A Cartuxa Da Laveira PDF

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a Cartuxa de Lisboa

legado de contemplao

Lisboa 2007
ANALECTA CARTUSIANA
Editors:
James Hogg, Alain Girard, Daniel Le Blvec
Assistant to the editors: Pierre-Aelred Henel
Photography: Juan Mayo Escudero
246

A CARTUXA DE LISBOA ISBN: 978-3-900033-70-5


LEGADO DE CONTEMPLAO
Capa do livro:
CARTUXA de SANTA MARIA DO VALE DA MISERICRDIA
autores Primeira visita dum Cartuxo

JESU PINHARANDA GOMES Contracapa do livro:


(da Academia Portuguesa da Histria)
CARTUXA de SANTA MARIA DO VALE DA MISERICRDIA
Vista exterior
JUAN MAYO ESCUDERO
(do Instituto Espaol de Lisboa Giner de los Ros) Pedidos para:

2007 CARTUXA SCALA COELI


P-7000-744 VORA (Portugal)

INSTITUT FR ANGLISTIK UND AMERIKANISTIK ou para:


UNIVERSITT SALZBURG Analecta Cartusiana
A-5020 SALZBURG A-5164 SEEHAM, FRAHAM 9
AUSTRIA AUSTRIA
a Cartuxa de Lisboa apresentao
pelo Sr. Proco de Caxias

legado de contemplao

Lisboa 2007
apresentao esprito que vibra ainda no que se conserva
pelos Cartuxos de Scala Coeli
daquele antigo ermo de vida contemplativa.
Uns fervorosos jovens cristos descobriram a Os Cartuxos de Santa Maria Scala Coeli querem
antiga Cartuxa de Lisboa. Primeiro o seu corpo, o agradecer esse amor e interesse e apoiar com as
que resta hoje, depois a sua alma, a que anima a suas oraes as fervorosas intenes desse Sr
Cartuxa de vora. Sonham com transmitir a sua Proco e desses jovens, agradecendo tambm aos
descoberta aos lisboetas. Criaram o grupo Amigos seus sbios amigos a colaborao para esta
da Cartuxa. Pediram ajuda aos Cartuxos de Santa edio, que encomendam proteco de Santa
Maria Scala Coeli. Estes, zelantes do seu silncio, Maria do Vale da Misericrdia e a So Bruno. Esta
passaram o pedido a alguns eruditos seus amigos. proteco est sempre assegurada mas parece
Desse movimento de amizade pela vida mais oportuna neste ano 2007 em que a Cartuxa de
cartusiana e pela antiga Cartuxa lisboeta provm Lisboa cumpre 410 anos e a de vora 420.
este livro. Nele pode encontrar-se o corpo desse Os anos, os sculos, passaram, mas da Cartuxa
mosteiro em fotos, a alma em textos que de Lisboa ficou algo, muito, em p, a igreja, o
reproduzem antigas crnicas da Cartuxa do Vale da claustro, o claustrinho, e na outra, da de vora, foi
Misericrdia anteriores e estudos actuais desses restaurado tudo e ela abriga de novo a vida
escritores. cartusiana. Isso significa uma herana, um legado,
Isto poder considerar-se como uma um tesouro para o sculo vinte e um. O presente
ressurreio daquela Cartuxa, fechada no sculo livro recebe esse ttulo de Legado de
dezanove. Ressurreio que precisava do Contemplao porque contm essas fotos, essas
testemunho dum apstolo, que pode ser e vai ser o crnicas, esses estudos, que podem fazer
Sr Prior da Parquia onde se conserva a antiga presente, viva, activa, influente, a Cartuxa de
Cartuxa do Vale da Misericrdia. O Sr Padre est Lisboa. Deus queira que o seu silncio seja ainda
animado dum esprito que o fez sintonizar com o ouvido pelos lisboetas, os portugueses, e os mova
a rezar mais e melhor. As crnicas aqui citadas
diziam que os portugueses eram "amigos das
coisas divinas " e mesmo no mundo muitos deles localizao da Cartuxa de Lisboa
eram msticos". Ainda hoje os que contactam com
a Cartuxa sintonizam com ela. Os Cartuxos
convidam uns poucos a unir-se a eles dentro,
cantando com o hbito de So Bruno, e a todos a
unir-se de fora orando mais e melhor. A vida
cartusiana testemunha que Deus existe, grande e
merece o louvor e a gratido de todos. Todos os
cristos devem ter almas contemplativas.
A Cartuxa de Lisboa, com a sua igreja aberta ao
culto e os seus claustros talvez um dia prximo
abertos s visitas, , sim, um "legado de
contemplao" para os lisboetas e portugueses de
hoje. Que os herdeiros o estimem e o aproveitem e
o faam frutificar em santidade e at, como
antigamente, em misticismo.

em Santa Maria Scala Coeli

vora, janeiro de 2007


Vale da Misericrdia, Ribeira da Barcarena
Bairro de Laveiras.Concelho de Oeiras

Parquia de Caxias
Na clausura no podem entrar mulheres. Os homens, excepcionalmente e com
licena do Prior, que no tem autoridade para a dar a mulheres.
Da clausura sai a Comunidade uma tarde cada semana para passear pelos
campos prximos, no chamado "espairecimento". Vo conversando entre si, mas
no falam com ningum e caminham apenas pelas proximidades mais desabitadas.
cidade vai um Irmo cada semana s compras e o Procurador com menos
frequncia para assuntos mais importantes.
Cada Comunidade procura contar com um mdico e um enfermeiro que
venham atender os doentes dentro da clausura. Mas quando o caso o requer, o
monge enfermo vai ao especialista ou clnica ou hospital convenientes. Se
possvel, na mesma cidade onde est a Cartuxa.
por tudo isso que desde 1960 raras vezes algum Cartuxo apareceu por
Lisboa. Alguns foram internados por alguns dias em diversos hospitais, com
intervalos de anos entre os diversos casos.
Na dcada dos noventa, tendo sofrido um Cartuxo uma operao cirrgica
especialmente grave, o superior foi visit-lo. Ento a Sra Condessa de Vil'alva teve
a fineza de o levar a Laveiras para conhecer a Cartuxa. D. Maria Teresa nascera ali
perto e ouvira Missa naquela igreja enquanto foi solteira, passando a morar na de
vora quando casou com o Sr Conde de Vil'alva, proprietrio e restaurador ento
das runas de Scala Coeli. Por desgraa, a pessoa que os recebeu no tinha chaves
nem meios para lhes mostrar a Cartuxa do Vale da Misericrdia. E aquela visita
no pde merecer o nome de visita.
Em 2006 o prior da Cartuxa da Transfigurao, em Estados Unidos, veio a
Scala Coeli e ao regresso foi acompanhado ao aeroporto pelo procurador. Os
amigos da Cartuxa em Lisboa, eruditos autores de recentes publicaes para dar a
conhecer a Ordem, aproveitaram para acompanhar o Cartuxo a Laveiras.

O Sr Proco, prevenido, esperava e facilitou que a breve visita desse frutos


para o conhecimento e anlise do que ainda fica.
De facto, os olhos do monge, habituados ao seu ambiente cartusiano,
souberam reconhecer e interpretar pormenores que por fotografia nunca foram
bem compreendidos.

No silncio de qualquer mosteiro sempre eloquente o porto da clausura.


Assusta alguns, atrai outros, interpela a todos. Os monges dizem que as suas
PRIMEIRA VISITA DUM CARTUXO
grades "separam as prises de fora da liberdade de dentro". Se na Cartuxa eborense
AO VALE DA MISERICRDIA o porto est encimado pelo ttulo completo em latim, aqui so apenas duas letras,
C L. Podemos deduzir o pouco interesse dos antigos moradores pelo nome
completo, j que Vale da Misericrdia no era advocao marial. De facto nas
No dia 14 de setembro de 1960 sete monges cartuxos regressavam Cartuxa
crnicas usam preferentemente o nome de Laveiras (Laveyras, naqueles sculos).
de vora, Santa Maria Scala Coeli, da qual tinham sido expulsos em 1834. Nesse
O monge visitante sugeriu a convenincia de hoje entender essas letras como
mesmo dia, festa da Santa Cruz, foi instituda de novo a clausura papal nesse
Cartuxa de Lisboa e chamar assim esta Casa nas ocasies em que se possa falar
mosteiro.
dela para a dar a conhecer melhor na sua cidade.
O visitante Cartuxo ficou muito gratamente impressionado pelo entorno verde
O interior da igreja est muito bem cuidado e impressiona mais e melhor do que ainda embeleza e ameniza o mosteiro laveirense. A Cartuxa est numa grande
que em foto. As estalas do coro desapareceram. Mas nas paredes esto as portas cidade mas situada num bairro, num "Vale", em que ainda os grandes edifcios no
laterais, ao meio, que o Cartuxo sabe serem as entradas dos Irmos leigos ao seu devoraram estes restos monsticos. Isso d de longe uma bela vista da Cartuxa,
prprio coro. Na parte central dessa parede est um nicho com o lavabo para as que pode permitir a aluso literria ao tema to cartusiano do Deserto. Alm disso,
purificaes litrgicas do altar que nesse coro dos Irmos se encontrava. Por isso, o mais agradvel poder ainda passear ao redor da igreja e claustros entre rvores
desaparecida a tradicional diviso da igreja em duas partes, apenas um visitante e plantas viosas. Sem isso, a vivncia do passado seria mais difcil.
que venha de outras Cartuxas pode reconhecer e interpretar a disposio especial
das paredes desta igreja. O coro alto, que muitos agora diziam ser o coro dos O Cartuxo visitante por uma vez pensa e fala em outros hspedes de outras
monges, no era seno a tribuna donde assistiam aos Ofcios os parentes vares vezes futuras. Estes restos histricos so pouco ou nada conhecidos na grande
que visitavam os monges. Lisboa, mas merecem ser admirados, sobretudo pela sua mensagem, pelo legado
Outro erro frequente at agora tinha sido chamar pia baptismal uma pia contemplativo que abrigam. O monge foi informado das intenes da Cmara
marmrea, em forma de clice, que est no nicho prximo ao altar mor. Mas esse Municipal de Oeiras de adquirir ao Estado este patrimnio para o valorizar
era o lavabo para as purificaes do altar mor. De facto nunca chegou esta igreja a histrica e espiritualmente por meio da Parquia. O entusiasmo do Sr Proco
ser usada para baptismos. inspirou ao Cartuxo as maiores e melhores esperanas para tal, especialmente
Hoje, com a igreja, s se conserva o claustro e o claustrinho. J que o resto do contando como contam com a colaborao de jovens cristos fervorosos e
mosteiro, cado em runas, foi finalmente arrasado para construir em seu lugar o sensveis aos valores representados pela nica Ordem contemplativa masculina em
Reformatrio, um resultado feliz desta visita foi redescobrir o incio da arcaria do Portugal..
claustro dos Irmos, que hoje no existe. Antigamente os Irmos Leigos tinham
celas aparte, em claustro prprio. Parece, pois, que uma porta espiritual poder patentear-se se se abrirem as
portas arquitectnicas de Santa Maria do Vale da Misericrdia. Esta antiga
As crnicas narram as dificuldades encontradas para a primeira construo, Cartuxa pode converter-se, graas a esse jovem Proco e a jovens amigos de Jesus,
por causa do desnvel do terreno, mas narram tambm como D Baslio de Faria, de Maria e da Igreja Catlica e da vida monstica, num centro de orao e
que vinha de Scala Coeli, aplicou aqui a soluo de vora: caves em vez de contemplao, que precisamente a observncia cartusiana impede realizar em
aterros. Hoje admiram-se por fora os contrafortes que permitiram resolver o Scala Coeli.
problema.
Deus abeno-los- e ajud-los-, e So Bruno vai obter-lhes as graas
J por fotografias era possvel notar as semelhanas entre as duas Cartuxas. necessrias para esse projecto, que to bela mensagem espiritual poder difundir,
por isso que no exitoso livro de Pinharanda Gomes a capa e a contracapa, que primeiramente em Lisboa e de ali ao Povo todo portugus, to sensvel ainda hoje
reproduzem os dois claustrinhos, parecem uma repetio. Este claustrinho merece a este valores contemplativos.
ser visitado e valorizado. Abriga, verdade, nas suas paredes, dois baixo-relevos
mais modernos, obra dos rapazes aqui alojados. Mas esto bem executados e
cumpriro dignamente uma funo de lembrana da histria recente do mosteiro.
A fachada de Laveiras mais modesta, como todo o conjunto o foi, do que a
eborense. Mas no deixa de ser uma lembrana. Ao menos por ambas serem tronos
de Nossa Senhora. Esta imagem bela e atractiva.
Pelo contrrio o trono do retbulo est agora fechado e desactivado. Deveu
ser um expositor do Santssimo Sacramento, como o de Scala Coeli e de tantas
igrejas portuguesas.
O visitante v um smbolo da modstia comparativa desta Cartuxa no
pequeno campanrio. Se os dois claustrinhos so quase iguais, nesse pormenor a
diferena chama a ateno.
A CARTUXA "VALLIS MISERICORDIAE"
de LAVEIRAS (OEIRAS)

III Parte do livro


A ORDEM DA CARTUXA EM PORTUGAL
pelo Dr Jesu Pinharanda Gomes
I

GNESE E PERCURSO

DONA SIMOA, PRETA DE S. TOM

Dona Simoa Godinha est no princpio da gesta cartusiana laveirense. Ao


invs do que em alguns lugares selectos consta 1, que a comunidade de Laveiras
foi fundada por Dona Simoa, cumpre registar que o ttulo de fundadora lhe no
cabe, mas que das suas ltimas vontades dependeram as circunstncias que
facultaram Cartuxa um lugar para a solido perto da capital.
A mistura de sangues na ilha de S. Tom foi um fenmeno cedio, havendo
diversos nomes de mulheres na histria quinhentista santomense. Dona Simoa
nasceu nessa ilha, nos alvores do sculo XVI, neta de um dos primeiros colonos
brancos, talvez um dos fundadores da cidade capital da ilha, de nome Godinho, o
qual casou com uma senhora preta. Deste casamento nasceram a me de Simoa, e
uma outra filha, sua tia, de nome Maria Godinha. Simoa veio a casar com o fidalgo
portugus D. Lus de Almeida, ambos tendo fixado residncia em Lisboa por
voltas de 1560, j seus pais e outros familiares eram falecidos, talvez sua me
ainda viva, pois se presume que esta veio para a capital do Reino com a filha, com
o genro, e com um numeroso squito de fmulos pretos, ou escravos, alguns dos
quais seriam seus familiares, ou protegidos. A senhora, com toda essa gente, vivia
numa casa na rua das Portas do Mar (Alfama), onde faleceu, em 26 de Maro de
1594, um sbado, tendo j uma idade a rondar ou mesmo a exceder os oito
decnios, dos quais, pelo menos os ltimos trs vividos em Lisboa, sendo pessoa

1
Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, p. 56 et allia. De agora em diante atemo-nos ao melhor
estudo sobre a personalidade desta senhora, Dona Simoa de S. Tom em Lisboa, (Lx., 1998), do
Padre Antnio Ambrsio, Claretiano, que escreveu o estudo na celebrao do 5 centenrio da
fundao da Misericrdia de Lisboa (1498-1998).
respeitada, por sua linhagem e por seu poderio. Era, de facto, muito rica: fazendas testamento faz me pe dificuldade de estarem a mulheres, eu desejo que se
de acar na ilha, escravos, casas, engenhos, ouro, jias, terras e quintas. Fez celebre ali o Ofcio Divino, pelo que peo ao Senhor Provedor e a meus
testamento, marcado pelo sentido da caridade e do despojamento, para testamenteiros faam na mesma Quinta Mosteiro de Religiosas pobres, e quando
testamenteiro nomeando pessoa de confiana, Manuel da Cunha, feitor, que no puder ser bem serem freiras, sejam frades, de maneira que nela se sirva a
cuidara das suas fazendas temporais aps a morte do marido. Contemplou os Nosso Senhor Deus por pessoas eclesisticas e religiosas 5. Cometeu Irmandade
naturais santomenses, deu a carta de alforria a quinze escravos, deixando quantias da Misericrdia, e em especial ao seu Provedor, a satisfao da ltima vontade.
de sobrevivncia a cada um deles, tudo isto antes de sar de S. Tom. Num Quanto a uma outra casinha que possua perto de Laveiras, deixou-a a Catarina de
testamento final, com data de 2 de Fevereiro de 1594 confirmado pelo tabelio Rui Almeida e, por morte desta, seria integrada no patrimnio da Quinta do mesmo
Lopes de Brito no do mesmo ms e do mesmo ano, morando ento na freguesia de lugar, quer dizer, a Quinta de Laveiras.
S. Joo da Praa, na residncia j indicada deixou as ltimas vontades 2. Por estar Em resumo, a numerosa fortuna de Dona Simoa foi herdada pela
fraca, pediu ao Padre Fr. Belchior, arrbido que, por ela, assinasse o testamento. Misericrdia de Lisboa, ainda que deixasse algumas rendas a certas pessoas, suas
Fr. Belchior, franciscano, arrbido, era o seu confessor. Foram testemunhas protegidas, enquanto vivas fossem. Quanto a dinheiros e juros, determinou que o
do acto de assinatura do codicilo, perante o tabelio Rui Lopes de Brito, Sebastio Provedor da Misericrdia os aplicasse no resgate de cativos, no casamento de
Rodrigues Leguis, quinteiro em Chelas; Henrique Pereira e Cristvo Botelho, rfs, no tratamento de doentes incurveis do Hospital de Santa Ana, e na
criados de Dona Simoa; os Padres Sebastio Rodrigues, Joo Sebastio e Manuel assistncia aos presos das cadeias de Lisboa, com relevo para a do Limoeiro.
de Barros, moradores na freguesia de S. Joo da Praa, todos eles declarando que Parece no ter havido contencioso quanto s suas determinaes, excepto no caso
conheciam Dona Simoa pessoalmente. Outras personalidades honraram o codicilo particular da Quinta de Laveiras.
com assinatura, era o dia 26 de Maro de 1594. Dona Simoa morreu logo a seguir,
e o funeral, registado no Livro de bitos da S de Lisboa, celebrou-se no dia UM STIO APRAZVEL
seguinte. Foi enterrada em tmulo prprio na igreja da Conceio Velha de Lisboa
(ao Terreiro do Pao) onde esteve a primeira sde da Misericrdia de Lisboa 3. A A freguesia de Pao dArcos compreende diversos lugarejos, quais sejam,
fundara e mandou construir a capela do Esprito Santo, em mrmore, que dos principais, Caxias, Laveiras, Lagoal e Morganhal que, no censo de 1940
corresponde, depois de 1755, actual capela do Santssimo Sacramento 4. totalizavam 1155 habitantes, no stio de Laveiras residindo cerca de um quarto da
Excede o nosso propsito a leitura do testamento de Dona Simoa de S. populao. Tendo em vista os censos de meados do sculo XIX, Vilhena Barbosa,
Tom, pessoa de muita caridade religiosa, e muito rica, como se depreende do sem discriminar Laveiras e juntando tudo na rubrica Caxias, registou 39 fogos e
testamento. Entre os bens constavam quintas nos arredores de Lisboa: em 122 almas 6, sendo possvel que, nos finais do sculo XVI o stio ainda fosse
Barronhos, arrendada a Afonso Fernandes, que pagava um moio de trigo, e outro menos habitado. As povoaes de Laveiras e Caxias eram consideradas juntas no
de cevada por ano, os quais a doadora deixou a Manuel da Cunha e mulher; em mesmo nome, embora hoje em dia seja mais frequente dizer-se Laveiras e
Linda-a-Pastora, arrendada a Jcome Pires, que pagava dez alqueires de trigo ao Morganhal que, a par de Caxias, so lugares da freguesia de Paos dArcos,
ano, e mais uma galinha, o que legou a Isabel Afonso; em Caspolima (?), adjacentes uns aos outros, Laveiras distando apenas um quilmetro de Caxias, para
arrendada a Simo Fernandes, que pagava 15 alqueires, que deixou a Maurcio o interior. Todavia, Pao dArcos s foi criada freguesia em 1926, com localidades
(sic), talvez um seu familiar negro; e ainda terras em Mericeiras, no reguengo de desmembradas da freguesia de Oeiras. De facto, Laveiras pertencia, quando a
Tois em Santarm, que deixava Misericrdia de Lisboa, que veio a ser a sua Cartuxa foi criada, parquia de Nossa Senhora da Purificao de Oeiras. Nunca
principal beneficiria. Do conjunto sobressai a minha Quinta de Laveiras, acerca pertenceu a Carnaxide (ao contrrio do que diz P. Leal), e como se confere pelas
da qual dispe: respostas ao Inqurito Paroquial de 1758, o qual indica haver em Laveiras uma
Se acaso morrer sem fazer de minha Quinta de Laveiras, Mosteiro de ermida dedicada a N. S. do Porto Seguro (que talvez seja a posterior de N. S.
Religiosas pobres, como desejo e confio fazer, ainda que quem me este meu das Dores) 7. Era costume mencionar os dois lugares em conjunto (Laveiras
Caxias) predominando Laveiras ainda hoje em dia, a pontos de a Junta de
2
Cf. A. Ambrsio, ob. cit.. Freguesia de Pao dArcos ali ter aberto uma delegao, sita na Avenida Joo de
3
Em 1993, no incio do 5 centenrio das Misericrdias, as comemoraes iniciaram-se junto ao
seu tmulo na Igreja da Conceio Velha. De facto, a doao que de seus bens fez consolidou o
5
projecto de solidariedade da Confraria da Misericrdia. Ambrsio, ob. cit., p. 20.
4 6
Manuel Ferreira da Silva, A Ranha Dona Leonor e as Misericrdias Portuguesas, pp. 170-180, Archivo Pitoresco, vol. 6, p. 378.
7
muito ilustradas. A.N.T.T., Dic. Geogrfico, vol. 26, Doc. N 8, fl. 75.
Freitas Branco. E quando, em 1949, o Patriarcado achou por bem criar ali uma O lugar, fresco ou hmido ele seja, motivou a Corte para ali dispor de uma
parquia, optou por um modelo de quase parquia (Vicariato) nomeado Laveiras aprazvel vilegiatura. Estes lugares eram um sonho da aristocracia, que gostava de
Caxias, com proco prprio. sair da urbe para o campo, sendo vrias as famlias que dispunham de quintas,
Lugar sumamente aprazvel [...] junto ao rio Tejo, na extremidade de um granjas e solares nos subrbios nas regies de Loures, Sintra e Cascais. Como os
vale onde vem desaguar a ribeira de Barcarena 8, o descobrimento do veraneio solares se situavam por regra perto uns dos outros, faziam vida social, mormente
junto ao mar e a expanso urbana levaram construo do caminho de ferro, e, por seres, em que at se representavam peas de teatro, sobretudo na poca romntica
via do traado da linha, ao ascenso do lugar de Caxias, que estao do percurso de Garret. A perturbar ou, no mnimo, a reduzir o grau de solido da Cartuxa, o
para o litoral de Cascais, e que foi centro de escolas e de instituies militares. Infante D. Francisco, filho de D. Pedro II, ali iniciou, na Quinta Real, a edificao
Laveiras e Morganhal, mais para o interior, assentam em graciosos outeiros sobre de um solar (o Palcio Real) cujas obras s ficaram concludas no tempo de D.
a ribeira de Barcarena 9. Pedro III, marido de D. Maria I, alis sua sobrinha. Era a Real Quinta e Pao de
Que significa Laveiras? Num documento de 1302 aparece a forma Soveral de Caxias, junto estrada e Forte de S. Bruno.
Laveiras, o que nos habilita a crer que, na zona, existisse um sobral, sobreiral ou A envolver o Pao, um jardim imitao do existente em Queluz, ao gosto e
soveral, como havia no Monte Agrao. Muitos topnimos tm origem em estilo franceses de Lus XIV, com predominncia das arquitecturas vegetais, as
acidentes geogrficos, como se v no topnimo Lagoal. Na regio de Lisboa, e um leas ou avenidas abertas em esquadria, ou ngulos rectos. rvores copadas a
pouco em todo o pas, imensido de topnimos decorre da flora tpica de cada terra imitar figuras colunas, obeliscos, pirmides, em tpico neo-classicismo barroco,
Alandroal, Ameal, Lourinh, Sabugal, Salgueiral, Tojal, Zambujal, etc. Quanto a as alamedas surgindo como galerias, havendo tanques com molduras lavradas em
Morganhal, Jos Pedro Machado, em diferentes obras, escreve as formas relevo, e murtas aparadas, semelhando biombos, como que a servirem de
Morganhal (stio de morgunhos, planta arbustiva, tambm chamada morganheira proteco a eventuais devaneios romnticos. Imponente, a cascata no topo de um
das praias, ou trtago, frequente na costa portuguesa) e Murganhal (stio com pavilho oitavado com espelho de gua ao centro, com a esttua da deusa Diana e
muitos ratos!) 10. Inclinamo-nos para a forma e para o significado de Morganhal, duas ninfas. Outro lago era dedicado a Hrcules. O pavilho sobranceiro
mais coerente com a toponmia saloia, e por causa de variantes similares noutras paisagem servia de miradouro face ao magnfico panorama aqutico do Tejo, j
regies, como sabemos haver o stio da Murganheira (Vila Boa, Sabugal) onde, golfeado pelas guas atlnticas 11. Junto ao Palcio, uma ponte de pedra,
alis, existe uma ermida de Santo Anto do deserto, com festa e romaria em construda em 1618, pela Cmara de Lisboa 12.
Janeiro. A famlia real servia-se do stio e, ao tarde, D. Miguel ali passou o vero de 1832
De Laveiras ou Alaveiras, como tambm aparece registado, ignora-se a j a casa de pouco uso era, embora servisse de residncia de vero mulher de D.
origem, embora se admita que o topnimo decorre de ali haver um lugar de Pedro IV, a imperatriz D. Amlia do Brasil, e tambm a D. Fernando e a D. Maria
lavagem (talvez de minrios) mas a forma Lavandeira (de Lavandaria) talvez II, que ainda efectuaram algumas obras. A ltima pessoa a passar l alguns tempos
mais frequente e mais peculiar a stio de lavagem. Todavia, h um arcasmo, foi D. Lus I com a famlia, antes de construdo o Palcio da Ajuda, que tambm
lavoeiras, terras agrcolas, granjas, que pode muito bem ser a origem de laveiras o ficava, ao tempo, nos arredores da capital. Todavia, em 1832, j se considerava
que est de acordo com o sistema toponmico regional, e com a geografia da zona. abandonado pelos proprietrios, sendo a Quinta e o Pao entregues ao Exrcito e
De facto, abundava a fazenda agrcola, em contraste com as actividades marinhas e transformado em Campo Entrincheirado. O Reformatrio Central de Lisboa veio a
piscatrias das margens do rio. Praia e lavoura. De Caxias, parece no haver ocupar parte da Quinta, quando recebeu tambm a Cartuxa 13, que lhe fica por trs.
dvida da origem em caxinas, rochedos junto ao mar, como tambm se encontram
na Pvoa de Varzim, Cachopos e Caxinas.
Na barra de defesa de Lisboa, a zona recebeu forte implantao militar,
avultando os fortes, entre eles o de Caxias, construdo em 1649 e que recebeu o
nome de S. Bruno, decerto em homenagem vizinha Cartuxa sita no vale, a 11
Guia de Portugal, vol. I, p. 584, citando Ramalho Ortigo, Praias de Portugal, 1876, p. 387. I.
montante da foz da ribeira de Barcarena, facto que ter levado ao costume de, mais Vilhena Barbosa, in Archivo Pitoresco, Vol. 6, 1863, p. 377, reproduz uma gravura da monumental
tarde, o mosteiro ser vulgarmente conhecido por Convento de S. Bruno. cascata.
12
Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, p. 56. Ver uma antiga gravura, adiante.
8 13
I. Vilhena Barbosa, id., id. Pouco deve ser o interesse deste conjunto em nossos dias, pois Anne de Stoop, no lbum Quintas
9
Jos Maria de Almeida, Monografia do Reformatrio Central de Lisboa, p. 144. e Palcios nos Arredores de Lisboa, Porto, 1986, trata da Quinta do Jardim no Murganhal (sic),
10
Jos Pedro Machado, Dicionrio Onomstico e Toponmico da Lngua Portuguesa, 2 vol., p. mas de todo omite o Pao Real. O chamado Jardim da Cascata acha-se agora sob administrao do
861; e Grande Dicionrio de Lngua Portuguesa, vol. VII, p. 469. Municpio de Oeiras.
DA PAMPULHA AO VALLIS MISERICORDIAE anos, procurando stio adequado para novo eremitrio cartusiano. Era ideia j
trazida de vora, ou foi iniciativa persuasria do bispo resignatrio de Viseu? A
As crnicas internas da Cartuxa de vora testemunham que o projecto Pampulha serviu de base ao projecto, para que faltava o stio. Embora ainda
cartusiano previa pelo menos um segundo ermo, de preferncia na regio de arredada do centro, a Pampulha j estava habitada. A encosta, debruada sobre o
Lisboa, por ser a capital do Reino, sendo esta previso um desejo do Captulo Tejo, a par dos estaleiros por onde hoje em dia corre a Avenida 24 de Julho, com a
Geral da Ordem. Muito se fizera desde o ano da clausura eborense, mas, sete anos paroquial de Santos a servir de centro, era muito desejada, por ser perto e ficar
depois, em 1594, o prior de vora, D. Lus Telmo, adoeceu gravemente, pelo que, longe, mas j ali se achavam duas casas de Ordem nova: o Convento de S. Filipe,
havendo de consultar mdicos e de se tratar, renunciou ao priorado e fixou fundado em 1581, dos Carmelitas Descalos; e o Mosteiro de Santo Alberto
residncia em Lisboa com o propsito de se curar, mas os ventos sopraram em inaugurado em 1585, das Carmelitas Descalas. A crer nas crnicas descalas
diferente quadrante, e a estada em Lisboa seria o prlogo para a desejada fundao carmelitas, Joo da Cruz esteve no Convento de S. Filipe em Maio de 1585, para o
de Lisboa 14. Aqui foi acolhido e protegido por um aristocrata do esprito, que tem Captulo da sua Ordem, e fez meditaes junto ao rio, em Santos, a tendo tido as
lugar na histria cartusiana, embora no fosse cartuxo: D. Jorge de Atade, que primeiras vises (ou inteleces) msticas 17. A Pampulha j no reunia as
merece um pargrafo biogrfico. necessrias condies do ermo. Era preciso indagar mais longe. Muita gente sabia
Filho do 1 Conde de Castanheira, D. Antnio de Atade e de sua mulher, D. do testamento generoso de Dona Simoa, tanto mais que a Provedoria da Santa
Ana de Tvora (das melhores famlias do Reino) nasceu na capital em 1535, e Casa da Misericrdia desejava dar satisfao s vontades da benemrita.
depois de estudar Humanidades, obteve o grau de canonista pela Universidade de O local, se bem que sadio e de bons ares, no era dos mais adequados a uma
Coimbra. Viajou pela Europa e, por curiosidade virtuosa 15, ainda que instituio de carcter pedaggico 18 (parecer acerca do Reformatrio Central)
recomendado por el-Rei D. Sebastio, esteve no Conclio de Trento, melhor, na tanto mais que, para aproveitamento do espao, qualquer mosteiro teria de ser
terceira e ltima fase do Conclio, entre 1562 e 1564, altura em que o pontfice Pio construdo no fundo do vale, em stio hmido e sombrio 19. Porm, e com efeito a
IV o encarregou da reforma do Brevirio e do Missal, uma tarefa da qual se partir de 1594, muita gente (isto : Congregaes Religiosas) queria fixar-se em
desempenhou o dominicano Fr. Francisco Foreiro 16. Depois de muito viajar, ao Laveiras. Os Cartuxos tambm gostaram do stio. planura um tanto rida da
gosto de um cosmopolitismo que o sculo XVIII transformou no perfil dos charneca, poderiam acrescentar um espao fresco e verde, um osis, se comparado
estrangeirados, regressou ao Reino e foi eleito (1569) bispo de Viseu, mantendo- com o deserto alentejano.
se nesse encargo at 1578, ano em que renunciou dignidade, e fixou residncia Quando, distncia dos tempos, consideramos a opinio do arrbido Fr.
na corte de Filipe I de Portugal, onde encontrava bons amigos, incluindo seu Belchior, que redigiu o testamento de Dona Simoa, pondo reservas ideia de
padrinho, o escritor e humanista Joo de Barros. Era Prior de Bucelas, quando foi fundar em Laveiras um instituto feminino, fatal um juzo temerrio: o frade veria
eleito bispo. No altar-mor da igreja de Bucelas h uma inscrio com o seu nome, com bons olhos que a Quinta viesse a car nas mos da sua Ordem. Os
e a data de 23.1.1569. Viria a falecer em 17 de Janeiro de 1611, tendo escrito umas Franciscanos Reformados da Provncia de Santa Maria da Arrbida (Arrbidos),
Actas do Conclio de Trento at 7 Sesso, cujo manuscrito ainda existia na que optaram pela via da pobreza integral e da vida eremtica, ganharam a geral
Cartuxa de Laveiras, no sculo XVIII. simpatia na regio de Lisboa, desde que Fr. Martinho de Santa Maria castelhano,
Lus Telm foi acolhido por D. Jorge de Atade, no mesmo ano em que se fixou em vida eremtica na serra da Arrbida, gerando uma dinmica asctica a
falecera a benemrita Dona Simoa Godinha, e tudo indica que a doena de Fr. que em breve se associou um santo (Pedro de Alcntara) verdadeiro co-fundador
Telm motivou ambos para se iniciar uma nova fundao. Capelo-mr de D. Filipe da Ordem, cuja reforma se iniciara em 1542, e autor dos Estatutos. A austera
I, D. Jorge de Atade providenciou residncia, numa casa que possua no subrbio pobreza motivou os fiis, mas os Arrbidos vieram a imergir num estilo quietista,
de Pampulha, freguesia de Santos-o-Velho, onde Lus Telm viveu durante quatro que muito contribuiu para o seu enfraquecimento em matria vocacional, pelo que,
extintos os eremitrios, parece nada ter restado que pudesse levar a uma renovao
14 da Ordem, que se tornou como que a coqueluche da regio da Grande Lisboa,
As principais fontes originais para o caso de Laveiras so os dois manuscritos j identificados:
Cartuxa de Laveiras, B.N.L., Cd. 189; Joo de Santo Toms, Origines Cartusianorum Lusitaniae. abrindo casas conventuais no litoral, desde o rio Sado ao rio Tejo, e Oeste, no
A.N.T.T., Livraria, n 608. No lbum As Cartuxas de Portugal estas fontes foram largamente decurso de relativamente poucos anos. Citem-se os eremitrios de Palhais
utilizadas.
15 17
Jos de Castro, Portugal em Roma, vol. V, p. 159. Para outros informes, cf. Barbosa Machado, P. Gomes, Imagens do Carmelo Lusitano, Lx., 2000, pp. 133-188, sobre a presena de S. Joo
Bibliotheca Luzitana, Vol. II, pp. 192-794; e M. de Arago, Viseu. Instituies Religiosas, Porto, da Cruz em Portugal.
18
1928. Monografia do Reformatrio Central de Lisboa, p. 9.
16 19
P. Gomes, Pensamento Portugus, Vol. VII. Braga, 1993, pp. 65-87. J. B. de Castro, Mappa de Portugal, vol. 3, p. 67.
(Barreiro), Santa Catarina de Ribamar (Dafundo), S. Jos de Ribamar (Algs), concesso a frades pobres e outorgou os bens Cartuxa por bula de 1597. O bispo
Santa Cruz (Sintra), Esprito Santo (Loures) e Nossa Senhora dos Anjos (Barro, de Lisboa, D. Miguel de Castro, levou tempo a publicar a sentena, s em 10 de
Torres Vedras) 20, tudo coroada enfim pelo Convento de Mafra. Teriam os Dezembro de 1598. Lus Telmo j no saboreou o fruto do seu trabalho, pois
Arrbidos alguma ideia de aparecer na Ordem um ramo feminino, que pudesse falecera em 8 de Agosto desse ano, no mosteiro de Cazalla, onde se encontrava
candidatar-se a Laveiras? como Visitador. No dia 12 de Dezembro, a Cartuxa tomava posse da Quinta de
No apareceu qualquer instituto feminino interessado. As novas Dona Simoa, trs dias antes de, tambm em vora, os monges darem entrada no
congregaes descalas j se tinham instalado, e algumas religiosas, foragidas de mosteiro novo Porta da Lagoa. Em todo o caso, o documento final tem a data de
Inglaterra e da Europa protestante, que chegavam ao pas por via martima, ou 1 de Julho de 1603, nele a Misericrdia fazendo a entrega da Quinta Cartuxa,
eram integradas pelas suas prprias casas eventualmente existentes no pas, ou para ali fazer mosteiro, contratando a metodologia e quantificando os montantes a
passavam em trnsito para Espanha e Itlia. Tambm se considerava que o stio era serem percebidos pelas despesas com os materiais de construo.
muito descampado e desprotegido para l se fundar uma comunidade de mulheres, Baptizou-se o stio: Sanctae Mariae Vallis Misericordiae, Cartuxa de Santa
mas verdade que no surgiu, da parte delas, qualquer iniciativa. No nterim, a Maria do Vale da Misericrdia. Um tributo mariano, na melhor tradio da Ordem,
Santa Casa da Misericrdia cedera a Quinta de Laveiras aos Arrbidos, que, mas tambm uma doce lembrana de quem fora dona das terras: a Santa Casa da
todavia, no chegaram a tomar dela posse efectiva. O caminho para um Misericrdia de Lisboa 22. Um lugar quase beira mar, olhando o sul, uma
contencioso acerca da legitimidade da posse, uma vez no haver mulheres Cartuxa na praia...
interessadas, estava aberto.
Lus Telm, apoiado por D. Jorge de Atade e pelos juristas cartuxos, iria O NOVO ERMO
travar uma sria luta. Tudo dependeria da leitura do testamento de Dona Simoa,
leitura essa a rever, pois que a Santa Casa da Misericrdia entregou a Quinta aos Os preparativos para erguer o novo ermo comearam pouco depois de
Arrbidos logo a seguir morte da doadora, considerando definitivo o parecer de confirmada a doao pela Santa Casa da Misericrdia, mas sem notrio
Fr. Belchior, que via dificuldade em dar as terras a um instituto feminino. Ora, no desenvolvimento. Lus Telmo, alma do arranque, faleceu; Francisco Monroig
testamento h uma instruo muito clara: quando no puderem ser freiras, sejam poucos anos sobreviveria; Jernimo rdio e Juan Valero, tinham pouca
frades pobres. Outras congregaes, alm dos Arrbidos, se candidataram posse acessibilidade s fontes onde seria necessrio obter os fundos, os muitos fundos
do stio, em contra do ideal de Filipe I, que desejava uma Cartuxa perto de Lisboa. necessrios obra. Para dar passos adiante, o Captulo Geral nomeou um novo
Ora, por um lado, no havia candidatura de mulheres e, por outro, dado ser uma Prior. Lisboeta, culto, conhecido nos meios sociais, modelo de renncia, ao trocar
fundao recente em Portugal, os Cartuxos eram pobres, ainda que os Arrbidos as dignidades eborenses pelo anonimato cartusiano D. Baslio de Faria 23.
fossem tambm recentes, mas tinham enriquecido rapidamente, como se prova Em Laveiras, os terrenos no eram planos, como no eram na Porta da
pelo nmero de casas fundadas, com respectivos bens. Face ao projecto, e face aos Lagoa. Nem havia muito espao disponvel, pelo que o possvel seria uma
termos testamentrios, a Cartuxa eborense decidiu solicitar os terrenos, no que Cartuxa pequena, mas parece que nem projecto substanciado se desenhara. O
achou a oposio dos Arrbidos, que replicaram que, a dar-se a frades pobres, edifcio da igreja avanara, mas o resto nem se lobrigava como pudesse vir a ser.
estes deveriam ser mendicantes e no monsticos. Na Pampulha, Lus Telm Matemtico, com rudimentos de arquitecto, e promotor de obras, D. Baslio viu o
estudou os quesitos e formulou as rplicas, mas sem grande efeito imediato, pelo ermo na imaginao. Escrevendo ao Prior Geral da Grande Chartreuse, declarava:
que, no obstante o apoio do monarca, houve de se recorrer para o Pontfice Com uma maqueta de cera mostrei que o desnvel do terreno era fcil de vencer
Clemente VIII, a quem Filipe I solicitou um breve sentencial. Estando em Madrid, 24
. De facto, a construo tinha de ser erguida, no directamente no terreno, mas
Filipe I escreveu uma carta em 30 de Janeiro de 1595, ao Provedor e Irmos da sobre caves abobadadas, o que resultaria mais econmico do que o transporte e
Misericrdia, pedindo para que a Quinta fosse entregue aos Cartuxos, mas o vazamento de entulho para criar o plano. E desse modo se fez.
Provedor replicou no lhe ser possvel, em conscincia, tomar essa deciso: que
tinha escrpulos, que seria bom reunir os letrados, pois desejava estar de bem com
a sua conscincia 21. O Papa comutou a clusula testamentria impeditiva da 22
Jos Maria de Almeida, a pp. 133, da sua Monografia, por lapsus calami, escreve que a Cartuxa
de vora se chamou Scala Dei, e que o fundador foi D. Teodsio. De facto chama-se Scala Coeli e
20
Fr. Antnio da Piedade e Fr. Jos de Jesus Maria, Chronica da Provncia de Santa Maria da foi criada por D. Teotnio, como j vimos.
23
Arrbida. Lx., 2 vols., 1728 e 1737. Cf. a sua biografia, atrs. Cf. a excelente abordagem de Joaquim Choro Lavajo, Baltasar (D.
21
Carta in Origines Cartusianorum Lusitaniae, fl. 36. Nesta obra acham-se copiados todos os Baslio) de Faria Severim. De Chantre a Cartuxo, in Eborensia, n. 29, pp. 215-227.
24
documentos relevantes do processo. As Cartuxas de Portugal, p. 67.
Iniciou as obras, que manteve desde 1613 a 1621, com normal regularidade, Quanto proliferao de casas religiosas, cite-se o caso de Filipe III ter
pois foram necessrios muitos passos, entre eles o corte da pedra nas pedreiras, o escrito ao seu Procurador em Lisboa, Tom Pinheiro de Veiga 25, a solicitar (El-
trabalho de cantaria e de montagem, pelo que, considerando o conjunto, e que Rei a solicitar!) ajuda Ordem Cartusiana. Que respondeu Tom da Veiga? que
todas as tarefas eram feitas custa de carros de bois (transporte) e de trabalho havia peties de onze Ordens e mosteiros que tinham projectos de novas
manual (pedreiros, canteiros, trolhas...) oito anos no eram muito. Embrenhado fundaes, que pediam benefcios e rendas para os projectos; que parecia haver
como estava nas obras, eis que em vora, para suceder ao Prior Francisco uma fuga da sociedade para a vida monstica, chegando a haver entre 130 a 200
Caravaca, os monges o escolhem a ele, Baslio. Que queriam os de vora? Que frades em cada casa.
faltasse o dinamismo a Laveiras? Acaso ignoravam eles que, sem Baslio, a obra O mesmo Tom de Veiga alude ao caso de Laveiras, relativamente ao qual
nascente iria ser adiada? Quem o poderia substituir? tinha dvidas, por achar que no stio se deviam evitar novas construes, chegando
Respeitando a disciplina estatutria, D. Baslio no teve outro remdio que ao ponto de achar que a Cartuxa de Laveiras parecia querer ser uma espcie de
no fosse o de aceitar o regresso a Scala Coeli, mas no sem originar um Escorial, quando, havendo prudncia, entre 12 a 14 celas para monges seria
complexo processo de contencioso, ao contestar a eleio, apoiado na letra bastante para to santa religio. Todas as peties chegavam mesa rgia; e
estatutria, j que ele era um jurista. Na biografia que noutro passo deste escrito todas elas passavam para os Procuradores e para as Secretarias. Tom da Veiga
deixamos, registmos os principais argumentos, de parte a parte, havendo a talvez exagerasse quando imaginou Laveiras como o Escorial; mas talvez, no
opinio de que ele no queria de facto regressar a vora sem dar maior adianto a ntimo, achasse que melhor seria no fazer mais construes naquelas terras rurais.
Laveiras, e que, na durao do processo, esperava ele que, na Ordem, houvesse Novo ermo, duros custos, houve que bater s portas de quem podia, e, se
mudana de parecer e que, por fim, o ilibassem da inesperada eleio. Enganou-se. resposta no houvesse, era s questo de devolver a Quinta Misericrdia, que
vora qui-lo e teve-o, para Laveiras ningum estava disponvel, pelo que os teria logo muitos candidatos. E os benemritos no faltaram, posto que os
Visitadores houveram de resolver o problema, procedendo nomeao de um contributos fossem para se construir uma casa pequena, para uma pequena
espanhol, Bernardo Gort, que, alis, deu boa continuidade s obras, sem comunidade, apenas uns doze monges (como em 1603). Nada a ver com Escorial,
escondimento do pai das fundaes, o seu confrade Baslio, considerado como o que parece ter ficado na memria como sendo uma glosa anedota de Tom da
verdadeiro operrio de Laveiras. Veiga. Com efeito, sendo Nncio Apostlico junto da Crte, em Lisboa (1692-
As obras custavam dinheiro, a Cartuxa no o tinha. H quem admita que, 1698) o Cardeal Jorge Cornaro visitou a casa de Laveiras, cujas obras ainda
pelo facto de no estar mesmo na cidade de Lisboa, os lisboetas se cortavam em estavam inacabadas. Talvez brincando, prometeu que, se um dia fosse eleito Papa,
generosidade, mas, a nosso ver, a explicao outra. A regio lisboeta estava havia de fazer com que as obras terminassem de uma vez por todas. Na visita
povoadssima de casas regulares, masculinas e femininas. Scala Coeli nascera tambm estava o Embaixador de Frana, que se comprometeu a lembrar a Cornaro
rica (locuples erat) em vista de beneficncias do Arcebispo, enquanto em Lisboa a promessa, caso fosse eleito, mas, falecido o papa Clemente XI, o eleito foi
as benemerncias no atingiram a radicalidade teotoniana. No ambiente da Inocncio XIII, quer dizer, o cidado italiano Miguel ngelo Comti, que, alis,
Reforma haviam surgido novos institutos mendicantes e contemplativos. Os viveu em Lisboa como Nncio (1698-1709) muito das boas relaes de D. Joo V,
mendicantes andavam nas ruas, colaboravam na pastoral paroquial, criavam mas que da Cartuxa e das promessas de Cornaro nada sabia. Tal como D. Joo V.
relaes sociais, faziam orientao espiritual, podiam bater porta de ricos e O Escorial portugus viria a ficar em Mafra... Nem Laveiras tinha terras para to
poderosos, influenciavam e, pouco ou muito, sempre faziam colecta; no assim os exagerado edifcio, exagerado e, no fundo, intil, ainda que, decerto, pela
Cartuxos, que, insulados, no tinham anloga capacidade de relacionamento e, incompetncia dos cidados responsveis. Os Cartuxos no tm culpa, mas de
como se sabe, quem no aparece esquece. Quanto vizinhana, bvio que ela ver que a Cartuxa teria ficado muito melhor se distante de Lisboa, em stio mais
no podia satisfazer s exigncias com esmolas, por muito boa vontade que solitrio, se, em vez do Mosteiro de Santo Antnio de Mafra, se tivesse l
houvesse. Quem tem alguma experincia da construo de uma igreja nas construdo uma Cartuxa. Como o convento ainda ficava distante do modesto
urbanizaes da regio de Lisboa, mesmo nessas urbanizaes concebidas para a povoado de Mafra, aninhado l ao fundo, em volta da antiga igrejinha de Santo
classe mdia alta, sabe como os donativos obtidos na parquia mal chegam para a Andr! Mas era tarde, no fora D. Joo V a escolher Laveiras!
taloca de um dente...
25
Tom Pinheiro de Viega (1566?-1656), magistrado, Procurador de Filipe I de Castela e notvel
criador literrio, desconhecido como tal, at 1911, ano em que se achou o Fastigimia, editado pela
Biblioteca Municipal do Porto. Livro de estilo lacre, colorido, pitoresco, crtico de costumes, o seu
parecer sobre a invaso urbana dos campos coerente com as ideias de Fastigimia.
O segmento mais dispendioso da casa foi o claustro, com as celas e suas onde finalmente D. Lus tambm repousa, em campa, na capela de Nossa Senhora
capelas, tudo tendo sido construdo mediante ofertas benemritas. A primeira de da Piedade, sob a legenda Sub tuum praesidium 27.
todas veio, como j vimos, do bispo D. Jorge de Atade, que pagou as duas Homem do mundo mundano, mas alma de ndole contemplativa, gostava da
primeiras celas, legando duas capelinhas, por sufrgio de sua alma, ainda no tempo Cartuxa, chegando a prometer a doao da sua biblioteca, embora essa promessa
de Lus Telm. por motivos ignotos se no cumprisse, com desgosto dos ledores monges de
A terceira foi paga pela famlia de um professo, natural do Porto, D. Joo Laveiras, que eram genunos bibliotecrios. Que sumio levou a livraria do
Coelho; outras foram custeadas por D. Beatriz de Mendona e Barreto, dama da Cardeal Lus de Sousa? Foram os herdeiros de sangue a dispers-la? Que livros
Ranha D. Margarida, mulher de D. Filipe II; pelo Regedor de Justia, D. Manuel esses, trinta mil, do sculo XVII? Que raridades? Que incunbulos? Que fontes
de Vasconcelos e sua mulher; e ainda uma outra, nesta primeira ala do claustro, magistrais? O que l vai l vai, D. Lus de Sousa fez, no entanto, as doaes
pelo Inquisidor mor do Reino, D. Francisco de Castro, bispo da Guarda. necessrias para que o claustro fosse alargado para alm das seis celas iniciais,
Concluda a primeira ala, devolvida a independncia a Portugal, a famlia pagando a primeira. Ignora-se o montante gasto, mas ter sido relevante. O Prior
real teve os monges de Laveiras em considerao. Dera-se o caso de Filipe I ter era um espanhol, Lamberto San Martn, de quem pouco sabemos.
prometido uma renda, que nunca chegou a pagar, pelo que D. Joo IV ordenou, em
1652, que o Tesouro procedesse satisfao das promessas. De facto Filipe I Para assinalar a ddiva, mandou-se gravar uma lpide, que diz:
prometera uma renda de 400.000 ris anuais, que esperava receber do confisco dos
bens de um aristocrata mas, tendo este sido absolvido em juzo, nunca mais a AN. MDCXCVIII/ O EM.MO E R.MO S.OR LUIS DE SOUZA/ PRESBTERO
promessa (sub conditione?) foi satisfeita. Quando, em 1736, houve necessidade de CARDEAL DA S./ I.R.METROPOLITANO ARCEBISPO/ DE LISBOA
reconstruir a antiga igreja, D. Joo V abriu os cordes bolsa, tendo pago os DO CONS. DE ESTADO/ DE EL REY D. PEDRO II N.S., E SEU/
maiores custos da fachada que hoje l vemos, em calcreo lis lavrado. CAPELLO MOR MANDOU EDI/ FICAR ESTA CELLA E A DOTOU/
A falta de dinheiro era endmica, com as obras absorvendo tudo, havendo C SINCOENTA MIL REIS DE JURO/ PERPETUO P SE ALIMENTAR
pleitos por causa de doaes e direitos, como foi o caso de um frade Agostinho HU/ MONGE, Q HADE ORAR PELLO DITO S.OR CARDEAL,/ E PELLO
que se passou para Laveiras, com licena do Nncio e dos Visitadores, e que levou AU/ GMENTO DA EXC.MA CAZA DOS/ S.RES MARQUEZES DE
o seu dote. Todavia, no se entendeu bem na Cartuxa, que abandonou, regressando ARRONCHES/ CONDES DE MIRANDA. E SO OBRI/ GADOS OS
sua Ordem original que, ento, reclamou o dote que a Cartuxa recebera. A lei MONGES DESTE CON/ VENTO A HUA MISSA QUOTIDIA/ NA
determinou que a Cartuxa nada tinha a devolver, mas entendeu-se que melhor era PERPETUAMENTE POR TEM/ O DE S. EM.A, E POR SUA ALMA/
devolver e esquecer: no se podia aceitar nada de quem, afinal de contas, dera DEPOIS DE SEU FALECIM.TO NA/ FORMA DA ESCRITURA Q. SE FEZ
provas de no gostar da Cartuxa 26. EM LX.A NAS NOTAS DO TABALIO/ MIGUEL TAVARES DE
Para se completar o projecto de D. Baslio, faltava a ala esquerda do claustro, MORAIS AOS/ 20 DE MARO DE 1698. 28
cuja construo deveio possvel graas ao apoio do Patriarca D. Lus de Sousa
(Porto, 1630 Lisboa, 4.1.1702), uma figura proeminente da histria eclesial
portuguesa. Como seus pais viviam em Madrid, foi pagem da Rainha no tempo de
Filipe III de Portugal (IV de Castela). Amigo do Prncipe D. Teodsio de As condies foram um pouco complexas: o monge da cela tinha de rezar
Bragana, viajou um pouco pela Europa, a conselho do amigo, cujo falecimento o por vrias intenes, incluindo as dos Marqueses de Arronches, talvez porque
deixou profundamente abatido, a pontos de pensar no abandono do mundo e na foram eles a dar ao Cardeal a verba para a generosa ddiva.
profisso na vida cartusiana, o que no chegou a verificar-se. Biblifilo Uma outra cela veio a ser paga pelo Desembargador da Casa da Suplicao,
apaixonado, reuniu uma biblioteca particular que atingia os 30.000 volumes. D. lvaro da Fonseca Lobo, j no sculo XVIII. O acto foi assinalado com lpide
Nomeado bispo titular de Bona (1671) acedeu ao arcebispado de Lisboa (1675) na cela. A legenda, bem comprida, foi muito abreviada, mas, na ntegra, reza:
tomando posse da Catedral no ano seguinte. Conselheiro de Estado, eleito Cardeal
(1679), fez muitas obras em conventos e igrejas do Patriarcado, no seu episcopado
tendo sido achadas as perdidas relquias de S. Vicente, depois guardadas na S,
27
Cf. Biblioteca Lusitana, Vol. 3, pp. 152-154; Grande Enc. Port. e Brasil., vol. 29, p. 812; F. de
Almeida, Histria da Igreja em Portugal, Vol., 3, 1968, p. 640.
26 28
Origines Cart. Lusitaniae, fl. 132-155. Ver adiante. Reproduo da lpide in J. Maria de Almeida Fernandes, Monografia do Reformatrio, p. 141.
Esta cela mandou fazer D. lvaro da Fonseca Lobo, Desembargador que especiarias, como fossem o gengibre, o incenso, os doces e os acares. A
foi da Casa da Suplicao, a qual ordenou em seu testamento, quando se fez subsistncia era menos dispendiosa, graas proverbial austeridade cartusiana,
monge nesta Cartuxa, se edificasse em honra de Nossa Senhora da Nazar e a mas no menos embaraada pelo prprio gnero eremtico de vida. Como os
dotou com cem mil ris de renda perptua para a sustentao do monge que nela solitrios no saem, no podem contar com a mendicidade. E como os leigos so
viver, ao qual encarrega e pede muito encarecidamente que todos os dias na em menor nmero que os padres, e todos dedicam grande parte do dia orao e
orao e na missa tenha o particular cuidado de encomendar a Deus a sua alma e ao estudo, a explorao da Quinta no podia chegar para subsistirem 31.
a de seu pais. E tem obrigao este convento de mandar dizer todos os anos trinta Os dotes dos professos eram factores de valor contabilstico, mas nem
missas, conforme a sua teno. Ano de 1732. 29 sempre to lquidos como se desejava, ou por motivos familiares envolvendo
partilhas, ou por desistncia. Numa dada altura do sculo XVII, um religioso da
bonito: a ltima doao para a cela de um cartuxo, a de um cartuxo, a de Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho (Antnio de Albuquerque, natural da
um Desembargador que decidiu ir para o deserto da solido. Covilh, em religio: Fr. Joo de Santo Antnio) decidiu ingressar em Laveiras,
Enfim, as obras esto feitas, um longo percurso desde o tempo de Baslio de levando consigo o dote inicialmente consignado aos Agostinhos. Todavia, no se
Faria. Os monges, em suas celas, so mais do que inquilinos. So condminos. a deu bem com o ritmo cartusiano, achou por bem sair e reclamar o dote que levara.
poca gloriosa de um prior portugus, D. Lus de Brito. O ermo novo estava feito, Foi o Cabo das Tormentas, porque nem o frade desistia do que dera, nem a
ainda que um terramoto o pudesse danificar. Cartuxa desistia do que recebera, mas, por fim, os sbios canonistas de Laveiras
decidiram: que levasse o que trouxera, pois a Cartuxa no podia receber fosse o
ECONOMIA EREMTICA que fosse de quem, afinal de contas, no gostava dela. Foi um processo muito
complexo e demorado, gerando importante srie de pareceres jurdicos, internos e
A primeira e mais importante fonte de rendimento nascena foi constituda externos, felizmente registados por escrito 32.
pela doao da Misericrdia de Lisboa, resultante dos benefcios de Dona Simoa. Fra do mosteiro, bem perto, em Porto Seguro (sic), ou Salvo (?), a Cartuxa
O acordo final determinou que a Cartuxa recebesse da Misericrdia uma penso possua uma casa, que servia de hospcio a doentes, sendo nossa conjectura que
anual de cem mil ris, alm da quinta, para sustentao e fbrica das casas 30. essa casa fosse a que, no testamento, D. Simoa facultou a Catarina de Almeida,
Depois, os bens foram sucessivamente aumentados atravs de heranas e doaes para residir enquanto viva fosse. Presumimos que raro ou nunca fosse utilizada
de particulares e pelos dotes levados pelos monges, constitudos principalmente pelos monges, pois no teriam l condies de vida regular, ainda que pudessem
por terras de cultivo e casas em diversas regies do pas, mormente na regio da viver na solido. Outro hospcio, e este mais importante, era a Quinta chamada
Estremadura. Como resulta bvio, a Cartuxa aforava ou arrendava as terras, no as Terras do Salitre, ou da Palmeira, sita na freguesia de S. Jos de Lisboa 33.
trabalhando directamente, mas recebendo as compensaes, (teras, meias, Por doao, o mosteiro de Laveiras possuu uma propriedade, com hospcio,
quintas, foros, laudmios e rendas). Naturalmente que se dispunha de um fundado em 1719, na Rua da Palmeira (ou Palmela, como diz Joo Bautista de
cobrador, quando os devedores no cumprissem as obrigaes contratuais, mas Castro?), Rua do Salitre, em Lisboa. Esta casa parece que nunca funcionou. A
seria difcil a deslocao at Laveiras, para satisfao dos compromissos, sendo propriedade era designada por Horta e Terras do Salitre. Sabemos onde ficava,
crvel que houvesse, em cada ano, rendas por receber. Ao tomar posse do cargo de com bastante rigor, em virtude da existncia de um cdice contendo Vrios
Prior, D. Baslio de Faria, encontrou demandada em vinte dvidas, e h indcios de Documentos Offerecidos Bibliotheca Nacional de Lisboa por D. Amlia Duarte
que a vida econmica na casa viveu sempre em apertos. de Carvalho em 9 de Maio de 1908, a pedido de Jos Antnio Moniz (B.N.L., Cd.
As celas do claustro foram construdas e mantidas por benemerncia. O 8811). Porqu a pedido de Jos Antnio Moniz?
projecto assentava na esperana de que, para os doze monges, fossem construdas Porque este quis salvar da perda uns papis de famlia. Escritor e actor (Lx.,
doze casinhas, custa de benfeitores, que garantissem a construo da casinha e a 1849-1917) 34, autor de diversas obras, entre elas uma Arte de Dizer, foi
sustentao do monge, em troca de benefcios espirituais (orao intencional, conservador da Biblioteca Nacional. Era sobrinho de Francisco Gonalves Lopes,
missas de sufrgio, e trintrios). A pequenez da Quinta dava vegetais para o o primeiro editor portugus de obras de Vctor Hugo. Como vieram esses papis s
quotidiano, mas, quanto a alimentos de substncia estava longe de satisfazer.
31
Precisava-se de mais po, a comprar fora e, sem dvida, de peixe, de sal e de Dicionrio da Histria da Igreja em Portugal, Vol. I, p. 621.
32
Origines Cartusianorum Lusitaniae, fols. 132-155.
33
Dicionrio Geogrfico, A.N.T.T., Vol. III, p. 792. Cf. Fernando Portugal e Alfredo de Matos,
29
Reproduo in Almeida Fernandes, ob. cit., p. 141. Lisboa em 1758. Lx., 1974, p. 130.
30 34
Origines Cart. Lusitaniae, fl. 96 v. Grande Enciclopdia Portuguesa e Brasileira, vol. 17, p. 633.
mos de Jos Antnio Moniz? D-se o caso de os seus ascendentes terem tomado so propcios cultura. Consideremos que, ao tempo, as favas se destinavam
as terras do Salitre de renda, e esses papis so constitudos por recibos da principalmente, depois de secas, a alimentao do vivo, no caso, dos bois e
Cartuxa, para os rendeiros, entre os anos de 1808 a 1832. A propriedade j estava machos que havia na Cartuxa, e puxavam a carruagem em que eventualmente
arrendada em 1787 a Gregrio Pereira, a quem sucedeu Cipriano Pereira, (rendeiro algum monge se deslocaria a Lisboa, ou aos arredores, em servio j que, para a
desde 1789 a 1812), casado com D. Constantina Rosa, cujo nome aparece nos lavoura, se tinham as juntas de bois.
recibos passados pelo Prior de Laveiras entre 1812 e 1819. D. Constantina vinha a Em contrapartida, o inventrio de 1823 identifica a posse de vrias
ser av de Jos Antnio Moniz, sendo que toda a papelada veio a ficar na posse do propriedades de valor, para alm de Porto Salvo e do Salitre. Eram valiosas as
neto, que tratou de a depositar na instituio de que fora Conservador. O ltimo terras de semeadura e pedaos de cho na freguesia de Povos (Vila Franca de
rendeiro, Joo Gonalves Lopes, era ainda da famlia, existindo os recibos datados Xira), a Quinta do Estrangeiro (Apelao, no concelho de Olivais, agora: Loures),
de 1819 a 1832, isto , at quase data da apropriao das terras pelo Governo. Os vrios foros na parquia de S. Julio de Frielas, e mesmo no Largo do Chafariz da
recibos no s mencionam a renda, mas, por vezes, pagamento de emprstimos Alegria em Lisboa. (Seriam as terras do Salitre, j que este chafariz era sito no
que os monges faziam famlia. actual Largo do Rato?) 38.Todavia, j em 1823, a Cartuxa de Laveiras era credora
O hospcio, acerca do qual h poucas notcias 35, e a propriedade, faziam de muitas dvidas, algumas delas antigas, que os devedores no pagavam. Em
esquina Travessa das Vacas, e nela foi construdo o antigo Circo Price. O stio 1834, todos os bens rurais e urbanos foram sujeitos a autos de arrecadao e de
ficava no lugar outrora e em tempo destinado a um monumento ao estadista Fontes arrematao, cujo valor fiducirio reverteu a favor do Tesouro do Estado.
Pereira de Melo (que no se concretizou). Perto estava a esquina da casa da No dia da fuga, quer dizer, em 24 de Julho de 1833, Francisco Ferreira de
Travessa das Vacas, ou Rua do Salitre. As vinhas e as terras de cultivo comeavam Matos registou que, antes de sair, lhe deram catorze peas de 7$500 e um mao de
na esquina da Travessa do Moreira, hoje em dia Rua Jlio Csar Machado. No moeda papel de 122$400 ris, e mais alguns cartuxinhos de 9$600 ris, cujo
lugar do hospcio, o livreiro Francisco Arthur da Silva construiu uma casa. Tudo dinheiro meteu na algibeira do hbito. Os outros monges receberam o dinheiro que
veio a pertencer aos herdeiros do Conde de Alto Mearim, antes da urbanizao puderam, ou quiseram, mas o memorialista no diz quanto 39. Na fuga, e obrigados
daquela zona de Lisboa, que incluiu a abertura de ruas novas, entre elas a Avenida a fazer gastos, o dinheiro disponvel pouco durou. Quatro monges, dos seis
da Liberdade 36. No documento que temos em vista, tambm aparece o nome de foragidos, fixaram residncia em Elvas, vivendo numa hospedaria, aos ouvidos de
terras no Vale do Pereiro, nome ainda presente numa ruela transversal Rua D. Miguel I tendo chegado a notcia de como viviam em grandes dificuldades.
Alexandre Herculano. Condodo, ofereceu-lhes uma penso, cujo montante eles razoavelmente
A Quinta de Laveiras como ainda se v hoje (olhando para o Instituto de quantificaram, vindo a pedir uma diria de 960 ris, o que levou D. Miguel a
Reinsero Social) no era to grande que desse para uma vida acima da pobreza exclamar: Os pobres Padres Brunos com pouco se contentam, bem mostram que
para doze monges e alguns irmos leigos. O inventrio de 1823 identifica a adega, no so ambiciosos 40. E, quanto aos que rumaram para Itlia, apenas Ferreira de
com umas pipas, sem indicao dos contedos, e descreve a abegoaria, ou casa de Matos e Victor Nabantino conseguiram as verbas necessrias para custeamento da
lavoura: dois carros de bois, quatro arados; uma junta de bois novos, castanhos, viagem.
que valiam 153.000 ris; outra junta de bois, j velhos, que valiam 86.400 ris; e
uma parelha de machos, avaliada em 144.000 ris. Nada de especial: alfaias de ESBOO DO ERMO
trabalho rural e animais de traco, os quais desapareceram no inventrio de 1833,
aps a fuga, embora nessa data l tivessem ficado! Naturalmente morreram de Se considerarmos que Laveiras se destinou sobretudo a monges j em vias da
fome ou algum os levou..., pelo que o curral estava vazio. Alis, havia coisas idade anci, podemos sugerir que este mosteiro vinha a constituir um ermo dentro
velhas: no inventrio da cozinha, uns tachos de cobre, de estanho e alguma loua do prprio ermo cartusiano. A prudncia e a sabedoria fixaram-se no Vale da
branca; das camas, apenas os enxerges (podres) e umas tantas cobertas, sem Misericrdia, que recebeu brunos de alto nvel intelectual, como foram os
valor. De mencionar, com importncia, o cereal reservado para moagem: oito primeiros priores aps a morte de Lus Telm: Francisco Monroig, jurista em
sacos de trigo, nove sacos de cevada; e 15 sacos de favas37. Admitimos que as ambos os Direitos, Jernimo rdio, o telogo e canonista Joo Valero e, sem
favas fossem produzidas na Quinta, so um legume saloio, e as terras e o clima
35
J. Bautista de castro, Mappa de Portugal, II, pp. 68-69, e III, pp. 286.
36 38
Vrios documentos, Cd. 8811, n 3, fls. 4 4 v. Idem, id., Documentos ns 98-196, etc..
37 39
Inventrio da Cartuxa de Laveiras. A.N.T.T., Arquivo do Ministrio das Finanas, Cx.2222, Ferreira de Matos, Memrias, p. 10 do manuscrito.
40
fols.30-35. Dicionrio da Histria da Igreja em Portugal, Vol. I, p. 621.
dvida D. Baslio de Faria. Os monges da primeira comunidade provieram mina foi como que destruda por causa da construo dos pavilhes do
tambm de Scala Dei (Tarragona). Reformatrio 44.
A qualidade cultural foi prevista desde o primeiro instante, como se deduz da O cemitrio situava-se mais perto do mosteiro, entrada, no local conhecido
carta que o fundador Lus Telm dirigiu ao Prior da Grande Chartreuse, na qual por Quintinha, junto da estrada que foi aberta nos fins do sculo XIX, e nominada
pede companheiros de nvel: escolha V. R. atentamente as pedras que vai enviar Estrada da Cartuxa. No extremo poente das celas localizavam-se a primitiva igreja,
para fundar aqui, porque esta uma cidade clebre, aonde chegam gentes de todas a hospedaria, destinada a eventuais visitantes, incluindo os familiares dos monges,
as terras (parece glosar Ferno Lopes...) e onde o culto divino se celebra com e a abegoaria. A cerca estendia-se a par da ribeira de Barcarena.
muito zelo; aqui todas as Ordens Religiosas so observantes e fervorosas, mas a Como a carne est vedada na dieta cartusiana, salvo motivos justificados, no
nossa considerada pelos habitantes deste reino como a primeira de todas, comiam carne, mas podiam ingerir caldos de carne de cgado, pelo que o mosteiro
mostrando-nos a consequente honra e venerao. Os portugueses tm inclinao dispunha de um grande viveiro, em tanque de grandes dimenses. Segundo
para as coisas divinas e piedosas e gostam de a manifestar, pelo que se testemunho da poca, no primeiro quartel do sculo XX ainda existiam dois
escandalizam facilmente se vm imperfeies nos religiosos. Alis, j encontrei grandes poos e um longo tanque, o viveiro dos cgados. O olival situava-se na
at seculares to espirituais que ultrapassam mesmo as vias comuns de orao, e encosta, e, quanto s grossas paredes que separavam as celas, as runas ainda eram
praticam as alturas da contemplao que chamam teologia mstica 41. visveis. Junto a cada cela, o horto, em que cada monge cultivava o que havia de
Talvez o piedoso e ilustrado monge tivesse em mente o moralista e telogo comer 45.
Joo de Barros, ou o asceta e poeta mstico D. Manoel de Portugal, ou mesmo o A mdia de residentes foi de uma dzia. A lei de 25 de Maio de 1821,
que veio a ser o autor dos Salmos Penitenciais, D. Antnio, Prior do Crato, mas confirmada por outra de 21 de Agosto de 1822, suprimindo a entrada de novios
certo que o nosso sculo XVI nos apresenta um vasto nmero de leigos iniciados nas Ordens Religiosas, contribuiu para o decrscimo dos habitantes e para o
na mstica teologia, meditantes do pensamento de Dionsio Aeropagita, dos envelhecimento dos monges, cujo nvel etrio aumentou a olhos vistos.
espirituais da medievalidade, ou mesmo do pensamento expresso por Saint-Thierry Juntavam-se nas grandes festas de cada ano, no mais cada monge vivendo na
na sua Carta de Ouro 42. Verdade, porm, a alta cultura, sobretudo cannica e sua cela, ou participando nas liturgias comunitrias. Na cela ningum podia entrar,
jurdica, de que nos ficaram testemunhos escritos: interpretao da Regra, excepto o mdico para a consulta, e o mosteiro no promovia as visitas, excepto as
pareceres sobre casustica, exames de natureza litrgica, etc., etc.. consideradas, ou de lei, ou de servio. Os monges recebiam as refeies, ou outras
Os povos das redondezas podiam acompanhar a vida monstica, conforme as coisas, como livros, atravs de uma roda, ou estante giratria.
horas de servio comunitrio, pois se tocava a sineta, ou garrida, a chamar os No que s visitas se refere, importa mencionar a vizinhana da Real Quinta
monges orao comunitria na igreja, e os moradores vizinhos, que no eram de Caxias onde a famlia real costumava passar temporadas, deste modo se
muitos, ainda lobrigariam os monges, revestidos dos brancos hbitos, nos seus gerando certa intimidade, no se podendo evitar que as crianas, por exemplo, nas
passeios, spaciamenta, pela Quinta. suas brincadeiras, entrassem pela Cartuxa adentro. Um caso foi o de D. Jos, filho
Cada cela continha trs quartos, todos pequenos, com um hortozinho em natural de D. Pedro II, que entrou no mosteiro aproveitando a circunstncia de a
que havia uma fonte de gua corrente. Os jardins eram, no tempo dos monges, porta estar sempre aberta para seu pai, e andou passeando pelos claustros.
separados por altos muros, pois no era permitido aos monges conversarem, nem No colofn do manuscrito intitulado Origines Cartusianorum Lusitaniae, Fr.
ver-se, fora dos actos da comunidade 43. Joo de Santo Toms escreveu uma breve notcia em que d conta da visita da
A gua era fornecida a partir de mina subterrnea, aberta no flanco da colina, famlia real, toda, na vspera da festa de S. Bruno (6 de Outubro) e como todos
correndo para uma taa, iluminada por clarabia, e alimentada por outras fontes. comeram no mosteiro, com respeito pelas normas internas. E, no dia seguinte, 7 de
Na parede circular do topo da mina, onde se chegava atravs de um corredor com Outubro de 1737, D. Joo V veio festa de S. Bruno e jantou com os monges.
uns cento e vinte metros de comprimento, colocaram os monges um painel de Nestas visitas, que incluam refeies, sempre se punha a questo da carne, que
azulejos representando o fundador da Ordem, revestido de hbito. A natureza da no faz parte da dieta da Cartuxa. Um dia, tendo l ido almoar D. Joo V, o
Duque de Cadaval teria dito Rainha que ela podia obrigar os Cartuxos a servir-
41
Origines Cartusianorum Lusitaniae, trad. port. In As Cartuxas de Portugal, pp. 65-66. Revimos lhes carne (erradamente), ao que a Rainha replicou: pois se posso, no quero; no
o texto.
42
Guilherme de Saint-Thierry, telogo belga dos sculos XI/ XII, amigo de S. Bernardo, de
tendncia platnico-augustiniana. Supomos que a Carta de Ouro seja o Speculum Fidei (ed.
44
francesa, Le Miroir de la Foi, Bruges, 1946). J. Maria de Almeida, Monografia, ob. cit., p. 135.
43 45
Portugal Antigo e Moderno, vol. IV, p. 57. J. Vilhena Barbosa, Archivo Pitoresco, Vol. I, 1862, p. 410.
nos falta l fora onde a comamos 46. E tambm houve o grupo de senhoras da eventuais perigos, de Laveiras sau um grupo de Visitadores, em servio cannico
aristocracia que entraram na clausura. Acharam os monges que deveriam ser da visita Cartuxa de vora: o prior, Frei Jos de Santa Maria, o vigrio, Fr.
gentis: permitiram que conclussem a visita, porque D. Lus de Brito, o Prior, quis Joaquim de Jesus Maria Jos e o irmo leigo converso, Frei Joo de So Jos. Hoje
ser gentil. A seguir, veio o Visitador de vora e imps-lhe uma penitncia no vemos com rigor qual o itinerrio, mas presume-se que fosse o que sempre foi:
especial, a satisfazer durante trs meses. barco para a margem sul do Tejo, e, depois, por Vendas Novas e Montemor-o-
A solido sofreu. Primeiro, em 1736, com as obras da nova igreja. Em 1755, Novo at vora. As tropas liberais andavam por aqui, ou bem perto.
com o terramoto e, logo depois, os operrios de Carlos Mardel na reconstruo do No dia 24 de Julho de 1833, a meio da tarde, os cerca de dois mil homens do
templo. Veio o pandemnio das invases francesas. Em 1817 o mosteiro quase Duque da Terceira entravam vitoriosos em Lisboa. As esperanas miguelistas
ficou desabitado. Nos finais desse ano houve a ameaa de um surto de febre ruam de modo sensvel, embora ainda no demissionrio, sendo claro que a
amarela, ou de tifo pestilencial que provocou grande susto em Lisboa, tendo-se vitria liberal punha acentos de temor na sociedade catlica, receosa de ver
interditado a entrada de navios. Os monges, reunidos em captulo, decidiram sair aprofundada a crise cvica e os agravos s instituies catlicas.
do mosteiro e buscar refgio nas famlias, ou em terras afastadas de Lisboa, com Na verdade, logo que D. Miguel, aclamado Rei, procedeu nomeao de
ares mais lavados. Parece que s ficaram dois monges, j muito velhos, e que, bispos, o seu opositor, D. Pedro IV, protestou junto do Papa Gregrio XVI
tendo pouca esperana de vida, ficaram espera da morte. Depois, a revoluo de declarando que, uma vez de posse do trono, no reconheceria a validade de tais
1820. E ainda outra, a de 1833/1834, a guerra civil. Nem sempre a paz da solido nomeaes, e de facto assim aconteceu, pois, ao entrar na cidade do Porto, no dia 9
pde ser usufruda a tempo inteiro... de Julho de 1832 (desembarcara no Mindelo um dia antes), adoptou um
procedimento de acordo com as foras ideolgicas que o apoiavam, transformando
A FUGA DA LTIMA COMUNIDADE a guerra civil numa guerra religiosa contra as liberdades e garantias da Igreja,
gerando o cisma que se arrastaria por vrios anos, at ser dado por terminado em
No dia 13 de Julho de 1833, a comunidade monstica integrava os seguintes 1841 49.
monges: A hierarquia catlica nomeada por D. Pedro IV no merecia a confirmao
Jos de Santa Maria, Prior da Santa S. Bispos em exerccio de plena autoridade, apenas os de Aveiro e de
Joaquim de Jesus Maria Jos, Vigrio Lisboa, enquanto outros eram detidos e encarcerados (Beja, Coimbra, e o de
Ricardo de Santo Agostinho, Procurador Leiria, em priso domiciliria no Pao, por ser j muito velho), e ainda os que se
Francisco da Assuno Ferreira de Matos, Sacristo exilaram no estrangeiro (vora, Guarda, Portalegre, Viseu), ou se esconderam no
Jos da Natividade Pas (Bragana, vora, Faro, Pinhel) enquanto os bispados de Braga, Castelo
Joo de So Jos, irmo leigo converso Branco, Lamego e Porto, se encontravam sede vacante.
Antnio de Jesus Maria, dicono No havendo uma hierarquia cannica confirmada por Roma, qualquer
Manuel de Santa Maria, subdicono relao oficial das dignidades eclesisticas com as autoridades civis era
Frei Francisco, irmo leigo converso. considerada acto de desobedincia e de infidelidade, passvel de pena lat
Todos de Laveiras, e ainda Fr. Bruno Maria, professo de Scala Coeli que se sententi pelo poder do Pontfice, e esta situao anmala tanto abrangia os
encontrava ali a residir 47, num total de 11 pessoas. institutos episcopais como os institutos religiosos, quer dizer, as Ordens e as
O pas, e sobretudo a capital, vivia o pnico das guerras civis, a falta de Congregaes Religiosas, que no podiam, em conscincia, aceitar o dilogo com
informao credvel, a diviso da sociedade entre os seguidores de D. Pedro e os o novo poder poltico. Nestas circunstncias, os monges residentes em Laveiras
leais aos direitos de D. Miguel. Os testemunhos disponveis noticiam como foram abandonaram a casa e seguiram cada um seu destino, era o dia 24 de Julho de
milhares as pessoas que abandonaram Lisboa, em busca de refgio e de segurana 1833. No foram expulsos, foi a comunidade, juridicamente aconselhada, que
em localidades afastadas, onde os gravames da guerra no chegariam com a decidiu tambm exilar-se, ou, como se dizia, esconder-se. De facto, a lei da
violncia que ameaava 48. A margem sul do Tejo vivia o transe da marcha das expulso s viria a ser decretada quase um ano mais tarde. Porque se esconderam
tropas do Duque da Terceira mas, em 14 de Julho de 1833, arrostando com os monges?
Frei Francisco da Assuno Ferreira de Matos deixou-nos os argumentos nas
46
suas Memrias manuscritas, em resumo: tornava-se necessrio sair da Cartuxa
As Cartuxas de Portugal, p. 77.
47
Arquivo da Cartuxa de vora.
48 49
Joaquim Verssimo Serro, Histria de Portugal, vol. VIII, 1832-1855, p. 40. Fortunato de Almeida, Histria da Igreja em Portugal, Vol. III, Porto, 1970, pp. 291-333.
para se evitar qualquer ligao ao Cisma instalado no pas, pois em breve seriam tendo chegado s trs da tarde, mas j no achou condies para tal. Pernoitaram
obrigados a eleger novos superiores, que fossem aceites pela Coroa, facto que de no convento dos Agostinhos, e Ferreira de Matos teve a surpresa de, na manh
todo em todo no estava dentro da coerncia cartusiana, e nem sequer dentro da seguinte, se achar com a falta de mais ou menos 240$000 (!). No dia 26, saram de
coerncia eclesial, com o acrscimo de, a haver tal eleio, esta seria nula, e sujeita Torres Vedras para bidos, onde chegaram pelas trs horas da madrugada do dia
s penalidades cannicas decorrentes do desrespeito ao Pontfice. Uma vez que 27, ao som dos sinais de fogo que vinham do lado do mar e da zona de Lisboa. Em
lhes traria dificuldades inimaginveis, face a um dilema, ou respeitar o voto de bidos foram acolhidos na casa de um certo Francisco de T., cavaleiro da vila,
clausura, ou fugir da infidelidade, era de escolher o mal menor. Abandonaram a mas, no mesmo dia, pela manh, saram para Caldas da Rainha, onde chegaram ao
clausura e procuraram refgio, seis deles no mosteiro de vora, os restantes nas meio dia. No caminho passaram pelo Convento do Varatojo, tendo entrado para
suas famlias de origem. Canonista de alto coturno, Ferreira de Matos esteve na cumprimentos. Em Caldas da Rainha almoaram numa hospedaria gerida por uma
origem da deciso, que pareceu a mais acertada. senhora, que muito bem os tratou, partindo depois para Alcobaa, onde chegaram
pelas trs da tarde, dirigindo-se ao mosteiro de S. Bernardo, onde jantaram, e
foram bem tratados, do mesmo passo que o Prior lhes arranjou quartos na
MEMRIA DA FUGA hospedaria. Com tudo isto, Ferreira de Matos anotou que, no tendo dormido mais
de 4 ou 5 horas desde o dia 24, j andava algo tonto, chegando a no dizer coisa
Felizmente dispomos de um relato da fuga ao vivo, relato esse redigido num com coisa, mas ficou bem, depois de dormir no tabuado da hospedaria conventual.
estilo esquemtico, mas com abundncia de reconstituies. Consta ele das Dia 28, festa de Santa Ana, celebrou missa na capela mor da igreja do
Memrias de um fugitivo, sendo interessante resumir os passos principais de um Mosteiro, e neste se mantiveram os monges at ao dia 29, em cuja manh rumaram
trnsito e de uma atribulao 50. para a vila de Batalha, sendo muito bem recebidos pelo Superior do Convento de
No dia 23 de Julho de 1833, os monges souberam que o Duque de Cadaval S. Domingos (Mosteiro da Batalha). No dia 29, juntamente com outros religiosos,
publicara um dito apelando tranquilidade do povo de Lisboa, pois, no obstante partiu para Leiria, onde chegaram ao fim da tarde, tendo achado acolhimento no
as tropas liberais j estarem em Almada, a defesa da capital estava garantida, mas, Seminrio diocesano, por gentileza do Reitor, Padre Crespo, ali ficando at ao dia
no dia seguinte, quando Fr. Ricardo de Santo Agostinho se dirigia para a igreja, 1 de Agosto. Partiram nesse dia, tarde, para a vila de Pombal, pernoitando no
para celebrar missa, recebeu do Padre Antnio de Almeida (da Congregao de S. Convento de Santo Antnio, onde tambm j se encontravam muitos outros
Camilo de Lllis, e capelo da Real Capela de Caxias), a notcia de que o Duque monges de Alcobaa, e do Varatojo, em fuga. No dia 2 de Agosto saram rumo a
de Cadaval mandara encravar a artilharia da costa, e decidira concentrar as tropas Coimbra, tendo pernoitado em Condeixa, daqui caminhando no dia seguinte para
em Queluz. vista de to bvia desgraa, Ferreira de Matos declarou desejar pr- Redinha, s chegando a Coimbra no Domingo, 4 de Agosto, pelas onze da manh.
se a salvo, antes que os verdugos (liberais) chegassem. A comunidade reuniu e Foram recebidos pelo Colgio da Companhia de Jesus, e de forma to amistosa,
decidiu abandonar o mosteiro. Numa cerimnia solene os monges procederam ao que o memorialista no resistiu a um caloroso elogio e promessa de ficar com as
consumo da Eucaristia, foi feita uma distribuio de dinheiro, e saram, era o dia gentilezas em eterna memria. Na tarde desse dia os seis monges dirigiram-se
24 de Julho de 1833, pelo meio dia, a p, nem sequer se lembrando que tinham na Universidade para cumprimentar a Famlia Real, que se mostrou sensibilizada com
Quinta quatro bois, dois carros, e um cavalo, que podiam levar, mas ainda bem que a visita, que demorou uma hora. No queriam ser incmodos com os jesutas. O
os deixaram ficar, pois ainda lhes seriam motivo de incmodo. No caminho bispo de Coimbra, D. Joaquim da Nazar, destinou-lhes o Convento dos
tentaram arranjar uma carruagem que os transportasse, mas sem efeito, Carmelitas, mas acabaram por continuar com os Jesutas, por expressa vontade
continuando a viagem a p, junto carruagem que transportava o tesouro real. Do destes51. No dia 7 ou 8 de Agosto, vindo de Braga, chegou D. Miguel I, com seu
grupo fazia parte Ricardo de Santo Agostinho, j trpego, que mal podia estado maior, e logo os Cartuxos se dirigiram Universidade para o cumprimentar,
acompanhar o passo dos confrades. Chegaram a Queluz eram duas da tarde. o que muito sensibilizou Sua Majestade. Depois, vora e, enfim, a disperso.
No mesmo dia, pelas sete da tarde rumaram para Mafra, onde chegaram s
dez horas, dormindo ao relento, por no haver acomodaes. No dia 25 saram *
para a freguesia do Livramento, onde chegaram por volta das oito horas. Ferreira
de Matos manteve-se em jejum, pois prometera ir a Torres Vedras celebrar missa,
51
Tendo sido extinta pelo Papa, a Companhia de Jesus voltara a ser restaurada, e D. Miguel I
50
Frei Francisco da Assuno Ferreira de Matos, Memrias de 1822 a 1863. Salzburgo, utria, decidiu devolver Companhia o Colgio das Artes, que fora dela, por isso que os Jesutas estavam
2002, pp. 4-12, equivalente s pp. 9-26 do manuscrito do mosteiro de Calbria. de novo em sua casa, de onde voltaram a ser expulsos em Maio de 1834.
O Padre Antnio de Oliveira, cujo nome foi dado ao Reformatrio Central de pagar as passagens rumo s Cartuxas de outros pases, todavia, Francisco da
Lisboa, em Laveiras, Reformatrio esse de que ele foi o notvel obreiro, ao Assuno mostrou-se contrrio ideia, aconselhando o Prior da Grande Chartreuse
preencher com uma obra de bem o espao conventual cartusiano, ainda recolheu a deixar passar o tempo, na esperana de que o poder liberal casse, a ordem
da boca de uma testemunha ocular, um antigo caseiro a lembrana de, como foi o tradicional fosse resposta, e as comunidades religiosas reconquistassem a perdida
ltimo dia dos Cartuxos de Laveiras. Ouviu ele o testemunho em Maio de 1903, e paz. O falecimento da Rainha D. Maria II (15.11.1853) e as manifestaes que
registou-o nestes termos: decorreram um pouco por todo o pas a favor da aclamao de D. Miguel
justificavam a opinio de Ferreira de Matos, mas os acontecimentos posteriores
A tarde estava serena, cantavam ainda os grilos, o sol comeava a descer no no foram de encontro ao que ele preconizava, na melhor das intenes.
horizonte, e at a brisa que soprava do mar parecia nessa hora mais meiga e mais Ele viveu os dramas do desterro, e da Igreja em Portugal. Famlias houve que
perfumada. Sentado porta da minha casa que dava para o ptio fronteiro da acolheram os Cartuxos foragidos e, respeitando os costumes dietticos dos
igreja, cuja graciosa e larga fachada constitui a frente principal do edifcio da monges, encontravam alguma dificuldade na sua satisfao, dada a total
Correco - , eu olhava um bando de pardais que voavam em direco ao abstinncia de carnes. Questionados, os Superiores Gerais da Ordem no sabiam
majestoso Tejo. To absorvido estava a observar aqueles alados vagabundos que que decidir, o que levou o Padre Ferreira de Matos a interceder em Roma no
pelo cu, azul at ao infinito, avanavam em turbamulta, aturdindo os ares com a sentido de obter um rescripto, cuja frmula ele mesmo redigiu, segundo a qual os
sua gralhada spera e contnua, que no dei pela chegada dum velhote de Laveiras, Cartuxos jamais comero carne nas suas casas e nas suas mesas, mas poderiam
caseiro do meu prezado e respeitvel amigo Sr. Conselheiro Calvet de Magalhes, aceit-la e com-la quando lhes fosse oferecida por caridade, em viagem, ou por
e que, ao chegar perto de mim, me saudou: doena, ou por quem os acolhesse, e lhes desse carne a comer. Este rescripto de
Boas tardes. algum modo mitigava os costumes dietticos, ao menos conjunturalmente
Ora viva, meu caro. Sente-se aqui, d-me nisso muito prazer. Conte-me aproximando-se do que entre os Carmelitas j era costume antigo: abstinncia de
coisas do seu tempo, fale-me dos monges c da Cartuxa que conheceu. carnes mas, em viagem, os frades, para no se tornarem incmodos, comeriam do
Ento, o simptico velhinho, muito comovido comeou, pela vigsima vez, a que lhes fosse dado, incluindo carne 53. A norma preconizada por Ferreira de
evocar, como uma viso celeste, a sada dos austeros cartuxos no mesmo dia em Matos veio a ser adoptada nos Estatutos Renovados da Cartuxa, sequentes ao
que a autoridade lhes veio intimar a ordem de despejo; dia, por sinal, bastante Conclio Vaticano II.
agreste, em que o silvo dos ventos revoltosos parecia protestar contra a expulso Fosse como fosse, a Cartuxa de Laveiras estava encerrada e no voltaria, at
daqueles santos ascetas que nunca deixaram um instante de exercer o trabalho e a ao presente, a ser repovoada pelos monges que nela criaram um osis de orao
reza. num deserto verde e fresco, suprimido por lei de 21 de Maro de 1834, antes da lei
Trabalhar era, para eles, uma orao ao Criador pelo progresso do mundo; de Aguiar, antes, pois, de 28 de Maio de 1834, que data por lapso indicada por
rezar, outra orao pela salvao da Humanidade. Lus Gonzaga Pereira 54.
Benditos sejam, pois, os que rezam e trabalham pela salvao e progresso, Houve, no obstante, um derradeiro episdio, j D. Pedro IV era rei. Esse
no s dos que crem, mas ainda dos que no crem. episdio est documentado no processo de Laveiras, que temos citado atrs. Pelos
Parece-me que ainda agora estou vendo aqueles bons fradinhos dizia- vistos, dos trnsfugas que houve dois, no tendo para onde ir, ter-se-iam refugiado
me o venervel ancio sarem por aquela porta, que d entrada para a Correco, nas casas do Salitre e, um dia, j em 1835, voltaram a Laveiras, talvez para verem
a rezar o Miserere, formados dois a dois, com os seus hbitos brancos, como se como estavam as coisas, e ficaram. Denunciados, mandou el-Rei uns guardas, que
fossem a caminho da igreja. E sempre, sempre a rezar, seguiram pela estrada de os foram buscar e levar para S. Vicente de Fora em Lisboa, que funcionava como
Barcarena, em direco a Queluz, onde se separaram, tomando cada um o seu depsito de frades sem paradeiro.
destino 52. Que foi, para todos os efeitos, o desterro, em breve transformado em
definitivo.
Os monges admitiam que a fuga terminasse no oportuno regresso casa,
embora o sentimento da Ordem no fosse esse. Com efeito, o Prior da Grande
Cartuxa pensou em enviar dinheiro aos monges foragidos para estes poderem

52 53
Antnio de Oliveira, Deixemos os Pais, Cuidemos dos Filhos, pp. 209-210. De facto, como Regra Carmelita, cap. 13.
54
vimos atrs, continuaram juntos e no foram expulsos, tendo fugido. Luz Gonzaga Pereira, Monumentos Sacros de Lisboa em 1833, p. 59.
O DESTINO DO MOSTEIRO da Cartuxa de Laveiras. Ali vislumbrou ele um novo Vale de Misericrdia, com
outros frades, outros ascetas, em busca da perfeio. O projecto iniciou-se com a
Depois da extino das Ordens Religiosas, foi vendido este convento e em publicao do Regulamento de 10 de Setembro de 1901, determinando a
seguida demolido em muitas partes. A igreja foi despojada de todas as imagens, transferncia do Reformatrio para Laveiras. O que foi a instalao no novo
adornos e alfaias, entre isto, os magnficos quadros de S. Bruno, pintados pelo edifcio, os sacrifcios e privaes de toda a espcie que o pessoal j contagiado
nosso famoso Sequeira... A igreja est profanada, mas ainda no foi demolida 55. pelo entusiasmo do P. Oliveira teve de suportar nesses primeiros tempos de
A breve trecho, e tal como sucedeu a outras muitas casas conventuais, o Caxias, di-lo o senhor Manuel Falco de Lima Barreto, numa obrazinha que em
mosteiro foi ocupado por destacamentos da Engenharia Militar at 1903, enquanto 1929 consagrou sua memria 58. bvio que o projecto, em vista das
no surgiu uma boa alma que lhe desse melhor destino. necessidades, teve de efectuar profundas intervenes no edifcio que muito
As cincias criminolgicas e penitencirias, orientadas para a recuperao alteraram a disposio original, pois o que fora construdo para uma dzia de
humana e social dos delinquentes, sobretudo dos jovens, beneficiaram de grandes pessoas, teria de albergar quase 150 jovens e prover instalao de servios
avanos. A pedagogia correccional achou entre ns srios teorizadores, como colectivos e das oficinas de trabalho, etc..
Ferreira Deusdado 56 e outros. Elaborou o projecto, conseguiu persuadir quem de direito e, no dia 31 de
O Convento das Mnicas, tinha capacidade para cerca de trezentas residentes Maro de 1903, os rapazes da Casa de Correco das Mnicas davam entrada na
e ali esteve a comunidade at 1820, quando um pavoroso incndio o destruiu, Casa de Correco de Caxias, mais tarde, em homenagem ao fundador, nominada
sobretudo o dormitrio. Devoluto, o Governo decidiu instalar a, em 1871, a Reformatrio Central de Lisboa Padre Antnio de Oliveira.
primeira Casa de Correco para rapazes, pertencentes jurisdio da Comarca de Ligou ele, em ascese, os ecos cartusianos ao lavor moderno, escrevendo:
Lisboa. A casa no tinha, porm, condies adequadas aos fins em vista. Foi neste Depois que o meu vizinho se retirou (aluso conversa, atrs registada, sobre a
contexto que emergiu a figura de um sacerdote oriundo do bispado lamecense, o partida dos ltimos monges), fiquei pensando em quantos jovens, em quantos
Padre Antnio de Oliveira (Lamego, 1867 Lisboa, 1923), pedagogo velhos se refugiaram naquele silencioso deserto, onde nada se sabia do mundo,
revolucionrio para a poca, cheio de ideias novas e, por sinal, admirador do fugidos s terrveis e ruidosas tentaes da sociedade, que tornam vtimas, uns das
pensamento pedaggico de Ferreira Deusdado como testemunhou no seu principal mais loucas paixes, outros das torpezas de baixos vcios, ainda outros de
escrito, Deixemos os Pais, Cuidemos dos Filhos, editado em 1923, ano da sua sugestes homicidas, sacrlegas e rapaces! Quantos pecadores, horrorizados de si e
morte. Participou de modo protagonista na fundao do Instituto dos Pupilos do dos seus vcios, entraram o portal daquele claustro santo para, no meio do silncio
Exrcito, do Colgio Militar e na reforma do Instituto de Odivelas. Nos primeiros permanente, expiarem e repararem as suas faltas e as dos outros pelo trabalho, pela
anos do sculo XX entendeu com nitidez a necessidade de progredir no sector da orao e pela penitncia! Sob as compridas abbodas do solitrio mosteiro apenas
recuperao dos delinquentes juvenis, propiciando melhores condies aos se ouviam, de quanto em quando, no meio daquela solido completa, o som
internados disciplina, pedagogia, sim; mas trabalho e condies de trabalho, ar brnzeo do sino e a voz sumida de alguns espectros de homens repetir em ecos:
livre, como, ao depois, o Padre Amrico concretizaria, sem necessidade de Irmo, lembra-te da morte!
precedncia judicial, nas casas da Obra da Rua. Alis, ao Padre Oliveira se deve o Os monges, meditando sobre a eternidade, trabalhavam para si e para os
principal articulado do Decreto de 27 de Maio de 1911 sobre a reeducao de outros e rezavam por todos, num comunismo pacfico, onde as paixes se calam,
menores 57. os vcios se olvidam e a solido deleita!
A imagem que dele nos resta a de um humanista cristo, talvez suspeito de E facto interessantssimo foi a vida monstica dos discpulos de S. Bruno
socialista, porque, no seu sistema educativo vingava o preceito da educao que inspirou o sistema penitencirio, cujas caractersticas principais so a cela, o
comunitria, chegando a elaborar aproximao pedaggica entre a disciplina das trabalho e o silncio 59. Por isso mandou esculpir uma imagem de S. Bruno em
teorias de Lenine e a asctica cartusiana de S. Bruno, como deixou expresso no pasta de madeira, que entronizou venerao na igreja, celebrando-se festa interna
captulo XXIX da sua j mencionada obra, um verdadeiro livro de memrias para todos os anos a 7 de Outubro, conforme era da praxe litrgica.
servio futuro. Olhou para os casares abandonados, ou submetidos a sacrilgio, Muitos sinais cartusianos prevaleceram na casa e na igreja. Escreveu quem
sabe: Os Directores do estabelecimento procuraram sempre inspirar aos pupilos a
55
P. Leal, Portugal Antigo e Moderno, Vol. IV, p. 57.
56
Autor de vasta obra. Cf., a ttulo de exemplo, Educadores Portugueses. Nova ed. com fixao do
texto, Pref. e notas de Pinharanda Gomes. Porto, Lello, 1995.
57 58
O jornal A Cartuxa, rgo do Reformatrio Central, dedicou-lhe as dez pginas da edio n 4 Lima Barreto, Padre Antnio de Oliveira. Caxias, 1929.
59
(1.9.1947) com foto. Antnio de Oliveira, ob. cit., p. 215.
lembrana afectuosa dos monges 60. D-nos, este juzo bem justo, oportunidade
para lembrar, aqui e agora, o nome de um bom e j falecido amigo, o jornalista
Jos Maria de Almeida Fernandes (Vilar Formoso, 1905 Lisboa, Campo Grande,
1990). Catlico militante, jornalista no dirio Novidades, coube-lhe a
responsabilidade das funes de Director daquele Reformatrio, durante alguns
anos. Nessa qualidade, ampliou o leque de interesses dos pupilos ao jornalismo,
com eles fundando o jornal A Cartuxa (1947-1962), de que era Director e, com os
alunos, redactor. Sob a trilogia Deus. Ptria. Trabalho, o jornal facultou aos
pupilos o ensejo de experincias nas reas da escrita e do desenho, pois quase
sempre inclui ilustraes constitudas por desenhos de motivos cartuxos, da autoria
dos internos. Numa funo complexa e exigente a tempo inteiro, Jos Maria de
Almeida, que ento usava o seu ltimo sobrenome, Fernandes, ainda achou cio
para elaborar uma obra de notvel rigor histrico e de indiscutvel utilidade: a
Monografia do Reformatrio Central de Lisboa Padre Antnio de Oliveira 61, que
abrange um perodo to longo qual o compreendido entre 1871 e 1958. Na sua
imensa humildade, pesquisador de papis velhos na Biblioteca Nacional (perto da
qual residia), ao Campo Grande, jamais fez gala de quanto deu aos rapazes e, diga-
se em abono da verdade, Igreja. Foi e bem o conhecemos, j a partir de comuns
razes na regio da Guarda um cartuxo a seu modo: no meio do mundo.
O que a obra do Reformatrio Central de Lisboa, hoje em dia chamado
Instituto de Reinsero Social, sito na Estrada da Cartuxa, consta dos seus
Relatrios oficiais, e ultrapassa os limites deste nosso ensaio histrico, mas sobre
ele brilha ainda a aura cartusiana, por ora mais viva e cristalina na planura
alentejana.

60
Analecta Cartusiana, As Cartuxas de Portugal, p. 78.
61
Cf. Monografia do Reformatrio Central de Lisboa Padre Antnio de Oliveira, Lx., 1931; Jos
Maria de Almeida Fernandes, Monografia do Reformatrio Central de Lisboa Padre Antnio de
Oliveira. Caxias, 1958 (Apesar de estas obras terem o mesmo ttulo so de autores diferentes. A
segunda muito completa e documentada).
nossos Padres a mo ao Serenssimo Cardeal assim pella grande merc que el-Rei
Crnica Origo fazia Religio, como tambm pelo cordialssimo afecto que o Cardeal mostrava
em favorecer as coisas da nossa Ordem.
ORIGEM E FUNDAO DO CONVENTO DA CARTUXA Aceitada pelos nossos Padres a nova fundao para a que tinha
poderes amplssimos o Padre D. Joo Bellot como Comissrio que era nas partes
DO VALE DA MISERICRDIA de Portugal, lhes deu o Senhor D. Jorge de Atade certas propriedades de Casas
que tinha em a Pampulha para que nelas vivessem, e a comeassem a fundar a
JUNTO AO LUGAR DE LAVEIRAS nova Casa, e por ordem de el-Rei se lhes assignou certa esmola para seu sustento,
manuscrito de 1773 para que no concorreu poucas vezes tambm a caridade do Senhor D. Jorge,
da autoria de Frei Joo de So Toms como o confessa em uma carta o P. D. Lus Telm escrita ao nosso Padre Geral
Vigrio de Vale da Misericrdia pelas seguintes palavras: "Passados alguns dias, padecendo j necessidade
porque no chegava a costumada esmola, tivemos de escrever ao Sr Bispo
rogando-lhe que se dignasse acudir-nos com algum subsdio. Ele mandou que
Depois de fundada pelo Ilustrssimo e Reverendssimo Senhor Dom
nos dessem cem libras."
Teotnio de Bragana Arcebispo de vora a Cartuxa de Scala Coeli no palcio
Aplicados pois os sobreditos Padres ereco da nova Casa, chegou a
rgio da mesma Cidade no ano de 15874, sempre os Monges fundadores e
Carta do Captulo Geral daquele mesmo ano de 1593, na qual se achou institudo
habitadores dela, todos professos de Scala Dei, com grande desejo procuraram e
Prior de Val de Cristo e Visitador da Provncia de Catalunha o Padre D. Joo
tiveram a mira de plantar e edificar outra Casa da Ordem na nobilssima Cidade
Bellot, pelo que vendo-se precisado a recolher-se a sua Casa e Provncia, para
de Lisboa, Metrpole naquele tempo de todo o Reino, hoje florentssima e
que a nova erecco no ficasse destituda de pastor instituram Reitor dela ao Pe
ilustrssima Corte dos nossos Reis Portugueses; aos quais desejos com muita
D. Lus Telm, e por Procurador ao P. D. Jernimo Ardio um dos companheiros
presteza acudiu a Divina Providncia movendo o nimo e vontade ao Ilustrssimo
que trouxe consigo quando veio fundar a Cartuxa de vora, e disposto tudo
Senhor Dom Jorge de Atade Bispo de Viseu, e Capelo-Mor de el-Rei D. Filipe,
assim, passou para a sua Provncia a exercitar os empregos das suas ocupaes
o primeiro de Portugal, o qual como era sumamente afecto Religio, e coisas da
para as que o destinara o Captulo Geral.
Cartuxa, no se dedignou comear a favorecer esta nova planta com todas as
Tudo o que ordenou o Padre Bellot aprovou o Captulo Geral celebrado no
foras e boa vontade, pois para isso Deus o movia; e assim fez com que el-Rei
ano seguinte de 1594 ampliando os poderes ao Pe D. Lus Telm como consta da
(cujo Conselheiro era) promovesse esta fundao, e oferecesse mil Cruzados em
mesma Carta Capitular, que diz assim:
cada um ano perpetuamente para efeito de se ir fundando a dita Casa, e depois de
A proviso da Casa de nova plantao que comeou a erigir-se na
acabada ficarem para sustentao dos Religiosos que nela vivessem. Era el-Rei
pio e amante excessivamente da Ordem, como o mostrou em muitas ocasies; cidade de Lisboa por vontade da sua Catlica Majestade e do Serenssimo
no lhe desagradou a proposta feita pelo Senhor D. Jorge, e assim veio em tudo e reverendssimo Cardeal e de outras ilustres pessoas, proviso feita pelo
benignamente, de que mandou fazer aviso a seu sobrinho o Serenssimo Venerando Padre Dom Joo Bellot, Visitador da Provncia da Catalunha e
Arquiduque, o Cardeal Alberto, que ento governava este Reino, para que fizesse ento Comissrio em Portugal, louvamos e aprovamos, confirmando Dom
presente esta sua vontade aos Padres que tinham vindo fundar Cartuxa de Lus Telm como Reitor dessa Casa e Dom Jernimo Ardio como
vora, para que passassem a Lisboa fazer o mesmo. Procurador, aos quais transmitimos e concedemos a autoridade nossa e da
Recebida pelo Serenssimo Cardeal esta notcia de Madrid escreveu este no Ordem para gestionar, pedir, aceitar e conservar quanto for necessrio para
ms de maio do ano de 1593 ao Padre D. Lus Telm que tinha sido o primeiro a edificao, dotao, promoo e feliz manuteno dessa nova Casa. Por
Prior da Cartuxa de vora, e ento exercitava na mesma Casa o ofcio de Vigrio isso alargamos esses poderes para acolher e promover qualquer outra
para que passasse Corte a falar-lhe. Como o Padre D. Lus Telm no era j fundao no reino de Portugal e para que o dito Dom Lus Telm possa
Prior daquela Casa no quis fazer coisa alguma sem o parecer do Venerando P. chamar quaisquer pessoas da Ordem (exceptuados os Oficiais) das
D. Joo Bellot ento Prior, e Comissrio de Portugal, o qual como depois fosse
Provncias de Castela e Catalunha, para povoar essas Casas e implanta,
tambm chamado passaram ambos a Lisboa, no princpio do ms seguinte de
junho, e indo beijar a mo a Sua Alteza, esse lhes fez presente a Vontade de el- promove e conservar nelas a observncia regular, de modo que a pessoa
Rei seu tio, e tambm a sua acerca da nova fundao beijando segunda vez os assim convocada deva obedecer a esse Padre como a ns.
At aqui a Ordenao da Carta Capitular. Desembargador do Pao, a quem me remeto, e faais o que ele da minha parte
Neste mesmo ano de 1594 caminhava lentamente a erecco da nova vos disser, por que disso me haverei por mui bem servido de vs. Escrita em
Cartuxa, e sucedeu que uma pia, nobre, e devota viva chamada Dona Simoa Madrid a 30 de Janeiro de 1595. Rei.
Godinho, a qual foi mulher de Lus de Almeida, portugus nobre, a qual era de Recebeu a Misericrdia esta Carta, ouviu ao dito Doutor Antnio de Almeida,
cor parda. e natural da Ilha de S. Tom, mulher dignssima, passasse desta a mas porque no se satisfazendo de coisa alguma do muito que alegou a nosso
melhor vida deixando a Misericrdia de Lisboa por herdeira de todos os seus favor, que creio era o suficiente para deporem o seu escrpulo, se resolveu a
bens e fazendas, e entre muitos legados e condies que imps sobredita escrever-se a el Rei em reposta a carta seguinte:
Congregao da Misericrdia foi o mandar que na sua quinta de Laveiras onde Senhor: Recebeu esta Mesa a carta de V. Majestade de trinta de
hoje est fundado o nosso Mosteiro da Cartuxa, se edificasse um Mosteiro de janeiro em que nos manda ouamos ao Doutor Antnio de Almeida do seu
Religiosas pobres, ou quando no pudesse ser destas, fosse de Religiosos, a quem Conselho, e seu Desembargador do Pao, e faamos o que de sua parte nos
cederia do juro de S. Tom o que parecesse bastante para se sustentarem at os disser acerca de haver de ser dos Padres da Cartuxa o Mosteiro que se h-de
doze religiosos. fazer na quinta da Dona Simoa defunta. E ouvido o que o Doutor nos disse no
Divulgado este Legado de D. Simoa Godinho pareceu aos nossos podemos tirar o escrpulo, que temos fundado por tantos letrados, e por tantas
amigos, e tambm ao nosso P. D. Lus Telm, que se abria uma grande porta para razes que parecesse segundo nossas conscincias satisfazem bem as suas, e
se ver em breve acabada a Cartuxa, de que se tratava, se fosse possvel o buscando todos os meios para ver se podemos servir a V. Mag. em algum modo
conseguir da Misericrdia que se aplicasse a quinta de Laveiras aos nossos neste particular, no achamos algum seno pedir a V. Majestade nos faa merc
Religiosos. Para se conseguir haver este Legado escreveu logo Miguel de Moura, mandar ajuntar os letrados, de que tem informao com todos os que nisto nos
um dos cinco Governadores do Reino, que tinha sucedido ao Cardeal Alberto, a tem informado; e posto que vemos o rumor que far se disserem outra coisa de
Filipe I. do nome Rei de Portugal para que escrevesse a Misericrdia de Lisboa, parecer, que j agora no foi com a liberdade q convm, descrdito que podem
para que se nos desse a quinta de Laveiras para a erigirmos o Convento que temer, de que resultar no quererem mais aconselhar a esta Casa, nem
tanto Sua Majestade desejava. O mesmo fez tambm da sua parte o nosso Padre chamados virem a ela, que ser uma grande perda e desautoridade desta Mesa,
D. Lus Telm, escrevendo sobre o mesmo Legado ao dito Rei mandando a todavia se todos entre si nos alumiarem de maneira q possamos formar nossas
Madrid fazer esta diligncia ao seu Procurador o Padre D. Jernimo Ardio, o qual conscincias de novo contra o que temos escrito a V. Mag. hav-lo hemos por
chegou aquela Corte a 4 de dezembro de 1594. e falou com D. Cristvo de grande merc de Deus, por que de outra maneira no podemos seguir
Moura, e com os mais do Conselho de Portugal. A 13 falou com um Joo Ruiz conscincias alheias ainda que possam ser mais acertadas; e assim o temos
para lhe dar lugar de falar a el-Rei, ao qual deu logo recado, e respondeu que entendido de pessoas graves, doutas, e virtuosas; e V. Mag. por sua grandeza
falasse primeiro com D. Cristvo, o que fez no mesmo dia, e lhe deu um nos receba este meio, que lhe apresentamos por no alcanar outro, e seja
memorial, e carta que levava. Cuja diligncia feita, a 22 do dito ms de servido mandar considerar que alguns Reis seus antecessores trataram coisas
Dezembro se foi o P D. Jernimo Ardio para a Cartuxa de Paular a a passar a com esta Irmandade de que tinham muito gosto, e por verem que a Casa e os
festa, onde esteve at 5 de Janeiro do ano seguinte de 1595. Voltou o P. Corte Irmos se desconsolavam as deixaram, e o mandaram assim publicar por mais
tratar do requerimento a que fora mandado. A 27 de Janeiro se tratou o nosso honrarem, e consolarem este Povo; e particularmente el-Rei D. Sebastio o fez
negocio no Conselho, e se assentou que el-Rei escrevesse, (como j tinha feito na fazenda de Pero Barretto, para que j tinha Breve do Papa; e esta merc
algumas vezes depois de recebida a primeira carta de Miguel de Moura, ainda esperamos, e temos por mais certa agora em V. Majestade. Nosso Senhor
que sempre frustradamente) Misericrdia de Lisboa para que o Convento que acrescente a vida, e real estado de V. Maj. por tantos anos como seus Reinos, e
deviam fundar na quinta da Dona Simoa Godinho fosse de Cartuxos, o que vassalos ho mister. Lisboa. Em Mesa extraordinria.
benignamente (como sempre) fez el-Rei Catlico pela maneira seguinte: Depois de mandada esta carta a Filipe I de Portugal Rei Catlico das
Provedor, e Irmos da Misericrdia da Cidade de Lisboa. Espanhas, se fizeram vrias conferencias entre letrados, se a Congregao da
Eu el-Rei vos envio muito saudar. Por outras vezes vos tendo escrito, que Misericrdia podia em boa conscincia dar-nos a quinta de Laveiras para nela
receberei contentamento de ordenardes que o Mosteiro que haveis de fazer na fundarmos Mosteiro da nossa Ordem, porem nunca foi possvel o convirem todos
quinta, que foi da Dona Simoa defunta, seja de Religiosos da Cartuxa, pelo em um parecer. Diziam uns que de nenhuma sorte fazendo-se Convento de
muito merecimento que esta Religio tem na Igreja de Deus: e por que as razes Cartuxos se satisfazia a vontade de D. Simoa, o que se mostrava por ela desejar
com que duvidastes faz-lo se no tm por bastantes, vos encomendo que ouais que o Convento que se fundasse fosse de Religiosas pobres, e quando no, de
sobre esta matria ao Doutor Antnio de Almeida do meu Conselho, e meu frades, de que parecia que com certeza se conjecturava e entendia que tambm os
frades fossem pobres, por que as clausulas dos testamentos sempre se restringem, muito na observncia destoutras; cuja considerao no militava nos frades, por
e entende-se naquelas coisas, que so semelhantes as j declaradas, e a qualidade que ou fossem pobres descalos, ou tivessem bens em comum a qualidade dos
expressa na primeira se h por repetida na segunda; pelo que pois declarara que lugares, e stios dos seus mosteiros ainda que ermos no alteravam o seu modo de
as freiras fossem pobres, esta mesma qualidade de pobres se havia por repetidas vida, nem agravavam seus bons costumes; e que assim havendo razo em um caso
nos frades, que se mandavam subrogar em lugar de freiras, e que assim havendo diferente do que em outro, no permite o direito que o testador declarou em um, se
de ser pobres, deviam ser da Ordem de So Francisco por no terem bens em entenda em outro, em que o no disse, nem que a disposio seja igual em ambos.
comum, e que entre estes deviam ser preferidos os Capuchos, pois desta sorte E que este ficava mais claro se se atendia ao fim para que se mandava exigir
ficava a conjectura ainda do que em direito se resolve que o legado deixado a o tal mosteiro, que era para que nele se celebrasse o oficio divino, e se servisse a
Mosteiro, se no se declara qual deve ser, se deve sempre ao mais pobre; e que Nosso Senhor; e que este intento e vontade da defunta to inteiramente se podia
nestes termos de frades pobres parecia que devia ser este Mosteiro. cumprir por frades de qualquer outra religio aprovada, como por frades pobres
Os letrados que eram a nosso favor diziam que no se devia entender Capuchos, pois em todos havia os mesmos actos de religio, e o mesmo fim, e q a
assim a clusula da defunta D. Simoa, nem bastavam para assim se entender as qualidade de pobres nada acrescentava nesta obrigao, nem o ter bens em comum
tais conjecturas, por que a dita D. Simoa faltando nas freiras quando do dispunha abatia a perfeio da religio.
fosse delas o Mosteiro, duas vezes as nomeava, muito perto uma clusula da Em quanto ao que se dizia que o legado deixado a frades se entendia por
outra, e em ambas declarava que as queria pobres, que posto que na segunda o direito deixado aos mais pobres, se respondia que isto se entendia dos legados
pudera escusar pelo ter j declarado na primeira to conjunta o repetira por ser deixados a Mosteiros j feitos , e povoados de frades, em que j pode haver
esta sua vontade que o fossem; e nos frades posto faltara neles trs vezes no necessidades, o que no havia no caso de que se tratava, por que o primeiro legado
mesmo Capitulo, nunca declarou fossem pobres, como fez nas freiras, o que que deixava D. Simoa de cento e cinquenta mil reis cada anno tirados do juro era
pudera fazer se assim o quisera: que isto se mostrava tambm das mesmas para se fazer e edificar o Mosteiro de novo, em que no cabia ainda a considerao
palavras do testamento, onde diz que sero frades, e pessoas eclesisticas, e de frades pobres, pois os no havia. Que o segundo legado por que lhes mandava
religiosas; e tornando a dizer que se sustentassem nele doze religiosos em dar sustentao do mesmo juro, ou dos rendimentos da fazenda de S. Tom, era
nenhum declarou que fossem pobres, e que de crer era que se assim o quisera, o para os frades que vivessem no tal Mosteiro novo, no por respeito de pobreza
declarara pelo menos uma vez, como o fizera duas vezes nas freiras, tratando a maior neles ou em outros, seno para os sustentar naquele lugar para efeito de
mesma matria em uma mesma contextura: e conforme a direito a mais poderem celebrar nele o ofcio divino, por que no pode o espiritual sustentar-se
verdadeira, e comum opinio era, que a conjectura de umas palavras do sem o temporal; pelo que no vinha a propsito no tal caso de que se tratava o que
testamento para declarar o entendimento de outras, era argumento por si por direito se diz q o legado deixado a Mosteiro, sem se declarar qual deve ser, se
enganoso, e em que se no deve fazer fundamento, se alm dele no houver outra entendia deixado ao mais pobre.
razo que a isso obrigue, por que se a defunta outra coisa quisera o declarara . e Estas, e muitas mais razes se alegaram a nosso favor, porm nem o
pois o no declarara, o no quis, nem se havia de haver por repetida a qualidade peso deles, nem o empenho del-Rei que outras vezes mais escreveu a dita
expressa na primeira clusula. Misericrdia no ano de 1596. Sobre a mesma matria bastaro a persuadi-la a que
Que isto se confirmava porque no concorria a mesma razo nos frades, nos aplicasse o dito legado, antes do fim do ms de outubro do anno de 1597
que havia nas freiras, que ela tanto queria e sempre desejava, por que alem de entregando a dita quinta aos Padres Capuchos da Provncia da Arrbida como
afeio, que mostrou ter lhes mais que aos frades, pelas palavras, com que consta de uma carta do Padre D. Lus Telm escrita ao P. Prior da Cartuxa de vora
encareceu o quanto as desejava tantas vezes repetidas, a razo deste seu desejo em novembro do dito ano, em que lhe diz o seguinte: (em latim no original) Eis
fora a muita virtude e recolhimento das tais religiosas pobres tanto aprovado pela algumas coisas que se referem nossa fundao e que me parece que devo
experincia e exemplo dos mosteiros da Madre de Deus, Sacavm, e outros comunicar a V. Revcia. H quinze dias a granja durante tanto tempo desejada e
semelhantes, assim no seu modo de vida interior, como na moderao e uso de pedida por ns foi entregue aos Capuchos pela Misericrdia, pois esta era quem
seus locutrios e portarias e pouca comunicao com seculares, que era o que devia decidir. Vossa Reverncia me encomende a Deus nas suas oraes por amor
convinha a este Mosteiro feito fora da cidade em uma quinta necessitada pela de Cristo. - At aqui D. Lus.
qualidade de lugar desacompanhado, e solitrio, cujas ocasies s com a regra Chegada a notcia da entrega da quinta de D. Simoa aos ouvidos del-
estreita das tais religiosas podiam ficar livre de m suspeita , e por isso queria que Rei Catlico, sentiu muito no tivesse o efeito to desejado o seu empenho;
fosse de mulheres pobres, que das que tem bens em comum a cujo respeito quisera porm, visto j por c tomar-se a resoluo de servir aos Capuchos, recorreu a
somente fazer diferena, no por desconfiar das virtudes destas, mas por confiar Roma mandando expor a Sua Santidade o testamento de D. Simoa, ao legado pio
da fundao do Mosteiro, e tudo o mais que elle tinha passado com a Prior e Comunidade almejem levantar no predito stio outro mosteiro, o Rei
Misericrdia a cerca de se dar a tal quinta aos Padres Cartuxos para nela Filipe, tanto em seu nome como da Comunidade, fez que se nos suplique
fundarem, e ultimamente a resoluo que tinha tomada em a dar aos Capuchos humildemente para que provejamos com benignidade apostlico sobre o
por entender que a estes religiosos, e no a outros, pertencia o dito legado; pelo q referido. Ns, que com gosto anumos aos pedidos de quaisquer fiis,
pedia a Sua Santidade mandasse ver a clusula da dita D. Simoa acerca da especialmente dos Reis Catlicos, que busquem o incremento da Religio,
fundao do Mosteiro, que mandava exigir na sua quinta de Laveiras, e que
vontade que apoiamos com os favores oportunos, agora absolvemos e
achando-se que a vontade da defunta fora o dito Mosteiro fosse de frades
Capuchos, ou que nisto havia alguma dvida, se dignasse Sua Santidade consideramos absolvidos o Prior e demais pessoas, apenas para este
conmutar a vontade da testadora mandando que o tal legado se aplicasse aos assunto, de toda a sentena, censura ou pena de excomunho, suspenso e
Cartuxos, visto como no termo da Cidade de Lisboa, e seus lugares e comarca interdito, incorridas por direito ou por homem, se que existem, e
havia muitos Conventos de Capuchos e nenhum da Cartuxa. E que achando Sua inclinando-nos s suas splicas encomendamos tua discrio, por estas
Santidade que o dito Mosteiro podia ser da Cartuxa, como de qualquer outra letras apostlicas, que concedas a nossa autorizao ao predito Prior e
religio aprovada sem encontrar a vontade da defunta, assim o mandasse declarar Irmos para construrem e edificarem nesse lugar um mosteiro capaz para
por seu Breve Apostlico, mandando ao dito Provedor, e Irmos da Misericrdia doze ao menos Irmos dessa Ordem. O qual uma vez construdo assignars,
herdeiros da testadora, e a seus testamenteiros que assim o cumprissem. Viu o com a autoridade predita, os rditos anuais com os bens preditos, conforme
Papa atentamente o que el-Rei lhe mandava representar neste particular, e a disposio da mesma Simoa. E que com a nossa autoridade declares que
benignamente se dignou comutar a vontade da defunta D. Simoa, mandando que os Irmos que no futuro ali habitarem gozaro de todos os mesmos
no dito stio se fundasse uma Casa da nossa Sagrada Religio Cartusiana. As privilgios, liberdades, imunidades, isenes, prerrogativas, favores
letras Apostlicas que sobre isto se expediram fielmente trasladadas so de teor
indultos e graas, tanto espirituais como temporais, que os outros conventos
seguinte. (traduo)
e irmos da Ordem. E o mosteiro assim levantado o declares ocupar o lugar
Clemente Bispo, Servo dos servos de Deus, ao seu dilecto filho o
do outro de monjas pobres ou frades que segundo as disposies da Simoa
Oficial de Lisboa, saudao e apostlica bno. Procurando exercer, em
deveria erigir-se ali, conforme temos descrito. E deves substituir e subrogar
quanto podemos, o cuidado pastoral do mnus que, embora indignamente,
igualmente a renda anual predita, para que os futuros Reitores ou
nos foi incumbido, anumos gostosamente aos pedidos expostos com que se
Administradores dessa Congregao integramente respondam e satisfaam
procura o aumento da religio e do divino culto, e para que esses votos
de modo que os juizes ou comissrios com qualquer autoridade assim
surtam efeito conforme os desejos do nosso corao, sobretudo porque isto
devem confirm-lo. E para tal comutars oportunamente a vontade de
nos solicitado pela piedosa devoo dos Reis Catlicos, mandamos mudar
Simoa a este respeito, sem que obstem nem essa vontade nem outras
algumas disposies dos testadores, segundo vemos que convm no
constituies ou ordenaes apostlicas, nem os estatutos e costumes da
Senhor. O ilustrssimo nosso filho em cristo o Rei de Portugal e dos
Congregao ou da Ordem, nem qualquer outra coisa contrria. Dado em
Algarves exps-nos recentemente que uma senhora Simoa, quando vivia na
Roma, em So Pedro, no ano 1597 da encarnao do Senhor. Nos idus de
diocese de Lisboa, com piedosa devoo, na sua ltima vontade, que deixou
dezembro do sexto ano do nosso Pontificado.
declarada em testamento, ao morrer declarou herdeira de todos os seus bens
Depois de se mandar impetrar este Breve veio a este Reino o
a Congregao da Misericrdia, canonicamente instituda em Lisboa. Com Comissrio Geral de todas as Cartuxas de Espanha o Venerando Padre Dom
estas condies, que essa Congregao construsse com os seus bens um Francisco Quintana Prior de Paular no ano de 1598, e chegando a Lisboa no Estio
mosteiro no lugar dito de Laveiras, na mesma diocese, e que depois de mandou para Scala Dei ao Padre D. Jernimo Ardio e fez Procurador em seu lugar
construdo o dotasse de renda anual suficiente para a manuteno de doze o Padre D. Vicente Bruno, que j estava em Lisboa; e porque o dito Padre
pessoas. Todavia, como em aquele lugar, por ser prximo ao mar e afastado Quintana vinha mal disposto, e tinha necessidade de ir s Caldas, e por esta causa
de Lisboa e do trnsito humano, no se possa fazer mosteiro de monjas e no podia ir visitar a Cartuxa de Cazalla onde seu companheiro havia de o esperar,
como alm disso existe apenas um s mosteiro da Ordem cartusiana que era o Venerando Padre D. Pedro Serval, Escriba do nosso Reverendssimo
construdo h poucos anos, e que no basta, sem grande prejudcio e Padre Geral, mandou em seu lugar por comissrio para visitar a dita Cartuxa o
dispndio, para fazer ali uma Congregao da mesma Ordem, e como o
Padre D. Lus Telm Reitor da nova casa de Lisboa, o qual chegando l e acabada quais se no haviam de pagar juntos; se no por uma consignao de 150 mil
que foi a visita, o levou Deus. reis em cada um ano at serem pagos; que estes se no haviam de comear
Voltando o Padre Quintana das Caldas e vindo o Breve da Santidade de pagar logo, seno depois de se comprar um juro de trezentos ou quatrocentos
Clemente VIII acima referido, e por que no havia Prior nem Reitor em Lisboa, mil reis que a defunta D. Simoa Godinho mandava comprar para
fez procurao em seu nome ao Padre D. Vicente Bruno, para que apresentasse o comprimentos de semelhantes legados. Que depois de o Convento com este
Breve ao Juiz a quem vinha remetido e Misericrdia, como consta do traslado
dinheiro ser edificado, se daria em cada um ano perpetuamente para sustento
que se fez em Nossa Senhora da Luz a 6 de Dezembro do ano de 1598.
Feitas as diligncias todas necessrias que se requeriam fazer antes de se dos doze religiosos que nele havero de viver cem mil reis pagos aos
sentencear o dito Breve, foi publicada a sentena do Doutor Simo Borges, quarteis, por que isto conforme a informao que tinha tomado da Provncia
Provisor, e Vigrio Geral do Ilustrssimo e Reverendssimo Senhor D. Miguel de da Arrbida o que bastava para sustento de doze religiosos pobres; que
Castro Arcebispo de Lisboa, Juiz Apostlico nesta causa, pela qual nos mandou estes cem mil reis se no haviam de pagar seno vivendo os dito doze
entregar a dita quinta aos 10 dias do ms de Dezembro de 1598; e publicado que religiosos no dito convento, porque constando no haver o dito numero, no
foi logo o Padre D. Vicente Bruno pediu ao dito Juiz o Doutor Simo Borges lhe seria obrigada a pagar coisa alguma. Estas foram as clusulas que props e
mandasse dar a sentena do processo, e o dito Provisor e Juiz apostlico lhe em que teimou a Santa Casa da Misericrdia, e as que aceitaram (por mais
mandou dar vista a conformidade em que estavam as partes. A os 12 do dito ms no poderem) os nossos Padres que se no pode negar foram condies
de Dezembro Antnio Correia notrio apostlico deu posse da dita quinta ao Padre speras, e rigorosas, por lhe no chamar injustas.
D. Vicente Bruno, e tomada esta, o dito notrio notificou a mulher do caseiro que Depois que os nossos Padres no ano de 1598 entraram neste sitio,
morava na dita quinta por seu marido no se achar em casa, para que dentro em comeou a nova planta, ainda que devagar, a ir por diante, e deitar seus ramos
trs dias sob pena de excomunho para si a 8 de Agosto do mesmo ano de 1598 ainda q tenros, no faltando com tudo alguns (e eram os mais afeioados) que com
ipso facto incurrenda e quinhentos cruzados, despejasse a dita quinta, e ainda que todas as suas foras e poder determinaram destrui-la e a cabana para no ir por
por ela foi dada em resposta que seu marido estava na dita quinta por diante; de sorte que vindo a este Reino no ano de 1611 o venerando Padre
arrendamento que durava ainda de Maro que embora viria a um ano, o qual Visitador Dom Jernimo Blanco, e chegando a esta Casa tanto apertaram com ele,
arrendamento se lhe devia cumprir; com tudo o notrio apostlico sem embargo da e tantos impedimentos e objeces lhe puseram para se no edificar neste sitio, que
dita resposta houve por feita a dita notificao. se viu obrigado a instncia deles a fazer uma Ordenao para que se no
Do dito se colhe que os Padres Capuchos no chegaram a viver prosseguisse na fundao do Mosteiro sem licena primeiro do Padre Geral, e isto
na dita quinta, e que o muito que chegaram a estar de posse seria espao de com pena de absolvio imposta ao Prior que tal intentasse fazer. Porm foi Deus
trs meses. servido de que no ano de 1613 institusse o nosso Captulo Geral em Prior desta
Tomada posse da quinta, em resposta, tanto que foi despejada por Casa o Venervel Padre Dom Baslio de Faria, Monge professo da Cartuxa de
quem nela assistia, se mudaram os nossos Padres do stio em que viviam na vora o qual chegando a esta Casa, e vendo-a to pouco adiantada, e as razes que
Pampulha para ela; porm no comearam a lograr do descanso que lhes havia para o seu atrasamento, escreveu logo ao P. Geral pedindo-lhe licena para
pareceu teriam por se verem livres j das antigas pretenses com a prosseguir com a fundao da Casa neste stio, desfazendo todos os impedimentos
Misericrdia. Digo que no lograram do descanso, por que depois disto que embaraavam o seu progresso. Referirei aqui um pargrafo inteiro de uma sua
carta, cujo original conservo em meu poder, escrita sobre esta matria ao Rvmo.
tiveram muito que lidar com ela sobre o que devia dar para se erigir o
pois nela se vem assim as razes porque embaraavam a ereco do Mosteiro
mosteiro, e depois de erecto que penso anual de dinheiro havia de aplicar neste lugar, como os slidos fundamentos com que o P. D. Baslio as impugnou,
para cngrua sustentao dos doze religiosos, que nela haviam de assistir, para se no fazer caso algum deles. Diz pois ao Padre Geral:
cujos debates duraram at o ano de 1603 em que se tomou a ltima concluso (traduo)
no negcio, por se resolverem os nossos Padres a convir em tudo o que ela Existe uma Ordenao na anterior Visita de 1661 proibindo ao Prior
quis, e teimou. Teimou em que no havia de dar para ereco do Mosteiro sob pena de excomunho deitar os alicerces desta Casa sem licena de V. Revma
mais que sete mil e quinhentos cruzados; mil e quinhentos nos materiais de Paternidade, e isto parece um subterfgio dos nossos adversrios que at hoje
pedraria e carpintaria da dita quinta, que em tanto tinham sido avaliados por retardou e impediu, junto com outros impedimentos, esta fundao, significando
oficiais de pedreiros e carpinteiros; e os seis mil cruzados em dinheiro, os isto para alguns vares devotos tantos incmodos que o V P D Jernimo Blanco,
persuadido por eles, viu-se obrigado a abandonar o projecto. Mas esta
dificuldade, como as outras, devem ser postas de parte, pois nada obsta a que uma Feita a cerimnia da bno da primeira pedra, se aplicou o P. D.
cartuxa seja construda neste lugar. De facto um stio salubrrimo, amplo, e Baslio com todas as suas foras ereco do Claustro novo, para o que mandou
como est perto do mar subministra-se abundantemente de peixe. Os obstculos abrir uns grandes alicerces junto raiz de um grande monte, e neles mandou
que se indicam so de mnima importncia e aludirei apenas a dois: primeiro, que levantar umas altas e fortssimas abbadas para vencer uma quebra dele, para por
dista duas lguas de Lisboa, segundo, que o terreno inclinado e portanto ele poder depois correr direito um claustro em quadro, as quais abbadas viu
dificultoso para construir. Quanto distncia, no demasiada visto que acabadas no tempo do seu governo. Esta obra mui notvel, e ningum h que
conforme os nossos Estatutos uma nova fundao deve estar afastada das por dentro a veja e se no admire da sua grandeza; basta dizer que sobre elas se
povoaes e at a solido do vale ajuda. ao nosso propsito. E se este argumento fundou depois um lano de um grande e formosssimo claustro e oito celas com
serve para qualquer lugar e cidade, ainda mais tem fora em Lisboa, que um seus jardins, as quais mandaram fundar depois algumas pessoas ilustres, e devotas
emprio celebrrimo em toda a Europa. Assim se estivssemos mais perto no da nossa ordem, cujos nomes aqui quero referir.
teramos para os espairecimentos campos livres das turbas de homens e mulheres. O primeiro que mandou em seu testamento conta da sua fazenda
O segundo problema no tal, j que conheo um pouco a arte da arquitectura e edificar as primeiras duas celas foi o Ilustrssimo e Reverendssimo Senhor Bispo
desde que aqui cheguei delineei uma carta do lugar e a juzo de operrios Inquisidor Geral Dom Jorge de Atade, das quais ordenou uma se dedicasse a
entendidos no custaria muito trabalho deixar plano o que agora est em declive. Nossa Senhora, e outra ao Prncipe dos Apstolos S. Pedro, e dotou a cada uma de
S falta que V Revma Paternidade me conceda licena para comear, a qual lhe quarenta mil Reis em cada um ano da renda para sustento dos dois Monges, que
peo com instantes rogos. Atentamente, Pe D. Baslio. nelas vivessem; e isto sem obrigao algum de missa, mais de que os dois Monges
A resposta que do P Geral teve sobre este assunto foi mandar-lhe que que nelas tiveram seu domiclio encomendem a Deus a sua alma, e de seus Pais
recorresse ao Pe D. Diogo de Quelvar, Visitador da Provncia de Castela, para que nos seus santos sacrifcios e oraes.
se este entendesse que o stio era bom para fundar desse as ordens procedentes. Fez o senhor Dom Jorge de Atade, fora do referido, doao a esta
Assim fez o P D Baslio logo que recebeu tal resposta. Todavia, o P Visitador foi Casa de algumas propriedades e foros, de um ornamento sacerdotal com seu
entretendo-se at ao ano seguinte, 1614, em que passou a Portugal e visitando esta frontal de tela tecido de ouro, e preta em campo branco, de um clice com sua
Casa viu o stio, examinou as dificuldades, ouviu o Pe Baslio e teve as suas razes patena de prata sobredourada, e a sua livra ria; e certo que se fora Prelado rico (o
por to fortes e eficazes que se viram obrigados, tanto ele como seu companheiro o que no foi por ser sempre muito isento) esta Cartuxa inteira edificara, por que
P D Antnio Snchez Prior de Granada, a ordenar que pondo de parte todos os estes eram os seus desejos, como o mostram duas cartas suas originais, que se
impedimentos, estorvos e mais motivos porque se no comeavam as obras, se conservam no cartrio deste Mosteiro escritas no ano de 1606. Uma ao Venerando
encetassem j, para glria de Deus e de sua Me Santssima a Virgem Nossa Padre D Francisco Galeas Prior das Covas de Sevilla, e Comissrio das Casas de
Senhora. Portugal, achando-se neste Reino, e outra ao nosso Reverendssimo Padre Geral D.
Concedida a licena pelos ditos Padres, no mesmo ano de 1614 a 8 de Bruno de Affringes das quais quero dar aqui as cpias, visto nestes escritos no
Dezembro, dia em que a nossa Santa Madre Igreja celebra com festivos aplausos a compor histria, mas s comunicar noticias. A carta escrita ao Padre Comissrio
Conceio da Santssima Me de Deus e Senhora nossa, o Ilustrssimo D. F. do teor seguinte.
Jernimo de Gouveia da Ordem de So Francisco, Bispo Isatense e Tingitano, Muitos anos h que tenho particularssima afeio Santa Religio de
presentes os Ilustrssimos Senhores D. Francisco de Bragana, neto de D. Jaime IV Cartuxa pela grande Santidade com que nela se vive, e serve a Nosso Senhor, e
Duque de Bragana; D. Nuno Alvares de Portugal, tio do Conde de Vimioso, D. depois que tratei particularmente com os. religiosos Cartuxos, vi com curiosidade
Cristvo Manoel, Jernimo de Mello Coutinho, Leonel de Moura, Francisco de seus santos Estatutos, me dediquei de todo o corao a servi-la e ajudei em
Moura, e outros fidalgos e pessoas ilustres do Reino, benzeu e lanou a primeira quanto me foi possvel, e se tivera fazenda, muito tempo h que lhe tivera lavrado,
pedra com as cerimnias costumadas no stio onde determinavam fundar a nova e dotado uma Casa nesta cidade, mas no foi Deus servido do me dar mais que
igreja; a qual tinha a inscrio seguinte:Anno Dni 1614. dia 8 Decembris boa vontade para o fazer.
Ego Hyrs. Izat. et Tingita. Eps Vendo isto me resolvi h muitos anos em dotar duas celas na Casa que
Ad honorem S. Mari Virginis est comeada em Laveiras, dando a cada uma cem cruzados da renda perptuas
Primam Lap. benedixi para sustentao de dois Monges: e por que eu no tenho fazenda livre, que possa
In alma Cartusia Vallis Misericordi logo aplicar a esta obra, nem dinheiro pronto para comprar a dita renda,
Sedente S. P. Paulo V Pont Max. sustentarei um Monge a minha custa em quanto no executar, que confio em
Et D Philippo II Portug. Nosso Senhor ser muito brevemente . por que nenhuma coisa mais desejo; e no
deixarei por isso de ajudar a Casa no que me for possvel, como at agora o fiz; e por fora:
bem sabe o padre D. Jernimo Prior que a minha vontade dedicar-lhe a minha Aos nossos dilectos filhos Hrcole do ttulo de Santa Maria Nova,
livraria, e muitas cousas da minha capela, e pode testificar quo bom nimo tive Jernimo da Santa Susana e Estanislao de Warms, Cardinais presbteros,
sempre. para servir a religio. Peo a vossa Paternidade que desta minha dotao Legados a Latere da Sede Pontifcia no sacro Conclio de Trento.
e vontade d testemunho ao Reverendo Padre, e fique por meu fiador, que por dentro:
cumprirei brevemente minha palavra. Nosso Senhor guarde V. Paternidade. Em Pio Papa IV. Queridos filhos, saudao e apostlica bno. Nosso
Casa, 27 de Maio de 1606. amado filho Jorge, filho do nobre Conde da Castanheira, que vos entregou esta
Georg. Episc carta, tendo nascido numa famlia honradssima entre os lusitanos, est
At aqui a carta escrita a o Padre Comissrio Dom Francisco Galeas. A que adornado, segundo sabemos, de virtudes, bom nimo e inteligncia, o que o
escreveu ao Padre Geral como se segue. (traduo) recomenda ainda mais do que a sua nobreza. pois diz-se que to elevado nos
por fora: seus costumes e to versado nas sagradas Letras que mereceu por isso o ttulo
Ao Reverendo Padre em Cristo Dom Bruno Prior da maior Cartuxa, e de Mestre. Quo zeloso seja da f catlica e quo piedoso e fervoroso sacerdote
Geral vigilantssimo da Ordem Cartusiana toda. seja, fica evidente pelo facto de ter vindo do longnquo Portugal, com tanto
por dentro: incmodo, no chamado mas espontaneamente, para assistir a este Conclio, e
Desde que experimentei a anglica vida dos monges cartuxos, servir nele, conforme as suas foras, a Deus omnipotente e a Igreja universal. A
afastada dos perigos e distrbios do mundo, e li atentamente os seus santos isto se suma a autoridade de nosso ilustrssimo filho em Cristo sebastio, Rei de
estatutos e ordenaes, estou unido religio cartusiana pela mxima devoo e Portugal e dos Algarves, quem no-lo recomendou com um grande encmio. Por
dedico-me totalmente ao seu obsquio. Por isso j antes da sua implantao e tudo isso pensmos chamar a vossa ateno para que ao chegar o recebais com
incremento neste Reino influi no nosso Rei catlico e se me no faltassem riquezas a benignidade que a sua nobreza, doutrina e probidade merecem, dentro do que
teria erigido nesta nclita cidade de Lisboa, como sempre almejei, uma Casa desta a dignidade do santo Snodo e os costumes conciliares o permitirem. O que
sagrada Ordem. Mas j que no pude isso, tenciono e prometo dotar duas celas deixamos ao arbtrio da vossa circunspeco. Dado em Roma junto a So Pedro,
no novo mosteiro do Vale da Misericrdia e para a sua construo e perptua com o anel do Pescador, no 6 de outubro de 1561, ano segundo do nosso
sustentao ofereo e aplico uma renda anual de duzentos cruzados deste Reino, pontificado. Antonius Floribellus Lavellinus.
promessa e dotao que procurarei cumprir muito em breve, com a ajuda de Breve segundo. (traduo)
Deus. Entrementes alimentarei s minhas expensas um monge. E pois, como disse, por fora:
amo muito esta sagrada Ordem pela sua exmia santidade e virtudes, conversei Aos nossos dilectos filhos Hrcole do ttulo de Santa Maria Nova,
profusamente com Dom Bernardo Morel Prior emrito da Cartuxa de Scala Coeli, Jernimo da Santa Susana, Estanislao de Warms e Luis de So Ciuriaco nas
portador desta carta, (com cuja religiosidade e santa conversao grandemente Termas, Cardinais presbteros, Legados a Latere da Sede Pontifcia no sacro
nos deleitamos) quem expor a V Reverenda Paternidade tudo isto. Entretanto Conclio de Trento.
suplicamos que vs e os vossos filhos vos lembreis de ns nas vossas oraes. E por dentro:
Deus ptimo Mximo vos conserve sempre inclumes e depois desta vida vos Pio Paulo IV. Queridos filhos, saudao e apostlica bno. Nosso
conceda a felicidade eterna. Em Lisboa, ao 12 de junho de 1616. Georg. Episc. amado filho Jorge, filho do nobre Conde da Castanheira, portugus, tendo
Foi o Ilmo Sr Dom Jorge de Atade sujeito ornado de mui grandes chegado a Roma foi gostosamente recebido por ns e com a sua palavra
virtudes e como tal muito estimado no s dos Reis que no seu tempo confirmou o testemunho que anteriormente nos tinha dado o embaixador do
empunharam o ceptro portugus, mas tambm dos Sumos Pontfices Romanos Serenssimo Rei de Portugal. Ele contou-nos quo amavelmente fora acolhido
como o declaram vrios Breves Pontifcios j dados em seu favor j expedidos por vs quando chegou ao Conclio, o que ouvimos com muita satisfao.
sua instncia, dos quais aqui s quero dar cpia de dois dados pela santidade de Rogamo-vos que recebais com a mesma ateno quando l regressar. dado em
Pio IV aos legados do Sacro Conclio Tridentino, a que este ilustrssimo prelado Roma, junto a So Pedro, no dia 21 de abril de 1562 ano segundo do nosso
sendo ainda s presbtero levado do seu sacerdotal zelo quis assistir. Diz pois o pontificado. Antonius Floribellus Lavellinus.
primeiro: (traduo) Quis lanar aqui estes dois breves para que se comuniquem ao
reverendssimo acadmico a quem toca a histria da igreja de Viseu, porque
poder mui bem ser deles no tenha notcia alguma; e so eles tais que a no ter
este ilustre prelado coisa que dele se dissesse notvel (que tem muito) s eles
bastam para seu elogio. Acha-se a cpia destes dois breves em um livro de Fundaram outra cela e a dotaram de cem cruzados em cada um ano para
Constituies, Extravagantes, Bulas, etc, as quais por ordem do mesmo Sr D. sustento do Monge habitador dela Dona Helena de Noronha, Senhora de Pancas, e
Jorge de Atade foram juntas e encadernadas em um livro no ano de 1576. O qual seu marido Dom Manuel de Vasconcelos, Regedor das justias, e do Conselho de
livro entre os mais deu a esta Cartuxa, onde ainda hoje se conserva. Estado de Filipe III, a qual dedicaram a Santo Antnio de Pdua. Esta fundao, e
Este Ilustrssimo Prelado achando-se no Sagrado Concilio de Trento dotao recebeu esta Casa dos ditos Senhores sem obrigao de Missa alguma.
comeou a compor os Actos dele em lngua portuguesa e tinha chegado j at o Morreu a dita Da Helena de Noronha a 28 do ms de outubro do ano de 1619.
stimo dia de agosto de 1563. em o qual foi celebrada a 248 Congregao geral Mandou fundar a ltima cela sobre as grandes abbadas que fez o Padre
dos Padres. Tendo prosseguido at aqui os ditos Actos na dita lngua teve notcia D. Baslio de Faria sendo Prior deste Mosteiro o Ilustrssimo e Reverendssimo
da morte do seu pai D. Antnio de Atade primeiro Conde de Castanheira, e ento Senhor Inquisidor Geral Bispo da Guarda Dom Francisco de Castro, a qual
mudou o estilo, e comps os ditos Actos na lngua latina, e chegou no segundo consagrou ao Serfico Padre So Francisco, e a dotou de cinquenta mil reis
tomo at 313 Congregao geral dos Padres, acerca da matria do matrimnio e perptuos em cada um ano para sustento do Monge que nela assistir, com a
Reformao, que foi celebrada no dia 30 de Outubro do ano 1563. Estes dois obrigao porm de se lhe dizer todas as semanas uma Missa pela sua alma. Deu
livros deu tambm o dito Senhor a esta Cartuxa, e nela se conservaram at os meus este Ilustrssimo Prelado para a Igreja dois frontais, um de tela branca e outro de
dias em muita estimao. Deu-os a Casa (depois de os ter negado a grandes setim encarnado todo bordado de ouro com suas armas, o qual se conserva ainda,
pessoas) ao ltimo Conde do Redondo, que em alcan-los se empenhou muito. pelo pouco uso que tem, com toda a sua frescura. Morreu o Senhor Dom
Damo-los por mui bem empregados, pois os soube merecer por um grande e Francisco de Castro em idade de oitenta anos em o primeiro dia de janeiro do ano
utilssimo servio que fez a este Mosteiro. So dois volumes grandes, e de muito de 1653, e dele faz ilustre meno o Reverendssimo Padre Frei Lus de Sousa na
boa letra. segunda parte da crnica de So Domingos da Provncia de Portugal em o
Morreu o Senhor Bispo Inquisidor Geral D. Jorge de Atade em 18 de apndice ao Convento de Bemfica.
Janeiro (assim o diz um padro de uma das duas celas que nos edificou neste Ultimamente fundou duas nobilssimas celas no segundo lano do
Convento) de 1611. e depois da sua morte teve por toda a nossa Sagrada Religio Claustro, que j se achava principiado, o Eminentssimo, e Reverendssimo Senhor
da Cartuxa monacato pleno com saltrios, tricenrio singular, Missa de Beata Cardeal Lus de Sousa, Arcebispo de Lisboa, uma das quais dedicada a Nossa
Maria e aniversrio perptuo. Senhora da Conceio e a outra a So Lus Bispo. A cada uma destas celas dotou
A terceira cela mandou edificar o Padre Dom Joo Coelho, primeiro Monge o Senhor Cardeal de quarenta mil reis (cinquenta mil reis dizem erradamente os
professo desta Casa, a qual dedicou a So Joo Baptista e dotou de quarenta mil padres delas) em cada um ano para sustento dos dois Monges que nelas viverem,
reis em cada um ano in perpetuum para sustento do Monge que nela assistir. Deu com a obrigao porm de que neste Mosteiro, ou fora dele se mandassem dizer
mais este Padre quinhentos Cruzados para ornamentos da Igreja. duas Missas quotidianas pela alma da sua Eminncia. Aceitou esta Casa to
Foi este Monge natural da cidade do Porto, e filho de Sebastio Coelho, grande encargo no tanto pela fundao das ditas celas em que se gastaram doze
honrado cidado daquela terra. Exercitou nesta Casa muitos anos o oficio de mil cruzados, nem to pouco pelo dote delas, quanto para se mostrar agradecida ao
vigrio, e alguns o de procurador, e depois de ter vivido na Ordem alguns Senhor Cardeal por um grande benefcio que por intercesso sua se alcanou do
cinquenta e seis anos mui louvavelmente entregou o seu esprito nas mos do Serenssimo Senhor Rei D. Pedro II de quem foi Capelo mor e seu Conselheiro de
Senhor que o criou e remiu, a sete do ms de dezembro do ano 1666. Teve este Estado, que foi mandarmos o dito Senhor pagar-nos uns duzentos mil reis em cada
Padre depois da sua morte Missa de Beata Maria nas duas Provncias de Espanha. um ano para se cumprir em todo a promessa dos quatrocentos, que Filipe I. de
Mandou depois edificar trs celas a muito ilustre, e generosa Senhora D Portugal prometeu no princpio da fundao desta Casa dar-nos, dos quais s se
Beatriz de Mendona e Barreto, Dama da Rainha D. Margarida mulher de Filipe cobravam duzentos mil reis, que pagam os Reverendssimos Monges de So
III, Rei Catlico, das quais ordenou se dedicasse uma a Nossa Senhora do Rosrio, Bento, e no mais, por razo de vrias dificuldades, sempre se ofereceram para o
outra ao Anjo da Guarda do Conde de Vila nova seu primo, e a terceira a Santa inteiro cumprimento da dita promessa. Estes ltimos duzentos mil reis se pagavam
Maria Madalena. Dotou cada uma destas trs celas de cinquenta mil reis perptuos das das rendas da Capela Real, porm exacta esta em Patriarcal, se tiraram dela, e
em cada um ano para se alimentarem os Monges que nelas viverem, e isto sem por ordem do Serenssimo Senhor Rei D. Joo V que Deus guarde se pagam na
encargo algum de Missa, mais do que os ditos religiosos lhe encomendem a- Deus Consignao Real.
sua alma, e de seus pais e parentes nos seus santos sacrifcios, e oraes. Faleceu A outra razo que obrigou aos nossos Padres a aceitar a obrigao
esta Senhora em Madrid a sete de julho de 1646; e teve depois da sua morte Missa destas Missas foi as grandes promessas que o Eminentssimo Senhor Cardeal Lus
de Beata Maria nas duas Provncias que a Ordem tem nos Reinos de Espanha. de Sousa fez a esta Casa de lhe dar a sua grande livraria, para pr a qual mandou
ainda em sua vida levantar uma mui grande sala, que de comprimento tomava todo
um grande lano do Claustro, que o terceiro dos quatro que h de ter; porm esta
famosa Casa se no acabou por causa da morte de sua Eminncia, que tambm foi
motivo para no ter efeito a promessa de sua livraria. Morreu o Eminentssimo
Cardeal Lus de Sousa a 4 de janeiro de 1702.
Estes so os fundadores, e donadores mais insignes nesta Cartuxa do
Vale da Misericrdia, e sendo tantos, e to ilustres, ainda a metade da Casa no
est edificada; se se acabar ser uma das mais famosas Casas da Ordem, porque o
Claustro em que vivem os Monges obra rgia, e magnfica, as celas mui
perfeitas, pois como tem afirmado muitas pessoas que tm visto muitas Casas da
Ordem assim nos Reinos de Espanha, Frana, Itlia, Polnia e Alemanha, em
nenhuma se vem celas nem melhores, nem mais bem repartidas. Chama-se este
Claustro Superior a respeito de um pequeno Claustro que se edificou logo no
princpio da fundao na parte mais inferior do vale em que est esta Cartuxa.
Neste Claustrinho vivem os Irmos Leigos com o Padre Procurador do Mosteiro, e
nele tm tambm as suas celas o Padre Sacristo e seu ajudante que tambm
Monge, para mais prontamente acudirem as obrigaes da Igreja, que junto a ele
est edificada com as mais oficinas da Casa desde o princpio da fundao, o que
tudo ainda hoje serve.
Est esta Cartuxa a duas lguas distante de Lisboa para a parte do
Ocidente junto do rio Tejo em um Vale ameno, e de bons ares, o qual povoado
de muitas, e nobres quintas, que a todas rega um pequeno rio, que chamam de
Barcarena. Tem de renda seis para sete mil cruzados, e sustenta ao presente treze
Monges, e um novio, cinco conversos e trs Donatos.

Lembram-se desta Cartuxa Jorge Cardoso no seu Agiolgio


Lusitano, tomo segundo, dia quinto de abril; o Padre Antnio de Carvalho e Costa
no terceiro tomo da Corografia portuguesa captulo cinquenta e quatro; Dom
Joseph de Valls, Arcediago de So Loureno e Cnego da Igreja Metropolitana
de Tarragona, no livro intitulado Primeiro Instituto Cartusiano,. impresso em
Madrid no ano de 1663; Dom Joo de Alfaura, valenciano, no livro intitulado
Series chronographica et descriptio topographica domorum Ordinis Cartusiensis,
pgina 121; e o Reverendssimo Abade D. Carlos Jos Morotio, Monge da Ordem
de Cster, na sexta parte do Theatro Chronologico da Sagrada Ordem da Cartuxa,
numero 1593.
baixorelevos executados pelos alunos do
Reformatrio

Benfeitor duma cela


Benfeitor de outra cela
Escadas aos terraos
arcos do desaparecido claustro dos Irmos
Contrafortes edificados por D Baslio D Baslio imitou as caves de Scala Coeli
Lembrana de Sequeiras

Sequeiras no M. de Arte Antiga em Lisboa


na igreja da Merc em vora
no Museu Soares dos Reis, no Porto
DESCOBERTA DOS QUADROS PERDIDOS presumvel autoria. De momento, limitamo-nos a revelar o achado que o mais
importante. um momento de grande alegria, ao cabo de uns quase duzentos anos
Dr Jesu Pinharanda Gomes de encobrimento, no voluntrio, mas que talvez haja decorrido de algum
desinteresse pela arte sacra.
No livro A Ordem da Cartuxa em Portugal citmos fontes que aludem, Uma vez feito o inventrio das obras de arte de Laveiras, e dito quanto j
sempre com fracos pormenores, a quadros existentes em Laveiras. Quanto ao escrevemos acerca do seu destino, temos agora a certeza de que, pelo menos esses
nmero de quadros, umas vezes se referem cinco, outras vezes os mesmos, ou nove quadros (e, quem sabe? mais outros) s podem ter sido entregues posse do
outros, no sabemos de certeza. No entanto, quando procedamos redaco dessa Ordinrio, que era, ao tempo, D. F. Patrcio da Silva (Patriarca entre 1826 e 1840)
nossa obra, a Cartuxa de vora informou-nos de que obtivera uma pista que podia que tinha autoridade para os entregar igreja que por bem achasse. De momento
levar-nos ao encontro de alguns dos quadros perdidos que, ento, seriam no vemos outra hiptese, salvo a de terem sido guardados no Mosteiro de S.
achados. Vicente de Fora (sede patriarcal) e, em 1910, mediante o arresto da Lei da
Na cidadela delimitada pela muralha nordeste do Castelo de S. Jorge existe Separao, que tirou o Patriarcado daquele Mosteiro, transferidos para uma igreja
uma igreja, sita no Largo de Santa Cruz do Castelo, no topo de uma rua do mesmo que estivesse perto, neste caso a de Santa Cruz do Castelo.
nome, encravada no baixo casario que ainda ressoa medievalidade, ladeando Os quadros representam as seguintes personalidades:
estreitas ruelas. As Memrias Paroquiais, fruto do Inqurito do Ministrio do 1. Um bispo cartusiano, que se admite ser S. Hugo, nascido em 1140, professo da
Reino (1758) no integram a Memria de Santa Cruz do Castelo, que os Grande Chartreuse de Grenoble, que foi bispo de Linclnia, Inglaterra, e
especialistas julgam ter-se perdido. (Fernando Portugal e Alfredo de Matos, Lisboa canonizado em 1134).
em 1758. Memrias Paroquiais, Lx., 1974, Prefcio. Uma gravura da Igreja 2. Retrata outro bispo, que no veste hbito de cartuxo e tem longa barba.
antiga pode ser vista em Alfredo Mesquita, Lisboa (album), Lx., ed. de 1987, Podemos pensar que em Laveiras quiseram ter a representao do bispo de
p.577). Pequena capela de S. Miguel logo a seguir conquista da cidadela por D. Grenoble, Santo Hugo. Este bispo, que tinha pertencido Ordem beneditina,
Afonso Henriques, ali veio a erigir-se a mais antiga Parquia da cidade, da tivera um sonho em que vira sete estrelas sobre o vale da Chartreuse, na sua
invocao de Santa Cruz. Atribumos a escolha deste ttulo a duas razes: ao diocese. Quando Bruno se lhe apresentou com seis companheiros pedindo-lhe um
milagre de Ourique e presena, no Mosteiro de S. Vicente de Fora, dos Cnegos lugar deserto para se retirarem com Deus, Santo Hugo de Grenoble interpretou o
Regrantes de Santo Agostinho, que se tinham afiliado Ordem dos Cnegos de seu sonho como proftico.
Santa Cruz de Coimbra, Ordem masculina por ento criada, nos fins do sculo XII. 3. a 9. Retratam, segundo nos informa Fr. Anto Lpez, alguns dos dezoito
Os fregueses da Parquia eram poucos (os que habitavam no Castelo) e j no mrtires da perseguio levada a efeito pela reforma de Henrique VIII. De facto,
sculo XVIII s ainda contava com 72 vizinhos. Na Igreja de Santa Cruz do em 4 de Maio de 1535, foram torturados e assassinados em Tyburn os Priores dos
Castelo havia uma Colegiada, cujos benefcios decorriam dos rendimentos de ermos de Londres, Beauval e Axholme e logo depois mais quinze monges, no
terras nas freguesias de Carnaxide e do Campo Grande. Quem, estando na Praa total de dezoito. A Provncia inglesa foi suprimida totalmente em 1539, os
da Figueira, deseje ir at l, pode fazer um curioso itinerrio histrico, apanhando monges que escaparam perseguio dispersaram-se pela Europa, e j vimos
o autocarro n. 37, ou o elctrico para a Graa, mas o autocarro fica muito mais como alguns deles transitaram pelo nosso pas, em. tempo em que a Cartuxa ainda
perto da Igreja, bastando subir um pouco pela Rua de Santa Cruz do Castelo. se no estabelecera. impossvel identificar estes retratos um a um. Podemos
Segundo relatos da poca, a igreja ficou quase totalmente destruda pelo supor que os monges de Laveiras e o pintor viam l os mais representativos
terramoto de 1755, e por um incndio que se lhe seguiu, vindo a ser reconstruda, daqueles mrtires ingleses: Joo, prior de Londres, Agostinho, prior de Axholme;
conforme data inscrita no fronto, em 1776. Roberto, prior de Beauval, Hunfredo, Vigrio de Londres; e Guilherme,
H pouco foi sujeita a obras de restauro, e foi no incio das obras que o Procurador tambm de Londres. O mrtir que tem barba , naturalmente, um
arquitecto Jorge Teles veio a descobrir os quadros, que teve o cuidado de Irmo e eles pensariam no Beato Guilherme Horn, especialmente lembrado por ter
fotografar, e do facto os Cartuxos de vora tiveram conhecimento. Tentaram eles sido o ltimo em morrer. Sobre fundos castanhos escuros relevam-se as figuras
obter mais informaes, todavia, a jurisdio em matria de arte sacra no brancas, com as insgnias episcopais ou com os smbolos e instrumentos do
favoreceu os Cartuxos e s h pouco, por intercesso do senhor D. Jos Alves, martrio, impressionando a figura do jovem monge, com o peso pendente da
bispo auxiliar do Patriarcado, foi possvel obter as fotos de nove quadros. O corrente que lhe trava o pescoo.
achado destes quadros, patrimnio portugus, embora sacro, requer o exame Estes mrtires foram beatificados em 1886, pelo papa Leo XIII e os trs
presencial, para identificao da tcnica pictoral, das datas de confeco e da Priores foram canonizados por Paulo VI em 1970.
A ttulo de curiosidade: foi nas runas da Cartuxa de Londres que "Sir"
Robert Baden-Powell, nos comeos do sculo XX, iniciou o Escutismo, os Scouts.
Quanto ao suporte fsico, no conseguimos obter as dimenses exactas dos
quadros mas calculamos que ocupem uma superfcie aproximada de 100 cms de
altura por cerca de 70 cms de largura.
No que data de confeco se refere, parece-nos serem- todos da mesma
escola, com a mesma tcnica. Foram pintados em Laveiras? Quando os
contemplamos quase somos tentados a vislumbrar neles os matizes de uma
tradio que bem pode ser a de seguidores de Domingos Sequeira, nos finais do
sculo XVIII, comeos do sculo XIX. um enigma a decifrar, um desafio para a
nova gerao de crticos e historiadores de arte, a quem se apresentam estas obras
que viveram ocultas at agora.

oito Santos Cartuxos Mrtires em Inglaterra


oito Santos Cartuxos Mrtires em Inglaterra
Forte chamado So Bruno na barra do Tejo
Sto Hugo de Linclnia

santo bispo no cartuxo

todos espoliados Cartuxa de Lisboa em 1834


Quantos e quem foram
os Cartuxos portugueses
do livro
El aislamiento de la Provincia Cartusiana
por Juan Mayo Escudero

Monges do Vale da Misericrdia


A primeira peculiaridade cartusiano-portuguesa que encontramos est nos
nomes de religio dos seus monges. Em vez de usarem o apelido, como era e
habitual na Ordem, tomaram uma advocao de Santo ou de Mistrio, como
por exemplo, Manuel da Ressurreio, Jos de Santa Maria, Sebastio da Me
de Deus, Teotnio de So Pelgio, Hugo Antnio do Santo Rosrio, Manuel da
Conceio, Joo Manuel de Santa Maria..., costume que podemos qualificar de
barroco.
Quanto ao seu nmero, a Comunidade de Laveiras foi menos numerosa
do que a de vora. Os seus monges faleceram assim: at 1640, apenas falecem
espanhis, 3 padres e um irmo; de 1641 a 1680, 6 padres (mais um francs e
um belga, priores) 2 irmos; de 1681 a 1720, 9 padres (mais um espanhol) e 3
irmos; de 1721 a 1760, 11 padres e 5 irmos; de 1761 a 1800, um total alto,
26 (17 e 9); de 1801 a 1834 faleceram 5 padres e 3 irmos; depois da expulso,
de Laveiras morreram exilados 4 e um. Em total, 52 padres e 23 irmos.
Somando os dois cemitrios mais os enterrados no exlio (dois dos quais
em Itlia), temos que a terra portuguesa deu una colheita de 214 filhos de So
Bruno (149 padres e 65 irmos) em 247 anos. Quase um por ano.
Quanto a esse nmero, lembremos que os portugueses que envergaram o
hbito de So Bruno viveram em dois largos sculos que coincidiram com duas
pocas muito diferentes: o barroco e o racionalismo, religiosamente uma
cimeira e uma fossa. A expresso grfica do que foram esses dois sculos e
meio para a Igreja est nas estatsticas dos Crzios ou Cnegos da Santa Cruz,
um instituto tipicamente portugus: nele comeou e se formou Fernando
Bulhes, que terminaria sendo Santo Antnio de Lisboa. Ora, esses cnegos
regulares tiveram 20 Casas em 1630, 13 em 1770, 4 em 1834. Em comparao
com esse declive as cifras cartusianas indicam que o ideal cartusiano sempre
atraiu
Convm saber que nos Estatutos da Ordem o captulo que trata dos
candidatos levou sempre o ttulo em singular: De Novitio. Isto porque desde
parvus numerus, pequeno nmero, de que fala Dom Guigo no incio da Ordem,
a realidade foi sempre que s quando um novio professava aparecia outro. Como
se v, nisso tambm a Provncia Lusitana teve um desenvolvimento normal,
num pas, alis, que ento escasamente teria um milho de habitantes. Resulta
contudo evidente que a cartuja eborense (139 vocaes) foi mais conhecida e mais
atraente do que a lisboeta, (75).
Por outra parte, vemos que a proporo de estrangeiros pequena (9
espanhis e 2 franceses em Scala Coeli; 5 espanhis, um francs e um belga em padres y hermanos portugueses
Vale da Misericrdia). Isso evidencia, como outros pormenores, o isolamento
desta Provncia.

Cnegos de Santa Cruz hermanos


portugueses
30%
20
18 padres
16 portugueses
14 70%
12
10
8
6
4
2
0 padres y hermanos de Vale da Misericrdia
1 2 3
Casas en 1630, 1770, 1834

hermanos VM
padres y hermanos de Vale da Misericrdia 31%

30
25
padres VM
20 69%
15
10
5
0
1 2 3 4 5 6 7

1599-1640 41-80 81-720 21-60 61-800 1801-34 exlio


Priores de Vale da Misericrdia.
(em negrita os que foram tambm priores de Scala Coeli)

cartujos de Scala Coeli y de Vale da M. 1594 Lus Telmo, 1598, espanhol, nomeado pelo Captulo Geral (CG).
1599 Francisco Monroy, 1609, espanhol, nomeado pelo CG.
1603 Jernimo rdio, espanhol, nomeado pelo Prior da Grande Chartreuse
(GC).
1608 Juan Valero, 1625, espanhol, nomeado pelo CG.
cartujos de VM
35% 1613 Baslio de Faria, 1625, portugus, nomeado pelo CG.
1622 Bernardo Gort, espanhol, nomeado pelos Visitadores.
1631 Antnio Coelho, 1647, portugus, nomeado pelo CG.
1637 lvaro da Afonseca, 1660, portugus, nomeado pelo CG.
cartujos de SC
65%
1645 Thomaz Lus, 1653, portugus, eleito pela comunidade morreu no
dia da eleio.
1645 Tiago da Assuno Cao de Brito, 1668, portugus, eleito em
dezembro.
1646 Nicolas Baudy, 1674, francs, eleito
1668 Jean Belagle, 1677, belga, nomeado pelo CG.
1670 Simo Velho Barreto, 1694, portugus, nomeado pelos
Visitadores.
1679 Lus de Jesus, 1693, portugus, nomeado pelo Prior da GC.
aislamiento de la Provincia Portuguesa 1682 Jos Torralva, 1702, espanhol, nomeado pelo CG.
1686 Pedro Ferreira, portugus, nomeado pelo CG.
1690 Miguel Castelho, espanhol, nomeado pelo CG.
1696 Pedro Ferreira, de novo, nomeado pelos Visitadores.
extranjeros
1697 Lamberto San Martn, espanhol, nomeado pelo Prior da GC.
enterrados
1701 Miguel Castelho, de novo, nomeado pelo CG.
8%
1702 Antnio Rebelo, portugus, eleito.
1707 Sebastio da Me de Deos, portugus, nomeado pelo CG. A carta da
nomeao foi recebida em 1709!
1713 Antelmo Pereira, portugus, nomeado pelo Prior da GC.
1716 Lus de Brito, portugus, eleito.
cartujos 1746 Bernardo de Santa Maria, portugus, eleito.
portugueses 1752 Manuel da Conceio, portugus, nomeado pelo CG.
92% 1754 Atansio de S. Jos, nomeado pelo CG.
1757 Francisco de Santo Hugo, nomeado pelo CG.
1777 Silvestre Teixeira, portugus, nomeado pelo Prior da GC.
1790 Antnio de S. Jos de Castro, portugus, idem.
1798 Matias de S. Bruno, eleito
1824 Bruno de S. Joo Baptista (nomeado? eleito?).
1825 Jos de Santa Maria (idem) Em funes at 24 de julho de 1833, data
da sada.
Um destes priores entrou na histria poltica de Portugal. Dom Antnio de
ESMOLAS DO BRASIL
So Jos de Castro era filho ilegtimo, por varonia, da Casa dos Condes de
Resende. Professou em Laveiras, depois viveu em Scala Coeli, e em ambas as No incio da Ordem Dom Guigo nos Costumes de Chartreuse escreveu:
Cartuxas escreveu uma Gramtica Lusitana e outros livros sobre filosofia e "Detestamos o costume de andar por fora pedindo esmolas". Referia-se ao que
esprito cartusiano e editou Joo de Barros, at ser nomeado prior de Vale. Em faziam outros monges para poderem acolher hspedes, mas os primeiros Cartuxos
1798 foi indigitado para prior do Porto; resistiu, por amor solido, durante renunciaram tradicional hospedaria monstica. Por isso Dom Guigo justificava
quatro anos mas obrigado pelo Nncio recebeu a mitra. L iniciou o primeiro assim essa deciso: "Vou abandonar eu a minha cela, o meu claustro, e esquecendo
seminrio que a diocese conhecera. A sua pena produziu belas cartas pastorais a minha vocao vou fazer-me vagabundo pelos vagabundos, mendicante pelos
que o fizeram muito popular. por isso que quando os franceses sitiaram a mendicantes e secular para acolher e alimentar seculares? Eles, eles prprios sigam
praa o povo designou seu Bispo como presidente da Junta de Resistncia. pelo caminho que encetaram e percorram o mundo, pois se eu tambm partir no
Dedicou-se sobretudo a acalmar nimos para evitar excessos, com tanto conseguiria seno engrossar o seu nmero."
sucesso que era chamado "el-rei do Norte". Essa fama chegou Corte, que At hoje os cartuxos foram fiis a esse esprito. Mas nos nove sculos
estava no Brasil. O Prncipe Regente designou um Governo para o Portugal na houve ocasies em que a penria de alguma Casa os obrigou a enviar
sua ausncia, um de cujos membros foi D. Antnio. Alm disto, em 1809 algum, no de porta em porta, mas a algum porto de algum nobre que
designou D. Antnio Patriarca de Lisboa, mas a vontade real no foi ratificada pudesse e quisesse ajud-los. Caso famoso foi o da Cartuxa de Cassotto,
por Roma porque, sendo filho ilegtimo, no poderia receber o capelo porque o seu esmoler mereceu ser beatificado, o Bem-aventurado
cardenalcio, que o Papa costumava outorgar aos Arcebispos de Lisboa. Guilherme de Fenoglio. Caso praticamente ignorado o de Laveiras, que
Morreu, pois, como bispo do Porto, em 1814. enviou um Irmo, Gregrio de Sant'Ana, a Minas Gerais.
Os arquivos da Grande Chartreuse conservam as listas dos priores As circunstncias que justificaram e at foraram esta excepo
portugueses. Essas listas repetem duas ideias: que aquelas duas Casas viveram iluminam a histria da Cartuxa de Laveiras. Em comparao com Scala
parte da Ordem mas igual que a Ordem. Isto significa que no decorrer
Coeli, fundada e protegida pelos Braganas, a lisboeta foi mais pobre do
daqueles prioratos encontramos aquele mesmo costume que foi tradicional
durante sculos em toda a Ordem, como se v nas Efemrides, mas que se
que rica. Cresceu com dificuldade, ajudada por benfeitores que iam
perdeu no sculo XX. No sculo XX os prioratos duravamm normalmente uma construindo cela por cela. Mas, o que fazer para levantar uma igreja digna?
dcada, facilmente duas e em casos at trs e quatro. Pelo contrrio, Os nobres da Capital preferiam ajudar os religiosos intra muros antes do que
antigamente os padres iam e voltavam em pouco tempo duma cela do claustro os que consideravam afastados, qual os de Laveiras. Para compreendermos
prioral e da prioral ao claustro. Em vrios casos vemos que voltam a ser melhor essa situao lembremos que quando Filipe III escreveu ao seu
eleitos, o que indica que a misericrdia no era motivada por faltas ou Procurador que ajudasse os Cartuxos, Pinheiro da Veiga respondeu que
culpas. No sculo XX atribua-se a permanncia escassez de padres "onze Religies ou Mosteiros lhe tinham pedido a ele dinheiro para
capacitados: o costume antigo indicaria a boa preparao daqueles Padres. fundarem ou aumentarem". Por isso os Cartuxos tiveram de pensar no
De facto, porque viveram parte do resto, as Cartuxas portuguesas Brasil.
tomavam os seus priores uma da outra. E de facto tambm, porque viveram Na crnica Origines o Padre Vigrio Frei Joo de So Toms, nos
como o resto, mudavam de prior cada poucos anos recuperando com flios 186 e seguintes conta esta curiosa histria.
frequncia outra vez os mesmos. Igualmente nisto as nossas estatsticas,
Quando Dom Lus de Brito comeou aqui o seu priorato em 1716
embora cartusianas, falam bem e claro. Em Scala Coeli encontramos trs
prioratos prolongados: vinte e seis anos, Dom Bernardo Gort (1634-60);
pensou nessa soluo. Pediu autorizao rgia mas foi-lhe denegada. Em
dezassete, Dom Jos Manuel de Santa Maria (1758-75); dezanove, Dom 1725 visitaram a Cartuxa uns religiosos que moravam no Pao real e viram
Loureno Trino (1775-94); o que d para os outros 38 prioratos que houve uma e lamentaram o atraso das obras da igreja. Por influncia deles o Prior
mdia de quatro anos e meio. Em Vale da Misericrdia houve tambm trs conseguiu esta vez a licena rgia para enviar um esmoler Capitania de
excepes: vinte e nove anos, Dom Lus Brito (1716-45); dezanove, Dom Minas Gerais.
Francisco de Santo Hugo (1757-76); e treze, Dom Silvestre Teixeira (1777- O Irmo Gregrio, de apelido dos Santos, nascido em Montemor-o-
90); e assim os outros 29 prioratos duraram uma mdia de seis anos. Novo, na Cartuxa Frei Gregrio de Sant'Ana, foi escolhido porque antes de
ser Cartuxo j estivera no Brasil. E no isso, mas era um homem Este caso curioso, excepcional, de um Cartuxo mendicante, to longe e
experimentado: fora soldado, feito prisioneiro em Almansa pelos franceses, tanto tempo, interessa-nos como curiosidade e como excepo. Mas tambm
depois viveu em Macau e no Rio de Janeiro. Alm disso, a crnica Origines e sobretudo como explicao de que aquela pobre Comunidade tivesse
diz que o Prior confiou nele sobretudo por ser um Irmo de grandes conseguido edificar a igreja que ns hoje admiramos. Admiramos e
virtudes. agradecemos a Deus, como legado de um passado de contemplao, que
Chegou ao Rio em 1725 e hospedou-se em casa do Governador. A sua actualmente um apelo para ns. Ruram as modestas celas custeadas por
primeira carta chegou a Vale da Misericrdia no 5 de janeiro de 1726. Nela famlias amigas, no claustro ficaram apenas em p as arcadas terminadas
narrava que j no Rio saiu a pedir dinheiro, acompanhado dum filho do graas ao Cardeal D. Lus de Sousa, mas a Cartuxa de Lisboa hoje para
Visconde de Asteca, e de outro cavaleiro e do Secretrio do Governador, ns essa bela igreja. No diremos que ela se deveu aos brasileiros: digamos
talvez conhecidos seus da sua antiga estadia l. Do Rio passou logo para que foi obra dos portugueses, muitos deles lisboetas, que trabalhavam no
Minas Gerais. A permisso rgia era para quatro anos mas esteve dez, Brasil, naquelas ricas Minas Gerais. Os clculos desses dados transcritos
prorrogao que fala em seu favor. Os "mineiros" eram ricos e foram somam a cifra de quase vinte contos de reis...! Mais um exemplo de como
generosos. os portugueses de outrora ofereciam ao seu Deus e Senhor o melhor do que
O Irmo enviava cada ano "na frota" o colectado. Em 1727 1.980.000 tinham: o seu ouro, os seus diamantes, o seu corao. Ao seu Deus, porque
reis. Em 1728, 538.000. No 29, 752.000. No 30, 1.273.220. Em 1731 eles entendiam e estimavam os monges que se consagravam exclusivamente
427.200. No 32, 4.000. No 33, 33.400. No 34, em dois envios, 2.140.000. aos divinos louvores. Um exemplo para ns.
Na frota de 1735 regressava Frei Gregrio, trazendo consigo 35.200
reis alm de deixar l uns 1.100.150, que lhe enviaram em 1737. Trazia seis
dzias de pranchas de madeira preciosa, pau de Angolim, para a igreja (o
coro, podemos supor), valoradas em 6.000 reis. Sabemos que em 1736,
estando portanto na Cartuxa, arrecadou ainda para a obra da igreja 99.800
reis de benfeitores de Lisboa.
Ao p do flio 188 desta crnica Origenes, terminada em 1737,
aparece um acrscimo, um "post scriptum", que diz: "O primeiro dinheiro
que mandou Frei Gregrio na segunda vez que passou s Minas foi na frota
que chegou em outubro de 1741: 1.797.520 reis. Veio tambm na dita frota
uma esmola de 400.000 reis. Veio na frota de Rio de Janeiro de 1742
4.707.000 reis." No diz mais nada dessa "segunda vez", no sabemos se
por falta de espao no papel ou porque se reduziu a esses dois anos.
contudo interessante saber que voltou l, talvez porque o j obtido no
chegava para as obras. Claro que um conto (um milho de reis) no valia em
1700 como em 2000. Mas alguma ideia podemos fazer-nos comparando
com os preos de ento: uma pipa de vinho, 1.200 reis, um quilate de
diamante 2.400.
Em todo o caso, pouco depois, 1755, o terramoto de Lisboa encontrou
a igreja da Cartuxa j terminada. Danificou-a bastante, mas o famoso
arquitecto Carlos Mardel restaurou-a e melhorou-a.
Frei Gregrio de Sant'Ana faleceu na sua Cartuxa do Vale da
Misericrdia em 1776. Dois anos mais tarde morria em Scala Coeli, como
Donato, um seu irmo de sangue, mais velho, Frei Joo Baptista.
A BIBLIOTECA DE LAVEIRAS classificando bastantes maos como sendo nada interessantes ou que de nada
Dr. Jesu Pinharanda Gomes servem, alguma perplexidade tais juzos causando, pois ignoramos qual o critrio
de avaliao. Sendo assim, o catlogo da livraria no se pode elaborar, restando-
Existe a ideia de que, pobres em tudo, os Cartuxos do Vale da Misericrdia nos conhecimento apenas dos livros maiores, ou de superior valor material, sendo
eram ricos em livros 1, havendo certa noo da quantidade que a livraria os demais omissos, o que pena.
conservava. O primeiro ncleo bibliogrfico foi constitudo pela doao do No conjunto havia livros velhos e muito velhos e troncados (sic),
benemrito bispo D. Jorge de Atade, esperando-se que fosse ampliado com a possivelmente do sculo XVI e tambm do sculo XVII, ainda que se registem
biblioteca pessoal do bispo D. Lus de Sousa, que a prometera aos monges, mas edies dos sculos XVIII e XIX, algumas repetidas, ou porque dos monges cada
sem efeito conclusivo, pois no chegaram a receber essa doao. um levasse os seus livros, ou porque o mosteiro recebesse doaes, ou porque
O inventrio resultante da supresso permite obter, ainda que muito tnue, tambm efectuasse compras, dada a proximidade de Lisboa, onde era possvel
uma perspectiva da livraria, cerca de uns trs mil livros. No dia 4 de Novembro de adquirir livros com mais facilidade do que em vora. Alis, mais do que vora,
1833, j os monges sados para a casa de vora, onde se refugiaram, o Dr. Antnio Laveiras dedicava-se leitura, havendo notcias dos estudos jurdicos, e de cpias
Fernando Leite de Sousa principiou o inventrio dos bens do Convento de So de tratados redigidos por monges, e guardados no arquivo da casa, sendo de
Bruno (sic) de Laveiras, em cumprimento da Portaria Rgia, comeando pela conjecturar que alguns dos livros empacotados seriam manuscritos de temas de
livraria. O levantamento e a descrio demoraram trs dias a efectuar, em trs Direito. Uma das mais importantes entradas deveu-se ao canonista Vicente
distintas assentadas, estando presentes as testemunhas que assinaram o auto: Dr. Ferreira de Moura, que exercia em Lisboa e que, em 20 de Novembro de 1723,
Leite de Sousa, Aleixo Freire, Joaquim Cardoso, e Jos Lopes de Carvalho 2. professou em Laveiras, onde tomou o nome de Bernardo de Santa Maria. De sua
Conservou-se o inventrio da Biblioteca conventual, mas havia outros livros. casa mandou vir para o mosteiro cerca de cem livros, inclundo Direito Cannico,
H notcia de que D. Jernimo de Atade escreveu umas Actas do Conclio de tratados de Calepino e os Sermes de Antnio Vieira. Julgamos que, no inventrio
Trento at 7 Sesso, tendo oferecido o manuscrito o qual, no sculo XVIII, atrs ainda se podero identificar alguns livros, se compararmos a doao com o
ainda se conservava em Laveiras, mas ele no aparece mencionado no inventrio. referido inventrio 7
Por outro lado, o incunbulo manuscrito de Fr. Joo de Santo Toms, Origines Os ttulos identificados permitem-nos ter uma noo generalista das reas e
Cartusianorum Lusitaniae, com capa de pergaminho, tambm l deveria estar, se das disciplinas constantes da livraria: Patrstica, Homiltica e Arte Concionatria,
que no foi levado para vora, mas no mencionado, embora haja sido salvo, e Asctica e Dogmtica, Filosofia Moral e Filosofia Natural, Escolstica, Liturgia,
se encontre na Livraria da Torre do Tombo. Acresce ainda que nem todos os livros Direito Cannico e Decretais, e, sem dvida, Sagrada Escritura em relativa
estavam na biblioteca. O inventrio de 1833 relativo Botica identificou e abundncia. Na rea das Humanidades so de referir a Poesia, a Historiografia, os
inventariou vrios livros cientficos, v. g. a Farmacopeia Geral do Reino, a Flora Dicionrios, os escritos humansticos, havendo lugar para poetas portugueses
Espaola, e diversos livros de Qumica do famoso francs Antoine Baum 6. A como Lus de Cames, S de Miranda e Gabriel Pereira de Castro, enquanto se
devassa igreja inventariou ainda quatro livros de cantocho, um epistolrio, nove consideravam tambm as edies da Academia Portuguesa da Histria e de
missais e seis livros de diferentes tamanhos, talvez oracionrios, ou brevirios. modernos filsofos como J.J.Rousseau e os apologetas catlicos, crticos das
A descrio do estado dos livros permite conjecturar que os monges, antes ideologias resultantes da Revoluo Francesa.
da sada, tivessem o cuidado de os atar em maos, tendo indicado os volumes em Pelos livros, companheiros do ermo, podemos avaliar o carcter dos leitores.
cada mao, apenas por quantidade, sem meno dos ttulos mas, como saram Infelizmente, enquanto de vora sabemos onde alguns livros pram, de Laveiras
pressa, devem ter sido os inventariadores que fizeram os maos. Este arranjo nada conseguimos saber, ficando a pesquisa em aberto. De facto, no sabemos
permitiu-lhes despender apenas trs dias, de outro modo muitos mais seriam para onde foram os objectos de culto da igreja, e o inventrio no refere o destino
necessrios, mas para efeitos de conhecimento patrimonial esse estado de coisas dos livros, que poderiam ter sido guardados, durante algum tempo, no forte de S.
revelou-se prejudicial e negativo. A expresso maos de doze frequentssima Julio, mas no dispomos de confirmao desta hiptese.
na listagem, com a agravante de o inventariador se permitir emisso de juzo, A verificao da existncia destes livros nos fundos da Biblioteca Nacional
s possvel quanto aos ttulos identificados, o que requerer disponibilidade e
1
As Cartuxas de Portugal, p. 69. tempo para chamar todos leitura, e ver se tm alguma indicao de provenincia.
2
Inventrio do Convento de S. Bruno de Laveiras, Ms. A.N.T.T.-Arquivo Histrico do Ministrio Quanto aos livros dos maos, no nos parece misso fcil, ainda que possamos
das Finanas. Caixa n 2222, fls. 1-15 v. Adaptmos a portugus o nome das localidades das
edies, sempre que possvel. O sinal (?) significa que no conseguimos decifrar a palavra.
6 7
A.N.T.T., Arquivo do Ministrio das Finanas, Caixa 2222, mao n 196, fls. 32-33. A relao desses livros consta do Origines Cartusianorum Lusitaniae, fls. 205-205 v.
ter alguma sorte por acaso. Esta sorte nos aconteceu quando requisitmos o livro Copimos esse Inventrio, em ortografia moderna, sem cuidado quanto
do Pseudo Bernardo, Flores Operum (edio de Lugduni, 1564, um volume 8. de transcrio paleogrfica por tal ser irrelevante para o nosso presente intuito:
771 + 26 pginas). Pertenceu Cartuxa de Laveiras, tendo vindo, talvez com
algum monge da Cartuxa Scala Dei, de Tarragona. Cota de referncia R564P. Miscelnea Jurdico Teolgica, manuscrito. Vol 27, em 4. grande.
Divi Dionisii Comentaria nico vol. em fol. pequeno. Colonia edit. 1536.
Divi Dionisii de Trinitate unico vol. ejusdem editionis.
Prima pars operum Sancti Tom Aquinatis Lugduni an. 1602 vol. 1 em
fol.
Gabrielis Pereira de Castro Lugduni an. 1673 vol. 1 em folio
Operum D. Basilii Magni Cesario Capadocio Paris an. 1550 vol. 1 em
fol.
Historia do Brasil por Francisco de Brito Pereira Lisboa an. 1675, 1 vol.
em fol. com capa de pergaminho.
Constituies do Colgio de S. Tiago pelo Bispo de Salamanca Salamanca,
an. 1586, 1 vol. em fol. com capa de pergaminho.
Um mao com 12 vol. de diferentes obras pouco ou nada interessantes em
fol.
Outro da mesma natureza em fl. com capa de pergaminho.
Memrias da Academia Real das Cincias vol.2 em 4. pequeno.
Um mao de doze vol. com capa de pergaminho em 4..
Outro de igual natureza com capa de pergaminho em 4.
Outro mao de 6 vol. alguns com capa de pergaminho.
Outro mao de 12 vol. que compreende vrias obras nada interessantes em
4..
Outro mao de 12 vol. de diferentes tamanhos, nada interessantes.
Outro de igual natureza que se compe de 11 vol. de diferentes tamanhos.
Coleco dos documentos, e memrias da Academia Real da Histria
Portuguesa, Ed. fol. menor. Lisboa, 1736 vol. 2 em fol.
Um mao de 6 vol. de diferentes tamanhos.
Um mao de 12 vol. em quarto pequeno com capa de pergaminho.
Outro de igual natureza com capa de pergaminho.
Outro de igual natureza em folio pequeno.
Theophilator Opera, Paris, 1532 vol. 1 em oitavo grande.
Outro mao de 12 vol. em fols. pequeno com capa de pergaminho.
Um mao de 12 vol. com capa de pergaminho em 4. grande.
Outro mao de 12 vol. em 4. pequeno.
Outro dito de 12 vol. em 4. pequeno.
Outro dito de 12 vol. em 4. pequeno.
Outro dito de 12 vol. em 4. pequeno, alguns com capa de pergaminho.
Outro dito de 12 vol. em oitavo pequeno.
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Outro dito de igual natureza de 12 vol.
Modus cantandi horas canonicas vol. 1 em meio fol. Thesaurus Sacrorum Ritum Gavanti Veneza vol. 2 em fol.
Officium Beat Mari Virginis Antuerpia 1622 1 vol. em 4.. Um mao de 12 vol. pequenos.
Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos. Ordenaes do Reino vol. 1 em fol.
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos, e muito velhos. Um mao de 12 vol. em fol. com capa de pergaminho.
Outro dito de 7 vol. em 8. pequeno. Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Biblia sacra em fol. magno Antuerpia 1583. 1 vol. Outro dito de 12 vol. de igual natureza.
Divi Cirili opera vol. 2 em fol. em Basileia. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Estio opera vol. 5 em fol. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Magnum Bullarium de Bento 14. vol 4 em fol. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Vocabulario Portuguez por Boluto (sic)3 vol 1 em meio fol. Vida de Dom Joo de Castro 4. Vice Rei da ndia vol. 1 em 4.
Suma totius Theologia Divi Thom vol. 4 Veneza 1588. Um mao de 12 vol. com capa de pergaminho.
Demonstratio Evangelica 1782 vol. 1 truncado. Outro dito de 12 vol. de igual natureza.
Sanctissimi Domini nostri Benedicti Pap. Veneza an. 1775 vol. 1. Osorio Lusitano vol. 1 Lisboa.
Melchioris Cani Episcopi Canariensis opera. (?) 1776 vol. 1 em 4.. Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Concine opera vol. 9 em 4. grande 1749. Outro dito de igual natureza de 12 vol.
O Padre Lami comentaria Veneza 1735 vol. 2. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Cuniliate Theologia moralis Veneza ano 1777 vol. 2 em 4. grande. Epistola Hieronimi Osorii Veneza 1563 vol. 1 com capa de pergaminho.
Um Mao de 11 vol. em 4. grande. Um mao de 12 vol. muito velhos.
Besombes vol 2 em 4. grande. Outro dito de 12 vol. alguns com capa de pergaminho.
Um Mao de 10 vol. em fol. Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Banespanen opera vol 5 em fol. Veneza 1781. Outro dito de 12 vol. mui pequenos com capa de pergaminho.
Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos. Outro dito de 13 vol. de diferentes tamanhos.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Biblia Sacra Veneza 1741 vol. 2 em 4. grande. Theatro crtico, ou Feij vol. 14 em oitavo grande com capa de
Presodia (sic) de Bento Pereira. pergaminho.
Calepini Veneza 1778. Um mao de 12 vol. velhos alguns com capa de pergaminho.
Um mao de 12 vol. em 4.. Testamento poltico del Cardenal Duque de Richelieu Madrid 1696
Outro dito de 5 vol. com capa de pergaminho. vol. 1 com capa de pergaminho em 4..
Collet institutiones Theologia Paris 1773 vol. 9 em 4. pequeno Nobiliarchia Portuguesa por Antnio de Villasboas, Lisboa 1676, vol. 1, em
truncado. 4. com capa de pergaminho.
Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos. Um mao de 12 vol. com capa de pergaminho.
Catecismo aos Procos em oitavo pequeno. Outro dito de 12 vol. muito velhos.
Bula dos Padres dos Desertos do Oriente em Francs Avinho 1764 Discursos vrios polticos por Manoel Severim de Faria vora 1624
vol. 8, em 8. truncados. vol. 1 com capa de pergaminho.
Trait historique et dogmatique Paris 1780 vol. 1 em 4. pequeno. Um mao de 12 vol. nada interessantes.
Um mao de 12 vol. em 4. grande. Eptome de las historias Portuguesas por Manoel de Faria e Souza Lisboa
Outro dito de 14 vol. velhos 1674 vol. 1 com capa de pergaminho.
Outro dito de 12 vol. velhos. Ecclesiastic histori Breviarium 1767 vol. 2. em oitavo pequeno.
L'vangile medit Paris vol. 8 A certeza das provas do Cristianismo por D. Jos da Costa Torres, Bispo do
Mao de livros de reza 6 vol. Funchal Lisboa 1788 vol. 2 em oitavo pequeno.
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos. Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Um mao de 12 vol. de igual natureza.
3
Leia-se: Bluteau, Rafael
In sacram historiam veteris et novi testamenti Coimbra 1806 vol. 2 Prosodia in vocabularium Trilingue Lisboa 1669 vol. 1 em meio fol. com
em 4.. capa de pergaminho.
Biblia Sacra vulgata edit Anturpia 1599 vol. 1 em 4. Um mao de 5 livros inclusive 1 em fol.
Religionis naturalis, et revelato principia Paris 1774 vol. 3 em 4. Um mao de 12 vol. em fol. com capa de pergaminho.
pequeno. Outro dito de 12 vol. em folio com capa de pergaminho.
Theatro Eclesiastico Lisboa 1786 vol. 2 em 4. truncado. Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Catecismus ex decreto SS Conclii Tridentini Veneza 1796 vol. 1 Outro dito de 12 vol. pequenos.
em 8.. Outro dito de 12 vol. pequenos alguns com capa de pergaminho.
Institutiones Theologi Scholastic Ludguni 1768 vol. 7 em oitavo. Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos. Outro dito de 12 vol. em fol.
Outro dito de 12 vol. em folio grande. Outro dito de 12 vol. em fol. com capa de pergaminho.
Regula Cleri ex sacris litteris Sanctorum Patrum Avigno 1789 vol. 1 em Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho e muito velhos.
8. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho em folio.
Rev. Pat. Thome ex Charmes Ludguni 1790 vol. 8 em 8.. Outro dito de 12 vol. pequenos.
Corpus Juris Civilis vol. 2 em fol. an. 1650. Biblia sacra vulgato edit. Veneza 1740 vol. 1, em 8..
Vida de S. Francisco de Sales Lisboa 1791. vol. 1 em 4.. Retiro espiritual Lisboa 1779 vol. 1 em 8. pequeno truncado
Um mao de 12 vol. em fol. menor. Universa Theologia Moralis opera Veneza 1777 vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. alguns em fol. Prosodia in vocabularium Bilingue vora 1741 vol. 1 em fol.
Obras de Pegas4 vol. 20 em fol. Anthologia Rivini vol. 2 em 4..
Presodia (sic) de Bento Pereira Lisboa 1674 vol. 1 em meio fol. Histria da Academia Real da Historia Portgueza Lisboa 1727 v 1 em 4..
Secundus tomus conciliorum omnium, Colonia Agripina 1551 vol. 1 em Prosodia in vocabularium trilingue Lisboa 1674 vol. 1 em fol. com
fol. capa de pergaminho.
Epistolarium decretalium Sumorum Pontificum Roma 1591 vol. 1 em fol. Constituiens Sinodaes Lisboa 1639 vol. 1 em meio fol.
pequeno. Alegatos Apologias Madrid 1703 vol. 1 em 4. grande com capa de
P. F. Joannis Vincenti Patuzzi Theologia moralis Bassani 1794 vol. 2 em pergaminho.
4.. M. Tulii Ciceronis epistola Lisboa 1804 1 vol. em 8.
Melchioris Cani opera Veneza 1759 vol. 1 em 4. Instruo Pastoral do Bispo de Beja Lisboa 1784 vol. 1 em 4.
Prosodia in vocabularium bilingue vora 1723 vol. 1 em 4. grande. Imperatorum Romanorum Libellus 1 vol. j muito velho.
Biblia sacra vulgato edit. Veneza 1730 vol. 1 em 4. grande. Pro Clericorum Catechismus ad ordenandos Veneza 1802, 1 vol. em 8..
Pontificum Romanorum effigies vol. 1 em 8. com capa de pergaminho. Um mao de 12 vol. com capa de pergaminho nada interessantes.
Doctoris Francisci Soarii Coimbra 1619 vol. 1 em 4. grande. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
R. P. Claudii La Croax (sic) Theologia moralis Veneza 1747 vol. 2 em Outro dito de 12 vol. de igual natureza.
fol. Outro dito de 12 vol.
Corographia Portugueza e descrio Topographica Lisboa 1706 vol. 3 Outro dito de 12 vol.
em 4. grande. Outro dito de 12 vol.
Sacros. Concilium Tridentinum Lugduni 1631 vol. 1 em 4. grande com Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
capa de pergaminho. Outro dito de 12 vol.
Epistolarium decretalium Summorum Pontificum Roma 1591 v 2 em fol. Presodia (sic) de Bento Pereira vol. 1 em fol.
Notcias de Portugal por Manoel Severim de Faria Lisboa 1655 vol. 1 Um mao de 13 vol. de diferentes tamanhos nada interessantes.
em 4. com capa de pergaminho. Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
Outro dito de 12 vol. alguns com capa de pergaminho.
4
Isto : Manuel Alvarez Pegas.
Outro de 12 vol. alguns em folio nada interessantes.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho em 4. pequeno. Concordancia da Biblia pelo Cardeal Ugo vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. de igual natureza. Ultimas aces do Condestavel Nuno Alvares Pereira vol. 1 em fol. grande.
Outro dito de 12 vol. Murili de Pnitencia vol. 1 em fol.
Catechismus ad ordinandus Trento 1756. vol. 1 em 4. pequeno. Liber Psalmorum Jacobi Benigni Veneza vol. 1 em 4. 1733.
Um mao de 20 volumes pequenos que de nada servem. Libri Salmonis proverbia Veneza 1732 vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. Um mao de 12 vol. em folio.
Histria da Academia Real de Histria Portugueza por Manoel Teles da Silva Outro dito de 12 vol. em 4. grande.
Lisboa 1727 vol. 1 em fol. Outro dito de 12 em fol.
Fulgentii Cuniliati Theologia moralis Veneza 1790 2 vol. em oitavo. Outro dito de 12 vol. em 4. grande.
Um mao de 12 vol. Outro dito em 12 vol. em oitavo grande.
Outro dito de 12 vol. Outro dito de 12 vol. em 8. grande.
Concina Compendio Bononia 1769, vol. 1 truncado. Outro dito de 12 vol. em fol. menor.
Officia omnia Sanctorum Lisboa vol. 1 em 4. Outro dito de 12 vol de diferentes tamanhos.
Eclesiastica historia breviarium Bessoni 1771. vol. 1 em 4.. Outro dito de 12 vol. em fol. menor.
Conclio Tridentino-Colonia Agripina an. 1647 vol. 1 em 8. pequeno. Outro dito de 12 vol. em fol. menor.
Biblia Sacra vulgata edit. Colonia Agripina 1679 vol. 1 em 4.. Outro dito de 12 vol. em 4. grande.
Um mao de 12 vol. alguns com capa de pergaminho. Memorias da Ordem Templarios vol. 2 em 4. grande.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. Ritos de Portugal vol. 4 em fol. pequeno.
Biblia sacra vulgata editionis vol. 1 em fol. Memorias del Rei D. Joo 1. vol. 4. em fol. pequeno.
Um mao de 12 vol. em 8. pequeno Catalogo das Rainhas de Portugal vol. 1 fol. pequeno.
Outro dito de 12 vol. Constituies do Bispado do Porto nico vol.
Outro dito de 12 vol. Noites de Hung vol. 2 8. pequeno.
Outro dito de 12 vol. Cuniliate Theologia moral Veneza 1777 vol. 2 em 4..
Outro dito de 12 vol. Um mao de 12 vol. em fol.
Outro dito de 12 vol. em fol. pequeno. Outro dito de 12 vol. em fol. grande.
Outro dito de 12 vol. pequenos e grandes. Outro dito de 12 vol. em f. menor.
Outro dito de 12 vol. pequenos. Outro dito de 12 vol. em 4..
Biblia sacra 1 vol. em fol menor. Outro dito em 12 vol. em 8. pequeno.
Presodia (sic) de Bento Pereira. A Religio provada pela Revoluo Francesa vol. 1 8. pequeno.
Cathecismus ad Parochos Veneza 1781 vol. 1 em 8. grande. A verdadeira razo demonstrada como Lei universal vol. 2 em 4.
Historia da reforma protestante vol. 1 em 8. grande. brochura.
Opera Divi Agustini vol. 2 em fol. grande Paris. Voz do Pastor vol. 2 em 8. pequeno truncado.
Obras de Bluteau Lisboa 1732 vol. 10 em fol. Um mao de 12 vol. em 4. grande.
Opera Graciani Genuini vol. 4 em 4. grande. Cartas de Santa Joana Francisca Fremiot5 vol. 1 em 4. em brochura.
Conclio Tridentino Galemard vol. 1 em 4. grande. Um mao de 12 vol. de diferentes tamanhos.
Corpus Juris Canonici vol. 2 em 4. Metafsica de Jenuense (sic) vol. 4, 8. pequeno.
Historia Eclesiastica Graveso vol. 4 em 4. Histria das Variaes das Igrejas protestantes por Bossuet. vol. 4. 8.
Pufendorf de Jure natur, et gentium 1759. vol. 2. pequeno.
Hugonis Grotii de Jure belli, ad pacis, Lausanne 1758 vol. 5 em 4.. Notcia dos Pontifices por Bazio. vol. 1 em 8..
Bento 14. Papa vol. 2 em fol. truncado. Um mao de 12 vol. pequeno.
De vita et Rebus gestis de Nuno Alvares Pereira. vol. 1 em fol. Fonceca (sic) Lexicon Lisboa 1798 vol. 1 em 4..
Memorias da Academia Real da historia Portugueza vol. 14 em fol.
Um mao de 12 vol. em fol. 5
Isto : Santa Joana de Chantal
D. Hieronymi Osorii Opera Lisboa 1572. vol 1 em 4.. M. Tullii Ciceronis epistolarium vol. 1 em 8..
Universa Theologia Moralis complexio Veneza 1796 vol. 2 em 4.. Annales Ecclesiastici Cesare Baronio vol. 3 truncados em fol.
M. A. Quintiliani declamationis Paris 1563 vol. 1 em 4.. Joannis Vincentii Patuzzi vol. 2 em 4. pequeno.
Theologia moral Veneza 1778 vol. 3 em 4. grande. Um mao de 12 vol. em 4..
Conclio Tridentino Anturpia 1694. vol. 1 em 8. pequeno com capa de Outro dito de 12 vol. em 8. pequeno.
pergaminho. Outro dito de 12 vol. em 8. pequeno.
Cathecismus ad ordinandos Paris 1729. vol. 1 em 8.. Outro dito de 12 vol. em 4..
Publii Virgilii Maronis opera Veneza. 1724. vol. 1 em 8.. Outro dito de 12 vol. em 4..
Um mao de 12 vol. em fol. Outro dito de 12 vol. em 4. pequeno.
Outro dito de 12 vol. em meio fol. Outro dito de 12 vol. em 4..
Outro dito de 12 vol. em quarto grande. Breviarium Romanum. vol. 4 em 4..
Outro dito de 12 vol. em fol. Biblia sacra Colonia Agripina 1609. vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos. Da perfeio da vida Monastica Lisboa 1791 vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. alguns com capa de pergaminho. Divi Gregorii Papa Anturpia 1572 vol 1 em fol. grande.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. Historia Genealogica da Casa Real Portugueza vol. 21 em fol. menor.
Outro dito de 12 vol. em 4. grande com capa de pergaminho. Biblia Sacra Bassani 1774. vol. 2 em fol. menor.
Outro dito de 12 vol. em 4. grande com capa de pergaminho. Theologia moral Veneza 1777 vol. 2 em 4. grande.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. Concordantia Bibliorum Anturpia 1567 vol. 1 em fol. menor.
Outro dito de 12 vol. em 4. grande. Um mao de 11 vol. mui pequenos.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. Outro de 2 vol. em meio fol.
Outro dito de 12 vol. alguns com capa de pergaminho. De locis Theologicis dissertationes Veneza 1777 vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. In Quintum Horatium Flaccum commentariis vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. em 8. pequeno. L. And. Resendii Eborensis opera Coimbra 1790 vol. 2 em 8. em
Outro dito de 12 vol. pequenos. brochura.
Outro dito de 12 vol. pequenos. Physices elementa Coimbra 1789. vol. 3 em 4. e em brochura.
Outro dito de 12 vol. Prceptiones Rethorica Paris 1774. vol. 1 em 8..
Outro dito de 12 vol. Joannis Barchaci poematum Londres 1615 vol. 1 em 4. com capa de
Outro dito de 15 vol. muito velhos todos com capa de pergaminho. pergaminho.
Breviarium Ordinis Cartusiensis vol. 2 em 4. pequeno. Castrioto Lusitano Lisboa 1697 vol. 1 em fol. menor.
Um mao de 10 vol. de diferentes tamanhos. Gradus ad Parnassum Amesterdo 1716 vol. 1 em 4..
L'Office Divin a l'usage de Rome Paris 1776 vol. 1 em 8. pequeno. Principes du droit naturel Gnova 1748 vol 1 em 4..
Compendio das pocas da histria geral Lisboa 1782 vol. 1 em 8.. Ethices instituciones Veneza 1776 vol. 1 em 4..
Cathecismus ad ordinandos Veneza 1778 vol. 1 em 8. pequeno. Institutionum Rethoricarum Lisboa, 1881 vol. 1 em 4..
Instructio practica de Confessionibus Pavia 1727 vol. 1 em 8.. Institutiones Philosophi Moralis. Coimbra 1791 vol. 1 em 4..
De probatis Sanctorum historiis Colonia Agripina 1581 vol. 6 em f. Murs des Israelites, et des Chretiens Pavia 1784 vol. 1 em 4..
Diccionario historico de Moreli vol. 10 em fol. grande. Jo. Gothlieb fundamenta Npoles 1782 vol. 1 em 4..
Um mao de 12 vol. em fol. grande que de nada serve. Histoire Romaine de M. Rolin 16 vol. em 4..
Outro dito de 12 vol. em fol. alguns com capa de pergaminho. Les elemens de la langue Angloise Londres 1790 vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. mui pequenos. Instruo de ceremonias Lisboa 1790. vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. alguns em fol. Flavii Josephi antiquitatum Judaicarum Basileia 1548 vol. 1 em fol.
Outro dito de 12 vol. 4. grande. Principes du droit politique Amesterdo 1751 vol. 1 em 4..
Surio (sic) de Sanctis. vol. 1 em fol. com a capa dourada. Zegeri Bernardi Van-Espen Veneza 1781 vol. 1 em fol. grande.
Lobato gramatica Portugueza Lisboa 1816 1 vol. em 8.. Benedicti 14. Pontificis Veneza 1760 vol. 1 em fol.
Biblia Sacra Aries Montano vol. 8 em fol. grande. Theatro Ecclesiastico Lisboa 1743 vol. 1 em 4..
Vida do Apostlico Padre Antnio Vieira vol. 1 em 4. grande. Biblia Sacra vol. 1 truncado.
Vocabulrio latino, e Italiano vol. unico em 4. grande. Dita com capa de pergaminho.
Tablettes Chronologiques de histoire universelle vol. 2 em 1745 em 4. Cathecismo Doutrinal vol. 1 em 4. pequeno.
Instrues da Rethorica e eloquencia Lisboa 1795 vol. 1 em 4.. Constituies Sinodaes do Arcebispado de Lisboa Lisboa 1737 vol. 1
A unica Religio verdadeira Lisboa 1781 vol. 1 em 4.. em f. menor.
A voz da natureza sobre a origem dos Governos Lisboa 1814 vol. 1 em O novo Testamento vol. 6 em 8..
4. e em brochura. Cathecismo Philosophico Lisboa 1816 vol. 1 truncado e em brochura.
Conferencias e discursos Sinodaes por Massillon Lisboa 1775 em 4.. Diccionario Francez, e Portuguez vol. 1 em 4..
Histria da vida de S. Francisco Xavier. vol. 1 em 4., truncado. Quinti Horatii Flacci poemata Pdua 1764 vol. 1 em 8..
Sacerdote instrudo. Coimbra, 1781 vol. 1 em 4.. Suma exacta de toda a Theologia moral Lisboa 1805 vol. 3 em 8..
Vida de D. Fr. Bartolomeu dos Mrtires Lisboa 1763 vol. 2 em 4.. Relao da Trapa vol. 1 em truncado.
Preparatrio universal, ou arte de Lgica Lisboa 1800 vol. 1 em 4.. Examen et resolutions des difficults Paris 1761 vol. 1 em 8.
Hymni Sacri et novi editio Amesterdo 1760 vol. 1 em 4.. Psalmorum, et Canticorum versis vulgata vol. 1 em 8..
Interpretao literal (?) Lisboa 1785 vol. 1 em 4. grande com capa de Diccionario Frances, Latino, e Italiano vol. 2 em 4. grande.
papel pintado. Um mao de 12 vol. velhos.
Epistole et Apocalipsis Paris 1649 vol. 1 em 8.. Outro dito de 12 vol. de igual qualidade.
Declaration Magistral Valncia 1684 vol. 1 em 4. com capa de Recueil d'uvres choisies de Rousseau vol. 1 em 8..
pergaminho. Charmes Theologi vol. 1 truncado em 8..
Novum Testamentum Paris 1649 vol. 1 em 4. pequeno. Compendium Theologi 1768 vol. 1 em 4. pequeno truncado.
As obras do Dr. Francisco de S de Miranda vol. 1 em 4. capa de Um mao de 12 vol. velhos
pergaminho. Outro dito de 12 vol. em 4..
Discours sur l'histoire Ecclesiastique Paris 1750 vol. 2 em 4.. Outro de 12 vol. em 8..
Vocabulrio Latino e Italiano Augusto Taunnorum 1764 vol. 2 em 4.. Outro de 12 vol. em 8..
Ulysseia, ou Lisboa edificada, Poema de Gabriel Pereira de Castro vol. 1 Outro de 12 vol. em 8..
em 8. com capa de pergaminho. Hymnos Sagrados vol. 2 em 8..
Ordinando instruido nos deveres do seu MinistrioLisboa 1777 v. 1 em Um mao de 12 vol. em 8..
8.. Outro dito de 12 vol. em 8..
Du (?) d'un simple Religieux Paris 1752 vol. 1 em 4.. Outro dito de 12 vol. em 8..
Vocabulrio Italiano-Latino, Milo, 1759, vol. 1 em 4.. Outro dito de 12 vol. em 4. grande.
Dicionrio universal das moedas, pesos e medidas Lisboa 1793 vol. 1 Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho em fol. menor.
em 8.. Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho.
M. Val. Martialis epigrammata Amesterdo 1644 vol. 1 em 8. com Outro dito de 12 vol. velhos.
capa de pergaminho. Outro de 12 vol. em 8..
Favole scette Ausbourg 1718 vol. 1 em 4. e em brochura. Outro de 12 vol. entre eles um com capa de pergaminho.
Cultura das oliveiras Coimbra 1786 vol. 1 em 4. e em brochura. Veni mecum Pdua 1704 vol. 1 mui pequeno.
Catecismo do Concilio Tridentino Pavia 1753 vol. 1 em 8.. Cathecismus Concilii Tridentini Avinho 1772 vol. 1 em 8..
Escriptura sacra Besombes Veneza 1771 vol. 2 em 4. grande. Le nouveau Testament Bruxelas 1769 vol. 1 em 4..
Dita do mesmo Autor em 2 vol. Madureira Ortographia Portugueza vol. 1 em 4..
Cornelius S. Lexicon Pdua 1769 vol. 1 em fol. Instruo de Ordinandos.
Fulgenti Cuniliati Theologia Veneza 1781 vol. 1 em 8.. Grammatica Francesa Tom. 1, e 2 em 4..
Biblia Sacra Deramel vol. 1 em fol. Um mao de 12 vol. pequenos e velhos.
Colectio Conciliorum Hispania vol. 1 em fol. Outro dito de 12 vol. alguns com capa de pergaminho.
Outro dito de 12 vol. pequenos, e grandes. Histoire de l'ancien et du nouveau Testament Paris 1742 vol. 5 em 4..
Breviarium Romanum Antuerpia 1752 vol. 1 em 8. grande. Mandement et instruction pastorale Paris 1760 vol. 7 em 4..
O Catholico Penitente Lisboa 1824 vol. 1 em 8.. Mao de Obras vrias truncadas 12 vol.
Conduite pour passer saintement Avinho 1803 vol. 1 em 8.. Outro dito de obras vrias truncadas de 12 vol.
Os Lusadas do grande Luiz de Cames vol. 1 em 4.. Conferncias e discursos Sinodaes por Massilon Lisboa 1772 vol. 1 em
Analyse da Profisso da F do S. Padre Pio 4. por Antnio Pereira de 8..
Figueiredo Lisboa 1791 vol. 1 em 4. e sem capa. Lettres spirituelles de Bossuet Paris 1746 vol. 1 em 4..
Offcio da Semana Santa Anturpia 1733 vol. 1 mui pequeno. Journal pendant la captivit de Louis 16. vol. 2 em 8. e brochura.
Manual de exerccios quotidianos Lisboa 1830 vol. 1 em 8. pequeno. Parthenius Paan per argumenta in octo elegionis Canticis vol. 1 em 4.
O novo Testamento em lngua grega vol. 1 em 8.. grande.
Biblia Sacra vol. 1 em 4. grande. L'histoire du vieux et du nouveau Testament Paris 1776 vol. 1 em 4..
Um mao de 12 vol. em 4.. Um mao de 12 vol. com capa de pergaminho de diferentes tamanhos.
Outro dito de 12 vol. em 4. grande. Manuale Sacrarum Cannonicarum Veneza 1779. vol. 1 em 4..
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos. Poemas, e Epigramas de Manoel Teles 1723 vol. 1 em 8..
Conclio Tridentino 1638 vol. 1 em 8. pequeno. Besombes (?) Moral Christ Veneza vol. 2 em 4. grande.
Opera virgiliana 1 vol. em fol. j muito usado. Calepini Diccionrio vol. 2 em fol.
Obrigaes Christans, e Civis de St. Ambrsio, Bispo de Milo Lisboa Dicionrio de Calmet vol. 2 em fol. menor.
1768 vol. 1 em 4. pequeno. Um mao de 9 vol. dois dos quais so em fol.
A Religio provada pela Revoluo, pelo Abade de Clauzel de Montals Constituio Poltica da Monarchia Portugueza 1822 vol. 1 com capa de
Lisboa 1819 vol. 1 em 8. grande, e em brochura. papel pintado.
Um mao de 12 vol. em fol. menor. Um mao de 7 vol. em fol. menor.
Outro dito de 12 vol. em 4. grande. Calepini Colonia 1620 vol. 1 em fol. grande.
Outro dito de 12 vol. em 4.. Dictionnaire Royal Franois-Anglois Lion 1756 vol. 1 em 4. grande.
Outro dito de 12 vol. The Royal Dictionary Amesterdo 1752 vol. 1 em 4. grande.
Outro dito de 12 vol. pequenos e grandes. Arte de Cantocho por Frei Domingos do Rosrio Lisboa 1743 vol. 1
Outro dito de 12 vol. em fol. em 4..
Outro dito de 12 vol. Presodia (sic) de Bento Pereira vora 1723 vol. 1 em fol.
Outro dito de 12 vol. com capa de pergaminho. Um mao de 12 vol. alguns em fol.
Outro dito de 12 vol. em fol. alguns. Moral Evanglica vol. 6 em 8. pequeno.
L'ame leve a Dieu Lion 1801 vol. 2 em 4. pequeno. Diccionario Francez, e Portuguez de Marques vol. 1 em fol. menor.
Instrues geraes em forma de Catecismo Lisboa 1765 vol. 1 em 4. Um mao de 12 vol. em 4..
pequeno. Arte franceza Lisboa 1797 vol 1 em 8. pequeno.
Retraite spirituelle l'usage des Communauts Paris 1756 vol. 1 em 4. Parecer sobre a F, Esperana e Caridade vol. 1 em 8..
pequeno. Um mao de 12 vol. entre eles dois em fol.
Triunpho da inocncia: poema pico Lisboa 1827 vol. 1 em 4. Outro dito de 12 vol. em fol, e em 4..
pequeno. Outro dito de 12 vol. em 8..
As ideias liberais por Joaquim Jos Pedro Lopes Lisboa 1817 1 vol. em Outro dito de 8 vol. em 4-.
8. e brochura.
Caracteres da verdadeira Religio por Joaquim Jos Pedro Lopes Lisboa
1817 1 vol. em 8. e brochura.
Benedicto 14. Papa Npoles 1772 vol. 2 em 4. grande.
Um mao de 12 vol. em 4..
Outro dito de 12 vol. de diferentes tamanhos.
OBITURIO DE MONGES DE VALE DA MISERICRDIA Data Padres Conversos Donatos
1629
do livro 1630
El aislamiento de la Provincia Lusitana 1631
por Juan Mayo Escudero
1632
Data Padres Conversos Donatos 1633
1599 1634
1600 1635
1601 1636
1602 1637
1603 1638
1604 1639
1605 1640
1606 1641
1607 1642
1608 1643
1609 1644
1610 1645
1611 1646 Toms Lus
1612 1647
1613 1648 Loureno de Silveira
1614 1649
1615 1650
1616 1651
1617 1652 Tiago dAssuno
1618 1653
1619 1654
1620 1655
1621 1656
1622 1657 Jos lvares
1623 1658 Jos Marques
1624 1659
1625 1660
1626 1661
1627 1662
1628 1663
Data Padres Conversos Donatos Data Padres Conversos Donatos
1664 Lus Antnio Serro 1699
1665 1700
1666 1701
1667 Joo Coelho 1702
1668 1703 Agostinho Barbosa Joo Lus
1669 Francisco Sequeira 1704
1670 1705
1671 1706
1672 1707
1673 1708
1674 1709
1675 1710
1676 1711 Antnio Rebello
1677 1712
1678 1713
1679 1714 M;anuel da Assuno Antnio
1680 1715
1681 1716
1682 1717
1683 1718 Feliciano da Cruz
1684 1719
1685 1720
1686 1721
1687 1722
1688 Bruno do Esprito Santo 1723 Bento Freire
1689 1724
1690 1725
1691 1726 Francisco Pereira Toms de Sant'Ana
1692 1727
1693 1728
1694 Lus Jesus 1729
1695 Simo Velho Barreto 1730
1696 1731
1697 Pedro Ferreira 1732
Manuel da 1733
1698 Vicente da Purificao Visitao
Data Padres Conversos Donatos Data Padres Conversos Donatos
1734 Bruno de S Jos Lus de Brito
Bernardo de S M Antnio do E
1735 1767 Ml da Glria Sto
1736 Loureno de San Bruno 1768
1736 Manuel da Conceio 1769
1737 1770 Joaquim da Ascenso
1738 Pedro Bruno 1771
1739 Nuno da Conceio Manuel de S M 1772
1740 lvaro de Nazar 1773
1741 1774
1742 Antnio da Conceio 1775
1743 1776
1744 Joo de S Toms Baltasar da Conceio Maurcio da Encarnao
1777 ngelo de Sant'Ana Gregrio de Sant'Ana
1745
1778
1746 Incio de Sta
1747 1779 Cipriano de Jesus Maria Gertrudes
1748 1780

1749 1781 Joo Baptista


Antnio das
1750 Andr Corsino
1782 Dores
1751
1783
1752
1784 Apolinrio de S Jos
1753
1785
1754 Vicente Ferreira
1786
1755
1787 Francisco de Sto Hugo
1756
1788 Manuel do santo Sepulcro
1757
1789 Atansio de So Jos
1758
1790 Silvestre Teixeira
1759 Fernando da Natividade
1791 Bruno de Sto Antnio
1760
1792
1761
1793
1762 Jos da Asuno Diogo da Conceio
1794
1763 Francisco da Conceio
1795 Pedro das Sete Dores
1764
1796 Jos da Cruz
1765
1797 Joo Antnio Maria Antnio Jesus Maria
1766 Miguel da Purificao
1798
1800
Data Padres Conversos Donatos Data Padres Conversos Donatos
1801 1836
1802 1837
1803 1838
1804 1839
1805 1840
1806 1841 Joaquim de J M J
1807 1842
Marcos da Cruz 1843
1808 Toms Jos Antnio de J M J
1844 Joo de S Jos
1809
1845
1810
1846 Jos de S M
1811
1847
1812
1848
1813
1849
1814
1850 Ricardo de Sto Agostinho
1815
1865 Francisco da Assuno Ferreira de Matos
1816
1817
1818
1819
1820
1821
1822
1823
1824 Matias de S Bruno
1825 Bruno de S J Evangelista
1826 Hugo de S Jos Vicente da Conceio
1827
1828
1829
1830
1831
1832 J Bta de S Fr de Paula
1833
1834
1835
retrato de D Francisco Mathos
quando era prior em Firenze
crnica ORIGINES

ttulo original em latim:

ORIGINES CARTUSIARUM LUSITANIAE


EBORENSIS SCILICET
ET ULYSSIPONENSIS
scribebat Frater Ioannes a Divo Thoma
Monachus professus et Vicarius
Cartusiae Ulyssiponensis.
anno Domini MDCCXXXVII

ttulo traduzido:

ORIGENS DAS CARTUXAS DE PORTUGAL


isto , de VORA e de LISBOA,
por Frei Joo de Santo Toms
monge professo e vigrio
da Cartuxa de Lisboa
no ano do Senhor de 1737

Esta crnica das duas cartuxas Portuguesas conserva-se num manuscrito, na


Torre do Tombo de Lisboa, com a cota Ms da Livraria n 608. Dentro dela h uma
parte mais especialmente dedicada Cartuxa do Vale da Misericrdia, sob o ttulo
ORIGO CARTUSIAE ULYSSIPONENSIS, que est includa integramente neste
nosso livro.
Terminaremos o livro oferecendo bibliografia na qual poder algum ampliar
os seus conhecimentos sobre a Cartuxa lisboeta. Aconselhamos especialmente a
obra A Ordem da Cartuxa em Portugal. Com esse mesmo intuito ou esprito Montemor; anulada a condena deste senhor, o rei mandou a Mascarenhas procurar
oferecemos aqui um resumo ou ndice do contedo dessa crnica manuscrita. E "alguma renda eclesistica" para V da M, conseguindo assim 200.000 reis anuais a
assim como da obra A Ordem... inclumos a sua terceira parte, tambm est cobrar dos mosteiros de So Cludio, Sta Maria de Miranda e S Joo de Cabanas,
includa a crnica Origo, que trata especialmente de Vale da Misericrdia. Do do que recorreram os Beneditinos. F 129 a 131, pleito sobre a Capela-mor da
resto da Origines oferecemos a seguir a indicao das passagens mais relacionadas igreja do V da M, falhado em favor dos Cartuxos.
com esta Cartuxa lisboeta. F. 131. O captulo Geral envia a V da M um catalo como procurador. O
prior, D Baslio nega-se a dar-lhe o cargo e o prior da Gde Chartreuse devolve-o
O frontispcio, bem ornamentado, est copiado aqui acima e reproduzido na Catalunha.
p. 80 deste livro. Depois, como pode ver-se nessa mesma pgina 80, est repetido, F. 132 a 164v. "Grande causa", diz o autor. Um Agostinho, Frei Joo de Sto
com o acrscimo "nec non syllabos duos omnium Priorum et Rectorum dictarum Antnio, (Antnio de Alburquerque, natural da Covilh) entrou em V da M com
domuum", ("mais duas listas de todos os Priores e Reitores das ditas Casas"). licena do Nncio e dos Comissrios da Ordem Cartusiana. Arrependido, alegou
No flio 3 o autor dedica o seu trabalho "aos venerveis monges das Cartuxas ser nula a profisso por falta de autorizao do Prior da Gde Chartreuse. Isso
de Portugal..." originou pleitos sobre a sua herana. Ganho em primeira instncia pela Cartuxa,
No f. 4 escreve a protestao preceptiva, por ordem de Urbano VIII, de que ele recorreu e a Ordem renunciou porque o ex-Agostinho no demonstrava amor
quando chama santo a algum o faz respeitando o juzo da Santa Igreja. (De facto Cartuxa. Durante os pleitos Fr. Joo viveu com os Carmelitas e os Capuchos. O
fala de vrios Cartuxos que viveram e morreram santamente no Vale da autor desta crnica espraia-se sobre os inconvenientes de receber religiosos de
Misericrdia) outras Ordens, apesar de reconhecer casos exitosos. Nesta crnica copiam-se
No flio 5 comea a parte destinada a Scala Coeli. ntegros os pareceres jurdicos, neste caso favorveis aos Cartuxos.
F. 165. Carta do Colector (quer dizer, o Nncio do Papa) obrigando o Prior de
O flio 34 oferece a cartula reproduzida na nossa p. 80 e comea a tratar do V da M a servir carne ao Conde de Basto. O autor no diz o que fez o Prior mas
Vale da Misericrdia. Seguem documentos fundacionais etc. lembra o exemplo do Emperador Carlos V renunciando no Paular e o de D Joo V
Flio 52 e seguintes, Catlogo dos Priores. de Portugal em V da M.
F. 56. D. Baslio de Faria achou esta Casa mal administrada: mais de vinte F. 165v. Licena do Prior aos monges para substiturem trs ofcios de
litgios havia nos tribunais contra ela. F. 56v. D. Baslio, sendo Prior aqui, eleito Defuntos por uma Missa. (Nota nossa: esta licena interessante pois indica o
Prior da sua Casa de profisso, Scala Coeli. Laveiras resistiu essa eleio mas foi nvel daqueles Cartuxos j que a mesma licena s entrou na Ordem depois do
confirmada. F. 58v: lista dos escritos de D. Baslio. Conclio Vaticano II. Lembremos outros avanos imaginados por D. Francisco de
F. 60v. O P. Geral chama a esta duas Casas "Provncia". Mathos)
F. 64. Lista dos monges da Comunidade em 1626. Nove apelidos F. 167 a 180. Trata da obrigao dos Ofcios de Nossa Senhora e de Defuntos.
portugueses. Tema s tratado e legislado em toda a Ordem depois deste ltimo Conclio.
F. 67. Dom Toms Ludovico fora Prior de Scala Coeli mas recebeu F. 180. D. Joo IV pede aos Cartuxos em 1650 que paguem eles tambm o
misericrdia. Eleito de novo ali, durou trs anos. Ento eleito por Vale da tributo para a guerra com a Espanha.
Misericrdia. F. 180v. Os Filipes prometeram a V da M 200.000 reis anuais pagveis das
F. 67v. A um Cardeal em visita mostram um "maravilhoso mosaico" de Frei rendas da Capela Real durante vinte anos. Havia j anos que se no cobravam, e D.
Tiago da Ascenso, para o Cardeal admirar. Este diz "obrigado" e leva-o consigo... Joo IV ordenou pagar de novo a partir de 1653. Mandava empregar isso nas obras
F. 68v. Um Prior belga do Vale deposto aos dois anos por no conseguir atrasadas do mosteiro.
aprender a lngua portuguesa F. 180v. Histria de frei Francisco de Mendona, que no passou de
F. 72. O autor desta crnica d alguns dados autobiogrficos. subdicono. Antes de ser Cartuxo fora expulso dos Loios e depois pelos Capuchos.
F. 73. O Prior durante a redaco da crnica, D. Lus de Brito, estudara em Admitido contudo em V da M teve ser metido na priso do mosteiro onde viveu 20
Coimbra e foi elogiado pelo Prior da Gde Cartuxa. anos, para ser expulso depois. A crnica diz que depois da sada a sua histria foi
F. 96v at 131v. Acordo entre a nova Cartuxa em Lisboa e a Santa Casa da trgica.
Misericrdia sobre a quinta de Laveiras. No f. 104 o autor acha nesse contrato F. 181. Carta de D. Pedro II em 1692 pedindo que se no impea a entrada
"condies e clusulas insuportveis". F 116 a 129: Filipe I prometeu a V da M polcia que procurar criminais talvez escondidos em V da M.
400.000 reis de renda por ano, sobre os bens confiscados a Antnio Mello, de
F. 181v. Frei Manuel da Conceio (Manuel de Sousa, de Leiria) professou F. 203v. Licena do Prior da Gde Chartreuse para procurarem um Protector.
em V da M em 1721 e vivia ainda em 1733, ao escrever-se a Origines. Antes de O Arcebispo de Lisboa, Cardeal Cunha, recusou. (Nota nossa: o Superior Geral
entrar pediu conselho, entre outros a um Doutor famoso de Coimbra. As pginas exigia o voto da Comunidade, pormenor frequente nas cartuxas portuguesas, raro
mais belas desta crnica so estes flios, onde se transcrevem em vrios flios ento na Ordem)
essas respostas analisando a vocao cartusiana. F. 203v. Um fidalgo ilustre, Manuel Teles de Meneses, quis ser Converso
F. 184. Uma senhoras entram fraudulentamente na clausura. O Prior permitiu- mas a administrao dos seus trs morgados obrigou-o a sair aos cinco meses.
lhes terminar de ver o claustro antes de sarem. Foi recriminado pelo seu vigrio (o Todavia pagou uma cela e deixou moblias e presentes.
autor da Origines) e foi penitenciado com suspenso do ofcio prioral durante trs F. 204v. Vicente Ferreira de Moura, de Lisboa, doutor em cnones, entrou em
meses, mas no foi deposto porque a Comunidade o queria e ningum o denunciou 1723 e professou com o nome de Frei Bernardo de Santa Maria. Deu Casa
aos outros Superiores. A nota final do autor muito interessante. muitos livros e obras de arte e litrgicas. Mas o autor diz que a Comunidade
F. 186-188. Envio de Fr. Gregrio a esmolar em Minas Gerais. estimou mais a pessoa do que as ofertas.
F. 188v. Um arcebispo passa a Semana Santa em V da M e lava os ps aos F. 206. Um portugus que tinha entrado e professado na Cartuxa francesa de
monges na Quinta-Feira Santa. Valbonne fugiu em 1702 e apareceu na cidade de Lisboa. O procurador do V da M
F. 188v. O autor da crnica convocado a Scala Coeli como Confirmador mandou apres-lo e traz-lo Cartuxa, onde viveu at 1727 "com mais loucura do
para a eleio de prior. Narra problemas jurdicos a esse respeito. que malcia". A ltima doena foi dolorosssima e sofreu-a com pacincia. Em
F. 190. D. Pedro II assistia todos os anos s Vsperas na festa de So Bruno. momentos de lucidez confessou e comungou. V da M quis que fosse para Scala
Em 1733 veio com a Famlia toda (mais o Cardeal Motta). Entrou tambm seu Coeli onde havia duas celas-priso "fortes e seguras" mas vora respondeu que o
filho bastardo D. Jos, que se manteve parte e no falou com os outros. seu documento fundacional reservava essas celas apenas para monges professos da
F. 190v. Parecer de um Procurador da Coroa em contra dos mosteiros por Casa. Valbonne pagou a V da M 50 escudos anuais pelas despesas. (Nota nossa:
acumularem, segundo ele, os bens do Portugal todo. "Todos fogem para os para compreendermos as prises nos conventos lembremos que a reformadora Sta
mosteiros, para fugir da guerra", "se relaxam os mosteiros com 200, 150, 130 Teresa de Jesus a incluiu nos seus "pombalinhos" e s foram suprimidas no
frades". Por isso nega aos Cartuxos a ajuda pedida "para fazerem 40 celas". O Cdigo cannico no sculo XX. Em Scala Coeli um novio chegou internado ao
Procurador responde que j tm 8 ou 10 celas, e bastar com que cheguem a 12 ou dia da profisso... e foi admitido a esta: a falta no seria grave!)
14. "Isso serve tambm a evitar a relaxao e para haver no Reino to santa F. 207v. Carta de Sebastio da Costa de Andrade a D. Baslio de Faria quando
religio". este entrou na Cartuxa. A carta plgio da Carta de Ouro de Thierry.
F. 191. Resumo da proteco e ajuda econmica dispensada pelos Filipes a V F. 208-9. Cartas de D. Lus Telm, pedindo permisso para receber um
da M. Carmelita descalo e pedindo ao Superior Geral que envie nova fundao
F. 192. Dvidas sobre a entrada em vigor das cartas do Captulo Geral. Por lisboeta apenas "bons monges" porque os portugueses so amigos das coisas
ex., a de 1640 nunca chegou a Portugal e trazia a "misericrdia" do prior de Scala divinas e h muitos fiis que so msticos.
Coeli. F. 210v. O Prior da Gde Cartuxa convidou o Prior de V da M, D. Lus Brito,
F. 194v. O Nncio, de visita, lamenta o atraso das obras e promete que se for ao Captulo Geral de 1718 porque "h muito que no vemos por aqui nenhum dos
Papa terminar de construir. Num conclave teve votos mas no maioria. priores de Portugal". (Ento s os Visitadores eram obrigados a participar em
F. 195. Um novio, sacerdote diocesano, no foi admitido aos votos, mas todos os Captulos)
ento negou-se a abandonar o mosteiro "fazendo nisso violncias e palavras F. 210v at 213, fim da crnica Origines. Elogio fnebre de Frei Bruno de
descompostas". O Nncio teve de o obrigar sob pena de excomunho. So Jos. Chamara-se Domingos Vaz Dantas, telogo, escritor, tomara o hbito em
F. 197-201. "Narrao breve do que se tem passado acerca de virem a este 1706 e morreu santamente nas mos do autor em 1733.
Reino padres estrangeiros a visitar estas Cartuxas de Portugal". D. Joo V no os ltimo flio, sem numerar, acrescentado em 1737, descreve a visita e almoo
autorizava. da Famlia Real na festa de So Bruno desse ano.
F. 202. Um Cartuxo fugido da Cartuxa de Jerez recolheu-se a V da M. Foi
reconciliado com a Ordem. Pediu para ficar em V da M mas no havia celas
suficientes. Portou-se muito bem e foi enviado a Cazalla pois ele s renua ir a
Jerez.
Passados poucos meses, em vista da boa conduta do Padre Toms, a
Vale da Misericrdia acolhe Comunidade de Vale da Misericrdia decidiu levantar-lhe o encerro, o que era
Cartuxos espanhis fugidos canonicamente vivel por no ter cometido crime algum no tempo de ausncia.
Assim, saiu da recluso no 2 de maio. Continuou a cumprir todos os seus deveres.
No 6 de julho chegou o Padre Visitador de Castela. Dom Toms pediu
Juan Mayo Escudero para ficar onde estava mas por no haver celas suficientes o Visitador ordenou que
Extremeos y Portugueses vinculados se dirigisse Cartuxa de Cazalla. No seguinte dia 11, acompanhado dum antigo
con la Orden de la Cartuja criado de Vale da Misericrdia, cruzava o Tejo e em Aldeagalega (hoje Montijo)
p. 144-149 alugavam uma calesa que os levaria a Cazalla, aonde chegaram no dia 20. Antes
de ele e o Visitador partirem, o prior Lus de Brito perguntou Comunidade se
Em 1808 os franceses invadiram Espanha e em 1810 chegaram a queriam pedir Ordem a reposio das despesas feitas por D. Toms nos seis
Sevilha. Os Cartuxos de Las Cuevas tiveram de fugir, salvando consigo a prata que meses de estadia nesta Casa. Os monges responderam que nem se falasse nisso,
tinham e sobretudo os seus famosos cavalos, tradicionalmente usados pelos reis visto Dom Toms se ter comportado exemplarmente entre eles. Tudo isto leva a
em toda a Europa. Entraram em Portugal no 9 de fevereiro de 1810, pela vila pensar que nos sculos passados as palavras apstata, priso, excomunho, no
alentejana de Santa Ana de Cambas. Eram doze monges com quatro criados que tinham o mesmo sentido ou o mesmo peso do que hoje...
levavam os cavalos. Chegaram a Scala Coeli onde apenas estiveram trs dias
porque os franceses estavam demasiado perto, em Olivena. Ento passaram a
Lisboa, mais segura. Despertou grande admirao a chegada daqueles monges com
aqueles belos cavalos. Era Patriarca de Lisboa e Presidente da Regncia do Reino
o Cartuxo Dom Antnio de So Jos de Castro, quem hospedou os espanhis no
seu palcio e aconselhou-lhes vender a prata e os cavalos. Mas o Embaixador de
Espanha embargou-lhes os sementais (os "cartujanos" eram considerados um
orgulho nacional) e meteu-os nos Reais Estbulos portugueses, em depsito. A
Junta Nacional de Cdiz mandou guardar igualmente a prata mas ofereceu aos
exilados um subsdio para manuteno. Do palcio passaram a Vale da
Misericrdia no 24 de fevereiro e ali residiram at 21 de outubro, quando os
franceses entraram tambm em Lisboa. Ento embarcaram num vaso de guerra
rumo a Faro. Ali o Sr Bispo acomodou-os no Seminrio donde somente em
setembro de 1812 puderam partir para reentrarem em Las Cuevas.

Mais interessante para conhecermos como era a vida monstica noutros


tempos o caso doutro Cartuxo espanhol, Dom Toms de Allanos, sacerdote
professo de La Defensin de Mara, em Jerez. No dia da Epifania de 1823 ele
apareceu inesperadamente, em fato secular, em Vale da Misericrdia. Tinha
apostatado dois anos e meio atrs, depois de vinte e dois de professo. Pediu e
obteve a reconciliao e ao dia seguinte envergou de novo o hbito de So Bruno.
O Prior Lus Brito levantou-lhe a excomunho na sala capitular. A seguir,
conforme o Direito Cannico mandava, ficou em regime de priso, numa cela pois
esta Cartuxa no tinha crcere.
Calhou chegar um criado da Cartuxa de Jerez com uma carta do seu
prior, Dom Alonso Chamizo, Visitador ao mesmo tempo, para o Rei de Portugal.
Por meio dele foi notificada a reconciliao do fugido.
bibliografia sobre a Cartuxa em Portugal
J. Cardoso. Agiolgio Lusitano. 23 fevereiro: D. Pedro Bruno. NDICE
A F. Barata. Breve memria histrica sobre a fundao e existncia
at ao presente da cartuxa de vora. vora 1888.
J. M. de Almeida Fernandes. Monografia do Reformatrio Central Apresentao p. 6
de Lisboa Padre Antnio de Oliveira. Lx 1958. Apresentao pelo Sr P Proco p. 5
Um Cartuxo. A Cartuxa... um livro para os curiosos. vora 1966.
T. Espanca. Inventrio artstico de Portugal. tomo VII. Lisboa 1966. Localizao p. 10
T. Espanca. vora e o seu distrito. vora 1967. Fotos do lugar p. 12-18
M. Carvalho Moniz. vora no passado. tomo I. vora 1970.
Um Cartuxo. A Cartuxa, uma vida para a vida da Igreja. vora, sem Primeira visita p. 19-22
data. Fotos da entrada p. 23-27
Um Cartuxo. As Cartuxas de Portugal. Analecta cartusiana. n 69.
Salzburg, 1984.
Vale da Misericrdia, por J P Gomes p. 28-55
Vrios. 1084-1984. A Cartuxa. A unio com Deus pelo silncio da Crnica Origo, s. XVIII p. 56-73
solido. vora 1984. Fotos da igreja e dos claustros p. 74-104
Um Cartuxo. A Cartuxa de vora ontem e hoje. vora 1985.
A S. dos Santos. O desconhecido de Frei Miguel (monge cartuxo). Sequeiras p. 105-107
vora 1993. Descoberta dos quadros, J. P. G., p. 108-110
Um Cartuxo. A Cartuxa e a vida cartusiana. vora 1995.
Monumentos. revista da DGEMN, n 10 Lisboa maro 1999. Quadros da Cartuxa p. 110-114
Fr. Francisco d'Assuno F de Matos. Memrias de 1822 a 1863. Forte So Bruno p. 115-118
Analecta n 152:2. 2002.
D Augustin Devaux. Dom Franois F de Mathos. Mmoires.
Cartuxos de Laveiras p. 119-122
Analecta n 152:1. 2003. Priores de Laveiras p. 123-124
Juan Mayo Escudero. El aislamiento de la Provincia Lusitana. Esmolas do Brasil p. 125-127
Analecta n 212. 2003.
Jesu Pinharanda Gomes. A Ordem da Cartuxa em Portugal. Livraria p. 128-142
Analecta n 221. 2004. Obiturio p. 143-150
fontes inditas sobre a Cartuxa em Portugal D. F. da Assuno p. 151
Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Cartuxa: ms Livr. 608, Crnica Origenes p. 152-158
Origines Cartusianorum Lusitani.
Arquivo Histrico do Ministrio das Finanas. 1821. Frades, II, 141
Bibliografia p. 159-160
Biblioteca Pblica de vora. Rivara. Catlogo dos manuscritos.
antiga Cartuxa de Lisboa

Santa Maria do Vale da Misericrdia

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