ncleo
So Flix.
As ocupaes definem um tipo de assentamento diretamente relacio-
nado excluso social e acentuao das desigualdades socioespaciais em
Marab, sendo, por esse mesmo motivo, reveladoras de vrios conflitos
sociais (Quadro 26), muitos deles acompanhados pela Sociedade de Defesa
dos Direitos Humanos (SDDH).
Tais conflitos refletem o incremento, ainda atual, de migrantes que
chegam cidade, mas para os quais nem sempre possibilitado o acesso
terra urbana. O confronto de interesses, muito recorrente em regies onde
a situao de fronteira econmica bem caracterstica, passa, por conse-
guinte, a se manifestar com frequncia, semelhana do que acontece no
espao agrrio, inclusive com ocorrncias que envolvem violncia contra
a pessoa.

2 Nesse bairro, as casas, em geral, so geminadas, ocupam a totalidade dos lotes, muitas no
possuem ou no contam com banheiros adequados e paredes divisrias. Os moradores das
que fazem fundo com o rio utilizam-no para usos diversos: como banheiro, para lavagem de
roupa e louas, na preparao de alimentos e, ainda, como lazer e circulao. Alm disso, os
problemas de desmoronamento da beira do rio so muito recorrentes, sendo solucionados
por meio de improvisaes, muitas vezes por iniciativa dos prprios moradores (Cardoso;
Lima, 2009).

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196 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 26: Marab. Situaes de conflito fundirio acompanhadas pela SDDH. 2009.
No Processos Natureza rea de ocupao
1 Habilitao em Ao de Reintegrao Judicial Km 6,5
de Posse Delegacia de Polcia
Ameaa de Morte Civil
2 Habilitao em Ao de Reintegrao de Judicial Bairro Araguaia
Posse e Contestao em Ao Possessria
3 Habilitao em Ao de Reintegrao Judicial Bairro da Paz
de Posse e Agravo de Instrumento / Delegacia de Polcia
Ameaa de Morte Civil
4 Habilitao em Ao de Interdito Judicial S. Miguel da
Proibitrio Convertido em Reintegrao Conquista II (Nova
de Posse Vida)
5 Habilitao em Ao de Interdito Judicial Folha 14
Proibitrio Convertido em Reintegrao
de Posse
6 Reintegrao de Posse Judicial Filadlfia
7 Interdito Proibitrio e Reintegrao de Judicial S. Miguel da
Posse Conquista 1
8 Reintegrao de Posse Judicial Fazenda Santa
Tereza
9 Reintegrao de Posse Rural Judicial Taurizinho (Km 12)
10 Reintegrao de Posse Judicial Folha 35
11 Acompanhamento e Assessoria Extrajudicial Soror
12 Acompanhamento e Assessoria Extrajudicial Aeroporto
13 Acompanhamento e Assessoria Extrajudicial Aeroporto
14 Acompanhamento e Assessoria Extrajudicial Nova Aliana
Fonte: Ribeiro (2009, p.36). Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr..

Em outro extremo, e como expresso das desigualdades intraurbanas,


verifica-se o surgimento de loteamentos fechados, outra forma de assen-
tamento, dessa vez associada a uma demanda solvvel da populao e,
portanto, habilitada a ingressar no mercado formal da moradia. Paradoxal-
mente, a Cidade Nova tambm o ncleo onde eles esto mais presentes e
com tendncia a se difundir nos prximos anos.
Na rea de expanso da Nova Marab, comea a se perceber tambm a
maior atuao do mercado imobilirio da habitao, com empreendimen-
tos que combinam, alguns deles, o padro horizontal e vertical ao mesmo
tempo, voltados para extratos sociais diferenciados, desde o mais popular
at o segmento da classe mdia (Foto 13).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 197

A Cidade Nova e a Nova Marab tambm so os espaos onde devem


ocorrer, nos prximos anos, a expanso dos condomnios verticais, ini-
cialmente de baixo gabarito (Foto 14), mas com perspectiva de alterao
gradativa desse padro, tendo dois deles, de mais alto gabarito, sido lana-
dos recentemente na Cidade Nova. Na Nova Marab, o que se observa at
o presente momento a construo de prdios de baixo gabarito, ou seja, de
at quatro andares, para uso residencial, sobretudo, e o incio de um pro-
cesso de verticalizao direcionada a fins comerciais e de servios, inclusive
com prdios mais altos em face dos j existentes no interior desse mesmo
ncleo (Quadro 27).

Quadro 27: Marab. Prdios de padro vertical. 2010.


No Edifcio ou Tipo de No de Localizao Situao Ano
empresa uso pavimentos
1 Carajs Residencial 4 Folha 26, Nova Habitado 1992
Marab
2 Xavantes Residencial 4 Folha 32, Nova Habitado 1992
Marab
2 Tucum Residencial 4 Folha 32, Nova Habitado 1997
Marab
4 Medical Comercial 4 Folha 26, Nova Em 2005
Center Marab funcionamento
5 Solar da Residencial 4 Belo Horizonte, Habitado 2005
Castanheira Cidade Nova
6 Vitria Residencial 4 Belo Horizonte, Habitado 2008
Rgia Cidade Nova
7 Amazon Comercial 9 Folha 26, Nova Em 2009
Center Marab funcionamento
8 Flamboyant Residencial 22 Belo Horizonte, Lanamento 2009
Cidade Nova
9 Marab Residencial 17 Loteamento Lanamento 2009
Belo Horizonte,
Cidade Nova
10 Rodobens Residencial 8 Cidade Nova Lanamento 2009
11 Belle Ville Residencial 14 Cidade Nova Lanamento 2009
Park Marab
12 Guam Residencial 12 Nova Marab Lanamento 2009
Residence
Fontes: Secretaria de Planejamento de Marab, Arquivo Documental do Conselho do Plano Diretor Munici-
pal de Marab e levantamento de campo, 2010. Organizado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

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198 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Foto 13: Marab. Apartamentos para a classe mdia baixa em rea de expanso urbana. 2010
Um dos poucos empreendimentos dessa natureza voltados demanda de moradia dos estratos
sociais mdios, localizado em rea de expanso urbana no eixo da Transamaznica, na sada
do ncleo da Nova Marab.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., set. 2010.

Foto 14: Marab. Apartamentos voltados para a classe mdia. 2010.


Formas de habitao mais recentes dirigidas classe de mdio status, localizadas no ncleo
Cidade Nova, em rea j consolidada do ponto de vista urbano.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., set. 2010.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 199

De qualquer forma, os conjuntos residenciais, sejam eles de iniciativa


pblica ou privada, ainda se fazem presentes de forma incipiente em face
das tendncias de expanso urbana, revelando pouca disponibilidade de
capitais e de programas governamentais para esse fim, seja de forma direta,
quando o Estado, atravs de rgos como a Companhia de Habitao do
Par (Cohab) prov a habitao, seja quando, indiretamente, incentiva
obras desse gnero sob a iniciativa de interesses privados, concedendo
financiamento por meio da Caixa Econmica.
Um projeto de habitao social a ser destacado, empreendimento do
governo federal em parceira como o governo estadual, o do Cabelo Seco,
na Velha Marab. Dada a situao apresentada no Francisco Coelho,
como se denomina oficialmente, o bairro foi selecionado para receber
uma obra do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) voltada para
esse espao de ocupao tradicional e de grande importncia para a hist-
ria e as tradies locais. O projeto inclui proviso de habitaes de baixa
renda, alm da construo de cais de arrimo para a conteno das enchen-
tes, servios de saneamento, infraestrutura bsica e gerao de trabalho e
renda, com especial ateno identidade sociocultural do bairro, de fortes
razes ribeirinhas e de interao com os rios Tocantins e Itacainas, pre-
servando os costumes e tradies de sua populao e de sua relao com
o espao.
Diferente dos conjuntos habitacionais, entretanto, a prtica de lotea-
mentos urbanos tem definido a configurao da expanso urbana na cidade
e tem sido a principal iniciativa que caracteriza os novos produtos imobili-
rios em Marab. Em todos os eixos de expanso urbana aqui identificados,
flagrante na paisagem a presena de loteamentos sendo colocados venda.
Eles se localizam notadamente na Transamaznica, em direo sada para
Itupiranga (eixo de expanso da Cidade Nova), no lado oposto da rodovia,
na sada para So Domingos do Araguaia (eixo de expanso da Nova Mara-
b) e em So Flix, em direo ao ncleo Morada Nova.
Esses loteamentos privados refletem a formao de um mercado que
passa a se estruturar sobretudo com a maior presena de empresas do setor
imobilirio atuando na cidade, por meio da prtica de lotear terrenos, ini-
cialmente de forma irregular, mas com tendncia a ampliao do processo

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200 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

de regularizao, em face da aprovao do Plano Diretor Municipal e da


formao do Conselho Gestor do Plano Diretor Municipal Participativo,
instncia da qual depende a aprovao desse tipo de empreendimento. O
lanamento desses loteamentos intensificou-se a partir do ano de 2008, com
o anncio, por parte da Vale, da instalao da Alpa, prevista para comear
a funcionar a partir de 2011, prazo este no cumprido; mais recentemente,
ganhou novo flego, com o anncio da construo do Unique Shopping e
do Shopping Ptio Marab.
Esses empreendimentos tm incrementado o mercado de terras em
trs eixos de expanso. O primeiro, no prprio setor onde ir funcionar a
Alpa, na expanso da Cidade Nova (Foto 15), entre a Transamaznica e
o Rio Tocantins, portanto, fora do Distrito Industrial. Tal localizao foi
escolhida em virtude da proximidade do rio, cujas guas podero ser utili-
zadas tanto como recurso quanto para fins de circulao (hidrovia), j que
se encontra tambm perto do novo porto, em construo. No caso desse
vetor de expanso da Transamaznica, em direo ao municpio de Itu-
piranga, alguns proprietrios de grandes terrenos rurais, com a prtica do
loteamento, procuram evitar perdas futuras com a desvalorizao do im-
vel a curto e mdio prazos, ocasionada pelos impactos ambientais e de vizi-
nhana resultantes da instalao do empreendimento da Vale, perdendo-se
o sentido da especulao imobiliria a que muitos imveis dessa natureza
se prestam.
O segundo vetor se manifesta no sentido oposto, no eixo de expanso da
Nova Marab (Transamaznica, em direo a So Joo do Araguaia e So
Domingos do Araguaia), sendo que, nesse caso, ela ocorre principalmente
devido localizao futura dos dois shoppings, o Unique Shopping, no cru-
zamento da PA-150 com a Transamaznica, e o Ptio Marab, na prpria
Transamaznica e, tambm, construo do novo cmpus da Universidade
Federal do Par.
O terceiro eixo o da BR-222, em So Flix, no sentido Morada Nova,
em que a venda de lotes passa a ser atrativa, com base no marketing que
apregoa, em troca do tumulto da cidade, as amenidades naturais e cons-
trudas existentes na rea, bem como a proximidade da Estao Cincia, da
Vale, que funciona nas imediaes. dessa forma que tem sido comum, no

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 201

caso dos loteamentos, serem oferecidos lotes residenciais e comerciais que


insinuam, igualmente, uma espcie de descentralizao de funes, mesmo
porque a legislao local exige a reserva de lotes para usos institucionais e
de servios. Essa a razo, por exemplo, que fez o loteamento residencial
Leolar, de propriedade do maior grupo local de lojas de departamentos e
implantado no eixo de expanso da Nova Marab, doar parte do terreno
para a instalao de mais um cmpus da Universidade Federal do Par
nas proximidades de seu empreendimento; situao semelhante ao que se
verifica no loteamento Novo Progresso, em So Flix (Foto 16) que, alm
da venda de lotes comerciais e de servios, j tem instalada uma faculdade
privada em seu interior.

Foto 15: Marab. Loteamento residencial no eixo da Cidade Nova. 2010.


Localizados ao longo da Transamaznica, na sada da Cidade Nova em direo Itupiranga,
loteamentos residenciais definem uma nova rea de expanso urbana em Marab.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

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202 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Foto 16: Marab. Estande de venda de loteamento residencial no eixo So Flix. 2010.
Lotes residenciais, comerciais e de servios postos venda no eixo de expanso urbana da BR-
222, em So Flix, no sentido Morada Nova, cujo marketing oferece as amenidades naturais
e construdas em oposio ao tumulto da cidade.
Fonte: Saint-Clair C. da Trindade Jr., jan. 2010.

Em todos os vetores, entretanto, verifica-se que muitos dos lotes colo-


cados venda so, em geral, fraes de terrenos de grandes fazendas que se
situavam nas imediaes do tecido urbano, mas que a expanso da cidade
tende a incorporar como parte da dinmica urbana. Em face da expanso
urbana, e sobretudo para evitar que tais propriedades sejam objeto de ocu-
pao por parte de agentes sociais excludos, os proprietrios realizam a
estratgia de antecipao diante da expectativa de produo do espao
urbano, efetivando o parcelamento do solo urbano para fins residenciais,
seja sob a perspectiva formal do mercado imobilirio, seja at mesmo por
meio de iniciativas irregulares e informais. Revelam-se, assim, redes de
articulao e de conflitos que giram em torno da produo imobiliria e que
contribuem, sobremaneira, para o processo de expanso e para uma nova
configurao urbana de Marab.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 203

A fora desse mercado pode ser constatada atravs da presena de em-


presas imobilirias, que se tem feito notar na cidade (Quadros 28 e 29).
Essa tendncia demonstra, cada vez mais, a mudana da situao de fron-
teira urbano-imobiliria para um estgio em que o processo de reproduo
capitalista passa a ocorrer tambm com base na reproduo ampliada do
capital; da a maior atuao dos agentes imobilirios no mercado de terras.
Trata-se, na verdade, de novos agentes que atuam no processo de produo,
intermediao e negociao da habitao, e que h bem pouco tempo no se
mostravam to visveis no cenrio urbano marabaense como nos dias atuais.

Quadro 28: Marab. Empresas do mercado imobilirio atuantes na sede municipal. 2010.
Empresa Atuao Procedncia Empreendimentos Mercados em Ano de
que atua ingresso
em
Marab
Construfox Construo e Marab (PA) Total Ville Marab Par 1988
Construo e incorporao
Incorporao
Ltda.
Direcional Incorporo e Belo Total Ville Marab Minas Gerais, 2009
Engenharia venda Horizonte So Paulo, Rio
(MG) de Janeiro,
Esprito
Santo, Distrito
Federal,
Amazonas,
Rondnia e
Par
Premium Construo Braslia (DF) Ipiranga Ecoville Amazonas, 2009
Engenharia Premium Rio Grande
Inteligente do Sul, Par,
Gois, Minas
Gerais, Cear
e Distrito
Federal.
Construtora Construo, Carangola Edifcio Marab Minas Gerais, 2009
Alterosa prestao de (MG) Rio de Janeiro,
servios e Esprito
projetos de Santo, Par,
engenharia, Maranho
comrcio de
imveis, servios
de terraplenagem
Engetower Incorporao e Belm (PA) Belle Ville Park Estado do Par 2009
Engenharia construo Marab
& Ferreira
e Loureno
Incorporadora
Fonte: Levantamento de campo, jan. 2010. Elaborado por Saint-Clair C. Trindade Jr.

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204 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Quadro 29: Marab. Principais empresas do setor de corretagem imobiliria atuantes na sede
municipal. 2010.
Empresa Localizao em Marab
Deltaville So Flix
Destac Nova Marab
Carajs Incorporadora Imobiliria Ltda. So Flix
Furtado & Macias Imveis Marab Pioneira
Imobiliria Chaves Marab Pioneira
Imobiliria Miranda Imveis Nova Marab
Imobiliria Santos Cidade Nova
Invest Nova Marab
Janaina Passos Oliveira Andrade Marab Pioneira
Tercasa Negcios Imobilirios Cidade Nova
Terra Santa Empreendimentos Imobilirios Marab Pioneira
Valria Pires Franco & Corretores Associados Nova Marab
Fonte: Acim/Marab, 2008 e levantamento de campo, 2010. Elaborado por Saint-Clair C. da Trindade Jr.

A presena desses agentes, entretanto, no elimina nem torna substancial-


mente visvel a quantidade de fluxos que acontece dentro de um circuito in-
formal do mercado imobilirio, cujas prticas convivem, portanto, com outro
tipo de atuao em que, gradativamente, o capital incorporador e imobilirio
passa a se apropriar do espao urbano, subsumindo as relaes at ento
existentes na proviso da moradia. A presena de espaos em transio pa-
rece configurar a dinmica de uma fronteira urbano-imobiliria. Nesse caso,

a terra circula sob a gide de uma pluralidade de formas de produo: pro-


duo rentista, produo sob encomenda do usurio, autoproduo, pequena
incorporao, incorporao pblica etc. [...]. Na periferia tm prevalecido os
loteamentos realizados por pequenos empreendedores descapitalizados irre-
gulares e clandestinos e a autoproduo da moradia. Essas formas de produ-
o constituem-se uma espcie de frente de expanso das relaes capitalistas,
j que dilatam as fronteiras do mercado de terras. (Lavinas; Ribeiro, 1991, p.79)

A formao desses espaos em transio, em Marab, contribui para


uma lgica de ordenamento urbano que tende a seguir o jogo imobili-
rio, cada vez mais definindo vetores de expanso urbana e ratificando, ao
mesmo tempo, formas seletivas de apropriao de espaos, de acordo com o
poder aquisitivo diferenciado de sua populao. Tal apropriao no ocorre
sem conflitos e, semelhana do que se verifica na escala sub-regional,
Marab tende, na escala intraurbana, a expressar a dinmica de fronteira,
do ponto de vista das desigualdades internas e dos conflitos socioespaciais.

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6
RUMO CENTRALIDADE POLTICA?
TENDNCIAS DE UMA CIDADE MDIA
NA AMAZNIA ORIENTAL

Um dos componentes que marcaram o processo de configurao de uma


fronteira econmica no espao amaznico foi o grau de urbanizao de seu
territrio. Como explicar a urbanizao na Amaznia antes mesmo de uma
efetiva produo agrcola e industrial na regio? Essa questo discutida a
partir do pressuposto de que a urbanizao na fronteira uma estratgia
bsica do Estado para a ocupao regional: sustenta a mobilidade permi-
tindo atrair migrantes sem lhes dar acesso propriedade da terra, e inicia
a articulao dos antigos e novos ncleos entre si e com o mundo exterior
(Becker, 1990, p.52). Essa ttica parece ter sido muito bem utilizada em
Marab.
O novo significado da urbanizao, como instrumento de ocupao,
est relacionado, assim, a trs papis fundamentais exercidos pelos ncleos
urbanos: a atrao dos fluxos migratrios, a organizao do mercado de
trabalho e o controle social (Becker, 1990). Esse significado, que pressupe
inclusive a importncia de cidades mdias como difusoras de inovao,
espaos de convergncia de fluxos e de formao de novas centralidades,
contribui, da mesma maneira, para um novo significado do espao regional,
em que a terra rural e a terra urbana tornam-se centro de disputa e de defi-
nio de territorialidades que provocam a projeo de uma nova unidade da
federao: o estado de Carajs.
A discusso em torno dessa questo exige considerar, verdadeiramente,
a anlise do espao como uma fora de produo, posto que, no processo de
transformao da terra valor de uso em terra valor de troca (capital), est em
jogo o espao como mercadoria, ou espao abstrato, nos termos usados por

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206 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Lefbvre (1974). Nessa transmutao, cada elemento da forma trinitria


terra, trabalho e capital representa momentos que viabilizam a realizao
e a valorizao do capital. Na fronteira econmica, esse processo no dife-
rente. Enquanto uso, a terra no tem valor, uma vez que para se configurar
como tal necessrio que assuma a forma de capital; da a necessidade de
passar por metamorfoses, conforme tem acontecido no Sudeste Paraense,
seja na escala sub-regional, seja na escala intraurbana.
A fronteira , pois, a transio, no tempo e no espao, da terra valor de
uso para a terra valor de troca, mediada pelo capital. Em outras palavras,
o processo de transformao social do significado, material e simblico,
da terra (Lavinas; Ribeiro, 1991). E Marab tornou-se uma cidade funda-
mental para que esse processo tomasse forma na fronteira econmica que
se constituiu no Sudeste Paraense, ratificando sua condio de centro sub-
-regional no momento atual, quando novas polticas de desenvolvimento
regional passam a ser pensadas e executadas para e na Amaznia.
Assim, a ideia de fronteira aparece como locus de expanso de uma ati-
vidade e de povoamento, decorrente da expanso da dinmica de mercado.
concebida, portanto, como um processo, e processo de expanso, jamais
como vazio. No se confunde tambm com outros fenmenos que tm
na apropriao do espao material sua essncia. Trata-se principalmente
do movimento de expanso da diviso do trabalho social que pressupe a
apropriao capitalista do espao, no qual a implantao de determinadas
relaes leva ao controle capitalista da terra, pela transformao do conte-
do socioeconmico preexistente (Becker, 1990).
Martins (1996, 1997) utiliza o sentido de fronteira, do ponto de vista dos
sujeitos histricos e de suas relaes, para caracterizar a situao de conflito
social que essa noo sugere, posto que sua natureza social , essencialmen-
te, a de se tornar o lugar da alteridade:

primeira vista o lugar do encontro dos que por diferentes razes so


diferentes entre si [...]. Mas o conflito faz que a fronteira seja essencialmente,
a um s tempo, um lugar de descoberta do outro e do desencontro. No s o
desencontro e o conflito decorrentes das diferentes concepes de vida e vises
de mundo de cada um desses grupos humanos. O desencontro na fronteira
o desencontro de temporalidades histricas, pois cada um desses grupos
est situado diversamente no tempo da Histria. [...] A fronteira s deixa de

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 207

existir quando o conflito desaparece, quando os tempos se fundem, quando


a alteridade original e mortal d lugar alteridade poltica, quando o outro se
torna a parte antagnica do ns. Quando a Histria passa a ser nossa Histria,
a Histria de nossa diversidade e pluralidade, e ns j no somos ns mesmos
porque somos antropofagicamente ns e o outro que devoramos e nos devorou.
(Martins, 1996, p.27)

nesse sentido que procuramos mostrar como esse processo est pre-
sente em vrias dimenses da produo do espao no Sudeste do Par,
atribuindo a Marab papis relacionados centralidade urbano-regional
e definindo o perfil da prpria cidade no processo de reorganizao dessas
mesmas relaes.
Em um primeiro momento, foi necessrio demonstrar a dinmica de
expanso de diversas frentes, no Sudeste do Par, para que comessemos a
compreender como se estruturam as relaes cidade-regio nesse contexto
sub-regional. Com base nisso, apontam-se dois enfoques para a compreen-
so da cidade que nos parecem interessantes na perspectiva de analisar o
papel de Marab na sub-regio da qual faz parte: o da economia poltica da
urbanizao e o da economia poltica da cidade (Santos, 1994b).
Na primeira perspectiva, importante considerar relaes que se cons-
troem em torno de atividades como, por exemplo, a siderurgia e a produo
de carvo vegetal. A concentrao de siderrgicas na cidade de Marab pro-
move uma grande demanda de produo de carvo vegetal na regio de seu
entorno, criando assim uma cadeia produtiva desigual e relaes espaciais
igualmente desiguais. O mesmo pode-se dizer em referncia s atividades
ligadas ao gado de corte e ao leite, uma vez que a cidade, concentrando os
lugares de beneficiamento da produo, acaba especializando as regies de
seu entorno, sobretudo os assentamentos agrrios, que se inserem desigual
e combinadamente a uma cadeia produtiva que, ao mesmo tempo em que
reduz os custos de produo de frigorficos e laticnios, retira a autonomia
de produtores familiares e refora a pecuria extensiva, com o fato de as
fazendas se transformarem em grandes fornecedoras.
Para alm disso, entretanto, o rural e o urbano, a cidade e sua relao
com a regio mostram-se como dimenses importantes na formao de
acampamentos e assentamentos agrrios. Nesse caso, por abrigar as prin-
cipais instituies ligadas regularizao fundiria, concentrar os produtos

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208 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

e servios que abastecem os assentamentos, bem como por ser tambm


local de referncia e base logstica de cooperativas de servios que atendem
os assentamentos, a cidade de Marab assume centralidade nas relaes
urbano-rurais no contexto sub-regional.
A presena de diversos servios e atividades comerciais, por sua vez,
corrobora a estrutura urbana multinucleada da cidade e, ao mesmo tempo,
encarrega-se de explicar, em grande parte, a centralidade regional de Ma-
rab, definida por verticalidades e horizontalidades espaciais que reforam
a ao de agentes produtores do espao articulados s escalas globais, mas,
tambm, uma infinidade de outras relaes que se estabelecem em nvel
regional e local, sejam elas formalmente configuradas ou no.
Conforme sustenta Silveira (2002), a cidade chamada, de um lado, a
exercer um comando tcnico das modernas produes agrcolas, pecurias,
minerais etc. de sua regio, inclusive com especializaes produtivas e com
solidariedades organizacionais (Santos, 1996) muito fortes e bem situadas
nas redes de relaes econmicas globais. o caso das siderrgicas que,
com a crise que atingiu o mercado global em 2008-2009, impactaram deci-
sivamente a vida econmica local, inclusive com fechamento de unidades e
avalanches de desempregos, repercutindo na dinmica urbana.
Tal centralidade, entretanto, no visualizada apenas por atividades
produtivas, comerciais e de servios formais. Nos interstcios desses es-
quemas de fortes verticalidades geogrficas (Santos, 1996), desenvolve-se,
igualmente, um trabalho local mais ou menos espontneo e flexvel, que
avana por porosidades do modelo, movido pelas necessidades de um ter-
ritrio contguo (Silveira, 2002), com complementaridades nada ocultas;
muito pelo contrrio, de carter bem explcito, como o dos transportes
alternativos, notadamente as vans que circulam entre Marab e inmeras
localidades prximas e distantes no atendidas pelas empresas de trans-
porte consideradas regulares. Da mesma maneira, as feiras e as atividades
informais no declaradas conferem cidade um dinamismo que coloca em
descompasso a extenso dos fixos, em particular aqueles mais modernos,
recorrentes em cidades consideradas mdias, em relao quantidade de
fluxos que garantem a dinmica intraurbana, mas, e principalmente, a di-
nmica sub-regional.
No plano da economia poltica da cidade, a acentuao das desigualda-
des socioespaciais ocorre de forma clara, e as relaes prprias de espaos

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 209

de fronteiras ratificam igualmente o papel de Marab no contexto regional.


nesse sentido que a noo de fronteira urbano-imobiliria proposta por
Lavinas e Ribeiro (1991) parece pertinente para entender essa questo,
posto que no urbano-imobilirio a terra aparece como suporte e meio de
produo e de consumo, e sua mercantilizao implica a transformao da
estrutura da propriedade fundiria urbana.
Em grande parte, o processo de produo da habitao em Marab se
deu com a prtica em que o prprio usurio da moradia obtinha o terreno
e realizava a construo, caracterizada como produo no mercantil, pois
o proprietrio se confunde com o construtor e o usurio. Pouco a pouco, os
proprietrios dos terrenos passaram a construir para vender a terceiros.
o momento em que o proprietrio do terreno quem assegura a transfor-
mao do uso do solo e/ou a produo de moradias atravs de investimento
de capital, orientado pela busca de apropriao de uma renda imobiliria
ou fundiria. No entanto, durante muito tempo, isso ocorreu sem maiores
formalizaes do mercado de habitao, da a pouca presena de agentes
imobilirios, sejam eles construtores, corretores, planejadores de venda ou
incorporadores.
Mais recentemente, percebe-se que o capital incorporador tende a assu-
mir maior importncia no processo de produo da moradia, ao assegurar
a liberao e a transformao do uso do solo e a circulao da produo
imobiliria. Prova disso a presena de empresas imobilirias garantindo
o parcelamento do solo urbano e promovendo o lanamento de unidades
habitacionais para ser entregues em mdio prazo, com clara tendncia de
subordinao do capital produtivo ao capital de promoo (Ribeiro, 1997).
O processo de segregao que j se configura entre os ncleos urbanos
principais e dentro de cada um deles, de maneira especial na Nova Marab
e na Cidade Nova, est diretamente associado ao papel que a cidade exerce
no contexto regional. O padro de segregao espacial definido hoje em
dia decorrente de vrios processos, que vo desde a substituio dos mo-
radores por meio de transaes atomizadas de compra e venda de imveis
atendendo a uma populao migrante que chega para ficar, ou atravs
de novos imveis, alugados sobretudo por novos agentes que chegam e
definem Marab como espao de passagem e de enriquecimento fcil e
rpido , passando pelas ocupaes espontneas, por loteamentos regulares

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e irregulares, at as incorporaes imobilirias, converses de uso do solo


visando o lucro.
Assim, as relaes espaciais desiguais que se manifestam no plano local
no deixam de revelar processos de expropriao, desigualdades e segre-
gaes socioespaciais. Isso porque a centralidade urbana de Marab, na
dinmica das relaes urbano-rurais na regio, edifica-se com base em
um processo de desenvolvimento geogrfico desigual, que demonstra o
funcionamento do capitalismo em um mbito geogrfico, apontando como
a acumulao do capital pode alterar o espao, as espacialidades e as terri-
torialidades existentes, gerando desigualdades entre os territrios (Harvey,
2004). Exemplo disso a concentrao fundiria e a espoliao cada vez
maior dos trabalhadores, sejam eles do campo, como os envolvidos na pro-
duo do carvo vegetal, sejam da cidade, ligados s siderrgicas. Ambos
os fatores vo tambm provocar a formao e a maior mobilizao de ml-
tiplos movimentos sociais que, ao colocarem a cidade de Marab como
centro articulador, mobilizador e simblico de suas lutas, demonstram a
centralidade poltica que ela assume em termos regionais.
Assim, no s do ponto de vista econmico que a cidade se dinamiza.
A presena de novos agentes, definindo a dinmica da economia poltica
da urbanizao, no Sudeste Paraense, e a da economia poltica da cidade,
em Marab, aponta para a formao de uma nova territorialidade em escala
sub-regional. Nesse caso, trata-se de uma mediao, do ponto de vista
poltico, dada a importncia e a centralidade que as cidades mdias tm
assumido no contexto de descentralizao econmica no territrio estadual
e nacional. Sua condio de fruns regionais de decises polticas e de
debates em torno de questes que afetam diretamente a sub-regio em que
se inserem (Trindade Jr.; Pereira, 2007) tornam-nas importantes espaos
de centralidades econmicas, mas tambm de fortes centralidades polticas,
em face da projeo dessas sub-regies que se alam condio de novos
estados da federao.
As elites locais, que no se resumem mais s oligarquias tradicionais,
mas incluem novos agentes que chegaram com as novas frentes de expanso
(Emmi, 1999), tm comandado a proposta de emancipao e difundido a
propaganda de criao do estado de Carajs, com sede em Marab. Nesse
caso, busca-se sustentar um discurso de melhor distribuio das arrecada-
es e de um possvel redirecionamento do desenvolvimento econmico

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 211

sub-regional. Na verdade, trata-se muito mais da formalizao poltica de


uma nova territorialidade, responsvel por dar apoio ao poder local que se
redefiniu nas ltimas dcadas e que exerce grande influncia poltica no
interior do territrio paraense (Trindade Jr.; Pereira, 2007).
A presena de grandes projetos econmicos sob sua rea de influncia
e de importantes atividades econmicas em expanso tende a revelar uma
relativizao do papel de Belm diante das cidades mdias, em especial
Marab, revelando sua importncia e seu papel no contexto da participao
econmica regional. Associada a isso, est a perda da condio de Belm
como nica porta de entrada da regio, situao em que foi dominante at
a abertura de rodovias na Amaznia, responsveis por fragilizar a funo
porturia da capital e a importncia dos rios como vias de circulao na
regio. O Sudeste Paraense e, mais precisamente Marab, so bons exem-
plos de novas portas de entrada por onde chegou e ainda chega uma grande
quantidade de migrantes. As tentativas de emancipao poltica do Sudeste
Paraense revelariam, portanto, essa situao de fragilidade de Belm, em
termos relativos, tambm do ponto de vista poltico.
Nesse caso, as novas lideranas polticas do estado do Par, localizadas
fora da rea de influncia imediata de Belm e fortalecidas economicamen-
te pelas frentes de modernizao recentemente implantadas no Sudeste
Paraense, postulam a formao de um novo estado da federao; portanto,
um territrio de maior autonomia poltica dentro do territrio nacional
e sem subordinao direta elite econmica e poltica de Belm. nesse
sentido que, em nvel sub-regional, esse processo resulta de uma espcie de
balcanizao poltica dentro do territrio paraense, j definida em termos
no formais, e de uma estratgia de afirmao dos poderes locais, que se re-
fora pela importncia assumida por Marab como centro sub-regional; da
a recorrente mobilizao para fins de autonomia estadual assentada nessa
base territorial e com referncia de centralidade em uma cidade mdia de
forte centralidade econmica.
Desses argumentos, podemos levantar alguns elementos conclusivos.
O primeiro deles se refere definio de Marab no mbito da rede urbana
regional. Ainda incmodo cham-la de cidade em transio, uma vez que
tambm nos difcil admitir que se tome o espao pelo tempo, em uma ope-
rao na qual parece estarmos em uma linha reta da histria que nos conduz
contra ou a favor de nossa vontade por um caminho nico.

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Quando falamos de cidades como Marab, consider-la em transi-


o remonta a um conjunto de discursos produzidos localmente que nos
fazem ver um caminho a ser seguido pelo espao em direo ao tempo do
desenvolvimento. Muito habilmente, a transio mostrada como estgio,
e somos seduzidos pela fora do olhar para a frente a aderir a uma proposta
muito em voga, que a da fragmentao poltico-administrativa, ou seja, a
criao do estado de Carajs, mas que parece seduzir e se tornar, cada vez
mais, um discurso de consenso. Portanto, a cidade em transio recheada
de ideologia e por isso devemos, mais que coloc-la em um caminho histri-
co nico, reconhecer suas vrias histrias e geografias, para que a reconhe-
amos a partir de sua materialidade diversa e contraditria, no a partir de
discursos que homogeneizam o espao e violentam a realidade.
Um segundo argumento conclusivo revela-se na necessidade de com-
preender que o processo de modernizao conservadora da Amaznia, o
qual, ao passo de adensar tecnicamente o territrio, reproduz o latifndio e
formas de trabalho anlogas escravido, em particular no Sudeste do Par,
tambm um processo de violao tnica e identitria. No podemos reco-
nhecer o papel da cidade de Marab, sobretudo como polo de articulao
dos movimentos sociais da regio, se no reconhecermos que a formao e
articulao desses movimentos ocorrem pela expropriao do trabalhador,
seja do campo ou da cidade, mas tambm pela violao cultural experimen-
tada por mltiplos grupos que tm na cidade um espao de referncia.
Talvez o que a anlise nos mostre, em termos gerais, pouco importando
a denominao que se queira dar, a particularidade na forma em que uma
cidade de porte mdio como Marab constri uma centralidade urbana em
termos regionais. Nesse sentido, a cidade mdia parece ser mais bem defi-
nida, para alm dos patamares demogrficos o que sugere certo consenso
nas discusses mais atuais , mas tambm para alm de uma referncia de
modernizao do territrio assentada em processos de desconcentrao
econmica, apontando inclusive para o papel poltico e tambm de respon-
sabilidade socioespacial que essas cidades possam apresentar como espaos
relativos, mas, sobretudo, como espaos relacionais (Harvey, 1980).
Marab, espelho de relaes contraditrias que se realizam no plano da
cidade e da regio, apresenta, portanto, uma formao socioespacial que lhe
confere uma centralidade econmica e poltica em termos regionais, cen-
tralidade assumida a partir de relaes perversas e violentas que a tornam

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 213

uma cidade desigual. tambm perpassada por relaes urbano-rurais que


a colocam como marca de uma diversidade territorial, como produto de
contradies inerentes forma particular de acumulao do capital que se
realiza na fronteira, enfim, como expresso de conflitos e violncias que lhe
atribuem a condio de cidade das diferenas.
No hiato entre as grandes realizaes do futuro e a extrema precariedade
do presente, entre o sonho de poucos e a desgraa de muitos, Marab se
faz uma importante cidade precria; cidade esta cada vez mais respon-
svel territorialmente (Schor; Costa; Oliveira, 2009) por seu entorno.
Ao mesmo tempo em que seus problemas internos se avolumam, ne-
cessrio mostrar que o enfrentamento de todas as contradies existentes
passa necessariamente pelo reconhecimento de que elas existem, para que
a partir delas se apontem elementos que possam servir de apoio a polticas
territoriais mais preocupadas com um modelo cvico do que com um
modelo econmico do territrio (Santos, 1987), recorrentemente alheio
s demandas sociais.

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ALGUNAS CLAVES SOBRE LAS
TRANSFORMACIONES URBANAS DE LA CIUDAD
MEDIA DE LOS NGELES*

Cristin Henrquez Ruiz


(Pontificia Universidad Catlica de Chile)

Federico Arenas Vsquez


(Pontificia Universidad Catlica de Chile)

* Este trabajo ha contado con el financiamiento del Proyecto Fondecyt de Iniciacin


n. 11060278, Proyectos Fondecyt Regular n. 1080080 y 1130305 y del Centro de Desarrollo
Urbano Sustentable (Cedeus) Conicyt/Fondap/15110020. El equipo que ha participado en
la elaboracin de este captulo lo componen los asistentes de investigacin Jenniffer Thiers,
Rodrigo Jara y Roco Valderrama, as como de las alumnas tesistas Marta Morales y Javiera
Zamora del Instituto de Geografa de la Pontificia Universidad Catlica de Chile. Tambin
se agradece la ayuda de Sara Viera y de Mauricio Carrasco, asesor urbano de la Ilustre Muni-
cipalidad de Los ngeles.

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SUMRIO

Introduccin 227

1 Breve evolucin histrica de Los ngeles 231


1.1. Origen y consolidacin de la ciudad de Santa Mara de Los
ngeles 231
1.2. Cambios durante el siglo XX 232
1.3. Nuevos vectores de cambio durante los siglos XX y XXI 234
1.4. Rol de los instrumentos de planificacin urbana en la evolucin de la
ciudad 240
2 Difusin del agronegocio y desarrollo industrial 247
2.1. La situacin del agronegocio 250
2.2. Descripcin de la actividad industrial 257
2.3. A modo de sntesis 260
3 Difusin del comercio y servicios especializados 263
3.1. Cambio en el empleo en el rubro comercial 264
3.2. Reestructuracin urbana de grandes tiendas comerciales 271
Supermercados e hipermercados 271
Servicios de salud especializados 274
Comercio y servicios asociados a la agricultura y silvicultura 277
Centros de educacin superior 278
Redes bancarias y financieras 280
Centros comerciales y grandes tiendas 281
Terminales intermodales y plataformas de logsticas distributivas 284
Redes nacionales e internacionales de hotelera 285
3.3. A modo de sntesis 286

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226 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

4 Profundizacin de las desigualdades socioespaciales 289


4.1. Avances en indicadores econmicos y disparidades en los
socioeconmicos 290
4.2. Transformaciones del hbitat urbano 295
4.3. Condiciones de vivienda 305
4.4. Asentamientos irregulares 307
4.5. A modo de sntesis 313
5 Algunas claves sobre las transformaciones urbanas de la ciudad de Los
ngeles 315
Referencias bibliogrficas 321

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INTRODUCCIN

La ciudad media de Santa Mara de Los ngeles, en adelante ciudad de


Los ngeles, se localiza en la Regin del Biobo, Chile, en el sector denomi-
nado histricamente Isla de Laja, entre los Ros Laja al norte y Biobo al
sur. En trminos jerrquicos se encuentra dentro de los centros urbanos ms
relevantes de la regin, luego de la conurbacin Concepcin-Talcahuano,
capital regional ubicada en el borde costero, y con condiciones urbanas
similares a la ciudad media de Chilln ubicada a 110 kilmetros al norte.
La ciudad se inserta administrativamente en la comuna del mismo nom-
bre y es la capital de la provincia del Biobo (Figura 1). Se ubica en una
posicin estratgica ya que se encuentra a 514 kilmetros al sur de Santiago
y a 560 kilmetros al norte de Puerto Montt, lugar donde finaliza el valle
longitudinal de Chile Central.
Se ubica en la depresin intermedia, aproximadamente 15 kilmetros al
norte del Ro Biobo en su tramo medio. Forma parte de la subcuenca del
Ro Rarinco. El rea urbana y sus reas cercanas son relativamente planas,
con altitudes que varan entre los 120 y 160 metros sobre el nivel del mar,
slo destaca el cerro Curamvida al norponiente de la ciudad que alcanza
los 216 metros sobre el nivel del mar. Su clima es templado clido con una
estacin seca corta. La precipitacin bordea los 1.300 milmetros y se con-
centra en los meses invernales.
A fines del siglo XIX y comienzos del siglo XX, el crecimiento de la po-
blacin fue variable, experimentando incluso tasas negativas. Sin embargo,
a partir de la dcada de 1970, la poblacin de Los ngeles super el umbral
de los 50 mil habitantes, convirtindose en ciudad de nivel medio y en poco

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228 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

ms de veinte aos dobl su poblacin. De acuerdo al Censo de Poblacin


y Vivienda del ao 2002 se consigna una poblacin comunal de 166.556
habitantes, cifra que de acuerdo a los datos no oficiales de poblacin al ao
2012 va en aumento, agregando otros 20 mil habitantes.

Figura 1: Los ngeles. Situacin Geogrfica. 2011.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 229

Ese rpido crecimiento es parte del proceso de urbanizacin a escala


nacional, producto sobre todo de las migraciones campo-ciudad y como
consecuencia del despliegue econmico de las inversiones, en el marco del
modelo de sustitucin de importaciones, hacia regiones productoras de
recursos naturales, donde el desarrollo de la agroindustria signific una
mayor atraccin para la poblacin, sector que experiment un crecimiento
incluso mayor que el crecimiento de la capital del pas.
En las ltimas dcadas, Los ngeles ha experimentado un importan-
te crecimiento urbano asociado a los impactos de la apertura econmica
neoliberal, lo que conecta al pas con los mercados internacionales ligados,
entre otros, a la produccin forestal, agrcola y otras actividades ligadas a
su transformacin, por lo que se ha transformado en un importante centro
de servicios y prestador de funciones terciarias, en el mbito provincial.
La dinmica de crecimiento urbano asociado a estos vectores de cambio ha
significado una serie de impactos territoriales de diversa ndole como, por
ejemplo, el desborde permanente de los lmites urbanos propuestos en los
instrumentos de planificacin territorial.

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1
BREVE EVOLUCIN HISTRICA DE LOS NGELES

1.1. Origen y consolidacin de la ciudad de Santa Mara


de Los ngeles

La ciudad de Los ngeles fue fundada por Don Pedro de Crdova y


Figueroa, bajo el mandato del gobernador Manso de Velasco, el 27 de
marzo de 1739, con el nombre de Santa Mara de Los ngeles, y el 7 de
noviembre de 1748 se le confiere el ttulo de villa, en el interfluvio deno-
minado Isla de Laja, entre el Ro Biobo por el norte y el Ro Laja por el
sur (Henrquez, 2014). Segn Risopatrn (1924), la fecha de fundacin no
est del todo clara, ya que tambin se indican los aos 1741 y 1742 como
posibles fechas de fundacin, siendo esta ltima al parecer la ms acertada
(De Luigi, 1990). Las razones de la fundacin fueron reunir a los habitantes
dispersos en los campos, resguardar esa comarca contra las agresiones de
los indios y proteger la nueva frontera en expansin (Barros-Arana, 1884).
Al igual que Chilln, Los ngeles sufri las continuas hostilidades de los
indios araucanos, que la saquearon en ms de una ocasin: inter alia, en
1820 fue quemada por el cacique Mail (Astaburuaga, 1899).
Durante el perodo colonial, que se extiende desde la llegada de los
espaoles a mediados del siglo XVI hasta 1818, cuando se consigue la in-
dependencia de manera definitiva en Chile, la ciudad de Los ngeles se
caracteriza por ser un punto estratgico en la Guerra de Arauco, ya que
junto a otros centros fronterizos a lo largo del Ro Biobo, como los fuertes
Prncipe Carlos (1790), Santa Brbara (1756), Purn (1724) y Nacimiento
(1724), conforman la lnea defensiva contra los araucanos (Mardones et al.,

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232 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

2001). Todos estos fuertes se ubican en la divisin poltica administrativa


denominada Partido de Laja, la que, junto a los Partidos de Rere, Puchacay,
Itata, Concepcin y Chilln, todos al norte del Ro Biobo, conformaban el
territorio bajo dominio espaol.
Desde un punto de vista econmico, la Regin del Biobo durante ese
perodo experiment un desarrollo gracias a la exportacin de productos
agropecuarios, fundamentalmente trigo y harina hacia Per, Australia,
Estados Unidos sobre todo California , y pases europeos, lo que impac-
ta positivamente en el crecimiento urbano de centros como Los ngeles
(Mardones et al., 2001).
A mediados del siglo XIX, la aldea de Los ngeles cuenta con alrededor
de 4 mil habitantes, con rasgos tpicamente coloniales y con una actividad
econmica predominantemente de subsistencia, con un fuerte vnculo con
las actividades del campo.
El 7 de diciembre de 1852 se le otorg a Los ngeles el ttulo de ciudad
y se constituy en la primera capital de la primera provincia de Arauco
(Astaburuaga, 1899). En 1874 se rompe la situacin de aislamiento, con la
llegada del ferrocarril (Andaur; Prez, 2007).

1.2. Cambios durante el siglo XX

Los cambios asociados a la agricultura y silvicultura, as como del sector


industrial, comercial y de servicios, son uno de los vectores ms importantes
para la comprensin del crecimiento urbano de la ciudad de Los ngeles.
Hacia 1930, la actividad agrcola alcanza un incremento notable, de-
bido principalmente a la construccin de numerosas obras de vialidad y
de regado, que impactan de manera positiva el crecimiento de la ciudad.
De especial relevancia es la construccin del Canal del Laja en 1925, que
permite regar entre 35 mil y 40 mil hectreas, transformando la ciudad en
un naciente polo de desarrollo industrial frutcola y lechero a nivel regional
(Andaur; Prez, 2007). La irrigacin a gran escala que se continu realizan-
do luego de la construccin del Canal del Laja, y que benefici a millares de
nuevas hectreas de la provincia del Biobo en los aos 1950, 1960 y 1970,
cre condiciones para un desarrollo de la agricultura y ganadera (Ilustre
Municipalidad de Los ngeles, 2005).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 233

Por su parte, la incorporacin de la silvicultura al territorio se remonta


hacia principios del siglo pasado, cuando, en terrenos de mala calidad, al-
gunos propietarios pioneros comenzaron a realizar plantaciones de pino ra-
diata. Destacan algunos propietarios como Mximo Puffer que plant mil
hectreas de pino radiata en su fundo La Aguada. Otros pioneros fueron:
Enrique Zaartu, Alberto Collao, Alfredo Irarrzabal, Leoncio Larran,
Francisco de la Cruz, que crearon ms tarde Maderas Prensadas Cholgun
(Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005).
Todo ese desarrollo sigue impactando el crecimiento de la ciudad. En
efecto, el centro antiguo de la ciudad se ir transformando en un ncleo
comercial floreciente, que obliga a los habitantes a trasladarse a otras zonas
de la ciudad. No obstante, sucede el terremoto con epicentro en Chilln
que tambin se deja sentir en la ciudad, cambiando completamente su fiso-
noma. Contreras (1942-4), citado por Prez y Andaur (2005, p.28), seala
que en Los ngeles cayeron numerosas casas y en una proporcin que
puede calcularse en un 70% a un 75% los edificios han quedado seriamente
averiados y muchos de ellos inhabitables.
Al igual como sucedi en otras ciudades, se realizaron planes de recons-
truccin a raz de los estragos del terremoto, y en el caso de Los ngeles,
correspondi al Plan Regulador de 1945, elaborado por el destacado urba-
nista Rodulfo Oyarzn (Prez; Andaur, 2005).
A nivel nacional, entre los aos 1930 y 1973, se implanta un modelo
econmico denominado de sustitucin de importaciones. Esa etapa se ca-
racteriza por dos hechos histricos: la decadencia del modelo exportador
de productos primarios y el crecimiento de la industria tradicional en la re-
gin, sobre todo en el eje urbano-industrial Concepcin y Talcahuano. Eso
es resultado del esfuerzo del estado, a travs de la Corporacin del Fomento
de la Produccin (Corfo), y de particulares por desarrollar la industria na-
cional y sustituir las importaciones.
En ese contexto, la ciudad de Los ngeles experimenta un gran impacto
en su crecimiento, por la inauguracin en 1963 de la planta de celulosa y de
papel en Nacimiento, propiedad de la empresa Industrial Forestal S.A. (In-
forsa). En 1964, Arauco se integra a ese proceso al iniciarse la construccin
de una fbrica de celulosa, transformando a Chile en el primer productor
de papel de diario y el nico exportador de ese producto en Latinoamrica
(Mardones et al., 2001).

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234 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

A eso se suma la renovacin de la industria del alimento, cuando Corfo


crea en el ao 1953 la Industria Azucarera Nacional S.A. (Iansa), en la
ciudad de Los ngeles, y posteriormente, en 1967, entra en funciones otra
industria en Cocharcas (uble) (Mardones et al., 2001). En ese perodo,
tambin se instala en Los ngeles una planta lechera a la que seguira Chi-
prodal y otras agroindustrias que dinamizan la economa urbana (Mardo-
nes et al., 2001).
A fines de los aos 1970, se produce un drstico cambio en el modelo
econmico, con la implantacin de una nueva estrategia basada en el mode-
lo econmico neoliberal. Ese perodo, tambin denominado de internacio-
nalizacin econmica (Geisse, 1983), fue acompaado por una disminucin
del aparato estatal comprometido en las tareas productivas, dejando la res-
ponsabilidad del desarrollo a la empresa privada, bajo una regulacin de
libre mercado, con el objetivo de insertar al pas en la economa-mundo,
basado en el aprovechamiento de las ventajas comparativas, especialmente
derivadas de la existencia de una variada base de recursos naturales.

1.3. Nuevos vectores de cambio durante los siglos XX y XXI

Actualmente, el Estado y la sociedad chilena han abierto sus puertas al


capital, a las inversiones, a la venta de sus recursos naturales, provocando
un crecimiento econmico territorialmente diferenciado, acarreando lo que
algunos autores califican como un verdadero fraccionamiento del territo-
rio, con el surgimiento de regiones ganadoras y perdedoras (Rojas, 2003).
En ese contexto, la mayor parte de los asentamientos urbanos de la Regin
del Biobo, incluidos Chilln y Los ngeles, junto con la conurbacin
Concepcin-Talcahuano, han exhibido un fuerte crecimiento demogrfico
y econmico producto de la aplicacin de esas polticas neoliberales, por lo
que se podran considerar como territorios ganadores. En sus inmedia-
ciones se han desarrollado importantes proyectos industriales de capitales
privados, como el Complejo Forestal Industrial Itata (CFI) y las centra-
les hidroelctricas Pangue y Ralco. Por el contrario, otros asentamientos,
como Lota y Coronel, han experimentado un importante estancamiento
demogrfico y econmico producto del declive de la actividad del carbn
(Arenas; Bustos, 1996), transformndose, bajo la ptica de la globalizacin

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 235

econmica, en territorios perdedores, que incrementaron sus ndices de


pobreza y desintegracin social (Henrquez, 2014).
La importancia creciente de la actividad forestal observada al relacionar
la produccin de madera aserrada en la regin, con relacin a la produccin
nacional, explica no slo el crecimiento de esa ciudad media, sino tambin
en buena parte del conjunto de centros urbanos de la regin. En efecto, la
participacin de la Regin del Biobo en la produccin total de madera aser-
rada en el pas representa el 55% con un crecimiento constante, alcanzando
ms de un 400% entre los aos 1972 y 1998 (Infor, 1999).
Es importante destacar que la principal medida que facilit el desarrollo
forestal descrito y la explotacin de bosques principalmente pino radiata
y en menor medida eucaliptos fue la promulgacin del Decreto Ley no 701
(DL 701), de fomento silvcola, que dispuso una serie de incentivos a las
plantaciones en terrenos declarados forestales, de aptitud preferentemente
forestal y bosques naturales, quedando exentos de impuestos territoriales
y de renta percibidas o devengadas por la explotacin de bosques. El DL
701 contempl que el Estado, en el perodo de diez aos, contados desde
la fecha de vigencia del DL 701, bonificar en un 75% y por una sola vez
a cada predio o fraccin de l que forme parte de un plan de forestacin y
de manejo forestal, los costos netos de forestacin, incluidos los gastos de
manejo correspondiente en que incurran las personas naturales o jurdicas
de cualquier naturaleza (Camus, 2003). Adems, los terrenos acogidos a
las disposiciones del DL 701 se declararon inexpropiables y se expres la li-
bertad de comercio para todos los productos del bosque, levantndose, por
ejemplo, la prohibicin que exista para la exportacin de rollizos (Camus,
2003, p.303).
En el caso de Los ngeles, el mencionado desarrollo de la actividad fo-
restal y la exportacin de productos agrcolas no tradicionales influyeron de
manera importante en su consolidacin, crecimiento demogrfico (Tabla
1) y expansin fsica. Una sntesis de la evolucin de su planta urbana se
aprecia en la Figura 2.
La Figura 3 muestra el reforzamiento de la densidad en los distritos cen-
trales de la ciudad y parcialmente en su parte sur. El comportamiento de la
periferia corresponde, como en la mayora de las ciudades medias chilenas,
a una expansin fsica de baja densidad, asociado al desarrollo de nuevos

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236 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

conjuntos habitacionales de densidades ms bajas, condominios cerrados y


parcelas de agrado en particular hacia el sector oriente de la ciudad, alre-
dedor del camino que conecta la misma con la zona precordillerana.

Figura 2: Los ngeles. Evolucin histrica. 1880 a 2007.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 237

Figura 3: Los ngeles. Densidad de poblacin. 2002.

Tabla 1: Provincias de Biobo y Concepcin, comuna y ciudad de Los ngeles. Evolucin com-
parada de poblacin. 1940 a 2012.
Localidad 1940 1952 1960 1970 1982 1992 2002 2012
Comuna Los ngeles 52.259 60.607 76.307 90.239 115.568 140.535 166.556 187.494
Ciudad Los ngeles 20.979 24.971 35.511 49.175 70.529 94.716 121.565 136.921
Provincia Biobo 127.312 138.292 169.718 193.536 290.677 323.910 353.315 379.407
Provincia Concepcin 310.663 436.678 539.450 643.836 717.267 841.445 912.889 971.368
Fuente: INE 1940-2012. Datos procesados y organizados por Jenniffer Thiers y Cristin Henrquez.

El aumento de la importancia relativa de la ciudad de Los ngeles se ex-


presa en la atraccin que ejerce sobre otros asentamientos de la Regin del
Biobo, como se aprecia en la Figura 4, la que da cuenta de la inmigracin a
ese centro urbano para el ao 1997.

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238 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Figura 4: Los ngeles. reas de influencia estimadas a partir de migraciones. 1997.

De manera complementaria, los datos de transporte pblico interurba-


no de 1998 de la Figura 5 muestran las importantes relaciones de la ciudad
de Los ngeles con otros centros poblados provinciales y tambin con el

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 239

principal conglomerado urbano regional conformado Concepcin-Tal-


cahuano, con Temuco, la capital de la Regin de la Araucana, su vecina del
sur, y tambin con Santiago, la capital del pas.

Figura 5: Los ngeles. reas de influencia segn destino de transporte pblico interurbano.
1998.

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240 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Sin duda, su ubicacin en el corazn de la parte sur de la regin contribu-


ye a su transformacin en un centro de servicios de apoyo tanto a la actividad
forestal como al desarrollo de la agricultura no tradicional y a la difusin del
agronegocio.
Los datos no oficiales del Censo de Poblacin y Vivienda del ao 20121
indican que la poblacin de la comuna de Los ngeles bordeara los 200 mil
habitantes y la poblacin urbana alcanzara a los 136.921 habitantes.

1.4. Rol de los instrumentos de planificacin urbana en


la evolucin de la ciudad

Como se mencion, la ciudad de Los ngeles se origina como enclave de


frontera y mantiene esa condicin durante casi todo el perodo colonial, lo
que explica en parte su nivel de atraso importante y la escasa comunicacin
con el gobierno central.
El crecimiento de la ciudad fue contenido y su morfologa, para el ao
1880, se estructura a partir del damero central, delimitado por las Calles
Lientur por el norte, Mendoza por el poniente, Villagrn al oriente y Ave-
nida Ricardo Vicua al sur (Figura 6). En este sector, denominado Pueblo
Nuevo, fue donde se concentr el comercio, los servicios y el equipamien-
to de seguridad.
A comienzos del siglo XX y debido al auge agroganadero, la ciudad ex-
periment un mayor crecimiento, lo que signific que ella creciera hacia el
sur y norte, pero con una reducida extensin. En el sector sur se ubicaron
los frailes dominicos, los que posteriormente vendieron crendose la pobla-
cin Villa Hermosa. Hacia 1910 la extensin de Los ngeles no superaba
las ocho por diecisis cuadras, con una poblacin de 11.691 habitantes. De
acuerdo al trabajo de Andaur y Prez (2007), que corresponde a uno de los
estudios ms detallados sobre la evolucin de la ciudad Los ngeles y sobre
sus planes reguladores:

1 Es importante mencionar que los datos obtenidos del Censo de Poblacin y Vivienda 2012
del Instituto Nacional de Estadstica (INE) han estado sujetos a una fuerte polmica por su
calidad. Estos han sido publicados, auditados y modificados, y el 27 de marzo de 2014, las
nuevas autoridades de Gobierno deshabilitaron definitivamente el acceso a la informacin
del Censo e informaron que se realizara un censo abreviado el 2017 (Henrquez, 2014).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 241

Figura 6: Los ngeles. Plano de la ciudad. 1880.


Fuente: Andaur y Prez (2007).

Este desarrollo hizo cambiar la fisonoma de la ciudad, los habitantes ms


antiguos que vivieron en el centro de la ciudad se desplazaron a otros sectores
cuando sus viviendas fueron convertidas en establecimientos comerciales. Esto
hizo necesario el crecimiento hacia el sur, manteniendo la cuadrcula tradicio-
nal, sector que se denomin Pueblo Nuevo. Aqu las casas se mantuvieron en
el borde de la vereda, sin antejardn y en terrenos amplios, donde guardaban los
carros a traccin animal. (Andaur; Prez, 2007, p.25)

En 1936 se realiza un anteproyecto de Plan Regulador, liderado por el


urbanista Rodulfo Oyarzn, a partir de la recientemente promulgada Ley
General de Construcciones y Urbanizacin, no 4.563, que surge a su vez
como respuesta al terremoto de Talca del ao 1928. Esa propuesta no fue
materializada, ya que en 1939 se produjo un fuerte terremoto que afect la
zona sur del pas, destruyendo un porcentaje significativo de las viviendas
de las ciudades de Concepcin, del propio Chilln y de Los ngeles. A

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242 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

partir de ese evento, el gobierno anunci la creacin de la Corporacin de


Reconstruccin y Auxilio, que formul un Plan de Reconstruccin de todas
las ciudades devastadas (Andaur; Prez, 2007).
En 1945 se aprueba el primer Plan Regulador Comunal (PRC) de la
ciudad de Los ngeles, tambin ideado por Oyarzn. Las principales pro-
puestas, muchas de ellas inspiradas en la obra del urbanista Karl Brunner,
incluyen una zonificacin de acuerdo al tipo de edificacin y uso de suelo;
el diseo de barrios a partir de varias zonas o parte de ellas; cambio de ubi-
cacin de la estacin ferroviaria, emplazndola al costado poniente de la
ciudad; edificacin de grandes conjuntos de vivienda, destinada de manera
preferencial a empleados y obreros; definicin de un lmite urbano conso-
lidado y un lmite del rea urbanizable; creacin de un bandejn central de
la Avenida Ricardo Vicua, como gran rea verde de oeste a este, ms la
implementacin de otras reas verdes en la ciudad; diseo de una diagonal,
conformada por edificios de comercio y habitacin entre el centro y el sec-
tor de la estacin, contemplando usos mixtos y edificios en torno a la Plaza
de Armas (Andaur; Prez, 2007).
Muchas de esas propuestas no se llevaron a cabo, en parte por su ca-
rcter utpico y tambin por encontrarse con la oposicin de los propios
habitantes. Algunas de esas obras se materializaron y todava se encuentran
reflejadas en el paisaje urbano actual.
Paralelamente, la ciudad sufre importantes cambios asociados a la apli-
cacin del modelo econmico de sustitucin de importaciones, el que con-
solida a Los ngeles como ciudad agroindustrial:

En 1938 se instal, junto al estero Paillihue, la Compaa Chilena de Pro-


ductos Alimenticios (Chiprodal). Esa fbrica no slo hara aumentar la pro-
duccin de leche fresca, sino tambin de productos de la zona como el azcar
(Iansa), la hojalata (CAP), carboncillo y servicios como el transporte, lo cual,
unido a una dotacin de ms de doscientos trabajadores, produjo un efecto
multiplicador de gran impacto en la comuna. (Andaur; Prez, 2007, p.49)

Luego, en 1948, se instala la central hidroelctrica Abanico, que im-


pacta directamente en Los ngeles, ya que se constituye en la ciudad una
base de servicio para esa construccin. Para los autores mencionados en el
prrafo precedente, ese mismo rol ser desplegado por la ciudad para otros

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 243

proyectos en el futuro, tal como ocurre en los aos 1950, cuando la indus-
tria Iansa comienza a funcionar, lo que, sumado a la aplicacin de la ley del
5% destinado a la construccin de los trabajadores, permite el desarrollo
de vivienda al costado de la industria, provocando un gran impacto en la
configuracin urbana de Los ngeles.
En la dcada de 1960, el aumento de la poblacin oblig al Estado a
aumentar la oferta en materia de vivienda, surgiendo nuevas poblaciones
como Galvarino, Kennedy, Domingo Contreras Gmez y la Nueva Victo-
ria, destinadas a empleados y obreros. La ms importante fue la poblacin
Orompello (Corvi), construida el ao 1966, con 25 mil metros cuadrados
(Andaur; Prez, 2007). La Corvi, a travs de la Corporacin Zonal de Ser-
vicios Habitacionales, compr terrenos al sur de la poblacin El Retiro,
para realizar el programa operacin sitio, sistema que entregaba los ter-
renos semiurbanizados para que los propietarios construyeran su vivienda
definitiva, la cual, segn los autores mencionados, podan pagar a largo
plazo.
En 1960 se promulga un nuevo Plan Regulador, desarrollado por el
arquitecto Ignacio Santa Mara, el que en trminos generales hace un es-
fuerzo por reconocer los elementos naturales e incorporarlos dentro de la
trama urbana, intentando evitar, por ejemplo, que el estero Quilque se
desbordase como todos los aos, debido al desvo de su cauce, lo que provo-
caba estancamiento del agua e inundaciones en el invierno (Andaur; Prez,
2007). Muchas de esas dificultades tambin son propias de otras ciudades
chilenas, como es el caso de Chilln y sus cursos hdricos (Henrquez; Are-
nas; Henrquez, 2012).
En 1969, en funcin del acelerado crecimiento de la poblacin, se modi-
fica el plan, proponiendo suprimir el lmite urbano, quedando como lmite
el de extensin urbana. Otras modificaciones apuntaban a la disminucin
de la zona industrial y de las reas verdes, a fin de destinar esas superficies
al uso residencial de alta densidad (Andaur; Prez, 2007).
Luego, en la dcada de 1970, tal como se constata en el trabajo de los
autores recin mencionados, la ciudad sigue creciendo y se construye la
segunda parte de la poblacin Orompello y de la 2 de septiembre, a cargo
de Corhabit. En 1969 se crea la Sociedad Cormula Ltda., que tuvo a su
disposicin 3 millones de escudos destinados a obras de adelantos para la
ciudad. Esa sociedad impuls varios proyectos, tales como el concurso para

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la Vega Techada, el Mercado y el Terminal de Buses ubicado en la Calle


Villagrn, entre Rengo y Tucapel.
Con el cambio de modelo econmico hacia la economa abierta, se adop-
ta una poltica nacional de desarrollo urbano basada en el principio de que el
suelo urbano no es un recurso escaso, eliminando en la prctica la existencia
del lmite urbano por considerar que este elevaba artificialmente el precio
del suelo. Esa poltica se modifica el ao 1985, restringiendo tal principio.
En 1981, en plena dictadura militar, se hace el tercer Plan Regulador de
la ciudad para regularizar las construcciones de vivienda fuera del lmite
urbano y disear un instrumento ms flexible. Se caracteriza por estar muy
abierto a la influencia del mercado, entregando la responsabilidad de la
planificacin al sector privado (Andaur; Prez, 2007). Se pensaba que el
mercado poda regular la expansin de la ciudad, en concordancia con las
disposiciones de la Poltica Nacional de Desarrollo Urbano de 1979, del
Ministerio de Vivienda y Urbanismo (Minvu), basada en el principio ya
mencionado con relacin al suelo urbano. Ese nuevo Plan Regulador pro-
pone cuatro zonas sin muchas diferencias entre ellas.
En 1989 se hace otra propuesta de Plan Regulador, a cargo de Marco
Antonio Lpez, siguiendo los lineamientos de una planificacin flexible,
dejando en manos de los privados las soluciones a los problemas de la ciu-
dad reas verdes, accesibilidad, entre otros. Se proponen tres macroreas
y diecisis zonas, junto con un plano vial y una propuesta de inversiones.
Ese instrumento se aprueba en el ao 1991 (Andaur; Prez, 2007).
Finalmente, en el ao 2007 se aprueba el ltimo Plan Regulador de
la comuna. Ms que un instrumento de regulacin destinado a orientar
el desarrollo urbano, ese nuevo PRC tiene por funcin, al igual que los
anteriores, la regularizacin de las viviendas y construcciones que se em-
plazaron fuera del lmite urbano, principalmente las parcelas de agrado y
los condominios privados (Henrquez, 2014), como se aprecia en la Figura
7. Ese plan regula adems el crecimiento de otros asentamientos urbanos de
la comuna, tales como Salto del Laja, Chacayal, El Peral, Carlos de Purn,
Santa Fe, Millant y Virquenco, algunos con gran valor turstico, como es
el caso del Salto del Laja.
En la actualidad se observa una compleja configuracin urbana con una
serie de dinmicas urbanas y periurbanas que sobrepasan el alcance del
lmite urbano propuesto, y que no necesariamente garantizan la sustenta-
bilidad de la ciudad.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 245

Figura 7: Los ngeles. Plano Regulador. 2007.


Fuente: Ilustre Municipalidad de Los ngeles (2007).

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2
DIFUSIN DEL AGRONEGOCIO
Y DESARROLLO INDUSTRIAL

Desde fines de los aos 1970, Chile da un giro con relacin al modelo
econmico imperante, pasando de la idea de un desarrollo industrial como
motor de la economa a aquella del desarrollo exportador, basado principal-
mente en las ventajas comparativas entregadas ya sea por la existencia de
abundantes y variadas materias primas o por la existencia de ptimas con-
diciones naturales numerosos microclimas con una combinacin virtuosa
de suelo, luz, temperatura y humedad , lo que favorece la produccin
primaria como los sectores agrcolas y forestales.
Sobre la base de esas ventajas comparativas y de algunas ventajas com-
petitivas, tales como el subsidio a las plantaciones forestales, as como las
condiciones generales de funcionamiento de la economa chilena, se ha
desarrollado una importante actividad agroindustrial en el pas, con con-
secuencias econmicas, pero tambin con significativas modificaciones
sociales y espaciales.
Ese cambio de modelo econmico, desde la sustitucin de importaciones
hacia la total apertura de la economa chilena, provoc la desaparicin de
una parte importante del tejido industrial, en particular en las tres princi-
pales aglomeraciones urbanas chilenas: Santiago, Concepcin y Valparaso.
Sin embargo, aunque el sector industrial chileno se ha ido recuperado
en trminos de su contribucin al Producto Interno Bruto (PIB), la indus-
tria manufacturera apenas alcanza el 11,2% en cifras del ao 2012 (Sofofa,
2013), con una fuerte dependencia de la industria con relacin a la explo-
tacin de los recursos naturales, con todos los riesgos asociados, desde el
punto de vista del comportamiento de los mercados internacionales y de la
sustentabilidad del modelo de desarrollo chileno. A modo de ejemplo, la

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248 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

industria del salmn, que mantuvo al pas como segundo productor des-
pus de Noruega, por varios aos enfrent una situacin de crisis extrema,
ligada aparentemente a una sobre explotacin de ciertos sitios y mal manejo
de algunas enfermedades, lo que termin desplazando la actividad desde la
Regin de Los Lagos hacia su vecina de ms al sur, la Regin de Aysn.1
La Regin del Biobo se ubica entre aquellas que mayor contribucin
hacen al PIB industrial chileno, aunque detrs de la Regin Metropolitana
de Santiago, tal vez explicado por el hecho de que una parte de las industrias
con mayor apertura estn fuertemente vinculadas a los recursos naturales y,
en el caso especfico de la comuna de Los ngeles, a la existencia abundante
de suelos de clase II y III, adems de la existencia de sistemas de riego.2
Otro rasgo geogrfico importante es una cierta especializacin territorial
de los cultivos, en funcin de las ventajas comparativas de cada territorio.
Si se analiza la estructura de exportaciones de la regin, ella se basa en la
actividad forestal3 y sobre todo en la industria forestal y secundariamente
en el sector agroexportador, con una oferta variada de productos agrcolas,
identificndose 42 productos de origen agropecuario (INE, 2008) y con los
berries, lcteos y cereales se incide de manera importante en los ingresos
regionales por concepto de agroexportacin.
La Regin del Biobo tiene casi el 38% de las plantaciones forestales
del pas, y el 24,48% de sus 3.706.002 hectreas de suelo son plantaciones
forestales. De esas plantaciones, 67,4% corresponde a pino radiata, 23% a
eucaliptus globulus y 8,5% a eucaliptus nitens (Corma, 2015). En el mbito
agrcola, la regin es la primera productora de lentejas y tiene la segunda
mayor superficie sembrada de cultivos industriales (Ilustre Municipalidad
de Los ngeles, 2005).
En la escala comunal, los principales cultivos son la remolacha, trigo y
praderas, en la que predomina el trbol rosado. La agricultura de secano
es reducida debido a factores limitantes de los suelos y especialmente al
prolongado perodo de meses secos. Esto se traduce en una agricultura ex-

1 Durante abril de 2013 la prensa ha informado sobre la reaparicin del virus ISA, poniendo de
nuevo en duda las formas de explotacin de ciertos sitios (Diario La Tercera, consulta en lnea
el 20 de abril de 2013: http://www.latercera.com/noticia/opinion/editorial/2013/04/894-
518478-9-rebrote-del-virus-isa.shtml).
2 La construccin del Canal Laja y la irrigacin de 40 mil hectreas en las comunas de Los
ngeles y Quilleco elev la calidad de la actividad agropecuaria en dichas comunas.
3 El 27% de la superficie de la comuna de Los ngeles es forestal.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 249

tensiva o de subsistencia, con rendimientos medios a bajos, condicin que


ha favorecido la ocupacin de estos suelos por plantaciones forestales. En la
actualidad, el 27,6% del territorio corresponde a plantaciones forestales, sin
considerar los suelos dedicados avivieros, aserraderos o industrias asocia-
das a la madera (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005).
Por otro lado, tanto en la ciudad de Los ngeles como en Chilln4 existe
una concentracin industrial de nivel medio, equivalente a su condicin
urbana y posicin jerrquica en el sistema urbano regional de la Regin del
Biobo. Aunque Los ngeles no tiene la importancia del frente urbano-
-portuario-industrial de Concepcin-Talcahuano, juega un papel de centro
dinamizador de un hinterland silvo-agropecuario, respecto del subsistema
urbano sur interior de la regin (Mardones et al., 2001).
El proceso de transformacin econmica neoliberal no solo se caracteri-
za por la liberalizacin de las fronteras arancelarias, el retroceso la interven-
cin estatal, la privatizacin de los servicios pblicos, la flexibilizacin del
empleo y la exaltacin de las ventajas comparativas, sino adems por im-
portantes transformaciones en la mayora de ciudades chilenas, incluyendo
las ciudades medias (Hidalgo; Arenas, 2009).
En el contexto sealado, puede hablarse de transformaciones urbanas
propias de la globalizacin, que marcan el nuevo modelo de la organizacin
metropolitana, ms fragmentado y policntrico que la ciudad heredada del
proceso de desarrollo basado en la industrializacin inducida por el Estado
ciudad bipolar , y que son consecuencia indirecta de la implantacin de
polticas de desarrollo neoliberal, cimentadoras del reinado de la globali-
zacin (Borsdorf; Hidalgo, 2005), pero que tambin tiene fuerte incidencia
en ciudades como Los ngeles, cuya expansin asume nuevas formas en las
ltimas dcadas. Se ha pasado desde una estructura relativamente compac-
ta a una expansin urbana que en la periferia es ms difusa y fragmentada.
Los cambios aludidos no solo se dan en las tres ciudades metropoli-
tanas chilenas ms importantes Santiago, Valparaso y Concepcin ,
sino que son observables en otras ciudades de menor tamao, que exhiben
claros signos de metropolizacin, a pesar de su marcado menor tamao
demogrfico. Como se seala en Hidalgo y Arenas (2009), estos cambios se
traducen en espacios urbanos fragmentados y heterogneos, marcados en la

4 Chilln es otra de las ciudades medias chilenas estudiadas en la investigacin de la ReCiMe,


trabajo ya publicado en marzo de 2012 (Henrquez; Arenas; Henrquez, 2012).

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250 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

geografa social residencial, por extensiones importantes de vivienda social


pblica y por barrios cerrados de acceso controlado. Hacia la periferia fsica
de la ciudad se evidencian procesos de periurbanizacin, bajo la modalidad
de parcelas de agrado y condominios cerrados de baja densidad.
Sin duda, en parte esas transformaciones han sido influenciadas por la
reorganizacin espacial de la actividad silvo-agropecuaria, la que, a pesar
del retroceso en cuanto al PIB, se mantiene como una fuente importante
de ocupacin, aunque con efectos muy diferenciados en cuanto al nivel de
capitalizacin entre quienes pueden invertir y quienes no tienen capacidad
para hacerlo. Mndez (2004) habla de una brecha a la hora de competir en
el mercado. Los agricultores medianos y grandes tienen acceso al crdito
agrcola, lo que no ocurre con los pequeos propietarios. La mayor parte
de la produccin agrcola se comercializa en el mercado regional, salvo los
cultivos no tradicionales de frutas y hortalizas, como por ejemplo diversas
especies de berries como frambuesas, moras, arndanos, y esprragos y
otras hortalizas de exportacin.
En cierto modo, el progreso de Los ngeles se asocia a las caractersticas
descritas, en distintos momentos de su desarrollo, la produccin de remola-
cha orientada al abastecimiento de la planta azucarera Iansa y el desarrollo
de plantaciones forestales asociadas a las condiciones climticas y a una
ventaja competitiva de gran importancia en el caso chileno, el subsidio es-
tatal a las plantaciones forestales.
Si bien el desarrollo del agronegocio y de la industria es importante en la
comuna de Los ngeles, este no se ha desplegado todava al nivel de otras
ciudades chilenas comparables.

2.1. La situacin del agronegocio

En Los ngeles se ha producido un proceso de reestructuracin econ-


mica estimulado por una concentracin del capital, la aparicin de empre-
sas especializadas en agronegocio y silvicultura, la incorporacin de avances
tecnolgicos y por el consumo de bienes y servicios.
Las principales empresas dedicadas al agronegocio, esto es, la compra y
venta de productos forestales y agrcolas, corretaje agrcola, insumos y ma-
quinarias, control de plagas y fumigaciones, produccin de lcteos, entre
otras actividades, se muestra en el Cuadro 1. Estas han sido jerarquizadas
de acuerdo al capital declarado en las patentes municipales.

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Cuadro 1: Comuna de Los ngeles. Empresas de agronegocio. 2008.
Nombre o razn social Tipo Capital ($ pesos chilenos)
Soc. productores de leche S.A. (Soprole) Maquinaria y servicio tcnico forestal y agrcola 29.148.723.186
Agrcola Nacional S.A.C. e I. Productos agropecuarios 28.593.325.471
Prodalam S.A. Servicios forestales, de asesoras y capacitacin 15.984.810.622
Compaa agropecuaria Copeval S.A. Compra y venta de productos forestales y agrcolas 8.903.435.589

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Comercializadora de trigo S.A. Productos agropecuarios 5.748.016.602
Coop. Agrcola lechera Biobo Ltda. Maquinaria y servicio tcnico forestal y agrcola 5.451.194.096
Exportadores del agro S.A. Compra y venta de insumos y maquinarias agrcolas 5.285.160.907
Centro nacional de estudios param. y agropec. Propam Ltda. Corretaje agrcola y alimento para animal 1.928.372.313
Empresa de abast. zonas aisladas Productos agropecuarios 1.109.354.435
South American Lumber Company S.A. Corretaje agrcola y alimento para animal 692.476.615
Coop. agrcola productos Biobo Ltda. Productos agropecuarios 576.782.106
Importadora Transagro S.A. Compra y venta de insumos y maquinarias agrcolas 428.432.536
Mecanizacin forestal Ltda. Servicios forestales de asesoras y capacitacin 359.055.424
Productos forestales Kama Pu Ltda. Corretaje agrcola y alimento para animal 294.212.810
Agrcola Gildemeister S.A. Productos agropecuarios 241.355.427
Granos y productos Ltda. Compra y venta de productos forestales y agrcolas 194.367.669
Soc. Jorge Holmberg y Cia. Ltda. Servicios forestales de asesoras y capacitacin 180.747.835
Soc. agrcola y comercial Agrosur Ltda. Corretaje agrcola y alimento para animal 107.044.551
AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL

Oregn inversiones S.A. Servicios forestales de asesoras y capacitacin 105.151.822


Plaguisur Ltda. Compra y venta de productos forestales y agrcolas 58.905.977
251

Fuente: Patentes Municipales, 2008. Elaborado por Marta Morales y Roco Valderrama.

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Dentro de las principales empresas, se destaca la Sociedad de Producto-


res de Leche S.A., Soprole, fundada en 1949, en un comienzo, en la ciudad
de Santiago, y que se dedic a la fabricacin y distribucin de leche pasteu-
rizada, queso fresco y mantequilla. En los aos posteriores la compaa se
expandi a Osorno, Los ngeles y Temuco, incorporando a la produccin
yogur, postres, jugos, margarina, nuevas lneas de leche, quesos maduros
la cual tiene su planta elaboradora en Los ngeles y aguas carbonatadas
con y sin sabor (Soprole, 2013). Desde 24 de septiembre de 2010 Soprole
S.A. fue integrada a Soprole Inversiones S.A. Producto de dicha fusin por
absorcin, Soprole S.A. se disolvi, quedando Soprole Inversiones S.A.
como su continuadora legal:

El accionista controlador de Soprole Inversiones S.A. es Inversiones Dairy


Enterprises S.A., que posee el 99,85% de las acciones de la sociedad. Esta a su
vez es controlada en un 100% por Fonterra Co-Operative Group Limited, una
cooperativa neozelandesa con ms de 10.500 asociados, ninguno de los cuales
posee ms del 0,2% de su capital. El 0,15% de las acciones restantes se encuentra
distribuido en aproximadamente seiscientos accionistas, ninguno de los cuales
posee ms del 0,02% del total de stas (Soprole, 2010).

Otra empresa destacada es Agrcola Nacional S.A.C. e I. (Anasac, 2013),


la cual fue fundada en 1948 por la Sociedad Nacional de Agricultura (SNA).
Hace cinquenta aos ha tenido una permanente presencia e importante
crecimiento en el sector agrcola del pas (Anasac, 2013). En sus comien-
zos se vinculaba a la produccin y comercializacin de semillas, rea que
an conserva hoy. Anasac oper durante casi treinta aos en Santiago, sin
embargo en 1985 inicia la produccin de agroqumicos en su Planta de San
Nicols, localizada en la comuna de San Miguel, siendo trasladada diecio-
cho aos despus a instalaciones ms modernas en Lampa. Posteriormente
en el ao 1998 se construye en la localidad de Paine 40 kilmetros al sur
de Santiago una planta acondicionadora de semillas de maz y hortalizas
(Anasac, 2013). En la actualidad, Anasac se dedica a la produccin, comer-
cializacin y distribucin de insumos para los sectores agrcola, pecuario,
forestal y agroindustrial. Adems, cuenta con una lnea de productos para
jardines, reas verdes, sanidad ambiental e higiene y cuidado de mascotas
(Anasac, 2013).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 253

Finalmente se encuentra la empresa Prodalam S.A., dedicada a la dis-


tribucin y comercializacin de artculos para agricultura, construccin,
industria, pesca y minera. Esa compaa posee una trayectoria de ms
de cuarenta aos, formando parte de un grupo de empresas con presen-
cia global (Prodalam, 2015). En cuanto al tema agrcola, se especializa en
productos como alambres, mallas metlicas, alambres de pas, accesorios
para vias, mallas agrcolas, herraduras y clavos, fijaciones y corcheteras
(Prodalam, 2015). Prodalam S.A. cuenta con tres centros de distribucin
ubicados en Santiago, Antofagasta y Concepcin y con 29 sucursales pre-
sentes desde Arica a Punta Arenas, incluyendo Los ngeles.
En cuanto a las empresas ligadas directa o indirectamente al agronegocio
ubicadas en la comuna de Los ngeles, la situacin es la que se aprecia en el
Cuadro 2. Existen 46 empresas; de las cuales 39 corresponden a empresas
comerciales y siete a empresas de servicios.

Cuadro 2: Comuna de Los ngeles. Empresas asociadas al agronegocio. 2005.


Grandes Rubro Empresas Establecimientos Total empresas
tipos asociadas al
Agronegocio
Compra y venta de productos forestales y 5 39
Empresas comerciales asociadas

agrcolas
Compra y venta de insumos y 5
maquinarias agrcolas
al agronegocio

Control de plagas y fumigaciones 2


Corretaje agrcola y alimento para animal 5
Leche y productos lcteos 2
Maquinaria y servicio tcnico forestal y 9
agrcola
Productos agropecuarios 11
Servicios forestales, de asesoras y 7 7
agronegocio
asociadas al
Empresas
servicios

capacitacin
Investigacin agropecuaria

Fuente: Patentes Municipales, 2008. Elaborado por Marta Morales.

Aunque el nmero de personas ocupadas en el sector agropecuario en


la comuna de Los ngeles en trminos absolutos no deja de aumentar, pa-
sando entre 1982 y 2002 de un poco ms de 1,9 mil personas a ms de 3 mil
trabajadores, su peso relativo respecto del total de la poblacin econmica-
mente activa disminuy de 9,5% en 1982 a 8,3% en 1992 y 6,8% en 2002.

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254 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

El siguiente grfico muestra la situacin relativa de la produccin de


remolacha,5 de la Regin del Biobo con relacin al pas. Mientras la pro-
duccin nacional se reduce en cerca de un tercio entre 1997 y 2007, tanto la
provincia del Biobo como la comuna de Los ngeles aumentan su produc-
cin en el periodo indicado, tal como lo muestra la Figura 8.

Figura 8: Provincia del Biobo y comuna de Los ngeles. Produccin de remolacha, Chile,
Regin del Biobo. 1997 y 2007.
Fuente: INE (1998, 2007, 2008). Elaboracin propia.

La presencia de la planta Iansa en la comuna de Los ngeles tiene una


influencia importante en trminos de la reorientacin de una parte de la
capacidad productiva agrcola en un momento dado hacia el cultivo de
la remolacha. Sin embargo, la aparicin de otros cultivos orientados a las
exportaciones, tales como los berries, sumada al desarrollo de la actividad
forestal, generan una serie de efectos sociales, econmicos y espaciales,
entre los cuales los ms evidentes, ocurridos en las ltimas dcadas, son

5 La remolacha pertenece al gnero Beta y la especie es Vulgaris. Existen dos variedades bot-
nicas: sachariffera y altissima, que corresponden a la remolacha azucarera, a diferencia de la
betarraga y la remolacha forrajera. Se cree que el progenitor de la remolacha azucarera sea un
tipo silvestre denominado Beta martima (Cern; lvarez, 1982). Las variedades de remo-
lacha convencionales que usa y recomienda la empresa Iansagro corresponden a: Finessa
KWS, Alpina KWS, Labonita KWS, Dobrinka KWS, Lupita, Coyote, Columbus y Aljona
KWS (Iansagro S.A., 2011).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 255

la desaparicin de ciertos eslabonamientos que vinculaban las actividades


productivas con la poblacin local, los que son reemplazados por encade-
namientos productivos asociados a regiones centrales e incluso al extran-
jero; la creciente competencia entre sectores productivos por el control y
propiedad de recursos crticos, tales como el agua y los suelos; prdida de
biodiversidad y contaminacin del aire, aguas y suelos.
El desarrollo exportador se encuentra disociado del desarrollo local y
territorial, conformando una realidad externa y desconectada de las redes
sociales de los lugares o localidades, todo lo cual se traduce, desde el punto
de vista espacial, en la generacin de verdaderos enclaves.
Lo anterior se refleja en la fragilizacin del empleo agrcola en la co-
muna, tal como lo muestra el Cuadro 3, en donde la ocupacin permanente
disminuye diez puntos porcentuales entre 1998 y 2006, y donde la categora
de empleo ocasional o eventual es la que ms aumenta en dicho perodo.

Cuadro 3: Comuna de Los ngeles. Situacin actual de ocupacin principal 1998-2006. Personas
de 12 aos o ms. 2006.
Situacin actual de ocupacin principal 1998 2006
Permanente 75,99 65,63
De temporada o estacional 18,24 13,18
Ocasional o eventual 3,62 15,62
A prueba 0,00 0,87
Por plazo o tiempo determinado 2,16 4,70
Sin dato 0,00 0,00
Total 100,00 100,00
Fuente: Mideplan, 2006. Datos procesados y organizados por Jenniffer Thiers.

En muchos casos, los pequeos productores enfrentan relaciones fuer-


temente asimtricas, que muchas veces los llevan a retirarse de la actividad
productiva, como por ejemplo lo que ocurri especficamente con la viti-
vinicultura, en otros contextos geogrficos, producindose un proceso de
reestructuracin econmica estimulado por una concentracin del capital
e incorporacin de tecnologa en el sistema productivo, modificando el
consumo de bienes y servicios (Richard-Jorba, 2007).
Esa es la realidad que han enfrentado muchas de las actividades producti-
vas en las reas rurales frutcola, forestal, salmonicultura, vitivinicultura ,

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256 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

donde conviven en un mismo espacio formas productivas tradicionales y


modernas, en un verdadero dualismo econmico y espacial. Las prime-
ras son practicadas por familias de pequeos productores, propietarios o
usuarios de parcelas de escaso tamao, en terrenos de secano y sin capital
financiero, tecnologas ni capacitacin adecuada.
Las reas rurales modernizadas por las actividades econmicas son
ms recientes, con suelos usados intensivamente, con cuantiosas inversiones
de capital, adquisicin y fusin productiva de predios pequeos conti-
guos, adquisicin de derechos de agua e instalacin de sistemas de riego,
plantaciones, cultivos y, lo ms importante, construccin e instalacin de
industrias de transformacin. Muchas de las empresas de inversiones son
transnacionales o pertenecen a grupos econmicos deslocalizados territorial-
mente. Como ya se mencion, los encadenamientos productivos se filtran
hacia la capital del pas o al exterior, en muchos casos la mano de obra que
se requiere es temporal y altamente especializada proveniente de otras zonas
o, en el caso de la mano de obra local, con los ms bajos niveles de salarios.
En muchos casos, eso permite clasificar a esas actividades modernas como
enclaves, asociados a flujos de bienes y servicios provenientes del exterior, y
que slo utilizan los recursos naturales locales suelos, agua, clima , expor-
tando la produccin, sin repercusiones locales en cuanto a valor agregado a
la produccin (Romero; Toledo, 2006, p.2-3).
Al producirse la modernizacin de algunas de las actividades produc-
tivas mencionadas, se produce el debilitamiento o la desaparicin de cier-
tos encadenamientos productivos que antes vinculaban espacialmente
la actividad con la poblacin local. Se observa una menor participacin
de la poblacin local en el empleo, la utilizacin de insumos adquiridos
principalmente fuera de la localidad y fuera de la comuna, por no existir en
ellas una oferta adecuada.
En resumen, lo anterior se traduce, desde el punto de vista espacial, en
la emigracin rural que genera o aumenta los cordones urbanos marginales
y el drenaje de los beneficios econmicos obtenidos en los lugares hacia
regiones centrales, dependencia de los mercados y precios internaciona-
les, escaso valor agregado de la produccin, creciente competencia con
otros sectores por el control y propiedad de recursos crticos tales como el
agua y los territorios ms accesibles. Tambin se genera contaminacin del
aire, aguas y suelos en particular por parte de las industrias instaladas en

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 257

dcadas pasadas, cuando no haba exigencias ambientales, sustitucin de


actividades econmicas en las reas rurales, bajos salarios e informalidad
y temporalidad del empleo subcontratado, lo que provoca aumento de la
segregacin social y de la marginalidad de las reas urbanas y rurales (Ro-
mero; Toledo, 2006, p.4-13).

2.2. Descripcin de la actividad industrial

En el caso de las ciudades de tamao medio o pequeo, el desarrollo


industrial, aunque sea limitado, puede tener importantes impactos, en
parte debido a los encadenamientos que se pueden generar a partir de esa
actividad, en particular hacia el comercio y los servicios.
En el caso de la comuna de Los ngeles, se observa un importante cre-
cimiento de la poblacin econmicamente activa del sector industrial, es-
pecialmente entre 1982 y 1992, cuando pasa de 2.926 trabajadores a 6.429.
Mientras que, en el 2002, supera los 8.300 trabajadores.
En cuanto a los grandes equipamientos industriales, el Cuadro 4 mues-
tra el ranking de las diez principales industrias instaladas en la comuna
de Los ngeles, donde predominan aquellas ligadas al sector forestal y la
produccin de alimentos.
A continuacin, se describe de manera sucinta algunas de las principales
industrias presentes en la ciudad de Los ngeles.
La industria Promasa S.A. fue fundada en el ao 1989, por iniciativa
de capitales chilenos, con el objeto de procesar madera de pino radiata y
abastecer de materia prima a los productores de molduras del mercado
americano. Se eligi su instalacin en Los ngeles, por ser la zona de mayor
densidad de bosques de pino del pas.
En el ao 1997 se incorpora a Promasa S.A. la empresa Woodgrain
Millwork, obteniendo de esta unin el 50 % de la empresa. Woodgrain
Millwork es una empresa proveniente del mercado norteamericano y espe-
cializada en la remanufacturacin de madera y fbricas de puertas y venta-
nas, con ventas sobre los 700 millones de dlares anuales, con nueve fbricas
distribuidas en Estados Unidos, una en Brasil y una red de distribucin que
abastece a ms de quinientos locales de la cadena Home Depot, junto con
otras cadenas de venta al detalle y a constructores (Promasa, 2009).

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258 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Cuadro 4: Los ngeles. Diez industrias ms importantes. 2009.


Nombre o razn Rubro Valor Capital Direccin
social patente ($ pesos)
($ pesos)
1. Promasa S.A. Aserradero 57.782.366 23.370.016.508 Ruta 5 Sur
km 505
2. CMPC Maderas S.A. Aserradero 32.933.828 49.786.587.520 Ruta 5 Sur km 0
Camino Pte.
Perales
3. CMPC Maderas S.A. Aserradero y 8.010.170 49.786.587.520 Lautaro 421
taller
4. Comercial e Aserradero 12.119.040 4.847.615.864 Camino Sta.
industrial J.C.E S.A. Brbara km 10
5. Iansagro S.A Elaboracin de 10.899.646 49.791.511.360 Camino Santa Fe
azcar
6. Iansagro S.A Comercial 9.442.467 49.791.511.360 Av. Los Ciruelos
e insumos 222 Camino
agrcola Santa Fe
7. Conservas Los Deshidratadora 8.694.388 3.713.362.685 Av. Alemania 523
ngeles Ltda. de productos
8. Forestal Diguilln S.A. Maderas 6.581.741 3.016.410.790 Av. Ricardo
(mayorista) Vicua 380
9. Nestl Chile S.A. Fbrica de leche 6.019.456 49.791.511.360 OHiggins 900
10. Conservas Castillo Elaboradora y 4.332.397 1.732.958.984 Lo Mery Ex-El
Ltda. envasados Naranjo
Fuente: Patentes municipales, primer semestre 2009. Organizado por Marta Morales.

La Compaa Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC) es una


industria forestal integrada, la cual opera como un holding a travs de cinco
centros de negocios: Forestal, Celulosa, Papeles, Tissue y Productos de
Papel. Cada una de esas reas funciona de manera independiente, encon-
trndose en el holding de la compaa la coordinacin general y la adminis-
tracin financiera de estos negocios. Posee cinco filiales: Forestal Mininco,
CMPC Celulosa, CMPC Papeles, CMPC Productos de Papel y CMPC
Tissue, con un total de activos de 9 mil millones de dlares y ventas por
3 mil millones de dlares distribuidas en los cinco continentes (CMPC,
2009). La Figura 9 muestra la localizacin de las plantas de la empresa en
la Regin del Biobo, destacndose la planta de Los ngeles. La planta de
remanufactura Los ngeles, que se ubica al norte de la ciudad, inici su
produccin en 1989 (CMPC, 2009).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 259

Figura 9: Regin de Biobo. Plantas de CMPC. 2009.


Fuente: CMPC Divisin Maderas, 2009.

Por su parte, la Compaa Maderera Aserraderos JCE S.A., cuyo prin-


cipal accionista es JCE Chile S.A., es una empresa chilena perteneciente a
una sociedad conformada mayoritariamente por el empresario sueco Jan
Christer Ericsson y por accionistas chilenos. JCE Chile S.A. tambin par-
ticipa en inversiones inmobiliarias, construccin, representaciones indus-
triales y clnicas privadas.
Establecida en Chile desde 1988, la actividad maderera de JCE ha cre-
cido desde entonces, posicionando la compaa entre los mayores pro-
ductores de madera aserrada de pino radiata en el pas, con unacapacidad

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260 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

instalada de aserrode 350 mil metros cbicos por ao de trozos y 70 mil


metros cbicos de madera aserrada enremanufactura (Aserraderos JCE).
Laplanta industrial en Cuibal est ubicada a 15 kilmetros de Los nge-
les. Sus productos se comercializan en el mercado domstico y en los mer-
cados internacionales, abarcando pases como USA, Japn, Mxico, Corea
del Sur, China, Vietnam, Marruecos y Espaa, entre otros.
Otra empresa relevante es Iansagro S.A. Esa filial es responsable de la
gestin del negocio central de empresas Iansa: la produccin y la comercia-
lizacin de azcar. Su actividad en ese mbito se extiende desde la contra-
tacin de las siembras de remolacha para el suministro de la materia prima
agrcola requerida por las fbricas hasta la distribucin del producto final
para el mercado domstico y las industrias. Las cinco plantas azucareras
Iansa estn ubicadas en Curic, Linares, San Carlos, Los ngeles y Rapaco
(La Unin). Para abastecer sus cinco plantas azucareras, Iansagro trabaja
bajo la modalidad de agricultura de contrato con miles de pequeos, me-
dianos y grandes productores de remolacha desde la Regin de OHiggins
a la Regin de Los Lagos. El contrato de siembra que anualmente pactan
la compaa y los agricultores asegura a stos un poder adquisitivo y con-
diciones conocidas para la entrega de su produccin, junto con un servicio
de asistencia tcnica permanente, acceso al financiamiento para la totalidad
del cultivo y a un seguro agrcola otorgado por una empresa especializada.
La compaa suministra asimismo los insumos para las siembras.
Por su parte, la industria Nestl Chile se dedica a la elaboracin y co-
mercializacin de productos alimenticios. En Los ngeles esa fbrica ha
invertido casi 10 millones de dlares en tecnologa de punta con el prop-
sito de elaborar leche en polvo, manjar, mantequilla y leche condensada,
que posteriormente son comercializados tanto localmente como en otros
mercados. Esa planta Best in class por sus altos estndares de fabricacin es
la segunda exportadora de leche condensada de la marca en la regin.

2.3. A modo de sntesis

Es indudable que tanto la actividad industrial como el desarrollo de


los agronegocios y agrosilvcolas han tenido un impacto importante en el
desarrollo urbano de Los ngeles, no slo de manera indirecta cuando
el incipiente desarrollo industrial y el agronegocio tienen una influencia

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 261

en el crecimiento de la ciudad al atraer poblacin, en base a los puestos de


trabajo y tambin al nivel de salarios, comparado con actividades ms tra-
dicionales, sino tambin por su influencia directa en trminos del uso del
suelo, tal como se aprecia en la Figura 10.

Figura 10: Los ngeles. Principales infraestructuras y usos de suelo. 2009.

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262 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Con el tiempo se ha consolidado un verdadero barrio industrial en torno


a la carretera panamericana, en el borde este de la ciudad. El uso industrial
tambin se desarrolla en otras zonas de la ciudad aunque en forma de islo-
tes, particularmente al sur de la misma y tambin al interior, se destacando
la planta de Iansa, as como otras industrias, bodegas y talleres menores
dispuestos en distintos emplazamientos, como muestra la Figura 10.
Ambas actividades han contribuido a dinamizar en parte la economa
urbana, lo que se refleja no solo en desarrollo de condominios y parcelas de
agrado sino tambin en la presencia de mayor actividad bancaria y comer-
cial en la ciudad, como se ver en el captulo siguiente.
Es importante mencionar que hay otras actividades y proyectos que, si
bien no se localizan en la comuna y ciudad de Los ngeles, podran haber te-
nido un impacto en la matriz productiva de la ciudad. Se trata de los grandes
proyectos hidroelctricos localizados en la precordillera y cordillera de Los
Andes durante las ltimas dcadas. Centrales hidroelctricas, como Angos-
tura, Ralco, Ruce, Quileco, son importantes de mencionar por los montos
de inversin involucrados entre 80 millones y 500 millones de dlares y
por la mano de obra que requieren, especialmente en la fase de construccin.
Estos se ubican en las comunas de Quilaco, Santa Brbara, Antuco y Quile-
co, ubicadas al oriente de la comuna de Los ngeles.
En el mercado laboral asociado a esas actividades, generan un empleo
significativo, al igual que el sector terciario, como se ver en el siguiente
captulo.

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3
DIFUSIN DEL COMERCIO
Y SERVICIOS ESPECIALIZADOS

Este captulo trata sobre los cambios recientes experimentados en las


actividades terciarias en la ciudad de Los ngeles. Esas transformaciones
reflejan un proceso comn, en el cual estn transitando grandes ciudades y
metrpolis a nivel mundial, as como tambin las denominadas ciudades
medias, por lo que es necesario detenerse en algunos puntos que contextua-
licen tal situacin.
Para Mndez (2004), el proceso de tercerizacin econmica, representa-
da por la rpida expansin de actividades de servicios, genera importantes
efectos espaciales. En primer lugar, destaca que las actividades de servicios
especializados, especialmente en regiones que cuentan con una base indus-
trial previa, apoyan a las empresas ligadas con la produccin y la industria.
Estas se relacionan con procesos de externalizacin, por consiguiente con
el empleo indirecto, y por la conformacin de zonas con actividades in-
dustriales y parques empresariales de manera concentrada. Ese tipo de
servicios, como consultoras financieras y de gestin, ingeniera industrial,
centros de investigacin y tecnolgicos o grandes agencias de publicidad, se
despliega principalmente en los grandes ncleos urbanos.
En segundo trmino, el comercio aparece como una actividad tradi-
cional que tiene como propsito la venta de bienes producidos y servi-
cios. Se divide habitualmente en comercio mayorista y minorista donde
se intermedia entre los productores y consumidores. Como apoyo, surgen
actividades logsticas de transporte y almacenamiento de gran importancia
estratgica en los circuitos comerciales. La distribucin de esas actividades
est caracterizada por la concentracin en el centro de la ciudad decreciendo

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264 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

hacia la periferia. Las nuevas formas comerciales incluyen cambios en las


formas de venta, en la diversificacin de empresas, en los hbitos de con-
sumos, as como el establecimiento de patrones de localizacin diferentes
al tradicional y aparicin de grandes grupos empresariales de gran hege-
mona. Establecimiento de autoservicio, grandes almacenes, hipermerca-
dos, centros comerciales, franquicias y otras modalidades comerciales son
ejemplos de transformaciones que estn impactando a las ciudades medias
(Mndez, 2004).
Harvey (2004) ha insistido que muchas de esas transformaciones estn
determinadas por procesos de acumulacin de capital por desposesin en
un contexto de economa globalizada. En ese sentido, la creciente impor-
tancia de los flujos de servicio en el comercio nacional e internacional, los
flujos de inversin generados por ese tipo de empresas o la influencia de
grandes grupos empresariales del mbito transnacional tienen un destaca-
do rol en la hegemona del sector. De esa forma, comenzamos a observar
en ciudades medias, como en el caso de Los ngeles, el impacto de gran-
des cadenas nacionales y en menor medida internacionales sobre la matriz
econmica local, as como el impacto sobre las rpidas transformaciones
en el paisaje urbano. Al mismo tiempo se plantea como hiptesis que la
influencia del sector silvo-agropecuario sobre las actividades comercia-
les y logsticas de la ciudad de Los ngeles comienza a ser cada vez ms
intensa.

3.1. Cambio en el empleo en el rubro comercial

Uno de los indicadores ms representativos de la situacin comercial


corresponde al empleo. Los datos del censo del 2002 arrojan un total de
77.131 personas econmicamente activas en la comuna de Los ngeles
58.607 corresponden al rea urbana , de las cuales 69.948 corresponden a
la categora ocupada 53.602 trabajadores urbanos. Los resultados actuales
no permiten desglosar por rubro econmico por los problemas del censo
del 2012 explicados anteriormente , pero es muy probable que mantengan
la misma estructura que se describe a continuacin.
Los cambios ms notables en la poblacin econmicamente activa segn
rama de actividad en Los ngeles corresponden al sector comercial: entre el

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 265

ao 1982 y 2002 la poblacin pas de 3.411 a 10.003 trabajadores, es decir,


un aumento de 6.619 personas. El sector comercial representa el 21,7% de
la poblacin econmicamente activa del ao 2002, experimentando una
variacin relativa de 194%. En segundo lugar de importancia se ubica el
sector industrial, con una representacin de 15,6% de la poblacin econ-
micamente activa y una variacin relativa de 168%, a continuacin destaca
el sector construccin (10,3%) y actividades inmobiliarias (7,5%). Este l-
timo se destaca por su fuerte crecimiento en estos veinte aos, registrando
una variacin relativa sobre el 1.000%. Todo el sector terciario representa el
77,5% del mercado de trabajo de la ciudad, como muestra la Figura 11, lo
que refuerza la hiptesis sobre la gravitacin de esa actividad en esta ciudad
media al igual como ocurre en la ciudad de Chilln.
Reafirmando lo anterior, los datos del Servicio de Impuestos Inter-
nos (SII) informan que el sector econmico que posee mayor nmero de
empresas en la comuna de Los ngeles corresponde al rubro comercial. En
la Tabla 2 (p.268) se observa que entre el ao 2005 y 2011 el sector repre-
senta casi un tercio de la economa, aumentando en 351 compaas en ese
periodo. La segunda actividad relevante corresponde al rubro agropecua-
rio y silvicultura; sin embargo, en ese periodo disminuy casi tres puntos
porcentuales: de 1.950 a 1.781 empresas. La primaca del sector terciario
se aprecia al agrupar todos los rubros de esa categora con el conjunto de
empresas de las actividades primarias y secundarias: de esa forma, se obser-
va que los porcentajes se distribuyen en 74%, 19,9% y 6%, respectivamente.
Sin embargo, al analizar los niveles de ventas de las empresas, esa situa-
cin se invierte. Al ao 2011 las ventas de empresas agrcolas y forestales
alcanzan el 27% del total de ventas de la comuna, siendo el rubro ms im-
portante al igual que en el ao 2005, donde su representatividad fue mucho
mayor (44,6%). El segundo rubro corresponde a la industria manufacturera
no metlica que representa el 21% de ventas, creciendo casi 5 millones de
UF1 en estos seis aos. En tercera posicin aparece el rubro comercial con
un nivel de ventas de casi un quinto de la comuna, pero con una tendencia
a la baja.

1 La unidad de fomento (UF) es una unidad de cuenta usada en Chile, reajustable de acuerdo
con la inflacin. El valor de la UF al 24 de abril de 2015 era de 24.725,17 pesos. Esto equivale
a 40 dlares, aproximadamente.

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266 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Figura 11: Ciudad de Los ngeles. Poblacin econmicamente activa segn sector/rama de
actividad econmica. 1982, 1992 y 2002.
Fuente: Censos de 1982, 1992 y 2002 (INE). Organizado por Cristin Henrquez.

Otro indicador muy interesante corresponde al nmero de trabajadores


asociados a cada sector econmico en este caso, el sector silvo-agropecua-
rio vuelve a liderar (nivel comunal). Los datos del ao 2011 indican que casi
21 mil trabajadores dependientes informados se asocian a ese sector (25,1%,
rubros A, B y C de la Tabla 2), 3 mil ms que en el ao 2005. El sector in-
dustrial (rubro D) tambin acrecienta su masa laboral en casi 5 mil nuevos
trabajadores en ese periodo, representando el 15,9% de la fuerza laboral
al ao 2011, con 13.066 trabajadores. Algo similar experimenta el sector
inmobiliario (rubro L), con un aumento de 4.613 a 9.659 trabajadores y
representando el 11,8% del mercado laboral.
Finalmente, la distribucin de las remuneraciones de trabajadores de-
pendientes por rubro muestra una confirmacin de lo anterior, pero con
distintos matices. El sector agrcola y forestal presenta la mayor cantidad
bruta de sueldo en la comuna (19,3%), registrando un aumento de 546.768
UF entre 2011-15. Sin embargo, al relacionar el valor de remuneraciones
con el nmero de trabajadores, se observa que presenta el cuarto peor nivel
de distribucin de sueldo (81,8 UF/trabajador).
Sin duda, el rubro que aument significativamente en los niveles de
remuneraciones corresponde al sector inmobiliario, cuya participacin en
el panorama comunal es de 16%, incrementando en 722.436 UF en el pe-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 267

riodo de anlisis. La relacin sueldo por trabajador alcanza las 144,6 UF/
trabajador, lo cual la posiciona en un nivel mucho ms equitativo que el
sector anterior y el industrial. Sobre este ltimo, el nivel de remuneraciones
lo transforma en el tercero ms importante de la comuna (15%) y tambin
el tercero que ms ha crecido en el periodo. Sin embargo, posee una magra
distribucin de remuneraciones (99,8 UF/trabajador).
Sobre la base de ese ltimo criterio de distribucin de sueldos, se obser-
va que el rubro con una mejor distribucin corresponde a las actividades
ligadas a servicios sociales y de salud (268,3 UF/trabajador), mientras que
el rubro en situacin ms desfavorable corresponde a otras actividades de
servicios comunitarias, sociales y personales (53,3 UF/trabajador). El sec-
tor construccin tambin tiene deficientes condiciones de distribucin de
sueldos. En contraposicin, el sector enseanza y actividades de suministro
de gas, electricidad y agua figuran con mejores ndices.
En una visin global, se puede afirmar que la comuna ha avanzado
ostensiblemente en trminos econmicos en lo que respecta a: nmero de
empresas, nivel de ventas, nmero de trabajadores y cantidad de remunera-
ciones, en valores de 13%, 11%, 30% y 56%, respectivamente. No obstante,
es importante recordar que durante el periodo 2008-2009 se observaron
bajas importantes en estos indicadores, incluso con valores negativos, pro-
ducto de la influencia de la crisis econmica mundial.
Estos vaivenes de la economa internacional impactan directamente
sobre la economa local. La revisin de los permisos de edificacin que
otorga el municipio de Los ngeles para el periodo 2004-2008 en diferen-
tes rubros permite corroborar esa situacin; en concreto se observa una
fuerte declinacin de las tasas de construccin hacia finales del periodo,
especialmente en relacin al ao 2006. Si bien los montos totales de metros
cuadrados solicitados aumentaron 124% en esos cinco aos, en el periodo
2006-2008 disminuy un 61%, siendo los sectores servicios y comercio los
ms afectados. Estos sectores solo representan el 23% del mercado de la
construccin, mientras que el sector vivienda representa el 66,4% del total
al ao 2008. Las principales empresas inmobiliarias que representan esas
dinmicas en Los ngeles corresponden a: Inmobiliaria Socovesa Temuco
S.A., Inmobiliaria Santa Raquel, Inmobiliaria Mara Dolores Limitada, In-
mobiliaria San Patricio Limitada, entre otras. Respecto al sector industrial,
se observa una importante baja entre el ao 2007-2008.

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Tabla 2: Comuna de Los ngeles. Variacin de nmero de empresas, ventas, trabajadores dependientes y remuneraciones. 2005-2011.
268

2005 2011

%
%
%
%
%
%
%
%

(UF)
(UF)

Ventas
Ventas

Trabajadores
Trabajadores

Rubro Econmico
de Trabajadores
de Trabajadores

Remuneraciones
Remuneraciones

Dependientes (UF)
Dependientes (UF)

Nmero de empresas
Nmero de empresas

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Dependientes Informados
Dependientes Informados

A- 1.950 19,7 28.341.773 44,6 17.638 28,2 1.137.955 20,5 1.781 15,9 19.175.876 27,0 20.587 25,1 1.684.724 19,3
B- 4 0,0 * 32 0,1 * 1 0,0 * 27 0,0 *
C- 11 0,1 * 78 0,1 * 27 0,2 296.534 0,4 366 0,4 35.135 0,4
D- 367 3,7 10.388.918 16,3 7.282 11,6 866.627 15,6 545 4,9 15.315.101 21,6 13.066 15,9 1.303.969 15,0
E- 207 2,1 722.421 1,1 1.146 1,8 77.653 1,4 301 2,7 1.475.210 2,1 1.948 2,4 192.811 2,2
F- 19 0,2 294.804 0,5 496 0,8 30.809 0,6 35 0,3 455.688 0,6 115 0,1 21.400 0,2
G- 752 7,6 2.251.159 3,5 7.754 12,4 308.842 5,6 998 8,9 3.858.562 5,4 9.380 11,4 550.732 6,3
H- 3.289 33,2 11.733.899 18,5 6.512 10,4 601.740 10,8 3.643 32,5 13.861.095 19,5 9.085 11,1 750.504 8,6
I- 361 3,6 1.270.701 2,0 5.989 9,6 242.728 4,4 510 4,5 977.280 1,4 1.908 2,3 119.175 1,4
J- 1.228 12,4 4.718.601 7,4 3.084 4,9 289.725 5,2 1.471 13,1 8.562.297 12,1 5.033 6,1 708.153 8,1
K- 132 1,3 470.608 0,7 313 0,5 27.182 0,5 172 1,5 1.036.830 1,5 185 0,2 27.567 0,3
L- 798 8,1 1.540.645 2,4 4.613 7,4 674.815 12,1 1.024 9,1 3.343.419 4,7 9.659 11,8 1.397.161 16,0
M- 3 0,0 * 356 0,6 * 3 0,0 * 343 0,4 *
Contina
MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

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Tabla 2: Continuacin
2005 2011

%
%
%
%
%
%
%
%

(UF)
(UF)

Ventas
Ventas

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Trabajadores
Trabajadores

Rubro Econmico
de Trabajadores
de Trabajadores

Remuneraciones
Remuneraciones

Dependientes (UF)
Dependientes (UF)

Nmero de empresas
Nmero de empresas

Dependientes Informados
Dependientes Informados

N- 74 0,7 703.331 1,1 3.713 5,9 750.196 13,5 109 1,0 1.100.173 1,5 5.044 6,2 1.052.216 12,1
O- 164 1,7 520.919 0,8 2.170 3,5 468.508 8,4 216 1,9 912.920 1,3 2.797 3,4 750.517 8,6
P- 528 5,3 587.887 0,9 1.467 2,3 80.693 1,5 369 3,3 639.480 0,9 2.390 2,9 127.507 1,5
Q- 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 0,0 * 3 0,0 *
R- 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0
S/I 12 0,1 228 0,0 5 0,0 217 0,0 19 0,2 * 3 0,0 *
TC 9.899 100 63.545.895 100 62.648 100 5.557.691 100 11.225 100 71.010.465 100 81.939 100 8.721.570 100
Fuente: Departamento de Estudios Econmicos y Tributarios de la Subdireccin de Estudios del Servicio de Impuestos Internos (SII) (2005-11). Organizado por
Cristin Henrquez.
Nota: Significado de columna Rubro Econmico. A Agricultura, Ganadera, Caza y Silvicultura, B Pesca, C Explotacin de Minas y Canteras, D Industrias
Manufactureras No Metlicas, E Industrias Manufactureras Metlicas, F Suministro de Electricidad, Gas y Agua, G Construccin, H Comercio al por
Mayor y Menor, I Hoteles y Restaurantes, J Transporte, Almacenamiento y Comunicaciones, K Intermediacin Financiera, L Actividades Inmobiliarias,
Empresariales y de Alquiler, M Administracin, Pblica y Defensa, Planes de Seguridad, Social, N Enseanza, O Servicios Sociales y de Salud, P Otras
AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL

Actividades de Servicios, Q Consejo de Administracin de Edificios y Condominios, R Organizaciones y rganos Extraterritoriales, S/I Sin informacin,
TC Total comunal. Aquellos recuadros donde aparece un * corresponden a valores que, debido a restricciones relativas a la reserva tributaria (segn el Artculo
35 del Cdigo Tributario), no son factibles de informar, pues corresponden a: un valor declarado por un nmero igual o inferior a diez informantes, o casos que
269

mediante un clculo aritmtico simple se despeje el valor de un registro con diez o menos declarantes.

04/04/2016 18:14:25
270 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Esa desaceleracin de la dinmica inmobiliaria corresponde a una situa-


cin particular y no responde al comportamiento promedio de las ltimas
dcadas. En efecto, entre 1985 y 1995 la superficie edificada anualmente
se cuadruplic, llegando a valores en torno a los 140 mil metros cuadrados
anuales (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2000). A pesar de que no
se cuenta con los valores ms recientes de permisos de obras o recepciones
finales de obras, se estima que a partir del ao 2010 las tasas de edificacin
han vuelto a repuntar (Figura 12). En la actualidad, se estima un parque
habitacional de 45.662 viviendas (lvarez, 2015).

Figura 12: Ciudad de Los ngeles. Evolucin de permisos de edificacin. 2004-2008.


Fuente: Censos de 1982, 1992 y 2002 (INE). Organizado por Cristian Henrquez.

En relacin al tipo de ocupacin de acuerdo al censo de 2002, en la ciu-


dad de Los ngeles predominan los trabajadores no calificados (20%). Esa
cifra se podra relacionar con las caractersticas que presenta la actividad
agrcola y forestal, en trminos de demandar mano de obra poco calificada
en las temporadas de extraccin. Un 15% de la masa laboral lo representan
los trabajadores en el rea de servicios y vendedores de comercio y mer-
cados. Esto es, 6.244 personas, en donde 2.974 son hombres y 3.270 son
mujeres. Los trabajadores asociados a esa ocupacin se relacionan con un
nivel de instruccin de educacin media completa e incompleta.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 271

Le sigue muy de cerca la ocupacin de trabajadores tcnicos y profe-


sionales, con 5.809 trabajadores (14%) desglosados en 3.152 hombres y
2.657 mujeres. El resto de las ocupaciones se reparte entre: 12,3% opera-
rios y artesanos de artes mecnicas y de otros oficios; 11,6% operadores de
instalaciones y mquinas; 10% profesionales cientficos; 9% empleados de
oficina; y 2% agricultores y trabajadores calificados agropecuarios (Mora-
les, 2009).
En sntesis, el sector comercio y servicios ha pasado a tener mayor he-
gemona en la estructura econmica y sistema productivo de la ciudad.
Azcar et al. (2007) destaca que la presencia de grandes empresas ligadas a
la actividad silvcola en la comuna de Los ngeles no slo aporta a la apa-
ricin de emprendimientos y equipamientos industriales de la ciudad, sino
que tambin son demandantes de servicios y comercio especializado. Por lo
tanto, la instalacin de nuevos agentes econmicos ligados al apoyo de las
redes forestales, agrcolas y comerciales son pivote de todo un sistema de
servicios de apoyo para su desarrollo en trminos de empresas dedicadas a
insumos, transportes, telecomunicaciones, consultoras, etc.

3.2. Reestructuracin urbana de grandes tiendas


comerciales

A continuacin se caracteriza una serie de equipamientos, servicios y


actividades terciarias que estn reconfigurando la estructura y morfologa
urbana de la ciudad de Los ngeles.

Supermercados e hipermercados

La ciudad de Los ngeles ha experimentado cambios importantes en


los ltimos aos, asociados a la presencia y coexistencia de cadenas de su-
permercados de escala regional, nacional y transnacional.
De acuerdo a los datos recopilados, existen cadenas relevantes que estn
actuando en la ciudad. En primer lugar se encuentra la cadena Tucapel, de
escala regional, y dos grandes cadenas nacionales de supermercados, como
lo son Supermercados Santa Isabel y Supermercados Lder, como muestra
el Cuadro 5.

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272 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Cuadro 5: Ciudad de Los ngeles. Descripcin de principales supermercados. 2009.


Nombre rea bruta Ao Nmero Nmero de Cadena a la Escala de
local (m2) instalacin de cajas estaciona- que pertenece actuacin
mientos en la red
Tucapel 9.200 1997 20 150 Southern Cross Regional
Tucapel 700 1982 12 20 Southern Cross Regional
Tucapel 2.800 2006 14 180 Southern Cross Regional
Santa Isabel S/I S/I S/I S/I Cencosud Nacional
Santa Isabel S/I S/I S/I 120 Cencosud Nacional
Santa Isabel 1.600 2007 15 45 Cencosud Nacional
Lder 3.462 S/I S/I 11 DyS Nacional
Walmart Internacional
Lder 900 S/I 10 8 DyS Nacional
Express Walmart Internacional
Fuente: Informacin recopilada en terreno, 2009. Organizado por Marta Morales.

La cadena Supermercados Tucapel cuenta en la actualidad con cuatro


locales operando, tres en la ciudad de Los ngeles y uno en Angol en la
Regin de la Araucana, vecina de la del Biobo por el sur. Genera trabajo
a ms de 900 personas en forma directa e indirecta. El 6 de diciembre de
1982 se inaugura en la ciudad de Los ngeles su primer local, en pleno
centro de la ciudad, con 700 metros cuadrados construidos. Producto de la
buena acogida del pblico y al desarrollo empresarial a travs de los aos se
adquiere un nuevo terreno, donde ms tarde se construira el Portal Tuca-
pel, abriendo sus puertas a la comunidad el 26 de septiembre de 1997. Ese
nuevo supermercado cuenta 2,6 mil metros cuadrados de sala, secciones de
panadera, pastelera, carnicera y otras. Tambin cuenta con 120 estacio-
namientos subterrneos y estacionamiento exterior para 40 vehculos adi-
cionales (Supermercados Tucapel, 2013). Con estos dos locales, esa cadena
logra una insercin en todos los estratos socioeconmicos de Los ngeles
(Morales, 2009).
El ao 2001 se abre un nuevo local en la ciudad de Angol, Regin de la
Araucana, con ms de 2 mil metros cuadrados construidos y un estaciona-
miento para ms de 200 vehculos (Supermercados Tucapel, 2013).
En noviembre de 2006, Supermercados Tucapel ha concretado un nuevo
proyecto para ayudar a descentralizar lo que es hasta hoy el centro comer-
cial, cultural y de servicios de Los ngeles, construyendo un nuevo local
ubicado en Avenida Marconi, en el sector nororiente de la ciudad, en un

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 273

barrio netamente residencial. Ese supermercado tiene una superficie de 2,8


mil metros cuadrados y estacionamiento subterrneo para 180 automviles
(Supermercados Tucapel, 2013).
La segunda cadena importante corresponde a Supermercados Santa
Isabel, que fue adquirida el ao 2003 por el retail Cencosud, uno de los
ms grandes conglomerados de retail en Amrica Latina. Cuenta con ope-
raciones activas en Argentina, Brasil, Chile y Per. Estas se extienden a
los negocios de supermercados (Jumbo), Homecenters (Easy), tiendas por
departamento, centros comerciales y servicios financieros, siendo una de
las compaas de capitales latinoamericanos ms diversificada del Cono
Sur y con la mayor oferta de metros cuadrados. Adicionalmente, desarrolla
otras lneas de negocio que complementan su operacin central, como es
el corretaje de seguros, centros de entretencin familiar y agencia de viajes
(Cencosud, 2013).
La cadena de supermercados Santa Isabel cuenta con tres locales dentro
de la ciudad de Los ngeles, dos de los cuales se encuentran ubicados en
el barrio cntrico, y otro en la zona residencial del Barrio Alemania, predo-
minantemente residencial. Sus locales cuentan con servicios asociados de
comida rpida, pago de servicios y farmacias (Morales, 2009).
Finalmente, se encuentra la empresa DyS, la cual corresponde a una
compaa chilena abierta a la bolsa de valores nacional e internacional, que
est conformada por un grupo de empresas cuyo negocio principal es la
distribucin de alimentos a travs de diversos formatos de supermercados
e hipermercados, denominado Lder, con cobertura en todo el territorio
nacional de Arica a Punta Arenas (Supermercados Lder, 2009). En la ac-
tualidad, la empresa ha sido adquirida por la transnacional Walmart.
En la ciudad de Los ngeles y para esa cadena se puede encontrar las
dos variedades de supermercados, el primero corresponde al Hipermer-
cado Lder de Los ngeles, el cual consta de una gran sala de ventas, con
estacionamiento subterrneo. Como servicios anexos cuenta con cajero
automtico y dentro de sus instalaciones se encuentra una red de farmacias
de escala nacional. Est localizado muy cercano al Hospital Comunal (Mo-
rales, 2009).
El segundo corresponde al Lder Express Los ngeles, que consta de
solo diez cajas, y estacionamiento en su exterior. Es un formato que tiene

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274 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

las caractersticas de un supermercado tradicional cuyo objetivo principal


es propiciar una compra fcil, con rapidez y surtido en alimentacin. Su
foco de negocio es la venta de alimentos con nfasis en productos pereci-
bles, como frutas, verduras, carnes frescas y comidas preparadas (Mora-
les, 2009).
La participacin de DyS en el mercado a nivel nacional es de cerca del
32,5%, mientras que Cencosud tiene un 29,2% (Cencosud, 2013). En Chile
esa industria es muy competitiva y est compuesta por hipermercados,
supermercados, tiendas de autoservicio y almacenes de barrio de carcter
familiar, aunque con una participacin mucho menor.

Servicios de salud especializados

De acuerdo a antecedentes histricos, en 1867 se inici la actividad


hospitalaria en la ciudad de Los ngeles, tras la fundacin del Hospital de
Caridad patrocinado por la Municipalidad y que, en aquellos aos, slo
contaba con dos salas, una para hombres y otra para mujeres. Con la llegada
del siglo XX, el hospital se encontraba con sus capacidades al lmite, debido
al aumento en la poblacin y a las complejidades de las patologas. A ello se
sum el desastre provocado por el terremoto de 1939, que afect al sur del
pas y a las dependencias del hospital, que resultaron severamente daadas.
Esa situacin llev a la Sociedad Mdica de Los ngeles, en julio de 1943,
a solicitar a la junta de beneficencia la construccin de un hospital moderno
y adecuado a los requerimientos de la poblacin, que se inaugur diez aos
ms tarde, en 1953, con una superficie total construida superior a los 15 mil
metros cuadrados (Hospital Los ngeles, 2008).
El Hospital Dr. Vctor Ros Ruiz, en la actualidad es el centro asisten-
cial de mayor complejidad de la provincia y del Servicio de Salud Biobo,
catalogado como Tipo I a partir de 1984, segn la Resolucin no 401 del
Ministerio de Salud. Cuenta con 428 camas, las cuales sirven para cubrir
las especialidades bsicas, Neurociruga, Traumatologa, Gineco-Obste-
tricia, Urologa, Mxilo-Facial, Dermatologa, Oftalmologa, Neurologa,
Fisiatra y Psiquiatra (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2000). Los
asociados al hospital superan los 1.300 trabajadores, incluyendo directivos,
profesionales, paramdicos, administrativos, choferes y auxiliares.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 275

El Complejo Asistencial de Los ngeles es el centro de referencia de


toda la provincia del Biobo, con una poblacin asignada de alrededor de
360 mil habitantes, y cubre la demanda de seis hospitales tipo IV2 que
forman parte de la red asistencial ubicados en las comunas de Yumbel,
Nacimiento, Santa Brbara, Mulchn, Laja y Tucapel (Huepil). El hospital
se encuentra en plena renovacin, buscando volverse en un centro de alta
calidad, mejorando tanto las especialidades actualmente presentes como las
antiguas. Esas mejoras buscan dar respuesta al crecimiento poblacional que
ha tenido la comuna, as como la provincia.
Existen cuatro clnicas privadas dentro de la ciudad, las cuales constan
de distintas especialidades. Dentro de los centros de especialidad, se desta-
ca la alta presencia de centros dentales y laboratorios asociados, localizados
principalmente en el centro de la ciudad (Morales, 2009) (Cuadro 6).
La Clnica Los Andes se inicia a mediados de los aos 1990, proveniente
de la empresa multinacional JCE Clnica Los Andes. Cuenta con unida-
des especializadas, un laboratorio y una unidad radiolgica, el personal
comprende cuarenta mdicos socios de la clnica y un staff de ms de cien
profesionales de todas las especialidades. Tiene una inversin de ms de 1
milln de dlares durante el ao 2007 en el reemplazo de equipos de rayos
X, de scanner helicoidal e incorporacin de un resonador magntico. Es
uno de los centros clnicos privados de mayor capacidad tecnolgica en la
provincia del Biobo (Clnica Los Andes, 2009).
La clnica cuenta con sedes en las ciudades Chilln y Puerto Montt
capital de la Regin de Los Lagos , y en toda ellas la empresa JCE es
accionista mayoritaria. A su vez, esa misma transnacional cuenta con los
aserraderos JCE en la ciudad, abordados en el captulo anterior.
Por otro lado, la Clnica Adventista Los ngeles depende de la Aso-
ciacin General de Los Adventistas del Sptimo Da, que pertenece a la

2 Los hospitales se pueden diferenciar segn la capacidad. Hospitales Tipo 1 (alta compleji-
dad) cuentan con las cuatro especialidades bsicas de la medicina (medicina, ciruga, pedia-
tra y obstetricia), y adems cuentan con la totalidad de las sub especialidades. Hospitales
Tipo 2 (alta complejidad) son los hospitales que cuentan con las cuatro especialidades bsi-
cas de la medicina y slo con algunas de las subespecialidades. Hospitales Tipo 3 (mediana
complejidad) son los hospitales que cuentan slo con las cuatro especialidades bsicas. Y
los Hospitales Tipo 4 (baja complejidad) son los que tienen slo camas indiferenciadas para
adultos y nios (Ministerio de Salud, 2004).

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organizacin central de Iglesia Adventista del Sptimo Da, distribuida en


todo el mundo. Fundada en 1979, la clnica es una de las instituciones ms
antiguas de Los ngeles y cuenta con profesionales, tcnicos, adminis-
trativos, mdicos, enfermeros, paramdicos, bioqumicos, nutricionistas,
tecnlogos y auxiliares (Clnica Adventista Los ngeles, 2011).

Cuadro 6: Ciudad de Los ngeles. Establecimientos de salud. 2009.


Nombre del Tipo Especialidades Laboratorios Equipos
establecimiento hospitalarios

Clnica Los Andes Clnica Si Si Si


Clnica Adventista Los Clnica Si Si Si
ngeles
Clnica Mutual de Clnica Si Si Si
Seguridad
Clnica Dental Costa Brava Clnica Si Si No
Centro Dental Pacfico Centro dental Si Si No
Edificio Mdico Dental Centro mdico Si Si No
Los ngeles
Centro Mdico Central Centro mdico Si Si No
Centro Mdico Megasalud Centro mdico Si Si No
Centro Mdico Ekhosmed Centro mdico No Si No
Centro Especialidades Centro mdico Si Si Si
Emed
Hospital Los ngeles Hospital Si Si Si
Fuente: Informacin recopilada en base a pginas web corporativas, 2009. Organizado por Marta Morales.

Otra clnica con presencia en la mayora de las grandes ciudades chile-


nas corresponde a la Mutual de Seguridad (ACHS), creada en 1966 por la
Cmara Chilena de la Construccin (CChC). La institucin parti como
un seguro mercantil voluntario que ayudara a los trabajadores. Posterior-
mente, el 14 de febrero de 1968 se dicta la Ley n. 16.744 sobre Accidentes
de Trabajo y Enfermedades Profesionales con carcter de obligatorio y
con los beneficios estipulados claramente. Esa institucin cuenta con tres
mutualidades; la Asociacin Chilena de Seguridad, creada por la Sociedad
de Fomento Fabril (Sofofa), el Instituto de Seguridad del Trabajo (IST),
creado por la Asociacin de Industriales de Valparaso y Aconcagua y la
Cmara Chilena de la Construccin. La mutual ACHS de Los ngeles se
ubica muy prxima al hospital (Mutual de Seguridad CChC, 2013).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 277

Comercio y servicios asociados a la agricultura y silvicultura

Como se vio en el Captulo 2, las actividades agrcolas, forestales y agro-


negocios son muy importantes en la ciudad de Los ngeles. Mediante
el anlisis de las patentes comerciales de la comuna se pudo observar la
alta presencia de servicios y comercios asociadas a la actividad forestal y
agrcola.
Del total de comercios asociados a esos sectores, se destaca la alta pre-
sencia de locales especializados en productos agropecuarios, con un 24%
Agrcola Nacional S.A.C. e I., Comercializadora de Trigo S.A., Empre-
sa de abastecimiento de zonas aisladas, Cooperativa agrcola productos
Biobo Ltda. y Agrcola Gildemeister S.A, entre otras , le sigue con un
20% las maquinarias y servicio tcnico forestal y agrcola Sociedad de
productores de leche S.A. (Soprole), Cooperativa agrcola lechera Biobo
Ltda., Agromir S.A., Agroper S.A. y Agromass S.A., entre otras , un 15%
corresponde a empresas asociadas a servicios y asesoras forestales Proda-
lam S.A., Mecanizacin forestada Ltda., Sociedad Jorge Holmberg y Ca.
Ltda., Alejandro Ordoez y Excelsa S.A., entre otras. A continuacin, se
destaca la compra y venta de productos forestales, compra y venta de insu-
mos y maquinaria agrcola, y corretaje agrcola y alimento animal, con un
11% Compaa agropecuaria Copeval S.A., Granos y productos Ltda.,
Plaguisur Ltda., Sociedad comercial y agrcola Comagri Ltda. y Agromir,
entre otras. Finalmente, hay empresas dedicadas al control de plagas y
fumigaciones Agromercados S.A. y Fumigaciones Biobo Ltda. , y a la
comercializacin de leche y productos lcteos Agroforestal Malleco Ltda.
y Sociedad agrcola comercial y ganadera Fertiagro Ltda. , que se reparten
el 8% restante (Morales, 2009).
La influencia de la actividad silvo-agropecuaria en el comercio y la
llegada de grandes inversiones a la ciudad se expresa en empresas como la
asociacin de agricultores Soprole, mencionada en el captulo anterior, que
est invirtiendo casi 30 mil millones de pesos, as como el caso de Prolam,
con casi 15 mil millones de pesos (Morales, 2009).
Se puede observar que la mayora de las empresas asociadas a maqui-
narias o agrcolas se presentan en el eje de la ruta 5 sur (Figura 13) y las de
comercio, orientadas al agro-silvo-negocio, en el sector cntrico.

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Figura 13: Los ngeles. Empresa Comagri, venta de equipos agrcolas en Avenida Las
Industrias (ex ruta 5). 2008.
Fuente: Fotografa tomada por Cristin Henrquez.

Centros de educacin superior

Durante los ltimos aos, en la provincia del Biobo, particularmente en


la comuna de Los ngeles, se ha producido un gran aumento en la oferta
de alternativas de Educacin Superior, sumando a la presencia tradicional
de la Universidad de Concepcin y la Universidad del Biobo, como la
Universidad Santo Toms, Santsima Concepcin, Universidad Austral,
Universidad de La Frontera, Universidad de La Repblica, Universidad
Los Lagos y Universidad Bolivariana. Adems, complementan la oferta de
Educacin Superior cuatro Institutos Profesionales y cinco Centros de For-
macin Tcnica, todos con el reconocimiento del Ministerio de Educacin
(Gobierno Regional de la Regin del Biobo, 2009).
Una de las reas estratgicas de enseanza corresponde al sector fores-
tal. En el caso de la Universidad de Concepcin, se pretende transformar
en la primera institucin de educacin superior en Chile en tener toda la

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 279

lnea de formacin forestal-maderera, desde la capacitacin silvo-made-


rera hasta el Doctorado en Ciencias Forestales, pasando por la Ingeniera
en Ejecucin y la Ingeniera Forestal. El campus de la ciudad Los ngeles
se cre en 1962 y en 1966 se inicia la carrera de Tcnico Forestal. En la
actualidad, se proyecta consolidar la existencia de carreras de pregrado
que demuestren la necesidad de crear una Facultad Tecnolgica Forestal-
-Maderera en la sede angelina. De esa forma, la visin del Departamento
Forestal de la Unidad Acadmica Los ngeles, de la Universidad de Con-
cepcin, en el contexto de su Plan Estratgico, consiste en transformarse
en el referente, por excelencia, de la actividad tecnolgica forestal made-
rera para la Provincia de Biobo. El Departamento Forestal desarrolla la
investigacin cientfica, principalmente en las reas de microbiologa del
suelo micorrizas, silvicultura de bosques nativos y ecologa fitoevolutiva.
El campus Los ngeles en la actualidad tiene dos Escuelas: Educacin y
Ciencias y Tecnologas, y se estima un total de 790 alumnos (Universidad
de Concepcin, 2011).
La Universidad del Biobo tambin tiene una destacada contribucin en
la formacin profesional. En ese sentido, se dictan carreras de ingeniera en
el rea de Geomensura, Forestal y Agroindustria, componiendo una comu-
nidad estudiantil de 1,3 mil estudiantes y el equivalente a 35 docentes con
jornadas completas (Universidad del Biobo, 2009).
La Universidad Santo Toms, Instituto Profesional Santo Toms, Cen-
tro de Formacin Tcnica Santo Toms e Instituto Profesional del Valle
Central cuentan con programas de formacin orientados al rea agrope-
cuaria. Se estima un total de alumnos de 720 para el caso de la Universidad
Santo Toms y de 740 para el Instituto Profesional Santo Toms (Morales,
2009).
Dentro del contexto de institutos profesionales, resalta el Instituto Pro-
fesional Virginio Gmez, que es una institucin de educacin superior,
autnoma, privada, perteneciente a la Universidad de Concepcin. Fue
creado en 1989, con el objetivo de preparar profesionales idneos en las
reas de las ingenieras de ejecucin y tecnolgicas constructivas, conforme
a los requerimientos de la empresa actual (Instituto Profesional Virginio
Gmez, 2015).
Tambin se han creado programas en donde se vincula la educacin
tcnica superior con la empresa, por medio del Programa MECESUP,

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potenciando la capacitacin de sus empleados, como a la formacin de pro-


fesionales tcnicos especializados en las distintas necesidades de empresas
de forma especfica. Los programas de capacitacin orientados a tcnicos
operadores de plantas industriales incluyen empresas como Paneles Arau-
co, Mosonite Chile, CMPC Celulosa S.A., CMPC Inforsa S.A., Proma-
sa, Nestl, Erco y Molduras Trupn (Morales, 2009).
Los equipamientos universitarios y centros de formacin tcnica se
concentran en el centro de la ciudad y en el sector centro-oriente, el campus
Los ngeles de la Universidad de Concepcin y el campus de la Univer-
sidad del Biobo. Como se mencion, son de los centros universitarios ms
importantes de la ciudad y provincia.

Redes bancarias y financieras

Los ngeles se ha convertido en sede de prcticamente todas las insti-


tuciones financieras ya sea bancarias, de seguros y fondos mutuos del pas,
propiciando una base econmica para la ciudad y para las empresas que
en ella se desarrollan. El Cuadro 7 presenta los bancos registrados en las
patentes comerciales de la municipalidad, destacando la presencia de ban-
cos asociados a tiendas comerciales, sin que necesariamente sus tiendas se
encuentren en la ciudad, como es el caso del Banco Ripley (Morales, 2009).
En el Cuadro 7, se describen los movimientos financieros mensuales de
las distintas entidades bancarias, destacndose los volmenes de crditos
del Banco de Chile y Banco Santander, de capitales chilenos y espaoles
respectivamente.
En cuanto a la cantidad de personas contratadas, resalta el caso del
Banco de Chile, lo que se puede asociar a la cantidad de sucursales que este
posee en la ciudad. La localizacin de las instituciones financieras bancos
y entidades financieras se da en torno a la Plaza de Armas y por la Calle
Coln, complementndose con oficinas profesionales y oficinas de servi-
cios Isapres, AFP, etc. (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005).
Hay bancos que no figuran con informacin completa pero que son re-
levantes para la ciudad: se trata de Corpbanca y el Banco BBVA, tambin
de capitales chilenos y espaoles, respectivamente. Tambin se instala en la
ciudad el Banco Falabella, asociado a la tienda del mismo nombre (Morales,
2009).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 281

Cuadro 7: Ciudad de Los ngeles. Bancos. 2009.


Institucin Tipo Nmero Movimiento Nmero Caja de Personas
sucursal financiero mensual de atencin contratadas
($ millones de pesos) cajeros
Banco Chile Sucursal 4 30.054 1 5 71
Banco Santander Sucursal 3 18.793 1 9 62
Banco del Estado Sucursal 2 12.914 4 12 45
Banco BICE Sucursal 1 10.534 1 4 21
Banco CrediChile Sucursal 1 5.723 0 4 S/I
Banco del Desarrollo Sucursal 1 2.227 0 4 19
Banco Ita Sucursal 1 5.723 1 4 11
Banco Ripley Sucursal 1 2 1 3 7
Banco BCI Sucursal 2 S/I 1 9 36
BBVA Sucursal 1 S/I S/I S/I S/I
Corpbanca Sucursal 1 S/I S/I S/I S/I
Banco Falabella 1 S/I S/I S/I S/I S/I
Fuente: Informacin de Superintendencia de Bancos e Instituciones Financieras Chile, 2009. Organizado por
Marta Morales.

Centros comerciales y grandes tiendas

El centro comercial ms importante en la ciudad corresponde al Mall


Plaza Los ngeles de la cadena Mall Plaza, perteneciente a la principal red
de centros comerciales del pas. Esa cadena es lder en el desarrollo del retail
en Chile a travs de la operacin de nueve centros comerciales cinco de
ellos en Santiago: Mall Plaza Vespucio, Mall Plaza Oeste, Mall Plaza Toba-
laba, Mall Plaza Norte y Mall Plaza Alameda y otros cuatro en regiones
Mall Plaza Antofagasta, Mall Plaza La Serena, Mall Plaza Trbol y Mall
Plaza Los ngeles.
Este Mall fue inaugurado el 2003 y tiene 76 locales, destacando las
tiendas anclas Falabella, Almacenes Pars y Ripley, cuya rea de negocio
principal es ser establecimientos minoristas de gran superficie, de carcter
no especializado, y divididos en secciones electrodomsticos, tecnologa,
muebles, decoracin, deportes, belleza, moda, calzado, etc. Otras franqui-
cias presentes corresponden a: Cine Hoyts, Merrel, Saxoline, Rockford,
Ripcurl, KFC, Head, Hush Puppies, Dunkin Donuts, Claro, Bata, entre
muchas otras. Se estima una cantidad mensual de usuarios de 130 mil per-
sonas fundamentalmente entre 25-40 aos. El perfil socioeconmico de
usuarios se conforma por un predominio de clase C3 (clase media) con un

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54% de visitas, luego perfil ABC1-C2 (clase alta) con 38% y clase D (clase
baja) con un 8% (Mall Plaza, 2008). La Figura 14 muestra el mall ubicado
en el centro de la ciudad al frente se aprecia la construccin del casino.

Figura 14: Los ngeles. Mall Plaza. 2008.


Fuente: Fotografa tomada por Cristin Henrquez.

Por otro lado, se presenta una variada oferta de grandes tiendas en la


ciudad, siendo Casa Garca una de las principales tiendas a nivel local. Esa
tienda presenta el mismo formato de las grandes tiendas con presencia a lo
largo de nuestro pas, con oferta de tarjetas de crditos y variedad de pro-
ductos; cabe recalcar que todas las tiendas que se presentan en la ciudad
ofrecen sistemas de crdito (Morales, 2009). Otras tiendas con presencia en
la ciudad corresponden a: Dijon, Tricot, Multitiendas Corona, Sodimac y
Sociedad administradora de tiendas retail S.A.
La Figura 15 muestra la alta concentracin de tiendas comerciales en
la Calle Coln, inserta en el centro de ciudad, aqu no slo se presentan
grandes tiendas, sino que tambin las galeras comerciales, que dentro de
la ciudad se presentan como un registro del antiguo formato comercial

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 283

de la ciudad. Las galeras presentaban distintas ofertas de productos, y


actualmente es posible encontrar artculos de hogar, textil, alimentacin,
ferretera, etc., pero los pequeos locales se han ido extinguiendo frente a la
presencia de tiendas con una mayor oferta y oportunidades de pago, por lo
que actualmente esas galeras presentan una oferta de pequeos locales con
productos principalmente de origen extranjero chino, turco o japons ,
muy similar a los ofrecidos en barrios comerciales tradicionales de Santiago,
como Patronato o Meiggs (Morales, 2009).
La localizacin del comercio se concentra en el centro de la ciudad, cor-
respondiente al rea comprendida entre las Calles Manso de Velasco por el
oriente, Valdivia y Ercilla en menor grado por el poniente, y entre las Calles
Ricardo Vicua por el sur y Lientur por el norte, prolongndose esa rea
hacia el norte por las Calles Coln, Almagro y Villagrn, hasta encontrarse
con Calle Sor Vicenta. Con esas mismas caractersticas, en cuanto a la escala
de su comercio y equipamiento, se ha desarrollado la Avenida Alemania,
arteria que ha incluido la funcin comercial, desde su origen poniente en la
interseccin con Manso de Velasco, avanzando desde all hacia el oriente de
la ciudad. El comercio a escala vecinal se encuentra presente en todo el resto
de la ciudad (Morales, 2009).

Figura 15: Ciudad de Los ngeles. Centros comerciales y grandes tiendas. 2015.

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284 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Terminales intermodales y plataformas de logsticas


distributivas

Tal como lo declara el Plan Regulador Comunal vigente, las redes de


transporte de la ciudad se caracterizan por servir de paso de vehculos hacia
el sector ubicado al poniente de la ciudad, conformado principalmente por
los asentamientos menores pertenecientes a la comuna, esto es Santa Fe,
Millant y Chacayal, y a las comunas ubicadas al poniente de la ciudad:
fundamentalmente Nacimiento y Negrete, ya que el resto de las comunas
cuentan con otras vas alternativas de acceso desde el oriente. En sentido
norte-sur, la circulacin en la comuna se realiza a travs de la carretera lon-
gitudinal sur que une los poblados de Salto del Laja y San Carlos de Purn,
pasando tangencialmente por la ciudad de Los ngeles (Morales, 2009).
Ese sistema de circulacin determina que la ciudad de Los ngeles,
capital provincial, se presente como el punto de interseccin de las vas que
acceden a los poblados cercanos. En ese sentido, la ciudad de Los ngeles
ejerce un peso en la red al concentrar la mayor cantidad de flujos desde los
diversos poblados que la circundan, en su condicin de nodo principal de la
parte suroriente de la Regin del Biobo (Morales, 2009).
Las rutas ms representativas que conectan la ciudad son la Ruta Q 156,
o tambin llamada Ruta de la Madera, que pasa por las comunas de Santa
Juana, Nacimiento y que llega hasta la localidad de Coihue; igualmente la
Ruta 180 o Autopista Nahuelbuta, que es la principal conexin caminera y
que conecta a Los ngeles con Nacimiento, Negrete, Renaico y Angol; es
una va usada principalmente para el transporte forestal. Dicha ruta, en la
actualidad posee su capacidad sobrepasada con trminos de trnsito, al tra-
tarse de una calzada simple bidireccional, no posee peajes y sus bermas son
estrechas, lo que genera grandes limitantes para el crecimiento y ptimo
transporte de la actividad forestal.
En general, los usos de suelo aledaos a las carreteras de acceso en la co-
muna se encuentran relacionados con el uso forestal, destacando la Forestal
Mininco S.A. y la Forestal Arauco.
Debido a las caractersticas mencionadas, se presentan dos tipos de
terminales de buses: los terminales de buses propiamente tal y los llama-
dos terminales de buses rurales. Los primeros corresponden a lugares de
destino o trnsito de la poblacin proveniente de otras regiones del pas,

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 285

mientras que los segundos concentran el manejo de la poblacin provenien-


te sobre todo de localidades como Santa Brbara, Quilaco, Mulchn, Naci-
miento, San Carlos de Purn, Quilleco, Coihue, entre otros asentamientos
(Morales, 2009).
Existen los terminales rodoviarios Santa Mara de Los ngeles; el
terminal Tur Bus, que pertenece exclusivamente a esa empresa, con una
capacidad de 15 buses; el terminal rural Islajacoop Ltda., con una capaci-
dad de 18 buses; el terminal rural Vega Techada; el terminal rural Santa
Rita, con una capacidad de cinco buses; y el terminal Chiprodal Bolsn
S.A.. Muchos de esos terminales han generado problemas de congestin
en la trama urbana, plantendose alternativas de cambiar su localizacin.
Al respecto, cifras recientes hablan de un parque vehicular de la ciudad
de Los ngeles de 50.305 automviles, 239.534 viajes diarios y una tasa de
motorizacin de 235 autos/1.000 habitantes (lvarez, 2015).
Al norponiente de la ciudad se ubica el aerdromo de la ciudad (Aer-
dromo Mara Dolores), el cual tiene slo una pista de 1,7 mil metros de ex-
tensin por 30 metros de ancho. Al igual que en el caso de Chilln, se trata
de un aerdromo de uso local y no comercial.

Redes nacionales e internacionales de hotelera

La ciudad de Los ngeles cuenta con una de las mayores inversiones en


el sector hotelero de la regin, gracias a la llegada del Gran Casino Los n-
geles, ubicado a un costado del Mall Plaza Los ngeles y a una cuadra de
la Plaza de Armas de la ciudad, sobre el Paseo Peatonal Estero El Quilque
(Morales, 2009).
El Gran Casino Los ngeles es operado por Casinos Austria Interna-
cional, empresa que data de 1934. La compaa encuentra su origen en
Austria y actualmente opera 64 casinos en 18 pases, y por primera vez
estn presentes en Chile con el casino en Los ngeles. El proyecto, obra del
arquitecto Patrick Turner y construido por la empresa Tecsa, se organiza
en torno a niveles conectados a travs de una galera vertical. Los pisos
superiores estn ocupados por el hotel, en plantas de nueve habitaciones.
Con una inversin cercana a los 20 millones de dlares, el casino se esti-
ma proveer ms de 180 nuevos empleos a la ciudad de Los ngeles. El
proyecto integral Gran Casino Los ngeles incluye el casino, gimnasio,

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spa y un hotel que responde a niveles internacionales y altos estndares de


calidad. Adems, un centro de conferencias con capacidad para quinientas
personas. Al momento de entregar la certificacin de uso de operaciones, el
superintendente Fernando Riveros explicaba que durante el primer ao de
funcionamiento del nuevo casino de juego se estima que la Municipalidad
de Los ngeles y el gobierno regional del Biobo recibirn, cada uno, cerca
de 183,5 millones de pesos por concepto del impuesto especfico al juego
(Emol, 2008).
Tambin se presenta en la ciudad el Hotel Musso, fundado en 1985 y
con una categora de tres estrellas. Este se ubica frente a la Plaza de Armas,
y a dos cuadras del Mall Plaza. El hotel de cuatro pisos cuenta de 11 habita-
ciones por cada piso y cada habitacin cuenta con: bao privado, telfono,
TV cable, calefaccin, circuito de televisin. En total tiene 44 habitaciones
adems de una sala de eventos. El hotel da empleo a 16 trabajadores (Mo-
rales, 2009).
Dentro de las principales cadenas hoteleras de la ciudad se presenta el
Hotel Los ngeles, ubicado en la antigua panamericana sur km 510, entre
la primera y la segunda entrada a la ciudad de Los ngeles. Cuenta con cien
habitaciones, a slo ocho minutos del centro de la ciudad y cercano a lugares
de atractivo turstico tales como: Los Saltos del Laja, La Laguna del Laja,
Volcn Antuco, etc. (Morales, 2009).
Se estima que en la actualidad existen otros ocho hoteles menores en la
ciudad de Los ngeles (lvarez, 2015).
Esta ciudad es un punto intermedio para los viajes terrestres entre San-
tiago y Puerto Montt, en ese sentido es un lugar de parada especialmente
para turistas que optan por se alojar en el Salto del Laja, donde existe una
gran cantidad de oferta de cabaas y alojamientos asociados a la cascada
del Ro Laja que corresponde a un atractivo turstico de importancia para
la comuna.

3.3. A modo de sntesis

Sin duda el comercio y los servicios corresponden a actividades reflejo


de lo que ocurre en la economa de un lugar o de un pas. Su dinmica es en
cierto modo un resultado de lo que ocurre en el resto de la economa, en una

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 287

suerte de crculo virtuoso del crecimiento econmico. Lo descrito en este


captulo para el comercio y los servicios se relaciona con la dinmica expe-
rimentada por el sector silvo-agropecuario, en particular con el crecimiento
del sector forestal y de la agricultura, y tambin por el sector industrial.
La instalacin de grandes cadenas de supermercados, as como de un
mall, un casino, bancos, clnicas y cadenas de farmacias demuestra, por una
parte, la influencia de la creacin de nuevos empleos, el aumento del creci-
miento demogrfico y, por otra, la estabilizacin de los salarios ya no solo
sujetos a la estacionalidad agrcola , el aumento de los ingresos promedios
y la instalacin del crdito como forma de acceso a bienes y servicios.
A nivel de empleo, se destaca el rol del gnero femenino en la transfor-
macin de la matriz de la fuerza laboral, asociada especialmente al sector
comercial, ya que las tiendas suelen preferir mujeres para labores como
ventas, promocin de productos y en general servicios al cliente.
Nuevas centralidades comienzan surgir en el espacio urbano, como lo
es el barrio Alemania (sector Oriente), el cual se proyecta como nuevo sub-
centro econmico de la ciudad. En este se ubican actividades como el centro
comercial Homecenter Sodimac, las cadenas de supermercados Santa Isabel
y Tucapel, la clnica privada Los Andes, Strip Center San Borja, entre otros
emprendimientos (Morales, 2009).
Finalmente, la dinmica descrita se expresa en la consolidacin de la
ciudad de Los ngeles como centro de servicio del subsistema urbano su-
roriente, en la Regin del Biobo.

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4
PROFUNDIZACIN DE LAS DESIGUALDADES
SOCIOESPACIALES

Al igual que muchas otras ciudades en Chile, la estructura urbana actual


de Los ngeles responde a los impulsos y polticas urbanas implementadas
a lo largo del tiempo. En trminos generales presenta una estructura com-
puesta por un ncleo urbano central conocido como ciudad origen, con
trazado de forma de damero delimitada por la Calle Colo-Colo al norte,
Avenida Ricardo Vicua al sur, Calle Jos Manso de Velasco al oriente y
Avenida Ercilla al poniente (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005).
Se destaca en ese sector la concentracin de las principales actividades
comerciales y de servicio, como el mall Plaza, casino y grandes tiendas del
retail, como se vio en el captulo anterior. Luego se dispone, de manera
continua, un anillo pericentral compuesto por barrios residenciales de dis-
tintos niveles socioeconmicos y equipamiento complementario. Muchos
corresponden a barrios tradicionales, resaltando una villa ligada a la pre-
sencia de la industria Iansa y otros conjuntos habitacionales tipo blocks que
albergan a poblacin de estratos medios y bajos. Finalmente, ms hacia la
periferia se extiende un amplio sector de suburbios de morfologa bastante
discontinua, heterognea y fragmentada. En ese sector se localizan una
serie de viviendas y condominios privados de alto ingreso junto a villas y
poblaciones de niveles bajos circundado por espacios rurales. Tambin se
ubican importantes reas industriales especialmente al oriente de la ciudad,
en torno a la antigua ruta panamericana.
Esa estructura y morfologa presenta otro rasgo que tambin es compar-
tido por las principales reas urbanas de Chile: la inequidad y desigualdad
social. El ltimo informe de la Organizacin para la Cooperacin y el De-

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sarrollo Econmico (OCDE, 2013) ha resaltado las dramticas condiciones


de inequidad de las principales ciudades del pas. El informe seala que
las disparidades sociales entre municipios de la metrpolis de Santiago son
las ms altas entre todas las ciudades internacionales pertenecientes a los
pases de la organizacin, con valores sobre Londres y Budapest.
Resulta sorprendente constatar que la expansin econmica chilena
depende fundamentalmente del aporte de Santiago y de un puado de ciu-
dades, dentro de las cuales se encuentra Los ngeles con un aporte al PIB
que la posiciona en el octavo lugar y con una tasa de crecimiento sobre el
6% (OCDE, 2013). Sin embargo, en esa ciudad media se presentan, parale-
lamente, situaciones de desigualdad y segregacin en niveles equivalentes
a las grandes metrpolis y ciudades del pas. En efecto, presenta niveles
de pobreza por sobre el 20%, situndola en el tercer lugar respecto a las 26
ciudades nacionales estudiadas en el informe.
Durante las ltimas dcadas se han hecho esfuerzos por mejorar aspec-
tos, como el acceso a la vivienda. A comienzos de los aos 1990, a nivel
nacional el 20% de las viviendas presentaban condiciones de deficiencia, ya
sea por unidades deterioradas, niveles de hacinamiento, presencia de asen-
tamientos informales, as como tambin por carencia en el acceso a servicios
bsicos esenciales, como electricidad, alcantarillado o agua potable. En el
caso de Los ngeles, se ha mejorado en varios de estos aspectos, pero de
todas formas hay otros en los que todava se debe avanzar. Por ejemplo, la
regularizacin de asentamientos irregulares.
Esas y otras dimensiones sern abordadas en el siguiente captulo, para
entender las transformaciones que han impactado en la configuracin de la
trama sociourbana actual.

4.1. Avances en indicadores econmicos y disparidades


en los socioeconmicos

Chile ha progresado en trminos macroeconmicos, registrando cre-


cimientos cercanos al 6%, durante varios aos, lo que es superior al pro-
medio de pases latinoamericanos. Si bien en el ltimo trienio dicha tasa
ha descendido por debajo del 3%, la tasa de desempleo ha venido cayendo
sostenidamente los ltimos aos: para el periodo diciembre 2012-febrero

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 291

2013, la tasa alcanza el 6,2%. Conjuntamente se observan aumentos con-


siderables en el nivel de inversin y emprendimiento, especialmente en las
regiones ligadas a las actividades exportadoras y, por supuesto, en la capital
de Santiago.
Ese panorama es consistente con una evolucin positiva del ndice de
Desarrollo Humano (IDH) en el pas, que refleja los avances en los mbitos
de salud, educacin e ingresos. El ao 2011, Chile se ubica en el primer
lugar de Amrica Latina y el Caribe en Desarrollo Humano y en el cua-
dragsimo cuarto del mundo, mostrando un avance sostenido en el tiempo
(PNUD, 2012). El IDH de 0,805 posiciona a Chile por primera vez dentro
del grupo de pases desarrollados. Sin embargo, los promedios esconden
grandes diferencias a nivel regional y comunal: hay comunas con cifras muy
elevadas, como Vitacura y Las Condes en el sector oriente de la ciudad de
Santiago, y comunas muy por debajo, como San Juan de la Costa Regin
de Los Ros y Trehuaco Regin del Biobo , con caractersticas rurales
y de pobreza aguda. La comuna de Los ngeles el ao 2003 registraba un
IDH de 0,696 que la ubicaba en la posicin media en el pas, ocupando el
lugar 136 dentro del total de 341 comunas (PNUD, 2004). En el ao 1994
se ubicaba en el puesto 152, lo que explica el 21,1% de reduccin de brecha
para el periodo 2003-1993. Lamentablemente an no se dispone de cifras
para el ao 2015, pero siguiendo la tendencia observada se esperara que
la comuna contine escalando posiciones en el ranking del pas, ya que es
el patrn que ha experimentado la totalidad de comunas de la Regin del
Biobo.
Por su parte, la pobreza ha ido disminuyendo desde la dcada de 1980.
La encuesta Casen ao 2011 muestra un aumento del nivel de pobreza res-
pecto al ao anterior (Tabla 3), sin embargo hay que tener presente que Los
ngeles tena casi un 40% de pobreza el ao 1994. Es importante mencio-
nar que ese instrumento de medicin ha sido objeto de algunas crticas por
la metodologa empleada y la comparabilidad de sus datos.
En el mbito urbano, la pobreza presenta una significativa heteroge-
neidad; entre las ciudades chilenas se observa una amplia variacin de un
7,2% a un 25% (OCDE, 2013). El estudio de la OCDE (2013) muestra que
los niveles de pobreza crecen en las reas urbanas donde tpicamente se
muestran tasas de pobreza relativamente bajas, mientras que declina en las
reas urbanas que han tenido registros peores en el pasado. Se sugiere que

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292 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

esto se debera probablemente a patrones de migraciones domsticas. En


ese sentido, algunas ciudades como Curic, en la Regin del Maule, han
experimentado aumentos extraordinariamente altos, doblando su tasa de
pobreza en el periodo 2006-2011.
Para el caso de Los ngeles, la pobreza ha tendido un comportamiento
oscilante entre el periodo 2003-2011: la poblacin en condicin de indigen-
cia ha aumentado un punto porcentual en estos ochos aos, alcanzando un
5,5% al 2011; la poblacin que vive en condicin de pobreza no indigente ha
disminuido casi 10%; mientras que la pobreza total tambin ha disminuido,
registrando un valor de 17,7% muy similar al total nacional y ms de 3% por
debajo de la Regin del Biobo (Tabla 3).

Tabla 3: Chile, Regin del Biobo, Los ngeles. Porcentaje de poblacin segn condicin de
pobreza. 2003-2011.
Nivel Indigentes (%) Pobreza no indigente (%) Total pobreza (%)
territorial 2003 2006 2009 2011 2003 2006 2009 2011 2003 2006 2009 2011
Los ngeles 4,49 3,70 6,66 5,50 21,37 13,61 16,83 12,20 25,86 17,31 23,49 17,70
Regin del 8,40 5,20 5,16 4,50 19,60 15,50 15,81 16,90 28,00 20,70 20,97 21,40
Biobo
Pas 4,70 3,20 3,74 2,80 18,70 13,70 11,38 14,40 23,40 16,90 15,12 17,90
Fuente: Encuesta Casen 2003, 2006, 2009 y 2011. Organizado por Cristin Henrquez.

Al examinar la variacin en los ingresos totales de hogares segn condi-


cin socioeconmica para el periodo 2003-2011, se observa una disparidad
en la distribucin especialmente entre el grupo de indigentes y del resto
de las categoras (Tabla 4). El ingreso monetario del hogar se compone
del ingreso autnomo del hogar y las transferencias monetarias que recibe
el hogar de parte del Estado, los que incluyen las pensiones asistenciales,
los subsidios de cesanta, los subsidios nicos familiares, las asignaciones
familiares, el subsidio al consumo de agua potable y otros subsidios. Para
el grupo indigente se observa una condicin de pobreza importante, aun-
que en la dcada de los aos 1990 la situacin era mucho peor. En cambio
se observa un mejoramiento de las condiciones de la poblacin pobre no
indigente en valores incluso superiores a los experimentados por la ciudad
media de Chilln (Henrquez; Arenas; Henriquez, 2012). La poblacin no
pobre y poblacin total tambin presenta niveles superiores a los de la ciu-
dad mencionada y a los promedios regionales.

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Tabla 4: Los ngeles. Promedio de ingreso total de hogares (pesos chilenos) segn condicin de
pobreza. 2003-2011.
Condicin pobreza Aos Ingreso total hogar ($)
Indigentes 2003 76.972,5
2011 76.733,1
Variacin (%) -0,3
Pobreza no indigente 2003 170.086,0
2011 230.632,4
Variacin (%) 35,6
No pobres 2003 520.351,7
2011 692.360,8
Variacin (%) 33,1
Total 2003 425.582,3
2011 611.860,9
Variacin (%) 43,8
Fuente: Encuesta Casen 2003, 2006, 2009 y 2011. Organizado por Cristin Henrquez.
Nota: Valores de ingreso sin ajustar.

Por otro lado, el nivel de cobertura de servicios bsicos en la ciudad es


satisfactorio. Casi el 100% de las viviendas cuenta con abastecimiento de
agua potable y el 94% con sistema de evacuacin de excretas. El suministro
actual de agua potable a cargo de la empresa de Essbio es suficiente para
abastecer la demanda actual, aun cuando existe dficit en temporada de alto
consumo. El ao 1997, se construy una planta elevadora de aguas servidas
en el sector Paillahue, as como la implementacin de diversos colectores,
tambin propiedad de Essbio.
De un punto de vista espacial (Figuras 16 y 17), se destaca el sector
oriente como el sector ms deficitario: ms del 5% de las viviendas tiene
sistema sanitario inadecuado y ms del 90% est sin red de agua potable.
Sin embargo, eso debe interpretarse con precaucin, ya que en ese sector
se concentran viviendas de altos ingresos bajo la modalidad de parcelas de
agrado, las cuales por emplazarse en medio campestre no cuentan con los
accesos de redes y servicios urbanos, pero s cuentan con soluciones parti-
culares como fosas spticas, pozos de agua o sistemas de agua potable rural.
Otro dato interesante corresponde al grado de victimizacin de la ciu-
dad familias que tienen al menos un integrante que ha sido vctima de un
delito: en el caso de Los ngeles corresponde a 15,2%, valor muy por deba-
jo del promedio nacional que asciende a 24,8% (lvarez, 2015). Eso refleja
un rasgo positivo de ese tipo de ciudades, donde los problemas de seguridad
an no alcanzan los niveles de las grandes metrpolis.

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Figura 16: Los ngeles. Viviendas con abastecimiento de agua potable. 2002.

Figura 17: Los ngeles. Viviendas con sistema sanitario inadecuado o carente. 2002.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 295

4.2. Transformaciones del hbitat urbano

A partir de la dcada de 1950, la ciudad de Los ngeles comienza a


sufrir transformaciones de la estructura morfolgica urbana tradicional. El
trazado urbano conformado por el casco antiguo, en forma de damero, co-
mienza a expandirse en todas direcciones, aunque fundamentalmente hacia
los sectores oriente y poniente y en funcin de un nuevo estilo de diseo
urbano que surge de la aplicacin de las polticas urbanas emprendidas por
el Estado, a travs de la Corvi y luego el Serviu (Ilustre Municipalidad de
Los ngeles, 2000). En general se trata de viviendas de uno o dos pisos, a
excepcin del centro, donde se presentan algunos edificios de ms de cuatro
pisos, as como intervenciones estatales especficas.
La trama urbana se adapta a las condiciones fsicas del terreno y se
racionaliza el uso de suelo urbano destinado a la vivienda, especialmente
la vivienda social. La existencia de los esteros Quilque y Paillihue, que
atraviesan la ciudad en sentido oriente-poniente, sobre todo el primero,
que atraviesa la ciudad por su zona central, establecen sendos quiebres
en la trama urbana. Esas condiciones si bien son recogidas parcialmente
por el Plan Regulador de la poca como zonas especiales en las riberas, no
permiten la incorporacin de los esteros como una estructura ordenadora
de la ciudad, por ejemplo, con la conformacin de un sistema de reas ver-
des que incluya los cauces (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2000).
Cifras recientes estiman una escasa cantidad de reas verdes en la ciudad:
2,83 metros cuadrados de reas verdes por persona, en circunstancia que la
OCDE sugiere 18 metros cuadrados por persona (lvarez, 2015).
Como en prcticamente todas las ciudades de Chile, entre los diversos
barrios y poblaciones se reconoce una marcada segregacin y segmentacin
socioeconmica. Las poblaciones ms modestas se localizan hacia el sur
de la ciudad, las intervenciones de vivienda social hacia el poniente y la
vivienda de estratos medio y alto hacia el nororiente (Ilustre Municipalidad
de Los ngeles, 2000). A eso debe agregarse la condicin de segregacin
ambiental, ya que muchas poblaciones se localizan en las cercanas de los
esteros mencionados, que recurrentemente inundan las viviendas cercanas
al cauce.

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Los ngeles, al igual que las grandes ciudades, no est exento de la


tipologa de vivienda derivada de la utilizacin de terrenos agrcolas subdi-
vididos en 5 mil metros cuadrados, bajo la etiqueta de parcelas de agrado,
supuestamente destinadas a conservar el carcter rural de una zona, pero
que corresponden la mayor parte de las veces a condominios privados des-
tinados a los estratos altos. Estas tambin comienzan aparecer en el sector
poniente, pero bastante alejadas del centro (Figura 18). La presin por
terrenos agrcolas productivos circundantes es uno de los principales con-
flictos urbanos junto con los de acentuacin de los niveles de segregacin
del hbitat urbano, congestin y contaminacin del aire. Al respecto, se han
registrado 48 episodios de contaminacin atmosfrica en la ciudad el ao
2013 (lvarez, 2015), fundamentalmente por el uso extensivo de lea para
calefaccionar las viviendas en invierno.
Como se mencion en el Captulo 2, el espacio para el desarrollo indus-
trial se ha dispuesto en el acceso norte y sur de la ciudad en funcin de la
vialidad estructurante correspondiente a la ruta panamericana, a excepcin
de las industrias Iansa y Nestl, localizadas en zonas especiales.
Por otra parte, el antiguo Plan Regulador Comunal de 1991 y modifica-
do el 1999 estima una superficie urbana de 1.484 hectreas sin incluir Villa
Gnesis, que no se encontraba dentro del lmite urbano, aspecto que se
examinar en el prximo punto. Por otro lado, la poblacin urbana al 2002
era de 121.565 habitantes, lo que se traduce en una densidad de 81,9 habi-
tantes/ha, cifra levemente superior a la mayora de las ciudades chilenas del
valle central. El nuevo lmite urbano definido en el Plan Regulador Comu-
nal de 2007 de Los ngeles propone una superficie de 3.773,07 hectreas
y respeta prcticamente en su totalidad el trazado y forma urbana definida
por el antiguo lmite urbano, esto principalmente debido al hecho de que
el instrumento vigente an otorga bastante suelo urbano sin consolidar
(Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005, p.53), pero regularizando
otros sectores urbanos ya consolidados. Ese instrumento proyecta una po-
blacin de 190.016 habitantes para el ao 2032.
En consecuencia, existe una oferta de terrenos para los futuros proyectos
residenciales, servicios, industriales y comerciales, cuyos propietarios en su
mayora corresponden a empresas inmobiliarias y personas naturales (Fi-
gura 19). El control de estos espacios presupone procesos de especulacin,

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 297

especialmente considerando que se espera que la ciudad siga creciendo, por


lo que las demandas por viviendas, sectores industriales, etc. seguirn en
aumento.

Figura 18: Los ngeles. Hbitat urbano. 2008.

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Figura 19: Los ngeles. reas vacas segn propietario. 2009.

De todas formas, estudios prospectivos como los realizados por Hen-


rquez; Azcar; Romero (2006), Aguayo et al. (2007) y Henrquez (2014),
suponen que a pesar de la existencia de lmites urbanos definidos por el Plan

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 299

Regulador para ordenar el crecimiento urbano, continuarn expandindose


condominios, parcelas de agrado y zonas industriales fuera de estos lmites.
Al respecto, el estudio de Henrquez (2014) aborda el proceso de difusin
urbana examinando los patrones de cambio de uso del suelo sobre el espacio
y el tiempo en las ciudades de Los ngeles y Chilln. Para ello se ha escogi-
do la distancia a ciertos objetos geogrficos, tales como el centro de la ciudad
y las vas principales,1 por tener importantes implicancias en el crecimiento
urbano, para el periodo 1978-2013 en ambas ciudades (Henrquez, 2014).
Respecto a la distancia al centro de la ciudad, se puede establecer que
no es un factor limitante al crecimiento urbano de la ciudad de Los n-
geles. Ello se debera a que la accin gravitatoria del centro urbano no es
tan clara como la distancia a las vas principales. El comportamiento de la
curva de decaimiento por distancia al centro de Los ngeles es similar a
la de Chilln, pero los dos mximos identificados difieren en intensidad y
posicin. El primer tramo llega a su mxima intensidad a los 3 mil metros,
al igual que en el caso de Chilln, luego comienza el descenso hasta los 5 mil
metros; todo este trayecto representa 68,1% del cambio de uso de suelo ur-
bano. El segundo mximo se presenta a los 5,5 mil metros, en una posicin
mil metros ms alejada que Chilln. Desde ese punto empieza un declive
constante hasta los 9 mil metros; todo ese tramo equivale a 31,8% del cam-
bio de uso de suelo urbano. En trminos comparativos, este segundo mxi-
mo es de menor intensidad al de Chilln, pero ms distanciado del centro,
lo que significa que la ciudad de Los ngeles es una ciudad ms extendida
sobre la periferia rural (Henrquez, 2014).
Sobre el segundo elemento de anlisis, correspondiente a la variacin
de las celdas urbanizadas respecto a la distancia a las rutas principales, se
observa que las curvas de decaimiento por distancia son casi idnticas en
ambas ciudades. Los primeros 500 quinientos metros de distancia a las rutas
principales representan 61,7% y 62,6% del cambio de uso de suelo urbano en
Chilln y Los ngeles, respectivamente. Al agregar la franja de 500 metros
siguientes se explica 83,8% y 87,4%. Eso significa que dentro de los primeros
mil metros se explica casi la totalidad del cambio. Dentro del rea de influen-
cia de los 2,5 mil metros de distancia se presenta 94,7% y 97,5% del cambio

1 Se ha realizado un anlisis buffer en el SIG ArcGIS, de cambio urbano para el periodo 1978-
2013, cada 500 metros, en funcin del centroide de cada ciudad y de las vas principales
(Henrquez, 2014).

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300 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

de uso urbano, respectivamente. Finalmente, a los 3 mil metros de las vas


principales, se cubre el 100% de la expansin urbana (Henrquez, 2014).
Del anlisis efectuado, se desprende un claro y nuevo patrn de crecimien-
to urbano en ambas ciudades, representado por una expansin horizontal a
distancias cada vez mayores del centro y donde se destaca el efecto gravita-
torio de las vas de acceso en el cambio de uso urbano. Ese patrn disperso
impacta fuertemente en la fragmentacin del paisaje (Henrquez, 2014).
Pese al continuo crecimiento experimentado por la ciudad de Los n-
geles en las ltimas dcadas, principalmente de manera no continua y a
mayores distancias del centro histrico, dicho proceso pareciera estar dis-
minuyendo; o al menos a futuro las dinmicas seran ms moderadas. Ade-
ms, las seales del sector municipal tenderan a revertir esa tendencia
mediante la proposicin de medidas que priorizan la renovacin, revitaliza-
cin y verticalizacin de espacios ms centrales. Sin embargo, la evaluacin
ms detallada del proceso de crecimiento o decrecimiento futuro de ese tipo
de ciudades y sus patrones de uso del suelo resultantes y procesos socioes-
paciales concomitantes deber considerar necesariamente otra serie de va-
riables y/o factores que, directa o indirectamente, lo condicionan, limitan
o potencian. Entre estos ltimos, especial atencin merecen el ritmo de las
inversiones y su distribucin territorial, los cambios sociodemogrficos de
largo aliento y sus efectos sobre los asentamientos urbanos y zonas rurales
adyacentes, las tendencias observadas en la especializacin productiva y
funcional de la ciudad, en funcin de su integracin y/o vinculacin con sus
entornos regionales y los mercados de bienes y servicios locales, regionales,
nacionales e internacionales (Azcar et al., 2008). El sector forestal, agroin-
dustrial y quizs el sector energtico podran ser vectores determinantes de
esa dinmica en el futuro. Como indica el estudio de Azcar et al. (2008):

[...] importantes procesos de cambio an pueden ser observados en las zonas


rurales que circundan la ciudad de Los ngeles, con la incorporacin paulatina
de suelos agrcolas al desarrollo urbano, principalmente para usos residenciales,
pero tambin con el surgimiento de pequeos asentamientos urbanos de apoyo,
en trminos de reserva de mano de obra, a ciertas actividades industriales, como
es el caso del sector forestal industrial, agroindustrias y centros de distribucin
y almacenamiento de recursos naturales. Desde ese punto de vista, existen
claros elementos de diferenciacin social y espacial de estas reas de borde, de
rpido crecimiento en las ltimas dcadas, respecto de otras reas urbanas de

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 301

la ciudad: una mayor complejidad en trminos de usos del suelo y orientacin


productiva; el mantenimiento de estructuras propiamente agrarias y nuevos
elementos urbanos; la existencia de reservas de mano de obra y; la valorizacin
econmica de espacios rurales sometidos a presiones de cambio de uso del
suelo. (Azcar et al., 2008, p.124)

Tal situacin no puede ser considerada novedosa y, en cierta medida, es


comparable con lo ocurrido en otras ciudades del pas, como Santiago, Talca,
Chilln y Temuco. En otras palabras, se observan patrones de cambio del
uso del suelo similares y unas diferenciaciones socioespaciales conducidas
bsicamente por el mercado inmobiliario y, en menor medida, por las polti-
cas de vivienda y las opciones-status de los residentes (Azcar et al., 2008).
En la bsqueda de explicaciones de esas transformaciones surge la dife-
renciacin social como importante factor para los sistemas ecolgicos hu-
manos como la ciudad. Esa diferenciacin afecta la asignacin de recursos
crticos, incluidos recursos naturales, socioeconmicos y culturales (Grove,
1997; Pickett et al., 2001). En ese sentido, y de acuerdo al enfoque utili-
zado por Henrquez (2014), cinco tipos de jerarquas socioculturales son
relevantes en los patrones y procesos de los sistemas ecolgicos humanos:
riqueza, poder, estatus, conocimiento y territorio (Burch; Deluca, 1984).
Estos criterios han sido relacionado con el nmero de unidades urbanas
homogneas,2 las que han aumentado durante los ltimos treinta aos:
entre 1982 y 2012 se pas de veinte parches a ms de 160 parches urbanos.
Respecto a la riqueza3 se ha usado un indicador que permita diferenciar
los grupos de poblacin de extrema pobreza pobres crnicos, recientes e
inerciales de la poblacin no pobre, que incluyen entre otros grupos a los
ricos y a la extrema riqueza. De acuerdo a esto, se observa una evolucin

2 Tambin denominados parches, en el lenguaje de la ecologa del paisaje.


3 Esa variable se representa como el porcentaje de poblacin no pobre de acuerdo al mtodo
integrado de medicin de la pobreza (MIP), propuesto por el PNUD (1990) e Ilpes (1995),
que considera la combinacin de los mtodos de necesidades bsicas insatisfechas (NBI),
relativo a las carencias fsicas de las viviendas, y el de lnea de pobreza (LP), que mide indirec-
tamente el ingreso en funcin de la vulnerabilidad social del jefe de hogar. El cruce de ambos
mtodos determina tres tipos de pobreza, segn la caracterizacin hecha por Kaztman (1989):
pobreza crnica, pobreza inercial y pobreza reciente, y una cuarta categora denominada no
pobres. Para ello se ha usado el programa Redatam para procesar los datos de los censos de
1982, 1992 y 2002. Para el 2012, no se pudo usar la base de Redatam para aplicar ese mtodo,
ya que esta base an no est disponible, por lo que se emple los datos comunales de pobla-
cin urbana de la encuesta Casen ao 2011 (poblacin que no est en condicin de pobreza).

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positiva del nmero de poblacin no pobre concomitante al nmero de


parches urbanos, en el perodo observado: se pas de 56,4% de poblacin no
pobre en 1982 a 83,7% el 2012. Se aprecia una relacin directa entre el me-
joramiento sustantivo en las condiciones socioeconmicas de la poblacin y
la presencia de parches conformados por condominios privados y parcelas
de agrado que se instalan en las afueras de la ciudad (Henrquez, 2014). Ese
progreso en las condiciones sociales tambin se puede observar al revisar el
aumento del ingreso promedio del hogar, en funcin de los datos propor-
cionados por la encuesta Casen. En la comuna de Los ngeles aument de
419.702 a 630.619 pesos chilenos,4 en el perodo 1992-2011 (Mideplan,
1997, 2002; Ministerio de Desarrollo Social, 2011).
Por su parte, la variable poder se cuantific a travs del porcentaje de
hogares con autos particulares por hogar. Ac se observa un crecimiento so-
bresaliente a lo largo de los aos respecto a la cantidad de parches urbanos,
donde ms de dos quintas partes de los hogares poseen auto particular. Esa
gran variacin se debe a una de las caractersticas ms distintivas del proce-
so de urbanizacin y diferenciacin socioespacial en ciudades chilenas: esto
es, a la posesin de automvil particular (Henrquez, 2014).
El auto es un smbolo de poder y de diferenciacin de clases sociales.
Las clases pudientes poseen uno, dos o ms autos por hogares, y lo uti-
lizan como medio de transporte, para desplazarse a distancias cada vez
ms mayores entre la casa y el trabajo. Esa tendencia se ve acentuada por
las deficientes condiciones del sistema de transporte pblico urbano, en
cuanto a la cantidad de tiempo de desplazamiento, niveles de seguridad y
de comodidad. Es importante destacar que, si bien la cantidad de autos por
hogar aument en ms de cinco veces entre 1982 y 2012 (de 12,5% a 43,1%),
el nmero de hogares en ambas ciudades se increment casi solo dos veces.
De todas formas, la posesin del automvil particular es un importante
factor de diferenciacin de grupos sociales, especialmente aquellos hogares
que poseen ms de un automvil por hogar vinculados a los sectores de baja
densidad habitacional (Henrquez, 2014).
El vector estatus se midi a travs del porcentaje de poblacin que ocupa
cargos directivos y profesionales respecto a la poblacin total. Ese indicador
ha presentado un comportamiento estable en el tiempo, variando de 3,5% en
1982 a 5,5% el 2012. A pesar del bajo crecimiento experimentado, el arribo

4 Valores normalizados a pesos chilenos del 2012.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 303

de nuevos profesionales y ejecutivos ligados a las principales actividades eco-


nmicas se puede relacionar con la instalacin de industrias de celulosa, acti-
vidades agropecuarias y de agronegocios. En las cercanas de Los ngeles se
han conformado nuevos barrios residenciales para ese tipo de profesionales
(Azcar et al., 2007) y tambin zonas industriales alejadas del centro, prin-
cipalmente instaladas a lo largo de la ruta Panamericana (Henrquez, 2014).
La variable conocimiento se estim de acuerdo al porcentaje de pobla-
cin que declara tener educacin superior tcnica y universitaria. El indi-
cador de conocimiento se asocia fuertemente con el grado de fragmentacin
urbana. Por tal motivo se puede decir que es uno de los factores ms im-
portante en la explicacin del fenmeno. En el marco temporal examinado
existe un notable cambio en la estructura educacional de la poblacin, pues
ha pasado de un porcentaje de poblacin con educacin superior universi-
taria o tcnica de 3,8% en 1982 a un 7,6% el 1992, y luego sigui acrecentn-
dose de 16,9% el 2002 a un 20% el 2012. De ese comportamiento se puede
desprender que existe una interesante relacin entre el nivel cultural de la
poblacin y el emplazamiento disgregado de la ciudad, considerando que
tal proceso es liderado por la poblacin con mayor poder adquisitivo y, por
ende, con mayor nivel educacional. De esa forma, el factor cultural, repre-
sentado por el nivel educacional, pesa mucho al momento de elegir el lugar
dnde vivir, y en el caso de esta ciudad parece tratarse de sitios aislados y
alejados del centro (Henrquez, 2014).
Finalmente, el indicador de territorio, estimado a travs de la relacin de
cantidad de personas por vivienda particular, muestra una relacin inversa
con el crecimiento de parches urbanos. La variacin en el perodo es nega-
tiva: de 4,6 habitantes por vivienda en 1982 a 3,1 habitantes por vivienda
en 2012. Si bien el indicador no hace alusin al tamao fsico de la vivienda, se
aprecia que estas cada vez albergan a menos personas, confirmando un pro-
ceso que sucede asimismo a nivel urbano nacional, referido a la aparicin
cada vez ms frecuente de familias ms reducidas y de hogares unifamilia-
res. En el caso de Los ngeles, las demandas habitacionales de familias cada
vez ms pequeas en promedio tres personas por vivienda se expresaran
en la necesidad de mayores espacios para urbanizar de manera horizontal o
segundas residencias.
Todo ese conjunto de fuerzas motrices, junto a otro tipo de factores de
crecimiento urbano actividades comerciales, industriales y de servicios ,

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304 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

permiten afirmar que la tendencia de esta ciudad media seguir activa, al


menos en el corto y mediano plazo (Henrquez, 2014), siendo la tipologa de
parcelas de agrado y condominios privados en Los ngeles muy buenos
ejemplos de la aplicacin de esas fuerzas, as como manifestacin concreta
de los patrones y procesos de diferenciacin social observadas en la ciudad.
Por otro lado, en Los ngeles se est produciendo un proceso de enve-
jecimiento de la poblacin y aparicin de nuevas vulnerabilidades sociales,
como los adultos mayores, lo que plantea enormes desafos a la poltica y
gestin urbana para ese tipo de ciudades. Otros retos corresponden a la
necesidad de establecer mecanismos regulatorios de planificacin local,
urbana y rural, que permitan mantener los equilibrios necesarios entre las
demandas de suelo urbano y el objetivo estratgico de conservar suelos
agrcolas de alta productividad que, en el caso de Los ngeles, son la base
de importantes procesos de produccin alimentaria (Azcar et al., 2008).
Muchos de esos elementos son desafos para la nueva Poltica Nacional
de Desarrollo Urbano, Ciudades Sustentables y Calidad de Vida, promul-
gada el 2013. En ella se proponen cinco mbitos temticos: integracin
social, desarrollo econmico, equilibrio ambiental, identidad y patrimonio
(Henrquez, 2014).
La desigualdad socioeconmica de la poblacin tiene su correlato en
un mayor grado de polarizacin socioespacial, supuesto basado en que las
regulaciones polticas y de mercado en la asignacin del suelo urbano son
claves, como tambin las preferencias y oportunidades de eleccin de los
individuos. En Los ngeles, y a pesar de la marcada diferenciacin social y
espacial de la poblacin, es posible identificar ciertos mecanismos de inte-
gracin entre grupos sociales, por lo menos en el mbito laboral. En algu-
nas zonas como el distrito Humn, remanente de un antiguo poblamiento
agrario originado en el proceso de Reforma Agraria en los aos 1970, se
presenta una reserva de mano de obra en una zona con un fuerte desarrollo
de proyectos inmobiliarios, generndose una demanda efectiva de empleo
y de ciertos bienes, no slo para actividades de construccin, sino tambin
de servicios personales para los residentes de condominios y parcelas de
agrado de alto estndar social (Azcar et al., 2008).
En sntesis, por la escala de la ciudad se puede decir que conviven aspec-
tos positivos y negativos de integracin y diferenciacin social que requie-
ren de mayor atencin por parte de los tomadores de decisin.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 305

4.3. Condiciones de vivienda

En esta parte se abordan aspectos relacionados con caractersticas de


la vivienda en la ciudad de Los ngeles que inciden en las condiciones de
habitabilidad, hacinamiento, entre otros aspectos que inciden en la calidad
de vida urbana.
De acuerdo la informacin proporcionada por el Plan de Desarrollo Co-
munal, la demanda por vivienda social excede considerablemente la oferta.
La unidad tcnica de la Delegacin Provincial del Biobo, Serviu Regin del
Biobo, registra a la fecha 9.812 postulantes a subsidio habitacional; 8.767
familias postulan a vivienda bsica y 1.045 a vivienda progresiva Etapa 1,
demanda que es ms del doble de las viviendas construidas durante la lti-
ma dcada de los aos 1990 (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2000).
Por otra parte, respecto a la tenencia de propiedad de la vivienda, el Ar-
chivo Comunal CAS registra un total de 12.566 familias no propietarias en
la comuna, de las cuales 7.083 viven en la ciudad, donde 2.157 arriendan y
4.926 usan el sitio sin mediar una relacin formal de arrendamiento.
La morosidad en el pago de dividendos o crditos hipotecarios es un
problema fundamentalmente urbano. El total de propietarios con deudas
atrasadas de la comuna residen en la zona urbana, alcanzando el nmero
de familias morosas a 661, las que en un 90,2% son residentes de la uni-
dad vecinal Bernardo OHiggins y Paillihue; 284 y 312 familias deudoras,
respectivamente.
La inversin en vivienda social efectuada durante la ltima dcada ha
contribuido al mejoramiento global en materialidad de las viviendas en la
comuna. Entre el ao 1990 y 1999, 4.417 familias accedieron a vivienda
social a travs de los programas de subsidios habitacionales en sus diversas
modalidades; 2.828 viviendas bsicas, 556 viviendas progresivas y 1.033
viviendas del programa especial para trabajadores. Adicionalmente, du-
rante el ao 1999, a travs del Programa Chile Barrio, la comuna de Los
ngeles prcticamente erradic la totalidad de las familias que habitaban
en condiciones de campamento o de extrema precariedad habitacional,
favorecindolas con 301 soluciones habitacionales.
En consecuencia, podemos indicar que en Los ngeles existen tres asen-
tamientos precarios menores o microcampamentos pequeos que estn en
proceso de readecuacin y mejoramiento. Estos involucran setenta familias
(Cuadro 8).

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306 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

Cuadro 8: Los ngeles. Campamentos. 2007.


Campamentos Familias Situacin de la vivienda

El Tringulo 30 Se encuentran ubicados en terrenos de Empresa Ferrocarriles


del Estado
Tucapel 17 Desconocida
El Consuelo 23 Casetas sanitarias incompletas usadas como viviendas, se
pretende cambiarlas a un nuevo proyecto habitacional
Fuente: Informacin recopilada por Jenniffer Thiers, proporcionada por Un Techo Para Chile, 2007.

Por otro lado, el dficit habitacional de la comuna de Los ngeles, de


acuerdo al Departamento Estudios Ditec en base al procesamiento de datos
del Censo 2002 del Ministerio de Vivienda y Urbanismo, alcanza a 5.495
viviendas, de las cuales 4.741 corresponden a necesidad de nueva vivienda.
En trminos de requerimientos de construccin, presenta un dficit de
39 viviendas cada mil habitantes (Ministerio de Vivienda y Urbanismo,
2004). Los principales motivos son viviendas irrecuperables (17,1%), ho-
gares allegados (44,7%) y hogares allegados hacinados (38,1%). A nivel na-
cional se ubica en el puesto sexto respecto a las comunas con mayor nivel de
demanda de vivienda cada mil habitantes; entre la ciudad de Puerto Montt
(quinto) y Valdivia (sptimo). Esas categoras podran ser superiores si se
considera los efectos destructivos del terremoto de febrero 2010 sobre las
viviendas y que afect a las ciudades de la Regin de OHiggins hasta la
Regin del Biobo.
En trminos evolutivos, el dficit de vivienda en la comuna se ha mante-
nido en el rango de 5 mil a 10 mil requerimientos, entre los censos de 1992
y 2002, situacin que comparte con la comuna de Concepcin de la Regin
del Biobo. Nuevos antecedentes sealan un dficit habitacional para la
ciudad de 6.138 viviendas (lvarez, 2015).
A travs del procesamiento de datos censales ao 2002 mediante el
programa Redatam, se ha calculado el nmero de allegados externos en el
hogar, que corresponde al nmero de carencias habitacionales generadas
por la cohabitacin en una misma vivienda de dos o ms hogares censales,
esto es, grupos de personas que declaran disponer de presupuesto indepen-
diente para cocinar. De esa forma, el excedente de hogares por vivienda en
Los ngeles asciende a 2.710 hogares.
Tambin se ha procesado el allegamiento interno que se refiere al conteo
de unidades familiares que, sin constituir hogares censales, representan de-

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 307

manda habitacional. Estas unidades tambin se les denominan ncleos se-


cundarios, y pueden ser identificadas mediante las relaciones de parentesco
entre sus miembros y el jefe de hogar principal. En funcin de los estudios
de Celade y Minvu se definen los siguientes tipos de ncleos secundarios
(Minvu, 2007):

(1) ncleos de hijos(as) determinados segn presencia de yernos o nueras (que


se constatan por la presencia de uno o ms yernos o nueras del jefe de hogar);
(2) ncleos de hijos(as) no solteros(as) (definidos por la presencia de uno o ms
hijos del jefe de hogar cuyo estado civil es casado, separado o viudo siempre y
cuando no se registre la presencia de yernos o nueras, o bien cuando el nmero
de hijos en esta condicin exceda al nmero de yernos o nueras);
(3) ncleos de hijas que sean madres solteras (establecidos cuando se contabi-
liza la presencia de una o ms hijas del jefe de hogar que declaran haber tenido
uno o ms hijos nacidos vivos, en exclusin de hogares que cuenten con yernos
o nueras);
(4) ncleos de padres o suegros (contabilizados cuando se verifica la presencia
de dos o ms miembros que son padres o suegros del jefe de hogar);
(5) ncleos de hermanos o cuados (contabilizados cuando se verifica presencia
de hermanos o cuados del jefe de hogar);
(6) ncleos de otros parientes (contabilizados cuando se verifica presencia de
dos o ms personas que califiquen como otros parientes del jefe de hogar);
(7) ncleos de no parientes (contabilizados cuando se verifica presencia de no
parientes del jefe de hogar).

De ese anlisis es posible determinar un total de 3.393 ncleos secunda-


rios allegados en Los ngeles. Muchos de esos anlisis debieron ser actua-
lizados con los datos del censo de poblacin y vivienda del 2012, los cuales,
como se ha sealado, no son oficiales debido al fracaso de ese ejercicio, por
lo que solo cabe esperar el censo abreviado del 2017.

4.4. Asentamientos irregulares

El estudio de patrones de crecimiento urbano en ciudades chilenas se


clasifica, muchas veces, como espontneo e irregular. Eso queda muy pa-

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tente en el caso de Villa Gnesis, asentamiento ubicado en la periferia po-


niente de la ciudad de Los ngeles, a unos 4,5 kilmetros del centro, el cual
posee caractersticas muy particulares por su escala e impronta en el paisaje
urbano de la ciudad. Ese ejemplo nos permite dimensionar la gran veloci-
dad de las transformaciones urbanas en ciudades medias y la fuerza de las
presiones habitacionales que sobrepasan los conductos regulares de gestin
urbana, e incluso trasgreden los marcos legales e institucionales, poniendo
en entredicho las capacidades de la planificacin y gobernanza local.
En estricto rigor, Villa Gnesis no corresponde a un asentamiento pre-
cario o campamento marginal,5 sino que corresponde a un loteo espontneo
de viviendas de autoconstruccin al margen del Plan Regulador Comunal
en la periferia rural. Sus orgenes se remontan a la dcada de 1990, cuando
se juntaron alrededor de 2 mil pobladores, de distintos niveles socioecon-
micos, que tenan necesidad de poseer una vivienda propia y se organizaron
en comits de distintas partes de la ciudad de Los ngeles. Se reunieron y
formaron diecisiete comits, los que con sus propios recursos fueron de-
positando en el banco y juntaron los dineros para comprar un sitio en el
sector rural.
Esa iniciativa nace por el deseo de los vecinos tener terrenos ms grandes
para hacer sus viviendas, respecto a la oferta de proyectos inmobiliarios de
empresas como Socovesa u otras, las cuales son financiadas parcialmente
por subsidios estatales a travs del Ministerio de Vivienda y Urbanismo. De
esa forma, los vecinos organizados no se encontraban satisfechos con esas
soluciones habitacionales al interior de la ciudad y buscaron una alternativa
para poder cumplir con esas aspiraciones mediante la creacin de un comit
de allegados.
De esa manera, se compr un sitio de 60,1 hectreas y la comunidad
design un encargado para asesorar la subdivisin de lotes, diseo de man-
zanas, caminos y espacios comunes. Todo ese proceso se fue desarrollando
de manera muy informal con muchas dificultades, pero que fue tomando
fuerza gracias a la organizacin interna de los vecinos (Figuras 20 y 21).

5 En Chile se le denomina toma cuando un grupo de pobladores ocupa ilegalmente un sitio,


autoconstruyendo viviendas de condiciones precarias.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 309

Figura 20: Los ngeles. Acceso a Villa Gnesis. 2008.


Fuente: Fotografa tomada por Cristin Henrquez.

Figura 21: Los ngeles. Viviendas Villa Gnesis. 2008.


Fuente: Fotografa tomada por Renato Pequeno.

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310 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

El loteo est atravesado por el by pass de la ruta panamericana que se


construy posteriormente; el sector oriente bautizado como Villa Gnesis
comprende una superficie de 45 hectreas, para la cual el Servicio Agrcola
y Ganadero del Ministerio de Agricultura autoriz el cambio de uso de
suelo para uso habitacional. En ese sector se dividieron los lotes de 500 me-
tros cuadrados (entre 400 y 600 metros cuadrados), pero luego se hicieron
modificaciones a esas asignaciones por algunos dirigentes que ocasionaron
problemas. Debido a malas prcticas, se transform en un loteo brujo, ya
que algunos dirigentes se aprovecharon de la ignorancia de la gente, debido
a que despus de definidos los sitios vendieron dos o tres veces cada sitio a
distintos vecinos (Figura 22). De esa forma, cada vecino compr derechos
para ser dueo de un lote de 500 metros cuadrados en promedio y fueron
construyendo viviendas sin una regulacin por parte de las autoridades
locales y sectoriales, como seala uno de los miembros de la coordinadora
de comit de allegados.

Figura 22: Los ngeles. Plano de ubicacin de lotes de Villa Gnesis. 2008.
Fuente: Fotografa tomada por Renato Pequeno.

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 311

En el diseo original de Villa Gnesis se consider un lote para equipa-


miento de escuela, consultorio, servicios para la comunidad, as como otro
pao para reas verdes. Sin embargo, desde el inicio los servicios y equipa-
mientos bsicos como alcantarillado, electricidad y transporte pblico no
fueron considerados.
Por tal motivo, esa villa estaba al margen de la planificacin urbana
porque no tenan autorizado un cambio de uso de suelo de rural a urbano
por parte del municipio, por lo que hasta el ao 2007 no se poda urbanizar.
Con posterioridad a esa fecha, el municipio tuvo que hacer gestiones para
reconocer esa situacin e incorporar esa villa al rea urbana, bsicamente al
aprobar el nuevo Plan Regulador.
En la actualidad y gracias al nuevo Plan Regulador, la villa ya est conso-
lidada. Se cambi a uso de suelo urbano y se disearon vas que mantienen
un ancho de calle estndar. Existe un pozo de agua y una red distribuidora
que es administrada por la comunidad. Luego se comenz a pavimentar las
calles mediante un subsidio del Estado. Tambin, gracias al apoyo estatal,
se comenzaron a regularizar los lotes nuevos y se comenz a suministrar
el servicio de alcantarillado. Paulatinamente fueron instalndose locales
comerciales, de venta de combustible y otras actividades que facilitan la
habitabilidad en la villa.
Sin embargo, la situacin an es irregular en relacin a otros asenta-
mientos parecidos. El dirigente de la coordinadora del comit de allegados
sostiene:

En el caso del sector Duqueco se sanearon los ttulos en el Ministerio de Bie-


nes Nacionales a travs del Artculo 55 de la Ley General Urbanismo y Cons-
trucciones, que permite se puedan constituir conjuntos de viviendas, fuera
del lmite urbano siempre que no superen las mil UF cada vivienda y que no
constituyan nuevas poblaciones. Muchos conjuntos de viviendas informales,
acogindose a ese artculo, normalizaron su situacin y obtuvieron el derecho
a agua potable, alcantarillado, y soluciones particulares, pero no es el caso de
ac (Villa Gnesis) porque el volumen es mucho ms grande, y porque muchas
viviendas valen ms de mil UF.

Hoy en da en Villa Gnesis existe transporte pblico hacia Los ngeles,


pero todas las calles son privadas. El alumbrado lo coloc la municipalidad,

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pero no est regularizado por problemas con los ttulos por lo que no pagan
impuestos. A partir de la distribucin del loteo se tiene claro de quien es
cada sitio, sin embargo, legalmente la villa corresponde a un solo predio,
situado en el campo, donde hay muchas casas particulares.
De acuerdo a lo planteado por el asesor urbano de la Municipalidad de
Los ngeles:

[] los lotes se pueden regularizar a travs del Programa de Mejoramiento


de Barrio (PMB), el cual es un programa nacional que permite regularizar sus
construcciones que an no cumplan con la normas urbansticas. En general se
aceptan tal como estn, y si no cumplen con algunas condiciones como distan-
cias mnimas se corrige, la revisin lo hace el Ministerio (de Vivienda) a nivel
central, no el municipio.

El gobierno aport 73 millones de pesos6 para los proyectos de estudios


de urbanizacin y ahora se aprob 200 millones de pesos para una sala cuna
nios de 0-4 aos , jardn infantil y colegio, adicionalmente se compr
un terreno aledao a la villa para reas verdes. La percepcin de algunos
pobladores es que las autoridades polticas de la poca hicieron poco para
ayudar a Villa Gnesis.
De acuerdo a las aclaraciones del dirigente vecinal son pocos los vecinos
que originalmente fundaron la villa y han vendido, siempre se ha mante-
nido ms o menos el mismo grupo. Algunas personas compraron ms de
un derecho, dos, tres e incluso seis. Es importante sealar que el grupo
nace con la idea de comprar un sitio para luego transformarse en propie-
tario individual. Sin embargo no hay una idea de co/propiedad, lo que ha
generado algunos conflictos entre los vecinos, especialmente en el pago de
servicios comunitarios.
Al respecto, cmo se administra Villa Gnesis? Bsicamente, agrega el
dirigente, mediante una organizacin comunitaria, segn la Ley n. 19.418
y estatutos asociados, se form la coordinadora de comits de allegados,
donde se agrup y se form la directiva. La coordinadora bsicamente ad-
ministra los terrenos. En forma paralela, se forma una junta de vecinos que

6 Un dlar americano (US) equivale a 612 pesos chilenos (valor referencial para el 20 de abril
de 2015).

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AGENTES ECONMICOS E REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL 313

se preocupa de la organizacin comunitaria, caminos y de todos los detalles


comunitarios de la villa. Es importante aclarar que son dos entidades dife-
rentes. Actualmente, la coordinadora ya no tiene sitios, solo est adminis-
trando y trabajando en el plano definitivo de la villa, donde todas las reas
verdes y equipamiento pasarn a ser municipales.
En la actualidad se calculan que viven alrededor de 3 mil personas en
1.080 sitios. Todos los sitios tienen un dueo y se est saneando la cesin
de derechos. Existen sobre seiscientas casas y anualmente se construyen
entre sesenta y ochenta viviendas. La mayora de los adultos sale a trabajar
en actividades de comercio, construccin, el mall, en la madera y muchas
mujeres/dueas de casa trabajan como temporeras de la fruta. Todos los
nios van a la ciudad a estudiar. El dirigente seala:

En la maana vienen buses a buscar a los nios, lo paga la municipali-


dad para los que estudian en colegios municipalizados, tambin hay colegios
subvencionados que tienen buses. El transporte pblico paga los traslados de
nios. Hay micros hasta las 19 horas, la calidad del servicio es regular. La gente
no tiene movilizacin y los colectivos llegan hasta la entrada, luego entran cami-
nando o esperan que alguien los lleve.

Una caracterstica positiva sealada por los vecinos es que hay pocos
problemas de violencia y robo. Los vecinos se han preocupado por la de-
lincuencia. Si aparecen focos de droga los mismos jvenes informan a los
dirigentes para controlar la situacin. Estos hacen actividades para vender
y generan recursos, por ejemplo para financiar viajes comunitarios como
paseos a la nieve. En Villa Gnesis hay muchas iglesias evanglicas7 y en la
actualidad se est instalando una iglesia catlica.

4.5. A modo de sntesis

De acuerdo a los antecedentes vistos anteriormente, la ciudad de Los


ngeles ha experimentado en los ltimos aos un alto ritmo de crecimien-

7 A modo anecdtico, se dice que un grupo de la iglesia evanglica en un paseo comunitario en


las afueras de la ciudad vio el sitio y posteriormente organiz la compra del terreno. De esa
forma, el nombre de la Villa Gnesis se inspira en las lecturas bblicas asociadas a las activi-
dades religiosas de ese grupo.

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314 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

to, producto del explosivo aumento de la actividad forestal y de otras acti-


vidades de carcter industrial-agropecuario.
De ser una tranquila ciudad, cuyas funciones bsicas slo estaban deter-
minadas por las actividades que le eran tradicionales, tales como las indus-
trias elaboradoras de productos agropecuarios y las actividades terciarias
complementarias, pasa a tener un dinamismo que su ritmo de crecimiento
y desarrollo no alcanza a absorber sin que se produzcan trastornos en su
funcionamiento (Ilustre Municipalidad de Los ngeles, 2005, p.41).
Esos cambios han repercutido en la habitabilidad urbana y estructura
social de la ciudad. Actualmente, la vialidad interna se hace insuficiente
para contener los flujos de transporte, la relacin vial con el territorio co-
munal genera conflictos en la circulacin y se perciben problemas de inte-
gracin de los nuevos barrios que se crean, tanto en los sectores adyacentes
como en el resto del rea urbana (Ilustre Municipalidad de Los ngeles,
2005). La red vial juega un rol importante en la estructura urbana de Los
ngeles, especialmente la que rodea al damero central. La presencia de un
by pass de la ruta Panamericana al oriente de la ciudad y otro posterior al po-
niente ha permitido desviar los flujos vehiculares interregionales. Adems,
la ciudad est conectada con otros asentamientos extracomunales a travs
de importantes rutas de acceso, donde actualmente se observa un rpido
proceso de urbanizacin asociado a actividades residenciales e industriales.
Los niveles de coberturas y servicios tambin comienzan a verse pre-
sionados, pero, ms que por la cantidad, por la calidad de los mismos. Del
mismo modo, los instrumentos de gestin y planificacin urbana se ponen
a prueba en funcin de una serie de demandas y dinmicas que sobrepasan
estos instrumentos. Algunos estudios (Henrquez, 2014, 2015) plantean
que el proceso expansivo, especialmente por un patrn de crecimiento ho-
rizontal, seguir siendo importante en las prximas dcadas.
Los ngeles corresponde a una ciudad media que debe adecuarse a un
crecimiento rpido, proceso en el que van apareciendo fenmenos emer-
gentes, tales como migraciones, segregacin social, deterioro de la calidad
ambiental y reconfiguracin del tejido socioespacial. Esas dimensiones son
muy interesantes de estudiar desde una perspectiva geogrfica, debido al
rol que hasta ahora juega la ciudad, como ncleo articulador de una parte
importante del sistema urbano regional del Biobo.

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5
ALGUNAS CLAVES SOBRE LAS TRANSFORMACIONES
URBANAS DE LA CIUDAD DE LOS NGELES

La ciudad de Los ngeles ha experimentado un alto ritmo de crecimien-


to, explicado en parte por el gran despliegue de la actividad agroindustrial
y especialmente por el desarrollo forestal y por las plantas de celulosa ubi-
cadas en la provincia, las que han dinamizado su economa y provocado el
desarrollo, tanto del sector comercio como de los servicios y, en parte, por
la consolidacin de su condicin de centro principal para los asentamientos
menores ubicados en su rea de influencia, sobre la que ejerce cierta do-
minacin, en particular sobre los centros ubicados en el piedemonte Laja-
-Biobo y alrededores Nacimiento, Negrete, Santa Fe, Hupil, Tucapel,
Quilleco, Santa Brbara, Quilaco y Mulchn y, sobre aquellos situados
en los lmites del rea andina Antuco, Polcura, entre otros. Esa funcin
central de la ciudad explica su actual dinamismo.
Los ngeles juega, adems, un rol importante como ciudad de inter-
mediacin entre ese circuito urbano local y la metrpolis regional frente
urbano portuario Concepcin-Talcahuano , en trminos de flujos pro-
ductivos orientados al mercado externo exportacin de productos de-
rivados de la explotacin forestal y agropecuaria y de importacin de
bienes provenientes del exterior. Adicionalmente, la ciudad forma parte
importante de la macro red urbana, articulada por la carretera panameri-
cana norte-sur, que tiene como ncleo principal a Santiago, la capital del
pas y que se extiende hasta Puerto Montt por el sur, permitiendo no slo
la circulacin de personas y de bienes, sino adems la articulacin de gran
parte de los centros de tamao medio del valle central chileno en torno al
principal mercado del pas.

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316 MARIA ENCARNAO BELTRO SPOSITO DENISE ELIAS BEATRIZ RIBEIRO SOARES (ORGS.)

En cuanto a su estructura urbana, la ciudad presenta un casco antiguo


con la tpica estructura de damero de las ciudades fundadas por la corona
espaola. Desde su fundacin en 1739 hasta mediados del siglo XX, la ciu-
dad crece lentamente; a partir de esa fecha comienza a expandirse en todas
direcciones. En la dcada de 1970, la poblacin logr pasar el umbral de
los 50 mil habitantes y en poco ms de veinte aos duplic dicha cifra. Ese
rpido crecimiento se relaciona con el proceso de urbanizacin simultneo
que vivi el pas, reforzado por la influencia que el tejido industrial desar-
rollado para la sustitucin de importaciones tuvo sobre el sistema urbano
de la macro regin centro-sur del pas, caracterizado por las migraciones
campo-ciudad y, posteriormente, por el acelerado crecimiento de las in-
versiones en las regiones productoras de recursos naturales y de potencial
industrial, entre las cuales se ubica la Regin del Biobo.
Gran parte de las nuevas poblaciones que van surgiendo en la ciudad son
resultado de los emprendimientos del Estado, a travs de las soluciones ha-
bitacionales implementadas por la Corvi, actualmente Serviu, dependiente
del Ministerio de Vivienda y Urbanismo, la que buscaba dar solucin a
la creciente demanda resultante del proceso migratorio mencionado en el
prrafo precedente. Otras han sido producto de la iniciativa privada bajo
la forma de parcelas de agrado, condominios privados y viviendas de altos
ingresos. Tambin existen algunos casos que son producto de acciones co-
munitarias que han impulsado iniciativas particulares, como Villa Gnesis.
En la actualidad, el trazado urbano se encuentra muy determinado por
la hidrografa local y por la deficiente planificacin del crecimiento urbano,
lo que dificulta la conectividad de la red interna de la ciudad y la integracin
de los nuevos barrios que se crean. De esa forma, se observa que la red vial
se hace insuficiente para contener los nuevos flujos resultantes del creci-
miento y desarrollo experimentado por la comuna.
Por un lado, la expansin urbana se puede catalogar como un crecimien-
to bastante inorgnico y fragmentado, que se explica por el surgimiento de
un nuevo patrn de crecimiento urbano, a partir de la dcada de 1990, vin-
culado a la aparicin de condominios privados y parcelas de agrado, sobre
todo al oriente de la ciudad, probablemente explicadas por el desarrollo de
los agronegocios ligados a la explotacin forestal, la produccin agrcola
de berries y hortalizas y al reforzamiento de ciertas industrias, en particu-
lar las ligadas a la produccin de alimentos azcar y lcteos , mientras

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que, por otro lado, en la periferia poniente de la ciudad, tambin han apare-
cido poblaciones desarrolladas de manera ms o menos espontnea, como
por ejemplo Villa Gnesis, que resulta de la ineficacia de las polticas habi-
tacionales y de la planificacin urbana para dar cuenta de las necesidades
habitacionales de grupos emergentes.
El Plan Regulador anterior no fue capaz de contener el vertiginoso cre-
cimiento espacial de la ciudad, toda vez que la verticalizacin de sus edi-
ficaciones no es, hasta ahora, una caracterstica relevante en la morfologa
urbana de Los ngeles.
La instalacin de nuevas industrias, as como del almacenamiento, su-
mado a las actividades comerciales y de servicio asociado al crecimiento
econmico, junto con el arribo de nuevos ejecutivos, profesionales y traba-
jadores, tendrn un fuerte impacto en el desarrollo urbano futuro, pero pro-
bablemente acompaado de un aumento en las diferencias socioespaciales
en la ciudad.
De acuerdo a lo planteado por el asesor urbano de la municipalidad
de Los ngeles (Carrasco, 2004), el principal factor de crecimiento de la
ciudad es el hecho de ser un centro intermedio, que otorga servicios a las
actividades provinciales: papelera Nacimiento y Laja, Central Ralco y
Pangue, y otras actividades econmicas, especialmente forestales, que si
bien no tributan en la ciudad, demandan una serie de servicios como educa-
cin, comercio, salud, finanzas, asesoras profesionales, etc. Es un polo de
atraccin para comunas aledaas, como Negrete, Mulchn, Nacimiento y
Yumbel, que buscan servicios educacionales enseanza media y universi-
taria y otros servicios que podran ser cubiertos en Concepcin.
La llegada de grandes cadenas de supermercados, el surgimiento del
mall, la instalacin del casino/hotel, entre otros servicios, no es sino el re-
flejo del desarrollo de las actividades econmicas de base y del surgimiento
de nuevos empleos, mejor remunerados y ms estables, y del consiguiente
aumento demogrfico. La presin que esto ejerce en trminos de expansin
urbana y en menor grado de densificacin urbana pondr a prueba los
instrumentos y mecanismos de planificacin urbana y territorial, los que de-
bern dar cuenta de las disparidades socioespaciales que se generan, as como
de la necesidad de darle mayor sustentabilidad al desarrollo de la ciudad.
Resolver las mencionadas diferencias, superar la segregacin espacial
que pudiera derivar de ellas y asegurar un desarrollo urbano sustentable ser

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sin duda el principal desafo para la planificacin y gestin urbana en la ciu-


dad media de Los ngeles. A esto, es necesario sumar los desafos propios
derivados de nuestra condicin de ser un pas de catstrofes, que de tiempo
en tiempo la naturaleza se encarga de recordar: terremotos e inundaciones
son factores que constantemente dejan huellas en el desarrollo urbano de
esta y otras ciudades chilenas y que deben ser considerados en la planifica-
cin. Por ejemplo, el terremoto de 2010 y el tsunami que ste desencaden
afect de manera muy significativa no slo a las ciudades del borde costero
de la Regin del Biobo, sino tambin a ciudades del interior, entre ellas Los
ngeles, donde un nmero importante de viviendas sufri severos daos.
Finalmente, es importante destacar el rol de la ciudad en los futuros
cambios al sistema poltico-administrativo que pretenden reconfigurar la
Regin del Biobo. Al respecto, la Comisin de Desarrollo Urbano, insta-
lada por la administracin Bachelet para recibir propuestas en esa materia,
ha abierto el debate al proponer ideas sobre una posible configuracin
regional de espacios metropolitanos, donde la Provincia de Arauco pasara
a ser parte de la Regin de La Araucana, la Provincia de Concepcin un
Espacio regional metropolitano, la provincia del uble se convertira en
la Regin del uble y donde el remanente de la actual Regin del Biobo
pasara a constituirse como una nueva regin. Dada la experiencia chilena
en materia de creacin de nuevas regiones, la viabilidad de un ajuste que
implique a ms de un espacio regional se ve limitada (Henrquez et al.,
2015). De todas maneras, vale el esfuerzo preguntarse sobre cul sera el
rol de la ciudad de Los ngeles en ese nuevo escenario? Cmo se vera
impactada? Muchas de esas interrogantes son un gran aliciente para seguir
estudiando y proyectando la ciudad frente a esos desafos futuros. La ciu-
dad ya lidera uno de los tres subsistemas urbanos de la Regin del Biobo,
por lo que, de materializarse algunas de las iniciativas mencionadas, lo ms
probable es que esa funcin de centro o nodo que la ciudad ejerce sobre los
centros menores que la rodean se vera reforzada.
A otra escala, no podemos dejar de mencionar el hecho que, estos lti-
mos aos, ha surgido un movimiento vecinal cuya finalidad es separarse de
la comuna de Los ngeles, para formar un nuevo territorio administrativo
correspondiente a la nueva comuna de Paillihue (Monares, 2014).
La iniciativa es liderada por una organizacin de dirigentes sociales del
sector sur de la ciudad que abogan por la separacin administrativa de la

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comuna de Los ngeles, para la creacin de la nueva comuna Paillihue.


Ese grupo de dirigentes se organiz el ao 2006 como Comit Pro Comuna
Paillihue y en septiembre de 2014 se convirti legalmente en Corporacin
Comuna de Paillihue. La agrupacin nace por la percepcin de abandono
de la comunidad por parte de las autoridades comunales, y como una forma
de canalizar las demandas del sector en materia de salud, educacin, reas
verdes, seguridad, conectividad y transporte, entre otros temas de inters
social. Esa agrupacin ha realizado diversas gestiones como cartas a la
presidencia de la Repblica y a la subsecretara de Desarrollo Regional
y Administrativo (Subdere), institucin que habra elaborado un infor-
me indicando que no estaban las condiciones suficientes para abordar el
proyecto de Paillihue comuna. Recientemente, diversas autoridades locales
y regionales han manifestado que si bien estn un poco escpticos a que se
materialice el proyecto, estaran dispuestos a otorgar las facilidades para
desarrollar un estudio formal, con el fin de estudiar la viabilidad de imple-
mentacin de esa iniciativa. A nivel local, esa iniciativa no tiene una gran
repercusin y los principales reparos se relacionan con la autonoma y capa-
cidad de generacin de recursos del territorio que eventualmente abarcara
la nueva comuna (Carrasco, 2015).
Si se compara esa demanda de creacin de esa nueva comuna con lo ocu-
rrido en Chile en los ltimos veinte aos, estaramos frente a una peticin
de menor calibre que la instalada a propsito de la creacin de comunas
como Alto Hospicio, Padre Las Casas, San Pedro de la Paz o Hualpn.
Las dos situaciones descritas plantean otra clave del desarrollo urbano
territorial que muchas veces se considera solo parcialmente o se ignora,
pero que resulta relevante: Cmo se complementa la funcin de una ciu-
dad en el sistema urbano local o regional con su rol poltico-administrativo,
de manera de asegurar el papel de ese centro urbano como vector de cre-
cimiento y generador de dinmicas en el territorio? Cmo evitar que ese
tipo de transformaciones se traduzcan slo en mayor burocracia y, por esa
va, resten dinamismo al desarrollo urbano-territorial? De materializarse
algunas de las propuestas mencionadas, quedar por verse el impacto sobre
la ciudad de Los ngeles y sobre el espacio que ella dinamiza.

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SOBRE O LIVRO
Formato: 16 x 23 cm
Mancha: 27,5 x 49 paicas
Tipologia: Horley Old Style 11/15
1a edio: 2016

EQUIPE DE REALIZAO
Capa
Megaarte Design
Edio de texto
Silvia Massimini Felix (Copidesque)
Nair Hitomi Kayo (Reviso)
Editorao eletrnica
Eduardo Seiji Seki (Diagramao)
Assistncia editorial
Jennifer Rangel de Frana

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CIDADES EM TRANSIO
UMA CIDADE MDIA NA AMAZNIA ORIENTAL:
AGENTES ECONMICOS E

MARAB E LOS NGELES


A CENTRALIDADE URBANO-REGIONAL DE MARAB
NO SUDESTE PARAENSE REESTRUTURAO URBANA E REGIONAL
Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jnior,
Mrcio Douglas Brito Amaral, Rovaine Ribeiro,
Bruno Cezar Pereira Malheiro e
Jovenildo Cardoso Rodrigues

ALGUNAS CLAVES SOBRE LAS TRANSFORMACIONES


URBANAS DE LA CIUDAD MEDIA DE LOS NGELES
MARAB E LOS NGELES
Cristin Henrquez Ruiz e Federico Arenas Vsquez

Maria Encarnao Beltro Sposito

Denise Elias

Beatriz Ribeiro Soares

CIDADES EM TRANSIO
(Orgs.)

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