Artigo 1
Artigo 1
Artigo 1
institucionalização do Estado
Resumo
Este artigo visa compreender a Administração Pública no contexto da prossecução de
fins e funções da institucionalização do Estado, de modo que parte do conceito,
natureza e finalidade da administração pública e do Estado para discutir modelos e
formas de organização da administração pública, para além de princípios e diferentes
poderes, e termina com um olhar sobre a realidade da administração pública
moçambicana. Na essência, o trabalho mostra que o papel da Administração Pública
passa por agente de transformação da sociedade, criando condições técnicas e
organizacionais para a instituição de uma administração para o desenvolvimento.
1. INTRODUÇÃO
O surgimento das primeiras sociedades e, particularmente, com a emergência do
Estado Moderno, a administração pública teve sempre um papel significativo no
contexto das organizações vocacionadas para o manuseio da ‘coisa pública’.
Para mais, com a crise do Estado, na segunda metade do século XX, em todo o
mundo realizaram-se mudanças substanciais nas políticas de gestão pública e no
desenho de organizações estatais, exigindo-se reformas administrativas que
adoptassem estratégias oriundas directamente do sector privado numa onda que talvez
possa ser considerada a mais profunda redefinição da administração pública. Mas o
que é “administração pública”?
1
Mestrando em Ciências Políticas e Estudos Africanos, na Universidade Pedagógica – delegação da Beira, e
Docente do curso de Administração e Gestão da Educação, Departamento de Ciências de Educação e Psicologia.
É na tentativa de dar resposta a esta questão, relacionando-a com fins, funções do
Estado, bem como sua relação com Governo, que procuraremos debruçarmo-nos com
este trabalho, não querendo, no entanto, tornar o assunto como algo acabado.
Assim, conclui-se que o fim do Estado é o bem comum, entendido este como
conjunto de todas as condições de vida que possibilitem e favoreçam o
desenvolvimento integral da personalidade humana (LOPES, 2010: 12).
2
Existem, porém, actos que não se enquadram em nenhuma das três mencionadas, que constituem a função
política.
recursos ou depois de ultrapassado o prazo para sua interposição. Trata-se do sistema
da jurisdição única, segundo o qual todas as matérias podem ser apreciadas pelo
Judiciário, que é o único poder competente para decidi-las de modo definitivo.
2.2. Governo
ii. “As longas filas nos postos de saúde são resultado da ineficiência da
administração pública”. Nesta situação, expressão se refere ao processo ou
actividade da administração dos negócios públicos, isto é, da gestão
propriamente dita, de uma prática social tão antiga quanto o manuseio de bens
colectivos (WALDO, 1964: 123).
3
Ao referir-se à Administração Pública [letras maiúscula], trata-se de entidades e órgãos administrativos do Estado,
e administração pública [letra minúscula] trata-se da função administrativa. Esse procedimento foi adoptado para que
se evite confusões acerca do significado a que cada uma das expressões representa (MEIRELLES, 2004: 59).
ao assumir para com a colectividade o compromisso de bem servi-la, porque outro não
é o desejo do povo, como legítimo destinatário dos bens, serviços e interesses
administrados pelo Estado (ibidem).
Assim, t oda actividade do administrador público deve ser orientada para esse
objectivo, de maneiras que o acto ou contrato administrativo realizado sem interesse
público representa um desvio ao alcance dessa finalidade.
4
O adjectivo “patrimonial” qualifica uma forma específica de dominação tradicional, materializada pela cessão de
terras (PEREIRA, 1995).
5
O termo “burocracia” origina-se do grego “bureau” e “kratos”, significando “o local onde se realizam as actividades
de interesse público e o conjunto de funcionários que trabalha nesse local” (HOUAISS, 2001).
para o carácter racional das regras que norteiam as condutas dos agentes
públicos e da separação entre as esferas públicas e privadas (WEBER, 1999).
c. Administração Pública Gerencial: desde finais do século XX, que tem foco em
resultados, orientação para o cidadão-consumidor e a capacitação de recursos
humanos. As inovações introduzidas por ela no aparato estatal foram a
descentralização de processos e a delegação de poder. Assim, as
características foram abertura de mercado, desregulamentação, privatização,
bem como focos na economia/eficiência, eficácia/qualidade e
equidade/accountability (KETTL, 2005: 85).
De acordo com MELLO (2004: 139), a Administração Pública pode ser organizada
de duas formas:
1) Directa ou Centralizada, quando constituída pelos serviços integrados na
estrutura dos órgãos principais do Estado. Na prática, a centralização ocorre
quando o Estado executa suas tarefas por meio dos órgãos e agentes
integrantes da administração directa, através da pessoa política que representa
a Administração Pública competente. Por exemplo: os ministérios, governos
provinciais, distritais, entre outros (ibidem).
6
A chamada Constituição da República Popular de Moçambique.
vez maior de cidadãos na busca partilhada de soluções para os problemas
identificados.
Na sua actuação, nos termos do artigo 249 da CRM (2004), a Administração Pública
em Moçambique serve o interesse público e respeita os direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos, pelo que os seus órgãos obedecem à Constituição e à lei
com respeito pelos princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça.
1) Legalidade;
2) Prossecução do interesse público e protecção dos direitos e interesses dos
cidadãos;
3) Justiça e imparcialidade;
4) Transparência da Administração Pública;
5) Colaboração da Administração com os particulares;
6) Participação dos particulares;
7) Decisão;
8) Celeridade do procedimento administrativo;
9) Fundamentação dos actos administrativos;
10) Responsabilidade da Administração Pública; e
11) Igualdade e proporcionalidade.
7
Nosso sublinhado.
Neste caso, a organização e funcionamento dos órgãos locais do Estado obedecem
aos princípios da desconcentração e da desburocratização administrativa, visando o
descongestionamento do escalão central e a aproximação dos serviços públicos as
populações, de modo a garantir a celeridade e adequação das decisões às realidades
locais, numa estrutura integrada verticalmente hierarquizada, garantindo a participação
activa dos cidadãos, incentivando a iniciativa local na solução dos problemas das
comunidades, aplicando os recursos ao seu alcance (artigo 3 da Lei 8/2003, de 19 de
Maio).
Considerações Finais
Este artigo conclui que apesar da organização estatal assumir a divisão do território,
a forma de governo, a investidura dos governantes, a instituição dos Poderes e
garantias individuais, a estrutura da Administração Pública é dividida entre essa
organização estatal e a organização administrativa, dos órgãos e entidades
administrativas.
Por isso, a Administração Pública deve ser entendida nos seus sentidos orgânico e
funcional, quer designando pessoas jurídicas, órgãos e agentes públicos incumbidos a
exercer a função administrativa, como designando a natureza da actividade exercida
pelos referidos entes, ou seja, a própria função administrativa incumbida ao Poder
Executivo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZAMBUJA, Darcy. Teoria Geral do Estado. São Paulo: Editora Globo, 2008.
BOBBIO, Norberto (1986), O Futuro da Democracia, uma defesa das regras do jogo. 2ª
ed. São Paulo: Atlas, 1986.
CAMPANTE, R. G. O patrimonialismo em Faoro e Weber e a sociologia brasileira. São
Paulo: Revista de Ciências Sociais, 2003.
MELLO, Celso António Bandeira de. Curso de direito administrativo. 17ª ed, ver e atual.
São Paulo: Malheiros, 2004.
PAULA, A. P. Por uma nova gestão pública: limites e potencialidades da experiência
contemporânea. Rio de Janeiro: FGV, 2005.
PEREIRA, L. C. Bresser. Estado, aparelho do Estado e sociedade civil. Brasília: ENAP,
1995.
QUIVY, Raymond. CAMPENHOUDT, LucVan. Manual de investigação em Ciências
Sociais. 2ª ed. Maputo: Gradiva, 1998.
WALDO, D. O estudo da Administração Pública. Rio de Janeiro: Centro de Publicações
USAID Brasil, 1964.
WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia. Brasília: UnB, 1999.
Legislação Consultada
Constituição da República de Moçambique, Boletim da República, I Série, nº 51, de 22
de Dezembro de 2004.
Decreto 30/2001, Boletim da República, I Série, nº 41, 15 de Outubro de 2001.
Lei 8/2003, Boletim da República, I Série, nº 20, 19 de Maio de 2003.