Consolo Eleny Vassão
Consolo Eleny Vassão
Consolo Eleny Vassão
Consolo
Eleny Vasso de Paulo Aitken
Consolo
Editora Cultura Crist
EDITORA
CULTURA CRIST
APRESENTAO
Aproximadamente doze anos atrs, enquanto servia como
palestrante numa semana de Estncia na Palavra da Vida, fiquei
conhecendo Eleny Vasso. Naquele primeiro encontro Eleny nada mais
era do que um nome como qualquer outro. Durante aquela semana,
contudo, pude observar seu profundo interesse nas Sagradas Escrituras.
Nada melhor que um ouvinte fazendo anotaes sem fim para motivar
um ministrante da Palavra.
Essa observao fez com que desejasse conhece-la mais de perto.
Tivemos vrias conversas naquela semana. Logo percebi que estava
diante de uma pessoa singular. Junto com aquela fome insacivel pela
Bblia existia uma vida que personificava seus conhecimentos. Seu amor
genuno pelas coisas de Deus e sua vida altrusta me impressionaram
como tem sido o caso na vida de que todos que a conhecem.
Vivendo e servindo a Deus em Muria, MG, no tivemos mais
contato at voltar para So Paulo no princpio de 1989. Em 1990 fui
convidado para fazer parte de uma diretoria de Capelania Hospitalar que
estava em formao. Tive ento encontros com a Eleny um ms, sim,
outro ms, no, por ocasio de reunies envolvendo a diretoria. E isso
permitiu que o trabalho de capelania fosse observado mais de perto.
Havia um pouco de ironia em tudo isso, pois nunca consegui ficar
dentro de um hospital por muito tempo. Fazia apenas visitas de beija-flor
para membros docentes da igreja. O cheiro de hospital, as cenas
grotescas e os gemidos de pacientes sofrendo, representavam para mim
um quadro totalmente insuportvel.
Mas tudo isso mudou quando a minha esposa, Margarida,
companheira fiel de 35 anos (namoro, noivado e casamento) adoeceu.
Depois de uma curta passagem pela UTI do Hospital Osvaldo Cruz, tendo
sofrido um infarto bastante srio, ela foi transferida para o Incor do
Hospital das Clnicas. Pela primeira vez, em toda minha vida, tive que
permanecer nos corredores, nas salas e no quarto de um hospital por
um perodo de tempo que nos parecia uma eternidade. De repente,
estava diante de uma realidade nunca vivida por mim, totalmente
imprevista, pois um mundo de sofrimento havia atingido em cheio o
nosso lar. Dois dias depois recebi um ligao s dez horas da noite que
me deixou totalmente desnorteado: Sr. Gavin, infelizmente a sua
esposa teve uma grande piora no seu estado fsico, de fato, ela acabou
de falecer! Por favor, esteja aqui amanh cedo, munido de toda a
documentao necessria.
No dia seguinte l estava eu na porta do Incor, acompanhado por
uma famlia muito querida, e de amigos meus. Mas, ao entrar naquela
sala de recepo, senti a necessidade de algum que pudesse sentir a
profundeza de minha dor, que pudesse experimentar meu sofrimento,
que pudesse comunicar palavras de consolo, algum que teria passado
por esta mesma experincia minha. Eu nunca lembro de ter recebido
uma resposta to logo s minhas oraes, pois ao entrar naquele
hospital, bem diante de mim abriu-se a porta do elevador e desceu a
prpria Eleny Vasso. Ela ficou to surpresa quanto eu, pois, no
sabendo do falecimento de minha esposa, tinha procurado o quarto dela
a fim de visit-la. Ao tomar conhecimento do fato ela logo pensou,
coitado do meu amigo Gavin, como gostaria de encontra-lo. Um abrao,
sem palavras, de algum que tinha perdido o marido poucos anos antes,
em circunstncias bem semelhantes e no mesmo hospital, me trouxe a
compreenso que tanto pedia a Deus.
Passaram-se muitos meses. Durante esse tempo, estando nos EUA
em visita minha famlia, realizei um check-up para ver meu quadro de
sade. Mais uma vez Deus operou de uma forma fantstica. A minha
consulta foi marcada com um mdico cristo que conhecia a minha
esposa e que soube do falecimento dela. Para mim, aquele consultrio
se transformou naquele dia num verdadeiro santurio de Deus, pois o
mdico do corpo efetuou o papel de um mdico de alma, passando para
mim as vrias etapas por onde teria que caminhar no meu luto.
Regressando ao Brasil, reassumindo meus compromissos, tentei
fugir da realidade enterrando-me por inteiro nos meus estudos. Longas
horas se passaram, dias compridos, cheios de solido e saudades.
Chorava abertamente longe da vista dos filhos, para que pudesse estar
firme e forte na presena deles. No consegui, contudo, enganar a
minha filha de 21 anos de idade.
Um dia, ao chegar em casa, tendo voltado de seu servio, a Aimee
me confrontou pela primeira vez, com todo o carinho possvel e com
uma preocupao bastante amorosa, to caracterstica dela. Pai, disse
ela: sei que o senhor est sendo muito forte e corajoso em face de tudo
que tem acontecido. Creio eu, contudo, que muito desta fora sua
devido ao fato de eu ainda continuar no lar, fazendo-lhe companhia. No
futuro talvez bem prximo vou me casar e, ento, o senhor vai estar
sozinho. Portanto, se eu fosse o senhor daria um jeito na sua vida.
Apesar de ter levado um susto, em conseqncia dessa ousada
proclamao de uma filha minha que parecia se amadurecer de uma
hora para outra, me pus a refletir sobre um assunto que ainda no tinha
ocupado meus pensamentos naquela altura. Deus nem me deu tempo
de pensar muito, mas j tinha agido por trs do cenrio. No dia seguinte,
em sua soberania, ele colocou a Eleny em contato comigo por telefone.
Eu no pretendo contar o resto da histria, seria detalhada demais
e fui solicitado apenas para escrever o prefcio de um de seus livros e
no para escrever um livro meu. S quero deixar, contudo, alguns
pensamentos a respeito deste livro.
Quantas vezes tenho escolhido um livro de minha vasta biblioteca,
de aproximadamente 1.500 volumes, e tenho lido o seguido comentrio
em muitos deles: Nunca prestei muita ateno aos escritos de tal, tal
autor at aqui que o fiquei conhecendo em pessoa. A minha histria
bem melhor. Eu j gostava dos livros e admirava muito a autora deles.
Mas quando ela se tornou a minha esposa compreendi bem melhor o
valor dos livros e principalmente de escritores em si.
Durante os meses de meu luto, o que ocupou dois anos de minha
vida, ela me transmitiu, de uma forma bem mais vivida, o contedo de
seu livro Consolo. Achei incrvel, mas os mesmos passos do luto que me
foram apresentados por aquele mdico, se achavam bastante
desenvolvidos neste livro e ricamente ilustrados pela vasta experincia
da Eleny no Hospital das Clnicas e no Instituto de Infectologia Emlio
Ribas.
Hoje tenho prazer de me envolver diariamente neste ministrio de
Capelania, ao lado de minha esposa. Como a minha vida e o meu
ministrio de ensino tm sido enriquecidos por uma convivncia ntima
com esta preciosa e valiosa serva do Senhor. Eu a tenho em grande
estima e a considero como uma recompensa, ainda em vida, por ter
servido a Deus, fielmente, por uns trinta anos nesta Ptria amada.
Em colaborao com meus filhos, Todd e Aimee, uma nora, Marlia,
uma neta, Brbara, um futuro genro, Edgard, e quatro filhos adotivos,
Dalton, Davi, Denis e Daniel, filhos da Eleny, apresento-lhes um livro
escrito por uma esposa exemplar, uma me superdedicada e, acima de
tudo, uma ministra de misericrdia, muito preciosa aos olhos de Deus e
uma fonte de consolo para inmeros pacientes e seus familiares.
Cludio A. B. Marra
Editor
UMA PALAVRA DA AUTORA
Eleny Vasso
1- Provao
Senhor,
no clamou teu Filho do alto da cruz:
Deus meu, Deus meu,
porque me desamparaste?
E no era e ele substituto perfeito,
nico aceito e exigido por ti?
Porque, ento, esta imensa sensao
de abandono e distncia,
se nele e em seu sacrifcio
coloquei a minha confiana?
Por amor de ti mesmo,
de quem uso o nome,
no me coloques em provas demasiado fortes.
S tu sabes at que ponto a corda pode ser
distendida sem se romper:
mas eu no tenho a fora de teus heris,
Senhor...
Sou quase toda carne.
Uma carne que sofre, grita, blasfema,
pesa-se, vinga-se em si mesma,
anseia desaparecer, fundir-se em algo maior, mais alto, mais perto
de ti.
Se a cada vez que sucumbir prpria fraqueza
levares-me algum, que s sei to precioso
depois de o perder,
no sei que futuro me espera.
Receio acabar mais s que tu mesmo
No princpio.
E tu te bastavas. Mas, mesmo assim, nos criaste
porque precisava de um objeto para o teu amor...
Disse-se blasfmia, o teu perdo, Senhor.
Mas face tua oniscincia, de que adiantaria a simulao?
melhor a confisso:
terrvel, dolorosa como um tumor
rasgado sem anestesia,
mas necessria e inevitvel, para purificao...(1)
(1)
Deus fala na sombra, pg. 14.
J realmente era um homem bom e fiel a Deus. To bom e to fiel
que se destacou diante dele, chamou sua ateno. Numa certa ocasio,
quando os anjos se reuniram na presena do Senhor, Satans o
Acusador, estava entre eles (j 1.6 BV).
Deus reuniu-se com todos os anjos, os bons e os maus. Muita
gente por a dz que h uma grande luta entre o bem e o mal, Deus e
Satans. mentira. Satans um anjo mau, cado, pai da mentira,
acusador dos homens, tentador, e tudo o que h de mal. Mas ele no o
Senhor, no tem estatura de Deus, nem seus atributos. Deus o Senhor,
e est no controle de tudo.
Ele permite certas aes de Satans, mas continua com as rdeas
nas mos.
E J foi achado digno de ser provado por Deus e tentado por
Satans.
Deus quem chama a ateno de Satans para J, quando o
inimigo conta que estava rodeando a terra e observando os homens:
Voc observou bem a meu servo J?, perguntou o Senhor. No
h homem igual a ele em toda a terra, to sincero e justo, obediente a
Deus e cuidadoso para no cometer pecado! (J 1.8 BV).
J amava a Deus, sua f era profunda e no se baseava nos bens
que recebia dele. Mas Satans duvidou disso diante de Deus.
J tem razo para isso, respondeu Satans. O Senhor deu a ele
do bom e do melhor, protegendo a J e sua famlia de todos os males e
tristezas e fazendo dele um homem riqussimo. No sem razo que J
obedece! Experimente, porm, tirar todas as riquezas e os bens que o
Senhor deu a J; ele vai se revoltar e dizer coisas horrveis contra o
Senhor (J 1.9-11 BV).
Quando a nossa f em Deus est apoiada nos bens que ele nos d,
estamos em perigo. Temo muito por alguns irmos que, em suas
oraes, s agradecem pelas coisas que Deus lhe tem dado e sempre
pedem mais. Quando vm as provaes, comeam a duvidar dele por
no estar sendo o Deus-Papai Noel que aprenderam a amar no por ele
mesmo, mas por seus presentes. como a criana que aguarda ansiosa
pela chegada do Papai Noel. Se ele vier sem a sua sacola de presentes,
a criana ficar decepcionada. Seu amor no ao Papai Noel, mas aos
presentes que ele lhe d. E era isto que Satans queria provar a Deus,
envergonhando-o atravs de J, quando este o abandonasse em meio ao
sofrimento. Talvez no parecer de Satans a piedade de J fosse artificial
por nunca ter passado por um teste. Deus lhe dera tudo e o protegera
do mal.
Ento Deus deu permisso a Satans para tenta-lo. E o Senhor
respondeu a Satans: Voc pode destruir tudo o que deu a J, mas no
toque no corpo e na sade dele (J 1.12 BV).
E foi assim que ele perdeu tudo, inclusive seus dez filhos. Algumas
tempestades da vida vm de repente: uma grande perda, uma derrota
esmagadora, uma grande dor. Tudo desabou sobre a cabea de J. De
uma s vez, perdeu tudo e todos dor estonteante, enlouquecedora.
Mas a sua f no estava em seus bens, e Deus foi glorificado em seu
sofrimento atravs de uma f limpa, sem interesses:
Mesmo no meio de tanta desgraa, J no pecou nem disse que
Deus era culpado do seu sofrimento (J 1.22 BV).
Um homem pode ficar diante de Deus despojado de tudo quanto
vida lhe deu e ainda assim nada lhe faltar.
O estico zomba daquele que derrama lgrimas, ao crente,
porm, no proibido chorar. s vezes, diante de uma dor muito grande,
a pessoa permanece calada, enquanto a tesoura do tosquiador roa a
sua carne trmula; mas. Quando o nosso corao se abate sob uma
srie contnua de provaes, podemos buscar alvio no choro. H,
porm, algo ainda superior a isto.
Dizem que em certos lugares fontes da gua doce saltam no meio
das guas salgadas do mar; que as mais lindas flores dos Alpes se
encontram nos recantos mais agrestes e escarpados das montanhas;
que os mais sublimes salmos foram o produto da mais profunda agonia
da alma. Pois bem, assim, entre as mltiplas provas, aqueles que amam
a Deus encontraro motivo de grande alegria(2).
Quando h calmaria na minha vida, a princpio aproveito para
fazer tudo que me d prazer, e aos poucos vou me afastando de Deus.
J quase no leio a Bblia, oro somente nas refeies aquela reza
decorada e repetida... e fico vazia. Louvo ao Senhor porque ele no me
deixa ficar assim. Meu ministrio no hospital cheio de provaes
contnuas, e no terei palavras para consolar se no estiver em
comunho com o Senhor. Sinto-me falando palavras de vento a
pessoas que precisam desesperadamente de consolo. E no tenho o que
lhes dar. E sou vazia. Mas ele me desafia constantemente, no me deixa
sem provas e lutas, porque me conhece. Sabe quanto eu preciso delas
para crescer. E ele conhece os meus limites. Somente porque estou
aprendendo a am-lo sobre todas as coisas e tenho a certeza de que ele
me ama, posso ter a confiana de me entregar-me em suas mos sem
impor condies.
Deus fiel... e no permitir... que sejamos provado alm das
foras que ele mesmo nos d para vencer.
Que alvio saber disso! Quando Deus pe um peso sobre ns, ele
sempre pe seu brao debaixo.
Mas nem sempre permitimos que o Senhor atue em ns.
dolorido, d trabalho e no queremos o seu toque. Preferimos ficar
comodamente estacionados.
Muitas vezes queremos somente uma poro de Deus, de forma
que atenda s nossas necessidades e nos deixe acomodados. Mas ele
no permite que o tenhamos em nossas mos, ele nos quer
incondicionalmente nas suas.
(2)
Mananciais do Deserto, pg. 78.
Eu gostaria de comprar trs dlares de Deus, que no chegue a
fazer explodir a minha alma e nem venha incomodar meu sono, mas que
seja suficiente para garantir-me um copo de leite quente e uma soneca
ao sol. No quero dele uma quantidade to grande que me faa amar os
negros, nem colher beterrabas junto com os trabalhadores migrantes.
Quero xtase, no transformao pessoal; quero o calor de um ventre
materno, no um novo nascimento. Quero um quilo de eternidade em
um saquinho de papel. Por favor, d-me trs dlares de Deus!(3).
Nosso ego no deseja Deus na sua inteireza, mas t-lo a uma
distncia razovel. Queremos dele apenas uma poro suficiente para
nos salvar no inferno, para nos dar bnos, para nos proteger, para nos
impedir de sofrer. No queremos conhece-lo profundamente, e s o
buscamos verdadeiramente quando estamos no fim de nossas foras,
sem mais nada para lhe oferecer, quando temos mais conscincia de
nossa nudez.
Mas Deus quer fazer de ns pessoas teis em suas mos. No
vasos de barro vazios, mas cheios da sua pessoa, transbordando de
amor por ele, dessedentando outros que nos rodeiam. Ele quer que
sejam doadores, no somente receptores; servos, e no superastros.
Deus quer nos fortalecer, aperfeioar e nos tornar semelhantes a
Jesus. Ele no quer que sejamos como vasos de vidro ou porcelana.
Deseja ver-nos como peas de ao, enrijecidas, capazes de suportar
tores e compreenses at o mximo, sem se partir.
A f cresce em meio s tempestades.
Ele sabe o meu caminho; se ele me provasse, sairia eu como o
ouro (J 23.10).
no meio das tempestades da vida que exercitamos a f e vemos
a Deus com mais clareza.
Quando Deus quer um carvalho, ele o planta num lugar onde as
tormentas o fortificaro e onde as chuvas se abatero sobre ele, pois
no meio da batalha contra os elementos que o carvalho ganha suas
fibras rijas e se torna o rei da floresta.
As rvores mais fortes no so as encontradas ao abrigo das
florestas, mas as de campo aberto, onde ventos de todos os lados s
aoitam, curvam e torcem, at que por fim atinjam toda a sua estatura.
Essa madeira a mais procurada para o fabrico de carrocerias e de
instrumentos pesados.
Quando Deus quer aperfeioar um homem de Deus o coloca em
meio de alguma tempestade. A histria dos grandes homens sempre
de rudezas e asperezas. Ningum se faz grande, enquanto no tiver
passado pelas ondas de tormenta e encontrado a resposta da sua
orao: Deus, torna-me, quebranta-me, faze-me.
Portanto, quando virmos um gigante espiritual, lembremo-nos de
que a estrada que devemos palmilhar para ficar ombro a ombro com ele
no aquela alameda florida e ensolarada, mas, sim, um trilho ngreme,
(3)
Wilbur Rees, citado no livro Eu, um servo?
estreitoso e rochoso, onde as rajadas do inferno quase nos derrubam,
ode pedras pontiagudas nos rasgam a carne, onde espinhos nos ferem a
fronte, e onde rpteis venenosos nos atacam de todos os lados.
Os heris da vida so os que foram aoitados pela tormenta e
marcados pela batalha(4).
Uma heresia que engana e confunde a muitos diz que quanto mais
nos tornamos ntimos de Deus, quanto mais o conhecemos, mais fceis
se tornam as coisas. H por a uma falsa teologia dizendo que Deus quer
que seus filhos estejam alegres, tenham tudo o que desejam e, se
alguma coisa lhes falta em bens materiais, porque sua f est
pequena.
Por essas idias, quando enfrentamos provaes, nosso primeiro
pensamento de que Deus est nos punindo. Ou ento supomos que, se
orssemos mais, as circunstncias no frustrariam os nossos sonhos.
Esse pensamento no se coaduna com a vida e a mensagem de Jesus
Cristo, nem com a dos santos, mrtires e fiis seguidores do Mestre.
Nossa orao no deve ser por vidas fceis, mas por vidas capacitadas
por Deus, que se tornam grandes pela sua graa(5).
Satans estava usando J, com a permisso de Deus, para
desacreditar o nome do prprio Deus, querendo faze-lo renunciar
totalmente a ele e a amaldio-lo. Mas mesmo quando J foi ferido em
todo o seu corpo, sofrendo por muito tempo, abandonado, sozinho,
cuspido, no abandonou ao seu Deus. Questionou, reclamou, brigou,
mas no o deixou.
E mesmo diante de mais este sofrimento terrvel J no disse uma
palavra m contra Deus (J 210 BV).
J fora sacudido, mas no prostrado pelas calamidades. Ele no
tinha orgulho ou medo de ser considerado menos espiritual por chorar
sua dor diante de todos. A graa nos ensina no a viver sem tristeza,
mas a mant-la sob controle, conectando-a com a penitncia, a
submisso, a f e a esperana.
Um erro que Satans sempre comete e o de pensar que Deus
limitado como ele. E outro, o de pensar que os servos de Deus so
iguais aos dele: aproveitadores que se vende a qualquer preo,
hipcritas que tm uma vida superficial e orgulhosa que nunca
aceitariam ser humilhados.
Quanto mais ele esmagava a J, mais este exalava um perfume
que ao mesmo tempo agradava a Deus e deixava Satans boquiaberto.
Quanto mais pressionado, mais proclamava J a sua lealdade a Deus.
Satans foi obrigado a ver um homem reabilitado e um Deus glorificado,
na medida em que os dois continuaram a caminharem juntos, num
relacionamento perfeitamente satisfatrio. J foi a Deus com sua dor
esmagadora, curvou-se at o p, e o adorou.
(4)
Mananciais do Deserto
(5)
O Senhor do Impossvel, pg. 45.
Foi a maravilhosa graa divina na vida de J que o impediu de
amaldioar a Deus; foi a constante presena de Deus com ele; foi o
imbatvel poder de Deus em sua vida.
Ns no precisamos de graa para morrer, mas sim, para viver.
Quando chegar a hora de morrermos, ns a teremos(6).
Nossas noes acerca de Deus influenciam o modo como reagimos
s provaes. Se no crermos que ele nos ama, que faz com que todas
as coisas cooperem para o nosso bem mesmo que no momento no
possamos entende-las e que ele est no controle absoluto de tudo, no
permitindo que nenhuma dor seja maior que o consolo que ele mesmo
nos d para suportar e vencer, ento, s ento nos desesperaremos.
O apstolo Paulo foi um homem que andou com Deus. O Senhor o
usou maravilhosamente para levar o seu Evangelho aos no-judeus, e
sua amizade por ele era to grande que Deus lhe fez revelaes
maravilhosas sobre a sua pessoa e projetos. Mas ele conhecia a Paulo, e
no queria que a grandeza dessas revelaes fizesse com que o
apstolo se orgulhasse, afastando-se do Pai. Ento, deu-lhe um presente
amargo, para faze-lo permanecer sempre fiel.
Uma coisa eu digo: em vista de serem to extraordinrios estas
experincias que eu tive. Deus ficou receoso de que me inchasse com
elas: por isso, foi-me dado uma doena que tem sido um verdadeiro
espinho em minha carne, um mensageiro de Satans para me ferir e me
atormentar, e para esvaziar meu orgulho. Em trs ocasies diferentes
implorei a Deus que me fizesse ficar bom de novo. E cada vez ele disse:
No. Mas eu estou com voc; isso tudo de que voc precisa. Meu
poder revela-se melhor nos fracos (2 Co 12.7-9 BV).
(6)
Alm da dor, pg. 78.
(7)
Decepcionado com Deus, pg. 181
(8)
Decepcionado com Deus, pg. 170
Deus sabe como eu temo passar por grandes provaes. Ao
imaginar a perda de J, seus bens, seus filhos e sua sade... sua dores
terrveis, sua incapacidade de agir, sua perplexidade por no entender
como o Deus de amor podia permitir tanto horror...realmente, tenho
medo de sofrer uma frao do que ele sofreu.
Mas a Palavra de Deus conforta o meu corao. A certeza de Sua
presena sustentando-me em qualquer provao reanima meu esprito,
dando-me a segurana da vitria.
Seu conforto d-me ousadia de perguntar, como Paulo:
Que podemos dizer diante de coisas to magnficas quanto essas?
Se Deus est do nosso lado, quem que pode estar contra ns? Visto
que ele, em nosso favor, no poupou nem o seu prprio Filho, mas o
entregou por todos ns, ser que certamente no nos dar tudo o mais?
Quem se atreve a nos acusar, a ns, que Deus escolheu para sermos
dele? Ser que Deus faria isso? Nunca! Foi ele quem nos perdoou e nos
deu direito de ficar com ele.
Quem nos condenar, ento? Cristo? No! Foi ele quem morreu
por ns e voltou vida por nossa causa, e agora est sentado no lugar
de maior honra junto a Deus, rogando por ns l no cu.
Quem, ento, pode jamais ocultar de ns o amor de Cristo?
Quando estamos em aflio ou em desventura, quando somos
perseguidos de morte ou destrudos, ser que isso acontece porque ele
no mais nos ama? E se tivssemos fome, ou ficarmos sem dinheiro, ou
passamos por perigos, ou formos ameaados de morte, ser porque
Deus nos desamparou?
No, pois as Escrituras nos dizem que por sua causa precisamos
estar prontos a enfrentar a morte a qualquer momento do dia somos
como ovelhas prontas para ser abatidas no matadouro. Mas, apesar de
tudo isso, temos uma vitria esmagadora por meio de Cristo, que nos
amou a ponto de morrer por ns.
Estou convencido de que nada poder jamais separa do seu Amor.
A morte no o pode, nem tampouco a vida. Os anjos no o podero, e
todas as foras do inferno no podero afastar de ns o amor de Deus.
Nossos temores pelo dia de hoje, nossas preocupaes sobre o dia de
amanh ou o lugar onde estivermos bem alto no cu ou nas
profundezas do mar nada, jamais, ser capaz de separar-nos do amor
de Deus demonstrado pelo nosso Senhor Jesus Cristo quando morreu
por ns (Romanos 8.31-39 BV).
9. Criminalidade
Comea a portar-se mal. Sem nunca ter tido problemas com a lei,
comea a cometer pequenos furtos e a andar em ms companhias.
10. Falta de afetividade
Ela se torna insensvel, indiferente e perde o desejo de dar ou
receber carinho. Precisa de muita ajuda para que no ponha fim
prpria vida.
Qualquer pessoa que no esteja fortemente apoiada numa f
verdadeira pode correr o risco de perder a esperana e optar pela morte.
A interveno de um consolador amoroso, que seja usado por Deus em
sua reabilitao, comunicando-lhe a certeza de presena e ao do Pai
em vida poder tira-la do fundo do poo, levando-a a optar pela vida.
J: SEU SOFRIMENTO
A importncia da gratido
Nu sa do ventre de minha me, e nu voltarei; o Senhor o deu, e o
Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor (J 1.21).
J no reclamou, no brigou com Deus por ter tirado seus filhos e
seus bens. Ficou triste, muito triste, claro. Mas no atribuiu a Deus
falta alguma (J 1.22).
(15)
Consolacin y Vida, pg.
REAES NATURAIS DIANTE DAS CRISES
1. Angstia. uma experincia normal nas pessoas que viveram uma grande tragdia.
Normalmente no podem dormir, tm pesadelos, tribulao, esto inquietas, tornam-se
sensveis, irritveis, assustam-se com tudo, desconfiam, sentem-se incapacitadas para
fazer as coisas, desesperam-se por estar ss.
2. Ira. Podem dirigi-la contra a natureza, o destino, contra Deus, at mesmo contra os
que morreram (e me deixaram s), contra os que sobreviveram (porque eles e no
outros?) e ainda contra as pessoas que querem ajuda-las.
3. Medo. Principalmente quanto ao futuro; no vem como podero seguir adiante sem a
pessoa que morreu, ou tm medo de que a tragdia possa se repetir. A perda do Mestre,
com a crucificao, produziu medo nos discpulos, que acabaram escondidos, temendo
que os judeus fizessem o mesmo com eles.
4. A culpa o sentimento mais comum ante uma perda. A pessoa se reprova por coisas
que deixou de fazer pela pessoa querida.
5. Somatizao Podem ficar enfermas fisicamente: dores de cabea, dores no corpo,
enjos, diarria, desmaios, sensao de presso no peito, presso, sufocamento, falta de
ar, cansao, falta de sono.
Sabemos que no caso de J, sua doena no era por uma fatalidade, mas sim, causada por
Satans para prova-lo.
6. Alterao de comportamento As pessoas mudam de conduta diante de uma crise. H
quem se torne indiferente, aptica, sem vontade de fazer nada, nem sequer levantar-se.
Outras tornam-se demasiado ativas, no param quietas, no podem dormir, trabalhar
sem parar. Outras ainda, tm vises e ouvem vozes.
7. Idias suicidas Diante da perda, muitas pessoas pensam que seria melhor morrer.
Porque pois, me tiraste da madre? Ah! Se eu morresse, ante que olhos nenhuns me vissem
(J 10.18).
8. Emoes intensas normal e saudvel manifestar essas emoes e falar delas. No
saudvel conte-las e reprimi-las; melhor expressa-las com franqueza para sentir alvio.
Durante os primeiros meses depois do trauma, a pessoa necessita de tempo e compreenso
para vivenciar, elaborar e logo perder naturalmente os sintomas iniciais.
(16)
J era agradecido pelos bens que Deus lhe permitira possuir. Ele
no achava que Deus era obrigado a lhe dar todas as coisas boas por ele
ser um homem bom. Sabia que tudo que recebia era pelo amor e pela
graa de Deus, no por seus mritos pessoais.
A gratido gera alegria de viver e o ser agradecido a expresso
de maturidade e sade. A gratido nos leva a sentir a vida como um
presente constante(17).
A cada novo amanhecer, ainda na cama, agradeo ao Senhor por
mais um dia de vida e entrego-me entusiasmada em suas mos,
esperando as surpresas que ele me preparou nesse dia. Viver
realmente uma aventura segura quando sabemos estar nas mos de um
Deus que nos ama, que tem controle absoluto sobre todas as coisas e as
usa (mesmo que nos parea mal) para o nosso bem.
Paulo e Silas (Atos 16.25), dentro da priso, com os ps presos ao
tronco, as costas feridas, cheias de verges feitos pelos chicotes,
cantavam louvores a Deus, seguros do seu amor e direo.
Aquele que agradecido aprende a ser feliz com as pequenas
coisas da vida. No espera pelos grandes e fantsticos eventos para se
alegrar. Olhando ao seu redor, cr que tudo quanto tem um presente.
No existe nele a busca do prazer como um fim em si mesmo; com
atitude madura e saudvel desfruta do que tem e d graas a Deus, a
seus semelhantes, e vida por serem to generosos consigo(18).
J se alegrava com seus filhos, com as reunies de famlia, com a
riqueza e a comodidade que esta lhe dava, mas jamais colocou neles o
seu corao. No se prendeu a eles. O Senhor continuava a ser seu
maior tesouro, e seus filhos e bens, presentes do Amor do Pai.
Mas, alm da perda, J estava enfermo em sua carne. Nem ele,
sendo to bom, escapou. A doena atinge a todos, indistintamente. Ela
nos lembra que somos frgeis, finitos e que tambm vamos morrer um
dia. Arranca-nos de nossos devaneios e futilidades, desafiando-nos a
buscar a Deus e a viver dentro de uma nova dimenso, planejando cada
dia cuidadosamente e vivendo-o intensamente, como se fosse o ltimo.
A graa no mantm os crentes longe da morte. A riqueza no
pode comprar sua iseno dela. A riqueza no pode prevenir contra os
seus assaltos. Reis e sditos, patres e empregados, ricos e pobres,
cultos e incultos, professores e alunos, mdicos e pacientes, ministros e
ouvintes, todos caem igualmente diante desse grande inimigo.
A doena ajuda a amolecer o corao dos homens e lhes ensina a
sabedoria(19).
(16)
Consolacion y Vida, pg. 32.
(17)
Curar tambm tarefa da igreja, pg. 46.
(18)
Curar tambm tarefa da igreja, pg. 47.
(19)
Doena.
Deus sempre cura?
Alguns dos santos desta terra no foram curados e morreram no
leito, de no pequenos sofrimentos. Ser que Deus no os quis curar?
Sim; ele apenas adiou a cura para a hora da cura definitiva pela
ressurreio. Curou mais tarde. Nesse nterim, ele concede poder ao
sofredor, no s para suportar o sofrimento, mas tambm para utiliza-lo
at libertao final. H muitos que so chamados para o ministrio do
sofrimento, para carregarem a cada dia a sua cruz e viverem a despeito
disso(20).
Quando leio o magnfico texto bblico de Hebreus 11, observo
nessa galeria dos heris da f homens e mulheres que realmente
andaram com Deus, provando este fato atravs de circunstncias
adversas em suas vidas. Gente com a gente que escolheu obedecer,
colocando a vontade do Senhor acima da sua prpria. Gente que teve
falhas, mas sabia que mesmo que Deus estivesse entristecido com eles,
no deixava de lhes dar o amor de Pai, e arrependidos voltavam para os
seus braos para serem usados em grandes misses.
Nesse texto, vemos nomes como o de Abel, Enoque, No, Abrao,
Sara, Jac, Jos, Moiss, Raabe, Gideo, Baraque, Sanso, Jaft, Davi,
Samuel e dos profetas.
Todas estas pessoas confiaram em Deus e, como conseqncia,
ganharam batalhas, destruram reinos, governaram bem o seu prprio
povo, e receberam o que Deus lhes prometera; foram preservados do
mal numa cova de lees e numa fornalha ardente. Alguns, por meio da
sua f, escaparam de morrer espada. Alguns se tornaram fortes
novamente, depois de estarem fracos ou doentes. Outros receberam
grande fora na batalha; fizeram exrcitos inteiros recuar e fugir. E
algumas mulheres, por meio da f, receberam de volta seus queridos j
mortos. Mas outros confiaram em Deus e foram espancados at a
morte, preferindo morrer em lugar de abandonarem a deus para ficar
livres confiando que depois disso eles se levantariam novamente para
uma vida melhor. Alguns foram escarnecidos e suas costas foram
dilaceradas com chicotes, outros foram acorrentados em masmorras.
Alguns morreram apedrejados e outros serrados ao meio; a outros foi
prometida liberdade se renegassem a f, e depois foram mortos
espada... Passaram fome, ficaram doentes e foram maltratados bons
demais para este mundo (HB 11.33-38 BV).
Eles no foram curados, protegidos da morte, mas eram pessoas
especialmente amadas por Deus.
Andaram com os coraes gratos pela companhia do Senhor,
fizeram da alegria de Deus a sua fora, e no reclamaram diante do
sofrimento. Homens e mulheres dos quais o mundo no era digno.
(20)
O Caminho.
Nas cinzas
J estava sentado nas cinzas. Triste, com muitas dores, sofrendo
tremendamente, J procura o consolo da companheira de sua vida.
Aquela que podia sentir sua dor, porque fora atingida na mesma
proporo: tambm perdera tudo e todos. Ela se aproximou de J, olhou-
o e sentiu-se muito irritada ao ver a atitude submissa dele diante de
Deus e dos acontecimentos. Havia perdido a f, a esperana. Dirigiu a J
palavras de desespero, de quem no espera mais nada da vida: Voc
ainda vai tentar ser muito religioso, mesmo depois de tudo o que Deus
nos fez? O melhor que voc tem a fazer amaldioar a Deus e morrer
(J 1.9 BV).
Mas J sabia que s lhe restava a f. No uma f infantil, apoiada
nos bens que Deus lhe dera e depois tirara. F na pessoa de Deus, e no
no que Ele lhe dava.
Almejar a Deus e viver na graa no nos isenta de passar pelo
vale de lgrimas nem tudo so rosas, nem tudo plancie, h vales
profundos e vales ridos; h ermos, h desertos, h sequido, h
esterilidade(22).
Felizes so tambm as pessoas que fazem do Senhor a sua fora e
resolvem, em seu corao, seguir pelos retos caminhos de Deus! Elas
so capazes de transformar riquezas e sofrimentos em alegrias e
bnos, transformar lugares secos em fontes, em lugares cobertos de
flores e frutos com a chuva da primavera. Sempre que surge uma
D. HILDA
dificuldade, elas recebem a fora de Deus...(Salmo 84.5-7 BV).
D. Hilda era uma senhora muito amiga, irm na f, membro da Igreja Presbiteriana
da Lapa. Professora dedicada e atenciosa; era muito amada pelos seus alunos. Ao
aposentar-se, ofereceu-se para trabalhar junto Capela Evanglica do Hospital das
Clnicas, e a parte que lhe coube foi a de lecionar para os pacientes com paralisia infantil.
No dia do primeiro contato com seus alunos. D. Hilda levantou-se da cama sentindo ainda
fortes dores nas costas que a manteve em repouso por vrios dias. Quando tudo estava
tratado para o incio das aulas, percebeu que se sentia cada vez mais doente. Procurou
mdicos, massagistas, acupunturistas, fez dezenas de exames, at que se definiu seu
diagnstico: linfoma, e num estado to adiantado que no teria mais nenhum tratamento.
Lembro-me de ter sido informada do diagnstico pelos seus mdicos e, junto com eles,
comunicado ao seu marido Plcido e seu filho Marcos. Foram momentos difceis, de
muitas lgrimas. No sabamos bem como lhe comunicar a notcia, quando ela nos disse: -
Sabe, os mdicos conversaram comigo hoje: estou com linfoma, no tenho mais
tratamento, e vou morrer. Mas estou em paz, no me preocupo, porque o Senhor est
comigo.
As palavras morreram em nossas gargantas, e s pudemos ficar ao seu lado,
segurar na sua mo e chorar junto com ela.
D. Hilda ficou pouco tempo no hospital. Preferiu morrer em casa. Mesmo neste
tempo de internao, pode contar s mdicas a razo de sua paz a certeza da vida eterna
e falar-lhes de seu amigo Jesus.
Nunca a encontrei revoltada, brava ou reclamando de seu problema.
Compartilhava, sim, suas muitas dores, e pedia que lssemos a Bblia e orssemos com
(22)
No Div
ela. Haviade gratido
Deus. ao Senhor em seu corao, muita paz refletida em seus olhos.
Um dia antes de sua morte estive em sua casa, levando um coral para cantar hinos
em louvor e gratido a Deus, em voz suave, para anim-la e consola-la. Ela chorava,
agradecida, chamando um a um dos coralistas para segurar sua mo e abenoa-la. Morreu
em paz, sem questionamento e sem revolta.
Mas a esposa de J reagiu de maneira diferente ao sofrimento; ela
optou pela morte em vida, pela revolta, pelo escuro. No podia mais crer
num Deus que lhe tirava tudo o que mais amava. Melhor seria morrer a
vive dessa maneira. Amaldioar ao Deus a quem servira toda a vida e
que em troca os tratava assim.
Sem mais nada na vida, sentindo-se o lixo da humanidade,
levanta-se do lugar onde fora to rico e abenoado e se arrasta para
outro, que se coaduna mais com seu atual estado de esprito: o monturo.
Ali era o vazadouro pblico, que se situava fora dos muros da cidade. Ali
se queimava, a intervalos regulares, OMISSO as imundcies e o lixo da terra. Era
o ponto de encontro dos ces e de jovens sem eira nem beira; aqueles,
vidos Odos bem resto
que deixamos
de carne de fazer.
queEste pudesse
o tema do ainda
Juzo Final, como Cristoagarrados
encontrar descreve em s
Mateus 25.31-46. Ao contrrio do moralismo, que imagina que
carcaas que por ali se atiravam; estes, sempre prontos a desenterrar ele nos reprovar pelas faltas e
que cometemos, Jesus nos lembra que seremos julgados pelas
a aproveitar o que outros haviam lanado fora. Foi ali, naquele lugar boas aes que deixamos de de
fazer.
misria e de refugo, que se sentou aquele que fora o maior de todos do
Lembrem-se
(23) tambm de que, saber o que deve ser feito e no fazer, pecado (Tiago
oriente
4.17 BV). .
JOnde
estava sentado
encontrar nas amigos
todos aqueles cinzasque do lixo;
sempre agrilhoado,
estavam em sua casa,emudecido,
nas horas
sufocado, confuso,
felizes de festas, irado,
banquetes, desprezado,
nascimentos? rejeitado,
Onde estavam dolorido,
seu irmos, parentessem refgio,
e tambm,
sem amor,
aqueles pobres,sozinho.
vivas e rfos, a quem sempre prestou cuidados? Todos haviam sumido. Eles
J precisava
se omitiram de Degente.
em prestar socorro. Gente
estar ao lado amiga
de J quando ele maisenecessitava.
querida que o
Ns tambm sentisse
compreendesse, temos nos omitido.
sua dor, Nossos pastores. Nossas
deixando-o chorar igrejas. Temos oferecido
e desabafar. Que o
uma ajuda muito superficial e distante, s para cumprirmos o
ajudasse a recomear a viver. J sonhava com algum que viesse sentarnosso dever cristo.
com eleOsnas mdicos tambm tm se omitido. At mesmo os cristos, que teriam todas as
cinzas.
condies de ajudar. E em alguns coraes mais sensveis brota a culpa. Graas a Deus que
ainda h alguns que sentem a culpa e caminham para uma mudana de atitude.
Dr. Paul Tornier, em seu excelente livro Culpa e Graa fala-nos sobre esse assunto:
A culpa da omisso nos ocorre constantemente na nossa atividade profissional. Ser
que damos s pessoas que esto de algum modo ligadas a ns tudo o que Deus quer que ns
lhes demos? Ser que ns no nos contentamos, muito freqentemente, com um trabalho
superficial? Ser que ns, mdicos, no sentimos s vezes que o medicamento que
prescrevemos no seno um paliativo ineficaz? No seria necessrio ir mais fundo, abordar
os problemas de vida que entrevemos por trs da angstia de nosso prximo? Mas talvez isso
seja rduo e difcil, no saberemos o que dizer diante de problemas delicados. Isto pode nos
levar a um terreno pouco familiar, mesmo a questes morais e religiosas sobre as quais no
nos sentimos seguros. Ento, uma receita farmcia, um conselho de higiene, uma boa
palavra de encorajamento ou de simpatia profunda, j alguma coisa. Ns tentamos nos
justificar dizendo a ns mesmos que fizemos o nosso dever de mdicos. Um padre, um pastor
(23)ou um amigo poder fazer o restante, e melhor do que ns. Ser que o paciente no esperava
O Novo Comentrio da Bblia, pg. 469.
mais de seu mdico? (21).
fcil sermos tcnicos, deixando o atendimento psicolgico para o psiclogo e o
espiritual para o capelo. Mas Jesus disse aos seus discpulos: Dai-lhe vs mesmos de comer
(Mateus 14.16).
(22)
2 - Os Amigos de J
O amigo sempre leal, mas na hora da dificuldade ele se torna
mais que um amigo; passa a ser nosso irmo.
(Provrbios 17.17 BV)
Abrindo com dificuldades os olhos cobertos de tumores, J v ao
longe trs vultos que se aproximam, caminhando em sua direo.
Quando a distncia menor, nota que eles tambm olham para ele e
param assustados. No reconhecem naquela sombra enegrecida de
homem o amigo das horas felizes. Ningum lhes dissera que seu estado
fsico era assim to repugnante. Em sinal de angstia e dor erguem sua
voz e choram, rasgando seus mantos.
Muito de fala contra os amigos de J, mas poucos sabem dar
valor a estes versculos que descrevem sua fidelidade e consolo. Quando
todos os outros fugiram, se omitiram, eles permaneceram fiis. Haviam
conhecido J em seus dias de prosperidade, comido e se alegrado com
ele, e ali escolheram ficar agora, na hora da dor e do choro.
Elifaz era um patriarca importante, solene, conservador e sincero
em sua simpatia. Seu nome significa Deus Puro. E confortar significa
(22)
Culpa e Graa.
estar ao lado daquele que fraco, apoiando-o. Bildade, cujo nome
significa Velha amizade era outro consolador. Zofar era o terceiro.
Sua vinda animou um pouco a J, na esperana de receber deles
algum consolo.
Aqueles homens importantes, bem vestidos, vindo de to longe,
desceram de seus pedestais, identificaram-se com o amigo e com ele
sentaram nas cinzas. Foram longos sete dias e noites em que ali
permaneceram calados, por causa da intensidade da dor do amigo.
Deram uma maravilhosa prova de amizade.
Durante os sete dias seguintes, os trs se sentaram junto com J,
sobre as cinzas, sem dizer uma nica palavra, porque viram que a dor
de J era grande demais e falar no ajudaria em nada. (J 2.13 BV).
Tenho aprendido a calar-me diante da dor de um paciente, mas
tenho muito a caminhar ainda, porque sei que no conseguiria faze-lo
durante sete dias e sete noites. Provavelmente ficaria tentando quebrar
aquele silncio, procurando palavras para preenche-lo.
O que fazer quando a pessoa no quer falar? Nestes casos,
quando se requer o ministrio da consolao, porque ao no falar a
pessoa est reprimindo seus sentimentos, est interiorizando-os. O
ministrio da consolao, nestes casos, tem incio com o calar-se junto.
No podemos cair na tentao de falar. Se ela no quer falar, muito
menos ouvir. Poderemos manifestar nossa solidariedade atravs de
pequenos gestos carinhosos, como abraa-la, segurar a sua mo. Chorar
junto com ela... mas nunca falar. Ningum h que, sabendo ter ao lado
um bom amigo disposto a ouvi-lo, vai ficar muito tempo calado. Logo
abrir a boca para desabafar. Mas necessrio esperar que este silncio
seja quebrado por ele. Conversando com a Tnia e o Pedro, perguntei-
lhes: - Por que to importante ficar calado durante algum tempo diante
daquele que est sofrendo?
Eles me responderam:
- A pessoa que se cala, fica em silncio, sente com mais
profundidade o problema do outro. bom ter algum ao meu lado
quando estou triste, com problemas, chorando... eu sinto falta de uma
pessoa amiga, que me compreenda (Tnia).
O Pedro respondeu:
- Quando perdemos algum querido ou estamos sofrendo por
algum outro motivo, se o amigo vem nos consolar e mantm calado, ele
pode sentir com mais intensidade os nossos sentimentos, pode se
aprofundar mais. Mas eu acho que bom a pessoa falar tambm, por
que falando que poder nos ensinar algumas coisas, dar opinies que
ajudem a resolver os problemas. Sabe, uma vez o Shieh (mdico-
residente evanglico) encontrou-me chorando. A, ele chegou perto de
mim, me abraou e passou a mo na minha cabea. Como eu no falei
nada e continuei a chorar, ele pegou uma cadeira, sentou-se ao meu
lado, pegou minha mo, encostou a cabea na minha cama e comeou a
chorar tambm, enquanto orava baixinho. Choramos juntos por algum
tempo e quando eu estava melhor, peguei a Bblia e comeamos a ler
juntos e a compartilhar. Contei o problema pelo qual estava passando,
pedi sua opinio e, devagarinho, bem devagarinho, foi se estampando
um sorriso no meu rosto. Ento, ele cantou uma msica para:
(26)
Rosas em dezembro, pg. 53.
(27)
No Div de Deus, pg. 23.
(28)
No Div de Deus, pg. 141.
Jesus Cristo, com seu realismo habitual, refere-se a esta tendncia
humana de voltar as costas ao sofrimento, na parbola do Bom
Samaritano (Lucas 20.31), e na do Juzo Final *Mateus 25.43) (29).
Os amigos de J fizeram intervenes centradas em sua ansiedade
e compulso de salvadores.
Porque eles estavam julgando J, no quiseram ouvi-lo, e deixaram
de ser consoladores que aliviam a carga do sofredor para se tornarem
consoladores modestos como J os acusa:
Assim tambm vs outros sois nada para mim; vedes os meus
males e vos espantais (J 6.21).
Vs, porm besuntais a verdade com mentiras, e vs todos sois
mdicos que no valem nada. Oxal vos calsseis de todo, que isso
seria a vossa sabedoria! (J 13.4 e 5).
Tenho ouvido muitas coisas como estas; todos vs sois
consoladores molestos, Porventura no tero fim essas palavras de
vento? (J 16.2-3).
Por que me perseguis como Deus me persegue, e no cessais de
devorar a minha carne? (J 19.22).
Vocs foram como esses riachos para mim; eu esperava encontrar
ajuda, mas vocs se afastaram, espantados com a minha desgraa (J
6.21 BV).
Ao que me parece vocs so donos da sabedoria, so a voz do
povo....Agora, porm, os meus prprios amigos zombam e fazem pouco
caso de mim! Vocs se sentem muito seguros e por isso zombam de
quem est sofrendo, empurram que j est tropeando! (J 12.2,4b,5
BV).
...porque vocs torcem o sentido das minhas palavras. Vocs so
mdicos que no sabe descobrir doenas! Se vocs calassem a boca
mostrariam mais sabedoria do que dando esses conselhos tolos!...De
que adianta vocs falarem essas mentiras tolas e pensarem que so
mensageiros de Deus? Ser que Deus ficaria satisfeito em ver que
vocs torcem a verdade para provar que ele est certo? (J 13.4, 5, 7 8
BV).
J estou cansado de ouvir o que vocs esto me dizendo. Afinal,
que espcie de amigos so vocs? Querem me consolar ou me acusar?
Suas palavras que so vazias e sem sentido. O que eu fiz para vocs
me encherem os ouvidos com essas respostas tolas? (J 16. 2,3 BV).
Vocs zombam de mim enquanto eu derramo lgrimas sinceras
diante de Deus, pedindo que ele me oua como faria um homem com
seu amigo (J 16.20,21 BV).
At quando vocs vo me castigar com essas acusaes falsas?
At quando enchero meu corao de tristezas? J perdi a conta de
quantas vezes me ofenderam e me acusaram de ser um pecador
rebelde...Vocs esto querendo usar a minha desgraa para provar a si
mesmos que so muito justos e sinceros (J 19.2,3a BV).
(29)
Culpa e Graa, pgs. 18 e 19.
J no chega o castigo que recebo de Deus? Ser que vocs
tambm vo se voltar contra mim? (J 19.22 BV).
Ouam o que eu digo! Se ao menos vocs ouvirem, isso j ser um
alvio para o meu corao. Tenham um pouco mais de pacincia comigo
e depois que eu falar vocs podem zombar o quanto quiserem (J 21.2,3
BV).
De consoladores, se transformaram em trituradores. Foram
insensveis, grosseiros, usaram linguagem violenta e ofensiva.
Colocaram sal e vinagre em suas feridas, ao invs de leo.
Mas o grave o julgamento, seja verbal, seja velado, que os
doentes sentem nos so, sobretudo nos mais bem intencionados em
suas palavras de conforto. Muito freqentemente, so os visitantes mais
dedicados que causam culpas mais funestas. Prova disto est nos
amigos de J e nos seus belos discursos! Eles tiveram, a princpio, a
delicadeza de se calarem sete dias e sete noites diante de sua dor.
Eles no lhe voltaram as costas; vieram para sofrer com ele e consola-lo.
Mas, envolvidos pelo zelo, comearam a conversar, a filosofar, a exortar;
falaram tanto que prejudicaram a J; com tantas palavras bonitas, lhe
fizeram mais mal que todos os seus males, de tal maneira que ele
exclamava: Vs todos sois mdicos que no valem nada (J 13.4).
Por trs dos nobres propsitos dessas saudveis pessoas, o doente
J percebe um terrvel esprito de julgamento, uma insinuao constante
de que os males que o assolam so punies divinas! Mesmo nas
exortaes f, J sente uma acusao, quando Bildade lhe diz: Mas se
tu buscares a Deus, e ao Todo-Poderoso pedires misericrdia, se fores
puro e reto, ele, sem demora despertar em teu favor, e restaurar a
justia da tua morada (J 8.5,6). E evidentemente dia entender que, se
J no sara, porque no implora ao Todo-Poderoso, ou que no lhe
obediente o bastante! Assim, J replica (21.27): Vede que conheo os
vossos pensamentos e os injustos desgnios com que me tratais.
Assim, ns vemos crentes, telogos e leigos de todas as igrejas e
de todas as denominaes, sobretudo as mais zelosas em socorrer
doentes, esmaga-los com testemunhos religiosos, proclamar com fora o
poder de Deus que sara os que confiam nele, dando a entender ao
doente que lhe falta f(30).
Em resumo, os amigos de J diziam:
J, Deus est tentando dizer-lhe algo. Seu sofrimento tem sido
enorme, e deve haver uma razo. O nico motivo lgico que Deus est
zangado com algum pecado seu. Portanto, confesse sua falta e Deus
aliviar o seu sofrimento.
MARIA JOS
Disse-lhe que ele tem todo o poder em suas mos para cura-la,
mas no sabia se este seria o seu propsito. Mas que ela deveria estar
pronta a aceita-lo, fosse este qual fosse, porque ele estaria com ela,
mostrando-lhe o caminho, carregando-a no colo, enxugando suas
lgrimas e confortando-
Depois cantamos:
(33)
Mananciais, pg. 169.
(34)
Um recado para ganhadores de almas, pg. 17
O apstolo Paulo nos conta que as coisas que lhe aconteceram e o
consolo que recebeu fizeram-no capaz de ser fonte de consolo para
outros.
Em Hebreus 2.18, encontramos uma referncia quanto s provas
pelas quais Jesus passou: Pois naquilo que Ele mesmo sofreu, tendo sido
tentado, poderoso para socorrer aos que so tentados.
A pessoa que sofreu realmente no fala muito sobre isso. Paulo
no exibia seus sofrimentos, mas via que a aterradora experincia pela
qual havia passado lhe era muito til, o fizera voltar-se para Deus. Havia
lhe demonstrado sua dependncia absoluta dele.
O perigo de uma vida prspera fazer alentar uma falsa
independncia. Faz-nos pensar que estamos capacitados para andar
sozinhos. Para cada orao que fazemos a Deus nos dias de
prosperidade, dez mil se elevam na adversidade.
na hora da dor que o homem descobre quem so seus
verdadeiros amigos e aprende o quanto necessita de Deus.
Atravs da dor e da consolao recebida de Deus, Paulo construiu
uma confiana inabalvel no Senhor. Agora ele sabia o que Deus podia
fazer por ele. E se pudera ajuda-lo a atravessar essa situao, podia
ajuda-lo em tudo.
O amor de Cristo fluindo atravs de ns leva-nos a nos doarmos.
Damos de ns mesmos porque no podemos deixar de faze-lo, ao ver
uma pessoa necessitada. Na verdade, isto dar da maneira de Deus,
pois ele amou tanto o mundo que deu o seu Filho.
A palavra consolao vem de paraclsis, que quer dizer
encorajamento, conforto.
Podemos usar tcnicas para consolar as pessoas, aperfeioando-
nos a cada dia, dando o melhor de ns mesmos. Mas estas nunca sero
suficientes para o que sofre. Quando deixarmos, nossos atos ou palavras
ficaro guardados por breves momentos na mente daqueles a quem
consolamos. A dor e a tristeza voltaro rapidamente. Mas o consolo
cristo diferente. Creio que no h verdadeiro consolo sem haver a
evangelizao. Somente quando o paciente ou o que sofre receber a
Jesus como seu Salvador ser consolado a todo o momento pelo Esprito
Santo que passou a habitar nele. Para o cristo, consolar levar vida em
meio dor e morte, atravs do Esprito Santo, o Consolador de Deus.
Sua consolao reanima o que est abatido, angustiado, sofrido e
que foi tocado pelos sinais da morte. Jesus Cristo pode ser chamado
Consolador, parakleto, porque sua misso foi dar vida aos homens
carregados pela morte. Sua misso consoladora se baseou em
comunicar vida em abundncia.
A Bblia nos fala de um homem chamado Barnab como Filho da
Consolao. Sua vida, observada atravs dos relatos bblicos, destaca
esse ministrio da consolao. Sua sensibilidade antes as necessidades
do prximo se mostrou de forma concreta em vrias ocasies. Ele era
um homem bom, cheio do Esprito Santo e de f (Atos 11.24). Barnab
no foi um terico, um falador de palavras bonitas e de sermes
consoladores. No foi um homem de receitas maravilhosas para
consolao. Foi algum sensvel que sentiu a dor do outro e se
identificou, se ps ao lado e comunicou vida em meio a situaes de
morte. Consolar acolher o que tem medo, angstia, depresso, apatia,
vcios; o que chora, o que sente dor, frustrao.
BRANCO DINAMITE
(35)
Amor Incondicional, pg. 75.
(36)
Amor Ilimitado, pg. 76.
Fora ele que, num gesto de extrema extravagncia, deixara a sua
glria, esvaziara-se de seu poder , domnio e autoridade, e se tornara
como ns. Este o modo de amar mais extravagante que se conhece.
Foi exposto nu, deixado em absoluta solido, envergonhado, para que,
pudesse abraar um mundo nu, solitrio e vergonhoso (37).
Nossa memria precisa ser sempre reavivada para que nos
lembremos que foi s pelo seu amor e pela sua misericrdia que ele nos
presenteou com a sua graa. Estvamos de mos vazias, sem nada para
lhe oferecer.
(39)
O Caminho, pg. 146.
Quando nos dispomos a consolar algum, temos de pedir ao
Senhor continuamente que aumente o nosso amor por ele, renove a
cada momento a humildade para sabermos que no somos melhores
que ningum, coloque em nosso corao a convico de sua
misericrdia em nossa vida para que, no decorrer da conversa, no
comecemos a julg-lo. Dr. Paul Tournier, em seu livro Culpa e Graa, no
fala sobre O Esprito de Julgamento.
fcil a princpio, escutar sem preconceitos. ainda mais fcil
quando o paciente nos inspira confiana ou, tambm, quando ainda no
sabemos nada sobre ele. Mas torna-se mais difcil quando se trata de um
velho conhecido, quando conhecemos tambm a famlia, o meio
ambiente e seus problemas. Os doentes sabem disso e esto mais
dispostos a consultar um psicoterapeuta distante do que um de sua
prpria cidade. Contudo, pouco a pouco, inevitavelmente formamos uma
opinio sobre o paciente. Algumas de suas reaes nos decepcionam.
Ns temos uma profunda sede de vida, de relacionamentos
alegres e livre. Precisamos que nossos amigos nos considerem sem
preconceitos, vendo-nos como somos e no atravs de luneta de uma
doutrina moral, de uma teoria cientfica ou de um diagnstico mdico.
Pois assim que Deus nos olha.
Assim, todo conselho objetivo, quer seja moral ou psicolgico, tem
sempre, at certo ponto, o carter e o peso de um julgamento. o
conselho de um homem para outro homem, uma pretenso de
arbitragem, uma pretenso de superioridade deste que pronuncia sobre
o outro. Assim, toda discusso intelectual, mesmo conduzida no melhor
esprito de pesquisa em prol da verdade, tem mais ou menos o sentido
de uma luta pelo domnio, uma briga pelo poder. Cada um se
engrandece demonstrando que tem razo, e que o outro, por
conseqncia, est errado e culpado.
Todos se defendem
Todo mundo sob o golpe de uma acusao, tem um reflexo de
defesa, de justificao prpria. A resposta acusao brota
imediatamente em seu esprito. Os argumentos surgem aos borbotes,
eles embotam o pensamento e no deixam nenhum lugar humilhao
ou a uma confisso de faltas. H mil razes vlidas para se desculpar.
No ardor da consolao dos amigos de J, que a esta hora j se
transformara em discusso, ele se defendeu mostrando suas obras:
Naquele tempo eu tinha um lugar reservado entre os cidados
influentes e dignos de respeito. Quando os jovens me viam chegando,
levantam-se a abriam o caminho; os velhos ficavam em p, em sinal de
respeito. At as autoridades deixavam de lado os assuntos importantes
e se calavam quando eu chegava. Homens ricos e importantes paravam
de falar sobre negcios para me escutar. Minhas palavras eram a alegria
da cidade e todos me conheciam como um homem honesto e justo.
Eu ajudava os pobres que estavam sendo explorados e os rfos
que no tinham ningum para lhes dar abrigo. Ajudava os que estavam
s portas da morte e eles me abenoavam; eu ajudei muitas vivas e
ficarem alegres novamente! Em todas as minhas aes eu procurava ser
justo; fiz da justia minha roupa de todo dia. Eu servi de vista para os
cegos e de perna para os aleijados. Fui um pai para os pobres e
necessitados e at aos estranhos eu protegi e julguei com justia (J
29.7-16 BV). ANTNIO
Quem me conhecia procurava sempre ouvir meus conselhos e
todos se H calavam
um homem paraa mequem eu admiro
escutar. Quando profundamente.
havia algumaSeu dvida ou
nome Dr. Jos Roberto Nery.
discusso, eu sempre tinha a ltima palavra, pois cirurgio, professor
todos da aceitavam
Faculdade
minhas de Medicina
opinies. da Universidade
Todos esperavam pelos meusSo Paulo, iniciou
conselhos comoo a terra
transplante de fgado inter-vivos e muito
seca espera pela chuva da primavera. Quando algum estava triste e conceituado em
sua rea poroser
desanimado, meu um profissional
sorriso competente
lhe devolvia a alegriae muito humano. de viver.
e a disposio
Mas minha principal admirao por ele
Para o meu povo eu era um guia para mostrar o caminho, no por tudo que eleum rei que
faz, mas sim pelo que ele . Em suas horas
comandava os exrcitos, um chefe que organizava e um amigo para livres temos
evangelizado
consolar juntos
os tristes no Hospital
(J 29.21-25 BV). Emlio Ribas. Andando juntos
pelasE,enfermarias,
de fato, aos olhosouvindode e falando
Deus, J eradeoJesus
melhor aos pacientes,
homem sobre a Terra
tambm conversamos muito, e a cada
(J 1.8). Por outro lado, mesmo reconhecendo-se pecador, dia eu vejo mais
ele asabia que
opessoa de Jesus na
seu sofrimento no vida
eradeste irmo e amigo
conseqncia to querido.
de algum pecado seu (J 19.4
Logo que eu convidei para
BV). Alis, mesmo quando a pessoa tem culpa, no estar comigo neste hospital
acusando-a que a
ele temeu pelo perigo
levaremos ao arrependimento. da contaminao (Hospital Emlio Ribas
somente para molstias
O verdadeiro infecciosas)
arrependimento por causa
no surge de seus
to rpido assim, no
filhos. Disse-me que oraria, e conforme fosse
tem esse carter automtico de um determinismo psicolgico. O a orientao do
Senhor, iria aosmeu
arrependimento vemencontro
depois deno umhospital no dia seguinte.
longo combate, aps uma defesa
Quando chegou, disse-me:
tumultuada. Arrepende-se somente quando a convico de pecado vem
de dentro-Como sempre,
e no o Senhor
de fora; quando venceu.
vem Se do Davi podiado
profundo dizer:
nossoO ser, do
Senhor ntimo
dilogo a minha comfora e oda
Deus, meu escudo,
ao eu tambm
do Esprito Santo posso
e no dos
dizer: O Senhor
julgamentos dos homens. a minha fora e a minha mscara.
Comeamos
As censuras atm visitar
o os pacientes.
efeito contrrioLogoem nos umprimeiros
homem so;
dias, ele dizia no sentir um amor
desencadeiam um inexorvel mecanismo de justificao, especial por qualquer mesmo
paciente.intenes
havendo Passou apuras orar sobre
e a melhor este assunto,
boa vontadee o Senhor
da parte lhede quem
respondeu
critica. colocando sua frente Antnio, um travesti. Eu j o
havia visto, naquele leito junto janela, mas preciso confessar
que no senti nenhum amor por ele. Era a coisa mais feia que
eu j vira, mas o Dr. Nery o viu com outros olhos. Antnio tem
mais de sessenta anos e deve ter passado grande parte de
sua vida nessa profisso. Seu rosto foi marcado por cirurgias
plsticas mal feitas. Seu nariz foi moldado de forma bem
afeminada, seus lbios em forma de corao, as mas do
rosto bem acentuadas com silicone, e na testa, junto dos
cabelos, uma cicatriz de lado a lado, sinal de outra cirurgia
plstica. Seus cabelos so oxigenados, as unhas compridas,
sobrancelhas exageradamente finas e encurvadas e seios
volumosos, custa de injees de silicone. No queixo vejo
crescendo alguns fios de barba. Sua voz grave e apagada, o
olhar perdido, sem expresso. Nenhuma simpatia, nenhum
sinal de amor. Morto que ainda respira. Quem poderia amar
algum assim?
Mas Deus ps amor pelo Antnio no corao do Dr. Nery.
Fui eu quem primeiro lhe falei, e no tive palavras para conter
minha indignao diante do quadro:
-S Jesus, Antnio, s ele pode ajuda-lo, transforma-lo,
Continuou a dar-lhe ateno e carinho, orando diariamente por
ele. Foi muito gratificante quando Antnio disse que queria ter
Jesus como Salvador. Fiquei ao lado, enquanto Dr. Nery orava
com ele e por ele. Aps a orao, quando lhe perguntou onde
estava Jesus, ele respondeu:
- Aqui, dentro do meu corao:
Tenho certeza de que a conversao de Antnio
no se deu tanto pelas palavras que o mdico usou, mas de
sua demonstrao de amor incondicional assemelhou-o muito
a Jesus, e deixou no corao daquele homem uma porta
aberta para a atuao do Esprito Santo.
Os que exercem alguma influncia sobre voc no so
aqueles que vivem tentando corrigi-lo com suas crticas, e sim,
(41)
(45)
Eu, um servo?, pg. 186.
At falar com a mulher samaritana (Joo 4.4-30), ele sentou junto
do poo. Falou com ela, envolveu-se em seu problema para poder trata-
la. Ele se encontrou com ela no plano em que ela se achava: seu lar
ainda estava desfeito, sua vida vazia, sua fama muito ruim. Ele a trouxe
at ele, mostrando-se como a gua da Vida.
Zaqueu era chamado de pecador pelos fariseus. Assim eram
considerados todos os de sua profisso, coletores de impostos. Ele tinha
dinheiro, estavam bem com o governo e podia viver sem se preocupar
com os fanticos religiosos. Mas no era feliz, levava uma vida isolada
solitria.
Foi ento que ouviu falar de um homem chamado Jesus. O que
mais o impressionara nesse relato, fora a notcia de que Jesus sabia
fazer as pessoas se sentirem vontade em sua presena,
principalmente publicanos e pecadores.
Ouviu dizer que ele no se preocupava com a crtica dos religiosos
e at se assentava e comia em casa de pessoas com m reputao,
fazendo-as sentirem-se amadas. De algum modo, a presena dele as
fazia sentirem-se mais humanas.
Zaqueu quis ouvir esse homem. Reuniu-se multido, recebeu
muitas cotoveladas, e subiu numa rvore que lhe possibilitaria ver Jesus
quando passasse por ali. Jesus parou debaixo daquela rvore. Olhou
Zaqueu com olhos de amor. Aceitou-o, mesmo sabendo quem era. A
mensagem do seu olhar deve ter sido:
-Zaqueu, eu no vim aqui por acaso. Vim ao seu encontro. Sabia
que voc, mesmo tendo tudo, no tem nada. Sua vida est vazia, voc
solitrio, no tem razo para viver. Quero ir sua casa, no importa
quo confusa sua vida esteja. Eu vim para conserta-la. Para salva-la.
Jesus no pregou. Apenas caminhou com Zaqueu para a casa dele.
Sentou-se com ele. Comeram juntos. Ouviu-o com amor. Envolveu-se
com ele. Mas aquele lao de amor prendeu aquele homem e toda a sua
vida foi transformada.
Precisamos aprender a aceitar as pessoas, envolver-nos com elas,
a am-las incondicionalmente, assim como Jesus faz conosco.
Que ns possamos aprender com o Mestre a amar e, no nos
importando com quem falamos, nos envolvermos profundamente com as
pessoas para leva-las a Jesus.
Lembro-me do testemunho de um rapaz, ex-travesti, que tocou
profundamente minha vida. Ele conta que aceitou a Jesus num hospital,
aps sofrer um acidente muito grave. Ficou com o corpo todo engessado
e a cabea enfaixada e imvel. Ali, ouviu falar que Jesus o amava, o
aceitava como ele era e queria envolver-se em sua vida, perdoando-o,
salvando-o e transformando-o. Este rapaz saiu do hospital uma nova
pessoa. Vibrando de amor por Jesus, foi logo procurar uma igreja
evanglica, mas no quiseram aceita-lo porque ele era diferente, com
todos os seus trejeitos. Depois de andar por vrias igrejas e ter a mesma
recepo e decepo, uma o acolheu. Mas todos tinham vergonha de
serem vistos a seu lado. Falavam distncia, oravam distncia, mas
no se aproximavam. Mas ali, Deus havia colocado uma moa especial.
Ela afastou os preconceitos e passou a andar com ele, discipulando-o.
Envolveu-se. Sem medo de crticas, sem vergonha, tratando-o como
uma pessoa respeitvel, considerando-o. E este rapaz cresceu. Comeou
a perceber em que era diferente dos outros homens e, por amor a Jesus
e considerao amiga, esforou-se para mudar. Ficava horas diante do
espelho, observando e corrigindo seu jeito de andar e seus trejeitos. No
gravador, gravou uma fita com a sua voz e com a voz de um homem
normal e esforou-se por imita-lo. Hoje, ele realmente um homem, sem
nenhuma caracterstica afeminada. Novo, transformado ... porque
algum resolveu se envolver com ele.
Participar do processo de consolo no fugir de nenhuma
situao, no arrumar desculpas para no estar presente quando
acontecerem situaes consideradas desagradveis, permitir o choro
que brota l de dentro, especialmente quando o outro estiver chorando,
e chorar junto com ele. estar presente de corpo e alma e no somente
de corpo e mscaras. no ter medo de expressar as angstias, as
tristezas, preocupado com o que vo pensar de mim, o que vo dizer
de mim. O que pensarem, o que disserem ser problema dos outros,
no nosso.
Estar disponvel completamente, no diz respeito a ficar ali todo o
tempo, mas dedicar o tempo que for possvel, sem se anular como
profissional, como cnjuge e muito menos como gente, para atender
quela pessoa de modo inteiro, de corpo e alma(46).
Pequena
Deus, como minhas mos esto velhas!
Nunca disse isto em voz alta,
mas como esto velhas!
Ah! como j me orgulhei delas:
eram suaves como pele de pssego.
Agora, so como pginas velhas,
como folhas secas.
Quando foi que estas mos delicadas, graciosas,
envelheceram, enrugaram-se assim?
Agora esto aqui sobre meu colo,
testemunho mudo deste velho corpo
que me serviu to bem.
Quanto tempo faz que ningum me toca?
Vinte anos?
Faz vinte anos que estou viva...
Respeitada.
Sorriram-se muitas vezes.
Mas ningum me toca,
ningum me abraa;
nunca me apertam assim,
calidamente,
para que eu veja desaparecer
a solido que sempre minha.
Ah! Senhor, quando me lembro de como
minha me me abraava
quando algum me magoava ou me feria!
Ela me apertava entre seus braos,
acariciava meus cabelos sedosos
e batia-me suavemente nas costas
com suas mos delicadas
Oh! Deus, como estou to s!
Lembro-me do primeiro rapaz que me beijou
Ns dois to novos nisso...
Sabor de lbios jovens.
Ah! Sentir dentro em mim esses mistrios
ainda desconhecidos.
Recordo-me de Quique... e das crianas
(s posso record-los juntos).
Daquele desejo profundo e inexperiente
de jovens amantes,
vieram os bebs;
e enquanto cresciam,
crescia tambm o nosso amor.
Deus, Quique no se importou
quando meu corpo engordou
nem quando murchou um pouco...
Ele ainda o amava e o tocava:
no nos preocupvamos
por j no sermos to esbeltos...
Nossos filhos me abraavam muito.
Oh! Deus, como estou sozinha!
Por que no criamos nossos filhos
para que fossem bobos e nos dessem ternura,
em vez de cri-los para serem dignos e corretos?
Vs? Cumprem seu dever:
Vm minha casa
em seus carros modernos.
vem ao meu quarto e
cumprimentam-me educadamente.
Mas no me tocam...
Chamam-me "Mame" ou "Vov";
nunca me chama de "Pequena";
Mame me chamava de "Pequena";
e at meus amigos.
Quique me dizia "Pequena" tambm.
Mas eles se foram.
"Pequena" tambm se foi.
S "Vov" est aqui.
Como tudo est sozinha(47)!
(51)
Quando seu amigo est morrendo, pg. 23.
(52)
Quando seu amigo est morrendo, pg. 25.
(53)
Quando seu amigo est morrendo, pg. 30.
Existe uma interpretao muito infeliz do livro de J que leva as
pessoas a sofrerem em silncio. Quando algum se atreve a perguntar
alguma coisa a Deus, ou a sugerir-lhe que gostaria de ser curado, essa
interpretao o faz sentir-se culpado.
Detesto aquela frase: No chorei! No fale nada! As lgrimas so
uma forma de terapia, e o desabafo tambm. As emoes reprimidas
explodem, mais tarde, de outra forma(54).
Nosso cuidado para no parecer que estamos revoltados contra
Deus, faz com que limitemos nossos lamentos a palavra aceitveis,
mas que no expressam nossos sentimentos.
Um cristo no deve expressar sentimentos de revolta, mas
dobrar-se vontade de Deus. Isso estoicismo, manter uma espada
sobre a cabea e uma faca sobre a lngua; no cristianismo.
realmente significativo ler em Marcos 15.34: Meu Deus, meu deus,
porque me abandonastes? (Salmo 22). O grito de Jesus serve como linha
de abertura para este Salmo. Embora seja verdade que a resignao em
face da vontade de Deus uma virtude, ela no exclui uma certa luta
com Deus, um forte dilogo com Ele. De fato, somente uma grande f
torna isso possvel, e quanto maior for a luta, tanto maior dever ser a
resignao. No h motivos para se escandalizar com linguagem dos
Salmos ou de J ou de Jeremias.
O prprio Jesus chorou (Joo 11.35).
uma queixa honesta, expressa de forma lgica ao Senhor. um
dilogo to espantoso, que muitos se sentem inclinados a recuar frente
ao possvel fato de se dirigir ao Senhor em forma assim viva com a de
lamento: Por que? Por quanto tempo? Acorda! Levanta-te!
As confisses de Jeremias tm o mesmo teor dos lamentos. Este
profeta, mais do que os outros, revelou os sofrimentos pessoais que teve
de suportar, apesar de saber que o Senhor estava com ele (Jeremias 1.8,
18-19).
A murmurao exprime desgosto em face de uma calamidade
irreversvel, ao passo que o lamento um apelo compaixo de Deus,
para que ele intervenha e mude a situao de desespero.
Walter Brueggemann, em seu livro The Formfulness of Grief (A
criatividade da dor), desenvolveu o tema lamento e o comparou, em
forma de constraste e semelhana, a vrios estgios que Elizabeth
Kbler-Ross, em seu livro On Death and Dying (Da morte e agonia),
detectou em pacientes hospitalizados. O primeiro degrau o abandono
e isolamento afetados por um enfermo. Ele fez meus parentes se
afastarem de mim e meus amigos me considerarem um desconhecido.
Meus parentes no me do ajuda e meus amigos nem se lembram de
mim. Meus prprios empregados, que vivem em minha casa, me
desprezam e dizem que eu sou um estranho...Minha prpria esposa no
chega perto de mim...Meus amigos mais chegados, aqueles a que eu
mais amava, tambm me condenam e me desprezam (J 19.13-16, 19
(54)
Alm da dor, pg. 76.
BV). O segundo estgio de angstia e indignao e repercute no
lamento, onde a angstia desempenha papel importante. Em terceiro
lugar, a barganha criada pelo paciente que deseja dar exemplo de
bom comportamento (J 29 e 31). Em quarto lugar, o sentido de
depresso e inutilidade pode ser ilustrado pelo Salmo 22.6. Mas eu valho
menos que um homem! No passo de um verme; todos zombavam de
mim e sou desprezado pelo meu povo. Entretanto, o salmista mantm
dilogo contnuo com o Senhor; a a depresso incentiva a petio.
Finalmente, o estgio de aceitao no paciente corresponde certeza de
que foi ouvido(55).
Muitos de ns temos um conceito errado do que seja falar com
Deus, orar. Ao ouvirmos que um irmo vai orar na igreja, j sabemos de
cor suas palavras, porque so sempre as mesmas. Cheias de reverncia,
com frases bem elaboradas, agradecimentos e pedidos muito dignos,
mas sempre iguais. Atrevo-me a dizer que Deus est enjoado destas
rezas vazias, que no so conversas.
Orar conversar com Deus com espontaneidade e intimidade,
abrir o meu corao, rir e chorar, sabendo que estou sendo ouvido.
tambm questionar as coisa que esto me acontecendo e que eu no
entendo, confessar a ele no s os meus pecados, mas tambm a
minha irritao pelo que est permitindo, pelo que as pessoas esto
fazendo.
falar o dia inteiro, sem que os lbios se movam, deixa-lo
participar das pequenas e das grandes coisas do dia-a-dia.
Em sua mais extrema aflio J clamou ao Senhor. O supremo
desejo de um aflito de Deus , uma vez mais, ver face a face de seu Pai.
Sua primeira orao no : Ah se eu pudesse ser curado da
enfermidade que agora enche o meu corpo de chagas! nem Ah!, se eu
pudesse ver meus filhos trazidos de volta das profundezas da morte e
minhas propriedade mais uma vez reavidas das mos do espoliador!
Mas io seu primeiro e mais profundo clamor : Ah! se eu soubesse onde
encontra-lo aquele que o meu Deus e pudesse chegar ao seu
tribunal!
O desejo de ter comunho com Deus se intensifica devido a terem
fracassado todas as outras fontes de consolao. J havia sido trado em
sua esperana de que os amigos o consolassem. Ele descarta todas as
esperanas terrenas e exclama: Ah, se eu soubesse onde encontrar o
meu Deus! Nada nos ensina melhor quo precioso o Criador, do que a
percepo da futilidade de tudo que nos cerca(56).
Joachim Braun, pastor ferido com a morte de sua esposa, escreve:
Orar mais que falar com Deus. Muitas vezes clamar e gritar a
Deus. Isto a gente s aprende na dor e nos momentos de aflio. Eu
percebo que na orao operam no s as oraes vocais, a razo e o
sentimento, mas a totalidade do homem: corpo, alma e mente. No
(55)
J e Salmos
(56)
Orao Eficaz.
em livros nem em escrivaninhas que aprendemos orao e assistncia
espiritual. Aprendemo-las em situaes bem pessoais e conflitantes de
nossas vidas, quando estamos atnitos e feridos, quando chegamos
estaca zero. Estamos ento preparados para receber a Palavra de Deus
de forma bem pessoal, para depois transmiti-la ao prximo em
misericrdia e muito amor(57).
Uma me perdeu seus trs filhos em idades e situaes diferentes
da vida. Ele escreveu um livro muito inspirador, chamado Rosas em
Dezembro, onde conta como Deus coloca pessoas ou situaes boas e
de consolo quando tudo o mais est cinzento e morto. Ela escreve:
Deus se tornou meu Consolador. Ele est sempre minha
disposio, no se impacienta comigo, no me julga nem rejeita quando
admito estar magoada. Deus experimentou a tristeza. Ele foi de fato um
Pai enlutado, porque tambm teve um filho que sofreu e morreu.
Orar com algum aflito falar simples e objetivamente com Deus,
enquanto segura sua mo ou abraa. Oraes bem elaboradas em
termos difceis ou muito pastorais soam distantes e artificiais.
O pastor deve criar um ambiente em que aceitvel sentir
mgoa at contra Deus. Ele entende e ama o paciente muito mais do
que o pastor e a famlia do doente. Todos devem aceitar sua frustrao,
desnimo e mgoa, ajudando-o a desabafar, at mesmo expressando
coisas ilgicas e absurdas (Cuidados pastorais em hora de crise).
Uma audaciosa mensagem do livro de J que voc pode dizer
mais coisas para Deus. Lanar sobre ele a sua tristeza, a sua ira, a sua
dvida, a sua amargura, a sua traio, a sua decepo. Ele pode
absorver tudo isso(58).
(61)
Mananciais do Deserto.
(62)
Orao Eficaz.
(63)
Decepcionado com Deus, pg. 203.
significa aprender a crer que, fora do permetro de nvoa cinzenta, Deus
ainda reina e no nos abandonou, no importam as aparncias(64).
A maior prova que J passou no foi a perda de tudo e de todos.
Foi a ausncia do sorriso de Deus.
H uma mensagem do livro Mananciais do Deserto que consola
meu corao e renova minhas foras e confiana no Senhor. Conta a
bonita histria de uma senhora crente que teve um sonho a respeito de
trs pessoas que oravam:
Enquanto estavam de joelhos, o mestre chegou-se a elas.
Ao aproximar-se da primeira, inclinou-se e, sorrindo com amor,
falou-lhe com voz suave.
Deixando-a, dirigiu-se segunda, mas s ps a mo sobre a sua
cabea curvada e deu-lhe um olhar de aprovao.
Pela terceira, ele passou quase abruptamente, sem se deter para
uma palavra ou um olhar. A mulher, em seu sonho, pensou consigo:
Quanto ele deve amar a primeira; segunda ele deu sua aprovao,
mas nenhuma das demonstraes de amor que deu primeira; a
terceira deve t-lo entristecido muito, pois no lhe deu nenhuma palavra
e nem sequer um olhar. O que ser que ela fez e por que ele fez tanta
diferena entre elas? Enquanto procurava interpretar a atitude de seu
Senhor, ele mesmo aproximou-se dela no sonho e disse: mulher, quo
erradamente me interpretaste. A primeira mulher de joelhos precisa de
toda a minha ternura e cuidado para conserva-la em meu caminho.
Precisa sentir o meu amor, meu cuidado e auxlio a cada momento do
dia. Sem isso iria falhar e cairia. A segunda j tem uma f mais forte e
um amor mais profundo e posso esperar dela que confie em mim sejam
quais forem as circunstncias e o que quer que os outros faam.
A terceira, que eu parecia nem notar e quase negligenciar, tem f
e amor da mais alta qualidade, e eu a estou treinando, atravs de
processos energticos e drsticos, para o mais alto e santo servio.
Ela me conhece to de perto e confia em mim to inteiramente,
que no depende de palavras, olhares ou qualquer demonstrao
sensvel de minha aprovao. No desmaia nem desanima diante de
nenhuma circunstncia que eu a faa atravessar; ela confia em mim,
mesmo quando o sentimento, a razo e os mais fortes instintos do
corao natural se rebelariam porque sabe que estou operando nela
para a eternidade, e que o que eu fao, conquanto no o saiba explicar
agora, compreend-lo- depois.
Eu me calo em meu amor porque amo alm do poder de expresso
das palavras e do poder do entendimento do corao humano, e
tambm por causa de vs, para que possais aprender a me amar e
confiar em mim correspondendo espontaneamente ao meu amor e com
o amor dado pelo Esprito, sem o estmulo de nenhuma coisa exterior
para faze-lo brotar.
(64)
Decepcionado com Deus, pg. 205.
Ele far maravilhas, se aprendermos o mistrio do seu silncio, e
se o louvarmos por todas as vezes em que ele retira as suas ddivas a
fim de que conheamos melhor o doador e o amemos mais(65).
6 - A Cura de Deus
Porque ele faz a ferida e ele mesmo a ata; ele fere e as suas mos
curam. (J 5.18).
J estava cansado de sofrer, de se defender, de discutir e
principalmente de clamar a Deus e no obter resposta.
Desgastado fsica, mental e psicologicamente, e at mesmo
confuso espiritualmente, recusava-se a seguir o conselho de seus
pretensos consoladores, para arrepender-se, admitir seu pecado a fim de
ser perdoado e restabelecido por Deus. Mas faze-lo equivaleria a admitir
que seu sofrimento era um castigo pelo pecado. E J era inocente.
Os consoladores julgavam J a partir da teoria tradicional do
bem e do mal, da retribuio de Deus conforme os atos humanos.
Eles algemaram Deus, limitaram-no numa moldura teolgica
prpria, humana. Desenvolveram as seguintes teses:
1. O homem reto recebe como prmio de Deus a prosperidade.
2. O sofrimento o castigo que Deus d ao homem pelo pecado.
Retratam a Deus como um ser inflexvel, de mtodos rgidos.
Adoravam a Deus com uma deformidade espiritual: o seu lado de justia
era muito mais longo do que o da bondade e misericrdia. Um juiz
csmico, caa de erros nos homens. Eles falaram sobre Deus sem
conhece-lo. Defenderam a justia de Deus, mas com argumentos
superficiais; J com razo defende sua prpria integridade, mas
contando com a justia de Deus.
A histria de vrias religies revela uma firme tendncia entre os
seres humanos: pr limites divindade. Se Deus no feito imagem
do homem, pelo menos tentam limitar sua liberdade. Deus deve agir de
acordo com a definio estabelecida por eles. Os conceitos humanos de
justia e amor se tornam o esquema, gaiola ou jaula da divindade. Isso
verdade em relao aos que professam fidelidade ao Deus da Bblia.
O Senhor ultrapassa os limites que a justia impe sua relao
de aliana com Israel.
Mas J estava cheio de perguntas... e exigia respostas.
J estava colocando Deus no banco dos rus. Quando as pessoas
experimentam a dor, irrompem em perguntas, as mesmssimas
perguntas que atormentaram J. Por que comigo? O que est
acontecendo? Deus se importa? Existe um Deus?
J ps Deus no banco dos rus, acusando-o de atos injustos
contra um homem inocente. Irado, satrico, trado, J vagueia o mais
prximo possvel da blasfmia. Ele expressa as nossas mais profundas
queixas contra Deus. Deus no est sendo julgado neste livro. J que
(65)
Mananciais do Deserto, pg. 45 e 46.
est em julgamento. O tema do livro no o sofrimento: onde Deus est
na hora da dor? O tema a f: onde J est na hora da dor? Como ele
est reagindo?(66).
Deus no faz tanta questo de ser analisado. Ele deseja,
principalmente, ser amado.
Mas J s quer saber de explicaes. Eli, o outro consolador que
se calara at aquele momento por ser o mais jovem, espera de que os
mais velhos oferecessem a J as respostas ao seu questionamento,
comea a falar. O nome de Eli significa: Ele eu Deus. Apesar de sua
arrogncia e de ter repetido muitas das falas de seus amigos, ele
prepara J para ouvir a palavra do Senhor. Sustentou a soberania de
Deus, demonstrando que Deus aflige os homens com os mais santos
propsitos: submisso e confiana no Senhor.
(68)
Decepcionado com Deus, pgs. 191 e 199.
7 - Perdo
Mudou o Senhor a sorte de J, quando este orava pelos seus
amigos; e deu-lhe o dobro de tudo o que antes possura. (J 42,10).
Para mim, em todo o livro de J no h parte mais linda que esta.
Digo isso porque atravs deste texto Deus falou ao meu corao e me
ensinou a perdoar como J foi capaz de faze-lo. Eu j estudei muito
sobre o perdo. J li vrios livros, assisti muitas palestras, fiz alguns
trabalhos e at preguei muitas vezes sobre este tema, sempre
baseando-me em Jesus. Ma foi interessante descobrir que o entrave que
havia em minha vida e que eu ainda no conseguiria descobrir qual era,
encontrei justamente como falta de perdo. Constantemente ficava
amargurada, e deixava voltar minha mente lembranas de cenas da
minha vida onde fui rejeitada, judiada, abandonada, tratada mais como
animal do que como gente. Sentia-me no direito de guardar comigo este
fatos, mastiga-los, sentir sua dor e condoer-me. Talvez o exemplo de
Jesus, o Deus-homem, estivesse muito distante, fosse divino demais
para identificar-se comigo. Precisei aprender com J para chegar a
entender melhor o perdo que Jesus ofereceu na cruz.
J sofreu injustamente do ponto de vista humano. Ele no tinha
nada a pagar, andava em comunho com Deus, dirigia sua famlia como
um sacerdote no lar, tratava seus empregados com dignidade, fazia o
bem a todos os que necessitavam, sem interesse, com amor autntico.
No entanto, quando perdeu tudo, e adoeceu, foi abandonado, rejeitado,
cuspido por muitos a quem ajudara, todos os amigos traram sua
confiana e o deixaram. Seus parentes sumiram. A comunidade onde
era to estimado e respeitado virou-lhe as costas, alimentando em seu
corao acusaes contra sua pessoa.
Os nicos que ficaram foram quatro amigos: Elifaz, Bildade, Zofaz
e Eli que, de consoladores, se transformaram em torturadores. Suas
exortaes eram inaplicveis, sem cuidado, rudes, agressivas,
insensveis. Vinagre em lugar de azeite nas feridas de J. Encarnaram a
falsa religio e mostraram como ela pode gerar dureza e crueldade.
Deus apareceu para restaurar J. Mas ele no queria fazer uma
restaurao parcial. A primeira coisa que J recebeu no seu
aparecimento, foi uma nova viso de Deus. Um Deus que no est
limitado pela viso do homem, que no pode ser contido dentro de uma
caixinha e julgado. A segunda coisa, que J recebeu uma viso de si
mesmo... e sentou nas cinzas. Antes, um lugar de fuga, de amargura.
agora, o nico lugar onde ele reconhecia que deveria estar diante de
Deus. Com o corao cheio de alegria, transbordando de prazer pelo
reencontro, louva ao Senhor ali mesmo onde estava at ento
questionando e reclamando. Agora seu amor maior, sua viso
diferente. E Deus queria restaurar J. Mas de nada adiantaria dar-lhe em
dobro tudo o que perdera, outros dez filhos, se em seu corao ainda
houvesse rancor e amargura. Ter tudo, mas alimentar a raiz da
amargura deixaria J to pobre por dentro quanto agora estava por fora.
Tudo poderia estar colorido, feliz, mas ele s veria uma cor: cinza. A
amargura poderia v-lo viver s, trancado dentro de si mesmo. Tendo
tudo, mas no tendo nada. Morto em vida. Sentado num trono, mas com
o corao no monturo.
Ser que um homem pode perdoar um Deus a quem serve e ama,
em quem deposita toda a sua confiana, de quem fala continuamente
exaltando seu amor e soberania, mas que lhe permite perder tudo o que
mais ama e joga-o sobre o lixo, para ser cuspido pelos homens?
Ser que um homem pode perdoar os parentes que se afastam e
deixam que a tragdia tenha curso total na vida dele?
Ser que ele pode perdoar pretensos conselheiros, que em seu
sofrimento s lhe dirigem palavras de crtica, sem nenhuma compaixo,
aumentando a sua dor?
J estava diante destas opes: perdoar e ficar livre ou deixar que
as razes da amargura penetrassem em sua vida.
Ele poderia ter aproveitado o momento, quando o Senhor chamou
a ateno de Elifaz e seus amigos, e pedir para eles um castigo ainda
maior. E quando Deus o orientou no sentido de ajudar os outros a
oferecerem sacrifcios pelos seus pecados, ele poderia ter-se recusado.
Sua alma estava ferida.
"Nada mais sujeito a receber e reter impresses que a alma. Ela
parte inerente sensibilidade divina - esse nervo existencial de Deus,
que Ele prprio compartilhou conosco. Pela alma fluem as sensaes e
nela ficam abrigadas as impresses, das mais violentas s mais leves e
sutis. ela registra tudo, desde os mais duros discursos at os mais
simples e ingnuos dilogos. Esses registros se imprimem no s na
forma de lembranas, mas tambm de impresses profundas que
atingem as nossas emoes. suas marcas so removveis, nem com
calmantes, sequer com cirurgia. Mesmo o tempo - o chamado "grande
mdico" - incapaz de apag-las, pelo menos completamente.
Tenho observado que o contato profundo com a alma humana,
quando realizado a partir da tcnica, resulta quase invariavelmente na
simples descoberta das feridas. A alma vasculhada, mas suas
machucaduras no so cauterizadas. Descobre-se a leso, mas no se
providencia o remdio. o fato que a tcnica dispe de instrumentos
muito bons, mas no possui o blsamo que alivia e faz esquecer a
dor(69)".
"A insofismvel verdade que somente o Senhor Jesus tem meios
de oferecer o tratamento para os nossos achaques, conflitos, dores e
perturbaes ntimas(70). Depois de conhecidas as mais fortes razes
para as feridas de diferentes origens que se alojam em nossa alma, ser
atravs da Palavra de Deus - que viva e permanente - que
encontraremos a cura(71)".
J no se vingou. Ele decidiu em seu corao perdoar seus amigos,
e Deus o encheu com o perdo, com o seu amor.
A nica orao que posso imaginar que J tenha feito por seus
falsos amigos a mesma que Jesus fez na cruz: Pai, perdoa-lhes, porque
ele no sabem o que fazem. Depois de ser rejeitado pelo seu prprio
povo, humilhado, aoitado, cuspido, coroado com espinhos, abandonado
e trado, Jesus pde perdoa-los e ainda morrer por eles e por ns, ainda
antes que nos arrependssemos e tentssemos merecer seu perdo. J
prefigurou o que Jesus faria pelo mundo todo. E J no poderia ter orado
pedindo que Deus os perdoasse, no poderia ter oferecido sacrifcio por
eles, se ele mesmo no os tivesse perdoado. Mas J os perdoou e
consolou seus coraes at ento sensveis. Acredito que dali para
frente eles aprenderam o que consolar, porque eles se sentiram
podres, pequenos, tiveram de se humilhar diante de Deus e daquele a
quem julgaram to violentamente - e Deus jogou sobre eles mesmos
(principalmente sobre Elifaz), todo aquele julgamento que haviam dado
a J:
Estou muito zangado com voc e seus dois amigos, Bildade e
Zofar. O que vocs disseram a meu respeito no estava certo; J estava
com a razo; vocs, no! Por isso, levem sete touros e sete carneiros ao
meu servo J e peam a ele para sacrificar ofertas queimadas em favor
de vocs trs. Depois J far orao por vocs e s assim no lhes darei
o castigo que seu pecado merece, pois vocs no me apresentaram a J
tal como eu sou (J 42.7 e8).
(69)
A cura das feridas interiores, pgs. 11 e 12.
(70)
A cura das feridas interiores pg. 7.
(71)
A cura das feridas interiores pg. 42.
E J perdoou e ficou livre. Livre da amargura, da autocomiserao,
livre de si mesmo. Somente o perdo traz toda esta libertao, a alma
limpa e dolorida, o corao leve e em paz.
Somente quando J perdoou que ele foi restaurado. Deus havia
curado uma ferida mais perigosa e profunda que a exterior: a da alma.
Agora Deus poderia lhe dar tudo e em dobro; reconstruir sua felicidade,
sua vida, porque J estava livre, maduro, feliz na alma. Aprendamos com
J o que perdoar. Muitas vezes ns pensamos que estamos perdoando.
Mas sentimos nosso corao truncado por alguma coisa que no
sabemos o que , e que nos impede de amar mais intensamente. Falta o
perdo autntico.
Perdoar no :
1. "Fingir no se importar" com a ofensa.
2. Dizer que as ofensas no o atingiram, porque voc muito
superior a esses ataques.
3. "Fazer de conta" e passar por cima das coisas que o magoam.
4. Mera polidez, tanto ou diplomacia,
5. "Esquecer". Impossvel esquecer primeiro e depois perdoar.
O perdo nunca olha o pecado s por cima ou por alto. Ele no
torna o mal sem importncia.
Esquecer resultado de perdo completo, nunca o meio de
alcan-lo. o ltimo degrau, no o primeiro. "Quando somos atingidos
pela traio de uma confiana ou pela quebra de uma amizade,
queremos ater-nos ao ressentimento, ir no encalo de nossa prpria
libertao, defendermo-nos at a ltima palavra e colocar a culpa no
devido lugar!
"Mas o perdo rejeita o ego que exige 'seus direitos'. Repudia a
vingana aberta".
"Perdoar custa caro. Se quebro um objeto de grande valor que
voc guardava com muito carinho e voc me perdoa, voc sofre a perda
e eu fico livre".
"Perdoar custa caro. Perdoar... levar sobre si a culpa do pecado
do outro; o criminoso solto, o ofendido liberta-o, suportando na sua
prpria repulsa e transmutando-a em amor. Deus nos perdoa carregando
sobre si a culpa do pecado que cometemos contra ele... ele absolve
nossa culpa e nos torna livres. O perdo passa atravs do pecado para a
libertao" (Myron Augsburger).
J ficou com a dor causada pelos conselhos de seus amigos e
deixou-os sair livres. Pagou muito caro, mas ficou livre. Podia caminhar
tranqilamente pelas ruas, de cabea erguida. No tinha raiva de
ningum, no precisava fugir de encontros com ningum. Ele os
perdoara. Libertara. Crescera, e eles cresceram tambm.
Perdo substituio, e teve sua expresso perfeita em Jesus. Ele
tomou o nosso lugar, suportando a prpria indignao, sua repulsa pelo
nosso pecado. Ele no ignorou nosso pecado. Tomou to a srio o insulto
total de nosso pecado que percorreu todo o caminho do Calvrio para
morrer.
A cruz mostra quo duro foi para Deus perdoar. Ali Deus pagou em
si mesmo a nossa dvida. A dvida que Ele no devia.
Deus estava em Cristo, pessoalmente, reconciliando consigo o
mundo (2 Co 5.19).
...como o Senhor vos perdoou, assim tambm perdoai vs (Cl
3.15).
Perdoar :
(72)
Livre para perdoar, pg. 38.
do Senhor. A, ento, ele estava pronto para aprender a perdoar. Perdo
oferecido livremente, como Deus lhe oferecera.
"Amar o inimigo no significa amar o lodaal em que a prola jas,
mas amar a prola que jaz no lodo" (Rolf Luther).
O segredo do perdo o amor. Amar a Deus sobre todas as coisas,
aceitar o amor e perdo dele em Jesus e deix-lo encher seu corao
com seu amor divino. Transbordar atingindo a outros. Ser "uma fonte a
jorrar para a vida eterna".
Aquele que beber da fonte que eu lhe der..." (Jo 4.14).
Concluso
Como toda boa histria, tudo comeou com: "era uma vez um
homem bom, rico, feliz e profundamente temente a Deus". Todos
esperavam que pequenos incidentes acontecessem no desenrolar da
histria do nosso heri, mas as coisas no foram assim to simples.
A histria desse homem, J, esmagado pela perda dos filhos,
doente, abandonado pelos familiares e pelos amigos tem como
agravante alguns amigos que colocam "vinagre em suas feridas" atravs
de seu julgamento desumano e insensvel.
Sofrendo com a permisso de Deus, mas tambm com seu
amparo, descobre no sofrimento uma riqueza enorme. V-se pequeno e
indigno diante de Deus que, em sua grandeza, no lhe d explicaes de
seus atos, mas que mesmo em sua aparente distncia, d-lhe a certeza
de seu amor.
Somente aquele que foi ferido, que passou por grandes
sofrimentos semelhana de J, quando o corao clamou aflito durante
dias causticantes e noites insones, sabe a necessidade de consolo do
Senhor, vindo atravs de longas conversas com o Pai e de pessoas que
se identificam com a nossa dor, ajudando-nos a suport-la. Pessoas
disponveis e sensveis, que buscam no Senhor a sabedoria e a
prudncia, instrumentos seus para o consolo.
O autor de Provrbios nos diz que palavras agradveis so como
favos de mel, doces para a alma e medicina para o corpo (Pv 16.24).
Palavras sbias e misericordiosas, movidas por profunda empatia e
compaixo consolam o corao aflito, dando-lhe nimo, ajudando-o a
abrir os olhos e ver novamente as cores da vida.
O livro de J termina como as histrias: Depois de seu sofrimento e
vitria, J ainda viveu 140 anos. Ele ainda chegou a conhecer seus netos
e bisnetos e morreu, velho e feliz, depois de uma vida longa e
abenoada (J 42.16, 17 BV).
Consolar ministrio. Este mundo aflito e agonizante necessita de
pessoas que, mesmo fracas e sofrendo, j provaram na intimidade o
consolo do Senhor e agora se pem em suas mos para serem enviadas
a consolar.
Que Deus maravilhoso ns temos - Ele o Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, a fonte de toda a misericrdia, e aquele que to
maravilhosamente nos conforta e fortalece nas dificuldade e provaes!
E por que Ele faz isso? Para que, quando os outros estiverem aflitos,
necessitados da nossa compaixo e do nosso estmulo, possamos
transmitir-lhes essa mesma ajuda e esse mesmo consolo que Deus nos
deu. (2 Co 1.3,4).
Bibliografia
A arte de relacionar-se com as pessoas, Osborne, Cecil. Juerp, 1987.
A Cura das feridas interiores, D'Arajo F., Cio Fbio. Ed. Vinde, 1986.