Guia de Mediacao Popular
Guia de Mediacao Popular
Guia de Mediacao Popular
GUIA DE
MEDIAÇÃO POPULAR
Salvador, 2007
Juspopuli Escritório de Direitos Humanos
www.juspopuli.org.br
0
Este Guia foi produzido com recursos do Convênio SEDH n 061/2006 SEDH/BR
e o apoio da PETROBRAS, através do Programa Fome Zero.
CDU - 34
Aos mediadores populares Adnólia Santos Souza Araújo, Ana Claudia Souza do
Nascimento, Antonio Sampaio, Carmem Fernandes Pereira Santana, Clélio Vitório Souza
Araújo, Eranildes de Jesus Lopes, Lázaro Ferreira da Conceição, Orlando Barbosa dos
Santos, Raimunda Oliveira de Souza e Vilma Fonseca de Aquino que dedicam o melhor de
suas energias para servir, nos Escritórios Populares de Mediação, às suas comunidades.
1 APRESENTAÇÃO SEDH 7
2 APRESENTAÇÃO PETROBRAS 9
3 INTRODUÇÃO 11
4 CONFLITO 13
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 39
ANEXOS
4 REFERÊNCIAS 53
1 APRESENTAÇÃO SEDH
Destacam -se entre essas iniciativas as experiências dos Balcões de Direitos apoiados pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH cuja ação consiste em prestar, por meio
de postos fixos ou itinerantes, serviços gratuitos de fornecimento de documentação civil
básica, de assistência jurídica e de disseminação de informações sobre direitos humanos
junto às populações beneficiadas.
Os resultados obtidos com esses projetos, sejam eles vinculados a instituições públicas ou
a organizações não governamentais, têm demonstrado a eficácia da prática da mediação
popular, em comunidades pobres onde a maioria das demandas se refere a questões de
sobrevivência. Um exemplo muito ilustrativo disso é a proposta desenvolvida pelo
Juspopuli - Escritórios Populares de Mediação (BA) que, em convênio com a SEDH, vem
implementando o Projeto “Mediação e Direitos” em bairros da periferia de Salvador e
outros municípios do estado. Um dos produtos estabelecidos como meta no âmbito do
convênio, consistiu na elaboração e publicação deste Guia de Mediação Popular com o
propósito de:
Essas tensões devem ser tratadas de modo a não produzir a anulação do outro mas, ao
contrário, pelo exercício da mediação e pelo diálogo permanente, sejam buscadas as
soluções que evitem o agravamento dos conflitos que redundaria em prejuízo das partes e da
própria democratização das relações humanas.
8
Assim, ao divulgar o Guia de Mediação Popular, a expectativa da SEDH é a de que o
documento possa se constituir em um instrumento de fortalecimento da cidadania em áreas
populares. Até mesmo porque a mediação é um importante exercício da e para a democracia
e um dos elementos fundamentais na prevenção e na promoção dos direitos humanos.
Perly Cipriano
Subsecretário de Promoção
e Defesa dos Direitos Humanos
2 APRESENTAÇÃO PETROBRAS
diferentes formas de violência. No entanto, a leitura do Guia mostra que as noções ali
apresentadas devem servir de orientação para toda uma população interessada em
compreender as causas e possíveis soluções para os conflitos a que todos estão sujeitos.
“... a cidade ideal não é aquela fantasiada e descrita nos mais minuciosos detalhes
pelos utópicos, onde reinaria uma justiça tão rígida e severa que se tornaria insuportável,
mas aquela em que a gentileza dos costumes converteu-se numa prática universal”.
Norberto Bobbio
A
construção de uma cultura de direitos humanos, indispensável ao alcance da
justiça social é, em síntese, a missão assumida pelo Juspopuli que desenvolve,
desde 2001, como principais atividades a implantação e o acompanhamento
Levadas a efeito por organizações da sociedade civil, a exemplo do Viva Rio, no Rio de
Janeiro, por iniciativas do Poder Público, inclusive por Tribunais de Justiça como o do
Distrito Federal e do Acre, por iniciativas de universidades públicas e privadas, essas
experiências foram e são, em sua maioria, apoiadas pela Secretaria Especial dos Direitos
Humanos da Presidência da República, através do Programa Balcão de Direitos. Elas têm
em comum o propósito de ressignificar o direito e a justiça, admitindo, numa visão
pluralista, caminhos mais simples, acessíveis e, em muitas situações, mais eficazes do que
aqueles tradicionalmente oferecidos pelo Poder Judiciário.
Neste Guia estão postos, em diferentes capítulos, os conhecimentos básicos que orientam
o fazer cotidiano dos Escritórios Populares de Mediação e Orientação sobre Direitos. São
principalmente relacionados com as áreas do Direito, da Psicologia e da Comunicação.
Contém também as reflexões e informações acerca do conflito e as orientações
consideradas essenciais sobre métodos da mediação e seus procedimentos. Além disso,
estão os instrumentos utilizados nas atividades e um passo-a-passo para implantação de
escritórios populares de mediação ou projetos semelhantes.
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
O propósito do Juspopuli, neste caso apoiado pela Secretaria Especial dos Direitos
Humanos - SEDH e PETROBRAS, através do Programa PETROBRAS Fome Zero, é o de
socializar sua experiência, oferecendo às organizações e pessoas interessadas, uma
síntese, em forma de guia, construída por todos aqueles que atuam nos escritórios
12 populares de mediação. Mas com a certeza de que vale como referência e não como
modelo a ser mecanicamente seguido, pois cada lugar, cada cultura, cada equipe tem
necessidades, características e desejos próprios que vão orientar e garantir a identidade
de suas experiências.
4 O CONFLITO
Se buscarmos nos dicionários nacionais a definição da palavra conflito, ela aparece como
algo negativo, ruim e perigoso.
Nessa definição, o conflito é colocado como perigo, mas também como oportunidade,
como possibilidade de mudança, a depender do modo como se responda a ele. Nesse
sentido, observa-se que nem todas as situações de discordância são de luta, guerra,
discussão e embate, como anunciam os dicionários. A partir da discordância pode se
chegar ao diálogo, à colaboração, à acomodação ou mesmo à desistência.
1. Ferreira, 1999.
2. Rocha; Pires, 2001.
3. Luft, 1995.
4.1 Existem vários modos de se reagir ao conflito, todos eles influenciados por elementos
Reações como a personalidade das pessoas envolvidas, o bem ou interesse em questão, o humor
diante do
de uma das pessoas, enfim, a conjuntura do processo conflitivo.
conflito
São considerados modos mais usuais ou estilos de resposta, de reação ao conflito:
Competição: Pode ser caracterizado pela busca da vitória nas situações de conflito.
Neste modo de resposta, a lógica é de que sempre existe um ganhador e um
perdedor. É a lógica das definições encontradas nos dicionários;
PROBLEMA PROCESSO
4.4 Por se realizar na própria comunidade, a mediação comunitária requer mediador que
Principais conheça a realidade, que conheça os dramas que afligem seu bairro. Sua especialidade é,
tipos de
justamente, a comunidade em que reside.
conflito no
cotidiano É possível afirmar que, nos bairros populares, os conflitos que mais frequentemente
da mediação
chegam para mediação comunitária são:
comunitária
16
Conflitos Familiares: Geralmente, a maior demanda dos escritórios comunitários
de mediação, sendo os casos de pensão alimentícia os mais significativos. Diante de
situações dessa natureza, o mediador deve buscar sensibilizar os pais, ou outros
responsáveis por crianças ou adolescentes, quanto aos seus deveres de cuidado
com os filhos, tanto os de ordem econômica e alimentar, quanto os de ordem
afetiva e moral.
“... cada um via uma coisa diferente, cada um, portanto, tinha razão”.
Fernando Pessoa
Existem diferentes formas de se lidar com o conflito. Algumas delas baseadas no uso da
força, na busca da ordem, no julgamento, no arbítrio sobre o certo e o errado. Outras
baseadas no diálogo, no entendimento, na restauração da harmonia necessária a alguns
tipos de relacionamento. Todas se dão através de um processo, de um conjunto de
O acesso ao Poder Judiciário – acesso à justiça em sentido específico – toda vez que um
direito é violado, é, em si, direito fundamental do cidadão, assegurado na Constituição
Federal, que diz o seguinte:
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviola-
bilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
que escolhem formas de decisão mais ágeis para seus interesses e negócios.
contar com uma terceira pessoa, imparcial e preparada para conduzir o processo:
o conciliador.
Na conciliação, o conciliador ouve, conduz o processo, a negociação e ele mesmo
apresenta a proposta de solução. Diferentemente, portanto, da mediação, já que nela o
mediador não apresenta proposta de acordo, apenas conduz o processo, facilitando para
que as partes encontrem a solução.
Assim, o bom mediador deve procurar ser mediador em todas as situações do dia-a-dia:
em casa, no trabalho, na comunidade, na escola dos filhos, etc. Isto porque a mediação,
além de um método de administração de conflitos, deve ser compreendida como um
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
22
6.1 Embora neste Guia não se faça opção por modelo específico, estão a seguir, algumas
Técnicas técnicas que poderão ser úteis para o aprimoramento da prática da mediação popular e
da mediação
comunitária. São elas:
Geração de confiança: É uma das principais necessidades da mediação. Em todo o
processo de mediação, desde o seu começo até o seu desfecho, o mediador deve
estar atento a esse aspecto. Para geração de confiança é necessário: a) explicar o que
é o processo de mediação; b) assegurar a confidencialidade, o sigilo dos diálogos;
c) esclarecer sobre os limites do mediador e da mediação; d) informar sobre as
implicações dos acordos, quando eles acontecem.
Escuta ativa e perguntas circulares: Ao longo do processo de escuta (tratado também
em outros capítulos deste Guia), o mediador deve sempre fazer perguntas que
estimulem as partes a olharem o conflito de outra forma e numa perspectiva de futuro.
Transformação de percepções negativas: O mediador deve fazer um esforço para
evitar que narrativas depreciadoras causem o aumento do conflito. Através de
perguntas circulares deve procurar apaziguar os ânimos, criando um ambiente de
cooperação.
Empoderamento: O mediador deve estar atento aos jogos de poder que estão
presentes numa mesa de mediação. Deve observar a parte mais frágil e, sem
abandonar a imparcialidade, reforçar sua posição. O mediador pode e deve,
também, interromper a mediação e conversar individualmente com as partes. Desse
modo, poderá evitar e corrigir possíveis intimidações da parte “mais forte” e
encorajar a parte “mais fraca” para equilibrar o jogo de poder.
sociedade. Todavia, a filha, também, tem seus interesses: quer sair com as
amigas da escola, quer iniciar sua vida social, enfim, quer freqüentar ambientes
onde transitam pessoas da sua idade. Quando o mediador separa posições de
interesses, torna-se possível um ambiente de cooperação entre as partes,
alcançando-se a convergência dos interesses.
Critérios objetivos: Após uma chuva de idéias, o mediador deve ajudar as partes a
selecionarem soluções que possam ser realizadas, de acordo com a lei, com a
conveniência e com as possibilidades dos envolvidos. Esse momento é crucial para
se fazer um acordo que venha a ser cumprido.
6.2 Muito embora para alguns a mediação seja um método de solução de conflito que existe
Etapas a serviço do acordo, entende-se aqui que o acordo em si é apenas um dentre outros
da mediação
resultados possíveis. No processo como um todo, reside a importância da mediação,
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
sobretudo pela sua função pedagógica, educativa, ao tratar o conflito a partir de uma
atitude de diálogo.
relatem violência física contra mulher, abuso sexual infantil, ou qualquer outra moda-
lidade de crime, deve o mediador deixar de conduzir a mediação e encaminhar as vítimas
aos órgãos competentes. Nesses casos, está prejudicado um dos princípios elementares da
mediação que é a igualdade das partes envolvidas no processo, já que a vítima vai estar em
situação de extrema vulnerabilidade em relação ao seu agressor. Isso, conseqüentemente,
desequilibra as condições de poder, dificultando a discussão em igualdade.
O poder do mediador é limitado pelos princípios e regras da mediação e ele não pode
perder de vista este princípio, considerando que são aspectos positivos do seu poder: a sua
capacidade de ação diante dos conflitos relatados, a responsabilidade na condução dos
diálogos, a sua energia de interlocutor. Esses poderes são adquiridos, como já se disse, pela
prática da mediação e, sobretudo, pela legitimidade e experiência de vida do mediador.
No entanto, existem aspectos negativos que se apresentam como verdadeiras armadilhas
no exercício do poder pelo mediador. São armadilhas que devem ser evitadas a todo o
tempo, sob pena de gerar descontentamentos das pessoas envolvidas no conflito e,
conseqüentemente, a perda da confiança na figura do mediador.
A armadilha da falsa autoridade deve ser evitada para o bem do mediador e, sobretudo,
para o bem das partes envolvidas na mediação. O mediador não desempenha a função
de juiz, promotor, delegado, árbitro, ou qualquer outra autoridade que tenha poder de
decisão nos conflitos. Ele é, tão somente, um facilitador, alguém que, no máximo, possui
autoridade moral de se fazer ouvido e de dar a palavra.
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
Por fim, outro limite a ser observado pelo mediador refere-se às possibilidades
terapêuticas da mediação. Embora a mediação contribua para o bem-estar das partes
envolvidas em conflito, ela não é um processo de terapia. Por isso, o mediador não pode
se arvorar a ser um terapeuta. Embora a sua formação contenha conhecimentos
interdisciplinares que envolvem informações sobre direito, comunicação e psicologia, o
26
mediador não está apto para conduzir terapias. Uma terapia deve ser conduzida por um
profissional qualificado para tanto.
6.4 Muito embora a difusão da mediação nas últimas décadas tenha se dado a partir de
Elementos práticas jurídicas (do direito), tanto a psicologia, como a comunicação, desenvolveram
da mediação abordagens significativas para o enriquecimento desse campo. Dessa forma, elementos
do Direito, da Psicologia e da Comunicação interagem na prática da mediação sendo,
portanto, saberes postos a serviço da resolução de conflitos.
6.4.1 Elementos do Direito
O mundo jurídico, ou do direito, vem adotando a mediação como prática que auxilia na
resolução de conflitos, sendo a lentidão da justiça e a dificuldade de se garantir acesso
universal aos serviços judiciais as principais causas de crescimento da mediação no mundo.
Vista a partir do direito, a mediação deve se revestir de cuidados técnicos para que o
processo esteja em conformidade com os princípios do direito e da lei. A seguir alguns
dos princípios que devem ser observados:
Confidencialidade: Muito embora no nosso País ainda não exista uma lei específica
sobre procedimentos de mediação em vigor, o princípio da confidencialidade deve
ser observado pelo mediador, para garantir a intimidade dos mediados e a
confiabilidade da mediação.
Escutar é dar dignidade a uma experiência humana, é incluir, fazer pertencer com sua
história e como, em espiral, realimentá-la do ponto de vista social e da cidadania
(ARRUDA, 2003, p. 352)
Escutar é diferente de ouvir. A escuta exige sensibilidade para nuances, exige que se
transforme a comunicação da realidade na fala onde há um eu. Nem sempre o que é dito
revela o que se quer dizer. As revelações são sempre parciais, nunca são inteiras, porque
Assim, a percepção do que é trazido para o mediador será melhor obtida quanto maior
for a sua capacidade para escutar. Intervenções apressadas alteram qualitativamente o
sentido do que é dito.
No entanto, é necessário que o mediador esteja preparado para prestar atenção às formas
de apresentação e ao discurso que o sujeito traz. Aqueles sujeitos que exageram no relato,
que dramatizam, teatralizam, esperam do mediador respostas diferentes daqueles que se
utilizam de um discurso circular, repleto de regras e detalhamentos. Em ambas as posições
subjetivas é preciso lidar com as manobras técnicas já descritas (escuta atenta,
transformação da queixa em demanda, empoderamento etc).
Também não podem ser abordados pela mediação aqueles sujeitos que buscam o
atendimento sob efeito de uso abusivo de substância psicoativa (álcool e/ou outras drogas).
30
Por isso, o responsável pela mediação deve estar munido de informações sobre os recursos
da comunidade na área de atenção à saúde mental, para assim fazer os encaminhamentos
externos de acordo com as necessidades.
O ser humano vive para ser com o outro e é esta relação que produz a humanidade,
permitindo que a natureza não prevaleça e definindo as condições culturais da existência.
Através das trocas, os indivíduos se afirmam, se opõem entre si e se reencontram num
movimento onde se perde e se ganha.
A Emissor
Para que ocorra uma
B Receptor
comunicação eficiente, é
C Código
necessário que A e B estejam
(linguagem verbal)
dentro de um mesmo contexto
D Canal (telefone)
(situação: onde, como, quando),
utilizem os mesmos códigos e
repertório (nível de instrução e
formação cultural). Tudo que
possa perturbar a transmissão
e a recepção da mensagem é
chamado de ruído.
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
6.5 Distração. Não prestar atenção ao que está sendo comunicado (emitido ou
Alguns elementos recebido), pode acarretar perda - parcial ou total - da mensagem. Alguns gestos e
e atitudes que posturas (olhar disperso, ficar de costas para quem fala, olhar o relógio reiteradas
dificultam a
vezes, etc) podem sugerir falta de atenção e desinteresse pelo que está sendo dito,
comunicação e
podem gerar bloqueando a comunicação.
conflitos Não saber ouvir. No processo de comunicação, a escuta é tão importante quanto
a fala e a escrita. Por isso, não escutar com atenção as informações emitidas pelo
outro, esperando apenas a próxima oportunidade para falar, pode comprometer
a comunicação.
Dificuldade em aceitar idéias contrárias às nossas. Em muitas situações, temos
tendência a valorizar as informações com as quais concordamos em detrimento
daquelas que não confirmam nossas crenças.
Escutar atentamente o que está sendo dito pelas partes. Ao contrário do que algumas
pessoas pensam, a escuta não é um ato passivo. Requer atenção e reflexão. É através da
escuta ativa que podemos identificar as emoções e os interesses das partes, contribuindo
para uma melhor compreensão do conflito e de suas possibilidades de resolução.
Usar frases positivas no lugar de negativas. As ferramentas de linguagem utilizadas
devem contribuir para uma nova compreensão do conflito, valorizando os aspectos
positivos em detrimento dos negativos.
Equilibrar os poderes. O discurso é uma importante ferramenta de poder. Por isso, para
que a mediação seja exitosa, é necessário redistribuir os poderes, garantindo que as
partes envolvidas tenham oportunidades iguais para expressarem suas idéias, livres de
coerção. Exemplo: “E você, o que acha disso?
34
Resumir o que foi dito. No final da sessão de mediação, é aconselhável fazer um resumo
de tudo o que foi dito e acordado entre as partes para verificar se todos tiveram o
mesmo entendimento.
7 PAPEL E PERFIL DO MEDIADOR
Para tanto, o mediador deve apresentar um perfil adequado para o exercício dessa
função, tendo como principais requisitos: respeitabilidade e legitimidade na sua
comunidade, responsabilidade com compromissos assumidos, postura adequada na sala
de mediação considerando os princípios e técnicas já referidas, interesse e
disponibilidade para formação permanente, o que implica em estudar, analisar e
aperfeiçoar sua prática.
Sensibilidade. Por mais que essa característica seja subjetiva, não há como se
conceber um mediador que não seja sensível às questões humanas. É justa-
35
mente a partir da sensibilidade e da compreensão que o mediador, sem tomar
partido, formulará estratégias para extrair do conflito os interesses e as necessi-
dades envolvidas.
Ética e supremacia dos direitos humanos. O bom mediador deve ser, antes de
tudo, um indivíduo ético, conhecedor e praticante dos valores relacionados com o
respeito à dignidade do outro, qualquer outro. Deve ter a supremacia dos direitos
humanos, da igualdade e dos respeito às diferenças, como guia de sua prática
cotidiana. Ademais, deve conhecer e praticar a ética da mediação. Nesse sentido,
deve estar muito atento para não induzir a decisão das partes, não lançar mão, em
nome da eficiência, de estratégias reprováveis como ameaças, chantagens ou
quaisquer outros tipos de coerção moral a fim de conseguir o acordo.
O bom mediador deve ter em mente que um dos aspectos éticos da mediação
consiste no entendimento de que o acordo é uma possibilidade da mediação, mas
nunca uma finalidade em si mesmo.
37
Eranildes, conhecida como Nildinha, é uma dessas lideranças locais, moradora antiga,
38
militante de várias causas de interesse do Calabar. Por isso, conhecida e respeitada.
O encorajamento feito pela mediadora, utilizando-se das técnicas da mediação, para que
as próprias partes encontrassem uma solução justa e satisfatória para o problema,
permitiu o seguinte resultado: a devedora, depois de muito pensar, propôs deixar a casa
para que fosse alugada a outra pessoa, e passar a morar na casa da proprietária junto
com seu filho de quatro anos, assumindo a função de cuidadora da mãe doente durante
oito meses, período correspondente a sua dívida. A proprietária aceitou.
39
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos bairros pobres das periferias, ou mesmo dos centros das metrópoles, e em áreas
rurais ou urbanas de pequenas cidades, onde as populações vivem segregadas pela
pobreza, são necessárias e se justificam práticas como a do Juspopuli, batizada como
mediação popular. Esta experiência, ainda em processo e, conseqüentemente, suscetível
a mudanças, permite as seguintes considerações:
a possibilidade de se contar com espaço reservado - sala que possa ser fechada –
para garantir privacidade às mediações e com espaço – que pode até ser comum
com outros serviços - para atendimento inicial e espera;
Inauguração de Balcão. Como estratégia para inauguração, pode ser realizada uma
grande reunião com moradores e representantes de organizações da rede acima
mencionada. O encontro será oportuno para apresentar o projeto publicamente e
divulgar a rotina de atendimento do Balcão.
2 PASSO-A-PASSO PARA A MEDIAÇÃO
1 Acolhimento: Acolher é receber com atenção, com respeito e interesse pela pessoa
que chega e pela questão que traz. O mediador e o ambiente de recepção devem
revelar o interesse, o respeito e a atenção.
3 Convite para mediação: Como nem sempre as partes chegam juntas, o mediador,
com base na demanda apresentada pela primeira parte, enviará, por intermédio
dela própria se for possível, ou de outra pessoa confiável, uma carta convidando a
outra parte a comparecer ao Escritório (sugestão de texto para carta convite anexo).
Carta de
Encaminhamento
GUIA DE MEDIAÇÃO POPULAR
48
Convite
50
de acordo
Termo
52
4 REFERÊNCIAS
ARRUDA, Agda. Mediação familiar. In: GROEINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo
Cunha (Coord.). Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia.
Rio de Janeiro: IMAGO, 2003.
GARCIA, Célio. Mediação familiar. In: GROEINGA, Giselle Câmara; PEREIRA, Rodrigo
Cunha (Coord.). Direito de família e psicanálise: rumo a uma nova epistemologia.
Rio de Janeiro: IMAGO, 2003.
ROCHA, Ruth; PIRES, Hindenburg da Silva; Mini dicionário Ruth Rocha. 10.ed.
São Paulo: Scipione, 2001.
TZU, Sun. El arte de la guerra. Madrid: 2004. (Colección Filosofia y teoría social.)
54 WARAT, Luiz Alberto. Em Nome do Acordo. Santa Catarina: Angra, 1998.